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Aula 06:

O Pensamento econômico de Cairu e os


debates em sua volta

Rec 3402 Desenvolvimento e pensamento econômico Brasileiro


1º semestre 2024
José da Silva Lisboa (Salvador: 1756 – Rio de Janeiro 1835)

• É considerado o grande difusor de Economia Política


no Brasil e mesmo em Portugal, especialmente do
pensamento de Adam Smith
• Recebe a Aula de Economia Política, 1º livro e várias outras
publicações

• Objeto de opiniões extremas :


• fortemente criticado (na época José Bonifácio, pela
historiografia: Sergio Buarque de Hollanda): “puxa saco” da
Monarquia, vendido aos interesses da Inglaterra, reacionário
• Admirado: (Alceu Amoroso Lima) homem ilustrado,
benfeitor da Pátria
José da Silva Lisboa, Visconde de Cairú, junto a José
Bonifácio de Andrada e Silva. Óleo de R. Nunes, da
Câmara de Vereadores de Salvador-Bahia.
Critica comparação com Hamilton (EUA)
• Furtado
• Barbosa Lima Sobrinho:
“Nossos economistas nunca se libertaram da influencia de Adam Smith a
partir do Visconde de Cairu, não obstante o programa protecionista que
os Estados Unidos adotaram no relatório de Alexander Hamilton em
1790”
Navegação de cabotagem (jornal do Brasil 30.01.1994, pg. 11)
• Depois tb critica outros liberais como Tavares Bastos
Cairu: principais obras econômicas
(tem outras historia do primeiro reinado , da corte no Brasil ..)

• 1801: Princípios do Direito Mercantil e Leis da Marinha


• 1804: Princípios de Economia Política
• 1808: Observações sobre o comércio franco no Brasil (1ª obra publicada pela Imprensa Régia)
• 1810: Observações sobre a franqueza da indústria e o estabelecimento das fábricas no Brasil
• 1810: Observações sobre a prosperidade do Estado pelos liberais princípios da nova legislação
• 1812: Extratos das obras políticas e econômicas de Edmund Burke
• 1818: Estudos do bem comum e Economia Política
• 1824: Constituição Moral e deveres do cidadão
• 1827: Leituras de Economia Política ou direito econômico
• José da Silva Lisboa nasce 1756 em Salvador, filho de “arquiteto”
• Cipriano Barata : acusações de falta de estirpe de Lisboa
• Almodóvar: caso típico de ascensão social dentro do Antigo Regime
Português (família tb)
• iniciou seus estudos na Bahia, mas com 18 anos vai a Portugal
• Educação superior em Coimbra (1774), em letras, direito e filosofia moral
• 1779 – Bacharel em Direito Canônico e Filosofia
• Depois de tentar ficar em Portugal, volta e é professor
• Antes foi nomeado ouvidor da capitania de Ilhéus (1780-1782),
• inflexão profissional: passa a dar aulas de “filosofia racional e moral” e “grego” em Salvador, além
de exercer a função de advogado entre comerciantes da Bahia
• 1797 - volta a Portugal e consegue participar de maneira importante da burocracia
portuguesa em cargos relativos à administração colonial
• Amplia sua rede de relações (inclusive Souza Coutinho)
• Volta ao Brasil como deputado da Mesa de Inspeção da Agricultura e Comércio da Bahia
• Tribunal importante (criado em 1751) controle comercio, agricultura nos moldes (ou não) mercantilistas
• Escreve 1798 Princípios de Direito Mercantil e Leis da Marinha (enorme sucesso, traços iniciais de economia
politica)
Debates de Cairu com as tradições portuguesas
• Crítica às medidas de tradição mercantilistas (Pombal)
• Pombal: Monopolização das atividades e de comércio etc.
• Cairu: Defesa da abertura dos portos, liberdade de comércio

