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São Paulo
2007
Centro Universitário Ibero-Americano
São Paulo
2007
Heder Osny de Souza Honorio
UNIBERO
Data de aprovação:
Membros da Banca:
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RESUMO
intersemiótica dos quadrinhos V de Vingança (Alan Moore e David Lloyd, Panini Comics,
2006) para o cinema, com o filme homônimo (dirigido por James McTeigue, Roteiro de Andy
e Larry Wachowski, Warner Bros. Pictures, 2006). O procedimento adotado para a análise
inclui verificar os elementos mantidos, excluídos e adaptados, tomando por base teóricos
como Julio Plaza, Scott McCloud e Roman Jakobson,e as declarações dos próprios
responsáveis pela transformação. Os resultados indicam que houve uma preocupação da parte
forma a apresentar a uma nova audiência a mensagem apresentada pelos autores originais nos
anos 80.
ABSTRACT
This paper aims to present and discuss the strategies used in the intersemiotic
translation of the work V for Vendetta (Alan Moore e David Lloyd, Panini Comics, 2006)
from the comics to the cinema with the eponymous movie (directed by James McTeigue, with
screenplay by Andy and Larry Wachowski, Warner Bros. Pictures, 2006).The procedure
adopted for the analysis included the verification of the elements that were kept, excluded or
adapted, grounded in the works of theorists as Julio Plaza, Scott McCloud and Roman
Jakobson, as well as the statements of the people responsible for the transformation. The
results point out to a concern, by the screenplayers, in building a plot that was consistent with
the original and presented internal cohesion, in order to present to a new audience the
INTRODUÇÃO.............................................................................................12
1.Transportando histórias entre diferentes veículos.......................................15
1.1.As linguagens...........................................................................................15
2.Mecanismos da transmutação.....................................................................18
2.1.Personagens..............................................................................................18
2.1.1.Mantidas................................................................................................18
2.1.2.Suprimidas.............................................................................................27
2.2.Ambientação.............................................................................................28
3.1.Mantidas...................................................................................................31
3.2.Adaptadas.................................................................................................31
3.3.Excluídas..................................................................................................32
3.4.Adicionadas..............................................................................................33
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................35
REFERÊNCIAS.............................................................................................36
6
INTRODUÇÃO
Jakobson, Aspectos Lingüísticos da Tradução, em que o lingüista russo descreve os três tipos
diferente mídia, como vemos neste trecho de uma matéria do jornalista e quadrinista Claudio
para filmes como esses. A todo momento surgem novidades sobre versões de
Por outro lado, porém, os leitores de quadrinhos costumam reagir de forma negativa a
respeito de tais traduções e, em certas situações, os próprios autores da obra original recusam-
se a ter seus nomes associados à obra cinematográfica, como é o caso do próprio Alan Moore,
que, além do V de Vingança(V for Vendetta no original) aqui analisado, teve suas obras As
Inferno(From Hell) traduzidas para cinema, e sempre se posicionou de forma contrária a tais
1
YUGE, Cláudio, Cinema vive ''boom'' de adaptações de quadrinhos,
http://www.bonde.com.br/colunistas/colunistasd.php?id_artigo=1388, acesso em 09/07/07
7
“I've read the screenplay, so I know exactly what they're doing with it, and I'm not
going to be going to see it. When I wrote "V," politics were taking a serious turn for
the worse over here. We'd had [Conservative Party Prime Minister] Margaret
Thatcher in for two or three years, we'd had anti-Thatcher riots, we'd got the
National Front and the right wing making serious advances. "V for Vendetta" was
specifically about things like fascism and anarchy.(...) It's a thwarted and frustrated
and perhaps largely impotent American liberal fantasy of someone with American
liberal values [standing up] against a state run by neo-conservatives — which is not
what "V for Vendetta" was about. It was about fascism, it was about anarchy, it was
about [England](...)”2
segundo a qual “o tradutor traduz, isto é, transporta a carga de significados, mas não deve
interferir nela, não deve 'interpretá-la'”3. Amplamente criticada por Arrojo, por exemplo, essa
visão é questionada por teorias mais contestadoras da tradução, que a definem como
propondo, em vez disso, que a tradução deverá “ser fiel não ao texto 'original', mas àquilo que
consideramos ser o texto original, àquilo que consideramos constituí-lo, ou seja, à nossa
propósito da tradução.
O conceito é expandido por Júlio Plaza, ao explicar que: “É evidente que tudo parece
2
MOORE, Alan, MTV.com, Alan Moore: The Last Angry Man,
http://www.mtv.com/shared/movies/interviews/m/moore_alan_060315/, acesso em 28/05/07.
