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TAT- Teste de

Apercepção Temática
TAT- Teste de Apercepção Temática,
conforme o modelo interpretativo de
Murray

Para proceder ao manejo clínico do TAT, é indispensável rever


alguns princípios teóricos de Murray. Para ele, é tão importante
o passado, ou a história do indivíduo, como o presente e seu
meio.

Considera que as vivências infantis são determinantes decisivos


para a conduta do adulto.
Murray partiu da pressuposição de que pessoas diferentes,
frente à mesma situação vital, experimentá-la-ão cada uma ao
seu modo, de acordo com sua perspectiva pessoal.

Essa forma pessoal de elaborar uma experiência revela a


atitude e a estrutura do indivíduo frente à realidade
experienciada.
Expondo-se o sujeito a uma série de situações sociais
específicas, possibilitando a expressão de sentimentos,
imagens, ideias e lembranças vividas em cada uma dessas
confrontações, pode-se ter acesso à personalidade
subjacente.

Murray procura considerar o indivíduo naquilo que tem de mais


próprio na sua relação consigo e com o mundo. Essa
singularidade é o que o TAT procura revelar.
 Trata-se, pois, de um teste projetivo.
ADMINISTRAÇÃO DO TAT

 O TAT compreende 30 lâminas com gravuras e uma em


branco. Dessas, onze são consideradas universais, no sentido
de que são aplicáveis a todos os sujeitos:

Pode-se recorrer a formas abreviadas do TAT, para testar


determinadas hipóteses diagnósticas.
Cada uma das lâminas tem um significado e explora questões
específicas.

 Selecionar as lâminas pelo significado é uma forma.


 Outra forma de seleção abreviada consiste em suprimir
lâminas que proporcionam dados equivalentes.
Recomenda-se o uso de formas abreviadas somente após um
período de treinamento com a forma completa.

No caso da forma completa, pode-se empregar duas sessões


para a aplicação.
No que se refere às instruções propriamente ditas, deve-se dar
ênfase à criatividade do sujeito, que é solicitado a inventar
uma história.

As instruções têm certo caráter de flexibilidade, no sentido de


levar em conta a idade, o nível intelectual e outras
características do sujeito.
 As instruções básicas são as seguintes:

“Este é um teste que consiste em contar histórias. Aqui tenho


algumas lâminas que vou lhe mostrar. Quero que me conte
uma história sobre cada uma. Você me dirá o que aconteceu
antes, e o que está acontecendo agora.
Explique o que sentem e pensam os personagens, e como
terminará. Pode inventar a história que quiser”.
Pressuposições orientadoras

 Em primeiro lugar, “os atributos do herói, ou do personagem


principal, na história, representam tendências da própria
personalidade de quem responde”,

 Em segundo lugar, “as características do ambiente do herói


representam aspectos significantes do próprio ambiente do
respondente”.
Dessa maneira, a pressuposição básica é de que o sujeito se
identifique com o herói. Com a liberdade que consegue,
através do relato de uma história dramática completa, espera-
se que comunique a sua experiência, que inclui aspectos
perceptivos, mnêmicos, imaginativos e emocionais.
 Tudo provém da memória, ou, melhor, da experiência
passada, tanto os personagens descritos, como as atitudes
atribuídas às ações referidas nas histórias.
Os personagens, reais ou fantasiados, já tiveram algum papel
importante na vida do sujeito, talvez por um longo tempo, ou
mesmo recentemente.

As atitudes, os sentimentos e as ações também se relacionam


com tais experiências.
Muitas vezes, o sujeito foge dos conflitos, mascara, nega, se
defende ou “só expressa indiretamente seus conteúdos
ideacionais essenciais”, e, assim, sua resposta nem sempre
“constitui necessariamente o material essencial e vital da vida
do sujeito”.
O MANEJO DO TAT

O manejo clínico do TAT, ou a sua elaboração, é um processo


que consta de:

- Análise
- Interpretação
- Síntese dinâmica
- Diagnóstico
Análise

Analisar um TAT consiste em destacar as modalidades do


discurso que precedem à construção das diversas narrativas,
produzidas a partir das diferentes lâminas.

A forma como os relatos são construídos e comunicados ao


clínico possibilita o acesso aos mecanismos de defesa do ego.
Através da sua análise, pode-se obter informações acerca da
normalidade, ou da patologia, nas diferentes organizações da
personalidade, e, também, tem-se o acesso à problemática de
cada sujeito, a sua conflitiva, a sua subjetividade, que o torna
único, em relação com o outro e com o meio.
 Na análise do TAT, o psicólogo deve examinar as histórias do
sujeito e a sua conduta durante a testagem.