• Crítica à ascensão fisiocrata em Portugal


• Defesa da divisão do trabalho e do valor trabalho
• Controvérsia com Rodrigues de Brito,
• problema fisiocratismo português acaba se associando com defesa das elites rurais portuguesas e
do Antigo regime com a manutenção da colônia e defesa de privilégios destas classes (restrições
a liberdade de trabalho e anti-industrialismo)
1º Livro escrito em Portugal “sobre” Economia Politica: 1804:
Princípios de Economia Política de Jose da Silva Lisboa
• Livro apresenta posições de A. Smith
• 1795 – tradução de A Riqueza das Nações (Antônio Moraes e Silva vai a Salvador)
• Não é o primeiro a escrever em Portugal sobre Smith – Vilanova Portugal, Conde de
Linhares (Souza Coutinho) etc
• Busca espaço no pensamento português entre
• Fisiocracia – rebate Rodrigues de Brito (cap 12)
• Fonte da riqueza – não esta necessariamente na terra, mas no trabalho, na
divisão do trabalho e no comércio
• Contra Fisiocracia portuguesa que impõe dificuldades a livre mobilidade de
trabalhadores
• Mercantilismo – longa tradição em Portugal – desde Pombal,
• Em Portugal diminui sua importância – mas efeitos das tradições
mercantilistas sobre colônia fortes (restrições, monopólios)
• Antes (1798/1801) havia escrito Princípios de Direito mercantil e leis da Marinha
• Livro faz a defesa (forte) do liberalismo em termos de liberdade de comércio
(especialmente internacional) e de liberdade de atividades – coloca isto do ponto de vista
do direito e da jurisprudência
• 1807/08 – Vinda Família Real ao Brasil no meio do caminho
legislação da abertura dos portos
• Influencia e aproximação com Cairu
• Interessante destacar tb que em 1808 foi criada a primeira “Aula”
(Cátedra) de economia política
• 23 de fevereiro – na vinda de D João VI, um mês depois da abertura
dos portos
• Precoce tb em termos internacionais – debates sobre primeira cátedras
(efetivas ou não)
• França: Say (1819); GB – 1825 (Nassau Senior), Portugal : 1836
(Cuidado com datas e o que é “ensino”)
• Foi atribuída também a José da Silva Lisboa (depois Visconde de
Cairu)
• Nunca exerceu a aula (recebeu por ela),
Está junto da família real quando de sua vinda para o Brasil, recebe cargos quando da
instalação da Monarquia portuguesa no Brasil
•Um dos cargos foi o de Censor Régio,
•Também foi responsável pela Imprensa Régia (criada em 13.05.1808)
• Pela imprensa regia – publica algumas de suas obras e de outros autores da mesma tradição
• 1ª obra publica pela Imprensa Régia é de Cairu: 1808: Observações sobre o comércio franco no Brasil
• 1810: Observações sobre a franqueza da indústria e o estabelecimento das fábricas no Brasil
• 1810: Observações sobre a prosperidade do Estado pelos liberais princípios da nova legislação
• depois Inspetor Geral dos estabelecimentos literários
• Decide o que se pode publicar no Brasil

•Também Deputado na Real junta de comércio, agricultura, fabricas e navegação do


Estado do Brasil e Domínios Ultramarino
•Depois:
• Político, foi deputado brasileiro nas cortes de Portugal e,
• Deputado na assembleia constituinte brasileira,
• foi senador do Império
 Economia Política no Brasil – “nasce” com apoio do Estado, do Governo
Monárquico
 Aula de comércio; publicações (na imprensa regia)
 No Brasil é mais forte do que na Inglaterra e na França a ligação entre a Economia Política e o
aparelhamento do Estado

