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• Ao historiador das idéias econômicas no Brasil não deixará de surpreender a monótona insistência
com que se acoima de aberrativo e anormal tudo que ocorre no país: a inconversibilidade, os
deficits, as emissões de papel-moeda. Essa ‘anormalidade’ secular não chega, entretanto, a constituir
objeto de estudo sistemático.
• Não se faz nenhum esforço sério para compreender tal anormalidade, que em última instância era a
realidade dentro da qual se vivia. Todos os esforços se gastam numa tarefa que a experiência
histórica demonstrava ser vã: submeter o sistema econômico às regras monetárias que prevaleciam
na Europa. Esse enorme esforço de mimetismo - que derivava de uma fé inabalável nos princípios
de uma doutrina que não tinha fundamento na observação da realidade - se estenderá pelos três
primeiros decênios do século XX.”
Uma rápida volta ao Ensino de economia no Brasil em priscas eras .....
A Economia em termos acadêmicos
• Economia no inicio é matéria nas Faculdades de Direito e de engenharia
1827 – primeiros cursos superiores no Brasil:
Direito (São Paulo, Pernambuco) depois: Medicina (Ba) e Engenharia (RJ) (militar): formação da elite no país
(antes Portugal – Coimbra)
• Economia Politica dado no ultimo ano de Direito e no 3º ano de Engenharia
Aulas de comércio (segundo grau / profissionalizante) – Menos elitizados
• Em 1929
• ensino superior especializado (profissionalizante): 32000 alunos,
• cursos de comércio oferecidos: 185 unidades com 23000 alunos.
• ensino superior geral (voltados para as elites): aproximadamente 13000 alunos
• sendo 3200 nos cursos jurídicos, 7500 nos cursos médico-cirúrgico e farmacêuticos e 2300 nas escolas politécnicas
A cátedra de Economia Politica e o seu inicio no Brasil
• O ensino de Economia Política no Brasil teve seu marco inicial na
Cátedra de Economia Política atribuída pelo príncipe regente D. João VI
ao baiano José da Silva Lisboa (posteriormente Visconde de Cairu) em
fevereiro de 1808. Cátedra não exercida
• Cairu passou assim a ser considerado o primeiro “professor” de economia do país
pois também publicou o 1º livro escrito por um brasileiro: 1804: Princípios de
Economia Política de Jose da Silva Lisboa (Portugal).
• Várias outras publicações em Economia, foi Censor Régio, e responsável pela Imprensa Régia (criada em
13.05.1808) além de Inspetor Geral dos estabelecimentos literários
• Precocidade em termos internacionais:
• Cuidado: debates sobre primeira cátedras, efetivas ou não etc
• Em tese: França: Say (1819); GB – 1825 (Nassau Senior), Portugal : 1836
A Economia Política nos Cursos de Direito (1)
• Na regulamentação dos cursos incluiu-se no quinto ano do curso, a cadeira de
Economia Política.
• nos curso ministrados em Coimbra não existia, então, a cadeira de Economia Política.
• a cadeira de Economia foi instituída nos cursos de jurídicos franceses apenas em 1864, sendo obrigatória
apenas em 1877.
• Os cursos de Economia Política também se iniciaram em 1832. Seus primeiros lentes não publicaram de
obras didáticas de importância, como o fizeram os professores da Faculdade de Olinda (e depois de Recife).
• Carlos Carneiro de Campos:(terceiro) Visconde de Caravelas.: Adotou durante toda sua docência, o
Catecismo de Economia Política de Jean Baptiste Say.
• Luís Pedreira de Couto Ferraz
• João da Silva Carrão: sem publicação mas traduz em 1873 Elementos de Economia Política elaborado por
H. D. MacLeod.
• Este autor foi introduzido no curso a partir de 1869 e terá profunda e continuada influência no pensamento desenvolvido na
escola paulistana nos anos subsequentes; além de MacLeod,, também exerceram significativa influência sobre este lente,
Frederic Bastiat e Michel Chevalier.
• Joaquim José Vieira de Carvalho. catedrático da cadeira de Economia Política em 1881 e, em fevereiro de
1896, passou a ser catedrático da cadeira de Economia Política, Ciência das Finanças e Contabilidade do
Estado
• também não deixou obra escrita, mas foi o primeiro a introduzir autores italianos no ensino de Economia Políticca i) Luigi
Cossa, da Universidade de Pavia, teve os seus Elementos de Economia Política traduzidos e utilizados em São Paulo e; ii)
Antonio Ciccone, professor da Real Universidade de Nápoles.
A definição de uma escola Maclodista
• José Luis da Almeida Nogueira
• Curso Didático de Economia Política ou Ciência do Valor, escrito em 1913
• Filiado a escola Maclodista de economia
• Foi a partir da criação, em 1810, da Academia Real Militar, que se iniciaram os cursos
de engenharia; a partir de 1842, a Academia passou a dar diplomas específicos em
ciências matemáticas e físicas.
