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RESENHA
QUIXADÁ – CEARÁ
2022
O texto escolhido foi o primeiro capitulo “Música, RAP e ensino de História” do
trabalho de conclusão de curso intitulado “Ensino de História e RAP Classe, raça e gênero
como possibilidades de diálogo nas aulas de História”, que tem como autor o professor Esdras
da Silva Barbosa, que se formou em História em 2018 na UnB, desde 2020 cursa Pedagogia
no IESB (Instituto de Ensino Superior de Brasília) e atualmente trabalha como pedagogo
lecionando no ensino fundamental na Secretaria de Estado e Educação Infantil do Distrito
Federal. O texto em questão possui 23 páginas que rapidamente lemos, pois é uma leitura
bastante fluída e interessante, sendo o principal motivo da minha escolha.
O autor inicia falando sobre os desafios de apresentar um ensino de história mais
instigante e valorizado pelos estudantes de ensino fundamental e médio e sobre a ideia de
“consciência histórica” que é necessário desenvolver com os alunos trazendo esse diálogo
entre passado e presente através do RAP como uma das inúmeras ferramentas de ensino-
aprendizagem dentro desse contexto de ampliação de recursos didáticos para o ensino de
história e trazendo reflexões importantes, como por exemplo: Para que e para quem serve esse
conhecimento repassado nos livros de história? O que essas narrativas reforçam? São
perguntas que vem a mente ao ler esse início de texto.
Outra ideia central dessa leitura é como o RAP busca sua historicidade a partir de
outras perspectivas sempre buscando questionar os discursos da classe dominante de poder,
como os meios de comunicação e os canais de TV. Também procurando figuras centrais
diferentes das postas nos livros didáticos, um exemplo usado no texto é de “Dandara” e
“Zumbi”, dois personagens históricos conhecidos pela luta no Quilombo de Palmares, dentre
outros nomes citados nas letras de RAP que o autor não chega a citar como “Malcom X”,
“Mandela”, dentre vários outros nomes importantes para a cultura e o movimento negro não
só no Brasil, mas no mundo inteiro.
Um grupo de RAP citado no texto mais de uma vez é o grupo Tarja Preta, da cidade de
Santos em São Paulo, formado somente por mulheres negras e que trás em suas músicas letras
muito pesadas e necessárias, trazendo reflexões extremamente importantes para a formação
desse pensamento histórico e tendo diversas formas de se discutir em sala para provocar os
alunos de certa forma a ver como o passado escravista do Brasil influencia na atual condição
da população negra no país, sabendo que 75% a 90% da população carcerária é composta por
negros (as). Depois o autor trás uma breve história do RAP, desde seu início na Jamaica até o
RAP no Brasil em meados dos anos de 1988/90 em São Paulo e no Distrito Federal, dentro do
contexto do hip hop como cultura e tendo seus elementos (Street Dance, grafite o RAP)
disseminados em sua grande maioria em grandes capitais, mais especificamente nas periferias.
O gênero musical desde sua criação foi associado à criminalidade no Brasil, mas
atualmente é reconhecido e respeitado como uma forma de protesto em forma de música,
muito escutado pelos jovens também em decorrência das redes sociais o RAP tem uma cena
gigantesca no mercado fonográfico brasileiro mesmo em sua grande maioria trazendo
assuntos pesados como críticas ao sistema, denunciando violências policiais e racismo. E é
um excelente recurso de aproximação do professor com a turma, pois geralmente se os alunos
são acostumados a escutar a batida ou beat no seu cotidiano. Alguns rappers revelações dessa
cena atual que posso citar como exemplos são: Baco Exu do Blues e Djonga (Aluno do curso
de História na Universidade Federal de Ouro Preto) que em suas letras trazem uma carga
histórica enorme. Baco, por exemplo, em sua música Poetas no topo parte II faz diversas
analogias:
“Vai se foder para lá, mas você já se fodeu
Eu tenho fé no seu verso como Nietzsche crê em Deus
Minha existência é heresia, Espírito Sant
Morri e voltei no terceiro dia, Malcolm Afrosamurai X
MCs correm de mim: RUN DMC, RUN DMC
Querem patrocínio da Supreme, eu da Skol
Querem ser Gengis Khan, mas cês só são mongol”
No primeiro pequeno verso, o artista faz uma analogia à crítica que o filósofo
Friedrich Nietzsche fez a religião cristã em suas obras e também fala sobre Gengis Khan, um
dos maiores imperadores da humanidade. E no verso seguinte, Baco Exu do Blues faz uma
crítica direta à escravidão dos negros no Brasil. Já sobre Djonga, apenas escute Ladrão ou
Histórias da minha área, dois álbuns que são sem dúvidas obras primas da música brasileira.
Durante todo o texto o autor trás exemplos claros de como o RAP é uma boa
ferramenta para o ensino de História por diversos motivos como forte adesão na população
jovem dos centros urbanos. Sua musicalidade, ora simples, seca e direta, ora dançante e
contagiante, caiu no gosto popular. Outro ponto de identificação bastante forte são os temas
abordados nas letras que se referem a problemas sociais presentes em grande parte das
cidades brasileiras, as vivencias do passado e do presente, pois como o próprio autor cita:
Já na reta final do texto o autor reforça ainda mais a importância do RAP como peça
fundamental para discussões sobre racismo e relações étnico-raciais, e também da uma breve
introdução para o próximo tópico de sua monografia intitulado “Mulheres no RAP do DF –
lutas, desafios e um pouco de história”, falando sobre o machismo estrutural e a mentalidade
patriarcal, citando referências como Ângela Davis, e também expõe suas ideias a cerca do
aumento do numero de mulheres rappers nos últimos anos no movimento hip-hop, assim
buscando outras discussões além do racismo, mas também busca criticar o próprio movimento
do RAP, que sempre reproduziu e representou as mulheres com essa mentalidade machista. E
encerro essa resenha parafraseando com o grande ícone do RAP brasileiro, que infelizmente
se foi muito cedo, no auge da sua carreira aos trinta anos de idade, Mauro Mateus dos Santos
ou Sabotage: