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©2020 Lilian Guedes

Capa: LA Design
Revisão Geral: Ivany Souza
Diagramação digital: Cris Andrade e Lilian Guedes

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento/e ou a


reprodução de qualquer parte desta obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
SINOPSE:
Depois de sofrer um dos piores ataques que já presenciou e se recusar a
aceitar a possível morte de seu amado. Mine agora tenta se adaptar à sua nova
rotina sem Johnatan. Com isso, os treinos se tornaram seu único passatempo.
Na intenção de querer arduamente proteger as pessoas que a cercam, Mine
também usa esse tempo livre para evitar lembranças dolorosas, as quais a
afundam numa depressão torturante.
Ao se deparar com a verdade, no retorno de seu grande amor e na batalha de
proteger um ao outro, Mine se verá em conflito. Ela e Johnatan se
encontrarão no difícil dilema de seguir com os planos: acabar não só com a
máfia criminosa, bem como localizar o principal causador de todos os seus
tormentos. Só que eles não conseguirão sozinhos.
“Amor! O sentimento mais forte que alguém pode ter, eu poderia explicá-lo
de muitas formas por horas. Só que não me sinto a mesma ao relembrar esse
sentimento, não sem ele. Então, o meu foco é outro, é nas forças que devo
carregar até que se faça justiça, é o meu propósito, minha meta para a
destruição do inimigo. Essa é a nova forma de decifrar meu verdadeiro eu.
E que fique bem claro, estou fazendo isso por ele e não por você. ”
SUMÁRIO
PRÓLOGO
1 – RESISTÊNCIA
2 – ENIGMA
3 – O RETORNO
4 – BEM-VINDA À COLMEIA
5 – ESCURIDÃO
6 – DELÍRIO
7 – VISITA SURPRESA
8 – AVISO PRÉVIO
9 – CÓDIGOS SECRETOS
10 – PROMESSA
11 – ESTRANHO PRESTATIVO
12 – IMPACTO INESPERADO
13 – COMPANHEIRA
14 – PEGANDO PESADO
15 – TREINAMENTO
16 – MEMBRO FORAGIDO
17 – REFLEXO
18 – CASAL FÉLIX
19 – COBAIA
20 – EFEITO LETAL
21 – O PLANO
22 – EMBOSCADA
23 – ALIA-SE
24 – JUNTOS
25 – ANÔNIMO
26 – MENSAGENS ESTRANHAS
27 – CONTRA-ATAQUE
28 – INTERROGATÓRIO
29 – ENCONTRO
30 – REUNIÃO DE NEGÓCIOS
31 – HERDEIRO
32 – CAPTURA
33 – ARMADILHA
34 – MONTREAL
35 – ÁLIBI
36 – TRUQUE DE MESTRE
37 – IMPRESSIONE
38 – REVELAÇÕES INTENSAS
39 – BASTARDO
40 – MERO ENGANO
41 – LUGAR SEGURO
42 – PLANOS
43 – ILHA FANTASMA
44 – DISTRAÇÕES
45 – DESTINO SELADO
46 – DE VOLTA À REALIDADE
47 – O MELHOR
48 – CONECTE
49 – PROTEGER
50 – ENCONTRO
51 – DUELO
52 – OLHO POR OLHO
53 – ANJO
54 – UMA NOVA ERA
55 – ADEUS
56 – METAMORFOSE
EPÍLOGO
A FERA - O RECOMEÇO
PRÓLOGO
(Johnatan Makgold)

MOSCOU - RÚSSIA

Maldito vazio que me consome. Sinto falta dela, sinto falta da


tranquilidade do meu corpo quando estava ao lado dela, tendo-a em meus
braços. Em breve, em breve eu a verei para desfrutar dos seus olhos cinza, de
seu sorriso contagiante, de seu corpo ardente, assim como os seus beijos e,
principalmente, do seu perfume intenso.
Com um suspiro profundo, encaro o edifício negro à minha frente.
Permaneço dentro do conversível à espera do sinal verde. Passei meses
estudando o local e consegui, com sucesso, uma forma de invadir sem
ninguém notar; não como Johnatan Makgold, e sim como um CEO alemão
chamado Kaiser Smithz, pronto para fechar um acordo através de sua
companhia de telecomunicação.
Com uma identidade falsa, também é preciso modificar a aparência, e
nada que um bom disfarce não resolva; cabelos cortados num estilo militar,
lentes castanhas e terno escuro, sempre escuro. Era uma regra e uma tradição
para a LIGA usar ternos escuros, patético. Por outro lado, já estava cansado
de me esconder por trás de tudo aquilo junto com a maquiagem e uma
camada de pele falsa, a fim de aparentar um pouco mais de rugas.
Volte para o lado positivo, Johnatan. Volte para ela, clamo como
uma oração em minha mente. Fecho meus olhos e me concentro.
Estou pensando em você.
Estou respirando você.
Estou sentindo você...
Canto aos sussurros, em russo, ao mesmo tempo em que pronuncio as
palavras como se estivesse rezando. Meu peito queima de forma dolorosa ao
me lembrar de seus olhos.
Uma tossida me faz abrir os olhos e encarar a pequena foto de Mine
em minha mão.
― Então, é ela? A garota? ― outra tossida nervosa. ― Sua
namorada? É bonita... Quando vou conhecer?
Olho para cima, sem humor algum para o tagarela, os olhos castanhos
puxados de Shiu ficam em alerta. Ele recua o quanto pode em seu banco.
― Futura esposa. À qual não deve faltar com respeito, muito menos
tocar num fio de cabelo ― aviso com frieza.
Mesmo eu estando de lentes castanhas, ele pode ver o quanto meu
verdadeiro olhar ferve ao ordenar.
― Recado dado, senhor. Eu adoro bolo de casamento. ― Shiu tenta
manter seu equilíbrio, pigarreando algumas vezes. ― Já estamos prontos.
― Ótimo ― suspiro, erguendo meu corpo e guardando a foto em meu
paletó. ― Hora do show. Acabe com tudo ― digo seriamente, olhando-o
pelo retrovisor.
― É disso que estou falando! ― Shiu fala satisfeito antes de sair do
carro.
Checo minha última arma antes de colocá-la no coldre, escondido no
paletó, e saio da Mercedes assim que Shiu abre minha porta como um bom
chofer. Fecho meu paletó e maneio a cabeça sutilmente para que ele prossiga
com sua maleta como combinado. Encaro o prédio de cima a baixo e observo
as pessoas entrando e saindo tranquilamente. O nome apresentado parece
intimidador para alguns homens que já conhecem a LIGA, seu público-alvo é
a classe alta. Antes deles aceitarem um membro, é feita uma investigação
segura, mas não dão detalhes até terem todas os dados de que necessitam.
― Senhor? Acabei de entrar, temos apenas uma hora ― Shiu me
informa pelo microponto de ouvido interligado, e sigo em frente.
― Colete todos os arquivos e destrua qualquer prova. Preciso que
controle as câmeras de segurança e os elevadores ― murmuro, entrando no
prédio ao passar o cartão que confirma minha identificação.
― Sim, senhor ― Shiu responde.
― Dinka! ― chamo, seguindo até o balcão onde se encontram três
atendentes vestidas de terno escuro.
― Já estou me posicionando ― Dinka responde com esforço em sua
voz. Imagino que deva estar pegando algo pesado.
― Qualquer ameaça, atire ― digo, escutando sua afirmação.
― Pois não, em que eu posso ajudar? ― a recepcionista me pergunta,
aparentando ser receptiva até demais.
― Que ótimo dia para se sentir triunfante, não é mesmo? ― informo
a senha de acesso do dia, esbanjando minha alegria teatral antes de voltar ao
meu estado normal. ― Estão me esperando. Tenho uma reunião no vigésimo
quinto andar, sou Kaiser Smithz ― pronuncio com um leve sotaque alemão,
fazendo a funcionária recuar com minha superioridade.
Ela verifica seu sistema e sorri com educação.
― Bem-vindo, senhor Smithz! ― confirma meu acesso. ― Os
diretores já estão aguardando. Pode subir, uma das atendentes vai
acompanhá-lo ― informa.
Aceno.
― Senhor, me acompanhe! ― a outra atendente me recebe e, como
um cachorrinho, caminho ao seu lado até o elevador.
Quando entramos, não estamos sozinhos; encaro a porta de aço se
fechando ao mesmo tempo em que tento reprimir uma careta. Para mim,
todos eles fedem a cigarro, sexo, drogas, suor e sangue. A atendente à nossa
frente se encolhe quando aperta o botão do andar, e vejo um deles, o mais
velho, sorrir com malícia para seus companheiros.
― Mulheres da LIGA não devem se amedrontar diante de homens
como nós ― o homem observa, e permaneço imóvel em meu lugar.
― Rapazes, talvez devêssemos mostrar como se manter mais
receptiva para nossos próximos colegas de elevador ― o outro diz. Aperto
meus lábios, fingindo aceitar qualquer porcaria que saia de suas bocas
nojentas.
― Amigos,... Vamos nos divertir ― o terceiro homem diz, esticando
sua mão para acariciar o rabo de cavalo da mulher.
― Com licença! ― eu o interrompo, me curvando com um sorriso
duro, fazendo sua mão recuar. ― Esse é meu andar.
― É uma pena ― o velho lamenta.
― Eu sou fiel à minha esposa ― disparo com fervor. Mesmo que eu
esteja numa farsa, nisso eu não menti: sou fiel à minha Roza até o fim.
As portas de aço se abrem no vigésimo quinto andar, e saio do
elevador, virando-me para eles com um dos meus melhores sorrisos
sombrios. A garota continua encolhida, parecendo amedrontada, mas seus
olhos claros estão ardendo em fúria.
― Divirta-se! ― dou carta branca a ela, vendo imediatamente sua
postura rígida, seu olhar frio e seu leve sorriso determinado.
― Senhor ― ela acena em cumprimento.
Meus companheiros de elevador não entendem nossa troca de olhares,
mas não há tempo para protestos quando Cassandra sacode seus braços com
agilidade, demonstrando suas espadas médias de lâminas afiadas por baixo de
seu blazer. Eu a assisto mover seus braços e seu corpo, rapidamente cortando
a garganta de cada um deles num giro de 180 graus, perfeito e equilibrado.
― O elevador é todo seu ― falo, vendo-a guardar suas espadas de
volta ao lugar depois de limpá-las no paletó de um dos homens.
― Como quiser. Shiu, feche o elevador ― orienta.
Antes que a porta se feche, um tiro na cabeça de um deles nos faz
virar e encarar através da janela de vidro fumê os prédios mais distantes.
Olho para meu paletó, vendo a marca do leve raspão.
― Gavno! ― praguejo em russo.
― Desculpe, chefe, estou apenas me aquecendo. ― escuto Dinka
pelo ponto de ouvido e o localizo na cobertura de um prédio em reforma ao
longe, enquanto monitora sete armas equipadas para seus alvos.
― Mantenha o foco ― ordeno, seguindo até a sala de reuniões. ―
Shiu, como estão as coisas?
― Há três homens empilhados aqui, mas você não se importa, não é
mesmo? Enfim, estou copiando alguns registros que achei interessante, só
que tem uma coisa de que não vai gostar muito... ― Sua informação me faz
travar e saco o celular do meu bolso, fingindo estar numa ligação caso
alguém apareça pelos corredores.
― O que é? ― pergunto ríspido.
― Tem muitas coisas sobre você, fortuna, perseguições... Puxa! Eles
queriam mesmo te ver morto...
― A parte importante, Shiu ― peço sem rodeios, olhando para a sala
de reuniões e acenando para quem me espera.
― Tem algumas coisas sobre Mine Anne Clark ― o assunto me
surpreende. É claro que eles a estariam colocando em sua lista de matança.
― Apague qualquer coisa que esteja ligada a ela e rastreie quem mais
possa ter essas informações ― finjo desligar o celular e o guardo em meu
bolso.
Caminho firme até a sala de reuniões, entro dando “bom dia” a todos
e me sento, observando os oito homens à minha espera. Não faço questão de
saber seus nomes, mas quem se pronuncia primeiro é Elias Otilis, um homem
grisalho, divorciado, acusado de violência doméstica entre outros crimes, os
quais foram ocultados ao dedicar sua vida à LIGA e às prostitutas.
― Então, senhor Smithz, não temos muito tempo para conversas.
Vimos seus relatórios para se disponibilizar inteiramente na criação dos
nossos investimentos, assim como no crescimento da nossa organização ―
Elias diz, não muito interessado.
Sorrio para ele, fingindo estar nervoso.
― Pois bem, é só assinar os papéis. Vou me encarregar para que isso
comece agora mesmo ― atuo na garantia dos meus serviços.
Elias me olha atento.
― Cuidado, jovem! A LIGA leva muito a sério os trabalhos e
serviços propostos ― seu aviso faz os presentes acenarem em concordância.
― Bem, é assim que meu trabalho funciona ― asseguro, vendo seus
olhos me observando.
Os homens se olham para ver se todos estão de acordo.
― Não sei onde meu gerente colocou tanta fé nesse projeto para o
chefe, é tão comum, mas se envolve tanto dinheiro, vamos aceitar. Entretanto,
se não cumprir o que está no contrato, as consequências serão terríveis, você
pode imaginar ― Elias alerta em tom ameaçador. Concordo.
― Eu fui informado sobre isso, senhor Otilis. Aproveitando, gostaria
muito de conhecer meu chefe oficialmente. Onde posso encontrá-lo? ―
pergunto interessado, enquanto me levanto e caminho pela sala luxuosa.
Encaro os prédios de Moscou pela parede de vidro ao mesmo tempo
em que fico atento a eles.
― Não vá tão longe, senhor Smithz, nosso chefe é conhecido como
Mestre. É uma pessoa muito ocupada e, por isso, manda terceiros, no caso,
nós, em busca de informações... não muito interessantes. ― Sorri, olhando o
contrato.
― Uma pena. Eu poderia ajudar com informações sobre onde... onde
o Johnatan Makgold possa estar ― finjo estar esperançoso, vendo Elias me
observar com frieza. ― Eu escutei por aí que estavam muito interessados em
capturá-lo...
― Isso não é assunto de seu interesse. Sobre Johnatan Makgold, pode
ter certeza de que já está a sete palmos abaixo da terra. Assuntos com relação
ao defunto não são mais tão importantes assim, não por enquanto ― Elias
afirma, tendo minha atenção em seu tom de voz. ― Bem, vamos assinar logo
isso.
Eles assinam, enquanto volto a me sentar em meu lugar, do lado
oposto da mesa de vidro.
― E o que quer dizer com não por enquanto? ― pergunto com
interesse.
― Você é insistente. Bem, quer dizer que já que ele está morto, as
coisas ficaram mais fáceis na posse dos seus bens, como o Mestre desejava,
mas a melhor parte fica com o resto de nós em relação à sua vida amorosa. A
garota foi um bem muito precioso para ele... Se é que você me entende. ―
Elias sorri com malícia, meus dentes se apertam com força, e meu sangue
ferve.
Dou um sorriso apertado ao menear a cabeça antes de fechar os olhos
por um instante.
― Está na mira ― escuto Dinka murmurar, e abro meus olhos.
Meu sorriso se abre amplamente para eles.
― Obrigado pela confiança. Por favor, coloquem os contratos à frente
― peço com educação, deixando-os confusos. ― É uma mania que tenho
para finalizar uma boa reunião e uma boa aliança ― digo com esforço.
― Espero que não nos decepcione ― Elias alerta de maneira ríspida,
fazendo-me acenar e suspirar em contentamento.
― Senhores, foi um prazer... ― Sete deles, divididos em cada lado da
mesa, são atingidos na cabeça com dois tiros de Dinka. Com horror, Elias
olha para seus companheiros e, depois, para mim... ― Conhecer vocês.
― Mas que merda é essa? ― saca sua arma e é atingido na mão por
Dinka. O velho arfa, encolhendo-se em sua cadeira.
― Fico muito desapontado com tamanha insatisfação da sua parte,
Otilis ― disparo ameaçador.
Recolho tranquilamente os contratos, tendo o cuidado de não os sujar
com o sangue se espalhando sobre a mesa.
― Pensei que vocês da LIGA fossem mais receptivos, é uma pena...
― O que você quer, Kaiser Smithz? ― pergunta com esforço.
Sorrio.
― A pergunta correta seria: o que você quer, Johnatan Makgold?
Atinjo sua cabeça contra a mesa de vidro e seguro seu colarinho,
enforcando-o com sua gravata. O homem tosse assustado ao me encarar mais
atentamente.
― Onde está Charlie Makgold?
Minha ameaça o assusta ainda mais, e movo o aperto da sua gravata
para trás.
― Eu-não... não sei de quem está falando ― responde com força,
enquanto puxa o ar, e eu golpeio seu rosto com meu cotovelo.
― Sabe tanto sobre a minha vida e não sabe do seu chefe? ― disparo
ríspido e o empurro contra a parede, batendo sua cabeça contra o concreto.
― Vá para o inferno! ― encoraja meu ódio, tentando atingir meu
rosto, e o acerto com um soco no estômago.
― Hoje não ― garanto, sacando minha arma e mirando em sua
cabeça. ― Só para lembrar, nem você e nem ninguém vai ousar tocar nela,
muito menos cogitar essa hipótese!
Atiro em sua cabeça e observo seu corpo cair morto no chão. Depois,
apanho os contratos, que deixei caídos, e guardo em meu paletó.
― Senhor ― Shiu me chama pelo ponto de ouvido, e inspiro fundo,
em busca de tranquilidade. ― Cassandra acabou de atacar a recepcionista
do andar, quer dizer, todo mundo está morto, mas parece chegar mais.
Sinistro! ― eu o ouço murmurar ao mesmo tempo em que digita nas teclas
do computador.
― Sinistro é um helicóptero se aproximando ― Dinka informa, me
fazendo encarar a vista panorâmica da cidade à frente.
― Veja quem é ― ordeno. ― Ou talvez esteja aguardando eles. Me
deem cobertura! ― peço, olhando para os homens mortos na sala ao mesmo
tempo em que vejo um bip com chamada de alerta acionado. ― Filho da
mãe!
Saio da sala de reunião e observo o andar silencioso. Estranho!
Caminho em direção às escadas de emergência quando um homem aparece e
tenta me atingir. Com força, golpeio seu rosto na quina da porta, fazendo-o
cair; em seguida, cravo umas das minhas facas em sua garganta e continuo
meu trajeto pelas escadas. Logo abaixo, observo dois deles se aproximando.
― Senhor, eles receberam uma mensagem de alerta. Dinka,
programe uma de suas armas para me dar cobertura ― Cassandra me avisa.
― Eu sei, apenas mate-os ― digo, deixando que os dois indivíduos se
aproximem para ter uma boa mira e matar ambos com um tiro no olho e o
outro no peito. Quando o faço, aciono o meu alerta. ― Shiu, recuar. Todos,
recuar!
― Só faltam quatro por cento no download, enrolem mais um pouco
― Shiu pede. Reviro os olhos e caminho para o andar principal, onde é
proibido quem não tem autorização.
Franzo a testa ao encontrar o andar amplo e vazio, como se ainda
estivesse em reforma. Observo uma porta escura e caminho até ela, mas paro
abruptamente quando sinto que estou sendo seguido. Olho para trás, vendo
apenas plásticos protegendo os vidros. Uma sombra me chama atenção e
miro minha arma.
― Então, ela se chama Mine? ― a voz que segue atrás de mim me
deixa em alerta, e giro meu corpo para encontrá-lo. ― Pode ter certeza de que
o tiro que levei no joelho não é fácil de superar.
Como poderia me esquecer do motoqueiro que me derrotou no beco e
em quem, para me defender, Mine atirou em seu joelho? Como esquecer o
indivíduo que sempre se esconde por trás de roupas escuras? Dessa vez, ele
tira sua máscara, revelando o rosto, os cabelos pouco ondulados e a barba
rasa. Acima de sua sobrancelha esquerda há uma cicatriz. Os olhos cor de
gelo me encaram com frieza e ódio mortal.
― Não sabe o quão infeliz fiquei por ela não ter acertado sua cabeça
― disparo tiros em sua direção.
Ele se abaixa, sumindo do meu campo de visão. Caminho até seu
esconderijo, não o encontrando. De repente, sou atingido nas costelas e
golpeado no peito, cambaleio para trás e inspiro fundo.
― Tudo bem ― deixo a arma de lado e me levanto, vendo-o pronto
para lutar.
― Vamos fazer isso de forma limpa, Johnatan, sem ressentimento,
irmão. Assim que eu te matar, vou adorar ter aquela bunda linda da sua
namorada rebolando no meu pau ― meu sangue ferve a ponto de me deixar
descontrolado.
Avanço em sua direção, e lutamos como dois leões enraivecidos.
Chuto seu peito, fazendo seu corpo ultrapassar uma das paredes de vidro, e o
aguardo se levantar, enquanto ainda me mantenho na defesa. Não posso negar
que ele luta bem, mas sou melhor, tendo melhores estratégias para atingir
pontos mais sensíveis e que causam dores incômodas com golpes cada vez
mais agressivos ao mesmo tempo em que ouso deixá-lo cansado.
Ele tosse quando é atingido na lateral do pescoço, mas não recua,
retornando cada vez mais enfurecido. Seu temperamento do momento me
facilita em mais um ataque bruto, lançado com um chute no quadril, fazendo-
o cair.
― Vamos lá, sem ressentimentos, irmão ― zombo, vendo-o se
levantar e me olhar com ódio.
― Você é bom, Makgold...
― Eu sou o melhor. Só que não estou aqui para discutir com outro
fantoche da LIGA, mas para saber sobre aquele que brinca com você ―
disparo.
Sei que espera minha distração e, antes que me atinja, agarro seu
corpo e o atiro contra o chão, enforcando-o com minhas pernas para
imobilizá-lo.
― Se vai me matar... Aproveita para fazer... Agora! ― ele tosse. Seu
rosto já está avermelhado com meu aperto e torço um dos seus braços,
fazendo-o grunhir.
Observo-o com ódio, mas me distraio ao escutar, nitidamente, um
helicóptero.
― Eu adoraria fazer isso. ― Encaro-o e o chuto, afastando-me de seu
corpo. ― Mas hoje não. Quero que continue como brinquedo para dizer a
Charlie que estou à sua procura. Será somente eu e ele, e não um dos
empregados emprestáveis.
Levanto-me, vendo seu rosto machucado.
― É mais fácil te provocar ao falar dela, não é mesmo? ― muda de
assunto, atiçando minha raiva.
― Não se preocupe, na próxima oportunidade que tiver, eu o mato
com minhas próprias mãos. Não se atreva a chegar perto dela, nem mesmo
tocar em um fio de cabelo! ― ameaço e vejo suas mãos machucadas se
levantarem em redenção, como se zombasse da minha cara.
― Não posso prometer nada ― diz. Eu me viro, seguindo para longe
e afastando o sangue que escorre da minha sobrancelha. ― Devo dizer que
somos um pouco parecidos nesse sentido, Makgold, a forma de proteger
quem amamos!
Paro de caminhar e olho para ele sentado no chão.
― Você não sabe o que é isso, portanto, fique fora do meu caminho!
― alerto-o.
― Já disse, não faço promessas, mas não é só Charlie que quer sua
morte. Eu desejo tanto quanto. ― Ele sorri, enquanto lanço meu olhar mortal.
― Então, somos dois. E tenho certeza de que não fará agora, não é,
pau mandado? ― volto a caminhar, mas paro novamente ao me lembrar de
algo. ― Outra coisa, não sou seu irmão.
Saio, deixando seu olhar furioso fuzilar minhas costas, e subo em
direção ao terraço, tocando minhas costelas.
― Senhor, Cassandra acabou de sair do prédio ― Dinka me avisa.
― Perfeito, vá até Matt! ― digo. Em seguida, chamo Shiu.
― Download concluído, e estou destruindo qualquer pro... ― sua
frase inacabada me deixa confuso. ― Merda! Merda!.
― O que foi? ― pergunto rapidamente.
― As informações... Estão sendo rastreadas. Alguém está
controlando o sistema! ― Shiu diz surpreso.
― Que tipo de informações?
― Do senhor ― ele dispara preocupado.
― Destrua o TI e saia daí. Agora! ― Ordeno imediatamente.
Caminho pelo terraço e vejo a carona do motoqueiro, o helicóptero
negro com a sigla LIGA estampada está pronta para sobrevoar, corro até ele e
pulo dentro da cabine.
― Droga!
O piloto sobrevoa, virando o helicóptero e me fazendo segurar um dos
cintos.
Agarro-me em um dos bancos e, com esforço, vou até o homem,
enroscando o cinto em seu pescoço. O helicóptero é um inferno mudando de
direção, o piloto não facilita, movendo uma das mãos no painel para lutar
contra o cinto, perdendo, assim, o controle da direção.
― Por favor, não me mate. Por favor,... ― implora quase sem voz e,
para minha surpresa, me mostra uma foto de uma mulher com uma criança,
que aparenta ter uns onze anos. ― Eu sou pai e casado... Tenho um filho...
Aperto meus dentes, me segurando em seu banco e no cinto. Observo
que ele não usa aliança e ainda possui a tatuagem. Olho para seu rosto
avermelhado com desconfiança.
― Se você realmente se importasse, estaria com ele nesse momento
― quebro seu pescoço e destravo seu cinto rapidamente.
Com esforço, mantenho o helicóptero no ar e abro a sua porta ao lado,
empurrando o corpo, que se choca contra o concreto do térreo do prédio. Em
seguida, assumo o controle do helicóptero por completo, e piloto para longe.
Olho a carteira deixada por ele e observo a foto da mulher loura e do
garoto, ao virá-la, vejo a foto de uma mulher seminua junto com um cartão de
uma casa noturna. Balanço minha cabeça, sabendo que todos eles são iguais.
― Johnatan, onde você está? ― Matt chama minha atenção no ponto
de ouvido, e suspiro entediado.
― Estou chegando... de helicóptero.
― Está ficando maluco?
Tiro o ponto antes de ouvir seus protestos e sigo até o local marcado.
Lá chegando, destravo uma das bombas feitas por Shiu e jogo na cabine.
Pouso o helicóptero o mais distante possível, já vendo Matt à minha espera,
assim como Shiu e Cassandra.
Saio do helicóptero depois de desligá-lo e sigo até eles.
― Você está louco, Johnatan? Existe rastreador nessa porcaria. Eu
não passei o dia disfarçado lutando contra um batalhão para você cometer
esse erro! ― Matt se estressa.
Olho para o helicóptero e, depois, para ele. Em seguida, observo a
moto de Dinka se aproximar de nós.
― Matt, preciso que você pesquise sobre essa mulher com a criança
― ignoro seu estresse e entrego a carteira com a foto. ― E, Shiu, sabe aquela
bomba programada?
Antes que ele confirme, escuto o helicóptero explodir atrás de mim e
espero os destroços acabarem de cair para dizer:
― Está aprovada. Bom trabalho. Quero ver os arquivos, mas antes
preciso descobrir quem estava monitorando o sistema.
― Eu ajudei. Eu sei, somos muito bons, quer dizer, eu. ― Dinka se
gaba, enquanto tenta se livrar do zumbido no ouvido, e olha para Cassandra
com um sorriso.
Eu a observo revirar os olhos e me olhar.
― Da próxima vez que me fizer entrar em um elevador cheio de
macho podre, já peça que eu os mate, e, se Dinka estiver no meio, o primeiro
a ser golpeado será ele. Você não me deu cobertura suficiente, enquanto eu
tentava driblar sete deles no terceiro andar. ― Cassandra se enfurece com
Dinka antes de se virar e seguir em frente.
― Você me ofende desse jeito, Cassy ― Dinka diz com uma careta, e
reviro meus olhos para ele. ― Ela faz isso para me causar ciúmes.
― Por quanto tempo vocês foram casados mesmo? ― Shiu questiona,
balançando sua cabeça e se afastando.
Confuso, Dinka olha para Matt e, depois, para mim.
― Acho que ela ainda gosta de você ― Matt afirma.
― Vocês acham? ― ele pergunta rindo.
― A ponto de querer te matar? ― minha pergunta me faz pensar em
Mine. ― Eu conheço bem isso.
― Tudo bem... O que faremos depois de ver os arquivos que estão
com Shiu? ― Dinka pergunta.
Sigo meu caminho, sentindo os olhos de Matt e Dinka em minhas
costas.
― Voltar para casa. Voltar para ela. ― Olho para Matt de relance.
― Espere, Johnatan...
― Não comece, Polosh ― disparo firmemente. ― Já estou cansado!
Preciso dela, sinto a falta dela e não posso nem ligar para casa para escutar
sua voz. Estou me perguntando como está agora. Não basta só receber
informações de Jordyn e James, eu preciso vê-la. Sei o quanto está sofrendo,
eu sinto isso... E todos esses dias estão sendo um inferno sem ela!
― Você gosta mesmo da garota! ― Dinka murmura, cruzando seus
braços.
― Ela é a primeira pessoa em que penso durante a manhã e a última,
antes de dormir. Eu a amo, viver sem ela não está dando certo.
Isso é frustrante, eu me sinto um miserável.
― E quer aparecer para ela assim? Vai assustá-la ― Matt me
repreende.
― É hora de ler o testamento e incluir um documento importante nele
para que ela assine ― volto a seguir meu caminho.
― Que tipo de documentos, Johnatan?
Sorrio com sua pergunta ao me afastar, sentindo a esperança de vê-la
novamente depois de quase oito meses separados.
1 – RESISTÊNCIA

O frio toma conta do meu corpo, encolho-me, enquanto deixo as


lágrimas caírem. Estou descalça na floresta pouco iluminada pela lua, sinto
medo, sinto a angústia, o meu coração apertado e o nó na garganta se
intensificarem, deixando-me cada vez mais sufocada. Sugo o ar, sentindo a
temperatura baixa arder em meu nariz, enquanto obrigo minhas pernas fracas
a seguirem em frente.
Olho para a copa das árvores, pressentindo um desespero
desconhecido junto com um arrepio forte, que me percorre por inteira. Ao
olhar para trás, vejo um vulto se aproximando e se escondendo no escuro.
Aperto meus dentes e tento correr, sinto como se estivesse com pesos em
minhas pernas.
Paro, de repente, ao chegar ao espaço mais claro da floresta. Seguro o
grito em minha garganta ao avistar, com horror, um corpo. É um homem, ele
está pálido e machucado, os cabelos escuros parecem pegajosos, suas roupas
estão sujas de lama, serragem e sangue. Aproximo-me dele e choro, seus
olhos azuis sem vida me encaram com tristeza.
Respiro com dificuldade, sentindo meu coração se apertar numa dor
insuportável, gemo e estremeço sem forças. Fecho os olhos e balanço minha
cabeça, desejando sair dali. Inesperadamente, eu o escuto fala algo em russo,
como se desse um comando, e, mesmo estando fraco, sua voz continua
potente. Abro meus olhos sem entendê-lo.
― O quê? ― forço minha voz a sair.
― Mine,... Eu... Eu... ― ele pisca seus olhos fracos, tentando se
manter firme. ― Eu...
De repente, sua voz fica abafada e observo, com horror, a ferida
profunda aparecer, encharcando ainda mais sua camisa clara de sangue.
― Johnatan? ― falo e encaro, aterrorizada, seus olhos inexpressivos.
Não consigo me ajoelhar e alcançá-lo, sinto-me presa em meu próprio
corpo petrificado. Estico minhas mãos com esforço e paro ao encará-las, há
sangue escorrendo por elas. Arregalo meus olhos lacrimosos e balanço minha
cabeça em negação. Johnatan se foi, ele não está mais comigo.
― Johnatan? Fala comigo! Por favor, não faz isso. Eu preciso de você
― imploro, encarando seus olhos azuis sem vida. ― Respira, por favor...
Johnatan,...
Subitamente, eu me engasgo e sinto um líquido quente sair da minha
boca, quando abaixo minha cabeça, vejo meu sangue se espalhar e cair, assim
como noto uma katana atravessada em meu corpo. A espada é puxada,
causando-me uma dor aguda.
A floresta fica cada vez mais escura, mas ainda mantenho os olhos
abertos para uma luminosidade que se aproxima. Meu agressor caminha até
ficar de frente para mim, é uma mulher, seus cabelos castanhos claros estão
soltos, seus olhos cinza, destacados pela maquiagem esfumada, me encaram
com ódio, sua roupa de couro escura abraça seu corpo como uma segunda
pele. Ela foi transformada... Mais fria e mais forte.
― Você o deixou. Você o deixou para morrer. Você é um fracasso,
Mine, não serve para nada. Não pode ser como ele, não pode ajudá-lo,
porque você o deixou perder. Você deixará todos morrerem ― murmura com
dor e ódio na voz. A mulher sou eu, aquela que deveria ser, a mais forte, que
deveria ajudá-lo.
Gemo com os olhos arregalados quando a espada volta a atravessar
minha barriga, ao girar a lâmina sinto náuseas. Antes que eu me choque
contra seu corpo, ela se afasta, deixando-me cair no chão. Respiro com
dificuldade, tudo parece doer e arder, sinto-me no inferno, sem paz, sem
tranquilidade. Pisco meus olhos para mim mesma, observando-me morrer e
contorcer no chão, seus olhos não transmitem nenhuma piedade, apenas
vazio. Ao meu lado, vejo os olhos mortos de Johnatan nos meus, ele também
me encara com ódio. Choro sufocada.
― Me-me desculpe ― sussurro com dificuldade, tentando tocar seu
rosto.
Estremeço convulsivamente pela dor que se intensifica, assim como
meu coração. Olho para cima, para o céu, desejando a tranquilidade, mas só
vejo o terror diante dos meus olhos.
― Não... Não...
Ao notar os corpos de todos aqueles que amo enforcados e
pendurados nas árvores, tento gritar, mas algo me puxa para longe, para longe
deles, para longe de Johnatan.
― VOLTA! VOLTA! VOLTA!
Desperto e me sento na cama, respirando com dificuldade. Esfrego
meu rosto suado, meu coração está mais acelerado e meu corpo pesado.
Respiro fundo ao encarar meu quarto. Ainda estou na mansão, e esse foi só
um dos vários pesadelos que já tive nos últimos meses. Observo a parede de
cristal, sabendo que ainda é madrugada e que dormi apenas por uma hora e
meia... É o máximo que consigo sobreviver a isso, o máximo para os
pesadelos tomarem conta de mim.
Rastejo-me na cama até o criado-mudo e ligo o abajur. Na gaveta,
encaro, por um instante, os bilhetes de Johnatan e a última rosa que me
deixou. Ela está murcha e despedaçada, mas sou incapaz de jogá-la fora; para
mim, continua sendo a rosa mais linda. Pego o frasco de calmantes que furtei
do meu pai, encarando o remédio por um momento até desistir.
Todas as noites são assim, pesadelo por cima de pesadelo. Levanto-
me, sentindo meu corpo dolorido, e sigo até o banheiro. Jogo o frasco na
lixeira e me encaro no espelho, estou corada, com os olhos cinza destacados
em lágrimas, seguro-as para manter minha dor canalizada. Lavo meu rosto
antes de voltar para o quarto e me trocar; após colocar um conjunto de
moletom e tênis, saio do quarto. Tudo está escuro e silencioso.
Sigo até a cozinha para beber um copo de suco de laranja. No
começo, levantava na certeza de que ele estaria me seguindo, de que me
manteria presa junto ao seu corpo, enquanto selássemos nosso beijo com uma
rosa. Isso ainda se mantém na lembrança e na vontade de tê-lo de volta.
Peter apareceu na manhã seguinte, depois do todo o ocorrido,
confirmando o reconhecimento. A cidade e os jornais sabiam, os telefones
não pararam, e tivemos que trocar a linha. Depois da confirmação de sua
morte, fui incapaz de acompanhar a cremação do corpo, cinzas que Donna faz
questão de manter longe de mim. Meu pai permaneceu ao meu lado, mas,
para mim, aquele não era seu corpo. Johnatan continuava vivo na minha
mente, no meu coração, e, até que provem o contrário, eu continuarei
ansiando por esse desejo de tê-lo de volta, desejo esse que meu pai diz ser a
minha negação em aceitar os fatos.
Um pequeno barulho no assoalho me chama atenção, abro meus olhos
em alerta, sentindo a presença de alguém. Mantenho-me instável, alcançando
uma das coleções de facas de Donna. Quando o sinto se aproximar mais
determinado, giro meu corpo e lanço a faca contra ele, que se curva ao
mesmo tempo para ligar a luz. Arregalo meus olhos, vendo a machadinha de
Donna fixa na parede.
― James,... ― arfo assustada, vendo-o se erguer assustado e encarar
o objeto. ― James, me desculpe!
― Por Deus, Mine, o que está acontecendo? ― pergunta chocado e,
ao mesmo tempo, surpreso.
Engulo em seco.
― Você chegou muito quieto, eu apenas me assustei... ― aperto meus
lábios para esconder meu nervosismo e minha culpa.
― Está tudo bem, Mine. ― Ele ergue sua mão, como se pedisse para
me acalmar. ― Eu entendo. Também achei estranho encontrar alguém na
cozinha a essa hora. Desculpe ter te assustado. Depois do que aconteceu,
todos estamos... Você sabe, ainda estamos assustados ― murmura,
inspirando fundo.
― Eu sei ― aceno com a cabeça. ― Só nunca mais chegue assim
perto de mim, por favor! ― peço, mais assustada comigo mesma.
James sorri me confortando e o observo tentar tirar a machadinha da
parede com esforço.
― Você é boa em arremesso. Imagine se eu não tivesse me abaixado!
― comenta, e engulo meu nervosismo.
― Me desculpe. Bem, como eu perdi o sono, vou ler algo na
biblioteca ― murmuro, dando-lhe meu melhor sorriso.
― Tudo bem. Voltarei para o quarto. ― James me deixa confusa ao
colocar a machadinha no suporte.
― Não vai pegar nada? ― pergunto, vendo-o bater na testa.
Sorrio.
― É verdade, vim buscar água ― ri da própria distração, enquanto
pega água na geladeira. ― Boa noite, Mine. Tente descansar ― diz, tocando
em meu ombro e se afastando em seguida.
― Você também ― murmuro.
Quando termino uma refeição matinal reforçada, apago a luz da
cozinha. Sigo para o segundo andar e me encaminho para a biblioteca.
Depois dos ocorridos, a casa parece cada vez mais vazia, embora a biblioteca
tenha passado a ser um lugar cansativo e tedioso para mim, ao mesmo tempo
é um dos meus principais refúgios.
Ao ligar o notebook, sigo minha rotina de todas as noites; nos
primeiros dois meses, passava meus dias e noites estudando, aprendendo e
treinando. Por longas horas me afundava nos livros e na era da tecnologia. As
máquinas ali presentes se tornaram meus companheiros.
Johnatan tinha sua base de rastreamento dos lugares mais
movimentados em que costumava achar suas vítimas, tinha também as
câmeras de segurança da casa, as quais eu monitorava constantemente. Em
seu computador, consegui encontrar os acessos dos armamentos escondidos
em todas as partes da casa, mas meu aprendizado com tudo isso foi ainda
maior, meu desejo de aprender para explorar tudo aquilo tornou as coisas
mais fáceis. Pelo notebook, consegui criar meu próprio campo de treino
dentro da floresta, analisei registros guardados por Johnatan, os quais ele
parecia ter pesquisado por quase uma vida inteira, e criei meu próprio acesso.
Na academia, continuei com minha rotina diária, utilizando mais peso
físico e mental. Meu treinador eram os vídeos da internet e livros. Com os
treinos, levava meu corpo chegasse ao limite. No começo, sentia-me flácida
demais, havia muitas dores musculares, mas fui me aperfeiçoando em pouco
tempo, uma vez que passei a ter uma alimentação mais saudável, o que
também resultou em um corpo mais atlético e curvilíneo.
Eram assim todas as madrugadas até o dia amanhecer. Deixava que as
imagens da última noite em que estive com ele se canalizassem em ódio por
tudo que já viveu, pelas lutas das quais teve que me proteger, por não
conseguir ter feito nada por ele, nada que pudesse voltar no tempo. A
confiança agora era árdua, as facas eram minhas aliadas, assim como as
adagas.
Meu corpo era minha força; minha mente, minha insistência; meu
controle e meu oponente imaginário eram tudo aquilo que pudesse golpear
com agilidade. Como se fosse profissional, não havia limite que me fizesse
parar. Se fosse possível, passaria o resto do dia treinando. Tudo para mim era
na base de tempo e persistência. Sabia que as pessoas na casa notavam minha
diferença durante os últimos meses, só que todos também mudaram. Peter era
o único a notar minha mudança sem dizer nada, sem me fazer parar, mesmo
no dia em que lhe pedi para comprar uma barra de ferro e instalá-la na
academia.
O pole dance era onde eu conseguia encontrar tanto equilíbrio físico
quanto mental. Através das videoaulas, eu prosseguia com facilidade nos
movimentos entre os mais leves até chegar aos níveis mais avançados. Muitas
vezes, sustentava meu corpo imóvel na barra de ferro, mantendo-o preso,
enquanto meditava por longos minutos. E depois, logo ao amanhecer, seguia
para o campo. Há uma parte em Johnatan que eu não poderia esquecer e que
eles não poderiam ficar sem: observar Hush, Lake e Sid correrem.
― Como vão? ― digo, abrindo o celeiro para vê-los.
É tão mais gratificante ficar perto deles do que assisti-los de longe!
Quando se curvam para mim, acaricio suas cabeças antes de deixá-los
correrem. Eu permaneço no centro do campo, apreciando suas corridas,
sinuosas, brutas e pesadas. Observo Hush correr mais empolgado. Lake,
como sempre, é o mais brincalhão. Sid interrompe sua corrida e segue até a
mim, acaricio sua pelagem branca e a vejo se afastar.
― Tudo bem ― suspiro ficando ao seu lado. ― Que vença a
melhor... Hey!
Sid dispara como um furacão, e a sigo, forçando minhas pernas a
alcançá-la até estar dentro da floresta. Mesmo meu pai se recusando a me
treinar, estou fazendo isso nos acompanhamentos dos livros, além de Hush e
Lake. Sid é a que me mantém em alerta, acompanhando-me em minhas
corridas pela floresta e meus treinos no espaço reservado, o qual ela me
mostrou, o qual eu criei.
No final dos treinos, sigo para o lago até o horário do café da manhã.
Permaneço debaixo da água, desafiando meu limite mais uma vez. Toda
minha rotina desde então me ajuda a continuar persistindo, jurando que,
assim, ninguém ao meu redor voltará a se ferir.
Abro meus olhos e observo a claridade, os raios do sol atravessam boa
parte da água, dando-me a visão perfeita das rochas. O limite para ficar sem
respirar fica cada vez mais insuportável, por isso, subo para a superfície e
sugo o ar para meus pulmões ao mesmo tempo em que aperto meu
cronômetro.
― Dezoito minutos e trinta e sete segundos ― comento sem fôlego
antes de confirmar no cronômetro.
No começo, permanecia no lago por três minutos, até sentir que me
desafiar me ajudava, aquilo me fazia pensar que eu era capaz de suportar
qualquer coisa, ou me matar lentamente dentro de uma escuridão sufocante.
Tudo que fiz durante todos esses meses foi procurar suportar toda a dor, fixá-
la em meu coração e suportá-la dentro de mim e sob minha pele.
Todas as dores pelos meus esforços não eram nada comparadas àquilo
que realmente sentia e, quando tudo terminava, o cansaço repentino tomava
conta do meu corpo outra vez. Era pior, porque a realidade tomava conta de
mim, como se tudo fosse em vão, nada dos meus esforços o traria de volta e
eu forçava meu subconsciente a acreditar que ele ainda estava vivo, em
algum lugar, qualquer lugar.
Assim que saio do lago, vejo Hush deitado na areia com sua atenção
em mim. Sinto minha cabeça girar devido ao tempo que fiquei sem respirar.
Sento-me com cuidado e, em seguida, deito-me na areia, fechando os olhos
até sentir que a tontura e a fraqueza do meu corpo cessam.
― Quase oito meses... ― abro meus olhos, observando Hush, seus
grandes olhos negros e cegos demonstram sua saudade. ― Também sinto
falta dele ― murmuro, sabendo que, de algum modo, o cavalo me entende.
Depois de um tempo, levanto-me e sigo até a tenda, encontrando Sid
no caminho. Na tenda, pego minhas roupas limpas, já reservadas, e as visto,
seco meus cabelos com a toalha e os prendo num rabo de cavalo.
Por um instante, observo o meu redor e dou um pequeno sorriso ao
relembrar nossos momentos juntos neste lugar. Balanço minha cabeça e
inspiro fundo antes de sair.
― Bom dia! ― falo assim que entro na cozinha, encontrando Donna,
Ian e Jordyn.
― Olá, querida! ― Donna me cumprimenta com um sorriso materno,
nos servindo com café fresco. ― Passei em seu quarto e não te encontrei, seu
pai ligou.
Engulo em seco, não quis voltar para casa, boa parte de mim
continuava na mansão, fazia com que eu me sentisse um pouco mais viva do
que longe daqui.
― Acordei cedo, tomei um banho e fui ficar um pouco com os
cavalos ― minto. Não quero que a preocupação passe outra vez pelos seus
olhos. ― Tentarei ligar para o ele mais tarde.
― Você precisa descansar, querida. Desde que ele se... ― Donna se
interrompe, e vejo seus olhos tristes. ― Sei que ainda estamos em choque,
mas temos que ser fortes.
Sorrio para ela de acordo.
― Está tudo bem, Donna. Tudo ficará bem ― aperto sua mão.
― E se não ficar? E se tivermos que sair do campo? ― Jordyn
murmura, chamando minha atenção.
― Ninguém vai sair daqui, Jordyn... ― paro de falar quando vejo a
mancha de sangue em sua blusa. ― Onde você se machucou? ― pergunto
preocupada.
Jordyn pisca, em seguida, olha para seu braço esquerdo.
― Oh!
― Eu falei para ela tomar cuidado com o portão da entrada do curso
― James nos interrompe, repreendendo Jordyn. ― Logo na entrada, os
portões estão um caos, mas parecem que vão consertar ainda essa semana ―
James explica.
― Por Deus, vamos cuidar desse ferimento! ― Donna diz
preocupada.
― Que nojo! ― Ian faz uma careta. ― Tinha que ser desastrada,
Jordyn! ― reclama e balança a cabeça.
― Eu cuido disso ― James revira os olhos, puxando Jordyn.
― Hey! Mas eu nem tomei meu café direito! ― ela protesta ao ser
rastejada.
― É apenas um curativo, Jordyn. Vamos! ― James diz com esforço,
enquanto a puxa para longe de suas torradas.
Era confortante ver que eles decidiram, na semana seguinte à invasão
na casa, seguir atrás de seus estudos. James decidiu voltar para o curso de
Medicina Veterinária, e Jordyn preferiu cursar Literatura Inglesa.
― Você também deveria seguir com seus estudos, querida. Matt pode
ajudar, assim como fez com os meninos ― Donna aconselha carinhosamente.
Suspiro, apertando meus lábios.
― Bem... eu não sei o que eu realmente quero fazer ― a imagem dos
olhos de Johnatan na floresta invade minha mente, e balanço a cabeça. ― Por
enquanto, prefiro ficar aqui com todos vocês.
― Aprecio sua companhia, meu amor. ― Ian pega minha mão e a
beija, sorrio para ele.
― Ah! Depois de terminar os meus afazeres, visitarei meu pai ― digo
rapidamente para mudar de assunto.
Mesmo sem saber o que seria de nossas vidas em relação à mansão e
ao trabalho, Matt nos orientou a continuar nossas funções até que pudesse nos
comunicar as possíveis mudanças.
― Seu pai está vindo para cá. Na verdade, Peter saiu cedo para buscar
alguns documentos para o senhor Polosh. Também virá outro advogado nos
visitar. Hoje é a leitura do testamento ― Donna me lembra, pisco meus olhos
confusos.
James e Jordyn voltam à mesa e se juntam novamente para o café da
manhã.
― Eu havia me esquecido ― pigarreio. ― Mais um motivo para eu
não estar aqui quando isso acontecer.
― Você se engana ― Jordyn diz, apertando os lábios. ― O senhor
Polosh disse que precisa da presença de todos na casa, até mesmo do seu pai
― Informa, voltando para sua torrada.
― O quê?
― Não iremos ao curso hoje devido a isso. E seja lá qual for a notícia,
temos que estar preparados ― James murmura sem humor, enquanto encara
seu café da manhã.
Meu estômago se embrulha com a preocupação estampada no rosto de
todos.
― Por que demoram tanto tempo para ler um testamento? ― Jordyn
pergunta ansiosa.
― O senhor Polosh tem nos ajudado bastante, querida. Pelo que
soube por Peter, ele está correndo atrás de tudo para que nenhum de nós se
prejudique. Devem ser documentos muito importantes ― Donna, também
preocupada, senta-se ao lado de Ian.
― E esse outro advogado, vem para quê? ― pergunto com
curiosidade.
― O senhor Makgold possuía muitas empresas dentro e fora do país.
Sempre houve e há pessoas com interesses nos seus negócios ― Donna
explica, e aperto meus dentes ao relembrar das ambições de Charlie Makgold.
― Então, quer dizer que o senhor Makgold já tinha adiantado seu
testamento? ― Ian pergunta, roubando nossa atenção.
― Creio que sim, querido. Matt está fazendo de tudo por nós ―
Donna murmura com amor, e aprecio o carinho entre ambos.
― Isso quer dizer que também posso providenciar o meu? ―
questiona, e rimos de seu comentário.
― E que herança você tem para deixar, Ian? ― Jordyn pergunta,
revirando os olhos.
― Meu amor ― confessa, olhando-me de forma apaixonada.
Rimos de seu amor platônico e continuamos com o café da manhã.
Observo a marca da parede restaurada, olho para James, que sorri e pisca o
olho, sorrio agradecida por poupar mais preocupações a Donna.
Quando o assunto é a arrumação da casa, sigo um tempo
cronometrado e, com a ajuda de Jordyn, terminamos mais cedo. No almoço,
nós nos reunimos com Peter, todos parecem ansiosos e, ao mesmo tempo,
preocupados. Assim que consigo me afastar deles, sigo até a academia, como
um refúgio para pensar ou ficar distante.
Matt estava fazendo de tudo para que ninguém seja prejudicado,
principalmente aqueles que trabalhavam há anos para Johnatan. Observo os
cavalos pela parede de vidro da academia com aperto no coração. E, se tudo
não desse certo? E se seu pai realmente já estivesse movendo sua ambição
desde o princípio e dificultando os esforços de Matt? Esfrego meu rosto em
frustração. Caminho até o pole dance, agarro na barra e subo, enroscando
minhas pernas, me mantendo de ponta à cabeça e imóvel.
Fecho meus olhos em busca de soluções, eu poderia lidar com Charlie
Makgold a qualquer momento, sentia dentro de mim que poderia lidar com
sua gangue, a qual se refugiava para não ser pega, mas, por um lado, lidar
com o que Johnatan possuía era algo que não poderia ter o controle. Na
verdade, eu não sei a imensidão do que ele possuía fora da mansão, além do
prédio que terminou de ser construído poucos meses atrás e não faço ideia do
que será feito dele.
Um passo em minha direção me faz abrir os olhos rapidamente.
Encaro meu pai me observando de braços cruzados, não é a primeira vez que
me vê na academia, muito menos, enroscada numa barra de ferro de cabeça
para baixo.
― Sabia que te encontraria aqui ― murmura infeliz.
― Onde mais eu deveria estar? ― pergunto, deslizando para o chão
com suavidade até meus pés tocarem o solo.
― Em casa, onde é o seu lar! ― dispara, mas sei que, por dentro, a
inquietação continua intacta.
― Sabe que eu não posso. Você se negou a me treinar ― retruco, não
conseguindo ignorar minha decepção.
― Sabe por que não quero que se envolva nisso, Mine. Não quero que
se transforme como...
Olho-o rapidamente, vendo seus olhos piscarem ao fugir dos meus.
― Depois de tudo o que aconteceu naquela noite, meu único conforto,
meu único abrigo foi dentro desta casa, assim como meus esforços para o que
tinha que aprender. ― É inevitável, não consigo segurar minha dor.
Meu pai se aproxima, e me afasto, suspirando com dificuldade.
― Mine, escute, isso vai passar. Você só precisa descansar, só precisa
tentar seguir em frente. O que aconteceu entre vocês ficou para trás; você
ainda está aqui, filha, e eu não quero que você continue com essa escolha. Eu
não vou suportar isso, Mine, não com você. Precisa de tratamento, mas se
recusa; há meses que não sai daqui. Essa depressão não passa assim, está
cada vez pior. Eu estarei aqui para apoiá-la, filha, por favor! ― diz, e vejo as
lágrimas em seus olhos cinza.
Seguro as minhas e engulo, com força, o nó em minha garganta.
― Eu só quero minha filha de volta. Será pedir muito?!
Aperto meus lábios trêmulos e inspiro fundo antes de encará-lo.
― Não dá. Aquela Mine ficou dentro daquela floresta com ele, e o
que sobrou dela agora são apenas pedaços ― falo com fervor.
― Eu sei o que deve estar sentindo, sei como é perder alguém ―
dispara, e me encolho. ― Eu amei muito sua mãe, querida, mas eu continuei
vivendo... por você, continuei lutando... por você, querendo, de alguma
forma, que chegasse aos seus objetivos...
― Você poderia me treinar, me ensinar truques, qualquer coisa... ―
insisto e o vejo hesitar ao erguer suas mãos.
― Não é dessa ajuda que estou me referindo, Mine ― mantém seu
tom firme. ― Minha opinião sobre tudo isso, sobre essa mudança toda,
continua intacta, e é somente uma fase, minha filha. A dor vai passar, toda
essa angústia que está sentido vai desaparecer com o tempo, é só você querer.
Só precisa chorar e se aliviar, se libertar de todo esse peso que insiste em
segurar.
Caminho em sua direção, encarando seus olhos com profundidade;
minha reação firme e fria o pega de surpresa. Minha cabeça lateja, e meu
corpo fica rígido.
― Não é angústia, pai. É desespero! ― seguro minhas lágrimas e me
afasto, saindo da academia.
Permaneço na biblioteca por alguns minutos, inspirando e expirando
até me sentir tranquila. Provavelmente, meu pai desceu para conversar com
Peter, talvez para perguntar como eu continuo lidando com tudo. Uma batida
na porta me faz olhar para cima e vejo a cabeça de Michael Banks passar pela
porta e me olhar com um sorriso simpático, fico surpresa com sua presença.
― Posso entrar? ― pede.
― Claro ― engulo em seco.
Não é a primeira vez que ele aparece na casa desde que Johnatan se
foi; devido às minhas insônias e meu comportamento, meu pai fez questão de
que o Doutor Banks me avaliasse.
― Como você está? ― pergunta, entrando na sala. Como sempre, um
cavalheiro de branco.
Aborrecia-me ter que interromper seu trabalho, mas tanto ele quanto
meu pai eram impossíveis.
― Fisicamente, estou bem ― disparo, não conseguindo segurar meu
desconforto.
Michael se senta à minha frente para me observar.
― Eu sei que sim ― murmura e observa a biblioteca. ― Fazia muito
tempo que eu não entrava nessa sala ― suspira, dando-me um sorriso
apertado.
Todos da cidade sabiam dos ocorridos e, como sempre, havia os
boatos. Michael não era a exceção, sabia o que ocorreu. Segundo Donna, ele
estava presente no dia da cremação junto com Nicole. Balanço minha cabeça
para afastar o pensamento.
― Eu gosto daqui ― fico carrancuda.
― Seu pai me disse isso. Cheguei agora e fui te procurar em seu
quarto, encontrei Jordyn o organizando, e ela me entregou isso ― comunica,
tirando de seu bolso o frasco de remédio que eu havia jogado no lixo.
Jordyn! Fecho meus olhos e suspiro, não era somente meu pai que
estava preocupado comigo, sabia que todos estavam. Respiro fundo e encaro
Michael.
― Achei que fizessem efeito, mas não ― disparo de mau humor.
― Mine, isso só pode ser tomado com orientação médica. Eu posso te
receitar vitaminas...
― Eu não estou tomando mais, por isso joguei fora. Foi imaturo ter
tomado isso, me desculpe, não ocorrerá novamente ― garanto, apertando
meus lábios.
Não deveria me sentir tão culpada, mas ele era o médico. Por outro
lado, só havia um remédio que eu seguia à risca, fora esse, não havia mais
nenhum.
― Não vou dizer nada ao seu pai sobre isso ― revela sorrindo. ―
Mesmo assim, vou receitar umas vitaminas para você e entregar para Donna,
querendo você ou não ― diz rindo ao me ver revirar os olhos, e o observo
anotar em seu bloco de notas.
― Como vai sua esposa? ― pergunto, querendo soar mais tranquila.
Vejo sua escrita falhar e retornar quando dá um suspiro.
― Não estamos mais juntos ― ergue seus olhos, dando-me um
sorriso apertado. Fico surpresa. ― Estou entrando com o processo de
divórcio. Nicole foi um marco importante na minha vida, mas suas exigências
e a forma como lida com tudo acabou afetando nosso casamento ― explica.
Pisco.
― Eu não sabia, me desculpe. Espero que tudo fique bem. Aliás, o
senhor merece ser feliz ― eu o apoio.
― Ficará. Obrigado, Mine, mas não estou aqui para isso, certo? ―
Michael brinca, erguendo sua sobrancelha e arrancando o pequeno papel de
seu bloco de notas. ― Vou entregar isso para Donna, se cuida. Qualquer
coisa, me ligue, estarei no hospital hoje de plantão.
― Obrigada!
Michael se levanta, estendendo sua mão e a aperto, dando-lhe um
sorriso educado. Pensativa, observo sua saída até a porta, por essa eu não
esperava, mas, vindo de Nicole, não era algo que duraria muito tempo.
As horas parecem se arrastar, em breve os advogados chegarão para
dizer sobre o testamento; assim como todos, eu também me encontrava
nervosa. Pelo computador, capturo acessos das câmeras de segurança
escondidas na casa até observar um conversível branco passar pelo portão.
Encaro atentamente, apertando meus dentes ao ver Nicole sair do seu
carro. Como sempre, loura e impecável. Está junto com um homem de terno,
baixo e careca, provavelmente o advogado que Donna mencionou nessa
manhã. Vejo Peter cumprimentá-los e mostrar o caminho para o homem,
enquanto Nicole observa o campo antes de entrar na casa. Desligo o
computador e sigo, em passos firmes, até a saída da biblioteca.
Descendo as escadas, analiso a mulher adentrar a sala de entrada, seus
olhos castanhos e frios me avaliam com indiferença, sua sobrancelha se
ergue, demonstrando sua descrença.
― Ora, ora! Você continua aqui depois de tudo o que aconteceu? ―
diz, me analisando dos pés à cabeça. Posso não estar vestida impecavelmente,
com vestido, terninho e saltos, mas tenho minha postura rígida. ― É muito
atrevimento da sua parte continuar nesta casa.
Ergo minha sobrancelha, olhando-o com frieza.
― Olá para você também, senhora Banks, ou devo apenas dizer
Nicole? Soube que se separou do marido, me pergunto se ele desconfiou, por
algum momento, o tipo de mulher que você era quando estava com ele. Não
sei, talvez as traições? ― rebato, vendo seus olhos ofuscarem e sua expressão
se endurecer.
Nós nos encaramos com ódio. Posso odiar Johnatan nesse momento
por ter ficado com uma mulher tão repugnante? Sim, posso.
― Não sabe nada sobre meu casamento. Para seu governo, eu ainda
não me separei e não vou me separar, se é esse o seu desejo. Será que
pretende tirar até meu marido de mim como fez com Johnatan? ― seu ódio
ferve, fazendo-me sorrir de maneira sombria.
― Esse não é meu pretexto, Nicole, mas acho que seu marido já
descobriu o tipo de mulher que você é ― uso o mesmo tom, enquanto nos
encaramos.
Meu sangue ferve, seus olhos parecem mais vermelhos, não esperava
minha reação.
― Não se vangloria tanto, empregadinha. Muito diferente de você, eu
não deixaria Johnatan naquela floresta ― minha expressão se fecha. ― Eu
soube, pela perícia, o que aconteceu por aqui naquela noite e isso tudo me
leva a crer que você o matou.
Engulo o nó em minha garganta.
― Eu seria incapaz de fazer algum mal a Johnatan...
― Você o prejudicou no momento em que apareceu em sua vida ―
diz entredentes.
― Está tratando isso de forma pessoal, porque Johnatan jamais foi
apaixonado por você.
Minha revelação a faz se aproximar de mim, e permaneço em meu
lugar sem me intimidar.
― Você o tirou de mim e o deixou morrer ― as lágrimas brotam em
seus olhos.
Aperto meus punhos, observando-a com ódio.
― Eu fico muito feliz que o Doutor Banks decidiu deixá-la e espero
imensamente que ele encontre uma mulher muito melhor que você. Oh, não!
Perdoe-me, você não foi a melhor para nenhum homem. Na verdade, nunca
se deu o valor ― vejo sua mão se erguer, e, antes que a mesma se choque
contra meu rosto, alguém a segura no lugar.
2 – ENIGMA

Olho para o lado, vendo Jordyn afastar sua mão para longe. Nicole
fica surpresa e puxa sua mão para si.
― Não se atreva a tocar nela ― minha amiga diz com frieza, fazendo-
me piscar por sua forma protetora.
A loira nos observa numa expressão resignada.
― Eu ainda não esqueci aquele tapa ― lembra antes de se afastar
para a sala de reunião com seus saltos irritantes.
Esfrego meu rosto, sentindo-o quente e latejante.
― Você está bem? ― Jordyn pergunta, e a encaro cansada.
― Estou. Posso saber o que estava fazendo no meu quarto? ―
pergunto, vendo-a morder seu lábio.
― Eu dei só uma arrumadinha de leve antes de pegar essa sua
camiseta emprestada e achei aquele remédio no lixo, e...
― Tudo bem ― interrompo-a, revirando meus olhos ao notá-la com
uma das minhas camisetas. ― Todos já estão na sala de reunião?
― Sim. Donna pediu para te avisar, mas não esperava que você
estivesse com essa iguana com cabelo de espiga de milho ― Jordyn diz,
cruzando os braços, seu comentário me faz rir.
― Onde você arruma esses apelidos?
― Eu me inspiro ― sorri.
― Obrigada, Jordyn, me juntarei a vocês daqui a pouco. Só preciso de
um pouco mais de ar puro antes de entrar lá ― Jordyn acena e se afasta.
Poucos segundo depois, sou surpreendida com a entrada de Matt. Faz
algumas semanas que não o vejo. Ele vem com sua inseparável pasta e traz
outro homem ao seu lado.
― Olá, Mine, quanto tempo! ― caminha em minha direção,
parecendo nervoso ao apertar minha mão.
― Olá, senhor Polosh ― cumprimento, dando-lhe um sorriso
educado.
― Sem formalidades, só Matt ― pede. ― Acho que estou um pouco
atrasado ― observa, ajustando a gravata escura.
― Não, chegou bem na hora. Estão todos reunidos na sala de reunião
― informo e, pela primeira vez, observo o homem de meia-idade ao seu lado.
Ele tem os olhos castanhos fixos em mim, usa óculos e terno escuro, é
alto, de cabelos grisalhos e um pouco acima do peso. Pelas rugas de
expressão, imagino que tenha uns 65 anos. Eu o encaro por um tempo,
intrigada com seu olhar profundo, o qual não me agrada. Uma tossida de Matt
me chama atenção, e pisco meus olhos confusos para ele.
― Esse é Ronald Keller, acabou de chegar ao país. É um velho amigo
no ramo da advocacia e me ajudou nos processos dos documentos. Achei
melhor trazê-lo, caso haja algum inconveniente. Não se preocupe, ele é de
extrema confiança ― Matt explica, o senhor à minha frente está paralisado.
Pisco confusa com seu olhar, mas não recuo, apenas lhe dou um
sorriso educado.
― Seja bem-vindo, senhor Keller ― estendo minha mão para
cumprimentá-lo.
Ronald alcança minha mão, e sou surpreendida quando ele a leva até
os lábios.
― É um galanteador ― Matt murmura, balançando a cabeça. Franzo
a testa e sorrio, puxando minha mão para meu peito. ― Ele não fala nossa
língua, é francês.
― Oh... ― me surpreendo. ― Je parle un peu le français ― digo que
falo um pouco de francês.
Sorrio agradecida pelos livros de línguas de Johnatan, francês foi o
idioma que mais me encantou, poderia facilmente me dedicar ao russo, mas,
na primeira tentativa, desisti ao sentir a dor profunda em meu peito por
lembrar de sua voz sussurrada junto ao meu ouvido.
Ambos me olham surpresos.
― Eu disse que ele era francês? Oh, não, não, ele é alemão. É que
acabei de chegar da França, me desculpe. ― Matt ri de si mesmo, me fazendo
piscar constrangida pelo erro. ― Podemos? ― pergunta, dando-me espaço
para seguir em frente.
― Claro, me acompanhem ― peço um pouco desconfortável com o
olhar de Ronald.
Na sala de reunião, vejo todos reunidos, incluindo meu pai, que se
encontra de pé atrás de uma poltrona. Nicole está de pé com os braços
cruzados, batendo seu salto contra o chão, demonstrando sua impaciência, o
advogado careca, próximo à mesa. Quando Matt entra na sala junto com
Ronald, sento-me na poltrona e observo todos nervosos com o que está por
vir.
― Olá. Como estão? ― Matt cumprimenta, seguindo para a mesa.
― Eu pensei que a leitura do testamento fosse tratada de forma
particular, Matt Polosh ― a loura o interrompe, demonstrando sua irritação.
― A leitura do testamento é de interesse de todos aqui presentes,
Nicole ― ele demonstra sua frieza, e aperto meus lábios para não sorrir da
expressão incrédula que a mulher tem em seu rosto.
― Podemos começar, Polosh? ― o outro advogado interrompe de
maneira impaciente.
― É claro, senhor Hocky ― Matt ironiza e murmura algo em alemão
para Ronald, que lhe entrega uma pasta parda. ― Obrigado por todos estarem
presentes. Trabalhei de forma árdua para conseguir provas e o registro de
muitos documentos. Como em muitas das reuniões que já presenciei com
John, eu não deveria ler um testamento sem essas provas.
― Eu queria entender por que eu e minha filha temos que estar
presentes aqui ― meu pai murmura, e engulo em seco.
― Porque é de suma importância, tanto para mim quanto em memória
a Johnatan Makgold ― Matt explica ao me olhar. Engulo o nó em minha
garganta, não gostando da forma como ele se refere a Johnatan.
― O senhor Hocky está aqui por causa do interesse nas empresas em
que Johnatan possuía e nas propriedades?
― Sim, exatamente. Tenho assinaturas e cópias dos registros de todas
suas empresas, assim como suas parcerias, os contratos, contatos de
companhias... ― Hocky tagarela com veemência, fazendo Matt acenar, noto
também certo interesse nos olhos de Nicole, claro.
Observamos Matt organizar algumas pastas sobre a mesa e pegar um
dos papéis. Ele começa sua leitura, resumindo a fortuna, empresas dentro e
fora do país, companhias, propriedades e sociedades. A imensidão do
trabalho feito por Johnatan me faz ficar nervosa, sabia que toda sua fortuna e
status que conquistou despertaria interesse de todos os lados, principalmente
de seu pai.
Observo Hocky escutar atentamente, assim como Nicole. Quando
Matt começa a falar sobre os bens, noto que todos ficam aflitos. Quando
Donna abraça Ian ao seu lado, meu coração se aperta, e volto minha atenção
para Matt.
― Para minha governanta, Donnatela Benzarque, deixo minha
propriedade privada no campo em Nova Zelândia, na cidade de Queenstown,
no direito de cuidar, organizar e administrar. Caso haja falecimento da
mesma, o bem deverá ser passado para seu filho, Ian Benzarque, com o
mesmo propósito deixados por sua mãe, além de cuidar dos meus cavalos
Hush, Sid e Lake. ― Assim que Matt termina, todos nós suspiramos
aliviados.
Olho para Donna, vendo seus olhos em lágrimas. Jordyn a abraça,
beijando seu rosto; sorrio para ela com carinho. Ian aperta sua mão com
emoção.
― Isso, se não houver a hipoteca da casa ― o advogado careca
interrompe.
― Chegaremos a esse detalhe, senhor Hocky ― Matt informa antes
de voltar com a leitura.
Nós nos surpreendemos ao saber de outra propriedade privada fora do
país dada a Peter. Jordyn e James ficam chocados ao ganharem apartamentos,
de suas escolhas, de propriedades construídas em cidades dentro ou fora do
país, com a condição de que ambos continuem seus estudos; as mensalidades
permanecerão sendo pagas por Matt. Para desespero de Hocky, Matt é o
único autorizado a mexer no dinheiro e nas contas, tanto a particular quanto a
empresarial, a qual engloba todos os negócios administrativos. Para minha
surpresa, Johnatan deixou em aberto a aceitação de meu pai em administrar
uma marcenaria.
― Eu me recuso! ― papai dispara.
― Tudo bem, senhor Clark ― Matt aceita educadamente.
― Isso está tudo muito caridoso, mas quando chegaremos à parte que
envolve trabalho? ― Nicole interrompe, e a observo.
Eu nem mesmo me lembrava de que ela existia naquela sala, pelo
visto, nem mesmo Ronald, que a observa com desconfiança.
― Agora ― Matt afirma, pegando outro documento para entregar
uma cópia a Hocky. ― Resumidamente, o senhor Makgold pediu que todos
seus bens empresariais, tanto em companhia quanto em sociedades, e o
restante das propriedades, assim como a fortuna deixada por ele, incluindo a
fortuna familiar, estejam nas mãos de Mine Anne Clark. Ordena que a mesma
esteja a par de tudo, sem se recusar. E, com a minha ajuda, Mine saberá
administrar tudo isso sem se preocupar. Se houver algum problema, eles
serão resolvidos imediatamente, e eu serei encarregado de lhe passar tudo que
entra e sai. Posso ser autorizado a mexer nas contas, mas quem ordena é ela.
Arregalo meus olhos e prendo minha respiração. Isso não pode estar
acontecendo!
― O que isso quer dizer? ― Nicole debocha nervosa.
― Quer dizer que sua companhia imobiliária, o Hospital em
Queenstown e os demais empreendimento que possuem vínculos com a MK
Enterprise têm uma nova proprietária. Ou seja, Mine Anne Clark é sua nova
chefe, Nicole ― Matt informa, encarando-a.
― Isso é impossível! ― Hocky diz rispidamente.
― Desculpe, Hocky, havia me esquecido de você. O senhor disse que
tinha as cópias de documentos e contratos? Pois bem, eu tenho os originais
por completo. Outra coisa importante é que nada que o senhor Makgold
possuía foi hipotecado e, se houve, já está liquidado. Então, nem o senhor e
nem ninguém, fora os que estão citados no testamento, têm o direito a algum
bem do meu falecido cliente ― o tom firme assusta todos os presentes.
― Minha filha não pode aceitar isso! ― meu pai diz, puxo minha
respiração de acordo.
― Quer dizer que a Mine está cagada de rica? ― Jordyn dispara em
choque, e Peter a cutuca para chamar sua a atenção.
― Eu não posso aceitar ― sussurro, olhando assustada para Matt.
― É claro que não! ― Nicole dispara friamente. ― Não se sabe se
esses documentos são mesmo os originais. São muitas parcerias e
companhias para aceitar esse tipo de absurdo.
― Bem, foi por isso que fui atrás delas para lembrar o que iria ocorrer
futuramente. Confirme você mesma e pode procurar por registros. Você
assinou documentos ao entrar como parceira, tendo a ajuda da MK na
construção e no crescimento do negócio. A menos que você não tenha lido as
cláusulas do contrato com atenção ― Matt explica, entregando a pasta para
Nicole analisar. ― E, Mine, o senhor Makgold sabia que iria estar sujeita a
negar, porém você não tem saída.
― O quê? ― pergunto incrédula.
― Há restrições para isso. Se você se recusar, mesmo que alguns bens
estejam passados para todos nessa casa, haverá o risco de perderem tudo.
Cada um de vocês aqui presentes possui notas dadas pelo senhor Makgold, e
todas informam suas responsabilidades. Todos os documentos foram
assinados por ele, e os mesmo serão assinados por vocês, e, principalmente,
por você, Mine ― Matt esclarece.
Olho para todos me observando com expectativa.
― Johnatan não deveria ter feito isso ― murmuro, engolindo o nó em
minha garganta.
― Ele fez, porque confiava e acreditava em você ― Matt diz, se
aproximando de mim com os documentos e a caneta.
― Isso é um absurdo! Eu me recuso a trabalhar junto com essa
imprestável! Ela não sabe nem organizar um jogo de copo, quanto mais
administrar tudo isso, pelo amor de Deus! ― Nicole esbraveja, meu pavor se
transforma em fúria.
― O senhor Makgold também sabia da sua postura em relação a isso,
por mais que tivessem anos de parceria. Ele fez questão de assinar uma carta
de demissão, relatando a quebra de contrato, caso não estivesse de acordo.
Lembrando que Mine também terá que assinar para oficializar seu
desligamento. ― Matt mostra a carta, fazendo Nicole o olhar em choque.
― Ele seria incapaz de fazer isso comigo, seria incapaz de deixar uma
empregadinha tomar posse de tudo. Logo ela, que se aproveitou e está se
aproveitando da fortuna Makgold! ― Nicole dispara irritada.
― Meça as palavras ao falar da minha filha! ― meu pai diz com
frieza.
― Ah! Por favor, o senhor é um velho se aproveitando da situação,
assim como todos nessa casa ― a mulher continua.
Tomo a caneta da mão de Matt e puxo a carta, assinando com raiva;
em seguida, levanto-me para entregar à Nicole.
― Só falta sua assinatura, e estarei feliz em desfazer qualquer aliança
com você. ― Ela me observa com os olhos frios, puxa a carta da minha mão
e rasga o documento com ódio.
― Não vou lhe dar esse gostinho ― retruca.
― Ótimo, então, vai ter que me aturar ― digo ríspida e me viro para
Matt, que me observa assustado. Provavelmente, não esperava minha atitude.
― Onde assino essa porcaria?
― Você não quer ler primeiro, Mine? ― meu “agora” advogado
murmura, talvez tentando me tranquilizar.
― Há alguma coisa que possa prejudicar a mim e os demais
assinando esses documentos? ― pergunto, o olhando fixamente.
― Não, exceto se você não assinar ― lembra-me.
― Filha, pensa bem ― escuto meu pai atrás de mim e suspiro.
― Johnatan me sujeitou a isso, pai, se eu não fizer, todos eles estarão
perdidos, sem nada, e tudo que conquistaram até aqui, por anos trabalhados,
terá sido em vão... ― murmuro para meu pai, observando todos
esperançosos.
― Esse não é seu dever ― sua súplica aperta meu coração, sua
preocupação é algo palpável.
― A partir de agora é ― afirmo e me viro para onde Matt indica, na
pilha de papéis, que devo assinar. ― Juro que, se Johnatan estivesse aqui, eu
o socaria até a morte ― resmungo irritada e vejo a sombra de um sorriso no
rosto de Ronald antes de retomar sua postura séria. Talvez ele entendesse um
pouco a nossa língua.
Depois que concluo, deixo Matt se ocupar com os outros, explicando
suas notas enquanto assinam. Sinto os olhos de Nicole em mim e, com frieza,
eu a encaro, assim como ao Hocky, mantendo minha postura mais firme. Meu
pai continua cético, com certeza, não gostando da ideia, mas não me
arriscaria a segurança financeira de todos em risco, por mais absurda que seja
a atitude de Johnatan.
Quando tudo finaliza, Nicole e Hocky assinam os documentos do
acordo com cara de poucos amigos. Em seguida, levanto-me, pronta para
fugir dali.
― Se sente feliz agora, empregadinha? Conseguiu o que queria? Já
não bastou matar Johnatan, agora quer possuir tudo o que já foi dele? ―
Nicole dispara seu veneno assim que gira em seus saltos para me afrontar.
Aperto meus dentes e avanço em sua direção, mas sou interrompida
por um braço firme em minha cintura, olho para o lado surpresa, vendo
Ronald me encarar confuso e, ao mesmo tempo, assustado com a minha
frieza disparada em sua direção. Inspiro fundo e me afasto, na intenção de
mostrar que está tudo bem. Uma tossida discreta de Matt nos chama atenção.
― Bem, acho que isso tudo já tirou muitas dúvidas e muito peso das
costas ― sorri para Donna, que demonstra seu alívio. ― Eu e Ronald iremos
revisar novamente os acordos, agora oficializados, a fim de passarmos novos
contratos para as companhias. E, para descontrair, teremos a inauguração de
gala do Hotel Makgold amanhã à noite. Eu deveria ter anunciado antes, mas,
estive ocupado com tudo isso, junto com a organização, e não queria assustar
vocês.
― Somos convidados? ― James pergunta confuso. Nicole rosna
inquieta.
― Mine é a nova proprietária e deve estar presente na inauguração,
não será necessário se apresentar para todos os empresários, apenas os mais
importantes. E ela decidirá se vocês podem ir ou não. Aliás, a inauguração é
também uma homenagem a Johnatan ― Matt informa de maneira
profissional.
Seguro minha respiração. Tinha conhecimento de que o prédio estava
terminado, mas não sabia que, no meio disso tudo, eu seria, de alguma forma,
a dona. Aperto meus lábios e encaro todos, tanto Jordyn quanto Ian me olham
com expectativa.
― Onde eu estiver, eles estarão comigo ― digo por fim, deixando
minha expressão se suavizar; todos os que amo ficam felizes com minha
decisão. Em parte, não quero que se sintam presos na casa como eu estou.
― Perfeito! ― Matt diz satisfeito.
― Por favor... ― Nicole ironiza.
― Peço licença a todos ― Donna fala, se levantando. ― Senhor
Polosh, está tudo certo conosco? Não teremos nenhuma preocupação de
agora em diante?
― Não precisam se preocupar com nada ― Matt garante.
― Sendo assim... ― Donna caminha até a saída da sala do escritório,
nos deixando confusos. ― Desejo que você, senhora Banks, se retire desta
casa. Nada contra seu advogado, mas ambos e, principalmente a senhora, já
causaram estresse demais nesta casa. Por favor, se retirem, não há mais nada
que possam fazer aqui ― Donna pede com educação, mas, pela primeira vez,
sinto uma pontada de desprezo em sua voz.
Nicole a olha chocada. Ian, Jordyn e James gargalham, sem conter o
divertimento.
― Então, é assim, Matt Polosh? Deixará que empregados caipiras
como esses se aproveitem da riqueza de Johnatan depois de sua morte?! ―
Nicole cospe seu ódio mortal.
― JÁ CHEGA!
Meu sangue ferve por suas palavras. Quando dou por mim, já estou
com seus cabelos louros enroscados em meus dedos, a arrastando para fora e
ignorando seus gritos de protesto, enquanto a mantenho imobilizada. E,
quanto mais ela grita, mais a arrasto para fora da casa. Escuto passos curiosos
atrás de mim e algumas risadas. Assim que passo pela saída, faço questão de
rebocá-la até seu carro e jogá-la no chão.
Minha respiração está acelerada, meu corpo ferve, e sinto meus olhos
como brasa. Quando a encaro no chão, com o rosto avermelhado e os cabelos
bagunçados, vejo sua expressão chocada, mas sem perder a fúria e a
petulância em sua expressão. Eu me aproximo dela e me curvo, apoiando-me
em meus joelhos, ela se afasta intimidada.
― Agora você tem ideia do quanto não é bem-vinda a essa casa.
Qualquer coisa que tiver para resolver sobre questões profissionais, elas
devem ser relatadas para Matt. Querendo ou não, Nicole, estou no comando,
e, quando eu não precisar mais de você, farei questão de demiti-la. Então,
fique um pouco mais feliz por eu te dar uma segunda chance! ― minha frieza
a surpreende. ― Pegue todo esse seu orgulho e carregue para longe daqui
junto com o lixo que há em você!
Ergo meu corpo, mantendo minha postura rígida, pronta para seguir
para dentro de casa. Uma parte da plateia sorri com a cena que acaba de
presenciar, a outra parte permanece em choque.
― Está explicado seu interesse ― escuto a mulher sussurrar, rindo
com sarcasmo. Viro meu rosto duramente, vendo-a se levantar cambaleante.
― Esperou Johnatan morrer para ter tudo isso, não é mesmo?
― Pense o que quiser ao meu respeito, Nicole, mas nunca trate a
lembrança de Johnatan dessa maneira, não para as pessoas dessa casa! Não
para mim! ― avanço com ódio e sou contida por braços de meu pai e Ronald
ao meu redor.
― Nicole, acho que por hoje chega, por favor! ― Matt pede
educadamente.
Me afasto dos braços de meu pai e Ronald bruscamente.
― Eu preciso ficar sozinha ― digo entredentes.
Sigo para dentro da casa, caminhando direto para a academia, onde
posso equilibrar minha dor e controlar a raiva que há em meu corpo.

As mesas cercam o espaçoso salão de mármore preto com convidados


e músicos de jazz. Todos parecem empolgados e curiosos com o novo hotel
luxuoso da cidade; um prédio negro de 27 andares, quartos e suítes
espaçosas, atendimento de primeira classe, escritórios e salas de reuniões
privadas, segundo o folder do hotel. A última vez em que estive aqui me
lembro de um edifício inacabado e um homem sendo morto.
Inspiro fundo e me concentro em Peter tentando acompanhar os
passos de Jordyn na pista de dança. Assim que cheguei à inauguração, Matt
me apresentou para alguns empresários, sem revelar muito sobre mim ou
quem estava por trás de tudo aquilo. Johnatan, penso com ressentimento.
Quando a conversa seguia para esse rumo, Matt me afastava, o que me fazia
sentir imensamente agradecida. Meu pai foi o único que se recusou a
participar; eu o invejo, porque meu humor não estava para festas também.
Aguento o tormento, continuando em meu lugar apenas assistindo.
― Você vai ficar a noite toda sentada? ― Jordyn me chama a
atenção, se aproximando empolgada. ― Estou fazendo todos dançarem e
você não será a exceção.
Sorrio para ela com carinho.
― Estou bem ― suspiro.
― Vamos... Pelo menos alivia essa tensão. Olha, daqui a pouco vão
começar as homenagens para o senhor Makgold... ― Jordyn se interrompe
quando a olho fixamente.
Essa era a parte difícil, viver sem ele era complicado, relembrar e ver
imagens fazia a dor aumentar em meu peito.
― Não acredito! Eu que estou aprendendo a dançar e você parece
uma velha, mesmo nesse lindo vestido. ― James se aproxima de mim,
agarrando minhas mãos e me puxando.
― Eu não quero dançar ― digo rindo quando ele me gira.
― Comprei um deslumbrante vestido de última hora para você, não
pode escondê-lo dessa forma ― Jordyn protesta, me empurrando para a pista
de dança.
― Eu concordo ― James diz sorrindo.
Ambos estão lindos em trajes elegantes, eu fui obrigada a usar um
vestido longo colado, de renda vermelha e uma fenda na saia, e saltos pratas
de cetim. Donna prendeu meus cabelos como cascata em cachos e optei, por
pressão de Jordyn, por uma maquiagem esfumada. Acho que James também
foi vítima da insistência dela.
― Jordyn te manipulou a fazer isso? ― sussurro para ele.
― Era isso ou ela arrancaria meus olhos ― defende-se e rimos de
suas mãos rendidas.
Depois de tentar dançar uma música, retorno para a mesa. Era inútil
fazer aquilo ou fingir para mim mesma que estava tudo bem.
― Deseja beber algo, senhorita?
Olho para cima, vendo um asiático vestido com um terno branco e
gravata borboleta preta. Seus cabelos lisos arrepiados são negros, assim como
seus olhos.
― Sim ― aceno, pegando uma taça champanhe de sua bandeja e o
observo se afastar para atender outros convidados.
Tomo um gole do líquido gelado, observando o salão com a sensação
de ter algo estranho acontecendo. Fico em alerta assim que penso que talvez a
máfia esteja infiltrada na festa — essa não seria a primeira vez. Inspiro fundo
e me viro para colocar a taça na mesa. Arregalo meus olhos ao encarar uma
pétala de rosa vermelha junto a um bilhete próximo a mim. Meu coração
acelera, e prendo minha respiração ao pegar o pequeno cartão escrito com
letras elegantes:

"Cobertura"

Por um momento, sinto meu coração inchar, meu corpo esquentar e a


ansiedade tomar conta do meu peito. Pego a pétala e a “inspiro” fundo, fazia
muito tempo que não sentia o perfume intenso de uma rosa, eu nem mesmo
tinha coragem de entrar na estufa sem ele. Ao observar o salão, localizo
rapidamente uma mulher alta, de cabelos caramelos e vestido de cetim
dourado, se afastar e caminhar em direção ao toalete, mas o que me chama
atenção são seus lábios se movendo de forma discreta, como se estivesse se
comunicando com alguém. Encaro o bilhete em minha mão e o amasso.
Levanto-me, acenando para Donna na pista sobre meu destino, e
caminho para o banheiro, sem deixar de observar ao redor, atenta a qualquer
movimento estranho.
Assim que entro no banheiro luxuoso, tranco a porta, encontrando a
mulher estonteante retocando sua maquiagem em frente ao enorme espelho,
ao mesmo tempo em que noto seus olhos me observarem brevemente.
Mantenho meu jeito descontraído e caminho calmamente, observando
a bandeja de toalhas na pia de granito, enquanto verifico como está a minha
maquiagem. Suspiro, como se estivesse exasperada. Quando sinto que seu
rosto está virando em minha direção, pego a bandeja num movimento rápido,
acertando seu rosto perfeito.
A mulher arfa e cambaleia para trás, me olhando com seus olhos
claros surpresos. Solto a bandeja de aço grosseiramente e agarro seu pescoço,
arremessando-a contra a parede de mármore. Rosno, observando a marca que
deixei próximo ao seu olho.
Cravo minhas unhas em sua pele, fazendo-a arfar e piscar os olhos
chocados quando volto a arremessar sua cabeça contra a parede.
― Espere... ― ela engasga, e aperto meus dentes, demonstrando a
frustração em meus olhos.
― Está me achando com cara de idiota? ― pergunto, golpeando seu
olho e voltando a agarrar seu pescoço.
― Mine... ― murmura meu nome, enquanto cravo minhas unhas
novamente.
― Para quem você trabalha? ― É frustrante não ter resposta, golpeio
novamente sua cabeça. ― RESPONDA!
Seus olhos claros se abrem, me observando com raiva, um deles está
começando a inchar. Uma de suas mãos tenta me imobilizar, mas minha fúria
para tal brincadeira me deixa ainda mais nervosa, ajudando-me na força que
tenho em meus braços.
Ergo minha sobrancelha com descrença.
― Droga. Ele te espera na cobertura! ― a mulher responde
rispidamente.
― Quem?!
― Eu só estou fazendo meu trabalho. Apenas vá! ― diz sufocada.
Solto-a, observando-a tossir e cambalear, tocando o pescoço. Respiro
com dificuldade e me encaro no espelho, meus olhos cinzas destacados pela
maquiagem ardem em tensão.
― É melhor que não esteja brincando comigo ― disparo, saindo do
banheiro em passos firmes.
Assim que passo pelo salão, escuto alguém me chamar e ignoro,
seguindo direto para o elevador. Antes que as portas de aço se fechem, vejo
Ian me olhar confuso, sorrio para ele até as portas fecharem e minha
expressão se transformar em algo ameaçador.
Quando estou próxima da cobertura, retiro uma pequena faca que
guardei entre meus seios, num bolso falso dentro do vestido, e a enrosco em
meu dedo médio, escondendo-a em minha palma. Quando as portas de aço se
abrem, caminho com firmeza pelo corredor até as portas automáticas.
A entrada da cobertura de luxo é aberta e espaçosa, com poucas luzes
e uma bela vista panorâmica da cidade; sigo meu trajeto, observando em
todas as direções até meus joelhos travarem ao encarar um homem alto, de
costas para mim, próximo ao parapeito de vidro, com uma das mãos enfiada
no bolso da calça. Ele usa um terno escuro, parecendo tranquilo ao encarar a
vista.
― Você nunca fica longe do perigo, não é mesmo? ― a voz rouca e
potente me faz parar de respirar.
Eu o reconheceria a quilômetros de distância. Sinto-me anestesiada a
ponto de soltar a pequena faca, que cai no chão num som oco. Meus olhos se
enchem de lágrimas assim que ele gira seu corpo; com fervor, encaro seus
olhos em chamas e aquele sorriso torto que me faz derreter.
― Johnatan... ― chamo, trêmula e ofegante.
Seu rosto se ilumina num sorriso mais aberto. Ele ergue uma rosa até
seus lábios e inspira profundamente, fechando os olhos e os abrindo, em
seguida, para me olhar com intensidade.
― Minha Roza...
3 – O RETORNO

Estou em um sonho, um sonho de tirar o fôlego com aquele homem


impecável vestido em um terno escuro sem gravata, com os dois botões de
sua camisa branca abertos. Para minha surpresa, seus cabelos estão curtos,
penteados à mão, fazendo destacar seu rosto de uma maneira mais
intimidadora.
Ele continua me encarando com seus olhos azuis cheios de segredos e
desejos. Em seus lábios, a rosa vermelha se sobressai, como se me desse
boas-vindas. Este é um sonho do qual eu anseio nunca acordar.
O impulso do meu corpo trêmulo me faz correr até ele, sem deixar de
conter minhas lágrimas. Jogo-me em seus braços, envolvendo minhas pernas
em sua cintura e meus braços em seu pescoço. Sinto meu coração preenchido
e acelerado, como se nada mais faltasse dentro de mim. Meu corpo se aquece,
enquanto inspiro seu perfume másculo. Um dos seus braços cerca meu corpo,
e apenas me afasto para tocar seu rosto.
― É você ― sussurro sem fôlego, observando a rosa ainda em seus
lábios.
― Pensou que eu não viria? ― pergunta rouco, fazendo meu coração
acelerar ainda mais.
― Eu senti tanto sua falta ― digo trêmula e afasto a rosa para beijá-
lo.
Eu o beijo com todo meu amor e o abraço com todas as minhas
forças. Johnatan geme em meus lábios, percorrendo minha boca com sua
língua, aquecendo-me de dentro para fora. Gemo em nosso beijo, puxando-o
para mim. Suas mãos percorrem minhas costas até chegar à minha perna
exposta. Sua palma quente desliza por minha coxa, apertando-a com desejo.
Afasto-me um pouco do nosso beijo, em busca de fôlego, e estremeço quando
seus lábios se arrastam por meu pescoço, inspirando meu perfume com
intensidade, ao mesmo tempo em que mordisca a pele sensível até meu colo,
causando-me arrepios.
― Não sabe o quanto sofri sem ter você, minha Mine ― sussurra,
apertando meu corpo em seus braços ―, mas estou surpreso.
Seu comentário me deixa confusa e o observo, enquanto deslizo meus
dedos por seus cabelos curtos.
― Com o quê? ― pergunto, sem deixar de sorrir, assim que vejo seu
rosto se iluminar com um sorriso contagiante.
― Acabou de ignorar minha rosa ― brinca.
Sorrio ainda mais.
Pego a rosa de sua mão e inspiro seu perfume, mas não me permito
fechar os olhos.
― É linda ― elogio ao me aproximar de seus lábios a fim de
selarmos nosso beijo entre a rosa.
― Não tanto quanto você ― sussurra com seu sotaque russo.
Arrepio-me.
Johnatan me olha com intensidade e saudade, a emoção naquele
instante me domina, o nó em minha garganta começa a tomar vida, contudo,
antes que eu desabe, ele afasta a flor de nossos lábios e me beija. A princípio,
é um beijo suave, como se saboreássemos um ao outro, mas que também faz
despertar o ponto mais excitante de nossos corpos, tornando mais urgente o
contato de nossas bocas e línguas.
Suas mãos fortes seguem direto até o fecho do meu vestido,
deslizando o zíper para baixo, sinto que ele se move, comigo em seus braços,
para algum lugar da cobertura. Ofego quando seus lábios se afastam,
seguindo para meus seios; seus dedos suaves deslizam meu decote para
baixo, e gemo, agarrando-me ao seu corpo, enquanto sua boca suga cada um
dos meus seios calmamente.
Quando minhas costas ficam contra uma parede fria, nós nos
descontrolamos; minhas mãos se prendem em seu paletó, afastando-o de seu
corpo, as suas, mantêm meu corpo firme. Assim que sua boca volta a se colar
na minha, mordo seu lábio inferior e o puxo para mim. Seu gemido rouco me
faz contorcer em seus braços.
― Eu quero você... Agora! ― ofego, provocando-o com meu corpo.
O rosnado sexy de Johnatan me faz estremecer em desejo, aperto seu
corpo contra o meu até sentir sua ereção. Em seguida, deslizo minhas pernas
por seu corpo até tocar o chão, e sou virada de costas para ele, enquanto me
apoio na parede. Ele afasta meus cabelos, roçando seus lábios em minha nuca
e percorrendo uma trilha provocante por minhas costas. Seu corpo volta a se
grudar contra o meu, fazendo-me sentir sua ereção em minha bunda.
Mordo meu lábio ao sentir a ponta da sua língua descer por minha
pele ao mesmo tempo em que suas mãos percorrem meu corpo até se livrar
do vestido. Suspiro com prazer quando seus dentes mordem minhas nádegas
de maneira tentadora, minha respiração fica cada vez mais acelerada assim
que sua boca percorre o interior das minhas coxas até chegar ao meu sexo.
Meus gemidos se intensificam quando o sinto inspirar minha pele por cima
da calcinha, e coro, abrindo os olhos e me deparando com o local pouco
iluminado.
― Tentador ― eu o escuto sussurrar e me pergunto se ele sabe que
estou corada.
Arrisco-me a olhar para trás, vendo-o abaixado a fim de tirar minha
calcinha e meus saltos. Antes, eu me sentia muito poderosa com aqueles
saltos, agora me sinto pequena, principalmente quando o vejo se levantar
atrás de mim, estando apenas de calças. Grito surpresa quando sua palma
atinge minha bunda com força, em seguida, sinto seu dedo invadir meu sexo,
fazendo-me perder os sentidos e voltar a fechar os olhos.
― Johnatan,... ― gemo seu nome.
Ele se aproxima do meu ouvido e mordisca o lóbulo.
― Hum, molhada ― sussurra, beijando minha nuca com suavidade.
― Eu senti saudade do seu corpo, seu cheiro, sua voz,... minha Roza. ―
Cada uma de suas palavras é provocada com beijos abaixo do meu ouvido.
― Eu-eu quero... ― gemo quando seu dedo se move numa tortura
prazerosa.
― Eu sei, minha Mine, eu também a quero ― o leve sotaque me
estremece, logo o russo retorna fluente, potente e suave.
Meu corpo se arrepia ao escutar sua voz novamente, fazendo-me
gemer em saudades.
― O que isso significa? ― pergunto aos gemidos, deixando meu
corpo completamente entregue a ele.
Escuto seu riso rouco junto ao meu ouvido e sinto sua respiração
quente em minha pele.
― Quer dizer que eu vou devorar cada centímetro do seu corpo com a
minha boca. ― traduz num tom malicioso e viro meu rosto para alcançar seus
lábios, mas abro meus olhos quando ele se afasta com um sorriso perverso.
― Quero ouvi-la gritar, minha Mine.
Sua mão se afasta, esfregando-se em meu corpo ao me conduzir para
outro lugar até que eu noto que estou em frente a uma espécie de balcão.
Ofego quando o vejo voltar a se abaixar, deslizando suas mãos em minhas
pernas para mantê-las abertas. Agarro a borda do balcão assim que sua língua
se esfrega em meu clitóris, rapidamente sua boca me domina, fazendo-me
gemer cada vez mais alto. Assim que seus dentes se fecham suavemente em
meu clitóris e o soltam, grito, percebendo meu orgasmo se libertar, mas não
parece ser suficiente, eu preciso tê-lo dentro de mim, sinto-me apertada e
pulsante.
No momento em que se afasta e o vejo ficar de pé, forço meu corpo a
se levantar do balcão para me virar. Meus olhos vão em direção ao seu
peitoral másculo, seguindo direto para o abdômen definido até assisti-lo abrir
suas calças. Passo a língua em meus lábios, demonstrando minha sede de tê-
lo. Ao olhar para cima, para seu rosto, Johnatan me observa com desejo e
com um leve sorriso nos lábios corados.
― Eu não gritei o suficiente ― provoco com malícia.
Sua sobrancelha se ergue numa expressão surpresa.
― Não? ― ele me dá seu sorriso torto, enquanto nego com a cabeça.
― Tudo bem, você prefere gritar aqui ou naquela cama? ― aponta com o
queixo.
Olho na direção que indica, me deparando com uma área reservada
onde se encontra uma cama dossel vermelha. Caminho para lá, observando os
tecidos pendurados. Johnatan me segue até me abraçar por trás. Inspiro
fundo, piscando meus olhos confusos.
― Eu estou em um sonho, não é? ― pergunto de repente e me viro
para abraçá-lo.
Seu corpo nu não é frio, é quente, e me aconchego em seus braços.
― Você não está em um sonho. Sou eu ― responde.
Afasto meu rosto para olhar em seus olhos.
A intensidade em nossos olhares revela nossa saudade e o quanto
precisamos um do outro. Nós nos beijamos apaixonadamente até nos
deitarmos na cama. Suas mãos acariciam cada parte do meu corpo,
acendendo o desejo dentro de mim. Contorço-me embaixo dele quando sua
boca volta a torturar minha pele, dessa vez, com mais carinho, como se
desenhasse todo o meu corpo e saboreasse cada parte da minha pele exposta.
Minhas mãos se tornam ainda mais urgentes em seus músculos, apertando-o e
o puxando para mim.
Quando me penetra com força, a dor é tão prazerosa que faz minhas
lágrimas retornarem, fecho os olhos e me concentro na sensação do seu corpo
se movendo contra o meu. Estamos completamente ligados, na intensidade
dos nossos beijos, dos nossos toques, nas respirações ofegantes, nos gemidos
suaves e suplicantes, no descontrole de uma dança sensual e intensa até
chegarmos ao nosso ápice do prazer e cairmos saciados sem deixar um ao
outro.
Eu o olho com amor, acariciando seu rosto, enquanto controlo minha
respiração. Observo-o afastar alguns fios do meu cabelo suado e beijar meus
lábios com doçura.
― Você parece cansada ― analisa, acariciando meu rosto.
― Eu estou bem melhor que antes ― asseguro com um sorriso
presunçoso.
― Por que não dorme um pouco? ― pede.
Meus olhos se arregalam
― Não!
― Mine,...
― Eu nunca estive num sonho bom como esse, por favor, não me
peça isso ― suplico ferozmente.
Johnatan fica confuso e preocupado.
― Mine, isso não é um sonho, amor, é nossa realidade ― diz
suavemente, sorrio como uma tola. ― O que foi?
― Você acabou de me chamar de amor, então, estou em um sonho
mesmo ― suspiro apaixonada.
Seu sorriso ilumina seus olhos, em seguida, sua cabeça se inclina para
me avaliar.
― Mas você é meu amor e precisa dormir ― fecho a cara. ― Eu
prometo que quando acordar estarei do seu lado.
Ajudaria me manter acordada se ele não estivesse acariciando meus
cabelos, mas sinto o peso do dia dominar meu corpo, eu não deveria me
sentir tão cansada. Gemo, lutando contra o sono pesado.
― Eu não posso ― murmuro com fraqueza. ― Eu não quero perder
você de novo...
― Você nunca me perdeu ― sua voz parece distante para mim, e luto
contra o sono. Eu sei que o que está por vir pode ser um pesadelo.
― Eu-eu preciso... treinar ― sussurro antes do sono me consumir.

Abro meus olhos, me deparando com a claridade do dia. O sol da


manhã, que passa pelas paredes de vidro, me faz piscar e encarar a suíte
luxuosa. Ainda estou na cobertura, deitada numa cama dossel e enrolada num
lençol de seda vermelho. Arregalo os olhos quando sinto o peso de um braço
em minha cintura, inspiro fundo antes de virar meu rosto para olhar quem
está atrás de mim. Logo meu sorriso se abre e viro meu corpo lentamente
para não o acordar.
Eu o assisto dormir tranquilo, como se não conseguisse fazer aquilo
há dias ou meses. Aconchego minha cabeça no travesseiro e ergo minha mão
para afastar uma pequena mecha do seu cabelo, que, mesmo estando curto,
está lindo. Dormir tão sereno o deixa mais jovem, mais vivo. Deslizo minha
mão por seu rosto, sentindo sua barba rasa pinicar em minha palma, sorrio
ainda mais emocionada ao escutá-lo ronronar e inspirar.
Aproximo meu rosto do seu para tê-lo de perto e sou surpreendida
quando seu braço me puxa para ele, fazendo nossos corpos se grudarem.
Acaricio seu cabelo, seguindo em direção ao bíceps musculoso, enquanto
minha outra mão pousa em seu peito nu para sentir seu coração bater
tranquilamente. Parece tudo tão real que, de repente, belisco seu braço com
força, seus olhos se abrem imediatamente.
― Mine, mas o que... ― belisco novamente. ― Au!
Afasto minha mão e encaro seus olhos azuis com surpresa.
― É um teste para saber se é real ― pisco chocada ao olhar em volta.
Johnatan franze a testa e olha para seu braço.
― Nesse caso, tinha que beliscar a si mesma ― resmunga, esfregando
seu rosto. ― O que mais de real você quer?
De repente, eu me vejo esbofetear seu rosto; meu ato o surpreende.
Em seguida, move sua mandíbula por causa do impacto. Eu o observo
chocada, a emoção de tê-lo agora por perto é sufocante, mas não a ponto de
me deixar menos confusa e nervosa.
― Você... você... você está vivo e isso não é um sonho ― minha voz
quase não sai.
Sento-me, encarando o lençol vermelho quando escondo meu seio.
― Mine, eu estou aqui com você ― ele usa sua voz carinhosa para
me tranquilizar.
Olho para seu rosto perfeito, mesmo com um lado avermelhado,
expressa seu lado preocupado assim como seus olhos profundos. Eu senti
falta daquilo, eu senti falta de tudo nele, até mesmo de sua voz, mas agora...
― Seu filho da mãe! ― rosno, atacando-o com tapas fortes. ― Como
pôde, Johnatan?! Eu poderia esperar tudo, menos isso! Seu-filho-da-mãe!
Johnatan se curva para se proteger, tentando segurar meus braços
frenéticos. Quando dou por mim, estou em cima dele, rosnando e o atingindo.
― Mine,... pare! Por Deus, mulher! ― Johnatan ri e, ao mesmo
tempo, se esforça para me manter imobilizada, agarrando meus braços e os
mantendo presos atrás das minhas costas, rosno para ele. ― Hum... Que fera.
Se bem que gostei dessa posição ― murmura, analisando meu corpo
montado sobre ele.
Eu o encaro séria, vendo-o me olhar surpreso. Rapidamente, cravo
minhas unhas em seus braços, fazendo-o me soltar.
― Está achando isso engraçado?! Está-achando-engraçado?! ―
pergunto com firmeza, não tendo nenhuma piedade de ver as marcas das
minhas mãos em sua pele perfeita. ― Tem ideia de tudo que passei?! Bem, já
que está vivo, espero que esteja preparado para morrer!
Levanto-me furiosa, apanho um dos robes pretos próximos à cama e o
visto. Minha respiração está ofegante, estou nervosa demais para tentar me
acalmar, principalmente, quando o observo se sentar e encarar seus braços,
nos quais cravei minhas unhas. Sua pele está corada e com marcas dos meus
dedos. Aproximo-me dele como um furacão, bato em seus ombros e finalizo
com uma pancada no alto de sua cabeça, fazendo-o se curvar.
― Você está brava... muito brava. E eu senti falta disso. Não, não
senti falta dos seus tapas ― tagarela surpreso. ― Eu sei que está em
choque...
― Em choque?! Isso passa longe do estado de choque, Johnatan!
Como você pôde? Como você quis que todos acreditassem que estivesse
morto? COMO PÔDE FAZER ISSO COMIGO?! ― deixo minha fúria fluir.
Juro que nem o pole dance me acalmaria nesse momento.
Johnatan me olha por um instante. Mantenho minha postura rígida e
coloco as mãos na cintura.
― Eu fiz isso para proteger você e todos na casa...
― Não me diga ― eu o interrompo com sarcasmo. ― Você sabe o
que foi passar todo esse tempo sem você? O quanto todos naquela casa
estavam sofrendo, pensando que tudo estava perdido, enquanto você brincava
de vivo ou morto? ― ironizo, fazendo-o piscar. ― Foram quase oito meses,
Johnatan! Oito meses, seu idiota! ― lembro-o, dando-lhe mais tapas.
― Eu sei ― rosna, esfregando os braços. ― Durante esse tempo, eu
não deixaria que nada acontecesse a vocês. Já tinha tudo planejado ―
explica, se levantando e colocando um robe.
Afasto-me quando ousa se aproximar.
― E quando você iria me dizer sobre seus planos? ― não deixo de
esconder minha decepção.
― Eu não podia arriscar. Mine, se eu aparecesse antes, saberiam
sobre mim. E, se eu contasse tudo, você, com certeza, estaria vindo ao meu
encontro ― diz cansado.
― É claro que eu iria, mas não arriscaria colocar você em perigo
assim. Deveria ter me dito a verdade! ― falo com firmeza. ― Eu passei esse
tempo todo em desespero, tendo pesadelos horríveis depois daquela noite.
Não queria acreditar que você estava morto... Agora, está aqui diante de mim,
em carne e osso, enquanto eu... eu passei esse tempo me esforçando para
acreditar que tudo que tinha acontecido era verdade, entrando num abismo do
qual eu não conseguia sair. Até quando vai esconder as coisas de mim,
Johnatan? ― olho em seus olhos, sem conseguir conter minhas lágrimas.
― Eu não quero esconder nada de você ― inspira fundo ao ser
sincero. ― Nesse tempo sem te ter eu queria muito estar por perto, mas não
podia. Contratei uma equipe de segurança para vigiar vocês e recebia
informações de como estavam. Não sabe a angústia que passei só tendo esse
contato sobre você ― declara.
Franzo a testa ao refletir.
― Espere... Peter reconheceu seu corpo naquela noite...
― Não era meu corpo, Matt e eu usamos um dos homens mortos da
máfia, deixando alguns dos meus pertences com ele. Eles sabem que estou
vivo, e Peter foi uma das minhas fontes de comunicação ― Johnatan revela,
me surpreendendo ainda mais.
― Matt também sabia. Eles sabiam sobre você e, mesmo assim, não
me disseram nada ― sinto a traição me decepcionar.
― Mine, tudo foi para sua segurança ― assegura e o olho fixamente.
― Para que segurança, Johnatan? Naquela casa só falta ter uma
bomba atômica! ― disparo minha fúria, deixando-o surpreso.
― Bem, fico feliz que os alarmes de seguranças estejam em ordem ―
seu orgulho me faz fuzilá-lo com os olhos. ― Estou querendo dizer sobre sua
segurança depois de tudo que aconteceu. Se alguns deles soubesse que
sobrevivi a tudo aquilo, fariam você como refém mais uma vez, como
naquela noite, principalmente, Charlie Makgold.
Meu coração dispara, e arregalo meus olhos.
― Você sabe que ele está vivo? ― estremeço. Johnatan está tão
surpreso quanto eu. ― Foi ele que me manteve presa naquela cabana, foi ele
que colocou fogo.
― Matt me passou informações sobre ele. A princípio, eu me recusei
a acreditar até comprovar que ele é o culpado de tudo o que está acontecendo.
Seus interesses, suas jogadas... ― murmura cansado. ― Agora, tenho que te
manter o mais longe possível de tudo isso.
― Será meio difícil, já que você fez um testamento me colocando à
frente da sua herança. Onde você quer me manter longe? ― cruzo meus
braços.
― Não se preocupe, você é como uma proprietária anônima.
Qualquer um que for procurar pelo nome do novo dono nos registros não
encontrará tão facilmente. Eu conheço Charlie, sei que gosta de comprovar
primeiro antes de tirar conclusões precipitadas. Mente Makgold. Trabalhei
duro com isso ― explica, dando-me uma piscadela.
Levanto minha sobrancelha.
― Não sei se Matt te informou, mas durante a leitura do seu
testamento absurdo, estavam presentes Nicole, um advogado acompanhado
dela e outro advogado alemão acompanhado de Matt ― aviso com ironia.
― Esqueci-me de falar. Hocky foi morto logo depois de Nicole deixá-
lo próximo ao aeroporto ― Johnatan informa com um sorriso sombrio.
Arregalo os olhos.
― Você o matou? ― pergunto chocada.
― Não, foi Ronald Keller ― seu sorriso se abre ainda mais. ― E
Nicole tem outros assuntos para resolver, como por exemplo, seu divórcio.
― Espere... ― inspiro fundo. ― E onde está Ronald agora? E se ele
for da máfia? ― me apavoro.
― Ele está bem na sua frente ― inclino minha cabeça perplexa. ―
Não pensou que saí por aí durante esses meses como Johnatan Makgold,
pensou?
Abro minha boca.
― Então era você... ― puxo a respiração em busca de ar antes de
confrontá-lo. ― Onde você estava todo esse tempo?
Johnatan suspira e esfrega seu rosto.
― Me dá um beijo ― pede, aproximando-se, mas me afasto.
― Não! ― contesto. Quero informações.
― Estive em muitos lugares: Brasil, Itália, França, Coréia, Austrália,
seguindo o trajeto até a Rússia, onde programei uma invasão ao prédio de
organização da máfia e, acredite, é maior do que se espera. Provavelmente, já
sabem que estou vivo. Só falta comprovarem ― eu me impressiono com sua
revelação. Não quero nem imaginar como ele fez isso. Oh, Deus, não!
― Mesmo com tudo isso. Você não pensou em levar uma vida
normal? Recomeçar do zero? ― preocupo-me ao olhar para seus olhos
profundos.
Johnatan senta na cama, apoiando os cotovelos em seus joelhos,
enquanto pensa em minhas palavras.
― Eu queria isso com você desde o início. Te levar para longe, sem
preocupações, sem lutas, sem mortes, mas depois descobri sobre meu pai,
sobre o quebra-cabeça que nos envolve... Eu não tenho como fugir sabendo
que eles podem estar em qualquer parte e continuarão me perseguindo ―
desabafa.
Meu coração se aperta e me aproximo, ajoelhando-me para tocar seu
rosto preocupado.
― Não tem a ver só com nossa segurança, mas também com o que
houve com sua irmã e sua mãe, não é mesmo? ― pergunto, mesmo tendo
certeza.
― Isso sempre vai me assombrar, dia após dia. Eu tentei e não posso
fugir, não agora ― Johnatan diz, pegando minhas mãos e inspirando o
perfume em meus pulsos.
― É tão grande assim? ― reflito em voz alta.
― Sim, parece crescer a cada dia. Quando invadi o prédio, consegui
rastrear o sistema, copiar e destruir algumas informações. O ruim é que
também teve alguém que conseguiu hackear o sistema e pegou a mesma
cópia ― murmura, acariciando meu rosto.
Engulo em seco.
― Eu posso te ajudar... ― sussurro preocupada.
Seu sorriso se abre triste, e inspiro fundo.
― Você já me ajuda só de estar aqui ― diz baixinho, beijando minha
testa.
Fecho meus olhos, inspirando fundo.
― Você vai embora? ― não consigo conter a dor em minha voz.
Johnatan segura meu rosto com carinho, e olho para ele, vendo a
surpresa em seus olhos.
― Se você quiser isso...
― Eu só quero que estejamos juntos para o que der e vier, nunca vou
estar preparada para perder você ― revelo trêmula e o abraço com força.
Seus braços me envolvem, puxando-me para seu colo, enquanto
afundo meu rosto em seu pescoço para chorar tranquilamente depois de
meses presa numa dor torturante.
Johnatan me conforta, afastando minhas lágrimas e beijando meu
rosto; eu retribuo com ternura.
― Você ficou horrível de cabelo curto ― brinco, mesmo chorona.
Ele sorri, beijando-me novamente.
― Não estou tão mal assim ― resmunga ao inspirar o perfume em
meu pescoço. Arrepio-me.
Escuto um celular tocar e ergo minha sobrancelha para ele.
― Você tem um celular! ― seco minhas lágrimas.
― O número é trocado todos os dias ― explica.
Eu me levanto do seu colo para que atenda e o vejo recusar a chamada
depois de olhar o identificador.
― O que foi?
― Precisamos ir.
Mordo meu lábio. Depois de tantas revelações, havia me esquecido de
que estava longe da mansão. Arregalo meus olhos, eles podem estar me
procurando! Engulo em seco e corro para colocar minha roupa, encontrando
as peças no chão logo, na entrada da cobertura.
― Eles devem estar me procurando. Não avisei ninguém... ― digo
assustada.
Viro-me para Johnatan, que me observa encostado na parede, de
braços cruzados.
― Não se preocupe, eu não pretendo te devolver tão cedo. ― Maldito
sorriso malicioso!
Pisco meus olhos surpresa.
― Como assim? ― ajusto meu vestido. ― Me ajude a fechar isso ―
peço ao virar de costas.
Sinto sua aproximação e seus dedos deslizando suavemente por minha
espinha.
― Você quer que eu feche ou tire? ― o sussurro me causa arrepios.
Engulo em seco e resisto, empurrando-o com meu traseiro. ― Hum...
― Johnatan,... É melhor você...
― Tudo bem, sim senhora. Deus me livre de levar mais tapas ― sinto
o sorriso em suas palavras, enquanto puxa o zíper. Quando giro para ele, vejo
seu robe aberto.
― Precisa se vestir ― encaro seu peito definido.
― Acho que antes eu preciso de beijos nessas áreas avermelhadas em
que me atingiu ― provoca, apontando para seu peito, descendo
descaradamente seu dedo pelo abdômen e...
Dou um sorriso descarado, enquanto me abaixo, pego suas roupas do
chão e jogo em seu rosto; sua expressão chocada me faz rir brevemente.
― Vá se trocar! ― ordeno e me viro à procura do banheiro.
Assim que encontro, assusto-me ao ver meu reflexo no espelho. Eu
tive uma briga com ele com essa cara borrada de maquiagem? Oh, não, não!
Com esforço, tiro o vestido e vou para o banho, Johnatan se junta a mim em
seguida, provocando-me, mas parece não termos tempo, seu celular volta a
tocar, fazendo-o sair primeiro do banho e se aprontar. Eu faço o mesmo e,
assim que saio do banheiro, encontro-o já vestido.
― A carruagem nos espera. ― diz, colocando seu paletó e me
ajudando com o vestido novamente.
― Para onde vai me levar? ― pergunto.
Johnatan se aproxima para colocar uma mecha do meu cabelo no
lugar.
― Eu não quero esconder nada de você ― confessa.
― Por que sinto que tem algo muito mais do que já me contou? ―
desconfio.
― Porque é preciso mostrar ― Johnatan lança seu sorriso misterioso,
fazendo-me encará-lo da mesma forma. ― Agora, me diga por que estava
com isso ― fala ao erguer minha pequena faca.
Engulo em seco.
― Uma mulher tem que andar prevenida, principalmente, na situação
que me encontro ― informo rapidamente.
Ele ergue sua sobrancelha.
― Isso ficará comigo ― diz, guardando o objeto em seu bolso.
Tudo bem, eu tenho outra escondido no vestido.
― Temos que ir.
Saímos da cobertura de luxo, seguindo direto para o elevador. Noto
que Johnatan não mantém nenhum contato comigo ao caminhar de cabeça
baixa, percebo que é por causa das câmeras de segurança. Assim que
chegamos ao estacionamento, caminhamos à procura do seu carro, dessa vez,
Johnatan pega minha mão, guiando-me com ele. Sinto-me desconfortável e
olho, à procura do nosso transporte.
― Qual é seu carro? ― tento manter meus passos junto aos seus.
Nós nos aproximamos de um carro prata com vidros escuros, e o vejo
destravar as portas com a chave. Entramos e colocamos o cinto. No interior,
tudo parece intacto, com cheiro de novo. Franzo a testa, observando Johnatan
sair com o carro em silêncio, algo me faz sentir estranha.
― Você está muito misterioso ― comento, apertando meus lábios
para não sorrir.
― Estou? ― sorri para mim antes de encarar a frente. ― Talvez seja
porque algumas coisas nunca mudam.
― Como o quê? ― antes de ouvir sua resposta, escuto o carro ser
atingido com um tiro no lado da minha janela, fico em choque só de ver a
bala cravar no vidro.
Johnatan toca meu rosto preocupado e logo o vejo soltar meu cinto,
puxando-me para seu colo, enquanto os tiros continuam. Ele rosna, tentando
se locomover com o carro que, por sorte, é blindado, mas as balas parecem
potentes.
Respiro com dificuldade quando para o carro assim que os tiros se
interrompem, ficando apenas o silêncio. Observo ao redor, sentindo-me
desconfortável; estávamos prestes a sair do estacionamento e... voltamos à
estaca zero.
― Está tudo bem? ― pergunta preocupado.
― Temos que sair daqui ― digo rapidamente ao abrir a porta.
Saio do carro com cuidado, observando parte do estrago e me afasto
para Johnatan poder sair.
― Meu Deus, está tudo bem?! ― escutamos alguém gritar, e nos
viramos para um dos seguranças do prédio, que no observa espantado.
Ele se aproxima e me assusto quando o vejo ser atingido por um tiro
no pescoço. Johnatan me empurra para o chão e nos mantemos protegidos,
enquanto tiros voltam a serem disparados. Quando os disparos cessam
novamente, Johnatan observa a movimentação, franzindo o cenho.
― Devem estar trocando o cartucho. Certo, temos que nos separar.
Corra até a saída e...
― Está maluco? Não vou te deixar sozinho ― sussurro ríspida,
fazendo-o me olhar seriamente.
― Mine, não vamos discutir isso agora. Faça o que mandei ― ordena.
Abro minha boca para protestar, mas logo a fecho quando escutamos
um ronco ensurdecedor de uma moto se aproximando. Perco minha
paciência, pego minha pequena faca entre a fenda do meu vestido, levanto-
me e arremesso para onde a moto se aproxima. A lâmina crava no ombro do
homem, que usa roupas escuras e capacete. Ele perde o controle do veículo,
chocando-se contra a traseira do nosso carro.
Olho para trás, vendo Johnatan me encarar perplexo.
― Eu disse a você que não vou deixá-lo sozinho, espero que já esteja
ciente disso agora ― digo com firmeza.
Seus olhos sérios me avaliam.
― Precisamos conversar. ― Seu tom fervente me faz encolher.
4 – BEM-VINDA À COLMEIA

― Primeiro, temos que sair daqui ― suspiro exasperada.