• Em 1858 se efetivou uma grande reforma dividindo a Academia Militar em três: a
Escola Militar de Aplicação, a Escola Militar Preparatória da província de São Pedro
do Rio Grande do Sul e a Escola Central.
• Escola Central forma os engenheiros: dentro desta Escola foi criado em 1864 a Cadeira de
Economia Política.
• Mudanças no trato da economia politica nos cursos de engenharia
• Em 1873 foi novamente reformada a Escola Central, separando-se desta vez o ensino militar de
engenharia, do ensino civil. Este último ficou a cargo da Escola Politécnica então criada.
• Nesta escola incluiu-se uma cadeira de Economia Política, Direito Administrativo e Estatística, oferecida
nos últimos anos do curso.
• Em 1890 reformou-se o currículo e dividiu-se a cadeira em duas: a) Economia Política e Finanças; b)
Estatística, Direito Constitucional e Administrativo. Neste última, por alguns anos, incluiu-se também
Contabilidade.
Os Principais Docentes de Economia na Escola
Politécnica do Rio de Janeiro
• O primeiro responsável pela cadeira de Economia Política dos cursos de engenharia do Rio de Janeiro foi José Maria da
Silva Paranhos, o Visconde de Rio Branco.
• ocupou, a partir de 1864, a cátedra de Economia Política na Escola Central, passando a seguir para a Escola Politécnica, vindo a se jubilar em
1878
• O sucessor do Visconde de Rio Branco na cátedra de Economia Política, em 1877, foi Luis Raphael Vieira Souto.
• Economia Política. Primeiro Volume. Introdução e Produção; em 1917
• Houve uma nova reorganização da Aula de Comércio da Corte, pelo decreto n. 1.763, de 14 de
maio de 1856.
• Esse ato concedeu um novo e extenso estatuto à instituição, mudando seu nome para Instituto Comercial
do Rio de Janeiro e alterando significativamente o conteúdo das disciplinas ministradas, em comparação ao
regulamento anterior
• Nesta reforma explicitamente foi introduzida a disciplina Economia Política com Aplicação especial ao
Comércio e à Indústria. As disciplinas passaram a ser
Primeiro Ano Segundo Ano
Contabilidade e Escrituração Mercantil Direito Mercantil
Geografia e Estatística Comercial Economia Política com Aplicação Especial
ao Comércio e à Indústria
Dificuldades e reestruturação na republica
• em 1863, o decreto n. 3.058 reformou novamente os estatutos, tendo como principal mudança
a ampliação do curso de dois para quatro anos, com a inclusão de mais disciplinas. Essa nova
estrutura foi mantida até o final da década de 1870
• o curso de Economia Política acabou por deixar de ser ministrado, pelo menos até 1871. A partir deste ano a
cadeira voltou a ser oferecida e um de seus lentes responsáveis foi Pedro Autran da Mata Albuquerque, que
redigiu em 1873 uma monografia especialmente dedicada a esta disciplina: Manual de Economia Política.
• Curso passa por muitas dificuldades – poucos alunos e chega a ser fechado
• As modificações começam a surgir no início deste século, com o surgimento em 1902 da
Academia de Comércio do Rio de Janeiro e da Escola Prática de Comércio de São Paulo.
• a criação da Academia de Comércio do Rio de Janeiro se deve a Cândido Mendes de Almeida e para a sua
manutenção foi criada a Sociedade Brasileira de Instrução.
• Dentre os colaboradores desta iniciativa encontramos Luis Raphael Vieira Souto, lente de Economia Política da Escola
Politécnica., na verdade os primeiros cursos foram ministrados no prédio da própria Escola Politécnica.
• A Escola Prática de Comércio de São Paulo, teve como principal artífice Horácio Berlinck.
A reforma de 1905
• Em 1905, no governo Rodrigues Alves, foi estabelecida uma legislação tida como o marco inicial do ensino
superior voltado para a área comercial no Brasil e dentro deste do ensino específico de economia.
• Pela legislação considerou-se a Academia do Rio de Janeiro como de utilidade pública e seus diplomas
passaram a ser oficialmente reconhecidos. Os diplomas da Escola paulistana também foram reconhecidos
oficialmente.
• Pela mesma legislação a Academia carioca passou a se constituir no padrão oficial para o ensino comercial no Brasil, de modo
que os outros cursos deviam a ela se equiparar. Em 1909, por exemplo, foi criada a Escola de Comércio de Porto Alegre anexa
à Faculdade Livre de Direito da mesma cidade
• A legislação dividiu os cursos de comércio em dois; o curso geral e o curso superior.