“Eu li o roteiro, então eu sei exatamente o que eles vão fazer, e não pretendo assistir ao filme. Quando eu escrevi
"V," a política estava mudando para bem pior por estes lados. Nós tivemos a Margaret Thatcher(Primeira Ministra do Partido
Conservador) por cerca de dois ou três anos, tivemos os tumultos anti-Thatcher, tivemos a Frente Nacional e a extrema direita
alcançando progressos importantes. "V de Vingança" era especificamente sobre assuntos como fascismo e anarquia.(...) O
filme é uma fantasia americana liberalista distorcida, frustrada e talvez impotente feita por uma pessoa com valores
americanos desafiando um estado dominado por neo-conservadores, e isso não tem nada a ver com “V de Vingança”, que era
sobre fascismo, anarquia e a Inglaterra(...). ”(Nossa tradução)
3
ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução – A teoria na prática. São Paulo, Editora Ática, 2003, p.13
4
Idem, p.24
5
Idem, p.44
8
traduzível, mas não é tudo que se traduz. Traduz-se aquilo que em nós suscita empatia e
Tendo isso em mente, neste trabalho buscaremos retratar a forma como foi executado
processo.
Para esse fim, no primeiro capítulo de nossa análise teremos uma reflexão,
tradução intersemiótica. No capítulo seguinte, discutiremos as formas pelas quais foi efetuada
cenas incluídas, excluídas, mantidas e adaptadas, e analisaremos a sua relação com a forma e
6
PLAZA, JULIO, Tradução Intersemiótica, São Paulo, Perspectiva, 1987, pp.33-34
9
Júlio Plaza (1987), em seu livro Tradução Intersemiótica, apresenta três diferentes
formas que a Tradução Intersemiótica pode assumir, de acordo com a espécie dominante de
signos utilizada. Os signos, por sua vez, são divididos “conforme a sua natureza própria,
quanto a sua relação com seu objeto e quanto a sua relação com seus interpretantes” 7. As
espécies de signos são: os ícones, que apresentam semelhanças entre suas qualidades, seu
objeto e seu significado; os índices, que operam pela sua relação real com o seu Objeto
Dinâmico, e os símbolos, para serem interpretados, operam com referência à uma convenção
ou hábito.
tradução intersemiótica:
a) Tradução Icônica:
aquelas que embora apresentem uma leitura equivalente ou semelhante ao original, o façam
b) Tradução Indicial:
Esta segunda forma de tradução intersemiótica é caracterizada por apresentar uma relação de
continuidade com o original. Para este tipo de tradução, Plaza também estabelece duas
correspondência ponto a ponto com relação ao original, ou como o próprio autor explica:
pontos vizinhos de uma correspondem dois pontos vizinhos de outra. Assim, os dois
7
PLAZA, JULIO, Tradução Intersemiótica, São Paulo, Perspectiva, 1987, p.21
10
cristalizações.”9
c) Tradução simbólica
Por fim, o terceiro tipo descrito por Plaza é a tradução simbólica, que opera por meio
da convenção usada para a sua interpretação. Plaza define seu funcionamento da seguinte
Imediato, essência do original. A tradução simbólica define a priori significados lógicos, mais
Portanto, a escolha por uma das formas define se a tradução irá operar,
podemos perceber que, em vez de optar por uma única forma dominante de tradução, os
diretores fazem um constante intercâmbio entre as três. Assim, cenas como o reencontro de V.
com a Dra. Delia Surridge podem ser qualificadas como Tradução Indicial, enquanto o
segmento em que Evey é abordada à noite por agentes do governo apresenta características de
8
Idem, p.92
9
Idem, p.92
10
Idem, p.93
11
Creedy e Gordon Dietrich pode ser definida como uma Tradução Simbólica.
1.1.As linguagens
tomar nota de algumas das características de cada um destes meios. Em comum, ambas as
obras apresentam o fato de serem sincréticas: no caso dos quadrinhos, trata-se de uma
combinação de texto lingüístico com texto pictórico, como podemos ver na definição
defendida por Scott McCloud, em sua obra Desvendando os Quadrinhos, que os classifica
como “Imagens pictóricas e outras justapostas em seqüência deliberada” 11. O autor propõe,
McCloud ainda prossegue na comparação ao afirmar que “(...)você pode dizer que,
antes de ser projetado, o filme é apenas um gibi muito, muito, muito lento”13.
Cabe lembrar aqui, que apesar dessas semelhanças, o cinema é uma forma
sincretismo que existe é entre os elementos sonoros (falas, efeitos sonoros, música incidental)
11
McCLOUD, SCOTT, Desvendando os Quadrinhos, São Paulo, M. Books, 2005,p.9
12
Idem, p.7
13
Idem, p.8
12
cinematográfica).”
continente pelo contido, o possuidor pela coisa possuída, o autor pela obra, o
inventor pelo invento, o concreto pelo abstrato, o lugar de procedênca pelo do objeto
O mesmo autor define metáfora, na mesma obra, da seguinte forma, após um longo
aspectos da obra V de Vingança presentes nos quadrinhos e a forma como foram tratados em
14
MOISÉS, Massaud, Dicionário de Termos Literários, São Paulo, Cultrix, 2004, p.291
15
Idem, p.286
13
2.Mecanismos da transmutação.
Segue uma exposição da transmutação executada por Andy e Larry Wachowski sobre
a obra de Alan Moore e David Lloyd , com o uso de uma abordagem comparativa entre os
obra.