Johnatan suspira e olha para o carro atrás de mim. Antes que eu diga
qualquer coisa, ele me puxa para dar a volta, abre a porta para que eu entre e
tira a bala cravada no vidro assim que a fecha. Eu o observo se mover para
atrás do carro, onde o motoqueiro está caído, e o assisto torcer o pescoço do
homem, retornando para o carro em seguida, batendo a porta com força. Noto
que ele pegou minha segunda faca, guardando-a em seu bolso antes de dar a
partida em silêncio.
Aprecio a estrada de Queenstown, agradecida pela pouca
movimentação dos carros, caso contrário, o nosso chamaria atenção. Johnatan
acelera calado, encarando a frente, o silêncio não é confortável, e imagino
que ele está perdido em pensamentos, assim como eu. Eu não sei o que houve
ou o que está por vir, isso é angustiante. Franzo a testa quando Johnatan
segue para outra direção, desviando da estrada mais movimentada para uma
mais tranquila, até seguir por um caminho mais deserto. Subitamente, ele
pegar o celular e disca rapidamente.
― O prédio foi invadido, mantenha-me informado sobre qualquer
novidade ― Johnatan ordena, em seguida, desliga sem se despedir.
Pisco surpresa. Ele ainda está sério e sequer fala comigo.
― Para onde estamos indo?
Suspira, mantendo-se rígido.
― Vou te mostrar algumas coisas e depois...
― Vamos sentar e conversar? ― eu o interrompo.
Ele me olha brevemente, seus lábios se mantêm numa linha fina.
― Eu só quero saber o que andou fazendo nesses meses em que estive
ausente ― diz pensativo.
― Os meses em que você esteve brincando de estar morto ― falo
com ironia e cruzo meus braços.
― Isso não vem ao caso, Mine,...
― Você não tem por que estar aborrecido comigo, sabendo que esse
direito é meu ― retruco. ― Eu passei meses naquela casa me recusando a me
afastar de qualquer coisa que me lembrasse você. Depois de tudo o que
aconteceu, depois do seu abandono, a única coisa em que eu pensava era
cuidar de todos. Temia, dia após dia, que aquele inferno retornasse
novamente, sobretudo, com o risco de todos perderem o que conquistaram
durante anos de trabalhos dedicados a você! ― disparo nervosa.
Atenta, observo a frente e o vejo se aproximar de uma construção
abandonada. Tudo é velho e empoeirado, como um estacionamento de
entulhos com lixos, plásticos, carros batidos, caixotes empilhados e, até
mesmo, jogados.
― Eu jamais faria qualquer coisa para prejudicá-los. Todos estavam
seguros ― garante e observo a seriedade em seus olhos.
― Tão seguros que um advogado interessado nos seus bens entrou na
casa com facilidade no dia do testamento ― lembro-o. ― Tão seguros que
fomos atacados a tiros por um motoqueiro hoje. Agora pense, se tudo isso
não fosse verdade e se estivesse mesmo morto, acharia seguro?
― Sim, se eu estivesse morto, ninguém estaria seguro. É tudo parte de
um plano, Mine. O que acabou de acontecer no prédio é eles querendo
comprovar a verdade, saber se o filho Makgold continua vivo. Então, agora,
as bases dos meus planos serão seguidas como as bases dos planos deles ―
Johnatan me observa, enquanto eu fico confusa. ― Nesse tempo, eu estudei,
analisei os casos e avistei os pontos de encontro até atacá-los como uma
assinatura do meu retorno, mas, em momento algum, abandonei a segurança
de vocês. E, caso isso acontecesse, com certeza alguém seria castigado ―
explica com ferocidade.
Arregalo meus olhos.
― Foi capaz de se infiltrar... ― balanço minha cabeça ― Você não é
como eles, Johnatan, não deixe que sua raiva o faça seguir o mesmo trajeto
― desabafo, olhando em seus olhos.
― Pode estar chateada comigo, mas acredite, não foi exatamente
assim. Tive que me disfarçar todo esse período para jogar o mesmo jogo que
ele, agora sou eu quem o procura. Ao contrário de Charlie, eu faço qualquer
coisa para cuidar do seu bem-estar ― sua firmeza me surpreende.
― Então, a discussão mudou para sua obsessão pela minha segurança
― disparo perplexa.
― Eu sempre vou mantê-la longe de todo esse inferno. É isso que
faço e estou fazendo desde então, mas parece que não está sendo fácil. Agora,
eu te pergunto: o que significa a parte que precisa treinar? ― pondera
bruscamente.
Levanto minha sobrancelha, porém não demonstro meu nervosismo,
ao invés disso, encaro novamente o lugar onde estamos.
― Se está querendo me manter afastada, chegou tarde, Rei Leão ―
suspiro e desconverso. ― O que tem para me mostrar?
― Você não respondeu ― rebate, me fazendo encará-lo.
― Então, pare de ser egoísta! Assim como você manteve seus
segredos escondidos, eu agora mantenho os meus ― rebato, em seguida, saio
do carro, olhando em volta. O cheiro do pó me faz espirrar.
Johnatan sai também, batendo a porta com força antes de vir em
minha direção, avanço um passo para trás, vendo seus olhos ficarem
preocupados.
― Escute, eu não quero te esconder nada. Estive no inferno sem você,
mas falar dos meus planos não quer dizer que a quero envolvida nisso ―
desabafa exasperado.
― Estamos envolvidos desde o primeiro dia em que nos conhecemos,
quando descobri quem era você de verdade e o que estava acontecendo. Não
me peça para fazer algo que eu não posso cumprir no momento ― suspiro.
Ele se aproxima para tocar meu rosto e olhar em meus olhos.
― Seja lá o que esteja fazendo, pare. Eu estou de volta e não sairei de
perto de você nem que me peça de joelhos. Me desculpe por ter causando
tanta dor ― suas palavras fazem meu coração travar. ― Se eu pudesse voltar
no tempo, faria de outro jeito.
Inspiro fundo.
― Agora já está feito, mas comece a pensar que seguiremos
enfrentando juntos, você querendo ou não ― digo quando vejo sua careta de
desgosto. ― Agora que me trouxe a esse lugar... O que tem a me mostrar? ―
insisto, olhando em volta.
Johnatan suspira ao entrelaçar nossos dedos.
― Vou apresentá-la à Colmeia ― franzo a testa, confusa.
Johnatan me guia para longe, afastando os plásticos pendurados no
caminho até passarmos por um curto corredor, que me faz sentir dentro de
um refrigerador. Quando se aproxima de uma espécie de identificador de
digital, fico surpresa com a imensa parede de aço à minha frente. Assim que
seu acesso é permitido, a parede sobe como uma porta embutida na parede.
Abro minha boca surpresa ao ver outra entrada, dessa vez, mais reforçada.
― Você assaltou um banco? ― encaro a enorme fechadura de aço
semelhante a um cofre forte de banco, mas muito mais revestida.
A primeira parede se fecha atrás de nós automaticamente. Volto
minha atenção para Johnatan, que sorri.
― É apenas proteção, minha Roza ― murmura se aproximando do
cofre e digitando o código no canto superior, depois, coloca sua palma no
painel de identificação e aproxima seu olho esquerdo de um laser verde.
Quando se afasta, vejo a roda do cofre se mover, o barulho lembra-me
os ponteiros de relógio se movendo, enquanto as travas se deslocam. Quando
o cofre é aberto, Johnatan me puxa para acompanhá-lo, ao mesmo tempo em
que assisto a porta do cofre se fechar atrás de mim, aquilo deve pesar uma
tonelada.
Assim que volto minha atenção ao lugar, fico cada vez mais confusa.
Muito diferente do lado de fora, estamos numa espécie de túnel de aço em
formato hexagonal, as luzes fluorescentes, embutidas nas paredes, iluminam
o lugar, deixando tudo mais vivo.
― Tudo bem. Você se escondeu aqui? ― pergunto, apertando a mão
de Johnatan enquanto sou guiada pelo corredor.
― Mais ou menos ― responde. ― Comprei o terreno cerca de um
ano atrás. Descobri entradas pelo subterrâneo, o lado de fora é incomparável
com a imensidão que há aqui dentro. O antigo proprietário queria fazer um
depósito de mercadorias, mas acabou falindo. Investi no terreno com um
nome falso; na época, não tinha ideia do que queria fazer com o lugar, até que
Matt e eu tivemos a ideia de construí-lo. Ao mesmo tempo que o Hotel
Makgold estava sendo construído, esse lugar também estava. Paguei o triplo
para que ficasse pronto o quanto antes ― Johnatan explica, enquanto
descemos as escadas na área subterrânea, seguindo para outro corredor. Oh,
parece um labirinto.
― Então, é um esconderijo ― reflito.
― Pode-se dizer que sim ― diz, acenando, e logo me impede de
seguir em frente.
Franzo a testa ao olhar o corredor mais amplo, que dá para outra
parede de aço.
― O que foi? ― pergunto confusa.
― Nunca ultrapasse sem código ― avisa, aproximando-se de algum
lugar do lado direito da parede.
Ergo minha sobrancelha.
― E se eu fizer? ― desafio, Johnatan se interrompe e me encara.
― É melhor dar dois passos para trás ― aconselha com um meio
sorriso, e faço o que me pede.
Logo o vejo pegar uma das minhas pequenas facas do seu bolso e
jogá-la à frente. É tudo muito rápido quando uma parede de vidro se põe à
nossa frente, separando-nos do corredor. Em seguida, vejo, do lado de dentro,
armas se pondo fora das paredes de aço e mirando para a faca que Johnatan
jogou, abro minha boca, chocada quando tubos se colocam para fora
disparando jatos de fogo. No chão, em círculo, há pequenas lâminas afiadas
como espinhos. Aproximo-me mais do vidro e pulo para trás quando um tiro
é disparado contra o vidro resistente em minha direção, fazendo um barulho
oco.
Olho para Johnatan, mas me distraio quando vejo uma câmera de
segurança aparecer no teto para nos observar. Ele ergue sua mão e encara a
câmera, rapidamente as armas voltam para seus devidos lugares. Me afasto
quando o vidro se abre, permitindo nossa entrada.
Olho para Johnatan chocada.
― Isso é perigoso. Te-tem fogo ― engulo em seco.
Ele me dá um sorriso torto, levantando sua sobrancelha.
― Uma combinação perfeita de mim. E sou bem mais quente que isso
― seu tom rouco e potente me faz arrepiar, sinto minhas bochechas
queimarem.
― Estou falando do corredor minado ― aponto sem jeito, fazendo-o
sorrir descaradamente.
― É isso que acontece, caso um intruso resolva ir adiante ― diz,
dando-me uma piscadela.
― Você vai me passar o código de tudo isso, não vai? ― empolgo-
me, vendo seu sorriso.
Eu o observo voltar para a parede direita e colocar sua palma, observo
curiosa o laser verde registrar sua digital no painel. Ele rapidamente me puxa
para o corredor de ataque. A próxima parede de aço se abre e seguimos em
frente, para outra espantosa fechadura de cofre. Novamente, Johnatan volta a
digitar o código e se identifica, fazendo a porte blindada se abrir.
Assim que entramos, caminho à frente, soltando sua mão. Meu olhar
segue do chão ao teto. O aço parece se expandir, demonstrando sua segurança
pelo local. O que mais me deixa chocada são os carros, de todos os tipos,
organizados em cinco andares dos dois lados do local, os maiores estão
estacionados logo à frente, junto com diversas motos enfileiradas.
Giro, olhando em volta, chocada com a imensidão.
― Oh... Meu... Deus... ― murmuro e olho para Johnatan com as
mãos no bolso.
― Se estiver pensando que roubei, a resposta é não. Tudo isso foi
reconstruído ― Johnatan explica e sigo observando peças de carros e motos
num lugar reservado para consertos.
Viro-me para ele confusa.
― Bem, seria uma boa pergunta, mas como todos esses carros saem
daqui?
Johnatan sorri.
― É um elevador equipado, se quiser o último, a pilha desce ―
explica.
― E quantos são? ― pergunto, caminhando ao seu lado.
― Tem cerca de 30 motos e 120 carros restaurados. Fora os que já
comprei ― diz, impressionando-me. ― É para o caso de ter algo em reserva,
se um for destruído, temos outros.
Aceno e o acompanho até outra parede de aço, onde ele volta a se
identificar. E seguimos em frente. Dessa vez, o aço parece mais escuro.
― Eu ainda estou confusa com tudo isso ― observo.
Johnatan interrompe seus passos e gira seu corpo para me olhar e
tocar meu rosto.
― Eu vou mostrar com quem estou trabalhando ― informa.
Inspiro fundo.
― Pelo que soube até agora, Matt e Peter parecem estar com você ―
dou de ombros.
― Sim, mas não só eles, existem outros ― suas palavras me causam
calafrios.
― Quando você diz outros...
― Entenda como uma aliança ― Johnatan me surpreende. ― Tudo é
muito sigiloso, principalmente para alguns que escaparam da morte da máfia
e desejam justiça.
Aperto meus lábios.
― Me apresente ― digo rapidamente.
Vejo seu olhar preocupado, sua boca abre e fecha. Por fim, acena e o
sigo pelo corredor até outra entrada. Ele me dá espaço para que eu entre
primeiro, encaro um amplo salão equipado com computadores no centro e
quatro enormes televisores embutidos nas paredes. De início, reconheço
Peter, que se levanta da cadeira, seu olhar é de preocupação. Ergo minha
sobrancelha, mas logo me distraio quando uma mulher, de roupas escuras
com uma bolsa de gelo, entra na sala equipada. Eu a reconheço, um dos seus
olhos está um pouco inchado, o canto de seu lábio também está machucado e
seu pescoço, avermelhado.
― Mine, essa é Cassandra ― Johnatan apresenta e a observa confuso.
― O que aconteceu com você?
Cassandra me olha de relance, colocando a bolsa de gelo em sua
cabeça.
― Fui pega desprevenida ― ela dá de ombros.
Devo confessar que, mesmo machucada, ela continua bonita.
― Cassy apanhou feio. Eu vi de camarote ― alguém empolgado de
voz grossa chama minha atenção, logo vejo um homem se recostar na
cadeira.
― Mine, aquele é Shiu ― Johnatan apresenta, aproximando-se dos
computadores e descarregando sua arma no balcão.
Oh! É o garçom asiático da inauguração. Shiu se levanta e se
aproxima. Ele tem um corpo esguio, um sorriso branco cativante, com
covinhas leves que fazem seus olhos puxados se fecharem.
― É um prazer finalmente conhecê-la, Mine. ― Shiu estende sua
mão.
Eu a aperto, ainda perplexa.
― Como vai, Shiu? ― cumprimento um pouco desconfortável.
― Estou ótimo! Aliás, está linda nesse vestido ― seu elogio me
impressiona.
― Você já cuidou do seu serviço, Shiu? ― Johnatan o interrompe.
― Sempre, senhor ― o homem responde sem tirar os olhos de mim.
― Ele é bem ciumento quando se trata de você ― cochicha brincalhão,
fazendo-me rir brevemente.
Está certo, eu gostei dele.
― Shiu... ― Johnatan o chama impaciente, enquanto Shiu se afasta,
levantando suas mãos em redenção.
― Já estou indo ― ele ri ao voltar para o seu lugar.
Johnatan revira os olhos e se aproxima de mim.
― E o que cada um de vocês fazem? ― pergunto com cautela.
― As pessoas me conhecem como Hacker, pois tudo que envolve
máquina e tecnologia faz parte da minha inteligência. Passo meu tempo
criando e aperfeiçoando, invadindo e monitorando ― Shiu explica,
encostando-se em sua cadeira. ― Resumidamente, eu sou o melhor.
― Poupe seu ego, Shiu ― Matt o repreende assim que aparece na
sala e me olha. ― Sinto muito por não ter te contado antes, Mine.
― Eu estou decepcionada com você e com Peter. Não deveriam ter
escondido de mim ― censuro antes de voltar minha atenção para Cassandra,
que nos olha pensativa. Johnatan acena para ela.
― Sou uma espiã. Já servi o exército voluntariamente durante alguns
anos, tendo treinamentos rígidos tanto mental quanto físico. Isso porque meu
pai fazia parte da máfia, a LIGA como se é chamada, da qual acabou sendo
morto ― explica com cuidado. ― Quando descobri, organizei um esquema
para estar em aliança com eles como uma agente secreta, mas não fazia isso
como uma prova de união para com eles, apenas queria chegar ao assassino e
matá-lo.
― Conseguiu? ― pergunto interessada.
― Sim, depois de três anos. Mas diretamente ninguém tinha qualquer
comunicação com quem ordenava ― afirma.
― Como era? ― indago.
― Existiam grupos de funções separadas entre eles, esse ramo era
secreto, eu era uma das melhores informantes. Fazer o serviço indicado por
eles, no caso, um supervisor; era como comprovar sua lealdade, mas, se
falhasse, seria morto. Ninguém tem chance de sair imune.
Ergo minha sobrancelha e cruzo meus braços.
― Mas você saiu?
― Não ― ela responde. ― Eu fui considerada traidora por matar um
dos melhores deles. Passei cinco meses sob tortura física e psicológica, só
não fui afetada graças aos meus treinamentos. Então, um dia antes da minha
execução na cadeira elétrica, uma pessoa me ajudou a fugir.
Engulo em seco e balanço minha cabeça, afastando o pensamento
desagradável.
― Sabia que Johnatan é o alvo principal deles? ― pergunto.
Cassandra acena com a cabeça.
― Desde o início, mas as mulheres não eram enviadas para
cumprirem tal serviço, pois diziam serem incapazes e que só prestavam para
uma coisa. Um tanto machista, não? ― ela zomba.
Estremeço com as informações.
― E quem te ajudou a fugir? ― murmuro e ao mesmo tempo observo
Johnatan conversar com Matt em sigilo.
― Meu ex-marido ― responde e olha para o lado.
Sigo sua atenção para quem se aproxima.
Me alarmo ao reconhecer o homem musculoso de olhar firme, Dinka.
Ele também me olha surpreso.
― Mine ― a voz de Johnatan me chama atenção. Viro-me para ele
bruscamente.
― Então, é assim que quer seguir com seu plano? Se aliando a
pessoas envolvidas com a máfia? ― disparo nervosa.
― Mine, não é bem assim... ― Johnatan se aproxima num tom
apaziguador.
― Você se lembra de que ele quase nos matou? ― aponto para
Dinka. ― O que você tem na cabeça, Johnatan?
― Também pensei que era uma ameaça, mas naquela noite, Dinka
estava nos protegendo ― Johnatan explica calmamente.
Coloco minhas mãos na cintura para tentar me controlar.
― E quem me garante que isso não é um esquema deles? ― exalto-
me.
― Eu segui o senhor Makgold na intenção de lhe pedir informações
― Dinka nos interrompe. Volto minha atenção para ele, mas meu olhar frio o
faz se afastar. ― Como estava dizendo, quando me encontrei com o senhor
Makgold, tivemos uma briga muito intensa, ele estava na defensiva comigo
até eu dizer meus reais motivos por estar ali. Fazer parte da LIGA não é algo
de que alguém decente se orgulhe. Dentro ou fora, você é punido, mas tanto
eu quanto Cassandra tomamos a iniciativa de ir até ele, já que é um dos
maiores procurados entre eles. Desde que eu e Cassandra fugimos, somos
perseguidos, mas não tanto quanto Johnatan Makgold ― esclarece.
― E dessa forma se aliaram a ele para ajudá-lo? Você se lembra que
estava com uma espécie de bazuca na mão? ― confronto.
― Naquela noite, eu tive que fingir para os membros presentes que
ainda fazia parte da máfia. O senhor Makgold estava ciente sobre mim e fez
tudo aquilo como base de um teste. Na LIGA, matar um membro sem
motivos leva à mesma punição, ainda mais em se tratando de membros
ligados à caçada Makgold ― Dinka explica me observando. ― Estive na
LIGA por cinco anos como o melhor atirador de elite, até conhecer
Cassandra. Antes dela, a única coisa que me importava era aquilo que eu
chamava de trabalho ― Dinka desabafa, fazendo Cassandra revirar os olhos.
― Não quero soar ofensiva, mas se era o melhor atirador, por que não
atirou em Johnatan antes? E por que resolveu se aliar a ele agora? ―
pergunto, vendo Johnatan me olhar perplexo.
― Porque, segundo terceiros, o Poderoso Chefão queria fazer isso
com as próprias mãos, já que Johnatan estava dando muito trabalho para ser
resgatado ― Dinka zomba e continua. ― A LIGA nunca para até conseguir
cumprir suas obrigações. A obsessão por Johnatan Makgold é enorme, então,
por justiça, fizemos a proposta a ele para nos aliarmos contra essa máfia.
Apesar de tudo, também somos caçados, queremos nossas vidas de volta ―
Dinka desabafa, e observo todos me olharem atentos.
― Eu não iria me juntar a ninguém sem antes investigar sobre suas
vidas. Dinka e Cassandra, assim como outros que conseguiram escapar da
máfia, passam pelo mesmo problema. Então, deixei meu lado orgulhoso e
refleti; eu não conseguiria acabar com tudo aquilo sozinho ― volto minha
atenção para Johnatan.
Esfrego meu rosto exasperada.
― E você confia neles? ― quero me assegurar por completo.
― Não me aliaria a eles se não confiasse, ainda mais no estilo de vida
que levaram durante esses anos, se escondendo, fugindo, lutando... ―
Johnatan suspira. ― Nos arquivos que hackeamos no prédio da Rússia há
registro deles como alvos.
Balanço minha cabeça ainda desconfortável.
― Essa ideia não me agrada nenhum pouco ― sinto minha cabeça
começar a doer com tanta informação. ― Você, Shiu, era envolvido nisso?
― minha pergunta faz o homem pular de sua cadeira.
― Aniyo! ― sobressaltado, Shiu responde em seu idioma, negando
com a cabeça. ― Eu estou quieto aqui. Olha, só porque fui preso umas duas
vezes não quer dizer que estou nesse rolo todo ― explica aliviando um pouco
minha tensão. ― Sou conhecido de Matt, ele foi meu advogado. Não fiz nada
demais, eu apenas invadia alguns sistemas operacionais ― ele sorri e todos o
encaram.
― Eu o apresentei para Johnatan. O defendi de uma ameaça que
sofreu por um dos diretores da empresa em que trabalhava, que exigia que ele
coletasse informações no sistema de um concorrente. O currículo de Shiu é
impressionante, sua capacidade, mais ainda. Mesmo sendo um absurdo
criminoso com quem desrespeito minha profissão, na situação em que nos
encontramos... ― Matt aperta os lábios suspirando.
Viro-me para Johnatan, ele tem os braços cruzados, atento a tudo.
― Tudo bem ― aceno e inspiro soltando o ar com força. ― Tem algo
mais que possa me surpreender?
― Olá, Mine!
Giro meu corpo para a voz e arregalo meus olhos, meu sangue ferve
ao me deparar com Nectara, mas ao mesmo tempo, estou em pânico ao
encontrar Jordyn e James ao lado.
― Você só pode estar brincando! Me dê um segundo para respirar ―
digo quase sem voz e fuzilo Johnatan friamente. ― Ela estava morta! Você a
matou... E o que James e Jordyn estão fazendo aqui?!
Pela minha visão periférica, vejo Cassandra, Dinka, Shiu e Matt se
afastarem. Peter se mantém próximo a um televisor.
― Eu não a matei ― Johnatan revela com cuidado, aguardo sua
explicação. ― No fundo, eu sabia que precisaria dos serviços de Nectara
algum dia. Não quer dizer que não a feri, mas tomei cuidado para não matá-
la. Em parte, por respeito ao seu falecido pai. Naquele dia, tive que te manter
longe de tudo, liguei para Matt para tomar providências.
― O quê? ― sussurro em choque.
― Eu sabia que iria precisar de mim, Makgold. Eu acordei num
hospital, me transferiram para o Japão e fui recebendo suas comunicações.
Confesso que me surpreendi por não ter me matado, mas também não me
senti muito confortável em me juntar a você ― a mulher dá de ombros.
― Eu também não me sinto confortável por tê-la aqui ― chamo sua
atenção, surpreendendo-a. ― Johnatan, por quê?
― Nectara é esperta e foi muito bem-treinada por seu pai. Por um
tempo, ele foi meu mentor, agora ela sabe que eu não faria nada para feri-lo.
Consegui provas da minha inocência ao mostrar que a máfia o matou na
intenção de saber sobre meu paradeiro, deixando-a pensar que eu havia
cometido o crime ― Johnatan explica.
― Pensei que só estou aqui como uma forma de agradecimento ―
Nectara propõe e a olho seriamente.
― E que tipo de agradecimento? ― olho para Jordyn e James, que se
olham carrancudos.
― Treinando essas belezuras ― Nectara aponta para ambos.
Abro minha boca em choque.
― Mine, eu posso explicar ― Jordyn se aproxima.
― Você sabia que Johnatan estava vivo? Os dois sabiam? ― sou
incapaz de esconder minha decepção.
― Mantínhamos pouco contato sobre isso, Mine, depois do que
descobrimos sobre nossa família e de tudo que ocorreu desde então,
aceitamos treinar na intenção de cuidar de todos na casa ― James explica
com urgência. ― Você também sabia o que aconteceu com nossa família,
mesmo assim não nos contou.
Engulo minha seriedade depois do seu ataque.
― Eu não queria causar nenhuma dor, e seria melhor se não
soubessem, assim ficariam longe disso. Johnatan, como pôde esconder tudo
isso de mim? Como pôde colocar a vida de Jordyn e James em risco?! ―
olho-o furiosa.
― Eles tinham o direito de saber. E, querendo ou não, precisavam
disso para conseguir seguir em frente. Acredite, foi um peso que tirei das
minhas costas ― confessa apertando seus lábios.
― E quando isso começou? ― inspiro fundo.
― Duas semanas depois da suposta morte do Makgold ― Nectara
responde, e olho para eles ainda mais decepcionada.
― Então, toda aquela história de curso era uma desculpa para treinar?
― reflito perplexa, vendo Jordyn se encolher.
― Só queríamos proteger quem amamos, Mine ― murmura.
Suspiro, encarando Peter perto do televisor.
― Você viu isso e não fez nada? ― pergunto a ele.
― Eu tentei ― lamenta.
― Mine, é uma questão de tempo até se acostumar. Entendo que
esteja chateada, mas você vai entender ― Johnatan diz me observando.
― Colocando a vida deles em risco? Trabalhando para pessoas que
faziam parte da LIGA e um hacker? Pedindo ajuda para uma mulher que
quase me matou? Oh, não! Vai ser difícil me acostumar com tudo isso ―
exaspero e me afasto quando sinto sua mão se aproximar.
― Eu odeio quando se afasta ― Johnatan reclama.
Ergo minha sobrancelha, cética.
― Então, sinta como eu me sinto agora, frustrada. A decepção está
acima de tudo, todo seu fingimento durante esses meses, todas essas
revelações... ― seguro minhas lágrimas. ― Olha... Peter, por favor, me leve
para casa.
― Mine, por favor... ― Johnatan implora.
― Eu preciso de um tempo, estou muito nervosa para processar tudo
isso ― murmuro, olhando para Jordyn, James e Nectara.
― Eu te levo para casa ― o tom ordenado de Johnatan faz Peter se
afastar.
Aperto meus dentes.
― Eu chamei Peter e não você ― sigo até a saída, e Peter me
acompanha
Sinto Johnatan me perseguir.
― Mine ― rosna e me viro para olhá-lo de perto. ― Quando você diz
tempo...
― É o tempo que preciso para pensar em tudo, saber se vale mesmo a
pena. Não quero correr o risco de acontecer tudo de novo e... Estou apenas
me prevenindo ― engulo o nó em minha garganta.
― Eu vou estar sempre com você, prometi que não manteria mais
segredos. Sei que as informações te pegaram de surpresa, eu não quero... ―
ele se interrompe para manter seu tom baixo. ― Eu não vou me afastar de
você.
― Só quero ficar sozinha ― digo por fim, impedindo meu corpo de ir
até ele e abraçá-lo, mesmo vendo seus olhos suplicantes.
― Até quando vai ficar assim? ― pergunta impaciente.
Ergo minha sobrancelha por sua rispidez.
― Se você conseguiu ficar fora por quase oito meses, vai conseguir
esperar que meu estado de espírito se acalme, senhor Makgold ― rebato no
mesmo tom.
Seus olhos se tornam sérios e profundos, vejo seus lábios se
apertarem numa linha firme e seu corpo enrijecer. Inspiro fundo e sigo em
frente ao lado de Peter, deixando-o para trás. Sinto que seus olhos em chamas
estão em mim, mas não ouso olhá-lo, seria doloroso demais enfrentá-lo
novamente. Eu só preciso descansar, ocupar minha mente.
Quando saímos, sigo Peter até seu carro e entro rapidamente, como se
quisesse fugir dali. Peter dá a partida em silêncio, enquanto observo a janela
perdida em pensamentos.
― Eles não querem nosso mal, Mine. Só estão em busca de uma vida
normal ― Peter diz, tirando-me do silêncio.
Viro para ele vendo-o atento à estrada.
― Eu ainda não posso confiar ― murmuro encolhida.
― Pense bem, Johnatan não se aliaria a alguém se não confiasse, se
não soubesse quem são. Ele pode não perceber, mas só quer ajudar as
pessoas. É o que ele tem feito desde a morte de sua mãe e irmã. Não deixe de
confiar nele, não nesse momento ― Peter pondera com sinceridade.
Aperto meus lábios.
― Parte de mim não quer que Johnatan se torne um deles ― confesso
ao me referir a máfia.
Peter acena entendendo.
― Pelo contrário, se Johnatan está criando isso, não é para se
vangloriar, muito menos para ser idolatrado, mas sim para devolver a vida
para essas pessoas. Você tem a opção de querer entrar e o direito de sair, a
família tem a proteção e nenhuma ameaça, todos seus bens continuarão sendo
os seus bens, como tem que ser, como deve ser. Ao contrário da LIGA, onde
tudo que você possui é deles e se você for contra será morto. Lá, se você
fugir, você será caçado, o mesmo acontece com suas famílias ― estremeço
com suas palavras.
― É muita informação para um dia ― sinto como se tivesse um peso
em minha cabeça. ― Estou mais aborrecida com Johnatan por ter sumido
todo esse tempo e escondido seus planos, do que vocês terem me escondido
tudo isso ― admito inquieta.
― Eu não queria me envolver, mas era tarde. No dia em que
reconheci o corpo, o plano já estava feito, doía-me ter que mentir para todos,
mas depois de tudo o que aconteceu, o melhor foi prevenir. Desculpe-me ―
aperto meus lábios acenando.
― Não se preocupe, minha raiva não é com você, e sim com seu
chefe ― faço uma careta.
― Acho que ele não gostou muito da ideia do tempo ― Peter
murmura, apertando o lábio para não sorrir.
― Por mim... ― dou de ombros. ― Ninguém mandou brincar de vivo
ou morto.
Logo nos distraímos, próximo à mansão vejo um conversível
estacionado a meio-fio. Franzo a testa observando.
― É o carro do Michael Banks ― Peter também observa ao se
aproximar, em seguida, o doutor sai do carro e olha em nossa direção.
Reviro os olhos.
― Com certeza, é mais um pedido do meu pai ― suspiro. ― Me
deixe aqui, vou conversar com ele.
Peter para o carro saio relutante. Os saltos estão me matando, e
necessito de outro banho para relaxar, estou exausta. Em seguida, observo
Peter entrar com o carro no campo, e sigo até o médico.
― Olá, Mine! ― Michael me cumprimenta com um sorriso aberto ao
mesmo tempo em que demonstra seu cansaço.
― Olá, doutor Banks. Não me diga que está aqui a pedido do meu pai
― reprimo uma careta.
― Sim, ele está preocupado com você ― defende. ― Acabei de
chegar, mas só passei para ver como vocês estavam, parece que Ian exagerou
no sorvete à noite.
Tento dar meu melhor sorriso.
― Não sabia que ele estava doente ― digo surpresa.
― Você parece cansada ― observa.
Eu não deveria andar por aí com um vestido vermelho de fenda em
plena luz do dia, não em um dia comum. Caramba, está tão na cara assim?
Mordo meu lábio.
― O evento de ontem foi cansativo, eu fiquei para ajudar as pessoas
― minto.
Michael me olho surpreso.
― Fiquei sabendo do incidente no prédio hoje de manhã, está no
noticiário. Você saiu de lá essa manhã? ― pergunta assustado, e arregalo
meus olhos.
― Oh, eu não sabia. Quando saí de lá, estava tudo tranquilo e Peter
me levou até o centro para comer algo, enquanto entregava alguns relatórios
em uma das empresas próximas ― minto novamente.
― O mundo está muito perigoso. Bem, eu vou ver Ian, depois tenho
que cuidar de alguns papéis também ― diz um pouco desanimado, e sinto o
aperto em meu coração.
― Você também está cansado... Isso se deve ao seu divórcio?
― Nestas circunstâncias, lidar com Nicole é cansativo ― confessa,
revirando os olhos castanhos.
― Ela vai superar ― o tom seco faz suas sobrancelhas se levantarem,
sorrio. ― Bem, vou entrar, já que não vai me receitar nenhum remédio, pois,
como pode ver, estou bem. Agora só preciso tirar esses saltos e tomar um
bom banho ― brinco, fazendo seu sorriso aparecer.
Michael se aproxima rindo e toca em meu rosto, como sempre faz
para examinar meus olhos.
― Parece ótima, tente se alimentar bem e tome as vitaminas ― ele
me lembra, ainda com suas mãos em cada lado do meu rosto, enquanto me
avalia.
Mas a ação se transforma em um alerta e já sinto o pânico tomar conta
de mim quando seus olhos se suavizam ao cair em meus lábios.
― Michael, não... ― tarde demais para ter seus lábios grudados nos
meus.
Abro meus olhos, vendo-o me beijar, puxando meu corpo contra o
seu. Coloco minhas mãos contra o seu peito e me esforço para afastá-lo.
Engulo em seco, vendo seus olhos se abrirem sonolentos e, ao mesmo tempo,
surpresos.
― Mine,... Mine, me desculpe ― ele apela envergonhado.
Inspiro fundo.
― Nunca mais faça isso, por favor ― ordeno, mesmo não querendo
ser grosseira.
Michael balança a cabeça e esfrega seu rosto.
― Eu sinto... ― Suas palavras são interrompidas quando vejo seu
olhar se erguer em choque. ― Não pode ser!
Sigo sua atenção, virando meu corpo e arregalo meus olhos ao ver
Johnatan nos observando. Seu olhar de ódio mortal está fixo em Michael
atrás de mim, sua expressão revela sua fúria, assim como suas mãos em
punhos firmes. Sem que eu expresse qualquer reação, vejo-o avançar em
nossa direção como um leão enraivecido.
5 – ESCURIDÃO

― Johnatan,... Não! ― tarde demais quando sou puxada para trás do


seu corpo.
Assisto-o socar o rosto de Michael e agarrar a gola de seu casaco.
Arregalo meus olhos, observando os dois se encararem. Michael tenta
afastar Johnatan, mas parece chocado demais ao vê-lo à sua frente,
encarando-o com ódio.
― Eu deveria adivinhar que assim que virasse as costas, alguém viria
dar o bote. ― Johnatan dispara ríspido.
― Você está vivo! ― Michael ainda está em choque e balança a
cabeça. ― Mas como?
― Não achou mesmo que seria tão fácil se livrar de mim para
aproveitar a primeira oportunidade e agarrar minha mulher, não é mesmo? ―
Johnatan continua furioso.
Michael me olha por um instante, antes de voltar a encarar Johnatan,
agora mais contido. Ele tenta se afastar e, para meu espanto, Johnatan aperta
seu casaco pelo pescoço.
― Foi um incidente, Johnatan! ― Michael se esforça para empurrá-lo
por causa do sufoco.
― Eu sei suas intenções por aqui, Michael, o incidente passou longe
dos seus atos! ― Johnatan rosna, Michael o encara com um ódio que nunca
vi.
― É claro, dormir com minha mulher também não foi um incidente,
Johnatan? ― as palavras de Michael me alarmam. Johnatan não se intimida.
― Acha mesmo que iria esconder isso de mim? Te considerava meu amigo, e
você dormia com minha esposa. Fazia isso quando estava com a Mine
também? ― Johnatan o empurra com força contra o portão, como se ele fosse
um boneco de palha.
Contenho minha fúria e inspiro fundo.
― Eu não tenho culpa se sua mulher se oferecia para quem ela se
interessava, mas jamais fui capaz de trair Mine ― Johnatan se defende
bruscamente. ― Agora com Nicole, pode ter certeza de que eu não fui o
único na sua lista de amantes.
As palavras frias de Johnatan me pegam de surpresa. Michael tenta se
manter de pé e avança em Johnatan, mas é atacado com um soco nas costelas.
Engulo meu nervosismo.
― Por favor, parem... ― peço, incapaz de encará-los.
Pela minha visão periférica, vejo Michael me observar assustado.
― Você sabia que ele estava vivo, Mine? ― pergunta e viro minha
atenção para ele, vendo o lado esquerdo do seu rosto avermelhado devido ao
soco que recebeu.
Balanço minha cabeça.
― Estou sabendo há poucas horas ― olho para Johnatan, que mantém
seus olhos fixos no médico.
Michael ri sem humor, sua antipatia com Johnatan é explícita.
― Forjou sua morte, Makgold, para fazê-la sofrer?
A tensão de Johnatan só aumenta.
― Você enganou todos com isso? Você viu o estado em que Mine se
encontrava? A preocupação de seu pai com o estado de saúde da filha?!
― Michael ― chamo sua atenção em alerta.
― Não, Mine, apenas me escute! Isso não é vida, se ele se importasse
com você, não teria feito o que fez. Ou talvez estivesse por aí fodendo outra
mulher comprometida! ― o médico se recusa a medir suas palavras. ― E,
pra falar a verdade, não estou nenhum nem um pouco arrependido de ter
beijado você, Mine ― pisco perplexa e o vejo ser interrompido com socos de
Johnatan.
Para meu espanto, Michael revida Johnatan com murro na maçã do
rosto. Johnatan se afasta brevemente antes de voltar a agarrar a gola do
médico, o olho de Michael começa a ficar inchado e vermelho. Noto a
respiração de Johnatan se alterar, enquanto o médico ri com ironia.
― Era esse o seu propósito depois que descobriu sobre sua esposa?
Se aproximar da Mine para se aproveitar e se vingar de tudo que está
acontecendo? ― Johnatan pergunta em tom de ameaça, meu coração dispara.
― Eu não seria tão hipócrita como você, Johnatan. Mine merece algo
melhor ― Michael retruca.
Assusto-me quando Johnatan lhe dá uma cabeçada sem soltá-lo,
deixando-o atordoado.
― Suas ameaças ou suas palavras de lamento não me intimidam,
Banks, e é melhor se manter afastado dela antes que eu acabe te matando com
minhas próprias mãos! ― o tom sombrio de Johnatan faz os cabelos da
minha nuca se eriçarem.
― Só irei me afastar se ela me pedir ― Michael o enfrenta da mesma
forma.
― É melhor não tentar a sorte, Banks ― Johnatan assobia.
Balanço minha cabeça ao me perguntar se sou algum prêmio para
eles. Ambos não estão dispostos a se soltar e sei que, se continuarem, será
ainda pior.
― JÁ CHEGA! PAREM AGORA! ― Grito, aproximando-me para
separá-los.
Michael aproveita para tentar acertar Johnatan outra vez e quase me
atinge, felizmente, Johnatan afasta sua mão para longe a tempo.
― Mine, me desculpe ― Michael se afasta cambaleante, numa
expressão culpada.
Inspiro fundo depois do susto.
― Michael, vá embora ― peço, tentando manter Johnatan longe.
Minhas mãos pousam em seu peito largo, sua respiração está mais rápida e
carregada.
― É claro ― Michael concorda, um pouco confuso depois do
ocorrido.
― É melhor você ir cuidar do seu rosto e do seu divórcio, doutor
Banks ― Johnatan continua a provocar, e eu quero socá-lo.
Michael consente com sarcasmo.
― Você está esperando por isso, não é, Makgold? ― diz.
Em seguida, o médico me olha com a sobrancelha erguida.
― Se fosse você, Mine, eu o manteria afastado, já que não dá para
confiar em homens como ele. Homens que traem sua confiança e se
aproveitam de mulheres como você.
Suas palavras me pegam de surpresa, e o encaro com frieza.
― Acredite, Michael, sua esposa não é de confiança ― surpreendo-o.
― Pode ser que não, mas não deixe que ele se aproveite de você ―
Michael defende. ― Veja, ele já te machucou uma vez, mentiu, te
abandonou... Não duvido nada que ele possa fazer de novo ou pior.
Michael toca em minha profunda ferida, fazendo meu autocontrole
evaporar. Johnatan rosna atrás de mim, e o mantenho longe.
― Já chega, Michael, vá embora! ― falo firmemente.
― Mine, escute, não vá por esse lado ― insiste, e balanço minha
cabeça.
― Agradeço sua preocupação, mas não é necessária. E, só para deixar
claro, nunca mais volte a me beijar ou se aproveite disso como uma desculpa
― digo com frieza.
― Eu não fiz isso para me aproveitar de você ― ele se defende.
― Ah, por favor... ― Johnatan está louco para atacá-lo novamente.
― Então, espero que isso não se repita ― ordeno.
― É claro que não vai se repetir ― Johnatan é um inferno, e Michael
o observa como se quisesse ainda mais da sua fúria.
― Não se preocupe, Mine, não irá acontecer novamente. Também
não direi a ninguém que ele está vivo ― Michael diz com esforço. Engulo
meu nervosismo. ― E, se precisar de qualquer coisa, é só me ligar.
― Ela não vai mais precisar dos seus serviços, Banks ― Johnatan
responde por mim.
― Como eu disse, é só me ligar. Até logo, Mine. ― Michael se afasta
cambaleante e segue até seu carro.
Eu o observo sair com o carro e me viro para olhar Johnatan que
segue sua atenção para seu oponente indo embora.
― Ele te tocou ― Johnatan dispara sua fúria para mim. ― Nunca
duvidei de que alguém se aproveitaria para se aproximar do que é meu.
Ignoro suas palavras possessivas.
― Mas o que é que você está fazendo aqui? Viu o que acabou de
acontecer? Ele pode dizer para alguém que você está vivo, caramba! ―
desconto minha frustração nele.
― Pouco me importa ― Johnatan fecha os olhos para inspirar fundo,
ao abri-los, encara-me com a testa franzida. ― Ele já tentou te beijar antes?
― É claro que não! ― respondo ofendida.
― Não estou dizendo para te ofender, mas porque Michael sabe o que
houve entre Nicole e eu, possivelmente ela contou para ele. E poderia querer
se aproximar de você para se vingar ― Johnatan indaga ainda abismado.
― Johnatan, ele só vinha me visitar a pedido do meu pai, sem
segundas intenções ― explico exasperada.
― Não foi isso que vi nos olhos dele, Mine. Ele quer você, ele quer o
que é meu! ― seu ciúme sombrio me surpreende.
― Sejam lá quais são as intenções de Michael, eu não estou
interessada. E outra coisa, não sou sua propriedade. Acho melhor você baixar
a bola também, pegar seu carro e voltar para onde é seu lugar ― afasto-me
irritada.
Sinto sua mão alcançar meu braço e me puxar para ele.
― O meu lugar é ao seu lado ― declara com fervor, enquanto olho
em seus olhos intensos. ― Eu disse que não vou ficar longe de você e vou
cumprir essa promessa.
Inspiro fundo e puxo meu braço do seu aperto.
― Neste momento, eu quero ficar sozinha. Johnatan, eu estou
sobrecarregada, cansada, são tantas informações... ― puxo a ar com força
para me tranquilizar. ― Vá embora.
Ele me observa por longos minutos, e reprimo a vontade de me
encolher.
― Você não vai me perdoar tão cedo, não é? ― pergunta.
― Eu só preciso descansar, por favor ― imploro e saio, deixando-o
sozinho.
Quando passo pelo portão, consigo escutar o ronco do motor do seu
carro e os pneus cantando no asfalto. Caminho em direção à mansão, vendo
Hush correr pelo campo junto com Lake.
Assim que entro na sala de entrada, fico agradecida por Donna não
estar presente e sigo direto para meu quarto preocupada, nem ela nem Ian
sabem sobre Johnatan, disso tenho certeza. Será assustador ver a reação deles
assim que descobrirem.
No meu quarto, chuto meus saltos para longe, enquanto me livro do
vestido. Sigo para o banheiro e me enfio debaixo do chuveiro por um longo
tempo. Assim que termino meu banho, sinto meus músculos mais relaxados,
mas ainda sim meus pés estão doloridos. Olho-me no espelho, sentindo-me
um fantasma, ignoro minha aparência abatida e cansada, e retorno para meu
quarto a fim de colocar um vestido leve. Depois de secar meus cabelos, eu os
prendo em um rabo de cavalo.
No caminho para a cozinha, franzo a testa ao ver cinco buquês de
flores silvestres na sala da entrada. Donna passa pela porta com mais um
buquê e um sorriso nos lábios.
― Não me diga que você tem um pretendente e não me contou ―
meu comentário a faz rir.
― Não são para mim, são para você ― informa, aproximando-se para
me entregar o buquê com um cartão. Fico confusa e reviro meus olhos ao
pensar em Johnatan. ― Abre o cartão para sabermos de quem é.
Engulo meu pânico ao observá-la. Pego o cartão relutante e o abro,
vendo a palavra "Desculpe", abaixo está a assinatura de Michael. Engulo meu
nervosismo com alívio.
― É do doutor Banks. Um pedido de desculpa ― Donna fica confusa.
― Eu o encontrei antes de entrar e acabamos sendo rudes um com o outro,
creio que é porque estou muito cansada...
― Oh, querida, Peter me disse que você resolveu ficar para ajudar na
organização do Hotel e com alguns documentos que o senhor Polosh ficou de
lhe explicar ― Donna lamenta, acariciando meu ombro, e me encolho
envergonhada pela mentira. ― Venha comer algo, enquanto coloco essas
flores nos vasos. Você precisa descansar ― ela me empurra para a cozinha.
― Como Ian está? ― pergunto.
― Está bem, foi ficando melhor quando disse que havia chamado o
senhor Banks para examiná-lo ― Donna responde rindo, enquanto sento-me
na cadeira.
― Se quiser, peço para Peter levá-lo ao hospital ― sugiro.
Donna sorri.
― Não é necessário. A tosse já passou e a febre também, caso
retorne, farei isso ― assegura e me serve um ensopado de costela e pães.
Meu estômago ronca com o cheiro. Depois de terminar meu prato,
Donna me obriga a tomar um chá de camomila. Mesmo com seus protestos,
ajudo na cozinha e com Ian, depois, sigo para o campo, incapaz de escutá-la
dizer que Jordyn e James chegariam do curso em breve, a mentira faz meu
coração se apertar.
No celeiro, fico com os cavalos, trocando suas águas e colocando suas
comidas. Lake está mais divertido do que nunca, cheirando minha roupa e
bagunçando meus cabelos. Logo um estrondo de um trovão chama minha
atenção, as nuvens carregadas no céu nublado deixam a tarde num humor
sombrio.
Caminho em direção à mansão, me distraindo com Peter saindo com
seu carro, provavelmente está indo buscar James e Jordyn, ignoro essa tensão
e entro pelos fundos, seguindo direto para a biblioteca. No notebook, ativo a
proteção da tenda e os aquecedores da casa.
Depois de verificar as câmeras de segurança, caminho para a
academia. Mesmo com meu corpo cansado, necessito relaxar, deixar minha
cabeça vazia. Alongo meu corpo e tiro meu vestido, ficando apenas com
minha lingerie preta enquanto me enrosco na barra de ferro, subindo o mais
alto que posso, e permanecendo imóvel de ponta à cabeça, numa inversão
contrária. Deixo que o peso do meu corpo se concentre apenas em minhas
coxas. Fecho meus olhos, inspiro e expiro, mudando o fluxo do meu peso em
movimentos sinuosos, esticando e mantendo a força em meus braços e
pernas.
Quando abro meus olhos, encaro a parede de vidro, vendo os trovões
iluminar o céu escuro, perco minha concentração ao me lembrar de Johnatan
na cobertura. A distração me faz perder o equilíbrio no pole dance e enrosco
meu corpo na barra antes que eu caia fatalmente no chão, o movimento
brusco faz meu corpo estremecer. Saio da barra devagar, sentindo o peso do
dia tomar conta de mim, o chá de Donna parece fazer efeito.
Coloco meu vestido e saio da academia, seguindo para meu quarto
rapidamente. Depois de escovar meus dentes, visto uma das camisolas de
seda cor de pele e me arrasto para a cama com preguiça. Escuto a chuva fraca
do lado de fora chocar-se contra a parede de cristal e observo as cores
cristalinas até adormecer.
Uma claridade me desperta. O barulho dos trovões fica cada vez mais
alto, e a chuva parece se intensificar. Pisco meus olhos com a pouca
iluminação do quarto, porém o cheiro suave que cerca o meu redor me distrai.
Logo, sinto algo macio pousado em minha palma direita, movo minha mão à
frente e franzo a testa ao sentir a rosa. Olho em volta, vendo minha cama
cheia delas.
Sento-me devagar na cama com o coração acelerado, ao mesmo
tempo em que sinto a presença de alguém. No final da cama, sentado de
pernas cruzadas e descalço, está Johnatan, sem camisa, exibindo seus
músculos potentes. Ele mantém suas mãos pousadas nos joelhos e os olhos
fechados, como se estivesse meditando. Seus cabelos estão bagunçados,
como se ele tivesse passado as mãos nos fios escuros diversas vezes. Assusto-
me com outro trovão que ilumina meu quarto de uma forma sombria.
Encaro minha cama e aperto meus lábios para não sorrir; é, de certa
forma, adorável ter as rosas comigo, assim como ele. Observo-o em silêncio,
enquanto medita, noto um leve tom corado na maçã do rosto devido ao soco
que Michael lhe deu.
― Eu não queria te acordar ― diz de repente, fazendo-me saltar
sentada. Ele continua imóvel. ― Me desculpe.
Cheiro a rosa em minha mão e torno a colocá-la em minha cama junto
das outras.
― Eu não deveria estar surpresa de te encontrar aqui ― murmuro.
É excitante ver sua masculinidade possuir meu espaço.
― Eu passo por muitos buracos, minha Roza ― ele brinca, mesmo
em tom sério, aperto meus lábios para não sorrir.
Balanço minha cabeça.
― Eu disse que queria ficar sozinha ― lembro-o, na tentativa de me
distrair para longe de seu corpo forte.
― E eu lhe dei o tempo. Para mim, foi suficiente ― sussurra rouco,
sem abrir os olhos.
Imito sua posição ao observá-lo.
― As rosas são lindas ― elogio, acariciando as que estão em minha
cama.
― Não tanto quanto você ― declara com intensidade.
Franzo a testa.
― O que está fazendo aqui, Johnatan? ― dou um suspiro, cansada de
lutar contra ele.
― Vim assaltar o seu corpo ― responde rapidamente.
Ergo a sobrancelha.
― Engraçadinho.
Quando abre seus olhos azuis, perco-me em sua profundidade, a
preocupação e o desespero estão destacados dentro deles.
― Ok... Estou procurando uma melhor forma de você me perdoar ―
responde com tristeza. ― Sei que errei, que escondi muita coisa de você, mas
tudo isso foi para te manter protegida. Morreria se algo te acontecesse e tive
que ter comigo pessoas de confiança, que pudessem cuidar de você, enquanto
estivesse fora. Eu não queria que as coisas seguissem dessa forma. Durante
esse tempo sem você, dia após dia, noite após noite, eu só queria estar com
você, ter uma vida normal como qualquer outra pessoa. E, ao contrário de
tudo isso, tive que lutar para me manter firme, prometendo a mim mesmo que
sobreviveria para me encontrar com você, independentemente de seguir meus
planos ou não. ― A culpa em suas palavras faz meu coração se apertar.
Inspiro fundo, sentindo as lágrimas em meus olhos.
― Eu sei o quanto é difícil conviver com todo esse inferno, mas você
também precisa confiar em mim, podemos seguir juntos ― sugiro, fazendo-o
pensar. ― Eu sei que você quer me manter longe dos problemas, só que,
muitas vezes, esses problemas chegam até nós de forma inesperada. Se seu
plano é ter alianças para enfrentar seu pai, estarei ao seu lado, só não me
mantenha distante como me manteve por quase oito meses sofrendo com sua
falta... ― engasgo e tento controlar o tremor em meu corpo.
A expressão de culpa fica nítida em seu rosto. Johnatan se aproxima,
sentando-se à minha frente, perto o suficiente para eu sentir o calor do seu
corpo e de seus dedos suaves, que afastam minhas lágrimas.
― Deus sabe o quanto tentei jogar tudo para o alto e vir correndo até
você, mas seria arriscado demais. Depois de tudo que aconteceu... ― sua
respiração sai abafada.
― O que tanto te preocupa? ― toco seu peito, sentindo seu coração
acelerado.
Ele agarra minha mão e a leva até seus lábios para beijar meus dedos
e inspirar o perfume em meu pulso.
― Levar você para esse lado, te envolver mais do que já está
envolvida, me faz temer perdê-la ― desabafa. ― Mine, você é a coisa mais
importante pra mim. Com você, consigo ver uma vida, consigo imaginar o
que quero para nós, um futuro tranquilo e tedioso como qualquer casal ―
sorrio ao escutá-lo. ― Mas sem você, só vejo a escuridão me levando para
longe de tudo aquilo que quero, para a forma sombria como me transformei e
como seguirei em diante.
Suas palavras atacam meu peito apertado. Engulo o grande nó em
minha garganta e toco seu rosto. Seus olhos se fecham, e acaricio seus
cabelos, descruzo minhas pernas para me sentar de frente para ele, em seu
colo, bloqueando qualquer distância de nossos corpos. Suas mãos deslizam
por minhas costas, e fecho meus olhos lacrimosos ao sentir seu nariz inspirar
o perfume em meu pescoço. Gemo deliciada quando seu abraço me aperta e
cerco meus braços em seus ombros, puxando-o para mim.
― Eu estou bem aqui, você não precisa temer isso ― conforto-o,
olhando em seus olhos.
Sua mão se ergue para afastar uma mecha do meu cabelo.
― Mesmo não tendo nada, nem ninguém... Agora pode entender que
minha vida tem mais sentido com você por perto? Pode entender que você é
coisa mais importante que tenho e que tudo pra mim faz sentindo? ― aperto
meus lábios trêmulos e aceno com a cabeça. ― Eu não me sinto mais
sozinho, não me sinto mais no escuro. Eu me sinto vivo e quero continuar
assim com você e por você.
Sorrio aos soluços. Acaricio seu rosto e traço a linha de seus lábios
com a ponta dos meus dedos.
― Mesmo eu te dando tapas e brigando com você? ― pergunto num
murmúrio presunçoso. Johnatan sorri lindamente.
― E o que seria da minha vida sem uma grande mulher para me pôr
no devido lugar? ― ele me faz sorrir e chorar ao mesmo tempo. ― Eu senti
saudade de tudo o que há em você, até dos seus tapas dolorosos ― afirma, e
o abraço com força.
― Bem, então, sou a única que pode pisar em você ― digo com
orgulho.
― Você é a exceção de tudo ― lembra-me, beijando meu queixo
erguido.
― Gosto disso ― sorrio satisfeita.
Deslizo meus dedos por seus cabelos, colando meu rosto contra o seu.
O perfume suave e, ao mesmo tempo másculo, me faz relaxar, inspiro fundo e
fecho meus olhos, enquanto sinto seus dedos deslizarem em minhas costas
com suavidade.
― Depois desses meses longe... Longe do seu perfume, longe do seu
calor, longe do seu corpo, da sua voz, longe de tudo que há em você, eu tenho
lutado com um propósito maior ― diz, inspirando meu perfume.
Abro meus olhos, vendo os seus fechados intensamente.
― E qual é esse propósito? ― pergunto, vendo seus olhos se abrirem,
fazendo com que eu me perca dentro deles.
Suas mãos se erguem para tocar meu rosto, inclino minha cabeça para
sua palma. Johnatan sorri levemente.
― É algo que guardei comigo e não consegui dizer a tempo, mas
prometi que seria a coisa mais importante a fazer. Era a primeira função da
minha lista, sobreviver durante esse tempo e dizer que...
Suas palavras são interrompidas com o toque do seu celular. Sua
expressão se amarga por causa da interrupção, mas ele não ousa atender.
― É melhor atender ― sugiro.
Johnatan rosna e se move para pegar o celular ao lado, verificando o
identificador com o registro de números, antes de atender grosseiramente.
― O que é?! ― grunhe com frieza. Aperto meus lábios para não
sorrir, tendo a certeza de que ele não gosta de ser interrompido quando está
comigo. ― Como é?
O choque passa pelo seu rosto, assim como a preocupação.
― O que aconteceu? ― deslizo minhas mãos por seus ombros largos.
Seus olhos azuis me observam confusos.
― Só um segundo, vou dar uma olhada ― Johnatan informa.
Levanto-me junto com ele e o vejo desligar o celular. Em seguida,
veste seu suéter escuro e tênis.
― Aconteceu alguma coisa? ― pergunto preocupada ao vestir meu
robe.
― Vamos até a sala de reunião ― Johnatan murmura e abre a porta
do quarto para que eu saia primeiro.
Não pensei que dormiria tanto, a casa está silenciosa e adormecida.
Caminho pelo corredor encarando a noite escura pelas janelas fechadas, a
chuva, antes forte, está mais fraca. Na sala de reunião, Johnatan liga as luzes
e pega o controle da TV. Pisco com a claridade, enquanto o observo colocar
no noticiário.
― Oh... Meu Deus ― caio assustada no sofá assim que leio o título
da reportagem.
"Médico Michael Banks é encontrado morto em sua casa."
Arregalo meus olhos horrorizada, Johnatan aumenta um pouco mais o
volume e me encolho. A repórter loura informa a notícia em frente a uma
casa de luxo onde se encontram policiais e paramédicos se movendo com
urgência, o lugar foi cercado com uma fita para afastar os olhos curiosos,
entre outros repórteres.
― Ainda não se sabe a causa da morte do médico, a perícia descarta
a tentativa de suicídio, já que o corpo de Michael Banks foi encontrado com
lesões onde se pode dizer que teve luta corporal como marcas de asfixia no
pescoço antes de ser jogado na piscina de sua residência. A esposa Nicole
Banks foi encontrada inconsciente em sua cozinha e foi encaminhada para o
hospital...
A repórter ainda informa que a casa não havia arrombamento, mas
havia objetos destruídos.
Eu me viro para Johnatan, que assiste com a testa franzida.
― Ele está morto ― aponto trêmula. ― Quem o matou?
Johnatan inspira fundo.
― Eu não sei ― responde pensativo até ficar em alerta. ― Ou
Michael deve ter dito algo que não deveria ― Johnatan indaga.
― Como-que você está vivo? ― gaguejo tendo sua atenção para
mim. ― Acha que a máfia está envolvida nisso?
― Eu não tenho dúvidas ― Johnatan diz, e me assusto quando seu
celular volta a tocar. ― Estou vendo o noticiário. Tem alguma ideia... Espere,
como é?! E como está James? Rastreia imediatamente! ― seu tom se torna
severo, e o observo desligar o celular.
― O que foi dessa vez? ― meu coração está prestes a sair pela boca.
Johnatan permanece em silêncio. ― Johnatan?
― Jordyn foi sequestrada ― responde relutante.
― O quê?! Mas como? Eu pensei que Peter já havia trazido eles para
casa ― Ai, não! Verifico as horas no relógio, vendo que já passa da meia-
noite.
― Não, Peter essa tarde foi levar alguns papéis para Matt. James e
Jordyn ficaram até tarde na Colmeia e saíram à noite, o carro de James foi
atacado... Eu preciso ir ― Johnatan se apressa, desligo a TV antes de segui-
lo.
― Eu vou com você. ― Ele para, e meus joelhos travam assim que se
vira para mim com seu olhar de advertência. ― Não me olha assim! James e
Jordyn estão nisso por sua causa. Agora me espere, vou me trocar e vamos
achá-la. ― marcho para meu quarto duramente.
Quando retorno, Johnatan parece impaciente, e passo por ele, indo
para fora. A noite está fria, mesmo assim, inspiro o ar gelado para tentar
controlar meu sangue quente. Johnatan volta a pegar seu celular e ligar para
alguém. Caminho ao seu lado até chegar ao carro.
― Cassandra, me passe a localização ― exige, entrando no carro e o
ligando. ― James já acordou? ― encolho-me em meu assento, enquanto
travo meu cinto de segurança.
Saímos da mansão em silêncio. Assim que os portões de aço travam
atrás de nós, ele acelera, depois liga o monitor portátil. Logo a tela se
transforma num mapa, mostrando a direção de um ponto verde.
― James ainda está inconsciente. Nectara está com ele neste
momento. ― Cassandra informa no viva-voz assim que Johnatan ativa o
sistema. ― Estamos seguindo esse trajeto também. Shiu está monitorando na
Colmeia, mas o que consta é que ela está parada neste lugar chamado Road
Bar.
― Talvez seja uma armadilha ― aviso.
― Eu e Mine entraremos nesse bar como clientes. Cerquem o local e
peça para Dinka vigiar o perímetro ― Johnatan ordena.
― Sim, senhor. ― Cassandra desliga em seguida.
As ruas passam como um borrão, enquanto o carro acelera.
― No porta-luvas tem uma pequena caixa, pegue-a ― Johnatan
parece inseguro. Faço o que me pede e a abro, vendo uma espécie de dois
pequenos adesivos. ― É um microponto de ouvido, assim podemos manter
contato com os outros. É um pouco desconfortável no início ao ser fixado na
pele.
Pego o minúsculo aparelho cor de pele e o coloco em minha orelha.
Johnatan também faz o mesmo. É realmente desconfortável.
― Está ligado?
― Sim ― responde.
Assim que nos aproximamos, localizo uma enorme placa de boas-
vindas ao Road Bar. O lugar desgastado está lotado com homens e mulheres
bebendo. A música country explode nos alto-falantes. Meu coração acelera
em preocupação. Johnatan estaciona o carro e se vira para mim.
― E se ela não estiver nesse bar, Johnatan? ― preocupo-me.
― Vamos entrar e olhar o local, enquanto os outros estão
vasculhando ao redor. ― Johnatan analisa ao vestir sua jaqueta. ― Você
entrará primeiro, eu estarei logo atrás para não chamarmos atenção... ou
tentaremos, pelo menos. Pronta?
Engulo em seco antes de responder quase sem voz:
― Sim.
― Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Eu estarei com você ―
assegura, ainda ressentido por eu estar presente.
Saio do carro antes que ele mude de ideia e me deixe trancada ali.
Observo a movimentação do bar e caminho em direção à entrada, onde tem
homens bêbados escorados na porta, segurando suas bebidas. Forço minhas
pernas a seguirem em frente e evito olhar para trás para ver Johnatan. Assim
que passo por eles, tento entrar espremida, ignorando seus elogios nojentos.
Fico surpresa quando um homem levanta seu boné para mostrar seu rosto
familiar, Dinka pisca para mim e abre espaço para que eu entre. Do lado de
dentro, tudo parece abafado. Olho o local de madeira, vendo corpos se
movendo empolgados, acompanhando o ritmo da música alta. As pessoas se
espremem umas nas outras para chegar até o lugar desejado. Sigo em direção
ao balcão e me acomodo em uma banqueta recentemente vazia.
― Olá, gata ― me assusto quando um homem alto e gordo me
cumprimenta. Seus dentes são amarelados por mascar o tabaco. Presumo. ―
O que vai querer?
Ao olhar em volta, fixo minha atenção num par de olhos azuis me
observando de longe, mesmo atento à multidão. Johnatan se move como se o
local fosse familiar, encenando, tudo parte de seu plano.
― Nada, obrigada ― respondo para o homem à minha frente.
Ele sorri e segue até a geladeira.
― Aqui. É por conta da casa, não se sinta oprimida ― diz, dando-me
uma cerveja.
Sorrio sem mostrar os dentes, depois, eu me viro automaticamente
com a cerveja na mão. Saio do balcão assim que as pessoas se amontoam
para pedir suas bebidas, e, para meu espanto uma mulher rouba minha
cerveja e segue para a pista de dança saltitante.
― Oh, por Deus, me ajude! ― uma voz abafada me chama atenção.
Vejo uma mulher cair aos meus pés e me abaixo para tocar seus
ombros. O cheiro de bebida forte vindo dela é insuportável. A mulher deve
estar na faixa dos sessenta anos, com cabelos louros tingidos, um rosto
cansado e com rugas.
― Você está bem? ― pergunto, fingindo estar me divertindo.
― Oh, meu docinho, ajude essa velha a ir até o banheiro? ― pede
empalidecida. Antes que eu negue, a mulher enrosca seus braços pesados em
meu pescoço.
Aonde eu vim parar? Faço uma careta com o cheiro desagradável.
Ajudo-a a se manter levantada e localizo o banheiro feminino próximo a nós.
― Mine... ― a voz potente de Johnatan em meu ouvido me chama
atenção, aperto meus lábios. ― Onde você está?
Puxa, o microponto tem uma comunicação potente, penso.
― Eu estou indo ao banheiro ― informo por alto como se estivesse
falando com a mulher cambaleante ao meu lado.
― Não saia daí. Já estou indo até você... ― diz, e não o escuto mais
devido ao solo de guitarra no alto-falante próximo.
Meus ouvidos zunem.
― Obrigada, docinho. Boa noite! ― a mulher agradece sorrindo
assim que a deixo na porta e a vejo se rastejar para dentro.
Franzo a testa quando vejo um corredor estreito dando para uma
entrada mais iluminada do lado esquerdo. Rapidamente, noto a sombra de
alguém deitado ao chão.
― Jordyn? ― sufoco e travo ao sentir um cano frio em minha cabeça.
― Olá, Mine. Lembra-se de mim? ― diz uma voz grossa próxima ao
meu ouvido, em seguida, arranca meu ponto ruidosamente. Eu me viro
devagar, um tanto alarmada ao encarar os olhos cor de gelo. ― Talvez se
lembre do tiro em meu joelho, pois eu não esqueci.
― Você...
― Prazer, sou Zander. O homem que vai matar seu namorado antes
mesmo dele ser capturado e levado até a LIGA ― dispara em tom de ameaça.
Ele mira a arma em minha barriga, sem que ninguém perceba, e segue
em minha direção, fazendo com que eu caminhe de costas pelo corredor.
Agora sem a máscara, vejo seus traços são fortes e firmes, os olhos são mais
vivos e ao mesmo tempo injetados de ódio, abaixo do olho direito há um
corte recente, com pontos seguindo até seu lábio inferior, os cabelos lisos são
rebeldes e penteados à mão.
― O que fez com Jordyn? ― pergunto com frieza.
Seu sorriso sombrio me faz estremecer.
― A tal garota insuportável se chama Jordyn? Tive muito trabalho
para mantê-la calada ― revela, e pisco meus olhos assim que chego à
claridade do lugar amplo, frio e vazio.
Assusto-me quando ele chuta a porta do lugar com o pé, fechando-a.
Com isso, o som do outro lado se torna abafado e me encolho com o frio.
Noto que a jovem caída no chão não é Jordyn e sim uma adolescente
inconsciente. O alívio me consome por não ser ela, mas logo entro em pânico
quando Zander mira sua arma rapidamente para a garota caída e atira em sua
cabeça sem pensar duas vezes.
― Por favor, deixe Jordyn em paz ― imploro trêmula ao ver o
sangue da adolescente se espalhar pelo chão.
― Continue andando! ― Zander ordena, mirando sua arma para mim
enquanto sorri diabolicamente. ― Não vou poder recursar um pedido desses,
Eu o vejo pegar o celular em seu bolso.
― Soltem a garota, tenho algo muito mais valioso que ela.
Os olhos de Zander me observam com ódio ao colocar meu ponto em
seu ouvido, o sorriso irônico destaca em seus lábios.
― Olá, Makgold ― cumprimenta, fazendo meus olhos se
arregalarem. ― Está pronto? Vou tocar onde mais lhe dói.
Os olhos cor de gelo estão fixos em mim, e não sei se suas palavras
são diretamente para mim ou para Johnatan.
Observo-o com frieza e, com um impulso do meu corpo, chuto seu
estômago, afastando-o para longe de mim. Zander consegue agarrar minha
perna, arremessando-me contra a parede. Evito me importar com a dor no
momento, logo atinjo o corte em seu rosto com um soco direto, fazendo-o
grunhir. Os pontos se abrem e o sangue escorre por sua face. Antes que eu
consiga acertá-lo novamente, sua mão agarra meu pescoço e me arrasta para
longe, para um lugar mais gelado. Movo minhas pernas devido ao aperto e
olho para o lado, de onde se aproxima de uma corrente de vapor, numa
espécie de janela de aço.
Quando Zander empurra minha cabeça contra a caixa, prendo minha
respiração, meus olhos ardem em contato com vapor. Seu aperto em meu
pescoço dificulta meu esforço, fazendo minha boca se abrir. O gosto amargo
do gás corrente me faz puxar o ar, minha garganta arde com o efeito. De
repente, sou puxada para fora da caixa, caindo de joelhos.
Tusso com dificuldade, esfregando meu pescoço. Sinto meu corpo
trêmulo ao mesmo tempo fraco. Quando olho à minha frente, vejo um par de
pernas me bloquear. Logo caído ao chão, está Zander encarando Johnatan
como um verdadeiro inimigo.
Johnatan apenas olha para baixo, para verificar meu rosto, e a frieza
em seus olhos me faz estremecer.
Estranhamente sinto cócegas em minha garganta, enquanto a sinto
queimar assim como meu estômago. Que desconforto!
― Dessa vez vou te mandar direto para o inferno ― escuto o tremor
na voz potente e fria de Johnatan.
Ao olhar para cima, noto minha visão embaraçada. Mas sem que eu
queira, uma gargalhada repentina sai dos meus lábios, quebrando o silêncio.
Zander me observa curioso e tento agarrar as pernas de Johnatan para apontar
em sua direção. A risada me deixa sem fôlego, fazendo minha cabeça girar e
meu corpo estremecer. Em seguida, os meus risos cessam ao encará-lo com
frieza, sentindo meu coração acelerado assim como a adrenalina em minhas
veias.
― Você acabou de irritar uma fera, infeliz! ― disparo com o ódio
que queima de dentro para fora.
6 – DELÍRIO

Tento me manter de pé, mas a sensação não é nada boa.


Por outro lado, Zander levanta-se com tranquilidade, um leve sorriso
brota em seus lábios e seus olhos frios se fixam em Johnatan. A raiva
percorre meu interior enquanto noto sua arrogância.
― Vejo que tocar no ponto fraco te deixa mesmo vulnerável,
Makgold ― Zander provoca. ― Tenho certeza de que possui mais do que
isso.
Tusso, sentindo minha garganta seca e dolorida, como se estivesse
inflamada. Johnatan me olha abismado. Fico confusa com sua expressão.
― Seu filho da mãe! ― Johnatan dispara ríspido, avançando em sua
direção.
Zander sorri em antecipação e os vejo lutarem com brutalidade. Ele
parece um bom profissional, se esquivando e se protegendo dos golpes fortes.
Quando Zander atinge a lateral do ombro de Johnatan, fazendo-o se afastar e
rosnar, aperto minhas mãos em punhos firmes.
― Estudei bem seus golpes, Johnatan. Devo confessar... estou
impressionado. ― Zander avalia, limpando o sangue do canto de sua boca,
tendo o cuidado de não tocar em seu corte.
Johnatan se mantém indiferente, não se surpreendendo com o
comentário.
A tensão em meu corpo me deixa atordoada. Inspiro fundo para
manter o equilíbrio, mesmo que eu esteja com o coração acelerado.
― O que fez com ela?! ― a pergunta potente de Johnatan tira minha
concentração, de alguma forma, sua voz parece para mim.
― Nada comparado com o que está por vir ― Zander responde,
enquanto sorri com arrogância.
Em um piscar de olhos, Johnatan o acerta com um soco, seguido por
um chute em suas costelas. Percebo que Zander gosta de atingir seu
temperamento, mas logo sua expressão se torna sombria. Ambos se
encontram mais atentos em seus movimentos.
Balanço minha cabeça assim que meus ouvidos começam a zunir.
Tento me segurar na parede quando meu corpo enfraquece. Puxo o ar gelado,
sentindo meu corpo doer com a ação. Ao longe escuto a voz de Johnatan me
chamar. Eu o procuro com minha visão embaraçada, mas tudo que posso ver
são sombras se movendo numa luta brutal.
O grito sombrio, seguido por uma risada, ecoa por meus ouvidos e sei
que é Zander. Fecho meus olhos por um instante, numa luta interna comigo
mesma para me manter firme. Johnatan precisa de mim, nós precisamos
seguir juntos. Quando abro meus olhos, mesmo estando embaraçados, a
sombra à minha frente é uma ameaça. Meu corpo dolorido estremece em
tensão.
Tento me concentrar mais uma vez, eu treinei no pole dance e poderia
pôr em prática com facilidade. Suporto a agonia em meu interior e avanço
para ele, antes que o oponente tome qualquer reação, agarro-me à fúria ao
escalar seu corpo, envolvendo uma das minhas pernas em sua cintura e a
outra em seu pescoço. Golpeio com força seu estômago, fazendo-o se curvar.
Em seguida, giro meu corpo agarrado com o oponente, num movimento
rápido e inverso para acertar atrás do seu joelho, deixando-o cair no chão
junto comigo.
Pisco meus olhos, sentindo arderem quando recupero um pouco o
foco. Respiro com dificuldade sentindo meu coração acelerado, estou tão
pulsante que minhas bochechas latejam.
Um grunhido debaixo de mim me faz me curvar e encarar Zander.
Seu rosto está avermelhado, numa expressão surpresa, tudo porque minhas
pernas estão envolvidas em seu pescoço, apertando-o, enquanto o mantendo
no chão. Subitamente, sou puxada para trás. Johnatan rosna quando Zander se
mostra em ataque e, antes que me atinja, Johnatan se coloca à minha frente,
sendo acertado na nuca.
Percebo que Johnatan me protege, bloqueando-me com seu corpo de
um Zander eufórico. Aperto meus dentes e consigo acertar o olhos cor de
gelo na perna, com um chute direto.
― VADIA! ― o maldito rosna, e noto a expressão de Johnatan ficar
cada vez mais sombria.
Num giro rápido, Johnatan o acerta com um soco em seu queixo.
Mesmo cambaleante, Zander se mantém firme, mas sua forma de ataque é em
minha direção. Ele anseia por me atingir, enquanto Johnatan o afasta. Num
movimento grotesco, sou jogada contra o chão, ao passo que Johnatan cai de
joelhos para me manter afastada.
Assusto-me quando Johnatan se curva de outro ataque, dessa vez,
Zander move sua mão por minha nuca. O homem persiste, mesmo com os
olhos inchados e o rosto machucado. É quando noto, ao olhar para o meu
lado, uma seringa de metal próxima ao meu pescoço, não sinto a agulha,
apenas a mão quente e firme de Johnatan contra minha pele.
Ao encará-lo, vejo suas pupilas dilatadas, como se sua visão perdesse
o foco. Seu corpo estremece e seu rosto começa a ficar vermelho, enquanto
tenta soltar a respiração. Um barulho elétrico me chama atenção, quando o
objeto é jogado longe, noto que é uma arma elétrica, o choque é interrompido
assim que a arma cai no chão.
― Não ― ofego.
Antes que o corpo de Johnatan caia sobre mim, ele é jogado para
longe.
Zander inspira fundo como se vencesse mais uma batalha e remove o
ponto de seu ouvido, danificando o dispositivo entre seus dedos.
O que me assusta é Johnatan tentando se manter de pé. Seus olhos
procuram por algo, por mim. Atenta ao inimigo, levanto-me com esforço e,
antes que eu reaja contra ele, sinto seu soco em meu estômago, afastando-me
para longe.
Caio no chão e puxo o ar com força, é uma tortura dolorosa dentro do
meu corpo. Tusso, piscando meus olhos lacrimosos ao ver a arma elétrica do
meu lado, pego-a, ignorando a dor, enquanto tento me manter em pé. O
maldito sorriso irônico do homem me enfurece, quando dou por mim, já
estou avançando até ele. Mas, de repente, paro abruptamente assim que uma
parede de vidro maciço potente bloqueia minha passagem.
Solto a arma perplexa.
― Parece que alguém andou treinando. Precisa se esforçar mais ― o
infeliz ironiza, dando-me uma piscadela.
― E está com medo de ser atacado? Por isso me bloqueou aqui? ―
rebato da mesma forma, não permitindo me intimidar. Ele pode notar isso,
mesmo minha voz soando trêmula.
Zander balança a cabeça e puxa a gola de sua blusa escura.
― Trabalho feito ― informa a alguém enquanto caminha até
Johnatan abaixado no chão.
― DEIXE-O EM PAZ! ― grito desesperada ao socar a parede de
vidro.
O homem sorri, atingindo as costas de Johnatan com uma pisada.
Johnatan cai confuso, meus olhos doem com as lágrimas. Logo, sinto o medo
me atingir.
― Claro, Mine! ― Zander responde, pegando outra seringa em seu
bolso. E, como se não estivesse satisfeito, injeta na nuca de Johnatan.
― O que você fez? ― murmuro sobressalta.
Zander sorri, acenando um adeus antes de se afastar.
Soco inutilmente a parede de vidro em desespero, sinto-me impotente
só de ver Johnatan caído no chão, se contorcendo em agonia.
De repente, as luzes se apagam. Paro de bater contra o vidro, dando
passos para trás ao escutar algo como se aspirasse o lugar. Logo, o escuro é
tomado por uma luz avermelhada, apenas no corredor onde estou. Franzo a
testa quando o som se torna mais alto. Viro-me para os lados, confusa e
observo um nevoeiro avermelhado se aproximando. Isso não é nada bom,
penso. Corro pelo corredor em busca de saída, o barulho áspero faz com que
a névoa se manifeste e se espalhe mais rápido em ambas as partes,
bloqueando-me, mas além da névoa, há um vapor que espicha, mesclando-se.
Meus olhos ardem com a química e inspirar aquilo começa a me causar dor.
Com esforço, prendo minha respiração e corro em direção de onde
penso que está o vidro. Assim que entro em contato com a névoa, meus olhos
se fecham, como se estivessem sendo agredidos por agulhas. Em seguida,
meu corpo se choca contra a parede, me fazendo cair para trás. Não ouso
respirar, mas no breve momento em que abro minha boca, fecho-a novamente
sentindo o gosto amargo em meu paladar.
Um golpe ensurdecedor me assusta e escuto o vidro se quebrar à
minha frente. Rapidamente, protejo minha cabeça com os braços, ao mesmo
tempo em que escuto os vidros caírem e algum metal chocar-se contra o
chão, fazendo meus ouvidos zunirem.
― MINE!
O grito potente de Johnatan me chama atenção em algum lugar da
névoa.
― MINE!
Sua voz é uma mistura de raiva e engasgo.
Abro meus olhos para procurá-lo, mesmo sendo atacados pela névoa.
― Aqui... ― digo fracamente e volto a segurar minha respiração.
Sei que a névoa e o vapor são tóxicos, posso sentir, mas fico
atordoada com as fagulhas dentro de mim e em meus olhos.
Vejo a sombra de alguém se aproximar e puxar meu corpo para seu
colo, enquanto envolvo meus braços em seu pescoço. Johnatan parece febril e
respira com dificuldade. Seu corpo trêmulo aperta o meu com força. Acaricio
seus cabelos, sentindo meu coração doer por ele estar se esforçando.
Mesmo cambaleante, Johnatan me leva para longe da névoa.
Estremeço só de pensar na adolescente morta no escuro em algum lugar.
Assim que conseguimos sair do escuro, meus olhos pulsam ao encarar o
corredor iluminado do bar. A música alta faz meus ouvidos doerem e minha
cabeça latejar, finalmente inspiro o ar livremente e tusso em seguida. Quando
afasto meu rosto para olhar Johnatan, eu me surpreendo com seu rosto suado
e os olhos puramente febris. Ele me analisa preocupado e beija meu rosto
com ternura.
― Eu vou cuidar de você ― sussurra, beijando a ponta do meu nariz.
Não entendo sua preocupação ao me olhar.
― Onde estão os outros? ― pergunto.
― Não temos contato com eles aqui ― responde com dificuldade. ―
Temos que ir. Com certeza, no bar há vários deles.
Ele luta para me manter em seus braços e o observo seguir por um
corredor de madeira.
― Acho que não tem saída por aqui ― estremeço quando seus braços
me seguram com força.
― A janela ― aponta com o queixo em tom relutante. Observo a
janela de madeira desgastada à frente, parece travada.
Antes que eu proteste, ele avança seus passos. Agarro-me em seu
corpo, escondendo meu rosto na curva de seu pescoço. Grunho ao sentir a
janela chocar-se e se quebrar em nosso corpo, enquanto Johnatan nos joga
para fora. Em seguida, eu o sinto perder o equilíbrio de seus braços, fazendo
com que meu corpo caia contra as madeiras. Contorço-me no chão com a dor
em meu corpo e inspiro fundo.
― Dinka, estamos... Estamos no fundo ― escuto Johnatan dizer de
forma relutante, e me assusto quando o escuto socar o chão.
Olho para o lado, vendo-o debruçado, contorcendo-se. Em seu ombro
há um caco de vidro encravado, mesmo estando transtornada, consigo me
colocar de pé. Toco em minha testa, vendo o pouco de sangue em meu dedo,
pisco ressentida e cambaleio até ele.
― Johnatan, ― ajoelho-me ao seu lado. Minhas mãos trêmulas vão
até seu ombro. Ele se contorce e grunhe de dor. ― Vai ficar tudo bem, só
fiquei parado para eu retirar o vidro ― peço.
― Fique longe de mim ― seu tom sério faz minha mão parar no ar.
Eu nunca o escutei tão frio, não comigo, não daquela forma.
Sua respiração parece mais pesada.
― Eu não vou deixar você ― asseguro com firmeza, encarando seus
cabelos molhados pelo suor.
Relutante, mas rápida, eu me curvo arrancando o vidro de seu ombro
e o agarro para mantê-lo sentado. O rosnado de Johnatan faz meus pelos
eriçarem.
De repente, sou empurrada para trás. Pisco atônita, encarando chão.
Quando levanto a cabeça, vejo os olhos em chamas me encarando. Não,
aqueles não são olhos do homem por quem me apaixonei.
― Johnatan? ― sussurro, sentindo as lágrimas preencherem meus
olhos, e tento me levantar.
Rapidamente ele avança em minha direção como um leão selvagem.
Desvio-me de seu soco, vendo-o atingir a parede atrás de mim. Sua
aproximação é viril e ao mesmo tempo muito agressiva, posso sentir a tensão
emanar de seu corpo. Assusto-me, pois sua expressão é a mesma de quando
está preste a matar, e traz o mesmo olhar de quando encara seus inimigos, só
que de um jeito muito, muito mais assustador.
Aproximo-me decididamente, erguendo minha mão para tocar seu
rosto suado. Ele a afasta como se fosse uma ameaça, em seguida, agarra meu
pescoço, suspendendo-me contra a parede. Sufoco devido ao aperto.
― Johnatan,... ― tusso com esforço, tentando puxar o ar. ― Por
favor... pare.
― O que você quer de mim?! ― sibila e me suspende ainda mais.
De imediato, já sinto meu sangue pulsar em meu rosto.
Aperto meus dentes em aflição. Aquele não é ele, não é o meu amor.
Não sei o que o maldito Zander fez para Johnatan reagir assim, mas, no
momento, devo pará-lo antes que seja tarde demais. Com a altura, consigo
mover minha perna e atingir seu estômago com o joelho, antes que ele se
curve, ergo meus cotovelos e atinjo sua clavícula com força.
Rapidamente, Johnatan me solta devido ao impacto, mas balança a
cabeça um pouco confuso. Caio no chão, mas logo me coloco de pé, puxando
o ar com força. Johnatan cambaleia para longe, como se estivesse
embriagado, enquanto esfrega os dedos entre seus cabelos, talvez esteja com
dor, e eu o observo preocupada. Logo, seu olhar se fixa em mim, em
reconhecimento.
― Mine? ― chama como se estivesse confuso.
Aceno com a cabeça e aperto meus lábios trêmulos.
― Senhor Makgold? ― de repente, escutamos Cassandra e nos
viramos para vê-la aparecer na entrada do lugar fechado, cheio de entulhos e
madeiras. Algo no rosto de Johnatan a fazer recuar. ― Precisamos de reforço
― comunica, e percebo que é para o ponto que está em seu ouvido.
Johnatan parece conturbado com o que está acontecendo.
― O que foi isso? ― pergunto à Cassandra, confusa com sua reação.
Minha aproximação a faz gritar por cuidado, mas é tarde demais para
sentir o impacto. O chute de Johnatan em meu peito faz meu corpo voar para
longe, chocando minhas costas contra a pilha de madeiras antes de cair. A dor
é imediata, assim como a falta de ar, pisco meus olhos com lágrimas
repentinas e tremo por causa da adrenalina que invade meu corpo.
― Senhor Makgold! NÃO! ― escuto Cassandra disparar horrorizada.
Vejo as madeiras ao me redor serem jogada para o lado até me
encontrar com Johnatan. Rastejo-me para trás e tento me levantar em
tremores, mas ele agarra uma das minhas pernas, arrastando-me pelo chão.
Mesmo com dor em meu corpo, sobretudo em meu peito, consigo golpeá-lo
no joelho com uma das minhas pernas livres, fazendo-o abaixar-se. Quando
se aproxima, ameaça de me atingir, e acerto seu pescoço com um soco para
que se afaste junto com suas tossidas.
Sem hesitar, consigo agarrar seu tronco com minhas pernas e segurar
seus braços com firmeza para mantê-lo imobilizado. Johnatan é um inferno,
movendo-se ferozmente, enquanto anseio para que pare de me atacar. Por
outro lado, não sei de onde vem a força para mantê-lo preso, mas talvez seja
porque uma parte em mim está furiosa com seus ataques grotescos. Sinto-me
como uma serpente sufocando sua presa, tendo-o cada vez mais raivoso,
enquanto rosna contra a força que faço em minhas pernas. Em seu olhar,
mesmo estando fora de foco, noto sua aflição profunda. E é ela que faz minha
garganta se fechar e minhas lágrimas caírem.
― Por favor, pare! ― imploro, mesmo escutando seu rosnado em
protesto. ― Chega! Eu não vou lutar com você. Eu não vou te machucar! ―
asseguro com firmeza e choro quando ele ignora minhas palavras. ― Esse
não é você... ― A tristeza me domina por completo.
Com minha fraqueza repentina, ele se solta. Puxo o ar com força e
soluço. Ao lado, vejo Cassandra se contorcer de dor, caminhando em nossa
direção, em meio à confusão, ela também foi atacada, mas o alvo de Johnatan
sou eu. Quando volta a partir para cima de mim, levanto-me rapidamente e
giro com impulso para chutar seu peito como fez comigo; apesar de ser alto,
miro meu calcanhar diretamente em suas costelas. Ele cambaleia para trás,
absorto.
Choro trêmula ao vê-lo relutante, sinto-me fraca para continuar com
aquilo. Para meu alívio, Dinka e Matt aparecem ofegantes e agarram
Johnatan com força para mantê-lo longe de mim. Depois, sinto o peso tomar
conta e meu corpo cair para trás. Alguém me segura a tempo e encaro
Cassandra, que protege minha cabeça, ela diz algo, mas estou fraca demais
para escutá-la, meus ouvidos parecem tampados. Em seguida, apago
completamente.

Ao despertar, percebo que estou deitada no banco de trás de um carro,


enquanto Jordyn acariciar meus cabelos. Posso ver as lágrimas em seu rosto
corado, sinto-me aliviada de tê-la ali.
― Vai ficar tudo bem ― escuto sua voz distante. ― O que houve
com os olhos dela? ― ela pergunta a alguém.
Olho para o lado numa visão embaraçada, vendo Cassandra dirigir,
mas não escuto sua resposta. Meus lábios se movem perguntando por
Johnatan, só que o esforço me faz voltar para a escuridão novamente.
Algo desconfortável faz meus olhos se abrirem, em seguida, fecho-os
com força. A luz fluorescente próxima ao meu rosto me cega, minhas pupilas
e minha cabeça latejam. Gemo rouca e tento erguer o braço para cobrir meu
rosto.
― Não ― alguém me interrompe, logo sinto a agulha em meu braço.
Franzo a testa ao olhar para baixo. Cassandra afasta a luz e me
observa, tocando meu rosto como se examinasse minhas pupilas.
Observo em volta, deparando-me com paredes de aço, prateleiras
organizadas com frascos e equipamentos de laboratório.
― Colmeia? ― pergunto rouca e pigarreio.
― Sim ― ela responde. ― Como se sente?
Franzo a testa e inspiro. Me encolho ao sentir a dor em meus
músculos.
― Como se estivesse de ressaca, e como se um trator tivesse passado
por cima de mim ou coisa pior ― resmungo.
― Imaginei que estaria assim, mas ficaria pior se não tivéssemos a
atendido a tempo. Tive que sedá-la. Dinka é ótimo em colocar alguns ossos
no lugar, no seu caso não foi necessário, entretanto Nectara é mestra em
massagens, as dores musculares não serão tão desconfortáveis. Por sorte,
você teve apenas lesões ― Cassandra parece orgulhosa. Olho para meu
braço. ― É soro. Foi necessário e já está acabando. Agora, é só descansar e
amanhã se sentirá melhor ― informa, verificando o soro em minha veia.
― Jordyn? ― pergunto rapidamente.
― Ela está bem. É esperta, despistou dois deles assim que conseguiu
sair do cativeiro próximo ao bar ― seu sorriso apertado me deixa
desconfiada.
― Há quanto tempo estou aqui?
Cassandra me observa com cautela.
― Quase um dia! ― espanto-me. ― As horas foram longas...
― Que horas são? ― eu a interrompo.
A mulher olha para seu relógio.
― São quase três da manhã ― eu me alarmo e tento me levantar. ―
Mine, você precisa descansar ― tenta me empurrar para a maca, mas ignoro
suas tentativas.
― É melhor se manter longe de mim, eu preciso me levantar ― digo
com firmeza, sentindo meus nervos se contraírem.
― Você só precisa de repouso ― insiste, e dou de ombros.
Ao me sentar, sinto minha cabeça gira.
― Desculpe, eu só preciso me levantar um pouco, eu acho ― falo em
dúvida.
Ao encarar meu reflexo num espelho próximo dos microscópios, eu
me surpreendo. Estou mais corada, com os lábios um pouco rachados e meu
pescoço avermelhado. O que mais me assustam são meus olhos, estão
vermelhos, com a íris cinza destacada.
― Meus olhos ― murmuro.
― Estavam piores ― Cassandra revela, enquanto tira o soro.
― O que aconteceu? ― observo-a se afastar e jogar o plástico do soro
no lixo.
― Lembra-se dos fundos do bar?
― Sim.
― Antes de chegarmos lá, tivemos que lidar com alguns homens.
Depois daquele inferno, trouxemos você e o Makgold em carros separados.
Ambos estavam fracos, claro, chega um momento que o organismo não
aguenta ― suas palavras me deixam confusa. ― Chegando à Colmeia,
trouxemos você direto para o laboratório e tiramos uma amostra do seu
sangue. O que constou foi que você inspirou um pouco de Guilhotina.
― O quê? ― estranho o nome.
― É uma droga inventada por um cientista da LIGA. São tubos de
vapor tóxico ligado diretamente às correntes de ar. Uma inspirada do vapor e
te leva ao delírio. Ficamos felizes que você não tenha consumido muito. A
droga em grande quantidade, mesmo ela sendo forte o bastante para deixá-la
inconsciente, podem causar sintomas de fraqueza, garganta ressecada, dores
musculares, adrenalina, ataques repentinos, e, principalmente, reações
inusitadas. Por exemplo, teve alguns momentos no carro em que você
gargalhou.
Arregalo meus olhos.
― Eu... ― fecho minha boca, surpresa.
― Sim. Em seguida, seu corpo passou por um processo digamos... de
convulsão. Depois disso, tive que mantê-la sedada até que o efeito da droga
passasse. Em boa parte, o soro ajudou a controlar isso, caso não tivesse,
estaria sofrendo, como se seu corpo fosse rasgado por navalhas. Por isso se
chama guilhotina, as reações pós-delírios fazem você sentir como se seu
corpo fosse decapitado ― a informação me faz estremecer.
Balanço minha cabeça para coordenar meus pensamentos.
― Eu me lembro de que estava numa espécie de geladeira, estava
frio. Lembro-me de tudo, menos a parte da gargalhada. Havia uma névoa
vermelha ― digo perdida em pensamentos.
Cassandra franze a testa.
― Existem pelo menos três fases da guilhotina com reações alteradas.
Pode vir por corrente de ar em tom branco, outro em um espaço mais estreito
em tom vermelho e outra que se dissolve na água ― explica. ― A LIGA
consegue manipular esse tipo de droga e alterar com outras combinações
químicas...
― Espere ― interrompo-a de repente. ― Johnatan. Onde ele está? ―
encaro a sala vazia.
Certo, é nessa parte que Cassandra ainda se mantém cautelosa.
― Ele está em observação ― responde inquieta.
― Onde ele está? ― exijo.
― Mine, é melhor você...
Antes que ela me impeça levanto-me num pulo, ignorando a tontura e
a leve dor pulsante em meu corpo.
Eu olho meu corpo, vendo que estou com um vestido de algodão e
descalça, o chão frio parece aliviar as solas dos meus pés.
― Me leve até ele ― caminho até a saída. ― Agora! ― ordeno.
Cassandra inspira fundo e coloca sua digital para que a porta se abra.
Dou espaço para ela sair primeiro e a sigo pelo corredor de metal. À
nossa frente localizo Shiu se aproximando de uma porta com um tablet nas
mãos. Assim que me vê, fica assustado.
― Eu não acho seja uma boa ideia, Cassy ― diz relutante quando
paramos em frente à porta.
― Eu tentei, mas não é bom discutir ― Cassandra o alerta.
― Abra ― ambos me encaram inseguros, isso me enfurece. ― É
melhor abrir ou eu juro...
― Tudo bem, tudo bem ― Shiu se apressa, colocando sua digital.
A porta de aço se abre para uma sala com paredes escuras, um bip
ecoa pelo lugar. Em algumas das telas dos computadores, há imagens
cardíacas, e outra com um esqueleto de um corpo. O modelo do corpo mostra
algumas partes amareladas, outras avermelhadas e alaranjadas. Dinka,
sentado em sua cadeira, se levanta de repente assim que me vê, Matt ao lado
também se surpreende.
― Não era para deixá-la sair ― Matt repreende e se volta para mim.
― Mine, eu aconselho você a comer algo e ir descansar.
― Foi inevitável ― escuto Cassandra atrás de mim.
Do lado oposto, de frente para eles, há uma única sala clara. Os
detalhes me lembram uma sala de interrogatório. Eu me aproximo do vidro
assustada.
― O que vocês fizeram com ele? ― estremeço violentamente.
― Estamos tentando mantê-lo no controle ― Dinka explica.
Johnatan se encontra apenas com as calças da noite anterior. Em seu
tronco há pequenos pontos escuros, os quais sei que é para monitorar as
reações do seu corpo na cabine onde me encontro, mas o que me deixa
perplexa são as veias arroxeadas expostas em sua pele. Há também lesões
levemente arroxeadas e, em seu ombro, foram dado pontos.
Eu me encolho ao observar seus braços abertos, presos pelos pulsos,
assim como sua cintura e pernas, numa parede de aço com travas. Em cada
uma de suas mãos, a única reação que vejo é seu aperto forte em cordas
grossas. Sua cabeça permanece baixa e sinto o aperto em meu peito por não
poder ver seu rosto.
― Ele não pode nos ver, nem mesmo ouvir ― escuto Shiu atrás de
mim.
Viro-me para eles.
― Lembra que você inspirou o vapor? ― Cassandra diz de forma
delicada, aceno. ― O Makgold inspirou muito mais, e, pior, teve uma boa
quantidade injetada em seu corpo. Por isso que ele teve aquele ataque, bem
mais que você. Penso que talvez seja uma droga combinada com a guilhotina.
Olho-a chocada.
― Praticamente, 10 ml da droga tóxica na veia que possui um agente
poderoso causando tal efeito ― Matt explica e sinto o ódio presente em sua
voz por tal ato.
― Estamos tentando controlar. Seus batimentos estão mais acelerados
e a corrente sanguínea também, isso é fora do comum. A temperatura do seu
corpo é a parte mais difícil de controlar, tirando as reações que ele possa estar
sofrendo internamente ― Dinka examina, virando-se para a tela do seu
monitor.
― O soro... ― forço minha voz a sair.
― Nem o soro está sustentando, muito menos a sedação. Não há nada
que faça passar o efeito. ― Cassandra suspira.
― Está difícil acalmar a fera ― Shiu dispara e se encolhe com os
pares de olhos disparados em sua direção.
De repente, nós nos assustamos com os bips acelerados.
― Que droga! ― Dinka pragueja.
Meu coração dispara e me viro assim que escuto o grito de Johnatan.
A voz forte e potente parece rasgar sua garganta. Vejo seus dedos ficarem
brancos ao apertar as cordas, como se esforçasse o máximo para se soltar. Os
bips acelerados me deixam ansiosa, giro desesperada, olhando os monitores.
Na tela de estrutura do corpo, os lugares avermelhados e alaranjados
começam a se expandir, principalmente na área da cabeça.
― O que está acontecendo com ele? ― observo tanto a tela quanto
Johnatan.
― A temperatura do corpo está subindo e os batimentos também ―
Dinka informa e olha para Cassandra. ― Busque um sedativo ― pede.
― Não vai funcionar... Alucinações ― Matt dispara exasperado e
olha para Johnatan. ― Ele está à beira da loucura.
Sinto-me impotente e desesperada só de escutar seus gritos. Quando
localizo a entrada para a sala, corro até a porta antes que alguém me detenha
e, imediatamente, entro, dando graças aos céus por não precisar de digital.
Encaro o espelho escuro em alerta, sabendo que os outros me
observam por ali e me viro para Johnatan. Ao me aproximar, sinto o calor do
seu corpo me envolver. Sua pele está corada e suada, mas, de perto, as veias
arroxeadas me assustam. Ergo minha mão para tocá-lo e me afasto
sobressaltada quando escuto Matt no interfone.
― Mine, volte para a cabine ― pede.
Ignoro-o. Não posso me afastar, não vendo Johnatan daquele jeito,
com a respiração acelerada e pesada, enquanto suga o ar e o solta com força.
Não posso virar as costas escutando seu gemido baixo de angústia, como se
desejasse sair do aperto. Aquilo faz meu coração doer, vê-lo naquele estado é
um tormento para mim. Quando ele tenta se contorcer, esforçando-se para
sair, faz com que as veias fiquem cada vez mais saltadas. Estremeço.
― Johnatan? ― soo trêmula e carinhosa.
Rapidamente engulo meu nervosismo assim que seus esforços são
interrompidos ao me escutar.
Sem hesitar ergo minha mão para acariciar seus cabelos macios e
molhados pelo suor. Percebo que ele para de respirar e me aproximo ainda
mais para correr meus dedos por seu rosto. Sinto sua barba de um dia pinicar
minha palma, enquanto inspiro fundo ao tentar conter minha emoção.
De repente, sua cabeça se ergue e afasto minha mão quando seu grito
é disparado em minha direção. O pânico invade meu peito com o que
presencio. Não me assusto com o grito, nem mesmo com seu rosto corado e
os dentes à mostra, como se estivesse com dor, mas sim com os olhos azuis
em chamas, destacados pelo vermelho de puro sangue na região branca de
seus olhos, assim como as pequenas veias escuras entre eles.
― MÃE! ― ele grita em aflição, como se estivesse de volta ao
passado. ― SOLTE-AS! SOLTE-AS! MÃE!
Choro sem conseguir segurar meus soluços altos.
― Não é real. Não é real! Johnatan, me escuta. OLHE PARA MIM!
― tento acalmá-lo, mas me desespero. ― Por favor...
Eu vejo a dor, vejo a tortura em seus olhos. Presencio as lágrimas
escorrendo por sua face, assim como o medo que o assombra, mesclando-se
com sua agonia.
Eu sinto sua dor em mim, mas não é nada comparado com o grito
forte que rasga meu peito.
7 – VISITA SURPRESA

― Mine, saia! ― escuto a urgência de Matt novamente.


Respiro com dificuldade e me aproximo de Johnatan sem hesitar em
tocar seu rosto. Ele tentar se afastar, encolhendo-se aos gemidos, como se
estivesse apanhando.
Olho para trás, para o espelho, em desespero.
― Façam alguma coisa! ― imploro fracamente.
― Thessy... ― ele murmura o nome da irmã com dor.
Johnatan aperta as mãos nas cordas, e toco em seu rosto. Seu olhar
perdido está cheio de amargura, as lágrimas caem sem parar. Quando ele dá
outro grito agonizante, não ouse me afastar.
― Não é real ― sussurro para ele. ― Olhe para mim...
― Mine! ― ignoro Matt e mantenho minha atenção apenas em
Johnatan.
― AMOR, EU ESTOU AQUI! ― grito quando sua agonia retorna
com mais força.
Imediatamente envolvo meus braços em seu pescoço, grudando meu
rosto contra o seu.
― Eu estou aqui. Nada disso está acontecendo. Pode me escutar? Por
favor, olhe para mim ― imploro aos choros por sua atenção.
Seu corpo luta para sair dali. Quando acaricio sua face, vejo sua testa
franzir, mas logo se afasta, como se meu toque o queimasse. Sua respiração
abafada aquece meu rosto.
― Não tenha medo ― sussurro apenas para ele. ― Tudo vai ficar
bem. Ninguém vai te machucar ― asseguro, afastando suas lágrimas, assim
como seu suor. ― Lembra de mim? Da sua Roza? ― pergunto com carinho.
Sinto esperança quando seus olhos piscam em reação.
― Mine, continua ― escuto alguém pelo interfone e reconheço a voz
de Shiu.
― Roza... ― Johnatan arfa angustiado.
― Sim, sou eu ― sorrio acenando.
― Roza ― repete sugando o ar.
― Isso ― digo trêmula ao acariciar seu rosto.
Johnatan pisca os olhos novamente, como se estivesse dopado e
atordoado.
― Roza... Fogo ― grunhe.
Engulo meu nervosismo.
― Não há fogo aqui ― tranquilizo-o.
― Elas estão mortas ― as palavras apertam meu coração. ― Eu as
deixei no fogo.
― Não pensei mais nisso ― abraço-o com força. Em seguida, beijo
seus lábios úmidos.
Sinto seu corpo relaxar aos poucos e seus lábios se fecharem contra os
meus, correspondendo meu beijo. Ele inspira meu perfume em
reconhecimento, tornando nosso momento mais intenso.
Quando afasto meus lábios, seus olhos se abrem, fixando-se em meu
rosto. Meu coração acelera, e o deixo se aproximar para sentir meu perfume
novamente.
― Como ele está? ― pergunto, sabendo que os outros podem me
ouvir.
― Melhor do que o esperado ― escuto a voz chocada de Shiu.
Sorrio aliviada.
― Quer que eu volte a beijá-lo? ― observo o sorriso torto de
Johnatan aparecer.
― Eu não quero só beijá-la. ― Johnatan diz rouco. Seu sorriso
transmite sua malícia. Aquilo também me domina.
Alguém pigarreia.
― É proibido preliminares, se é que vocês me entendem ― Dinka
zomba, e escuto risadinhas ao fundo.
Johnatan continua fixo em mim, mesmo com os olhos vermelhos; ele
parece estar num sonho. Sorrio, acariciando seus cabelos. Seu rosto se vira
para inspirar o perfume em meu pulso.
― Você cheira como ela ― sussurra.
Me ilumino ao me lembrar dessas palavras meses atrás.
― Como ela quem? ― é impossível esconder minha emoção.
― Como uma rosa ― responde suavemente, enquanto desliza seus
lábios em minha pele. ― Minha Mine. Eu não posso feri-la, preciso protegê-
la.
Meu corpo estremece, não quero que ele perca o foco, mas parte de
mim se agita com seu cuidado.
― Por que você tem que protegê-la? ― pergunto, vendo-o inspirar e
expirar com tranquilidade.
― Porque ela é a única. Porque eu não tenho mais ninguém, somente
ela ― declara em tom sonhador ― É meu bem mais precioso. É a única coisa
boa que existe na minha vida...
Choro ao escutá-lo tão suave, tão intenso, tão sozinho, como se tudo à
sua volta estivesse perdido, mas, de certo modo, sou a única que lhe resta.
― Eu amo você ― digo com fervor e beijo seu rosto com ternura.
Johnatan parece aliviado. Logo sinto sua cabeça pesar em minhas
mãos. Afasto-me preocupada, vendo seus olhos se fecharem.
― Ele apagou ― Matt diz ao invadir a sala, deixando-me confusa. ―
A droga é forte e ainda está em seu sangue, mas você fez um bom trabalho.
Agora, vamos deixá-lo descansar. Espero que o soro o hidrate.
Observo Matt aproximar o cateter da veia de Johnatan.
― Não vai deitá-lo?
― Não é uma boa ideia, não sabemos como irá reagir ao acordar ―
Matt responde. ― Ele ficará bem e você também precisa descansar.
Não quero discutir essa decisão, por isso, resolvo me afastar depois de
beijar Johnatan.
― Eu volto, prometo ― sussurro apenas para ele.
Quando volto para cabine, encontro Cassandra à minha espera e,
depois de tantas emoções, eu não posso lutar para ficar. Sigo-a em silêncio
pelos corredores, não fazendo ideia de para onde vou, meus pensamentos
estão apenas ligados a Johnatan, até que a escuto tocar em seu nome.
― O que tem ele? ― pergunto sobressalta.
― Eu disse que aqui fica o quarto de Johnatan ― ela aponta,
aproximando-se da porta de aço.
― Oh...
― Enquanto esteve inconsciente, peguei suas digitais para registrá-la,
espero que não se importe ― Cassandra revela, e franzo a testa quando se
afasta no identificador.
Aproximo-me, colocando meu indicador na tela. A porta de aço se
abre imediatamente.
― E, em se tratando de urgência, também deixei uma refeição para
você na mesa de café da manhã ― diz apontando para o local que mal noto.
― Bem... nos vemos amanhã ― escuto-a do lado de fora e, assim que se
afasta, a porta de aço se fecha.
Caminho pelo quarto estreito impressionada. A decoração é
completamente diferente da mansão. É como um túnel de vidro debaixo de
um lago azul ou um aquário sem peixes. A cama enorme fica no final do
quarto, há também poltronas estofadas, cômodas, uma extensa tela plana
embutida na parede à frente e um aparelho de som. Do lado inferior, localizo
a mesa de café da manhã convidativa, com a refeição deixada por Cassandra,
e decido comer antes que eu enfraqueça de vez.
No banheiro não há porta e sigo até ele, olhando meu reflexo no
espelho. Fico feliz pela marca do chute de Johnatan deixar apenas minha pele
avermelhada, amanhã estará melhor, exceto, talvez, algumas marcas em
minha cintura e em meus quadris. Suspiro e tiro a roupa, seguindo direto para
o chuveiro.
A água quente alivia a tensão em meu corpo. Quando termino meu
banho, eu me enrolo na toalha e volto para o quarto a fim de beber a água e o
comprimido deixados em cima da mesa. Depois de secar meu corpo e meus
cabelos, rastejo-me pela cama, cobrindo meu corpo nu com a coberta macia.
Mesmo o quarto sendo lindo, me parece solitário sem ele por perto.
Eu observo o cenário à minha frente até sentir meu corpo cansado e minhas
pálpebras pesadas, que me levam a um sono profundo.

Ao despertar me distraio com o teto azul claro, é uma bela distração.


Ainda penso que cenário dou para aquilo, talvez o certo seja uma espécie de
barco de vidro no fundo do mar. Em seguida, meus pensamentos vão direto
para Johnatan, imaginando-o no quarto sozinho, perguntando-me se dormia
ou apenas observava a beleza que criou em seu espaço. Sento-me confusa ao
ver algumas sacolas no banco estofado.
Com um suspiro, levanto-me da cama macia e sigo até as sacolas. Ao
abri-las, vejo lingerie, algumas roupas escuras, calçados da mesma cor e um
nécessaire, pego o estojo, seguindo direto para o banheiro de aço. Depois do
banho, visto a lingerie cor de pele, a calça skinny, suéter decote V, jaqueta de
couro e bota de cano curto com salto. Reviro os olhos para o indivíduo que
escolheu as peças, mas, de certa forma, eu me sinto bem, e os saltos não são
desconfortáveis.
Com um suspiro, aperto meu colar de rubi antes de sair do quarto e
caminho em direção à porta, colocando minha digital.
De volta ao mundo de aço, penso com ironia ao caminhar pelo
corredor até chegar a sala onde se encontra Johnatan. Fico cada vez mais
surpresa pelo lugar ser enorme e devo concordar por ser chamado de Colmeia
embora eu prefira “Formigueiro”.
No meio do caminho, encontro Cassandra que sorri com simpatia.
― Acordou cedo ― diz surpresa. ― Fico feliz que as roupas tenham
servido em você ― analisa, impressionada consigo mesma.
― Obrigada. Estou indo ver Johnatan ― digo a fazendo piscar.
― Não quer tomar o café da manhã primeiro? ― pergunta um pouco
preocupada.
Sinto-me relutante em aceitar, mas sei que tenho que me manter forte,
por Johnatan. Aperto meus lábios e aceno, fazendo-a sorrir.
― Vamos! ― uma parte de mim sente que ela quer me levar para
longe.
Acompanho-a até a cozinha espaçosa, no centro há uma mesa oval
repleta de comida, como se me desse um alegre “bom dia”, com frutas, sucos,
panquecas, bacons e omeletes. Meu estômago ronca com o aroma.
― Onde estão os outros? ― acomodo-me em uma das cadeiras.
― Dinka, Matt e Shiu estão com o senhor Makgold. James e Jordyn
foram para casa, Nectara deu descanso a eles e está treinando sozinha. Peter
teve que entregar alguns relatórios para a empresa, a pedido de Matt, depois
virá trazê-los para que você veja a situação ― informa, enquanto se junta a
mim no café da manhã.
― Johnatan está vivo, então, não precisa de mim para isso ―
encolho-me e beberico meu suco de laranja.
― Mas você é a responsável. Peter deu a desculpa aos outros na casa
de que nesses últimos dias você está hospedada no hotel, enquanto resolve
alguns assuntos pendentes das empresas com Matt. E o senhor Makgold está
indisposto ― Cassandra informa, e sinto meu coração se apertar por mentir
para Donna. ― Segundo Peter, seu pai pareceu não gostar muito da ideia,
ainda mais com os ataques que viraram notícia no dia seguinte, mas nada que
fosse assustá-los.
Arregalo meus olhos.
― Meu pai apareceu por lá? ― pergunto.
― Sim. Peter disse que ele sente sua falta ― murmura enquanto
come.
― Eu sei ― digo inquieta. ― Irei vê-lo amanhã.
― Por que não hoje? ― Cassandra pergunta, e engulo meu café com
força.
― Porque quero ficar algum tempo com Johnatan ― respondo com
firmeza.
― Tudo bem, mas acho melhor ir para casa para que não desconfiem
ainda mais da sua ausência ― Cassandra opina, fazendo-me encará-la. ― E
você pode vir mais tarde.
Balanço minha cabeça, tenho que concordar, seria doloroso demais
para Donna saber sobre Johnatan, principalmente com ele nesse estado.
Suspiro.
― Você tem razão.
― Perfeito ― ela sorri e me observa. ― Agora coma.
― Está parecendo uma babá ― resmungo, vendo pelo canto do olho
seu sorriso se abrir pela primeira vez.
Encaro meu café e volto a comer antes que ela me faça engolir à
força.
Depois do café, Cassandra me deixa sozinha para ir até Johnatan, ao
chegar à porta, coloco minha digital e entro na cabine. Matt e Dinka ficam
surpresos e acenam, dando-me um bom dia. Olho para Johnatan pelo vidro,
sua cabeça continua abaixada e, para meu alívio, as veias em seu corpo estão
desaparecendo. Quando ouso entrar em sua sala, alguém me interrompe.
― É melhor não, Mine ― Matt alerta.
Olho-o fixamente.
― Como?
― Ele teve mais um ataque. Estávamos começando a tirá-lo quando
acabou acertando Shiu. Não tivemos outra escolha, a não ser o deixar preso
― Dinka explica infeliz.
Aperto meus dentes para controlar a tensão em meu corpo.
― A temperatura do corpo ainda não baixou, mas os batimentos
cardíacos estão voltando ao normal aos poucos, exceto quando volta a ter os
ataques ― esfrega os olhos parecendo cansado.
― Quantos ataques ele teve desde que sai? ― pergunto, observando
seu monitor.
― Com essa... Dois. ― Dinka responde, e sinto meu coração se
apertar.
― Até quando vai durar a recuperação dele? ― viro-me para Matt.
― Presumimos que por mais dois ou três dias. ― responde com um
suspiro. ― Não podemos soltá-lo até termos a certeza de que está bem e
falando conosco diretamente ― Matt explica, e observo Johnatan puxar o ar
com força.
Balanço a cabeça e ignoro os protestos ao entrar na sala. Caminho até
Johnatan e não me intimido em tocar em seu rosto. Ele ergue sua cabeça em
ameaça e abre seus olhos, fico ainda mais aliviada ao analisá-los, o vermelho
sangue está sumindo aos poucos, isso me leva a crer que está melhorando.
Johnatan rosna para mim quando acaricio seu rosto, meus olhos se
enchem de lágrimas, e sorrio para ele ao encará-lo intensamente.
― Oi! ― cumprimento timidamente e me aproximo para beijar sua
bochecha com amor. ― Você vai ficar bem.
Johnatan se afasta do meu toque e vira seu rosto, como se estivesse
com repulsa, seu gemido de dor faz meu coração se apertar.
― Mine, ele pode ter mais um ataque ― escuto Dinka e suspiro com
tristeza.
― Só um segundo ― digo, sabendo que ambos estão me observando.
― Seja breve ― Matt pede, e balanço minha cabeça antes de voltar a
olhar para Johnatan.
Deslizo minhas mãos por seu peito, sentindo-o quente.
― Johnatan, olhe para mim? ― peço, vendo seus olhos me encararem
com frieza. ― Sou eu, Mine. Sua Roza ― sussurro, notando sua testa perfeita
franzir. ― O que você está pensando? O que você está vendo?
Seus olhos em chamas me observam como se eu fosse sua inimiga.
Engulo em seco ao pensar em Shiu sendo atacado por ele. Johnatan olharia
para qualquer um como ameaça, assim como foi com Cassandra e os outros.
― Minha mãe... ― Sua voz sombria me tira dos pensamentos. ―
Minha irmã. Os homens invadindo minha casa. Vocês invadindo minha casa.
Vocês torturando, agredindo, abusando. Vocês me mantendo preso entre
socos e chutes. Me mantendo longe delas e eu não consigo salvá-las. Eu vejo
vocês disparando suas palavras imundas sobre elas, e, não satisfeitos, me
fazem encarar o horror diante dos meus olhos! E isso se repete. Repete.
REPETE! ― Johnatan grita, querendo avançar para mim, choro.
― Mine, por favor ― escuto Matt e sei que ele entrou na sala, mas
me recuso a sair.
― Não queremos machucá-lo. Estamos tentando te ajudar ― digo em
desespero.
― Se estão querendo me ajudar, por que não me deixam salvá-las?
Mesmo com a casa em chamas, por que não me deixam voltar?! ― Johnatan
dispara seu ódio.
Meu coração dói por vê-lo tão vulnerável.
― Não é real, é apenas uma lembrança. É isso que seu pai quer fazer
com você, não pode permitir que isso te atinja ― imploro e sinto a mão de
Matt em minhas costas.
― Mine, vamos. É em vão, ele está em uma ilusão do que foi real e
do que não é ― Matt insiste ao me puxar, e me afasto para tocar no rosto de
Johnatan.
― Não me toque! ― ordena com fúria, e o ignoro.
― Olhe para mim! ― exijo com firmeza. ― Eu sou sua Roza, você
não pode ter esses pensamentos. Johnatan, me escuta! ― minha voz sai alta
quando o sinto me ignorar. ― Eu não sou um deles, por que não leva seus
pensamentos num lugar bom, onde você foi feliz...
― Os batimentos estão aumentando! ― escuto Dinka disparar pelo
interfone.
― Por favor, escute ― peço e me aproximo para sussurrar junto ao
seu ouvido. ― Donna, Ian, Jordyn, James, Peter, Hush, Sid, Lake, Mine...
todos nós sentimos sua falta. Tenta se lembrar e volte.
Respiro com dificuldade, enquanto envolvo meus braços em seu
pescoço para abraçá-lo. Seu nariz inspira o perfume em meus cabelos e me
afasto, dando-lhe um beijo em seus lábios.
― Apenas se lembre ― sussurro em seus lábios antes de ir, vendo
Matt com a porta aberta para que eu saia.
O bip na cabine me deixa em alerta, e seco minhas lágrimas com
força. Mesmo com o descontrole em seu corpo, nenhum grito ou reação vem
de Johnatan, somente vejo suas mãos se apertando com força até ficarem
brancas.
― Mine, só pedimos que não tome mais essa atitude, pode ser difícil
para você, mas também é para nós ― Matt me repreende.
― Não me diga o que devo ou não fazer. E o que fez por ele até agora
além de mantê-lo preso, controlando as reações do seu corpo? ― disparo
minha irritação.
― Eu entendo seu nervosismo, mas não há nada que possamos fazer
aqui, Mine. ― diz com um suspiro.
― Então, deve pensar em alguma forma ― surpreendendo-o. ― Se
você teve a capacidade de detectar a droga em seu corpo e as reações que a
mesma apresenta, tem a capacidade de criar algo além disso ― digo com
firmeza, fazendo-o piscar mais rápido.
― O que quer dizer? ― pergunta confuso.
― Quero dizer que você e os outros podem criar algo maior do que a
LIGA possui. Comece a fazer experimentos, os quais a máfia jamais seria
capaz de criar ― sinto meu sangue ferver por tal obviedade.
― Não é tão simples assim...
― Nada é simples, Matt, você sabe disso. Aqui temos Dinka e
Cassandra que podem mantê-lo informado. Não me venha dizer que o
laboratório de vocês não tem equipamentos para isso ― digo tendo a atenção
de Dinka.
― Bem... ― Dinka pigarreia e coça a nuca. ― Vamos precisar de
cobaias.
Dou um sorriso forçado para ambos.
― Ótimo! Vocês têm a máfia para isso. Criem e injetem ― ordeno
entredentes e saio da cabine.
Caminho até a entrada equipada de computadores, onde encontro Shiu
com uma bolsa de gelo próxima ao lado direito do rosto.
― Olá, Mine ― cumprimenta com um sorriso apertado.
― Sinto muito pelo o que houve...
― Isso aqui? Eu juro que foi o pior soco que já levei ― resmunga.
― Imagino ― aceno relutante. ― Pode me manter informada sobre
Johnatan? Com certeza, você tem meu número ― ele acena.
― Pode deixar, mas se está pensando em ir embora agora, te adianto
que Peter ainda não chegou ― Shiu informa.
Parte de mim não quer se afastar de Johnatan, mas imaginá-lo preso,
tendo as lembranças de volta, como se estivesse revivendo o passado, faz
meu sangue ferver e meu ódio por Zander aumentar.
Sou distraída quando noto a aproximação de Nectara na sala.
― Parece nervosa, Mine ― observa.
― Você não faz ideia.
― Aprecio isso ― dá de ombros, vestindo seu casaco. ― Estou de
saída, Shiu. Localizei um deles em uma lanchonete, não posso perder a
oportunidade. Me rastreie e nos comunicamos pelo celular ― informa.
Franzo a testa.
― Um deles, você quer dizer a LIGA? ― minha pergunta chama sua
atenção.
― Sim ― Nectara acena com um sorriso.
Ergo minha sobrancelha e balanço minha cabeça ao pensar em uma
ideia.
― Pode me dar uma carona até em casa? ― peço, surpreendendo-a.
Shiu nos observa perplexo, com a bolsa de gelo grudada em seu rosto.
Nectara me observa por um momento.
― Tudo bem ― suspira e a sigo depois de me despedir de Shiu.
Na oficina de carros, a mulher escolhe um automóvel escuro estilo
Porsche. Entro no carro, agradecida pelas janelas serem fumês. Ela dirige por
um corredor de aço até uma parede fechada, antes que o aço se abra, digita
um código de desbloqueio. A luz do dia me faz piscar.
Não seguimos pelo estacionamento de lixos amontoados, e sim por
uma esquina que vai direto para a rua principal. O lugar onde a Colmeia se
localiza é indiferente, como se fosse um simples depósito abandonado, caso
alguém chegue a ver apenas o exterior.
― Agora me diga, aonde quer ir? ― Nectara dispara ao acelerar o
carro.
Encaro a estrada pensativa.
― Road Bar ― respondo, sei que Johnatan me mataria caso eu
voltasse lá, mas imaginar sua dor faz meu sangue ferver.
Imagino o que a LIGA fez com ele, como ela pode controlar seu
corpo com lembranças tão obscuras?
― E por que está confiando em mim para levá-la? ― Nectara
pergunta. Fico feliz por ela não estar tentando me manter longe.
― Se bem me lembro, você não é o tipo de pessoa que deixa as coisas
para trás ― observo-a encarar a estrada com um leve sorriso irônico.
― O que pretende fazer por lá? ― pergunta.
― Chega de se esconder. Sei que Johnatan está cansado disso e, se
todos vocês estão com ele, a LIGA deve temer ― desabafo ao me lembrar
das palavras de Johnatan: "por que não me deixa salvá-las?". ― Eles querem
seu medo, eles querem dominá-lo, querem tudo que Johnatan possui. Vocês
se aliaram, mas há também aqueles que escaparam, assim como Cassandra e
Dinka, não é? Pode ser que... não sei, que possam nos ajudar...
― Sim ― Nectara me interrompe. ― Há alguns deles como aliados,
mas é preciso ter cuidado para não ter nenhum traidor, com isso é feito uma
pesquisa no perfil do membro fugitivo, e são só com os foragidos, muitos
preferem não se envolver. Por outro lado, associar alguém direto da máfia é
arriscado, porém as propostas de Johnatan Makgold são claras, não envolve
bens e nem famílias. E o membro tem o direito de entrar e sair quando quiser,
desde que o segredo seja guardado ― explica.
― Talvez muitos da LIGA estejam seguindo por que serem forçados.
Talvez haja uma parcela dali que se importa com suas famílias ― reflito.
― Provavelmente, poucos ― diz, e a observo se aproximar do Road
Bar.
Ela estaciona e encaro a entrada vazia, assim como o estacionamento.
De dia, o lugar não funciona, mas, com certeza, deve ter alguém
trabalhando na limpeza.
― Vamos ― chamo, mas, antes de sair do carro, Nectara me
interrompe.
― Espere! ― curva-se para pegar algo no porta-luvas. ― Pegue, não
queremos deixar rastros.
Ela me passa um par de luvas de couro, eu as coloco, e saímos do
carro, observando o estacionamento. Caminhamos até o bar ouvindo o
barulho de uma ferramenta. Deixo Nectara seguir à minha frente e me
surpreendo ao vê-la segurar um bastão médio escuro.
Assim que entramos em silêncio, escutamos apenas o barulho da
furadeira. O lugar está uma bagunça, há bebidas e copos jogados por toda a
parte. O odor faz meu nariz franzir enojado. Logo à frente, reconheço a
mulher que caiu aos meus pés na noite do ataque. Ela está de cabeça baixa,
trabalhando com as cadeiras e algumas mesas, ao mesmo tempo que traga seu
cigarro. Nectara pigarreia chamando atenção da mulher que para o que está
fazendo, o som que sai de seus lábios revela seu desconforto. Reparo que
Nectara mantém o bastão escondido em suas costas e permaneço escondida
atrás dela.
― Estava demorando, não? Olha, eu já fiz meu trabalho por vocês,
não há mais nada que possam fazer por aqui. Digam ao Mestre que estou
limpando as provas ― a voz rouca da mulher me chama atenção, soa mais
firme do que na noite anterior. ― E espero que tenha trazido meu dinheiro,
então, coloquem sobre o balcão e deem o fora.
― Não há dinheiro ― Nectara responde com sarcasmo.
― Como não há dinheiro? É uma boa quantia do acordo ― escuto a
ferramenta ser jogada sobre a madeira. ― Os homens da LIGA estiveram
aqui para a emboscada. Atraímos o filho do Makgold como prova de que
continuava vivo, e estava com sua vadia, o que facilitou nossa operação. Só
que não esperávamos por suas companhias, e, mesmo não o capturando,
comprovamos que o infeliz está vivo. Caramba, imagine pai e filho juntos!
Mas só há um problema... O homem que estava obcecado em encontrá-lo
queria matá-lo ― a gargalhada da mulher faz meus punhos cerrarem ao me
lembrar de Zander.
Quando saio de trás de Nectara, sua gargalhada é interrompida por
engasgos. Seus olhos se arregalam, enquanto observo suas roupas sujas e os
cabelos de palha amarrados num coque mal feito.
― Você não pensou que éramos da LIGA, pensou? ― a pergunta de
Nectara assusta a mulher.
― Olá, docinho ― imito-a com ironia, assim como ela me disse na
noite anterior.
8 – AVISO PRÉVIO

― Que droga! ― a mulher murmura nervosa e se prepara para correr.


Imediatamente, pego a faca na mesa ao lado e arremesso, acertando a
mão da mulher, que se prende contra a parede de madeira. Ela gritar de dor e
tenta tirar a faca atravessada em sua mão.
― Bom arremesso ― Nectara elogia, surpresa, antes de se aproximar
da mulher.
― Eles não me disseram que Makgold tinha companheiros... ― a
velha grunhe, mas é interrompida quando Nectara bate seu rosto contra a
parede de madeira.
Noto uma bolsa gasta em cima de uma cadeira. Pego-a, encontrando
sua carteira.
― Margaret Lourdes Newton ― leio sua identificação. Em seguida,
encontro um celular.
Uma foto gasta de uma família me chama atenção, Margaret está entre
eles. A fotografia é antiga, a mulher jovem sorri ao lado de duas crianças e
um homem negro e alto.
― Bela família ― digo depois que Nectara arranca a faca na mão de
Margaret, e a empurra contra a cadeira próxima.
Ela geme de dor, seu nariz sangra sem parar, os olhos sombrios agora
estão fixos em mim. Como um teste para ver se há um pouco de humanidade,
mostro a foto para ela.
― Estão mortos ― diz com frieza. Nectara a mantém presa na
cadeira.
― A LIGA os matou? ― investigo.
Margaret balança a cabeça, rindo roucamente.
― Eu os matei há muitos anos ― responde sem arrependimento. ―
Antes que eu fosse presa, a LIGA conseguiu afastar as provas que me
incriminavam ― gargalha.
Céus! Sinto meu estômago revirar e coloco a foto no lugar.
― Há quanto tempo trabalha para a LIGA? ― pergunto bruscamente,
interrompendo seu divertimento.
― Muito antes de você vir ao mundo garota ― retruca.
― E qual é o ponto de encontro dos membros? Principalmente o do
seu Mestre Charlie Makgold? ― não consigo disfarçar meu interesse,
Nectara também quer saber.
― Quem deu o sangue à LIGA e é fiel a ela, jamais quebra um
juramento. ― Margaret diz num tom frio em defesa a Charlie.
― Tudo bem ― ergo a sobrancelha com censura. ― Então, por que
querem tanto Johnatan Makgold vivo?
O sorriso de Margaret é triunfante.
― Esse homem já deu muitos danos à LIGA. Muitos desejam sua
morte, mas meu Mestre quer fazê-lo pagar pessoalmente e diante de todos nós
― sua reverência maníaca me irrita.
― E vocês o torturam para que ele enfraqueça? ― Nectara rouba
minha fala, e observo.
― Ah! É apenas o começo. Zander é o mais obcecado. O Mestre
aprecia sua disposição para o próximo ataque ― Margaret me observa
sorrindo.
Olho para Nectara e depois para a mulher repugnante à minha frente.
― Onde será o próximo ataque? ― pergunto atenta.
― Acha mesmo que vamos dizer? Hum! Estamos sempre coletando
rastros para atingir seus pontos. É assim que agimos. Com isso, estaremos
dominando o mundo.
Rolo os meus olhos perante seus sonhos absurdos.
― Vocês não pensam em suas famílias, em que amam? ― fico
perplexa, vendo a obsessão pela LIGA em cada gesto e em cada palavra.
― O Mestre sabe que precisamos cortar raízes, ele aprecia isso. Não
nos importamos com poucas coisas, temos visões além de tudo, temos nosso
orgulho e vivemos para servi-lo ― sorri. ― Ele é o exemplo, era assim para
ele desde o início. O que você possui em riquezas é o que te faz ser
afortunado, isso sim começa a ser parte de você, é a sua família e devem
temer a ti.
Suas palavras me chocam, é como se estivesse recitando uma oração.
Nectara não pensa duas vezes ao chocar a cabeça de Margaret contra a mesa,
mantendo-a pressionada. Quando a japonesa puxa seu bastão aciona uma
lâmina, dando forma a uma espada, aproxima-a da garganta da mulher.
― Se não nos disser onde encontrá-lo, seu Mestre terá sua LIGA
destruída pouco a pouco ― Nectara alerta com repulsa.
― O que vão fazer? Me matar? ― Margaret zomba. ― Eu jamais
quebro meu juramento.
― Essa é a coisa mais ridícula que eu já ouvi ― disparo com desdém.
A raiva passa pelo seu rosto, se seus olhos pudessem matar, eu já
estaria morta.
― Tenha certeza de que quando colocarem as mãos em você, sofrerá
mais do que imagina. Vai ser um presentinho para eles ― grunhe quando
Nectara puxa seu cabelo, expondo ainda mais seu pescoço contra a espada.
Ignoro suas palavras voltando a olhar a foto em sua carteira, depois
para as ferramentas que estava utilizando minutos atrás.
― Como você matou sua família, Margaret? ― pergunto.
― Assim como todos da LIGA, eu tenho minhas especialidades ―
sua petulância me tira do sério.
Noto Nectara acenar para qualquer atitude que eu tome a seguir.
Rapidamente, pego a furadeira, acionando o botão em ameaça. O
choque no rosto de Margaret me agrada.
― Uma coisa que seu Mestre de meia tigela não sabe, é que podemos
ser ainda piores ― afronto, aproximando a furadeira dela.
Nectara mantém a cabeça da mulher contra a mesa, enquanto
posiciono a broca diante de seus olhos. Margaret fecha-os com força quando
as lascas de madeira voam. O barulho é assustador, assim como seu grunhido
de agonia.
― Onde está Charlie Makgold?! ― Nectara pergunta, e eu trabalho
com a furadeira próxima ao rosto de Margaret, mudando o furo para mais
perto da curva de seu nariz.
A mulher apenas grita de dor quando a ferramenta fere sua pele e
puxo a furadeira para cima, aproximo-a em seu ouvido.
― EU NÃO SEI! ― grita por cima do barulho, e continuo a me
aproximar. ― NINGUÉM SABE! APENAS, APENAS O HOMEM!
― Que homem?! ― disparo sem paciência.
― ZANDER! ― responde, fazendo com que me afaste e a observe.
― Ele é o único, é o braço direito. Quando os assuntos não são resolvidos e
ficam difíceis, o Mestre aciona Zander, ele é como uma reserva importante na
LIGA. ― Nectara levanta sua cabeça sem afastar a espada.
― E onde está esse Zander? ― Nectara pergunta.
― Ele é como uma sombra, um vulto. Pode aparecer onde menos se
espera. Vocês devem temê-lo ― ela sorri, enquanto o sangue no seu
machucado escorre.
― Resumindo, ele é como o resto de vocês. Uma marionete para
Charlie Makgold poder brincar ― afirmo e largo a furadeira na mesa.
― É mesmo? E como está seu namoradinho? Com muitas lembranças
do passado? Deve ser agradável, não? ― Margaret provoca assim que viro de
costas.
Seguro minha respiração por um instante.
― Mine... ― escuto Nectara atrás de mim e solto o ar calmamente ao
encarar as mesas à minha frente com ódio.
Eles são cruéis, sem coração, tendo consigo o orgulho de ver uma
família destruída em troca do prazer de estarem acompanhados por aquele
que dizem ser seu Mestre. Balanço minha cabeça com horror, pior ainda por
escutar a mulher relembrar tudo que Johnatan viveu.
Maneio a cabeça uma vez antes de seguir em frente, Nectara acata o
gesto, e, em seguida, escuto a voz de Margaret engasgar. Estremeço ao
imaginar o que a espada de Nectara acabou de fazer.
Caminho em direção ao banheiro onde há o corredor. Antes de entrar
no espaço, vejo três máscaras de respirar jogadas no chão. Franzo a testa ao
ter certeza de que alguns deles visitaram o local. Reparo que a janela por
onde Johnatan e eu escapamos está coberta por uma lona. Rapidamente,
coloco uma das máscaras e abro a porta.
Ao entrar, já sinto o frio do espaço ao mesmo tempo em que me
deparo com uma camada de pó vermelho do chão ao teto. As pegadas no
chão me surpreendem, o corpo da adolescente foi retirado. Ao lado da parede
há produtos e recipientes de limpeza. Quando a porta é aberta, vejo Nectara
entrar com a máscara no rosto.
Ela observa, assim como eu, e tira fotos em seu celular.
― Vou enviar para Shiu ― informa.
― Tem como pegar uma amostra e dar pra Matt? ― minha pergunta a
deixa confusa.
Logo, Nectara tira um saquinho plástico de seu casaco e se aproxima
da parede para colocar uma pequena quantidade do pó.
― Temos que ir. Vou levá-la para a mansão e entregar isso para Matt
― Nectara avisa e aceno.
Saímos no lugar e tiramos as máscaras. Ao voltarmos ao bar, eu me
assusto com o corpo de Margaret suspendido por uma corda.
― Argh! Não imaginei assim. Por que não a deixou no chão? ― evito
olhar quando me aproximo da saída.
― Em breve algum deles vão chegar aqui. Então, que entendam como
um aviso ― esclarece.
Do lado de fora, inspiro o ar fresco, e caminhamos até nosso carro
distante. Assim que entramos, somos surpreendidas com a aproximação de
um Audi escuro. Três homens de ternos saem do carro e seguem em direção
ao bar. Em seguida, um deles sai em frenesi, com o celular próximo ao
ouvido, provavelmente disparando seu ódio. O sorriso de Nectara se amplia.
― Que tipo de aviso você deixou? ― franzo a testa confusa.
― Digamos que um corpo estendido é uma marca registrada de
Johnatan Makgold. Não que eu o esteja o incriminando, mas é como se fosse
uma mensagem sobre o seu retorno ― Nectara diz com orgulho.
― Sombrio, mas interessante ― censuro. ― Vamos antes que nos
vejam.

Assim que chego à mansão, vou até onde os cavalos estão. Hush e
Lake correm enquanto Sid os observa; assim que nota minha presença, fica
ao meu lado. Acaricio sua pelagem branca e me distraio com seus
companheiros. Não é a mesma coisa, sem Johnatan eles parecem solitários.
Lake, mesmo ainda sendo o mais bobo, parece sentir saudades do dono.
No celeiro, vejo James colocar os fenos dos cavalos em suas celas.
Ele sorri e acena para mim, fico feliz que esteja bem e sei que provavelmente
Jordyn está se distraindo com sua limpeza. Depois de ficar mais um pouco
com os cavalos, sigo para dentro de casa, encontrando Donna na cozinha.
― Você chegou, como está? ― Donna me cumprimenta com um
sorriso aberto.
― Bem. ― Sorrio, pegando um dos seus pães caseiros.
― Eu imagino o excesso de trabalho. Está tudo bem com as
empresas? ― sua pergunta me faz engolir o pão com força.
― É... sim! Mais tarde terei que ver outros papéis. É uma burocracia
― minto e mordo meu lábio. ― Meu pai esteve aqui? ― mudo de assunto
rapidamente.
― Sim, depois que voltei do enterro do doutor Banks. Minha nossa,
tão jovem! Mas depois a esposa me expulsou com o Ian ― Donna lamenta.
― Eu imagino que ela tenha feito isso ― aperto meus lábios ao
pensar em Michael, mal tive tempo de lamentar sua morte. ― Teve alguma
informação sobre o que aconteceu?
― Ainda não. Nenhuma notícia ― Donna informa.
― O que resta agora é saber o que ocorreu de fato com ele ― engulo
em seco. Donna acena com tristeza. ― Amanhã verei meu pai ― digo,
querendo ver seu sorriso de volta.
― Isso é maravilhoso, querida. Ele sente sua falta ― sorri com amor.
― Eu imagino ― termino de comer meu pão. ― Vou ver Jordyn, sei
que ela deve estar louca sem mim.
― Você nem imagina. Ela colocou Ian para ajudá-la. ― Donna avisa,
fazendo-me ri.
Com Ian presente, não tive a oportunidade de conversar com Jordyn,
apenas poucas palavras para saber se estava bem. E mais uma vez eu tinha
que concordar, é vazio sem Johnatan por perto. Observar os cavalos pelas
janelas faz meu coração se apertar. Minha preocupação está me matando.
Ao anoitecer, após o jantar, insisto para que Peter me leve de volta à
Colmeia.
Assim que chego à sala equipada, me surpreendo com todos
presentes.
― Como ele está? ― fico confusa com todos ali.
Dinka e Shiu se olham, o lado do rosto de Shiu está um pouco
inchado.
― Está na academia ― Matt responde com um suspiro. ― Recebi a
amostra que Nectara me trouxe, não deveriam ter voltado para o bar, não sem
nós.
― Estamos bem não estamos? ― dou de ombros. ― Onde fica a
academia?
Matt fica em alerta.
― Mine, eu sei que você quer ficar ao lado dele. Ficamos inseguros
em soltá-lo ou não, até ele insistir que estava sob controle ― Matt notifica,
surpreendendo-me.
― Então, ele está se comunicando diretamente? ― digo esperançosa.
― Mais ou menos ― Dinka nos interrompe. ― Ele ainda está sob o
efeito, mas controlado. Não aconselhamos se aproximar ― explica, e encaro
seus olhos verdes.
― Ele disse que estava no controle, logo, não fará nada ― disparo.
― Mas é melhor prevenir ― Nectara concorda.
Inspiro fundo.
― Podemos voltar amanhã, Mine ― sinto o aperto gentil de Peter em
meu ombro.
Balanço minha cabeça.
― Ele pediu que você não se aproximasse por enquanto ― as
palavras de Cassandra me chocam.
Sinto o aperto em meu coração. A preocupação que passei nas últimas
horas me atormenta e não posso simplesmente ignorar. Fecho a cara e seguro
minhas lágrimas por causa da rejeição. Nem pensar!
― Onde fica academia? ― pergunto novamente, enquanto me
encaram boquiabertos.
― Mine, é melhor não ― Shiu insiste e se encolhe quando lhe dou
um olhar apertado.
― Até parece que Johnatan não conhece Mine Clark! Vou para essa
academia nem que precise fazer um escândalo. Ele sabe que sou teimosa e
vou continuar sendo até morrer, principalmente quando tenta me ignorar! ―
disparo ríspida e me volto para Shiu.
― Eu não vou acompanhá-la, desculpe Mine. Ele dá medo quando
está atacado ― Shiu se defende.
― Venha ― Dinka diz, roubando a atenção de todos. ― O que é?
Irmãos! Não queiram ver uma mulher nesse estado ― ele aponta e o
acompanho.
― Obrigada ― agradeço quando estamos distantes de todos.
― Só não chega muito perto, não confiamos ainda ― Dinka pede em
alerta.
Assim que viramos o corredor, nós nos aproximamos de uma porta
com uma fresta de vidro. Dinka estende sua mão, indicando que é a
academia, e me aproximo para espiar. É maior que na mansão, com uma
variedade de equipamentos organizados, mas meu foco está em Johnatan à
frente, dando socos e chutes em três sacos de pancadas que o rodeiam.
Mesmo eufórico, ele ainda mantém sua postura profissional, só que é um
tanto assustador ver a força que usa contra os sacos.
― Pode me deixar sozinha, Dinka? ― peço, observando-o atrás de
mim como um segurança.
― Mas...
― Por favor!
― Estarei por perto ― acena a contragosto e se afasta.
Com um suspiro, coloco minha digital e entro. De início, já escuto a
respiração abafada e os socos brutais de Johnatan.
Caminho devagar sem querer assustá-lo. Ele está vestido apenas com
uma calça moletom cinza, e, em suas mãos e pés, há bandagens.
Abro minha boca e a fecho em seguida, estar perto de Johnatan é
intimidante. Toda minha coragem parece ter descido pelo ralo.
― Johnatan ― chamo num sussurro.
Os socos são interrompidos, sua cabeça se ergue levemente, mas logo
me ignora e volta ao seu treino.
Aperto meus dedos e avanço meus passos.
― Não! ― o comando em tom ofegante, assim como sua palma
erguida, me impede de seguir em frente.
― Eu preciso saber se está bem ― digo quase sem voz, enquanto
sinto as lágrimas preencher meus olhos.
― Não, eu não estou. Por favor, vá! ― Johnatan não me olha.
Meu coração se afunda.
― Por quê? ― pergunto embargada.
Ele inspira fundo depois de afastar o suor do seu rosto, mantendo os
olhos fechados.
― Eu não quero machucá-la novamente ― sussurra relutante.
― Você não vai ― asseguro, reprimindo a vontade de abraçá-lo.
― Eu não teria tanta certeza ― diz fixando seus olhos febris em
minha direção.
Por um lado, eu respiro aliviada por estarem apenas vermelhos.
― Cassandra disse que os efeitos passam. Eu também tive
alucinações, não me lembro direito do que me aconteceu depois que apaguei.
Com você pode acontecer o mesmo. É só uma questão de tempo ― digo com
urgência assim que volta aos socos e chutes frenéticos, mas sem qualquer
cuidado.
― Não, Mine! Não comigo! ― sua firmeza me assusta, tornando-o
mais febril. ― É como ter a memória de um medo fixado em sua mente e o
pavor das cenas se repetindo por horas. Como se o passado voltasse e você
estivesse vivenciando tudo de novo. Tudo é tão real, que você não enxerga
manipulações, nem jogadas. Só que a dor física não é a pior parte, mas sim as
lembranças, e é a partir dela que vem a dor interior. Eu me lembro, vejo e sei
o que fiz com você, portanto, nada disso será esquecido! ― seu tom é um
misto de aflição e raiva.
Eu sinto o quanto está conturbado, também me angustia vê-lo daquela
forma. Choro por ele, por mim, por nós. A dor em meu peito é torturante.
― Então, deixa eu te ajudar ― soluço.
― Não, não assim ― lamenta olhando em meus olhos. ― Eu
machuquei você, não quero voltar a fazer isso. Eu ainda tenho as alucinações
e não quero descarregar toda essa merda em você ― diz, deslizando as mãos
por seus cabelos molhados.
Seus olhos imploram por isso, engulo minhas lágrimas com esforço.
― Confio em você e não estaria aqui por nada. Por todo esse tempo
eu aceitei você, o seu jeito, o seu humor, a forma como vive. Eu passei pela
dor, pela preocupação, pela angústia e não vai ser agora que vou deixá-lo ―
ergo meu dedo ao enfrentá-lo. ― Então, escute bem, não será agora que não
vou me importar com você. E se eu tivesse o poder, faria toda essa porcaria
desaparecer para sempre! ― puxo o ar com força e solto de uma vez. ― Mas
só dessa vez Johnatan, só dessa vez, vou deixá-lo sozinho.
Eu me afasto, abraçando meu corpo, posso sentir seus olhos em
minhas costas e ergo minha postura ao seguir até a saída.
― Sabe qual é primeira função da minha lista? ― escuto-o e me viro
para olhá-lo.
Balanço a cabeça.
― Qual? ― pergunto rouca.
― É dizer o quanto eu amo você ― Johnatan diz com fervor. ― Eu te
amo, minha Roza.
9 – CÓDIGOS SECRETOS

Suas palavras me pegam de surpresa, enchendo-me de emoção. Meu


coração acelera assim como minha respiração. As palavras ditas ecoam por
minha mente tão forte e ao mesmo tempo tão claras. É a primeira vez que ele
diz que me ama, antes, podia verem seus olhos a intensidade de seus
sentimentos por mim, mas, agora, é diferente, é libertador.
Tento me recompor, mesmo com as lágrimas escorrendo por meu
rosto. Sinto meus lábios tremerem.
― É a primeira vez que me diz isso ― sussurro trêmula, sentindo a
emoção se espalhar e a felicidade tomar conta do meu peito.
Johnatan sorri levemente.
― Eu posso repetir quantas vezes você quiser ― diz com ternura.
Respiro fundo para controlar minhas emoções.
― Você iria dizer naquela noite... Iria dizer que me ama ― seco
minhas lágrimas.
Ele franze a testa e desliza as mãos pelos cabelos.
― Pensei que era o fim, que nunca mais a veria. Uma parte de mim
estava desesperada, caso o plano não desse certo ― murmura se
aproximando aos poucos, mas sei que ainda está no controle. Mantenho-me
no lugar, por mais que eu queira abraçá-lo e beijá-lo. ― Juro que queria ter
dito antes, mas desejava ser em um momento especial, em um lugar
tranquilo, apenas nós dois. Um lugar do qual você pudesse se lembrar de tudo
que eu sinto por você.
Meus olhos se levantam para observar os seus em chamas.
― Qualquer lugar ao seu lado é especial para mim ― falo com
fervor. ― E eu vou sempre me lembrar dos nossos momentos juntos, das
nossas conversas, do seu sorriso, do seu humor, até dos mínimos detalhes.
Tudo o que há em você é mais que especial, e, nesses momentos não me
importo com nada, só com você. O que seria mais especial que isso? ―
sorrio ao mesmo tempo em que tento segurar minhas lágrimas.
Johnatan aperta os lábios. Percebo que está um pouco sem jeito. É
adorável.
― Um lugar aberto ao ar livre, com um buquê de rosas, e me
declarando para você ― diz de maneira derrotada, meu sorriso se abre.
― E por que decidiu me dizer justamente agora? Dentro de uma
academia de aço com você sem camisa e todo suado? ― ri envergonhado e
me olha com intensidade.
Penso que esteja perdido em pensamentos. Quando fecha os olhos, eu
me mantenho em alerta caso tenha as alucinações.
― Eu precisava colocar para fora. Não importa onde estamos ou
como estamos, não importa a situação, nem mesmo as circunstâncias, com
defeito ou sem defeito ― seus olhos se abrem, cheios de dor e paixão. ―
Não quero que pense que sou um monstro, só quero que imagine que sou o
homem que te ama mais que tudo no mundo.
Sem que eu possa me conter, corro para abraçá-lo, ele não pode me
proibir. Seus braços me cercam, mantendo-me segura em seu abraço forte, e,
sem hesitar, nós nos beijamos. De início, posso senti-lo relutante, mas logo
relaxa, enquanto o beijo com todo meu amor, sendo retribuída com a mesma
intensidade.
Deslizo minhas mãos por sua pele firme, sentindo seus bíceps
musculosos. Johnatan geme e cola meu corpo contra o seu, fazendo-me sentir
sua ereção. Meu corpo se aquece com a proximidade. Gemo quando ele suga
minha língua e, de forma inesperada, suas mãos deslizam para minha bunda,
apertando-a com força até me erguer, permitindo que minhas pernas se
enrosquem em seus quadris. Minha respiração acelerada se torna ofegante, e
inspiro o ar quando sua boca se afasta da minha para deslizar por meu
pescoço.
Em seguida, sinto minhas costas presas à parede de aço, enquanto ele
explora minha pele com sua boca; suas mãos em meu corpo, apalpando
minhas coxas e me apertando contra ele cada vez mais. Ao arranhar seu peito,
escuto seu rosnado, o som rouco de sua voz me excita de imediato.
Quando sua boca fogosa volta para os meus lábios, eu me inebrio com
o sabor ardente de seu beijo. A sensação excitante faz meu corpo se mover
contra o seu, desejando, querendo esse homem enlouquecedor dentro de mim
com urgência. Ele também deseja isso, pois sinto sua pele mais quente e
úmida ao deslizar minhas mãos por sua nuca até alcançar seus cabelos,
puxando-os para mim.
Deixo suas mãos se enfiarem por debaixo da minha blusa para
apertarem meus seios e deslizarem seus polegares por meus mamilos
enrijecidos.
Johnatan se move contra meu corpo, fazendo-me sentir ainda mais sua
ereção, logo suas mãos abandonam meus seios e apalpa minhas coxas com
mais força, deslizando suas palmas quentes até meus joelhos e separando
minhas pernas de forma inesperada. Mantenho meus braços em seu pescoço,
enquanto gemo intensamente com sua ereção provocando-me com força.
Sua respiração está mais pesada, e seus gemidos são substituídos por
grunhidos. Sua boca segue tentadoramente por meu colo com suavidade, sem
perder o foco de minhas pernas abertas, tendo suas mãos agarradas em meus
joelhos com firmeza, impossibilitando-me de fechá-las. Sinto-me muito
úmida, pronta para ele, o calor do meu corpo me deixa cada vez mais
ofegante. Puxo seu rosto para beijá-lo, vendo seus olhos fechados com
intensidade.
― Eu te amo, Johnatan ― sussurro entre beijos provocantes.
Mas antes que me perca completamente em seu corpo e em seus
lábios, ele fica imóvel. Abro meus olhos, escutando o som de nossas
respirações ofegantes.
― Não ― murmura rouco e se afasta de mim com cuidado, deixando-
me confusa e dolorida.
― O quê? ― fico perplexa.
Ele puxa o ar e esfrega suas mãos em seu rosto.
― Não quero tocá-la assim ― revela relutante.
Sobressalto-me quando o assisto socar um dos sacos de pancadas com
força.
― Está tudo bem, Johnatan... ― eu me aproximo, mas paro quando
seu rosto se vira, num alerta para ficar distante.
― Não quero fazer sexo com você da maneira que estou. Não quero
usá-la como essas ilusões estão me mostrando. Eu quero senti-la por
completo e não como uma diversão ― dispara, parecendo perdido.
― Lute contra elas, não deixe que te abalem ― ergo minha mão para
tocar suas costas.
Seu corpo se mantém em defesa, e recolho minha mão para meu
peito.
― Me desculpe ― ele lamenta, respirando com dificuldade, sinto a
dor em meu coração por vê-lo sentir tão culpado.
― Eu não tenho que desculpá-lo por nada. Eu o amo ― digo com
carinho, mas ele parece horrorizado. ― Johnatan, eu te aceitei e te aceito do
jeito que é. Saiba que eu vou estar aqui com você para ajudá-lo a superar isso.
Se bem que... Eu sinto sua falta ― aperto minhas coxas, sentindo a pulsação.
Vejo seus olhos me observarem com atenção, e logo sua expressão se
ilumina.
― Eu também sinto sua falta ― ele ergue sua mão para acariciar meu
rosto. ― Mas não posso tocá-la dessa forma, não da maneira em que me
encontro.
― Talvez o sexo seja uma boa forma de você descarregar toda essa
tensão ― disparo e escondo meu sorriso quando ele se põe mais sério.
― Jamais faria com você o que fazia com as outras. Você é única,
deve ser amada e tratada com carinho ― sua repreensão me faz encolher.
― Eu só estava brincando, não queria que se sentisse assim ―
sussurro, sentindo meu coração se afundar por tal burrice.
― Eu sei, minha Roza ― diz, dando-me um leve sorriso, o qual não
chega aos seus olhos tristes ―, mas, se for para tocá-la, que seja de uma
maneira que a agrade e que me deixe completamente satisfeito. Por mais que
eu esteja duro, quero que minha mente vague em nosso momento, em estar
dentro de você. Em outras palavras, eu quero me perder em você
Aperto seus lábios para esconder meu sorriso manhoso.
― Fico feliz que pense dessa maneira. Estou começando a me
acostumar em ser única ― brinco novamente, o fazendo rir.
― Você é ― Johnatan concorda.
― Vou deixá-lo com seus sacos de pancadas... E... e voltar para casa
― suspiro.
― Aconteceu algo? ― Johnatan pergunta de repente, e me
surpreendendo.
― Não, está tudo bem. Quero dizer... não gosto de mentir para
Donna. Não sabe o quanto ela sente sua falta na casa, principalmente os
cavalos ― só de lembrar, sinto o buraco em meu peito.
Johnatan franze a testa pensativo e suspira.
― Eu também sinto falta. Não se preocupe, verei o que posso fazer ―
promete.
Aproximo-me de seu corpo e me ergo para beijar seus lábios.
― Amanhã vou à casa do meu pai. Depois de tudo o que aconteceu,
estou distante dele e não quero ficar assim ― desabafo.
Johnatan ergue meu queixo para olhar em seus olhos.
― Faz muito bem ― ele se curva para me beijar. ― Nós nos veremos
em breve, até lá, não esqueça que eu te amo ― seu sorriso torto me faz
derreter.
― Eu também te amo ― sussurro com ternura e sigo até a saída.
Apenas olho para trás para vê-lo voltar aos treinos.
Assim que coloco meus pés para fora e caminho pelo corredor,
assusto-me com Dinka encostado na parede. Coro ao pensar se ele escutou
algo.
― Como você está? ― pergunta um pouco preocupado.
― B-bem ― gaguejo. ― Estava por aqui todo esse tempo?
― Dei uma volta e retornei há poucos minutos. ― responde com um
sorriso. ― Como ele está?
Suspiro aliviada.
― No controle, tenho certeza de que amanhã estará ainda melhor ―
murmuro, brincando com meus dedos. ― Fiquem de olho nele por mim, eu
voltarei para casa ― peço, observando-o
Dinka é alto e musculoso, sua cabeça raspada lhe dá um ar de
superioridade, assim como seu olhar, mas, pela primeira vez, eu o vejo como
uma pessoa confiável.
― Não se preocupe ― sorri para mim amigavelmente.
Quando chegamos à sala de monitoramento, vejo Shiu trabalhando
em seu computador e Nectara acompanhando.
― Como foi? ― ela pergunta, olhando-me com atenção.
― Ele está no controle, não a atacou. Vamos deixá-lo sozinho e
observá-lo de vez em quando, acredito que, daqui dois dias ou antes, ele
estará bem ― Dinka informa, e aceno com a cabeça.
― Isso é bom. Enquanto isso, Shiu e eu estamos na cola dos membros
da LIGA. Em um deles, Cassandra colocou rastreador quando estava no bar.
Vimos aqui que a pessoa está em uma boate e ela vai conferir se o lugar é um
ponto onde a máfia se encontra para suas reuniões ― Nectara informa. Eu me
aproximo de Shiu para verificar seu monitor.
Entre várias páginas em aberto com mapas, vejo pontos de
rastreamento e o local da boate.
― Você invadiu o monitoramento de segurança? ― disparo para
Shiu, impressionada.
― A parte externa. Estou tentando entrar nos setores internos ― Shiu
responde, flutuando seus dedos sobre o teclado com agilidade.
― Precisa de algum código? ― Dinka pergunta atento, mas logo
murmura desconfiado ― É um ponto da máfia.
Distraidamente, enfio minhas mãos nos bolsos e franzo a testa ao
sentir um objeto estranho em minha mão. Puxo-o para fora, encarando o
celular de Margaret.
Ligo o aparelho, observando as chamadas perdidas, e verifico os
números sem entender. Não há nomes, apenas uma série de letras e números.
― Dinka, consegue entender isso? Peguei de Margaret, não sei se há
um rastreador. Ela era um membro ― informo, sabendo que Nectara já disse
o que houve nessa tarde.
Dinka me olha confuso e pega o celular rapidamente.
― Cada membro da máfia possui um código diferente, ele muda
diariamente. São como contatos registrados no celular, só que, em vez do
nomes dos membros, são códigos. ― explica, verificando as configurações
do celular. Depois, desliga e abre o aparelho ― Não há rastreador.
― Como pode ter certeza? ― Nectara desconfia.
― Se os códigos mudam diariamente, o rastreador tem que ser
ativado. Margaret não fez isso, não há nenhum chip no celular ― Dinka diz,
montando o aparelho e o ligando novamente.
― E se usarmos o código de Margaret? ― Shiu brinca e fica sério
quando todos nós permanecemos pensativos.
― Seria arriscado, poderiam rastrear o código da máquina acessada
por Margaret e saberiam onde estamos, já que ela está morta ― Dinka diz.
― E se o código for acessado com um vírus onde se pode destruir
qualquer prova de invasão? Assim eles não saberão quem está acessando,
mantendo-nos como invisíveis. ― digo pensativa e observo todos me
encarando como se eu fosse de outro planeta.
Shiu parece chocado.
― Mine Clark... Se você não estivesse em um relacionamento sério
com meu chefe, do qual eu tenho muito medo, eu me casaria com você neste
momento. Que ele não escute isso ― Shiu cochicha, fazendo-nos rir.
Com a ideia dada, eu o deixo trabalhar com Dinka e sigo ao lado de
Nectara.
― Onde está Matt e Peter? ― pergunto.
Nectara suspira.
― Você fez todos reagirem enquanto Johnatan esteve impossibilitado.
Estão trabalhando numa droga exclusiva ― sorri.
Ergo minha sobrancelha.
― Isso é ótimo, sei que Johnatan é bom em criar algo do tipo, mas
precisam ter algo que vá além do que uma simples seringa ― murmuro.
― Interessante ― ela concorda, e nos distraímos com assovio de
Shiu.
Cassandra aparece na sala com um vestido prata de paetê, num decote
longo, revelando boa parte da sua pele. Sua maquiagem esfumada destaca os
olhos e seus cabelos longos estão soltos e selvagem. Ela caminha com seu
salto agulha até a mesa para colocar um celular em sua bolsa.
― Isso faz parte do disfarce? ― a pergunta de Dinka quebra o
silêncio.
Cassandra sorri abertamente.
― Estou indo estudar o local onde me programei para ir, Dinka.
Tenho que estar a caráter ― dispara, e é impossível não escutar a irritação em
sua voz.
Eu, Nectara e Shiu agimos como uma bola de pingue-pongue.
― No meu tempo, para ir estudar tinha que colocar um uniforme ―
Shiu zomba, seguramos nossa risada.
Dinka cruza os braços musculosos, analisando Cassandra, que se
move até a parede onde digita um código. Eu me impressiono quando uma
gaveta se abre cheia de armamentos.
― Shiu, por favor. Estou com o uniforme perfeito ― Cassandra
brinca, distraída com uma pequena faca.
― Um uniforme bem transparente ― Dinka resmunga, fazendo-a
levantar seus olhos para observá-lo.
― Estou fazendo meu trabalho, então, não atrapalhe, Dinka. A menos
que queira fazer isso ― Cassandra dispara irritada.
― Eu posso fazer ― ele se garante, aperto meus lábios para não
sorrir.
Ela suspira exasperada e dá de ombros.
― Shiu, já passou a localização para o meu celular? ― pergunta.
― Sim, senhora, e para o seu carro também. Estarei te informando a
movimentação pelo ponto de ouvido ― Shiu informa como um profissional.
― Obrigada ― ela sorri e acena para nós. ― Tenho que ir. Tenho
uma noite muito badalada para curtir ao lado de um membro ― provoca com
um sorriso. Coro com sua frase incógnita.
Assim que Cassandra deixa a sala, nós a observamos caminhar pelo
corredor até a saída pelas câmeras de segurança. Olhamos um para o outro e
rimos, exceto Dinka, que parece desconfortável.
― Ela-ela sempre faz isso para me provocar ― Dinka gagueja,
também olhando para o monitor, mesmo que ela já não esteja mais no
corredor.
― Cassy está radiante, que homem resistiria? ― Shiu elogia, ao
mesmo tempo o provoca.
― Tenho que concordar ― Nectara acena, deixando Dinka
apreensivo.
Quando maneio de acordo, deixo-o ainda mais confuso.
― Vocês são malucos. Eu preciso sair, espairecer a cabeça. Vou ao
restaurante me diverti, vou beber... Ah! ― Dinka diz com uma careta,
enquanto recolhe sua jaqueta, uma arma e um celular.
― Você quer dizer boate, não é? Quer a localização? ― É impossível
não rir das provocações de Shiu.
Dinka franze a testa.
― Você me conhece ― ele lança um sorriso ameaçador. ― Estarei na
mira ― praticamente corre para fora da sala.
― Dinka e Cassandra foram casados por quanto tempo? Lembro-me
de que ela se referia a ele como “ex” ― franzo o cenho ao perguntar.
― Se acostume, Mine, é uma relação de amor e ódio. Quer dizer, o
que sai daqueles dois é mais que isso, há uma ligação perfeita ali ― Shiu
elogia.
Sorrio.
― Eles foram casados por cinco anos. Talvez, pelo estilo de vida que
levavam, não queriam misturar as coisas, mas é impossível ― Nectara diz,
sentando-se próxima a mim.
― Bem, quando tudo isso acabar, quem sabe não reatem para sempre
e tenham filhos ― sorrio, mas logo desfaço meu sorriso ao ver os olhos de
Nectara e Shiu ficarem em alerta. ― O que foi?
Shiu pigarreia, encostando-se em sua cadeira para me observar.
― A LIGA fez tanto mal a eles que tiraram até esse direito de procriar
― Shiu explica, abro a boca surpresa. ― Ambos são estéreis. Os membros da
LIGA são obrigados a passar por esse tipo de situação.
― Isso é horrível! Como podem ser tão sangue frios? Com certeza, há
pessoas ali os odiando, mas não tem para onde correr, pois temem o pior! ―
digo chocada.
― Provavelmente ― Nectara diz com dúvida.
Suspiro e logo vejo Peter e Matt aparecerem na sala de
monitoramento.
― Podemos ir? ― pergunto a Peter.
― Claro.
― Mine, antes preciso que assine esses documentos ― Matt pede,
mostrando-me folhas impressas dentro da pasta. ― Johnatan está por dentro
dos assuntos que envolvem algumas parcerias desfeitas ― explica, enquanto
pego a pasta e analiso o documento.
― Pensei que não precisaria de mim nessa parte... ― Na verdade, eu
esperava que em nenhuma...
― Mesmo Johnatan estando vivo, os documentos originais precisam
da sua assinatura ― o advogado ainda insiste, suspiro.
― Alguém vai ficar com alguma cópia desses documentos? ―
pergunto por precaução.
― Não se preocupe, essas cópias já estão com a minha assinatura, só
preciso que você confirme. Sempre haverá um documento registrado que
você me autoriza ou não a fazer, e os originais ficarão conosco ― Matt
afirma.
Analiso os documentos e os assino rapidamente.
― Estou indo para casa. Cuide de Johnatan ― peço, vendo-o acenar e
sorrir.

Assim que entro na sala de entrada encontro Jordyn vestida com


pijama, bebericando seu café. Ela sorri quando me vê.
― Como está o senhor Makgold? ― sussurra.
― Bem melhor do que a última vez que o vi, ainda tem as
alucinações, mas as está controlando ― comento.
― Pensei que fossem passageiras, que sumissem da mente como foi
com você ― fala confusa.
― Eu gostaria que fosse assim. Por incrível que pareça, não me
lembro de nenhuma ― digo pensativa, vasculhando meus pensamentos
depois que estive no carro com Jordyn e Cassandra. ― Eles queriam causar
essas lembranças em Johnatan e fazê-lo se intimidar.
― Não quero nem imaginar o quanto está sofrendo ― Jordyn se
encolhe e toma seu café.
Balanço minha cabeça. As coisas parecem diferentes; de certo modo,
manter os ocorridos abertos para Jordyn e James é relaxante, mas mentir para
Donna é o que mais me dói.
― E os outros?
― Ian passou um bom tempo com os cavalos e ajudou James no
celeiro. Donna aproveitou para descansar com o seu tricô ― informa minha
amiga.
Sorrio um pouco mais relaxada.
― Certo. Vou me trocar e subir ― começo a me afastar.
― Hey! O senhor Makgold voltou, não precisa se trancar naquela
biblioteca mais ― Jordyn me interrompe. Sorrio para ela.
― Eu gosto de ficar por lá. Ele pode estar vivo, mas não está perto de
mim ― olho para o andar de cima. ― Ali é um dos lugares em que me sinto
perto dele ― principalmente a tenda, completo em meu pensamento.
Jordyn revira os olhos.
― Tudo bem, eu vou para o meu quarto descansar. Amanhã terei
treinos com Nectara, a folga acabou ― comunica, chamando minha atenção.
― E como você e James estão em relação a isso? ― tento não soar
curiosa.
O forte sentimento de proteção em torno deles continua intacto em
mim, para me acostumar é difícil, pois ainda é algo novo. Ela respira fundo
antes de responder.
― Juro que, na primeira vez em que a vi e quando começou a dar
aulas, queria enfiar a espada na barriga dela, mas é sua maneira de treinar
com táticas para nos manter em ação ― Jordyn me observa com cuidado. ―
Não é fácil, só que quanto mais aprendo, mais fico curiosa para saber tudo,
porque assim eu posso defender todos que amo ― seu comentário sonhador
me faz sorrir.
― Eu te entendo perfeitamente ― abraço-a. ― Não se preocupe,
ninguém vai nos machucar, eu prometo.
Jordyn me abraça com força. Sinto o aperto em meu coração, mesmo
com todo seu lado defensora, ela continua sendo a mesma.
De repente, somos afastadas com um empurrão gentil. Olho para Ian
ao lado, que me abraça, e retribuo, beijando sua cabeça.
― Que bom que chegou, meu amor. A casa parecia vazia sem você,
tive que aturar essa maníaca por limpeza e um lunático por celeiro ―
reclama.
Sorrimos com sua lamentação.
Depois de acompanhar Ian e Jordyn até seus quartos, sigo para o meu,
vestindo minhas roupas de treino. Ao me olhar no espelho, aperto o pingente
de rubi pendurado em meu pescoço e sorrio feito boba ao me lembrar da
declaração de Johnatan.
Na biblioteca, fico um tempo verificando as câmeras de segurança
depois da minha ausência. Quando enfim vou para a academia, começo
minha sessão de treinos, arrisco-me em alguns golpes e logo me desconforto
sabendo que não conseguirei seguir assim sozinha. Por um momento, penso
em meu pai, mas logo afasto meus pensamentos, sabendo que o mesmo se
recusará como sempre faz. No pole dance, começo a me alongar, mantendo o
equilíbrio do meu corpo.
Não sinto sono, nem mesmo cansaço. Aproveito minha energia para
treinar até minhas roupas grudarem em meu corpo devido ao suor. Depois de
comer alguns petiscos reservados no frigobar e beber muita água, volto a
estudar o livro de meu pai, arriscando-me em alguns golpes no tatame, com a
ajuda de um saco de pancadas. Sim, é frustrante sem ajuda de alguém para se
mover junto comigo. Pego a toalha e seco meu rosto com força.
Preciso expulsar o estresse, por isso, caminho até a parede de vidro
para ver Hush correr pelo campo. Mesmo escuro, observo as montanhas ao
longe, tentando controlar as vibrações de meu corpo e minha respiração
acelerada pelo cansaço. Retorno à bancada, pego o livro e sigo para a
biblioteca descalça, a fim de guardá-lo.
De volta ao quarto, tiro minhas roupas, jogando-as no cesto. No
chuveiro, deixo a água quente cair sobre meu corpo pulsante, sentindo meus
músculos relaxarem aos poucos. Por um instante, fecho meus olhos para
refletir, talvez pela manhã eu volte a treinar no lago e leve as facas ao campo
de treino perto da tenda. Sorrio com a ideia e ergo minha cabeça, deixando a
água cair em meu rosto.
― Delícia ― uma voz grossa sussurra atrás de mim.
Giro meu corpo com os olhos alarmados. Meu coração dispara.
Johnatan está encostado na parede à minha frente, de braços cruzados,
mostrando seus músculos firmes. Não há veias expostas, seus olhos não estão
mais vermelhos, o azul destacado está de volta, sérios e, ao mesmo tempo,
maliciosos.
Engulo em seco, encarando seu corpo diante de mim.
― Mas o que... Como... Você me assustou... ― gaguejo, balançando
minha cabeça para coordenar meus pensamentos.
Ele continua me avaliando com serenidade.
― Está surpresa? ― pergunta.
Noto a sombra do seu sorriso torto.
Pigarreio e balanço a cabeça nervosa, é estranho conversar com ele
estando nua. Aperto meus lábios para não sorrir.
― Muito ― murmuro sem jeito, fazendo-o sorrir suavemente. ―
Pensei que estivesse na Colmeia descansando.
― Eu tentei. Não quer dizer que estou cem por cento, mas, com
certeza, melhor do que me encontrava ― fico mais aliviada.
― E as alucinações? ― sem jeito, tento cruzar meus braços sobre
meus seios.
Johnatan parece se divertir com meu constrangimento.
― Elas continuam como lembranças na minha cabeça. Como você
disse, eles querem me atingir dessa forma ― responde com uma careta e
balança a cabeça.
― Fico feliz que esteja aqui ― digo, dando-lhe um sorriso amável.
Sua mão se ergue para tocar meu queixo, fazendo-me olhar para seus
olhos em chamas. Oh! Senti saudades dessa profundidade.
― Você fica adorável quando está com vergonha ― diz com um
sorriso aberto. ― Eu me sinto aliviado em ver você. Sabe? Você continua
sendo a mulher por quem me apaixonei perdidamente.
Meu coração acelera não só por suas palavras, mas também por sua
aproximação.
― Com você, continuo sendo a mesma de sempre ― sussurro
trêmula, nem mesmo sinto a água cair sobre meu corpo.
Johnatan concorda com um sorriso torto e aproxima seu corpo até ter
suas mãos em minha cintura. As minhas descansam em seu peito, e permito
que seus lábios alcancem os meus.
Seus braços me apertam cada vez mais contra ele e já sinto sua ereção
em meu ventre, meu sexo se aperta em antecipação. Deslizo minhas mãos
entre seus cabelos, o puxando para mim com desejo. Gemo em seus lábios
quando nossos beijos se tornam mais urgentes. Arqueio meu corpo, deixando
suas mãos escorregarem por minhas costas até apertar minha bunda.
Quando sua boca se afasta da minha, desliza por meu pescoço como
se degustasse a água que escorrega em minha pele, ergo minha cabeça,
dando-lhe livre acesso. Gemo com prazer por suas provocações, suas mãos
exploram meu corpo como se o esculpisse ou memorasse cada parte. O gesto
é como uma massagem para mim e gosto disso, alivia ainda mais as leves
dores musculares.
Em seguida, mordo meu lábio ao sentir sua boca se fechar em torno
meu seio esquerdo para sugá-lo com força. Meu sexo se contrai
dolorosamente e pulsa com intensidade, meu interior vibra em antecipação. A
urgência de tê-lo me faz sentir cada vez mais entregue por seus toques e
lábios, mas suas provocações são suaves comparadas ao que está por vir.
Tento manter minha respiração calma, mas é impossível, pois sua
língua tentadora desliza por minha barriga e segue até minha carne macia,
arriscando leves mordidas em minha pele supersensível. Arrisco abrir meus
olhos para observá-lo ajoelhado diante de mim. Seus olhos azuis intensos me
consomem, e engulo em seco, notando seus lábios prestes a devorarem meu
sexo.
― Eu quero você completamente entregue a mim, minha Roza ―
sussurra com o seu sotaque, fazendo meu coração disparar.
Sua voz me fez tanta falta, que fecho meus olhos novamente para
apreciar essa intensidade. Em seguida, sinto sua mão tocar o interior de uma
das minhas coxas e deslizar até meu joelho, erguendo minha perna para
apoiá-la em seu ombro. Rapidamente, grudo minhas costas contra a parede
úmida, pois sou pega de surpresa por sua boca em meu sexo ao pensar que
seria suave e delicado, porém sua boca devora meu clitóris com força e seu
dedo invade meu canal apertado, fazendo-me gemer alto.
Meus quadris se movimentam contra seus toques. Suas sucções e sua
língua provocante me levam ao delírio. Ofego, trêmula, sentindo seus dentes
mordiscarem delicadamente minha carne macia com perversão, fazendo
minhas entranhas se apertarem em meu interior.
― Oh... Johnatan... ― choramingo, implorando para tê-lo dentro de
mim.
Seu gemido rouco em meu clitóris me faz ter calafrios e a água quente
caindo sobre meu corpo nu só me deixa cada vez mais ardente. Deslizo
minha mão por seu cabelo e o puxo para mim.
― Está gostando? ― o som de sua voz faz com que meu corpo vibre
ainda mais. Seu dedo se move com mais força dentro de mim. ― Responde
meu amor, está gostando? ― Johnatan provoca, murmurando em meu sexo.
― Sim... ― sussurro sem força, perdida em seus toques.
Molho meus lábios com a língua e ofego, sentindo suas mordidas
seguirem pelo interior da minha coxa em seu ombro.
― Mas eu desejo você dentro de mim ― imploro com urgência,
arqueando meu corpo quando sua boca volta a me sugar com mais força.
― Não prefere gozar assim? ― Johnatan provoca novamente.
Inspiro o vapor da água na intenção de me refrescar, mas o ar abafado
só piora minhas condições.
― Não ― respondo rapidamente, por mais que quisesse, quero tê-lo
dentro de mim. ― Eu quero sentir você.
Abro meus olhos, vendo-o me observar e deslizar sua língua em
minha entrada. Gemo com suavidade. Sua língua nunca deixa meu corpo e o
observo subi-la até chegar à minha boca. Sugo seu lábio antes de beijá-lo
com urgência. Sinto suas mãos apertarem meus seios com força e deslizarem
por meus quadris. Volto a levantar minha coxa e Johnatan a agarra, fazendo
com que eu enrosque minhas pernas em seus quadris. Logo, seu pênis se
esfrega contra meu canal, deixando-me cada vez mais excitada.
― Diga-me que continua tomando as pílulas ― fala ofegante e com
beijos provocantes.
Abro meus olhos para encarar os seus cheios de desejos.
― Sim, senhor ― ele ri quando minhas palavras saem quase como
gritos.
― Perfeito ― murmura rouco e me surpreende novamente ao me
penetrar de uma só vez.
Gemo e me agarro em seu corpo, sentindo seus movimentos fortes me
atingirem em excitação. Colo meu rosto contra o seu, beijando seus lábios e
arranhando suas costas. Vamos à loucura com o contato intenso e ao mesmo
tempo carnal de nossa pele. Johnatan se move com mais profundidade,
atingindo o ponto mais excitante dentro de mim. Meu corpo treme e arqueia
contra o seu. Sigo seu ritmo de maneira provocante, seu sorriso torto me faz
beijá-lo com amor.
Ofegantes, nossos corpos se movem fora de controle até atingirmos
juntos nosso ápice do prazer. Johnatan se aperta, afundando-se ainda mais
dentro de mim, fazendo meu orgasmo explodir e o sinto chegar em seguida.
Quando nossos corpos relaxam, de imediato nos contemplamos em nosso
pequeno espaço.
Abro meus olhos presunçosos e praticamente escorrego do seu corpo.
Johnatan mantém os braços ao meu redor, beijando meus lábios, face e
minhas pálpebras com carinho.
― Eu amei a surpresa ― ronrono rouca, dando-lhe um sorriso
saciado.
Johnatan afasta algumas mechas dos meus cabelos do meu rosto e
noto que está me dando banho, enquanto suas mãos se esfregam por minha
pele até meu sexo. Sorrio.
― Mas a surpresa ainda nem começou ― sussurra ao meu ouvido,
mordendo meu lóbulo.
Arregalo os olhos para ele.
― Nem começou? ― repito as palavras perplexa.
Johnatan me dá um sorriso misterioso. Pisco atônita e, antes que eu
proteste, sou virada para a parede, tendo suas mãos presas em meus quadris,
fazendo meu traseiro se empinar para ele. Subitamente, como um comando,
suas pernas afastam as minhas, deixando-me completamente exposta.
Ele desliga o chuveiro e desliza sua mão por minhas costas. Arrisco-
me a olhar para trás, vendo seus olhos observarem cada parte do meu corpo.
Ele me pega o espiando, sorri com tesão e logo me surpreende com um tapa
forte em minha bunda. Gemo e me apoio contra a parede, ficando cada vez
mais empinada.
Em seguida, outro tapa e sua penetração forte fazem meu corpo
pulsar, assim como meu sexo, que se aperta contra o seu. Johnatan geme
enquanto eu mordo meu lábio ofegante. Depois, sinto sua mão se enfiar entre
meus cabelos e puxá-los para ele. Gemo alto, arrepiada com seus lábios em
minha nuca e em meu ouvido. Sua respiração ofegante me aquece ainda mais
e sua penetração faz meu corpo vibrar intensamente.
Suas mãos deslizam por meu corpo até apertarem meus seios. Coloco
as minhas sobre as suas, completamente entregue a ele, enquanto seus
movimentos me levam à loucura. A mordida em meu lóbulo me faz
estremecer e, quando umas de suas mãos descem para meu sexo, levando a
minha junto, Johnatan faz com que meu indicador se esfregue contra meu
clitóris.
― Sinta, amor. Sinta o quanto a quero por inteira. Sinta o quanto te
amo ― murmura próximo ao meu ouvido, fazendo-me choramingar,
enquanto sua ereção entra e sai dentro de mim com força. ― Vou fazer você
implorar cada vez mais ― seu tom dominador me arrepia violentamente.
Tudo é muito intenso, muito forte e muito selvagem. Sim! Era apenas
o começo de uma noite extremamente erótica.
10 – PROMESSA

Desperto devido à claridade em meu quarto. Não me movo, apenas


permaneço deitada de bruços, olhando presunçosa a parede de cristal à minha
frente. Sorrio levemente ao me lembrar dos momentos pervertidos de uma
madrugada muito quente. Viro minha cabeça para encontrá-lo.
Quando encontro meu lado vazio, sento-me rapidamente, enroscando
o lençol em meus seios. Suspiro em alívio ao vê-lo sentado aos meus pés com
as pernas cruzadas. Droga, ele voltou a vestir suas calças e está sem camisa.
Encaro seus olhos. Ele me observa como se quisesse me decifrar.
― Bom dia! ― me espreguiço.
Johnatan fecha os olhos brevemente e inspira. Franzo a testa ao vê-lo
daquela forma.
― Aconteceu algo?
― Por que não me disse? ― sua voz controlada me deixa confusa.
― O que eu não te disse? ― observo ao meu redor para ver o que há
de errado.
― Você andou treinando ou tentando treinar?
Engulo meu nervosismo.
― De onde você tirou isso? ― finjo desinteresse.
Seus olhos me avaliam.
― Eu vi você na academia ontem. Estava no tatame treinando alguns
golpes. Eu me lembro de você enfrentando aquele cara no bar e o
imobilizando ― sinto-me sem saída. ― Não venha me dizer que estou vendo
coisas ― avisa, erguendo seu indicador.
Suspiro frustrada.
― E como queria que eu agisse? ― encaro seus olhos.
― Mine, não é bem assim que as coisas funcionam ― ele se
exaspera, deslizando suas mãos pelos cabelos lisos.
― Você queria que eu ficasse como? Passei quase oito meses sem
você, temendo que qualquer um deles voltasse para essa casa. Precisava
proteger todos, precisava ter coragem e força para combater qualquer um
deles. Posso não ser uma boa profissional e nem mesmo ter o treinamento do
meu pai, mas estou tentando. Eu tive que amadurecer em muitas coisas,
Johnatan ― disparo, perdendo o fôlego.
Johnatan me observa com atenção.
― Isso muda as pessoas, Mine. Não quero que haja dessa forma, não
quero que continue tentando...
― Eu tinha os meus motivos ― interrompo-o seriamente. ― Quando
todos pensaram que estava morto, implorei ao meu pai para me treinar. Eu
sabia que ele o ajudou e tinha ciência de que, de alguma forma, poderia me
ajudar, mas ele se negou. Eu tive que seguir sozinha, analisando o livro que
encontrei em um dos cofres de armamento, montando um campo de batalha
na floresta, adaptando-me ao sistema da casa, estudando na biblioteca...
Durante todos esses meses, passei organizando meu tempo com o treino,
principalmente à noite, pois não conseguia dormir por causa dos pesadelos.
Eu estava à beira de um abismo, droga! ― desabafo, segurando minhas
lágrimas.
Johnatan esfrega o rosto, soltando sua respiração abafada.
― E agora? Você tem motivos para continuar com isso? ― pergunta,
e sei que, por dentro, está implorando para que eu desista. Encolho-me.
É claro que meus motivos eram por ele, por tudo que a máfia o fez
passar, até pensar que o haviam tirado de mim. Balanço minha cabeça para
afastar as memórias daquela noite sombria.
― Eu ainda tenho medo ― sussurro sem conseguir conter minhas
lágrimas e encaro o lençol que cobre meu corpo nu.
― E do que você tem medo? ― sua voz é mais suave e gentil.
― Não quero passar por aquilo de novo ― desabafo. ― Não quero
ver as pessoas que tanto amo se machucarem.
Aguardo suas palavras, mas somente escuto sua respiração calma.
Levanto minha cabeça e o espio me observando com cautela.
― Mine, acha que faço isso por que quero? ― diz relutante.
― Sei que faz isso para se proteger e proteger quem você ama. Eu
apenas quero fazer o mesmo ― meu tom se transforma em súplica,
surpreendendo-o.
― Eu trocaria tudo isso por uma vida normal, Mine. Tenho receio de
que acabe mudando... ― Johnatan para de falar, fazendo meus olhos se
levantarem. ― Me responda... Agora, você tem motivos?
Penso por um momento. Eu não seguiria esse trajeto se continuasse
comigo. Agora eu o tenho de novo.
― Não ― respondo.
― Escute... ― ele se aproxima para pegar uma das minhas mãos e
acariciar minha palma. ― Eu tenho motivos, é a mim que eles tanto querem,
é a mim que eles querem atingir e não posso demonstrar fraqueza. Quando
tudo aconteceu, eu era apenas um garoto, mas a raiva me consumiu, eu fechei
qualquer espaço que dava para as pessoas se aproximarem de mim. Tornei-
me frio e, quando matei um deles pela primeira vez, senti que aquilo nunca
iria acabar. Eu deixei de ser um garoto fraco para ser um homem forte e
calculista ― Johnatan explica com cautela, aperto sua mão.
― É uma forma de você se proteger. E comigo você não é assim.
Bem, no começo era... mas... ― dou um leve sorriso, vendo sua cabeça
balançar.
― Você é a exceção de tudo ― ele me dá um sorriso fraco ― O que
quero dizer é que não quero que o que aconteceu comigo acabe te
transformando em alguém que não é ― seu tom volta a ser cauteloso, e me
encolho.
― Você tem receio de que eu acabe me transformando numa mulher
amarga? ― seguro meu riso.
― Eu tenho receio de que perca sua essência ― levanto minha
sobrancelha, em seguida, toco seu rosto com ternura.
― Eu não mudei. Continuo sendo a mesma Mine de sempre,
principalmente, quando você começa a ser todo mandão ― meu comentário o
faz rir.
― Sou assim para proteger você ― se defende.
― Então, podemos fazer isso juntos. Não mudamos um com o outro,
continuamos nos amando e nos apoiando ― digo, pegando sua mão e a
colocando em meu coração. ― Eu continuo aqui.
Johnatan me olha com intensidade, dando-me um leve sorrido torto, e
acaricia minha mandíbula.
― Tem razão. Você não mudou ― suspira. ― Sua forma de me
persuadir sem notar, não mudou nada ― aperto meus lábios para não sorrir.
― Eu juro que não é por querer ― inclino minha cabeça com seu
toque em minha face.
Ele se aproxima para beijar meus lábios e encarar meus olhos de
perto.
― Você vai continuar, não vai? ― a pergunta me trava.
― Sei que quer me manter longe disso, mas, veja pelo lado positivo,
os exercícios me ajudam a manter minha mente focada ― digo, enquanto
inspiro seu perfume suave e me perco em seus lábios próximos aos meus.
― E continua teimosa ― murmura rouco, arrepiando-me
completamente.
― Com você principalmente ― fecho meus olhos quando sinto seus
dedos deslizarem por minha nuca.
Escorrego minhas mãos para seus ombros largos. O lençol cai em
meu colo, expondo meus seios, e sinto seus dedos deslizarem por minhas
costas com suavidade.
― Eu vou treinar você ― as palavras fazem meus olhos se
arregalarem, ao contrário dele, que continua tranquilo, enquanto explora meu
corpo. ― E não espere que seja algo bom ― posso sentir a luta em seu tom
de voz.
― Está-está...falando sério? ― gaguejo sem fôlego.
― Por mais que eu queria que fique longe do perigo, não quero deixá-
la infeliz pondo minha preocupação acima de seus desejos ― meu sorriso se
abre tanto, que minhas bochechas doem. ― Mas não pense que será fácil ―
ergue o dedo para me alertar.
Meu grito empolgado o pega de surpresa. Pulo em seus braços
empolgada, abraçando-o, beijando seus lábios e seu rosto sem parar. Johnatan
me empurra para a cama, mantendo seu corpo preso ao meu. Estou sem
fôlego, ainda sorrindo de orelha a orelha. Ele me observa encantado, mas
logo revira os olhos antes de beijar meus lábios.
― Prometo não desapontar ― digo deslumbrada.
― Se eu soubesse que ficaria tão feliz, teria proposto há muito tempo
― brinca com uma careta.
Sorrio.
― Eu estou feliz, pois terei você ao meu lado ― beijo seus lábios
empolgados e colo meu corpo ao seu, sentindo sua pele quente contra a
minha. ― Tenho uma pergunta. ― continuo a beijá-lo.
Johnatan sorri com a minha animação.
― Qual? ― indaga curioso.
― Eu fui tão mal assim no bar quando ataquei o tal Zander? ―
pergunto curiosa.
Johnatan franze a testa, sinto seus músculos ficarem rígidos.
― Então, esse é o nome do infeliz? ― dispara ríspido,, e ignoro,
aguardando sua resposta.
Ele suspira, aparentemente, refletindo antes de dizer:
― Não tão mal. Confesso que me pegou de surpresa quando o atacou
daquela forma. Nunca vi ninguém usar aquele tipo de movimento...
― Soa como se não gostasse ― observo seus olhos sérios.
― Apenas... Certo. Nunca deixe sua bunda a centímetro do rosto de
um homem, exceto de mim ― sua reprovação me faz segurar uma risada
constrangedora.
― Esse pedido faz parte do treino? ― provoco-o.
Seus olhos me fuzilam.
― Não, é uma ordem! ― o sotaque russo me arrepia, e engulo em
seco, já sentindo sua ereção em meu sexo. ― E, como disse, sou mandão.
― Muito mandão... ― eu o interrompo ofegante, sentindo sua ereção
torturar minha entrada.
Seus dentes mordiscam meu lábio inferior de maneira provocante.
Arqueio meu corpo contra o seu, em excitação, com suas mãos deslizantes
em minha pele até apertarem meus seios com força. Gemo suavemente,
inebriada com suas provocações e as estocadas lentas dentro de mim.
Logo um toque nos interrompe e olho para o lado, vendo seu celular
tocar em cima da minha cômoda. Permanecemos imóveis, apenas escutando.
Meu sexo pulsa contra o seu, e esfrego minhas coxas em seus quadris até
afastar suas calças. Sua pélvis se empurra, fazendo-me suspirar com a
penetração profunda. A sensação é intensa.
― Se ousar atender aquele celular, eu mato você ― alerto entre meus
gemidos, enquanto movimento meus quadris contra ele.
O desejo me consome por inteira, e preciso que ele se mova dentro de
mim com ferocidade. Johnatan vira seu rosto surpreso para me encarar e sorri
de forma provocante.
― E depois eu é que sou o mandão.
11 – ESTRANHO PRESTATIVO

Deslizo minha mão para o lado e abro meus olhos rapidamente


quando sinto sua ausência. Logo, sorrio ao ver a rosa vermelha sobre o
travesseiro. Sento-me na cama, pegando a flor para sentir seu perfume. Ele
realmente não está no quarto, nem mesmo deixou um bilhete. Penso que
talvez esteja na Colmeia, de certo modo, é bom, não gosto nem de imaginar
se Donna se deparasse com Johnatan na casa.
Deixo a rosa em minha cômoda e me levanto presunçosa, seguindo
direto para o banheiro. Fico feliz por sentir meus músculos mais relaxados,
mas faço uma careta ao me deparar com meu reflexo no espelho: cabelos
emaranhados e rosto inchado. Rapidamente me enfio debaixo do chuveiro
para um banho rápido.
No quarto, visto meu moletom e amarro os cabelos num rabo de
cavalo. Vejo que ainda é muito cedo e, antes de sair do quarto com a ideia de
preparar meu café da manhã, suspiro e sorrio ao me lembrar da noite anterior.
Meu coração simplesmente se empolga quando me lembro de uma nova
rotina de treino, dessa vez, com um oponente.
Saio do quarto com um sorriso vitorioso, mas paro abruptamente ao
escutar os cavalos relincharem. Sigo meu trajeto até os fundos da casa para
observá-los e me surpreendo ao encontrar Johnatan os assistindo correrem no
campo.
Fascinada da forma que me encontro, fico por alguns instantes
olhando. Johnatan está no meio do campo, como sempre ficava em todas as
manhãs, com as mãos no bolso, como se apreciasse uma bela vista ao redor.
Os cavalos parecem felizes, não, eles estão mais que felizes. Lake corre em
círculos, de maneira errada, fazendo Johnatan mover sua mão para que ele
siga pelo caminho certo. Sorrio, vendo o cavalo caramelo cavalgar com
entusiasmo até seu dono, como se estivesse sapateando.
Por outro lado, Hush está mais ativo, mais vivo, correndo com
brutalidade e elegância. Num instante, percebo que boa parte de Hush me
lembra Johnatan, o comportamento sério, reservado e defensor. Ao contrário
de Hush e Lake, Sid apenas corre calmamente, como se apreciasse o lugar,
apenas uma única vez ela desobedece ao comando de Johnatan e se aproxima
para farejar sua cabeça antes de voltar para sua caminhada. Johnatan desliza
sua mão por sua pelagem branca e volta a observá-los. Pela primeira vez,
vejo a égua brincar com Lake, empurrando-o para longe de Johnatan. A
imagem de vê-los juntos me emociona e seco as lágrimas nos cantos dos
meus olhos antes de me juntar a eles.
Ao me aproximar da cerca, Lake se distrai com minha presença. Ele
pula a cerca e corre, distraindo Johnatan. Sorrio e acaricio Lake quando tenta
correr em círculos ao meu redor. Sid também vem ao meu encontro,
saudando-me em reverência, seus enormes olhos negros parecem brilhar.
Logo, curvo-me para acariciar sua cabeça.
― Que bom que estão felizes ― digo com carinho.
Hush também se aproxima para me saudar.
Johnatan me observa com atenção e o escuto ordenar em russo. Os
três cavalos disparam juntos numa corrida frenética.
― Meus cavalos não eram tão distraídos assim ― Johnatan
repreende.
Noto a sombra de um sorriso em seus lábios.
― Eles sentiram sua falta ― corro para ele assim que abre os braços
para me receber.
Abraço seu corpo e inspiro o perfume em seu peito, fechando meus
olhos quando seus braços me apertam.
― Eu também senti ― murmura em meus cabelos. ― Como se
sente?
― Pronta para mais uma rodada ― cochicho em seu peito, apertando
meus lábios para não sorrir.
― Podemos resolver isso no celeiro ― sua voz sedutora me arrepia,
mas a ideia me faz rir.
― Não vamos desrespeitar o lar dos cavalos ― repreendo-o,
erguendo minha cabeça. Meu comentário faz Johnatan gargalhar, em seguida,
se curva para beijar meus lábios.
Envolvo meus braços em seu pescoço e retribuo o beijo com carinho.
― Eram as pessoas da Colmeia te ligando? ― pergunto, dando-lhe
beijos leves.
― Shiu ligou para me informar sobre a investigação de Cassandra ―
informa com uma careta.
― Conseguiram algo? ― inspiro observando o sol da manhã iluminar
seu rosto.
― Em um primeiro momento Cassandra, apenas analisou a
movimentação e levantou algumas hipóteses. Dinka vigiou o perímetro... e
Cassandra ― comunica, revirando os olhos. ― Irei saber de tudo hoje à
tarde.
― Dinka se importa com ela ― sorrio, deixando seus dedos
acariciarem meu rosto. ― Eles poderiam voltar, formam um casal lindo.
― Você nunca os viu numa briga de verdade ― Johnatan ergue a
sobrancelha.
― Gênios fortes? ― sua expressão me faz rir.
― Pior do que nós dois ― rolo os olhos com seu comentário.
― Pensei que estivesse na Colmeia ― digo distraída ao ver os
cavalos correrem para a floresta.
― E estive ― afirma, olho-o rapidamente. ― Assim que você
adormeceu, só fiquei tempo suficiente para me certificar de algumas coisas
antes de voltar para cá. Café da manhã? ― muda de assunto.
Balanço a cabeça para voltar à realidade.
― Donna não pode ver você ― lembro-o. ― Tem que ir embora.
Sua sobrancelha se ergue.
― Está me expulsando? Da minha própria casa? ― pergunta em tom
de brincadeira, mas me preocupo que Donna possa aparecer a qualquer
momento.
― Johnatan, ela pode ter um infarto ― fico chocada com seu bom
humor.
― Donna tem uma saúde intacta. É difícil derrubá-la ― diz,
estendendo sua mão. ― Vamos?
Encaro sua palma e mordo meu lábio em dúvida.
― Não sei se é uma boa ideia ― sinto-me insegura.
― Você não disse que não queria mais mentir para ela? ― aceno. ―
Então, não vamos mentir. Aliás, você passará muito tempo comigo ― sua
piscadela me deixa surpresa.
― Quando vamos começar? ― agarro sua mão.
Ele nota minha empolgação e suspira.
― Amanhã. Esteja pronta às cinco da manhã ― diz, observando
minhas roupas. ― Está perfeita.
Seu elogio me faz corar.
Caminhamos juntos até a mansão, e aperto sua mão assim que
entramos. O cheiro do café me faz inspirar profundamente, primeiro, porque
estou com fome, segundo, por saber que Donna já está na cozinha. Mordisco
o canto da minha bochecha, nervosa. Johnatan parece tranquilo, puxando-me
para junto dele ao seguirmos até a cozinha.
Quando paramos na entrada, encaro as costas de Donna. Ela está na
pia, ocupada com seus afazeres ao terminar de colocar sua massa de pão no
forno.
Engulo em seco.
― Donna? ― pigarreio nervosamente.
― Oh, querida, você já acordou? Beba o suco que preparei. Eu estou
fazendo... ― Assim que ela se vira, seus olhos brilhantes se arregalam para a
figura tranquila ao meu lado. A jarra de suco escorrega de suas mãos, fazendo
um barulho alto.
Assusto-me com sua reação e vejo suas mãos seguirem direto para seu
peito.
― Donna, está tudo bem? ― Johnatan fia cauteloso, quero socá-lo.
Mas escutá-lo faz os olhos da governanta se encherem de lágrimas.
Ela me observa e volta a encarar Johnatan em choque.
― Eu falei que não era uma boa ideia ― digo entredentes e me
aproximo dela. ― Donna, não queria te assustar...
― Mas... Como... ― ela gagueja, posso entender sua reação.
Fuzilo Johnatan com os olhos.
― Hey! Está tudo bem. ― Johnatan se aproxima e pega suas mãos
para apertá-las.
Inicialmente, Donna estremece. Meu coração se aperta.
― Meu menino ― diz com fervor e ergue uma de suas mãos para
acariciar o rosto de Johnatan.
Eu os observo admirada e suspiro aliviada por vê-la tranquila, mesmo
ainda em choque.
― Donna, apenas nós sabemos sobre ele... ― falo com cuidado para
não a assustar.
Ela balança a cabeça e pisca os olhos.
― Por que escondeu isso de mim? O que houve? ― pergunta com os
olhos em Johnatan.
― Eu fiquei sabendo há poucos dias, mas muitos já sabiam. Não há
muito o que dizer. ― É impossível esconder minha irritação quanto a isso.
Johnatan percebe meu mau humor repentino.
― Oh! ― Donna murmura perplexa.
Olho em outra direção e finjo me distrair com o jornal do dia anterior,
pego-o e me curvo para pegar os cacos de vidros com cuidado, enquanto
escuto a explicação do seu menino:
― Eu não posso me expor completamente agora, Donna. É irônico,
mas ainda estou me mantendo em segredo. Estou fazendo isso por proteção a
vocês. Não quero que ninguém mais se machuque por minha causa ― sinto
que suas últimas palavras são mais direcionadas a mim.
Quando termino de recolher os cacos, embrulho-os no jornal e jogo
no lixo. Em seguida, corro para pegar um pano e limpar a sujeira, deixando-
os brevemente a sós.
― Não se preocupe, querido. Eu continuo chocada em te ver, estou
tão feliz em te ter aqui, ver que está bem. E, não se preocupe, eu sempre
guardei seus segredos ― escuto Donna comentar quando retorno. ― Que
bom que está de volta. Oh, Mine querida! Deixe isso, eu faço.
― Não, está tudo bem ― digo assim que termino de limpar o chão.
― Bem, vou colocar mais um lugar à mesa ― Donna sorri
emocionada, mas ainda em choque, suas mãos tremem.
Johnatan me olha e a observa com atenção.
― Não retornei completamente, Donna, preciso que continue
cuidando de tudo, enquanto eu estiver ausente ― ele pede.
Ela franze a testa. Admiro sua força. Ao mesmo tempo em que oculta
suas perguntas, respeita o espaço do homem diante dela, o homem que
admira como um verdadeiro filho.
― Não precisa se preocupar quanto a isso. Só de estar aqui e quase ter
me matado de susto, já me deixa feliz ― diz, afastando suas lágrimas. ―
Andem, sentem-se.
Em silêncio, faço o que ela pede, Johnatan se junta ao meu lado.
― Senti falta disso ― Johnatan diz, servindo-nos com café e
panquecas.
― Você perdeu muita coisa ― brinco bebericando meu café.
Johnatan sorri.
― Estou sempre aqui preparando o prato do dia. ― Donna sorri ao
lembrá-lo. Rimos.
― Você sabe que é a única pessoa que eu admiro quando se trata de
comida. ― Johnatan elogia. Donna cora, enquanto nos serve bacons.
― Eu concordo ― sorrio.
― Não é para tanto ― ela diz sem jeito.
Escutamos alguém se aproximar como se estivesse se arrastando pelo
corredor. Endureço meu corpo, e Johnatan ergue os olhos em alerta.
Quando Ian aparece na cozinha, nós nos preparamos para a sua
reação. Seus cabelos lisos estão bagunçados, suas bochechas estão coradas e
seu pijama, amassado.
― Bom dia, mãe. Bom dia, Mine, meu amor. Bom dia, senhor
Makgold... ― antes que possa se sentar em seu lugar, seus olhos sonolentos
se abrem em alerta. ― AH!
Ian corre para Donna, escondendo-se atrás de seu corpo.
― Ian... ― Donna o repreende, e arregalo meus olhos para Johnatan.
― Mãe... Um fantasma. ― Ian espia atrás de sua mãe e volta a se
esconder.
― Ian, não é um fantasma ― tento tranquilizá-lo.
Por outro lado, Johnatan parece se divertir com a situação.
Como ele pode ficar tranquilo? Recostando-se na cadeira como se
fosse algo comum?
― Olá, Ian ― Johnatan cumprimenta.
Ian grita assustado novamente.
― Vocês ouviram isso?! Eu estou ouvindo ― o garoto alarma.
― Não sou um fantasma, Ian ― Johnatan assegura. ― Veja, não
consigo atravessar uma parede ― seu punho bate tranquilamente contra a
parede oposta.
O garoto espia assustado. Suspiro e me levanto, assim que me
aproximo dele, seus braços trêmulos cercam minha cintura.
― Ian, está tudo bem, é o senhor Makgold. Mas olha, ninguém pode
saber que ele esteve aqui e muito menos que está vivo ― tranquilizo-o
beijando sua testa. ― Tudo bem?
Sua cabeça se ergue, e vejo seus olhos chocados brilharem.
― Por você faço qualquer coisa, meu amor ― ele inspira apaixonado.
Sorrio.
― Então, toque-me? ― Johnatan nos interrompe, estendendo sua mão
para Ian.
O garoto recua.
― Está tudo bem, filho. Toque-o ― Donna encoraja o filho.
― Por você também posso fazer qualquer coisa, mãe. Menos isso ―
ele se nega comicamente.
― Vamos lá! ― Johnatan insiste.
Ian se afasta dos meus braços, encarando a mão de Johnatan com
desconfiança. Ele se aproxima e, assim que toca, Johnatan aperta sua mão.
Com o gesto repentino, Ian se afasta rapidamente e corre.
― JAMES! ― grita amedrontado. Rimos.
Alguns minutos depois, Jordyn se junta a nós no café da manhã,
surpresa ao ver Johnatan. Em seguida, James aparece arrastando Ian para a
cozinha.
― E Peter? ― procuro-o com os olhos.
― Está com Matt ― Johnatan comunica inquieto.
― Algum problema? ― sussurro, notando os olhos de Jordyn
dispararem curiosos em minha direção.
― Nada com que tenha que se preocupar ― Johnatan responde com
um suspiro, colocando uma mecha dos meus cabelos atrás da orelha.
O sorriso em seus lábios não chega a seus olhos, e aceno ao perceber
que ele não quer preocupar Donna.
Depois que Johnatan termina seu café, ele se levanta,
automaticamente salto da cadeira, fazendo o mesmo. Todos nos olham
curiosos, Jordyn ri da minha reação.
― Já vai, querido? ― Donna pergunta, posso sentir a preocupação em
sua voz.
Ian ao seu lado mantém a cabeça baixa, com medo de encarar
Johnatan.
― Só vou dar uma última olhada nos cavalos e depois revolverei
alguns assuntos ― Johnatan informa. Percebo que guarda seu celular no
bolso.
Franzo a testa.
― Eu te acompanho ― sorrio.
― Vai fazer alguma coisa hoje? ― Johnatan pergunta, sua atenção é
apenas em mim.
Coro.
― Hum. Eu vou visitar meu pai ― lembro-o. Seus olhos ficam
distantes. ― Mas eu posso ficar, caso tenha algo em mente... ― paro de falar
quando vejo seu sorriso perverso.
― Está tudo bem. De qualquer forma, estarei ocupado, mas assim que
eu estiver livre, irei te buscar ― suas palavras me deixam em alerta.
― Eu acho que não é uma boa ideia. Você sabe como meu pai reage
em relação a você. Imagine agora se aparecer assim? ― inspiro fundo.
Johnatan acena relutantemente.
― Eu estarei por perto ― acaricia meu rosto.
― Por falar em seu pai, Mine, um homem estava à sua procura, um
cliente. Ele estava interessado em seu trabalho, queria fazer um orçamento. E
foi muito prestativo ao me ajudar a colocar as compras no carro ― Donna diz
distraída, retirando os copos da mesa.
― Um homem prestativo? ― Jordyn diz com malícia e se encolhe
quando Donna lhe dá um cascudo.
― Ele foi muito gentil. Só não me lembro do nome, querida, mas
disse que estaria visitando seu pai hoje ― Donna me informa, enquanto sorri.
― Gentil... ― James entra na brincadeira, e a governanta fica
boquiaberta.
― Ele tem idade para ser meu filho, mas o que é isso?! ― Donna se
alarma ao escutar as risadas.
― Tudo bem, Donna. Fico feliz que papai esteja conquistando novos
clientes ― sorrio empolgada.
― Espere, vocês também sabiam que o senhor Makgold estava vivo?
― Ian pergunta a James e Jordyn de repente, roubando nossa atenção.
Donna nos encara por um instante.
― Sim, Ian, eles sabiam ― Johnatan responde e muda de assunto. ―
Certo, estarei de volta assim que puder. Por favor, permaneçam em silêncio
sobre meu aparecimento.
― Vai ficar tudo bem ― Donna assegura e acaricia seu ombro. ―
Tenha cuidado, querido.
― Eu vou ter ― ele a tranquiliza, olhando-a por um instante, por
gratidão ou por preocupação. Franzo a testa.
Antes de Johnatan sair da cozinha, Ian toca-o novamente e volta a
correr.
― Até quando ele vai ficar assim? ― Jordyn pergunta rindo.
― Até ver o senhor Makgold atravessando uma parede ― James
brinca, fazendo Johnatan revirar os olhos.
― Vocês dois parem de rir do pobre garoto e arrumarem essa
cozinha! ― Donna ordena, deixando-os chocados. ― Isso é por ter escondido
de mim sobre Johnatan.
― Concordo! Também posso dizer que eles não estavam estudando
coisa nenhuma? ― solto, cruzando meus braços.
Donna fica chocada. Ambos me olham alarmados, enquanto Johnatan
esconde seu sorriso, de alguma forma o sinto distante. Um arrepio me
percorre ao pensar no pior.
― Estou decepcionada com vocês ― Donna revela. Jordyn e James
tentam se explicar com desculpas esfarrapadas.
Dou um sorriso vingativo e acompanho Johnatan até a saída.

― Não quer adiantar meu treino? Não vou demorar muito na casa do
meu pai ― digo sem jeito, aproximando-me de seu carro depois de vermos os
cavalos.
Johnatan se aproxima pensativo e fecho meus olhos ao sentir seus
dedos acariciarem meu rosto.
― Ele sente sua falta ― aceno.
― Eu não o visitei muito...
― Porque esteve ocupada com seus... treinos. ― Johnatan acusa de
forma gentil, estremeço.
― Eu queria que ele me ensinasse como ensinou você ― confesso,
Johnatan parece incomodado com minhas palavras. ― Tudo bem, eu sei que
você teve seus propósitos...
― O que Edson quer para você é o melhor. Só está preocupado, não
quer que a filha perca a cabeça e acabe se transformando como eu. Em uma
assassina ― as palavras me assustam.
Balanço a cabeça.
― Você não é um assassino ― recuso-me a pensar dessa forma.
― Em tese, sim eu sou. Assim como eu, Edson não quer que a filha
dele perca a doçura, a compaixão, a sensibilidade ― Johnatan beija meus
lábios, e faço uma careta quando se afasta.
― Não sou tão fraca assim ― resmungo.
― Você é um pouco de tudo, mas acho que quando tocam em seu
ponto fraco, acaba se tornando...
― Uma leoa ― completo, mas Johnatan nega.
― Uma fera ― ele não demonstra, mas noto em seus olhos o orgulho.
― Acho que foi uma das coisas que aprendi com meu novo professor
― eu o abraço e, antes que ele proteste, beijo-o com ternura. ― Eu te amo!
― Não tanto quanto eu amo você ― declara com nossos lábios
colados.
― É mesmo? ― ergo minha sobrancelha, fazendo-o rir.
― Eu tenho que ir ― diz, mas não se move.
― Colmeia? ― pergunto, enquanto beijo seu queixo.
― Sim. Devo confessar que, por mais absurdo o que você e Nectara
fizeram voltando àquele bar, o celular que você pegou está sendo útil ―
sorrio satisfeita. ― Dinka e Shiu estão invadindo os códigos dos contatos,
estão tendo algumas pistas. Eu irei a alguns dos lugares para investigar.
Cassandra e Nectara já estão a caminho de outros.
― Lugares que a máfia costuma frequentar? ― meu coração acelera.
― Sim. Estamos estudando os movimentos ― ele informa.
― Obrigada ― meu agradecimento o deixa confuso.
― Pelo o quê? ― franze a testa.
― Por estar me passando todas essas informações ― digo, sem deixar
de me sentir honrada.
Johnatan sorri rapidamente.
― Não posso te manter longe de tudo, por isso, temos que nos
prevenir ― sussurra junto aos meus lábios.
― Juntos? ― me empolgo em seus braços.
― Por enquanto, você está na fase... Novata ― Johnatan beija-me
brevemente antes de entra em seu carro.
― Sabe, podemos ter aqueles nomes de parceiros? ― insisto.
Johnatan ri da minha ideia, mas não me responde.
― Até logo, minha Roza ― despede-se.
Aceno para ele e o observo se afastar com seu carro. Faço um
beicinho quando some do meu campo de visão. Encaro o campo com tristeza,
é como se tudo voltasse ao vazio novamente. Em seguida, sigo rastejando
meus passos até o celeiro para alimentar os cavalos.
― Vocês estão animados ― sorrio, acariciando a pelagem negra de
Hush. ― Eu me sinto aliviada.
― Não me diga que você está dando cenouras para eles ― James, diz
entrando no celeiro.
Lake pega da minha mão e sai correndo.
― Desculpe ― mordo meu lábio.
― Tudo bem, mas não pela língua solta. Donna está nos torturando
― James resmunga.
Dou de ombros.
― Bem feito ― brinco, fazendo-o resmungar e sorrir. ― Vou ver
como está Jordyn.
― Cuspindo fogo ― James gargalha.

Na mansão, ocupo-me com meus afazeres. Jordyn esfrega o chão com


força e, a cada dez minutos, divirto-me com Donna a chamando.
― Você me paga ― reclama. ― Hoje seria nosso treino com Nectara.
Sabe o que isso significa? Treino duplo ― marcha pesadamente para a
cozinha.
Em parte, sei que ela não está com raiva de mim.
― Boa sorte! ― provoco-a, escutando seu grunhido.
Depois que termino de organizar a limpeza, verifico as horas e sigo
para meu quarto a fim de pegar um casaco. Mesmo indo só até a casa de meu
pai, tenho que estar atenta, praticamente, quase todas as minhas jaquetas
possuem algumas armas de arremesso.
Em seguida, caminho para a sala de entrada, onde encontro Donna
rindo de Ian e Jordyn correndo para os fundos.
― Oh, querida, já está indo ver seu pai? ― Donna pergunta.
― Sim. Posso pegar seu carro?
― Claro. Peter ainda não chegou... ― ela procura a chave em seu
avental e me entrega.
― Não tem problema. Obrigada, Donna ― agradeço, beijando seu
rosto empolgada.
― Não quer que Jordyn a acompanhe?
― Eu vou ficar bem ― sorrio. ― Volto logo.
Visto meu casaco e abro a porta.
― É Zander ― o nome me faz congelar e me viro para encarar
Donna. ― O nome do rapaz prestativo, interessado nos serviços do seu pai se
chama Zander ― Donna parece feliz por lembrar o nome do homem.
12 – IMPACTO INESPERADO

Meu coração acelera e minha visão perde o foco, quando dou por
mim, já estou me enfiando na Picape de Donna desesperada.
Dou a ré e freio abruptamente quando James corre até minha janela.
― Aconteceu alguma coisa? ― pergunta, examinando minha
expressão. Provavelmente, todo o sangue desapareceu do meu rosto, dando o
lugar a palidez.
― Zander, o homem que nos atacou e que sequestrou Jordyn, pode
estar com meu pai... ― disparo sem fôlego e não tenho tempo para
explicações.
Acelero o carro, ignorando os protestos de James. Lembrar-me de
Zander me deixa desesperada. Imaginar que ele possa fazer algo contra meu
pai ou qualquer pessoa que amo acende a fúria em meu peito, assim como
minha angústia.
Mesmo que seu alvo seja Johnatan, Zander pode atrair suas vítimas
por ordem de Charlie. Assim que chego à vila, estaciono a meio-fio e saio do
carro batendo a porta com força. Observo a movimentação do lugar
rapidamente e corro até minha casa.
Tento controlar a tensão de meu corpo e, em silêncio, caminho até a
entrada, analisando a porta aberta. Checo a sala e a cozinha vazias. Caminho
até os quartos e encontro tudo arrumado. No banheiro não há ninguém.
Inspiro fundo e volto para a sala, observando o balcão com as madeiras.
Localizo sua espingarda encostada atrás da porta e, antes de pegá-la, assusto-
me ao ver meu pai passar pela porta, carregando uma parte de um armário
desgastado.
― Mine? ― meu pai fica surpreso. Por um momento, suspiro
aliviada.
Ele deixa o objeto de lado e corro para seus braços.
― Você está bem? Está machucado? Alguém veio visitá-lo? ― meu
desespero expressivo o deixa perplexo, ainda mais quando tateio todo seu
rosto e seus braços.
― Filha, está tudo bem ― assegura, surpreso com minha presença e
confuso com minhas perguntas. ― Por que não estaria?
Engulo em seco ao morder meu lábio inferior.
― P-por nada ― gaguejo estremecida. ― Eu só senti sua falta e acho
que nunca me perdoaria se algo lhe acontecesse ― abraço-o, apertando meu
rosto contra seu peito.
Seus braços me apertam.
― O que pensa que sou? Um velho sem forças? ― brinca. Sorrio. ―
Que bom que está aqui.
Afasto-me para olhar seus olhos cinza.
― Onde estava? ― pergunto, observando a velha parte do armário.
― Na casa de Cesar. Estou restaurando algumas peças ― meu pai
sorri, logo me assusto quando Cesar entra.
― Olá, Mine, que bom que está aqui ― Cesar me cumprimenta.
Inspiro fundo na tentativa de aliviar a minha tensão.
― Querida, está se preocupando demais ― Meu pai ri e beija meu
rosto.
― Pelo que vejo há muito trabalho a fazer ― digo, observando as
madeiras.
― Seu pai está me fazendo trabalhar que nem um cavalo. Já não basta
minha loja e vem mais isso? ― Cesar reclama.
― Posso ajudar a trazer o restante?
Na verdade, boa parte de mim quer ficar para manter o inimigo longe.
― Bem, então, temos um trabalho duro a fazer. Mine, você pegará os
mais pesados. ― Cesar brinca, e o sigo até sua casa.
Para meu divertimento, ele me passa apenas as partes mais leves do
armário, e sigo até a casa de meu pai sem perder meu foco de alerta. Há
crianças brincando; enquanto as mães carregam as sacolas de compras para
dentro de casa ou regam suas plantas, alguns dos homens chegam de algum
lugar, outros se ocupam com alguns afazeres no exterior de suas casas. Tudo
parece normal, muito tranquilo. Apenas me distraio quando Cesar acelera os
passos à minha frente e o sigo na disputa. Meu pai também nos acompanha, e
fico mais aliviada por não ter nenhuma presença de Zander.
― Agora só faltam mais duas ― Cesar inspira demonstrando
cansaço. ― Assim, minha esposa não reclamará da falta de espaço em casa
― brinca, seguindo de volta para sua casa.
― Eu vou pegar a outra peça ― digo ao meu pai e caminho
calmamente até a casa de Cesar.
De repente, meus joelhos travam. Em seguida, fico cega com a
claridade à frente, meu corpo é empurrado para trás devido a um baque forte.
Logo, sinto minhas costas se chocarem em algum lugar. Pisco os olhos à
procura de foco, meus ouvidos zunem devido à explosão. Contorço-me no
chão e percebo que estou distante. Ergo minha cabeça e arregalo meus olhos
ao ver a casa de Cesar em chamas. O fogo se espalha com rapidez, deixando
os vizinhos em pânicos.
Os gritos agonizantes são ocos para meus ouvidos. Tento me manter
de pé, encarando a tragédia com pavor. As pessoas correm para longe, outras
se seguram umas as outras em busca de ajuda. Eu me espanto ainda mais
quando vejo duas crianças caídas no chão. Tusso devido à fumaça negra que
se espalha.
― PAI! ― grito, enquanto forço meus pés a seguirem em frente.
Sinto mãos me puxarem para trás, mas as empurro, enquanto corro
para minha casa. Meu pai está parado em choque, vendo a casa de Cesar
destruída em chamas, um grito de uma mulher agonizante me chama atenção
e observo a esposa de Cesar ser puxada para longe, outra grita por seu filho.
― MINE! FILHA! ― meu pai me alcança e examina meu rosto. ―
Cesar...
Vejo a dor em seu rosto.
― Pai... Pai, eu sinto muito ― digo trêmula, mas logo escuto o
pânico ao redor e vejo um homem alto passar entra as pessoas. ― Zander ―
sussurro perplexa.
― O quê? ― meu pai mal pergunta direito, pois eu rapidamente o
empurro contra o chão quando outra casa explode.
É assustador. É como estar no inferno sentindo o ambiente quente, o
cheiro desagradável e, aos poucos, os gritos das pessoas desesperadas
pedindo ajuda. Tusso e me afasto para ver meu pai.
― Temos que sair daqui ― eu me surpreendo com James, que nos
ajuda a levantar e vejo que Jordyn está presente.
Tento me manter de pé outra vez, vendo ambos ajudarem meu pai e
percebo que uma de suas pernas está ferida.
― Mine! ― meu pai me chama.
― Eu estou aqui, pai ― respondo sem fôlego.
Eu os sigo para longe e paro ao escutar a mulher que continua a gritar
por seu filho. Logo atrás está Zander parado com seu capuz, os olhos fixos
em mim, enquanto lança um leve sorriso nos lábios. É quando percebo que há
uma espécie de controle em sua mão. Ele percebe meu olhar e ameaça.
Olho a vila em chamas; há pessoas feridas, há crianças caídas perto
das chamas e sei que há mais explosivos escondidos como num campo
minado. Sem pensar duas vezes, pego dois dardos afiados de pontas grossas
enroscados nas mangas do meu casaco e arremesso.
Zander solta o pequeno dispositivo assim que um dardo atinge sua
mão e outro sua coxa. Ele arranca os dardos, e aproveito a movimentação
espalhada para correr em sua direção, antes que ele pegue o controle, mas em
vez disso, Zander se afasta em direção a um carro escuro que se aproxima.
Ele entra no automóvel, tirando seu capuz, dando-me um sorriso aberto.
Escuto Jordyn me chamar, mas a ignoro, enquanto avanço até o carro
e arremesso outro dardo, que se fixa na calota da roda. Ao ver Zander abrir a
janela, noto que aperta outro controle. Em seguida, abaixo-me com a próxima
explosão.
A última casa é a minha. As lágrimas preenchem meus olhos e
observo meu pai cair ajoelhado com tristeza. Crescemos ali, vivemos ali, seu
trabalho estava ali e seu melhor amigo o ajudava.
O carro acelera para longe, deixando-me assistir o horror das pessoas
ao redor, a perda de seus entes queridos, os gritos por socorro, a dor nos
olhos de cada um e, principalmente, de meu pai. Para ele não era um simples
lar, ali era sua vida, o seu sustento, a sua paz. Tudo é demais para mim, a
sensação de fracasso me enfraquece e, antes que eu perca completamente
minhas forças e caia no chão, sinto um braço envolver minha cintura.
Estou abatida demais para me mover ou lutar seja lá com quem for.
― Mine? ― a voz sussurrada em meu ouvido faz meu corpo tremer e
minhas lágrimas caírem.
― Johnatan... Por quê? ― não quero uma explicação para o que
acabou de acontecer, mas uma explicação por tanta maldade, por tanta frieza.
Viro meu rosto, vendo-o preocupado. Johnatan toca minha face com
cuidado, como se estivesse afastando a sujeira, enquanto seca minhas
lágrimas. Sinto uma leve pontada de dor acima da minha sobrancelha quando
ele a toca e afasta, revelando meu sangue em seu polegar. Percebo que
Johnatan se esconde por trás de um moletom e um boné de um time de
basquete.
― Vamos para casa ― murmura com carinho, como se estivesse
tendo o cuidado de não me assustar ainda mais ao me manter em seus braços
com firmeza.
Eu o abraço com força.
― MEU FILHO! MEU FILHO! ― a mãe continua gritando. Olho
para o lado, vendo-a ser consolada pelos moradores.
James tenta se aproximar das chamas para ajudar a afastar um ferido,
em seguida, volta para carregar meu pai até o carro. Jordyn aproveita para se
juntar com alguns moradores a fim de jogar baldes de água contra as chamas.
― Mine, vamos ― Johnatan insiste, e fico paralisada, observando a
destruição.
― O filho dela ― sussurro e avanço até as pessoas em vão, os braços
de Johnatan me detêm.
― Mine, os feridos foram trazidos para longe, os demais estão mortos
― murmura junto ao meu ouvido. ― Agora vamos!
― Ela só quer o filho ― insisto, mas Johnatan permanece em
silêncio.
Viro-me para ele.
― Está morto, Mine ― dispara, olhando em meus olhos.
Vejo a preocupação em seus olhos, a angústia e a frieza.
― Você não é como eles ― digo de forma ríspida. ― Você perdeu
sua família, por isso, não permita que eles continuem destruindo outras.
Minhas palavras o surpreendem. Encaro minhas mãos sujas e logo me
distraio com Johnatan avançando até as chamas depois de pegar bruscamente
um balde de água de Jordyn e jogar em si.
Os gritos da mãe imediatamente cessam ao ver o homem correr pelo
fogo. Johnatan usa a passagem do fogo mais baixo, escondendo-se com sua
blusa para não inspirar a fumaça, depois some do nosso campo de visão.
Sinto a mão fria de Jordyn sobre minha e a encaro.
― Você está bem? ― sou incapaz de responder.
Minutos depois de tanta aflição, nós nos distraímos quando Johnatan
passa pelas chamas, carregando duas crianças no colo, enroladas num
cobertor gasto. O garoto aparenta ter uns seis anos de idade e a menina, de
cabelos louros, parece ter uns nove. Outra mulher de cabelos claros corre até
a garotinha, puxando-a dos braços de Johnatan. Em seguida, cai de joelhos no
chão, aos prantos, quando se depara com a filha morta em seus braços.
A mãe que gritava por seu filho permanece imóvel até Johnatan lhe
entregar o garoto, e, antes que ele se afaste, de cabeça baixa para não ser
reconhecido, observo a mulher segurar sua mão para agradecê-lo. Johnatan
acena e caminha em minha direção. As pessoas ficam atentas às crianças em
vez de encarar Johnatan. Para minha surpresa, o garoto abre os olhos
assustados e puxa o ar com força.
Olho para Jordyn sorrindo, vendo-a emocionada. Johnatan caminha
em passos largos. Antes que eu o felicite por ter salvado o garoto, sou puxada
para seus braços. Observo-o me carregar no colo com a expressão séria.
― Agora, vamos sair daqui ― diz duramente, levando-me até a
Picape de Donna. ― Jordyn, leve Edson até a mansão.
― Sim, senhor ― Jordyn obedece a ordem e corre até o carro de
James.
No carro, Johnatan prende meu cinto, em seguida, dá a partida em
silêncio. Pergunto-me por que está tão sério, estremeço, não querendo escutar
a resposta. Talvez o que houve na vila fosse alguma lembrança do seu
passado. Agito minha cabeça e vejo a ambulância, assim como corpo de
bombeiros, se aproximarem da vila com suas sirenes ensurdecedores.
Johnatan corta caminho e acelera.
Quando chegamos à mansão, ele sai do carro rapidamente para abrir
minha porta. Saio com sua ajuda e me distraio com meu pai, um pouco
manco, se aproximando. Ele nem mesmo esperou que James estacionasse.
Sua expressão me faz estremecer, mas seu olhar frio é disparado para
Johnatan ao meu lado.
― VOCÊ! ― meu pai dispara rudemente. ― Não percebe que tudo
que acontece à nossa volta, todas essas desgraças, é por sua culpa?!
― Senhor Clark, apenas entre. Vamos cuidar dos seus ferimentos...
― NÃO ME VENHA COM GENTILEZAS MAKGOLD! De você
eu não quero nada! ― meu pai o interrompe, avançando em sua direção, mas
sem atacá-lo. ― Sabe o que causou? Sabe o que vai causar?!
― Papai... ― eu o interrompo quando ambos se enfrentam.
James e Jordyn ficam em alerta. Logo, Peter aparecer na varanda com
Donna e Ian ao lado, assistindo à briga assustados.
― Mine, não tente me impedir! Quantas vezes te alertei para ficar
longe dele? Viu o que acabou de acontecer? ― meu pai descarrega a fúria em
sua voz.
― Jamais tive a intenção de prejudicar aquelas pessoas ― Johnatan
se defende sem perder sua postura, mas posso sentir a raiva em seu tom de
voz.
― Talvez você não, mas o homem que deixou viver para ver as
pessoas se destruindo aos poucos, sim. Em outras palavras, não tente negar
que você é a cópia perfeita de Charlie Makgold ― as palavras bruscas de
meu pai fazem Johnatan rosnar e avançar.
Rapidamente me coloco no meio dos dois.
― PAREM! Papai o que está falando? ― inspiro fundo. ― Johnatan
não é assim ― digo, tendo sua atenção incrédula para mim.
― Como pode dizer isso, Mine? Olhe à sua volta, isso não é vida!
Matar pessoas, destruir o que elas tanto conseguiram com seu próprio suor,
sem precisar crescer em cima dos outros ― meu coração se aperta por sua
dor explícita. ― Minha casa... Aquela casa era simples, era humilde, eu a
construí com meus esforços. Você cresceu vendo o quanto dependíamos do
meu trabalho! Minha vida inteira estava naquela casa, assim como das outras
famílias, assim como do meu melhor amigo. Não precisávamos de muito, o
pouco que tínhamos já era o bastante ― escutar sua voz falhar é como uma
facada em meu peito.
― Eu sinto muito, pai ― seguro minhas lágrimas e toco seu rosto
sofrido. ― Eu sei o quanto você lutou, o quanto você se esforçou. Não jogue
sua mágoa em quem não teve culpa. Johnatan não é igual ao pai dele. Ele só
está tentando acabar com tudo isso.
Meu pai balança a cabeça e esfrega seu rosto exasperado. Depois,
seus olhos cinza são disparados para Johnatan, que o ignora.
― Mine, venha! ― Johnatan toca minha cintura ― Me deixa cuidar
da sua ferida.
― Cuidar dela? ― meu pai continua ríspido.
Inspiro fundo.
― Sim ― Johnatan responde em tom mais frio, fazendo-me arrepiar.
― Minha única prioridade é ela e, enquanto eu a vir machucada, mesmo que
seja um arranhão, eu estarei cuidando. Queira você ou não.
Balanço minha cabeça, ambos se encaram com um ódio intenso.
Antes que eu fale alguma coisa, meu pai me interrompe.
― Eu implorei, pedi tanto para que se afastasse dela. Se tivesse
ouvido meus conselhos, tudo seria diferente ― as palavras de meu pai me
deixam confusa.
― Provavelmente, você já amou, Edson, mas não com a mesma
intensidade que eu ― Johnatan rebate sem piedade.
― Deveria ter continuado se fingido de morto e desaparecido para
sempre. Ou talvez a própria morte tornasse tudo mais simples ― o tom de
ameaça vinda do meu pai me faz me afastar perplexa.
Olho para ambos e toco minha testa quando sinto um peso em minha
cabeça. Fecho meus olhos e inspiro fundo.
― Então, você sabia? ― disparo entredentes ao abrir meus olhos em
direção ao meu pai. ― Sabia que ele estava vivo e, mesmo assim, escondeu
de mim? ― encaro ambos sem acreditar.
― Não contei, porque queria acreditar que ele havia desaparecido ―
Edson confessa.
O peso em minha cabeça se intensifica.
― Mine,...
― Claro... Por que eu não estou surpresa? ― destaco minha raiva
para Johnatan e o vejo se aproximar, mas me afasto. ― Quer saber?! Podem
se matar, estarão fazendo um ótimo favor para mim.
Viro-me e caminho em passos rígidos.
― Mine? Acho que não é uma boa ideia deixá-los sozinhos ― escuto
Jordyn dizer assim que passo entre ela e James.
Paro e olho para trás dando de ombros.
― Eu arremessei dardos contra Zander, porém um dos dardos não o
atingiu como eu queria, mas se fixou na calota do carro ― informo,
deixando-a confusa. ― Hipoteticamente, minha intenção não foi acertá-lo e
sim rastreá-lo, o dardo possui um microrrastreador. Peça para o Shiu achar a
localização, ele deve ter acessos aos equipamentos das armas de Johnatan ―
aviso rapidamente e sigo para dentro da mansão.
No meu quarto, bato a porta com força, arranco meu casaco, seguindo
para o banheiro e observo meu reflexo no espero. Cabelo bagunçado, roupas
desgastadas, olhos cinza febris, rosto corado e sujo pela fumaça escura.
Acima da minha sobrancelha há um corte, no armário pego um
pequeno kit de primeiros socorros e começo a limpar minha ferida de forma
agressiva, nem mesmo me importando se doí ou não. Lavo meu rosto e volto
a observar o corte mais de perto. O reflexo de Johnatan ao lado, escorado na
porta, me chama atenção, mas logo volto para minha ferida.
― Pare com isso ― ele se aproxima.
Eu o encaro pelo espelho com frieza.
― Eu espero que seja uma alma penada falando comigo ― digo
umedecendo o algodão com exagero.
― Seu pai é bem como você, pensava muito nisso quando estava fora.
Ele queria que eu pegasse a oportunidade e desaparecesse de vez ― sua
explicação me faz ignorá-lo ainda mais. ― E é claro que eu não iria fazer
isso.
― Como eu disse, não estou surpresa. Um tanto irritada, mas não
surpresa ― confesso. ― E por que não pegou a oportunidade? ― coloco as
mãos na cintura, a pergunta até mesmo me surpreende.
Vejo seus olhos se erguerem e sua testa franzir.
― Acho que o meu te amo não foi o suficiente para você ― disfarço
quando minha respiração trava. ― Talvez eu devesse te mostrar...
― Não! ― digo ao vê-lo se aproximar pronto para me tocar.
― Certo, eu posso fazer isso mais tarde. Então, me deixe cuidar do
meu amor ― diz me fazendo erguer em alerta.
Sinto minhas costas doerem um pouco devido à pancada que levei,
mas não demonstro desconforto.
― Está tentando me manipular, Johnatan Makgold? Uma tática de
sedução Grekov? ― ainda permaneço séria.
Sua sobrancelha se ergue.
― Sedução Grekov? ― pergunta confuso.
― Sim, porque o nome Makgold costuma ser mais usado na hora da
raiva ― disparo.
Johnatan suspira exasperado.
― Você é difícil ― esfrega seu rosto. ― Mesmo sendo sexy estando
toda na defensiva, não que eu esteja tentando persuadir você ― defende-se.
Ele se aproxima e me afasto o máximo que meu banheiro permite.
― Acho que você deveria ver os assuntos que diz respeito à máfia.
Shiu pode estar rastreando o dardo no carro...
― O carro explodiu depois de sair da cidade ― Johnatan comunica
em tom frio quando o ignoro. ― Podemos conversar civilizadamente?
― Então, me deixe sozinha para que meus nervos aflorados se
acalmem ― aponto meu queixo em direção a saída antes de me virar para o
espelho novamente.
Sua expressão fica rígida e vejo seu corpo se erguer. Seus olhos
demonstram reprovação.
― Eu posso fazer isso o dia inteiro, Mine ― sei que lutar com ele é
algo impossível.
Largo o algodão no balcão e inspiro fundo. Viro-me, encostando na
pia e cruzando meus braços.
― Tudo bem. Vamos manter as coisas claras ― retruco, nada
intimidada com seus olhos frios.
― Justo ― concorda, fazendo minha sobrancelha se erguer. ― A
propósito, eu amo você ― eu o fuzilo com o olhar, assim como ele faz
comigo.
Ignoro suas últimas palavras sem deixar que meu emocional vença.
― Humm... Há alguma coisa que eu ainda não saiba? ― pergunto e
aperto meus dentes ao ver seus olhos fixos nos meus.
― Sim ― responde com cuidado ao observar minha reação.
Puxo o ar com força antes de assentir duramente.
― Pode aproveitar a oportunidade para dizer ― forço minha voz a
sair com firmeza.
Johnatan mantém seus olhos em mim por um tempo, deixando-me
confusa de imediato. Não posso recuar, por isso, permaneço parada quando
ele se aproxima. Rapidamente, seus braços fortes cercam minha cintura,
levando-me até ele com força. Eu não poderia me sentir embaraçada, nem
mesmo tocar seus braços assim que me tem colada ao seu corpo, muito
menos com a respiração acelerada.
― Você é minha! ― tanto suas palavras quanto seus olhos são
profundos e, ao mesmo tempo, serenos.
Quando abro minha boca para protestar, o indicador em meus lábios
me interrompe.
― Minha esposa.
13 – COMPANHEIRA

Sabe como é sentir seu corpo cair de um penhasco e se chocar contra


uma rocha? É exatamente assim que me sinto, ainda mais pela falta de ar no
momento do baque.
Balanço minha cabeça embaraçada, com pensamentos desconexos, e
observo Johnatan à minha frente. Ele mantém seus braços firmes em minha
cintura, sabendo que se me soltar, posso despencar no chão, eu nem mesmo
consigo sentir minhas pernas.
― O quê?! ― o choque fica presente até em minha voz.
Johnatan não disfarça seu sorriso, parece vitorioso e ao mesmo tempo
receoso. Antes de responder, sou erguida em seus braços e carregada para o
quarto. Em seguida, Ele me senta na cama e se afasta. Esfrego minha testa,
enquanto ele anda calmamente de um lado para o outro.
― Pode estar pensando que é uma farsa ― parece dizer para si
mesmo, mas minha reação é me sobressaltar sentada no momento em que
escuto sua voz.
― Johnatan... ― inspiro fundo, não posso deixar de rir. ― Isso é
impossível ― sufoco a risada nervosamente e esfrego minhas mãos em meus
joelhos.
Johnatan interrompe seus passos para me encarar com a sobrancelha
erguida.
― Você sabe muito bem que nada é impossível para mim ― diz com
um sorriso malicioso.
Legal! Quero ter uma conversa séria e ele brinca com meu estado de
humor? Levanto-me, voltando ao meu estado habitual.
― Sei que você faz as coisas mais difíceis se tornarem mais fáceis ―
murmuro com uma careta. ― Só peço que não esconda nada de mim e que
esse seja o momento apropriado para mantermos as coisas claras ― não
posso deixar de repreendê-lo.
Ele para diante de mim com as mãos no bolso.
― Acha que não estou fazendo isso? ― pergunta seriamente.
― Está levando para o lado da brincadeira. Francamente, Johnatan,
com tudo que está acontecendo não acho que seja o momento para isso ―
esfrego meu rosto exasperada e solto o ar com força, mas estremeço só de me
lembrar do que houve na vila.
― Então, eu vou ajudá-la a se lembrar de algumas coisas com mais
clareza ― fico rígida com o alerta. ― O ponto importante, que foi na leitura
do testamento e suas assinaturas obrigatórias nos documentos. O dia em que
eu estava presente...
Arregalo meus olhos, dando um passo para trás como se sentisse algo
me empurrando para longe.
― O que quer dizer com isso? ― pergunto perplexa.
― Matt foi claro ao dizer se você queria ler os documentos. Eu sabia
que você não hesitaria em assinar, sabendo que todos corriam o risco de
perder tudo ― Johnatan diz calmamente, voltando a andar de um lado para o
outro.
Lembro-me de Johnatan com o disfarce que eu jamais reconheceria.
Recordo-me de Matt explicando sobre o testamento e todos aqueles papéis...
Sento-me de repente. A sensação de cair do penhasco retorna, mas,
dessa vez, o penhasco é mais alto.
― Você não... ― olho para ele. ― Johnatan...
― Entre os documentos, eu havia colocado algo muito mais
importante. Não pense que aqueles papéis eram falsos, nada disso. Só que,
entre eles, estava a certidão de casamento ― informa, enquanto sinto meu
coração palpitar e meu sangue ferver rapidamente. ― Oficialmente, você se
tornou minha esposa. Em outras palavras, você é a senhora Makgold.
Puxo o ar, agarrando a borda do colchão com força. Fecho meus olhos
e balanço a cabeça.
― Você só pode estar de brincadeira ― minha voz sai ríspida.
Quando abro meus olhos, vejo-o parado à minha frente. Franzo a
testa, vendo-o sacar o celular do seu bolso e aperta para uma chamada rápida.
― Matt, traga o documento de casamento assinado por Mine ―
ordena, fazendo meus olhos se arregalarem.
A sensação me dá um frio na barriga, meu corpo encontra a rocha no
final do penhasco e se choca com ele. Puxo o ar com força e me levanto.
Agora é minha vez de andar de um lado para o outro, só que nervosa.
― Você me enganou! ― eu o acuso.
Johnatan se senta em meu lugar para me observar. O sorriso estúpido
está em seu rosto e quero socá-lo, fecho minhas mãos antecipadamente para
isso.
― Talvez, mas Matt perguntou se queria...
― Ele também me enganou! ― me altero.
― Ele não estava de acordo com isso. Então, assumo total
responsabilidade. ― Johnatan está calmo, parecendo se divertir.
Paro de caminhar e fico diante dele. A raiva cresce dentro de mim.
― Responsabilidade, Makgold?! Me fez assinar aqueles documentos
por impulso. Usou minha boa vontade, os meus medos e receios para se
aproveitar da oportunidade ― disparo ao enfrentá-lo. ― Assinaturas
obrigatórias? ― cuspo as palavras com rancor.
― Não usei você, jamais faria isso. Em boa parte dos documentos
originais, eu precisava do apoio da minha companheira...
― Eu não sou sua companheira! ― corto-o com raiva. ― É melhor
você desfazer toda essa merda.
Seu olhar se ergue em reprovação, poderia me encolher com aquele
olhar, se estivéssemos numa conversa sensata, mas, naquela situação, não.
Johnatan se levanta e me enfrenta, muito mais determinado do que eu.
― Para seu governo, respeite nosso casamento, não é nenhuma merda
como diz e não vou desfazer o que já está feito ― seu tom fica mais grave.
Penso brevemente que talvez o tenha ofendido em certo ponto.
― Respeitar? Vem cá, e você? Me respeitou?! ― rebato, vendo sua
testa franzir.
― Mine, apenas não reaja dessa forma, não é o fim do mundo ―
pede exasperado, deslizando uma das mãos pelos cabelos e esfregando sua
nuca.
Inspiro fundo. Duas cabeças quentes não vão a lugar algum, penso
― Johnatan, casamento é algo para a vida toda. É quando tudo se
transforma... ― gaguejo e puxo o ar novamente com força.
― E acha que não quero passar o resto da minha vida ao seu lado? ―
sua pergunta sai um pouco ofendida.
― Não dessa forma, não enganando desse jeito. Inicialmente, há uma
organização, há planos...
Sua risada tranquila me interrompe. Fico chocada, vendo-o se acalmar
e se sentar. Franzo a testa com sua atitude, não estou achando nada
engraçado.
― Você está se referindo a seguir a linha tradicional ― nota,
fazendo-me recuar.
― É a maneira certa a se fazer ― defendo-me.
Johnatan sorri, mostrando seus dentes perfeito, em seguida, suspira
quando não retribuo.
― É por isso que eu te amo ― balança a cabeça ainda divertido.
― Apenas diga para mim que tudo é uma mentira ― imploro.
Seus olhos azuis profundos me encaram.
― Não posso mentir para minha esposa ― diz com suavidade, e faço
uma careta.
― Pare de me chamar assim ― digo sem jeito.
― Você está com raiva ― murmura.
― Não sabe o quanto ― volto a caminhar nervosa de um lado para o
outro, negando-me a acreditar em tudo aquilo. ― Por que fez isso?
― Porque você me pertence ― responde, e o observo com frieza.
Pela primeira vez o vejo se encolher com meu olhar. Gosto disso. ― Eu sabia
que se agisse da maneira tradicional, como: pedir a permissão para seu pai
primeiro, levá-la a um jantar romântico, me esforçar ao máximo para te
agradar e, no final, me ajoelhar para enfim pedi-la em casamento... Você iria
recusar ― Johnatan interpreta seus pensamentos em voz alta.
― Mas é claro... ― os olhos em chamas me encaram. ― Que sim!
― Não disse? ― ele suspira. ― Agora minha vez de perguntar, por
quê?
Aperto meus lábios e tento controlar a fúria que luta dentro de mim.
― Porque é muito cedo ― respondo rapidamente.
― E quanto tempo depois pretendia se casar comigo? Três anos?
Cinco anos? ― pondera. ― Desculpe, minha Roza, mas sou exclusivo e
dispenso tradições.
― Que piada ― murmuro com desdém.
― Quanto tempo? ― insiste.
― Não sei, Johnatan... Vinte anos ― engulo em seco.
Seus olhos se arregalam e o vejo se divertir novamente.
― Você é uma mulher diferente, me fascina ― ri e aperta os lábios
com meu grunhido. ― E não é muito cedo quando existe amor.
― Um amor que engana ― cruzo meus braços.
Eu o vejo se levantar e vir em minha direção quando paro de
caminhar para encarar a parede de cristal em vez dele.
― Você está com raiva por eu não ter avisado sobre o documento?
Ou é pelo casamento? ― pergunta atrás de mim.
― Por tudo ― respondo secamente. ― Não é algo que estava
esperando e quero ter certeza de que isso só passa de um disfarce da sua parte
― reflito em voz alta, mas sem coragem.
― Então, pode ter certeza de que isso não é um disfarce ― sussurra
provocante, e me afasto. ― Você queria de forma tradicional ― diz
pensativo.
Reviro meus olhos.
― Eu não queria nada disso ― aperto meus dentes.
― Amor...
― Para. Não me chama de amor ― resmungo e escuto seu
divertimento atrás de mim.
Subitamente, assusto-me quando escuto uma batida na porta. Johnatan
atende e vejo Donna com um sorriso discreto.
― Desculpe o incômodo. O senhor Polosh acabou de chegar, ele está
aguardando na biblioteca ― assim que Donna informa, disparo para fora,
seguindo direto para a biblioteca.
Quando entro no cômodo, encontro Matt vestido com seu terno
escuro, sentado na cadeira principal, organizando alguns papéis.
― Olá, Mine ― Matt sorri.
Avanço até a mesa.
― Onde está? ― surpreendo-o com meu nervosismo.
O Advogado do Diabo pega uma pasta ao lado e me entrega. Em
seguida, escuto a porta ser fechada e sinto a aproximação de Johnatan.
Suspiro ao abrir a pasta e leio a certidão rapidamente, logo abaixo
estão nossas assinaturas.
― Eu tentei avisá-lo ― Matt se defende, mas o ignoro.
― Isso é mesmo oficial? ― Matt olha para Johnatan depois para
mim.
― Sim ― responde inquieto.
Fecho a pasta, colocando-a sobre a mesa ruidosamente. Ergo meu
corpo e me viro para Johnatan ao meu lado.
― Eu quero o divórcio ― disparo. ― Matt, como advogado, pode
conseguir isso.
Seus olhos em chamas estão fixos em mim, sua expressão suave se
torna dura.
― Não! ― Johnatan diz firmemente, como se encerrasse o assunto.
― Me obrigou a passar por isso, então, eu te obrigo a fazer o que peço
― ordeno.
― Senhor e senhora Makgold,... Mine, ― Matt se interrompe quando
o fuzilo. ― Para isso, o casal tem que chegar a um acordo.
― E estamos. Você continuará sendo minha esposa ― Johnatan diz
com firmeza. ― Sei que está furiosa comigo, posso entender seus
sentimentos no momento.
― Pode? Como? ― zombo sem humor e lhe dou tapas quando se
aproxima.
Ele aperta os lábios para esconder seu divertimento. Sua diversão
aumenta minha irritação e continuo a bater em seus braços e em seu peito.
― Vamos lá, parece que você não está tão brava assim ― desafia, me
fazendo grunhir, e torna meus tapas mais fortes.
Sorrio quando se encolhe, enquanto tenta agarrar minhas mãos
frenéticas.
― Não me toque ― ordeno sem fôlego, mesmo assim suas mãos
tocam meus ombros. ― Se me tocar... Se me tocar... ― me afasto aos avisos.
― O que acontece? ― Johnatan continua a provocar.
Escuto Matt sufocar uma risada.
― Se me tocar... Eu te fuzilo com uma metralhadora ― ameaço com
a voz alterada quando dou tapas em suas mãos perversas.
Afasto-me e arrumo meu cabelo bagunçado.
― Se sente melhor? ― Johnatan pergunta, massageando seu ombro
esquerdo.
Faço uma careta antes de voltar minha atenção para Matt
― Isso é um absurdo... Matt, eu tenho direitos ― digo, sentando-me
na cadeira.
Matt balança a cabeça para se concentrar e pigarreia.
― Se você quiser realmente isso, você tem todo o direito de se
divorciar ― comunica. Vejo pela minha visão periférica Johnatan se sentar
ao meu lado. ― Vou deixá-los sozinhos para conversar até chegar a um
acordo, se quiserem um tempo...
― Não será necessário ― Johnatan o interrompe, recostando-se em
seu assento.
Cruzo minhas pernas.
― Melhor não me deixar sozinha com ele ― peço para Matt, tendo os
olhos de Johnatan assustados. Engulo em seco. ― Posso matá-lo.
Logo, vejo seu sorriso torto.
― Apenas conversem, vejam o que vocês querem. Johnatan errou em
fazer tudo às escondidas, mas pense no quanto ele ansiava estar ao seu lado
― é como se Matt repreendesse nós dois. ― Mine também tem o direito de
ficar nesse estado, foi uma surpresa inesperada... Certo, eu vou me retirar. ―
Matt se levanta e sai da biblioteca, deixando-me com o inimigo enganador.
Permanecemos em silêncio. Encaro a parede de vidro, observando um
pássaro em uma das árvores se assustar e voar para longe.
― Não é assim que imagino um casamento ― desabafo, sentido o
peso em minhas costas. Vejo Johnatan me observar, mas sou incapaz de olhar
em seus olhos. ― Imagino o tradicional ― confirmo.
― Então, eu estraguei suas fantasias? ― Johnatan pergunta com
suavidade.
― Um pouco ― aperto meus lábios para não sorrir.
Johnatan puxa minha cadeira para ficar de frente para ele. Observo
sua mão quente aperta as minhas.
― Não foi minha intenção estragar suas expectativas. Eu só
imaginava tê-la comigo por inteiro e acho que coloquei meus desejos acima
dos seus ― lamenta e levanto meus olhos. ― Me desculpe ― vejo o
arrependimento e a tristeza em seu olhar.
Meu coração se aperta ao escutar que ele desejava ficar comigo, não
importava como. Sinto o nó em minha garganta.
― Você desejava? ― pergunto quase sem voz.
― Tanto quanto dizer que a amo ― confessa com um sorriso torto.
Meus olhos se enchem de lágrimas.
― Você me pegou de surpresa, foi e continua sendo um choque para
mim. Johnatan, há uma linha que devemos respeitar, sobre o que cada um
quer. Não pode decidir coisas assim por mim, do mesmo modo que eu
também não posso decidir por você. Só se for em caso de vida ou morte, mas
mesmo assim... ― inspiro fundo ao desabafar.
― Tem toda a razão ― em vez de triste, ele está deslumbrado. ―
Mas até que foi engraçado em certo ponto ― confessa, dando-me um breve
sorriso.
Em seguida, eu o assisto se levantar. Franzo a testa quando segue até
a saída.
― Aonde vai? ― pergunto com urgência.
Ele não se vira e o noto puxar o ar com força. Meu coração se aperta,
está quebrado, eu o magoei.
― Pedir para Matt dar entrada nos papéis do divórcio ― força sua
voz a sair dura, sinto a dor em suas palavras.
Antes que ele saia, levanto-me rapidamente.
― Não! ― disparo, deixando-o feito uma estátua em frente à porta.
― Não chegamos a um acordo ― encaro suas costas largas.
― Mine,...
― É a minha decisão, certo? Eu sei que se fizermos isso, eu vou me
arrepender ― sinto meu coração dolorido acelerar.
Johnatan se vira com cuidado, e vejo seus olhos lacrimosos. Oh, não!
Eu não queria lhe causar dor. Abro minha boca e a fecho novamente. Minhas
lágrimas caem ao ver sua tristeza.
― Amor, não precisa fazer isso por minha causa ― Johnatan se
aproxima.
― Estou fazendo por nós dois ― seco minhas lágrimas.
Aproximo-me o bastante para tocar seu peito e sentir seu coração
bater forte.
― Não quero ser egoísta, não quero que lhe falte nada, não quero que
se sinta sozinho. E o mesmo que você deseja fazer por mim, eu desejo fazer
por você. É assim que funciona um casamento, não é? Pensar um no outro,
cuidar um do outro, sermos companheiros em todos os momentos, bons e
ruins ― fecho meus olhos quando sinto seus dedos tocarem minha face para
afastar minhas lágrimas.
― Aprenderemos com o tempo como funciona um casamento ―
escuto-o sussurrar, colando seu rosto no meu. ― Nada me deixaria mais feliz
do que tê-la ao meu lado, acordar todos os dias tendo-a como minha esposa.
É uma maneira de nunca me afastar de você.
Seus braços me envolvem num abraço apertado, e envolvo os meus
em seu pescoço.
― Você gosta disso, não é? ― sorrio.
― Você não faz ideia ― aproxima-se para beijar meus lábios, e me
afasto para observar sua expressão descarada.
― Se eu não te conhecesse tão bem... ― murmuro com os olhos
apertados.
Não posso deixar de rir da “volta” de seus olhos quentes e vitoriosos.
― Minha mãe sempre me disse que eu daria um bom ator ― brinca e,
antes que seus lábios colem nos meus, ele permanece pensativo.
― O que foi? ― fico confusa.
― Estou pensado se te tocar ou te beijar me fará ser fuzilado por uma
metralhadora monitorada por você ― franze a testa. ― Acho que eu não me
arriscaria.
Posso sentir sua felicidade irradiar. Sorrio, puxando-o para mim e o
beijando com ternura.
Mordo seu lábio inferior, gemendo quando ele suga o meu inferior.
Meu corpo o deseja, e o abraço com força deslizando minhas mãos por seus
cabelos. Uma tossida discreta me faz desgrudar, mas Johnatan mantém unida
a ele. Vejo o desejo em seus olhos e coro. Olhamos para a porta, vendo Matt
nos observar sem jeito.
― Vejo que já entraram em um acordo ― diz com um sorriso
educado.
― Sim ― Johnatan informa, beijando meu rosto com doçura.
― Parabéns ao casal ― Matt brinca e suspira. ― Agora, voltando ao
mundo real, um dos membros que está nos ajudando foi ferido hoje.
Franzo a testa, sinto o corpo de Johnatan endurecer.
― Vou para a Colmeia resolver isso e também alguns assuntos que
havia te informado pelo celular ― Johnatan confirma, fico confusa.
Matt acena e se despede.
― O que houve? ― pergunto assim que Matt nos deixa a sós.
― Conseguimos contato com um dos membros fugitivos, que
concordou em nos ajudar. Ele estava investigando os lugares da máfia e foi
ferido. Não pude ouvir muito, porque tive que vir até aqui para nos acertamos
primeiro ― Johnatan parece cansado.
― Você não vai ficar por muito tempo, não é mesmo? ― faço um
beicinho.
Johnatan sorri e beija meus lábios.
― Voltarei correndo ― promete.
― Resolva isso com calma. Agora que você está preparado para
acabar com tudo isso e pedir ajuda a outras pessoas que estão dispostas, aja
com cautela. Sei que você as mantém protegidas da LIGA de alguma forma.
Você tem um coração muito generoso ― digo com orgulho.
Johnatan faz uma careta.
― Certo ― ele acena, não querendo elogios. ― Então, trarei seu anel
de compromisso ― seu sorriso se abre enquanto eu coro.
― Isso é o de menos ― dou de ombros.
Johnatan ri.
― Darei um jeito ― diz, pegando minha mão e a beijando.
Meu coração dispara, como na primeira vez em que o vi. Sinto meu
rosto ficar cada vez mais vermelho.
― Não quero nem imaginar os seus planos, homem exclusivo ―
zombo, fazendo-o rir e volto a beijá-lo com todo o meu amor.