• O curso geral, de quatro anos, tinha uma exame de admissão mais ou menos próximo às exigências da escola primária,
possuía um caráter prático e uma função propedêutica em relação ao Curso Superior. Ele conferia o título de contador aos
concludentes. (este curso deu origem ao curso de perito contábil e depois ao de técnico em contabilidade
• O Curso Superior de Comércio era desenvolvido ao longo de três anos e, as disciplinas ministradas no curso Superior até
1926, eram: Geografia Comercial e Estatística; História do Comércio e da Indústria; Tecnologia Industrial e Mercantil;
Direito Comercial e Marítimo; Economia Política; Ciência das Finanças; Contabilidade Pública; Direito Internacional e
Diplomacia; História dos Tratados e Correspondência Diplomática; Alemão, Italiano e Espanhol; Matemática Superior;
Contabilidade Mercantil Comparada e Banco Modelo.
As Faculdades de economia no fim da primeira
republica
• Estas escolas, foram a origem das Faculdades de Ciências Econômicas,
mesmo por que conferiam o título de graduados em Ciências
Econômicas e Comerciais e, depois de 1926 de Bacharéis em Economia
e vários cursos se intitulavam Faculdade de Ciências Econômicas
• Mas não existiam matérias teóricas relacionadas ao próprio objeto da Economia,
que naqueles anos já estava relativamente bem definido, da mesma forma nota-se
a falta de maiores considerações matemáticas e sobretudo estatísticas, que já se
faziam notar nos cursos desenvolvidos na Escola Politécnica
• Deste modo, a formação oferecida pelo curso é eminentemente prática destinada
aos trabalhos rotineiros de gestão e controle das empresas privadas, assim como
no auxílio da administração pública.
“Constituindo a economia brasileira uma
dependência dos centros industriais, dificilmente
se podia evitar a tendência a ‘interpretar’, por
analogia com o que ocorria na Europa, os
problemas econômicos do país.
A ciência econômica européia penetrava através
das escolas de direito e tendia a transformar-se
em um ‘corpo de doutrina’, que se aceitava
independentemente de qualquer tentativa de
confronto com a realidade.
Ali onde a realidade se distanciava do mundo
ideal da doutrina, supunha-se que tinha início a
patologia social.
Dessa forma passava-se diretamente de uma
interpretação idealista da realidade para a
política, excluindo qualquer possibilidade de
crítica da doutrina em confronto com a realidade. Celso Furtado
As idéias estão ou não fora do lugar ?
• Roberto Schwarz em 1973 publica uma artigo na revista Estudos
CEBRAP que tem por titulo “As idéias fora do lugar”
• Texto dentro do contexto de crítica literária, estudos sobre José de Alencar,
Machado de Assis etc.
• Existe uma inadequação entre os ideais liberais e o ambiente social brasileiro,
• Provoca debate em história das idéias no Brasil e repercute em diferentes campos
desta história das idéias
• Recupera uma velha tese: a oposição entre o Brasil real e o Brasil “ideal”
Crítica a Schwarz
• Críticos: se os nossos escravistas defendiam idéias liberais e se os nossos
ideólogos liberais possuíam escravos, é porque a idéia estava em seu lugar,
• é porque era viável ser liberal e escravista, é porque a ideologia liberal poderia funcionar na
prática como forma de apreender a realidade de um país escravocrata
• A questão da mão de obra não era, na prática, um problema essencial dentro da construção
liberal, pelo menos no que importa aos liberais brasileiros
• Mesmo entre liberais europeus (Locke, Say), escravidão não é incompatível com liberalismo
• De que liberalismo estamos falando ?
Ainda a critica: de que liberalismo estamos falando ?
• Se no Brasil, o liberalismo era uma “idéia fora de lugar”, incongruente e
incompatível com as práticas econômicas, sociais e políticas cotidianas, onde ele
não o foi?
• Existiu, em algum lugar, esse liberalismo puro, essa superposição perfeita entre
discurso e prática liberal?
• Na década de 1850, ao mesmo tempo em que, segundo Schwarz, José de Alencar, escrevia
romances fracos e artificiais por tentar aplicar ideais burgueses a uma realidade clientelista,
• a Suíça era o único estado europeu que tinha sufrágio universal masculino – de que liberalismo
estamos falando politicamente
• A maior parte das nações ascendentes (Alemanha, EUA) repetiam a Inglaterra quando da sua ascensão
e tinham práticas protecionistas, lembrando que como afirmava List a Inglaterra na verdade chutou a
escada - de que liberalismo estamos falando economicamente
• Quanto países mantinham a escravidão (pelo menos nas suas colônias) e tb proferiam o liberalismo:
França até 1848, EUA etc ...
• ou as idéias também estão fora do lugar na Europa ou estão tão no lugar lá como cá
Resposta de Alfredo Bosi: