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POR QUE NÃO FALAMOS LÍNGUAS ESTRANHAS?

PARTE VII
Como vimos anteriormente, a igreja de Corinto era extremamente problemática.
O que lhe sobrava nos dons (1Co 1.7) faltava em maturidade, sabedoria e
espiritualidade. Um dos maiores problemas dos cristãos coríntios era o entendimento
equivocado dos dons espirituais e da concessão do Espírito Santo. Sem dúvida, isso era
resultado da origem religiosa de grande parte da membresia da igreja. Pois, como Paulo
destaca nos primeiros versículos do capítulo 12, a maioria era oriunda do paganismo
(1Coríntios 12.1,2). Isto é, diferente dos judeus, os coríntios não conheciam o Antigo
Testamento, o que dificultava sua compreensão. Além disso, ao longo de toda sua vida
eles vivenciaram a espiritualidade a partir do ensino das religiões pagãs. Por isso, o
apóstolo diz que eles precisavam de leite e não de alimento sólido (1Coríntios 3.1-3).
Nos diversos tipos de paganismo, as línguas desconhecidas, proferidas por
ocasião do êxtase emocional, eram vistas como consequência da ação de uma divindade.
Por conta disso, os coríntios pensavam que só tinha o Espírito Santo quem falava
línguas que ninguém entendia. A fim de combater essa ideia Paulo sublinha “que
ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer que
Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1Coríntios 12.3); ou seja, todos os salvos
são habitação do Espírito Santo (1Coríntios 3.16), não só quem fala alguma espécie de
língua pagã desconhecida. Afinal, é pela atuação do Espírito que o homem é convencido
do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8).
Seguindo essa linha, Paulo ressalta que “há diversidade de dons, mas o Espírito é
o mesmo” (1Coríntios 12.4). Isto para enfraquecer os argumentos dos faladores de
línguas desconhecidas, porque, ao contrário do que pensavam os coríntios, o Espírito
Santo distribui vários dons, e não apenas um. Além do mais, o apóstolo destaca que “a
manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (1Coríntios 12.7). O foco
da distribuição é a utilidade. Qual seria, então, a utilidade dos dons senão a edificação
da igreja? É isso que Paulo declara em 1Coríntios 14.12,26 e Efésios 4.12. Logo, um
dom que edifica apenas o indivíduo (1Coríntios 14.4), na verdade não é dom, visto que
não cumpre o propósito dos dons, a saber, a edificação do Corpo de Cristo.
Assim, fica claro que o fenômeno manifestado na igreja de Corinto tratava-se de
uma deturpação do dom de línguas original relatado em Atos 2. Até porque, não há
nenhuma indicação na Bíblia de que o dom teria mudado. Em momento algum do livro
de Atos é dito que houve uma alteração nas línguas, de modo que passaram a ser
incompreensíveis. O texto não fala nada sobre isso. Em vista disso, a conclusão
inevitável é que, embora o dom de línguas dissesse respeito a idiomas conhecidos pelos
homens, os coríntios, por causa de sua origem religiosa, começaram a falar línguas
incompreensíveis, à semelhança do que acontecia nos cultos pagãos.

Continua no próximo boletim


Pr. Cremilson Meirelles

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