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AVALIAÇÃO DE

EMPRESAS

Ricardo da Silva e Silva


Fluxo de caixa descontado:
valor presente líquido (VPL)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar fluxo de caixa descontado, fluxo de caixa livre e valor


presente líquido.
 Reconhecer os pontos fortes e fracos dos fluxos de caixa descontado
e livre e do valor presente líquido.
 Calcular o valor presente líquido de um projeto visando a avaliar a
sua viabilidade econômico-financeira.

Introdução
As estratégias organizacionais contam com uma série de etapas, que vão
desde o seu planejamento até a sua implementação. O planejamento é
essencial para garantir o êxito das organizações, isto é, para que sejam
atingidos os objetivos organizacionais. Nesse sentido, é fundamental o
gerenciamento adequado dos recursos humanos, materiais e financeiros.
Os empreendedores devem possuir o domínio do gerenciamento desses
recursos, possibilitando a tomada de decisões estratégicas mais assertiva.
No âmbito financeiro, há uma série de ferramentas ou métodos que
mensuram o fluxo de valores que circulam no caixa das empresas e,
até mesmo, a viabilidade de projetos. Tais ferramentas são importantes
elementos a serem abordados, afinal, a saúde financeira das empresas é
determinante para seu sucesso.
Neste capítulo, você vai compreender os conceitos de fluxo de
caixa descontado, fluxo de caixa livre e valor presente líquido. A partir
desses conceitos, você vai poder reconhecer os pontos fortes e fracos
de cada método apresentado. Por fim, você vai conferir o cálculo do
valor presente líquido de um projeto visando a analisar a sua viabilidade
econômico-financeira.
2 Fluxo de caixa descontado: valor presente líquido (VPL)

Conceitos básicos
A organização financeira de empresas dos mais diversos ramos e áreas de
atuação depende da habilidade de efetuar um gerenciamento eficaz e do uso de
uma série de métodos. Estes vão desde um simples fluxo de caixa operacional
até aqueles que possibilitam indicar se é viável investir em um determinado
projeto ou não. Cada empresa e cada situação financeira têm suas peculiari-
dades, e o uso de métodos pode variar de acordo com a situação.
Para Assaf Neto (2014), administrar as finanças de uma empresa é funda-
mental para o alcance da eficiência e para captar e alocar recursos. Já Seleme
(2010, p. 16) afirma que “[...] cabe a nós, como gestores, identificar as melhores
ferramentas gerenciais e fazer o uso adequado delas, no sentido de tomarmos
decisões mais adequadas para cada situação”.
Nesta seção, serão apresentados os principais conceitos e demais explicações
técnicas relacionadas aos métodos de controle financeiro, como fluxos de caixa
descontado e livre e valor presente líquido, apontando em quais situações cada
um deles deve ser utilizado.

Fluxo de caixa livre


O fluxo de caixa livre tem um importante objetivo em relação ao controle
financeiro nas organizações. Essa ferramenta de avaliação financeira possibilita
avaliar os valores que sobram para uma empresa depois de serem honradas
todas as obrigações de um determinado período. O fluxo de caixa livre deriva
do fluxo de caixa operacional, que, segundo Lemes Júnior, Rigo e Cherobin
(2010), representa a relação entre as saídas e as entradas de valores no caixa
da empresa e o resultado gerado por essa relação.
Gitman (2004) define o fluxo livre como o valor líquido disponível para
uso nas organizações; ou seja, são os valores que podem ser disponibilizados
para os investidores da organização. Um dos objetivos do fluxo de caixa livre
é verificar a saúde financeira da organização, apurando de forma simples a
liquidez da empresa, ou seja, qual é o valor líquido livre para ser utilizado.
A análise do fluxo de caixa livre possibilita realizar investimentos em novos
projetos, como a expansão da organização, ou até mesmo dividir o valor entre
os sócios. Além disso, o fluxo de caixa livre pode ser considerado como um
demonstrativo de resultados de um projeto ou investimento.
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O fluxo de caixa representa toda a movimentação financeira relativa a um determinado