De volta ao mundo real, depois que Johnatan sai, vou até o quarto
onde está meu pai. O espaço é amplo, com uma cama com dossel e móveis
vazios, tudo em tom creme. Quando entro, sinto meu coração se apertar ao
vê-lo sentado de cabeça baixa, não sei por quanto tempo ele permaneceu
naquela posição.
― Pai? ― chamo-o, notando seu joelho enfaixado.
― Não aceito que aquele homem a treine, não aceito que você siga
esses passos. ― sua voz está mais grossa.
Seguro minha respiração e solto bruscamente.
― Johnatan falou para você... É claro ― resmungo.
Eu me pergunto se o linguarudo também falou sobre o casamento,
mas permaneço em silêncio sobre esse assunto. Neste momento, é melhor
evitar mais discussões.
― Acha que concordo? Mine, você não será a mesma... ― sinto a dor
em sua voz.
Aproximo-me da cama para sentar ao seu lado e abraçá-lo.
― Eu continuo aqui. Prometo nunca mudar ― asseguro com todo
meu coração.
― Matando pessoas? ― suas palavras me surpreendem.
Penso por um segundo.
― Se for para manter a salvo quem eu amo, sim ― digo com
sinceridade.
― Você é incapaz de fazer isso, Mine ― meu pai afirma, apertando
seus braços ao meu redor. ― Treinar para entrar nesse mundo transforma o
ser humano aos poucos. Não quero que seja assim, não quero que se torne
uma pessoa fria e sem escrúpulos, sem escutar o lado da verdade, sem escutar
as pessoas à sua volta, sem agir com o coração. Querida, se você soubesse o
tamanho do seu coração!
― Papai,... ― afasto-me para olhar em seus olhos cheio de tristeza
―, sei que sou teimosa e impulsiva, mas não quer dizer que deixarei de ser
quem eu sou. Johnatan também não quer, e ambos têm a mesma opinião.
― Não me compare com aquele ser ― Edson o despreza.
― Pai, eu o amo muito. Um dia você vai perceber que ele não é como
Charlie Makgold, pois tudo que Johnatan tem feito é para o bem de todos que
o cercam ― meu pai abre a boca, mas o interrompo com a palma erguida. ―
Ele pode ter causado essa impressão no início, e acho que a vida ensina as
pessoas a enxergarem o mundo de outras formas. Johnatan pode ter
aprendido, sem perceber, o que era importante em sua vida.
― Não confio nele ― Edson Clark permanece com seu orgulho
intacto.
― Por que o odeia tanto? ― vejo seus olhos distantes. ― Papai?
― Pelo o que se transformou, pela dor que causou ― responde
exasperado.
Acaricio seus cabelos grisalhos e beijo seu rosto.
― Certo, vou respeitar suas escolhas e sua opinião ― quero lhe dar
apoio pelo o que está passando.
Ele me observa emocionado, sua dor inquieta aperta meu coração.
― Oh, querida ― eu o abraço assim que vejo suas lágrimas caírem.
― Não restou nada. O que direi aos clientes? Como irei ao enterro do meu
melhor amigo, ver sua esposa, seus filhos, ver todas aquelas pessoas
desabrigadas? Se fosse uma morte honrosa, sem dor, sem violência,
estaríamos comemorando tradicionalmente um funeral em sua homenagem,
mas foi uma tragédia. Não há felicidade assim... Pelo contrário, há medo.
Eu o abraço com força, desejando sumir com toda a sua angústia.
― Vai passar... Nós vamos conseguir ― conforto-o, apertando meu
rosto contra seu peito. ― Por que não descansa um pouco? Prometo ficar
aqui até você adormecer.
Assim que concorda, ajudo-o a se deitar e fico ao seu lado, mantendo-
me forte por ele. Depois de alguns minutos, adormece num sono profundo.
Observo-o por um instante, é como se não dormisse há dias. Suspiro e me
curvo para beijar sua testa.
14 – PEGANDO PESADO

― Não me diga... Espere, você é senhora Makgold? Nossa mãe das


cabritas! ― Jordyn está em êxtase depois que lhe informei sobre o
casamento.
Depois de um jantar tenso, com relatos que cercam a cidade devido à
explosão na vila, eu me juntei a Jordyn em meu quarto a fim de me distrair.
Estranhamente, ela trouxe seu laptop, colocando uma imagem de fogueira, e
um pote de sorvete de chocolate para dividirmos. Balanço minha cabeça por
encarar tanto a imagem.
― Para que isso? ― pergunto depois de engolir o sorvete.
― Não muda de assunto ― encara a tela. ― Finja que estamos em
um acampamento. Entra no espírito, Mine... Digo, senhora Makgold ― ela ri,
fazendo-me revirar os olhos.
― Apenas Mine, por favor ― pego outra colherada de sorvete. ― E
não vem me dizer que você não sabia ― levanto minha sobrancelha.
Ela pisca chocada com minha afirmação.
― É claro que não! Se eu soubesse, meu ego estaria lá em cima como
agora. ― Jordyn se empolga, agarrando meus travesseiros.
― E por quê?
― Porque eu sou a melhor amiga da poderosa chefona ― responde
em êxtase.
― Ah... Por favor, Jordyn ― resmungo.
― Quê? Você tem outra melhor amiga? ― sua pergunta me faz
gargalhar. ― Esteja informada que se tiver, eu acabo com sua raça.
Reviro os olhos. Só Jordyn para me animar nesse momento.
― Você é exclusiva ― digo e sou atacada por um abraço empolgado.
― E quanto à lua de mel? ― pergunta.
Franzo a testa.
― Não parei para pensar sobre isso. Foi tudo repentino ― reclamo.
― Como? Como não pensou nisso? Mine, acorda ― a garota dá um
tapa na minha testa, fazendo-me piscar surpresa. ― Estamos falando de lua
de mel com o senhor Makgold! Aquele homem lindo e musculoso, o qual eu
imagino agora como deve ser sem roupa.
Ela nem mesmo se envergonha, pelo contrário, essa reação passa para
mim.
― Você pensa no meu namorado pelado? ― fico constrangida.
― Namorado não, marido ― corrige, será difícil me acostumar com
isso. ― Mas é óbvio, quem não imagina? Penso que até Donna deve imaginar
― brinca, fazendo-me lhe dar um tapa leve.
― Donna é incapaz de pensar assim ― digo rindo, mas, ao mesmo
tempo, chocada.
― Tem razão. Só que a maiorias das mulheres que olham para ele
devem sonhar em o despir ― dispara, e fico inquieta pelo breve ciúme.
― Pare de dizer essas coisas ― coro.
― Bem, vocês já fizeram ― continua não respeitando minha
privacidade. ― E deve ser... Uau!
― Vamos mudar de assunto ― insisto.
Ela encara a tela de seu laptop novamente.
― O senhor Makgold deve ser volumoso, não é? ― sua pergunta
perversa me choca.
― JORDYN! ― disparo, quase me engasgando com o sorvete.
Seus olhos ficam alarmados, enquanto se perde em pensamentos altos.
― E... Ele entra todo em você? ― continua com sua curiosidade.
Eu quero me enterrar viva.
― Jordyn! ― fico mais constrangida. ― Não irei contar nada.
― Certo... ― acena. ― Deixe-me imaginar.
Pego meu travesseiro e jogo em seu rosto, ela pisca assustada.
― É melhor parar de pensar nele dessa forma. Onde já se viu? ―
repreendo-a.
― Esse é o problema, Mine, eu nunca vi ― provoca e gargalha
quando jogo outro travesseiro em sua direção.
― Para seu governo, ele é perfeito e não posso dar detalhes sobre...
Você sabe... ― gaguejo, fazendo-a rir ainda mais.
― Compartilha com a amiga aqui ― ela me dá uma piscadela e
aperto meus olhos de brincadeira.
― Posso dizer que eu e ele temos um encaixe perfeito... Num limite
proporcional. ― digo rapidamente, escondendo meu rosto no travesseiro.
Jordyn gargalha até ficar sem ar.
― Eu não duvido disso ― diz sem fôlego.
― Pare de fazer essas perguntas e rir de mim ― resmungo sem jeito.
― É que você cora com tanta formalidade em vez de dizer que ele é
grande, avantajado, essas coisas ― continua.
Estou igual a um tomate maduro.
― Já chega. Eu te trouxe aqui para me distrair, mas não desse jeito ―
suspiramos. ― Vamos falar de você.
A mudança da conversa a deixa rígida.
― Não tenho nada para contar ― sorrio vingativa.
― E por que você ficou tão assustada? Agora, você vai me contar ―
exijo.
Jordyn se mantém na defensiva, depois vejo seus olhos caírem para
suas mãos.
― Bem, algumas coisas que andam acontecendo. Não é nada demais.
― Jordyn diz parecendo confusa.
Franzo a testa e faço bico quando vejo que nosso sorvete acabou.
― E o que está acontecendo? ― pergunto, abraçando um travesseiro.
Jordyn suspira.
― Eu e James... Não me olha com essa cara ― sorrio quando ela
percebe o interesse em minha expressão. ― A gente quase... se beijou.
Ela parece infeliz. Sinto compaixão e, ao mesmo tempo, uma
felicidade interna.
― E o que houve?
― O senhor Makgold apareceu ― sua cara de desgosto é impagável.
Seguro minha risada.
― Eu sinto muito. Foi recente?
― Sim.
― E vocês dois estão envolvidos? ― pergunto interessada.
Jordyn pensa.
― Passamos um bom tempo juntos e ficamos muito unidos desde
então. Conversamos bastante, temos coisas em comum, ele é gentil, é
engraçado...
― Jordyn, está gostando do James? ― minha pergunta direta a deixa
pálida.
― Eu não sei. Nunca o imaginei como um homem, apenas como um
irmão mais velho, um amigo ― responde pensativa. ― Nem mesmo sei o
que ele sente por mim, por isso, é difícil criar expectativas.
Mordo meu lábio.
― Você está confusa ― reflito.
― Sim, talvez... ― diz em dúvida.
Franzo a testa
― Como assim?
― É estranho dizer, mas não sei se é a mesma pessoa ― fico sem
entender seu raciocínio. ― Eu tenho recebido e-mails misteriosos e anônimos
― revela, chamando minha atenção.
― Que tipo de e-mails? ― olho para seu laptop.
― Com mensagens de felicitações e preocupação. E uma vez, uma
única vez, um elogio. Pergunto-me se é James, mas ao mesmo tempo... ―
Jordyn se interrompe com um suspiro.
― Você não tem ideia se tem mais alguém em seus pensamentos? ―
averiguo.
Jordyn balança a cabeça.
― Não. Talvez deva ser ele ― ri de si mesma. ― Até iria pedir para
Shiu rastrear o e-mail, mas não queria que me fizesse perguntas e sei que, se
eu descobrisse que era James, iria perguntar. Você sabe como sou direta ―
concordo plenamente.
― Eu posso descobrir para você ― sorrio.
Jordyn revira os olhos, pela primeira vez fica envergonhada.
― Pensando bem, gosto de manter o mistério. Não quero deixá-lo
constrangido pelas mensagens que me envia. Eu até gosto ― suspira toda
sonhadora.
― Você e James formam um casal perfeito ― elogio, fazendo-a se
convencer.
― Muito obrigada ― joga um beijo.
Fico feliz por ela, ao mesmo tempo preocupada. Jordyn tem um
grande coração e nunca imaginaria vê-la infeliz. Olho para seu laptop por um
momento. Reviro meus olhos e sorrio.
― Agora, pode me fazer um favor? ― suplico, vendo sua cabeça se
inclinar para o lado.
― Claro.
― Busca mais sorvete, por favor... ― imploro com um sorriso doce.
Jordyn se afasta com uma careta.
― Mal virou a senhora Makgold e já está dando ordens? ― brinca,
fingindo estar séria.
Sorrio. Em seguida, verifico as horas, já são mais de dez horas da
noite e não tive notícias de Johnatan.
― Será que ele vai voltar ainda hoje? ― pergunto a Jordyn antes de
ela sair.
Ela franze a testa e pisca os olhos, entendendo de quem pergunto.
― Não sei, talvez esteja resolvendo também os assuntos da vila ―
Jordyn diz, roubando minha atenção.
― Que tipo de assuntos?
Jordyn sorri.
― O senhor Makgold ordenou as autoridades a mantê-lo informado
sobre o estado em que se encontra a vila, claro com um nome falso ― me
informa. ― Ele vai pagar pela reforma das casas e pelo tratamento das
pessoas feridas. Eu o ouvi conversar com Matt, exigindo que a reforma fosse
feita o mais rápido possível.
A notícia me deixa de queixo caído. Meu coração pula em felicidade e
orgulho.
― Ele está fazendo mesmo isso?
― Sim. Quanto às vítimas mortas, ele reembolsou para o velório e o
enterro. Alguns eram pais de famílias que viviam pelo emprego e o senhor
Makgold estará doando uma renda mensal para elas ― meus olhos se enchem
de lágrimas pela informação. ― Quanto às famílias desabrigadas, ele alugou
um hotel exclusivo para as pessoas ficarem até a reforma da vila acabar.
Fico cada vez mais surpresa e sem palavras.
― Ele é incrível ― sussurro com orgulho.
Jordyn sorri com carinho, emocionada, assim como eu.

Já passa da meia-noite e não tive notícias de Johnatan ainda. Com um


suspiro exasperado, apago as luzes do meu quarto e sigo para minha cama,
encarando a rosa em minha cômoda até cair num sono profundo.
Um calor estimulante me invade assim como arrepios intensos. Minha
respiração se altera até ficar ofegante. Abro meus olhos sonolentos, enquanto
meu corpo se arqueia voluntariamente. Gemo suavemente quando sinto meu
sexo se apertar. Logo desperto, atenta ao sentir sua boca úmida sugar meu
clitóris e sua língua provocar minha entrada.
Noto que algo desliza por meu corpo com suavidade, fazendo meus
seios enrijecerem. Olho para baixo e vejo a rosa deslizar por minha pele.
Mordo meu lábio ofegante, deixando Johnatan me provocar com doçura. Ele
deixa a rosa entre meus seios e arrasta suas mãos por meu corpo nu. Por um
momento, não faço a mínima ideia de onde está minha camisola. Movo meus
quadris para ele, sentindo sua boca perversa me provocar com intensidade ao
deslizar por meu corpo, sugar meus seios e encontrar minha boca, dando-me
um beijo cheio de desejo.
Johnatan geme em meus lábios ao grudar seu corpo contra o meu,
fazendo-me senti-lo duro. Sorrio quando me lembro da curiosidade de Jordyn
nesse ponto. Ele se afasta para me olhar confuso, as chamas de seus olhos
estão cheias de excitação. Não faço ideia de que horas são, mas, pela luz da
lua do lado de fora, iluminando a parede de cristal, imagino que ainda seja
madrugada. Observo seus músculos expostos e seu rosto sereno. Na maçã do
seu rosto há um pequeno corte. Expulso a preocupação repentina e me
concentro em nosso momento.
― Não foi minha intenção te acordar ― Johnatan sussurra.
Seu sotaque me faz arrepiar por inteira.
― Fico feliz que tenha feito ― digo com desejo, voltando a beijá-lo
com paixão.
Gemo alto quando o sinto me penetrar devagar.
― Estava tão linda naquela camisola, que não deu para resistir ―
ofega junto ao meu ouvido, enchendo-me de prazer, enquanto se move
lentamente. ― Não tem ideia do quanto me provocou quando a encontrei
adormecida.
Sorrio e gemo ao senti-lo mais profundo.
― É o que uma esposa dedicada faz por seu marido ― digo com
fervor.
Quando abro meus olhos para encarar os seus, percebo seu sorriso em
meus lábios. Meu coração está preenchido só de ver o quanto está feliz e o
quanto me deseja.
― Eu amo você ― declara, roçando sua boca na minha. ― Amo você
― seus lábios percorrem por meu pescoço com leves sugadas, seguindo até
meu ouvido para sussurrar num russo provocante.
Gemo, apertando seus ombros e o puxando para mim. Ele agarra
minhas mãos, mantendo-as presas acima da minha cabeça ao se mover com
mais velocidade. Vou à loucura em pouco tempo até atingirmos nosso ápice
do prazer. Tão doce, tão intenso e tão quente. Permanecemos nos provocando
por longas horas até cairmos saciados e cansados, seguindo para um sono
acolhedor em nossa bolha do amor.
Permito que a paz do momento me domine, como se eu estivesse em
um daqueles sonhos suaves, que acabam se tornando mais profundo, esse é
um dos melhores sonos e é assim que me sinto até sentir a umidade fria. O
sonho me carrega para um poço de água congelante. Sento-me rapidamente
pelo susto e sugo o ar com força devido ao frio.
Encaro a mim mesma, estou vestida com minha camisola de seda
vermelha e molhada com cubos de gelos à minha volta. Ergo minha cabeça
com os lábios trêmulos. Johnatan está ali parado, já vestido com moletom,
tênis e um suéter escuro. Em sua mão há um balde azul. Fico perplexa,
perguntando-me por que ele me acordou com um balde de água e gelo. Logo,
o choque desperta a fúria e o fuzilo com meu olhar mortal.
Seus olhos azuis intensos estão sérios, assim como sua expressão.
― Seu treino começou, e você está atrasada. Tem apenas quinze
minutos para se aprontar e me encontrar no campo ― assim como sua
expressão, sua voz também é fria, mantendo a ordem.
Aperto meus lábios trêmulos para controlar a raiva. Verifico as horas,
vendo que só estou um minuto atrasada.
Johnatan segue para a saída.
― Certo, me dê vinte minutos ― meu tom denuncia minha irritação.
Ele se vira para me olhar em reprovação, e fico surpresa com sua
rigidez.
― Você tem dez minutos ― sai, deixando-me mais irritada.
Olho ao meu redor, estou encharcada e com frio.
― Grosso! ― resmungo entredentes.
― Cinco minutos! ― aparece em minha porta e se retira.
Droga! Saio da cama como se estivesse apostando uma corrida.
15 – TREINAMENTO

Mal consegui escovar meus dentes direito e colocar meu moletom


escuro, corro para o campo, calçando meus tênis. Johnatan não está muito
longe; assim como eu, está vestindo seu moletom cinza, tranquilamente à
minha espera. Do seu lado há uma caixa de madeira firme, que me lembra um
baú antigo. Ele se aproxima todo observador, sabendo que se eu tivesse o
poder, ele estaria morto com o meu olhar. Ainda não posso acreditar que me
acordou depois da noite que tivemos juntos.
Vejo o sol começar a nascer pelas montanhas, mas tudo me irrita, até
mesmo a neblina do campo. Logo, aproximo-me de Johnatan duramente.
― Estou aqui, chefe! ― minha arrogância se sobressai, deixando-o
surpreso.
― Café da manhã? ― diz sem se intimidar com meu olhar. É
impressionante como minhas mãos se fecham num punho firme.
― Boa pergunta vindo de uma pessoa que me fez estar aqui em cinco
minutos ― continuo petulante.
Johnatan acena de acordo e me entrega uma caneca térmica.
― Beba sem reclamar ― exige
― Está me dando um cafezinho depois de me acordar com um balde
de gelo? ― ironizo.
Johnatan me avalia dos pés à cabeça, parecendo satisfeito.
― Essa era a intenção ― fala mais para si mesmo. ― Gosto que
esteja assim. Agora toma.
Suas palavras me deixam confusa. Juro que estou mais que irritada,
principalmente com sua voz autoritária.
Pego a caneca térmica de sua mão e tomo seu conteúdo, mas paro, em
seguida, quando sinto o gosto do líquido azedo, forte e pegajoso. O sabor
picante do gengibre faz minha língua formigar. Encaro a caneca com uma
careta.
― Mas que porcaria é essa? ― reclamo, entregando para Johnatan
imediatamente.
― Isso é uma vitamina, é como um café da manhã reforçado. Não vai
conseguir ir em frente de estômago vazio ― Johnatan explica, não
recolhendo a caneca. Em vez disso, ele espera pacientemente que eu engula
tudo.
Inspiro fundo, controlando minha fúria, e espio o que tem dentro da
caneca. O líquido tem um cheiro forte, é cremoso e verde, meu estômago
embrulha.
― Vai me dizer o que colocou aqui além de gengibre? ― pergunto
com uma careta.
O carrasco cruza os braços, fazendo os bíceps se destacarem sob o
tecido de sua blusa.
― Você vomitaria ― responde rapidamente.
Argh! Sem ter para onde correr, prendo minha respiração e engulo a
coisa com esforço.
― Não foi tão mal assim ― minto, segurando a vontade de pôr tudo
para fora.
Johnatan pega a caneca e segue adiante para abrir a caixa retangular
de madeira. Eu espio por cima do seu ombro, conseguindo ver apenas alguns
tecidos grossos, punhais e fendas. Quando ele se levanta, finjo que não o
espiei. Em seguida, franzo a testa quando ergue um casaco e se vira para
mim.
― Vamos começar com um simples aquecimento ― informa,
verificando o casaco em suas mãos. ― Cinco voltas pelo campo, daqui até
aquelas árvores ― aponta para longe. Certo, circularei o campo.
Escondo meu sorriso, mas não meu sarcasmo.
― Acha que eu não fazia isso? ― seus olhos me avaliam com humor
sombrio.
― Imagino que sim ― diz com um sorriso duro. ― Mas tenho
certeza de que não fez com isso ― observo o casaco.
Franzo o cenho quando abre o casaco para que eu enfie meus braços.
Suspiro e o visto. Quando Johnatan solta o tecido grosso em meus ombros,
arregalo meus olhos. É como se tivesse um peso extra em toda parte do meu
tronco.
― O que colocou aqui? ― pergunto surpresa, enquanto ele fecha a
peça.
Depois, Johnatan me vira para ele a fim de acertar minha postura.
Sinto-me triste por não receber nenhum beijo, nem mesmo um carinho da sua
parte. O casaco pesado me impressiona, e tenho que firmar minhas pernas
para me manter erguida.
― É um tecido chumbado, como se você estivesse carregando um
quilo de peso em cada parte do casaco. Vamos melhorar um pouco mais ―
Johnatan avalia minha postura e o vejo vasculhar a caixa novamente,
agachando-se diante das minhas pernas.
Eu o observo colocar tornozeleiras de peso, assim como joelheiras.
Quando finaliza, forço meu corpo a caminhar. Em seguida, aperto meus
lábios, enquanto olho para as árvores distantes.
― Cinco voltas? Tem certeza? ― tento persuadi-lo.
Johnatan inclina sua cabeça e, pela primeira vez no dia, vejo seu
sorriso sincero.
― Seis voltas ― encaro-o horrorizada.
Penso que ele vai ceder em algum momento, mas o vejo voltar para
sua postura séria e pegar o cronômetro.
Fecho a cara, sentindo meu sangue ferver. Parte de mim, uma ponta
pequena, arrepende-se de ter pedido tal absurdo.
― Seja o que Deus quiser ― murmuro.
Caminho mais à frente, com o corpo completamente pesado, como se
estivesse presa. Inspiro fundo e forço minhas pernas endurecidas a correrem.
Não é como antes, em que eu conseguia me mover mais rápido. À medida
que vou seguindo em frente, o peso parece se intensificar, mas não ouso
desistir. Sei que algumas vezes na corrida meus esforços são mais rápidos e
mais lentos quando ouso me lançar para frente.
Não quero reclamar, mas o campo parece muito amplo e as árvores
muito distantes para o meu gosto.
― Esqueça os pesos, Mine. Concentre-se em sua corrida, no objetivo
a que tem que chegar! ― Johnatan grita atrás de mim, fazendo minha raiva
crescer. ― Flexiona os joelhos... Está devagar... Seu oponente poderá te
atacar se estiver correndo dessa forma... Mantenha a postura reta e firme...
SÃO APENAS PESOS, MINE!
Seus comandos me perseguem até eu estar o mais distante possível,
com isso, aproveito a oportunidade para xingá-lo. Mal dou a volta no campo
e já sinto o suor escorrer em meu rosto. Quando passo pelo celeiro, vejo os
cavalos me observando com interesse. Ótimo, tenho uma plateia, que legal!
Reviro os olhos e, com a raiva que sinto por Johnatan esta manhã,
corro com mais esforço, mesmo sentindo meus músculos arderem.
― Estúpido ― murmuro rispidamente, sabendo que, enquanto estou
distante, ele é incapaz de ouvir minha fúria.
Garanto que, para mim, passou uma eternidade com apenas uma
volta. Quando passo por ele, sinto-o me seguir como se estivesse me
avaliando em cada detalhe.
― Caso não saiba, o casaco tem uma espécie de microfone em um
dos botões ― escuto atrás de mim e me sinto pálida, enquanto corro, ou
tento. ― Estúpido, é? Fora os outros que eu ouvi!
― Droga...
Fujo dele. Mesmo cansada, forço minhas pernas a dispararem para
frente, antes que ele me submeta a mais uma rodada.
Na terceira volta, meus músculos doem, puxo o ar com força e paro
de correr abruptamente quando estou próxima ao celeiro. Minha garganta está
seca e meu corpo, fraco, o peso parece me agredir, o que me irrita.
― MINE! ― Johnatan grita, repreendendo minha parada.
― Será que eu posso descansar um pouco?! ― grito sem fôlego e
esfrego meu rosto suado.
Sua aproximação me deixa alerta. Quando me afasto, vejo sua
sobrancelha se erguer.
― Seu oponente não vai esperar você descansar ― rebate.
― Que se dane o oponente! ― puxo o ar fresco com força. ― E se
você fosse meu oponente... Com certeza, lançaria uma faca direto em sua
garganta ― a ameaça o deixa impressionado.
Não suporto o peso e quero tirá-lo. Johnatan me interrompe, mas
tento me afastar, em seguida, agarra a gola do casaco.
― Olhe para mim ― continuo a encarar qualquer lugar que não seja
ele. ― Mine, olhe para mim...
― Não vou olhar, não quero olhar.
― Está mais irritada do que nervosa ― indaga.
Viro-me para ele, vendo seus olhos nos meus.
― E como você quer que eu reaja? Me acorda no meio da noite,
fazemos amor com carícias e beijos, e me sinto no paraíso; de repente, sou
acordada com um balde de água com gelo. Você nunca mais faça isso,
Johnatan Makgold! ― cutuco seu peito, empurrando-o inutilmente.
Johnatan agarra minha mão, nem mesmo tenho força para levantar
meus braços direito.
― E é essa a intenção. Ignore essas razões. Olha, estamos num treino,
preciso de você focada e é o que está acontecendo. Em nenhum momento até
agora a vi hesitar. Também observei que qualquer barulho chama sua
atenção. Então, para uma novata, você está indo bem ― elogia, mas nem
tenho humor para sorrir. ― Embora tenha que melhorar sua corrida com os
pesos. Com tempo e treinamento, nem mesmo vai senti-los, isso não é a pior
coisa do mundo.
Ergo minha sobrancelha.
― Não me diga que tem coisa pior que isso ― resmungo menos
irritada.
Johnatan suspira.
― Bem, não sei se correr descalço em cima de brasas seria pior ―
reflete, fazendo meus olhos se arregalarem. ― E, se eu me exercitasse como
você agora, possivelmente receberia uma pancada de ferro quente nas costas.
Abro minha boca impressionada e engulo em seco.
― Não me diga que foi meu pai... ― paro quando confirma com
apenas um olhar. Balanço minha cabeça, afastando o pensamento das brasas.
― Não estou reclamando do treinamento, sei que... Sei que tem que ser
pesado e difícil, mas... nem um beijo? ― vejo-o falhar ao tentar segurar um
sorriso.
Johnatan se curva, sinto meu coração disparar com a aproximação de
seus lábios e seu olhar dominante.
― Continue, Mine ― sussurra com um sotaque potente e se afasta,
deixando-me atônita. ― Se continuar parada, será mais uma volta ― encaro
suas costas, boquiaberta.
― Merda ― volto a correr sem pensar duas vezes.
Quando termino minha exaustiva corrida, arranco a garrafinha de
água da mão de Johnatan e engulo, como se minha vida dependesse daquilo.
Estou mais suada que o normal, como também mais cansada, mas, mesmo
sentindo meus músculos rígidos, sinto-me mais disposta.
Assim que o casaco e os pesos são retirados do meu corpo,
impressiono-me com a leveza imediata em meu corpo. Inspiro fundo para
controlar minha respiração e os batimentos do meu coração. Quando o tempo
ensolarado começa a aquecer, os cavalos seguem para suas corridas matinais
tranquilamente. Eu os invejo.
― Amanhã, você estará bem mais rápida. Vai se acostumar, os pesos
servem para te manter no equilíbrio, além de ajudarem a ficar em alerta ―
Johnatan explica depois de guardar o casaco.
― Meu tempo foi de duas horas? ― tenho certeza daquilo.
Johnatan me olha com um sorriso torto.
― Andou cronometrando? ― seu humor me faz corar.
― E quem não faria? Parecia uma eternidade. Estava contando os
minutos para me livrar disso ― aponto meu queixo em direção à caixa de
madeira. ― E o que são essas coisas?
Johnatan olha para seu lado e me observa em seguida.
― Com o tempo você saberá, pois usaremos algumas peças nos
treinos. Embora eu queira usar mais para saber como anda seu
desenvolvimento ― diz, dando de ombros.
― Certo. Terminamos por aqui? ― minha pergunta sai fraca e
temerosa.
Johnatan abre seu sorriso zombeteiro e balança sua cabeça.
― Vamos para a academia ― seu tom tranquilo quase me faz suspirar
de alivio. Quase.
― Sinto que o pior ainda está por vir ― murmuro para mim mesma.
Eu o sigo até a mansão, observando-o levar a caixa. Quando subo as
escadas, sinto minhas pernas firmes e doloridas. Ignoro a sensação e caminho
até a academia, agradecida porque ninguém ainda se levantou.
Depois que Johnatan guarda a caixa, segue em direção ao tatame,
apontando a frente para onde eu devo permanecer e obedeço sem reclamar.
Para meu desespero, vejo-o tirar sua blusa e jogá-la no chão. Meus olhos
imediatamente fixam em seus músculos definido. Aprecio até mesmo as veias
saltarem de seus braços, enquanto ele abre e fecha as mãos em punhos firmes.
Quando ergo meu olhar, noto que observa minha barra de aço.
― Você... ― aponta desconfiado.
― Eu uso para muitas coisas ― digo sem jeito.
Johnatan nota meu desconforto.
― Que tipo de coisas? ― ele se interessa.
― Qual será o próximo treinamento? ― ignoro sua pergunta.
Por que ele não põe a blusa? Seria tão fácil para me concentrar.
― Não está conseguindo se concentrar? ― adivinha, ao notar meus
olhares distraídos.
― Hum... Talvez ― aperto meus lábios e inspiro fundo.
― Quer que eu vista a blusa? ― não sei se isso faz parte do treino ou
se ele quer mesmo me persuadir.
Balanço minha cabeça, confusa.
― Não. Sim. Não. Sim... Não, não. Sim! Não!
Mas que droga!
― Posso fazer um strip-tease, já que te sinto arder em fogo ― seus
olhos são como chamas quentes e perigosas.
Oh! Com certeza ele está me testando. Esfrego minhas mãos em
minhas coxas.
― Johnatan! ― aperto meus dentes.
― Sim, amor? ― dispara com carinho.
― Vista a blusa ― meu pedido sai forçado.
― Tem certeza? ― Johnatan provoca e se aproxima.
― Não. Sim... Não. Sim, não... Ah! Estou fodida ― esfrego minha
testa.
― É para isso que estou aqui ― continua a atiçar.
Balanço minha cabeça a fim de coordenar meus pensamentos.
― Está tentando manter a paz comigo depois de me acordar daquela
forma? ― analiso a situação.
Johnatan sorri, enquanto flexiona seus músculos de forma
descontraída.
― Talvez ― responde em tom rouco antes de voltar à postura do
Poderoso Chefão. ― Aproxime-se!
Hesito, mas logo que o vejo sério, faço o que me pede, mantendo uma
certa distância de seu corpo.
Johnatan me olha confuso.
― Estou me prevenindo. Sinto que tudo à minha volta é como um
teste ― desabafo, fazendo-o sorrir brevemente.
― Isso é muito bom ― aprova ― Veja, estamos em um treino e estou
mantendo você no foco.
― Jura? ― digo, encarando seu peitoral.
― Como você disse, um teste. Eu sei que posso ser sua distração. ―
Eu poderia dizer que ele está nutrindo seu ego elevado, mas está certo. ―
Então, enquanto estiver fora de tudo isso, eu sou seu amigo, seu
companheiro, seu namorado, seu amante... Seu marido ― coro ao ver aquele
sorriso torto que me faz derreter, mas logo se esfria. ― Só que, dentro deste
mundo, eu sou somente seu treinador, nada mais.
Engulo em seco.
― Tudo bem ― tento manter minha voz firme.
― Certo ― ele se afasta, e mantenho minha concentração apenas em
seus ensinamentos. ― Iremos começar com um alongamento ― diz, virando-
se para mim.
― E... Como será esse alongamento?
Minhas sessões de alongamento sempre foram na barra, mas,
dependendo de Johnatan, seria algo diferente, longe do que já estou
acostumada.
― Eu lhe dando uma surra ― fico chocada com sua resposta
imediata.
E, antes que eu reaja, já sinto minhas costas se chocarem contra o
tatame. Aperto meus dentes em frustração e encaro o teto perplexa. Em
seguida, Johnatan se aproxima, me olhando deitada no chão.
― Eu não estava preparada... para isso ― digo com esforço.
― Seu oponente agirá bem pior ― Johnatan alerta, e me desvio
quando vejo seu braço pronto para me golpear.
Consigo me manter de pé rapidamente ao me dar conta de que, no
momento, ele é minha ameaça. Johnatan me avalia e o vejo avançar como um
leão. É tão rápido que mal consigo manter minha mente em ordem, sendo
novamente jogada contra o chão. Subitamente, sinto um golpe em minhas
coxas, meus músculos ardem com os movimentos brutos e ficam tensos a
cada golpe.
Sinto o suor escorrer e meu sangue ferver, a raiva cresce dentro de
mim por Johnatan não me dar um segundo para ordenar meus pensamentos,
sinto-me como se fosse um saco de pancadas. Quando noto o pouco espaço
que tenho, levanto-me e nos encaramos ao rodarmos em círculos.
― Não vai me dizer que meu oponente fica me encarando ― provoco
irritada.
Johnatan me avalia.
― Eles sempre esperam um ataque ― responde.
Noto como puxa o ar com calma, mesmo estando cheio de tensão. Eu
o imito até sentir minha pulsação mais cômoda.
― Vai esperando ― provoco, afastando o suor da minha testa.
Johnatan avança para mim, e me defendo dos seus ataques,
empurrando-o para longe. Ergo minha sobrancelha quando o surpreendo.
― Bom! ― Johnatan massageia a lateral da costela onde o acertei.
Quando volta a me atacar, ajo com mais agilidade. Enrosco minhas
pernas em seu tronco, giro meu corpo e agarro seus braços com força para
imobilizá-lo. Num impulso, agito meu corpo contra o dele e o derrubo no
chão. Sem perder a luta, movo-me rapidamente, soltando seus braços e os
mantendo presos em minhas pernas.
Quando monto em seu corpo e passo meus braços em volta do seu
pescoço com firmeza, Johnatan sorri. No entanto noto seu rosto começar a
ficar avermelhado. E, quanto mais ele tenta se mover embaixo de mim, mais
meu aperto se intensifica.
― Eu posso torcer seu pescoço ou danificar sua cervical ― reflito
tranquilamente. ― É uma bela vingança depois do balde de gelo.
Johnatan segura sua risada e tose.
― Estou impressionado ― diz quase sem voz devido ao meu aperto.
― Mas se fizer a primeira opção, da maneira que me encontro com você,
acredito que morrerei feliz.
Abro minha boca surpresa.
― Onde está o tutor exigente? ― disparo irônica.
Johnatan me dá um sorriso torto. Balanço minha cabeça sorrindo e me
afasto dele rapidamente antes que me golpeie.
― Agora entendo a barra de ferro ― murmura depois de levantar. Em
seguida, vai até a caixa para pegar dois pares de bandagem.
Ele coloca em suas mãos primeiro, depois nas minhas.
― Meu pole dance tem suas vantagens ― aprecio minha barra com
orgulho.
Johnatan ri, provavelmente de alguma piada interna, e me encara.
― Vamos treinar alguns socos. O importante, quando estiver
enfrentando alguém, é observar seus movimentos para não ser pega
desprevenida. Você deve sentir o momento em que ele está pronto para te
atingir. Pense que qualquer movimento, será um ataque contra você ―
explica.
― Mas, em algum momento, com certeza eu vou apanhar ― afirmo e
logo me encolho com seu olhar de reprovação.
― Seja sempre melhor que eles! ― aconselha com firmeza, fazendo-
me acenar. ― Mostre como estão seus socos!
Lá está ele com todo seu pomo-de-adão pronto para que eu o atinja.
Sorrio em ameaça e começo a socá-lo com força. Algumas vezes, Johnatan
ajeita meus punhos e minha postura para que eu não agrida meus músculos
com movimentos errados. Pouco tempo depois, estamos nos movendo juntos
entre socos e chutes; eu praticamente o atinjo com força. Concentro-me na
tensão do meu corpo e em seus movimentos de ataques assim como nos
meus.
― Há algum problema de ser mais baixa que eles? ― pergunto, sem
interromper nossa luta, e puxo o ar com calma assim como ele.
Mesmo estando cansada, a parte em manter meus sentidos no controle
ajuda a me manter atenta.
― Você acabou de me nocautear como se fosse uma serpente ―
Johnatan diz, protegendo-se agora dos meus ataques. Devo dizer que estou
começando a gostar do treino dessa forma, em vez de tê-lo todo mandão. ―
Sua altura não é problema.
Isso me impressiona.
― Que bom ― ofego e, num improviso, giro meu corpo para atingi-
lo com meu calcanhar.
Johnatan agarra minha panturrilha e me puxa para ele, encaixando-me
em sua pélvis. Arregalo meus olhos com os punhos no ar e tento me manter
em pé com uma perna só, enquanto ele mantém a outra em sua mão.
― Jamais faça movimentos como esse, a menos que você seja rápida
demais. Seu oponente pode lhe segurar dessa forma e quebrar seu fêmur com
um golpe, ou, se estiver armado, há vários pontos certos para te atingir ― me
repreende.
― Desculpe... Só improvisei ― digo rouca.
― Nunca improvise. Haja sempre consciente. Se é para atacar, faça
sem hesitar ― aconselha seriamente.
Aceno e tento melhorar o humor que há entre nós.
― Você gostaria que meu oponente se encaixasse dessa forma que
está fazendo? ― seguro meu sorriso.
Johnatan abaixa seu olhar para minha bunda apertada contra sua
pélvis.
― Eu o mataria se tentasse ― ameaça, soltando minha perna.
― Foi o que imaginei ― brinco.
― Vamos tomar o café da manhã ― diz ao verificar o relógio na
parede.
Aproveito que ele desliza as mãos por seu cabelo distraidamente e
pulo em seu corpo, derrubando-o no chão. Dessa vez, minhas coxas se
apertam em seu pescoço, mas sem sufocá-lo. Ele me olha surpreso, com os
olhos azuis intensos nos meus.
― Um oponente nunca fica distraído ― afasto-me, tirando minha
blusa e meus tênis. ― Pensou que eu não era esperta, Tutor Makgold. Pois se
enganou ― dou-lhe uma piscadela, deixando-o no chão, e sigo para o
banheiro da academia.
Ao entrar no banheiro, assusto-me com o meu reflexo no espelho. Há
algumas partes vermelhas em meu corpo, provavelmente ficarei com algumas
manchas roxas. Olho para o lado, vendo Johnatan encostado no batente da
porta todo observador.
― Vai soar irônico o que vou dizer para aliviar a dor no dia seguinte
― fico confusa.
― O quê? ― seu sorriso se abre.
― Banheira de gelo ― faço uma careta.
― Prefiro um banho gelado ― resmungo e tiro minhas roupas íntimas
antes de entrar na ducha. ― Vai ficar aí parado me assistindo, Tutor? ―
provoco.
― Seria um bom passatempo ― coro com sua perversão. Em seguida,
pulo assim que entro em contato com a água gelada.
Imediatamente, sinto as mãos de Johnatan em minhas costas. Gemo
de dor em alguns pontos que ele massageia para aliviar meus músculos tensos
e doloridos. Escuto seu suspiro pesado atrás de mim, sei o quão difícil é para
ele estar fazendo aquilo.
― Eu vou me acostumar, é só uma questão tempo. Foi assim durante
os meses em que esteve fora. Não pode ser a pior coisa do mundo ―
murmuro, fechando meus olhos e apertando meus dentes quando suas mãos
se arrastam para meus ombros.
Felizmente, permaneço de costas para ele não ver minha expressão.
― Você pega com facilidade. De alguma forma, estou impressionado,
porém não é só comigo que estará treinando ― viro-me ficando de frente
para ele.
Seria uma conversa um tanto casual se eu estivesse vestida.
― O que quer dizer?
Johnatan suspira exasperado.
― Mais tarde iremos para a Colmeia. Tenho assuntos pendentes e,
quando eu não estiver com você treinando, eu a deixarei com a equipe ―
aperto meus lábios.
― Eles estão de acordo em me ensinar algo? ― pergunto ansiosa,
mas tento não demonstrar.
― Sim, cada um exerce um tipo de treinamento ― Johnatan revela
cético.
Sorrio abertamente.
― Não deve ser tão ruim assim ― tento amenizar seu humor.
Johnatan me observa, e engulo em seco. ― É?
― Terei que impor algumas precauções, principalmente em se
tratando de Nectara ― surpreendo-me.
― Pensei que ela fosse de confiança ― reflito.
― Não estou falando nesse sentido. Provavelmente, você já deve ter
visto James ou Jordyn feridos ― lembro-me da vez em que vi o braço
cortado de Jordyn. ― Nectara leva o treinamento muito a sério, isso pode
ocasionar momentos difíceis entre as duas.
Mordo meu lábio pensativa.
― Ela treina com espadas? ― pergunto pensativa.
― Qualquer coisa que envolve bastões, equipamentos ninjas e,
principalmente, lâminas afiadas, ela sabe ― Johnatan revela.
Sorrio sem humor e suspiro, acenando.
― Que ótimo. Por que sou boa em arremessos ― viro-me de costas
novamente, deixando-o boquiaberto. ― Continue com a massagem, por
favor.
― O que tenho que fazer para você mudar de ideia? ― ele se enfia
debaixo do chuveiro comigo e me gira para ele, fazendo meu corpo se
grudar-se ao seu.
― É tarde demais ― observo seus lábios próximos, provocando-me
com seu hálito doce.
― O que está pensando? ― sussurra suavemente, inebriando-me.
Antes que eu responda, sinto seus dentes puxarem meu lábio inferior.
― Bem, eu não sei se estou com meu Tutor ou com o Johnatan
Makgold ― falo com a voz trêmula devido ao frio.
Seu sorriso torto e provocante me distrai.
― Já pensou que é o seu marido? ― o leve sotaque me faz estremecer
e sorrir nervosamente.
― Terei que me acostumar com isso ― confesso rindo.
Surpreendo-me quando me ergue para seu corpo, fazendo minhas
pernas se enroscarem em seus quadris.
― Farei você se acostumar agora mesmo ― declara com um sorriso
perverso.
Sorrio empolgada, passo meus braços em volta do seu pescoço e me
curvo para beijá-lo. Suas mãos fortes seguram meu corpo com firmeza. Em
seguida, gemo com sua boca excitante, que segue para meus seios, sugando-
os com força. Depois, sinto minhas costas serem pressionadas contra a parede
gelada ao ser consumida por sua língua e suas mãos ferozes.
16 – MEMBRO FORAGIDO

Deixo Johnatan seguir para a cozinha primeiro e corro para meu


quarto a fim de trocar de roupas. Observo minha cama sem os lençóis,
sabendo que Jordyn invadiu meu quarto para botar ordem na arrumação da
casa, o colchão continua molhado. Depois de fazer minhas necessidades,
vestir um jeans, botas e uma camiseta branca regata, saio do meu quarto na
intenção de ver meu pai. Penso que, provavelmente, ele esteja na cozinha, por
isso, mudo de ideia e sigo para lá, já sentindo meu estômago roncar devido ao
aroma.
Meu corpo continua um pouco dolorido, mas sei que, na manhã
seguinte, estará muito pior e não quero nem imaginar como serão meus
próximos dias, já que a equipe de Johnatan irá me ajudar com os treinos.
Ao chegar ao cômodo, não encontro meu pai, nem mesmo Jordyn,
nem James. Ian já deve ter saído para a escola.
― Bom dia, querida ― Donna me cumprimenta.
Sorrio para ela e me sento ao lado de Johnatan, que está calado,
encarando seu café. Franzo a testa, olhando-o brevemente antes de me virar
para Peter.
― Onde está meu pai?
― Ele saiu faz uma hora. Foi ao enterro ― Peter comunica.
Engulo o nó em minha garganta. Eu não sei como reagir àquilo, na
verdade, não gosto nem de imaginar. A última lembrança de Cesar indo para
sua casa e eu o seguindo... a explosão e, depois, mortes e mais mortes,
incluindo de crianças.
― Foi uma perda enorme ― Donna murmura com tristeza, e aceno ao
segurar minhas lágrimas.
O silêncio toma conta da cozinha de tal forma, que até para cortar um
pão eu me encolho como se fosse a que estivesse fazendo o barulho mais alto.
O celular de Johnatan me faz saltar, olho para o lado, vendo sua mandíbula
travada.
― Aconteceu alguma coisa? ― mesmo que eu sussurre, minha voz
parece alta.
Johnatan pega seu celular, observando o número privado. Em seguida,
recusa a ligação. Aguardo sua resposta.
― Algo que resolverei daqui algumas horas ― dá de ombros.
Eu o encaro por um momento e volto minha atenção, com frieza, para
meu café da manhã.
― Senhora Makgold, há alguns documentos que o senhor Polosh
pediu para verificar e assinar ― as palavras formais de Peter me fazem
engasgar com café.
Donna nos olha com surpresa e espanto.
― Peter... É... ― pigarreio. ― Apenas Mine.
Peter franze a testa e olha para Johnatan ao meu lado.
― Não estou autorizado a tratá-la com informalidade ― Peter se
explica.
Olho para Johnatan, que beberica seu café, evitando olhar em meus
olhos.
― Bem... ― dou um suspiro longo. ― Sendo assim, isso é uma
ordem, só me chame de Mine. Que documentos são esses? ― pergunto com
frustração.
― É sobre a contratação de algumas companhias que aprovei e outras
que recusei ― Johnatan interrompe Peter. ― Na semana que vem, você terá
que participar de uma reunião com alguns empresários.
Arregalo meus olhos e me viro para ele.
― Eu pensei que não precisaria me envolver literalmente ― acuso.
― Não se preocupe, eu confio em você ― Johnatan está muito quieto
para o meu gosto.
Inspiro fundo.
― E o que eu vou falar numa reunião dessas? ― minha pergunta o
faz sorrir abertamente.
― Nada. Você só vai escutar ― apeto meus dentes com as palavras e
me distraio com a saída de Peter.
Hesito em dar um suspiro exasperado. Quando olho para frente, eu me
deparo com Donna nos olhando confusa. Até mesmo me esqueci de que ela
continuava presente; seguro minha respiração. Quanto tempo ela ficou ali
parada?
― Pois é... Estamos casados ― anuncio, engolindo o suco de laranja
de uma vez.
Donna pisca e olha para Johnatan.
― Casados? ― repete as palavras em choque.
― Na verdade, o seu menino aqui colocou uma certidão de casamento
nos documentos do testamento e eu assinei sem saber. Se eu tivesse lido
antes... E só fiquei sabendo ontem ― aperto meus olhos, vendo Johnatan
sorrir ainda mais.
― Filho... ― Donna o repreende apenas com o olhar.
Aprecio, recostando-me em minha cadeira.
― Eu precisava de uma companheira ― Johnatan diz em tom
zombeteiro.
Balanço a cabeça com descrença.
― Seu pai sabe? ― Donna pergunta.
Eu me alarmo. Viro-me para Johnatan rapidamente.
― Não contou nada para ele, não foi? ― aguardo sua resposta. ―
Johnatan...
― Não tive tempo ― responde.
O alívio toma conta de mim.
― Não conte nada por enquanto. Espere-o se acostumar conosco e,
principalmente, com você. Não estou pronta para ver seu infarto ou mesmo
sua morte ― meu drama faz Donna e Johnatan sorrirem.
― Isso é muito diferente. ― Donna balança a cabeça. ― Romântico,
mas diferente.
O quê? Ela está do lado dele? Donna?
― Ele se acha o exclusivo ― mordo minha torrada ruidosamente. ―
Não se fazem mais homens de terno à espera da noiva no altar ― pela minha
visão periférica, Johnatan me olha surpreso.
Donna segura sua risada e começa a retirar os copos.
Quando termino meu café da manhã, deixo Johnatan com Donna para
assinar a papelada que Peter me entrega, leio com calma e assino.
― Pronta? ― Johnatan aparece na sala de entrada depois que Peter se
retira com os documentos.
― Aonde vamos? ― movo meus ombros. Meus músculos doem.
― Colmeia ― lembra-me
Ergo minha sobrancelha desconfiada quando Johnatan caminha até a
porta, abrindo-a como um cavalheiro.
― Vai me dizer quem estava ligando para você? ― passo pela porta e
sorrio ao ver Sid caminhando.
― Zander ― Johnatan responde.
Meu sangue congela, enquanto, chocada, acompanho Johnatan até seu
carro.
― Ele descobriu onde você está? O que quer? ― minha cabeça
fervilha em dúvidas.
Johnatan abre a porta do carro para que eu entre, e o encaro. Sua mão
se ergue para afastar uma mecha do meu cabelo e acariciar minha face.
― Prefere dirigir?
― Não muda de assunto.
Johnatan suspira.
― Não precisa se preocupar ― seu pedido é impossível. ― Shiu fez
o favor de clonar os telefones. Estamos tendo alguns contatos de encontros
essa noite.
― Encontros? ― fico confusa, entro no carro e espero que se junte a
mim.
― Sim, os telefonemas são feitos a cada meia hora para marcar os
pontos de encontros. Com alguns, Shiu descobriu que podem ser com
celulares descartáveis, o que dificulta um pouco a investigação, mas já temos
a localização e o horário ― explica, enquanto coloca meu cinto; no estado em
que me encontro sou incapaz de fazer isso.
― Acha que vão fazer uma espécie de reunião com a máfia? ―
pergunto pensativa.
― Provavelmente. Estaremos de olho ― Johnatan assente.
Balaço minha cabeça e me viro para o volante. Pisco meus olhos,
voltando para o mundo real.
― Por que eu vou dirigir? ― disparo chocada.
Johnatan sorri de forma descarada.
― Porque quero assisti-la enquanto dirige. Fiquei muito tempo longe,
acho justo ter esse momento precioso só para mim ― sua voz rouca me causa
arrepios.
Seguro meu sorriso satisfeito e saio com o carro da mansão. Eu não
deveria me sentir nervosa com ele do meu lado, é pior do que quando meu
pai me ensinou a dirigir. Pela minha visão periférica, Johnatan não só me
assiste como me avalia, é um pouco desconfortável. Ao mesmo tempo em
que encaro a estrada, tenho minha atenção para qualquer movimento que ele
faça. Prendo minha respiração quando sinto sua mão agarrar minha coxa e
deslizar até meu joelho.
― Acelera. ― Ele não precisa pedir, com seu toque, meu pé pisa
firme no acelerador. ― Fique atenta à estrada, observando todos os pontos
cegos. ― Controlo minha respiração e faço o que me pede, mas ajudaria se
ele parasse de deslizar sua mão pervertida pelo meu corpo.
Sigo suas instruções até chegar à Colmeia. Na sala de monitoramento,
vejo todos presentes, até mesmo Jordyn e James. Um bip me chama atenção,
logo, a voz de Shiu surge no viva- voz. Seu timbre é grosso e rápido, numa
língua desconhecida para mim. Johnatan escuta atentamente, assim como os
outros. A ligação é rápida, com poucas respostas.
― Descobriram do que o encontro se trata? ― Johnatan pergunta.
― Pelas conversas em alemão até agora, eles estão à procura de um
membro foragido. ― Dinka diz, cruzando seus braços.
― Eles o chamam de Mensageiro. ― Shiu diz, digitando rapidamente
em seu teclado.
― Conhecido como Messi. Faz alguns anos que desapareceu. Foi
dado como morto, mas está vivo. É difícil de ser localizado ― Cassandra
comunica.
Johnatan franze a testa.
― Dizem as más línguas que ele teve um olho arrancado ― Dinka
murmura, acrescentando mais uma informação.
Nectara sorri divertida.
― Sabia que o nome não me era estranho ― Johnatan diz, tendo
nossa atenção.
― Você o conhece? ― pergunto.
― Sim. ― Johnatan responde, seguindo até um dos computadores. ―
Eu arranquei o olho.
Jordyn faz uma careta de nojo, enquanto meu estômago se embrulha.
― E quanto ao encontro da máfia? ― James reluta contra o seu
desconforto.
― Um baile de gala patrocinado por dois empresários, um coreano e
outro francês. Parece que estão querendo se aliar a outras máfias ― Nectara
informa.
― Coreano? Assim suja a minha imagem, minhas raízes ― Shiu
resmunga de mau humor.
― Certo, já tem as identidades e as vestimentas? ― Johnatan
pergunta.
― Com certeza ― Shiu se diverte e Nectara sorri.
― Ótimo! ― Johnatan acena. ― Cassandra, instrua Mine como ela
deve se portar no evento. Vou escutar as conversas gravadas com Shiu, caso
necessite de mais precauções. Nectara, verifique as vestimentas com James e
Jordyn. Pedirei para Matt conseguir os convites e Peter ficar de olho no lugar.
Quanto a Dinka, organize os armamentos ― ordena tão rápido que, se não
estivesse atenta, não entenderia uma só palavra.
Observo Nectara, James e Jordyn se afastarem. Dinka me dá uma
piscadela antes de seguir com seus afazeres, e Cassandra vem em minha
direção.
― Vamos? ― ela pede.
― Espere... Eu também? ― olho para Johnatan chocada. ― Eu não
sou a novata?
Seu olhar se ergue.
― Sim. Não pensou que iria ficar só nas aulas teóricas, pensou? ―
Johnatan diz, dando-me um sorriso torto. ― Aliás, você entrará comigo como
minha esposa. É a única exigência que não quero como disfarce.
― Sim, senhor ― Shiu acata a ordem rapidamente. ― Minhas
felicitações ao casal, senhor e senhora Félix?
― Aprovado ― Johnatan responde, encarando-me com malícia. ―
Não se esqueça de reservar um quarto.
Abro minha boca chocada.
17 – REFLEXO

― Você parece preocupada ― escuto Cassandra ao meu lado.


― Só estou concentrada ― inspiro fundo.
Caminhamos pelo corredor de aço em silêncio até chegarmos a uma
sala vazia, as luzes fluorescentes ali parecem mais fortes que o normal.
― Estranho? ― pergunta com um sorriso simpático.
― Um pouco ― aceno, olhando ao redor e percebendo que, no meio
da sala, há vidros do chão ao teto.
Conto mentalmente, há pelo menos dez vidros retangulares
espalhados no local.
A espiã percebe meu olhar confuso.
― São telas equipadas, servem como escudos ou armadilhas,
enquanto está treinando ― explica, deixando-me mais confusa. ― Nessa
sala, os treinos são feitos no escuro. Você tem que ter uma memória
fotográfica e rápida. — Quando Cassandra aponta, noto os vidros girarem,
movendo-se lentamente para trocar de lugar.
Não há nenhum ruído, tudo é silencioso e, se não observar com
atenção, os vidros parecem sumir da sua vista. Eles nem mesmo mostram o
reflexo.
― Você treina aqui? ― pergunto.
Cassandra se afasta até um controle touch fixado na parede de aço.
― Às vezes. Quem usa mais é Nectara para treinar com as espadas no
escuro ― informa, fico impressionada. ― Eu basicamente criei essa sala.
― Para uma espiã... Isso é estranho. ― confesso, fazendo-a sorrir.
― O que acha que uma espiã faz? ― sua pergunta divertida alivia a
minha tensão.
― Bem, já assisti a alguns filmes e seriados. Penso que seja assim ―
digo insegura.
Ela gargalha e balança a cabeça.
― Provavelmente, você deve achar que um espião entra em um
estabelecimento, senta-se em um lugar reservado e observa sua vítima. Ou
que circula pelo lugar em silêncio, sem conversar com as pessoas, com o
olhar misterioso e suas roupas escuras ― Cassandra reflete, sentando-se no
chão. ― Sente-se!
Faço o que me pede e cruzo minhas pernas como ela.
― E não é assim que uma espiã faz? ― agora fico curiosa.
― É exatamente o contrário. Pode ser que, em algum momento, você
possa agir com certo mistério, mas nem sempre, principalmente em lugares
muito movimentados ― explica com calma, enquanto imito sua postura reta
com os braços estendidos nos joelhos.
― Então, tenho que me enturmar?
― Sim e não, sempre mantenha o foco. Converse com uns e dispense
outros. Dê poucas risadas sem ser chamativa, a menos que seja necessário.
Tem lugares que você deve pesquisar o clima das pessoas, se são mais
empolgadas ou mais reservadas... Mas o mais importante, nunca se distraia,
tenha a visão discreta naquilo que você está mantendo o foco. Como agora,
quando estou conversando com você e vejo o vidro à minha esquerda se
movendo para trás de mim, assim como o da minha direita, que acabou de
girar ― sorri.
Pisco, observando atentamente os vidros ao lado.
― Os vidros são muito transparentes ― volto minha atenção para seu
rosto.
― Podem ser vidros, objetos, animais, pessoas. Seu inimigo também
é transparente ― ela me alerta. ― Seus ouvidos também devem sempre estar
atentos a qualquer barulho, entre os mais baixos até os mais altos, entre
passos acelerados até os mais calmos. É difícil manter a concentração quando
se está em um lugar muito barulhento, mas, com o tempo, você consegue
capturar alguns sons.
Cassandra é calma e delicada, mas, ao mesmo tempo, sinto que não só
me observa, como está atenta ao lugar.
― E quanto às roupas escuras? ― pergunto.
― Em parte é boa para camuflar no escuro, mas nem sempre. Podem
surgir imprevistos de que o lugar apresenta mais cores vivas. E nem sempre
um espião deve usar roupas escuras, isso o destacaria ― Cassandra explica
em reprovação.
― Quanto às armas?
Seu sorriso surge com certo mistério.
― Um bom espião nunca revela onde esconde suas armas ―
responde com uma piscadela. Não sorrio, essa parte eu estou de acordo. ―
Você vai aprender a esconder suas ferramentas muito bem, mas só use
quando realmente precisar.
Franzo a testa.
― Por quê?
― Quando se está numa luta com seu adversário, é bom mantê-lo em
movimento até tê-lo cansado. Isso te ajuda a atacá-lo com o que precisa.
Faz sentido, penso.
Logo a vejo mover os braços rapidamente, com duas lâminas negras
perto dos meus olhos.
― São kunais. Nectara que fez e me presenteou.
Eu conheço as facas em formato de losango, Johnatan tem várias
delas, só não sabia o nome. Ela afasta, guardando as duas pequenas facas nas
mangas de sua blusa cinza, num movimento rápido.
― Não sabia que Nectara era envolvida na criação de armamentos ―
impressiono-me.
― Também fiquei surpresa. Precisa ver seu estoque. Aliás, sua espada
já está pronta para ser usada ― a informação me pega desprevenida.
― Eu tenho uma espada? ― pergunto chocada.
― Na verdade, são duas ― diz com um sorriso aberto. ― São
incríveis.
Eu com espadas? Uau! Balanço minha cabeça e volto minha atenção
para Cassandra, que torna a explicar como devo me portar no evento de hoje
à noite. O que capturo de suas palavras são trajes elegantes, agir com
sutilidade, poucos sorrisos e pouca conversa, até sua dúvida surgir em relação
a alguns franceses que estarão presentes.
― Eu sei falar francês ― digo, de repente, surpreendendo-a. ―
Quando Johnatan esteve fora, eu me arrisquei a aprender algumas línguas,
mas o francês pareceu vencer meu interesse ― revelo rapidamente.
― Isso é muito bom, e muito útil ― elogia com alívio. ― Certo,
agora vou informá-la como será o lugar e as pessoas às quais ficará atenta.
Cassandra explica como a maioria da LIGA se comporta em um
evento. Alguns podem passar despercebidos, mas devem estar atentos a
qualquer movimento e olhares que dão uns aos outros. Muitos se mantêm
afastados, outros, numa reunião sinuosa, como se fossem amigos de longa
data.
― Vocês costumam ver os rostos deles antes de seguirem para o
plano? ― pergunto.
Cassandra acena e nos levantamos.
― Registramos alguns contatos com fotos. Shiu consegue isso com
facilidade, mas quando estamos à procura deles é como montar um quebra-
cabeça. Você não pode errar ― revela e segue até o controle touch
novamente, onde desliza os dedos com rapidez.
Fico impressionada quando os vidros, que circulam de tempo em
tempo, ficam parados e revela uma espécie de televisor. Cada coluna tem
rostos de homens com nomes e dados, alguns deles não apresentam
informações. Cassandra explica que possa ser um bloqueio feito pela máfia,
dizendo-me como esse grupo pode se comportar quando percebe que está
sendo vigiado.
Quando terminamos, saímos a caminho da sala de monitoramento.
― Sei que Johnatan está ocupado agora, será que você consegue me
levar até o meu pai? ― peço depois de ver as horas. ― Agora deve ser o
enterro de Cesar, não quero deixá-lo sozinho.
Cassandra me olha surpresa.
― Eu sinto muito pelo o que aconteceu ― lamenta. ― Em que
cemitério ele se encontra?
Faço uma careta por sua pergunta.
― Meu pai não gosta de cemitério. Ele pode ter visitado a esposa de
Cesar, mas ele odeia o lugar ― revelo.
― E imagina onde ele possa estar? ― franzo a testa pensativa.
― Possivelmente sim ― suspiro.
― Tudo bem, eu te levo ― acena.
Em seguida, nós nos distraímos com a presença de Dinka. Seu olhar
fixa diretamente em Cassandra.
― Aonde vão? ― pergunta, dando-me um sorriso amigável.
― Vou levar Mine para ver o pai dela ― ela responde num tom
ríspido. ― Ah, pensando bem, não te devo explicações.
Todo seu bom humor parece ter sido evaporado.
― Claro que sim, está saindo com a esposa do chefe ― Dinka ataca
da mesma forma, e os encaro segurando meu sorriso. ― Sendo assim, até
logo, senhoras ― o ex-marido provoca com um sorriso sombrio.
Vejo Cassandra revirar os olhos e me puxar para longe.
― Encosto ― resmunga irritada.
― Por que o trata assim? ― pergunto quando estamos fora da
Colmeia, seguindo para um conversível preto reluzente.
― É tarde demais para dizer a você que os homens são como uma
pedra em nosso sapato? ― eu a encaro por um momento. ― Esquece, isso
não é nada.
― Não sei o tipo de problema que vocês têm, mas posso dizer que
ambos se amam ― abro um sorriso e logo o fecho quando vejo seu olhar
apertado. ― É melhor irmos.
Cassandra inspira fundo algumas vezes antes de dar a partida, e
informo onde meu pai deve estar. Espero não estar enganada e ter a viagem
perdida.
Assim que chegamos perto da vila, sinto minhas mãos tremerem.
Enquanto nos aproximamos, observo as casas destruídas, os entulhos
amontoados no chão e as cinzas.
Era como eu imaginava. Meu pai está na vila, sentado em um bloco
queimado, com os cotovelos apoiados nos joelhos, enquanto olha para nossa
casa destruída. Sua expressão triste faz meu coração se apertar.
Quando o carro de Cassandra se aproxima, seus olhos se erguem
confusos e discretos. Assim que ela estaciona, saio do carro. Rapidamente
seu olhar se acalma. O lugar está vazio e, mesmo com o silêncio, posso
escutar os gritos em meus pensamentos. Abraço-me ao caminhar até meu pai.
Há fitas cercadas para manter distância e, para minha surpresa, a
reconstrução de algumas casas já começou a ser feita. Uma enorme placa
informa sobre o início das obras, mas hoje não há ninguém trabalhando por
respeito ao luto.
Quando chego perto do meu pai, toco seu ombro, observando os
destroços da minha casa que sobraram. O nó em minha garganta se
intensifica, e seguro minhas lágrimas com força quando sinto meu pai se
encolher. Seu sofrimento é sem tamanho, parte meu coração. Aperto meus
dentes em frustração ao me lembrar de Zander, das maldades que
permanecem surgindo, das pessoas mortas...
Permaneço em silêncio, olhando ao redor, é como se ali não existisse
mais vida; mesmo com as casas sendo reformadas, sempre nos lembraremos
desse dia. Por outro lado, uma parte do meu coração também se sente
orgulhoso; Johnatan pode não perceber, mas seu coração é maior que o
mundo. Eu sei que ele jamais faria mal a alguém que não queria prejudicá-lo,
ele jamais machucaria um inocente.
Distraio-me quando vejo Cassandra abaixar sua janela. Entendo seu
aceno discreto com a cabeça e movo minha para que nos dê uns minutos.
Quando o carro se afasta, volto minha atenção para meu pai. Ele esfrega seu
rosto e olha para suas mãos, percebendo que estão sujas.
― Como foi o velório? ― pigarreio quando minha voz sai rouca, não
quero que ele me veja como uma menina fraca e sim com forças suficientes
para ajudá-lo.
Edson se ergue, inspirando profundamente.
― Todos os corpos foram velados juntos ― escuto sua tristeza.
― Se tivesse me chamado, eu o acompanharia ― aperto seu ombro.
Sua mão se ergue para tocar a minha.
― Foi melhor não ter ido. Não gostaria de presenciar isso ― diz
aliviado. ― Ajudei a carregar o caixão de Cesar, mas não fiquei para vê-lo
ser enterrado ― sua voz fica partida.
Seco a lágrima que cai dos meus olhos antes de me virar para ver a
casa que era de Cesar, não sobrou nada dali.
― Eu sabia que estaria aqui. Você sempre me disse que odeia
cemitérios ― comento com um leve sorriso, sua cabeça se move de acordo.
― É o único lugar onde há solidão. Cemitérios são lugares em que
você deixa tudo para trás e só carrega lembranças daquele último momento
onde o caixão é fechado... ― seu desabafo inacabado me comove.
Eu me curvo para abraçar seu corpo, mesmo estando doloridos, aperto
meus braços com força ao redor dele.
― Não pense nas coisas tristes ― peço, beijando seu rosto e secando
suas lágrimas. ― Você sempre carrega memórias boas, como os da mamãe.
Desde que cresci sempre me falou de coisas boas, lembranças românticas e
felizes. Nunca ouvi nada com relação a coisas ruins como todo casal tem.
Sua mão se aperta com força contra a minha. Papai parece mais velho
que o normal, a barba um pouco maior, os olhos cinza parecem escuros, e as
sobrancelhas grisalhas, caídas. As rugas de expressão estão mais
intensificadas. Acaricio seu rosto e o beijo com carinho.
― Não gosto de falar de momentos ruins. Minha missão desde que
fiquei sozinho para cuidar de você foi amá-la, dar carinho e dizer a você que
sua mãe sempre foi uma boa pessoa ― murmura.
― E é dessa forma que quero que você se lembre de Cesar, assim
como eu vou lembrar. Como, por exemplo, das manhãs em que chegava à
nossa casa à procura de um bom café, dos mimos que costumava me dar, do
apoio e do carinho, das suas brincadeiras, de como ele gostava de te irritar ―
sorrio e afasto minhas lágrimas. ― É assim que deve se lembrar de todos que
conheceu nessa vila.
Papai concorda com um sorriso fraco, perdido em lembranças, assim
como eu.
― Obrigado, querida ― agradece, beijando minha mão. ― Eu fico
muito orgulhoso em ver como você cresceu, como se tornou uma mulher de
bom coração.
Dou um sorriso apertado, em seguida, inspiro fundo.
― Sei que não é o momento para isso... ― espero por um segundo
para ver sua reação e vejo a ruga entre suas sobrancelhas. ― Johnatan já
começou com os treinos.
Ele pensa por um instante.
― Eu sei ― acena relutante. ― Eu vi essa manhã.
Abaixo-me para olhar seu rosto com atenção.
― Eu prometo a você que nunca vou me esquecer dos meus
princípios. Não é porque estou treinando que vou acabar perdendo o controle
da situação. ― É como se eu estivesse implorando por alguma permissão.
Ele observa nossas mãos unidas, pensativo.
― Vai ter momentos, Mine, em que você pode perder o controle. Isso
se chama testar seus limites ― diz e, mesmo que não queira, vejo a
preocupação em seus olhos.
― Eu vou lutar para que isso não aconteça ― dou minha palavra e
inclino minha cabeça quando toca meu rosto.
― Ainda não estou de acordo, mas vejo que é impossível continuar
“batendo na mesma tecla” com você ― aceno. ― Era o Makgold no carro?
― ele não pode deixar de fazer uma careta sempre que toca no nome de
Johnatan.
Reviro meus olhos.
― Não ― revelo, deixando-o confuso. ― Era Cassandra. Ela faz
parte da equipe de Johnatan.
― Pelo que vejo, ele está seguindo os mesmos passos do pai.
― Não, papai. São pessoas em busca de um objetivo, acabar de vez
com essa máfia para viverem como pessoas normais ― disparo exasperada.
― Se pudesse dar uma chance de Johnatan se explicar, se pudesse entender...
― Você sabe muito bem como meu gênio funciona e como sou em
relação a você. ― encolho-me com sua repressão.
― Se algo der errado, eu me afasto. Mas, até lá, sei que posso ajudá-
los ― murmuro, vendo seus olhos sérios me observar.
― Não vamos discutir quanto a isso. Por mais que eu não queira,
tenho que ficar naquela casa. Por um lado, terei meus olhos em você ―
Edson suspira, dando tapinhas em minhas mãos.
― Eu só peço que coopere ― imploro.
Fecho meus olhos quando beija minha testa com intensidade.
― Tenho de me conformar que você continua crescendo ― murmura
sem humor, me fazendo sorrir levemente. ― Sinto falta da minha pequena
garotinha correndo de um lado para o outro, roubando minhas madeiras para
fazer uma casa de bonecas.
Rimos com a lembrança.
― Eram madeiras não utilizáveis ― defendo-me e o abraço.
― Eu te amo, querida ― murmura em meus cabelos, e o aperto com
força, segurando a vontade de estremecer quando seus braços me apertam.
― Eu também amo você, papai ― digo com fervor.
Permaneço ao seu lado por alguns minutos até Cassandra chegar com
seu carro. Sei que meu pai não está pronto para voltar para a mansão e ficará
por ali mais algum tempo. Beijo seu rosto em despedida e caminho para o
veículo sem olhar para trás, mesmo sentindo que seus olhos me olham com
curiosidade.
― Como foi? ― ela pergunta assim que entro no carro.
― Intenso ― revelo, olhando meu pai sentado da mesma forma que o
encontrei.
― Ele parece ser um homem forte, conseguirá superar ― diz com um
sorriso triste. ― Meu pai sempre dizia que a vida enfraquece até os mais
fortes, mas a superação nos faz mudar de alguma forma.
Sorrio para ela, agradecida pelas palavras.
Saímos num silêncio amigável. Observo as ruas sem notá-las, perdida
em pensamentos sobre como vou me portar daqui para frente. Mesmo que eu
queira, não posso agir com frieza. Sempre tive minha teimosia e um coração
enfraquecido, principalmente por aqueles que amo. Eu poderia tentar ser
alguém diferente, alguém que fosse temida por alguns e apoiadora para
outros. Mas tudo depende da ocasião, daqueles que estarão envolvidos.
Minutos depois, já estamos de volta. Não posso deixar de ficar cada
vez mais impressionada com o estacionamento da Colmeia, como se fosse
um galpão de carros. Quando Cassandra estaciona, saio, atenta a cinco carros
de vidros escuros estacionados. Dois deles são luxuosos, porém, diferentes,
tanto na forma quanto na cor, uns maiores, outros menores.
― Estão consertando? ― aponto para os veículos.
A que mais gosto é da SUV escura. Parece monstruosa para mim.
Cassandra sorri.
― Provavelmente Shiu deve estar programando. Cada um têm
acessos com o sistema da Colmeia, também há armamentos embutidos em
pontos cegos e resistentes ― balanço a cabeça admirada. ― Se alguém ousar
roubar um deles, não conseguirá sair do lugar. Cada carro possui nossa digital
e um comando de voz.
― E quanto às placas? ― pergunto.
― Shiu costuma registrá-las normalmente. Claro, ele conhece alguns
contatos nesse ramo ― responde.
― Isso é muito legal ― praticamente babo pela SUV.
― Sim. De certo modo, os carros são uma das partes mais divertidas.
― Cassandra aprecia, e a acompanho até a sala de monitoramento.
Assim que chegamos, encontro Matt concentrado em um dos
computadores. Ele olha para cima, dando um aceno gentil, e volta sua
atenção para o monitor.
― Olá, meninas! ― Shiu gira sua cadeira para nos observar.
Logo, Johnatan surge na sala, olhando-me com atenção. Sua
expressão preocupada se desfaz rapidamente.
― Como está? ― pergunta, aproximando-se para acariciar meu rosto
e beijar meus lábios com suavidade.
― Melhor ― respondo. ― Eu estava com meu pai. Precisava vê-lo
― encolho-me só de lembrar como ficou a situação da vila depois da
explosão.
Johnatan nota minha fraqueza repentina e me abraça em conforto.
― Você parece preocupada ― murmura em meus cabelos.
Tento me distrair com Shiu, Dinka e Cassandra discutindo sobre algo.
― E não é para estar? É minha aula prática ― minto, dando-lhe um
sorriso para não demonstrar minha angústia. Em seguida, aperto meu rosto
contra seu peito.
Seu perfume suave me traz tranquilidade.
― Poderia ceder a você, mas sei que continuaria insistindo para
continuar ― e ele está certo. ― Não se preocupe, estarei por perto.
Afasto meu rosto para olhá-lo.
― Por perto? ― franzo a testa.
― Em alguns momentos, precisaremos nos afastar ― explica. ― Um
casal agarrado o tempo todo significa muita cumplicidade e chamaria bem
mais a atenção.
Aperto meus lábios.
― Deveriam pensar que esse tipo de afeto é excesso de amor ―
reclamo, Johnatan sorri e se inclina para beijar meus lábios, enquanto
sussurra algo em russo. ― Isso quer dizer que me ama? ― falo com meus
lábios grudados nos seus.
― Você está ficando boa no russo ― meu coração dispara só em
escutar sua voz grossa e, ao mesmo tempo, suave.
Uma tossida nos interrompe e nos viramos para ver quem nos chama.
Johnatan não afasta seus braços, apenas me apertam e me aconchegam.
― Os uniformes estão prontos para serem apresentados ― Jordyn
comunica toda empolgada, enquanto James ao lado sorri sem jeito e revira os
olhos.
Franzo a testa, vendo as bochechas coradas de Jordyn.
― Me acompanhem ― Shiu brinca, imitando uma posição de
cavalheirismo ao nos guiar pelo corredor.
Ao nos aproximarmos, vejo Nectara nos aguardando em uma das
portas. Depois de um breve aceno, segue para dentro.
O lugar é espaçoso, assim como a sala de vidros. Só que, em vez de
vidros retangulares, há quatro telas médias embutidas nas paredes, um balcão
com ferramentas de costura e rolos de tecidos organizados num armário
envidraçado. O que mais chama atenção, assim que entro na sala, é o centro.
Há uma enorme vitrine de luzes embutidas, onde se destacam os manequins
vestidos com trajes de gala. Os bonecos são divididos entre masculinos e
femininos.
Pensando bem, acho que sou a única impressionada com tudo aquilo,
por isso, rapidamente arrumo minha expressão quando Johnatan se afasta
para analisar cada detalhe.
Caminho até o outro lado da vitrine, confusa com tanta vestimenta, as
quais me remetem a roupas de um mergulhador; as femininas são cor de pele.
Quando Shiu se aproxima, noto o tablet em suas mãos; ele move os
dedos e observo as telas da sala ligarem com a vestimenta de mergulhador.
― Só faltaram os pés de pato ― Dinka murmura atrás de mim
distraidamente ao analisar o uniforme.
Tento segurar a risada, e Johnatan faz isso por mim.
― Me desculpe ― Johnatan pigarreia, tentando segurar sua risada.
― Isso é uma obra de arte ― Shiu dispara ofendido, enquanto
tentamos nos manter sérios. ― Para quem ainda não percebeu, são coletes à
prova de balas. Como as meninas vão usar vestidos, optei por malha cor de
pele. Os coletes são resistentes, mas evitem ser atingidos nas áreas expostas,
pois os cortes foram feitos de acordo com a roupa principal. Ah, e não se
preocupem com a temperatura!
― São pesados? ― pergunto, observando a malha mais de perto, é
um macacão cor de pele, o decote tem o mesmo corte de um vestido atrás
dele.
― Um pouco, mas não desconfortáveis ― Shiu esclarece.
― Onde ele consegue fazer isso? ― sussurro para Johnatan ao meu
lado, enquanto Shiu continua a explicar sobre os uniformes.
― Shiu e, principalmente Nectara, possuem uma parceria sigilosa
com alguns asiáticos, entre eles, alguns membros da máfia japonesa, mas sem
envolvê-los em nossos negócios. Com o acordo, há departamentos que
aceitam esse tipo de serviço que inclui armamentos, trajes de segurança, entre
outros, caso necessite. Por isso, Shiu cria a ideia, e Nectara manda pôr em
prática com um tempo estipulado ― Johnatan explica, observando a mesma
malha que eu.
― E como vamos fazer para ir ao banheiro? ― a pergunta de James
nos chama atenção. Dinka ri e empurra James com o ombro.
Shiu interrompe sua explicação para fuzilá-los com os olhos.
― Se olhar atentamente, verá que é como calças e camisetas. ― Shiu
revira os olhos. ― Mas seria melhor segurar suas necessidades para mais
tarde.
― Ainda bem que não vou precisar de muito. Estarei vigiando o
perímetro. ― Dinka dá de ombros.
Cassandra revira os olhos e se afasta para perto dos vestidos.
― Vamos deixar as brincadeiras de lado. ― Nectara ordena, tendo
nossa atenção, e a seguimos até as vestimentas de gala.
― Concordo ― Shiu assente com um sorriso aberto. Em seguida,
aperta um botão em seu tablet, fazendo a vitrine de vidro de abrir.
Minha paranoia é tanta que me pergunto se aquilo é mesmo um tablet
ou um dispositivo que ele mesmo criou. Volto minha atenção para Nectara,
quando ela sobe na vitrine para mostrar os vestidos.
― Compramos as roupas e ajustei algumas partes dos tecidos ―
informa, movendo-se na vitrine.
Há três longos, um justo comportado, num tom rosa nude, outro
vermelho intenso, com decote cavado e fenda na perna, e outro de cetim azul-
escuro com alças amarradas no pescoço, ele é justo até a cintura e solto na
saia. As vestimentas masculinas, duas delas são de gravata borboleta com
paletós fechados, outros com gravatas cinza e escuras. Há também dois
uniformes brancos diferentes dos demais, são disfarces de garçons, uma
feminina e outra masculina.
― Eu e Cassandra seremos os garçons ― por um momento, Shiu se
empolga. ― Eu gosto de roubar algumas sobremesas.
Sorrio.
― Bem, os vestidos são para Jordyn, Mine e eu. ― Nectara informa.
― Eu separei cada um deles, portanto, eu me permiti colocar alguns
armamentos entre os tecidos. Quanto aos demais, não me atrevi a mexer
nessa parte, sei que gostam de organizar suas roupas na sua preferência ―
vejo Johnatan acenar, ele deve ter feito tal exigência, principalmente sobre as
armas escondidas nos vestidos.
― Tudo bem, vamos nos apressar e evitem de sair todos juntos ―
ordena. ― Peter já está no prédio?
― Sim, senhor. ― Shiu afirma, observando seu tablet. ― Parece que
está organizando algumas mercadorias e logo ficará no posto de maître.
― Perfeito ― Johnatan acena. ― Dinka?
― As armas estão na sala de monitoramento, prontas para uso ― o
homem abre seu sorriso com orgulho. ― E Matt está preparando algumas
doses, caso seja necessário usar.
Doses? Franzo o cenho em dúvidas.
Quando Johnatan se vira para James, ele já responde sem que precise
perguntar:
― Os pontos de ouvidos estão junto com os armamentos ― James
fala rapidamente, fazendo Johnatan balançar a cabeça.
― Jordyn, evite fazer arremessos ― Johnatan ordena, e a vejo fazer
uma careta.
Aperto meus lábios para não sorrir. Depois, surpreendo-me quando
Johnatan me puxa para longe.
― Os outros não vão dizer o que vão fazer? ― aperto sua mão.
― É bom evitar saber a função de cada um nessa noite. Assim não
soa como se estivesse muito mais que combinado ― explica, dando-me uma
piscadela.
Abro minha boca e a fecho novamente. Então, temos que agir como
completos desconhecidos, penso.
― Para onde está me levando? ― desconfio.
Johnatan sorri e percebo que estamos a caminho do seu quarto.
― Para um lugar onde eu possa tê-la só para mim ― vejo a
intensidade explícita em seu olhar.
― O que vai fazer comigo? ― pergunto ao entrar em seu quarto, o
qual me lembra um enorme aquário.
Johnatan trava a porta e caminha em minha direção, e solto um
gritinho empolgado ao ser levantada em seus braços. Depois, ele segue
comigo até a cama e caímos deitados.
― Coisas que nem imagina ― brinca, enchendo-me de beijos.
― Mas não é para nos aprontarmos? ― gemo, fechando meus olhos
ao sentir suas mãos apertarem meu corpo e sua boca escorregar por meu
pescoço.
― Hum ― ronrona, grudando seu corpo contra o meu e deslizando
suas mãos por debaixo da minha blusa para apertar meus seios.
― Johnatan... ― sorrio com seus lábios sobre os meus.
Seu beijo é minha perdição e me envolvo em seu corpo, trazendo-o
para mais perto. Permito que ele tire minhas roupas assim como faço com as
dele. Toco seu corpo nu com desejo, arqueando meu corpo contra o dele para
sentir seu calor contra a minha pele.
Johnatan geme, mantendo-me presa na cama macia. Depois, desliza
seus lábios suaves até meus seios, sugando-os suavemente. Sinto sua ereção
se esfregar contra meu sexo molhado e pulsante. Anseio por tê-lo com força
dentro de mim e gemo intensamente com prazer. Logo, suas mãos fortes
apertam minhas coxas, demonstrando sua excitação e me enlouquecendo com
seu jeito gentil e, ao mesmo tempo, selvagem.
Quando escuto os sussurros em russo, meu corpo se arrepia,
totalmente entregue a ele. A tortura em meu sexo é dolorosa e meus gemidos
se transformam em súplicas. Novamente sua boca me provoca, agora com sua
língua deslizante, que passeia por entre meus seios até chegar aos meus
lábios. A aproximação me faz atacá-lo, num beijo ardente, agarrando seu
rosto com as duas mãos e seus quadris com minhas coxas.
Johnatan não ousa desgrudar seus lábios dos meus. Eu o escuto gemer
em nosso beijo e ofegar em seguida, assim como eu.
Estou sem fôlego, não consigo puxar o ar devido à enorme excitação
que nos consome, mas logo o sinto me penetrar com força. Meu corpo
arqueia contra o seu e ofego em seus lábios com prazer. Assim como seus
toques, seus movimentos estimulantes são lentos e profundos. Por dentro,
estou como fogo, minhas mãos se movem descontroladas por seu corpo,
sentindo-o se mover sem hesitar.
Quando seus lábios se afastam apenas um pouco dos meus, vejo-o
observar minhas reações, enquanto se move com mais velocidade. Vou à
loucura a cada estocada intensa.
O quarto é preenchido com o som de nossas respirações, nossos
toques, nossos beijos e nossos gemidos, os meus se elevam até a chegada do
meu orgasmo, chamando-o com devoção. Johnatan goza em seguida,
afundando-se em meu corpo com profundidade e me consumindo por inteira.
18 – CASAL FÉLIX

Permanecemos aconchegados por um tempo, encarando o teto


aquático do quarto. Sinto sono só de ter sua mão presunçosa acariciando
minhas costas até meu couro cabeludo.
― Temos mesmo que ir? ― murmuro com preguiça e espio seu
sorriso aberto.
― Estou pensando ― aprecio sua voz rouca.
Viro-me e deito em seu peito para encará-lo.
― Você sabe que não pode aparecer assim... ― lembro-o.
― Não se preocupe, eu tenho um disfarce ― assegura. Em seguida,
beija meus lábios. ― Vamos, antes que se atrase. Jordyn montou um salão de
beleza temporário.
Faço uma careta ao me levantar e sigo para o banheiro.
― Por favor, traga-me uma toalha ― peço, vendo Johnatan me
devorar com os olhos.
― Com todo prazer.
― Obrigada! ― sorrio com malícia.
No chuveiro, tomo meu banho com calma e lavo meus cabelos. O
cheiro suave do shampoo me deixa mais tranquila. Observo meu corpo, feliz
pelas marcas arroxeadas serem pouco visíveis, embora Johnatan fique um
pouco desconfortável quando as vê e prefere não me contrariar. Ao sentir sua
presença no banheiro, afasto o box para espiá-lo. Vejo que pendurou um
roupão branco para mim e está na pia apenas com a toalha enrolada na
cintura, enquanto faz a barba. Ele nota que o observo e me dá um sorriso
“Papai Noel”. Dou uma risada e volto para meu banho cantarolando. Nunca
demorei tanto debaixo do chuveiro, mas me permito fazer isso aqui.
― Como estou? ― Johnatan pergunta, juntando-se a mim no banho.
Surpreendo-me. Ele continua lindo, sua barba de um dia foi tirada,
dando lugar para seu mais novo cavanhaque muito sexy. Está diferente, mas
continua sendo Johnatan.
― Está parecendo um cigano charlatão ― confesso aos risos. Ele me
acompanha na diversão.
― Vou parecer mesmo, já que usarei umas malditas lentes ―
confirma, fazendo-me rir ainda mais.
― Eu gostei ― aprovo e me aproximo para beijá-lo.
Assim que saio do banho, visto o roupão e deixo Johnatan se aprontar.
Não posso contestar, sei que Jordyn me aguarda. Enrolo uma toalha em meu
cabelo e saio do quarto, seguindo direto para a sala onde estão as vestimentas.
― Está atrasada ― Jordyn reclama assim que finaliza seu babyliss.
Ela está com o vestido rosa nude, o tecido deixa sua pele mais suave.
― Desculpe ― acomodo-me em uma das cadeiras e a deixo trabalhar
em meus cabelos sem pestanejar.
― Sorte que seu cabelo é fácil de lidar ― diz aliviada.
Eu me distraio com a entrada de Nectara na sala, aproximando-se do
balcão onde agora há os produtos de beleza.
― A dupla Dinka e James levou as vestimentas masculinas. Shiu e
Cassandra acabaram de sair ― Nectara informa, depois observa meu rosto.
A japonesa está incrível no vestido vermelho, seus cabelos negros
estão soltos e lisos.
― Ela tem olhos destacados demais. Você tinha razão em não abusar
do escuro ― Nectara diz a Jordyn distraidamente, como se eu não estivesse
presente. ― Melhor usar cores mais leves e bochechas levemente rosadas.
Não há espelho para ver o que elas estão aprontando, apenas obedeço
aos comandos das posições em que devo ficar. Quando Jordyn finaliza meu
cabelo, deixa Nectara trabalhar em meu rosto. Em seguida, visto minha
lingerie e logo ambas me ajudam com o colete à prova de balas.
Fico brevemente confusa quando vejo Nectara com o tablet de Shiu.
O colete tem um peso razoável, mas é como uma segunda pele sobre meu
corpo. Para minha surpresa, a peça parece se ajustar às minhas curvas,
deixando-me mais reta e firme, como se eu estivesse com um espartilho.
Pisco surpresa.
― Você está ajustando isso... Ai! ― aponto para o tablet nas mãos de
Nectara.
Jordyn sorri, e a japonesa acena.
― Não é legal? Imagina se o mundo da moda aderisse a algo do tipo
― Jordyn comenta empolgada, aprovando o conteúdo.
― Impressionante ― murmuro depois que o dispositivo adequa a
peça à minha cintura.
― Vou ajudá-la com o vestido. ― Nectara diz se afastando.
Sinto-me feito uma boneca sendo produzida por elas. Antes de
Nectara vestir-me, olho para as armas que ela guardou dentro do vestido.
Duas facas pequenas estão escondidas em cada lado da minha cintura.
― O senhor Makgold disse que você é boa com dardos ― Jordyn diz.
― Ele disse? ― pergunto chocada.
― Sim ― Nectara confirma. ― Coloquei alguns deles perto dos seus
quadris. As armas não são difíceis de retirar. Porém só use se quando for
necessário ― informa.
― Tudo bem ― respondo.
― Você precisa de mais alguma coisa? ― a japonesa observa.
― Kunais. Posso prendê-las em minha perna? ― digo pensativa.
Nectara aprova ao concordar.
― Jordyn, ajude-a com o vestido. Eu já volto.
Coloco o vestido azul com cuidado, deixando Jordyn ajustá-lo em
meu corpo. Em poucos minutos, Nectara retorna com uma liga de couro com
uma fileira de quatro kunais. Eu a pego e prendo em minha coxa direita.
― Como está? ― Jordyn pergunta depois que coloco o salto dourado.
Levanto-me e caminho pela sala, testando o peso do colete. É como se
meu corpo estivesse empinado, mas, olhando para o meu colo, eu posso dizer
que até gosto de ver meus seios avantajados.
― Estou bem ― confirmo, fazendo ambas suspirarem de alívio.
Depois de pronta, saio à procura de Johnatan, mas antes de chegar à
sala de monitoramento, encontro Matt no laboratório.
― Olá, Mine ― cumprimenta-me, pegando algumas seringas cheias.
― Você está ótima.
No laboratório, posso ver meu reflexo em um dos espelhos. Pareço
estonteante e comportada. A maquiagem é leve, e o vestido azul destaca
minha pele suavemente, meus cabelos estão numa trança frouxa embutida,
com alguns fios soltos.
― Obrigada. O que está fazendo? ― pergunto, observando o balcão
com pequenos frascos organizados.
― Passei a semana criando algumas drogas. Não posso afirmar se
darão certo. Agora, essas seringas são de uma droga manipulada por John e
eu ― ele se vira para fechar as agulhas. ― Shiu também tem boas ideias para
criar bombas, entre elas químicas, as quais não são vistas pelos olhos
humanos. Quando se espalham. o ataque é repentino.
Escuto Matt, enquanto encaro os pequenos frascos, rapidamente pego
um deles e coloco entre meus seios.
― E já testaram essa bomba? ― encaro suas costas.
Matt se vira com um sorriso discreto.
― Por enquanto, estamos inventando o esquema, ainda não está cem
porcento. Johnatan também quer ver se é possível criar uma droga em que a
vítima é manipulada, como o soro da verdade. Até agora, a combinação
parece não ter dado certo, para isso precisaremos de uma cobaia humana. ―
Matt parece exausto.
― É complicado, mas vejo que está indo muito bem ― sorrio para
ele. ― Agora eu vou procurar Johnatan ― digo na intenção de deixá-lo
sozinho.
― Mine? ― Matt me chama e fecho meus olhos quando sinto meu
coração disparar.
Viro-me com cautela.
― Sim?
― Johnatan tem sorte de ter uma pessoa como você ao lado ― diz de
forma amigável, aliviando meu coração.
Aceno sem jeito.
― Obrigada, Matt, você é um grande amigo ― sorrio e me afasto.

Na sala de monitoramento, vejo Johnatan, Dinka e James guardarem


suas armas em suas roupas. Dinka e James saem rapidamente, e vejo
Johnatan pegar seu ponto e colocar em seu ouvido, assim que nota minha
presença, seus olhos se levantam surpresos e, ao mesmo tempo,
maravilhados.
Ele se aproxima, olhando-me com um sorriso torto. Sorrio e coro
quando alcança minha mão, beijando-a com delicadeza.
― Você está maravilhosa ― diz, olhando em meus olhos. ― Nunca
erro em dizer que você é a mulher mais linda que eu já vi.
Minhas bochechas queimam de vergonha, enquanto o observo. Ele
está diferente, os olhos azuis foram substituídos por uma lente castanha, os
cabelos foram amarrados num pequeno coque estilo samurai. Ele está quente,
ainda mais vestido com um smoking impecável.
― Você também está perfeito ― elogio, aproximando-me para
ajustar sua gravata borboleta.
Johnatan abraça meu corpo e inspira o perfume em meu pescoço
exposto.
― Terei que manter meus olhos em você ― sussurra junto ao meu
ouvido.
Eu me arrepio.
― Digo o mesmo ― provoco, dando-lhe uma mordida leve em seu
lóbulo.
Ele se afasta sorrindo, sem tirar os olhos do meu corpo.
― Está pronta? ― pergunta com o sorriso cheio de malícia.
Ele é um cigano samurai descarado, esse pensamento me faz sorrir.
Distraio-me com a mesa de armas, pego uma, que me lembra uma
lanterna, aperto e me assusto quando escuto o barulho forte do choque
elétrico.
― Eu posso levar? ― empolgo-me.
Johnatan franze a testa para minha arma.
― Não sei se é uma boa ideia ― ignoro-o e guardo a pequena arma
em minha bolsa.
Ele balança a cabeça.
― Temos que ir ― diz, entrelaçando nossas mãos e me puxando para
longe das armas.
No estacionamento da Colmeia, fico feliz que nosso carro é a SUV, já
o outro carro luxuoso não se encontra, e me pergunto quem pode ter usado,
provavelmente, Nectara e Jordyn.
Observo Johnatan ligar o carro, impressionada quando ele registra sua
digital na tela do painel. O carro ganha vida sem precisar de chaves. Coloco
meu cinto e vejo Johnatan se comunicar com Shiu pelo viva-voz. O asiático
lhe responde de forma discreta, e imagino que já deva estar de serviços no
evento. A noite com poucas estrelas parece agitada para mim. Johnatan me
passa o pequeno ponto de ouvido, e o coloco rapidamente.
Para chegar até o local, demora cerca de uma hora e meia. Em pouco
tempo estamos fora da cidade. Os prédios preenchem os lugares, dando vida
a uma cidade mais agitada.
Enquanto dirige, Johnatan aperta meu joelho, dando-me conforto.
Seguro sua mão firmemente e arregalo meus olhos ao nos aproximarmos de
um portão de aço escuro. Há fileiras de carros se aproximando. Seguimos em
direção à portaria até um homem vestido com um terno vinho. Ele abaixa sua
janela e diz algo em alemão. O porteiro acena, confirmando nossa entrada, e
seguimos para um amplo jardim iluminado.
Fico ainda mais chocada com o prédio à frente, dando para uma
entrada exclusiva aos convidados. Olho para Johnatan e inclino minha cabeça
quando ele ergue sua mão para acariciar meu rosto. Assim que estacionamos
em frente à entrada, vejo James com Jordyn e Nectara. Eles passam pela
entrada, entregando o convite, e são guiados por um segurança.
― Acabei de entrar pelos fundos ― escuto Matt no ponto de ouvido.
Johnatan acata a informação, afastando seu cinto. Em seguida, vira-se
para mim.
― Acha que seu pai poderia estar aqui? ― pergunto de repente. Sua
testa franze.
― Com certeza não. Se pode ter enviado suas marionetes? Sim ―
dispara, não escondendo sua irritação, depois pega minha mão para beijar
meus dedos.
― Pronto? ― sorrio nervosamente.
Ele olha em meus olhos.
― Se quiser ceder...
― Eu não cheguei até aqui para andar para trás.
Por incrível que pareça, sinto-me cada vez mais tranquila, ainda mais
quando ele beija meus dedos e roça seus lábios em minha pele.
― Tudo bem... ― Johnatan suspira.
Observo-o pegar em seu bolso uma caixa de veludo escura. Arregalo
meus olhos e, antes que eu possa adivinhar, ele abre, revelando duas alianças
de ouro.
― Eu pensei que estivesse brincando em relação ao entrarmos como
marido e mulher... dessa forma ― gaguejo.
Johnatan me olha por um instante.
― Eu não brinco com algo tão sério. Você é minha esposa, com isso
eu não me atrevo a fingir ― diz com fervor, pegando uma das alianças e
colocando em meu dedo. ― Não é oficial, mas eu prometo que teremos a
nossa verdadeira.
Suas palavras fazem meu coração palpitar. Olho para o anel em meu
anelar e coro. Em seguida, vejo que ele está prestes a colocar a sua e o
interrompo.
― Me dê à honra? ― pego a aliança para colocar em seu dedo. ―
Agora, estamos casados ― sorrimos com orgulho.
Quando Johnatan sai do carro, aguardo-o abrir a porta para mim. Pego
sua mão e saio com sua ajuda. Antes de seguirmos até a entrada, nós nos
beijamos e caminhamos de mãos dadas.
Assim que ele entrega o convite, sinto seu polegar acariciar as costas
da minha mão, confortando-me. O homem à frente verifica o convite e, ao
mesmo tempo, o registro em seu computador.
― Sejam bem-vindos, senhor e senhora Félix. Nosso segurança irá
levá-los até o elevador ― o homem esguio e de cabelos crespos nos informa,
ao lado dele está um assistente com um sorriso aparentemente simpático, mas
levemente hostil.
Fico confusa quando recebo uma rosa vermelha do assistente,
percebendo que ele entrega a flor para mulheres acompanhadas.
― Obrigada ― agradeço com um sorriso educado.
― Me acompanhem, por favor ― um segurança de roupas escuras e
careca nos leva até o elevador.
O saguão é enorme, com piso de mármore escure e paredes de granito
da mesma cor. Mas o que me chama mais atenção é o segurança com a velha
tatuagem da LIGA em sua mão.
― Os senhores vão seguir para o vigésimo andar ― o homem
anuncia, enquanto aperta o botão do lado de fora para o andar informado.
― Obrigado ― Johnatan agradece num perfeito sotaque britânico.
― Tenham uma boa festa ― o segurança acena formalmente.
Quando as portas de aço de fecham, depois de entrarmos, suspiro
aliviada. Logo, sinto os braços de Johnatan me envolverem. Aconchego-me
em seu corpo e toco seu rosto com ternura, ele se aproxima com um leve
sorriso.
― Estamos sendo filmados ― sussurra próximo aos meus lábios.
Mal tenho tempo para coordenar meus pensamentos quando Johnatan
me beija com intensidade, a ponto de, estranhamente, ficarmos imóveis.
― Hum... beijo... ― escuto Dinka no ponto de ouvido e abro meus
olhos em choque, Johnatan me dá uma piscadela. ― As câmeras já estão
ligadas no sistema.
― Perfeito ― Johnatan murmura, depois beija meus lábios
rapidamente.
As portas se abrem para um curto corredor. Mais à frente vejo Peter
vir ao nosso encontro todo profissional, lembro-me de que ele é o nosso
maître infiltrado.
― Boa noite ― Peter nos cumprimenta, não demonstrando nenhum
reconhecimento. ― Me acompanham?
Antes de seguirmos, Johnatan toma a rosa da minha mão, jogando-a
em um cesto de lixo próximo.
― As minhas são as melhores ― escuto sua frieza e aperto meus
lábios para não sorrir.
Seguimos Peter até uma mesa reservada para o casal Félix, como diz
em um belo envelope. O lugar é cercado por convidados elegantes, os quais
conversam animadamente, mas ainda assim se mantêm reservados.
Cassandra e Shiu circulam pelo lugar, servindo as bebidas. Logo nos
oferecem vinho branco e água.
― Olá, senhor Félix. Estava ansioso pela sua chegada. Ouvi falar que
você é dono de uma das maiores empresas de telecomunicações de Londres.
― Um homem de sotaque francês cumprimenta Johnatan de forma amigável,
como se o conhecesse há muito tempo.
Ele está acompanhado de mulher sorridente. Ambos são um casal na
fase dos quarenta e cinco anos, bem-vestidos e gentis. Pelo menos é assim
que aparentam ser. Johnatan o cumprimenta num aperto de mão firme.
― Você deve ser o Gaspard Abram. É um prazer ― saúda da mesma
forma, e me impressiono com sua atuação.
― Desculpe interrompê-los. Sua esposa? ― Abram pergunta me
olhando.
Johnatan vira-se para mim com um sorriso educado.
― Sim ― responde.
― É uma mulher estonteante. ― o homem elogia, pegando minha
mão e a beijando.
Vejo a mandíbula de Johnatan se apertar.
― Obrigada! ― respondo com um sorriso educado.
― Devo concordar com meu marido ― a esposa de Abram diz com
um sorriso aberto e nos cumprimenta calorosamente.
― Sentem-se! ― Johnatan pede, apontando para os lugares vazios.
― Obrigada pela gentileza. Confesso que estou impressionada... São
casados há quanto tempo? ― a mulher pergunta depois de tomar um gole de
vinho.
Johnatan me observa com um olhar apaixonado. Sorrio com amor.
― Há oito anos ― quase me engasgo com o vinho.
O casal desconhecido nos olha impressionado.
― Isso é maravilhoso, eu e minha esposa estamos juntos há vinte
anos. O tempo parece passar tão rápido! ― o senhor Abram beija o rosto da
esposa.
― Eu digo o mesmo ― aceno, olhando para Johnatan ao meu lado
antes de voltar minha atenção para a mulher.
― Em breve estarão fazendo dez anos de casados. É maravilhoso ―
ela irradia sua felicidade, assim como sua curiosidade para a próxima
pergunta: ― Já tem filhos?
― Sim ― respondo empolgada, sinto os olhos de Johnatan em mim.
― Três. Dois meninos e uma garotinha.
― Vocês são tão jovens ― diz impressionada. ― Nós temos apenas
dois e já fechamos a fábrica ― brinca.
Olho para Johnatan e vejo a sombra do divertimento em seus olhos.
― Bom, eu e meu marido pensamos em ter mais uns três daqui a
alguns anos ― disparo, fazendo os olhos do casal se arregalarem. ― A
fábrica não pode parar, não é mesmo?
Meu comentário faz todos gargalharem.
― Isso mostra que são uma grande família ― o homem aprecia.
― Adoramos crianças ― Johnatan concorda, bebericando seu vinho.
― Isso é maravilhoso ― a esposa se encanta.
― Senhor Félix, não quer me acompanhar para uma breve reunião?
Vamos deixar nossas lindas esposas se conhecendo ― Abram chega ao seu
interesse, e Johnatan me olha numa encenação, como se me pedisse
permissão.
― Vá. Não se preocupe, amor ― asseguro, acariciando seu rosto.
Johnatan se aproxima para beijar meus lábios, depois meu rosto. Em
seguida, sussurra com discrição:
― Três filhos? ― sorrio feito uma boba.
― Espero que não me perguntem os nomes ― murmuro, beijando
seus lábios e viro meu rosto para sussurrar junto ao seu ouvido: ― Seria
estranho dizer Hush, Lake e Sid?
Ele se afasta, dessa vez não escondendo sua diversão, e segue com o
senhor Abram e mais outros homens. De vez em quando, vejo Johnatan me
observar, mas assim que se afastam, minha mesa fica rodeada por mulheres
conhecidas de Alice Abram. Com isso, sigo o conselho de Cassandra e me
enturmo, sem perder o foco ao meu redor. Observo também que, ao lado de
Johnatan, há um grupo de homens mais reservados, que se aproximam
algumas vezes, interessados na conversa.
― Seu marido parece ser um grande homem ― uma mulher chama
minha atenção ao espiar Johnatan.
Oh, sim, estou atenta a ela também. Não me lembro de seu nome, mas
vejo o interesse em seu olhar. Sorrio para ela, mostrando todos os meus
dentes.
― Sim, ele é ― concordo e me aproximo para sussurrar apenas para
ela. ― Mas saiba que a esposa dele é bastante possessiva ― alerto, dando-lhe
um sorriso frio.
Ela pisca chocada e se afasta o quanto pode de mim.
― Eu não queria dizer nesse sentido ― justifica-se, colocando uma
mecha de seus cabelos vermelhos para trás. ― Je ne pensais pas...
― Les apparences sont souvent trompeuses ― eu a interrompo em
francês, num tom sério e potente, dizendo-lhe que as aparências enganam.
Seus olhos se alargam assustados. Levanto-me, pedindo licença e
decido me aproximar de Johnatan até notar os olhos discretos de Cassandra
em mim. Franzo a testa sem entender, e vejo Nectara conversar com um
homem alto de porte militar. Rapidamente me distraio quando sinto uma
presença incômoda.
Meu olhar vasculha o salão discretamente até encontrar algo suspeito,
um homem de costas que olha para o lado e segue para um corredor, sumindo
do meu campo de visão. Mantenho minha postura naturalmente, notando que
o indivíduo espia meu marido de longe.
Aproximo-me de Johnatan e toco seu ombro. Ele gira, os homens com
quem conversa cessam o assunto para me observar, muitos deles parecem me
devorar com os olhos. Não perco a postura e me aproximo de seu ouvido.
― Vou ao toalete ― cochicho, olhando em seus olhos.
― Quer que te acompanhe? ― pergunta como um cavalheiro.
Nego com um sorriso.
Ele acena, sem perder seu foco em mim, enquanto caminho pelo salão
à procura do banheiro. Sei que existem olhos em mim, não só do grupo em
que se encontra Johnatan, como também de outros no meio do salão.
― Dinka? ― chamo com descrição.
― Estou na escuta ― responde.
Não faço ideia de onde Dinka possa estar.
― Me dê cobertura! ― peço depois de passar entre dois homens que
me observam atentamente. Dou-lhes um sorriso e caminho para o corredor
que dá para os banheiros.
― Uns dos homens a está seguindo ― escuto Cassandra informar
pelo ponto ouvido.
Continuo com meus passos tranquilos em direção à entrada do
banheiro.
Engulo em seco ao escutar passos atrás de mim. Viro-me e vejo um
deles se aproximando.
― Precisa de ajuda? ― sorrio inocentemente.
Ele é um mulato alto de olhar violento.
― Tenho certeza de que preciso mais do que sua ajuda ― seu olhar
malicioso sobre meu corpo me enoja.
― Tipo o quê? ― entro no seu jogo sujo.
Quando se aproxima mais do que deveria, acerto seu estômago com
um soco firme. Ao se curvar devido ao golpe, movo meu cotovelo contra seu
nariz, fazendo-o grunhir de dor, o sangue escorre de imediato. Noto que, no
momento em que o atingi, senti seu nariz estralar.
― Eu sabia... ― o homem rosna com fúria, avançando em minha
direção.
Eu me esquivo do seu ataque e movo meus braços com agilidade,
conseguindo atingir sua cabeça contra a parede de mármore.
Ele desliza para o chão, mas logo tenta se manter de pé e avança em
minha direção novamente, conseguindo me agarrar pelos quadris e me jogar
no chão. Rapidamente giro meu corpo quando ergue seu punho pronto para
me atingir, mas acerta o chão. Tão logo tenta me atingir novamente, fica
imóvel de repente, afasta-se e cai de joelhos. Observo seus olhos escuros
ficarem arregalados e o sangue escorrer por sua boca. Arrasto-me para longe
quando seu corpo está prestes a cair no chão. Em seguida, olho para suas
costas, observando o tiro que recebeu na espinha.
― Tudo bem? ― Dinka pergunta no ponto.
― Você fez isso? ― disparo impressionada e recolho minha bolsa
jogada no chão.
― Sim, o tiro atravessou a parede.
Observo a marca do tiro, depois olho para a câmera de segurança e
lhe dou um sinal de positivo.
― Mine? ― escuto a voz de Johnatan rosnar em meu ouvido.
― Eu estou bem ― asseguro. ― Já estou indo.
― Rápido ― ordena do outro lado.
Inspiro fundo e caminho em direção de volta ao corredor. Paro
abruptamente quando uma porta escura fecha a saída para o salão.
― Que droga! ― murmuro e volto a caminhar pelo corredor,
observando outra porta ao fundo.
― O que aconte... ― a voz de Johnatan é interrompida por um ruído
alto.
Meu ouvido dói e arranco o ponto, guardando-o em minha bolsa.
Depois, pego a arma elétrica e caminho até a porta, abrindo-a de uma vez.
Assim como o corredor, a sala é decorada com um carpete vermelho,
estofados modernos e tecidos presos nas paredes. É uma espécie de sala de
estar, elegante, para receber visitas ou fazer reunião. O que se destaca no
local é o enorme televisor, do tipo cinema, embutido na parede. Um clique
me distrai e vejo a porta travar atrás de mim. Abro minha bolsa, pegando meu
ponto e o colocando no ouvido novamente. O ruído continua, só escuto vozes
robóticas sem entender nenhuma palavra.
De repente, assusto-me quando o televisor liga, iluminando ainda
mais o lugar. Imediatamente fico perplexa com o vídeo. Zander está distante,
como um vigia, em um galpão solitário. Aquilo não aparenta ser recente, pois
ele parece mais jovem.
No centro principal, onde está sendo filmado, há alguém sentado na
cadeira com um saco escuro na cabeça. É uma mulher, vestida com uma
regata suja e os braços machucados, como se passasse dias sendo torturada.
Os gemidos abafados da mulher me causam calafrios. Logo ao lado, outra
pessoa vestida com um uniforme escuro se coloca atrás da que está sentada.
Abro minha boca em choque ao ver o rosto de Nicole nitidamente.
― Hoje se registra um triunfo feito pela LIGA. A morte de um
membro querido e, ao mesmo tempo, um estorvo na vida do nosso Mestre
Makgold. Com isso, pagará por suas traições, dívidas e relações das quais
jamais existiram. Não há mais nada que você possa oferecer para nós daqui
em diante, querida. ― Nicole diz com tom superior e zombeteiro. Ela tem os
cabelos louros presos num rabo de cavalo e os olhos agressivos.
Em seguida, tira o saco escuro, revelando o rosto machucado da
mulher. Seus lábios estão inchados e os olhos arroxeados, como se tivesse
apanhado há dias. Os cabelos em tons castanhos estão sebosos e bagunçados.
Ela geme de dor quando Nicole pega seus cabelos, puxando-os com força
para trás, revelando seu pescoço machucado.
Em sua pele há marcas de mordidas profundas, chupões intensos, e
agressões violentas. Tento engolir o pavor desconhecido que me invade.
― Charlie... Não... ― a mulher implora numa voz chorosa.
― Mine?! ― a voz ruída de Johnatan, vinda do meu ponto, não me
chama tanta atenção quanto o televisor.
― Não é hora de lamentar, e sim de partir ― Nicole diz com um
sorriso diabólico.
A mulher grunhe de dor novamente. Sinto meu estômago embrulhar
quando vejo o facão de Nicole se levantar no pescoço da mulher.
― Edson! Edson! Edson! ― cada grito faz meus olhos se
arregalarem. ― EDSON!
Ela grita e vejo Nicole deslizar a lâmina em seu pescoço. O sangue
escorre imediatamente. Aterrorizada, vejo no vídeo Zander sorrir como se
apreciasse a cena.
Caio de joelhos, fechando meus olhos e tapando meus ouvidos com
força, não querendo ver a cabeça da mulher ser decapitada, nem mesmo ouvir
seus gritos, mas o volume parece aumentar até os berros suplicantes serem
engasgados, em seguida, o silêncio.
― E hoje consagramos a morte de Judith Clark ― encaro o chão
quando escuto Nicole se vangloriar.
Tento me equilibrar com minhas mãos espalmadas no carpete
vermelho.
Quando olho para cima com terror, vejo somente Zander com o saco
nas mãos e o cadáver de Judith caído no chão. Meu corpo treme e minhas
lágrimas surgem com força.
Subitamente, o vídeo é interrompido e me assusto com a salva de
palmas atrás de mim. A celebração agride meus tímpanos. Olho para trás, não
conseguindo segurar meu choro.
Zander está encostado na parede, vestindo um smoking sob medida,
os olhos brilhantes e um sorriso triunfante.
― Faz cinco anos, mas eu adoro recordar ― diz com orgulho. ―
Agora, eu pergunto... Como foi assistir ao vídeo da morte da sua mãe, Mine
Clark?
Meu corpo estremece e meu sangue ferve. Perco completamente o
controle ao me levantar com brutalidade, avançando até ele com um grito
estridente como se me rasgasse por dentro e pulsasse para fora em agonia.
19 – COBAIA

Ao avançar para Zander, analiso sua postura. Ele não recua, pois está
pronto para uma boa luta. A última vez que o enfrentei, havia pulado em seu
corpo. Imagino que é esse tipo de ataque que ele espera no momento, mas, ao
invés de percorrer seu corpo como uma serpente, atinjo seu estômago com
um soco certeiro e, sem hesitar, golpeio seu pescoço com a lateral da minha
mão.
Zander tosse um pouco surpreso com minha agilidade. Não me
permito recuar e continuo o atacando entre socos e chutes. O olhos cor de
gelo aceita os golpes até se manter firmemente agressivo para atingir minha
cintura e a lateral da minha perna. Seria fácil se não estivesse usando esse
maldito vestido.
― Vejo que anda se exercitando ― seu deboche me enfurece.
Novamente tento acertá-lo com socos, mas são bloqueados por seus
braços, enquanto suas mãos me empurram para longe.
Tiro a mecha do meu cabelo na frente do meu rosto ao manter minha
postura rigidamente. Zander abre seu sorriso arrogante. Percebo que o atingi
no canto da boca assim que toca a ferida para ver seu sangue escorrer.
― Vocês são uns monstros ― disparo trêmula devido à adrenalina
que invade meu corpo.
― Não, querida. Fomos criados para sermos assim ― Zander balança
sua cabeça.
Seus olhos cor de gelo me observam atentamente.
― Onde está Nicole? ― meu ódio o faz sorrir ainda mais.
― Também gostaria de descobrir. Ela ficaria feliz em ver o que
acabou de assistir. ― Zander provoca minha ira.
Ao pensar que eu esteja distraída com suas provocações, vejo-o agir
rapidamente. Eu me esquivo dos seus golpes com facilidade, analisando as
direções de onde quer me atingir e aproveito para chutar seu joelho, mas
quando sigo para chutar suas bolas, Zander agarra minha perna e, num
movimento brusco, faz meu corpo girar e cair no chão. Rosno de dor pela
pancada em meu quadril, enquanto me protejo dos seus ataques.
Quando sua mão envolve meu pescoço e sufoca minha respiração,
sinto o sangue latejar em meu rosto. O ponto em meu ouvido volta a zumbir e
tento abrir minha boca para falar algo, porém o aperto se intensifica.
Alarmada, encaro o sorriso sombrio de Zander, pois é o mesmo sorriso que
ele tinha ao presenciar o assassinato de minha mãe no vídeo.
Não posso lhe dar o gosto de fraquejar. Felizmente, com minhas mãos
livres, atinjo seus ouvidos e enrosco minhas pernas em seu corpo, fazendo-o
se afastar e cair no chão, onde o mantenho imóvel. Ele luta para tentar se
livrar do meu aperto, enquanto, rapidamente, enrosco uma perna em seu
pescoço, ao mesmo tempo em que mantenho meu outro joelho preso em seu
antebraço direito.
Sinto sua outra mão livre me atingir com força, mas ignoro a dor do
golpe para arremessar uma kunai no meio da sua palma assim que arranco a
arma afiada presa na cinta de couro presa em minha coxa. A lâmina pontuda
atravessa toda sua mão e gruda-se contra o chão. Zander grunhe, mas suporta
a ferida.
E, antes que ele tenha a ideia de mover suas pernas, arranco dois
dardos do meu vestido e arremesso com força contra suas coxas, fazendo-o
estremecer embaixo de mim. Sua risada sufocada me faz encarar seu rosto
avermelhado com ódio, em seguida, eu o golpeio com uma força brutal.
― Espero que esteja confortável, marionete ― disparo com firmeza,
girando outra kunai entre meus dedos para aproximá-la de seus olhos.
Zander sorri, e assisto o corte de sua sobrancelha sangrar.
― Impressionado ― sufoca com os dentes apertados quando tenta
mover a mão ferida. ― Não sabia que Mine Clark tinha essa capacidade.
Corto seu rosto, fazendo-o rosnar, e volto a ameaçar com a faca ninja.
― Senhora Makgold para você ― anuncio, vendo seus olhos me
encararem brevemente confusos.
Agora é minha vez de lhe dar um sorriso frio.
― Foi capaz de se casar com um homem que possui o nome de
alguém que provocou a morte de sua mãe? ― Zander ri e engasga quando
aperto ainda mais minha coxa envolta de seu pescoço.
― O que quer dizer? ― pergunto entredentes.
― Quero dizer que sua mãe, antes muito linda, fugiu com Charlie
Makgold. Sua mãe te abandonou quando você era quase uma recém-nascida
― dispara com esforço e tosse em seguida, quando volto a apertá-lo. ―
Nesse tempo ela apoiou e esperou por Charlie até ele se livrar da sua família,
mas deixou Johnatan vivo. Que descuido, não?
Sinto as lágrimas preencherem meus olhos.
― Está mentindo! ― rosno com dor no coração.
Zander solta uma gargalhada engasgada.
― Mentido? Sua mãe fugiu com o Makgold, iludida por um amor que
nunca existiu. Estava tão deslumbrada, que apoiava Charlie na LIGA. Ela não
era um membro, apenas uma intrusa, segundo as palavras de Nicole ― meu
sangue ferve ao escutar o nome da loira assassina. ― Agora pense... Sua mãe
não pensou em você uma única vez. Nem mesmo para retornar à família.
Preferiu ficar ao lado do chefe da máfia para apoiá-lo. Só que, ao contrário
dela, Charlie nunca a amou, apenas a usou e, quando viu que já havia
aproveitado o bastante, jogou-a para os tubarões aproveitarem. Por um ano,
ela serviu como escrava, saciando desejos de desconhecidos. Claro, à base de
tortura ― o sorriso triunfante do sádico faz meu estômago embrulhar ao
relembrar a primeira e última imagem da minha mãe pelo televisor.
― Como podem causar tanta dor nas pessoas? ― esforço-me para
segurar o choro.
― A dor faz parte da vida, senhora Makgold. ― Zander ironiza com
os dentes apertados. ― Uns... uns vivem felizes, outros nem tanto. Olha o
exemplo de Johnatan Makgold, como a vida o transformou.
Percebo que cada vez que diz o sobrenome, uma pontada de ódio em
sua voz é explícita. Ao mesmo tempo em que destaca seu ódio, ele gosta de
soar com orgulho, como um causador de tantos tormentos.
― E Nicole?! ― engulo minhas lágrimas ao perguntar com fúria. ―
Desde quando ela pertence à LIGA?
― Nicole praticamente nasceu naquele lugar. Ela sempre nos
pertenceu ― Zander informa com um sorriso aberto, e soco seu rosto.
― SEUS DESGRAÇADOS! MONSTROS! ASSASSINOS! ― xingo
cada palavra, atingindo seu rosto até ver o sangue escorrer em seu nariz.
Zander tosse e engasga. Sem pensar duas vezes, pego o pequeno
frasco que guardei entre meus seios e o abro. Tapo sua respiração para que
sua boca abra e despejo o líquido transparente em sua boca. O infeliz
engasga, impossibilitando-o de engolir. Fecho sua boca com uma pancada e
mantenho sua respiração presa enquanto se debate embaixo de mim. Assim
que engole, vejo-o perder os sentidos aos poucos.
Aguardo um instante, observando seus olhos fechados sem qualquer
movimento. Naquele momento, não sinto piedade, nem compaixão, não me
importo se esteja morto. Quando me afasto cautelosamente, assusto-me com
as pancadas contra a porta escura de metal.
― Mine... ― a voz abafada de Johnatan ecoa do outro lado. ―
MINE, ABRA!
Escutar sua voz me deixa confusa e, ao mesmo tempo, nervosa.
Seguro minhas lágrimas ao me lembrar do vídeo. Do outro lado, Johnatan
insiste com fúria.
Inspiro fundo, abaixando-me para recolher minha bolsa.
― Está tudo bem! ― respondo ofegante, mas nem isso o faz parar de
tentar abrir a porta, enquanto reclama com alguém.
Em seguida, abro minha bolsa e verifico minha arma elétrica.
Com minha súbita falta de atenção, Zander se move como um
furacão, jogando-me no chão, livrando-se da faca atravessada em sua mão.
Seu corpo se prende contra o meu e movo uma de minhas mãos para atingi-
lo. Zander a agarra com firmeza, em seguida, alcança minha mandíbula,
apertando-a com força. Grito de dor e minha reação o faz se aproximar para
grudar seus lábios nos meus.
Luto, na tentativa de afastá-lo, mas Zander reage com fúria,
machucando-me. Imediatamente, sinto o gosto amargo em meu paladar.
Depois, sua mão tapa minha boca e meu nariz para que eu engula o líquido.
Movo meus braços contra ele, sem conseguir respirar e sinto o líquido
amargo descer por minha garganta. Não consigo mexer minhas pernas, pois
estou ajoelhada no chão, sentindo o peso de seu corpo contra o meu ao me
imobilizar.
Quando Zander move minha cabeça para cima com violência, eu o
vejo aproximar sua boca novamente para me beijar na intenção de distribuir o
restante da droga em minha boca. Movo-me inutilmente para mantê-lo
afastado, mas, com o desequilíbrio, reajo rapidamente ao ver minha arma
elétrica caída ao lado, pegando-a e atingindo seu pescoço com o choque.
Seu corpo trêmulo cai em cima de mim ao receber a carga, mas logo é
arrancado com brutalidade e jogado do outro lado da sala. Levanto-me, vendo
Johnatan à minha frente com os punhos cerrados. Por outro lado, Zander
parece feliz em vê-lo e o enfrenta com ódio.
― Olha quem entrou na diversão ― Zander força sua voz a sair.
Sem pensar duas vezes, ambos avançam numa luta mortal. Cambaleio
para trás, vendo Johnatan surrar Zander com força. Em seguida, sinto duas
mãos em meus ombros. Ao olhar para trás, vejo Matt assustado.
― Johnatan, temos que ir ― o advogado diz, enquanto tenta me
manter em pé.
― Só quando eu o matar ― escuto o rosnado de Johnatan e o observo
chutar o peito de Zander, empurrando-o para longe até ele cair no chão.
Sem hesitar, Johnatan gira o corpo de Zander, deixa-o de joelhos e
flexiona seu braço pronto para quebrá-lo.
O rosto de Zander está mais inchado e ensanguentado. Ele tosse
sangue e sorri com ironia em minha direção.
― Eles sabiam... ― Zander ri ironicamente. ― Tanto Edson como o
seu amado Johnatan sabiam sobre sua querida mamãe ― vejo Johnatan me
lançar um olhar assustado.
Arregalo meus olhos para ele e lá está a reprise do vídeo da morte de
minha mãe.
Johnatan não assiste, apenas escuta imóvel. O choque está estampado
em sua face.
― O que você fez, seu infeliz?! ― Johnatan murmura com ódio,
apertando o pescoço de Zander sem piedade.
― Não só mostrei, como também lhe contei a verdade. Vocês
obviamente não foram capazes de fazer isso ― Zander dispara com esforço.
― Mas sabe, até que ela lembra um pouco a vadia da mãe.
Caminho em sua direção sem pensar duas vezes, giro meu corpo e
chuto seu rosto com a mesma força que meu ódio atinge. Pela minha visão
periférica, vejo Matt desligar o televisor e encaro Zander caído aos pés de
Johnatan.
― Está morto? ― disparo com firmeza.
Johnatan se curva para verificar a pulsação.
― Não. Só foi nocauteado ― responde. ― Mas farei com prazer...
― Não! ― ordeno antes que ele siga em frente.
Johnatan olha para cima, confuso. Curvo-me para pegar o frasco no
chão e entregar para Matt, que me olha chocado. Johnatan observa o objeto
na mão do advogado.
― Não precisavam testar os experimentos? ― pergunto, olhando para
ambos. ― Aí está à cobaia.
― Eu não sei o que dizer. ― Matt fica perplexo.
― Ele conseguiu guardar um pouco do líquido na boca e acabou me
beijando, fazendo-me engolir o restante ― tusso.
Johnatan me encara. Sua mandíbula trava e percebo seus olhos em
chamas, mesmo estando com lentes.
Subitamente, sinto minha garganta mais seca e minha respiração
acelerada. Minha cabeça gira. Afasto-me, querendo fugir dali o mais rápido
possível. Ao passar por Johnatan, sinto seus dedos em meu braço, impedindo-
me de seguir em frente.
― Tire esse infeliz da minha frente. Saia pelos fundos, leve-o para a
caminhonete. ― Johnatan exige.
― Pode deixar ― Matt responde.
― Espere ― Johnatan me interrompe novamente.
Não olho para seu rosto.
― Não me toque ― peço seriamente.
Pela minha visão periférica, eu o vejo me encarar com seriedade.
Ele inspira fundo com minha rejeição e puxa meu corpo para
sussurrar ao meu ouvido:
― Está pensando que sou um desses homens que deixa suas mulheres
fugirem? Está muito enganada. Eu posso te tocar e posso fazer o que eu bem
quiser. Você é minha esposa, o que significa que você é minha ― olho em
seus olhos com descrença e puxo meu braço.
― Para seu governo, eu me pertenço! Portanto, acho melhor você
baixar a bola ao pensar que sou sua prioridade nesses momentos, assim como
deixar de ser um machista egocêntrico e começar a aprender sobre limites
dentro de um matrimônio, e, principalmente, respeitar a mim, que sou sua
esposa! ― Johnatan recua com meu olhar fervente.
― Mine, me descul...
― Você sabia, não sabia? ― interrompo-o sem qualquer empatia por
suas lamentações. ― Sabia que minha mãe estava viva. Você e meu pai...
Agora posso entender por que tanto ódio ― meus lábios estremecem.
Seus olhos se abaixam com tristeza.
― Eu sinto muito ― sussurra e me afasto quando sua mão se ergue
para tocar meu rosto. ― Para onde pensa que vai?
O Johnatan autoritário está de volta, mas logo fecha os olhos
brevemente e se controla.
― Eu vou embora, mas não pelos fundos ― informo com os dentes
apertados.
Ao me afastar, caminho para fora da sala, observando o corredor do
banheiro de onde o corpo do outro membro foi retirado. Inspiro fundo antes
de aparecer para todos na festa e círculo pelo salão até encontrar a saída.
Pela minha visão periférica, como também à minha frente, ao passar
pelos convidados, vejo alguns homens lançarem olhares discretos. Em
seguida, sinto que alguém me persegue e olho para trás vendo Johnatan me
seguir.
No elevador, seguimos juntos em silêncio sem nenhum contato. No
ponto de ouvido, escuto Shiu pedir para recuar e Cassandra dizer que há
informantes do lado de fora. Quando as portas do elevador se abrem,
caminho em passos largos até a saída principal, deixando Johnatan para trás.
Assim que avisto nosso carro, sou interrompida por ele. Minha cabeça
gira quando me puxa para encarar seus olhos.
― Está furiosa ― diz analisando meu rosto.
― O que esperava? ― tento controlar minha respiração acelerada. ―
Você sabia, meu pai sabia e, mesmo assim, não me disseram nada. Deixaram
que eu descobrisse da pior forma possível.
― Não foi tão simples assim, Mine. Você sofreria da mesma forma
― alerta.
― Talvez bem menos do que assistir àquele horror ― engulo minhas
lágrimas e fecho meus olhos por um instante. ― Sabia sobre Nicole? Sabia?!
― Eu também me surpreendi ― Johnatan confessa.
― Eu avisei sobre aquela mulher. Não me enganei quando desconfiei
dela ― afirmo, observando-o. ― E você nunca me escutou.
― Eu sei ― fica quieto, absorvendo o que digo.
― Espero que, da próxima vez que a encontrar, faça a coisa certa. Ou
reza para que eu não a encontre primeiro ― informo com ódio. ― Agora,
podemos ir?
Ele me olha por um instante, sei que pode ver a dor em meus olhos.
Viro-me e sigo para a SUV. Escuto seu rosnado atrás de mim e o vejo se
mover à minha frente, deslizando seus dedos em seus cabelos em frustração.
De repente, paro de caminhar, um pontinho vermelho embaixo da
traseira do carro me chama atenção. Franzo a testa confusa e seguro o braço
de Johnatan bruscamente.
― O que foi, minha Roza?
Assim que ele me pergunta derrotado, puxo-o para trás. Em seguida,
somos empurrados para longe devido à explosão do nosso carro. Puxo o ar
com força e rastejo no chão com fraqueza, sabendo que agora a droga começa
a fazer efeito. Quando olho para o lado, vejo Johnatan piscar os olhos e tocar
meu rosto assustado. Meus ouvidos zunem.
― SAIAM DAÍ AGORA! ― Não me diga, penso com ironia só de
escutar a voz de Dinka rosnar pelo ponto de ouvido.
Mesmo com os tímpanos zunindo, minha atenção se volta para os
gritos distantes, até perceber que o inferno começou quando motocicletas se
aproximam para atirar.
Observo que um deles cai ao ser atingido.
― Dinka está dando cobertura, vamos? ― Johnatan diz, ajudando-me
a levantar.
― Johnatan? ― aponto para os outros carros com as mesmas luzes
vermelhas embutidas nas traseiras.
Outra moto se aproxima atirando, e nos encolhemos.
À frente, na fileira dos primeiros carros, observo duas explosões,
seguindo para a fileira de carros até nós. Johnatan me levanta rapidamente e
corremos.
― VÃO PARA A ESQUERDA. SHIU ESTÁ ESPERANDO. RÁPIDO!
― Dinka informa aos gritos e olho para trás, vendo as explosões dos carros
se aproximando.
Escuto atentamente um bip baixo, enquanto analiso as luzes piscando
embaixo dos carros, como se estivessem em contagem regressiva, uma delas
está mais acelerada. Em seguida, localizo Shiu em uma van à nossa frente e
pulo em Johnatan assim que um carro explode próximo de nós. Pisco meus
olhos vendo as explosões nos perseguirem. Tusso por causa da minha
garganta seca e estremeço nos braços de Johnatan.
― Mine? ― sua voz parece distante e só o que vejo depois de seu
rosto preocupado é a escuridão.
20 – EFEITO LETAL

Ao abrir meus olhos de repente, a claridade me cega; aos poucos


focalizo o lugar onde me encontro. Por um ângulo estranho como se eu
estivesse deitada, reconheço onde estou ao encarar o teto de aço e as luzes
fluorescentes próximas. Estou no laboratório da Colmeia e, por incrível que
pareça, meu pai está em meu campo de visão como uma sombra.
Seus olhos demonstram preocupação e seriedade. É estranho vê-lo ali,
como se estivesse me observando. Vejo sua boca se mover ao falar com
alguém de forma dura, mas não o escuto. É como uma luta interna, como se
meu corpo estivesse preso dentro de mim por não conseguir se mover.
Minha garganta continua seca, minha cabeça pesada, e sinto meu
coração cada vez mais acelerado. Estranhamente, sinto o sangue fervendo
dentro de mim, num fogo agonizante. Não há dor, mas um corpo anestesiado.
Sem meu comando, viro minha cabeça e encontro Johnatan. Ele está distante,
sentado em uma cadeira, afastado de mim. Seus braços estão apoiados em
suas pernas e suas mãos estão fechadas em punhos firmes. Noto que seus
olhos em chamas me assistem aterrorizados, e, ao mesmo tempo,
angustiados.
Não sei o que pode estar acontecendo, nem mesmo por que agora ergo
minha mão em sua direção, como se quisesse agarrá-lo. Johnatan encara meu
gesto e se aproxima rapidamente, empurrando a cadeira para longe. Eu o
escuto me chamar dessa vez, meu nome ecoa por meus ouvidos, como se eu
estivesse em um túnel amplo e infinito. Ao longe, escuto alguém protestar, e
Johnatan segura meu rosto. É como se seu toque arranhasse minha pele como
duas facas afiadas.
Subitamente, eu mesma escuto meu grito. Minha garganta rasga como
se aquele facão que Nicole usou tivesse cravado em meu pescoço. Arregalo
meus olhos e vejo que minha mão agarra a camisa branca de Johnatan com
força. Eu me esforço para tentar me recompor do que está acontecendo com
minha cabeça confusa e meu corpo dormente, implorando por sua ajuda.
Prendo meus dedos com força, sem sentir o tecido ao suplicar com
meus olhos. Mas não há o que fazer, Johnatan apenas rosna com impotência.
Logo perco os sentidos, somente sentindo, brevemente, meu corpo se mover
de forma frenética junto com minha respiração travada.
Novamente desperto, dessa vez com a voz de Johnatan ofegante perto
do meu ouvido, mas só abro meus olhos quando sinto meus músculos
pulsarem numa dor intensa. Sinto que algo atinge todas as partes do meu
corpo de forma fria e dura. Enquanto luto contra a dor, olho para ele
assustada.
― Mine, amor. Vai passar ― sussurra.
Noto que me segura com firmeza, enquanto me debato contra seu
peito ao ver que estou sendo mergulhada em uma banheira de água com gelo.
Rosno devido à dor torturante. Movo-me, querendo sair do lugar, mas
Johnatan me mantém firme em seus braços. Quando volta a mergulhar meu
corpo novamente na banheira, resisto. Mesmo que o ato me atinja, aperto
meus dentes e suporto a dor. Johnatan me observa, assustado por não estar
mais gritando. Com isso, afrouxa seus braços, erguendo uma de suas mãos
para molhar meu rosto.
― É a droga, não é? ― pergunto com os dentes cerrados.
Johnatan acaricia minha face calmamente.
― Sim ― responde. Ele parece estar em alerta comigo contra
qualquer ataque. ― Não sabe o quanto me dói vê-la dessa forma ― desabafa
com tristeza.
― Eu vou ficar bem ― asseguro, evitando olhar em seus olhos. ―
Por que me colocou nessa banheira?
Johnatan volta a me erguer, espera alguns segundos e retorna a me
mergulhar novamente, meu corpo estremece ainda com o ataque dolorido.
― Ajuda no efeito colateral. Pelo que vejo, no começo causa dores
profundas, mas depois de alguns minutos vai ter um alívio imediato. Também
alivia as dores musculares. É uma técnica de emersão ― Johnatan explica, e
percebo em sua voz o cuidado de falar comigo.
― Ainda sinto o efeito ― aperto os meus olhos.
― Você furtou um frasco cheio, Mine ― escuto a reprovação em sua
voz.
Suspiro trêmula e mergulho minha cabeça na banheira, mesmo
estando muito fria, permaneço imóvel até sentir que as pulsações em meus
músculos ficam mais aliviados.
Johnatan me puxa para a superfície. Minha cabeça lateja e meus
lábios tremem. Abro meus olhos, sentindo o sono me dominar.
― O sono também faz parte da droga? ― pergunto quando Johnatan
me tira da banheira.
Me aconchego em seu peito.
― Parece que sim ― ele beija minha testa. Em seguida, caio em um
sono profundo.