A partir de ambos, da história e da conduta do sujeito durante


a testagem, é possível abstrair dados significativos.
 Pela análise de conteúdo, o psicólogo desmembra cada
história nos conteúdos expressos no tema central, chegando:

- À identificação do herói
- Ao reconhecimento de seus motivos
- Às tendências e necessidades
- À exploração de seus estados interiores
- Ao exame das pressões ambientais
- Ao desfecho
Identificação do herói
O primeiro passo, na análise de uma história, é a identificação
do herói.
Este é o personagem com quem o sujeito se identifica.

Ele é, também, via de regra, o mais parecido com o sujeito,


não só quanto ao sexo e faixa etária, como no que se refere a
sentimentos, motivos, dificuldades e emoções.
Na maioria das vezes, o herói é representado por um
personagem. Contudo, pode ocorrer que o sujeito se
identifique com mais de um personagem.

Isso pode se verificar de diferentes formas.


 Em primeiro lugar, a identificação do sujeito pode modificar-
se no decorrer da história, com o aparecimento de diversos
heróis: primeiro, segundo, etc.

 Em segundo lugar, pode haver heróis competidores (por


exemplo, um policial e um ladrão).
 Neste caso, um deles pode estar representando forças do
superego (o policial que faz cumprir a lei) contra impulsos
antissociais (ladrão).

É a expressão de uma situação conflitiva interna, configurando


um conflito entre duas instâncias da personalidade, projetado
no conteúdo manifesto da verbalização.
 Em terceiro lugar, o sujeito pode narrar uma história que
contenha outra: o herói conta uma história, em que observa
outro herói, com quem simpatiza e a quem admira, e que,
nesta história, desempenha um papel principal.
 As características demográficas (sexo, idade, etc.) e físicas
(aparência, etc.) do herói sugerem aspectos da imagem –
real ou ideal – que o sujeito tem de si mesmo.

Outros personagens podem representar identificações múltiplas


do sujeito.
As relações que se estabelecem entre o herói e os demais
personagens podem refletir atitudes conscientes ou
inconscientes do sujeito frente aos mesmos, bem como podem
revelar os papéis que estes desempenham (de frustração, de
estimulação, etc.).
 Quando não são introduzidas relações interpessoais, pode-se
levantar a hipótese de pobreza quanto à sociabilidade e às
relações objetais.
 Em relação ao herói, é importante identificar traços e
tendências, bem como atitudes frente à autoridade.
Em termos de traços e tendências, é possível se relacionar:

a) superioridade (capacidade, prestígio, poder);


b) inferioridade (incapacidade, desprestígio, debilidade);
c) extroversão;
d) introversão.
 Algumas das atitudes frente à autoridade, facilmente
identificáveis, são:

a) domínio, submissão;
b) dependência, independência;
c) medo, agressão;
d) gratidão, ingratidão;
e) orgulho, humildade,
Motivos, tendências e necessidades do(s)
herói(s)

As necessidades podem ser expressas como impulsos, desejos


ou intenções ou, ainda, como traços de conduta manifestos
nas histórias.

A necessidade é um constructo que representa uma força, de


modo a transformar uma situação insatisfatória existente.
A necessidade gera um estado de tensão que conduzirá à
ação, reduzindo a tensão inicial e restabelecendo o equilíbrio.

Pode ser produzida por forças internas ou externas, sendo


sempre acompanhada por um sentimento ou emoção.
Estados interiores do herói
 Aqui, procura-se examinar que tipos de afetos se
manifestam, em que direção e de que forma.

Também é preciso analisar como surgem e como se resolvem.

Como são as manifestações de amor e de sentimentos de


culpa?
Que conflitos aparecem?
Os conflitos transparecem através da ação de forças e/ou
tendências opostas da personalidade.

Estas podem se expressar pela oposição entre as necessidades,


pela presença de heróis com traços opostos.
Refletem o choque de forças de diferentes instâncias da
personalidade e se evidenciam, mais nitidamente, entre pares
de opostos:

- Passividade/atividade
- Dependência/independência
A ação do superego pode ser identificada nas expressões de
culpa, ficando implícito que um castigo é merecido, seja
autocastigo, ou não.

Também pode surgir na forma de autojustificativa, em termos


de aprovação e desaprovação, crítica e na exigência de
reparação.

 A intensidade do conflito também precisa ser avaliada.


A vulnerabilidade a um conflito costuma transparecer através
de forte mobilização afetiva, com a emergência de sinais de
ansiedade.
 Também é importante identificar o tipo de ansiedade que se
faz presente (persecutória? de separação, de abandono?
outra?) e saber em que circunstâncias surge, como se
expressa e se consegue ser resolvida.
Pressões do ambiente

É essencial identificar as pressões que o herói percebe como


advindas do ambiente e os efeitos das mesmas.

As pressões são determinantes do meio externo, que podem


facilitar ou impedir a satisfação da necessidade, representando
a forma como o sujeito vê ou interpreta seu meio.
Deve-se identificar os personagens ou objetos, não suscitados
pelos elementos de realidade da lâmina, mas que são
introduzidos pelo sujeito, justificados pela imaginação, mas
frequentemente a serviço de objetivos defensivos.