2.1.Personagens
Dividiremos esta seção da análise entre personagens mantidas e suprimidas. Cabe uma
breve nota sobre a personagem Valerie Page: uma vez que no início da narrativa (tanto nos
quadrinhos quanto no cinema) ela já está morta, achamos prudente, para os fins desta análise,
2.1.1.Mantidas
Na obra de Alan Moore, o nome do líder é Adam Susan, e ele fala bastante de si
mesmo. Ele apresenta sinais de megalomania, como podemos ver no capítulo cinco do tomo I,
quando ele descreve a si mesmo como “Líder dos perdidos. Governante das ruínas.” 16, bem
como no capítulo 7 do tomo III, quando ele expressa a si mesmo sua sensação de solidão
perante a multidão de seus governados: “Só eu estou aqui, não? Desde pequeno, sei que
Além disso, Susan apresenta, no começo da história, uma aparência dominadora que
aos poucos se dissolve, culminando com a descoberta que o super-computador Destino (que
Susan via, ao mesmo tempo, como uma manifestação de Deus e como uma amante fiel) foi
16
MOORE, Alan e LLOYD, David, V de Vingança, Panini Comics, São Paulo, 2006, p.39
17
Idem, p.234
14
dominadora de Susan de uma forma intensificada, mantendo sua sanidade mental estável no
simbólica, uma vez que retém apenas aquilo que há de mais abstrato no personagem (Uma
figura de poder inflexível que coordena os esforços das diversas áreas dentro de sua
mencionada relação com o computador Destino. De fato, é digno de nota o fato de que no
conduzir conversas individuais com os seus comandados dentro de seu próprio gabinete, o
sem sair do mesmo gabinete, acessa as câmeras do local onde eles estão para receber
informações atualizadas em tempo real. Sutler por sua vez, reúne o seu pessoal em uma sala
de reuniões com um telão onde aparece sua imagem e vocifera, de maneira impessoal, com o
grupo como um todo. De forma geral, vemos que Susan, nos quadrinhos, é um líder de
início deste trabalho sobre sua obra tratar de fascismo e o filme efetivamente lidar com a
questão dos neo-conservadores), chegamos à associação feita por Plaza, de que “a tradução
sensíveis”18, como é o caso aqui, em que menos ênfase é dada ao fato do líder da Nórdica
18
PLAZA, JULIO, Tradução Intersemiótica, São Paulo, Perspectiva, 1987, p.93
15
Chama ser líder de um governo fascista do que ao fato dele ser uma figura de poder, de forma
Conrad Heyer
pelas câmeras de segurança espalhadas por Londres) é um marido submisso à sua esposa, que
tramas secundárias de intriga política da HQ, a presença de Conrad Heyer no filme tem uma
importância altamente diluída. Ele é apenas o responsável pelo “Olho”, mas não se envolve
(como a subserviência à sua esposa, por exemplo; de fato, o filme nem sequer menciona se
Conrad é casado), os diretores estão executando o processo ao qual Plaza se refere com as
Delia Surridge
A Dra. Delia Surridge é um dos personagens que tem uma participação virtualmente
idêntica nos quadrinhos e no filme. Ela é uma legista que trabalha na Scotland Yard, e que no
19
Idem, p.92
16
passado trabalhou no campo de Larkhill desenvolvendo novas armas biológicas. Ela mostra-
se arrependida pelo seu passado, e quando é visitada por V, que irá matá-la, mostra-se
aliviada por não ter mais que suportar o peso daquelas memórias.
humanidade: “Acho que eu também gostei do que fiz naquela época. As pessoas são
diabólicas. Há algo errado conosco. Uma falha hedionda. Nós merecemos a forca. Merecemos
muito.”20 Já no filme, a Dra. Surridge é mostrada como uma ferramenta nas mãos do sistema:
morte) que em um nível mais profundo são sensivelmente diferentes (como já foi dito, nos
quadrinhos Delia tem uma visão negativa sobre a humanidade de forma geral, e no filme ela
age apenas como uma ferramenta do poder) a um mesmo fato (terem conduzido experimentos
personagem como uma tradução icônica isomórfica, que ocorre “quando substâncias
e moléculas”22. Ou seja, dois personagens que encaravam de forma distinta as suas atividades
presente, abalada por remorsos pelo que ocorreu no campo, ansiando o perdão da parte de V,
Dominic
20
MOORE, Alan e LLOYD, David, V de Vingança, Panini Comics, São Paulo, 2006, p.74
21
McTEIGUE, JAMES, V de Vingança, São Paulo, Warner Bros Video, 2006
22
PLAZA, JULIO, Tradução Intersemiótica, São Paulo, Perspectiva, 1987, p.90
17
ao de Conrad Heyer, e assim como ocorre com Heyer, pode-se considerar Dominic também
recorte, neste caso, é do fato dele ser o assistente de Eric Finch, simplesmente), e como tal,
Eric Finch
momento de “iluminação”). Ele não tem entusiasmo pelo governo fascista da Nórdica Chama,
apenas é uma pessoa naturalmente ligada à noção de ordem, como podemos ver nesta
`Nova Ordem´. Meu trabalho é apenas ajudar a Inglaterra a sair deste buraco”23.