O sonho é sombrio. Ainda tenho a lembrança da morte de minha mãe,


mas dessa vez, estou presente e sou eu quem segura um facão próximo do seu
pescoço. Até mesmo em meu sonho tenho a sensação agonizante dentro do
peito.
Abro meus olhos, orgulhosa por não deixar que o pesadelo
assombroso domine minha mente, e fico ainda mais aliviada ao encarar uma
rosa vermelha à minha frente, em cima do travesseiro, como se me desse
boas-vindas. Estico minha mão e acaricio as pétalas macias com suavidade.
Trago a flor até meu rosto para inspirar seu perfume, a sensação do aroma é
como se lavasse minha alma.
Sei que estou no quarto de Johnatan na Colmeia, mas, de alguma
forma, a água azul, antes nos vidros, tornou-se vermelha. Pisco meus olhos,
encarando o teto. Mesmo estando naquele tom, o lugar não perdeu a
tranquilidade. Estremeço, temendo que seja o começo de um pesadelo, não
tenho Johnatan ao meu lado.
Quando me sento rapidamente abro minha boca impressionada com a
quantidade de pétalas vermelhas que invadem a cama e o chão do quarto. Aos
meus pés, no final da cama, há um enorme buquê. Entre as rosas apertadas
ali, localizo um bilhete. Engulo minhas emoções avassaladoras e aperto meu
peito, sentindo meu coração acelerado. Pergunto-me se Johnatan fez tudo isso
sozinho.
É como se eu estivesse rastejando-me em uma colcha vermelha cheia
de pétalas até chegar ao buquê. Pego as rosas e inspiro seu perfume. O quarto
está coberto por sua fragrância puramente intensa. Em seguida, pego o cartão
e aprecio suas letras elegantes, até mesmo profundas quando deslizo meus
dedos sobre o papel.

"O amor não só fortalece como também faz sumir a parte amarga do
nosso coração. De modo literal, me desculpe se te fiz sentir diminuída. Juro
que não foi, e nunca será, essa a minha intenção. Se muitas vezes faço isso,
saiba que é uma forma de mantê-la protegida ao meu lado. Eu aprecio você,
minha Roza. Eu amo você!"

Encaro o cartão por alguns instantes, sentindo meu peito doer com
suas palavras sinceras. Limpo minhas lágrimas e aperto o buquê contra meu
peito. Depois de alguns minutos, deixo as rosas na cama junto com o cartão e
me levanto.
Estou com uma camisola de seda curta, cor de pele. Olho para meu
corpo confusa, ao mesmo tempo impressionada por não sentir dores, nem
mesmo ter hematomas em meus braços. Caminho descalça sobre as pétalas
macias, olhando o quarto vermelho emocionada.
Sorrio levemente, mas me entristeço com o coração atormentado.
Mesmo sendo um ato de desculpas, Johnatan me escondeu a verdade. Parte
de mim se sente enganada. Sim, seria melhor se me contassem a verdade
desde o início.
Balanço minha cabeça confusa, giro meu corpo e sigo até a saída, na
intenção de procurar informações, principalmente sobre o assunto Zander.
Coloco minha digital, vendo a porta se abrir. Antes que eu dê um
passo avançado para frente, dou de cara com o peitoral nu de Johnatan. Ele
está apenas de calça moletom e descalço. Com a respiração ofegante,
pergunto-me se estava treinando.
Olho para cima, vendo seus olhos azuis surpresos ao me ver acordada.
― Como se sente? ― sua pergunta sussurrada me deixa arrepiada e
sua preocupação faz meu coração se apertar ainda mais.
― Melhor do que imaginava ― mordo meu lábio, por algum motivo,
coro.
Johnatan parece bloquear minha saída, colocando-se mais próximo de
mim. Próximo o bastante para que eu sinta seu perfume intenso e inebriante.
― Não esperava que acordasse agora. Iria me juntar a você ― diz
com cautela. ― Desculpe por te deixar sozinha ― vejo a luta em seus olhos,
assim como a ansiedade entre eles.
― Acho que sempre estive sozinha ― controlo minhas lágrimas.
― Mine...
― Por que não me disse a verdade? Por mais que me machucasse...
Por que deixou essa história vir à tona dessa forma? ― olho em seus olhos,
vendo-o encolher. ― Pelo menos, eu saberia que tipo de mãe eu tive.
― Mesmo sabendo, queria te poupar desse sofrimento. Não valeria a
pena e Edson também sabia disso. Ninguém quis se arriscar.
Quando Johnatan se aproxima, me afasto, com os braços cruzados em.
― Meu pai foi o pior, mas saber que você sabia também... ― engulo
meu soluço e tento em vão segurar minhas lágrimas. ― Alguma vez pensou
em me dizer a verdade?
Sua expressão está cheia de agonia e seus olhos parecem suplicantes.
Johnatan assente, fazendo-me ofegar.
― Uma vez, mas não me arrisquei ― responde com a mandíbula
travada.
― E por que não?
Johnatan me olha com intensidade. Estremeço.
― Porque sei que, mesmo demonstrando ser uma pessoa forte, você é
frágil. E doeria mais em mim vê-la sofrer, assim como está doendo agora ―
declara com fervor. ― Eu tive que concordar com Edson em não dizer a
verdade. Ele não queria te fazer sofrer, Mine.
Aperto meus lábios e fecho meus olhos.
― Eu não deveria crescer numa ilusão de uma mãe boa e
companheira. Sendo que o que ela fez foi me abandonar para viver com outro
homem ― seco minhas lágrimas. ― E nem sequer pensou em me levar.
― Edson não permitiria ― Johnatan diz rapidamente.
― Mesmo assim... ― desabafo. ― É como uma rejeição.
Johnatan afasta minhas lágrimas com seus dedos.
― Nunca mais diga isso ― ergue meu queixo para me fazer olhar em
seus olhos. ― E se o melhor para ela foi se afastar com Charlie, fez a escolha
certa. Não iria querer alguém que te fizesse sofrer mais do que está sofrendo
agora ― seu tom fica mais firme.
Encolho-me aos soluços, dando-lhe razão.
― Será que ela me amou? Nem que fosse um pouquinho? ― minha
voz estremece.
Seu olhar de comoção me deixa solitária. Johnatan inspira com calma.
― Não posso dizer que sim nem que não ― responde com cuidado,
acariciando meus cabelos. ― Mas estou certo de que Edson deu o seu
melhor. Ele se esforçou muito para te criar sozinho, além disso, em nenhum
momento te abandonou. Pode ter certeza de que amor nunca lhe faltará ― ele
me dá seu sorriso torto.
― Mas isso é diferente ― faço uma careta.
― Amor não é diferente. ― O sorriso fraco não chega aos seus olhos,
a dor está dentro deles. ― Olhe para mim. Me imagine antes, onde o amor
para mim não existia. Eu estava sozinho, sentia que o ódio era o único
sentimento que existia dentro de mim. Até você aparecer...
― Se estiver tentando me sentir melhor...
― Não estou querendo isso. Quero que, por um momento, tente se
colocar no lugar de alguém que passou pela mesma situação que você agora
― Johnatan me interrompe.
― Mas nossas situações são bastante diferentes. Você tinha sua mãe e
sua irmã...
― Que foram cruelmente tiradas de mim. ― Johnatan dispara em tom
sério. ― Naquele momento, eu me senti sozinho, mais sozinho do que você
imagina. Todo o amor que eu sentia no momento, todas as alegrias que
supostamente tive, foram transformadas em ódio. A solidão invadiu minha
vida em questão de minutos. Não sabe o quanto eu daria minha vida para tê-
las comigo outra vez.
A dor em seus olhos faz meu coração doer.
― Me desculpe ― sussurro quase sem voz.
Johnatan ergue minha cabeça para encará-lo.
― Não tem por que me pedir desculpa. Eu é que tenho que agradecer
por me fazer voltar a viver, por me fazer descobrir o que é um amor intenso e
demonstrar o verdadeiro significado da felicidade ― seu polegar desliza pelo
meu rosto para afastar minhas lágrimas. ― Essas são as únicas coisas com as
quais não consegui lutar para mantê-las afastadas de mim.
Sorrio sem jeito e inclino minha cabeça em sua mão.
― Nunca quis que se afastasse ― digo, apreciando seu sorriso doce.
― Viu só? É assim que funciona o amor. Não há uma explicação
concreta, só devemos senti-lo, protegê-lo e agarrá-lo com unhas e dentes,
com todo o nosso ser. E da mesma forma que nos fortalece, ele também nos
machuca ― diz com fervor, fazendo meu coração acelerar.
― Porque ele incha até nos sufocar ― concordo pensativa.
― Ele também se aperta tanto a ponto de sangrar ― encaro seus
olhos intensos.
Ergo minha mão em direção ao seu peito, sentindo seu coração bater
acelerado em minha palma.
― Você tem razão. Não há explicação ― suspiro, mas logo me
assusto. ― Johnatan... ― me engasgo ao encarar minha mão, assustada.
Johnatan ergue sua mão para colocar sobre a minha em seu peito.
Olho para cima em choque e volto a encarar nossas mãos cada vez mais
alarmada.
― Eu disse que lhe daria uma oficial ― Johnatan comunica, enquanto
continuo encarando meu anelar.
É um lindo anel de ouro com pequenos cristais, na pedra principal,
uma esmeralda. Eu me aproximo para olhar mais de perto, sem conseguir
acreditar. Quando levanto a cabeça, vejo o sorriso brilhante de Johnatan. Sua
mão aperta a minha, levando-a até seus lábios para plantar um beijo no lindo
anel.
― É-é de verdade? ― gaguejo perplexa.
Johnatan ri da minha expressão.
― Com certeza! ― responde com tranquilidade. ― Não me diga que
só se deu conta agora ― seu sorriso se abre ainda mais.
Confirmo com a cabeça.
― Quando colocou? ― pergunto.
― Depois que te tirei da banheira e coloquei sua camisola, venerei
seu sono profundo e coloquei em seu dedo ― Johnatan informa. ― Acho que
esteve tão distraída que não se deu conta ― ele se diverte.
Aproximo minha mão do meu rosto para olhar mais de perto.
― Era da sua mãe? ― sua expressão se torna amarga.
― Nunca pensaria em lhe dar algo do tipo ― fico confusa.
― E por que não? ― franzo o cenho o vendo suspirar.
― É o que a maioria dos apaixonados fazem, não é? Dá uma joia que
pertenceu à sua mãe ou avó, mas não daria a aliança que pertenceu à minha
mãe, porque o presente teria sido dado por meu pai e, daquele homem, os
sentimentos postos em uma união não foram sinceros, nunca existiu amor por
parte dele ― dispara com frieza, e toco seu rosto, sem conseguir tirar os
olhos da minha aliança.
― Eu entendo...
Distraidamente, deslizo minha mão por seu rosto até colocá-la em
frente aos seus olhos, onde eu possa apreciá-la.
Johnatan se diverte, e arrumo minha expressão boquiaberta.
― Você gostou? ― pergunta, beijando minha palma.
É impossível não sorrir, ainda mais quando vejo seus olhos cheios de
esperança.
― Ela é linda ― respondo, suspirando apaixonadamente. ― Não
apenas gostei, eu amei. Amei mais que as pétalas e as rosas no quarto.
Espere, eu amei essa parte também, assim como o cartão ― confesso toda
confusa, fazendo-o sorrir.
― Então, vamos admirar os presentes...
Johnatan se aproxima com segundas intenções. Ele envolve os braços
em minha cintura, erguendo-me para ficar da sua altura. Passo meus braços
em volta do seu pescoço e me curvo para beijar seus lábios com carinho.
― O que faremos? ― pergunto inocentemente.
Meu marido sorri em meus lábios e me leva de volta para o quarto,
travando a porta.
― Bem... Primeiro vou amá-la ― sussurra junto ao meu ouvido,
enquanto desliza meu corpo contra o seu. ― Depois, saciarei minha sede.
Seus dedos sobem suavemente por minhas costas até deslizar as alças
da minha camisola para baixo.
― Hum... Estou começando a ficar mal-acostumada ― murmuro
suavemente, sentindo seu sorriso em meus lábios.
Fecho os olhos e suspiro com sua boca percorrendo meu ombro até
meu pescoço. Passo minhas mãos por seus braços firmes, puxando-o para
mim. Assim que minha camisola cai aos meus pés, Johnatan explora suas
mãos por toda parte do meu corpo. Ofego e me entrego aos seus toques.
Na cama repleta de pétalas, deito-me rastejante até apreciar seu corpo.
Noto Johnatan tirar sua calça, todo provocante, e engulo minha sede ao vê-lo
nu, pronto para mim. Em seguida, sou dominada por suas mãos em meu
corpo, assim como sua boca contra a minha pele. Ele se curva para agarrar
minha coxa direita e deslizar seus lábios com suavidade, fazendo-me arrepiar
por inteira. Gemo ao sentir sua língua percorrer minha pele até estar próxima
ao meu sexo.
Meu corpo se ergue com desejo. Ofego com prazer ao senti-lo sugar
minha carne sensível e pulsante. Enquanto sua língua provoca minha entrada,
suas mãos percorrem meu corpo, provocando meus seios. Seu gemido
profundo me faz estremecer e minhas entranhas se apertarem devido à tortura
deliciosa do momento.
Johnatan me provoca com mordidas leves ao se afastar, deslizando
seus lábios em minha pele com delicadeza até mesmo quando provoca meus
seios com seus dentes, suavemente. Logo, os murmúrios em russo fazem meu
corpo se arrepiar e meu sangue ferver.
Eu o beijo com prazer, arranhando suas costas num desejo dominador.
Quando sua língua invade minha boca, aquilo que foi um beijo romântico se
transforma em algo ardente. Ofego, percorrendo minhas mãos por seus
músculos e gemo com sua ereção se esfregando com força em meu sexo.
Mordo seu lábio assim que o sinto me penetrar. Meu corpo arqueia e
se gruda contra o seu. Ele se move dentro de mim profundamente, levando-
me ao delírio. Gemo ofegante, deixando-o me explorar com suas mãos
perversas, sua boca excitante e seus movimentos selvagens até eu atingir meu
prazer com intensidade. Minhas pernas se apertam contra seu corpo e o
abraço com força. Depois, suas mãos deslizam por meu corpo, puxando-me
para ficar sentada de frente para ele. Toco seu rosto e o beijo com todo o meu
amor.
― Podemos ficar assim o resto do dia? ― pergunto de olhos
fechados.
Sua boca deslizar até os meus seios.
― Não está saciada? ― sussurra em minha pele, em seguida,
mordisca meu mamilo.
Estremeço em seus braços quentes.
― Sempre vou pedir mais ― sorrio.
― Que tal uma dose de tortura sexual? ― inspira o perfume em meu
pescoço, encolho-me, toda arrepiada.
Dou risada quando me agarra por não o responder e gemo. Em
seguida, volta a se mover dentro de mim, fazendo meu corpo subir e descer.
Jogo minha cabeça para trás, entregue ao prazer novamente, soltando leves
gritos com sua tortura quando para de se mover para me ver suplicar.
21 – O PLANO

Após o banho, visto minhas roupas e deixo Johnatan no quarto, dando


a ordem para que arrume tudo, meu comando o faz gargalhar. Sigo até a
cozinha da Colmeia, encontrando Cassandra, James e Dinka. Não faço ideia
de que horas são, mas estou com fome.
― Bom dia! ― cumprimento-os, recebendo a resposta de todos, e
caminho até o balcão onde Cassandra está próxima. ― Me desculpe pela
noite...
― Não precisa se desculpar. Sem você não teríamos uma... cobaia. ―
Dinka parece gostar da ideia.
Dinka tem seus olhos em Cassandra, com um sorriso disfarçado. É
como se agíssemos juntas. Enquanto tomo meu remédio, olho para ela,
observando-a comer sua torrada rapidamente. Disfarço meu sorriso ao pensar
que passou a noite com Dinka, pergunto-me por que eles sempre vivem em
pé de guerra. Caminho até a mesa e me sirvo com suco de laranja e
panquecas.
― Eu vou ver como anda a tal cobaia ― a mulher murmura como se
quisesse fugir do lugar.
― Eu te acompanho ― Dinka se levanta.
― Eu sei o caminho ― Cassandra dispara, um pouco nervosa com
sua aproximação.
― Que bom, você pode me ensinar como se chega lá ― vejo o
galanteador lhe dar uma piscadela, deixando Cassandra, pela primeira vez,
corada.
Aperto meus lábios e olho para James, que nem mesmo percebe que
estamos na cozinha. Escuto a mulher rosnar, em seguida, sai pisando duro
para diversão de Dinka.
― Até logo ― acena, deixando-me a sós com James.
― Você parece preocupado ― murmuro.
Meu amigo lança sua atenção em mim.
― Um pouco, eu acho ― diz inseguro. Percebo que só está
bebericando seu café. ― Eu queria falar com você desde que chegamos ―
sua ansiedade me chama atenção.
― O que aconteceu? ― pergunto.
― Você viu Jordyn? ― James pergunta. Franzo a testa, negando. ―
Ela me fez uma pergunta bastante estranha ontem...
― Que tipo de pergunta? ― vindo de Jordyn, todas suas perguntas
são estranhas, mas, dessa vez, parece ser diferente.
Ele se move em sua cadeira, como se estivesse desconfortável.
― Me perguntou se além das mensagens de textos enviadas pelo
celular, sou eu quem envia também e-mails para ela ― esfrega seu rosto
exasperado.
― Ela me falou sobre os e-mails ― digo pensativa e o encaro de
repente. ― Não são seus?
― Claro que não ― revela rapidamente. ― E parece que minha
resposta não agradou nem um pouco.
― E Jordyn ficou aborrecida?
Ele acena.
― É o que parece. Ela nem sequer falou direito comigo essa manhã
― James desabafa. ― Mas estou preocupado com o que ela disse. Os e-mails
anônimos não são meus. Então, eu me pergunto de quem são.
Ficamos pensativos por alguns instantes.
― Eu também pensei sobre isso na hora em que ela me disse, mas
achava que era mesmo você. Claro, eu nunca li, ela só me contou ― mordo
meu lábio, em seguida, sorrio. ― Acho que ela gosta mesmo de você.
Vejo o sorriso tímido dele surgir.
― É engraçado, antes estava a fim de você e agora percebo que a amo
― James revela.
Meus olhos se arregalam.
― Já disse a ela? ― sorrio abertamente.
James se encolhe com minha pergunta.
― Ainda não. Estou esperando o momento certo ― desabafa,
deslizando a mão em sua nuca, sem jeito.
― Tudo bem, vou tentar descobrir quem manda esses e-mails,
enquanto você tenta se aproximar dela. Se ela se sente mal, de alguma forma,
precisa de apoio ― aconselho, dando-lhe uma piscadela.
― Obrigado, Mine ― agradece.
― Disponha ― respondo com um leve sorriso. ― Posso te fazer uma
pergunta?
― Claro!
― Ontem eu estava sob o efeito da droga, sabe se Zander agiu da
mesma forma? ― pergunto.
― Não estive presente com ele nesse momento. Ao que parece,
Nectara fez uma gravação do seu ataque, assim como do dele, para Matt
analisar o efeito que a droga causa em cada indivíduo ― esclarece.
― Ataque? ― fico confusa.
― Sim. Foi assustador. Não sei como se sentiu, mas você parecia ter
um ataque de epilepsia ― James revela ainda assustado. ― Quando você
parou, pensamos que estivesse morta, pois não havia pulsação. O senhor
Makgold e o senhor Clark ficaram desesperados, enquanto tentavam reanimá-
la.
Arregalo meus olhos.
― O meu pai está aqui? ― eu me alarmo.
― Matt resolveu ligar e dizer sua situação sobre o que aconteceu, até
trazê-lo para cá ― comenta. ― Mas assim que você recuperou os sentidos,
ele foi embora sozinho e recusou ajuda.
Pisco meus olhos assustada.
― Eu me lembro de ter acordado, de ter visto ele e Johnatan no
laboratório ― digo, perdida em lembranças.
― Sim, eles estavam presentes ― James confirma.
Balanço minha cabeça.
― E onde está Zander? ― pergunto com frieza.
― Na sala de interrogatório. Depois que você se recuperou, o senhor
Makgold começou a interrogá-lo ― James revela estremecido.
― Espero que estejam fazendo testes com os experimentos ―
disparo.
― Estão ― Nectara interrompe, roubando nossa atenção. ― Mas há
intervalos a serem respeitados. Matt está sabendo lidar com isso, aplica
poucas quantidades para ver como ele reage, num efeito passageiro, assim
podendo usar os experimentos em tempo determinado ― a japonesa explica e
se junta a nós.
― E no interrogatório, que tipo de perguntas Johnatan está fazendo?
― olho para ambos. James faz uma careta e Nectara ergue sua sobrancelha
perfeita.
― Johnatan não faz perguntas ― Nectara responde, deixando-me
confusa ― Ele o tortura.
― O senhor Makgold ficou até essa manhã com ele na sala e depois
foi para o quarto ver como você estava ― assim que James fala, lembro-me
de como Johnatan estava ofegante assim que o encontrei. ― Em parte, ele fez
isso por Zander ter te causando tanta dor. Agora, não sabemos como vai ser,
ou se vai resistir a tudo isso.
Abro minha boca chocada e a fecho novamente.
― Na verdade, acho que ele consegue ― Nectara murmura de
repente.
― E por que fala com tanta certeza? ― falo rispidamente.
― Porque todos os golpes e experimentos usados nele deram poucos
resultados ― explica.
― Isso porque as drogas não dão os efeitos necessários ― disparo.
― Não só as drogas, como também o interrogatório de Johnatan ―
insiste, deixando-me confusa.
― Ele age como se não sentisse nenhuma dor, Mine. ― James rouba
minha atenção. ― Eu não sei o que a máfia fez para fazê-lo agir daquela
forma, se não fosse pelo sistema, diríamos que não sente nada, exceto que há
algumas drogas criadas que o deixam inconsciente. Ele apenas provoca a ira
do senhor Makgold.
Aperto meus dentes frustrada e balanço minha cabeça.
― Ele não disse nada até agora? Nenhuma informação? ― estou
incrédula.
― Nesta manhã, Cassandra tentou perguntar sobre a máfia estar à
procura de Messi ― Nectara diz, bebendo seu café.
― E sabem onde ele possa estar? ― pergunto curiosa.
― Ontem, as coisas aconteceram tão de repente, que senti como se
estivéssemos em uma armadilha. Shiu ouviu poucas informações referentes a
Messi, mas parecem interessados em caçá-lo ― James informa, esfregando
sua testa como se estivesse com dor.
― Pensei que Johnatan fosse o único a ser caçado dessa forma ―
digo pensativa.
― O senhor Makgold sempre será o favorito deles, mas, ao que
parece, esse Messi tem informações preciosas para a LIGA. Por um lado,
sabemos que Johnatan arrancou um de seus olhos, mas não o matou. Com
essa falha, provavelmente isso fez com que ele desaparecesse, deixando-nos
na dúvida se está tendo uma ligação direta ou não com Charlie Makgold ―
Nectara murmura, perdida em pensamentos.
― Acha que Zander sabe sobre seu paradeiro? ― James pergunta, tão
confuso quanto eu.
― Tenho minhas dúvidas ― a japonesa suspira, como se estivesse
cansada de montar o quebra-cabeça.
Penso por um instante, relembrando as palavras de Zander na noite
anterior, na forma como cuspia cada palavra com ódio e rancor. Seus olhos
cor de gelo transmitiam todos seus sentimentos, mas, por algum motivo,
estávamos sozinhos naquela sala. Ele desafiou o perigo e nos atraiu.
― Ele quer matar Johnatan ― sussurro pensativa, escutando o
silêncio de ambos. ― Zander não estava no evento a pedido de Charlie ―
continuo ao tentar decifrar o enigma.
― O que quer dizer? ― James pergunta.
Logo, nós nos distraímos com a entrada de Dinka na sala.
― O senhor Makgold está com Zander ― informa e nos olha
confuso. ― O que aconteceu?
― Quem está junto com Johnatan? ― pergunto.
― Matt, Shiu e Cassy.
Sinto alívio ao ouvir sua resposta. Nectara explica a situação
rapidamente a Dinka.
― Mine, até agora não entendemos ― ela chama minha atenção.
― Não viram a forma como ele repudia Johnatan? Como ele persegue
até passar dos limites, mas precisa se apoiar em alguém para socorrê-lo e
levá-lo para longe, mesmo que isso custe sua dignidade? ― digo, fazendo
Dinka me olhar com atenção, alheio à conversa. ― Sinto que ele odeia os
Makgold, só não sei o porquê.
― Podemos fazê-lo falar ― James opina, e vejo Dinka negar com a
cabeça.
― Parece que o criaram como um membro exclusivo, talvez o
melhor. Provavelmente, é o favorito entre eles, o qual foi guardado a sete
chaves ― Dinka cogita. ― Nem eu mesmo sabia de sua existência.
― Acha que ele possui algum rastreador? ― reflito vendo o sorriso
de Nectara.
― Não, eu mesma tirei antes de vir para cá. Estava fincado em sua
nuca. Então, cortei sua pele e o arranquei ― responde satisfeita.
― É bom mantê-lo preso, enquanto investigamos Messi ― peço.
― Duvido muito que ele saiba sobre o mensageiro ― Dinka coça sua
nuca, inseguro.
― Se souber, vai nos dizer. Com certeza ele tem algum ponto fraco,
só precisamos descobrir ― esfrego meu rosto exasperada.
― Espero que logo. A LIGA não aguarda muito para atacar
novamente ― Dinka informa e Nectara concorda.
― Mine, o que pretende fazer? ― James pergunta quando nota meu
olhar distante.
― Messi pode ter contato direto com algum membro da LIGA... ―
comento pensativa.
― Provavelmente ― Dinka me interrompe.
― Então, temos que nos aliar ― opino.
― O quê?! ― James dispara sobressalto.
― Enlouqueceu? ― Nectara discorda.
― Olhem para Cassandra e Dinka, eles fugiram sem manter contato.
Querendo ou não, se algum membro os reconhecerem, obviamente vão caçá-
los ― explico.
― Mas é muito diferente, Mine ― o espião responde.
― Sim. Messi também fugiu, só que ainda pode ter contato com
alguns deles ― suspiro. ― Devem haver muitos membros loucos para se
livrar da LIGA, mas não acham saída. Pessoas que se preocupam com suas
famílias e são forçadas a fazer aquilo.
― Está falando de um em torno de um milhão ― Nectara protesta.
― Você vai querer aliar a Colmeia com algum membro da LIGA? ―
James pergunta, como se meu pensamento fosse absurdo.
― Podem existir traidores ― Dinka opina, mas sinto sua indecisão.
― Johnatan não tem membros anônimos aos quais promete total
segurança? ― pergunto, vendo-os acenar.
― Essas pessoas querem paz, não quer dizer que vão aceitar se aliar,
Mine. Por Deus! ― James protesta.
― Aliar-se com o quê? ― a invasão de Johnatan na cozinha nos deixa
paralisados.
Seus olhos azuis observam cada de nós até fixar nos meus.
― Bem... ― Dinka começa, mas logo se cala e cruza os braços.
― Eu fiz uma pergunta ― Johnatan dispara seriamente.
Observo-o vestido com uma calça social, sapatos e camisa branca,
que se aperta em seus músculos.
― Aliar os membros da LIGA com a Colmeia ― revelo, não me
encolhendo com seu olhar.
― E posso dizer que isso é um absurdo? ― sua sobrancelha se ergue,
como se estivesse me repreendendo
― Não quando se trata de querer colocá-los contra Charlie Makgold
― meu tom autoritário o surpreende, deixando-o pensativo.
22 – EMBOSCADA

Meus olhos só estão fixos nos pontos vermelhos em movimentos. Eles


estão localizados em todas as partes, principalmente na cabeça e no peito.
Meus tiros ágeis são diretos, enquanto as placas mudam e se movimentam,
algumas se aproximam. Eu disparo sem hesitar, carregando minhas armas
com rapidez. No começo, Dinka iniciou minha sessão com apenas uma arma,
observando, ao longo do tempo, que poderia usar mais de uma na intenção de
avaliar a firmeza com que eu as segurava.
Era fácil, mesmo agora, estando no centro da sala equipada para tal
treino. Ele me lançou o desafio de atirar e arremessar facas nos pontos
vermelhos sem hesitação. Algumas vezes, as placas se movimentavam
rapidamente, fazendo com que eu me movesse com mais velocidade e é,
nesse período corrido, que aproveito para recarregar minhas armas. Por outro
lado, sei que Johnatan está me monitorando pela tela de vidro, enquanto
mantenho meu foco em meu treino.
Quando tudo para de se movimentar, analiso os pontos que eu havia
atingido.
― Como estou?
Viro-me, vendo Dinka pela tela de vidro, ao seu lado está Johnatan,
todo sério e observador.
― Você é a melhor aluna ― Dinka elogia pelo interfone com os
olhos arregalados. ― Tem certeza de que não é uma assassina em série?
Sorrio, e Dinka não consegue esconder sua surpresa, tendo sua boca
aberta. Atrás da tela de proteção onde estão, há computadores e equipamentos
para o monitoramento da sala de treino com armas.
Noto as placas serem trocadas por outras novas com pontos
vermelhos em diferentes lugares, como: pescoços, ombros, barriga, joelhos, e
as que me fazem rir, as partes íntimas. Giro meu corpo, analisando ao meu
redor, para observa as miras de cada molde. São cerca de vinte placas em
formato humano e dez de tiro ao alvo com o ponto vermelho localizado no
centro.
Quando olho para cima, vejo Johnatan me lançar um sorriso duro e
mover sua mão no painel à sua frente. Ao lado, Dinka sorri discretamente,
como se apreciasse o que Johnatan acabou de lhe dizer, enquanto estive
observando os moldes ao redor.
De repente, tudo fica escuro. Aperto meus olhos, como se Johnatan
fosse capaz de me ver ali, e permaneço em meu lugar. Em seguida, tiro a
proteção de meus ouvidos e tento escutar as placas se movendo.
Quando tenho certeza de que uma delas se aproxima, atiro. Penso
rapidamente nas que podem estar se aproximando, sem me confundir com
qual está à minha esquerda e à minha direita. Facilitaria muito mais se os
movimentos das placas fizessem algum barulho, mas apenas sinto como uma
ameaça e a intuição é o que me faz atirar.
Aperto meus dentes frustrada, lembrando-me de como podem estar
circulando pela sala ao meu redor ou cogitando como devem estar. Então,
onde acho que as placas menores se colocam, arremesso as minhas facas
reservas. Por um lado, fico feliz ao escutar a lâmina cravar no lugar certo,
mas receosa, sem ter certeza se atingi o ponto marcado. Logo, troco minhas
munições e volto a atirar.
Estranhamente sinto que há mais placas aparecendo, levando-me a me
mover mais depressa e atirar com agilidade.
― Que merda ― resmungo quando escuto que errei um alvo assim
que a bala atinge a parede de aço.
― Senhora Makgold, deve ficar mais atenta ― escuto a reprovação
de Dinka.
Suspiro.
― Por quê?! ― pergunto em voz alta e volto a atirar quando escuto
uma placa se aproximar com velocidade e se afastar assim que é atingida.
― Porque o senhor Makgold se encontra na sala.
Assim que o homem fala, fico paralisada.
― O QUÊ?! ― me choco.
― Continue, querida ― escuto Johnatan em algum lugar.
Eu me desvio de uma placa.
― Johnatan, não tem graça! ― rosno e hesito em atirar para algo que
se aproxima.
― Você está indo muito bem ― Johnatan elogia.
Meu estômago embrulha ao acertar outra placa.
― Eu posso ferir você. Por favor, saia! ― peço com anseio.
― Até agora você não me atingiu ― Johnatan continua, minha boca
se abre com pavor. ― Você sabe quem tem que acertar, está seguindo seus
instintos ― meu corpo gira, perseguindo sua voz.
― Só pode estar de brincadeira ― queixo entredentes e volto a atirar
nas placas sem desviar. Agora, tenho que ter o cuidado de não acertar
Johnatan.
Mas posso escutar seus passos, para minha preocupação, ele está
caminhando, posso ouvi-lo quando me coloco mais atenta. Às vezes, próximo
demais, depois longe, e, agora, fico feliz pelas placas se moverem em
silêncio. Volto a me concentrar em meus exercícios, sem perder meu foco em
Johnatan.
Quando noto que as placas param de se mover, sinto a aproximação
de uma delas, porém não tenho nenhuma munição, então, pego a última faca
presa em meu cinto e arremesso, ao mesmo tempo em que as luzes se
acendem. Sobressalto-me ao ver Johnatan agarrar a faca rapidamente antes
que seja atingido.
― Perfeito ― diz com sua voz intensa, girando a faca e a
arremessando em um molde atrás de mim.
― Viu? Eu quase o atingi ― disparo irritada, caminhando até o
gabinete para colocar as armas nas prateleiras. ― Nunca mais faça isso! ―
aponto para cima, onde se encontra Dinka
O atirador se curva para falar no interfone sorrindo.
― Culpe seu marido ― acusa.
Reviro os olhos.
― Eu sinto muito, movimentei uma das placas sem querer ―
Johnatan murmura atrás de mim, próximo ao meu ouvido.
Ergo minha sobrancelha, apoiando-me na prateleira.
― Por que acho que está mentindo? ― aperto meus olhos
desconfiada.
― Porque você está certa ― posso sentir seu sorriso em meu ouvido.
Suas mãos agarram minha cintura e gira meu corpo para ficar de
frente para ele. Olho em seus olhos, depois encaro sua boca próxima à minha.
Penso em me afastar, mas ele parece desvendar meus pensamentos ao grudar
meu corpo contra o seu. Suspiro.
― Nunca mais faça isso ― peço, apoiando-me em seus braços.
― Faz parte do treino ― defende-se, erguendo sua mão para afastar
uma mecha do meu cabelo e deslizar seus dedos em meu rosto. ― Você
precisa de mais incentivo. Imagine se estiver numa encruzilhada, muitos
fazem isso.
Mordo meu lábio.
― Acho que não gosto de ficar encurralada ― confesso.
Seu sorriso perfeito se abre tranquilamente.
― Ninguém gosta ― ele se aproxima para beijar meus lábios com
intensidade. ― Estou impressionado.
Franzo a testa ao encarar sua expressão serena. Reviro os olhos.
― Com certeza, errei as miras assim que soube da sua presença ―
reclamo.
― Bem... ― Johnatan se afasta para analisar as placas ao redor, assim
como eu. ― Você errou apenas um ponto e quebrou uma das placas.
Arregalo meus olhos ao ver os pontos vermelhos atingidos, assim
como as facas cravadas.
― Dinka está certo ― cruzo os meus braços. ― Sou uma assassina
em série... E não estou sabendo ― arregalo meus olhos para Johnatan,
fazendo-o gargalhar.
― Vamos, vou levá-la para casa ― Johnatan me guia até a saída.
― Sobre aquele assunto... ― reluto, vendo sua expressão se esfriar.
― Nada de nos aliar e assunto encerrado ― responde com frieza.
Desde que saímos da cozinha, para seguir com os meus treinos,
Johnatan sequer quis voltar a tocar no assunto, pois não estava de acordo e
deixou claro que era um absurdo pensar dessa forma. Sei que tem razão em
evitar se arriscar, mas, no fundo, eu sentia que poderia dar certo, só precisava
investigar as pessoas certas.
Suspiro com foça para não voltar ao assunto.
― Não tem que cuidar da cobaia? ― pergunto, caminhando pelo
corredor.
― Matt deu um intervalo para os experimentos ― fuzilo-o com os
olhos. ― Ele pode ter uma overdose ― explica.
― A essa altura do campeonato, eu não me importo. ― disparo. ―
Posso vê-lo? ― minha pergunta o surpreende.
Ergo a sobrancelha para que ele entenda que esse assunto não pode
ser encerrado.

Assim que entro na sala, meus olhos vão direto para Zander. Ele está
de moletom e sem camisa. Em sua pele exposta e musculosa há algumas
marcas superficiais. Sua cabeça está abaixada, com os cabelos escuros
molhados jogados para frente. Ele respira calmamente e me pergunto se está
em uma espécie de meditação com suas mãos espalmadas sobre a mesa. Ao
me aproximar, vejo suas veias escuras e seu pulso machucado, como se
estivesse recentemente preso. Percebo que segura a respiração quando nota
minha aproximação. Puxo a cadeira à sua frente e me sento para observá-lo
mais de perto.
― Seu perfume é inconfundível ― seu tom é áspero.
― Como se sente, Zander?
Recosto-me na cadeira, cruzando meus braços e pernas.
Assim que sua cabeça se levanta, vejo seus olhos cinza febris. Seu
rosto está corado, sua face esquerda está levemente arroxeada e seu lábio
inferior com um corte. Percebo que há três microplugues pretos fixos em seu
pescoço, notando que faz parte do monitoramento de Matt. O inimigo, no
entanto, não demonstra nenhum tipo de emoção, nenhum tipo de resistência,
mas ficaria mais desapontada se eu não percebesse a forma como trava sua
mandíbula, aquilo significa que os experimentos estavam dando efeito. Ele
sorri para mim, observando a sala à sua volta. Em seguida, encara o vidro
escuro atrás de mim, onde sei que Johnatan e Matt estão monitorando.
― Melhor que do que imagina ― Zander responde minha pergunta.
Ergo a sobrancelha com desconfiança.
― Não me diga ― sorrio com a mesma ironia e olho para o vidro
escuro. ― Pensei que o encontraria pior ― dou de ombros e tenho certeza de
que Johnatan sorriu com meu comentário.
― Estamos trabalhando em um medicamento para cicatrização ―
escuto o advogado pela sala. ― Não seria bom abusar demais de uma cobaia
tão valiosa, senhora Makgold. ― Matt responde pelo interfone e me viro para
Zander com um sorriso sombrio.
― Tem razão ― concordo. ― Acho que o hóspede merece um bom
descanso para novos testes ― meu comentário faz Zander me encarar
profundamente.
― O que veio fazer aqui? Interrogar-me? ― Zander zomba e tosse
em seguida, sorrio. ― Espero que seja melhor que seu marido.
Suspiro.
― Por que não diz logo onde está Charlie Makgold? Ou melhor,
como funciona a LIGA? Ou... pode nos dizer sobre o paradeiro de Messi ―
faço as perguntas tranquilamente, vendo-o se recostar na cadeira.
― Deveria tomar cuidado. Como pode ver, não estou preso ― mostra
seus pulsos.
― Você está impossibilitado. Sei que, se tentar se esforçar para me
atacar, vai ficar pior do que já está ― disparo.
Zander acena dando uma risada fria.
― Eu não teria tanta certeza...
― RESPONDA! ― disparo em tom firme, fazendo-o suspirar.
Zander se curva na mesa, apoiando-se em seus cotovelos.
― Se eu soubesse sobre o paradeiro do infeliz de Messi daria a
informação sem oposição. Nada me daria mais prazer que ver o desgraçado
morto ― murmura rispidamente.
― Isso não é novidade, Zander ― digo com sarcasmo. ― E quanto às
outras perguntas?
Zander sorri se afastando.
― Os verdadeiros membros da LIGA jamais quebram sua fidelidade
― diz com orgulho, dando-me uma piscadela.
― Sempre há algo que o faça quebrar ― exaspero. ― Tente
colaborar, Zander, para o seu próprio bem ― insisto.
Seu sorriso se abre de forma arrogante.
― Agora é seu coração implorando por isso? ― pergunta com ironia.
― Não entenda como uma piedade, porque é a única coisa que não
sinto por você no momento ― disparo.
― Eu gosto da sua atitude e a coragem de ficar frente a mim com
naturalidade. É espontâneo, isso me agrada ― o imbecil sorri.
― Não estou aqui para receber elogios ― aperto meus dentes e afasto
minha cadeira.
Zander acha graça da minha atitude, mas logo suspira.
― É claro que não ― murmura atento ao vidro escuro. ― Mas
qualquer homem daria a honra de cortejá-la, não é mesmo?
Reviro meus olhos e me levanto.
― Em algum momento você vai ceder ― digo exasperada.
― Provavelmente sim ― responde, logo seus olhos avaliam meu
corpo à sua frente. ― Se me concedesse, eu a foderia com prazer de todas as
formas. Com o mesmo sentimento que sente por mim, sem piedade ― ele
pronuncia, levantando-se e socando a mesa.
Antes que eu possa ter qualquer reação vejo a mesa de aço ser virada
para o lado, chocando-se contra a parede. Logo, Johnatan empurra Zander
contra a parede, atacando-o com socos brutos. Zander tenta golpeá-lo, mas
parece fraco demais para isso, facilitando Johnatan de acertá-lo diversas
vezes no rosto e no estômago.
― JOHNATAN! PARE! ― grito assim que sua mão se fecha no
pescoço de Zander e arremessa sua cabeça contra a parede, deixando-o preso.
Ambos se encaram com ódio. Johnatan tem sua respiração ofegante e
os olhos injetados de fúria, enquanto o rosto machucado de Zander fica
vermelho devido ao aperto. Nenhum deles cede, nem mesmo Johnatan, que o
mantém pressionado.
Matt e Shiu entram na sala, observando a cena chocados.
― John, não vale a pena! ― Matt toca seu ombro. O gesto faz o braço
livre de Johnatan golpeá-lo na lateral da nuca, fazendo Matt se afastar.
Arregalo meus olhos quando Johnatan volta a bater a cabeça de
Zander novamente contra a parede. Zander sorri embriagado, cuspindo o
sangue do corte em sua boca.
― Escute seu amigo ― Zander provoca, escutando Johnatan rosnar.
― Johnatan, ele está apenas te provocando. Não lhe dê ouvidos! ―
alerto, segurando Shiu no lugar para que não se aproxime de Johnatan.
Zander se diverte sombriamente sem deixar de encarar Johnatan com
frieza. Logo, escuto o infeliz pronunciar palavras em russo. Meu estômago se
embrulha com sua voz acelerada e desafiadora, isso faz com que leve
Johnatan para um nível mais violento ao jogar Zander contra o chão. Corro
para ficar entre eles. Abraço Johnatan, agarrando sua cintura e o mantendo no
lugar.
― Chega! ― peço com esforço assim que o corpo dele tenta avançar
e para abruptamente com minha interrupção, seus braços me cercam com
força. ― É isso que ele quer. Não caia no seu jogo ― sussurro apenas para
Johnatan, mas, de repente, escuto a risada engasgada de Zander atrás de mim
junto com suas palmas.
― Parabéns, senhor Makgold. ― Zander continua o provocando. ―
Tem uma esposa muito gostosa ― Johnatan rosna enfurecido.
Tento mantê-lo longe de Zander assim que ele volta a avançar, mas
felizmente Matt me ajuda, puxando-o para longe assim como Shiu faz com
Zander, colocando-o sentado na cadeira novamente.
― ASSIM QUE EU TIVER A OPORTUNIDADE, EU MESMO O
MATAREI! ― Johnatan ameaça ao ser afastado por Matt. ― Reze para não
me encontrar nessa sala sozinho, fantoche!
― Leve-o daqui ― peço a Matt e observo seu esforço, enquanto
Johnatan tenta atacá-lo; em seguida, Dinka aparece para puxar Johnatan para
fora da sala.
Viro-me, vendo Zander sentado na cadeira com os braços apoiados
nos joelhos, enquanto limpa o sangue do corte em sua boca.
― Isso foi um inferno ― Shiu murmura cansado.
O comentário faz com que Zander gargalhe. Suspiro e aperto o ombro
de Shiu.
― Acho melhor você colaborar, Zander ― aconselho, vendo-o se se
levantar para me encarar de perto.
Shiu o mantém afastado de mim, fazendo Zander cambalear para trás.
― O que uma garotinha como você vai fazer? Ser seu rato de
laboratório? Chamar seu marido para me bater na tentativa de me fazer falar
alguma coisa? ― Zander dispara com ódio. ― Eu já passei por coisas piores,
já vivi à base de treinos pesados dos quais vocês nem imaginam. Podem me
torturar o quanto quiserem, mas de mim só vão ter meu silêncio! ― seus
olhos febris e suas palavras furiosas fazem meu sangue ferver.
― Sempre há um ponto fraco ― rebato em ameaça, notando Shiu se
encolher com meu olhar em Zander. ― E, quando eu descobrir... Eu mesma
vou interrogá-lo.
― Estarei esperando, ou não ― ele diz, sentando-se novamente.
― Aliás, se está pensando que um deles vai te resgatar, está muito
enganado ― meu alerta o diverte.
― É claro que não, mas, com certeza, eles colocam outro no lugar ―
Zander dispara seu sarcasmo.
Viro-me para Shiu, que tem os olhos em Zander caso ele se
movimente.
― Pede para preparar um lugar para esse ser descansar. Sei que
depois Matt vai voltar a usá-lo como cobaia ― ordeno, vendo Shiu acenar.
Saio da sala direto para a cabine, encontrando Dinka.
― O senhor Makgold está perguntando por você. Pediu para que a
mantivesse afastada de Zander ― diz, observando o inimigo na sala pela
parede de vidro.
― Está tudo bem. Ajude Shiu ― aceno e saio da cabine exasperada.
Na sala de monitoramento, encontro Johnatan andando de um lado
para o outro, vejo Matt parado próximo ao corredor como se estivesse
bloqueando sua saída.
― Shiu e Dinka vão levá-lo para um quarto ― informo a Matt.
― Sim, já temos um lugar reservado com apenas uma cama e um
banheiro aberto ― Matt diz rapidamente.
Assim que o advogado se afasta, Johnatan caminha em minha direção
feito um furacão.
― Não a quero novamente naquela sala com aquele verme! ―
Johnatan dispara furioso.
― Ele só está te provocando, Johnatan.
― Não interessa! Não a quero com ele ― ignora meu alerta.
Esfrego as mãos em meu rosto.
― O que ele te disse em russo? ― cruzo meus braços.
Johnatan puxa o ar com força e o solta, deslizando seus dedos em seus
cabelos.
― A mesma coisa que pronunciou a você, mas de maneiras mais
explícitas, comparando-a com sua mãe ― Johnatan responde entredentes.
Engulo meu nervosismo.
― Você viu aquele vídeo? ― lembro-me de que ele não viu o vídeo,
apenas escutou.
Johnatan acena com cautela.
― Cassandra está tentando localizar Nicole ― informa.
― Tenho certeza de que, se ela foi capaz de matar minha mãe,
também foi capaz de matar o próprio marido ― acuso e vejo Johnatan ceder,
tocando meu rosto com carinho.
― Vou levá-la para casa ― sussurra, em seguida, me puxa para um
abraço apertado.
― Não. Preciso que fique aqui para descobrir algum modo de fazê-lo
falar ― murmuro em seu peito e sinto seus braços endurecerem. ― Eu sei
que ele vai ceder, só precisamos ter calma.
― A única coisa que quero é cortar seus testículos e dar para os
tubarões. ― Johnatan murmura em meus cabelos.
Sorrio com a forma ameaçadora misturada com uma pontada sombria
de seu ciúme.
― Você não muda mesmo ― digo rindo e o abraço.
Em poucos minutos, sinto seu corpo relaxar. Logo, murmura:
― Eu acho que preciso de alguns dias em casa ― olho para cima,
recebendo seus beijos. ― Preciso ver nossos filhos ― rimos.
― Eles sentem sua falta ― beijo seu queixo. ― Resolva o que tem
que resolver e estarei te esperando em casa ― dou-lhe um sorriso aberto.
Johnatan olha em meus olhos, acariciando meu rosto.
― Se não tivéssemos com todo esse inferno, eu a levaria para longe
― desabafa com desejo, fazendo-me corar. ― Eu a teria só para mim.
Meu coração pula com emoção e meu sangue se aquece.
― E para onde me levaria? ― pergunto timidamente.
Johnatan me dá seu sorriso perfeito e relaxado.
― Para um lugar bem longe disso tudo ― aperta-me em seus braços e
me arrepio quando funga meu pescoço e espalha beijos em meu rosto. ― Eu
a encheria de mimos... e presentes... e rosas... e mais presentes... e sexo ―
sua última palavra me faz gargalhar.
― Então, é essa a intenção? Safado ― bato em seu ombro.
― Em parte sim, mas faria qualquer coisa para estar do seu lado em
um momento tranquilo ― declara, beijando meus lábios delicadamente.
― Sinto que está soando como uma promessa ― aprecio e aperto seu
corpo contra o meu para acariciar suas costas largas.
Ele está pensativo, enquanto beijo seu queixo e sua mandíbula.
― Bem, com certeza, é uma promessa ― sorrimos um para o outro.
― Para nós dois ― beija a ponta do meu nariz.
― Então, selemos nossa promessa, de ter um momento de paz, com
um beijo ― faço biquinho.
― Você é uma safada! ― gargalhamos na sua tentativa de imitar
minha voz. ― Mas eu tenho que agradecer pela paz que traz à minha vida.
Somente você consegue me dominar. Eu fico cada dia mais apaixonado por
você ― suas palavras me fazem corar.
Envolvo meus braços em seu pescoço e o trago para mim.
― Eu também sou apaixonada por você ― sussurro em seus lábios,
mordiscando-o. ― É por isso que você tem uma grande mulher ao seu lado
― brinco.
― Agora, está se achando ― ele me dá sua risada rouca e me beija
com paixão. ― Hum... Vou pedir para James te levar ― diz, interrompendo
nosso beijo.
― Tudo bem ― concordo.
Sorrio quando volta a me beijar, em seguida, se afasta.
― Ah! Só um segundo ― ergue seu indicador, retornando para me
beijar novamente. ― Só mais um... E mais outro... O último... Não, mais
um... ― sussurra com os lábios ainda grudados nos meus.
Eu o abraço com força para segurá-lo junto a mim.
― Ok, Johnatan, vai ― digo rindo e o empurrando.
― Tudo bem... Pare de me seduzir ― acusa ao arrumar sua blusa no
lugar e se afasta.
Eu o observo com um suspiro apaixonado até ele sumir do meu
campo de visão e aprecio o silêncio do lugar. Em seguida, pulo assustada
com o toque de um celular. Aproximo-me do barulho, reconhecendo o
aparelho de James. No identificador de chamadas, vejo o registro de Ian.
Pisco meus olhos confusos e atendo rapidamente.
― Ian? Sou eu, Mine ― sorrio ao falar e franzo a testa quando não o
escuto. ― Ian?
― O garoto está conosco e em breve sua mãe também. Johnatan
Makgold tem uma bela casa ― meu coração se afunda ao pensar em Ian e
Donna.
― O que fez com eles? ― estremeço.
― O garoto está bem, por enquanto. Então, faremos uma troca. Traga
nosso membro da LIGA e devolveremos o garoto. E... esperamos que não
esteja acompanhada, caso contrário...
― MINE! MINE! ME SOLTA! SOCORRO! ― escuto Ian grita de
dor. Quando é interrompido, eu me assusto.
― Não o machuquem! ― imploro alarmada. ― Ele é só uma criança!
― Está avisada. Estamos próximo à mansão Makgold, você tem
apenas vinte minutos ― o homem de voz grossa anuncia, desligando
imediatamente.
Respiro com dificuldade ao encarar o celular. Corro para um dos
computadores de Shiu e hackeio o sistema da mansão para ativar o sistema de
proteção.
― Mine? ― viro-me distraída ao ver Cassandra me observar confusa.
― O que aconteceu? ― pergunta olhando a tela à minha frente, mas não
tenho tempo para explicações.
Encaro o corredor onde Zander deve estar e balanço minha cabeça.
Ele não facilitaria com apenas uma troca. Imediatamente, entrego o celular de
James para Cassandra.
― Rastreie a última chamada, verifique se Donna continua na mansão
e passe as informações para Johnatan. Depois me encontrem no local ― digo
apressadamente, enquanto me afasto. ― Consegue passar as informações
para um dos carros?
― Sim... Mas, Mine? ― dispara confusa.
― Agora! ― ordeno e corro para a saída até o estacionamento.
Corro até o carro escuro que penso ser de Cassandra, feliz por ser
ligado por chave e não por digital. Assim que saio, piso no acelerador e sigo
em direção à mansão. O carro é mais veloz do que imaginei, o que me
agrada, mesmo quebrando algumas leis de trânsito.
― Mine... ― escuto a voz de Shiu no carro e encontro um pequeno
telefone automático embutido no painel.
― Sim ― respondo com esforço, sentindo meu corpo tremer ao
pensar em Ian.
Logo, lembro-me das palavras de Zander em relação a outro no lugar,
é claro que eles vão procurar por algo para nos atingir.
― Eles acabaram de se mover para longe da mansão ― Shiu informa.
― Estão seguindo para o lado oeste ― diz confuso.
― E Johnatan? ― pergunto.
― O senhor Makgold já está a caminho ― Shiu avisa, e o escuto
digitar algo em seu teclado. ― Eles estão em um Volvo prata sem placa. À
sua esquerda há uma saída, siga direto e vire à direita, assim, vai conseguir
impedir que eles cheguem à rua principal.
Reconheço o caminho ao fazer o que me pede. Viro à direita,
escutando os pneus do carro cantarem. Logo na entrada, encontro o Volvo e
choco o meu carro contra o conversível, empurrando-o de volta. Piso no
acelerador com mais força até notar a fumaça que se faz do lado de fora
devido aos esforços dos pneus.
Em seguida, o veículo se choca contra o meu e dá a ré. Acelero em
sua direção, sem lhe dar espaço para passar. Depois, ele se move para trás
rapidamente e freia abruptamente. Freio assim que vejo um homem careca
sair para atirar contra o meu carro, suspiro aliviada por ser blindado. Assisto
ao homem dar a volta no Volvo e puxar Ian para fora.
Engulo em seco, encarando meu retrovisor para ver se alguém se
aproxima. Estamos quase próximos da rua da mansão, cercados por árvores e
arbustos. Encaro Ian assustada. Ele tem seus olhos vendados por um lenço
escuro e as mãos amarradas. Avalio a marca avermelhada no lado direito do
seu rosto e seu uniforme da escola sujo. O careca alto de terno escuro puxa os
cabelos do garotinho, fazendo-o grunhir. Em seguida, aponta a arma para a
cabeça dele.
Controlo minhas emoções e inspiro fundo ao sair do carro com as
mãos levantadas, sinto meus olhos se encherem de lágrimas ao escutar o
choro de Ian misturados com suas súplicas.
― Onde está Zander? ― o homem pergunta, encostando ainda mais a
arma na cabeça do menino.
― Solte-o, por favor ― peço calmamente.
― Mine? MINE! ― meu coração se aperta por seu desespero.
― Esse não foi o acordo ― o homem reclama, seus olhos escuros
estão cheios de ódio.
Um movimento entre as árvores me distrai como se fossem vultos.
Inspiro fundo e tento me aproximar deles com cuidado.
― Posso te levar até ele, mas, por favor, solte o garoto ― exijo,
vendo-o apontar a arma em minha direção.
― Quando fazemos um acordo, ele deve ser comprido! ― assim que
o homem fala, joga Ian contra o chão e mira sua arma.
― NÃO!
Quando escuto o tiro, minhas pernas travam, impedindo-me de correr
assim que vejo Hush e Lake invadirem a pista em direção oposta ao homem e
saltarem num movimento sincronizado, fazendo seu corpo girar no ar
desorientado.
Os cavalos relincham furiosos, e vejo o corpo do homem caído no
chão. Depois, Hush ergue suas patas dianteiras e as afunda brutalmente
contra o peito do membro da máfia, fazendo-o engasgar e ficar imóvel.
Quando Lake caminha para o lado, dando espaço para Hush, observo o
homem careca morto à minha frente.
― Ian? ― volto minha atenção para o garoto caído no chão,
movendo-se confuso.
O alívio me atinge por ele não estar ferido. Mas, de repente, seguro a
respiração ao sentir um cano gelado apontado para minha nuca.
― Você vem comigo. Dê ordens a esses cavalos para se afastarem ―
uma voz masculina com o sotaque francês me faz estremecer.
Franzo a testa ao reconhecer a voz de algum lugar. Ele empurra a
arma em ameaça. Inspiro fundo, apertando meus lábios para não sorrir. O
pobre coitado está tremendo.
― Só tem um problema ― alerto, enquanto olho para o homem morto
no chão.
Hush fica parado, suas orelhas se levantam em alerta para qualquer
barulho, sabendo que há outra ameaça próxima a mim. Por outro lado, Lake
parece embaraçado, como se não soubesse o que fazer: aproxima-se de mim
ou fica no lugar soltando respirações afobadas.
― E qual é? ― o francês pergunta.
― Os cavalos não entendem minha língua ― digo com orgulho,
observando Hush caminhar em minha direção lentamente, ao mesmo tempo
em que protege Ian no chão.
― Se atreva a cogitar atirar em minha esposa, e estouro seus miolos
muito antes de você apertar o gatilho ― o tom repentino de Johnatan me faz
estremecer.
Viro-me lentamente ao encontrá-lo com a arma apontada para o
senhor Abram. Isso, é o francês da festa! Eu encaro a arma do francês em
minha direção, sua mão treme e seus olhos se arregalam.
Logo vejo Sid surgir lentamente atrás de Abram, erguendo sua
enorme cabeça para farejar intensamente a nuca do homem. Quando a égua
solta sua respiração pesada e ofegante, escuto seu relinchar baixo e
ameaçador. Ela está pronta para matá-lo, só aguarda o comando.
23 – ALIA-SE

Gaspard Abram não mantém sua mira com firmeza, em seus olhos
posso ver o medo. Ele sabe que, se fizer algo, ultrapassará sua linha de limite,
não tem como escapar. Sid continua a encará-lo, pronta para atacar.
― Você não quer fazer isso, senhor Abram ― afirmo, encarando-o.
― Eu só recebo ordens, senhorita ― responde na defensiva.
― Senhora! ― Johnatan o corrige com firmeza, fazendo o pobre
coitado estremecer.
Pela minha visão periférica, posso ver Johnatan com sua arma
apontada, já destravada. Inspiro fundo para manter o controle. Eu posso
desarmá-lo com facilidade devido ao seu medo, mas não quero assustá-lo
ainda mais. Ao invés disso, sigo com minha tranquilidade.
― Senhor Abram, sua esposa sabe que está envolvido com a LIGA?
― seus olhos se arregalarem com minha pergunta espontânea. ― Não
entenda como uma ameaça. Só quero saber se ela sabe sobre você.
Por um momento, ele fica pensativo, se deve ou não me responder.
― Não ― diz com esforço.
― Imagino como ela ficaria se soubesse o tipo de trabalho que o
marido anda exercendo ― disparo com frieza e vejo seu corpo enrijecer.
― Está me ameaçando?! ― seu tom firme faz Sid relinchar, e escuto
Johnatan suspirar pesadamente sem paciência, levanto minha mão para ele.
― Não! ― ordeno ao olhar para Sid, vendo seus olhos negros me
observarem, voltando a encarar o homem amedrontado à sua frente.
Até mesmo escuto os passos de Hush, atrás de mim se interromperem
com meu pedido. Pelo menos um não eles entendem.
― De qualquer forma, você estará morto, senhor Abram. Se tentar
atirar em mim, você irá morrer e, se sair vivo daqui, estará morto do mesmo
jeito ― garanto, vendo sua expressão duvidosa.
― Pode estar enganada ― Abram diz apreensivo.
A risada sombria de Johnatan ecoa pelo lugar.
― Você sabe que não e mesmo que isso aconteça, você não será o
único a pagar por isso. Sua esposa e seus dois filhos também irão, porque o
que está fazendo é a mesma coisa que colocar sua família em risco ―
assusto-o com meu tom acusatório. ― Gostaria que eles sofressem mais do
que você irá sofrer? ― pergunto.
Ele recua derrotado, abaixando sua arma. Ao lado, Johnatan
permanece instável, sem baixar a guarda. Eu o olho fixamente, como um
aviso. Ele suspira com a mandíbula travada, como se estivesse controlando a
fúria. Em seguida, mira sua arma para longe. Gaspard se assusta de imediato
quando um tiro é disparado, devido à arma destravada.
― Acho que você está com sorte hoje. Dê graças aos céus por isso ―
Johnatan murmura para ele com ódio.
Abram se vira para mim relutante.
― Não é tão simples assim, senhorita...
― SENHORA! ― Johnatan o lembra num tom autoritário,
assustando até mesmo a mim.
O rosto do homem fica pálido. Aceno para ele.
― Se-senhora ― corrige-se gaguejando. ― De qualquer jeito, estou
perdido.
Encaro Johnatan e me viro para o francês novamente.
― Quem os enviou aqui? ― Johnatan pergunta.
― Cada um recebe uma ligação com uma ordem. Nós nos
encontramos, seguimos o plano e colocamos em prática ― Abram explica.
― Sequestrando uma criança? ― o homem engole seco. ― E quem
faz esse tipo de comando? Charlie Makgold? ― o nome lhe chama atenção.
― O Mestre não entra em contato direto conosco ― reviro meus
olhos pela forma como o chamam.
― Mestre ― Johnatan debocha, inspirando fundo. ― Eu não tenho
paciência para isso ― toco em seu ombro como um aviso.
― Senhor Abram, eu sei que já fez muita coisa errada desde que se
aliou à LIGA, e seu pior erro foi colocar sua família em risco, mas dentro de
você tem algo de bom. Apenas fuja disso ― peço, vendo seus ombros se
curvarem.
― Não é tão simples, senhora ― murmura derrotado.
― Agora falou certo ― Johnatan observa, e o repreendo com meus
olhos. ― Olha, só estou tentando manter minha calma aqui, porque eu já teria
acertado a cabeça dele ― ele realmente está nervoso com toda a situação.
― Pelo menos, tente enxergar os dois lados ― peço, olhando
Gaspard.
Ele tem medo até de olhar diretamente para Johnatan.
― Estou tentando ― Johnatan diz relutante, enquanto olha para
Gaspard em ameaça.
Balanço a cabeça.
― Não há outra saída ― o francês demonstra seu arrependimento e
sei que em seus pensamentos está sua família.
― Alia-se a nós ― disparo, vendo seus olhos se arregalarem
confusos. ― Sei que na LIGA há pessoas preocupadas com suas famílias.
Que além de nós, desejam que todo esse inferno acabe.
― E o que vou ganhar com isso? ― Abram pergunta com cuidado.
Olho para Johnatan, que parece relutante, depois volto para ele.
― Sua família, a segurança dela e sua liberdade ― asseguro, vendo-o
pensativo. ― A única coisa que exigimos será sua lealdade e sua confiança.
― E se algo me acontecer? ― pergunta assustado.
― Nesse caso, não permitiremos que nada aconteça com sua família
― prometo.
Gaspard assente uma vez.
― Há algum plano para começar? ― suspira e olha para Johnatan
brevemente.
― Por enquanto, só peço que converse sobre isso com pessoas da
LIGA das quais você confie, as que têm o mesmo propósito...
― Mine... ― Johnatan me interrompe em alerta.
― Apenas tente. Temos que ter opções e nos arriscar para dar início à
caçada ― disparo para Johnatan com firmeza.
Ele fica relutante por um momento, em seguida, volta-se para encarar
Gaspard mais de perto.
― Se nos trair, eu te procuro até no inferno. O resto você já sabe o
que acontece. ― Johnatan o ameaça, nada feliz com a ideia.
― Tudo bem ― Abram concorda por fim. Vejo suas mãos trêmulas
ao guardar a arma. ― Agora, terei que ter uma boa desculpa para dar ―
continua temeroso.
Olho para meu marido.
― Não me olhe assim. Já é difícil o bastante aceitar essa decisão ―
Johnatan dispara seu humor negro.
― Ajude-o ― peço exasperada, vendo-o ficar rígido.
Johnatan inspira profundamente e rosna. Em seguida, segue até onde
está o cadáver do homem careca. Os cavalos permanecem em suas posições,
Hush lhe dá espaço para passar e vejo Ian, ainda vendado, encolhido no chão
ao lado de Lake.
― Esse cara tem família? ― Johnatan pergunta ao procurar algo
dentro do paletó do cadáver, usando um lenço.
― Pelo pouco que conheço, não. Ele tinha acabado de se juntar à
LIGA. ― Gaspard responde, franzo a testa confusa. ― Há muitos homens,
são poucos que conhecemos, mas não mantemos contatos. Apenas seguimos
ordens ― explica.
― E quanto a Zander? ― demonstro minha curiosidade.
― Ele é o treinador principal da LIGA. O braço direito do Mestre...
Quer dizer, Charlie Makgold ― Abram diz, fazendo minha sobrancelha se
erguer.
― Agora entendo o interesse na troca ― digo pensativa.
― Estou impressionado que conseguiram pegá-lo ― o francês se
choca.
― Sim e está servindo de cobaia para alguns experimentos ―
Johnatan assusta o homem com o comentário sarcástico.
Olho em direção ao meu marido, que pega ama do homem morto,
destrava e rapidamente atira em Gaspard. Sobressalta, escuto Ian gritar
assustado.
― Johnatan! ― me alarmo, vendo Abram se curvar e cair de joelhos.
― Mas por que...
― Calma, minha Roza. Só acertei a coxa dele ― Johnatan diz
tranquilamente, depois se curva para colocar a arma na mão do cadáver e
guarda seu lenço no bolso. ― Digitais ― aponta.
― Eu sinto muito ― lamento ao francês, que grunhe de dor.
― A desculpa que dará é simples. Diga que você teve um
desentendimento sobre o plano com o seu colega ali. Ele se alterou com uma
crise nervosa e atirou em você. O resto você se vira. Eu aconselho que pegue
uma pedra e esmague sua cabeça, já que seu peito foi esmagado pelo meu
cavalo. Aliás... Conheça nossos filhos ― Johnatan aponta para os cavalos à
nossa volta.
Abram os encara alarmado, se assustando com Sid atrás dele.
― Eles são enormes ― diz sufocado.
Aperto meus lábios para não rir.
― Isso é tudo. Não se atreva a falhar conosco. E agradeça à minha
esposa por continuar vivo ― Johnatan ordena, enquanto reviro meus olhos.
― Obrigado ― Gaspard agradece rapidamente quando vê Hush se
aproximando.
― Está tudo bem ― engulo em seco.
― Por favor, limpe a bagunça ― Johnatan ordena.
― E onde posso encontrá-los quando precisarem de alguma coisa? ―
Abram pergunta.
― Nós o acharemos ― Johnatan responde sem hesitar.
Rapidamente, afasto-me para pegar Ian.
― Calma, sou eu ― sussurro delicadamente quando Ian tenta lutar
contra mim. ― Está tudo bem.
― Eu ouvi tiros e as vozes ― Ian estremece, enquanto o levo para
trás do carro a fim de que não veja a cena aterrorizante.
― Está tudo bem agora ― asseguro, desamarrando suas mãos e
tirando sua venda.
Observo seu rosto corado, engolindo minha agonia. Ian pisca seus
olhos arregalados e me abraça com força.
― Estava vindo para casa a pé... ― o garoto começa a explicar, e o
abraço, beijando seus cabelos.
Quando Lake se aproxima, noto uma de suas patas dianteira
machucada. Provavelmente, na hora de defender Ian, o tiro o pegou de
raspão, mas mesmo assim me assusto por estar machucado. Acaricio sua
pelagem caramelo quando chega mais perto.
― Por que não ligou para que fôssemos buscá-lo? ― repreendo Ian e,
ao mesmo tempo, observo Johnatan, pelo vidro do carro, conversando com o
francês.
― Não queria incomodar. Sei que James e Jordyn estão ocupados,
estudando. E também sei que Peter está trabalhando muito ― Ian se explica.
Por um lado, fico aliviada que continue pensando dessa forma.
― Tudo bem, mas quando chegarmos à mansão, deve correr para seu
quarto e se trocar. Não diga nada à sua mãe, tudo bem? Não podemos
preocupá-la ― peço a Ian, vendo seus olhos arregalados me encararem.
Meu coração se aperta ao ver suas lágrimas, e me curvo para beijar
seu rosto.
― Vamos ― escuto Johnatan atrás de mim e aceno. ― Ele vai seguir
com o plano. ― eu o escuto sussurrar.
― E o carro de Cassandra? ― sigo-o sem afastar Ian dos meus
braços.
― Não se preocupe com isso... ― Johnatan murmura com a testa
franzida ao notar a pata machucada de Lake.
Ele se aproxima para analisar o cavalo, dando um suspiro pesado. Em
seguida, pronuncia um comando para eles. Hush se afasta imediatamente,
porém Sid continua encarando Abram.
― Sid! ― Johnatan a chama com firmeza, fazendo-a se mover para
trás e passar por Gaspard para farejá-lo antes de se juntar na corrida com
Hush.
Ian e eu sorrimos ao ver Lake pensar que Johnatan está prestes a lhe
dar carinho. O Lesado coloca sua enorme cabeça em seu ombro e o puxa
como se estivesse dando um abraço. Mesmo não estando com humor para
isso, Johnatan não contém seu sorriso, acaricia sua pelagem e lhe dá tapas de
camaradagem.
Mesmo o caminho sendo um pouco longo, seguimos até mansão a pé,
sem olhar para trás. Ao invés disso, divirto-me assistindo Lake farejar e
bagunçar os cabelos de seu dono. Ao chegarmos, Ian corre para os fundos
como pedi.
― Vou cuidar de Lake e, depois, dar uma olhada em Ian ― Johnatan
avisa e aceno. ― Você vai querer conversar com seu pai, não é mesmo?
― Sim ― inspiro fundo.
Antes que eu siga em frente, Johnatan me puxa para beijar meus
lábios e se afasta.
Na sala de entrada, encontro Donna seguindo para a cozinha.
― Olá, querida ― ela saúda com um sorriso materno.
― Oi! ― cumprimento da mesma forma.
― Estou preocupada com Ian, até agora não voltou. Estou tentando
ligar para James... ― ela diz preocupada e a interrompo.
― Ele acabou de chegar. Está no celeiro com Lake ― minto, vendo
seus ombros relaxarem. ― Johnatan também está com eles.
― Esses garotos ― sorri, balançando a cabeça.
― E meu pai? ― pergunto.
― Está no quarto. Ele parece intimidado com a casa ― diz com um
sorriso apertado.
― Em breve ele vai se acostuma ― garanto a ela. ― Vou vê-lo.
Encaro a porta do quarto do meu pai antes de bater. Inspiro fundo e
bato timidamente.
― Entre ― escuto.
Quando abro a porta, eu o encontro sentado na cama, colocando os
sapatos. Ele havia acabado de tomar banho. Assim que me vê, encara-me
com surpresa.
― Vai sair? ― observo.
― Vou até a vila para ver como anda a reforma. Não gosto de ficar
aqui sem fazer nada ― informa com uma careta.
― Se quiser, pode trazer madeiras para cá e continuar com seu
trabalho ― opino.
― Prefiro ter meu próprio espaço ― diz ignorando minha hipótese.
― Você não veio aqui só para isso, não é mesmo? ― pergunta na defensiva.
Balanço a cabeça e me sento ao seu lado.
― É sobre a mamãe ― o sinto encolher.
― Makgold me avisou sobre o que aconteceu. Um deles me levou até
você naquele lugar. Não sabe como ficou meu coração ao vê-la naquele
estado ― papai confessa, apoiando-se em seus joelhos.
― Você viu o vídeo?
Ele suspira, negando com a cabeça.
― Não tive coragem ― confessa.
Engulo em seco.
― Por que mentiu? Por que não me disse sobre a mamãe? ― meu
coração se aperta.
Seus olhos claros me encaram com dor.
― Você pode estar chateada comigo e com razão, mas não queria que
crescesse sabendo que teve uma mãe que a abandonou. Uma mãe que deixou
a própria família por outro homem. Ele a iludiu, fez promessas e a fez
acreditar num futuro que nunca existiu. ― meu pai lamenta com angústia.
― Você a amava? ― pergunto com esforço.
Edson assente com os lábios apertados.
― Antes dela nos deixar, discutimos. No início, não sabia que era por
causa de Charlie, mas depois da morte da família Makgold, descobri que foi
por ele ― papai desabafa, segurando suas lágrimas. ― Por um momento, eu
tinha a esperança de que ela retornasse. Que voltaríamos a ser felizes. E,
enquanto você crescia, eu a imaginava com sua mãe. Depois que descobrir a
verdade, foi pior que uma traição, pior que uma ilusão, não poderia suportar
isso. Tampouco suportar ver você nos braços de uma mulher que não merecia
o amor ― seu tom se torna frio e, ao mesmo tempo, solitário.
Seco minhas lágrimas.
― Há quanto tempo ela mantinha um relacionamento com o pai de
Johnatan? ― pergunto.
― Muito antes de você nascer. Ela começou a ficar distante... ― ele
esfrega seu rosto exasperado e arregalo meus olhos.
― Espere...
Ele me encara com a testa franzida devido à minha expressão.
― Não, não ― balança a cabeça ao entender minha reação. ― Não
pense que é filha dele. Por um momento, também achei, mas fiz exames que
comprovaram que você é mesmo minha filha ― afirma com os olhos cheios
de lágrimas.
Meu coração se acalma e inspiro fundo.
― Deveria ter me dito a verdade. Não deveria ter me escondido ―
sinto meu coração se apertar ainda mais. ― Pai? Por um momento, ela nos
amou?
Vejo-o perplexo, a dor não deixa seus olhos.
― Você se lembra quando eu falava da sua mãe? Seus olhos
brilhavam, eu lhe dizia o quanto a amava e o quanto ficaria feliz em tê-la
conosco. Para você era como contar uma história de contos de fadas, logo
adormecia, mas não queria falar demais sobre ela, porque mais cedo ou mais
tarde você me perguntaria e eu não teria respostas ― suas palavras me fazem
chorar. Sua mão se estica para acariciar meu rosto. ― Eu não queria fazer
você sofrer, filha. Queria que essa dor existisse apenas para mim. E tudo que
fiz foi pensando em você. Eu te criei, esforcei-me ao máximo e quanto mais
eu me esforçava, mais eu pensava no seu melhor.
― Papai... ― choro, tocando seu rosto.
― Você não pôde ter a melhor mãe do mundo, mas, com certeza, eu
me sacrifiquei pelos dois lados ― tenta brincar, e o abraço com força.
― Você foi o melhor... Foi o melhor pai do mundo. O único ―
declaro, sentindo seu abraço apertado.
― Oh, querida! Não sabe o tamanho do meu amor por você ―
declara num tom rouco por segurar o choro. ― Não sabe o quanto me
arriscaria e daria minha vida por você.
Aperto meus braços em volta de seu corpo.
― Obrigada por tudo que tem feito por mim ― suspiro, afastando-me
para secar meu rosto e respirar com calma. ― E... É por isso que odeia tanto
Johnatan?
― Talvez por culpar Charlie por todo sofrimento que tem me
causado. Quanto ao filho, eu só não me sinto confortável com ele por perto
― confessa, dando de ombros, e balanço minha cabeça, apertando meus
lábios para não continuar o assunto.
― Vou aproveitar que vai sair para ajudar Donna na cozinha, só não
chega muito tarde...
― Esse velho sabe se virar ― Edson me interrompe quando
demonstro minha preocupação.
― Mesmo assim ― insisto, vendo acenar com a cabeça e me viro.
― Mine? ― volto minha atenção para ele rapidamente. ― Só pensa
no que está fazendo, filha. Eu a protegi tanto para que não chegasse a isso.
Para que não seguisse esses passos... ― papai reluta.
Sei que está mencionando a LIGA e meus treinamentos.
― Se continuo fazendo isso, é para proteger quem eu amo. Como
você, que fez o mesmo por mim e continua fazendo ― digo, dando-lhe um
sorriso antes de sair e fechar a porta.
Na cozinha, ajudo Donna a preparar o jantar. Jordyn chega em
seguida, com seu laptop, parece distante e, ao mesmo tempo, aborrecida ao
apertar as teclas com raiva.
― Está tudo bem? ― pergunto a ela quando tiro os pães do forno.
Ela pisca os olhos, assustada com minha pergunta.
― Está sim, eu só não consegui obter sucesso em uma pesquisa ―
franzo a testa com seu comentário muito formal e a vejo fechar o laptop de
uma vez antes de se afastar de mim.
― Não quer ajuda? ― insisto.
― Não, está tudo bem... Obrigada, vou ver Ian ― responde,
acenando.
Quando James aparece na cozinha, olha para Jordyn, que o ignora
com uma expressão séria. Ergo minha sobrancelha para ele quando me vê o
observando e se encolhe. Eu vou ter que investigar sobre isso? Reviro meus
olhos, depois deixo James com Donna e sigo para meu quarto pensativa,
talvez Johnatan ainda possa estar com Ian.
Em meu quarto, sigo para o banheiro a fim de tomar um banho
demorado e relaxante. Deixo a água cair sobre meu corpo, inspirando fundo.
Meus pensamentos vão diretos para Jordyn. Pergunto-me se ainda continua
recebendo os e-mails do desconhecido. De alguma forma, devo pegar seu
laptop para investigar, Shiu pode me ajudar de alguma forma. Rapidamente,
o plano se faz na minha cabeça, mas preciso manter Jordyn longe. Esfrego
meu rosto molhado, inquieta, e volto a me concentrar em meu banho.
Quando termino, seco meu cabelo e escovo meus dentes. Franzo a
testa por não ter Johnatan comigo e sigo para o meu quarto, procurando, no
guarda-roupa, alguma camisola confortável. Pego uma de seda branca curta,
vestindo-a e colocando uma calcinha, seria estranho demais rondar pela casa
sem uma peça íntima. Depois de colocar um robe, saio do quarto descalça, na
intenção de procurar Johnatan, pensando que ele talvez esteja na biblioteca.
Na sala de entrada, encontro Peter.
― Como está, senhora Makgold? ― olho-o com firmeza. ―
Desculpe... Mine ― ele ri sem jeito.
― Bem ― sorrio. ― Você viu Johnatan?
― Acabei de falar com ele e o vi seguindo para a floresta ―
responde.
Franzo a testa pensativa, mas logo sorrio ao imaginar a tenda.
― Obrigada, Peter ― agradeço, recebendo seu sorriso de volta antes
de caminhar até a saída.
24 – JUNTOS

No campo, assisto, num contraste perfeito, ao anoitecer nas


montanhas distantes. A lua parece maior e mais brilhante, com o céu
estrelado. Sorrio, aumentando meus passos em direção à floresta, sabendo
onde vou encontrá-lo.
Caminho até a tenda, observando os tecidos se moverem devido à
brisa suave da noite. A iluminação alaranjada me faz ter certeza de que
Johnatan está lá dentro. Sigo em silêncio, afastando os tecidos até encontrá-lo
de costas, vestindo apenas uma calça branca que pende de forma folgada em
seus quadris. Ele parece em dúvida sobre onde deixar uma bandeja. Observo
fascinada.
Há algumas pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo carpete
branco e sobre a cama. Ao redor da tenda, há uma luz alaranjada iluminando
suavemente o pequeno espaço. No meio dos lençóis emaranhados, vejo um
pequeno buquê de rosas e me impressiono com o banquete exótico de frutas e
petiscos frios. No lado esquerdo das bandejas, sobre o banco retangular,
observo duas taças. Nas mãos de Johnatan noto um balde com três garrafas, e
não uma pequena bandeja, como imaginei. Ele endurece ao virar sua cabeça
para ter certeza se está sendo observado.
Aperto meus lábios para não rir da sua expressão desapontada quando
me encontra paralisada, entre os lençóis suspensos, espionando-o.
― Olá ― dou-lhe um sorriso tímido.
― Você... ― Johnatan interrompe com uma careta, olha ao redor,
colocando o balde no chão, próximo à cama. ― Não era para você aparecer
agora. Estragou minha surpresa ― diz sem jeito, esfregando a nuca.
Mordo meu lábio.
― Prefere que eu volte daqui uns... vinte minutos? ― pergunto,
incapaz de conter minha risada.
― É melhor. Eu ainda preciso encontrar uma boa posição onde eu
possa me sentar. ― brinca, me fazendo gargalhar. ― Senti falta daqui. A
propósito, você está linda ― elogia, dando-me um sorriso terno, meu coração
acelera.
Quando estende sua mão para mim, afasto-me dos tecidos para
alcançá-la. Dou um breve grito empolgado quando me puxa para seus braços
e me abraça com força, deixando-me sem fôlego. Inspiro o perfume másculo
de sua pele e envolvo meus braços em seu pescoço.
― Por que fez tudo isso? ― sussurro junto ao seu ouvido.
Fecho os olhos ao sentir seu nariz deslizar por minha pele, numa
carícia suave, enquanto inspira meu perfume.
― É um momento só para nós dois ― sussurra em meu pescoço e me
beija com suavidade, fazendo-me estremecer. ― Gostou? ― seu sotaque
russo me anima.
Afasto meu rosto para observar a tenda novamente. Meu sorriso se
abre ainda mais e meu coração acelera com empolgação. Por um momento,
achei que ele estivesse um pouco zangado comigo quando insisti com a
aliança com a máfia.
Subitamente, sinto minhas bochechas corarem e as lágrimas
preencherem meus olhos, eu também senti falta disso, falta do nosso
momento em nossa tenda. Inspiro fundo e o encaro, seus olhos azuis intensos
me observam com atenção, como se memorizasse minha expressão em sua
mente.
Sua mão esquerda se ergue para afastar a única lágrima teimosa que
cai e acaricia minha pele com o polegar. Inclino minha cabeça em sua palma
e encaro seus olhos em chamas. Ele parece tranquilo.
― Eu amei ― falo baixinho, acariciando seus cabelos macios, feliz
por eles começarem a estar do tamanho que eram antes. ― Está tudo perfeito
― afirmo, quase sem fôlego.
Johnatan abre seu sorriso perfeito.
― Bem... Imagine como uma lua de mel, de uma forma diferente ―
explica sem jeito. ― Eu prometo a você que teremos uma lua de mel de
forma tradicional. Viajaremos para onde você quiser. Poderemos ficar um
ano viajando... ― interrompo-o com meu indicador em seus lábios, enquanto
sorrio.
― Qualquer lugar com você está perfeito ― abraço-o novamente. ―
E não tem outro lugar melhor que esse ― sussurro ao acariciar suas costas
másculas.
Seus braços quentes me apertam intensamente.
― Mesmo assim eu insisto ― murmura em meus cabelos.
Suspiro e me afasto para encarar seu rosto sereno.
― Quando tudo isso acabar... ― agora é ele que me interrompe com
seu indicador.
― Não vamos falar do que aconteceu, muito menos do que acontece
do lado de fora ― sussurra, deslizando seu polegar em meus lábios. ―
Vamos apenas esquecer o mundo fora dessa tenda, fora desse nosso espaço.
Vamos nos permitir ser apenas um casal loucamente apaixonado, que
desfruta seu momento íntimo ― seu hálito doce me inebria.
Dou-lhe um sorriso fraco.
― É uma boa ideia ― concordo, em seguida, mordo seu polegar
suavemente.
Seus olhos ficam escuros, cheios de desejos. Johnatan observa minha
boca, dando-me um sorriso torto, rapidamente afasta sua mão e beija meus
lábios. Gemo assim que sua língua invade minha boca, fazendo-me sentir seu
sabor suave e, ao mesmo tempo, viril. Deslizo minhas mãos por seus braços
fortes, puxando-o para mim. Sinto mãos escorregarem por meu corpo,
fazendo minha respiração acelerar, ao senti-lo apertar minha bunda. Mordo
seu lábio e gemo com fervor, meu corpo se aquece como fogo.
― Hum... ― seu gemido faz meu sexo se apertar com intensidade. ―
Devagar, devagar... ― ele se afasta e ficamos ofegantes, olhando um para o
outro.
Franzo a testa.
― Por quê? ― minha pergunta soa mais como uma súplica.
Johnatan sorri de maneira descarada.
― Porque temos que aproveitar nosso momento ― diz, beliscando
meu queixo e beijando meus lábios brevemente.
Olho para seu corpo com desejo.
― Eu vejo o quando você quer ― ergo minha sobrancelha ao analisar
sua ereção.
Seus olhos também observam sua calça. Eu o escuto gargalhar.
― Você não faz ideia ― aponta, fazendo-me rir. ― Porém, todas as
vezes em que te vejo, tenho essa mesma reação.
― Não me diga! ― coloco minhas mãos na cintura, vendo-o se
mover pela tenda.
― Digo sim! ― imita-me. Fico feliz por vê-lo tão confortável. ―
Tenho que me concentrar para não sair do controle.
― Você medita para abaixar... ― abano uma das minhas mãos ao
indicar seu membro volumoso.
Johnatan acena, enquanto pega as duas taças.
― É o processo mais difícil que tenho que fazer ― confessa
Acabo rindo até sentir as lágrimas em meus olhos.
― Qualquer dia irei observá-lo fazendo isso ― digo depois que
recupero o fôlego e pego a taça que me oferece. ― Hum... O que temos aqui?
― pergunto curiosa.
Johnatan se curva para o balde e observa as garrafas.
― Temos champanhe, vinho e vodca ― murmura com a testa
franzida.
Surpreendo-me. Ele sorri da minha expressão.
― Está falando sério? ― começo a rir novamente.
― Não ― ele me acompanha na risada. ― São apenas vinhos. Espero
que não se importe por estarem gelados. É que, com o passar do tempo, as
coisas tendem a esquentar por aqui.
Eu amo seu bom humor, mas amo ainda mais a forma como me
devora com os olhos ardentes.
― Prometo não ficar decepcionada ― asseguro, dando-lhe uma
piscadela.
Observo Johnatan nos servir com a bebida. Logo, ele se senta na
cama, estendendo seu braço para que eu sente em seu colo. Mordo meu lábio
na intenção de provocá-lo, mas antes tiro meu robe sensualmente e me
aproximo de seu corpo, erguendo minha camisola para ter livre acesso ao
abrir minhas pernas. Sento-me de frente para ele e, ao mesmo tempo, deslizo
meu corpo em seu rosto. Sinto sua boca percorrer e mordiscar um dos meus
seios.
― Oh, Mine... ― lamenta, agarrando meu corpo para junto dele,
deslizando seus lábios por meu pescoço até estarem entre meus seios. ― Não
seja tão... Oh... ― ofega ao disparar um xingamento em russo quando me
encaixo próxima à sua ereção.
Sorrio, passando meus braços em torno dos seus ombros e beijando
seus lábios de forma provocante.
― Isso significa merda? ― seu sorriso se abre.
― Anda aprendendo rápido ― diz orgulhoso.
Afasto-me, olhando minha taça cheia.
― Então... Ao que vamos brindar? ― olho-o de relance antes de corar
com seu olhar penetrante.
― Ao que você quer brindar? ― sussurra, enquanto acaricia minhas
coxas expostas.
― Hum ― penso. ― Vamos brindar a... Juntos ― minhas palavras
confusas também o confundem.
― Juntos?
― Sim ― balanço a cabeça. ― Juntos significa tudo. Olha só o lugar,
nosso amor, nossos momentos, e não digo apenas agora, mas tudo pelo que
temos passado. Digo também por todos que nos acompanham, que estão do
nosso lado. Ah! Não podemos nos esquecer dos cavalos ― sorrio ainda mais
ao provocá-lo. ― Seu amigo aí embaixo também entra no juntos ― indico
com o dedo, apontado para sua ereção.
Seus olhos acompanham os movimentos da minha mão e logo sorri
abertamente.
― A sua amiga também entra na onda do... juntos? ― ele ri, assim
como eu.
― Mas é claro ― minha resposta o faz gargalhar. Acaricio seu rosto,
olhando em seus olhos. ― Juntos também significa eternamente.
Johnatan ergue sua mão para acariciar meus cabelos.
― Sabe quantas vezes você já falou essa palavra? ― sorrio. ―
Agora, posso entender quando pronunciou com tanta ênfase ao querer que
seguíssemos juntos ― reflete, fazendo meu coração saltar.
Lembro-me de ter falado sobre minha proposta de lutar com ele, no
momento em que estava tanto na defensiva. Impressiona-me como Johnatan
guardou uma única palavra, que, para mim, trazia tantos significados. Eu o
beijo com empolgação e me afasto, sem fôlego.
― Juntos? ― ergo a taça, vendo-o erguer a sua, dando-me um sorriso
suave.
― Juntos ― aprova, aproximando sua taça para brindamos.
Em seguida, bebemos sem desviar nossos olhares.
O vinho gelado refresca meu paladar, mas, em meu corpo, o líquido
doce esquenta. Tomo outro gole e me aproximo de Johnatan para beijá-lo, o
sabor em nossas bocas é ainda melhor. Ele geme, agarrando meu quadril, que
insiste em se mover contra ele. Ofegamos assim que nos separamos.
― Isso é bom ― murmuro rouca, bebendo mais um gole.
― Delicioso ― seu sussurro intenso me faz corar.
Ele parece estar louco de tesão, mas logo balança a cabeça para
controlar seus pensamentos e se curva brevemente para pegar uma bandeja
com petiscos frios.
― Você que preparou? ― pergunto, espetando um queijo e o
comendo.
Johnatan faz o mesmo.
― Donna me ajudou ― confessa, enquanto come outro pedaço de
queijo. ― Ela acha que posso me machucar com uma simples faca ― rimos.
― Donna cuida de nós como se fôssemos seus filhos ― digo,
pegando agora um camarão com azeitona. Em seguida, observo Johnatan. ―
Com fome?
Seus olhos me encaram novamente, como se pudessem me devorar,
arrepio-me.
― Não faz ideia ― pronuncia com o leve sotaque.
― Então,... ― sorrio e pego outro camarão para colocá-lo em sua
boca. ― Vou alimentar meu marido ― vejo seu sorriso se abrir, todo
convencido ao me ouvir chamá-lo de marido.
Permanecemos dessa forma, alimentando um ao outro, sem deixarmos
de nos provocar entre beijos e carícias. Quando nossa bebida acaba, Johnatan
volta a encher nossos copos.
― Já que vamos ficar aqui em nosso espaço dessa forma... Pelo
menos por enquanto ― sussurra e sorrio ainda mais pelo efeito do vinho,
provavelmente não sou boa com bebidas, já sinto meu corpo leve ―, quero
saber mais sobre você ― diz, enquanto bebo outro gole de vinho e como uma
uva.
― O que mais quer saber sobre mim? ― pergunto.
Não há nada em mim que ele já não saiba.
― Hum... ― Johnatan se empolga. ― Qual sua cor preferida? ―
parece mais curioso que de costume.
Jogo minha cabeça para trás, rindo da pergunta.
― Bem... ― penso. ― Não tenho uma cor exata... Mas acho que, no
momento, eu gosto do vermelho intenso ― curvo-me para pegar uma pétala e
a aproximo para inspirar seu perfume.
Johnatan me olha, fascinado.
― É uma bela cor ― aprova e se aproxima quando coloco a pétala
em meus lábios para selarmos nosso beijo.
― E a sua? ― fico curiosa.
Ele olha em meus olhos com amor.
― Cinza ― sussurra.
Sorrio com a cabeça inclinada.
― Está dizendo isso por causa dos meus olhos ― faço uma careta.
― Mas você se acha demais! ― Johnatan finge reclamar.
― A verdade ― exijo, beijando seus lábios.
Ele me encara novamente e sorri.
― Não estou mentindo, amor ― acena rindo e balança a cabeça. ―
Verdade, é por causa de seus olhos. Eles são tão intensos, são de um cinza
diferente, bem destacados e suaves. Lembram-me a névoa na floresta ao
anoitecer, quase puxado para o azul. E eu me perco nisso... ― sua declaração
me deixa corada.
― Tudo bem ― tapo sua boca com a mão quando noto que vai
continuar. ― Próxima pergunta. Hum... Qual a parte do meu corpo que você
mais gosta?
― É uma pergunta absurda ― dispara entre risos.
― Uma mulher deve saber essas coisas para jogar suas táticas de
sedução ― disparo convencida.
Johnatan balança sua cabeça sorrindo.
― Mine, Mine, ― diz pensativo. ― Minha Roza, não tem nada que
eu não goste em você. Eu gosto de tudo, principalmente dessa região ―
declara, analisando meu corpo e indicando meu ventre.
― Seu pervertido ― dou um tapa leve em seu ombro e gargalhamos
juntos antes de nos beijarmos intensamente. ― Qual a data do seu
aniversário? ― disparo assim que afastamos nossos lábios.
Johnatan faz uma careta.
― Dois de novembro ― revela sem vontade, surpreendendo-me.
― Nós nos conhecemos a mais de um ano e você não me disse nada
disso ― falo perplexa.
― É uma data como qualquer outra. ― Ele dá de ombros.
― Você parece não gostar de datas comemorativas ― analiso.
― É um dia comum ― diz e balança os ombros. ― O seu eu sei que
é dia dez de março.
― Andou pesquisando sobre minha vida? ― ergo uma sobrancelha,
fazendo-o rir.
― Vamos dizer que eu sei um pouco mais sobre você, mas nem tudo
― parece orgulhoso. ― Qual sua fruta preferida?
Jogo minha cabeça para trás novamente, gargalhando. É assim que
permanecemos entre revelações banais e carícias, quando mal respondemos,
avançamos com mais um questionário. É confortável e, ao mesmo tempo,
comum, como um casal tranquilo em sua bolha intocável.
Com o tempo, eu me sinto mais leve e excitada. Boa parte é o efeito
do vinho, mas, principalmente, a aproximação de Johnatan com suas mãos
em meu corpo, assim como os seus lábios em minha pele. Perdi a conta de
quantas vezes fui servida com a bebida, só sei que estamos na metade da
terceira garrafa e já sinto meus lábios dormentes.
Ele enche nossas taças novamente.
― Entendi... ― murmuro sorrindo, eu nunca sorri tanto, minhas
bochechas parecem anestesiadas.
― O quê? ― pergunta curioso.
Ergo minha sobrancelha para ele.
― Está querendo embriagar sua esposa? ― minha pergunta o faz rir e
me apoio em seus ombros para encará-lo.
― Não, mas o que é isso... ― Johnatan finge inocência. ― Só estou
querendo deixá-la desinibida.
É impossível me manter séria.
― Pensei que, ficando bêbada, enxergaria dobrado ― bebo meu
vinho. ― Estou decepcionada.
― Não é bem assim ― Johnatan diz, acariciando meu rosto, enquanto
o observo.
― Você parece normal ― resmungo.
Johnatan encara a última garrafa vazia, colocando-a no balde e
engolindo o restante que há em sua taça.
― Pois é. Um vinho não consegue me derrubar tão facilmente ―
afirma um pouco convencido.
Eu o empurro para a cama depois de terminar minha bebida. Jogo a
taça para o lado, nem mesmo escutando se quebrou ou não. Johnatan ri,
possivelmente me achando cômica naquela situação, nem mesmo sei se meus
cabelos estão no devido lugar. Já havia cansado de arrumar a alça da minha
camisola, porém Johnatan sempre abaixava.
― Então, já que meu marido me quer desinibida, e estamos numa lua
de mel diferente, com sua esposa embriagada... ― sussurro rouca, deslizando
meu indicador do seu abdômen até sua pélvis. ― Eu quero... uma coisa.
― O que quiser ― sussurra, encarando-me com desejo.
Sorrio ao deslizar minhas mãos por meu corpo e agarrar a barra da
minha camisola, levantando-a até tê-la longe de mim.
― Como estou?
Sua mão direita desliza por meu corpo até apertar um dos meus seios
enrijecidos. Meu sexo se aperta.
― Sempre será a mulher mais linda que já vi ― declara com
intensidade, me fazendo olhá-lo com amor.
― Você também é lindo, principalmente sem isso ― deslizo minha
mão para dentro de sua calça e agarro sua ereção.
Ele ofega.
Quando vejo que vai ter alguma reação, levanto-me, um pouco aos
tropeços, e tiro minha calcinha. Johnatan se senta novamente para me
observar com um sorriso torto.
― Primeiro, eu quero...
― Espere, tem mais de uma coisa? ― interrompe-me e coloco
minhas mãos na cintura.
Mesmo nua à sua frente, não me sinto com vergonha, meu corpo o
deseja. O efeito do álcool me ajuda a provocá-lo sem muita timidez.
― Sim... Voltando... ― soluço e sorrio ao mesmo tempo. ―
Primeiro, quero uma barra de ferro na Colmeia. Você sabe... Para treinar. Eu
gosto da barra ― exijo desorientada, movendo minha cabeça, não sei qual
lado do meu cérebro está mais leve.
Johnatan se apoia em seus joelhos para observar meu corpo.
― Você vai treinar assim? ― pergunta com um sorriso perverso.
― Provavelmente sim, mas sozinha ― disparo, vendo seus lábios se
apertarem para reprimir sua risada. ― Pode fazer isso por mim? ― estico
minha mão para tocar seu queixo, fazendo-o me olhar nos olhos.
Johnatan sorri.
― Mesmo embriagada, é difícil negar qualquer coisa para você ―
beija minha mão com doçura. ― Qual é o próximo pedido?
Dou-lhe um sorriso triunfante.
― Quero, neste exato momento, ir com você até o lago ― revelo
empolgada e o vejo confuso. ― Vamos nadar pelados!
Johnatan coça o queixo, ainda apreciando meu corpo à sua frente,
principalmente com os olhos fixos em meu sexo.
― Agora de noite? ― ri, talvez por me ver empolgada demais.
― Sim!
― Podemos ficar aqui. Sabe? Preliminares ― Johnatan se levanta e
se aproxima.
Inclino minha cabeça quando toca meu rosto.
― Vamos... ― imploro.
Ele se curva e o vejo tirar sua calça, mas, antes de se erguer, puxa-me
para ele, agarrando minhas pernas e me jogando em seu ombro. Dou um grito
empolgado, escorando-me em suas costas, enquanto ele beija minha coxa e
me leva para fora da tenda.
― Então... O lago nos espera ― anuncia, avançando seus passos.
25 – ANÔNIMO

Johnatan caminha avançando, girando seu corpo de uma vez.


― Johnatan! ― repreendo-o rindo.
Quando chegamos ao lago, ele não me solta, segue em frente até eu
sentir a água gelada nos cercar. Por fim, mergulhamos e voltamos à
superfície. Ele desliza meu corpo contra o seu até ficarmos frente a frente.
A luz do luar deixa o lugar mais cintilante, num tom acinzentado. O
corpo molhado de meu marido, assim como seus olhos em chamas, destaca-
se na noite iluminada, transmitindo sua admiração e luxúria. Olhar para seu
corpo másculo e relaxado me faz lamber meu lábio inferior com sede.
― Nunca estreamos esse lago ― sorrio com malícia, passando meus
braços em volta de seu pescoço.
― Se é o que deseja, podemos fazer isso agora ― puxa-me para seu
corpo bloqueando o espaço que há entre nós.
Ao envolver minhas pernas em seus quadris, já sinto sua excitação e,
rapidamente, beijo seus lábios com perversão.
― Tão pronto, senhor Makgold ― sussurro em sua boca, ao mesmo
tempo em que esfrego meus quadris contra sua pélvis.
Suas mãos deslizam por minhas costas até minhas nádegas,
apertando-as com força. Logo, sua mão esquerda percorre minha barriga,
desliza por meu sexo e penetra seu dedo indicador e o médio.
Gemo, sem perder meu contato com seus olhos em chamas.
― Devo dizer o mesmo ― aprecia com prazer. ― Está tão quente,
tão pronta para mim.
Seu tom provocante é minha perdição e já o estou beijando
descontrolada, acariciando velozmente minha língua contra a sua.
Seus dedos se movem em meu interior, fazendo minhas entranhas se
apertarem. Depois, agarro-me em seus ombros largos assim que seu polegar
esfrega meu clitóris com suavidade.
O fogo me consome e nem mesmo a água fresca do lago consegue me
refrescar.
― Oh... John... ― gemo ofegante, jogando minha cabeça para trás.
Sua boca desliza por meu pescoço exposto e segue até meus seios
para sugá-los com força. Seus gemidos em minha pele fazem meu sexo se
apertar ainda mais.
Agarro seus cabelos, puxando-o para mim. Meu corpo vibra e se
arrepia com suas provocações, enquanto sou consumida pelo prazer
insaciável.
― Goze, minha Roza! ― Johnatan sussurra com deleite, gemo alto,
sentindo seus dedos provocantes. ― Dê para mim.
É como se seu pedido fosse música para a chegada da minha
excitação. Meu sexo se alarga e se aperta, em seguida, estremeço por inteiro
com meu orgasmo intenso.
― Ah... ― clamo relaxada.
Depois de alguns segundos, pisco e volto a encará-lo. Seus olhos
estão nos meus, cheios de desejos perversos. Imediatamente, vejo-o afastar
sua mão, levando-a até sua boca para chupar os dois dedos.
― Hum... ― geme roucamente.
Sem tirar os olhos dos meus, suga seu polegar devagar, como se
apreciasse minha reação.
Mesmo seus dedos estando molhados pela água, tenho certeza de que
pode sentir o gosto do meu orgasmo. Aquele simples contato é carnal e
inebriante.
― Saboroso? ― pergunto quase sem voz.
― Melhor que qualquer vinho ― aprova com seu tom grosso e
potente.
Não posso deixar que apenas me provoque, eu também quero fazer
isso. Mordo meu lábio, deslizo minha mão direita por seu abdômen e apanho
sua ereção de uma vez.
Noto sua respiração acelerar de imediato.
― Está pulsante ― provoco, apertando seu membro duro. ― Acho
que lhe devo algo ― observo seu sorriso torto.
Johnatan aproxima seu rosto, fazendo nossos lábios roçarem.
― Sim... Você deve ― sussurra, umedecendo meus lábios com sua
língua. Eu tento pegá-la, mas ele a afasta. ― Mas de outra forma.
Ergo meu olhar, mas logo me delicio quando movo minha mão para
cima e para baixo, deixando-o ofegante.
― De que forma? ― puxo seu lábio inferior com os meus dentes.
Ele me dá seu sorriso depravado ao afastar minha mão, prendendo-a
em minhas costas. É tão ágil e esperto, que já o sinto me penetrar com força,
meu corpo salta com o ataque repentino. Abro minha boca sem emitir som,
apenas o sinto escorregar dentro de mim.
― É assim que gosto de senti-la ― provoca-me, mordendo meu
lóbulo e estocando novamente. ― Quente... Molhada... Pulsante...
Convidativa... Deliciosa... Apertada... Gostosa ― murmura cada palavra
entre gemidos fortes e ofegantes, enquanto me penetra com mais força.
Gemo, perdendo-me na sensação intensa de suas investidas. Em
seguida, agarro-me em seu corpo assim que sua mão deixa a minha livre.
Quando suas palmas se fecham em meus seios enrijecidos, entrego-me por
completo, fechando meus olhos e jogando minha cabeça para trás. Nem
mesmo sinto a água à nossa volta, apenas suas estocadas profundas. Meu
corpo sobe e desce, seguindo seus movimentos prazerosos.
― Johnatan... Eu preciso... ― gemo suplicante ao sentir meu orgasmo
chegar, mas logo volta para o ponto desconhecido quando ele se retira para
me invadir novamente.
― Eu sei ― provoca outra vez.
― Johnatan,... ― meu corpo vibra.
De repente, ele se afasta, e pisco meus olhos, perplexa.
― Como se sente? ― pergunta, acariciando meu rosto.
Filho da mãe, xingo em pensamentos ao me deparar com seu sorriso
travesso. Quando minhas pernas se fecham em sua cintura, sinto-o se afastar
novamente.
― Eu-sinto... Sinto-me... Eu o quero dentro de mim ― gaguejo em
meio às minhas súplicas.
― E como você me quer?
Oh! Meu marido quer jogar, sorrio.
― Com muita força ― lambo meus lábios em antecipação.
Seus olhos escurecem ao encarar minha boca.
― É uma exigência, senhora Makgold? ― atenta com ingenuidade,
inclinando sua cabeça.
― É uma ordem ― exijo.
Antes que eu volte a agarrá-lo, ele me gira e já sinto seu peitoral em
minhas costas. Fecho os olhos com seu nariz inspirando o perfume em minha
nuca. Em seguida, sinto sua perita língua deslizar por meu ombro. Seus dedos
acariciam minha pele com tranquilidade até chegar aos meus seios, enquanto
meu corpo o quer com fervor. Quando sinto sua ereção se apertar em minha
bunda, empino-a em sua direção.
― Hum... ― geme em aprovação.
Viro meu rosto para encontrar seus lábios e o beijo com paixão,
deixando-o guiar meu corpo para algum lugar do lago.
Ao afastar seus lábios dos meus, sinto-os escorregarem por minhas
costas molhadas. Gemo com suas carícias e me apoio na rocha à frente,
arqueando meus seios em sua palma, enquanto ele explora meus mamilos.
Depois o sinto abrir minhas pernas, com a ajuda das suas, e seus dedos
voltarem a escorregar por minha pele.
Quando viro meu rosto para poder espiá-lo, vejo-o como uma sombra
devido à luz da lua, mas sei que meu corpo está mais exposto para ele
naquela posição. Suas mãos agarram meus quadris com força, fazendo minha
bunda se empinar. Logo, vejo sua cabeça se erguer ao notar que o espiono.
Suspiro ofegante, com seu indicador deslizando por minha espinha.
― Sabe o quanto está linda assim? ― diz e se esfrega em meu sexo.
― Oh, minha Roza. Você é tão gostosa.
Sua estocada profunda faz meu corpo ser empurrado para frente e me
agarro na rocha com firmeza. Meu corpo está em tremores.
― Mais... ― peço, posso sentir seu sorriso atrás de mim.
― Eu nunca vou me cansar de você ― sussurra e se move sem
hesitar.
Abro minha boca ofegante, excitando-me com seus movimentos
fortes, assim como seus gemidos e suas mãos, que exploram meu corpo.
Gemo surpresa quando o sinto escorregar seu polegar em meu ânus,
apertando e acariciando, enquanto se move. Logo, sua outra mão desliza para
baixo, torturando meu clitóris. Rolo meus olhos com tesão e gemo alto com
suas provocações, assim como os seus movimentos acelerados.
Meu sexo se aperta novamente em torno dele assim que sinto meu
orgasmo explodir dentro de mim. Johnatan também se aproxima, sua mão se
afasta da minha bunda e se enrosca em meus cabelos molhados, puxando-me
para si ao dar sua última estocada profunda. Eu o escuto gemer com força,
preenchendo-me com sua excitação.
Meu corpo relaxa aos poucos, enquanto seus braços me envolvem ao
se retirar de dentro de mim. Em seguida, eu o sinto beijar meu pescoço
quando apoio minha cabeça em seu ombro. Ergo meu braço e acaricio seu
rosto.
― Eu quero mais ― murmuro presunçosa, permitindo que suas mãos
molhem meu corpo.
― Mais? ― sussurra em meu ouvido e puxa meu corpo para a água.
Sorrio e giro para beijá-lo com amor.
― Sim ― agarro seu corpo. ― Preliminares na tenda.
Seus braços me apertam com firmeza.
― Tão mandona ― ele ri, depois desliza sua língua por minha
clavícula.
― Preciso nocauteá-lo ― disparo.
Johnatan me observa surpreso.
― Me nocautear?
― Sim... ― aceno com minha peripécia.
Aproveito sua distração para afundá-lo na água. Rapidamente, afasto-
me e nado para fora do lago. O efeito do vinho me faz cambalear. Solto um
grito surpreso quando o vejo me seguir e corro.
― Te peguei ― Johnatan agarra minha cintura e gargalho ao ser
levada para a tenda.
Quando passamos pelos tecidos, Johnatan me coloca no chão. Seu
corpo está molhado e seu cabelo bagunçado. Em seus lábios há um sorriso
cafajeste encantador. Sorrio de volta, empurrando-o na cama. Sua risada
rouca me arrepia, enquanto monto em seus quadris.
― Oh... O que devo fazer com você, marido?
Ele sorri ainda mais e coloca suas mãos na nuca para assistir meu
corpo nu com interesse.
― Não faço ideia, mulher. Faça seu marido mais feliz do que já está
― provoca, dando-me uma piscadela.
Rimos juntos, apreciando nosso momento. Não faço ideia de que
horas sejam, na verdade, não me importo com o tempo. Quando dou por
mim, já estou em cima dele cavalgando, completamente ofegantes e suados.
Sinto-me preenchida, louca para libertar o desejo que me consome, mas antes
quero provocá-lo da mesma forma que me provoca.
Suas mãos estimulam todas as partes sensíveis da minha pele e me
inebrio ao vê-lo gemer perdidamente com minhas investidas. Deito-me sobre
ele para que sua boca explore meus seios com avidez. Depois, apoio-me
contra seu peito, vendo seu sorriso pervertido ao mover meus quadris em
círculos. Johnatan abre a boca num perfeito “O” e move suas mãos para
seguir o ritmo que deseja.
― Isso, minha Roza ― debruço-me para beijar seus lábios.
Quando sua língua ousa invadir minha boca, afasto-me, deixando-o
frustrado. Em seguida, deslizo a ponta da minha língua até o lóbulo de sua
orelha.
― Você está pronto ― fala baixinho, sentindo seu corpo tremer
embaixo de mim.
― Mine, ― ele geme meu nome, virando seu rosto para buscar meus
lábios.
Sorrio com malícia, vendo seu olhar me encarar confuso, mas cheio
de desejo. Lambo meus lábios secos e volto a rastejar minha língua em sua
pele, sigo para seu pescoço, depois para o peitoral e escorrego em linha reta
por seu abdômen definido. Desço meu corpo, saindo dele, ergo meus olhos,
vendo-o me observar com excitação.
É como da primeira vez em que o deixei completamente louco.
Quando passo minha língua mais abaixo, sua cabeça tomba para trás e seu
corpo se contorce quando deslizo minha língua em sua ereção. Eu o chupo
com delicadeza, fascinada com seus gemidos suplicantes. Meu corpo se
excita ainda mais só em escutá-lo.
Quando meu olhar se ergue novamente, lá estão seus olhos em
chamas cheios de surpresa, observando minha perversão, enquanto o engulo
com mais intensidade. Uma de suas mãos esfrega seu rosto em desespero, ele
logo agarra os lençóis, enquanto sua pélvis se empurra contra minha boca.
Gosto disso, assim como de sua respiração ofegante. Sugo-o com mais força
até escutar seu grito rouco e sentir o líquido quente em minha boca. Depois,
afasto minha cabeça e o encaro, lambendo o restante que há em meu lábio.
Estou como ele, ofegante e muito molhada.
― Oh! Porra! ― Johnatan me observa com luxúria. ― Está tão sexy.
― Delicioso ― digo rouca, como se estivesse degustado um bom
vinho.
Seu corpo cai para trás, puxando o ar com força.
― Senta na minha boca e vou dizer o quanto isso foi gostoso ―
dispara ainda ofegante.