O ponto básico a ser considerado é se o sujeito percebe o seu


ambiente para dificultar, obstaculizar ou, pelo contrário, para
favorecer as necessidades, os motivos ou as intenções do herói.
Também é importante observar os elementos utilizados,
distorcidos ou acrescentados, com o fim de obstruir o confronto
com um determinado estímulo ou conflito, bem como perceber
como tais pressões são enfrentadas, desviadas, negadas ou
deformadas.

Enfim, chegar a uma compreensão dinâmica da situação.


Desfecho
Há vários desfechos possíveis, que vão indicar como o herói
resolve as suas dificuldades, os seus conflitos, como trabalha
com suas necessidades internas e como enfrenta as pressões
que provêm do ambiente.
 O examinador pode identificar o êxito ou o fracasso na
resolução das dificuldades, verificando qual a proporção
existente entre os finais felizes e infelizes, claros e indecisos,
otimistas e pessimistas, mágicos e realistas ou, ainda,
convencionais.
Pode-se examinar se o herói demonstra insight das suas
dificuldades, se dissocia no desfecho ou integra suas
percepções, conseguindo chegar a conclusões, ou não.

O desfecho, além de permitir a avaliação da adequação ou


não à realidade, fornece alguns dados para a formulação de
indicações terapêuticas.
Tema

A interação entre uma ‘necessidade’ (ou fusão de


necessidades) do herói e uma ‘força’ (ou fusão de forças) do
ambiente, unida ao desfecho (triunfo ou fracasso do herói).
 O tema pessoal pode adequar-se, ou não, aos significados
padronizados das lâminas.

O tema pessoal, não-padronizado, pode revelar a linha de


pensamento do sujeito.
Rapaport (1965) propôs três regras para a avaliação do
significado do tema nas histórias.

 Em primeiro lugar, quanto mais uma história se desvia do


material padronizado, tanto mais significativo e importante
será o seu conteúdo ideacional.
 Em segundo lugar, quanto maior for o número de histórias
que se desviam dos significados padronizados, menor é a
probabilidade de que uma, em particular, expresse a história
interna do sujeito.

 Em terceiro lugar, um grande número de histórias que se


desviam dos significados padronizados pode indicar a
presença de patologia.
EXEMPLO
 Informações básicas:

- Rapaz de 19 anos, solteiro, filho único, cujo pai é médico.


- Refere ter namorada, de quem gosta muito.
- Durante o ensino médio, diversas vezes manifestou a vontade
de cursar Engenharia Civil. Contudo, seus pais sempre
desejaram que fosse médico e que, após a graduação, fosse
se especializar no exterior.
- O jovem fez vestibular para Medicina, sendo aprovado. Não
obstante, ao longo do primeiro semestre, sentiu-se
“desmotivado, tendo tirado notas baixas”.

- Então, decidiu procurar uma psicóloga.


Lâmina l: “O jovem estuda música e gosta de música desde
pequeno. Certo dia, estudando as partituras musicais,
começou a tocar.

Parou logo... não conseguiu tocar mais.


Estava difícil.
Os professores estavam observando e insistiram para que ele
tocasse.
Ele ficou triste e pensou: ‘Preciso ir em frente... O que vai me
acontecer, se não conseguir? Estão exigindo muito de mim’.
Ficou quieto, pensando no que fazer.

Por um lado, quer tocar, mas receia não conseguir. E logo ele,
que sempre foi tão estudioso... E fica assim durante o tempo
todo da aula”.
 Título: O jovem estudioso e o violino
 Herói: O jovem estudioso, com traços de incapacidade e de
introversão. É submisso, sente medo, não tem confiança em
si.
 Motivos, tendências e necessidades do herói:
O herói sente necessidade de realização pessoal e de
conhecimento. Quer pensar, refletir, para resolver suas
dificuldades.
 Estados interiores: Está inseguro e quer se sentir seguro
quanto ao que é importante em seus estudos. Sempre foi
estudioso, atendendo às suas expectativas e às dos
professores (pais). Submissão e desejo de independência.

 Quer se sentir seguro, confiante em si, mas não consegue.


Este é o seu conflito. O afeto predominante é de tristeza. Mas
há também sinais de ansiedade: sente-se exigido,
pressionado e tem medo de não conseguir.
 Há ansiedade de perda de aprovação, de amor (“O que vai
me acontecer, se não conseguir?”).
 As defesas mais evidentes são repressão e negação.

 O superego é severo: é exigente consigo mesmo.

 Pressões do ambiente: Nas relações interpessoais, sente


pressões de aquisição, de conhecimento, de respeito e de
proteção.
 Desfecho: O herói não resolve seu conflito, suas dificuldades.
Reage às pressões com passividade (fica em silêncio,
parado).

 Tema: O tema é de um jovem inseguro diante das pressões


pessoais e sociais.

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