período realizada em uma empresa. Essa ferramenta realiza o controle de entradas
e saídas de valores do caixa de uma empresa. Há, eventualmente, certa confusão
em relação às diversas formas de fluxos de caixa, sendo que cada uma delas possui
peculiaridades. Os tipos de fluxos de caixa são abordados a seguir, com base no material
desenvolvido pela empresa Global Financeiro (JEFFERSON, 2017).
 Fluxo de caixa operacional: apresenta o resultante relacionado às receitas e
despesas organizacionais.
 Fluxo de caixa direto: controla os registros levando em conta os dados brutos,
ou seja, sem os descontos.
 Fluxo de caixa indireto: fornece os índices dos resultados da operação de uma
organização, apontando o demonstrativo de resultado.
 Fluxo de caixa projetado: apresenta um demonstrativo do futuro financeiro da
organização, levando em conta as projeções de entradas e saídas do caixa.
 Fluxo de caixa livre: mensura a capacidade de uma empresa em relação à sua
saúde financeira, indicando o valor livre após o pagamento das obrigações.

A seguir, você pode conferir o cálculo do fluxo de caixa livre, em que, de


toda a receita líquida, são deduzidos custos e despesas, impostos e investi-
mentos, tanto circulantes quanto permanentes, para, então, resultar, de fato,
no fluxo de caixa livre das operações (MARTINS, 2001).

(=) Receita líquida de vendas e/ou serviços


(–) Custo de bens e/ou serviços vendidos
(–) Despesas com vendas
(–) Despesas gerais e administrativas
(=) Lucros antes de juros e impostos sobre o lucro (EBIT)
(+) Depreciação
(=) Lucros antes dos juros, tributos sobre o lucro,
depreciação, amortização e exaustão (EBITDA)
(–) Imposto de renda/contribuição social
(=) Geração de caixa operacional
(–) Investimentos permanentes
(–) Investimentos circulantes
(=) Fluxo de caixa livre das operações
4 Fluxo de caixa descontado: valor presente líquido (VPL)

Fluxo de caixa descontado


O fluxo de caixa descontado é outra ferramenta que possibilita o controle
financeiro. O fluxo de caixa descontado leva em conta o valor do dinheiro
ao longo do tempo. Ele mede a capacidade que uma empresa possui de gerar
capital, levando em conta as receitas e despesas, demonstrando uma previsão
de saldos futuros. Por meio dele, pode ser mensurado quando uma empresa
poderá reaver um montante investido, trazendo para o valor presente o retorno
de capital investido.
Conforme leciona Damodaram (2007), o fluxo de caixa descontado pode
ser definido como a ferramenta que tem a capacidade de estimar o valor de
ativos, conforme os fluxos de caixa projetados. O autor ainda aponta para três
variações do fluxo de caixa descontado:

 a primeira variação considera um crescimento contínuo ao longo da


vida da empresa;
 a segunda variação considera um crescimento acelerado na fase inicial
e estável após sua maturidade; e
 a terceira variação considera um período de transição entre as fases de
crescimento e de estabilidade da empresa.

Podem ser considerados como pilares ou elementos-chave para a utilização do fluxo


de caixa descontado: a estimativa do fluxo de caixa, a determinação das taxas de
desconto e os cálculos do valor residual da empresa.

Valor presente líquido


O valor presente líquido (VPL), também conhecido como valor atual líquido,
é um método de análise que leva em conta os valores projetados de um fluxo
de caixa para avaliar se um projeto pode ser validado ou não. A ferramenta
analisa quanto vale hoje um investimento, com base nas projeções de fluxo
de caixa. O cálculo do VPL considera, então, o valor do dinheiro no tempo,
considerando o custo de capital. O resultado, caso positivo, indica a viabilidade
de um projeto; caso não seja maior do que zero, trata-se de um projeto que não
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é viável. Segundo Marquezan (2006), o VPL representa a soma de todos os


fluxos de caixa, descontando uma taxa de juros em uma data futura.
Há uma série de ferramentas que possibilitam o cálculo do VPL, como
as calculadoras científicas e o Excel, que apresenta uma fórmula específica
para ele. Para compreender a fórmula do VPL, é necessário compreender
quais elementos a compõem, conforme descritos abaixo (GITMAN, 2010).

