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Batizado com o Espírito Santo sem falar em línguas?


Eis uma das questões mais discutidas nos últimos dois séculos de nossa existência (pelo menos): É
possível um crente ser batizado com o "Espírito Santo" e ainda assim não falar em línguas? Ou
necessariamente falar em outras línguas é uma evidência de batismo no "Espírito Santo"? Aqui
neste estudo, vamos examinar o contexto bíblico em volta das cenas do chamado "batismo com o
Espírito Santo" e tentar elucidar a questão.

A busca desenfreada pelo "batismo com o Espírito Santo".


Essa questão é realmente controversa e polêmica. Enquanto alguns crentes se vangloriam sobre ela,
por supostamente conseguirem falar em outras línguas sob a chamada "unção do Espírito Santo",
outros sofrem por não conseguirem. Por vezes, estes são até discriminados por não conseguirem.

Há denominações religiosas que julgam ser necessário o crente falar em línguas estranhas, pois isso
seria a evidência de que foi realmente batizado com o "Espírito". Mas se tal crente não consegue
falar nessas línguas desconhecidas, às vezes se sugere que é porque está em pecado, ou não está
abrindo seu coração para Deus suficientemente.

É triste saber que várias pessoas, das quais algumas exercem fé sincera em Deus, são discriminadas
por outras devido essa questão, que certamente tem sido mal interpretada. Na verdade, devido a
falta de se examinar os relatos bíblicos adequadamente, dentro de seu devido contexto histórico e
teológico, muitas fantasias são criadas na mente de diversas pessoas. Paulo, o apóstolo, chega a
mencionar em sua 1ª carta aos coríntios que não queria que seus irmãos fossem ignorantes (sem
conhecimento) a respeito dos dons espirituais, vide 1Co 12:1.

Será que muitos de nós não temos agido sob ignorância hoje em dia?

Então…

Todo crente batizado com o "Espírito Santo" tem que falar em línguas?
Praticamente quase todas as questões a respeito do dom de falar em outras línguas são esclarecidas
no capítulo 14 de 1ª Coríntios. Se cada instrução de Paulo ali fosse seguida nas reuniões, teríamos
cultos muito mais maduros e edificantes. Porém, o que se vê é que essas instruções são quase que
completamente ignoradas em não poucas congregações.
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Então, vamos dar uma lida em alguns trechos deste capítulo, prestando a devida atenção aos
detalhes, a fim de explicar se é possível ou não o crente batizado com o chamado "Espírito Santo"
não falar em outras línguas.

Aquele que fala em outra língua edifica a si mesmo, mas o que profetiza
edifica a congregação.
1 Coríntios 14:4

Só com este versículo já seria possível responder ao questionamento de


nosso estudo bíblico, pois o texto diz "aquele que fala em outra língua". Ora,
se há "o que fala em outra língua", naturalmente há também os que não
falam. Mas no versículo seguinte a questão é mais elucidada ainda, vejamos:

Eu queria que todos vocês falassem em outras línguas, porém quero muito mais que
profetizem; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se
interpretá-las, para que a congregação receba edificação.
1 Coríntios 14:5

Como lemos, Paulo, cujo nome original é Shaul (Saul), desejava que todos os irmãos falassem em
outras línguas. Então, se ele desejava isso, é porque nem todos falavam. Mas isso quer dizer então
que eles não foram "batizados com o Espírito Santo", como dizem hoje em dia? Saul em nenhum
momento sugere isso neste capítulo, mas prossigamos com nosso raciocínio. O versículo 13 diz o
seguinte:

Portanto, aquele que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar.
1 Coríntios 14:13

Aquele que fala em uma outra língua deve orar para que a possa interpretar, mas e quem não fala?

Mais uma vez está claro que nem todos os crentes recebem o dom de falar em outras línguas.

Mas falar em línguas estranhas não seria a evidência do batismo no "Espírito Santo"?
Ora, como ficou bem esclarecido no tópico anterior, se nem todo crente recebe de Deus o dom de
falar em outras línguas, então não há necessidade de ficar insistindo com ele que fale, como
geralmente acontece em não poucas reuniões de busca pelo "batismo no Espírito Santo".