Na HQ, Finch passa por uma profunda transformação após ser afastado do “nariz” por
Durante esse período de suspensão, o detetive decide experimentar uma dose de LSD
para, atavés das alucinações provocadas, alcançar uma percepção da realidade comparável
com a de V. Ao alcançar tal percepção, percebe que a causa de seu descontentamento com a
vida é resultado de ele permitir-se ser usado como uma ferramenta em mãos alheias.
apresentando de forma clara o seu descontentamento com o governo, e não chega a realizar a
A solução de tradução usada para este personagem foi a de uma tradução simbólica,
empregando a imagem abstrata de uma pessoa que faz parte do sistema e persegue o agitador
23
MOORE, Alan e LLOYD, David, V de Vingança, Panini Comics, São Paulo, 2006, p.32
18
da ordem que ameaça esse sistema, embora não esteja necessariamente contente com o
Evey Hammond
Tanto nos quadrinhos quanto no filme, Evey Hammond é a personagem que dá início
à narrativa. Nos quadrinhos, ela é uma jovem de dezesseis anos que está saindo para a sua
primeira noite de trabalho quando é abordada por agentes do “dedo” (a polícia repressora do
governo) que a atacam. Ela é resgatada por V, que a leva para seu esconderijo, a Galeria das
foram erradicadas quando a Nórdica Chama assumiu o poder. Evey, apesar de sua
personalidade frágil, decide aliar-se a V em sua vingança, mas logo percebe que não tem a
que ele mesmo ocupou em Larkhill, onde ela descobre um bilhete de despedida escrito por
Valerie Page, uma prisioneira que já estava morta. Ao ler aquelas linhas sobre quem ela foi
antes de ser aprisionada, como foi sua vida antes dos fascistas tomarem o poder, Evey
desenvolve uma força de personalidade que ela não sabia existir. Quando ela é levada para a
sala de interrogatório e lhe oferecem a oportunidade de assinar uma confissão falsa ou de ser
fuzilada, ela recusa-se a mentir para si mesma, percebendo que sua integridade é mais
importante que sua vida. Ao perceber isso, o guarda que a leva de volta à cela, lhe diz que ela
está livre.
Ao descobrir que o seu aprisionamento foi uma farsa, Evey passa por um conflito
emocional que desencadeia um ataque de asma durante o qual ela quase morre, mas ao
reencontrar a mesma paz de espírito que encontrou quando foi ameaçada de morte, ela supera
Ao fim da narrativa, quando V morre, ela compreende que cabe a ela assumir para si
com as diferenças de que aqui Evey não é uma jovem prostituta, mas uma funcionária da TV
estatal, e só é levada por V para o seu esconderijo após o seu ataque à torre Jordan. De fato, o
“Havia algumas coisas que nós queríamos abordar. Uma delas era a personagem
Evey, que nos quadrinhos era uma garota de cabelos louros meio insignificante.
Achamos melhor fazê-la um pouco mais inteligente, uma pessoa com mais
No filme, ela apresenta uma personalidade mais forte que nos quadrinhos, como
podemos ver na cena da invasão à torre Jordan, em que Evey ataca um policial que tenta deter
V.
Por fim, nesta versão Evey não toma sobre si o manto de V. Em vez disso, temos a
possível interpretação de que cada membro da população deve, em algum sentido, ser V,
tradução icônica paramórfica, na qual, segundo Plaza temos “o segundo modelo (a tradução)
Gordon Dietrich
Gordon é um dos personagens que no filme sofreu alterações mais impactantes, como
24
McTEIGUE, JAMES, Liberdade! Sempre! São Paulo, Warner Bros Video, 2006
25
PLAZA, JULIO, Tradução Intersemiótica, São Paulo, Perspectiva, 1987, p.90
20
resultado de o filme ter afastado seu foco das intrigas políticas internas do partido. Nos
quadrinhos, Gordon é um traficante do mercado negro que acolhe Evey após esta ser
acostumar-se com a sensação de segurança, de ter uma vida estável, Gordon é assassinado por
não se envolve sentimentalmente com Evey, mas mostra-lhe seu acervo de objetos de arte
banidos, inclusive uma cópia do Corão e fotografias pornográficas. Ao descobrir isso, Evey
ao mesmo tempo em que fica chocada, também expressa um alívio por estar junto a alguém
Dietrich é o de uma tradução simbólica, no sentido de que foi mantida a função que a
personagem desempenha na trama (abrigar Evey após ela romper com V, e em seguida
morrer, iniciando na jovem o processo de reação contra a situação em que vive), mas em todo
Lewis Prothero
Nas duas versões, Prothero foi o comandante do campo de Larkhill, onde V foi cobaia
personificar a voz do super-computador Destino, que todas as noites é transmitida por rádio
para toda a cidade. Faz parte do esquema de dominação da Nórdica Chama convencer a
população que Destino tem vida própria e suas decisões são infalíveis.