 Brasil – formação da burocracia e assessoria ao governo (cameralismo) quando


este se desloca para o Brasil,
• “Sendo absolutamente necessário o estudo da ciência econômica (...) para os meus vassalos para que
me possam servir com mais vantagens”
• “Ensino desta ciência, sem a qual se caminha às cegas e a passos lentos, e às vezes contrários, nas
matérias de governo” (D. João VI)
• Economia Política no Brasil – menos traço de ciência e mais traços de manual de administração
pública
• Livros de Cairu iniciais colocam a economia como uma ciência junto com Direito a serviço dos
legisladores e dos governantes - inspirados no livro IV da Riqueza das Nações
 Obras de 1804, 1818 e 1827: divulgação da economia política e das idéias de
Smith.
• Naturalmente o homem é capaz de viver em harmonia social perseguindo seus próprios
interesses, sendo que é nesta busca de satisfação de interesses que está a garantia da
opulência e do próprio progresso.
• As condições para que isto ocorra são
• a liberdade de ação, a concorrência e a garantia de propriedade dos frutos do próprio esforço.
• Os problemas que podem ser percebidos, como as diferenças (desigualdade)
• ou são naturais e até benefícios pois conduzem ao progresso,
• Ou são frutos da errônea intervenção estatal e cabe à Economia Política instituir a situação correta
• Economia política lida de forma reformista (em relação aos princípios mercantilistas)
mas nunca revolucionária (como em autores como Rousseau ou Godwin)
• Livros atacam a Revolução Francesa e tem influencia de Edmund Burke (ver
trabalho de 1812)
• Livros de 1808, e 1810 – defesa das medidas tomadas por D. João VI – defesas do
liberalismo e da abertura
• Citações em relação Smith menores, aparecem muitas citações de Malthus e Say
D João VI se vale dos princípios de harmonia social implícitos
na tese da mão invisível
 Economia Política importante para D João VI: convencer e
incorporar sociedade brasileira
 utiliza-a como uma ideologia anti-revolucionária: imbuído dos
princípios de Economia Política possível construir uma situação
harmônica
• Devemos lembrar problemas com revoluções (americana, francesa, antilhana)
e algumas repercussões brasileiras
• Dá aquilo que parece ser o essencial: liberdade de comércio e de produção
• Busca evitar situação e/ou potencialização de conflito
• liberdade e concorrência estava sendo implementado por governo aplacaria
tensões sociais e levaria ao progresso
Criticas a Cairu
• Defesa da abertura dos portos e do livre comércio – liberalismo no comércio internacional e defesa
da livre iniciativa no cenário interno
 Obras de 1808-1810: usa princípios de economia política para justificar “cientificamente” e defender
medidas tomadas por D João VI: abertura dos portos, suspensão do alvará de 1785
• ser liberal é conservar as liberdades conquistadas em 1808 (de produzir, vender e comprar)
• Visto como subserviência à Braganças e à Inglaterra
• Critica por exemplo de Sergio Buarque de Holanda
• A principio não defesa da agricultura contra a indústria – problema e de fatores escassos (trabalho e
capital) x abundantes (terra) que confere “vantagem” para a agricultura
• Critica feita por Hypolito da Costa e retomada, p ex, por Furtado
• combina um liberalismo de princípio com a aplicação de algumas medidas “industrializantes”
que ele tinha observado nos Estados Unidos.
• Postura desconfiada do livre-cambismo e da abertura irrestrita,
• Comparação com EUA e Alexander Hamilton as pressões diplomáticas da Grã-Bretanha em favor da
liberdade de comércio eram feitas em seu próprio benefício
• inicio dos debates protecionistas e retomada de alguns princípios mercantilistas existentes na fase
Pombalina
• Liberalismo Político – deixado de lado
• Defesa do Poder moderador e de mecanismos autoritários

• Problemas com escravidão e defesa da imigração e do branqueamento


• Apesar de crítica teórica à escravidão e da aceitação da superioridade da mão de obra
livre, dada a falta de mão de obra livre - aceitação da escravidão na prática
• Governo ao invés de defender trafico de escravos deveria promover imigração
• Controvérsia com divisão do trabalho manual x intelectual
• Debate sobre tradução de Smith (judgement)
• Tradição brasileira – desprezo pelo manual e visão da raiz do progresso no intelectual
• Defesa de uma classe de homens, que mais do que “inventar máquinas”, estavam destinados à
produção do bem comum a partir de cargos públicos


Sergio Buarque de Holanda
• Importância dos grupos rurais dominantes encastelados na autarquia
econômica e familiar se manifesta mentalmente pela supervalorização
do talento e das atividades intelectuais que não se ligam ao trabalho
material e parecem brotar de uma qualidade inata como a própria
fidalguia
• SBH desmascara posição fortemente reacionária de Cairu
• Cairu visto como progressista por engano

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