Nós podemos complementar tal afirmação com uma explicação de Saul (Paulo) logo no início do seu
discurso a respeito dos dons espirituais, em 1ª Coríntios 12. O versículo 13 diz o seguinte:

Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito.
1 Coríntios 12:13 Almeida Corrigida Fiel

Como nós lemos acima, o emissário (apóstolo) Saul explica que todos os crentes foram "batizados
em um Espírito". Ademais, na continuidade de seu discurso, tanto no capítulo 12 quanto no 14, que
nós lemos acima, ele dirá que alguns destes que foram "batizados" receberam o dom de falar em
outras línguas, outros não.
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Mas podemos esclarecer ainda mais esta questão. Dos versículos 28 a 30 deste mesmo capítulo (1Co
12), Paulo dirá o seguinte:

E a uns pôs Deus na congregação, primeiramente emissários, em segundo lugar profetas,


em terceiro professores, depois operadores de milagres, depois dons de curar, ajudadores,
líderes, variedades de línguas.
Por acaso são todos emissários? São todos profetas ou professores? São todos operadores
de milagres?
Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?

Perceba que o rabino Saul faz várias perguntas retóricas nos versículos citados acima. Ou seja, ele
estava esclarecendo aos irmãos que, embora todos fossem "batizados" no mesmo "Espírito"
(inspiração), nem todos receberam o mesmo dom. Então está mais do que provado que nem todo
crente que é batizado precisa falar em línguas "estranhas".

Falar em línguas não é necessariamente uma evidência de batismo no "Espírito Santo".

Neste ponto alguém pode se perguntar: então por que no livro dos Atos os que foram "batizados"
falaram?

Na verdade, nem todos os casos de "batismo" relatados em Atos registram a manifestação deste
dom, veja por exemplo Atos 8:36-39, 16:14-15,32-34.

O contexto do "falar em línguas" no livro dos Atos.


Embora, infelizmente, o dom de falar em outras línguas seja visto como algo insano hoje em dia (na
verdade muito do que se vê por aí não é o dom bíblico, mas um êxtase emocional), Deus usou este
"recurso" com sabedoria para unificar povos.

Eu costumo dizer que, para se entender a finalidade do dom de falar em línguas estrangeiras de
modo sobrenatural, basta fazer uma simples leitura dos capítulo 2, 10 e 15:1-31 do Livro dos Atos.

Resumidamente, enquanto acontecia uma festa bíblica/judaica de peregrinação para Jerusalém, a


Festa das Semanas (Shavuot em hebraico), vertida como "Pentecostes" nas bíblias que conhecemos,
um grupo de discípulos galileus, que falavam somente o aramaico, foi capacitado pela inspiração
divina a falar das maravilhas de Deus no idioma de cada um dos peregrinos presentes ali.

Neste ponto, vale ressaltar que o dom que se tornou conhecido como "língua estranha" no mundo
religioso moderno, na verdade se tratavam de idiomas comuns falados por povos antigos.

É perfeitamente possível constatar isso com uma simples leitura dos versículos 7 a 11 de Atos 2.
Nessa lista, estão presentes pelo menos os seguintes idiomas: grego, copta (egípcio), latim, árabe,
dentre outros.

Logo, isso quer dizer que pessoas comuns e sem erudição que falavam somente o aramaico, como
mencionei acima, começaram a falar das maravilhas de Deus em grego, copta, latim, árabe e outras
línguas conhecidas por aqueles judeus e prosélitos que estavam em Jerusalém por ocasião da Festa
das Semanas ("Pentecostes").
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Então o dom de falar em línguas estranhas, isto é, estrangeiras, não é bem isso que se vê por aí a
fora no mundo religioso atual.

Então o dom de falar em línguas estranhas, isto é, estrangeiras, não é bem isso que se vê por aí a
fora no mundo religioso atual. Pois neste meio muitos dizem se tratar da "língua dos anjos", um
equívoco com 1ª Coríntios 13:1; outros se referem como "falar em mistério".

Vale lembrar ainda que aqueles 120 discípulos do mestre Yeshua que estavam reunidos ali em Atos 2
eram todos, ou quase todos, judeus. É importante notar isso para entender o contexto que se
seguirá depois envolvendo o dom de falar em línguas/idiomas estrangeiros sobrenaturalmente. Pois
um tempo mais tarde, movidos pela inspiração de santidade, crentes estrangeiros (não-judeus)
falaram em outras línguas também, como lemos mais precisamente em Atos 10:44-46. E ainda um
tempo depois, isso serviu de apoio para que mais discípulos estrangeiros fossem aceitos na
comunidade israelita, como lemos no capítulo 15:7-21.

Portanto, como podemos perceber, com o dom de falar em línguas, Deus agiu com sabedoria para
unificar as pessoas à Sua comunidade e salvá-las. Mas infelizmente, com o tempo e o
distanciamento do povo eleito, o falar em línguas ficou obscuro, famigerado e confuso.

Autor: Gabriel da Rocha Filgueiras (apoia.se/gabrielfilgueiras).


Publicação: Blog Bíblia se Ensina(bibliaseensina.com.br).
Conteúdo livre para ser compartilhado e utilizado em estudos bíblicos.

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