Prothero é a primeira vítima de V, e a única que sobrevive a seu ataque, apesar de ter
inútil para a sua função como voz de Destino. Quando o governo é forçado a trocar a voz que
Já no filme, Prothero foi remanejado do papel de Destino para a televisão, aonde ele
faz um programa chamado “A Voz de Londres”. No lugar de dominar o povo por meio de um
homem que posa como um computador infalível, aqui a Nórdica Chama domina a opinião
segurança no campo de Larkhill), sem detalhar suas outras características (como sua coleção
de bonecas, por exemplo), e inserí-lo em uma situação diversa, como um apresentador de TV,
Peter Creedy
Nos quadrinhos, Peter Creedy é o sucessor de Derek Almond no “dedo” após este ser
assassinado por V na casa de Delia Surridge. Ele é apresentado após a invasão de V à torre
Jordan. Logo no início ele já desenvolve um desentendimento com Eric Finch, que leva este
verdadeira figura de poder da Nórdica Chama, levando às ruas a repressão de seus soldados
recrutados por Alistaire Harper, que no fim das contas assassina Creedy ao ser subornado por
Helen Heyer, que exerce poder sobre ele por meio de dinheiro e sexo.
Apesar de sua posição, Creedy não é um tipo militar. Ele é um homem que acredita no
22
governo através da força exercida sobre os fracos, lembrando nesse aspecto o líder Adam
Susan. Contudo, ele também é um corrupto, sempre pronto a exercer essa força através do
dinheiro.
fato de ser um homem determinado e duro, bem como o fato de sofrer pressão direta do
chanceler Adam Sutler com relação à captura de V. O Creedy do filme também incorpora a
sede por poder de Helen Heyer, sendo mostrado como um dos principais responsáveis pelos
supostos ataques terroristas que foram a plataforma que levou à ascenção da Nórdica Chama
ao poder. Outro sinal dessa característica herdada de Heyer, é que ao invés de planejar um
esquema para tomar o lugar de Sutler com um exército particular, este Creedy faz um acordo
que de forma semelhante aos outros casos deste tipo de tradução até agora apresentados, são
apresentados recortes do original em um novo contexto, porém, neste caso específico, foram
usados recortes de diversas partes do original (extraídas das personagens Helen Heyer, Derek
diverso.
Reverendo Lilliman
Assim como Delia Surridge, o Reverendo Lilliman é um dos personagens que no filme
é retratado com maior semelhança à sua contraparte dos quadrinhos. No momento em que
ocorre a narrativa, ele é o bispo responsável pela Catedral de Westminster, onde entre muitas
pedófilo e cliente regular de uma agência de prostitutas que lhe atende com garotas menores
de idade.
23
características da personagem original, pode ser classificada como uma tradução indicial
para um outro meio”26, de forma a obter uma “correspondência entre elementos, isto é,
Roger Dascombe
encarregado das comunicações. Quando V invade a torre Jordan, de onde são feitas a
transmissões da TV estatal, para apresentar o seu manifesto à população de Londres, ele veste
Dascombe com uma cópia de sua fantasia e o deixa amordaçado para ser encontrado pelos
policiais que estão a caminho de invadir a torre, e no final das contas, Dascombe é baleado e
morto, quando os policiais pensam que ele é o verdadeiro V. Na versão dos quadrinhos,
Cabe mencionar que nos quadrinhos, Dascombe faz parte do mesmo núcleo da história
dos Almond e dos Heyer: quando Derek Almond é morto, Dascombe toma sua viúva,
Rosemary como amante, em troca de sustento financeiro. E quando Dascombe morre, ficando
sem ninguém, Rosemary começa a desenvolver o plano que resultará na morte de Adam
Susan.
No filme, como já mencionamos, essa trama toda que resulta no assassinato de Susan,
não ocorre, e dessa forma, o papel de Dascombe acaba sendo bem mais discreto do que nos
quadrinhos. Efetivamente, o filme apenas nos oferece algumas poucas aparições de Dascombe
em reuniões da “cabeça” antes da seqüência da invasão à torre e seu assassinato, o qual não
26
Idem, p.91
27
Idem, p.92
24
um padrão semelhante aos das personagens Conrad Heyer e Peter Creedy, já analisados aqui,
mais profundas. Nos quadrinhos, ele é um anarquista com capacidades sobre-humanas obtidas
graças a experimentos médicos executados no campo de Larkhill, que afetaram tanto seu
corpo quanto sua mente. Após encontrar uma carta de sua vizinha de cela, Valerie Page, V
passa por uma mudança semelhante àquela pela qual Evey passará alguns anos depois, e
limpeza para confeccionar gás mostarda e napalm, e os utiliza para destruir o campo, fugindo
de lá com terríveis queimaduras, mas passando por uma iluminação, semelhante àquela que
Após sair do campo, V passa os cinco anos seguintes preparando a sua operação de
vingança contra não só os responsáveis pela deformação de seu corpo e sua mente, mas
também contra o sistema que permitiu que tais pessoas realizassem tais atrocidades. Durante
esse tempo, ele também trata de assassinar cada um dos funcionários que trabalharam em
Larkhill, fazendo de maneira que pareçam acidentes sem conexão entre si.
Os recursos de V parecem ser inesgotáveis. Nos cinco anos que se seguiram à queda
dominando o sistema de Destino), e por extensão tem acesso a tudo o que as câmeras de
segurança capturam, sabe dos horários de partida e chegada de todos as formas de transporte e
25
consegue facilmente recuperar a cultura perdida que foi proibida pelo regime da Nórdica
Chama, construindo com esses recursos, a Galeria das Sombras, o lar de onde ele planeja
derrubar o sistema.
si mesmo não mais como uma pessoa, mas como uma idéia, ou talvez como um aspecto de
impérios, fazem telas com os destroços, onde os criadores erguem mundos melhores.
explosivos, então. Fora com os destruidores. Eles não têm lugar em nosso mundo
melhor”28.
Como podemos ver por este trecho, V considera que sua morte é necessária para que o
mundo melhor que ele idealizou venha à existência, e assim, ele prefere entregar-se à morte
nas mãos de Eric Finch, que após receber sua iluminação, consegue encontrar a entrada para o
esconderijo de V, que o encontra desprevinido, mas mesmo assim se deixa alvejar de maneira
fatal, sem porém, deixar claro que está agonizando depois de ser atingido. Ao invés disso, ele
diz a Finch que “não há carne ou sangue dentro deste manto pra morrerem. Há apenas uma
O V do cinema, por outro lado, segue mais o tipo do aventureiro de capa e espada,
como Zorro ou os Três Mosqueteiros, por exemplo. Trata-se de uma figura romântica,
de Monte Cristo”, com uma vingança a executar que é até mesmo mais importante que a sua
própria vida.
28
Idem, p.224
29
Idem, p.238
26
A morte de V no filme não parece ser algo que ele realmente planeja desde o
princípio, mas ele não teme enfrentar os homens armados de Creedy, exterminando todos eles
com suas facas e matando Creedy com suas próprias mãos, enquanto lhe repete a mesma frase
que nos quadrinhos é dita a Eric Finch, sobre ele ser uma idéia.
de V foi feita por meio da tradução icônica paramórfica. Uma vez que na versão em
quadrinhos ambas as personagens constituem um mesmo núcleo, o que vemos aqui é que na
diferente juntamente com uma Evey radicalmente diferente daqueles que são mostrados nos
quadrinho.
2.1.2.Suprimidas
Alistaire Harper
simulada de Evey. Além disso, ele se envolve nas tramas de Peter Creedy e de Helen Heyer
para tomar o poder da Nórdica Chama. Ao se envolver com Helen Heyer, ele se torna um
agente duplo, apenas aguardando o momento para assassinar Creedy e colocar o seu exército
pessoal a serviço de Heyer. Porém, este plano é frustrado quando Conrad Heyer descobre que
sua mulher está traindo-o com Harper. Conrad prepara uma emboscada para Harper em sua
Derek Almond
características presentes no Peter Creedy do cinema estão originalmente presentes nele, como
o seu comportamente áspero e a pressão exercida sobre ele pelo Líder para que dê um fim em
V. Além dessas características, vemos que Almond desconta suas frustrações com sua esposa,
Rose, agredindo-a e exercendo pressão de poder sobre ela, chegando até mesmo a ameaçá-la
Quando Delia Surridge é assassinada, Almond vai à sua casa na tentativa de encontrar
V antes que ele deixe o local. Ele de fato encontra o assassino, mas no momento em que vai
executar V, percebe que sua arma (que no mesmo dia ele havia usado para aterrorizar Rose)
psicológica, também. Essa situação que se arrasta por meses leva Rose a assassinar o Líder
Helen Heyer
inferioriza seu marido, Conrad, de forma semelhante à que Derek Almond faz com Rose,
porém, ao invés de usar para esse propósito a força e a violência, utiliza o sexo, deixando-o
Rose Almond
Rose Almond é a esposa submissa de Derek Almond. A morte de Derek deixa Rose
sem sustentação financeira, pois seu marido não permitia que ela trabalhasse. Primeiramente
ela se torna parceira de Roger Dascombe, mas não demora muito para que ele também morra
28
na invasão à torre Jordan. Por fim, a única solução que ela encontra é trabalhar como
dançarina em um clube noturno. Aos poucos ela começa a perceber a degradação de sua
situação, e conclui que o culpado por ela é Adam Susan. Como conseqüência, durante uma
único núcleo da história. Assim sendo, julgamos oportuno analisar a operação efetuada na
núcleo referido.
tradução de seu original, o que confere a essa operação, como um todo, as características da
tradução icônica, que nas palavras de Plaza: “estará desprovida de conexão dinâmica com o
original que representa; ocorre simplesmente que suas qualidades materiais farão lembrar as
2.2.Ambientação
visão de 1982. O filme não apresenta em momento algum uma menção clara à época, situando
a trama apenas em um futuro próximo, de forma genérica. Nas duas versões os autores situam
os acontecimentos que levam à história atual no tempo em que foram escritas (no caso da HQ,
tais acontecimentos são mostrados nos anos 80, e no filme são mostrados no final dos anos
90).