A luz fraca do amanhecer me acorda. Pisco meus olhos confusos,


deparando-me com os tecidos à nossa volta. Estico meu corpo e permaneço
com a cabeça apoiada em seu peito, apreciando a pele quente, assim como as
batidas de seu coração e sua respiração tranquila. Seus braços me cercam e
nossas pernas estão enroscadas junto com o lençol branco que nos cobre da
cintura para baixo. Levanto minha cabeça e encaro seu rosto adormecido.
Quando estico minha mão para acariciar seus cabelos escuros,
Johnatan se move, agarrando-me ainda mais contra seu corpo. Ele dorme tão
profundamente, que a única coisa que faço é venerar seu sono. É como se não
tivesse dormido assim por muito tempo.
Em seguida, eu me apoio no cotovelo, voltando a acariciá-lo. Daquela
forma, Johnatan parece vulnerável e, ao mesmo tempo, mais jovem, com os
lábios carnudos entreabertos e os olhos fechados com intensidade.
Inspiro fundo ao pensar que talvez a Colmeia não seja o lugar
adequado para se ter uma boa noite de sono. Imagino que o melhor é ele ficar
em casa por algum tempo, pois parece tão cansado, que meu coração se
aperta. Com um suspiro preocupado, curvo-me para beijar sua têmpora
suavemente.
A tenda é tranquila, como se fosse o único lugar no mundo onde
imagino ser seguro. Uma respiração profunda de Johnatan me chama atenção.
Depois, vejo seu peito subir e descer numa respiração acelerada. Sua boca se
fecha e sua mandíbula trava com firmeza. Todo seu sono juvenil se foi,
assustando-me quando escuto um leve rosnado vindo de sua garganta. Está
tendo um pesadelo, penso.
Espantada, coloco minha mão em seu peito, sentindo seu coração
acelerado. Imediatamente, abraço-o com força, apertando minhas pernas ao
seu redor. Seus braços fortes me apertam no lugar. Beijo o canto de sua boca
e acaricio seus cabelos.
― Johnatan... Amor. Está tudo bem ― sussurro.
Logo sua tranquilidade retorna. Aconchego-me em seus braços e
fecho meus olhos.
Quando volto a despertar, percebo que cochilei. Depois, sinto as mãos
quentes em meu corpo e os lábios em meu pescoço.
― Que tentação ― eu o escuto murmurar rouco, arrepiando-me com
suas carícias suaves até seguir para o meu sexo. ― Hum... Molhada.
― Já acordou faminto? ― pergunto sonolenta.
― Com você... ― ele se move, abrindo minhas pernas ―, sempre.
Sorrio incapaz de abrir meus olhos. Gemo quando o sinto me penetrar
devagar, arqueando o meu corpo e apertando meu sexo pulsante contra o seu.
― Bom dia, minha Roza ― escuto-o sussurrar ofegante.
De repente, sinto o perfume intenso da rosa em meus lábios. Ele se
move devagar, ao mesmo tempo em que desliza a flor com suavidade sobre
minha pele.
― Hum ― gemo, agarrando-me em seu corpo viril, enquanto sinto
sua delicadeza em minha carne macia.
Permanecemos nos movendo com doçura, sentindo um ao outro, ao
mesmo tempo em que nos provocamos, enquanto fazemos amor
intensamente.

Na cozinha, tomo minha pílula toda sorridente ao me lembrar de que


quase fomos pegos seminus por Donna ao entrar na casa. Depois, viro-me
quando escuto alguém entrar.
Ian está sonolento, rastejando-se até sua cadeira com os cabelos
caramelos bagunçados. Ainda é muito cedo para ele.
― Olá, meu amor! ― Ian cumprimenta com um sorriso cômico. ―
Mamãe está arrumando meu quarto. Ela diz que não sirvo para dobrar as
cobertas.
Sorrio.
― Como se sente? ― junto-me a ele para o café da manhã.
― Bem melhor ― sorri e nos distraímos com a chegada de James. ―
Você? Não vê que estamos em um café da manhã a dois? ― Ian me serve um
copo de suco de laranja.
James revira os olhos.
― Desde quando a cozinha ficou privada? ― brinca e bagunça seus
cabelos ainda mais. ― Bom dia, ninho de passarinho.
― Onde está Jordyn? ― pergunto.
Meu amigo faz uma careta.
― Saiu cedo para... ― ele se interrompe, olhando para Ian, que
também o encara. ― Para o curso.
Franzo a testa.
― Tão cedo? ― pergunto. Ele acena. ― Johnatan sabe?
― Provavelmente sim ― responde e franze o cenho. ― Ele ainda está
aqui?
― Sim. Está com os cavalos.
― Legal! ― Ian diz, saltando da sua cadeira e correndo, logo volta
para beijar minha bochecha. ― Não sinta minha falta, amor, voltarei em
breve.
Rimos de sua paixonite e esperamos até que esteja longe.
― Pensei que ele estivesse na Colmeia. Jordyn foi com Peter ―
James informa.
Suspiro.
― Johnatan se sente mais confortável aqui do que na Colmeia.
Embora eu saiba que vai ficar mais no meu pé em relação aos treinos ―
sorrimos.
Lembro-me de horas atrás, antes de tomarmos banho, nós nos
trocamos e começamos nossa sessão de treinamentos pelo campo. A corrida
com os pesos não foi tão ruim como na primeira vez.
― Quando vai começar com Nectara? ― James me tira dos
pensamentos.
Coço minha nuca.
― Acho que em breve.
― Boa sorte ― murmura e toma seu café inquieto. ― Então... Já
tentou descobrir quem manda as mensagens para Jordyn?
― Não. Vou precisar da sua ajuda ― James me encara desconfiado.
― Ela saiu levando o laptop?
Ele revira os olhos.
― Ela não desgruda daquilo.
― Percebi ― mastigo minha torrada pensativa.
― Para o que precisa de mim? ― pergunta curioso.
― Com certeza, você passa mais tempo com ela. Preciso que pegue
aquele laptop ― peço.
James suspira exasperado.
― E acha que não tentei?
― Como ela reagiu?
― Ficou furiosa ― responde dramaticamente.
― Então, ela ainda está mantendo contato? ― indago.
― Para reagir dessa forma, não tenho dúvidas ― vejo James inquieto
e, ao mesmo tempo, atormentado.
― Está com ciúmes? ― a palavra ciúmes faz seus olhos se
arregalarem.
― Quem está com ciúmes? ― Johnatan pergunta assim que entra na
cozinha.
Escondo meu sorriso e beberico meu suco, enquanto James fica
empalidecido.
― Eu vou ver os cavalos ― escapa, fazendo-me sorrir.
Johnatan se senta à minha frente, confuso com a reação de James, e o
encaro. Está vestindo jeans com um suéter marrom, que se cola perfeitamente
em seu corpo, os cabelos bem-penteados e barba feita destacam ainda mais
sua masculinidade, assim como seu perfume suave, que é irresistível.
― Está lindo! ― elogio, vendo sua expressão ficar surpresa.
― Obrigado, senhora Makgold! ― diz e inclina sua cabeça para me
observar.
Coro.
― E Lake? ― pergunto.
― Está ótimo! Mas lesado, como sempre ― Johnatan sorri.
― Fico feliz que esteja relaxado. Devo implorar que passe as noites
em casa? ― toco seu rosto.
Ele inspira o perfume em meu pulso.
― Graças a você e ao seu corpo... ― seus olhos se tornam perversos,
logo o sinto morder meu polegar. ― Quanto ao pedido, acho que vou ter que
abusar todas as noites dessa terapia ― sussurra com seu leve sotaque russo.
Arregalo meus olhos.
― Terapia? Johnatan... Donna ou Ian podem aparecer a qualquer
momento ― murmuro constrangida, sem deixar de sorrir para ele.
― Não se preocupe. Pedi para ela fazer um pequeno favor para mim.
E Ian está com os cavalos, não vou deixá-lo ir à escola hoje ― estou de
acordo.
― Você vai à Colmeia? ― pergunto lhe servindo café.
― Sim. Acho que aquele infeliz já descansou o bastante. Cassandra
tem certeza de que ele pode saber sobre Messi.
Franzo a testa.
― Mas ele disse que não...
― Não acredite tão facilmente. Messi deve ser o melhor mensageiro
que a LIGA já teve. Sabe onde cada um se encontra para repassar as
coordenadas, mas não sei como funciona com ele sozinho. Se descobrirem
onde aquele merda está, podem avisar Charlie ― Johnatan explica, tomando
seu café.
― Então, esse Messi, mesmo sendo fugitivo, sabe de coisas das quais
não sabemos? ― pergunto curiosa.
― Sim. Aquele verme pode estar em qualquer lugar, como também
pode estar por atrás da segunda parte de uns arquivos que não conseguimos
pegar em Moscou quando invadimos o prédio ― a informação me deixa
perplexa.
― E esses arquivos servem para quê?
― É ele que nos mantém mais ativo em relação à máfia. Pelo pouco
que abrimos, há centenas de cadastros, fichas, plantas de construções, roubos
de cargas, entre elas, armamentos e bombas. Há também uma lista de novos
parceiros na mira deles. Agora, com relação a dinheiro, vi que boa parte dos
meus investimentos estão entre seus planos. Só que, para ter qualquer acesso,
eles precisariam de autorização, o que é uma burocracia ― seu sorriso me
deixa confusa.
― E isso faz parte da caçada mortal contra você, para ter esse direito
que até agora não conseguiram ― indago pensativa, vendo seu sorriso se
abrir ainda mais.
― Por baixo dos panos, somente você tem esse poder ― é absurdo,
mas tenho que rir da sua esperteza. ― Claro, porque muitos acreditam que
estou morto. Não acho que Charlie vazaria a história assim. É como se ele
estivesse entra a cruz e a espada.
Aceno de acordo.
― Já pensou em destruir esses arquivos? ― franzo a testa.
― Sim, mas não. Nós o mantemos na reserva para o caso de uma
emergência, pois pensamos que um anônimo possa conseguir hackear de
alguma forma e, com isso, descobrir o sistema onde está sendo monitorado
― Johnatan explica.
― Anônimo ― murmuro com uma careta. ― Então, vocês só têm
parte desses arquivos?
― Sim, algumas pastas compactas necessitam de códigos. Penso que
talvez a outra parte esteja operando em outro ponto da LIGA.
Esfrego minha testa e me assusto com a entrada de meu pai.
― Bom dia, senhor Clark ― Johnatan o cumprimenta com seriedade.
― Bom dia ― meu pai murmura.
Noto que está se esforçando por mim.
― Vi que nos assistia treinar no campo ― a revelação de Johnatan
me surpreende.
Olho para meu pai, vendo sua expressão de desgosto. Ele nos viu
treinar?
― Quando se trata da minha filha, mantenho meus olhos bastante
abertos ― papai diz de forma sarcástica ao se sentar do meu lado.
― Somos dois ― Johnatan não se intimida, pegando minha mão para
beijar meus dedos.
Sobressalto-me quando um celular começa a tocar. Puxo minha mão
desconfortável com ambos se encarando. Johnatan pede licença e se afasta
para atender. Em seguida, viro-me para meu pai.
― Belo anel ― observa.
Pigarreio nervosa.
― Presente de Johnatan. Se não tivesse aceitado, ele enfiaria no meu
dedo de qualquer jeito ― digo rapidamente.
― No anelar esquerdo? ― sua observação me faz remexer na cadeira.
Tento mudar de assunto:
― Como passou a noite? ― vejo seus ombros relaxarem de imediato.
Com isso, começamos uma nova conversa, mais tranquila e sem
qualquer tensão.
26 – MENSAGENS ESTRANHAS

― Pronta? ― Johnatan pergunta quando me encontra na sala de


entrada.
Meu pai acabou de sair. Ele está ansioso para que as obras na vila
terminem o quanto antes.
― Pronta para quê? ― pergunto confusa.
― Vamos para a Colmeia. Depois voltamos para cá ― diz quando o
fuzilo. ― Matt ligou avisando que a reunião da semana passada foi
antecipada. E que Nicole estará presente.
Só de escutar o nome já faz meu sangue ferver.
― Vou ter que estar presente também?
Johnatan toca meu ombro.
― Sim e se manter sob controle. Há alguns parceiros de
telecomunicações que não podemos perder.
Já deixo claro:
― Não a quero como parceira.
― Sei que vai conseguir resolver isso ― pisca, dando-me carta
branca. Gosto disso. ― Até lá, vou instruí-la quanto ao que deve ser feito.
― Mas eles não sabem que sou sua esposa ― engulo em seco.
― Quanto a isso, não se preocupe. Matt irá ajudá-la.
― Você e seus negócios ― resmungo ao sair de casa.
Enquanto Johnatan dirige, ele informa que ficará na Colmeia por um
tempo para tentar arrancar informações de Zander. Por um lado, impressiono-
me que, mesmo Zander mantendo a boca fechada, Johnatan consegue decifrar
alguns detalhes de sua personalidade com atenção. Por outro, meu marido
não o chama pelo nome e sim por uma sequência de insultos como: infeliz,
verme, desgraçado, cobaia e o seu preferido atualmente: rato de laboratório
ambulante.
Assim que chegamos, ele segue com Matt para o laboratório,
deixando-me com Cassandra.
― James está aqui? ― pergunto, vendo-a acenar. ― E Zander já está
na sala de interrogatório?
― Sim ― responde com uma careta. ― Parece tranquilo.
Franzo a testa.
― Vou vê-lo ― antes que ela me impeça, já sigo meu caminho.
Na cabine, encontro Shiu, que me olha surpreso, e entro na sala,
vendo Zander sentado confortavelmente.
― Bom dia, senhora. Ou é tarde? Nesse lugar fechado não tenho
noção se é dia ou noite ― a cobaia diz com sarcasmo.
― Acho que você é mais esperto que isso ― ergo a sobrancelha.
― Tem razão ― suspira convencido. ― Finalmente vai me
interrogar? Estou ansioso.
― Parece confiante ― observo com o mesmo sarcasmo.
Vejo seu sorriso sombrio se abrir.
― O tempo todo.
De repente, somos distraídos com a entrada de Jordyn, em suas mãos
há uma bandeja com o café da manhã de Zander. Ele observa a bandeja com
atenção.
― Não conseguirei comer com as mãos presas ― diz de forma
petulante.
Ao erguer suas mãos algemadas, ele as choca contra a mesa,
assustando minha amiga.
Reviro meus olhos por sua diversão sem graça. Logo, percebo que ela
tem receio de deixar a bandeja na mesa.
― Você só está usando algemas, Zander ― digo ríspida, analisando
seu sorriso frio.
― Bingo ― acena, passando os dedos em seus cabelos curtos. ―
Pode sair, serviçal ― Zander volta sua atenção para Jordyn.
O idiota seria extremamente bonito, se não fosse tão arrogante. Ergo
minha sobrancelha e aceno para ela.
― Espero que os experimentos comecem cedo ― desejo depois que
Jordyn sai da sala aos tropeços.
― Estou curioso para as próximas doses. E não se esqueça de passar
aqui para me desejar boa sorte ― seu humor sagaz me enoja e saio da sala,
ignorando suas provocações atrás de mim.
No corredor, encontro James com os olhos apreensivos.
― Aproveitei que ela se afastou ― entrega-me o laptop de Jordyn
rapidamente.
― Obrigada.
― Vou tentar distrai-la. Tente ser rápida ― pede preocupado, e reviro
meus olhos.

Na sala de monitoramento, ligo o laptop, surpresa de que a conta de e-


mail abre automaticamente. A última mensagem de Jordyn foi há uma hora,
com assunto "Onde está você?", seguindo por uma lista interminável, entre os
mais repetidos estão: "Por que não me responde?", e "Quem é você?". Das
poucas mensagens que abro, encontro sua frustração, mas nenhuma foi
respondida, algumas até retornaram.
Suspiro e sigo para o endereço de e-mail do desconhecido. São apenas
letras e números aleatórios. O que me confunde é que cada endereço de e-
mail muda a ordem das letras, assim como os números.
Imediatamente, conecto o sistema do laptop em um dos computadores
e uso o sistema de hacker criado por Shiu com um dos e-mails. Pondero que,
para chegar ao contato, preciso mandar uma mensagem. Com um suspiro
profundo, escrevo o assunto mais comentado por Jordyn no momento: "Por
que não me responde?". No campo em branco para escrever, digito
rapidamente: "Podemos nos encontrar?".
Envio a mensagem, em seguida, apago da lista de envio na conta de e-
mail dela.
Subitamente, assusto-me com a chegada de Shiu.
― Olá, Mine! ― sorri da minha expressão e fica tenso de repente. ―
Digo,... Senhora Makgold?
― Tudo bem, Shiu ― reviro os olhos, dando-lhe um sorriso aliviada.
― Só Mine, por favor.
Ele solta sua respiração e caminha em minha direção.
― Precisa de ajuda? ― pergunta.
Penso, desconectando o laptop de Jordyn depois de conseguir copiar
seus dados.
― Sim ― aceno. ― Estou com o laptop de Jordyn, há uma lista de e-
mails enviados nesta máquina. Consegue rastrear o registro de cada um e sua
localidade? ― mordo meu lábio. São mais de cinquenta e-mails.
Shiu ri da minha preocupação.
― Nada é impossível ― ele se senta em sua cadeira e logo me apoio
para observá-lo. ― Vejo que você é boa com tecnologia.
― Pratiquei algumas coisas ― informo rapidamente.
― Impressionante! Felizmente, criei um sistema rápido, prático e
eficaz nesse ramo...
― Shiu ― chamo sua atenção quando começa a se empolgar.
― Desculpe ― ri. ― Vamos ver...
Enquanto ele mexe em sua máquina, um bip de alerta me chama
atenção. Viro-me vendo um celular escuro ao lado de algumas armas no
balcão esquerdo. Aproximo-me, vendo a tela informar que a bateria está
carregada.
― É seu? ― pergunto a Shiu.
Ele olha para cima balançando a cabeça.
― Não... É de Zander. Consertei em outro aparelho, passando a
memória para esse ― aponta para o celular. ― Talvez a gente tenha algum
sucesso. Sorte que não estava grampeado ― explica ao mesmo tempo
concentrado em seu monitor.
Pego o celular e o ligo.
― Com certeza, os contatos são em códigos ― murmuro, vendo a
tela ligar lentamente.
― Mine, pode conectar o laptop novamente? ― escuto Shiu pedir um
pouco confuso.
Largo o celular para ajudá-lo, conectando os cabos rapidamente.
― Alguma coisa? ― fico atrás dele, impressionada com a lista de e-
mails abertos em uma janela preta.
Ao lado dos endereços dos e-mails há um carregamento em
porcentagem.
― Com o laptop conectado, os downloads podem ser mais rápidos.
Assim conseguimos a localidade e o rastreamos ― explica.
Observo os dez primeiros e-mails mostrarem Hamilton e Auckland,
aqui na Nova Zelândia, mas apenas um deles, até o momento, mostra-se fora
do país, Washington D.C, Estados Unidos. Aguardamos o restante.
― O que está acontecendo? ― afasto-me surpresa com Jordyn me
encarando. Seus olhos se abaixam ao ver o laptop ao meu lado. ― O que está
fazendo com meu laptop?
Atrás dela, vejo James relutante. Suspiro e sigo até ela.
― Só estamos preocupados com os e-mails que têm recebido.
Nenhum deles mostram localidades, são aleatórios e desconhecidos ―
informo pensativa.
Jordyn fica perplexa.
― Isso não quer dizer que tem a liberdade de pegar as minhas coisas
e se meter na minha vida ― dispara nervosa.
Eu a impeço de chegar até seu laptop.
― Me deixe descobrir quem é...
― Deveria ter me comunicado antes. Talvez, se pedisse, eu deixasse
― responde com arrogância.
― Com certeza não ― James interrompe e se encolhe quando Jordyn
o fuzila.
― Jordyn, na situação em que nos encontramos, temos que estar em
alerta a tudo ― insisto.
Ela não desiste:
― Por acaso o senhor Makgold sabe disso? ― fico calada, enquanto
olho para James. ― Claro que não, assim como eu, ele também está sendo
enganado. Saia da minha frente!
Olho para Shiu, que está mais concentrado em sua tela do que em nós
três.
― Só nos deixe te ajudar ― peço angustiada. ― Se não for nada,
prometo nunca mais me intrometer. Será a primeira e a última vez que faço
algo assim. Por outro lado, também é estranho receber mensagens de um
desconhecido. Há quanto tempo não se falam? ― insisto mesmo vendo sua
fúria.
― Não é da sua conta! ― o comportamento inadequado de Jordyn faz
meu sangue ferver, não faço ideia de quem seja esse ser, mas pode ter
colocado coisas na cabeça dela. ― Sai da minha frente, agora!
Jordyn junta sua coragem para me tirar de seu caminho
grosseiramente, mas mantenho minha postura rígida ao empurrá-la contra a
parede. A garota malcriada rosna e avança para me atingir com os punhos
cerrados, James a segura com força.
― Chega, Jordyn! ― ordena.
Decido enfrentá-la:
― Estamos investigando, queira você ou não. Quando terminar, eu te
entregarei seu aparelho, daí você poderá fazer o que quiser ― disparo minha
frieza, encarando seus olhos febris.
― Tudo certo. Aqui está ― Shiu nos interrompe, entregando o laptop
para Jordyn.
Ela o pega bruscamente e me olha com raiva. É mutuo, sei que vai
passar. Depois, gira seu corpo, abraçando o laptop, e marcha para longe.
James lamenta antes de correr em sua direção. Inspiro fundo, com o coração
apertado. Nunca brigamos dessa forma.
― Conseguiu alguma coisa? ― pergunto a Shiu, sem tirar os olhos de
Jordyn, que se afasta o mais longe que consegue.
― Deixei em modo remoto. O carregamento continua; qualquer coisa
que ela for fazer na máquina, estará em sinal de alerta ― Shiu esclarece. ―
Agora, se não precisar mais de mim, tenho que ajudar Matt na cabine
― Por enquanto é só. Obrigada, Shiu.
Assim que ele se afasta, sigo para o computador à espera do
carregamento. Movo minhas pernas, impaciente pela lentidão. Enquanto isso,
pesquiso os lugares já achados dos e-mails carregados. A maioria é em
praças, um hotel luxuoso, vários pontos de táxi e avenidas.
Entediada, eu me distraio com o celular. Não há contatos, mas há
algumas ligações com os códigos. Informações por mensagens
automaticamente canceladas e sem retorno. Em seguida, um alerta no
computador mostra uma conta de e-mail conectada e reenvio a mesma
mensagem que havia mandado. Franzo a testa ao olhar a localidade e clico
em “procurar” no mapa.
― Está de brincadeira ― murmuro com a mandíbula apertada e
apago a lista de e-mails do sistema.

Estou deitada, esperando Johnatan sair do banheiro e se juntar a mim


na cama. Passei a tarde inteira em silêncio. Ele permaneceu na Colmeia mais
tempo que o previsto para ver a situação do experimento em Zander, este, por
sua vez, não lhe deu nenhuma informação. Muito menos eu com relação a
Jordyn, que não me deu nenhuma palavra, nem mesmo quando chegou à
mansão durante o jantar. Balanço minha cabeça.
― Acha que Zander pode escapar? ― pergunto de repente,
lembrando-me de que Dinka disse algo do tipo, enquanto estávamos na sala
de monitoramento.
Johnatan escora-se no batente da porta para me observar, está apenas
com a calça moletom e os cabelos desgrenhados. Estamos em seu quarto
espaçoso, clássico e moderno.
― Muito difícil. O rato pode até ser esperto, mas nem tanto ―
murmura, enquanto desliga as luzes e se junta a mim, puxando-me para seus
braços.
Aconchego-me a ele como se fosse meu refúgio.
― Você tem razão ― sussurro em seu peito.
― Está tão calada, estranho ficar a tarde inteira quieta. É por que
ainda não instalei sua barra de ferro?
Sorrio.
― Ela é ótima para relaxar ― asseguro, enquanto sinto seus lábios
em minha testa.
― Eu devo pagar por um show? ― rimos com sua ideia, e bato em
seu peito. ― O que você tem? ― pergunta quando solto um suspiro em
seguida.
― Briguei com Jordyn ― confesso, apertando meu rosto contra seu
peito.
― Por quê?
― Por causa do seu laptop inseparável ― é ridículo, mas o assunto
me faz rir.
― Do laptop? Amor, se for assim, posso comprar para você... ― ele
parece confuso, e balanço minha cabeça.
― Não! Está tudo bem. Em breve vamos fazer as pazes ― abraço-o
com força. ― Vamos mudar de assunto? ― peço.
― Vamos voltar para meu ingresso particular de show exclusivo no
pole dance? ― dispara, fazendo-me rir.
― Muito melhor ― pela pouca luz do quarto, consigo ver seu olhar
confuso. ― Vamos fazer amor gostoso ― Johnatan gargalha com meu
pedido e com minha expressão inocente.
― E você acha que é de qual pole dance que eu estou falando?
Arregalo meus olhos com seu comentário e grito empolgada quando
me puxa para baixo do seu corpo.
Pisco meus olhos, sentindo minhas pálpebras pesadas. Estou aninhada
em Johnatan com nossas pernas enroscadas. Apoio meu queixo em seu peito,
observando seu rosto sereno. É como no dia anterior, só que ele parece mais
profundo, pois seus braços ao meu redor estão pesados. Deslizo meus dedos
em seu peito, subindo para seu rosto. Ele se agita, e fico imóvel vendo sua
boca ligeiramente aberta. Não me permito acordá-lo.
Ao me levantar, com cuidado, pego meu robe de cetim branco e o
visto. Em seguida, caminho na ponta dos pés até a janela para fechar as
cortinas devido à claridade. Antes de puxas os tecidos grossos
completamente, observo o campo verde e alegre com os cavalos correndo,
animados com o sol da manhã. Sorrio, terminando de fechar as cortinas e saio
do quarto em silêncio a fim de ficar com “nossos filhos” antes de voltar,
trazendo o café da manhã para Johnatan.
A casa parece adormecida, mas ainda cheia de vida, enquanto a luz do
dia invade as janelas abertas. Pela primeira vez sinto o lugar completo, como
se tudo que já passou nunca tivesse existido.
Do lado de fora, inspiro o ar seco e puro. Aprecio o vento leve bater
contra as folhas das árvores próximas, assim como os assovios dos pássaros e
os passos brutos dos cavalos correndo pelo campo.
Sigo descalça, olho-os distraída. Os cavalos também parecem da
mesma forma. Posso ver que o lugar não está somente diferente aos meus
olhos e relaxo. Johnatan também estaria apreciando se não estivesse em um
sono tão profundo.
― É um belo cenário. Para uma morte tão violenta ― a voz
sussurrada atrás de mim me faz estremecer.
Viro-me lentamente até encarar seus olhos cor de gelo, tão frios
quanto sua voz.
― Você? Como... ― engasgo ao encontrar Zander com seu sorriso e
suas roupas esfarrapadas.
Ele fugiu!
Antes que eu possa ter qualquer reação, sinto a lâmina afiada
atravessar minha barriga.
Olho para baixo chocada, vendo-o segurar o cabo da espada com
firmeza. Fico sem fôlego e tusso, sentindo o gosto de ferrugem em minha
língua. O sangue escorre por minha boca.
― Te vejo no inferno com seu marido ― escuto Zander, em seguida,
os cavalos relincham.
Tusso novamente, sem fôlego e sem forças para gritar ou me mover.
Meu corpo treme, a dor se torna aguda. Zander aprofunda a espada, olhando-
me de forma sombria, enquanto o encaro em choque lutando para a escuridão
não aparecer.
― MINE! ― escuto Johnatan e sufoco a dor quando Zander se afasta
ao puxar a espada com violência, deixando-me cair no chão. ― MINE!
NÃO!
Observo vagamente Johnatan correr em minha direção,
completamente atordoado. Há lágrimas em seus olhos apavorados, assim
como a dor do meu abandono.
27 – CONTRA-ATAQUE

Desperto alarmada, sentando-me abruptamente. Olhos azuis intensos


me observam chocados. Os dedos ternos em meu rosto fazem meus ombros
relaxarem rapidamente, enquanto tento manter minha respiração tranquila.
Sinto meu corpo suado. Johnatan afasta os fios de cabelos grudados em meu
rosto.
― Está tudo bem! Hey,... amor...
É como se ele já tivesse dito isso várias vezes.
― Foi um pesadelo.
Pisco meus olhos lacrimosos e encaro o quarto. Sinceramente, uma
parte de mim não gosta desse cômodo. Em seguida, chuto os lençóis para ver
minha barriga. Suspiro com alívio, não há sangue.
À minha frente vejo Johnatan vestido com uma camisa de linho azul,
jeans escuro, barba feita e cabelos penteados à mão.
― Onde você estava?! ― minha voz sai embargada.
Ele ainda se mantém concentrado em mim com curiosidade.
― Estava com os cavalos. Quando voltei, escutei seus gritos. Foi um
inferno para te acordar ― explica, analisando minha expressão com atenção.
― Nunca a vi desse jeito.
Estremeço ao olhar para o quarto novamente com uma careta. Foi só
um pesadelo, penso diversas vezes.
― Foi um sonho muito ruim ― digo rouca e o abraço com força.
Seus braços me apertam, fazendo-me sentir protegida.
― O que você sonhou?
― Zander... ― respondo e me afasto de seus braços rapidamente. ―
Ele fugiu da Colmeia... Johnatan ele fugiu! Ele vai nos matar! ― fico
histérica.
― Mine... Minha Roza ― Johnatan tenta me acalmar. ― Ele continua
preso. Liguei cedo para saber como andam as coisas e é impossível ele
escapar da Colmeia. Se acontecer, ele morrerá assim que pisar na saída. Nada
vai nos acontecer, acalme-se. Foi só um sonho ― assegura.
Inspiro fundo.
― Desculpe, mas foi tão real ― esfrego meu rosto com força. ―
Talvez seja a tensão dos últimos ocorridos ou a briga que tive com Jordyn ―
murmuro pensativa e volto para os seus braços.
― Está tudo bem agora ― beija meus cabelos. ― Eu não deveria ter
saído de perto de você.
― Você sofreu tanto ― estremeço ao me lembrar do sonho, e seus
braços me apertam ainda mais.
― Hey... Não pense mais nisso ― Johnatan me conforta, acariciando
minhas costas nuas. ― Irei para a Colmeia depois do café da manhã, se
quiser ficar em casa, suspenderei seu treino...
― Não ― eu o interrompo rapidamente. ― Você vai interrogá-lo
outra vez?
Ele suspira.
― Sim, mas não sei se renderá. Olhar para aquele verme me dá
desprezo ― observo sua testa franzida.
― Eu posso fazer isso ― disparo.
Imediatamente seus olhos fixam nos meus.
― Não! E por falar nisso, você foi vê-lo ontem! ― repreende-me.
― Não aconteceu nada demais ― asseguro. ― Ele só é bem
arrogante.
Johnatan não cede.
― Já que está tendo pesadelos, não quero que continue insistindo em
falar com aquele infeliz.
Remexo-me, saindo de seus braços. Ao me levantar, pego meu robe
próximo à cama e o visto. Mesmo assim, sinto seus olhos observadores em
mim.
― Você sabe que sou teimosa e não sigo ordens ao pé da letra.
Johnatan aperta os lábios e se levanta exasperado.
― Pelo menos uma vez, faça o que lhe peço. Estou tentando sempre
privá-la desse tipo de desconforto ― pede, olhando-me profundamente,
encolho-me. ― Apenas tente, por mim.
Pisco meus olhos embaraçada com seu pedido.
― Isso é apelação ― resmungo.
― Não. É o homem que te ama, te pedin... Não, te implorando para
que não tenha mais problemas ― suplica. ― Agora, vá tomar seu banho que
eu vou conversar com Jordyn para saber o que está acontecendo.
― NÃO! ― espanto-me, fazendo seus olhos me encararem curiosos.
― Não vai... Eu-eu vou falar com ela depois ― peço e engulo meu
nervosismo.
Sua sobrancelha grossa se ergue.
― E por quê?
― É um assunto nosso ― dou de ombros, mas não o convenço. ―
Johnatan... Só confie em mim ― insisto, não quero discutir logo de manhã.
Ele solta sua respiração.
― Vou trazer seu café da manhã, enquanto você toma banho. E... vou
ficar te esperando aqui ― revira os olhos.
Franzo a testa com desconfiança.
― Me esperar? ― pergunto, seguindo para o banheiro lentamente,
sem tirar os olhos dele.
Johnatan acena com as mãos nos bolsos.
― Sim. Para você me dizer o que está acontecendo antes de falarmos
com Jordyn.
Aperto meus lábios. É impossível lutar com ele.
― Pode trazer uma toalha?
― Já tem no banheiro.
― Hum... Sabonete?
― Também.
Olho ao redor.
― Algo para vestir? ― acerto e me sinto mais aliviada ao ver seu
sorriso presunçoso.
― Seja rápida ― ordena.
Quando saio, já o encontro no quarto com o café da manhã na mesa
próxima à janela, assim como as minhas roupas sobre a cama. Sigo até elas,
tirando a toalha e corando com seus olhos em meu corpo nu. Visto minha
lingerie preta, jeans azul justo e camiseta regata. Seco meus cabelos,
amarrando-os em um rabo de cavalo, e caminho descalça até a mesa,
dispensando, por enquanto, as botas escuras de cano curto.
― Está linda ― Johnatan diz quando me junto a ele.
Sorrio ao vê-lo me servir com café e panquecas. Meu estômago ronca
alto, fazendo-o rir.
― Fez uma ótima escolha ― aprovo as roupas.
― Deve ser porque as peças me fazem apreciar suas belas curvas ―
seu elogio me deixa vermelha.
― São só para você ― garanto, enquanto devoro minha panqueca.
Seus olhos me avaliam, como se apreciasse o que está à sua frente.
Fico inquieta com sua potência atrativa sobre mim.
― Sei que são ― sorrio, vendo o ciúme nítido em seus olhos em
chamas. ― Então... Pode começar ― minha língua queima quando engulo
meu café quente com rapidez.
Pigarreio. Dessa vez não tem como fugir.
― Jordyn andou recebendo mensagens anônimas. No começo, não
fiquei muito desconfiada, nem ela. Pensamos que fosse James, mas, com o
tempo, ela descobriu que não foi. Depois, começou a agir estranho; James
também notou e pediu minha ajuda para descobrir. Pegamos seu laptop
escondido e pedi ajuda a Shiu para rastrear cada endereço de e-mail que o
anônimo possuía ― relato com calma, tendo toda sua atenção.
― Cada endereço? ― Johnatan repete.
Aceno, enquanto engulo meu café da manhã com esforço.
― Mais de cinquenta endereços diferentes com letras e números
aleatórios ― continuo.
Tenho o cuidado ao falar, mesmo assim, Johnatan se levanta
rapidamente e faço o mesmo.
― Por que não me disseram antes? ― tenta controlar sua tensão.
― Eu não sabia se era ou não o James.
― Mesmo assim, Jordyn deveria ter se pronunciado.
― Ela só está obcecada para saber quem é... Johnatan? ― chamo-o
tarde demais quando sai do quarto feito um furacão.
Sigo-o rapidamente.
― Onde está Jordyn?! ― Johnatan pergunta rispidamente a Peter
assim que o vê na porta da sala de entrada.
― No quarto, senhor ― o homem informa assustado e me olha.
― Johnatan, por favor ― tento bloquear sua passagem, mas é
impossível.
― Peter, corte o sinal de rede até mesmo da linha telefônica por
alguns instantes ― Johnatan ordena ao seguir para o corredor.
Caminho ao seu lado, insistindo para não seguir em frente. Quando
chegamos, a porta do quarto de Jordyn está trancada, mas meu alívio é
repentino quando Johnatan choca o ombro contra a madeira, abrindo-a
abruptamente.
Ao entrarmos, vejo Jordyn sair do banheiro, chocada com a invasão, e
termina de prender seus cabelos num coque desarrumado.
― Mas o que é isso? ― pergunta surpresa.
― Onde está o laptop?! ― Johnatan ignora sua pergunta com
arrogância.
Os olhos de Jordyn fixam nos meus perplexos.
― Contou a ele? ― aperto meus lábios.
― Sim, coisa que você não fez desde o início ― Johnatan dispara. ―
Não tenho o dia todo, Jordyn, me dê a porcaria do laptop!
― Johnatan, por favor. Deixe-me conversar com ela ― imploro, mas
sua atenção não está em mim.
― VOCÊ POR ACASO PENSOU NA GRAVIDADE DE TUDO
ISSO?! ― Johnatan explode e me assusto com seu tom.
Jordyn se encolhe.
― Mas é meu! Eu ganhei e é de uso pessoal ― argumenta sem
conseguir olhar para Johnatan.
― Está discutindo comigo?! ― o alerta de Johnatan faz meu coração
saltar. ― Eu lhe dei de presente em seu aniversário há dois anos. Assim
como lhe dei, tenho o direito de tirar ― engulo em seco.
Jordyn me encara assustada, e meu coração se aperta ao ver sua
tristeza. Ela caminha até sua cama, pegando o aparelho debaixo de seu
travesseiro e o entrega.
Seguro minha respiração, vendo Johnatan analisar o laptop fechado e,
com uma força brutal, quebra o aparelho no meio com as próprias mãos,
assustando nós duas.
Olho para Jordyn, vendo as lágrimas em seus olhos.
― Johnatan ― arfo sem acreditar.
Ele encara Jordyn com frieza.
― Problema resolvido. Agora, pense mais de mil vezes antes de
esconder qualquer coisa de mim. Fui claro? ― avisa rispidamente, fazendo
Jordyn acenar e se encolher ainda mais.
― Eu só queria ter certeza de quem era. Uma ponta... Uma pontinha
bem pequena de esperança me fez acreditar que fosse James... Desculpe-me
― soluça ao tentar se explicar, demostrando sua culpa.
Sinto o nó em minha garganta.
― Se viu algo de diferente, por que não me informou? ― Johnatan a
faz estremecer num choro silencioso. ― Shiu fez cópia dos dados do e-mail?
― pergunta, e o encaro ofendida por seu tom hostil.
Ergo minha cabeça sem me intimidar
― Não. Eu que fiz ― respondo firmemente. ― Depois, ele me
ajudou a rastrear os endereços. Foi na hora em que Jordyn apareceu e, como
pode ver, ela só esteve frustrada com o que houve, não pensou que fosse algo
tão grave ― explico, mesmo tendo sua atenção repreendida.
Vejo, pela minha visão periférica, Jordyn se colocar atrás de mim,
como se quisesse se esconder da fera. Viro-me para ela.
― Eu machuquei você? ― pergunto, referindo-me à nossa discussão
do dia anterior.
― Não ― ela dá de ombros. ― Estou bem ― responde, me dando
um meio sorriso.
Em seguida, volto a atenção para Johnatan.
― Na Colmeia, vou verificar esses dados ― seu nervosismo contínuo
me faz suspirar.
Isso só vai piorar.
― Eu apaguei ― confesso.
Escuto Jordyn prender sua respiração e soltar um palavrão baixo. Os
olhos de Johnatan são como faíscas.
― E por que você fez isso? ― ele pergunta pausadamente.
― Porque descobri a localidade do anônimo. E... vou precisar da
ajuda de vocês. ― eu o observo atenta. ― Sem qualquer interrupção.
Johnatan cruza os braços, revelando seus bíceps fortes sob a camisa
de linho.
― Seja o que for, a resposta será não, mas sou todo ouvidos.
Inspiro profundamente. O que custa tentar?
― É o seguinte...

Na Colmeia, encontramos Shiu e Dinka divertidos, mas logo se


recompõem quando Johnatan aparece, jogando o laptop quebrado de Jordyn
para Shiu, que encara o aparelho boquiaberto. Seus olhos puxados parecem
querer se abrir ainda mais.
― Dê um jeito nisso! ― Johnatan ordena antes de seguir o
laboratório.
Ao meu lado, Jordyn solta a respiração e se joga na cadeira giratória.
― O que foi isso? ― Shiu pergunta, mais para si mesmo.
― Só peço que não o deixe mais nervoso do que já está ― alerto.
Dinka estala a língua e balança sua cabeça.
― Você não satisfez o chefe ― o atirador murmura ao sentar no
balcão, ocupando-se em montar uma arma, a qual me lembra uma
metralhadora.
― Droga! Mine... Você sabe que tenho medo dele ― Shiu reclama.
Mesmo estando tensos, rimos de seu comentário.
Deixo Shiu verificar o laptop quebrado e puxo uma cadeira para
sentar ao lado de Jordyn. Durante o caminho para cá, permanecemos em
silêncio, sabendo que qualquer palavra faria Johnatan perder o controle.
― Como se sente? ― pergunto.
― Vai ficar tudo bem ― inspira estremecida, e aperto sua mão. ―
Não sei como vai ser, mas já vou me preparar para o que está por vir. Acho
que ajudá-los será uma boa forma de pedir desculpas ― seco suas lágrimas.
― Vamos pensar positivo ― eu a abraço, em seguida, afasto-me ao
observar o laptop quebrado. ― Mudando um pouco de assunto, você não
costumava usar muito o laptop. Agora me pergunto por que vocês não tinham
um celular antes? ― digo pensativa.
― Na verdade, eu usava a máquina mais para jogar. Mas antes de
saber disso tudo, acho que veio pela preocupação de Donna, já que o senhor
Makgold era bastante restrito em sua vida. Ela nos aconselhou a não pensar
sobre aparelhos de comunicação, muito menos passar o número do telefone
da casa sem avisar. Aliás, a gente nem se preocupava com isso, pois mesmo
sem celulares, o senhor Makgold passava as coordenadas mais para Peter. Era
tudo muito pontual. Daí você chegou...
Sorrio por seu tom afortunado, mas reflito sobre sua explicação. Faz
sentido, já que Johnatan se mostrava muito mais protetor antes.
― Agora, depois de descobrir a verdade e embarcar nesse mundo, eu
comecei a usar muito mais o laptop para fazer pesquisas com relação às aulas
com Nectara ― Jordyn diz com orgulho.
É divertido passar o tempo escutando as brincadeiras de Shiu e Dinka,
uma bela distração para o caos. Cassandra se junta minutos depois
respondendo as provocações de Dinka.
Nectara, por sua vez, está treinando James, e deixo Jordyn se juntar a
eles para se distrair. Depois, afasto-me assim que vejo Johnatan virar o
corredor e corro até ele. Pelos seus passos duros, vejo que continua de mau
humor.
― Vai interrogá-lo? ― tento seguir seus passos.
― Sim.
― Pensou na minha proposta?
Johnatan se vira, fazendo-me parar.
― Já disse que não a quero perto daquele infeliz ― exige, e o ignoro.
― Mas acho que ele fala mais comigo do que com vocês ― disparo,
deixando-o mais cético
Faço uma careta para o seu humor. Em seguida, ataco-o com um beijo
até senti-lo desistir e deslizar sua língua em minha boca. Quando o sinto
relaxar, envolvo meus braços em seus ombros num abraço apertado.
― Não tente me fazer mudar de ideia ― murmura rouco em meus
lábios e olha em meus olhos.
Mordo meu lábio, pensativa.
― Só faça um teste ― proponho.
Vejo sua mandíbula travar.
― Matt ainda está no laboratório. Peça o que precisa, enquanto
preparo a cobaia. ― seu tom é relutante, mas me faz sorrir e beijá-lo
empolgada.

No laboratório, encontro Matt organizando alguns frascos.


― Olá, Mine ― cumprimenta-me e sorrio em resposta. ― Johnatan
me falou sobre você querer... ― Matt balança a cabeça, fazendo uma careta
sem conseguir terminar.
― Fico feliz que ele já tenha te adiantado. Vou tentar interrogar,
espero me sair bem ― murmuro, ao mesmo tempo em que observo a maleta
vazia no balcão.
― Bem, o que você precisa? Tenho muitas opções e você pode
colocar na maleta. ― Matt informa.
Penso.
― Não preciso de muita coisa ― digo, feliz por ter a arma elétrica
por perto e a coloco na maleta.
Depois Matt me apresenta um par de luvas escuras, dizendo-me que
há anéis internos. Pisco meus olhos surpresa e as coloco na maleta.
― Não vai querer testar nenhum experimento? ― franzo a testa com
sua pergunta.
― Há algum bom? ― pergunto, fazendo-o sorrir.
Matt segue para uma gaveta, de pequenos frascos transparentes,
retirando um para me mostrar.
― Já usei na cobaia. O efeito foi tão forte que o deixou traumatizado
― o relato do advogado me faz rir. ― No início, é como se perdesse os
sentidos até sofrer um ataque de tortura, depois, seu corpo começa a perder os
movimentos e há muita dor ― explica, impressionando-me.
― Vou querer ― aceno, deixando-o preparar uma seringa. ― E
esses? ― aponto para outros frascos transparentes.
― São vitaminas para o corpo, nada ofensivas por enquanto, mas vão
ter alterações ― Matt explica.
― Pode preparar uma seringa com isso? ― minha pergunta o deixa
confuso.
― Claro.
Poucos minutos depois, agradeço quando termina com minha maleta.
Em seguida, sigo para a sala de interrogatório, onde encontro na cabine
Johnatan e Shiu.
― Entre antes que eu desista ― Johnatan murmura seriamente,
encarando Zander pela parede de vidro.
Em silêncio, entro na sala, fechando a porta e seguindo em frente.
Tranquilamente coloco a maleta em cima da mesa. Zander está sentado,
vestindo uma camiseta regata branca, que deixa expostos seus braços e seus
pulsos presos pelas travas da mesa de aço. Ele me observa curioso, mas,
como sempre, com sarcasmo.
― Não me diga que ele deixou você no comando? ― ignoro seu
deboche, enquanto abro a maleta com um suspiro de satisfação. ― Então,
finalmente vai me interrogar. Não sabe o quanto fiquei ansioso por esse
momento ― sei que está tentando provocar Johnatan, sabendo que o observa
na cabine.
― Percebi que fala mais comigo do que com os outros ― comento.
Puxo a cadeira vazia, mas não me sento.
― Talvez porque você seja uma presa fácil ― ergo minha
sobrancelha. ― Posso até conversar com você, mas não quer dizer que vá
conseguir arrancar alguma informação ― sorri com ironia.
― Não tenha tanta certeza, Zander ― digo seriamente.
― Tente. Como pode ver, fiquei ansioso por esse momento, mas já te
adianto que nenhuma arma que estiver em mãos vai me fazer falar, nem
mesmo com golpes. Ah! Se bem que posso afirmar que você bate mais forte
que ele ― Zander provoca. ― Agora... Onde estão seus brinquedinhos?
Ergo meu corpo e aperto meus dentes. Viro-me para o vidro, dando
um aceno com a cabeça para que Johnatan fique tranquilo, eu posso sentir
que ele não está de acordo com isso, mas tenho que fazer o possível. Viro-me
para Zander novamente e imito seu sorriso ao girar a maleta para ele.
Sua sobrancelha se ergue.
― Acho que já usaram o suficiente, mas, dessa vez, eu peguei os mais
básicos ― informo, apreciando os adereços.
O homem esconde seu sorriso e suspira.
― Pensei que ficaria impressionado. Estou desapontado ― dispara
seu humor sombrio. ― Vamos lá, me mostre o que tem a oferecer com... isso
― aponta seu queixo com desdém em direção à maleta.
Inspiro fundo, arrastando minha maleta para o lado.
― Sinto muito por tê-lo desapontado ― finjo pena.
― Bem... Sente-se ― ele tenta ser cortês.
Abro meu melhor sorriso.
― Oh! Essa é minha parte preferida. Não irei me sentar ― observo
sua expressão entediada.
― Então, vai começar com os... Experimentos? ― analisa, encarando
as duas seringas na maleta.
― Ah, não! Pensou que fossem para você? ― aponto para as
seringas. ― Não, não, preciso que o senhor esteja consciente ― balanço a
cabeça e vejo sua testa franzir.
― Agora estou curioso ― diz com um sorriso divertido.
É claro que está, penso. Mantenho minha expressão séria e cruzo
meus braços.
― Entre! ― ordeno.
Escuto a porta destravar e puxo um pouco mais a cadeira ao meu lado.
Zander observa Jordyn passar por mim encolhida, sua expressão não muda,
ele continua petulante.
― Serviçal ― cumprimenta com arrogância. ― Está aqui para ajudá-
la, já que não se garante sozinha?
Zander provoca, e sinto o nervosismo de Jordyn ao meu lado.
― Shiu ― chamo e rapidamente vejo as travas da cadeira prenderem
a cintura e as mãos de Jordyn. ― Podemos começar?
Puxo minha maleta, colocando as luvas escuras. Zander observa,
encostando-se na cadeira.
― Estou pronto ― sorri para Jordyn à sua frente.
― Certo! Minha equipe não acredita que você não saiba onde está
Messi. Ele parece um bom aliado para a LIGA, mesmo sendo um fugitivo ―
reflito.
― Parece que você foi a única a acreditar ― Zander me observa.
― Por um momento. Mas vejo que esse tal Messi é um grande
interesse para a LIGA. Por que não me conta de uma vez onde ele está? Já
que não o encontrou antes de você ser capturado ― peço educadamente.
Por fim, ele me dá uma reação contrária de seus sarcasmos, um
suspiro exasperado, como se estivesse esperando por outra pergunta, não a
mesma. Só que Zander dá de ombros, não respondendo. Como esperado, sei
que não vou arrancar dele dessa forma.
Inspiro fundo.
― Jordyn, você sabe onde Messi está? ― lanço a pergunta para ela.
Seu rosto se erguer de forma pensativa.
― Não ― responde com a testa franzida.
Aperto meus lábios. Em seguida, atinjo seu rosto com força. Jordyn
arfa e a vejo cuspir o sangue.
28 – INTERROGATÓRIO

Zander observa sorrindo.


― Vai torturá-la na minha frente para arrancar alguma coisa? ― o
infeliz aprecia.
Sorrio.
― Poxa vida! Você notou? Que inteligente ― imito sua petulância e
volto a ficar séria. ― É melhor responder à pergunta, Zander. Onde-está-
Messi?
― Pode fazer o que quiser com a serviçal, eu não me importo! ― diz
com firmeza.
Aceno duramente, voltando a tingir o rosto de Jordyn duas vezes. No
terceiro ataque, agarro seus cabelos e choco sua testa contra a quina da mesa.
Jordyn arfa de dor e chora.
Zander ergue sua cabeça observando.
― Eu não sei ― dessa vez ele responde tranquilamente.
― Agora resolveu responder a questão, mas não está correta ―
controlo minha respiração e puxo o cabelo de Jordyn para trás, vendo seu
rosto machucado. Seus olhos lacrimejam e seus dentes manchados de sangue
aparecem, enquanto puxo seus cabelos com força. ― Está desconfortável,
Zander?
Olho para a cobaia, que observa com atenção.
― Já vi coisa pior ― dispara, e sorrio em ameaça.
Na maleta, pego a arma elétrica. Ao ligá-la, escutamos seu barulho
assustador. Os olhos de Jordyn se arregalam, e a seguro no lugar, enquanto
aproximo a arma de seu pescoço.
― Imagino que sim ― afirmo.
Atinjo o pescoço exposto de Jordyn, fazendo-a gritar engasgada e
estremecer com o choque, rapidamente me afasto.
Jordyn puxa o ar com força enquanto chora.
― Por favor... ― Jordyn implora aos soluços.
Ergo minha sobrancelha para Zander e o encaro friamente.
― Responda! ― ele permanece calado, e volto a atingir o pescoço de
Jordyn com a arma.
Quando volto a me afastar, ela puxa o ar com força e pisca os olhos
assustados.
― Pode fazer o que quiser com a garota, eu não ligo. Aliás, está me
fazendo perder tempo ― Zander dispara, mas seu deslize me faz sentir sua
raiva.
Sorrio e soco o rosto de Jordyn, voltando a atingi-la com a arma
elétrica, mas, agora, em suas costelas.
Ela tosse com força, enquanto tenta se mexer na cadeira quando me
afasto.
― Você não perdia tempo quando mandava mensagens anônimas
para ela ― disparo, observando sua expressão, e solto os cabelos de Jordyn.
― Pensou que não descobriríamos? Você falhou ao deixar uma de suas
contas abertas no celular, que se encontra aqui na Colmeia ― curvo-me na
mesa para encará-lo.
Zander se afasta numa expressão vazia, e, ao mesmo tempo, encara
Jordyn. Logo, sua gargalhada dispara pela sala.
― Acha mesmo que me importo com essa pobre coitada? ― Zander
lança sua arrogância.
Abaixo a cabeça de Jordyn e aperto a arma elétrica em sua nuca.
Quando afasto, vejo-a enfraquecida.
― Mas eu, ao contrário de você, em nenhum momento disse que você
se importa com ela ― pisco meus olhos, fingindo estar impressionada. O
sorriso de Zander desaparece quando vê que cometeu o deslize. ― Eu disse
para você que o interrogaria. Portanto, só sairemos daqui quando me
responder.
Zander se move em sua cadeira, travando seus dentes.
― Eu já disse que não sei ― continua.
Balanço a cabeça atingindo meu cotovelo no estômago de Jordyn.
Ela perde o fôlego e tosse com esforço. Dou-lhe um tempo para se
recompor. Assim que consegue respirar, atinjo seu olho, cortando sua
sobrancelha.
― POR FAVOR! ― grita com força ao implorar para Zander e o
olha.
Ele não a encara, apenas fecha os olhos.
― Vamos lá, Zander... ― eu o chamo, respirando com dificuldade. ―
Se você se importa tanto com ela como demonstrou nos e-mails, pode
interromper isso respondendo a uma única pergunta. Colabore, cobaia ―
peço ao jogar a arma elétrica na maleta.
Seus olhos cor de gelo se abrem frios e sombrios.
― Eu sei qual é seu jogo ― ele também lança sua frieza para Jordyn.
― Pode continuar até cansar.
Balanço a cabeça, não cedendo à chantagem. Depois, pego a seringa.
― Eu soube que você odiou esse experimento. Parece que tem um
efeito forte, estou curiosa para saber como é ― puxo a manga da blusa de
Jordyn para cima, feliz por ter sua veia exposta sob a pele clara.
Ela chora, gemendo assustada e me encara com o rosto inchado. Eu
me abaixo, passo o algodão com álcool e aproximo a agulha de sua pele.
― Pare! ― seu tom severo me faz olhá-lo, sua atenção está na seringa
em minha mão. ― Ele está no Canadá...
― Onde? ― interrompo-o.
Ele permanece em silêncio, com a mandíbula travada. Dou de ombros
por sua reação e enfio a agulha na veia de Jordyn.
― Em Montreal ― Zander responde bruscamente. ― Ele possui uma
casa noturna. As mulheres são traficadas. Parece que é um negócio que tem
com Charlie e que dá muito dinheiro. Não sei onde fica. Estava investigando,
pois Messi fugiu com o negócio, trabalhando por si só e se locomove de
tempos em tempos para não ser achado. Mas daí vocês me pegaram, por isso,
estou nesse inferno. Satisfeita? ― seu ódio é intenso.
― Por enquanto ― aperto o êmbolo da seringa.
Zander morde o lábio inferior.
― Mine? ― Jordyn estremece e tiro a agulha de sua veia.
― Shiu ― é meu comando para que as travas de Jordyn se afastem.
Ela estremece ao levantar e me encara perplexa. Seu rosto está
completamente inchado.
― Eu sinto muito ― escutamos um Zander relutante.
Jordyn rosna de dor, curvando-se na mesa. Em seguida, fecha minha
maleta e atinge o rosto de Zander com força, sua cabeça vira para o lado
violentamente. De repente, Dinka invade a sala e a agarra. Observo Jordyn
ser puxada para longe, tentando se soltar de Dinka para atacar Zander. Seus
olhos estão injetados de ódio.
Quando ficamos sozinhos, pego a maleta do chão e olho para Zander
atentamente. Seu rosto está vermelho, acima de seu olho agora há um corte.
― Você se importa com ela? ― pergunto.
Os olhos cor de gelo se levantam sem nenhum ressentimento.
― Isso não te interessa. Por mim, ela pode morrer. Mas muito longe
de mim. Se não eu a mato ― diz em ameaça.
― Não está parecendo ― disparo. Em seguida, ergo meu corpo. ―
Obrigada pela informação, Zander, nós nos vemos em breve. Espero que, da
próxima vez, coopere.
Saio da sala, travando a porta.
Jordyn está abraçada com Shiu, que tenta acalmá-la. Assim que me
vê, seus olhos se arregalam.
― Isso não estava no acordo, Mine ― ela se choca, lembrando-me da
conversa que tive com ela e Johnatan em seu quarto.
Ao pedir sua ajuda, foi difícil, mas assim que soube de Zander, não
pensou duas vezes em aceitar minha proposta.
― Não se preocupe. Injetei uma vitamina ― eu a tranquilizo,
entregando a maleta para Matt, que me observa assustado. ― Me desculpe
pelos machucados ― lamento.
― Estava no acordo ― ela faz uma careta de dor e abraça Shiu.
― Eu posso dizer agora que também tenho medo de você, Mine? ― a
pergunta relutante de Shiu faz sorrir.
― Foi impressionante ― Dinka diz, enquanto observa Zander pela
parede de vidro.
Johnatan, que até então só se aproximou em silêncio, suspira e desliza
as mãos por seus cabelos.
― Tudo bem, fim de papo furado. Dinka, ajude Jordyn com os
ferimentos e a leve para casa ― Johnatan ordena.
Jordyn se afasta dos braços de Shiu e abraça Dinka, seguido para fora
da cabine.
― Vai testar algum experimento nele? ― Matt pergunta a Johnatan.
― Mais tarde ― Johnatan responde. ― Shiu, preciso que pesquise
sobre as casas noturnas em Montreal ou qualquer coisa suspeita que encontre
― exige.
Shiu se afasta rapidamente, toco seu ombro antes dele sair, recebendo
sua piscadela. É divertido tê-lo ao lado.
Em seguida, Johnatan se aproxima de mim. Suspiro com mais calma
quando toca meu rosto com ternura.
― Que criatura excepcional eu criei ― o elogio me pega de surpresa,
fazendo-me corar, mas não aprovo.
― Não queria machucá-la, tive que me segurar para não ceder, muito
menos demonstrar resistência ― balanço a cabeça.
Johnatan me puxa para seus braços.
― Mas você conseguiu o que queria ― continua orgulhoso, beijando
meus cabelos. ― Devo dizer que além de uma ótima porta-voz, você age em
um interrogatório de maneira... Digamos... Profissional ― ele parece
exuberante.
Olho para cima chocada.
― Porta-voz?
Franzo a testa confusa.
― Sim ― Johnatan acena com um sorriso torto. ― Saiba que, graças
a você, outra vez, Gaspard Abram está conseguindo alguns aliados. Lógico
que tudo em sigilo.
Sorrio e o abraço com força.
― Lembre-se de que precisamos proteger sua família.
― Cassandra já está cuidando disso ― informa, acariciando meu
rosto. ― Vamos, não quero dar de cara com aquele infeliz quando ele for
para o quarto.
Saímos de mãos dadas e seguimos tranquilamente para a sala de
monitoramento.
― Cassy, você tinha que ver! Ela deu dois socos direto em Jordyn...
Foi, foi surreal! E aquele cara de bunda não cedia. Aí veio a pior parte, ela
pegou... ― Shiu se recompõe de sua empolgação, sentando-se em sua cadeira
e se afastando de Cassandra, que também parecia entretida na conversa.
Escondo meu sorriso, mas Johnatan os observa com censura.
― Espero que esteja fazendo seu trabalho, Shiu ― Johnatan alerta em
tom sério.
― Sim, senhor ― o pobre homem responde inquieto. ― Cassandra
está me ajudando.
― Ótimo. Não se esqueça de fazer o que pedi anteriormente ―
Johnatan lembra, fazendo-o acenar exageradamente. ― E Jordyn?
― Dinka a levou para a mansão, James também a acompanhou,
senhor ― Cassandra informa de maneira profissional.
Posso perceber que a espiã está se corroendo de curiosidade para que
Shiu lhe conte tudo nos mínimos detalhes.
― Nectara deve saber mais sobre Montreal, peça também que ajude
na investigação. Iremos para casa; assim que terminarem, informem a Matt.
Se der, veja se tirem o dia de folga ― Johnatan demonstra seu cansaço e me
puxa para a saída.
Cassandra se impressiona assim que passamos por ela. Quando olho
para trás, vejo Shiu imitar meus dois socos diretos, mas se interrompe ao
perceber que o observo e volta sua atenção para seu teclado. Sorrio.
― Eles ficaram surpresos com seu pedido de folga ― digo ao entrar
no carro.
― Eu sei que isso é cansativo, mas também não podemos ficar
totalmente desligados. Por ouro lado, alguém melhorou meu humor ―
Johnatan sorri e se curva para beijar meus lábios. ― O que quer fazer hoje à
noite?
Até eu me impressiono e sorrio sem jeito. Poxa vida, o leão está
bonzinho.
― Hum... ― penso em sua pergunta, vendo seus olhos divertidos. ―
Não faço ideia. Mas não podemos frequentar lugares públicos, você continua
morto ― rimos.
Em seguida, Johnatan volta para seu assento, ligando o carro.
― Posso pensar em algo ― seu sorriso torto deixa meu coração
disparado. ― A propósito, sua barra será instalada amanhã na Colmeia.
Minha empolgação repentina o faz rir e balançar a cabeça.

Quando Johnatan estaciona na garagem da mansão, saio do carro


empolgada e corro saltitante até Hush, que está no campo. Sua cabeça se vira
com minha aproximação. Depois, o cavalo negro se curva brevemente. Ao se
erguer, aproveito para abraçar seu pescoço e acariciar sua pelagem escura.
Olho para trás, vendo Johnatan me observar com um sorriso leve, mas
logo me distraio com Lake se aproximando. Um comando em russo os fazem
ficarem em alerta e correrem. Eu olho, fascinada.
Rapidamente, vejo Sid sair do celeiro e caminhar até mim. Enquanto
ela fareja meus cabelos, abraço-a. Em seguida, afasto-me, deixando-a seguir
sua corrida com Hush e Lake.
― Eles estão mal-acostumados. ― Johnatan murmura, abraçando-me
por trás e beijando minha cabeça.
Sorrio.
― Apenas comigo, mas não com você ― viro-me para abraçá-lo.
Johnatan se curva e beija meus lábios com ternura. Mas, de repente,
um grito empolgado nos faz nos afastar, observando Ian correr para os
cavalos. Rimos quando tropeça e cai na grama. Lake corre ao seu redor como
se zombasse do seu tombo. Sid se aproxima do garoto, curvando sua cabeça
para ajudá-lo a se levantar.
― Vamos entrar ― Johnatan pede e observa Ian rindo. ― Cuide
deles, Ian!
O garoto levanta seu polegar antes de correr com os cavalos.
Entrelaçamos nossas mãos e seguimos para a mansão. Assim que
entramos, encontramos Donna descendo as escadas.
― Olá, queridos ― ela nos cumprimenta um pouco insegura, logo me
curvo com seu olhar preocupado. ― Podem me dizer o que aconteceu com
Jordyn? ― olho para Johnatan.
― É uma longa história, Donna. Depois explico ― ele responde sem
rodeios.
― Ela chegou com o rosto todo machucado. Não gosto de ver
nenhum de vocês assim. Pode não parecer, mas sei que tem algo de estranho
em tudo isso e não quero que me escondam nada ― ela exige.
Vejo na profundidade de seu olhar a compaixão e o desespero. Viro-
me para Johnatan e aperto sua mão.
― Vou deixá-los sozinhos. Preciso ver Jordyn ― sussurro, sem
coragem de enfrentar Donna.
― Ela está no quarto ― me informa.
Johnatan solta minha mão, e beijo seu rosto antes de sair.
Sigo para o quarto de minha amiga em passos largos. Antes de bater
na porta, James sai do quarto exasperado. Assim que me vê, fecha a porta, e
me afasto para lhe dar espaço. Seu olhar fixa mortalmente em mim. Ai, não!
― Como está Jordyn? ― pergunto.
― Como você acha que ela está? ― seu tom frio faz meu corpo se
erguer.
― James...
― Não, Mine... O que você fez? O que deu em você? Colocou Jordyn
nesse estado só para fazer aquele miserável falar alguma coisa ― julga com
ódio.
― Tanto Jordyn quanto Johnatan estavam cientes disso. Não poderia
comentar com ninguém ― explico, mas sou interrompida.
― Existiam outras formas de fazer a coisa certa! ― ele explode
rispidamente.
Encaro-o seriamente.
― E quais seriam? ― cruzo meus braços. ― Era Zander que
mandava mensagens anônimas para Jordyn. Neste caso, penso que ele está
muito interessado nela. Se não se importasse, não cederia como tem feito. Ele
segurou o máximo que pôde.
― Está me dizendo que aquele pedaço de merda tem algum interesse
em Jordyn e que você se aproveitou disso para feri-la? ― James me enfrenta,
mas não recuo.
― Como eu disse, estávamos num acordo ― repito novamente,
encarando seus olhos claros.
― É melhor que esse acordo termine aqui, porque se pensar numa
próxima proposta para torturá-la, eu não responderei por mim ― seu ódio
está tanto em seus olhos quanto em sua voz.
Sua reação faz meu sangue ferver.
― Se me ameaçar novamente, vai querer ver um lado meu de que não
vai gostar ― alerto-o com frieza.
James sorri sem humor.
― Você já me mostrou isso...
― Parem! ― Jordyn interrompe, e nos afastamos.
Ela está na porta, encarando-nos horrorizada. Seu rosto está inchado,
assim como seu olho esquerdo e sua boca. Há poucos cortes superficiais, mas
o arroxeado em sua pele é bem nítido. Encolho-me.
― Como quiser ― James continua com sua petulância. ― Voltarei
daqui cinco minutos ― diz como um aviso antes de se afastar em passos
duros.
Inspiro fundo e me viro para Jordyn.
― Me desculpe ― lamento quase sem voz.
Jordyn agarra minha mão e me puxa para seu quarto.
― Não se preocupe, vou ficar bem ― murmura numa voz ofegante, e
me encolho ainda mais. ― Acho que James está mais assim por saber sobre
Zander ― ela volta para a cama e sento-me ao seu lado.
― Não posso tirar as razões dele ― acaricio seus cabelos.
― Isso vai passar. A parte boa é que estou livre dos treinos com
Nectara e você irá ocupar meu lugar ― ela me dá um sorriso inchado,
fazendo-me revirar os olhos. ― Mine? Não quero aquele homem perto de
mim.
Aperto sua mão.
― Não se preocupe. Zander não vai fazer mal a você ― prometo.
― Ele é muito... Vazio. Por um momento, pensei que tivesse
sentimentos, não que eu me iluda com isso, não mais... Só que ele é tão frio
quanto deixa transparecer.
Uma batida na porta me faz virar rapidamente. Jordyn permite a
entrada e relaxo ao ver Johnatan no quarto. Jordyn se senta rapidamente,
assustada com ele em seu quarto. Ela me olha de relance, preocupada.
― Como se sente, Jordyn? ― Johnatan pergunta.
― B-em ― gagueja.
― Vocês sabem que não eu estava de acordo com isso, mas devo
dizer que fez um bom trabalho, mesmo se arriscando tanto ― ele inspira
fundo.
― Acho que eu devia essa. Sei que o senhor ainda está chateado
comigo ― ela aperta os lábios, temerosa.
― Sim ― Johnatan concorda, e lhe dou espaço para que se sente ao
lado de Jordyn.
Logo, eu o vejo revelar uma caixa rosa retangular com um laço preto
no colo de Jordyn. Ela arregala seus olhos, encarando a caixa e Johnatan.
― O que é isso? ― pergunta boquiaberta. Eu também estou
impressionada.
― Abra ― Johnatan pede.
Ela pisca sem entender. Depois, puxa o laço preto com euforia,
arrancando a tampa. Ao afastar o embrulho, encara o aparelho novo, chocada.
― É o Mac novo! ― ela murmura impressionada, tirando o novo
laptop fino de cor prata da caixa para analisá-lo. ― Ainda não saiu no
mercado.
Sorrio com carinho e vejo as lágrimas em seus olhos.
― Aquele era meio antigo ― Johnatan dá de ombros.
― Senhor Makgold... ― ela pisca, fazendo suas lágrimas caírem.
Johnatan levanta o dedo para interrompê-la.
― Não quer dizer que não esteja sendo monitorado. Você pode usá-lo
normalmente, mas se tiver algo estranho, ficarei sabendo ― Johnatan avisa.
Jordyn acena empolgada e coloca seu presente do seu lado.
― Obrigada... ― diz sem fôlego e pula sentada em sua cama. ― Sai
da frente, Mine ― a garota me empurra.
Sorrio com carinho ao vê-la atacar Johnatan com um beijo leve no
rosto e um abraço forte. De início, Johnatan fica surpreso, mas aos poucos
cede ao abraço, sorrindo sem jeito com sua reação.
― Que bom que gostou ― ele tenta se afastar do afeto.
― O senhor tem esse jeito que dá medo em todo mundo, mas, no
fundo, no fundo tem um bom coração ― Jordyn está em êxtase extremo. ―
Poxa vida! Imaginem quando tiverem um batalhão de filhos, serão bastante
mimados. Por falar nisso, quando terei um sobrinho ou uma sobrinha?
Seu comentário me faz engasgar com minha própria saliva.
29 – ENCONTRO

Meu corpo se choca contra o chão quando sou golpeada por Nectara
pela décima vez. Estou na segunda fase do dia. Não imaginei que ela seria tão
rápida em seus movimentos, ou talvez eu estivesse sendo a distraída.
― Cansada, senhora Makgold? ― escuto-a, enquanto me levanto
cambaleante.
E isso é só um aquecimento, muito pior do que foi com Johnatan.
Uma das coisas que observei em Nectara é que ela gosta de provocar, de estar
no comando de tudo, e, pelos seus olhos negros puxados, posso ver a
determinação, assim como a ousadia na esperança que seu oponente recue.
Afasto as mechas do meu rosto suado e a encaro seriamente.
― Nem um pouco ― respondo com firmeza.
Inspiro fundo antes de avançar para ela e continuamos nossa luta.
Estamos no tatame verde escuro, o espaço é amplo, como a maioria
das salas de treino da Colmeia. Na parede de aço, do lado esquerdo, há
coleções de armas. Muitas delas são adagas e espadas. Todos os armamentos
afiados estão muito organizados por tamanhos, alguns me parece estranhos.
Fora isso, o lugar é limpo, diferente da sala de vidros, à qual também fui com
Nectara na primeira fase e onde fui manipulada com os vidros se movendo,
enquanto a japonesa me atacava. Pior foi ter que seguir o primeiro treino no
escuro. Não sei qual parte do meu corpo está mais dolorido.
Num giro rápido, consigo agarrar um de seus braços, torcê-lo e jogá-
la contra o tatame com força. Afasto-me para inspirar fundo novamente,
enquanto seco meu rosto com minha própria camiseta. Um golpe forte em
meu joelho me faz curvar e, em seguida, cair. Aperto meus dentes e encolho
minha perna, massageando o local da dor.
― Jamais pense que venceu uma luta ― Nectara aconselha, depois,
joga a toalha em meu rosto e se afasta.
Reviro meus olhos. Sento-me, alongando meu corpo até meus pés.
― Agora, vamos começar? ― retruco com ironia ao me levantar.
Sigo até o frigobar para pegar uma água.
― Possivelmente ― zomba e logo se vira para me encarar,
amarrando seus cabelos com um palito. Eu observo sua agilidade. ― Você
precisa treinar ainda mais sua esquerda.
Aceno, enquanto bebo minha água. Na noite anterior, Johnatan disse
isso. Durante o jantar, comemos algo leve e seguimos para os treinamentos.
Eu queria esquecer a pequena discussão que tive com James, por isso,
começar com os treinos pesados faria arrancar o estresse que estava dentro de
mim. E consegui, mesmo tendo que lidar com os comandos e as exigências
de Johnatan. Mas, hoje, ao chegar à Colmeia, não duvidei de que fosse a isca
perfeita para Nectara, enquanto Jordyn permanecia praticamente de licença.
― Como está Jordyn? ― Nectara pergunta, e balanço minha cabeça,
voltando minha atenção para ela.
― Feliz por não estar aqui ― minha resposta a faz sorrir.
― Devo dizer que ela é boa, tanto ela quanto James, mas não elogio
― confessa.
Ergo meus olhos surpresa.
― E por que não?
― Elogiar faz com que as pessoas se iludam ― dá de ombros e se
afasta. ― Venha comigo.
Suspiro.
― Não vai me dizer que tem outra sala equipada para treinamentos
exclusivos com Nectara ― indago ao segui-la.
― Aqui há muitas salas. Em breve você terá a sua favorita, apenas
para treinar ― murmura, abrindo uma porta de aço e seguindo em frente.
Acho que o único lugar que se tornará o meu preferido é meu pequeno
espaço próximo à sala de monitoramento, onde está instalada minha barra de
ferro. Pelo menos, foi lá que eu exigi que meu pole dance fosse colocado
assim que cheguei à Colmeia.
Se do lado de fora há centenas de lâminas, aqui era bem diferente. Em
vez de paredes de aços, o lugar é substituído por mármore negra com as
iluminações avermelhadas embutidas e velas acesas, da mesma cor, em
candelabros de vidro. Observo algo escrito em japonês no teto, franzo a testa
ao pensar que seja uma pronúncia religiosa. As armas estão organizadas, o
lugar parece tranquilo e, ao mesmo tempo, intimidante. As velas aquecem a
sala e exalam um perfume suave. Fico parada no centro, enquanto Nectara
segue para abrir um compartimento de vidro à frente.
Quando ela se vira, têm em suas mãos um tecido de veludo vermelho
enrolado. Fico confusa e a vejo afastar o tecido para revelar dois cabos pretos
cintilantes.
― Pegue-as ― estende as mãos. ― São suas.
Confusa, pego os dois cabos e a encaro.
― O que é isso? ― analiso sem entender.
São frios e firmes, também um pouco pesados.
― Suas espadas ― Nectara responde com orgulho.
Espadas? Não é como as outras, em minhas mãos só há literalmente
dois instrumentos de metais escuros.
― Não me diga ― digo com sarcasmo.
Nectara abre um sorriso.
― Só segure os cabos com firmeza, mas longe do corpo. Com o
tempo você vai pegar a prática ― fico ainda mais confusa com sua
explicação.
Faço o que me pede e seguro os objetos com firmeza. De repente, dou
um salto para trás ao ver as lâminas retas saltarem para fora. É como uma
katana... Ou melhor... É uma katana.
Fico impressionada. Posso ver até mesmo minha expressão chocada
nas lâminas assim que as aproximo de meu rosto.
― Minha nossa ― murmuro ainda em choque.
― Eu mesma as criei. Bem, eu tenho meus contatos para criações das
minhas armas. São todas exportadas do Japão. A sua, em especial, é
programada com suas digitais. Se alguém tentar arrancá-la e usar contra você,
não conseguirá, pois as lâminas retornam para dentro.
Enquanto Nectara explica, observo o canto inferior entre o cabo e a
lâmina. Há duas pequenas setas, uma indicada para baixo e a outra para cima.
― O que isso significa? ― mostro a pequena marca.
― Isso simboliza o retorno.
Abro minha boca e aceno.
― Eu adorei ― não consigo parar de encará-las. ― Obrigada!
― Não há de quê. Em parte, foi o senhor Makgold que escolheu o
modelo ― minha instrutora me surpreende.
Abro meu sorriso e afrouxo os dedos, as lâminas pulam para dentro
novamente.
― Vamos treinar com elas? ― já estou esperançosa.
― Mas é claro! Achou que eu lhe emprestaria algumas das minhas?
― ela ergue sua sobrancelha, fazendo-me ri.
Voltamos para a sala ampla. Nectara tem uma espada mais pesada,
pelo menos é o que imagino. O cabo é mais resistente, de cor dourada, e a
lâmina mais grossa e pontuda.
Um clique alto da porta sendo fechada nos chama atenção e nos
viramos. É James, tem os cabelos bagunçados, usa calça moletom e uma
regata preta, expondo seus músculos. Em seu bíceps direito há um curativo.
Seus olhos claros me revelam que ainda está com raiva.
― Não pensei que estivesse ocupada ― dirige-se à Nectara,
caminhando descalço e deixando sua bolsa escura próxima a saída.
― Está atrasado ― Nectara o repreende.
Ele acena.
― Estava com Jordyn ― confessa.
― Pelo que eu saiba, é Jordyn que está se recuperando, e não você ―
a japonesa ergue seu indicador quando James abre a boca, pronto para
protestar. ― Nada de romances e sentimentos intensos. A partir do momento
que entram nessa sala, devem manter em suas mentes que estão para
aprender, para honrar seus compromissos. Fora daqui, podem fazer o que
quiserem ― sinto que seu aviso é até mesmo para mim.
― Como você quiser ― James diz com os dentes apertados, e o vejo
pegar sua espada em sua bolsa.
Nectara nos observa.
― Interessante... James, lute com a Mine.
Arregalo meus olhos para ela.
― Só pode estar de brincadeira ― disparo irritada.
― Você tem suas espadas e James tem a dele. Assim como observou,
os movimentos de seus oponentes numa luta corporal, não será diferente. Só
tem que ter cuidado. Ambos possuem armas ― Nectara explica, mas quero
protestar.
Antes que eu tome qualquer atitude, sinto a aproximação de James.
Ao me virar em sua direção, arregalo meus olhos e aperto meus cabos
fazendo as lâminas aparecerem. Ergo-as acima da minha cabeça quando a
espada de James se choca contra as minhas, num peso brutal. Ele rosna e,
num impulso, faço-o se afastar até ver as faíscas das lâminas afiadas raspando
umas nas outras.
James gira sua espada nas mãos com velocidade e volta a tentar me
atingir. Observo seus movimentos brutos e me afasto, usando minhas espadas
contra a sua.
Pela minha visão periférica, Nectara nos assiste com atenção, como se
examinasse nosso comportamento. Sinto James mais bruto do que no
primeiro ataque. Quando ousa tentar me atingir no estômago, recuo e golpeio
suas costelas com um chute. O garoto não se intimida, mas nos damos
espaço, circulando pelo tatame, enquanto avaliamos um ao outro.
Ele tem a expressão séria e os olhos frios. Quando toma a iniciativa
de atacar, curvo-me para arrastar uma das minhas pernas em seus
calcanhares, fazendo-o pular para não ser atingindo. Rosno exasperada e me
defendo quando ele volta a avançar. Eu sequer tenho espaço para escalar seu
corpo como uma serpente para derrubá-lo de vez.
Devo confessar que ele é bom; mesmo possuindo uma só espada,
quase do mesmo modelo de Nectara, ele a mantém como proteção para seu
corpo. Por outro lado, sua brutalidade acende minha raiva, fazendo com que
eu revide as agressões.
Assim como uso as espadas, utilizo meu corpo quando vejo que tenta
me atingir com os braços levantados. Logo, golpeio sua coxa com um chute
forte. James se curva e, com minhas espadas seguradas com firmeza, consigo
desarmá-lo.
― Bom ― o tom de Nectara me faz me afastar de James. ― Espero
que, com essa pequena atividade, tenha resolvido o problema de vocês.
Respiro fundo, enquanto observo James se levantar cambaleante.
― Como estão? ― a voz de Johnatan invade a sala.
Fico mais tranquila ao vê-lo se aproximar. De imediato, sua testa
franze para James curvado, massageando a coxa esquerda.
― Num ótimo começo de treinamento ― Nectara responde e me
olha. ― Só precisa de mais peso pesado.
― Espero que não seja para descontar a fúria ― disparo para James.
― Lembre-me disso da próxima vez ― murmura.
― Suponho que já fizeram as pazes ― nossa treinadora cruza os
braços.
Reviro os olhos.
― Certo! O que eu perdi? ― Johnatan pergunta atento.
― Não foi nada demais ― interrompo. ― James só está preocupado
com Jordyn. ― evito falar muito, mesmo assim, meu marido tem seus olhos
em alerta, principalmente para James.
― Eu só não gostei da maneira como trataram Jordyn para um
interrogatório ― James desabafa, enquanto inspira fundo.
― Seria evitado se Jordyn não tivesse concordado, mas ela estava de
acordo ― Johnatan diz seriamente.
― Olhem só! Obrigada pela interrupção, senhor Makgold, mas
estamos em um treino ― Nectara dispensa-o sem rodeios.
― Vim buscar minha esposa ― Johnatan comunica, puxando-me
para seus braços.
― Agora? ― a japonesa ergue sua sobrancelha.
― Exatamente ― informa no mesmo tom cético. ― Vamos.
Franzo o cenho, em seguida, eu o observo.
― O que houve? ― caminho ao seu lado.
― Não posso ficar muito tempo longe de você ― Johnatan desabafa
assim que dá espaço para eu passar.
Sorrio com doçura.
― Mas preciso treinar ― digo chocada. ― Você viu minhas espadas?
― mostro meus cabos para ele.
Johnatan me lança um sorriso doce ao ver minha empolgação.
― Que bom que gostou ― beija minha testa.
― Mesmo assim, preciso praticar ― lembro-o.
― Eu sei ― sorri, acariciando meu rosto. ― Por que não me disse
que você e James estavam com problemas? Sabe que eu poderia resolver em
questão de segundos.
― Acredito nisso, mas ele se importa com Jordyn, está gostando dela
― confesso.
― Deveria proibir relacionamentos na equipe... ― Johnatan murmura
pensativo.
― Isso vale para nós? ― escondo meu sorriso.
― Por isso que não posso proibir ― ri, e seguimos juntos pelo
corredor.
― E quanto ao Zander? Acredita que ele possa sentir algo por
Jordyn? ― reflito, abraçando sua cintura.
― Amor e compaixão são sentimentos que aquele infeliz não pode ter
― Johnatan dispara com frieza.
Estremeço.
― Ele falou algo hoje?
― O de sempre, se é de manhã, tarde ou noite... Nada de interessante
― Johnatan revela satisfeito. ― Na verdade, agrada-me ver o verme confuso
com o fuso horário.
Balanço minha cabeça, sorrindo com seu humor sombrio.
― Senhor... ― olho para frente, Cassandra se aproxima numa postura
rígida. ― Problemas.
Sinto todo o alívio de Johnatan ao meu lado evaporar. Logo, seguimos
Cassandra rapidamente até a sala de monitoramento.
― Shiu ― Johnatan já o chama com urgência.
― Houve um ataque em uma das suas empresas, senhor. ― Shiu
informa com atenção, digitando em seu teclado e colocando o fone no
ouvido, atento à tela.
― Qual? ― Johnatan exige.
― Em Dallas. Os funcionários foram feitos de reféns, enquanto uma
parte dos bandidos vasculhavam o prédio ― Cassandra explica. ― Poucos
conseguiram escapar. Por outro lado, os tais bandidos são bastante
organizados.
― LIGA ― Johnatan sussurra com rispidez.
― Acabaram de explodir o gerente de telemarketing, senhor! ― Shiu
comunica em choque, assustando-me.
― Ligue para a empresa e transfira para mim! ― Johnatan ordena
firmemente.
― O senhor não pode correr esse risco. Todos pensam que está morto
― Shiu dispara e vejo Matt se aproximar.
Johnatan se curva para Shiu com frieza.
― Eu dou as ordens e você as obedece ― Shiu engole seco e acena
temeroso. ― Não deixe o assunto vazar para a imprensa. Se qualquer um
tiver provas contra isso, suborne, pague para manterem a boca fechada ―
Johnatan ordena.
― Sim, senhor ― Shiu balança a cabeça.
― Vamos manter a calma, temos uma reunião hoje ― Matt
aconselha.
Os olhos azuis em chamas de Johnatan são disparados para mim.
― Cancele!
― John...
― Está vendo o que está acontecendo? É arriscado! ― sibila.
― Não acho que correremos o risco ― Matt tenta manter o equilíbrio
do humor sombrio na sala. ― Pense, não podemos nos intimidar diante disso.
Johnatan esfrega seu rosto e vejo Dinka se aproximar, ele parece que
acabou de sair de um treino pesado.
― Vamos reforçar a segurança ― Johnatan alertar. Logo, vejo Dinka
compreender a situação ao se afastar rapidamente. ― Se notar qualquer coisa
fora do normal, mantenha-me informado. Gaspard entrou em contato? Ele
deveria ter falado sobre esse ocorrido.
― Não, senhor. Já tentei localizá-lo, mas não consegui.
Provavelmente, a máfia decidiu agir de última hora ― Cassandra explica.
Balanço minha cabeça para manter meus pensamentos focados.
― O que devo fazer nessa reunião? Seria bom eu me preparar. Agora,
mais do que nunca, não sabemos com quem estamos lidando ― interrompo e
vejo Matt concordar.
Johnatan suspira.
― Teremos cortes com alguns empresários. Descobri desvio de
dinheiro em algumas partes dos relatórios. Os documentos de algumas
empresas até mesmo estão incompletas ― Johnatan esfrega seus cabelos
exasperado.
Atento-me no que devo fazer. A maior parte do serviço é com Matt.
Da minha parte, só precisará da assinatura. Johnatan dá nomes, mas ao
mencionar Nicole, minha expressão se amarga.
― Vou ter que olhar mesmo para a cara daquela mulher? ― digo com
repulsa.
― Mantenha as aparências, amor. Sei como se sente perto dela, mas,
em momentos assim, com testemunhas, seria arriscado. ― Johnatan
aconselha.
Faço uma careta.
― Vou fazer o possível ― dou de ombros.
― Tudo bem, cuide dos negócios de Dallas, mas não se arrisque
diretamente ― Matt pede ao amigo.
Johnatan olha em minha direção, encarando-me de cima abaixo.
― Cassandra! ― seu chamado me assusta.
― Sim? ― ela se aproxima.
― Ajude Mine a se vestir ― Johnatan ordena.
― Claro. Vamos? ― viro-me automaticamente para pegar minhas
espadas, que havia deixado sobre a mesa e a sigo.
― Ele fica insuportável quando se coloca como chefe mandão ―
resmungo.
Cassandra disfarça sua risada com uma tossida.

No quarto de Johnatan, caminho para o banho, deixando Cassandra


escolher minha vestimenta. Depois do rápido banho, seco meus cabelos com
o secador e volto para o quarto, vendo as roupas organizadas na cama.
― Eu tenho roupas reservas aqui? ― disparo assim que Cassandra
termina de escolher meus sapatos.
― O senhor Makgold passou suas medidas e comprei algumas peças.
Aliás, sugiro em mudar um pouco seu estilo de jeans para tecidos diferentes
― opina com satisfação.
― Eu não uso apenas jeans ― defendo-me. ― Também uso moletom
― Cassandra sorri.
Ok! Minhas roupas são: um blazer justo escuro, calça social apertada
branca e salto alto preto. Em meus cabelos, Cassandra faz uma rápida trança
embutida, enquanto eu faço uma leve maquiagem.
Quando ela ousa tocar em meu colar de rubi, o qual Johnatan me deu
e depois que o consertei jamais tirei do meu pescoço, afasto-me.
― Só estou tentando colocar no lugar certo ― Cassandra murmura.
― É uma bela joia. Simples, mas elegante.
― É importante para mim ― digo com um sorriso leve.
― Sei que sim ― sorri com simpatia. ― Pronta?
Suspiro.
― Só me dê um minuto ― peço.
Assim que ela sai do quarto, pego uma das minhas espadas e faço um
furo falso dentro da manga do blazer e encaixo o cabo no tecido. Seja o que
Deus quiser, rogo.
Na sala de monitoramento encontro apenas Johnatan, Matt e Dinka.
Quando sente minha presença, meu marido se vira para me olhar.
Seus olhos azuis rapidamente ficam derretidos. Coro com seu sorriso
torto.
― Obrigado, Cassandra ― Johnatan agradece, fazendo-a se afastar
quando ele se aproxima de mim. ― Acho que você fica linda até com saco de
batatas.
Seus braços me envolvem e o abraço com força, sentindo seus
músculos tensos.
― Que belo elogio ― beijo seus lábios levemente.
― Você está sempre maravilhosa ― Johnatan sussurra, distribuindo
beijos leves por minhas bochechas.
Meu coração dispara com toda a sua delicadeza.
― Tenho que ir mesmo? ― faço beicinho.
Johnatan morde o lábio inferior e suspira.
― Sim, é melhor. Mas estaremos atentos. Você e Matt vão seguir
com Dinka de carro até o centro da cidade, lá vão pegar um helicóptero ― a
partir daí, eu não consigo escutar mais nada depois de helicóptero.
30 – REUNIÃO DE NEGÓCIOS

Seguimos de helicóptero tranquilamente. Pelo menos, para eles era


tranquilo. Estar numa máquina longe do solo não é algo que me agrade,
porém se essa é a forma de chegar mais rápido, quem era eu para discutir.
― Como se sente, Mine? ― Dinka pergunta pelo fone.
Faço uma careta.
― Coisas que sobrevoam não são minha praia. Literalmente ― minha
reclamação o faz gargalhar.
― É só questão de costume. Cassandra também não era fã, agora
consegue pilotar até uma aeronave de carga ― diz sorrindo.
Fico impressionada.
― Johnatan vai nos encontrar? ― pergunto a Matt ao meu lado.
― Provavelmente, mas é bom mantê-lo distante. Depois desse ataque,
seria arriscado demais colocá-lo à vista, mesmo com um disfarce ― o
advogado explica.
Suspiro.
― Não vou precisar falar muito, vou? ― mordo meu lábio
nervosamente.
― Apenas o essencial, eu estarei com você na sala. O que precisa
fazer é dispensar as companhias informadas ― Matt sorri amigavelmente.
― E voltaremos nessa coisa? ― olho brevemente para baixo.
― Não. Para sua tranquilidade voltaremos de carro ― um rápido
alívio me invade com as palavras de Matt.
― Ótimo!
― Olha só para você. Se borrando toda ― Dinka gargalha, mas logo
tosse ao escutar alguém pelo fone. ― Senhor? Claro, já estamos próximos.
Sorrio divertida ao perceber que é Johnatan.
Não que seja uma vista horrível, mas é horripilante, extremamente
alto e algo com que não me acostumarei tão cedo. Engulo meu nervosismo e
olho para frente, fitando o banco cor de creme de Dinka.
Quando sinto o helicóptero descer, é pior. Meu estômago gela e
minhas mãos suam. Novamente, volto a encarar o lado de fora, observando o
terraço aberto do prédio alto.
― Terra firme. Ou quase ― escuto Matt antes de sair do helicóptero.
Observo ao meu redor. Há alguns seguranças de terno, que correm
curvados até o advogado para lhe dar um aperto de mão firme.
Franzo a testa.
― Não vai descer? ― Dinka pergunta divertido, e reviro meus olhos.
― Você é pior que Shiu ― resmungo, rindo, enquanto afasto meu
cinto.
― Na verdade, ele rouba o humor das pessoas ― o atirador brinca.
Olho para cima.
― Esse negócio não vai parar de girar? ― reclamo mais para mim
mesma.
Tento abrir a porcaria da porta. Logo, vejo Matt abri-la para mim.
Desço com a ajuda do advogado e me curvo devido ao vento forte e
ao barulho da aeronave. Matt abraça meus ombros e me leva para longe até
chegarmos ao elevador.
Um segurança acena com simpatia, em seguida, chama o elevador.
Olho para trás, observando Dinka se afastar com o helicóptero monstruoso.
― Ele vai para muito longe? ― murmuro para Matt.
― Não, muito ― responde ao entrarmos no elevador.
― Há muitos funcionários?
― Sim. Não só aqui, mas em outros lugares também.
― Desligar-se de algumas companhias significa demissão para os
funcionários?
― Se o responsável não agiu de forma legal, ou lucrativa para
benefício exclusivo de sua empresa e apenas se escorou na nossa, a tendência
será cair ― explica.
Quando as portas de aço se abrem, saio junto com Matt. O andar é
espaçoso, com uma vista panorâmica incrível pelas paredes de vidro. Há
pessoas andando de um lado para o outro, concentradas em seus trabalhos.
Três recepcionistas nos cumprimentam educadamente. Seus uniformes são
ternos azul-escuros e camisa branca. As paredes de mármore brancas dão
mais claridade ao lugar, ao mesmo tempo que apresenta uma placa de pedra
elegantemente escrita “MK Enterprise”.
― Com que tipo de negócio Johnatan trabalha mesmo? ― sussurro
para Matt, enquanto o sigo pelos corredores e encaro a vista do lado de fora
pelas paredes de vidro.
Meses atrás, antes da “morte” do meu marido, lembro-me de termos
conversado sobre isso, mas estou tão apreensiva que preciso focar a mente
em outras coisas.
― Johnatan é um bom empreendedor. Como pode ver, ele não se
contém com apenas uma área de trabalho. Possui ramos em eletroeletrônicos,
telecomunicações, automobilístico, entre outros.
― Poxa vida ― surpreendo-me.
Ao viramos para outro corredor, encontramos outra recepcionista em
seu balcão branco de mármore.
― Boa tarde, senhor Polosh ― ela o cumprimenta.
― Boa tarde, Amanda. Essa é a viúva de Johnatan Makgold, Mine
Makgold ― Matt apresenta, fazendo-me piscar.
Amanda me olha por trás dos seus óculos com surpresa.
― Seja bem-vinda, senhora ― cumprimenta-me assim que se
recupera do choque. ― Querem tomar alguma coisa? Um café, um suco...
― Não. Obrigado, Amanda ― Matt a interrompe. ― Eles já
chegaram?
― Sim, senhor. Estão na sala de reunião ― a recepcionista informa
rapidamente, enquanto pega seu tablet.
Em seguida, Matt ergue sua mão, interrompendo-a.
― Não precisa avisá-los, já estamos indo. Não queremos interrupções
― fico mais aliviada por ele dar as ordens.
― Claro, senhor ― Amanda diz com um sorriso educado. ―
Também informo que a senhora Banks não estará presente na reunião hoje.
― Como? ― Matt se surpreende, enquanto eu suspiro aliviada.
― Ela enviou um porta-voz ― nós nos viramos, surpresos, ao ver
Nectara.
Ela está como as outras funcionárias, vestida com terninho, saltos e os
cabelos amarrados num coque perfeito. Ergo minha sobrancelha para ela.
― Que seja ― Matt dispara exasperado.
― Ela viajou? ― pergunto para a recepcionista pela primeira vez,
vendo seus olhos claros piscarem antes de voltar sua atenção para conferir o
tablet.
― Não senhora, ela está no prédio ― franzo a testa. ― E pediu para
não ser interrompida. ― a mulher engole em seco.
Pergunto-me o que ela faz aqui, mas logo desisto, já que é uma das
parceiras direta da MK Enterprise.
― Quer que eu a chame, senhora? ― Nectara pergunta, e a encaro
por um instante.
― Não, tudo bem. Deixe-a ― digo com uma careta. ― Quanto mais
cedo isso terminar, melhor. Ela na sala fará meu dia ser mais longo.
― Tudo bem ― Matt diz antes de me dar espaço. ― Vamos?
Caminho à frente até encontrar uma porta alta de madeira branca.
Matt a abre e entro na sala. Os homens vestidos com seus ternos impecáveis
param de falar assim que invadimos a sala aberta, a qual possui uma parede
fosca de vidro. A mesa de vidro oval está circulada por empresários e sinto
minhas bochechas queimarem.
― Por favor, senhora ― Matt puxa a cadeira principal para que eu me
sente.
Agora, virei o centro das atenções. Cerca de dez pares de olhos me
encaram, esperando por algo. Engulo em seco, enquanto observo Matt se
sentar ao meu lado para abrir sua maleta e colocar a pasta de documentos à
minha frente com uma caneta.
― Para quem não conhece, essa é a senhora Makgold. ― Matt
informa sem qualquer detalhe.
Todos ficam surpresos, mas não questionam.
Um senhor do lado oposto com os olhos gentis e cabelos grisalhos me
encara com tristeza.
― Sinto muito por seu marido. Ele era um bom homem ― lamenta
com sinceridade.
Aceno agradecida, ao mesmo tempo penso em como reagiriam se
Johnatan aparecesse de repente.
Depois de receberem a notícia, algum deles se encostam em suas
cadeiras impacientes. Um deles, de cabelos escuros e terno preto, parece
tranquilo demais, enquanto organiza os papéis à sua frente.
― Podemos começar? ― um homem louro dispara inquieto.
Matt pigarreia. Logo, pego a caneta à minha frente como distração.
Fico ereta em meu assento e inspiro fundo, não demonstrando meu
desconforto. Em parte, o ar frio do ar condicionado me incomoda.
― Não vamos apresentar nenhuma ideia para a senhora Makgold, ela
só está aqui para assinar alguns cortes ― Matt anuncia.
Agora sim, eles estão preocupados. O loiro se levanta em protesto.
― COMO É?! ― ele se sobressalta. ― Mal começamos um acordo e
já vamos ser dispensados?
― Muitos aqui têm anos de trabalho com a empresa Makgold, Carlos.
Você apenas é novo no ramo, está tendo que se adaptar agora ― o advogado
explica.
― NÃO ESTÁ PARECENDO! ― o tal Carlos explode.
Uh! Isso vai ser complicado, penso.
― Sei que os nervos de muitos aqui estão alterados. Como bom
advogado, peço que se acalme, ainda não disse quem irá ser cortado. ― Matt
pede tranquilamente, mas Carlos ri sem humor.
― A minha cliente está sabendo sobre isso? ― um homem de terno
escuro interrompe a discussão, nós o encaramos. ― Sou Theo Villares, porta-
voz da senhora Banks. ― ele se apresenta e aperto meus dentes.
― Se ela estivesse aqui, saberia ― disparo com frieza, chamando a
atenção de todos. ― E quanto a você, Carlos, não precisamos enrolar ao dizer
que o senhor está desligado da empresa a partir de agora.
Vejo a fúria nos olhos do loiro.
― Então, eu receberei meus direitos, pois fechei um acordo com a
empresa ― Carlos dispara um pouco mais calmo.
― Sua empresa não investiu nem um terço do foi que esperado nos
últimos seis meses, como consta no relatório, Carlos. Não precisamos nem da
sua assinatura para afastá-lo daqui ― Matt esclarece.
Carlos puxa o ar com força.
― DANE-SE! ― o loiro diz, pegando sua maleta e saindo
exasperadamente.
O restante dos homens permanecem no aguardo. Matt balança a
cabeça e continua a reunião explicando o motivo. Ao falar dos lucros da
empresa, vejo alguns se encolherem e se olharem com desconfiança. Eu o
escuto com atenção, mesmo atenta à reação de cada um, principalmente de
Theo, que está tranquilo ao falar de Nicole e seus negócios, os quais vêm
dando benefícios dentro e fora das empresas.
Quando o advogado concorda, aperto meus lábios para não
demonstrar meu desconforto. Logo, o homem sorri satisfeito com seu
progresso e, com a permissão de Matt, apresenta brevemente um projeto na
intenção de puxar nosso interesse.
― Soa como outra parceria ― Matt indaga.
― Exatamente. Com os produtos conquistando seu espaço,
poderíamos conseguir bem mais que isso. Os cosméticos hoje em dia estão
em alta ― Theo opina com simpatia.
― E eu pensando que teríamos cortes ― sussurro sem querer, mas
meu tom sai alto demais.
Vejo o senhor grisalho ao meu lado se curvar discretamente para
disfarçar seu sorriso com meu comentário.
― Acho melhor começar com o assunto dos cortes em vez de
estarmos aqui, assistindo a uma apresentação, enquanto estamos ansiosos e
nervosos ― outro homem, de cabeça raspada, interrompe.
Olho para o advogado, que acena rapidamente.
Assim que Matt informa, alguns não reagem bem, mas antes de
virmos para cá, investigamos todos os empresários, assim como seus perfis e
sobre os desvios de dinheiro. Para outros, Matt até opinou em comprar a
empresa, porém muitos rejeitaram. No final, assinei alguns papéis mais
antigos.
Era impressionante ver como Matt tinha a carta na manga contra o
ataque de qualquer um deles, usando, em sua defesa, como um bom
advogado. De dez empresários, restaram apenas três. E fiquei feliz que Albert
Evans, o senhor grisalho e simpático ao meu lado, permanecesse como
parceiro, mas, para o meu desagrado, quem permanecia também era Theo,
isso significava que Nicole continuava conosco. Por enquanto... Suspiro
exasperada.
― Bem, já que chegaram a um acordo, peço agora que avaliem o
relatório do projeto e assinem o acordo para mais uma parceria ― Theo
quebra o silêncio na sala, quando os outros dois empresários saem, e entrega
as pastas para cada um de nós.
Encaro a pasta com desdém, em seguida, folheio seu relatório.
― Basicamente, é tudo que eu já falei aqui na sala. Como podem
notar, nas próximas páginas, vocês verão as normas colocadas na empresa, o
organograma, custos de mão-de-obra e matéria-prima, perspectiva de lucros,
entre outros. Por falar em lucros, já que a empresa vai passar por uma
transformação, na próxima semana posso trazer o lucro e o prejuízo que essa
empresa já teve. A senhora Banks apenas quer investir nela para buscar um
melhoramento. Tendo a Makgold como parceira, será um ótimo
investimento, assim como o reconhecimento da marca...
― Se você parar de tagarelar, podemos analisar o projeto com calma
― Matt o interrompe e volto a encarar os papéis à minha frente.
― Claro, senhor ― Theo acena com um sorriso apertado.
― É como você disse... ― o advogado murmura atento ao relatório.
― Parece um bom investimento ao analisar os custos ― continua.
― Com certeza.
Theo abre seu sorriso satisfeito, logo me encara esperando. Volto
minha atenção para os papéis novamente, folheando com calma.
― O que acha da ideia, Mine? ― Matt pergunta.
Continuo atenta à papelada, dessa vez, com mais calma. Não são
muitas páginas, apenas o suficiente para saber o que se passa na empresa.
― Isso é como um contrato? ― pergunto, lendo a última folha.
Oh! Eu fico feliz por ter esperado dar a resposta, em relação à Nicole,
até esse momento.
― É só um acordo. Depois, seguiremos para um contrato mais
específico e de pleno comprometimento com a empresa ― o tal porta-voz
explica.
― Bastante organizado ― murmuro, lendo o acordo, embaixo há uma
assinatura que penso ser de Nicole. ― Nicole já assinou sem nos comunicar?
― Ela só fez por precaução ― Theo informa.
― E como ela sabe que iremos aceitar? ― observo.
― Acredite senhora, ela é muito intuitiva ― Theo diz em sua defesa.
― Deve ter sido na época de Johnatan ― disparo, sem esconder meu
sarcasmo e suspiro. ― Parece bom...
― Algo lhe chamou a atenção, Mine? ― Matt pergunta, posso ver
que ele também está interessado na minha opinião.
Junto as dez folhas e as coloco organizadamente na mesa, em forma
de triângulo.
― Bem... ― sorrio ao ver Theo olhar para os papéis, postos na mesa
daquela forma, com atenção. ― Cada página possui frases controversas, mas,
ao mesmo tempo, dando o sentido a tudo que tem falado, mas há muita
lealdade, importância, interesse, garra, aliança, as palavras vão se
modificando nas próximas páginas com o mesmo comprometimento já
citado, só que em sinônimos. Até mesmo em um dos tópicos numerados, o
oito, me chamou bastante atenção. Veja, começou com: liderança, e terminou
em: garantida ― grifo as palavras enquanto explico e me afasto. ― E como
podem ver, cada página se liga com as palavras entre um símbolo triangular,
tanto na frente quanto no verso.
O sorriso petulante de Theo desaparece aos poucos. Matt ergue a
sobrancelha.
― Eu só passei o que foi informado, senhores ― o porta-voz diz em
sua defesa.
― Mas de forma errada, garoto ― Matt murmura friamente. ― É
melhor continuar em seu assento, pois acho que o senhor Makgold irá lhe
fazer uma visita ― a ameaça faz Theo estremecer e me encarar assustado.
― Nicole Banks não tem mais nenhum vínculo com essa empresa ―
digo em tom autoritário.
Afasto-me da mesa e caminho até a porta, ignorando o homem
grunhir quando Matt o segura preso no lugar. Assim que estou fora da sala,
vejo Nectara vir em minha direção.
― O senhor Makgold está a caminho ― murmura, caminhando ao
meu lado.
Agora entendo porque Nectara está aqui, a informação corre mais
rápido para não se ter qualquer suspeita.
― Disfarçado? ― pergunto.
― Sim, senhora ― informa e faço uma careta.
― Só, Mine, por favor ― peço.
― Todos pensam que fui assistente pessoal do senhor Makgold em
Orlando e me enviaram para cá para uma consultoria. Não tenho a liberdade
de lhe tratar de forma amigável ― Nectara continua profissional. ― Como
foi à reunião?
― O porta-voz nos entregou documentos ligados à LIGA, não fico
surpresa que isso seja coisa de Nicole ― murmuro entredentes. ― Ela queria
aliar a máfia com essa empresa. Eles estão procurando alguma maneira de se
aproximar, por mais óbvio que sejam.
― Espero que não tenham assinado ― Nectara sussurra.
― Não ― afirmo. ― E tenho meus motivos de deixá-la fora disso
tudo. Ela não se atreverá a fazer um escândalo, pois se expor será pior para
ela também.
― Ela já foi informada? ― Nectara pergunta.
― Provavelmente seu porta-voz informou escondido — pelo celular
— o que ocorria durante a reunião, mas não sei agora nas últimas horas ―
esfrego minha testa.
― Então, ela ainda se encontra aqui, no décimo quinto andar ― assim
que Nectara comunica, viro-me para encará-la. ― Eu a acompanho.
Antes que eu diga qualquer coisa, a japonesa já chama o elevador.
― Senhora Makgold,... ― escuto alguém me chamar e correr em
minha direção.
Olho para trás, confusa ao ver Amanda.
― Sim?
― Há uma mulher que insiste em falar com o responsável da
empresa, provavelmente é um fornecedor. Está há uma semana insistindo ―
a recepcionista informa.
Franzo a testa.
― A senhora Makgold tem outra reunião particular para tratar no
momento. Peça para a pessoa deixar o telefone. Caso haja interesse,
entraremos em contato ― Nectara ordena por mim e me puxa para o
elevador.
― Mas... ― antes que Amanda diga mais alguma coisa, vejo as
portas de aço se fecharem.
― Reunião particular? ― ergo minha sobrancelha para Nectara,
enquanto descemos.

Assim como o andar de cima, o lugar é aberto, organizado e espaçoso.


Sigo Nectara até os corredores e nem mesmo sou apresentada. As
recepcionistas, ao verem a assistente pessoal, organizam-se em seus lugares,
tendo sua total atenção em seus trabalhos. Por um momento, pergunto-me se
isso é por causa de sua consultoria ou se já sabem quem eu sou. Droga
Johnatan!
Ao passarmos por um corredor amplo, seguimos até o final dele.
Nectara gira seus calcanhares e se coloca em postura de vigilante.
― Aproveite ― diz, colocando seus braços atrás do corpo e olhando
para frente.
Aceno e caminho até a porta de madeira firme, empurrando-a sem
bater.
Entro na ampla sala abruptamente. Assim como a recepção, o espaço
é aberto, com uma vista panorâmica extraordinária. A sala possui paredes
claras e estofados escuros. Encaro a cadeira giratória de veludo virada de
costas para mim. Percebo que a víbora está ao telefone, provavelmente
escutando quem está do outro lado da ligação
Quando fecho a porta com força atrás de mim, assisto à cadeira girar
rapidamente. Nicole continua a mesma, com o semblante frio e arrogante.
Sua sobrancelha perfeita se ergue ao me encarar de cima abaixo. Seus cabelos
loiros estão lisos e sua maquiagem carregada destaca seus olhos castanhos. O
sorriso faz seus lábios vermelhos se repuxarem forçadamente para revelar
seus dentes perfeitos.
― Mas que surpresa desagradável ― seu tom de voz faz meu
estômago se embrulhar. ― O que posso fazer por você? ― meu sangue ferve
de imediato.
A loira afasta sua cadeira. Depois de desligar o telefone, levanta-se e
segue para a frente de sua mesa. Ela usa um conjunto preto: calça social justa,
camisa sem mangas e sapatos de salto agulha da mesma cor.
― Vim informá-la pessoalmente de que está fora da companhia ―
anuncio com o mesmo sarcasmo. ― A partir de hoje, você não tem
autorização para entrar nesse prédio, muito menos vincular investimentos na
Makgold ― disparo, fazendo seu sorriso se apertar e seus olhos ferver.
― Matt não a informou de que há quebra de contrato com essa
atitude? ― Nicole demonstra seu interesse.
Sorrio.
― Da sua parte, ele já foi quebrado há muito tempo ― ergo minha
sobrancelha. ― Ou pensou que eu não saberia que os lucros da empresa
estavam sendo desviados? Ou também não passou pela sua cabeça que seu
porta-voz estava tentando nos manipular na sala de reunião para conseguir
uma assinatura em um documento quase perfeito? Por sorte, consegui
encontrar erros tão óbvios. Erros esses que chegam a ser ridículos ― digo
seriamente.
Seus olhos piscam e sua gargalhada nervosa preencher nosso espaço.
― Isso é um absurdo! ― ela se exalta, batendo suas palmas em suas
coxas. ― Você se sente tão segura de si, tão poderosa, que age como louca. E
quanto aos lucros, você não tem provas contra isso. Há outras pessoas
envolvidas nessa parte ― Nicole sorri com petulância ao caminhar pela sala.
― Essas pessoas, que imagino terem estado comigo na sala de
reunião, foram obrigadas a aceitar de bom grado, não é mais uma dor de
cabeça ― informo com desdém. ― Agora, se você se refere a outros
envolvidos, isso não depende de mim. Essa é a única companhia que você
pode fazer o que bem entender, não é mesmo?
― O que está querendo dizer? ― sua pergunta é ríspida.
― Não finja ser o que você não é, Nicole ― ironizo. ― Pode ter
enganado muitas pessoas, mas não a mim.
Seu sorriso se abre, enquanto cruza os braços.
― Você não sabe nada sobre minha vida ― murmura com um ódio
explícito.
Ergo minha cabeça.
― Conheço o suficiente para saber que tipo de pessoa você é e com
quem lida ― digo no mesmo tom.
― Ficaria impressionada em descobrir ― lança seu sorriso sombrio.
― Acredito que não ― aceno. ― Então,... faça o favor de pegar suas
tralhas e dar o fora.
Esforço-me para sair da sala antes que meu pouco controle se afunde.
― Só mais uma coisa ― eu a escuto atrás de mim, interrompo meus
passos para encará-la. Seu rosto se ilumina. ― Você viu a minha excitação
quando matei sua mãe?
Sua provocação faz meu ódio subir. Fecho minhas mãos em punhos
firmes e aperto meus dentes com força. Talvez perder o controle seja algo
bom, já que Nectara me daria cobertura do lado de fora, como ela mesma
disse: "Aproveite". Mas não dessa maneira, sei como Nicole usa as palavras
em sua defesa para atingir qualquer um. Meus olhos ferventes avaliam sua
postura tranquila e, ao mesmo tempo, fria.
― Então, você sabe dos últimos ocorridos muito bem. Anda bem-
informada ― digo pausadamente, vendo seu sorriso se abrir ainda mais. ―
Tenho certeza de que o que vi naquele vídeo foi mais que excitação, mas
agora me pergunto se agiu da mesma forma quando matou seu marido, o
doutor Michael Banks.
O sorriso petulante desaparece. Em seguida, Nicole avança até a mim.
― COMO SE ATREVE?! ― rosna furiosa, erguendo seu braço na
tentativa de me atingir.
Agarro sua mão com força e torço seu braço, empurrando-a para trás.
Ela pisca surpresa, mas volta a avançar, dessa vez, movendo seus dois braços
com uma agilidade profissional enquanto recuo e acerto seu rosto com um
soco, fazendo-a cambalear. Nicole joga seus cabelos louros para trás e limpa
o sangue que escorre de sua boca.
― Tenho certeza de que sabe fazer melhor que isso ― provoco-a.
Ela grunhe ao se levantar e logo volta a me atacar, agora, com mais
brutalidade, movendo seus braços e pernas. Empurro-a contra seus ataques no
momento em que estou na defensiva, apenas observando seus movimentos
até golpeá-la com meu salto em seu joelho. Para minha surpresa, ela não se
importa com a dor e continua a se mover com fúria excessiva.
A frieza em seus olhos escuros são nítidos. Em um movimento em
que ela usa com uma das pernas, ao atingir minhas costelas, me faz ter o
impulso de socar seu peito para que se afaste. Ela escorrega, mas se equilibra
seus saltos no lugar para não cair. O corte que fiz no canto da sua boca
completa seu sorriso egoísta com sangue.
― Como está Johnatan? ― tenta me provocar. ― Está usando você
como fez comigo? Posso dizer que foram bons tempos.
― Vai para o inferno! ― sibilo.
Agora eu a ataco, mas com mais brutalidade. Quanto mais minha
raiva cresce, mais eu desconto em seu corpo, principalmente em seu rosto
perfeito. Nicole não me surpreende por saber lutar com tanta facilidade, só
que não é a melhor no ramo.
Estamos numa luta frenética, cheia de fúria, circulando pela sala sem
nem mesmo nos importar com as coisas que quebramos. Em um dos meus
ataques, subo em um banco estofado e atinjo sua cabeça, fazendo-a tropeçar.
O corte acima da sua sobrancelha direita surge rapidamente e sorrio satisfeita
com o que meu anel provocou. Nicole rosna ao inspirar, mas antes que eu me
proteja, ela consegue atingir meu estômago com um chute. Puxo o ar com
força e encaro o chão assim que caio aos tropeços contra as cadeiras
próximas.
Em seguida, sinto meus olhos arderem quando puxa meus cabelos
ruidosamente, levando-me para trás, atingindo novamente meu estômago
com um soco direto, mas também sinto minha cabeça ser atingida por algo
duro. Balanço minha cabeça desorientada e tusso com força, me contorcendo
no chão e tentando puxar o ar. Sua risada faz meus olhos se abrirem e encarar
seus saltos, caminhando à minha frente depois de jogar um objeto de mesa no
chão.
― Que trágico ― a escuto murmurar exasperada.
Imediatamente, ignoro a falta de ar que sinto, e, rapidamente, estico
uma das minhas pernas para atingir com força atrás de seus joelhos, fazendo-
a se curvar. Em seguida, levanto-me e agarro seus cabelos na intenção de
chocar sua cabeça na quina da mesa de vidro. Só que Nicole consegue se
soltar, agarrando uma das minhas mãos, torcendo-a.
Isso para mim é como um alvo fácil, meu corpo se movimenta contra
o seu, rodeio uma das minhas pernas em sua cintura, enquanto a outra se
enrosca em seu pescoço com firmeza. Num impulso, agito seu corpo com o
meu para trás, onde nos chocamos contra a mesa de vidro que se quebra
devido ao nosso impacto.
Nicole grunhe, em seguida, morde minha coxa. Suporto a dor e fecho
meu punho firmemente, acertando sua virilha. A loira afasta seus dentes de
mim para rosna de dor. Depois, levanto-me, assistindo-a se contorcer,
enquanto limpo o sangue que escorre no canto da minha boca.
Estamos ofegantes, parecemos trapos, mas não me importo.
― Ah, não! ― resmungo sem fôlego quando seu corpo se levanta
num impulso de suas mãos e pernas.
Observo-a arrancar um caco de vidro cravado de seu quadril sem
hesitar e logo arremessa o pedaço afiado contra mim. Eu me esquivo a tempo,
vendo o objeto se fixar na porta de madeira. Quando volto a atenção para ela,
vejo pequenas facas girarem entre seus dedos.
Seus olhos estão fixos nos meus ao se aproximar. Desvio-me quando
ela move as facas em minha direção, mas em um movimento errado, sinto a
lâmina raspar em meu braço. Imediatamente, seguro seu pulso e a puxo para
mim a fim de atingir a lateral de sua nuca com meu cotovelo, fazendo-a
engasgar subitamente. O movimento me ajuda a sacar minha espada
escondida na manga do meu blazer. Em seguida, atinjo seu rosto machucado
com o cabo firme.
Nicole suporta a agressão. Ela move a pequena faca na outra mão e
não permite que eu me afaste, colocando a lâmina em meu pescoço pronta
para me cortar. Aperto meus dentes quando sinto seu outro braço atingir
minhas costelas e giro o cabo da minha espada em direção ao seu pescoço,
fazendo a lâmina extensa salta de repente.
Nós nos mantemos assim: de cabeça erguida, pescoços expostos,
encarando uma a outra como duas inimigas enfurecidas. Assim como ela
ameaça me ferir, eu faço o mesmo.
31 – HERDEIRO

― Mostre-me o quanto você pode ser pior do que nós.