 FC: fluxo de caixa em um determinado período, sendo esse período


simbolizado por t;
 t : período de tempo que o dinheiro será investido em um projeto;
 n: número de períodos t;
 r: custo de capital;
 FC0: investimento inicial;

No método do VPL, é levada em conta a taxa mínima de atratividade, que


é o valor mínimo desejado de retorno de um investimento realizado. O cálculo
do VPL representa uma importante ferramenta para indicar a viabilidade de
um projeto ou se é adequada a implementação de um novo empreendimento.

O uso do VPL apresenta uma inconsistência em relação aos resultados gerados pela sua
fórmula, sendo esse um ponto que o empreendedor deve sempre levar em conta. A
fórmula tende a apresentar resultados mais elevados quando os projetos representam
montantes maiores. Dessa forma, pode parecer que os investimentos que envolvem
maior capital são mais rentáveis, quando isso, de fato, não corresponde à realidade,
conforme leciona Camargo (2017).

Pontos fortes e fracos de cada método


Os métodos utilizados para mensurar fluxos de valores em caixa e a viabilidade
de investimentos são de grande valia para as organizações, podendo, inclusive,
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proporcionar uma série de vantagens competitivas no âmbito financeiro. En-


tretanto, há algumas desvantagens em relação à aplicação dessas ferramentas.
Neste tópico, serão apresentadas as principais vantagens e desvantagens
da utilização dos métodos de análise econômico-financeira apresentados
anteriormente.

Vantagens e desvantagens do método do fluxo de


caixa descontado
O cálculo do fluxo de caixa descontado possibilita analisar um investimento
inicial, levando em conta a projeção dos fluxos de caixa futuros em um de-
terminado período. Esse método apresenta uma série de vantagens, como a
possibilidade de ser alinhado ao índice do VPL; ainda, esse método possibilita
que sejam realizadas análises comparativas entre investimentos distintos.
Contudo, a maior vantagem em utilizar a ferramenta é a possibilidade de
realizar análises futuras baseadas em investimentos no tempo atual. Conforme
Martelanc, Pasin e Pereira (2010), o método do fluxo de caixa descontado
está embasado no princípio de que o valor de uma empresa está estritamente
relacionado à geração dos fluxos de caixa futuros.
Esse método apresenta como maiores desvantagens o fato de se tratar de
uma projeção. Parte-se do princípio de que as projeções precisam estar de
acordo com o esperado; dessa forma, se as projeções não estiverem de acordo
com o esperado, o uso do fluxo de caixa descontado não fará sentido.

Vantagens e desvantagens do método do fluxo de


caixa livre
O fluxo de caixa livre representa o valor livre em caixa após todas as obrigações
da empresa terem sido honradas. Esse método tem como maior vantagem o fato
de fornecer estimativas muito precisas em relação ao valor presente em caixa
da empresa, sendo um índice importante para o orçamento empresarial. Ele
tem como desvantagem o fato de, muitas vezes, o valor gerado ser confundido
com o lucro da empresa.

Vantagens e desvantagens do método do valor


presente líquido
O VPL representa um valor monetário obtido por meio de um cálculo que
indica a viabilidade de um projeto ou investimento de negócios. A ferramenta
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apresenta uma série de vantagens, como o fato de incluir todos os elementos


do fluxo de caixa nos cálculos para alcançar o VPL e de usar a taxa média
de atratividade para considerar possíveis riscos de negócio. Ainda, é uma
ferramenta que pode ser aplicada a qualquer fluxo de caixa, oferecendo a
possibilidade de considerar projetos diferentes e traçar comparativos dos
diferentes resultados de VPL.
Como maiores desvantagens, salienta-se os fatos de que esse método exige
conhecimento da taxa média de atratividade e que o retorno do resultado do
VPL não é um índice, mas, sim, um valor monetário, sendo, dessa forma, mais
difícil traçar comparativos. Outra limitação no uso do VPL para trabalhar
com a viabilidade de negócios é que o resultado do VPL tende a apresentar
resultados mais positivos quanto maior for o valor inicial de um projeto.