personagem V como um terrorista anarquista. Essa visão de futuro foi fortemente influenciada
pelo próprio clima político dos anos 80, como o próprio Moore explica no artigo Por trás do
sorriso pintado:
perturbadora facilidade, bolei o curso dos acontecimentos a partir desse ponto até a
Por outro lado, o filme dos Irmãos Wachowski apresenta uma abordagem mais
relaxada a respeito do tema de poder político. O clima mantido nessa obra, apesar de sério, é
de certa forma mais descontraído do que os quadrinhos, como vemos no comentário do ator
Stephen Fry:
“Creio que a sátira, no filme, existe em profusão. É um filme que não se restringe
em sua sátira contra o autoritarismo, a opressão, contra a mudança geral que está
se fizer com que o povo se una e perceba como o governo de alguma forma perdeu o
controle(...)”33.
que não apenas é o mesmo tipo de alteração executada sobre as personagens V e Evey, como
33
MaC TEIGUE, JAMES, Liberdade! Sempre! São Paulo, Warner Bros Video, 2006
31
A seguir, teremos uma análise de algumas das cenas presentes no filme e a forma
selecionamos uma cena de cada uma dessas categorias. Como “mantidas” consideramos as
cena que apresentam a mesma trama nas duas versões, com pequenas modificações em alguns
casos, mas sem alterar seu desenvolvimento. Consideramos como “adaptadas” as cenas que
para chegar ao mesmo resultado. As cenas “excluídas” são aquelas que não foram
reproduzidas no filme nem substituídas por outras semelhantes. Por fim, temos a categoria das
“cenas adicionadas”, que são cenas que não estão presentes no texto original, mas que por um
3.1.Mantidas
Esta cena foi recriada no cinema de forma bem semelhante aos quadrinhos. De fato, a
finais, ter duas diferentes atitudes: Na HQ, ela pede a V para ver seu rosto sem a máscara, e
admira a visão antes de morrer; já no filme, ela pergunta ao mascarado se é tarde demais para
A uma primeira análise, seria possível classificar a cena como uma tradução indicial
correspondência ponto a ponto entre os elementos dos dois conjuntos de signos” 34. Porém,
34
PLAZA, JULIO, Tradução Intersemiótica, São Paulo, Perspectiva, 1987, p.92
32
nesta cena temos a presença da personagem Delia Surridge, que como já vimos anteriormente,
foi transportada ao filme por meio de uma tradução icônica isomórfica, bem como de V, que
foi objeto da tradução icônica paramórfica. Este fato nos traz à atenção a declaração de Plaza
inflexível, mas nos referimos, isto sim, a uma espécie de mapa orientador para as
nuanças diferenciais (as mais gerais) dos processos tradutores. São tipos de
reais.”35
Portanto, o que temos aqui nesta cena é uma tradução tradução indicial topológica-
porém alguns desses elementos foram tratados, individualmente, com tipos diversos de
tradução.
3.2.Adaptadas
3.2.1.Evey e os Homens-dedo
Esta é a cena inicial nas duas narrativas. Aqui é apresentado um paralelismo entre
Evey Hammond em seu quarto e V na Galeria das Sombras, ambos preparando-se para sair à
noite. No filme esse paralelismo é acentuado pela câmera que passa de forma intermitente de
Evey para V, e alcança seu ponto máximo quanto o espelho da penteadeira de Evey é
prostituta para um policial à paisana, mas é abordada por um homem que após a reação da
jovem revela-se policial e chama seus amigos. Em ambas as narrativas Evey é salva por V,
35
Idem, p.89
33
Por fim, dois elementos que representam a presença do governo opressor foram
estão arrumando-se, há uma narração de fundo (na HQ é Lewis Prothero transmitindo a Voz
no segundo momento, quando Evey é abordada pelos policiais vemos um cartaz da Nórdica
às alterações feitas sobre as respectivas personagens (Evey, V, e Prothero), sendo até este
desta cena, em que V apresenta-se a Evey, temos diferenças mais marcantes: nos quadrinhos,
após salvar Evey, V detona explosivos plantados nas casas do Parlamento e leva a jovem para
viver em sua Galeria das Sombras, ao passo que na tradução cinematográfica, V explode o
Old Bailey, e não as casas do Parlamento, que são poupadas para o dia 5 de novembro do ano
seguinte. Além disso, nesta versão, Evey retorna ao seu cotidiano em vez de viver com V.
3.3.Excluídas
Esta cena é o clímax do esquema de manipulação arquitetado por Helen Heyer para
levar seu marido Conrad ao poder. Quando a sanidade de Adam Susan começa e deteriorar,
Para alcançar este objetivo, Helen entra em contato com Alistaire Harper, que
comanda o exército particular de Creedy, e faz um acordo com ele para eliminar Creedy
quando chegar o momento. Além disso, Helen e Harper começam a ter encontros sexuais, e
um desses encontros é filmado e gravado por V, que tem acesso a todas as câmeras de
vigilância do “Olho”. Quando Susan é assassinado por Rose Almond, Creedy assume o poder
em caráter de emergência, e como esperado, Harper o executa em segredo e parte para a casa
de Helen.