As palavras de Nicole são como sal em minhas feridas. Aperto meus
dentes, soltando um rosnado frustrante e piso em seu pé com força. Afrouxo
minha mão no cabo, fazendo a lâmina sumir, em seguida, golpeio sua cabeça.
Ela se curva com o ataque e aproveito para chutar suas costelas. Nicole cai,
grunhindo de dor e afasto sua faca para longe. Logo, seus olhos castanhos se
erguem com ódio para mim.
― Eu não sou como vocês, que matam um ser humano sem se
importar com seus sentimentos, que se vangloriam com uma morte e seguem
uma ordem de uma pessoa pior do que vocês mesmos ― disparo sem fôlego,
ignorando seu sorriso hostil. ― Pessoas como vocês devem provar o próprio
veneno para pagar o que fazem, enquanto ainda estão vivos, mas lentamente.
Então, a morte para você, Nicole, seria fácil demais.
― Não me diga... Não me diga que está tendo compaixão agora ―
zomba, enquanto tosse.
Eu a observo caída a minha frente.
― Não, talvez pena. Não há sentimento pior para uma mulher do que
colocar seus interesses acima das suas emoções. Uma mulher incapaz de
amar o próximo, muito menos a si própria ― seus olhos fervem mortalmente,
mas não perco meu tempo e me viro para a saída. ― Espero que quando sua
derrota chegar, você se arrependa por tudo que já fez ― falo sobre ombros.
― INFELIZ!
Quando me viro, já a encontro pronta para me atingir com a faca, mas
antes que eu tome qualquer atitude, surpreendo-me ao vê-la ser atingida por
um tiro que atravessa seu ombro esquerdo. A bala se aloja na parede atrás de
mim. Nicole solta a faca imediatamente e cai no chão novamente, apertando
seu ombro.
Ao observar a direção de onde veio o tiro, localizo Dinka no terraço
de um prédio distante, mirando sua arma equipada. Ergo minha mão, dando-
lhe um sinal positivo, e logo o vejo recuar para mirar sua arma em outra
direção. A respiração ofegante de Nicole me chama atenção, mas ela ficará
bem, pelo menos, é isso que acho.
Suspiro e volto a seguir meu caminho até a saída.
― Não sabe o quanto a odeio. E pode ter certeza de que, na primeira
oportunidade que tiver, eu mesma matarei você. Pior do que fiz com sua
mãe... ― saio rapidamente, enquanto a escuto soltar sua raiva atrás de mim.
A japonesa, que ficou como em guarda, vigiando do lado de fora,
acompanha-me assim que me vê e lhe entrego minha espada com frustração.
― Você recuou ― pelo seu tom ela me repreende.
― Não tente me dar lição de moral agora, Nectara! ― peço
seriamente. ― Johnatan já está aqui?
― Sim, mas eu não disse que você estava numa reunião particular
com a senhora Banks ― responde.
― Ele vai saber de qualquer jeito, não vai? ― reviro meus olhos,
enquanto solto meus cabelos para não mostrar que estive numa briga. ―
Dinka atirou na cretina, mas ela ficará bem.
― Eu não vou dizer nada quanto a isso ― Nectara dá sua palavra.
Inspiro fundo.
― Perfeito.
― Peter está lhe esperando para levá-la embora ― a japonesa
informa.
Caminho até o elevador agoniada. Depois, observo brevemente meu
reflexo no espelho do elevador, feliz por não ter nenhuma marca, apenas um
rosto corado e um pequeno corte no canto da boca. Quando as portas de aço
se abrem, já localizo Peter no saguão à minha espera. Ele me olha confuso,
mas acena com formalidade.
― Tenho que levá-la imediatamente. Seria arriscado demais deixá-la
por mais tempo, já que sabem que a senhora foi a esposa... ― Peter murmura
assim que chego ao seu lado.
Reprimo a careta por seu tom formal.
― Tudo bem ― escondo meu nervosismo.
― Senhora, eu já lhe informei que assim que puder entraremos em
contato...
― Você não está entendendo, eu tenho que falar com o senhor
Polosh. Estou há dias atrás dele. Ou qualquer outro responsável pela
empresa Makgold.. ou que fale por ele... ― uma mulher alta está debruçada
sobre o balcão e vejo a recepcionista tentando tranquilizá-la.
Observo com curiosidade. A mulher se agita, sussurra algo para a
recepcionista que recua, enquanto a olha com medo. Franzo a testa ao
examinar a mulher, a jaqueta de couro preta a destaca, ela usa um vestido
azul até os joelhos, meia-calça escura e saltos. Quando ergue seu corpo, joga
os longos cabelos caramelos para trás.
― Temos que ir, Mine ― escuto Peter sussurrar ao meu lado.
Aceno.
― Senhora?! ― a recepcionista chama minha atenção e travo meus
joelhos.
Viro-me lentamente depois de escutar a urgência em sua voz, tendo a
certeza de que ela está se dirigindo a mim. Estou vendo que a fofoca sobre a
esposa viúva de Johnatan Makgold já correu rapidamente, reflito. Arrumo
minha expressão antes de olhar a recepcionista ruiva de olhos castanhos
arregalados. Pobre funcionária, ela precisa de ajuda.
― Me dê um minuto, Peter ― peço a ele e sigo até o balcão de
mármore.
A mulher alta se vira em minha direção e encaro seus olhos claros
assim que afasta seus óculos escuro. Ela é como uma modelo do tipo de rosto
certo para capa de revistas de moda. Arrasta seu óculos em seu cabeça,
prendendo-o em seus cabelos lisos como uma tiara.
― Pois não? ― fito a recepcionista inquieta.
― É que essa senhora está aqui desde o início da manhã. Tentei entrar
em contato com o senhor Polosh, Amanda me pediu para que deixasse o
contato, mesmo assim, ela se recusa...
― Quero falar com o responsável do lugar e sei que é Matt Polosh ―
a mulher de tom autoritário me avalia, enquanto interrompe a recepcionista.
― Tudo bem, eu vou atendê-la ― digo, fazendo a recepcionista
respirar aliviada. ― No que podemos ajudá-la?
― Não sou nenhuma fornecedora, se é o que informaram para vocês
― a mulher dispara, caminhando em minha direção para me encarar. ― E o
que tenho que comentar é com o Matt Polosh, não com uma funcionária
qualquer.
Ergo minha sobrancelha por sua petulância.
― Bem, estou aqui para tentar ajudá-la, já que quer tanto falar com o
senhor Polosh. Pelo menos, diga o motivo ― controlo minha ironia.
Ela abre seu sorriso perfeito petulante, em seguida, me olha de cima
abaixo.
― Sei que ele era o braço direito de Johnatan Makgold e está
assumindo o trabalho dele agora. Então, o que tenho a tratar com Matt é
particular ― murmura sem paciência. ― Faça o favor de comunicá-lo de que
Susan Lee o aguarda. Estou cansada de pular de empresa a empresa à procura
deste advogado. Por sorte, descobri que aqui ele se mantém muito presente
― diz e cruza seus braços.
Olho para trás, vendo Peter encarar o relógio, dou-lhe um aceno com
a cabeça e inspiro fundo antes de falar com Susan.
― Matt Polosh faz parte dos assuntos tratados sobre as empresas
Makgold, assim como eu sou responsável da empresa também... ― seus
olhos se erguerem em surpresa.
― Responsável? ― a pergunta soa como se fosse feita para ela
mesma.
― Sim e é por isso que estou tentando ajudá-la ― explico novamente,
mesmo vendo que Susan não muda sua postura autoritária. ― Então, qual o
assunto tão urgente? É algo pessoal?
Susan inspira com desdém.
― Vamos dizer que se trata da mãe do filho de Johnatan Makgold...
Pisco meus olhos chocados e tento manter minhas pernas firmes. Nem
mesmo consigo escutá-la direito depois que disse filho. É como se o golpe no
estômago que levei minutos atrás de Nicole fosse atingido novamente,
fazendo minha respiração travar. Puxo o ar com força, enquanto seguro as
lágrimas nos meus olhos.
― Filho? ― digo quase sem voz, colocando a mão em meu peito, na
tentativa de acalmar meu coração.
Susan para de tagarelar e me observa surpresa.
― Sim, provavelmente o único herdeiro desse lugar ― dispara,
observo-a confusa. ― É por isso que preciso falar com ele.
Com esforço, recomponho-me, mantendo meu corpo ereto.
― Não é necessário. Eu mesma irei informá-lo ― engulo em seco.
Ela cruza os braços na defensiva.
― Não ache que vou sair daqui tão facilmente.
― Acredito que sim.
― E quem você pensa que é para falar comigo nesse tom? ― Susan
se aproxima mais do que o necessário para me enfrentar, mas não recuo. ―
Não se esqueça de que você está falando com a mãe do filho do Makgold.
Aperto meus olhos.
― E você não está só falando com a dona dessa empresa, como
também com a esposa... viúva de Johnatan Makgold ― minha revelação a faz
recuar e balançar a cabeça.
― O quê? ― Susan se assusta. ― Makgold casado? Isso não foi
informado nos jornais, nem antes e nem depois de sua morte. Não pode ser...
― é como se agora ela fosse a golpeada.
Ergo minha sobrancelha desconfiada.
― E onde está a criança? ― pergunto.
Susan continua nervosa e desconfortável.
― Não acredita em mim? ― ela se recompõe.
― Como você disse... Você está procurando Matt Polosh há dias, para
dizer que tem um filho com Johnatan Makgold. O engraçado é que você
resolveu aparecer depois da morte do meu marido ― disparo rispidamente.
Ela inspira fundo antes de se afastar. Franzo a testa e vasculho
rapidamente o lugar. No sofá de espera, há uma criança sentada nos
observando. Seus olhos azuis destacados me fazem estremecer.
― Allan... Venha? ― o chamado da mulher me assusta, logo vejo o
pequeno garoto obedecer.
Ele é muito pequeno, usa uma camisa polo de manga cinza, jeans e
tênis. Caminha amedrontado até ficar atrás das pernas da mãe. Engulo em
seco e inspiro fundo antes de me abaixar para ficar da sua altura. Ele me espia
com seus lindos olhinhos inocentes. Suas bochechas estão rosadas e os
cabelos caramelos são de um tom mais escuro.
― Oi... ― cumprimento trêmula, dando-lhe um sorriso.
Susan se afasta, fazendo-o ficar de frente para mim, como se quisesse
esfregar a criança na minha cara.
― Esse é Allan Lee. Meu filho com Johnatan ― a apresentação faz
meus dentes se apertarem.
O pequeno garotinho brinca com seus dedos timidamente.
― Olá Allan, sou Mine Makgold ― crio coragem e pego suas
mãozinhas gordinhas, seus olhos azuis estão atentos em meu rosto. Por mais
que eu esteja com receio, vejo que ele é adorável. ― Quando anos você tem?
― falo com carinho, ignorando os resmungos de sua mãe.
― Esse ― responde numa voz tímida ao mostrar seus dedinhos.
― Quatro anos? ― surpreendo-me, vendo-o acenar e me dá um
sorriso de covinhas. Por um momento, meu coração se derrete e me aproximo
mais dele. ― Já disseram para você que tem olhos lindos?
Ele inclina sua cabeça confuso e pisca os lindos olhos pensativos.
― Não ― ele balança a cabeça.
Olho para cima, vendo Susan fazer uma careta.
― Então, eu sou a primeira pessoa a dizer que você tem olhos
encantadores ― digo a ele sorrindo ao ver seu sorriso carinhoso e ergo minha
mão para acariciar suas bochechas.
― Senhora? Temos que ir ― a voz educada de Peter atrás de mim me
faz acenar, só que não consigo desgrudar meus olhos de Allan, pois sinto um
nó em minha garganta.
Logo beijo a palma macia de uma das mãozinhas da criança.
― Foi um prazer te conhecer, querido ― o aperto em meu coração se
intensifica.
Levanto-me para observar Susan. Bem provável que ela seja uma
dessas mães aproveitadoras que não dá a mínima para o filho. Seguro minha
revolta e a encaro.
― Então... ― ela espera.
― Tem algum cartão para que eu possa entrar em contato? ― olho
para Allan como distração quando Susan revira os olhos e vasculha sua
pequena bolsa.
― Está aqui. Olha, eu não tenho todo tempo do mundo para esperar,
por isso, é melhor me atenderem o quanto antes, se não, voltarei aqui até
cederem ― pego seu cartão preto com letras pratas.
― O que quer em troca? ― pergunto com a mesma ignorância.
― O que eu e meu filho temos direito. Sabem... ― Susan se aproxima
para sussurrar em meu ouvido ―, eu e John não tivemos nada sério, foi
apenas uma noite e foi tão inesquecível que dela temos um lindo presente ―
suas palavras fazem meu coração se apertar e meus punhos fecharem.
Só consigo ficar atenta quando Peter me afasta de Susan, e a vejo
pegar a mãozinha de Alan para arrastá-lo para fora. Sinto meu coração se
apertar, pois o garotinho continua assustado, seus lindos olhos azuis se
enchem de lágrimas e vejo sua outra mãozinha se erguer para acenar um
adeus. Por um momento, ouso avançar até ele, mas Peter me bloqueia.
― Ela disse que é filho dele... Do Johnatan ― revelo a Peter, sem
conseguir conter as minhas lágrimas.
― Isso é impossível, senhora. ― Peter abraça meus ombros. ―
Podemos fazer um exame de DNA.
― Sim... Mas antes, preciso tirar essa história a limpo com Johnatan
― balanço a cabeça e seco minhas lágrimas, deixando que Peter me leve até
a saída.
Quando entramos no carro, coloco meu cinto e observo a rua para ver
se encontro Susan e Allan. Aperto meus olhos com força, sentindo meu
sangue ferver ao me lembrar de suas palavras sussurradas em meu ouvido.
Certo, o garoto tem quatro anos, então, foi na época em que Johnatan se
divertia com elas, com as mulheres casadas, solteiras, divorciadas, noivas...
Poderia ter ocorrido um erro? Mas o que mais me assustava era que tinha
certeza de que nem todas as mulheres com que Johnatan se envolveu estavam
mortas. Tudo é tão confuso, frustrante, doloroso demais.
Um gemido do meu choro me faz cobrir a boca imediatamente.
― Para onde quer ir, Mine? ― Peter pergunta, sabendo que agora não
precisa usar termos formais.
― Para casa ― informo estremecida, incapaz de olhar para ele.
Enquanto Peter dirige, permaneço em silêncio, encarando o cartão
com o contato de Susan. Durante o retorno de volta a Queenstown, eu me
perguntei por que não peguei o maldito helicóptero para chegar mais rápido,
a ansiedade estava me matando.
Assim que chegamos à mansão inspiro fundo antes de sair do carro.
Peter aperta minha mão em conforto e tento lhe dar meu melhor sorriso. Saio
do carro, observando ao pôr-do-sol nas montanhas por alguns instantes,
depois, afasto-me e caminho para a mansão.
Na cozinha, fico agradecida por encontrar Donna sozinha preparando
o jantar.
― Olá, querida ― diz surpresa assim que me vê na entrada.
― Não queria assustá-la ― digo temerosa, abraçando-me ao me
aproximar da cadeira. ― Se importa de eu ficar aqui com você? ― minha
pergunta soa mais como um pedido.
― Claro que não ― sorri com ternura. ― Ian acabou de ir para o
quarto tomar banho e Jordyn não me deixou quieta a tarde toda.
Sorrio brevemente.
― Então, foi um dia longo para nós duas ― suspiro.
― E posso imaginar que você não comeu nada até agora ― ela me
repreende.
Balanço minha cabeça.
― Onde está meu pai?
― No quarto. Hoje, pela primeira vez, eu o vi explorar a casa, só um
pouco. Depois, ficou com os cavalos ― Donna diz sorrindo. ― Ele faz isso
quando não encontra o senhor Makgold na casa.
― Ele deve estar ansioso para que essa construção termine logo ―
murmuro, logo minha barriga ronca quando sinto o cheiro dos temperos de
Donna.
― Parece que está quase terminando. Estão fazendo com urgência ―
Donna informa, impressionando-me. ― Agora, mudando de assunto, vejo
que você está distante.
Não pensei que Donna estivesse tão atenta a mim. Afasto meus braços
da mesa quando a vejo colocar o prato com macarrão e molho branco à
minha frente.
― Um pouco ― sorrio brevemente, agradecida. ― Johnatan ligou?
― pergunto ansiosa.
Donna assente.
― Ele disse que já está a caminho ― informa-me. ― Vinho?
― Sim, obrigada ― observo-a pegar o vinho, abrir e colocar a bebida
em uma taça.
― Importa-se se eu fizer algumas perguntas? ― pigarreio quando ela
coloca a taça de vinho branco diante de mim. Eu ainda nem toquei em meu
prato.
― Pergunte o que quiser, querida ― diz com um sorriso maternal.
Em seguida, senta-se, alisando seu avental. Engulo com força para
tomar coragem.
― Você me disse uma vez que viu Johnatan crescer... ― ela acena
confusa com minha insegurança. ― Como ele era quando criança? As
feições, o comportamento...
A governanta sorri com os olhos brilhantes perdidos em lembranças.
― Eu direi se você começar a comer ― propõe e já começo a comer.
― Bem... Quando a senhora Grekov anunciou a gravidez, lembro-me de que
foi uma grande alegria. A expectativa de que fosse um menino foi enorme e
ela não estava errada. Johnatan nasceu forte e saudável. Era tão pequeno, tão
gordinho e carequinha. Os olhos azuis se destacavam, assim como seu sorriso
toda vez que a senhora Grekov cantava em russo para ele, na verdade, ele
gargalhava muito. ― Donna detalha com um sorriso aberto e os olhos
perdidos, às vezes cheios de lágrimas.
― E como foi seu crescimento? ― beberico meu vinho atenta nela.
― Ele corria pela casa. Sua mãe ficava louca atrás dele, Johnatan
odiava sapatos. Sempre que tinha um em seus pés ele tirava, muitas vezes
escondia ― Donna gargalha e sorrio para ela. ― Oh! Espere.
Pisco meus olhos quando a vejo se levantar e sair da cozinha. Fico por
um tempo no silêncio, terminando meu prato e meu vinho, enquanto aguardo.
Quando Donna retorna, têm em suas mãos uma pequena caixa de papelão.
― Quer mais vinho? ― oferece, nego, vendo-a sentar e colocar a
caixa sobre a mesa. ― Quando houve o incêndio na casa, conseguimos salvar
algumas coisas, mas a maioria foi perdida. ― Donna explica ao abrir a caixa.
Eu espio por cima, há alguns panos velhos, papéis um pouco
queimados e cartões. Vejo também uma pequena caixa de música queimada.
Ela vasculha e pega o que procura, é um cartão um pouco queimado na
lateral. Depois, Donna coloca a mão no coração ao me entregar o papel. Eu o
pego, notando que é uma fotografia. A imagem um pouco antiga me faz
segurar a respiração imediatamente.
É Johnatan criança, pelo menos, com cinco ou seis anos, vestindo um
suéter escuro e calça cinza. Ele está sentado na grama, descalço, com um
sorriso travesso e os olhos azuis brilhantes, o lugar me lembra do campo, mas
o que me deixa intrigada são seus cabelos.
― Ele tinha os cabelos claros ― observando o contraste que o sol fez
em seus cabelos na fotografia.
― Sim, eram caramelos, mas foi escurecendo conforme o tempo.
Infelizmente, essa é a única imagem que tenho dele. E provavelmente ele não
gostaria de rever ― Donna diz com tristeza.
Inspiro fundo e lhe entrego a fotografia.
― Quem sabe um dia ele queira mostrar para os filhos ― sinto o nó
na garganta.
― Por isso que vou guardar ― Donna diz com alegria, fazendo
minhas lágrimas aparecerem. Levanto-me rapidamente para que ela não veja.
― Está tudo bem, querida?
― Sim, sim ― respondo sem encará-la. ― Eu vou para a biblioteca.
Praticamente corro para o andar de cima e me refúgio na biblioteca,
onde consigo chorar ou tentar aliviar a dor que há em meu coração. Sigo até a
parede de vidro atrás da mesa, encosto minha cabeça nela e fecho meus
olhos, enquanto me abraço.
Não é algo de se esperar, saber que o homem que mais amo possa ter
um filho com outra e essa ex aparecendo para revelar algo que teve no
passado ou lidar com mais uma das suas diversões antigas, muito menos meu
fracasso de querer acabar com Nicole como eu havia ansiado. Há algumas
partes dentro de mim que nunca vão mudar. Partes enfraquecidas e medrosas.
Permaneço no meu refúgio por um bom tempo, tentando em vão
segurar minhas lágrimas. Uma batida repentina na porta me faz salta e
encarar o vidro, já anoiteceu e não sei por quanto tempo fiquei feito uma
estátua. Continuo imóvel quando escuto a porta ser aberta. Tento arrumar
minha expressão ao afastar minhas lágrimas.
― Donna me disse que a encontraria aqui ― de alguma forma sua
voz me assusta. ― Mine, eu pedi para você se controlar ― murmura se
aproximando.
Encolho-me.
― Eu sei ― digo rapidamente antes que minha voz embargada me
denuncie.
― Amor? ― Johnatan me chama, posso sentir que me observa. Logo
as luzes se acendem, fazendo meus olhos piscarem. ― Eu não vim brigar
com você sobre o que ocorreu. De qualquer forma fico feliz que tenha
cortado as parcerias. Theo Villares está morto. Eu já estou acostumado a
perder o controle, então...
― Você estava certo ― interrompo-o, encarando o céu escuro.
― Do quê? ― aperto meus lábios. ― Mine? Minha Roza, por que
está assim? ― quando o escuto se aproximar, eu me encolho ainda mais. ―
Você está distante.
Inspiro fundo.
― Eu sou incapaz de matar alguém. As chances que tenho são em
vão. Portanto, de nada adianta continuar treinando se vou deixar pessoas
viverem ― desabafo, enquanto seguro meu choro.
― Isso porque você não é como eu ― não esperava que estivesse tão
perto e, pelo vidro, posso ver seu reflexo, ele está escorado na mesa me
observando. ― Você tem uma alma boa, existe algo em seu coração que é
mais puro do que você imagina. Não pense que é uma fracassada. Olha tudo
que você já fez! E é a partir do que você tem aí dentro que faz com que
enxergue as coisas da maneira que têm que ser, seguindo sua intuição, os seus
instintos. Você é a mulher mais corajosa e mais feroz que eu já conheci e é a
única que amo com todo meu ser.
Seco minhas lágrimas e aperto meus lábios com força ao sentir seus
braços envolverem minha cintura, puxando-me para seu corpo. Quando ele
inspira o perfume em meus cabelos, fecho meus olhos.
― E, se no meio desse amor, surgir algo que não é nosso? ―
estremeço.
Seus braços me apertam com força.
― O que quer dizer? ― pergunta depois de beijar minha cabeça.
Pego o cartão que havia guardado em meu bolso e tento me afastar.
Em seguida, viro-me para ele.
― Susan Lee ― tento em vão olhar em seus olhos.
Sua testa franze numa expressão confusa.
― O quê? ― pergunta e lhe entrego o cartão.
― Esteve na empresa e, segundo ela, estava procurando Matt há
algum tempo. Por ironia do destino, nós nos encontramos ― informo receosa
ao fixar meus olhos em seu peito.
Johnatan suspira exasperado.
― Mine,...
― Ela disse que teve um filho seu ― disparo rapidamente, vendo sua
expressão atenta.
Logo, fecho meus olhos, na tentativa de controlar minhas emoções.
― Isso é impossível ― Johnatan diz tranquilamente.
― O garoto tem quatro anos e é adorável. Susan o levou,
provavelmente ela não se importa com o filho ― confesso, sabendo que
Johnatan me observa atentamente, enquanto crio coragem para olhar seus
olhos confusos. ― Eu não sei o que vai fazer quanto a isso, então, resolva. E
não estou dizendo pela mulher com quem você se divertiu anos atrás, mas
sim pelo menino.
Tento me afastar e Johnatan segura meu braço.
― Espere!... Você não está pensando que isso é verdade ― aponta
para o cartão e o joga na mesa. ― Posso ter feito muita coisa errada na minha
vida, mas jamais me envolveria com alguém sem proteção. Exceto você, mas
somos marido e mulher, somos amantes, somos parceiros, somos
namorados... Mine, por favor!
― Decidi não pensar em nada até você fazer o exame de DNA. Matt
pode inventar qualquer coisa sobre ter amostras suas. Aliás, ela parecia
bastante interessada na fortuna ― novamente tento me afastar, mas Johnatan
me puxa para seu corpo.
― Essa coisa de morte está me estressando ― murmura rispidamente.
― Seja lá o que ela tenha falado para você, não é verdade. Mas se for, darei
um jeito. Embora eu tenha certeza de que é impossível, Mine.
― Certo, agora... me deixe ir ― sussurro, encarando sua mão em meu
braço.
― Não!
― Por favor ― peço exasperada.
Johnatan inspira fundo, sua mandíbula está travada e os olhos em
chamas. Antes que eu implore novamente, ele me puxa para seus braços e
gruda seus lábios nos meus. Seus braços envolvem meu corpo com força, em
seguida, sua língua invade minha boca num beijo intenso. Agarro seu rosto,
aprofundando nosso beijo. Sinto-o tirar sua jaqueta e prender meu corpo
contra a parede de vidro para deslizar suas mãos em meu corpo.
É como se nós dois estivéssemos desesperados, numa tentativa forte
de derrubar as angústias que estamos sentindo. Quando sua boca escorrega
por meu pescoço, consigo puxar o ar e abrir meus olhos. Depois, deslizo
minhas mãos por seu ombro para afastá-lo.
― Johnatan, não! ― digo, fazendo-o paralisar automaticamente.
Ele se ergue para colar seu rosto no meu com a respiração ofegante.
Encaro seu rosto, vendo seus olhos fechados. Ergo minhas mãos para
acariciar seus cabelos.
― Acredita em mim ― pede ao beijar meus lábios brevemente.
― Eu só temo pelo menino ― sussurro e vejo seus olhos se abrirem.
― A mãe pode estar usando um inocente.
― Mas não é só isso que está te deixando assim ― Johnatan nota,
abraçando meu corpo com força.
Meus lábios tremem quando aproxima sua boca da minha. Seus olhos
azuis me encaram com intensidade, fazendo minhas lágrimas aparecerem.
― Eu só... Só queria ser a única... ― a confissão faz minhas lágrimas
caírem e consigo afastá-lo de mim.
― Amor...
Caminho para longe dele e, ao abrir a porta, dou de cara com James.
Seus olhos claros estão assustados.
― Desculpe interromper ― pigarreia sem jeito.
― O que é? ― Johnatan pergunta ríspido.
― Outro ataque, senhor ― James informa, fazendo-me piscar.
― MAS QUE MERDA! ― Johnatan grita enraivecido.
Olho para trás, vendo meu marido fechar os olhos e deslizar as mãos
em seus cabelos com força.
― Onde? ― pergunto.
― No prédio da MK Enterprise. Felizmente, não ocuparam todo o
edifício, mas fizeram reféns. Uma recepcionista foi assassinada ― a
informação me assusta.
― Eles nunca vão parar ― murmuro em choque.
― James, ligue para Cassandra e peça para marcar um horário com
Susan Lee ― Johnatan ordena ao entregar o cartão para James. Em seguida,
sua atenção é disparada para mim. ― Chega de fingir que estou morto.
Vamos ver o que ela quer e falar sobre o garoto. Espero que minha esposa me
acompanhe.
Pisco meus olhos perplexos.
― Claro ― James obedece.
― E, quanto aos ataques, eles devem estar usando alguma estratégia
imediata. Preciso reforçar a segurança da casa ― Johnatan murmura
pensativo. ― Precisamos entrar em contato com Gaspard Abram para saber
sobre isso. Peça para Shiu investigar se não houve algum vazamento desses
ataques.
― A equipe está trabalhando nisso, senhor.
― Ótimo.
Esfrego minha testa, sentindo minha cabeça pesar, nem mesmo
consigo acompanhar a conversa deles, apenas ouço coisas aleatórias sobre os
ataques que vêm seguindo até nós. Arregalo meus olhos assustada.
― Estão atrás dele ― minha suposição amedrontada interrompe a
conversa de Johnatan com James. ― Zander.
Ambos me encaram pensativos.
― Então, ele usou Jordyn como isca... ― Johnatan reflete.
Em seguida, dispara:
― Filho da mãe!
― Antes dele desativar as contas de e-mails, havia deixado uma delas
ligadas para descobrirmos quem era o anônimo. Provavelmente em uma das
contas havia rastreador ― indago.
― E a máfia pode estar seguindo os locais de envio ― James me
olha, e aceno.
― Johnatan, no que está pensando? ― pergunto ao ver seu olhar
distante e sua expressão sombria enquanto se apoia na mesa.
Seus olhos em chamas se erguem para mim.
― Não vou negar que a primeira coisa que sempre penso é em você.
E você está atrapalhando minha linha de pensamentos ― Johnatan dispara
intensamente, vejo James nos encarar confuso. ― Tudo bem, eu já decidi.
Vou matar o desgraçado...
― Eu tenho ideia melhor, se bem que essa... ― James interrompe nos
fazendo encará-lo.
― O que é melhor do que matá-lo? ― Johnatan pergunta.
― Faça dele uma isca que cai na própria armadilha. Podem não ter
notado, mas ele sempre pergunta se é de manhã, tarde ou noite. Muitas vezes
provoca e solta piadinhas como distração. Ele sabe o que está acontecendo e
já tem tudo programado ― concordo com as palavras de James.
― Qual é o plano? ― Johnatan pergunta e cruza seus braços, fazendo
seus músculos saltarem contra a camisa.
― Faça ele de rastreador, deixe que a máfia o capture, mas antes,
atuam como se ele estivesse sendo interrogado ― James propõe.
Franzo a testa.
― Ainda fico com a opção matar ― Johnatan diz sem rodeios.
― Se colocarmos um rastreador, as chances de nos levar até Charlie
Makgold serão maiores ― digo pensativa.
Johnatan esfrega o rosto antes de concordar:
― Vamos testar então. Informe para a equipe já começar a organizar
a cabine.
― Sim, senhor.
James se afasta e lhe dou um breve sorriso. Assim que estamos
sozinhos, percebo que Johnatan tem seus olhos em mim.
― Eu preciso de você ― sua voz suave, cheia de ternura e desejo, me
causa arrepios tamanho o desejo.
Logo prendo minha respiração quando o sinto se aproximar, parando
à minha frente para beijar minha testa. Fecho meus olhos brevemente e
inspiro seu perfume intenso. Quando Johnatan se afasta, deixando-me
sozinha, encaro suas costas até não o ter mais em meu campo de visão.
32 – CAPTURA

Esfrego meus olhos enquanto assisto Johnatan pelo vidro fumê da


cabine. Hoje seu humor não é dos melhores, muito menos o meu. Talvez pelo
pouco sono que tive na noite anterior e a angústia que corre em meu peito,
também há a falta que senti dele na cama. Desde que nos reencontramos, essa
foi à primeira noite que passamos separados, apesar de que vi sua sombra
pela brecha da porta.
Logo pela manhã, seguimos nosso plano, todos pareciam exaustos.
Comigo estavam Shiu e Matt, todos concentrados. Zander permanecia
desacordado. Os dias conosco o deixaram mais magro e sua barba por fazer
estava maior do que eu imaginava.
Distraio-me com Johnatan andando de um lado para o outro, enquanto
espera Zander acordar. Meu marido está mais selvagem, seu corpo parece
mais tenso, com os músculos saltando contra seu suéter azul-escuro. Seus
cabelos foram penteados à mão e sua barba de um dia destaca seu semblante
rígido.
Para ele parece uma luta permanecer dentro da sala com Zander. Eu o
sinto ansioso para cometer aquilo que não está em nossos planos. Do lado de
fora, sei que Dinka, Nectara e James estão concentrados em seus deveres,
prontos para nos dar qualquer informação.
Matt passar por mim com uma bandeja e uma maleta preta. Ele entra
na sala, colocando suas coisas sobre a mesa de aço antes de colocar suas
luvas. Noto que há um minúsculo chip e alguns instrumentos de cirurgia
dentro da maleta.
― Aquilo é o rastreador? ― sussurro para Shiu e olho para trás.
― Sim ― Shiu responde rapidamente atento ao seu tablet.
Volto minha atenção para a sala. Johnatan se encosta no vidro de
braços cruzados.
― Onde quer que coloque o rastreador? ― Matt pergunta, pegando o
bisturi.
― Coloque dentro do ouvido ― Johnatan ordena.
― Mas ele vai sentir o incômodo ― Matt dispara.
― Ele vai notar de qualquer jeito, mas a dificuldade para tirar será
maior ― Johnatan explica.
Matt acena ao guardar o bisturi. Logo o vejo colocar o pequeno chip
com ajuda de um otoscópio e uma pinça cirúrgica fina. Tudo é muito rápido.
Assim que Matt termina, retira-se da sala e volta para onde estou, deixando
Johnatan sozinho novamente.
― Ligue o rastreador ― pede da sala.
Rapidamente, Shiu acata a ordem e move seus dedos ágeis sobre a
tela de seu tablet.
Ao mesmo tempo em que nosso nerd trabalha, vejo o celular de
Zander ao lado com a tela acesa. Matt também observa, mas não o toca.
― A LIGA está pegando a localização ― Shiu se surpreende ao olhar
o celular.
― Ótimo, chega de dormir ― Johnatan murmura e injeta uma
medicação na veia de Zander.
Em poucos segundos a cobaia desperta, piscando seus olhos cor de
gelo. Assim que nota onde está sorri com sarcasmo.
― Isso está ficando entediante ― Zander murmura rouco antes de
olhar Johnatan com ódio. ― Qual é a próxima dose, senhor? ― zomba
inspirando fundo.
O infeliz observa ao redor, balançando sua cabeça como se estivesse
confuso.
― Está incomodado? ― Johnatan analisa, jogando a seringa na mesa.
Zander olha para a seringa com desdém depois para Johnatan.
― Entediado ― revela sem vontade. ― Bem... Que horas são? Pelas
minhas contas vai fazer mais de uma semana que estou aqui com vocês ―
Zander dispara.
Olho para Matt, que também está atento.
― Ele está fazendo pesquisas como sempre ― o advogado murmura
ao meu lado e volto minha atenção para a frente.
― Tente adivinhar ― Johnatan diz com ironia.
― Sério, Makgold? Por que não acaba de uma vez? Isso está te
corroendo ― Zander provoca.
― Acredite, vontade não me falta ― Johnatan dispara em ameaça.
― Não me diga que a sua querida Mine não permite ― de repente,
seus olhos cor de gelo são disparados para mim, mas sei que ele não pode me
ver pelo vidro.
Assusto-me quando Johnatan o arremessa contra a parede e segura
seu pescoço. As mãos de Zander estão presas, mas ele não se move para
atingir Johnatan.
― Uma coisa é mantê-lo preso como um rato de laboratório. Outra
muito diferente é engolir suas provocações ― Johnatan rosna.
Zander ri tossindo.
― Dói, não é? ― Zander ironiza, fazendo Johnatan bater sua cabeça
contra o aço novamente. ― Você tem sede de vingança. Está à procura do
seu pai, pois seu maior ódio é por ele.
― Possivelmente... Mas ao que parece, ele sempre esteve à minha
procura ― Johnatan dispara enquanto aperta o pescoço do verme.
Olho para Matt alarmada.
― Matt... ― sussurro, mas sou interrompida com mais provocações
de Zander.
― Tenho que lhe dar razão. E também dizer que anseio por sua
morte, mas não tanto quanto do seu primogênito ― revela seu ódio mortal.
― Quem sabe Charlie possa estar mais perto do que se imagina ― ri.
Johnatan o solta, fazendo-o se sentar de volta na cadeira. O sádico
balança a cabeça novamente e toca em seu ouvido. Ao meu lado, escuto Matt
dizer que ele já sentiu o incômodo do chip rastreador.
― Se tivesse mesmo vontade de matá-lo, já teria feito, mas, ao
contrário, cumpre ordens do seu criador ― Johnatan provoca, apoiando-se na
mesa.
Zander o encara com os olhos febris.
― Talvez esse dia chegue. Sou um homem muito paciente, como
você...
― Não me compare... Diferente de você, eu não sou um pedaço de
merda, porém não me surpreende que o odeie também ― Johnatan não se
intimida.
Escondo meu sorriso, orgulhosa por ver que meu marido tem resposta
para tudo.
― Somos um grupo muito grande, Makgold, você se surpreenderia
com os sentimentos que cada um possui ― a cobaia continua a disparar seu
veneno.
― A essa altura do campeonato, nada me surpreende ― Johnatan diz
com um sorriso sombrio. ― Mas vou tentar, ou me esforçar, para ser bastante
flexível e te soltar para os tubarões.
Zander ergue sua sobrancelha grossa.
― Hum... E como será? Vai me fazer de refém no seu esconderijo
secreto? Como vocês chamam? ― Zander reflete. ― Oh, sim! Colmeia.
Aperto meus braços em meu estômago ao ver Johnatan se curvar e
encará-lo em ameaça.
― E quem lhe disse que estamos na Colmeia? ― Johnatan dispara,
fazendo Zander apertar os olhos. ― Você sabia que haveria ataques.
Provavelmente se voluntariou para ser uma presa fácil, por isso usou Jordyn
para iniciar seu plano de trazer a máfia até mim na intenção de saber nossa
localização.
Zander o encara seriamente e lhe dá um sorriso duro.
― Isso foi tão fácil ― murmura com cinismo. Sinto meu sangue
ferver. ― Por acaso a garota acha que sinto algo por ela? Diga que é um
sentimento mútuo ― Zander deixa como aviso, posso ver isso em seus olhos
sombrios.
Johnatan se afasta, empurrando a mesa.
― Dinka está dando um sinal de alerta ― escuto Shiu chamando
nossa atenção.
Rapidamente, a sirene é acionada por Shiu. Vejo Zander abrir ainda
mais seu sorriso hostil.
― Acho que deveria verificar suas ferramentas de segurança. ―
Zander diz com um sorriso aberto.
― Talvez você devesse se preocupar com a sua segurança. ―
Johnatan avisa, enquanto se afasta. ― Tenha cuidado. As paredes de aço não
são à prova de balas.
Johnatan sai da sala, fechando a porta rapidamente.
― Quatro carros se aproximam. Temos oito minutos para recuar ―
Shiu informa, recolhendo seus equipamentos assim como Matt.
Encaro Zander pela última vez, vendo sua expressão fria ao encarar o
vidro. Ele não se move, apenas permanece parado, como se estivesse atento.
― Vamos! ― Johnatan ordena e puxa meu braço.
Shiu e Matt disparam para fora da cabine e correm para as árvores.
A cabine falsa foi montada no norte da cidade em um terreno baldio.
A equipe passou a madrugada inteira trabalhando no lugar até trazer Zander
desacordado para cá. Por dentro, a sala de interrogatório era como se
estivéssemos na Colmeia, mas, por fora, era apenas um lugar deserto com
matos e entulhos empilhados. As árvores altas cercam o lugar, deixando-o
escondido de olhos curiosos.
Johnatan e eu corremos até acharmos a estrada. Olho para trás, vendo
um deles se aproximar com uma SUV escura. Um homem negro coloca seu
corpo para fora e aponta sua arma. Eu e Johnatan nos jogamos no chão a
tempo. Os tiros são como eco. Logo, vejo Dinka em cima de uma árvore nos
dando cobertura. Do lado oposto está James, ajudando-o.
― Quando nos levantarmos, correremos até a estrada. Mine, não olhe
para trás ― Johnatan ordena e tira duas granadas de seu bolso. ― Agora!
Levanto-me rapidamente e corro em linha reta. Somente me curvo
quando escuto o barulho ensurdecedor das explosões e alguns homens
gritarem ao serem atingidos. Quando um tiro é acertado próximo à árvore
perto de mim, distraio-me, sabendo que um deles está próximo. De repente,
sou atingida com um baque forte e caio para trás. Pisco meus olhos ao notar
que tropecei com força em um pinheiro. Um rosnado me chama atenção e,
sem ter tempo para reagir, sinto Johnatan me puxar pelo braço, segurando-me
com firmeza pela minha jaqueta.
― Mantenha as pernas firmes! ― Johnatan rosna em aviso.
Sinto um frio na barriga quando sou girada como uma boneca leve em
suas mãos. Meu pé esquerdo choca-se em algo duro e estremeço com força.
Quando Johnatan me solta, sinto minha cabeça girar ao perceber que golpeei
um homem alto.
Rapidamente, Johnatan reage, acionando outra bomba e a colocando
na boca do homem assim que ele resolve nos atacar novamente. Johnatan
empurra o objeto acionado com um soco e puxa meu braço para corrermos
para longe. Não olho para trás ao escutar a explosão, porém imagino sua
cabeça sendo explodida.
Assim que encontramos a rua principal, corremos até a van onde está
Cassandra. Quando mal entramos, ela acelera o carro. Eu e Johnatan nos
jogamos no banco, sem fôlego.
― E os outros? ― Johnatan pergunta.
― Acabaram de sair, senhor. Quem ainda está lá é James e Dinka ―
Cassandra informa.
Eu me preocupo.
― Temos que pegá-los ― digo assustada.
― Não se preocupe. Assim que vocês saíram da linha de isolamento,
eles ativaram o campo minado ― Cassandra explica, chocando-me ainda
mais.
― Montaram uma armadilha também? ― fico impressionada.
― Essa é a parte divertida para eles ― Johnatan desliza seus dedos
em seus cabelos. ― E quanto a Susan?
O nome me faz estremecer.
― Entrei em contato com ela ontem. Está hospedada em um hotel de
luxo no centro da cidade de Christchurch e marcou um encontro no
restaurante do hotel ― a espiã informa. ― Vocês sabem, ela pensa que irá
sua esposa e Matt ― Cassandra me olha pelo retrovisor.
― Que hotel? ― Johnatan pergunta.
― Nature Space ― Cassandra lhe passa um cartão com as
informações. ― Foi inaugurado há pouco mais de um ano.
― Quanto tempo nós temos? ― Johnatan pergunta, pegando uma
bolsa no banco de trás.
― Duas horas e meia ― Cassandra responde e vejo Johnatan fazer
uma careta.
― Nos leve direto para lá ― resmunga.
Logo o vejo tirar da bolsa reserva uma jaqueta de couro despojada,
marrom escura e óculos aviador. Ele olha em minha direção, percebendo que
o encaro. Algo em minha expressão o faz sorrir e se curvar para beijar meus
lábios. Suspiro.
― Deve tirar sua jaqueta e colocar esse casaco ― opina, entregando-
me o casaco preto depois de me mostrar o estrago que fez em minha jaqueta.
Obedeço em silêncio, percebendo que me assiste enquanto me troco.
Olho para ele desconfiada e o vejo piscar, como se estivesse distraído. Parece
mais alvoroçado, com ar autoritário e exibido, mas sem perder as feições.
― Você está muito... muito playboy ― analiso seu rosto. ― Claro,
continua sendo Johnatan, só que diferente... ― faço uma careta.
― Você não gosta de playboys? ― pergunta.
Pela primeira vez no dia, ele sorri, mas não um sorriso contagiante, e
sim metido.
Reviro meus olhos e balanço minha cabeça rindo.
― Oh... Com certeza eu prefiro o meu Johnatan ― confesso com a
testa franzida.
Em seguida, ergo minhas mãos para bagunçar seus cabelos, deixando-
os desalinhados.
― E agora? ― sua pergunta é tão íntima que me faz contorcer.
― Sou mais do estilo bad boy ― aprecio seus cabelos rebeldes antes
de abraçá-lo.
Seus braços me envolvem com força e seus lábios tocam minha testa,
num beijo terno.
― Odeio ficar longe de você ― sussurra.
Encosto minha cabeça em seu peito.
― Eu sei ― murmuro, inspirando seu perfume suave. ― Me
desculpe, mas eu precisava de um pouco de espaço. Tudo isso mexeu demais
comigo, foi inesperado ― aperto meus lábios e o abraço com força.
Johnatan cheira meus cabelos.
― Não precisa se desculpar. Percebi que isso te afetou. Acho que eu
devo te pedir desculpas por não ter dado espaço para você ― lamenta. Olho
para cima confusa. ― Eu passei a noite observando você dormir. Estava
agitada.
― Então, você passou a noite comigo? ― não consigo esconder meu
sorriso.
― Tecnicamente sim ― ele beija meu rosto. ― Mas não da forma
como eu queria.
Sorrio e toco seu nariz com o meu antes de lhe dar um beijo
apaixonado. Uma tossida me faz afastar e olhar para frente.
― Lembrem-se de que eu ainda estou aqui, detesto ser feita de vela
― Cassandra interrompe, nos olhando pelo retrovisor. ― É desconfortável.
Aperto os lábios para não sorrir.
― Nossas sinceras desculpas ― Johnatan diz de forma educada, sem
afastar seus braços de mim.

Durante o caminho, adormeci nos braços de Johnatan. Algumas


vezes, escutava-o falando ao celular, mas logo voltava para meu sono.
Somente despertei quando já estávamos no centro da cidade de Christchurch.
O céu estava um pouco nublado. A cidade é espaçosa e muito movimentada.
Se não fosse pela tensão do momento, até apreciaria as ruas e os edifícios.
Quando chegamos ao nosso destino, encaro o Hotel Nature Space pela
janela do carro. A entrada parece reforçada com seguranças atentos às
pessoas que entram e saem, assim como os carros luxuosos que entram no
estacionamento interno. O prédio é alto e branco. Cada andar tem uma sacada
de vidro, dando ainda mais destaque ao hotel luxuoso.
― Não poderei entrar ― Cassandra avisa.
Afasto-me para ver Johnatan verificar seu relógio.
― Circule por aí, mas não próxima demais a ponto de chamar atenção
― alerta. ― Assim que acabarmos, eu te darei um toque.
Cassandra acena e, rapidamente, arrumo meu cabelo num rabo de
cavalo antes de sair da Van. Sinto o frio no estômago assim que firmo meus
pés no chão e encaro o hotel, engolindo em seco. Logo meus pensamentos
vão para o pequeno garoto. Quando Cassandra se afasta com o carro,
Johnatan envolve seus braços em minha cintura. Caminhamos até a entrada
do hotel com confiança.
Os dois seguranças parados na porta nos observam e acenam com a
cabeça de forma educada. Uma parte em mim se sente amedrontada que
alguém possa reconhecer Johnatan. Olho para cima, para ele precisamente, e
o vejo tranquilo, sem demostrar qualquer intimidação, porém essa reação é
passada para aqueles que falam diretamente com ele, como a recepcionista
que nos atende com formalidade.
― Estamos aqui para um almoço com Susan Lee. Seu quarto é 358,
no quinto andar ― informa com um leve sotaque polonês, ao mesmo tempo,
joga seu charme para a recepcionista, que bate seus cílios com admiração.
Abro minha boca em surpresa, mas logo forço meu sorriso. Johnatan
se apoia no balcão e me encara. Não tenho dúvidas de que acabou de piscar
para mim, mesmo estando de óculos.
― Os senhores são? ― a recepcionista indaga com um sorriso que,
para ela, pode fazê-lo se derreter.
― Matt Polosh e Mine Clark ― Johnatan dispara.
Aperto meus dentes em frustração.
― Makgold ― corrijo-o entredentes para a recepcionista.
Johnatan sorri abertamente, corrigindo-se:
― Mine Makgold.
Não sei se a recepcionista se surpreende com meu sobrenome de
casada ou com meu tom enraivecido.
― Só um minuto ― a moça pede educadamente, depois, pega seu
telefone e liga para o quarto de Susan.
Como distração, encaro o saguão aberto com estofados de couro
organizados. Vejo o enorme ilustre no meio do salão, criando reflexos
cristalizados no chão branco de mármore.
― Está com ciúmes? ― escuto Johnatan sussurrar próximo ao meu
ouvido.
Ao invés de responder, eu o fuzilo com os olhos.
― Flertando com uma recepcionista? ― murmuro rispidamente.
― É só um disfarce, amor. Meu coração pertence só a você, minha
Roza ― declara, mas me afasto com uma careta.
Em seguida, somos distraídos com a recepcionista falando ao
telefone.
― Senhora Lee? Está aqui o senhor Matt Polosh e a senhora Mine
Makgold... ― a recepcionista é interrompida e acena de acordo com o que
Susan pede antes de desligar. ― Ela pediu para os senhores subirem.
Franzo a testa para Johnatan.
― Ela não irá descer? ― Johnatan pergunta, fingindo interesse.
Se eu não o conhecesse tão bem...
― Não, ela só pediu que os senhores subissem ― a mulher responde.
Acenamos e, sem precisar, ela indica onde ficam os elevadores.
― Por que sinto que isto está errado? ― sussurro, assim que as portas
de aço se fecham.
― Porque está errado ― Johnatan afirma.
Quando o elevador se abre para o quinto andar, encaro o corredor
extenso e silencioso, com carpete vermelho e quadros nas paredes.
Caminhamos até o quarto 358, sempre atentos à nossa volta.
Tudo parece normal, exceto pela porta do quarto de Susan, que está
encostada. Johnatan ergue sua sobrancelha e fico atrás dele sem pestanejar.
Ele abre a porta cautelosamente e entra. Sigo-o, observando o quarto
espaçoso, mas meus olhos curiosos estão mesmo é à procura de Allan.
― Johnatan? ― escuto uma voz assustada.
Espio, por trás de Johnatan, Susan sentada em uma cadeira com os
olhos arregalados para Johnatan. Observo que ela usa jeans e uma camisa
branca solta.
― Bu! ― Johnatan dispara com sarcasmo, depois fecha a porta atrás
de mim.
― Você-está... Vivo... ― a mulher estremece.
Franzo a testa. O arrepio em minha nuca me deixa desconfortável.
― Pois é, resolvi sair da tumba para fazer um exame de DNA,
porque, segundo me informaram no meu túmulo do sossego, eu tinha um
filho com você ― Johnatan não deixa de ser irônico, enquanto olha para os
lados, tirando seus óculos e o guardando dentro de sua jaqueta. ― Então...
Onde está o garoto?
Johnatan tirou a pergunta da minha boca, imediatamente meus olhos
vasculham o lugar. Quando volto minha atenção para frente, vejo Susan
estremecer os lábios.
― Susan, onde está Allan? ― pergunto com urgência.
― Eu não sei ― responde desesperada, ao mesmo tempo em que
observa nossos pés, como se não tivesse coragem de olhar nos olhos.
Johnatan suspira exasperado.
― Pode me dizer o que está acontecendo aqui?! ― a voz firme de
meu marido a faz estremecer.
― Por favor... Me perdoe. Eu não esperava que você aparecesse.
Pensei que estivesse morto... ― ela chora e sinto meu coração se apertar ao
ver sua situação.
― E pensou que eu não estaria com minha esposa? ― Johnatan diz
em ameaça. ― Você se enganou!
Afasto-me deles e corro à procura de Allan. No quarto de Susan, vejo
as roupas bagunçadas na cama, mas nenhuma de criança. No banheiro
também não o encontro. Balanço minha cabeça e volto para Johnatan em
alerta.
― Ele não está aqui! ― olho para Susan. ― Onde está o garoto?!
― EU NÃO SEI! NÃO SEI! ― grita. ― ELES ME OBRIGARAM!
Johnatan a encara com os olhos ferventes.
― Quem?! ― Susan balança a cabeça em desespero e tenta se afastar,
mesmo estando sentada. ― RESPONDA! ― Johnatan perde a paciência.
Arregalo meus olhos com sua reação.
― Fica longe de mim ― Susan implora aos choros.
― As pessoas que te obrigaram pegaram Allan? ― pergunto, vendo
seus olhos vermelhos ser disparados para mim.
Ela acena desesperada.
― Uma mulher o levou ― responde trêmula, sem tirar os olhos de
Johnatan.
― Pode dizer como é essa mulher? ― Johnatan tenta se manter
tranquilo.
Susan puxa o ar com força para controlar seu desespero.
― Provavelmente a mãe ― sua voz falha.
Ergo meu corpo como se estivesse recebido um baque.
― Você mentiu? A troco de quê? ― disparo em agonia.
Susan geme ao chorar.
― Eu não tive escolha ― a mulher responde quase sem voz.
― O que está querendo dizer? ― Johnatan fica mais atento.
Quando Susan não responde, Johnatan rosna exasperado, mas assim
que dá um passo à frente eu me arrepio com o grito estrangulado de Susan:
― NÃO!
Antes que possa evitar, um tiro é disparado diretamente no estômago
da mulher.
Tapo minha boca e me afasto para trás de Johnatan. Quando olho ao
redor, próximo à televisão embutida na parede, vejo um cano negro no canto
inferior direito. Johnatan também segue a linha de onde o tiro surgiu,
enquanto observa a sua volta. E estremeço violentamente quando o escuto
pronunciar com frieza um palavrão em russo.
33 – ARMADILHA

Meus olhos se arregalam para Susan caída no chão sem fôlego. Ela
estremece e aperta o estômago, o sangue mancha sua camisa.
― Armadilha ― escuto Johnatan murmurar.
De repente, sou jogada no chão, enquanto seu corpo me protege.
Encolho-me a cada barulho de disparos que ecoam pelo quarto. Não
consigo ver, mas presumo que há armas por todos os lados, assim como vi
próximo à televisão embutida. Escuto tanto os vidros se quebrando, como
também objetos caindo. Quando os tiros são interrompidos, Johnatan relaxa
seus braços com cautela, permitindo-me espiar.
O quarto, de luxuoso passou para destruído. Johnatan também observa
atento, pois sabemos que ali é apenas o começo. Em seguida, ele me olha
preocupado, acaricia meu rosto e afasta a sujeira dos meus cabelos. Suas
roupas estão empoeiradas, assim como o lugar.
― Temos que sair daqui ― murmura, e aceno.
Rapidamente, sinto uma mão quente e pegajosa prender a minha.
Olho em direção ao contato, vendo Susan assustada. Sua mão treme contra a
minha, num aperto enfraquecido.
― Não me deixe aqui ― implora fracamente, o sangue escorre por
sua boca e suas lágrimas começam a cair. ― Me tirem daqui... Por favor...
Tapo minha boca com a outra mão quando sua respiração é
interrompida, seus olhos falecidos alarmados estão fixos nos meus.
De repente, Johnatan puxa minha mão agarrada com a de Susan para
me levantar e aperta meu corpo contra o seu. Não entendo sua reação, mas o
sinto se mover mais rápido, sacando sua arma e atirando contra o vidro da
sacada enquanto nos arrastamos pelo o local. De imediato, percebo que o
quarto abastece um sensor de movimento ao voltar a atirar em todas as
direções.
Quando olho para trás vejo os tiros serem disparados em direção ao
chão, acertando o cadáver de Susan. Um estrondo no vidro à frente me distrai
e percebo que Johnatan o quebrou depois de arremessar um vaso de
porcelana. Mas o pior de tudo é quando os tiros voltam a parar com um som
de destrava, como se estivesse sendo recarregados antes de mirar em nossa
direção.
Johnatan abraça meu corpo com firmeza e rola comigo para fora da
sacada assim que os tiros começam a seguir até nós. É tudo tão rápido que
apenas sinto minhas costas se chocarem contra ele, deparando-me com o céu
nublado e o prédio. Ao olhar em volta, percebo que estamos em um andaime
suspenso. Um de seus braços me aperta, enquanto escuto algo ser
arrebentado. Nem mesmo tenho tempo para reagir, já sentindo o frio na
barriga quando o equipamento desce numa velocidade assustadora até nossos
corpos se chocarem bruscamente devido ao impacto.
Puxo o ar com força, encarando o céu nublado novamente. Nem
mesmo consigo me mover direito, mas sem me dar tempo, Johnatan vira-se
contra mim para me proteger. Espio, sob seu ombro, o quarto de Susan
explodir. Meus ouvidos zunem pelo barulho ensurdecedor e a luz da explosão
me cega brevemente. Fecho meus olhos com força e me escondo debaixo do
corpo de Johnatan.
Quando o sinto se afastar, olho para cima, distraída com o fogo. Logo
focalizo os olhos de Johnatan preocupados. Ele me toca, como se procurasse
por alguma ferida.
― Você está bem? ― pergunta ofegante enquanto examina meu
rosto.
Balanço minha cabeça, incapaz de falar. Depois arregalo meus olhos.
― Susan...
― Já passou ― beija minha testa. ― Vamos.
Johnatan me ajuda a levantar e sair do andaime.
― Suas costas ― preocupo-me.
Vejo Johnatan mover seus ombros para trás até escutar os estalos dos
seus ossos.
― Já tive quedas piores ― murmura.
Olho em volta, estamos atrás do prédio, isso significa que podemos
chamar atenção. Johnatan também percebe o risco, enquanto limpa suas
roupas. Logo depois, puxa-me para longe, até chegarmos a uma rua mais
movimentada, onde nos misturamos com facilidade. De relance, percebo os
curiosos correrem aglomerados em direção ao prédio e me agarro em
Johnatan como proteção, ele saca seu celular para fazer uma ligação rápida.
― Cassandra ― apenas a chama, depois desliga.
Franzo a testa ao escutar sua respiração tensa e olho para cima, vendo
seus olhos em alerta. Ele se curva para beijar minha testa antes de envolver
seu braço em meu ombro.
― Estamos sendo seguidos? ― desconfio quando nossos passos se
aceleram e viramos a esquina, para longe da movimentação.
― Sim ― confirma.
Disfarçadamente, observo uma loja de cosméticos na intenção de
virar meu rosto para trás, noto que dois homens se aproximam. Eles também
caminham, seguindo nossos passos, mas sem olhar em nossa direção. Viro-
me para Johnatan e o abraço com força.
― Onde está Cassandra? ― falo com urgência.
― Seguindo-nos também. Provavelmente, do outro lado da rua ―
Johnatan explica e inspiro fundo conforme a movimentação vai se
tranquilizando.
Quando viramos a próxima esquina, em direção ao sul, a estrada está
mais vazia e os muros dali são altos. Entrelaçamos nossos dedos e seguimos
em frente, em direção à avenida. Para nossa irritação, uma SUV preta
bloqueia nossa saída. Johnatan e eu travamos nossos passos e olhamos para
trás, para os dois homens se aproximando com olhar de diversão. Distraio-me
quando escuto as portas do carro à frente se fecharem.
Aperto a mão de Johnatan ao ver três homens de toucas balaclava
saindo da SUV.
― Fique perto de mim ― Johnatan solta minha mão e puxa meu
capuz para cobrir minha cabeça.
É como se estivéssemos em um círculo fechado. Os dois homens sem
toucas, que têm a aparência mestiça, não são tão altos, porém são mais
musculosos.
Sem termos tempo, os dois mestiços avançam para Johnatan, como se
quisessem ser os primeiros a entrarem na brincadeira. Assim como eu,
Johnatan permanece imóvel esperando suas aproximações, observando os
adversários. Quando os mestiços se aproximam para atacar Johnatan, ele
move seus braços e pernas golpeando ambos com agilidade. Um deles tenta
me atacar e movo meu punho cerrado em sua mandíbula a ponto de escutar
seus dentes se baterem.
Tanto eu quanto Johnatan nos movemos com agilidade, golpeando e
nos protegendo dos ataques. Os outros três de toucas assistem, como se
esperassem sua vez. Percebo que Johnatan mantém os dois homens em minha
direção para que eu os atinja com mais brutalidade, até ele notar o cansaço de
ambos antes de girar seus corpos para torcer seus braços.
Um deles afasta cambaleante, dando tempo necessário para Johnatan
quebrar o pescoço de seu companheiro, deixando-o cair no chão sem vida. O
mestiço que restou não parece satisfeito, ele rosna, avançando em nossa
direção, mas antes que o indivíduo se aproxime de mim, Johnatan o puxa
para longe, segurando sua cabeça com firmeza e mantém sua boca aberta para
jogar uma espécie de pastilha branca, fechando-a em seguida. O homem se
debate, mas Johnatan o mantém firme em seus braços.
Sem esperar pela aproximação dos três restantes, Johnatan saca duas
facas da manga de sua jaqueta e arremessa. Uma acerta o coração de um e a
segunda lâmina crava no pescoço do outro. Ambos caem sem nem terem
tempo de lutar. Pisco impressionada. Em seguida, Johnatan joga o mestiço no
chão, como se ele fosse um saco de batatas. Com o efeito da pastilha, vejo o
homem se engasgar antes de morrer. Agora só resta um.
O que sobrou não se intimida, mesmo vendo seus aliados mortos no
chão. Ele é esguio, tem quase a mesma altura de Johnatan, posso não ver seu
rosto, mas seus olhos castanhos demonstram frieza.
Enquanto caminha, arranca de suas costas duas barras médias. Ele
move as barras como se fossem baquetas e logo seus braços giram de um
lado para o outro brutalmente. Johnatan e eu nos movemos em defesa para
não sermos atingidos. Ao mesmo tempo em que o oponente é rápido, ele é
habilidoso, mas aproveito o pouco tempo que tenho de sua breve distração
para acertar seu joelho com um chute e dar socos em suas costelas. Johnatan
também faz o mesmo, deixando o agressor se curvar, sem perder a
oportunidade, o homem consegue acertar meu quadril.
Mesmo com dor pelo ataque, deixo a raiva me consumir, enquanto
contra-ataco, acertando seu rosto com um chute e enroscando meu braço
direito no seu esquerdo. Em seguida, cravo minhas unhas por cima de sua
malha preta, desarmando-o. Só que, por outro lado, o homem consegue
atingir Johnatan, e me distraio ao vê-lo recuar com o golpe na garganta. Sem
perder tempo, o agressor me puxa, girando meu corpo e mantendo seu braço
enroscado em meu pescoço. Minhas pernas se desequilibram, e tusso com o
aperto sufocante.
Pisco meus olhos ferventes, vendo Johnatan levantar seu olhar em
ameaça. Sinto o cano frio da arma em minha têmpora. Johnatan não se
intimida.
― Fique longe ou ela morre ― o homem ameaça ofegante, e
permaneço imóvel mesmo sendo agarrada com força.
A sobrancelha de Johnatan se ergue ao escutar o alerta, mas, num
piscar de olhos, eu o vejo arrancar uma pistola com silenciador da sua jaqueta
e atirar em nossa direção.
Minhas pernas travam e meus olhos se fecham com força. Solto
minha respiração assim que o homem cai atrás de mim. Ao abrir meus olhos
devagar, não ouso olhar para trás, sabendo que Johnatan o acertou na testa.
― Ninguém ameaça minha esposa ― Johnatan grunhe ferozmente,
fazendo meu coração se derreter, mesmo nós dois estando um caos.
Corro para abraçá-lo.
― Machucou? ― toco seu pescoço.
― Eles batem como uma mocinha ― Johnatan faz uma careta.
Sorrio.
― Onde está Cassandra?
― É isso que quero saber ― ele pega seu celular do bolso, mantendo-
me presa em seu braço.
Com curiosidade, vejo um dos mestiços caídos com a boca
espumando. Seus olhos estão abertos, brancos e arregalados. Penso que a
pastilha é um veneno inventado por Matt.
― Está de brincadeira...
A voz monótona e o corpo rígido de Johnatan me chama atenção.
Franzo a testa, vendo seus olhos fixos à frente. Viro meu rosto para ver o que
lhe aborrece além da SUV.
Arregalo meus olhos para um homem alto que sai do carro,
provavelmente, tem mais de dois metros de altura. Ele usa roupas escuras e
coturnos. Em sua mão, nota-se nitidamente a tatuagem da LIGA. Ele tem a
cabeça raspada nas laterais e olhos claros. Quando move sua cabeça de um
lado para o outro, é possível escutar até seus ossos estalarem.
― Ele deve pesar uns cento e cinquenta quilos ― sussurro para
Johnatan.
― Ou mais ― Johnatan me puxa para trás de seu corpo.
O homem gigante observa os corpos no chão com um sorriso amargo,
mostrando seus dentes escuros. Encolho-me intimidada.
― Johnatan... Amor? Ele é duas vezes maior que você ― cochicho,
ficando na ponta dos pés.
Brevemente, seu rosto se vira em minha direção e encaro sua testa
franzida.
― Se eu me arrebentar, você vai cuidar de mim? ― Johnatan
pergunta, como se tivesse se divertindo.
Reviro meus olhos e volto a me encolher quando o gigante nos encara
com curiosidade.
― Sabe o que fazemos quando encontramos corpos assim? ― a voz
do gigante é horripilante. ― Assamos em brasa ― observa os corpos e se
curva para um dos mestiços, próximos aos seus pés, para pegar sua mão. ―
Ou comemos cru. Minha parte preferida é o cérebro.
Sinto a bile subir em minha garganta ao vê-lo arrancar o dedo
mindinho do mestiço morto, em seguida, morder o pedaço do dedo e
mastigar.
Agarro o braço de Johnatan para me equilibrar, ele apenas me
observa, como se demonstrasse sua proteção, mas a atitude do gigante faz
meu sangue sumir do rosto e minhas pernas ficarem bambas. Logo me
assusto com disparos altos, surpreendendo-me com meu pai segurando uma
arma prata, enquanto atira contra o gigante.
Os tiros seguem em direção à cabeça e rosto do homem. O gigante
tenta se defender, mas cai de joelhos. Escondo-me atrás de Johnatan, incapaz
de assistir à cena. Em seguida, escuto o corpo cair, até mesmo o chão
estremece.
― Temos que ir ― a voz rígida e aborrecida de meu pai me chama
atenção. ― Eles cercaram o quarteirão.
Afasto-me, vendo Johnatan acenar pensativo.
― Pai... ― digo sem fôlego.
Edson inspira ofegante.
― Estou com um carro ― ele me observa preocupado, assim como os
corpos à nossa volta. ― A garota com a van teve que despistar muitos deles
― informa. Me preocupo com Cassandra.
Sem querer, encontro o pedaço do dedo no chão. A cena em minha
cabeça faz meu corpo estremecer e me curvo para vomitar. Sinto as mãos de
Johnatan me puxarem para longe, para um canto afastado, enquanto coloco
para fora o que tenho no estômago. Meu corpo estremece e sinto as lágrimas
em meus olhos. Quando finalmente paro, levanto meu corpo, vendo Johnatan
preocupado.
― Tudo bem... Já passou ― Johnatan me conforta segurando meu
rosto com as duas mãos. ― Vá com seu pai ― pede.
― O quê? ― estremeço.
― Mine, você não está bem. Aliás, mesmo que estivesse, ainda assim
mandaria ir com o seu pai. ― Johnatan afirma, beijado minha testa e
ajustando meu capuz. ― Estarei com você em breve. Senhor Clark, dê a ela
muita água...
― Não precisa me ensinar como cuidar da minha própria filha ―
meu pai o interrompe exasperado.
― Johnatan ― o chamo.
― Minha Roza, por favor ― Johnatan implora. ― Eu te amo, vai
ficar tudo bem. Agora, preciso encontrar Cassandra, mesmo que o restante da
equipe já esteja a caminho.
Engulo em seco e aperto meus lábios, fazendo uma careta quando o
vejo se aproximar para beijar minha boca. Ele revira os olhos e beija meu
nariz.
― Promete que vai voltar? ― peço acariciando seus cabelos. ―
Promete para mim?
Johnatan agarra minhas mãos e inspira o perfume em meus punhos
antes de beijar minha pele.
― Eu prometo.
― Vamos, Mine ― Sinto meu pai me puxar.
Cambaleio para longe, sem perder o foco em Johnatan.
Quando ele some do meu campo de visão, acompanho meu pai em
passos largos e com a cabeça baixa. Ele esconde a arma em seu bolso para
abraçar meu ombro com força. No fundo, sei que está aborrecido.
― Pensei que estivesse observando a reforma ― murmuro.
― Acha que sou tão lerdo a ponto de não me dar conta do que
acontece ao meu redor? ― praticamente rosna. ― Quando sinto que algo de
ruim está para acontecer com você, a certeza de não estar errado é gritante.
Chegando ao carro, estacionado em uma loja pouco movimentada,
acomodo-me no banco de trás sem hesitar. Por outro lado, meu pai entra na
loja rapidamente para comprar quatro garrafinhas de água.
― Peter? ― digo assim que o vejo no volante.
― Tive que vir correndo, assim como os outros. Não estamos seguros
aqui ― Peter informa com urgência.
Assim que meu pai entra, Peter dá a partida.
― Beba ― meu pai ordena, entregando-me as quatro garrafinhas de
água. ― Vocês têm que estar mais atentos do que nunca. Sabe que Charlie
Makgold pode armar uma emboscada sem ao menos esperar. Johnatan pode
ter tudo sob controle, mas você não tem ideia do que um Makgold é capaz!
― Já chega! ― disparo frustrada e passo minhas mãos no rosto
exasperada. ― Até quando vai compará-lo com o pai dele? Johnatan não é
assim. Ele está se arriscando a todo o momento para manter vivas as pessoas
com quem se importa. Veja o que ele fez até hoje e o que está fazendo. Não
olhe só para seu umbigo, pai, você, mais que ninguém, sabe o quanto
Johnatan vive dia após dia tentando sobreviver para que esse inferno acabe!
― respiro ofegante e sinto minhas lágrimas.
― Filha, a única coisa que me importa é você ― meu pai rebate.
Encaro a janela.
― Acha que ele escolheu ter essa vida? Acha que cada uma das
pessoas que o rodeia escolheu viver assim? Ele só quer paz, mas enquanto
estiver assim, sei que vai fazer o impossível para que isso termine, e eu o
estarei apoiando. É isso que as pessoas fazem quando se amam de verdade,
apoiam-se, dão forças, lutam e eu faria a mesma coisa por você! ― olho para
meu pai, vendo seus olhos piscarem sem foco, sem ter o que dizer.
Pelo retrovisor do carro, Peter me observa com um sorriso agradecido
e me recosto no banco, tentando beber a água.
Durante o caminho, não pergunto para onde estamos indo, mas pela
direção que o carro toma na estrada, sei que estamos indo direto para a
mansão. Esfrego minha testa, tendo meus pensamentos de flashbacks dos
ocorridos de hoje. Ordeno-me mentalmente a pensar em primeiro lugar em
Johnatan, depois em Cassandra e o restante da equipe, mas logo o rosto
inocente de Allan toma conta de meus pensamentos, assim como o infeliz do
Zander. Provavelmente Shiu tenha boa parte das informações e tentar
procurá-lo no momento não seria o certo, pois sei que ele deve estar ocupado
ajudando os outros.
Assim que Peter estaciona na mansão, saio do carro rapidamente,
como se precisasse de ar. O sol está quase se pondo, e caminho pelo campo
observando os cavalos, assim que eles notam minha presença, vejo Lake
correr em minha direção, circulando empolgado. Sid também se aproxima,
observando-me com seus enormes olhos negros e estico minha mão para
acariciar sua pelagem branca, enquanto ela se curva.
Quando Hush escuta a movimentação, segue farejando, como se
estivesse preocupado. Eu ainda me impressiono que, mesmo sendo cego, ele
pode ser tão inteligente! Depois que Sid se ergue, vou até Hush para abraçar
seu pescoço. Sua enorme cabeça se curva, como se retribuísse meu abraço.
Dou um sorriso repentino ao sentir Lake me farejar e esfrego minha mão em
sua cara.
― A cada dia que passa vocês estão mais lindos ― elogio, sorrindo
por eles serem minha distração.
Permaneço com os cavalos por um tempo. Eu também poderia me
distrair ainda mais com Jordyn ou Ian, mas, no momento, o que desejo é ficar
sozinha e esperar por Johnatan. Entro na casa pelas portas do fundo, para
tomar um rápido banho, vestir uma das camisas de Johnatan que encontro no
quarto e escovar meus dentes. Quando retorno para o campo, o sol já
desapareceu pelas montanhas, ao invés de ficar com os cavalos, sigo direto
para a tenda na floresta.
Assim que passo pelos tecidos, jogo-me na cama cansada. Mesmo
sentindo meu estômago vazio, não sinto fome e me recuso a pensar na cena
desagradável dessa tarde.
De repente, um movimento nos tecidos me faz saltar sentada, logo
vejo a cabeça de Sid entrar, é como um déjà vu das vezes que passei meses
sem Johnatan. Sorrio para ela e volto a deitar, batendo em meu travesseiro
para que ela se junte a mim. A égua deita próxima à cama e coloca sua
cabeça no travesseiro. Viro-me para acariciá-la pensando em Johnatan, temo,
no momento, que ele possa não voltar.

Lábios macios e molhados estão contra os meus. Quando abro minha


boca para puxar a respiração, sinto a língua invadir, esquentando-me por
inteira. Preguiçosamente, ergo meus braços para rodear seu pescoço. As mãos
quentes percorrem minhas pernas, puxando meus joelhos até sua cintura para
arrastar suas palmas por meus quadris a fim de se enfiarem por baixo da
minha camisa. Abro os olhos e dou um sorriso aliviado.
― Você voltou ― murmuro rouca, enquanto acaricio seus cabelos.
― Eu tenho que cumprir minhas promessas ― murmura, deslizando
seus lábios em meu pescoço. ― Não esperava ter essa recepção toda ―
provoca, empurrando sua pélvis para que eu sinta sua ereção.
Sorrio ao perceber que está sem camisa, mas logo pisco meus olhos
confusos com a noite repentina.
― Você chegou agora? ― pergunto, enquanto seus lábios deslizam
por meu colo, onde desabotoa minha camisa, tendo fácil acesso à minha pele.
― Não exatamente ― sussurra ofegante.
Mordo meu lábio arrepiada
― Você não quer conversar sobre isso agora, não é? ― desconfio.
Quando sua boca encontra meu seio, ofego com seus dentes em meu
mamilo.
― Não ― murmura em minha pele sensível. ― E você também não
― grunhe, apertando minhas coxas nuas com força.
Arqueio meu corpo contra ele. Não consigo ver seu rosto, mas tenho
certeza de que possui um sorriso depravado.
― Não pode estar tão certo disso ― provoco-o desafiante e o sinto
abrir a camisa por completo.
― Posso sim ― gaba-se e, ao mesmo tempo, arrasta sua mão por
entre meus seios até meu ventre.
Em seguida, sua mão se enfia por dentro da minha calcinha, fecho
meus olhos por sua perversão.
― Você está tensa, mas me quer da mesma forma que a quero. Está
molhada, está quente... e pulsante. Está pronta para mim.
Sua voz sensual, rouca, com o leve sotaque russo é como uma
distração para meu corpo e mente. Nada mais importa se não o tiver comigo
agora. Arqueio meu corpo quando sinto seus dois dedos me invadirem
devagar e com doçura, fazendo minhas entranhas se contorcerem. Com sua
outra mão livre, ele desliza em minha pele e aperta meu seio conforme move
sua mão em meu sexo.
― Johnatan,... ― o chamo em súplica, enquanto me delicio com sua
tortura suavemente dominante.
― Eu sei, minha Roza. Eu também quero... muito. Você não faz ideia
― o tom malicioso me faz gemer alto.
Eu me perco ainda mais assim que seus dedos me invadem
profundamente.
34 – MONTREAL

Depois de longas horas de prazer saciado, é como se eu tivesse flashes


da noite, pois estou acordada por obrigação e insistência de Johnatan. As
luzes da tenda estão ligadas e há um jantar simples para dois. Sou como um
zumbi, não tenho nem forças para levantar uma colher devido ao sono. Fico
com um sorriso abobado quando meu amor se opõe para me alimentar, ele
me olha com carinho e diversão.
― Olha só para você. Parece tão indefesa ― murmura.
Eu o observo, espetando os aspargos para me alimentar.
― Eu sei que você está gostando ― digo de boca cheia. ― Suco, por
favor!
Johnatan ri relaxado, depois se aproxima para me dar o suco. Sorrio
ao receber um beijo na testa.
― Que adorável ― elogia e vejo seus olhos se abaixarem para meus
quadris.
Estou apenas com sua camisa e ela continua aberta em meu corpo.
Sigo seu olhar, vendo uma pequena marca avermelhada próxima à minha
cintura, Johnatan toca o lugar com suavidade, mas não sinto dor.
― Não foi nada. Bem que você disse que eles batem como uma
mocinha ― brinco, logo sua testa franzida relaxa, numa expressão divertida.
― Viu só como minha teoria foi comprovada? ― diz todo modesto,
mas depois que de termina de me alimentar, suspira. ― Odeio quando tocam
em você. É como se mexessem numa parte muito importante de mim. Meu
autocontrole se evapora, e a única coisa que enxergo é a vítima. Em meus
pensamentos, há várias formas de como vou matá-los. Argh! É um tanto
sombrio ― confessa exasperado.
Toco seu rosto com amor.
― Essas pessoas fazem qualquer coisa para nos atingir. Então,
quando estou com você, o alvo acaba sendo eu, porque eles sabem sua
fraqueza ― beijo seus lábios. ― Mas, de certa forma,... eu amo sua proteção.
Sinto-me segura.
Seu sorriso torto surge e sua mão se ergue para acariciar meu rosto.
― Eu faço qualquer coisa para manter você segura. Eu te amo mais
que tudo, Mine Makgold ― a declaração faz meu coração se derreter.
― Eu também te amo ― sorrio, dando-lhe beijos suaves.
Sinto seu sorriso em meus lábios e me afasto desconfiada para
observar seu rosto.
― Hum... Acho que temos sobremesa ― eu o escuto rouco.
Solto um grito espontâneo ao ser jogada no colchão. E me arrepio
com sua barba rasa fazendo cócegas entre meus seios, enquanto desliza em
direção ao meu ventre. Puxo o ar com força e gemo com sua boca em meu
sexo.

Desperto devido à claridade e os pássaros cantantes. Espreguiço-me,


tateando o espaço vazio com a testa franzida. Sento-me na cama, puxando o
lençol para cobrir meus seios e vejo uma bandeja de café da manhã no banco
próximo à cama. Dou um sorriso presunçoso, enquanto me rastejo até a
bandeja para pegar uma rosa com um bilhete. Leio o pequeno cartão toda
abobada:
"1- Café da manhã reforçado. Coma tudo!
2 - Não se esqueça de que te amo.
3- (Antes que fique aborrecida por não estar ao seu lado), estou com
os cavalos."

Balança a cabeça sorrindo e observo a caprichada bandeja de café da


manhã. Enquanto me alimento, distraio-me com um conjunto de moletom
preto em cima de um estofado, junto a um par de converse cinza. Assim que
termino minha refeição, visto as roupas, enrolo meus cabelos bagunçados
num coque frouxo, antes de sair da tenda, e levo minha rosa junto com a
bandeja.
Não faço ideia de que horas são, provavelmente sejam seis e meia ou
sete da manhã. Caminho tranquilamente até encontrar Johnatan no meio do
campo, instruindo os cavalos.
― Bom dia, querida ― escuto Donna atrás de mim, vindo em minha
direção.
Ela retira suas luvas de jardinagem para pegar a bandeja que carrego.
Sorrio sem jeito ao recolher minha rosa junto com o meu cartão, guardando-
os no bolso.
― Bom dia, Donna. Estava na horta? ― questiono.
― Sim. Parece que temos um ladrãozinho de cenouras ― brinca.
Sorrio balançando a cabeça.
― Ah! Lake ama suas cenouras ― defendo-o rapidamente. ― Olha,
vou ver Johnatan agora, mas daqui a pouco entro na casa para ajudá-la.
― Não se preocupe, querida. Jordyn já levantou com muita energia
― Donna, ri e beijo sua bochecha antes dela se afastar com a bandeja.
Volto a observar mais atentamente Johnatan com os cavalos, ele
parece ter acabado de sair do banho, pois seus cabelos estão molhados.
Aprecio também suas roupas, mas, principalmente. a linda camiseta branca
que abraça seu corpo, permitindo a nítida visão de seus músculos firmes
contra o tecido.
Por outro lado, Lake circula cavalgando, enquanto Johnatan tenta
mantê-lo no lugar como os outros. Assim que nota minha aproximação, o
cavalo caramelo caminha feliz em minha direção.
― Olá... Hey! ― repreendo Lake quando toma a rosa das minhas
mãos e sai correndo com ela na boca.
Olho para Johnatan, vendo seu sorriso espontâneo.
― Deveria tentar pegar ― diz ao se aproximar para tocar meu rosto.
― Está se divertindo, não é? ― sorrio.
― Completamente ― responde rouco, depois se curva para beijar
meus lábios.
― Eu não escovei os dentes ― reclamo divertida, mesmo assim,
beijo-o empolgada.
― Tem gosto de salada de frutas ― gargalho, pois isso fez parte do
meu café da manhã. ― Como dormiu?
― Muito bem ― abraço seu pescoço, seus braços me cercam num
abraço apertado.
― Eu digo o mesmo, mas, agora, temos um dia longo pela frente ―
seu comentário me chama atenção.
Meus pensamentos tranquilos se vão e a preocupação volta à tona.
Aperto meus lábios em antecipação.
― Encontraram o garoto? ― disparo.
Seus olhos piscam confusos.
― Ainda não. Shiu conseguiu imagens, pela câmera de segurança do
prédio, para fazer um rastreamento facial, só que não há nada sobre o garoto,
nem mesmo o nome completo ― Johnatan informa, me fazendo suspirar.
― Acha que ele pode ser filho de um desses membros? Que fizeram
algo com a criança? Você viu o que eles praticam? O que eles comem... ―
Johnatan beija meus lábios em conforto.
― Não pense mais nisso. Faria qualquer coisa para apagar essas
imagens terríveis de sua mente ― sussurra, olhando em meus olhos. ― Sobre
o garoto ser parente de algum deles, não duvido nada, assim como não posso
confirmar se fizeram ou não algo com o menino.
Estremeço, não quero pensar no pior.
― Mesmo assim, continue procurando. Só por garantia ― peço sem
deixar de evitar minha preocupação.
Johnatan acaricia meu rosto ternamente.
― Você tem um coração enorme, sabia? Eu farei qualquer coisa para
deixá-la tranquila. Não se preocupe, Shiu vai continuar investigando ―
assegura e lhe dou um leve sorriso.
― E quanto a Zander? ― vejo sua expressão ficar amarga
imediatamente.
― Shiu o localizou em um hotel barato. Parece que a LIGA está
tentando mantê-lo escondido ou fazendo algo contra ele ― Johnatan comenta
pensativo.
― Ou, talvez, tentando tirar o rastreador do ouvido ― completo,
vendo o seu sorriso.
― Provavelmente ― suspira. ― O rastreador continua nele, caso seja
retirado, o modo de rastreamento é desligado.
Inspiro fundo.
― O que você quis dizer com “o dia será longo”? ― falo confusa e
observo Sid e Hush correrem em sincronia.
― Vamos para Montreal ― Johnatan me surpreende.
― Montreal?
― Isso. Vamos atrás de Messi ― revela. ― Por enquanto, estamos
rastreando, mas nada me tira da cabeça de que o tal mensageiro continua
envolvido em algo com a LIGA e com Charlie. Não confio nas palavras de
Zander, ele sabe manipular as pessoas. Mentir é sua arte ― Johnatan dispara.
― Por outro lado, poderíamos fazer um rastreamento fácil, porém os dados
de Messi nos arquivos que roubamos na Rússia não permite acesso ― diz
exasperado.
― Pede alguma senha? ― indago.
― Basicamente, o arquivo é apenas parte do que possuímos. Se
estivesse completo, conseguiríamos em questão de segundos ― explica e
inclina a cabeça ao ver meus olhos perdidos. ― Chega, não quero preocupá-
la ainda mais. Tenho uma distração para você.
Suas palavras me fazem encarar seus lábios. Franzo a testa.
― Que tipo de distração? ― desconfio, dando-lhe um sorriso aberto.
― Algo chamado treinamento ― abre seu sorriso, enquanto eu faço
uma careta.
― Você é muito insensível às vezes ― resmungo ao me afastar e
sinto seu tapa na minha bunda.
― Os cavalos estão te esperando para uma boa corrida ― escuto,
vendo os cavalos me encarando.
Ainda me impressiono com o fato de como Johnatan consegue se
comunicar com eles entre gestos e olhares. Os cavalos estão parados em
fileira, como se estivessem me aguardando. Aperto meus olhos, vendo Sid se
curvar ao notar que estou mantendo minha posição antes de correr. Assim
que avanço, tento acompanhá-los, principalmente a égua quando tento
estender meu braço ao tentar tocar sua pelagem branca.
No treino de hoje, Johnatan decidiu pegar mais pesado, sentia que as
horas não passavam nunca, pior, me sentia nocauteada. No final de tudo, ao
entrar na mansão, eu praticamente sigo rastejante.
― Às vezes, prefiro treinar sozinha ― confesso sem fôlego.
Preciso de um banho urgentemente, daqueles demorados e relaxantes.
― Até que eu me divirto em deixá-la no chão ― Johnatan provoca,
beijando meu pescoço.
― Eu estou suada ― reclamo rindo, mas logo somos interrompidos
por seu celular.
― É Nectara ― olha o identificador. ― Pode falar... ― ordena assim
que atende.
Seu dedo se ergue pedindo um momento. Aceno e aponto, com o
queixo, a direção do meu quarto. Johnatan sorri acenando, e me afasto. No
caminho, antes de chegar ao meu espaço, encontro Jordyn em seu quarto.
Aproveito que ela está distraída arrumando seu guarda-roupa e corro até ela,
pulando em seu corpo e a derrubando na cama.
― Você me assustou... Eca! Está suada! ― Jordyn reclama enquanto
tenta me afastar do abraço.
― Como você está? ― observo seu rosto.
Ela tem apenas algumas marcas avermelhadas. Seu olho, antes
inchado, agora está arroxeado, mas melhor do que eu imaginava.
― Estou bem... Quer sair de cima de mim? ― gargalha quando me
esfrego antes de levantar.
― Sabia que hoje vamos para Montreal atrás do tal Messi?
― James me disse. Eu não poderei ir, também não quero deixar
Donna e Ian sozinhos ― aceno de acordo.
― Cuida dos cavalos para mim? ― peço sorrindo.
― Com certeza Ian faz esse trabalho melhor que eu. Agora, vá tomar
um banho ― expulsa-me aos risos.
Por um momento, franzo a testa ao observá-la.
― Que cara é essa? ― pergunto curiosa e logo seu sorriso aberto
some.
― Cara de quê? O quê? ― a garota está gaguejante.
Balanço minha cabeça.
― Olha só... Eu vou com Johnatan porque eu, como esposa, devo
acompanhar meu marido, mas quando eu voltar, vamos ter que conversar ―
adianto, mesmo sendo empurrada para fora do quarto.
― Sai, me deixa arrumar minhas roupas e nem pense que vai sair
imune, quando terminar de tomar banho, pode vir me ajudar com a casa ―
sua ordem me faz rir. ― E você não é minha mãe! ― dispara, fechando a
porta na minha cara.
Abro a boca chocada e sorrio.
― Agora está agindo feito uma adolescente ― acuso rindo.

No meu banheiro, escovo meus dentes antes de tomar meu banho


demorado. Quando termino, enrosco a toalha em meu corpo e sigo para meu
quarto depois de engolir minha pílula. De repente, eu me assusto com meu
pai sentado em minha cama.
― Desculpe, não queria te assustar ― murmura curvado com os
braços no joelho.
― Oi, pai! ― falo sem jeito e vou até meu guarda-roupa.
― Precisava te ver antes de sair. Semana que vem finaliza a reforma
da vila ― comunica.
― Você sabe que pode ficar aqui...
― Não quero, filha. Não me sinto confortável aqui ― diz exasperado.
― Tudo bem, vou respeitar sua decisão ― suspiro. ― Desculpe por
me descontrolar com você ontem, mas tem que me entender, nada está fácil.
A única coisa que quero que entenda é que o amo. Agradeço sua
preocupação, seus conselhos, sua atenção, mas não posso e não vou
abandoná-lo. Não posso fingir que não sei.
― Eu não quero te perder, filha ― meu coração se aperta ao escutar
sua agonia.
Aproximo-me dele para beijar seu rosto e sentar ao seu lado.
― Eu prometo que vou tomar cuidado. Hoje vou com Johnatan para
Montreal, não se preocupe, vai dar tudo certo ― asseguro.
Vejo sua mandíbula apertada.
― Vai ficar muito tempo fora? ― indaga.
― Não sei ― abraço seu ombro e o olho com amor. ― Eu te amo
muito, pai.
Seus olhos cinza me observam com ternura, em seguida, seu sorriso
brota com emoção.
― Me diz isso quando voltar? ― pede antes de me abraçar e beijar
minha testa. ― Não sabe o quanto amo você. Por favor, se cuida!
― Eu vou ― retribuo abraço com força.
Quando sai do quarto para me dar privacidade, passo as mãos em
meus olhos lacrimosos e solto uma respiração aliviada.

Pela manhã ajudo na casa, mesmo que Donna proteste e Jordyn me dê


mais trabalhos. Para minha surpresa, Matt aparece com Peter e seguem direto
para o escritório no andar de baixo. Johnatan possivelmente deve estar se
organizando antes de sair, então, fico agradecida por ele estar ocupado. No
segundo andar, na biblioteca, verifico o sistema de segurança da casa.
Pensativa e encarando a porta, distraio-me com uma das gavetas da mesa.
Aperto meus lábios ao abri-la, retirando uma pequena caixa retangular.
Depois, guardo o pacote em meu bolso e salto da cadeira quando Johnatan
invade a sala com Matt.
― Mine? Pensei que estivesse com Donna ― Johnatan franze a testa.
― Por que está assim?
― Você me assustou ― sorrio. ― Oi, Matt!
― Olá, Mine! ― o advogado me cumprimenta.
― Certo, vamos para a Colmeia e de lá pegamos o voo ― Johnatan
informa rapidamente.
― Vou fazer minha mala ― apresso-me, mas meu marido me
interrompe.
― Não precisa, amor. Cassandra já deu um jeito nisso, enquanto
Nectara reservava uma suíte para hospedarmos. Conseguimos entrar em
contato com Gaspard e, como havíamos previsto, a máfia está agindo com
ataques de última hora. Ele também conseguiu autorizações dos nossos
armamentos e nossos passaportes. Ao que parece, Abram conseguiu alguns
aliados anônimos de sua confiança, mas não pode entrar muito em contato
para não ser suspeito ― a informação me surpreende.
― Dinka, Peter e James já estão a caminho ― Matt comunica,
verificando seu celular.
Percebo que tudo começa a ficar corrido a partir de agora.
― Perfeito. Vamos para a Colmeia ― Johnatan se aproxima de mim
com cautela. ― Está tudo bem? Você parece distante.
― Sim. Só um pouco preocupada.
― Vai ficar tudo bem. Por enquanto, Gaspard consegue nos manter
informados sobre qualquer movimentação estranha da máfia ― Johnatan
assegura beijando minha testa. ― Agora, temos que ir.
Matt segue para seu carro e dá a partida. Antes de sair, despeço-me de
Donna, Ian e Jordyn. Johnatan também faz o mesmo; caminho até os cavalos
para abraçá-los. Droga, eu nunca fui tão longe, meu coração parece se apertar
só de pensar. Quando Johnatan se aproxima, dou espaço para ver os cavalos
se curvarem. Seu tom de comando em russo é perfeito. Ele se abaixa para
acariciar suas pelagens, enquanto tem uma breve conversa com os animais,
depois, afasta-se. Os cavalos adotam uma postura reta; acompanho Johnatan
até o carro.
― Juntos? ― diz, assim que entro no conversível, vendo sua mão
erguida.
Olho para ele e sorrio ao entrelaçar os nossos dedos.
― Juntos!

Assim que chegamos à Colmeia, encontro Nectara manobrando três


carros por um Ipad. Na sala de monitoramento, encontro Shiu em seu
computador junto com Cassandra. Ao lado, vejo Matt organizar duas maletas
com frascos, pacotes fechados e seringas.
― Alguma novidade? ― Johnatan pergunta.
― Até agora nada. Já testamos vários códigos inimagináveis nesse
sistema da LIGA. Nem mesmo Abram conseguiu nos ajudar com essa
porcaria ― Shiu resmunga concentrado em sua tela.
― Gaspard não pode ficar muito tempo ao telefone, nem mesmo na
frente de um monitor ― Cassandra explica cansada. ― Por enquanto, o que
sabemos sobre Messi é que ele está em Montreal.
― Maldito sistema! ― Shiu dispara irritado ― O cara parece estar
em um baú protegido por sete chaves ― continua frustrado. ― Odeio quando
as coisas não dão certo.
― E como fazer para conseguir as informações necessárias? ―
pergunto.
Johnatan passa os dedos em seus cabelos.
― A segunda parte do arquivo ― lembra-me ― Não temos tempo de
ir até a Rússia para conseguir recuperar o restante das informações. Aliás,
isso precisa ser estudado, nem mesmo sabemos como estão as coisas por lá
― Johnatan alerta.
― Depois que invadimos, eles protegeram o sistema. Será arriscado
se eu conseguir acessar, pois eles podem nos encontrar ― Shiu fica
pensativo.
― A menos que você coloque uma localização falsa conectada à
nossa rede. ― Nectara sugere atrás de mim e caminha até Matt, onde pega
uma das maletas.
Inspiro fundo e tateio meus bolsos à procura da pequena caixa.
― Talvez isso ajude ― estendo minha mão para entregar a Johnatan.
Ele franze a testa ao abrir a caixa e ver o pen drive. Shiu espia
curioso.
― O que tem aqui? ― Johnatan entrega o objeto para Shiu, que logo
o conecta em seu computador.
― Eu não sei. Enquanto você esteve fora eu andei vasculhando... ―
pigarreio. ― Quer dizer, aprendendo algumas coisas sobre tecnologia. Vi
suas pesquisas, estudei e procurei na internet cada ponto que você
considerava ser suspeito. Foi ilegal, mas usei seu acesso online privado para
hackear alguns computadores...
― Até conseguir roubar a parte do arquivo do prédio da máfia na
Rússia ― Shiu me interrompe num tom assustado. ― Foi no mesmo dia em
que invadimos... era você monitorando do outro lado e não um deles.
A voz de Shiu se eleva a cada palavra dita, enquanto Johnatan me
encara surpreso.
― Mine?
― Eu só não sabia se estava fazendo certo. Só aparecia uma tela
escura com letras e números. Era tudo muito rápido ― explico com cuidado.
Todos me encaram perplexos, mas Shiu levanta de sua cadeira
piscando seus olhos puxados.
― Eu venho trabalhando nisso há anos, enquanto você conseguiu
fazer em meses? E sem sair de casa? ― Shiu dispara sem acreditar. ― Eu
vou me matar!
Para meu espanto, Johnatan solta uma gargalhada.
― Meu amor... Quando penso que já estou impressionado, você ainda
me dá uma dessas? ― Johnatan tenta recuperar seu fôlego. ― Eu estou
maravilhado.
― Todos nós estamos, John ― Matt pisca surpreso.
― Shiu, como se sente ao saber que há alguém aqui mais esperto que
você? ― Cassandra provoca, acessando seu computador.
― Humilhado! ― Shiu dispara com uma careta, fazendo todos rirem.
― Desculpe, Shiu, não foi minha intenção ― lamento sem jeito.
Minha reação só piora o divertimento deles em cima do astro da
tecnologia.
― Acho que... eu mudei de ideia. Não gostaria de me casar com
alguém mais inteligente que eu ― Shiu resmunga, voltando a atenção para
sua tela.
― O que quer dizer com isso, Shiu? ― Johnatan observa.
O pobre coitado tosse, mas mantém sua postura reta.
― Nada, senhor, nada mesmo. Vamos ao trabalho ― Shiu se vira na
minha direção e sorri. ― Só para você saber, eu vou fazer cópia disso.
Espertinha.
Aperto meus lábios para não sorrir. Em seguida, Johnatan agarra meu
rosto e beija meus lábios.
― Não ficou aborrecido? ― pergunto a ele.
― Fiquei em choque. Ainda estou ― confessa, mas somos
interrompidos pelos gracejos de Shiu.
― Temos o sistema completo! AH, MEU DEUS! Ela pegou a lista
daqueles que foram mortos. Ela também conseguiu a lista dos membros?
Cassy, desculpe te informar, mas você é procurada, minha filha, e Dinka
também. Se ferraram! O senhor Makgold não é membro, mas está no topo do
ranking entre os mais procurados. Parabéns, senhor!
― Shiu, se concentre em Messi ― Johnatan revira os olhos.
― Ele está na listagem de mensageiros ― Cassandra informa
rapidamente.
― Tem imagens recentes? ― Johnatan se aproxima.
― Sim ― Shiu responde, logo o vejo fazer o reconhecimento fácil.
Uma lista de lugares, dias e horários em que Messi esteve presente
surgem ao lado da tela.
― Paraíso ― Johnatan lê o nome do local mais frequentado por
Messi.
Shiu pesquisa o lugar e logo vejo o rosto de Messi em meio à
multidão. Não é muito jovem, mas tem um tapa-olho no lado direito.
Estremeço ao me lembrar de que foi Johnatan que arrancou seu olho, talvez,
em algum momento, eu deva lhe perguntar como isso aconteceu.
― Ele possui uma casa noturna clandestina em Quebec. É bastante
conhecida por empresários e executivos. É por lá que pode conseguir novos
aliados. Messi pode demostrar ser um fugitivo e fazer tudo na surdina, com
isso, deve passar informações para Charlie Makgold como uma dívida ―
Cassandra analisa e nos atentamos na tela. Há fotos escondidas na área
interna e externa da boate. ― Parece que a cada dois meses sete mulheres são
transportadas. São vítimas de tráfico sexual ― meus olhos se arregalam com
a investigação da espiã.
― Idade? ― Johnatan observa.
― Entre dezessete a trinta anos ― Cassandra lê a pouca descrição
que tem sobre a casa noturna.
― Provavelmente, as mulheres que atinge mais de trinta anos são
mortas ― Nectara reflete, fazendo Johnatan acenar.
― Há mais envolvidos na aliança da casa noturna além de Messi e
Charlie? ― ele pergunta.
Cassandra move seus dedos sobre o teclado, logo, três imagens em
preto e branco surgem. Uma com Charlie Makgold numa expressão serena e
o olhar frio, a outra com o tal Messi, só que, diferente das imagens recentes,
ele está com os olhos intactos e do lado está Zander, com seus olhos cor de
gelo fixos numa expressão travada, ao mesmo tempo tensa. Abaixo da foto há
um ícone escrito vítimas.
― Zander mata as mulheres? ― eu me choco, e vejo Johnatan
interromper Cassandra de clicar no ícone.
― Esses homens são uns monstros ― Shiu dispara horrorizado,
chamando nossa atenção.
Nós nos viramos para sua tela, onde abre um vídeo amador dentro de
um galpão. Há garotas seminuas, algumas assustadas, outras movendo-se
depressa. Engulo em seco ao ver Messi com barba, roupas escuras e colete.
Ele usa óculos aviador e os cabelos são penteados à mão. O homem rústico
abre seus braços, sorrindo com uma estranha simpatia, seu canino é um
pouco torto.
― Bem-vindas ao Paraíso! ― a voz grossa e arrogante de Messi
invade o silêncio.
Subitamente, um disparo alto no vídeo me assusta. A câmera cai,
mostrando os pés de Messi, em seguida, a imagem sobe, focando o rosto de
Zander. Uma voz feminina, com um grito agonizante de dor, de quem teve a
coragem de filmá-los, me aterroriza. Zander aponta uma arma para a câmera e
atira. Quando a cena acaba, solto a respiração depois de alguns segundos.
― Isso tem que acabar! ― disparo quase sem voz.
Johnatan observa meus olhos atormentados e inspira fundo depois de
verificar seu relógio. O silêncio faz meus ouvidos zunirem.
― Mande os arquivos necessários para Dinka. Pesquisem o local, o
horário de funcionamento, cerquem o território, organizem-se e se infiltrem
nessa boate ― Johnatan ordena com firmeza.
― E se encontrarmos Messi antes? ― Nectara chama nossa atenção,
fazendo Johnatan olhá-la em ameaça.
― Arranque o outro olho e o reserve até eu chegar.
35 – ÁLIBI

O aeroporto está movimentado. Caminho ao lado de Johnatan,


apertando sua mão com força. Olho para ele, impressionada por sua
tranquilidade e confiança. Às vezes, eu me pergunto se não tem medo por se
arrisca tanto, ainda mais agora, vestido tão casualmente, adotando acessórios
como um boné de time de futebol americano e óculos aviador escuros.
Johnatan não parece incomodado, penso que nem mesmo se importaria se
alguém o reconhecesse. Mesmo com toda sua autoconfiança, por trás do rosto
sério, é como se existisse uma sombra invisível, apagando qualquer traço de
reconhecimento.
Caminhamos até a fila de embarque onde há dois guardas à frente; um
verificando os passaportes e outro revistando as pessoas. Shiu e Nectara
fingem ser um casal apaixonado, enquanto Matt e Cassandra seguem
disfarçadamente separados com suas bagagens.
― Seremos pegos? ― pergunto com temor.
― Se tudo der errado... nós corremos ― Johnatan murmura.
Sua ironia me faz rir. Em seguida, envolvo meus braços em seu corpo,
aconchegando-me em seu peito.
― Você está cansado. Posso sentir ― digo, apertando seu corpo.
Mesmo ele sendo um ótimo farsante, sinto tanto seu corpo rígido e em
alerta.
― Acho que só vou conseguir descansar completamente quando tudo
isso acabar ― Johnatan desabafa em meus cabelos.
Imediatamente, sinto meu coração se apertar por suas palavras. Olho
para cima, erguendo-me na ponta dos pés para beijar seus lábios.
― Vamos conseguir ― murmuro confiante. Johnatan sorri com
carinho. ― Mesmo assim, acho que deveria descansar ― observo.
À medida que a fila anda, nós nos aproximamos dos guardas. Viro
meu rosto para trás, vendo os outros novamente absortos com seus disfarces,
em um momento, Cassandra me olha, sorrindo em conforto. Franzo a testa e
me separo de Johnatan quando somos os próximos. Sinto que meu coração
vai sair pela boca.
― Documentos com os passaportes? ― um guarda acima do peso
pede entediado.
Johnatan lhe entrega sem hesitar e paraliso, enquanto o homem
verifica. Logo, franze a testa ao olhar para nós.
― Senhores, precisarei revistá-los ― o guarda diz, fazendo Johnatan
acenar.
Enquanto sou revistada por uma guarda mulher, o outro que está com
Johnatan verifica os passaportes do restante das pessoas que há na fila. Sou
distraída quando o homem muda sua língua para o russo. Johnatan não parece
intimidado, apenas lhe dá um sorriso e um aperto de mão, entregando-lhe um
rolo de dinheiro sem ninguém notar, exceto eu.
― Vamos ― Johnatan diz assim que termino de colocar meus
sapatos.
Ele abraça meu corpo e me puxa para longe.
― O que aquele guarda disse?
― Os dois são membros da LIGA. Ele disse que Gaspard os informou
sobre nós e agradeceu, desejando-nos boa sorte com a missão ― franzo a
testa para ele. Johnatan sorri. ― De certa forma você tem razão, há pessoas
desesperadas para sair dali.
No avião, encolho-me ainda mais, mesmo nos braços protetores de
Johnatan, não consigo me sentir confortável.
― Não quer olhar para a janela? ― Johnatan pergunta, beijando meus
cabelos.
― E por que eu faria isso? ― faço uma careta.
Ele havia retirado seus óculos e pendurado em sua camiseta. Seus
olhos azuis me observam surpresos.
― Você é corajosa como Sid, mas teimosa como Lake. Agora,
quando se trata de altura, você é como o Leão Covarde do Mágico de OZ ―
Johnatan ri da sua teoria, enquanto eu reprimo outra careta.
― Por que Hush não entrou no meio? ― resmungo.
― Porque ele é como eu ― Johnatan se orgulha, fazendo-me revirar
os olhos.
― Eu não gosto dessas coisas. É como se desafiasse a lei da
gravidade ― reclamo, apertando-me contra seu peito. ― Vai demorar muito?
Johnatan continua rindo.
― Algumas horas ― afasto-me para encará-lo com os olhos
alarmados. ― Tudo ficará bem, amor. Não precisa ter medo ― tenta me
tranquilizar com carinho.
― Não estou com medo ― falo com uma pontada de orgulho
medroso.
― Ah, não?
― Para ― faço beicinho e volto para seus braços.
― Por que não dorme um pouco? ― aconselha, acariciando meus
cabelos.
Sua paciência e seu conforto me fazem suspirar.
― Você acha que vou conseguir dormir nessa coisa? ― pergunto com
meu rosto colado ao seu peito.
― Pelo menos tente, minha Roza. Prometo que nada vai lhe
acontecer. Estarei bem aqui ― sussurra e tendo me concentrar nas batidas
calmas de seu coração.
Depois de um tempo, seus dedos em meus cabelos, de alguma forma,
fazem minhas pálpebras pesarem e meu corpo relaxar. Fecho meus olhos,
abraçando seu corpo como se fosse minha única salvação.

Assim que chegamos à cidade de Montreal, seguimos direto para o


táxi. Nem mesmo sei onde estão os outros e meu desejo repentino, ao me
encolher de frio, é dormir. Por outro lado, sei que Johnatan também quer isso,
posso ver em seu rosto o quanto está cansado, pergunto-me se durante o voo
dormiu alguma vez. Se bem que eu acordava a cada dez minutos durante a
viagem.
Nem mesmo tenho tempo de apreciar o prédio luxuoso chamado Ritz
Carlton. O frio, assim como o ar seco do ambiente, pegam-me de surpresa.
Com isso, Johnatan imediatamente envolve seu braço ao meu redor quando
saímos do táxi e me leva direto para dentro do hotel.
No interior, o lugar espaçoso é aquecido, iluminado e tranquilo. A
entrada até a recepção é destacada em mármore com estofados, onde
encontramos Dinka sentado. Assim que nos vê, levanta-se e ergue a mão,
acenando para a recepcionista. Quando olho para trás, vejo Cassandra, Matt,
Shiu e Nectara se aproximando.
― Podemos ir direto para a suíte, a recepcionista já foi informada ―
Dinka informa, seguindo em direção ao elevador.
Assim que as portas se fecham, permanecemos em silêncio, escutando
uma orquestra ao fundo. Franzo a testa ao ver Johnatan reprimir uma careta
para a música. Empurro-o com meu ombro, e seus olhos se abaixam para
mim. Ele aperta seus lábios para não sorrir.
― É russa? ― sussurro para ele.
Johnatan acena, mas antes que lhe pergunte do que se trata a música,
rimos com Dinka fazendo uma perfeita imitação sinfônica da cantora.
― Eu posso invadir o sistema deles e trocar por um k-pop ― Shiu
resmunga e Nectara revira seus olhos. ― O quê? É melhor que isso. Sou
coreano, tenho orgulho das minhas raízes.
Seguimos pelo corredor até uma porta dupla. Dinka abre, permitindo-
nos entrar. Todo o hotel tem um aspecto clássico e na suíte luxuosa não é
diferente, com cores escuras destacadas e uma vista panorâmica maravilhosa
da cidade. Caminho pela sala, observando cada canto, assim como os quadros
em abstratos, mas logo me distraio com a aproximação de James.
― Agora nosso tempo é curto ― Johnatan começa com todos
reunidos na sala. ― Alugaram os carros?
― Sim, um R8 e dois SUVs. Com as informações que me passaram,
fui até o local. A entrada para funcionários não é difícil, porém a maioria são
mulheres ― Dinka informa, enquanto o escutamos. ― Pensei, Cassandra e
Nectara podem ser as bartenders, vocês sabem... Servir drinks...
― Já entendemos ― Cassandra o interrompe, cruzando os braços
como se não gostasse da ideia. ― Elas usam uniformes?
― Sim, elas usam algo muito sensual ― Shiu anuncia com os olhos
fixos em seu laptop já equipado na mesa de centro. ― Vocês deveram ir mais
cedo, os uniformes são entregues na boate. Sendo assim, podemos impedir
que as outras duas garotas entrem e a pessoa da limpeza também.
― Como? ― Nectara ergue sua sobrancelha.
― Subornando ou sequestrando ― Dinka lhe dá um sorriso duro. ―
Nada que um sonífero não resolva. Espere aí! É muito sensual? ― o atirador
se aproxima da tela e arregala seus olhos. ― Posso arrumar outra profissão
para vocês ― rapidamente Dinka olha para Cassandra.
Aperto meus lábios para não sorrir do seu ciúme.
― Tem as garotas de programa ― Shiu opina com ironia, fazendo
Dinka ranger os dentes.
― Cara, não complica ― o atirador resmunga.
― Estamos sendo profissionais, mantenham o foco ― Johnatan
ordena rispidamente.
― Tudo bem. Eu estarei de vigia do lado de fora. O problema é que,
exceto os homens, as garotas não podem estar com pontos de ouvidos. Há
seguranças vigiando o lugar, principalmente as mulheres, então, seria
arriscado as pegarem com algum dispositivo ― Dinka alerta. ― Matt pode
entrar como segurança, pelo que vi, os uniformes deles são esses padrões:
terno escuro e gravata. James estará comigo, enquanto vigio o lado esquerdo,
ele irá circular o lado direito.
Franzo a testa e balanço minha cabeça.
― E o que eu vou fazer? ― agora, todos notam minha presença.
― Você será a faxineira ― James sorri de orelha a orelha. ― E o
senhor Makgold, será o senhor Makgold.
Reviro meus olhos antes de encarar Johnatan pensativo.
― Vocês só estão se esquecendo de um detalhe ― Shiu dispara,
fazendo Nectara concordar com algo que vê no laptop.
― Para se ter fácil acesso e ir direto a Messi, é preciso passar pelos
fundos onde há o camarim das garotas ― Nectara informa ao girar a tela do
laptop para nos mostrar a planta da boate. ― O local é estritamente vigiado.
― Eu posso fazer isso ― digo antes de segurar as palavras em minha
boca.
Os olhos de Johnatan são disparados para mim.
― Nem pensar.
Suspiro.
― Não é para ser profissional? Eu, sendo a faxineira, posso entrar e
limpar o local. Se é que me entende ― tento aliviar a tensão sorrindo.
Sua mandíbula trava e todos nos encaram em espera. Shiu parece
arregalar seus olhos puxados, enquanto se arrasta pelo sofá.
― Só que as únicas pessoas que conseguem ter acesso ao local são os
seguranças de confiança, eles são sempre os mesmos, como mostra nas
câmeras gravadas. Além deles e Messi, só as garotas que fazem os programas
passam por ali ― Shiu diz com cuidado ao mesmo tempo em que observa a
reação de Johnatan.
― Precisaremos de um álibi ― Matt aconselha, fazendo os olhos em
chamas de Johnatan cintilarem.
― Se vamos colocar Nectara e Cassandra no bar, elas terão o controle
de tudo na parte ampla da boate. Não podemos deixar uma de cada lado, será
suspeito ― Dinka parece de acordo.
― Esquece. Matt, como segurança, pode se aproximar. Lembrem-se
de que Messi é como uma chave para a LIGA. Se conseguirem pegar o
cretino antes de mim, certifiquem-se de não ter qualquer tipo de rastreamento
― Johnatan ordena. ― Agora se aprontem e partam para o ataque. Enquanto
os outros se concentram na boate em si, Shiu ficará em um dos carros
alugados, próximo à boate, comunicando-nos sobre qualquer movimentação
fora dali. As meninas e Matt deverão seguir de táxi para não levantarem
suspeitas ― verifica seu relógio. ― Temos duas horas.
― Senhor, os clientes usam algo como cartão fidelidade ― Shiu
informa com receio quando Johnatan se vira para ele.
― Consiga para mim ― cruzo meus braços encarando Johnatan.
Quando seus olhos me encontram, suspira. ― Eu sei como você é. Vai ser
teimosa e seguir o plano que está em sua cabeça.
Abro minha boca, pronta para protestar, mas a fecho novamente. Ele
acena como se estivesse certo ao passar por mim. Ignoro os olhares de todos
e caminho atrás dele.
― Então, é assim? Vai me deixar de fora? Johnatan, eu posso ajudar
dessa forma, será mais fácil ― digo assim que entramos em um quarto.
O cômodo amplo é claro e aquecido, há uma cama king size no centro,
almofadas espalhadas, uma pequena mesa de café da manhã, uma poltrona de
couro escura, e, mesmo estando com uma cortina creme cobrindo o lado
direito do quarto, sei que há uma linda vista de Montreal do lado de fora.
― Estou realmente pensando em deixá-la aqui. Sem discussões, Mine
― Johnatan diz, enquanto tira suas roupas.
Noto duas malas grandes perto da cômoda de madeira.
― Vai me manter aqui? Sozinha? ― pergunto incrédula.
― Se for possível, eu te trancarei nesse quarto ― dispara sem
paciência.
Inspiro fundo.
― Você não ousaria ― rosno entredentes.
Quando Johnatan se livra de sua camisa, por uma fração de segundos
me distraio com seus músculos, depois, balanço minha cabeça e o observo
esfregar suas têmporas.
― Amor, só estou tentando privá-la dessa situação para procurar uma
melhor maneira de nos ajustar. Sinceramente não é um lugar que eu quero
que você frequente ― Johnatan desabafa.
Ergo meus olhos surpresa.
― Ah, é esse o motivo! Está com medo de algum homem chegar
perto de uma faxineira? ― aperto meus lábios para não sorrir. ― Você
parece conhecer bem esses lugares.
Seus olhos fervem.
― Acredite, eu conheço. E para ser franco, nenhum homem que
frequente esse tipo de coisa irá se importar com a profissão que qualquer
mulher naquele lugar exerça ― seu tom de desprezo me deixa chocada.
― Eu sei me defender ― afirmo duramente, vendo seus músculos
mais tensos.
Johnatan suspira na tentativa de relaxar.
― Eu sei, Mine. Você é como uma rosa, toda rosa tem seus espinhos
e tem vezes que uma flor assim, por mais perfeita que seja, ela é delicada ―
alerta com seus olhos em chamas.
Seguro minha respiração por alguns segundos e solto com força. Mais
uma vez, ele está cego na tentativa de me proteger, mas não me dá uma carta
branca.
― Você, às vezes, é muito difícil! ― desabafo irritada,
surpreendendo-o.
― E você, na maioria das vezes, é bem teimosa! ― Johnatan sorri ao
imitar minha explosão.
Controlo minhas emoções e sento-me na cama.
― Ok! Você venceu ― cruzo minhas pernas.
― Assim tão fácil? ― desconfia.
― Sim, porque sei que o tempo é curto ― suspiro.
Johnatan caminha até uma das malas e pega as roupas que irá usar,
fico impressionada ao notar algumas armas na bagagem. Quando sente que
meus olhos o observam, disfarço encarando qualquer ponto cego.
― Gostaria de me acompanhar no banho? ― propõe, sou incapaz de
olhar para seu rosto.
― Não obrigada, estou bem assim. Divirta-se no seu banho num
banheiro superluxuoso ― respondo com desdém.
― Você não vai parar tão fácil ― murmura com um suspiro, depois
segue para o banheiro.
É difícil não o encarar, mesmo tentando me provocar com seu corpo
nu antes de sumir, mas assim que fecha a porta, levanto-me louca para me
juntar a ele e volto a me sentar novamente.
― Não. Não mesmo. Nem... pensar. Eu sei qual é seu jogo, Makgold
― aponto para a porta do banheiro como se ele estivesse na minha frente,
enquanto bato meu pé nervosamente. ― Mandão de uma figa ― digo com os
dentes cerrados.
Pensativa e não conseguindo me conter durante alguns minutos de
banho, sigo até a porta. Algo dentro de mim se agita ao vê-la destrancada
quando a empurro. O ar quente e o perfume suave do seu banho me atacam,
ao mesmo tempo aliviam meu estresse. Enfio minha cabeça dentro do
banheiro branco de mármore, observando o box de vidro embaçado, a
banheira oval, a pia extensa e o espelho amplo.
Mordo meu lábio, vendo Johnatan terminar de se barbear. Ele olha
meu reflexo no espelho com a testa franzida.
― Nem pensar ― o homem adivinha meus pensamentos ao voltar
para o quarto.
Ao passar por mim, inspiro o perfume que exala do seu corpo, logo
me recomponho.
― Mas, Johnatan,... Uma mão lava a outra ― insisto, sem sucesso.
― Não sabemos como pode funcionar por lá. Eu não me arriscaria ―
mantém seu tom firme, me fazendo suspirar.
― Então, vai desistir do meu papel de faxineira para me deixar
sozinha aqui? ― tento persuadir, enquanto caminho pelo quarto.
Johnatan ri sem humor, vestindo sua cueca e a calça antes de se sentar
na cama. Rastejo-me no colchão, ficando atrás de suas costas nuas, enquanto
o assisto colocar suas meias.
― Acredito que estará mais segura aqui do que naquele inferno ―
Johnatan indaga colocando seus sapatos.
Reviro meus olhos com uma careta desagradável e inspiro fundo,
sentindo seu cheiro pós-banho. Em seguida, sento-me de joelhos para tocar
seus ombros largos e massageá-lo, sua pele está um pouco úmida do banho.
Rapidamente, Johnatan se ergue em alerta com meu toque e me curvo para
mordiscar sua orelha, mas sinto suas mãos nas minhas, interrompendo meus
movimentos em seus músculos tensos.
― O que foi? ― pergunto surpresa.
― Não venha me agradar para mudar de opinião ― suas palavras me
ofendem.
― Estou tentando relaxar meu marido. Não posso? E não estou
fazendo isso para mudar sua opinião ridícula ― disparo em suas costas,
vendo sua cabeça virar em minha direção.
Assim que encontra meus olhos, sua expressão se torna preocupada.
― Desculpe, amor, eu não queria te ofender... ― Johnatan lamenta
sem jeito.
― Vire-se ― ordeno, vendo seus lábios se apertarem para reprimir
um sorriso. ― Agora me deixe cuidar de você nem que seja por dez minutos.
Sorrio satisfeita por ele permitir que eu continue a massagem.
― Poderia deixar para mais tarde ― Johnatan opina e logo geme
quando aperto seu músculo tenso.
Curvo-me em direção à sua nuca, arrastando beijos até seu ouvido.
― Na hora em que você quiser ― provoco, sua cabeça gira para
encontrar meus lábios e o beijo sem interromper a massagem.
Sinto sua pele firme e seus ombros mais soltos conforme movo
minhas mãos. Afasto meus lábios dos seus, dando-lhe beijos leves pelo rosto
antes de encarar seus olhos azuis intensos.
― Minha Roza ― murmura rouco, dando-me seu lindo sorriso torto.
Beijo-o brevemente e volto a encará-lo mais de perto.
― Eu gostaria que você descansasse por um bom tempo ― desejo ao
grudar meu rosto no seu, deslizando minhas mãos por seu peitoral até trilhar
o caminho perverso.
Lambo meu lábio inferior com desejo. Os olhos de Johnatan seguem
por minha boca e volta para meus olhos. Seu sorriso malicioso me faz corar.
― Acho que eu poderia me atrasar por alguns minutos ― sussurra
próximo à minha boca fazendo-me inspirar seu hálito doce.
Subo minhas mãos espalmadas por sua pele até seu rosto e o puxo
para um beijo intenso, fazendo-o gemer quando me sento em seu colo. Meu
corpo se aquece assim que suas mãos passeiam por baixo da minha blusa.
Mordo seu lábio com excitação ao sentir sua respiração acelerada e me afasto
para encarar seus olhos febris cheios de desejo.
Depois, aproximo-me, erguendo sua cabeça para deslizar meus lábios
em seu pescoço. Suas mãos descem por meu corpo até meu traseiro,
puxando-me para ele até sentir sua ereção em suas calças. Ofego em sua pele
e movo minha mão por seu peitoral até a lateral do seu pescoço. Com meus
dois dedos, aperto seu nervo profundamente assim que ele puxa a respiração
e logo o vejo cair para trás.
Abro minha boca, impressionada com a técnica. Depois, me curvo em
seu peito para ter certeza de que continua respirando. Seu corpo está estirado
no colchão e seus olhos estão fechados com intensidade, assim como sua
boca. Beijo sua testa, acariciando seu rosto adormecido.
― Me desculpe ― sussurro ao beijar seus lábios brevemente.
36 – TRUQUE DE MESTRE

Quando me levanto, começo a tirar os seus sapatos. Johnatan não faz


qualquer movimento, é como se estivesse em um sono profundo. Confesso
que parte de mim se sente vingativa e sorrio com esse pensamento, mas logo
começo a fazer meu trabalho. Caminho em volta da cama para empurrar seu
corpo até os travesseiros, ele é muito pesado e, algumas vezes, reclamo disso.
Novamente, tento puxá-lo com esforço até tombar seu corpo no colchão, em
seguida, retiro, com esforço, meu braço, que está por baixo de seu ombro.
Inspiro cansada e saio da cama pegando a coberta para cobri-lo. Antes de ir,
me curvo até ele e beijo sua testa.
― Você ficará aqui ― beijo seus lábios com amor.
Saio do quarto rapidamente e marcho até a sala espaçosa, feliz por
encontrar todos presentes. Assim que me notam, param o que estão fazendo e
me observam.
― Duas notícias. Um: o plano mudou. Dois: Johnatan não está mais
no controle ― anuncio.
Dinka esfrega sua nuca dando um passo em minha direção inquieto.
― E... Quem vai estar no controle? ― pergunta com a testa franzida.
― Eu estou no controle. Então, precisamos de um álibi e eu serei ele
― anuncio, fazendo com que se olhem.
― O chefe não vai gostar nada disso... ― escuto Shiu murmurar
inseguro.
― Por falar nele, onde está? ― o atirador está ainda mais confuso.
Dou um sorriso angelical.
― Coloquei meu marido para dormir. É uma velha técnica que ele
usou comigo alguns meses atrás. Quer experimentar? ― desafio, encarando
Dinka.
Ele pigarreia chocado.
― N-nã-não, senhora.
― Ótimo.
― Sendo assim, qual será o plano agora? ― Nectara chama minha
atenção. ― Temos que nos apressar.
Todos me aguardam.
― Johnatan não iria concordar de qualquer maneira, mas serei eu a
entrar pelo camarim. Nectara e Cassandra continuarão com suas funções,
aconselho a tentarem interagir com os seguranças próximos da área privada.
Um lugar como aquele é quase impossível eles não ficarem distraídos ―
ambas se olham sorrindo, gostando da minha proposta. ― Vocês, homens,
podem ir adiante. Dinka e James continuarão com o que planejaram, Shiu
permanecerá no carro dando cobertura para os outros já que eu não posso
utilizar nenhum tipo de armamento...
― Não mesmo ― Shiu concorda. ― Mas como pretende entrar? Pelo
que vejo nas câmeras de segurança, as garotas sempre chegam em carros
reservados com os seguranças.
― Matt será o segurança externo e me colocará para dentro, mas,
antes, cercará o lugar com bombas ― logo observo pares de olhos
arregalados.
― O quê? ― Matt se choca.
Suspiro.
― Será uma ameaça. Depois de colocar as bombas externas, tente
cobrir o turno com algum segurança interno para você conseguir entrar.
Espero que, na sua maleta, tenha algo para colocar nas bebidas e que faça a
maioria das pessoas no local apagarem. Com isso, sem parecer suspeito,
quando estiver dentro do local, entregue para uma das nossas bartenders ― o
advogado assente, atento com meu plano.
― Estou gostando disso ― Cassandra dispara com interesse. ― E
quanto a você?
― Eu sei que as coisas de um jeito ou de outro vai ser alarmantes,
mesmo assim focarei no plano mais direto. Irei observar o movimento onde
as garotas ficam até onde Messi se esconde, enquanto busco mais
informações. E se eu, em algum momento, as encontrar, nós nos
comunicaremos com gestos ou olhares ― aviso Cassandra e Nectara. ― Com
certeza, Messi estará presente, por isso, meu plano é tentar persuadi-lo até um
lugar pouco movimentado, onde lhe oferecerei alguma bebida. Por segurança,
Matt estará me observando e, quando Messi apagar, Matt passara para Shiu,
que dará o alerta para James e Dinka.
Todos se olham pensativos e logo se apressam. Suspiro aliviada
enquanto o advogado se aproxima de mim.
― Quando John descobrir...
― Vai pirar, eu sei, mas estamos fazendo nosso possível. Ele está
exausto demais, estressado demais e quero ajudá-lo, só que seu amigo não me
dá outra escolha ― sussurro, inspirando fundo.
― Tem razão. Eu estarei de olho ― Matt dá sua palavra, aliviando-
me um pouco.
― Tive que tirar o colar que Johnatan me deu, ele possui um
rastreador, então, estarei mesmo incomunicável. É frustrante ― reclamo por
não possuir nada a meu favor.
Matt me dá um sorriso amigável.
― Pense que vai dar tudo certo. Vou estar lá à sua espera ― ele se
afasta para chamar os outros.
Em seguida, Cassandra se aproxima, avaliando-me.
― Você não vai poder entrar assim ― ela diz pensativa.
Olho para minhas roupas, carrancuda.
― Tem ideia melhor? ― ergo a sobrancelha.
― Já que Matt irá levá-la para dentro, é melhor estar a caráter. Vá
com Nectara até a SUV, eu não demoro ― corre para o outro lado da suíte.

― Você conseguiu mesmo usar esse truque? Se isso der errado...