Índice de lucratividade como técnica complementar ao


valor presente líquido
Para saber se um negócio é, de fato, lucrativo, é fundamental mensurar seu
índice de lucratividade. O índice de lucratividade permite analisar se o ganho
que uma empresa obtém com um investimento é lucrativo de fato. Para Braga
(1995), esse índice representa a medida do retorno esperado por cada unidade
monetária investida. A vantagem desse método é que ele analisa o dinheiro no
tempo. Contudo, trata-se de um cálculo complexo, em que o resultado do VPL
é dividido pelo investimento inicial. Caso o valor do índice de lucratividade
seja maior do que 1, o projeto tende a ser lucrativo, ou seja, seu retorno será
maior do que o investimento realizado.

Valor presente líquido e avaliação de


viabilidade econômico-financeira
O cálculo do VPL representa um valor monetário que indica a viabilidade
de um projeto ou investimento em um novo negócio. Para que seja possível
compreender como funciona o cálculo e, principalmente, a análise de viabi-
lidade econômico-financeira, é preciso compreender bem a utilização desse
método. Nesta seção, será realizada a análise de viabilidade de um investimento
a partir do cálculo do VPL, com base nos valores apresentados no Quadro 1.
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Quadro 1. Exemplo de valores para o cálculo do valor presente líquido

Elemento Valor Símbolo

Investimento inicial R$ 10.000,00 FC0

Fluxo de caixa (60 dias) R$ 3.500,00 FC2

Fluxo de caixa (90 dias) R$ 3.900,00 FC3

Fluxo de caixa (150 dias) R$ 4.800,00 FC5

Taxa de juros anual 5% a.a. I

Considere, para fins de entendimento do exemplo, que se deseja realizar


um investimento de R$ 10.000,00 em um projeto, a uma taxa de juros de 5%
ao ano, e os fluxos de caixa são, respectivamente, R$ 3.500,00, R$ 3.900,00
e R$ 4.800,00. Considerando as projeções realizadas do fluxo de caixa, é
encontrado o VPL indicado a seguir.

O resultado do VPL é R$ 304,49. Analisando-se os valores indicados no


cálculo, é possível verificar que o valor gerado é positivo; sendo assim, temos
um investimento viável, considerando-se a perspectiva econômico-financeira.

No link a seguir, você pode conferir, de forma clara e didática, como realizar o cálculo
do VPL por meio da calculadora HP12C.

https://qrgo.page.link/BNb1A
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Os métodos apresentados neste capítulo representam importantes recur-


sos e ferramentas presentes no processo de gestão dos recursos financeiros
das mais diversas organizações. Possuir o domínio de tais ferramentas é
fundamental para o sucesso e a manutenção da estabilidade financeira das
organizações, possibilitando que elas possam se manter no mercado, agindo
de forma competitiva.

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2014.
BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Editora Atlas,
1995.
CAMARGO, R. F. Veja como o Valor Presente Líquido (VPL) ajuda na análise de viabi-
lidade de um investimento. Treasy, 2017. Disponível em: https://www.treasy.com.br/
blog/valor-presente-liquido-vpl/. Acesso em: 28 out. 2019.
DAMODARAN, A. Avaliação de empresas. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison
Wesley, 2004.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2010.
JEFFERSON. Quais os tipos de fluxo de caixa. Global Financeiro, 2017. Disponível em:
https://www.globalfinanceiro.com.br/2017/09/18/tipos-de-fluxo-de-caixa. Acesso
em: 28 out. 2019.
LEMES JÚNIOR, A. B; RIGO, C. M.; CHEROBIN, A. P. M. S. Administração financeira: princípios,
fundamentos e práticas brasileiras. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2010.
MARQUEZAN, L. H. F. Análise de investimentos. Revista Eletrônica de Contabilidade, v.
3, n. 1, 2006. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/contabilidade/issue/view/320.
Acesso em: 28 out. 2019.
MARTELANC, R.; PASIN, R.; PEREIRA, F. Avaliação de empresas: um guia para fusões &
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MARTINS, E. (org.). Avaliação de empresas: da mensuração contábil à econômica. São
Paulo: Editora Atlas, 2001.
SELEME, R. B. Diretrizes e práticas da gestão financeira e orientações tributárias. Curitiba:
Editora IBPEX, 2010.

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