Paralelamente a isso, Conrad Heyer recebe uma fita com a gravação do encontro de
Helen e Harper, e quando Harper chega, os dois lutam. Harper fere mortalmente Conrad e é
estrangulado por ele. Quando Helen chega em casa, vê Harper morto e Conrad agonizando.
Ao compreender que a luta entre os dois resultou no fim de seus planos de influenciar o
poder, Helen sai da casa e deixa Conrad assistindo sua própria agonia por um circuito fechado
de TV.
não há ninguém para preencher o vácuo do poder e a população começa a seguir suas próprias
narrativa de seu tom anarquista, e como tal, pode ser interpretada como outro caso de tradução
icônica paramórfica .
3.4.Adicionadas
Esta cena ocorre durante o período em que Gordon Dietrich abriga Evey Hammond
em sua casa. Gordon diz a Evey que apresentará uma entrevista em seu programa que
terrorista(V), enquanto outro ator fantasiado como V esgueira-se pelo palco e começa a pregar
pequenas peças, como trocar o charuto de “Sutler” por um charuto explosivo e infiltrar-se no
meio da banda musical do programa, enquanto “Sutler” faz declarações sobre como o
terrorista logo será detido. A cena desenvolve-se com o “terrorista” sendo capturado e
desmascarado, revelando o mesmo rosto do sósia de Sutler. Por fim, os dois sósias começam
a discutir entre si sobre quem é o verdadeiro Sutler, e ambos ordenam ao pelotão de guardas
presente que atirem no impostor. Por fim, o pelotão atira em ambos os sósias, e o quadro
humorístico termina com “V” aparecendo do fundo do cenário e acenando para a platéia.
Após a exibição do quadro humorístico, vemos Gordon discutindo ao telefone com seu
agente. Gordon corre o risco de ser preso, por veicular material politicamente ofensivo, mas
não o leva muito a sério, acreditando que tudo poderá ser remediado com um pedido de
desculpas em público.
Por fim, na mesma noite a casa de Gordon é invadida por homens do “dedo”, liderados
por Peter Creedy em pessoa. Eles agridem e capturam Gordon enquanto Evey esconde-se e
Inglaterra mergulhada no clima anárquico, esta cena é importante para o filme por trazer um
elemento próximo à realidade dos dias de hoje, ou nas palavras de Alan Moore, “um estado
longo deste trabalho com efeito semelhante, pode ser classificada como uma operação da
36
MOORE, Alan, MTV.com, Alan Moore: The Last Angry Man,
http://www.mtv.com/shared/movies/interviews/m/moore_alan_060315/, acesso em 28/05/07.
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
preocupação dos diretores do filme em trazer uma crítica aos costumes políticos de nosso
tempo, de forma semelhante ao que já fora executado por Alan Moore em sua obra original
em quadrinhos.
Apesar da atitude de reprovação por parte de Alan Moore, percebemos que nesse caso
propostos à tradução, de trazer para o texto de chegada os temas tratados no texto de origem e
ao mesmo tempo tratá-los de forma relevante para os leitores atuais. Tendo em mente esses
objetivos, podemos dizer que a escolha dos roteiristas do filme em ambientar a história em um
estado autoritário semelhante aos Estados Unidos atuais e retratar um terrorista inspirado em
heróis românticos de capa e espadas atende aos critérios de uma tradução aceitável e
Vingança” foi originalmente lançada em uma publicação inglesa no início dos anos 80,
durante o mandato de Margaret Thatcher, e o filme de mesmo nome foi produzido nos
Estados Unidos em 2006, posteriormente aos ataques terroristas que marcaram a opinião
Não é exagero afirmar que houve uma preocupação da parte dos roteiristas em
uma nova audiência a mensagem apresentada pelos autores originais nos anos 80 de uma
possível aos roteiristas conceber um filme com caraterísticas icônicas, no sentido de que não
exigia do espectador conhecimento prévio da obra da qual foi originado, indiciais, no sentido
37
de que apresenta uma relação de continuidade para com o seu original, e mesmo
características simbólicas, no sentido de que apresenta questões mais abstratas do que seria
REFERÊNCIAS
ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução – A teoria na prática. 4ª Ed., São Paulo: Editora
Ática, 2003.
JAKOBSON, Roman. Lingüística e Comunicação. 8ª Ed., São Paulo: Editora Cultrix, 1974.
MOORE, Alan e LLOYD, David, V de Vingança, Panini Comics, São Paulo, 2006
MOORE, ALAN, Por trás do sorriso pintado, In V de Vingança, Panini Comics, São Paulo,
2006, pp.275-276
PLAZA, Julio. Tradução Intersemiótica. 1ª Ed., São Paulo: Editora Perspectiva, 1987.
REFERÊNCIAS DA INTERNET