Makgold nos comerá vivos ― a japonesa se espanta, enquanto caminhamos
pelo estacionamento do hotel.
Depois que lhe contei o que fiz com Johnatan, não pensei que a
chocaria tanto.
― Tente não pensar em coisas negativas ― falo com desgosto.
Quando entramos na SUV escura, ao lado vejo um conversível
potente prateado.
― É uma R8 ― Nectara informa quando nota minha atenção. ― Os
garotos levaram a outra SUV.
Em poucos minutos, vejo Cassandra correr com sacolas na mão.
Assim que entra no carro, pula no banco ao lado do motorista, passando as
sacolas para mim.
― Vista ― pede assim que Nectara dá a partida.
Ao abrir as sacolas, observo os tecidos alarmada.
― Isso... Isso...
― Você terá que usar. Confie em mim ― garante, enquanto pego as
peças menores.
Eu usaria isso nos meus momentos mais íntimos da minha vida. As
peças são: um espartilho justo escuro, calcinha pequena do mesmo tom, uma
cinta-liga, meias de seda preta e salto alto de camurça. Mas, para esconder,
ou tentar esconder tudo aquilo, há um robe de cetim curto. Ora, que
maravilha de constrangimento! Esfrego meu rosto, pois não há outra solução,
em seguida, começo a me despir no carro.
― Desculpe, mas estou me perguntando... Você iria estrear isso? ― a
pergunta de Nectara para Cassandra me faz olhá-la curiosa.
Pela primeira vez, desde que a conheci, vejo a espiã corar.
― Apenas sigam com o plano, isso não vem ao caso ― responde
constrangida.
Aperto meus lábios para não sorrir.
― Dinka ficaria feliz ― solto sem querer. A boca de Cassandra se
abre em choque.
Depois de vestir a lingerie, cubro meu corpo com o robe, mesmo
assim, sinto-me desconfortável com a nudez. Inspiro fundo e solto meus
cabelos da maneira que Nectara pede: livres e selvagens. Logo, Cassandra
pula para o banco de trás para começar a me maquiar.
― Tem certeza de que isso é necessário? ― resmungo quando
percebo que ela está destacando a sombra.
― Isso não será nada comparado com o que vamos encontrar lá
dentro ― afirma, movendo-se rapidamente.
― Shiu está no ponto ― a japonesa chama nossa atenção. ― Matt
pediu que Mine siga direto para os fundos. O lugar é bastante movimentado,
há segurança por toda parte. Isso dificulta algumas coisas.
― Vamos pela entrada, daí dizemos que somos novatas contratadas
por Messi. Se insistirem, nós os confrontamos ― Cassandra murmura,
finalizando minha maquiagem.
Olho-me pelo retrovisor, vendo meus olhos esfumados e destacados.
Nectara acelera até seguirmos por uma rua aberta, pouco iluminada.
Não é como um lugar abandonado, mas sim reservado. Enquanto nos
aproximamos, localizo uma placa letreiro de pisca-pisca com o nome
"Paraiso". Observo o estacionamento interno com atenção e logo paramos
antes de seguirmos em frente.
― Ficaremos por aqui. A entrada é reta. Mine, só deverá virar à
esquerda e encontrará Matt...
Antes que ela diga outra palavra saio do carro observando a rua. O
frio me faz estremecer, mas sigo em frente. O caminho pouco escuro é
intimidante, só escuto meus saltos no asfalto. Por sorte, quando me aproximo,
as luzes do prédio de três andares começam a oferecer mais claridade.
Estranhamente, não há barulho, tudo é muito quieto e penso que o local seja a
prova de som.
― Hey, você! ― uma voz desconhecida faz minhas pernas travarem
assim que eu viro à esquerda. ― O que está fazendo aqui fora?
Aperto meus lábios, mantendo-me em alerta ao olhar para trás. Um
homem de terno escuro se aproxima, observando-me com atenção. Abro
minha boca e a fecho novamente. Droga!
― Eu só estava...
― Você não tem ordens para circular aqui fora ― dispara de mau
humor.
― Desculpe... ― a voz de Matt me faz suspirar num alívio imediato.
Olho para a frente, vendo-o se aproximar. ― A garota estava passando mal
antes de levá-la para dentro. A irresponsabilidade foi minha, pois a deixei
para tomar um pouco de ar ― o advogado atua perfeitamente. Por outro lado,
impressiono-me ao ver que ele está vestido como um deles.
― Isso não deve acontecer. Estando mal ou não, todas as mulheres
são levadas para dentro ― o segurança dispara rudemente. ― É melhor que
isso não aconteça novamente.
― Claro ― logo Matt me puxa para os fundos. ― Foi por pouco.
Tive que me enturmar antes que me descobrissem. Felizmente, os seguranças
parecem não trocar muitas palavras ― sussurra apenas para mim.
― Conseguiu colocar as bombas? ― certifico-me, tentando
acompanhar seus passos.
― Estou fazendo isso, enquanto circulo. Vou tentar levá-la até o
camarim ― ele assegura enquanto seguimos direto.
Observo o lugar, há mais seguranças do que imaginei. Quando nos
aproximamos da entrada dos fundos, outro guarda abre a porta nos
observando.
― Vou levá-la para dentro ― Matt comunica, mas é interrompido.
― Eu faço isso, continue seu trabalho ― o homem puxa meu braço,
Matt fez isso para demonstrar que estava sendo rude, mas agora, nas mãos do
outro, o aperto é mais forte.
Caminho rapidamente com o homem por um corredor pequeno e
abafado, com poucas luzes. Logo, vejo uma porta à frente escrita Camarim e
ao lado dela há outra porta com a logomarca da boate. O homem chuta a
porta do camarim, empurrando-me para dentro. Tenho que firmar meus pés
para não cair no chão.
O camarim é espelhado, com penteadeiras iluminadas e araras de
roupas eróticas. As mulheres nem mesmo me notam, elas apenas circulam
apressadas para se aprontarem. Pisco meus olhos chocada ao ver algumas
vestidas apenas de calcinha. Há cerca de doze mulheres e quatro seguranças
no local, alguns deles até ordenam para que se apressem. Caminho à frente
assim que vejo uma penteadeira vazia e me sento no banco.
― Você não vai precisar usar isso ― escuto alguém ao meu lado,
apontando para meu robe.
A garota deve ter quase a mesma idade que eu. Seus cabelos louros
platinados são longos e a maquiagem é bastante destacada. Ela usa somente
uma lingerie com poucos detalhes e vejo que mesmo tentando demonstrar
que é forte o suficiente, posso notar o medo em seus olhos castanhos
expressivos.
― É... Sei que não ― tento disfarçar com uma risada.
Com relutância, retiro o robe do meu corpo. Agora sim me sinto nua
com todos esses homens aqui.
― Não ligue para eles. Não são piores do que os que estão lá fora ―
percebo que a garota toma cuidado, enquanto fala comigo. ― Sou Camille.
― Prazer ― cumprimento, mas sem falar muito sobre mim. ― Há
quanto tempo está aqui? ― sussurro e, ao mesmo tempo, verifico se alguns
dos seguranças grandalhões estão nos observando.
― Comecei ontem. Como pode ver, fui enganada. Aliás, todas nós
fomos. Primeiro, disseram que tinham uma boa proposta de emprego, sendo
assim, vim de forma ilegal... ― Camille se interrompe quando um dos
seguranças passa por nós. ― No meio do caminho, começou a ficar tudo
muito estranho. Os guardas começavam a rondar a gente, pegaram nossos
documentos e até agora não nos devolveram. Depois disso, nos trouxeram
direto para cá ― ela segura suas lágrimas, enquanto finge se maquiar.
Inspiro trêmula e tento me distrair com qualquer coisa que esteja na
minha frente.
― Eu imagino que não seja fácil ― digo, engolindo o nó em minha
garganta.
Há algumas garotas que demonstram medo quando circulo meus
olhos pelo lugar. Ali, o espaço é controlado. Surpreendo-me que, próximo às
roupas, encontra-se uma mesa repleta de iguarias, tudo muito cuidadoso,
como se fosse feito e organizado para alguma estrela de cinema.
― E você chegou hoje? ― as palavras de Camille me pegam de
surpresa.
― Sim. Sou nova... é complicado ― eu não sei se estou mentindo ou
dizendo a verdade, sinto os olhos compreensíveis da garota em mim. ―
Quanto às outras? Elas têm muito tempo aqui? ― sussurro.
― Algumas, sim ― responde encolhida. ― Parece que até se
acostumaram com essa vida. Agem como profissionais, isso é nojento. Olha
só, as mais antigas são as que mais ficam nas mesas reservadas. As novatas
circulam pelo salão, algumas vezes, são levadas aos quartos privados, além
das profissionais. No primeiro dia, sete garotas são selecionadas para ficar só
dançando, nada de contato com os outros homens ― o pânico reflete em seus
olhos. ― Ontem foi assim para mim, mas hoje eu não sei, depende da Karoá.
Franzo a testa confusa. Antes de perguntar, encaro-me no espelho da
penteadeira quando o segurança volta a circular, assim que se afasta,
continuo:
― Quem é Karoá?
― A mulher que organiza as garotas. Mesmo tendo um chefe da
boate, ela separa as mulheres para cada parte do salão. Depende da aprovação
dela se as selecionadas vão ou não para os quartos reservados ― Camille se
aproxima um pouco mais para sussurrar. ― Acho que ela já passou por tudo
que estamos passando, mas pelo pouco que a conheci, às vezes, não sei se ela
está sendo boa ou uma má pessoa.
― Vocês têm trinta minutos para estarem prontas! ― nos assustamos
com o alerta dos homens.
Engulo em seco e finjo pentear meus cabelos. Pelo reflexo do espelho,
vejo um dos seguranças me encarar. Com esforço, reprimo meu olhar frio,
adotando um sorriso discreto.
― O que devo fazer para ficar apenas como dançarina por hoje? ―
cochicho para Camille.
― Não somos nós que decidimos. É apenas Karoá ou o chefe, o nome
dele é Messi... Senhor Messi. E, se você opinar, suas chances de ser agredida
são maiores. Pelo menos foi isso que aconteceu com uma das garotas ontem
― Camille suspira.
― E onde vocês dormem? ― investigo.
― Posso dizer que o lugar é confortável e receptivo, mas a atmosfera
é desconfortável. Eles nos tratam bem, mesmo nos vigiando. Agora, para
chegar até lá eu não sei, pois somos vendadas ― explica e se apressa. ― É
melhor se levantar.
Antes que eu questione, Camille puxa meu braço para que eu fique de
pé como as outras garotas que se apressam para formar uma fila indiana. Em
seguida, na entrada do camarim, uma mulher alta com roupas justas e
transparentes, revelando sua lingerie preta, invade o lugar. Seus cabelos
penteados para trás são negros num corte curto repicado. A bota escura de
salto agulha a deixa mais astuta, enquanto seus olhos claros percorrem o local
com curiosidade. Sua testa franze quando seu olhar cintilante me localiza.
Aquela deve ser a tal Karoá, penso.
― Você! É nova? ― aponta em minha direção. Seu tom é alto e
autoritário.
― Sim ― respondo da mesma forma.
Sua sobrancelha perfeita se ergue.
― Tem experiência? ― a pergunta faz meus olhos se arregalarem.
Oh não... Eu sou apenas de Johnatan.
― Não ― aperto meus lábios fingindo constrangimento.
A mulher se aproxima e me encolho quando toca meus cabelos. Ela
me examina detalhadamente, fazendo-me apertar os dentes quando toca meu
corpo. É, neste momento, que percebo que está me revistando com uma
espécie de luvas detectoras. Fico um pouco aliviada por não estar armada ou
com um ponto de ouvido, por mais que eu quisesse.
― Ela é carne nova, Karoá. Os clientes gostam mais das experientes
― escuto uma das garotas dizer no final na fila, sendo seguido de algumas
risadinhas.
Aperto meus dentes em frustração.
― Silêncio! ― Karoá dispara rispidamente, fazendo as garotas
cessarem antes de se virar para mim com uma respiração pesada. ― Somente
hoje vou deixá-la no pole dance. A caixa de vidro já está lotada, mas amanhã
começará a servir os clientes ― a última frase faz meu estômago se
embrulhar ao pensar em Camille.
― Sim, senhora.
Antes que eu volte para o meu lugar, somos distraídas com a entrada
de um homem alto e esguio, vestido num estilo moderno de inverno. Os
cabelos espetados controlados por gel parecem ter sidos recentemente
cortados. O homem usa óculos aviador, mas, no lado esquerdo de sua face,
notam-se algumas cicatrizes arroxeadas perto do seu olho e acima de sua
sobrancelha. Assim que invade o espaço, o lugar fica num completo silêncio,
como se as respirações de todos ficassem presas, menos de Karoá.
Quando o homem tira os óculos, revela um tampão negro fixo em seu
olho esquerdo. Encaro Messi fixamente e logo tento disfarçar minha frieza.
― Bem-vindas ao Paraiso ― graceja em tom potente, mostrando seus
dentes. Pela minha visão periférica, vejo algumas garotas estremecerem. ―
Vocês estão cada dia mais... deliciosas ― disfarço minha careta só de vê-o
observar cada mulher com excitação.
Eu sou a que chama sua atenção por estar fora da fila, fazendo-o se
aproximar com interesse.
― Nova? ― ergue sua mão para tocar meu rosto.
Sem pensar duas vezes, afasto-me de seu toque.
― Sim. Só que é inexperiente. Vou deixá-la em uma das barras como
dançarina. ― Karoá responde, observando Messi.
Messi acena para ela, sorrindo. De repente, sua mão se fecha em
minha mandíbula e me puxa para ele, seu perfume é forte, assim como seu
hálito de bebida, fazendo com que eu prenda a respiração. O aperto é
dolorido, mas seguro meu grunhido.
― É melhor fazer um bom trabalho. Não será nada bom falhar ―
dispara em ameaça. ― Vou acompanhá-la até a parte principal da boate, a
minha área favorita. Cada uma de vocês podem valer muito.
― Messi,... ― Karoá tenta protestar, mas é interrompida quando ele
ergue seu indicador.
― Todas elas são minhas. Querida Karoá... ― Messi se afasta de
mim e se aproxima da mulher, e, para o espanto de todos, ele lhe dá um tapa
rigoroso. ― Eu sou o chefe. Nunca se esqueça disso, então, é melhor você
começar a agir como uma profissional.
Karoá ergue seu rosto avermelhado e se recompõe, ela nem mesmo
tem lágrimas nos olhos.
― É o que mais faço, senhor ― responde, fazendo-o acenar.
Em seguida, a mão do charlatão se fecha em meu pulso, puxando-me
para fora do camarim.
― Quero todas prontas! O show tem que começar ― Messi ordena, e
tento seguir seus passos ao ser arrastada pelo corredor.
Assim que chegamos ao local principal, pisco às cegas devido ao
jogo de luzes. Quando consigo focalizar, noto que o lugar é maior do que eu
imaginava. Gritos, acima das batidas eletrônicas, de entusiasmos masculinos,
ecoam por toda a parte.
Há um palco principal com uma caixa de vidro, onde algumas garotas
seminuas dançam ao som das músicas, fazendo os homens nojentos
circularem empolgados. Me assusto um pouco, pois as mesas próximas do
palco e outras perto do bar possuem as barras de ferro centralizadas em cada
mesa, algumas garotas já estão rebolando nelas.
Engulo em seco, vendo os sete lugares reservados com estofados
embutidos no chão, próximos da parede esquerda, eles são separados por
cortinas cristalizadas. Ali é o local todo privado. Quando dou por mim,
percebo que Messi me exibe para a multidão de olhos famintos e, assim que o
infeliz me gira, vejo Camille entrar em um dos lugares estofados, onde há um
homem gordo com um sorriso nojento.
Balanço minha cabeça e fecho minha mão num punho firme,
desejando que Messi me solte. Quando olho para frente, vejo Cassandra e
Nectara no amplo bar servindo as bebidas, mas sem tirar a atenção de mim.
Ambas estão vestidas com tops brancos curtos, acompanhados por gravatas
borboletas e os cabelos amarrados em um rabo de cavalo, e mesmo estando
atrás de um balcão, posso jurar que embaixo elas usam apenas calcinhas. Os
clientes perversos próximos dali parecem devorá-las com os olhos.
― Então, meu caro amigo. Quanto vale? ― um homem de meia-
idade me chama atenção. Seus olhos escuros se fixam em minhas pernas.
― Ora! Nada mal! Que tal um leilão? ― outro próximo à mesa
propõe. Em seguida, vejo mais homens apoiando.
― Minha nossa! Está sendo bem-disputada, meu anjo ― Messi
abraça minha cintura e beija meu rosto. Sinto minha paciência acabar, mas
antes que lhe soque até a morte, vejo Cassandra balançar a cabeça
disfarçadamente. ― Qual seu nome?
A pergunta próxima ao meu ouvido faz meus olhos se arregalarem.
Inspiro fundo.
― Roza ― respondo rapidamente.
― Então, rapazes, minha garota aqui está sendo bem-disputada.
Quem der mais, poderá levá-la para um dos nossos melhores quartos, e sem
interrupções ― Messi anuncia, como se eu fosse um pedaço de carne. ― Ela
é nova, um de vocês pode lhe ensinar a verdadeira arte do prazer.
Paciência, paciência, meu corpo luta contra isso. Um homem grisalho
chama atenção ao erguer sua mão.
― Cinquenta mil dólares ― diz, gargalhando.
Outro levanta a mão.
― Setenta mil...
Messi aprecia e ergue meu queixo para me encarar. Com a
proximidade, consigo notar o quanto ele foi brutalmente agredido no lado
esquerdo do rosto.
― Você vale ouro, minha querida ― tento ignorá-lo, enquanto escuto
os homens brincarem com a quantia.
Eles são interrompidos quando um guarda se aproxima para sussurrar
algo a Messi. Sinto alguma coisa percorrer por minha bunda e olho para trás,
vendo a mão abusada de um homem com idade suficiente para ser meu pai.
Rapidamente, meu olhar sombrio o afasta, talvez até o reflexo do jogo de
luzes em meu rosto ajudou a assustá-lo.
― Você... tem certeza? E o acordo? ― escuto Messi perguntar
vagamente para o segurança que apenas assente. ― Hoje é meu dia de sorte,
meus amigos! Infelizmente, já temos um vencedor e ele a aguarda no quarto
vip privado ― comunica de repente, fazendo-me arregalar os olhos.
― O quê? ― fico perplexa vendo Messi sorri para mim, me puxando
para longe dos homens da mesa.
― Oh... São quantias de euros preciosos, não é para se jogar fora ―
ele não se contém de felicidade e se vira para seu guarda. ― Leve-a até meu
cliente especial. Não o interrompa. E, você, trate de fazê-lo feliz ― ordena
para mim como um aviso.
O segurança musculoso me puxa para longe da boate, e seguimos por
um corredor com luzes fluorescentes avermelhadas. No lado direito, as portas
fechadas contêm números e, assim como no salão, são sete quartos. O guarda
me leva para o final do corredor, cuja porta dupla é branca.
― Entre! ― ordena.
Inspiro fundo. Não será difícil, posso incapacitar o tal cliente
exclusivo e organizar meus planos até chegar a Messi, reflito. O segurança
abre a porta para mim de forma impaciente. Entro no cômodo, olhando para
trás, assim que a porta é fechada rudemente. Em seguida, desço os três
degraus relutante.
O lugar é como uma suíte entre tons de vermelho e preto, o cheiro do
ambiente é exótico, porém mais para erótico; com luzes baixas, tecidos
espalhados, e uma cadeira erótica. As cortinas cristalizadas também cercam o
lugar e logo vejo a cama redonda com lençóis de cetim cercada por
travesseiros.
Mesmo sendo amplo e fechado, consigo escutar as batidas das
músicas do lado de fora. Em frente à cama há um pequeno palco iluminado
com uma barra de ferro centralizada, atrás dele, tem um espelho de ponta a
ponta. Ao me aproximar, uma tossida grossa me faz saltar. Olho para trás e lá
está ele, sentado confortavelmente no sofá de couro vermelho, com um copo
de whisky na mão.
― Bu!
― Ah! ― grito assustada, voando minha mão para meu coração
acelerado.
― Olá, minha Roza ― os olhos em chamas estão furiosos, mas não é
nada comparado ao seu tom de voz.
37 – IMPRESSIONE

― Johnatan ― estremeço violentamente.


Vejo seus dedos apertarem o copo com força, mas o silêncio faz meus
pelos eriçarem e meu coração disparar freneticamente. Uma pequena parte de
mim está desapontada por meu truque nele não ter dado certo, enquanto a
outra parte se resume em angústia e desespero.
― Você me assustou ― tento manter a calma, mas também estou em
alerta. ― Como entrou aqui?
Quando Johnatan se levanta do sofá, meu sangue esfria, sua
mandíbula trava depois de engolir sua bebida.
― Vou reformular sua pergunta, senhora Makgold, para: como
consegui acordar? ― quando diz meu sobrenome de casada, sua voz sai
potente, mesmo assim, seu tom dispensa o autocontrole.
Suspiro.
― Isso não vem ao caso, você já está aqui ― tento dar de ombros,
mas soo como uma covarde.
Sua sobrancelha se ergue, e engulo em seco com seus olhos fixos em
mim.
― Você sabe... Você tem noção da gravidade do que acabou de
fazer?! ― sua fúria me faz ficar na defensiva.
― Temos tudo sob controle ― asseguro com firmeza.
Johnatan me observa da cabeça aos pés.
― Vestida assim? Você viu quantos homens do lado fora estão loucos
desde que apareceu vestida dessa forma? Já parou para pensar se algo tivesse
te acontecido?! ― meu sangue ferve por sua falta de confiança em mim.
― John,... ― vejo seu indicador se erguer bruscamente,
interrompendo-me.
― Não tente se colocar na posição de mulher defensiva, Mine. Você
não conhece esse ambiente, não tem noção do que eles podem fazer com
você ― reclama.
― Francamente, Johnatan, você deveria confiar em mim...
― Eu confio em você com toda minha alma. É neles que não confio!
― o tom alto me faz pular. Suas mãos se erguem para esfregar o rosto
exasperado e afastar seus cabelos lisos. ― Eu imaginava tudo, absolutamente
tudo, menos te encontrar assim.
Franzo a testa. Em meio à discussão, aperto meus lábios para não
sorrir.
― Então, boa parte do seu aborrecimento é por ciúmes de me
encontrar vestida de lingerie? ― cruzo os braços, o encarando.
Johnatan não sorri e se aproxima para sussurrar, com os olhos fixos
nos meus:
― Um homem que ama sua mulher de verdade não ficaria nada feliz
ao vê-la seminua, desfilando numa boate como se fosse petisco para lobos ―
o tom sério me atrai.
― Mas eu pertenço a um só homem ― sussurro, aproximando meus
lábios dos seus.
― Sim, você deveria ter pensado nisso antes de se colocar nessa
posição ― seu hálito fresco me inebria. ― Se eu não estava de acordo,
deveria ter atendido meu pedido.
Eu não sei se é o ambiente, a adrenalina ou sua inquietação que me
excita.
Ergo minha mão para tocar seu rosto. Sua fúria é justificável, ele tem
razão de se sentir irritado, me sentiria da mesma forma. Não, eu ficaria
furiosa.
Mordo meu lábio, deixando meus ombros caírem em derrota.
― Você está em meus pensamentos a todo o momento. Desculpe ter
agido assim, mas foi à única forma e não foi tão difícil. E estar vestida desse
jeito não quer dizer que não pertenço a você. Estamos em uma missão,
devemos cumpri-la para acabarmos com isso, quanto mais rápido melhor.
Acredite em mim ― imploro, envolvendo meus braços em seu pescoço. ―
Pense que poderemos viver felizes apenas eu e você, em nosso mundo, em
nossas fantasias.
Johnatan inspira fundo e fecha seus olhos por alguns instantes, logo
seus braços me agarram num abraço apertado.
― Sua técnica de Boa Noite Cinderela só durou meia hora. Quando
acordei, corri que nem um lunático até aqui. Encontrei Shiu na SUV, ele me
ajudou no disfarce, enquanto me explicava o que estava acontecendo através
de uma comunicação entre James e Dinka. E antes de entrar, vi Matt de
guarda do lado de fora. Eu estava pronto para te pegar, quando, de repente,
me aparece... ― ele se interrompe, sua mão esquerda se ergue para apertar
seu nariz ― Você é uma mulher enlouquecedora.
Sorrio com sua rendição.
― E o que vamos fazer, enquanto ficamos aqui? ― minha malícia é
explícita.
Ele ergue seu olhar.
― Essa é uma boa pergunta. Eu paguei muito caro por essa noite.
Acho que mereço ser recompensado ― seu semblante se transforma, está
mais quente e convidativo.
Mordo meu lábio em antecipação. Sabemos que é errado, mas a
atmosfera do lugar com toda a tensão nos atrai sexualmente.
Johnatan se afasta, voltando para seu assento. Acima do sofá há um
pequeno controle. Ele o pega, mirando para um aparelho de som embutido na
parede e apoia seus braços no sofá, como se esperasse por uma apresentação
exclusiva. Coro, segurando meu sorriso. A música começa ecoando pelo
quarto, em batidas sensuais. Acho que posso entretê-lo por alguns instantes.
Jogo meus cabelos para trás ao caminhar até o pequeno palco, onde
está o pole dance. O palco é iluminado com luzes embutidas no chão, mas, no
centro, o destaque é a barra de ferro. De início, não ouso olhar em sua direção
e procuro me concentrar nos meus movimentos de acordo com as batidas, até
fechar meus olhos e me entregar completamente, não só à música, como
também à dança.
Sei que ele está concentrado em mim, e, principalmente, em meus
movimentos. Por dentro, estou quente como fogo, ao mesmo tempo,
empolgada e excitada, num desejo ardente de seduzi-lo. Movo meus quadris
mais frenéticos, rebolando sem me afastar do pole dance. Em seguida,
enrosco minhas pernas em torno da barra, girando meu corpo lentamente sem
que ele perca nenhum movimento. Depois, deslizo uma das minhas mãos até
minha calcinha, ameaçando-a tirá-la no mesmo momento em que me esfrego
no pole dance.
Quando ouso olhar em sua direção, vejo-o apoiado em seus joelhos,
analisando-me como um falcão. Ele está enlouquecido, posso notar, pelo seu
olhar, o quanto me devora só de assistir. Seu rosto glorioso, está mais sério,
tenso e avaliador.
Ao me erguer na barra, faço questão de provocá-lo, deslizando minha
língua pelo metal, sem perder nossos olhares. De imediato, sua mandíbula
perfeita trava, enquanto o vejo engolir em seco. Ele volta a se recostar no
sofá, como se estivesse sem fôlego, molhando os lábios carnudos com a
língua.
Ele também está uma tentação, ainda mais com os dois botões abertos
da sua linda camisa, que se cola perfeitamente em seu corpo, revelando seus
músculos salientes. Afasto-me da barra e desço do palco, seguindo em sua
direção, na necessidade de tocá-lo. Seus olhos nunca me abandonam.
De frente para ele, fico de joelhos e me apoio em suas coxas firmes.
Seu sorriso arrebatador faz minhas entranhas pulsarem. Em seguida, deslizo
minhas mãos por sua calça até chegar ao cós.
Johnatan morde o lábio, olhando-me atentamente. Posso ver o quão
duro está por baixo daquele tecido. No momento em que abro seu zíper e
afasto sua cueca, seu enorme membro salta para fora, livre, duro e tentador.
Eu o seguro com firmeza, escutando o arfar rouco sair de sua garganta.
Lambo meus lábios e, sem lhe dar tempo para puxar uma respiração, deslizo
minha boca por sua ereção. Arrepio-me ao escutar meu nome sair de seus
lábios como uma lamúria suave. Sua pélvis se move em minha direção, e faço
minha língua passear por seu comprimento, como fiz no pole dance. Johnatan
geme, enquanto meu corpo pulsante anseia tê-lo em meu interior cheio
prazer.
Sinto seus dedos entre meus cabelos, puxando-os, enquanto o torturo
com minha boca. Um grunhido rouco faz com que me afaste. Rapidamente,
ele me puxa para seu colo, colocando-me de frente para si. Imediatamente,
meus quadris se movem contra sua ereção. Nossos olhos estão fixos e ambos
nos encontramos ofegantes.
Ele analisa meu corpo, deslizando suas mãos em minhas costas até
apertar minha bunda. Gemo de prazer, completamente molhada. Sua boca
cobre a minha num beijo avassalador. Eu me apoio em seus ombros quando
uma de suas mãos desliza por baixo da minha calcinha para tocar meu sexo
molhado. Ele ofega em aprovação e logo afasta o tecido, penetrando-me com
força.
Johnatan me toca com luxúria, como se pudesse marcar uma espécie
de território em mim. Rebolo em seu colo para tê-lo mais profundamente,
sentindo meu sexo se apertar em torno dele. Deslizo minhas mãos por seu
corpo, abrindo sua camisa, louca para entrar em contato com sua pele quente
e gemo alto em sua boca ao senti-lo se mover com mais intensidade. Quando
abaixa meu espartilho, puxo o ar com força, inebriada com seus lábios
roçando minha pele até sugar um dos meus mamilos expostos. Jogo minha
cabeça para trás, completamente entregue às suas investidas, toques e boca.
Meus movimentos se tornam mais urgentes em cima dele. Para piorar
o prazer lascivo em meu interior, eu o escuto me provocar roucamente num
idioma russo. Com isso, perco todos os sentidos, e suas estocadas fazem meu
sexo se apertar contra o seu ao explodirmos com a chegada do nosso
orgasmo.
Desabo sobre ele, estremecendo quando se retira.
― Isso deveria ser proibido ― murmuro presunçosa.
Johnatan me abraça com força, e o sinto me cobrir com algo, percebo
que é sua jaqueta.
― Em parte sim, mas devo concordar que o perigo é excitante ―
observa-me com amor.
― Não está mais bravo? ― pergunto duvidosa.
― Não, você me fez gozar. Vejo que a barra tem suas vantagens ―
Johnatan dá de ombros e bato em seu ombro quando ri. ― Um pouco por
causa da situação em que estamos, mas você é a única que consegue me
entreter, é a única que consegue me derrotar ― acaricia meus cabelos,
colocando-os atrás das minhas orelhas.
Sorrio sem jeito e o beijo.
― Gosto de ser a única ― aprecio, inclinando minha cabeça em sua
mão.
Johnatan se derrete com meu gesto.
― É apenas você e mais ninguém ― o fervor em suas palavras me
deixa arrepiada.
― Viu como o pole dance é um ótimo instrumento para treino? ―
brinco, fazendo-o sorrir.
Johnatan balança a cabeça, rendendo-se pela segunda vez. Mordo meu
lábio sorrindo.
― O que eu não faço por você, minha Roza?! ― tenta em vão não me
repreender, mesmo com suavidade. ― Minutos atrás, estava louco, agora me
encontro em um lugar nojento, mas relaxado ― murmurar em meus lábios.
Faço uma careta.
― É melhor não pensarmos sobre o que já aconteceu por aqui ―
beijo-o brevemente. ― Prefiro pensar sobre eu e você, apenas nós dois, por
enquanto, o lugar do ato não importa ― sorrio acariciando seus cabelos.
― Por enquanto ― repete ao inspirar o perfume em meu pescoço. ―
Isso é reconfortante ― seu cochicho me provoca cócegas.
Encolho-me, rindo, e o afasto.
― Preciso de você um pouco nervoso. Estamos em horário de
trabalho ― chamo sua atenção, vendo-o voltar para meu pescoço como uma
criança teimosa. ― Acho que posso ajudar saindo desse jeito...
Ele se afasta com os olhos alarmados.
― Nem sonhando! Uma coisa é estar assim com minha esposa, outra
bem diferente é imaginá-la desfilando para olhos alheios... Mostrando tudo,
aí não ― seu tom tranquilo de minutos atrás evapora. ― Mesmo que eu
queira continuar o resto da minha vida ligado a você, sei que assim que vir
aquele infeliz, meu lado sombrio estará de volta ― suspiro descontente.
― Lembre-se de que sempre estarei com você ― seus olhos azuis me
encaram com intensidade.
― Se não estivesse vestida assim, até pensaria que seria meu anjo da
guarda ― Johnatan observa meu corpo, enquanto coloca meu espartilho no
lugar.
Faço uma careta um pouco ofendida.
― Pensei que eu fosse ― pisco meus olhos com delicadeza, fazendo-
o rir.
― Não neste momento, amor ― seu sorriso perfeito faz meu coração
acelerar. Ele belisca meu queixo, aproximando meus lábios dos seus. ―
Você é como um fogo infernal que me queima de dentro para fora.
Ofego, beijando-o com paixão. Seus braços me apertam num abraço
forte e seguro seu rosto com minhas mãos.
― Não-não... ― inspiro com força. ― Vamos nos concentrar.
― Já estou concentrado, minha vida.
― Johnatan? ― bato em seu braço quando agarra meu corpo,
enchendo-me de beijos.
― Tudo bem... Já que você orquestrou o plano ― suspira e me
observa. ― Você se lembra da minha parceira de interrogatório?
Franzo a testa com sua pergunta sem deixar de sorrir.
― Aonde você quer chegar? ― desconfio.
― Vou precisar dela, só que o lado mais sombrio.
Meu sorriso se abre ainda mais, e aceno de acordo.
― Me diga seu plano, senhor!

Antes de sair do quarto suíte, informo detalhes do que observei da


boate e sobre as garotas, enquanto nos aprontamos. Noto seu humor se esfriar
quando lhe digo como Messi agiu comigo.
― Aquele desgraçado tocou em você?! Te machucou? ― dispara com
frieza.
― Johnatan, isso não vem ao caso. Eu estou bem, e ele não ousaria
tocar em uma garota a qual iria apresentar para seus clientes ― digo enojada
só de lembrar.
Seus olhos obscuros me repreendem.
― Ele, com certeza, quer um encontro comigo, o cliente, para tentar
fazer algum suborno ― informa.
― Para se aliar ― completo. ― Então, isso pode se associar com a
LIGA ― reflito.
― Exatamente. Preciso que você chegue à sala de Messi em três
minutos. Se passar disso eu vou atrás de você nem que seja no inferno ― seu
alerta claro é ameaçador. ― E coloque esse robe, não a quero desfilando por
aí assim ― ele pega um robe de cetim preto e me entrega, percebo que é
quase o mesmo que usei antes de sair do camarim.
― John...
― Sem mais, Mine. Um dos seguranças vai me levar até o escritório.
Preciso que Matt a acompanhe e fique de vigia, enquanto temos uma
conversa com Messi. Os outros nos darão cobertura conforme a
movimentação se segue. Soube que três clientes já apagaram devido às
bebidas manipuladas.
Aceno, apertando meus lábios, enquanto visto o robe e o amarro em
minha cintura.
― Espere ― interrompo-o. ― Vai sair assim sem disfarce? ―
encaro-o chocada.
― Sim ― confirma nada intimidado.
― E se te reconhecerem? ― pisco alarmada.
― Neste momento, não tenho o porquê de me esconder. Gosto de
assustar as pessoas, elas pensam que sou um fantasma. Mas não se preocupe,
caso isso aconteça, eu darei um jeito ― arrepio-me com seu tom sombrio.
― Vou sair primeiro ― comunico e me viro pronta para sair.
― Mine? ― ele me chama, olho em sua direção antes de abrir a
porta. ― Se cuide, por favor ― a preocupação está nítida em seus olhos.
Pisco surpresa. Caminho até ele para tocar seu rosto e beijar seus
lábios com amor.
― Eu te amo ― sussurro em sua boca, sentindo-o arrastar seus beijos
até minha testa.
― Não tanto quanto eu amo você ― sorrio apaixonada. ― Você tem
dois minutos.
Eu me afasto rapidamente antes que ele proteste e, assim que passo
pela porta, dou de cara com o segurança.
― Seu tempo já esgotou. Há mais clientes para servir ― o guarda
exibido faz meu sangue ferver.
Aperto meus dentes, com relutância, eu o sigo até a boate.
Assim que chego ao salão dançante, olho em direção ao bar.
Cassandra e Nectara observam de relance sem perder o foco de suas funções.
Engulo em seco, tendo a certezas de que elas já sabem sobre Johnatan. Tento
procurar Matt, mas sou interrompida por Messi.
― Aí está ela! Meu ouro! ― ele se vangloria.
Meu estômago se embrulha com toda a sua animação. Em seguida,
tento me recompor ao procurar por Camille discretamente, mas não a
encontro. Vejo Karoá conversando com um homem de terno, ao mesmo
tempo em que olha em minha direção. Pelo seu sorriso discreto, sei que
conseguiu mais um cliente. Inspiro fundo e, por um momento, deixo meu
olhar transmitir minha repulsa.
― Então, como foi? ― volto minha atenção a Messi. Eu havia
escutado sua pergunta antes, mas o ignorei.
― Bem ― respondo baixo quando vejo a exigência em seu olhar frio.
Messi abre um sorriso, puxando-me para seus braços.
― Veremos. Quero saber se meu cliente VIP teve uma boa recepção.
E ficarei muito aborrecido se não foi como espero ― o tom sombrio faz meus
pelos se arrepiarem. ― Venha comigo, tenho que dar as boas-vindas.
Quando sou puxada para longe, Matt aparece para nos interromper.
― Eu o acompanho, senhor ― demonstra sua confiança como
qualquer segurança do local.
Olho em volta, parece que todos eles têm a missão de protegê-lo. Um
deles, que estava próximo, afasta-se ao escutar Matt se voluntariar. Messi o
olha confuso, depois acena satisfeito.
― Ótimo, não quero fazer meu cliente perder tempo. Vamos! ― diz
impaciente.
Ao passarmos pela porta do camarim a vejo entreaberta e,
rapidamente, noto Camille abaixada no chão. Tropeço com os saltos ao ser
arrastada por Messi, vendo a porta ser fechada abruptamente. Matt nem
mesmo interrompe seus passos, continuando sua atuação, enquanto eu olho
para trás preocupada. Aquilo não era nada bom.
Passando pelo corredor escuro, caminhamos em direção a uma porta
de madeira firme com a logomarca da boate. Antes de entrarmos, Messi vira-
se para Matt sem deixar de soltar meu braço.
― Fique por aqui, não quero ser interrompido...
― Mas, senhor? ― Matt finge preocupação.
O charlatão ergue sua mão rudemente.
― Sem interrupção, droga! ― sibila.
O advogado se afasta, acenando duramente. Messi aperta seu tapa-
olho por um momento antes de me dar um sorriso esnobe. Ao abrir a porta,
ele me dá espaço para entrar. Inspiro profundamente e entro na sala sem
hesitar.
O escritório tem um aspecto mais pesado com paredes revestidas
entre preto e vermelho. A mesa retangular possui um computador ligado,
cinzeiros, charutos, papéis espalhados e dinheiro. O cheiro do lugar me enoja,
é uma mistura de bebida forte com cigarros. Quando Matt fecha a porta para
nos dar privacidade, Messi caminha à frente.
Do outro lado está Johnatan, de costas, apreciando, ou fingindo
apreciar, os quadros que cercam a parede oposta. Todos possuem desenhos de
mulheres seminuas. Por sorte, Messi não o reconhece e fico parada ao lado da
mesa, observando Johnatan com as mãos em seu bolso, como se estivesse
relaxado.
― Vejo que ainda não te serviram uma bebida ― o mensageiro se
apressa até seu pequeno bar localizado no canto da sala.
― Não será necessário ― Johnatan ergue uma das mãos. ― Quadros
interessantes ― finge estar absorto as artes.
Olho em direção a Messi, que para, por um momento, e me olha com
a sobrancelha erguida, depois ele acena, caminhando até se sentar em sua
cadeira de couro.
― Obrigado. São minhas grandes inspirações ― orgulha-se,
encostando-se em sua cadeira. ― Pois bem, senhor?
Assim que Messi busca informação sobre seu nome, Johnatan se vira,
dando-lhe um olhar frio ao dizer:
― Makgold ― o charlatão o encara assustado, logo é interrompido
quanto ousa se levantar. ― Se eu fosse você, continuaria sentado. Eu tomei a
liberdade de instalar um sensor em sua cadeira, se você se levantar...
― Mas que merda é essa? ― Messi sibila tendo o cuidado de não se
mover.
― Ah! Você não sabe o que significa esse sensor? É uma bomba ―
Johnatan ironiza com arrogância, aperto meus lábios. ― Mas não pense que
vai nos atingir, provavelmente irá lançar pedaços de você no ar e,
lamentavelmente, contra nós.
― MALDITO! O QUE VOCÊ QUER?! ― Messi se descontrola,
como se pudesse chamar a atenção, enquanto bate suas palmas na mesa com
força. ― E você? Chame o segurança, sua vadia imunda!
Como é?
38 – REVELAÇÕES INTENSAS

Seu olho claro me encara com ódio, mas suas palavras fazem meu
autocontrole evaporar. Ao me aproximar dele, agarro seus cabelos entre meus
dedos e arremesso sua cabeça contra a mesa. Sinto seu corpo vibrar com meu
ataque repentino, em seguida, ele ergue a cabeça, sacudindo-a embaraçado.
Olho para Johnatan como se pedisse desculpa pelo ato espontâneo,
mas ele parece apreciar. Em seguida, meu marido puxa uma cadeira à frente
para se sentar, depositando sua arma prata sobre a mesa.
― Surpreso, não é? Preciso informar que o homem que está de
prontidão lá fora não é um dos seus, mas não se preocupe, ele não vai nos
interromper. Aliás, sua boate está cercada, não só pelo meu pessoal, como
também pelos meus brinquedinhos. Resumindo, mensageiro, qualquer ação
ou reação fora do comum, serão acionados e o seu Paraíso se transformará
num verdadeiro inferno ― Johnatan sorri sombriamente, apreciando o corte
que fiz na sobrancelha de Messi. ― Ah! E lhe apresento minha incrível
esposa. Ela não é extraordinária? ― aponta em minha direção educadamente.
Messi me olha chocado quando lanço um sorriso hostil.
― O quê? ― dispara incrédulo, virando-se para Johnatan.
Johnatan se curva, seus olhos azuis em chamas são como faíscas,
intimidantes até mesmo para mim.
― Não passou pela sua cabeça que estava mexendo com a pessoa
errada? ― seu tom obscuro me arrepia dos pés à cabeça.
A risada de Messi me deixa em alerta.
― Não me diga que Johnatan Makgold conseguiu achar uma mulher
em meio a tantas amantes ― o infeliz se vira para encarar minhas pernas. ―
Ela até que é bastante gostosinha. Não sabia que tinha uma mulher tão...
Quente. Vale muita grana. Se quiser, posso te recompensar para ela ficar a
noite toda. O que quer em troca?
Ergo minha sobrancelha e, antes que eu acerte sua mandíbula com um
soco direto, Johnatan se levanta, mirando sua arma com silenciador na
direção do único olho que resta ao homem.
― É melhor tomar cuidado com o que diz. Meu humor está abaixo de
zero. Não vai querer ficar sem seu outro olho, muito menos, levar de brinde
seus miolos espalhados. E acredite... Quero muito fazer isso ― Johnatan o
intimida e se afasta, sem tirar seus olhos raivosos de Messi.
― Me matar, Makgold, não vai resolver seus problemas ― o
mensageiro pode até tentar, mas ele deixa escapar sua tensão.
― Claro que não. Só que será um merda a menos no mundo ―
Johnatan responde com desdém.
― Foda-se! O que vocês querem?
― Simples. Onde se esconde Charlie Makgold? Ou melhor, onde é o
esconderijo dele? ― pergunto a Messi.
Seu sorriso petulante faz meu sangue ferver.
― Olha só! Johnatan Makgold em miniatura ― dispara com ironia,
mas antes que volte a dizer mais provocações, acerto sua mandíbula com
força, fazendo seu rosto virar bruscamente.
Quando volta à sua posição normal, vejo-o limpar o sangue que
escorre no canto da sua boca.
Johnatan encosta-se em sua cadeira satisfeito.
― Acho melhor responder. Sabe, minha esposa é muito boa em
interrogatórios ― Johnatan alerta, em seguida, ativa o ponto que está em seu
ouvido. ― E, quanto ao dinheiro que depositei, ele está voltando para minha
conta. Estou sabendo que você possui uma bela quantia. Meu hacker está
agora mesmo transferindo seu dinheiro para uma instituição. Linda caridade,
parabéns.
― Seu miserável... ― assim que Messi ousa avançar em Johnatan,
puxo o tecido que amarra meu robe e enrosco em seu pescoço, fazendo-o
ficar no lugar.
Meu autocontrole com tudo aquilo está no limite. O cretino tosse com
força, tentando inutilmente mover sua cabeça. Seguro o tecido com força com
uma das mãos, enquanto a outra golpeia seu tampão. Messi grunhe de dor.
― Agora, responda ― ordeno sem paciência.
― Eu não sei... ― engasga ao tentar dizer, olho para Johnatan que me
dá um sinal para que eu afrouxe o tecido. ― Faz muito tempo que não o vejo.
― Mas mantêm contato e, possivelmente, você está em dívida. Não
tente nos enganar, Messi, temos o sistema da LIGA em nossas mãos ―
Johnatan dispara.
Solto o homem, que puxa o ar com força, arrancando o tecido do seu
pescoço. Pego-o novamente e amarro em minha cintura.
― Se eu disser, vão me deixar em paz? ― o charlatão ainda quer se
assegurar.
Johnatan o observa com atenção.
― Acha mesmo que confiaria em você vivo?
― É um acordo, Makgold! ― Messi revela seu ódio desesperado.
― Você é um mensageiro, não tente entrar em acordo comigo ―
aceno ao concordar com as palavras de Johnatan.
― Você faz serviços para ele. Traz essas garotas para trabalhar para
vocês ilegalmente e, como se não bastasse, torturam e matam quando não
precisam mais delas. Que tipo de ser humanos são vocês? ― cuspo as
palavras com horror. Minha vontade no momento é socar esse ser até a morte.
― Ninguém te falou? Vivemos numa cadeia alimentar.
Sobrevivência, garota ― o infeliz ainda é petulante.
― Senhora Makgold para você! ― Johnatan o repreende em tom frio.
― Eu poderia socá-lo até não aguentar mais, só que agora vejo que
não vai valer a pena. Sabe, Messi, você poderia simplificar nosso trabalho em
vez de passar por todo esse sofrimento. Já pensou nas famílias de cada uma
delas? Nos sonhos que elas têm? São mulheres, são pessoas, são seres
humanos... ― engasgo para controlar minha fúria ― Olha, nossa única
intenção aqui, seu mensageiro de quinta, é acabar com isso e viver em paz.
Aquele que se diz seu chefe, porém, não pensa dessa forma e cada dia que
passa só piora a situação! ― digo em frustração, como se fosse meu maior
desabafo.
Messi inspira fundo em silêncio.
― Você tentou fugir, mas não conseguiu. Charlie te encontrou e,
agora me pergunto, por que ainda não te matou? ― Johnatan observa Messi
com atenção.
O silêncio toma conta do lugar, apenas as batidas das músicas ocas da
boate ecoam pelas paredes. O mensageiro se move desconfortável, mas tem o
cuidado de não se mexer demais.
― Não faço trabalho diretamente com ele. Temos um acordo...
― Acordo... ― Johnatan repete, erguendo sua sobrancelha para que
ele prossiga.
― Desde o dia em que você arrancou... ― ele não consegue dizer
sobre seu olho. ― Eu passei por uma cirurgia...
― Segue direto ao ponto ― ordeno impaciente com seus rodeios.
Messi aperta os lábios.
― Charlie me encontrou. Foi até a mim e ele mesmo terminou de
fazer isso ― ele aponta para as marcas de sua face. ― Tudo porque, mesmo
eu estando cara a cara com seu primogênito, não consegui matá-lo e,
covardemente, fugi.
― E o que te prende? ― pergunto, seguindo para o lado de Johnatan.
― Se você está em um acordo, o que fez Charlie Makgold aceitar?
― O acordo não foi diretamente meu, mas dele ― Messi suspira
enquanto aguardamos sua resposta. ― Charlie sempre descobre aquilo que
mais tememos, ele sempre tem uma carta na manga. É o tipo de pessoa que
pode estar quieto por um tempo, fazendo você pensar que tudo está em paz,
mas, na verdade, ele está estudando ou planejando a melhor forma de ataque
― pela primeira vez escuto a raiva em suas palavras e não são diretamente
para nós.
― O que ele planejou para você? ― Johnatan se atenta.
Messi fica pensativo e, ao mesmo tempo, esfrega as mãos em suas
pernas, demonstrando nervosismo.
― Ele tem em suas mãos o meu sobrinho ― revela entredentes.
Franzo a testa perplexa. Johnatan se apoia em seus joelhos para olhá-
lo com atenção.
― Sobrinho? ― pergunto confusa.
― É claro. Daniel Halloper ― Johnatan murmura, e o encaro surpresa
por ele saber. ― Eu vi a ficha dele antes de vir para cá.
― Dan ficou sobre minha responsabilidade aos dez anos, depois que
meu irmão e minha cunhada faleceram... assassinados ― Messi diz com
esforço. ― Charlie sabia tudo sobre o garoto. E eu sabia que, se falhasse,
Daniel sofreria as consequências. Foi o que aconteceu quando ele atingiu a
maior idade.
― Quantos anos ele tem? ― pergunto.
― Por volta de vinte e três a vinte e quatro anos ― o homem
responde, balançando sua cabeça. ― A questão é que se eu falhar, o garoto
sofre as consequências. Vocês devem saber como funciona a mente de um
Makgold, não posso fazer nada por vocês ― sua ironia faz Johnatan rosnar.
― Deveria agir dessa forma com as outras pessoas também, Messi ―
repreendo-o. ― Você tem um sobrinho, talvez seja sua única família...
― É mais difícil ainda imaginá-lo ter afeto por alguém ― Johnatan
provoca.
Messi o encara com ódio.
― A mulher com quem meu irmão se casou era a mulher que eu
amava, o filho que tiveram era sua vida. E em memória dela eu devo protegê-
lo ― sua defesa nos surpreende.
Franzo o cenho ao ver Johnatan levantar da cadeira e guardar sua
arma.
― Então, nos ajude a encontrar Charlie Makgold para acabar com
todo esse inferno, e, em recompensa, tiraremos seu sobrinho de qualquer
lugar em que esteja ― Johnatan diz pacificamente.
Messi o encara por um momento.
― Como posso confiar em você?
― Eu não faria uma viagem arriscada, vindo até esse inferno para pôr
em risco a vida da minha esposa exibindo-a assim, se bem que isso não
engulo até agora. Tampouco arriscaria minha equipe, por nada ― Johnatan
tenta controlar sua voz.
O mensageiro fica surpreso.
― Messi, você nos ajudando, significa que deve quebrar qualquer
laço de aliança absurda que tem com essa LIGA, começando com sua boate.
E qualquer traição...
― Você será morto por mim e seu sobrinho pela máfia ― Johnatan
me interrompe para deixar claro seu alerta.
― Não será tão fácil assim ― Messi diz pensativo.
― Dê seus pulos. Se quiser nos acompanhar, faça as coisas certas.
Ou, se não, sofra as consequências ― assim que Johnatan se levanta, ele me
acompanha até a porta, mas antes de sairmos, avisa: ― Estarei no hotel Ritz
Carlton até às oito da manhã, passou desse horário, não teremos nenhum
acordo. E, se falhar conosco, reze para não perder seu olho direito.
Ao abrir a porta, damos de cara com Matt.
― Alerta vermelho ― Matt anuncia fazendo Johnatan e eu nos
olharmos. ― Não permiti a entrada da mulher chamada Karoá, minha atitude
chamou sua atenção.
― Foi agora? ― pergunto.
― Sim.
― Hey! Não vão desligar essas coisas? ― Messi protesta atrás de nós
e nos viramos para encará-lo ainda sentado.
― Neste momento não estamos confiando tanto em você, mensageiro
― Johnatan dispara, depois se vira para Matt.
Mas logo vejo Karoá se aproximar. Pelos seus passos pesado e a
expressão fria, ela não está nada bem, atrás dela três seguranças a seguem.
― Peguem-nos! ― ordena.
Os seguranças se aproximam sem hesitar. Matt golpeia, com um
chute, um deles, que salta para trás pelo impacto. Outro tenta agarrar
Johnatan, mas é nocauteado com um soco na lateral do pescoço. Karoá me
encara perplexa, afastando-se quando Matt atinge o outro segurança.
Johnatan o ajuda, agarrando o homem mais baixo e acertando seu rosto com
um soco curvado, fazendo com que a sua cabeça bata contra a parede e seu
corpo desabe no chão.
― Eu sabia que você traria problemas ― Karoá diz ríspida,
avançando em minha direção.
Rapidamente, acerto seu estômago com um soco, fazendo-a se afastar
à procura de ar. Ela cambaleia para dentro do escritório e olha para o chefe.
― Karoá, deixe-os! ― Messi ordena.
― Está fora de si? ― ela grunhe nos olhando com ódio.
― Me obedeça! Dê ordens para os outros permitirem suas saídas ―
Messi fala com firmeza. ― Vamos, mulher, eu estou preso a uma bomba!
Distraio-me quando Johnatan aperta o ponto em seu ouvido e franze a
testa ao nos encarar.
― Só que os outros não são dos nossos, senhor ― Karoá informa,
mas ao mesmo tempo, escuto Johnatan soltar um palavrão em russo.
― O que foi? ― sussurro pra ele, vendo seus olhos escurecerem.
― Zander.
Assim que diz o nome, escutamos um tiro ecoar. Depois, vêm os
gritos. Mais três supostos seguranças correm em direção à sala de Messi,
quando notam nossa presença, avançam. Johnatan e Matt os afastam numa
luta frenética.
Estremeço, de repente, sentindo meu corpo enfraquecer. Caio de
joelhos e toco minha nuca, como se uma carga elétrica passasse por mim, me
enfraquecendo. Olho para trás, vendo vagamente Karoá com a arma.
Rapidamente, movo meu corpo num giro agachado e arrasto minha perna
esticada nas suas, fazendo-a cair no chão.
Em seguida, levanto-me, ignorando minha fraqueza, e, sem lhe dar
chances de se recuperar, golpeio-a com murros violentos. Karoá se defende,
empurrando minhas mãos agitadas, mas logo a afasto com um chute em seu
joelho curvado, ela grunhe de dor. Depois, com ajuda do salto, giro meu
corpo rapidamente, movendo minha perna esquerda em direção ao seu rosto.
A mulher cambaleia para trás, chocando-se contra os quadros da sala de
Messi antes de desabar no chão.
Por um momento, observo-a imóvel e logo confiro sua pulsação.
― Mine! ― a voz urgente de Johnatan me faz erguer as mãos em
defesa.
― Eu não a matei! ― me viro para ele, em seguida, relaxo. ―
Desculpe. Temos que ir.
― Esperem! Vão me deixar aqui? ― lembro-me de que Messi
continua ali.
Por outro lado, Johnatan confere seu relógio e percebo que
desbloqueia algo. Observo o mensageiro franzir o cenho ao se levantar
devagar.
― Vamos! Nectara e Cassandra estão nos dando cobertura ― Matt
informa com urgência. ― Há outra saída.
Escuto os gritos do outro lado, enquanto sou puxada por Johnatan.
― E as garotas? Temos que salvá-las! ― digo em desespero.
― Faremos o possível, Mine ― escuto Matt dizer, enquanto nos leva
para outra saída, não muito longe do escritório de Messi.
Ao passarmos por um curto corredor, consigo ter uma rápida visão
completa da boate por uma parede de vidro escura. As mulheres correm para
fora do lugar, enquanto homens lutam uns contra os outros. Há pessoas
caídas e logo localizo Cassandra e Nectara lutando com vários deles, assim
que nocauteiam um, não perdem tempo para lutar com outros que se
aproximam, dou-me conta de que elas os bloqueiam para não chegarem até
nós.
Quando as perco de vista, já estou do lado de fora. Estremeço com o
frio e fico surpresa pela chuva forte.
― O carro não deve estar muito longe. Vá ajudar os outros ―
Johnatan ordena para Matt, que dispara para dentro da boate novamente.
Agarro a mão de Johnatan, e caminhamos em linha reta pelo local que
parece um galpão aberto até paramos abruptamente quando algo cai à nossa
frente. Solto um grito ao ver o corpo de Camille se debater com a corda
amarrada em seu pescoço. Como um reflexo, vejo Johnatan arremessar uma
pequena faca em direção a corda, fazendo Camille cair.
Corro até ela e a puxo para longe da chuva. Observo que está muito
machucada e nua. Abraço-a, afastando a corda de seu pescoço, e a vejo
estremecer, agarrando-me, enquanto chora.
― O que está acontecendo? ― pergunta quase sem voz.
Olho para Johnatan, que franze a testa, observando o espaço pouco
silencioso. Ele retira sua jaqueta e me entrega para que eu cubra Camille. Em
seguida, toco o rosto machucado da garota.
― Saiam daqui! Agora! ― Johnatan ordena com firmeza. Seu tom de
voz é tão sombrio, que faz Camille estremecer ainda mais em meus braços.
Com minha ajuda Camille se levanta e se esforça para correr comigo
pela chuva. Ao olhar para trás, assusto-me com Zander se aproximando em
direção a Johnatan. Nas mãos do sádico há uma barra de ferro, ele a gira com
facilidade, esperando Johnatan, que caminha pela chuva em sua direção,
encarando-o com ódio. Aquilo não será nada bom, vai ser violento, vai ser
brutal...
― Droga ― murmuro aflita, enquanto puxo a garota cambaleante
para longe.
Sinto Camille agarrar minha cintura com força quando uma van se
aproxima e estaciona à nossa frente. Shiu abaixa o vidro nos encarando
assustado.
― ENTREM! ― ele grita.
Rapidamente abro a porta para ajudar Camille a entrar.
― Shiu, onde estão os outros? ― pergunto, olhando para trás e
ignorando a chuva que encharca meu corpo.
― Estão arrebentando! ― Shiu se empolga, ao mesmo tempo em que
se certifica se Camille está bem no banco de trás. ― Parece que Messi
manipulou alguns seguranças para ficarem do nosso lado. Está a maior
pancadaria ― ignoro sua animação, e nos assustamos ao ver Johnatan e
Zander brigando.
Aquilo é assustador, pior do que imaginei.
Entro na SUV de uma vez, interrompendo Shiu de sair. Sei que sua
intenção é boa, mas naquele caso, não.
― Não tem como sairmos daqui, não sem a equipe, muito menos
podemos nos meter em uma briga daquela ― digo, numa dúvida que me
choca, enquanto nos olhamos fixamente.
Shiu acena de acordo e, por um momento, vejo seus olhos puxados
cheio de emoção.
― Eu rompi o portão para que as mulheres fugissem. Alguns homens
também escaparam... Uh! Aquilo ali não está nada bom, Mine ― Shiu se
distrai, olhando para a frente.
Johnatan e Zander brigam, são como dois leões. O verme move sua
barra de ferro com uma velocidade assustadora, até mesmo atinge Johnatan,
mas meu amor não demonstra fraqueza. A chuva parece ser insignificante
para eles. Por outro lado, ambos são bons, são bem-treinados, pois se movem
em sincronia, defendendo-se e atingindo um ao outro. Quando os dois caem
no chão para se enfrentar, meu coração dispara, posso não escutá-los, mas
noto que um provoca o outro em palavras agressivas. Logo, escuto o rosnado
alto de Johnatan por cima da chuva, o que me faz arrepiar dos pés à cabeça e
meu coração palpitar.
Ao lado, no laptop, Shiu segue com seu trabalho, monitorando as
câmeras, ao mesmo tempo, alertando Dinka e James pelo ponto de ouvido
sobre as ameaças que os cercam. Em seguida, escuto Dinka ordenar para que
Shiu exploda uma das áreas interiores da boate.
Pisco meus olhos fixos à frente em agonia. Não é como das vezes em
que Johnatan enfrenta um inimigo. Algo em Zander o faz avançar com mais
fúria e meu coração dói ao pensar no que o infeliz esteja usando contra ele.
Imediatamente escutamos a explosão, mas nem mesmo aquilo faz os dois
homens se desgrudarem e meus pensamentos mais obscuros, junto com meus
pressentimentos, elevam-se: ou se separam ou um morre.
Apresso-me, verificando se Camille está bem. Ela está encolhida,
agarrada à jaqueta de Johnatan. No meu caso, sinto meus lábios tremendo de
frio, mas ignoro ao encarar Shiu.
― Consegue encontrar a ficha de Zander? Talvez tenhamos algo a
nosso favor... ― interrompo-me ao ver Zander erguer sua barra de ferro e
tentar acertar a cabeça de Johnatan. ― RÁPIDO! ― sinto como se meu
coração fosse sair pela boca.
A barra de ferro é cravada no chão e engulo meu pavor com força.
― Só um minuto ― Shiu se apressa, invadindo o sistema da LIGA à
procura de Zander.
Assim que encontra seu perfil, confiro freneticamente, sem perder a
atenção em Johnatan. Eu o vejo tenso e, ao mesmo tempo, sem controle
quando consegue agarrar Zander e arremessá-lo contra o chão, sua única
intenção é matá-lo, enquanto o mantém imobilizado.
― Talvez Zander esteja armando uma armadilha ― estremeço em
choque vendo um lado de Johnatan que nunca vi diante dos meus olhos.
― Ah... Merda... ― a voz de Shiu me chama atenção.
― O que foi? ― pergunto. Meus olhos vão para seu laptop, onde há
uma foto de Zander.
Na fotografia, ele está um pouco mais jovem, com o cabelo num
estilo militar, mas, ao lado das informações sobre seu perfil, está o que nos
chama atenção.
Arregalo meus olhos para a frente, vendo Johnatan acertar, a sangue
frio, Zander com brutalidade. Estremecida, chuto meus saltos e saio da SUV,
batendo a porta em desespero.
― MINE! ― ignoro o protesto de Shiu e corro pela chuva até eles.
Johnatan está pronto para matar Zander, agarrando a barra de ferro e a
erguendo.
― JOHNATAN! ― grito com todas as minhas força. ―
JOHNATAN, NÃO! PARE! ELE É SEU IRMÃO! NÃO FAÇA ISSO!
Grito alarmada, voando a mão sobre meu peito quando o vejo
arremessar a barra de ferro com tudo em direção a Zander e o escuto soltar
um rosnado agonizante.
39 – BASTARDO

Meu coração dispara em choque quando a barra de ferro se crava no


chão ao lado da cabeça de Zander. O impacto forte faz meus pés
estremecessem. Ao olhar para Johnatan, eu o vejo se afastar sem tirar os
olhos do suposto irmão caído no chão, a chuva lava o sangue que escorre do
rosto machucado do indivíduo que nos inferniza desde que apareceu em
nossas vidas.
Olhar para Johnatan me dá agonia. Mesmo com a pouca iluminação,
noto-o tenso. A camisa molhada gruda-se em seu corpo, destacando seus
músculos firmes que se movem conforme solta sua respiração pesada. No
lado esquerdo da maçã de seu rosto há um leve corte.
Sinto minha boca trêmula, o silêncio faz meus ouvidos zunirem,
mesmo com o barulho da chuva forte, mas a risada rouca de Zander me
estremece e o encaro no chão, contorcendo-se, como se não estivesse nem um
pouco incomodado.
― Você sabia? ― Johnatan pergunta, encarando-o fixamente. ―
VOCÊ SABIA! ― escutar seu tom potentemente alto faz o frio em minha
espia se intensificar.
O infeliz tenta se levantar, mas não responde de imediato, ao invés
disso, ele se mantém de joelhos, enquanto inspira fundo. Quando olha para
Johnatan, tem o sorriso aberto. Nesse breve momento fico perplexa, pois
agora noto a pouca semelhança entre eles, como: o formato do rosto, os
cantos da boca com o sorriso levantado e os cabelos.
― Não precisa se sentir assim. Pensa que me orgulho de ter algum
parentesco com você? ― Zander destaca seu ódio.
Agora, eu posso entender seu repúdio, mas, de qualquer forma, sua
revolta me deixa perplexa.
― Como pode dizer isso, Zander? ― balbucio em choque, sentindo
meu coração se aperta. ― Vocês são irmãos, por que não nos disse antes?
Zander fixa sua atenção em minha direção.
― E faria alguma diferença?
― É claro que não ― Johnatan afirma antes que eu responda.
Mesmo assim, sua resposta me surpreende.
― Foi o que pensei, não pense que sua dor foi maior que a minha.
Vivendo numa espécie de labirinto sem saída, tendo que lidar com um criador
que diz ser seu pai. ― Zander ri, em seguida, aponta para Johnatan. ― A
morte de sua amável mãe, assim como de sua preciosa irmã, nem se
comparam com o que eu vivi e do que tive que viver. Eu as classifico como
mortes simples, muito fáceis ― Zander destaca sua amargura, até seus olhos
cor de gelo, que estão distantes, transmitem isso.
― Cala a boca ― o rosnado de Johnatan me faz correr até ele e
empurrar seu peito para que não avance em Zander.
― Johnatan, vamos embora ― sussurro em seu peito, abraçando-o.
Sinto seu corpo quente estremecer, assim como sua respiração, que
continua pesada, até mesmo abafada ao demonstrar sua impaciência. Por
outro lado, ele não retribui meu abraço. Quando olho para cima, vejo seus
olhos furiosos para aquele que, no momento, ainda o considera um inimigo.
― Não venha comparar o que passei em minha vida com a sua,
bastardo ― Johnatan também o provoca.
Inspiro fundo.
― Acredite, não quero fazer isso. Você sabia que seu pai mantinha
um relacionamento fora do casamento com outras mulheres? Incluindo
aquela que foi minha mãe? Uma mãe solteira, dona de uma microempresa...
Hum... Se bem me lembro, era algo relacionado com costuras e tecidos. Era
dependente de remédios, pois aquele que dizia ser meu pai não cumpria suas
promessas, foi o que resultou numa depressão. Confesso que estava farto
daquilo ― Zander revela, e me viro para olhá-lo, enquanto ele se levanta,
afastando o cabelo do rosto. ― Eu só fui saber da existência de Charlie
Makgold quando tinha dez anos de idade. Ele entrou na minha casa
acompanhado por duas pessoas e atacou minha mãe. Depois descobri que ela
o havia ameaçado, então, ele foi acertar contas.
Pisco meus olhos surpresa.
― Ele a matou? ― eu nem mesmo preciso perguntar, está nítido em
seus olhos.
― Não. Eu a matei ― Zander balança sua cabeça com um sorriso
frio, enquanto eu fico em choque. ― Vivi minha vida à base de tapas, chutes.
Jamais recebi qualquer tipo de afeto, nenhuma mísera migalha; quando tive a
oportunidade que Charlie Makgold me ofereceu, aceitei. Incentivou-me a
fazer aquilo, levou-me com ele. Uma das pessoas que o acompanhavam era
um homem que participaria, um ano depois, da morte de sua família. Você,
Johnatan, o matou quando o encontrou, e a outra pessoa era sua mãe, Mine.
Minha respiração trava assim como meu corpo, e sinto a mão de
Johnatan segurar minha cintura. Não gosto nem de imaginar o que minha mãe
possa ter feito estando ao lado de Charlie. Isso me causa repulsa.
― E você se transformou como seu pai ― Johnatan dispara atrás de
mim.
― SEU PAI! Primogênito Makgold! ― o retruco de Zander me faz
saltar. ― Acha que foi fácil ouvir todas as comparações, mesmo existindo o
ódio entre as partes? Eu ansiava por sua morte, pois sua sombra sempre
esteve no meu caminho. Sua maldita família sempre esteve presente, sempre
esteve à frente e até depois da morte surge o fantasma do filho pródigo, o
odiado, mas com a fixação de encontrá-lo para acabar de vez com a
linhagem! E, por mais que eu me esforçasse, estava disposto a fazer o serviço
caso nenhum de seus capangas conseguisse! ― ouvir a maldade em seu tom
me faz cambalear para trás, mas sou bloqueada pelo corpo de Johnatan.
― Está me culpando pelo que aconteceu?
― Sou como uma máquina feita para matar, subornar, vigiar e me
vingar. Não foi só Charlie Makgold que me criou assim, o ódio me fez assim.
Não foi você que permaneceu em um cativeiro imundo, porque enquanto
jantava com sua família, eu vivia de restos. Durante os treinos, se errasse, era
punido entre chutes e pontapés contínuos, nunca paravam, eram
cronometrados até eu me acostumar com isso e sentir mais ódio daquela
figura, assim como do sangue que carrego. ― Sinto meu coração se apertar e
engulo o nó em minha garganta ao tentar imaginar como foi a vida de Zander.
― Então, ninguém odeia tanto Charlie Makgold quanto eu.
Olho para o lado vendo a SUV de Shiu se aproximar, mas ambos
permanecem paralisados, analisando um ao outro.
― Neste caso, por que não o matou? ― a pergunta de Johnatan sai
desafiadora.
― Eu ainda tenho o primeiro na minha lista. Sua mãe e irmã já se
foram, então, só sobrou um ― Zander destaca se se intimidar.
― Johnatan tem razão ― digo, de repente, em choque. Zander me
observa com desdém. ― Tudo isso que aconteceu, só serviu para você ser
como Charlie. Era isso o que ele queria. O que tem dentro de você não é só
ódio, mas também a inveja por não ter tido a mesma vida que Johnatan...
Antes que eu termine meu desabafo, Zander ergue sua mão para
agarrar meu pescoço, mas Johnatan o afasta, atingindo seu braço com um
soco e empurrando seu copo com um chute, fazendo-o cair. Em seguida,
segura sua camisa e ergue seu punho para atingir o rosto do infeliz.
― Que vulnerável, Makgold! Aposto que ficaria ainda mais ao saber
que seu pai tem um vídeo da morte de sua mãe e irmã. Não sabe o quanto me
divirto toda vez que assisto ― Zander provoca.
Me distraio ao escutar o rosnado agonizante de Johnatan ao socá-lo
sem piedade.
O barulho de armas sendo destravadas me deixa em alerta. Três
homens vestidos com roupas escuras encapuzadas se aproximam, mirando
suas armas em direção a Johnatan.
― MINE! ― Shiu grita em alerta e me abaixo assim que escuto uns
disparos.
Quando olho para trás vejo Dinka se aproximar atirando nos dois
homens, um ele acerta no peito e o outro, na cabeça. Cassandra chega em
seguida, imobilizando o terceiro homem por trás, cravando uma faca em seu
peito.
Dinka caminha em minha direção, ao mesmo tempo em que observa
Johnatan à frente. Assim que nota o que acontece, rapidamente mira sua
arma.
― Dinka, não ― interrompo-o, vendo seus olhos verdes confusos. ―
Só o mantenha afastado.
Tanto Dinka quanto Cassandra não entendem meu pedido, mas assim
que o atirador se aproxima, Johnatan o atinge com um soco, afastando-o para
longe, enquanto ainda mantém uma de suas mãos firmes no pescoço de
Zander.
― Johnatan, não faça isso, por favor. Não o escute ― imploro, Dinka
segue novamente na tentativa de tirar Johnatan de cima do suposto irmão.
Vejo Matt e James se aproximarem, mesmo ofegantes e confusos.
Tentam ajudar Dinka a separar os irmãos, enquanto Zander enfrenta Johnatan
como se o desafiasse. Para minha surpresa, seu idioma é trocado para o russo,
o que faz Johnatan não querer soltá-lo, respondendo num tom mais forte e
profundo.
― Inferno John, largue-o! ― Matt diz com esforço.
Olho para Cassandra, e corremos até eles tentando desgrudar os dedos
de Johnatan do pescoço de Zander, que sorri ofegante ao ser puxado.
Imediatamente, cravo minhas unhas na pele de Johnatan. Seus olhos
febris destacam seu ódio intenso.
― Solte-o ― tento em vão chamar sua atenção para mim. ― Amor,
faça isso por mim ― imploro.
Assim que seus dedos se soltam, o corpo de Zander choca-se contra o
chão. Depois, Johnatan é puxado para longe, enquanto luta para não perder
Zander de vista.
― Há uma coisa que você nunca terá bastardo infeliz! Amor! ISSO É
ALGO QUE VOCÊ SEQUER SOUBE OU SABE APROVEITAR! ―
Johnatan grita, tentando manter Matt afastado. ― E, antes que fale algo sobre
minha família com sua boca imunda, é melhor pensar duas vezes, maldito!
ME SOLTEM!
Johnatan se afasta, encarando Dinka, Matt e James com ódio. Eu
nunca o vi tão descontrolado e, ao olhar Zander no chão, vejo que também o
olha da mesma forma.
― Temos que sair ― me assusto quando Shiu comunica atrás de
mim. Aceno para ele, vendo-o assustado.
Por sorte, a chuva se transformou em garoa. Inspiro fundo e caminho
até Johnatan segurando-o no lugar quando tenta avançar para Zander
novamente. Dinka e Matt o mantêm no lugar. Vejo James puxar a respiração
com força, como se estivesse cansado.
― Mais uma vez você teve sorte, mas, da próxima, reze para não
cruzar meu caminho ― Johnatan ameaça.
― Já chega, Johnatan, vamos! ― interrompo em tom autoritário.
Sem paciência, eu o empurro para longe.
Dinka e James se afastam, seguindo para a van com Shiu, e Cassandra
caminha até a SUV próxima, onde vejo Nectara. Johnatan se vira,
caminhando até o conversível prateado; Matt joga-lhe a chave do carro antes
de se juntar com Cassandra.
Quando os dois carros dão a partida, vejo dois homens se
aproximarem de Zander. Com a distância, não consigo escutar, mas o vejo
erguer sua mão para que eles abaixem suas armas e o ajudem a se levantar.
Em seguida, entro no carro com Johnatan, em silêncio, e saímos dali o mais
rápido possível.
Se ele tivesse um superpoder de raio laser nos olhos, com certeza a
estrada estaria um caos. Por um momento, penso em o repreender por dirigir
tão velozmente, mas, na situação em que se encontra, prefiro não tirá-lo de
seus devaneios. Portanto, permaneço calada, encarando a cidade silenciosa.
De repente, um movimento de Johnatan me distrai. Vejo-o pegar uma
sacola embaixo do seu banco para me entregar.
― Cassandra colocou no meu carro. Vista ― pego a sacola, notando
que são minhas roupas.
Fico surpresa e me visto rapidamente.
― Pode me dizer o que Zander lhe disse em russo? ― me encolho
quando suas mãos apertam o volante com força. ― Ou não...
― Não gostaria de escutar explicitamente. Nem mesmo os relatos de
violência que minha mãe e irmã sofreram, incluindo a sua ― suas palavras
me fazem estremecer.
― Ele faz isso só para provocar. Não lhe dê ouvidos ― toco seu
ombro.
Meu marido olha em minha direção, ao mesmo tempo em que observa
meu rosto e meu corpo. Logo retorna sua atenção para a estrada.
― Você precisa de um banho quente e tomar um remédio. Não a
quero doente ― a mudança de assunto me surpreende.
Quando chegamos ao estacionamento do prédio, saímos do carro e
seguimos para o elevador. Noto que os carros dos outros estão estacionados
em lugares diferentes. Franzo a testa, tendo a certeza de que a noite agitada
ainda não terminou.
Sigo Johnatan em silêncio até entrar na suíte onde encontro quase
todos reunidos. Nectara está sentada no sofá, enquanto Shiu faz um curativo
em seu ombro, ela me oferece um sorriso amigável, como se dissesse que está
bem. Em seguida, Dinka chega à sala.
― Cassandra está cuidando da garota ― informa sobre Camille e
aceno agradecida.
― As outras meninas escaparam ― Shiu informa a Johnatan.
― Se conseguirmos contato com Messi, provavelmente deve ter os
dados de todas elas. Conseguindo isso, quero que deposite uma quantia fixa
na conta de cada uma ― Johnatan ordena.
― Sim, senhor ― o coreano responde encolhido, voltando a cuidar do
curativo de Nectara.
Mesmo estando com as roupas molhadas, Johnatan cruza seus braços
e encara todos até parar em Matt.
― Você o tinha como cobaia, durante um tempo. Havia amostra de
sangue no laboratório. Como inferno você não descobriu? ― Matt se
surpreende com a fúria do amigo.
Inspiro fundo.
― Zander é irmão de... ― Johnatan ergue sua sobrancelha em minha
direção. ― Meio irmão de Johnatan ― corrijo-me.
― Vimos os dados dele no sistema da LIGA. A mãe se chamava
Martha Westfield e o pai Charlie Makgold. Seu nome é batizado como
Zander Makgold. ― Shiu explica.
Johnatan inspira fundo, observando o asiático.
― Há mais por aí? ― sua pergunta controlada me surpreende.
― Não que eu saiba, mas vou investigar ― Shiu afirma.
― Faça isso. Nunca se sabe quantas mulheres ele já engravidou ―
Johnatan diz antes de se voltar para Matt.
― Espere, se eu soubesse que era seu irmão... Meio irmão, eu te
comunicaria. O que estávamos fazendo eram experimentos para serem
testando em Zander. Jamais me passou pela cabeça em fazer DNA de
parentesco ― Matt dispara. ― Como eu iria adivinhar? Zander também se
deixou levar a ponto de te provocar.
Johnatan o encara fixamente.
― De qualquer forma, exijo o DNA. Na Colmeia deve ter algo dele
― Johnatan diz entredentes.
― Eu vou verificar. Agora... se for mesmo comprovado, o que pensa
em fazer? ― assim que Matt pergunta, voltamos toda a nossa atenção para
Johnatan.
― A única coisa que penso no momento é matar esse infeliz ― ele
não consegue esconder seu nervosismo.
Seguro minha respiração assim como todos.
― Johnatan, pensa que possa ser sua única família. Você pode ajudá-
lo, tirá-lo desse mundo. E se não fosse Zander ali, e se fosse Thessi, sua
irmã? ― Matt pergunta com calma. ― Talvez a vida dele não tenha sido tão
fácil, ou até mesmo, ele sofreu a mesma dor que você.
Johnatan dispara seus olhos febris para Matt, como se ele acabasse de
cometer um crime.
― Não venha comparar minha dor com a de um bastardo, que nem
sequer conhece o valor de uma família! Sendo assim, eu desconheço a
palavra irmão ou qualquer afeto envolvido. E jamais mencione ou compare
minha irmã com algo desprezível! ― seu tom firme faz meus ouvidos
zunirem e meu corpo estremecer. A fúria ainda continua em seu corpo.
Matt levanta suas mãos em redenção e suspira.
― Tudo bem. Desculpe-me.
― Em outro caso, você o ouviu. Sabe que, em se tratando de um ser
humano assim, acha que existe salvação? ― Johnatan exaspera. ― Uma
pessoa que aprecia e se vangloria de atos sórdidos, a sangue frio... Acha que
merece uma chance na vida?
Tremo só em escutá-lo, caminho até meu marido para abraçar seu
corpo na intenção de acalmá-lo.
― Certamente não ― Dinka diz pensativo.
― Não mesmo, não o imagino como um de nós ― Shiu também está
perdido em pensamentos, ao contrário de Nectara, que revira os olhos.
― Se quiser, posso matá-lo de graça ― a japonesa diz, fazendo-me
suspirar.
― O que precisamos agora é descansar. Tudo isso está sendo muito
estressante. Acalmando os nervos, conseguiremos pensar em algo melhor ―
digo, olhando para Johnatan.
Seus braços me envolvem e noto seus olhos me observarem com
intensidade, logo o sinto relaxar, curvando-se para meu rosto e inspirando
meu perfume. De relance, alguém se move, e viro minha cabeça para ver Shiu
com a mão erguida.
― Podemos pedir pizza? Na boa, estou morrendo de fome ― pede.
Rapidamente Dinka pega o telefone.
― É disso que estou falando ― o atirador diz com urgência me
fazendo rir.
Viro-me para Johnatan e beijo seu queixo.
― Vou tomar um banho quente como você me pediu ― digo
sorrindo.
Em seguida, sou distraída com a aproximação de Cassandra que avisa:
― A garota está bem, só teve alguns ferimentos. Agora está
dormindo.
― Ela disse algo? ― pergunto.
― Nada, ela permanece em silêncio ― responde com um suspiro.
― É melhor pedir algo para ela comer também ― Johnatan aconselha
e esfrega meus ombros. ― Tome seu banho, que daqui a pouco vou levar um
remédio para você ― reprimo meu bico, gostaria de tê-lo comigo no banho.
― Não vem comigo? ― sussurro.
Seu sorriso me deixa aliviada.
― Em breve, vou conversar primeiro com Cassandra ― beija meus
lábios brevemente antes de se afastar, chamando pela espiã, que o segue até o
corredor.
Assim que se afastam, James aparece desligando seu celular e
caminhando em minha direção.
― Liguei para Jordyn ― revela dando-me um sorriso leve. ― Liguei
para saber como todos estão em casa. Ela me falou que seu pai está
empolgado, pois já terminaram a reforma na vila. Ian virou seu companheiro
na pesca, parece que estão se divertindo, enquanto Peter e Donna estão bem e
cuidando da casa.
― Isso é maravilhoso ― suspiro aliviada. ― E os cavalos?
― Muito bem ― responde sorrindo.
― Jordyn? ― aperto meus olhos, analisando sua reação.
― Com saudade... Quer dizer, está melhor ― ele se corrige, um
pouco sem jeito.
Sorrio do seu desconforto.
― Tudo bem. Vou para o quarto tomar um banho. O dia foi longo ―
murmuro exausta.
― Hey, o que aconteceu? ― pergunta confuso sobre as horas atrás.
Suspiro esfregando meu rosto.
― Longa história, os outros podem te falar, enquanto comem pizza.
Eu vou tentar relaxar um pouco ― toco seu ombro antes de me afastar.
― Não vai querer comer? ― James pergunta.
― Não, pizza não. Pode pedir algo mais leve? Não só para mim, mas
para Johnatan também. Frutas, saladas, uma sopa reforçada, pães... ― peço,
vendo-o sorrir e acenar.

No banho deixo que a água quente aqueça meu corpo e relaxe meus
músculos. Ao terminar, seco meu corpo e me enrolo em um roupão branco
felpudo. Em frente ao espelho, afasto o vapor com a mão, observando meu
rosto, enquanto seco meus cabelos com o secador.
Quando finalizo, saio do banheiro, travando meus joelhos no meio do
quarto, vendo Johnatan caminhar em minha direção, descalço e sem camisa.
Em suas mãos há um copo de suco de laranja com dois comprimidos. Sorrio
surpresa, mas antes que eu diga algo, ele aproveita para colocar os
comprimidos em minha boca e oferece o suco.
― Hum... ― engulo tudo com a ajuda do suco.
― Beba tudo ― obedeço sem pestanejar, ainda mais com seu olhar
atraente.
― Obrigada, está delicioso ― sorrio lambendo minha boca.
― Obrigado ― engasgo-me com seu sorriso torto.
― Eu quis dizer o suco ― tusso, rindo quando seu sorriso desaparece.
Ele caminha até a mesa para colocar o copo, observo que algumas
partes do seu corpo estão avermelhadas, assim como o lado esquerdo do seu
rosto, mas, graças a Deus, o pequeno corte é apenas superficial. Ao retornar
para mim, envolve seu braço em minha cintura, puxando-me para seu corpo.
Fico sem ar e me apoio em seu peitoral, enquanto encaro seus olhos com
intensidade.
― Vamos ver se isso é mais maravilhoso que o suco ― sua voz rouca
me arrepia.
Johnatan aproxima sua boca para sugar meus lábios primeiro, depois
me beija intensamente. Arrasto minha mão de seu peito até seu ombro,
puxando-o para mim. Sinto sua mão descer pelo meu corpo lentamente, como
se acompanhasse o beijo apaixonado. Logo o sinto apertar minha bunda com
força, fazendo-me pulsar e grudar-me ainda mais contra o seu corpo. Envolvo
meus braços ao redor do seu pescoço e o beijo desesperadamente,
demonstrando o quanto o desejo. Até que uma batida forte na porta faz
nossos lábios desgrudarem num som estralado.
Johnatan parece embriagado ao mesmo tempo embaraçado. Também
estou da mesma forma ao me perguntar como vim parar na cama tão
rapidamente. Johnatan se levanta apoiando-se com os braços no colchão,
enquanto encara para a porta fechada.
― O que é?! ― seu tom frustrado me faz rir.
― Serviço de quarto ― reconheço a voz de Shiu do outro lado.
Johnatan tenta se levantar, mas o seguro.
― Não, não. Espere... ― sorrio. ― Eu pedi por uma refeição,
estamos exaustos e com fome, certo? Então, por que não vai tomar um banho
rápido? ― sugiro, beijando-o rapidamente.
― O que eu não faço por você ― murmura, levantando-se. ― Só não
abro essa porta, porque estou... avantajado.
O comentário me faz rir. Levanto-me e sigo até a porta, fechando meu
roupão. Johnatan caminha para o banheiro e, assim que fecha a porta, abro a
minha.
Shiu está à frente com os olhos fechados, empurrando um carrinho de
aço.
― Olá, Shiu ― trago o carrinho para dentro do quarto.
― Eu interrompi, não foi? Olha, não foi minha intenção. Não queria
deixar o senhor Makgold mais nervoso do que já está. Eu tenho medo ― sua
desculpa rápida sai embaraçada. Isso me faz rir.
― Shiu, está tudo bem, não se preocupe. Ele está no banho ― vejo
seu olho direito se abrir com cuidado e logo suspirar em alívio.
― Menos mal. Ainda bem que você atendeu. Todos estão na sala de
TV, assim que chegou seu pedido, James me informou e eu trouxe ―
informa, inspirando fundo.
― Muito obrigada, Shiu. Até mais ― sorrio ao vê-lo sair
praticamente correndo.
Reviro meus olhos; em seguida, fecho a porta e empurro o carrinho
até a cama. Meu estômago ronca só de sentir o cheiro das comidas. Belisco o
pão, enquanto organizo os pratos preferindo a cama em vez da mesa de café
da manhã. Na segunda prateleira do carrinho encontro duas taças e uma
garrafa de vinho.
Sento-me na cama com a garrafa e o saca-rolhas. Ergo minha
sobrancelha na luta para abri-lo. Antes que eu tenha a brilhante ideia de pegar
a faca, Johnatan sai do banho com uma toalha enroscada no quadril e outra
em seu pescoço para secar os cabelos. A distração é imediata ao vê-lo
caminhar de volta para o quarto com todo seu corpo másculo com essência de
pós-banho.
― Está maravilhoso ― elogio, lutando com o saca-rolhas.
― Agora isso é para mim? ― sorri, secando sua nuca, aceno. ― E
quanto ao beijo?
Mordo meu lábio.
― Saboroso.
Sua testa franze quando encara minhas mãos.
― O que está fazendo? ― pergunta depois de afastar a toalha de seu
pescoço, deixando-a estendida na cadeira.
― Hum... Tentando abrir isso. Melhor usar uma faca ― digo
impaciente.
― Não, Roza, está fazendo errado ― diz, pegando a garrafa e o saca-
rolhas das minhas mãos.
Dou de ombros e pego as taças.
― Preferia gelado ― digo impressionada ao vê-lo tirar a rolha com
facilidade.
― Na verdade, normalmente você bebe em temperatura ambiente ―
Johnatan explica. ― E, quanto mais velhos, mais saborosos ficam.
― Eu não vou tomar coisa vencida ― falo com uma careta.
― Apenas prove ― ri.
Ergo as taças para que ele despeje o vinho branco.
Degusto o sabor do vinho suave e levemente doce. Johnatan se senta
ao meu lado para me observar.
― Ainda prefiro gelado ― digo rindo.
― Exigente ― sorri e se curva para beijar meus lábios. ― O que
temos para comer? ― a pergunta me faz corar, pois seus olhos famintos
descem por meu corpo.
― Salada de salmão, pães e sopa de legumes caprichada, senhor ―
mostro-lhe os pratos na cama. ― E, de sobremesa, salada de frutas.
Johnatan observa com uma careta. Ajusto-me na cama, cruzando
meus pés e pegando meu prato.
― É nessas horas que sinto mais falta de Donna ― escuto-o
murmurar.
― Não parece tão mal ― pego um pouco da salada com o garfo e o
sirvo na boca.
Johnatan prova, encarando-me descaradamente. Sorrio e volto para
minha refeição antes que perca o controle. Depois que terminarmos de nos
alimentar, colocamos as coisas de volta no carrinho e apreciamos o vinho até
a garrafa esvaziar.

Relaxada na cama, gemo ao sentir os dedos firmes de Johnatan


massageando meu pé.
― Ah... O outro, o outro ― puxo meu pé esquerdo, entregando-lhe o
direito. ― O que você foi falar com Cassandra?
Minha pergunta faz seus dedos ágeis paralisarem em minha sola.
Abro meus olhos presunçosos para encará-lo. Ele me observa com ternura.
― Já te disse o quanto você é linda? ― seu elogio faz minhas
bochechas latejarem.
― Johnatan... Não fuja do assunto ― sorrio sem jeito.
― Não estou fugindo ― garante, arrastando beijos por minha
panturrilha.
― Johnatan... ― mordo meu lábio.
Ele suspira, apoiando-se no colchão para me encarar com uma careta.
― Apenas sobre o que aconteceu na boate. Nectara se juntou, logo
em seguida, para me passar informações de clientes que estavam dispostos a
fechar um contrato com a LIGA através de Messi. Elas apenas escutaram
uma conversa ou outra. Então, procurei saber como era a forma de
negociação entre eles, além de participarem de algo imundo. ― informa
exasperado.
Toco seu rosto.
― Vamos esquecer isso por um momento ― tranquilizo-o, dando-lhe
uma piscadela. Logo seu sorriso aparece.
― Está muito cansada? ― mordo meu lábio quando o vejo abrir meu
roupão.
― Para você, nunca estarei cansada ― sorrio empolgada.
― Hum... que honra, minha Roza ― sua voz grossa e rouca faz meu
corpo pulsar.

Estranho, estranho. Sinto um abandonado, não um abandonado


completo, mas sim uma distância. Pisco meus olhos sonolentos, encontrando
o travesseiro vazio à minha frente. Inspiro fundo, ao mesmo tempo em que
sinto o ar mais aquecido no quarto. Viro-me na cama e me sento, puxando o
lençol para meus seios, assim que encontro Johnatan sentado nu no final da
cama. Pela pouca luz do quarto posso ver seus músculos tensos. Rastejo até
ele e beijo suas costas, encostando minha cabeça em seu ombro e deslizando
minha mão por seu abdômen.
― Eu a acordei? ― franzo a testa confusa.
― Isso acontece quando não o tenho por perto ― murmuro em suas
costas.
Vejo sua mão se ergue para entrelaçar com a minha e puxá-la até seus
lábios. Antes de beijá-la, ele inspira o perfume como se tentasse se acalmar.
― Me desculpe ― ele diz dando um breve sorriso e beijando minha
mão novamente.
Apoio meu queixo em seu ombro para contemplar seu rosto, mas não
consigo absorver nada de sua expressão.
― Teve um pesadelo? ― acaricio seus cabelos com minha mão livre.
De alguma forma, Johnatan não parece confortável. Beijo seu ombro
com carinho e inspiro seu perfume assim como ele faz comigo.
― Nunca tenho pesadelos quando durmo ao seu lado ― quando vira
o rosto em minha direção, beija meus lábios com doçura.
Sorrio com amor, mas sem perder minha atenção em sua expressão.
Franzo a testa.
― Então... O que aconteceu? ― dessa vez sinto o tremor em meu
coração assim que pergunto.
― Gaspard está morto ― minha respiração trava.
― O quê?
― A esposa dele fez uma ligação direta para Peter ― Johnatan diz,
inspirando fundo. ― Peter mantém contato com a família de Abram
diariamente, caso algum deles precisem de algo, sendo assim, as informações
são passadas diretamente a mim.
Engulo em seco e o abraço com força.
― Não queríamos isso ― estremeço. ― Só estamos querendo o
melhor.
Suas mãos esfregam meus braços em conforto.
― Ele sabia que seria arriscado. Seria algo inevitável, uma hora ou
outra a LIGA iria descobrir ― Johnatan lamenta.
― Mas eu não queria que fosse assim ― fecho meus olhos quando o
sinto beijar minha bochecha.
― Eu sei, mas farei de tudo para ajudar a família, não se preocupe ―
sorrio tristemente, ao mesmo tempo orgulhosa por ele ter um coração tão
generoso.
― E como a esposa de Gaspard soube? Ela não está escondida? ―
pergunto.
Johnatan suspira exasperado.
― Ela esteve na cidade de passagem para pegar algumas coisas que
faltava na casa, até a encomenda chegar ― franzo a testa confusa. ― Era a
cabeça do marido.
Seguro minha respiração em choque. Meu coração acelera.
― Não posso imaginar como isso foi para ela. Meu Deus ― percebo
que tremo violentamente, logo, Johnatan se vira para me abraçar. ― Ela
voltou para o esconderijo?
― Sim, imediatamente ― Johnatan informa e aceno, pulando em seu
colo para abraçá-lo.
Seus braços me cercam com força.
― Sabemos que isso tudo é arriscado, Mine ― afasto-me para acenar
com a cabeça. ― E se Messi concordar em nos ajudar, as coisas serão muito
piores.
Encaro seus olhos fixamente.
― Eu sei... ― engulo em seco.
― Temos que estar preparados, enquanto é tempo ― continua como
aviso, fazendo meu corpo estremecer. Sua mão se ergue para tocar meu rosto
e fecho meus olhos, inclinando minha cabeça com seu toque suave. ― Mine,
eu te amo tanto.
A intensidade de suas palavras toca meu coração, fazendo-o acelerar e
se apertar. Quando abro meus olhos, encontro os seus em chamas, fixos em
mim.
― Não... ― disparo em alerta, sentindo as lágrimas preencherem
minha visão. ― Não pode me dizer algo assim...
― O quê? ― franze a testa, abraçando meu corpo quando ouso me
afastar.
― Como se estivesse se despedindo ― tento segurar meu choro, mas
é inevitável.
Seus dedos afastam minhas lágrimas e o abraço com força quando
beija meus lábios.
― Não foi essa minha intenção ― Johnatan lamenta um pouco
confuso. ― Eu só senti a urgência de falar isso.
― Então, não fale como se o mundo estivesse se acabando, como se
tirasse você outra vez de mim ― encosto meu rosto no seu. ― Nós nos
amamos e seguiremos juntos. Sempre.
Beijo-o assim que seu sorriso se abre presunçoso.
― Eu estou tentando, mas não posso dizer outra coisa além de que
amo você ― declara entre beijos. ― Demorei tanto para te dizer isso, mas
agora, quando digo, você me bloqueia. É um jogo duro para mim ― sorrio,
acariciando sua nuca.
― Pode dizer, enquanto... Como posso dizer... Voltamos para nosso
cantinho do amor ― beijo seus lábios, puxando-o de volta para cama.
― Minha Roza, Roza... ― diz, estalando sua língua, logo abre minhas
pernas, puxando meus joelhos, fazendo meu corpo colar-se contra o seu. ― O
que farei com você?
40 – MERO ENGANO

Essa deve ser um dos momentos em que eu desejo não despertar,


apenas quero espreguiçar meu corpo e voltar para meu sonho tranquilo. Só
que, de alguma forma, sinto algo me perturbar, não que seja ruim, mas me faz
desconfiar. Inspiro fundo e gemo preguiçosa. Uma respiração suave próxima
ao meu rosto me faz inspirar o perfume intenso que me tranquiliza. As
carícias em meus cabelos me acalmam, ao mesmo tempo que me faz sentir
mimada.
― Você me acordou ― resmungo presunçosa.
Estico minha mão para tocar seu rosto e me surpreendo por estar tão
próximo. Seus braços me apertam por cima das cobertas, aninhando-me
como uma criança.
― Era essa a intenção ― suspiro só de escutar sua voz intensa.
Pisco meus olhos devido à claridade do quarto, deparando-me com
seu rosto perfeito. Minha careta o faz sorrir.
― Diga-me que não é tarde ― franzo a testa.
― É cedo ainda, mas está muito frio lá fora ― murmura, beijando
meu rosto com carinho.
Sorrio sem jeito e me arrepio quando inspira meu perfume, seguindo
seu nariz até meu pescoço, onde planta um beijo em minha garganta. Eu o
abraço com força, acariciando seus cabelos. Quando volta a me encarar,
perco-me na profundidade dos seus olhos. Johnatan parece melhor do que no
dia anterior, um pouco mais corado, e o pequeno corte superficial na maçã de
seu rosto é como um leve arranhão.
― Você já tomou banho? ― noto, pelo seus cabelos bem-arrumados,
assim como o corpo bem-agasalhado.
Ele fica sexy vestido com cachecol de lã cinza, o qual combina com
seu suéter.
― Sim ― diz franzindo o cenho quando vê meu desapontamento. ―
Levantei às quatro da manhã. Não quis acordá-la nesse horário.
Arregalo meus olhos surpresa.
― Aposto que se fosse um treino estaria me jogando um balde de
água gelada ― reclamo, mas agradeço por isso não ter acontecido. ― Por
que acordou tão cedo? ― aprecio sua mandíbula ao acariciá-la, ela sempre se
destacada quando ele faz a barba.
― Talvez seja o fuso horário ou o lugar desconhecido. Quando seu
corpo e sua mente não estão acostumados com o ambiente, tudo fica tenso e
em alerta ― Johnatan explica como se estivesse exausto.
Beijo seus lábios, distraindo-o brevemente.
― Se me ensinar a técnica de dormir... ― mordo meu lábio quando
vejo sua sobrancelha se erguer.
― Nem pensar! ― afasta-se depois de beijar a ponta do meu nariz. ―
Café da manhã?
Ergo minhas mãos, deixando-o me puxar para sentar. Seguro as
cobertas em meus seios e ignoro meus cabelos bagunçados. No final da cama,
vejo a bandeja de café da manhã repleta de alimentos.
― Não vou conseguir comer tudo isso ― indago quando Johnatan
traz a bandeja para meu colo.
― Mas não é só para você ― sorri me servindo café, omelete e
bacon.
Enquanto comemos, conversamos sobre nossa volta para casa. Eu
nem mesmo quero imaginar o avião novamente. Montreal parece um lugar
bonito para explorarmos, mas mesmo assim seria arriscado demais continuar
na cidade em meio ao caos. Em seguida, penso se Messi virá até nós.
Johnatan não questiona, nem mesmo toca no assunto, é como se ele já tivesse
a resposta na cabeça, com isso nem mesmo demonstra preocupação.
Depois que termino meu café, tomo um banho rápido, deixando
Johnatan preparando as malas. Na volta para o quarto, noto que Johnatan
separou roupas para mim. Aperto meus lábios sem jeito, sabendo que ele me
observa, enquanto visto as roupas escolhidas: botas, jeans justo, uma blusa
marrom de gola rolê e um casaco preto, até mesmo minha lingerie preta foi
escolhida por ele.
― Como estou? ― giro meu corpo.
Johnatan me observa com a mão esquerda apoiada em seu queixo.
― Mais linda do que nunca. As cores escuras destacam seus olhos ―
seu bom gosto me faz rir.
― Você também não está nada mal ― elogio.
Não, Johnatan nunca estará mal, pode até usar roupas aos trapos e
continuará lindo. O suéter cinza cola em seu corpo como uma segunda pele.
Eu admiro os músculos até mesmo quando se move para colocar seu casaco.
― Vamos? ― ele me distrai ao estender sua mão.
Abraçados, seguimos até a sala principal, onde todos estão reunidos.
Vejo Shiu com seu laptop atento, ao mesmo tempo que toma seu café.
Surpreendo-me quando vejo Camille encolhida ao lado de Cassandra, como
se estivesse pronta para correr. Franzo a testa me espantando com a presença
de Messi e Karoá parados perto da porta. Messi continua com sua roupa da
noite anterior, enquanto sua companheira usa um moletom escuro. Pelas suas
expressões parecem incomodados.
― Bom dia! ― Johnatan cumprimenta todos, mas não demonstra
surpresa ao ver o mensageiro.
Sento-me entre Dinka e Cassandra, observando a situação. Na ponta
do sofá, próxima a Messi, vejo Nectara atenta onde mantém uma arma
escondida como prevenção. Logo percebo que todos estão como guardas.
― Podemos conversar? ― o mensageiro fala como se quisesse um
ambiente mais reservado.
Johnatan olha ao redor.
― Se está aqui é por ter aceitado o acordo. Não tenho nada para
esconder da minha equipe ― Johnatan dá de ombros.
Somos distraídos quando escutamos Shiu bater palmas, mas logo se
interrompe ajustando-se no sofá e voltando sua atenção para o laptop, a
atitude faz James reprimir uma risada.
― Desculpe ― o coreano pigarreia.
― E como estão às coisas, Messi? ― Matt pergunta, ficando ao lado
de Johnatan.
Messi olha para todos até encontrar Camille, depois balança a cabeça
e esfrega a testa como se estivesse com dor.
― Assim que saíram da boate, ela explodiu ― Karoá anuncia com os
olhos fixos em mim.
Confusa volto minha atenção para Shiu, que bagunça seus cabelos
lisos.
― Eu só acionei as bombas nos pontos que Dinka ordenou ―
comenta.
― A LIGA foi a culpada. Muitos dos meus homens morreram ―
Messi exaspera. ― Não podíamos ficar por lá. Corremos para longe e me
escondi na casa de Karoá. Isso é arriscado, não tenho dinheiro nem para
pagar um hotel ― seu tom brusco é disparado diretamente para meu marido.
― Não se preocupe. Seu dinheiro está sendo muito usado
adequadamente, eu tenho certeza de que conseguirá se virar sozinho ―
Johnatan dispara, sem se importar com a situação do mensageiro.
― E o que devemos fazer? ― Karoá chama nossa atenção.
― Hoje voltaremos para Queenstown, na Nova Zelândia. Lá teremos
mais segurança ao tratar de negócios e estudar o caso ― Johnatan explica,
em seguida, franze a testa. ― Se for nos acompanhar, Messi, espero que siga
as regras ― o tom firme de Johnatan o faz recuar.
Por um momento, eu me distraio com Camille e me viro para ela.
― Como você está? ― pergunto quando pega minha mão num aperto
forte.
Noto seus pulsos arroxeados, assim como suas mãos frias e trêmulas.
Ela se encolhe, como se pudesse sumir no moletom e nos cabelos soltos.
― Não muito confortável ― responde ao olhar em direção a Messi.
― Ele não fará nada contra você ― dou-lhe um sorriso sincero.
Camille suspira acenando.
― Obrigada por me ajudar e por me proteger, mas o que vai
acontecer daqui pra frente? ― vejo o temor em sua expressão pálida.
Olho em direção a Johnatan.
― Como vamos para Queenstown sem dinheiro? ― Messi discute.
― Talvez você esteja com sorte ― Johnatan suspira, enquanto
observo Matt lhe entregar um pacote. ― São apenas passagens. Matt teve que
pegar mais uma de última hora. O voo de vocês sairá às 11h15 e, no cartão,
há um endereço ― explica, enquanto Messi abre o pacote, observando junto
com Karoá.
― Precisamos dos perfis das garotas que trabalharam para vocês de
graça. Elas necessitam de uma recompensa ― escuto a frieza de Nectara.
Sinto as mãos de Camille apertarem e volto minha atenção para ela.
― Vão me levar com vocês? ― a pergunta me pega de surpresa.
― Ainda não discutimos sobre isso com Johnatan. Talvez, com o
dinheiro que receber, possa voltar para sua família ― tento tranquilizá-la com
essa possibilidade.
― Ficar conosco seria muito arriscado ― Cassandra alerta a fazendo
estremecer.
― Tudo bem. Espero conseguir algo com isso ― o comentário do
mensageiro, que balança as passagens com desgosto, me distrai.
― E nós esperamos que seus passaportes estejam em dia ― Matt
contra-ataca.
― A listagem de contato das garotas foi queimados na boate, não
temos nenhum registro ― Karoá controla sua arrogância.
― Não quero explicações, quero soluções. Vocês têm poucas horas
para solucionar seus problemas e, se falharem... ― Johnatan se interrompe
em ameaça.
― Eu sei que não tenho para onde correr ― Messi dispara
entredentes.
― Ótimo ― Johnatan rebate.
De repente, um bip irritante nos chama atenção, logo vejo Shiu
imóvel.
― Oh... Merda ― dispara om os olhos fixos em seu laptop.
― Qual o problema? ― Dinka se aproxima para ver o que acontece.
― Estou no sistema deles para rastrear qualquer tipo de dispositivo...
― Shiu se interrompe nervoso.
― Estão no prédio? ― Johnatan se aproxima das janelas, o mesmo
faz Matt e James.
Ao meu lado, Dinka saca sua arma de imediato.
Levanto-me e sigo até eles para observar a rua. Tudo está tranquilo.
Tanto eu quanto Johnatan nos olhamos desconfiados.
― Não, não! ― Shiu continua perplexo. ― Está aqui!
Minha respiração trava. Todos ficam imóveis, o silêncio domina o
lugar e apenas o barulho irritante do bip no laptop faz meus ouvidos zunirem.
Johnatan observa todos presentes. Messi e Karoá se olham assustados
quando erguem suas mãos para demonstrar que estão limpos.
― Está de brincadeira ― escuto-o murmurar.
Nós nos surpreendemos quando puxa Camille por cima do sofá e
choca seu corpo contra a parede, fazendo-a gritar assustada. Johnatan a
segura pelo pescoço com firmeza. Meu coração dispara em choque.
― Não... Não, por favor ― Camille suplica desesperada.
― Eu já desconfiava disso. Onde está? ― Johnatan sussurra
sombriamente em ameaça, assustando ainda mais a garota.
― Não me machuque. Eles falaram que não iriam me machucar. Por
favor ― implora, olhando em minha direção.
― E como pode ter tanta certeza? ― Johnatan aperta seu pescoço.
a garota tenta empurrá-lo como uma boneca em trapos.
― Vocês sabiam disso? ― disparo para Messi e Karoá, mas ambos
negam.
― Me entrega ― Johnatan ordena em tom firme.
Camille chora e ergue sua mão. James se aproxima para pegar um
pequeno aparelho que me lembra um pen drive, uma espécie de minigravador
com uma luz vermelha piscando. James observa e entrega a Shiu, que o
quebra ao meio e explica:
― É como um aparelho de escuta, mas não estava acionado.
O bip continua, e encaramos Camille com os olhos arregalados.
Johnatan ergue sua sobrancelha.
― Não, não... ― suplica.
Johnatan não lhe dá ouvidos e a vira de costas.
― Alguém tem uma faca? ― fico perplexa ao vê-lo afastar os cabelos
da nuca de Camille.
Nectara arremessa uma faca afiada ao lado do rosto de Camille. A
lâmina crava na parede e Johnatan a arranca.
Grudado na nuca de Camille, há um chip preto em sua pele, como se
fosse uma minúscula aranha. Sem nenhum cuidado, Johnatan arranca o chip
com ajuda da faca, fazendo-a gritar de dor. Assim que o chip sai e cai no
chão, Johnatan pisa, quebrando-o. Camille cai de joelhos, chorando e tocando
sua nuca, vendo o sangue em seus dedos.
― Isso nunca vai parar? ― Dinka reclama do bip que continua com o
alerta.
De repente, Johnatan vem em minha direção. Quase tropeço quando
puxa minha mão esquerda, erguendo a manga do meu casaco e encontrando
um pequeno botão prata grudado no tecido. Assim que o quebra com o sapato
como fez com o chip, o barulho do bip é interrompido.
Johnatan solta sua respiração exasperada.
― Dá próxima vez que forem resgatar alguém que se diz indefeso,
seja ele quem for, revistem! ― ordena rispidamente, seu olhar é disparado
tanto para Cassandra quanto para mim.
Aperto meus lábios e me encolho ao escutar o choro de Camille ecoar
pela sala.
― Nem todas são confiáveis ― Messi ironiza, cruzando os braços.
― Eu só pensei na segurança delas ― digo com seriedade e Johnatan
balança a cabeça.
― O que te levou a fazer isso, Camille? ― Karoá pergunta.
― O homem me pagou para fazer isso. Ele disse que estaria protegida
caso eu acatasse a ordem. Disse que me daria abrigo se eu descobrisse sobre
vocês. Passou-me as informações através de fotos. Segui para a boate,
sabendo do que estava por vir. Na noite anterior, o homem me encontrou,
disse para que eu seguir com o plano, mas, antes, sofri as consequências por
não ter agido da forma correta. Só que eu... eu não sabia que seria tão
arriscado assim ― a garota chora no chão e me observa com tristeza. ― Me
desculpe.
― Quem era o homem? ― Messi tira a pergunta da minha boca.
― O nome dele era Zander ― responde rapidamente.
Seguro minha respiração ao ver Johnatan se abaixar para encará-la de
perto.
― Você entrou em um plano, sabendo que era arriscado. Não tente
atuar na minha frente ― Johnatan dispara com ódio. ― Colocou em risco a
vida de todos e, principalmente, da minha esposa. Gostaria de saber como
fico quando mexem com ela? ― o tom ameaçador faz meus pelos eriçarem.
Camilla soluça estremecida.
― Não, senhor... ― nega.
― O que minha esposa fez foi tentar te ajudar, mesmo assim, você se
deixou levar por esse tipo de suborno! ― Johnatan se enfurece e levanta. ―
Todos recolham seus pertences. Voltaremos para casa.
― E quanto a ela? ― Nectara observa pronta para dar o troco em
Camille.
― Ficará para os lobos e é melhor correr enquanto é tempo ―
Johnatan alerta a garota, mesmo a fazendo implorar. ― Shiu dê um fim
definitivo nesses rastreadores.
― Sim, senhor ― Shiu diz, recolhendo os objetos quebrados.
― Sendo assim, nós nos veremos em breve ― Messi diz, afastando-
se com Karoá.
Eu encaro Camille tentando se levantar. Afasto-me e caminho pelos
corredores até encontrar algum refúgio.
Paro em uma sala reservada para um bom chá da tarde e me encosto
na parede nem mesmo conseguindo me concentrar na visão panorâmica do
lado de fora. Esfrego meu rosto exasperada, repreendendo-me. Não sei
quanto tempo permaneço parada, mas é o suficiente para me sentir uma
merda.
― Vamos para casa ― a voz de Johnatan me pega de surpresa.
Viro-me o vendo ainda sério e tenso.
― Eu juro que não imaginava ― sinto minhas lágrimas chegarem e
me encolho. ― Meu Deus, é pedir demais um pouco de paz?
Bato minhas mãos em minhas coxas, demonstrando meu cansaço. Os
olhos de Johnatan suavizam. Ele caminha em minha direção para me abraçar.
― Você sabe que não queria te colocar nessa situação ― aperta-me
em seus braços. ― Eu sei o quanto está cansada.
Aperto meu rosto contra seu peito.
― Tudo está mais arriscado que antes. Eu não estou acostumada a
lidar com pessoas que gostam dos sofrimentos dos outros. Só quero que isso
termine logo ― desabafo, e ele afasta minhas lágrimas.
― Eu desejo o mesmo, mas, para isso, temos que ser fortes para lidar
com todos os tipos de pessoas. E, se estamos nos esforçando para isso, vamos
conseguir ― sua calmaria me tranquiliza. ― Lembre-se de que é em você
que eu encontro a paz. Sem você nada faz sentido.
Dou-lhe um sorriso e fecho meus olhos quando seus lábios se grudam
nos meus. Quando se afasta, suspiro.
― E quanto a Camille? ― pergunto.
― Dinka e Cassandra a acompanharam até a saída. Ela vai ter que
aprender a se virar ― Johnatan faz uma careta. ― Não acho que sairá viva.
Juro que, se não estivesse presente, já teria feito o serviço completo.
Estremeço em seus braços.
― Foi melhor assim ― digo, inspirando seu perfume.
― Você realmente não tem ideia do que faria se algo te acontecesse?
― dispara.
― Posso imaginar ― engulo em seco.
― E é uma pena as pessoas não reconhecerem a bondade em seu
coração, eu sinto muito ― lamenta com carinho, fazendo-me sorrir. ― É
melhor irmos antes de termos mais surpresas.
41 – LUGAR SEGURO

― Vamos direto para a Colmeia? ― pergunto para Johnatan assim


que nos acomodamos em nossas poltronas e colocamos os cintos.
― Não. Vamos para casa, os outros pegarão um ou dois carros na
Colmeia e seguirão para mansão. Messi deve ir direto para nossa casa
também ― Johnatan explica, apertando minha mão. ― Não devemos nos
arriscar em mostrar a Colmeia, uma coisa de cada vez. Primeiro precisamos
ter confiança e ver se ele está mesmo disposto a seguir com o plano.
Aceno de acordo e o abraço de repente quando sinto o avião subir.
Johnatan ri, beija minha testa, envolvendo seus braços ao meu redor.
Definitivamente eu odeio altura.
Depois de longas horas de viagem, seguimos pelo aeroporto
tranquilamente até o estacionamento. Antes de sairmos de Montreal, lembro-
me de Johnatan ligar para Peter para que nos encontrasse. Assim que nos vê,
nos ajuda com as malas antes de entrarmos no carro. Johnatan se junta a mim
no banco de trás, enquanto Peter dá a partida. Não vi mais os outros, mas
penso que já devam estar a caminho da Colmeia antes de ir para a mansão.
― Como está Peter? ― pergunto a ele, vendo seu sorriso simpático.
― Muito bem.
― E meu pai?
― Empolgado com o termino da reforma da vila. Todos estão ―
Peter sorri. ― Donna até mesmo o ajudou com a mudança.
― Ele voltou para vila? ― Johnatan pergunta.
― Sim, senhor.
― Quero muito ver como ficou ― digo, abraçando meu marido.
Ele sorri ao ver minha empolgação e beija meu rosto.
― Se quiser, posso te levar mais tarde ― propõe, e aceno
rapidamente. ― E os cavalos?
― Estão bem, senhor.
― Ótimo. Pretendo ficar um pouco mais com eles. Donna já reservou
os quartos? ― a pergunta de Johnatan é referente à equipe.
― Sim, como o senhor pediu ― Peter informa.
Distraio-me com o nascer do sol entre as nuvens na madrugada fria, a
cidade está úmida, dando um aspecto nostálgico, a sensação me faz me
aconchegar nos braços de Johnatan, que me aquece instantaneamente, logo
adormeço tranquilamente.
Desperto de repente, minha cabeça gira e meu corpo enfraquece. Meu
coração dispara devido ao susto, mas, por um lado, não me lembro do que
estava sonhando. Pisco meus olhos ao perceber que estou no quarto de
Johnatan, vestida com um pijama de inverno. Estamos em casa, e me
pergunto por quanto tempo apaguei. O quarto é iluminado apenas com o
abajur, as cortinas estão fechadas e afasto a coberta, saindo da cama.
Quando abro as cortinas, assusto-me com o anoitecer. Caminho para
fora do quarto rapidamente, quase tropeçando nos últimos degraus da escada.
Ian tenta me segurar assim que paro abruptamente.
― Por que tanta pressa, minha princesa? Tenha calma para não se
machucar. ― ele me dá seu sorriso encantador, meu coração se derrete.
Sorrio e o abraço, dando-lhe vários beijos no rosto.
― Que saudade ― esmago-o em meus braços.
― Sim, amor... eu também senti... Estou sem ar ― dispara com
esforço, fazendo-me rir.
Afasto-me quando me dou conta do seu novo corte de cabelo.
― Você cortou o cabelo ― pisco perplexa.
― Gostou, amor? Seu pai, na verdade, meu sogro, que cortou. Eu
estou arrasando ― o garoto move seus dedos em seus cabelos arrepiados.
Gargalho ao bagunçar seus cabelos.
― Está cada dia mais lindo ― elogio.
Em seguida, somos interrompidos por James comendo um cacho de
uvas.
― Eu me pergunto se esse garoto, quando crescer, vai ser pior do que
já é ― diz rindo.
― Não liga para ele, meu amor. Isso é inveja do meu novo visual. Sua
sorte é que Jordyn não se encantou por mim, só a Mine ― a defesa de Ian nos
diverte. ― Com licença, o meu cabelo está passando ― afasta-se, deslizando
seus dedos em seus cabelos novamente.
Reviro meus olhos, voltando minha atenção para James.
― Já viu Jordyn? ― roubo uma uva dele.
Ao falar em minha amiga, eu a vejo se aproximar e avançar em minha
direção para me abraçar, quase me engasgo com sua ação.
― Deve me contar tudo que aconteceu ― diz empolgada.
― Também senti sua falta ― faço uma careta por sua consideração.
― Não seja palhaça ― ela se distrai ao ver James à sua frente e rouba
uma uva de sua mão. ― Tem gente aqui que não quer me dizer os detalhes.
Ela chupa sua uva distraindo James. É nojento de se ver pelo lado de
fora.
― Eu continuo aqui ― digo para eles.
James pisca distraído.
― É... O quê? ― franze a testa confuso.
Suspiro
― Tudo bem, todos já chegaram? ― pergunto depois de afastar a
mão de Jordyn da boca para não distrair James novamente.
― Sim, Mine. Estão jantando e logo seguirão para o escritório com
Messi ― informa, surpreendendo-me.
― Ele vai passar a noite aqui? ― arregalo meus olhos.
― Acho que é mais fácil o senhor Makgold fazê-lo trabalhar a noite
inteira do que dormir aqui ― a hipótese de James me faz rir.
― Eu vou vê-lo e também irei comer, porque estou morrendo de fome
― antes de me afastar, roubo outra uva.
Quando olho para trás, vejo Jordyn tentar pegar mais uvas e pular em
suas costas quando é impedida. Sorrio feliz por vê-los juntos e caminho para
fora.
― Meninos! ― Donna chama a atenção e a abraço. ― Olá, querida!
― Johnatan está na cozinha? ― pergunto.
― Não, querida, ele está na estufa ― informa, secando suas mãos e
erguendo uma delas para arrumar meus cabelos.
― Então, vou buscá-lo ― sorrio e caminho até a saída com ela.
― Por favor, querida, vocês não comeram nada o dia inteiro e
Johnatan está esperando por você ― ela se preocupa, fazendo meu coração se
apertar.
― Ai! ― sobressalto-me ao abrir a porta e dar de cara com Shiu.
― Oi, Mine! ― cumprimenta-me empolgado. ― Você já viu os
cavalos do senhor Makgold? Eu nunca imaginei que ele tivesse três animais
daqueles. Eles são legais, eu diria fofos se não soubesse que são treinados ―
sorrio para Shiu ao ver seu espanto.
― Sim, eles são uns amores. E são meus também ― digo rindo.
― Oh, certo! Eu tenho que entrar para instalar os aparelhos ― Shiu
comenta, mas é interrompido por Donna.
― Nada disso. Tem que comer primeiro depois trabalhar, o que faço
com vocês? Vamos, querido ― ordena puxando-o para dentro.
― Ouviu isso, Mine? Ela me chamou de querido ― o encantamento
de Shiu com Donna me faz rir ainda mais.
Cruzo meus braços e saio, sentindo o leve vento frio. O campo é
iluminado pelas luzes fluorescentes. Lake me distrai, correndo em círculos,
ao mesmo tempo em que fareja meus cabelos, acaricio sua pelagem e abraço
seu pescoço. Quando vejo Hush, corro em sua direção, impedindo-o de se
curvar à minha frente para abraçar sua cara e beijá-lo.
― Vocês estão lindos como sempre ― digo carinhosamente.
Distraio-me com a aproximação de Sid, ela corre com elegância e se
curva à minha frente. Quando se levanta, abraço-a; depois, Lake e Hush
correm para longe empolgados e os vejo ir em direção à estufa. Acaricio a
pelagem macia de Sid e a beijo, percebendo que fareja meu corpo. Quando
cheira meu pescoço, eu me encolho devido às cócegas, mas ela não para e
continua farejando... meus cabelos, meu rosto, meus ombros, minhas mãos e
minha barriga.
Em seguida, a égua se afasta para relinchar, erguendo suas patas
dianteiras como se estivesse feliz. Sorrio, deixando-a se aproximar para que
eu possa encostar sua cara em minha barriga e a acariciar. Franzo a testa,
rindo ao senti-la esfregar seu focinho, como se pedisse por mais carinho. De
alguma forma, sua aproximação faz minhas lágrimas caírem de repente. Ela
relincha suavemente, e continuo acariciando sua pelugem.
― Eu também senti sua falta ― sussurro para ela.
Surpresa, novamente a vejo se curvar. Dessa vez, Sid permanece
imóvel, ficando curvada mais tempo que o normal. Me abaixo e esfrego sua
cabeça com carinho.
― Vamos para a estufa? ― sussurro, secando minhas lágrimas;
levanto, assim como ela.
Seguimos em frente, e percebo que se mantém cuidadosa, como se
protegesse meu corpo com o seu. Acaricio suas costas, enquanto caminhamos
tranquilamente, deixando Lake e Hush correrem livremente.
Ao chegar à estufa, eu me impressiono com a claridade e a imensidão
do lugar como na primeira vez. As rosas parecem mais vivas, mais livres,
como se a quantidade delas se triplicasse a cada dia. Caminho à procura de
Johnatan, ao mesmo tempo, inspirando o perfume puro do lugar.
Encontro-o abaixado em uma área montada para mais plantações.
Suas roupas estão um pouco sujas com terra preta. Ao seu lado, vejo uma
tesoura de jardinagem, uma pequena faca reta e um pote. Ele move suas mãos
na terra com cuidado, mas, ao me aproximar, noto-o parar o que está fazendo,
como se tivesse em alerta, e, antes que se vire, tampo seus olhos, sorrindo.
― Adivinha? ― sinto seu corpo relaxar no mesmo instante.
― Mine... ― responde aliviado.
Afasto minhas mãos, permitindo que se volte para ver meu rosto.
― Acertou! ― sorrio vitoriosa antes de lhe roubar um breve beijo.
― É melhor fazer barulho da próxima vez ― diz, ajudando-me a
levantar e abraçar meu corpo, tendo o cuidado de não me sujar com suas
mãos.
― Assim perde a graça ― resmungo, beijando seu rosto diversas
vezes.
― Só que estive a ponto de te atacar, amor ― sorri, deixando que lhe
dê mais beijos.
― Mas você sentiu minha presença, não sentiu? Hum... ― grudo
meus lábios nos seus antes de sua resposta.
― Você tem razão ― sorri, retribuindo meus beijos.
― Está plantando mais rosas? ― observo, afastando alguns fios de
seus cabelos.
― Algumas sementes ― beija meu rosto, e olho em volta. ― Estava
chorando? ― Johnatan observa meus olhos.
Sorrio.
― Os cavalos sempre me emocionam ― digo, vendo seu sorriso se
abrir. ― A estufa parece tão cheia ― volto minha atenção para as rosas,
rindo quando inspira o perfume em meu pescoço.
― Não é o suficiente. Quando penso que cada uma delas te pertence,
sinto que devo plantar mais e mais ― murmura em meu pescoço. ― E, se
bem me lembro, tenho boas lembranças desse lugar ― seus braços me
apertam, colando-me contra seu corpo.
Meu coração dispara e minha respiração ofega quando me perco em
lembranças.
― Hum... Foi bem ali ― aponto para o final da estufa.
― Que boa memória ― zomba.
Bato em seu braço.
― Podemos repetir a dose ― envolvo meus braços em seu pescoço e
beijo seus lábios com amor.
― Quando você quiser, mas, agora, tenho que terminar aqui e comer
com você ― diz enchendo-me de beijos.
― Comigo? ― digo com malícia assim que se afasta.
Johnatan gargalha livremente.
― Sim com você.
― Vou deixá-lo terminar, mas anda logo, porque eu também estou
com fome. Enquanto isso... vou explorar o lugar ― afasto-me sorrindo e
aprecio as rosas ao meu redor.
É uma rosa mais perfeita que a outra, todas muito bem-cuidadas,
umas estão fechadas e outras mais abertas. Eu inspiro algumas delas sempre
acariciando suas pétalas macias. Minutos depois, vejo Johnatan terminar e
limpar suas mãos com um pano, mesmo assim, continuam sujas. Ele guarda
suas ferramentas numa pequena área reservada na estufa antes de vir em
minha direção.
Eu o aguardo para acompanhá-lo, sorrindo timidamente só em ter seus
olhos fixos nos meus. Em seguida, Johnatan se distrai com uma rosa,
cortando seu caule com um pequeno estilete que guardou em seu bolso e,
agilmente, retira os espinhos, enquanto se aproxima de mim. Antes de me
entregar a flor aberta, ele a deposita em meus lábios.
Fecho meus olhos ao inspirar profundamente e grudo meus lábios
contra as pétalas até senti-lo fazer o mesmo, a rosa se pressiona ainda mais
entre nós quando o abraço. Ao abrir meus olhos, encaro os seus próximos,
com admiração. Logo, Johnatan afasta a flor para me beijar com amor.
Arrepio-me e gemo com intensidade.
Quando afastamos nossos lábios, permanecemos de rostos colados por
alguns instantes, apreciando nosso pequeno espaço. Sorrio, surpreendendo-
me com os seus olhos em chamas cheio de ternura, como se me apreciassem
naquele momento. Ele ergue a rosa e a pego, sem desgrudar meus olhos dos
seus. Meu coração bate forte contra meu peito, assim como minha respiração,
que parece cada vez mais quente e ofegante. O momento me lembra como
nosso primeiro contato.
― Obrigada. É linda ― sussurro, deslizando a flor em seu rosto.
O sorriso torto perfeito me faz suspirar.
― Nem a rosa mais perfeita se compara à sua magnífica beleza ― sua
declaração preenche meu coração de amor.
― Ah! Mas com certeza tem ― sorrio sem jeito.
― Não perante os meus olhos ― a força que há em suas palavras me
aquece subitamente.
Beijo-o novamente, deixando meus sentimentos fluírem com fervor.
Johnatan aperta meu corpo ainda mais contra o dele, fazendo-me abraçá-lo
com força. Quando nos afastamos, estamos sem fôlego.
― Temos que ir ― diz rouco.
Choramingo com um gemido, fazendo-o rir.
― Tudo bem... ― meu estômago ronca e vejo sua sobrancelha se
erguer ― Mas posso pedir uma coisa? ― empolgo-me.
― O que quiser ― diz, beijando minha testa e o acompanho até a
saída da estufa.
― Podemos dormir na tenda? ― minha pergunta soa mais como uma
súplica.
― Você gosta de dormir lá ― observa, fechando a porta da estufa.
― Na verdade, o seu quarto me faz ter muitos pesadelos ― a
revelação o surpreende.
― Por que não me disse antes? ― dispara. ― Posso mandar
reformar.
Arregalo meus olhos, como se ele já tivesse com o plano na cabeça.
― Não, não. Talvez seja a falta de costume de dormir por lá. Então...
― aguardo sua resposta.
Mas antes que me responda, monto em suas costas, envolvendo meus
braços em seu pescoço e prendendo minhas pernas em sua cintura.
― Amor... Eu estou todo sujo ― reclama, ao mesmo tempo em que
aprecia minha peripécia e segura minhas coxas.
― Gosto de você sujo ― sussurro e mordo lóbulo.
― Mine... ― rosna com desejo, e beijo sua nuca.
Ao ver Johnatan me carregar, Sid nos acompanha. Hush também fica
ao nosso lado, como se fôssemos escoltados até em casa, exceto Lake, que
corre em círculos. Escuto Johnatan ordenar algo em russo e, para meu
divertimento, assisto ao cavalo brincalhão sapatear, como se não se
importasse.
― Ele nunca vai aprender ― Johnatan se diverte.
Na entrada da casa, Johnatan deixa que eu desça de suas costas e nos
despedimos dos cavalos. Ele acaricia cada um, permitindo que se afastem,
Sid é a única que nos observa entrar.
Na cozinha, jantamos tranquilamente. Devo concordar com Johnatan,
em questão de culinária, Donna é incomparável. O sabor, o tempero, o
cheiro... faz meu apetite aumentar cada vez mais. Johnatan sorri, feliz por me
ver comendo tão bem, mas nossa alegria dura pouco com a aproximação de
Dinka. Pela cara não deve ser boa coisa.
― Venham ver isso ― apenas dá meia volta voltando para onde veio,
o escritório.
Johnatan e eu nos olhamos antes de segui-lo. No escritório, encontro
todos reunidos. Na sala, Shiu instalou três laptops, incluindo o de Johnatan.
Um dos aparelhos está conectado no televisor da parede. A tela destaca um
site de notícias de Montreal. Em um dos destaques está a boate de Messi,
informando a explosão e mortos no local. Shiu mostra mais sites informando
sobre a tragédia misteriosa. Noto Johnatan travar sua mandíbula ao perguntar:
― Algum vazamento sobre isso?
― Apenas na cidade, mas, por enquanto, não passou nada na TV ―
Shiu informa, continuando sua pesquisa.
― É claro que não ― Johnatan indaga pensativo.
― Isso significa que estou sendo caçado ― Messi dispara, e vejo
Karoá, ao seu lado, suspirar preocupada.
― A LIGA está por trás disso, e, se continuar, isso vazará aos poucos
― Cassandra reflete sobre a situação.
― Encontrando Messi, será fácil de nos localizar ― Nectara suspira
exasperada.
― E vocês precisam de mim para invadir uma das centrais da LIGA
na cidade ― Messi cruza seus braços.
― Infelizmente ― Shiu revira os olhos.
― A mídia ainda pensa na morte de Johnatan, se isso vier à tona, nos
complicará. ― Matt explica me fazendo estremecer.
― O que faremos? ― pergunto preocupada.
Johnatan me olha e logo me puxa para seus braços.
― Temos que ficar afastados para seguirmos com o plano, mas temos
que ser ligeiros para que não tenham tempo de agir ― Johnatan informa.
― Cassandra ― Dinka a chama atento, deixando-me confusa.
A espiã inspira fundo antes de tomar qualquer decisão.
― Sendo assim, partiremos na madrugada para a Ilha Fantasma ―
opina rapidamente. ― A única coisa que peço é que confiem em mim.
42 – PLANOS

Todas as nossas atenções são dadas para Cassandra. Confusa, afasto-


me de Johnatan que está de braços cruzados, e me aproximo de Cassandra
desconfiada.
― Onde fica essa Ilha Fantasma? ― provavelmente minha pergunta
vale para todos, exceto para Dinka, que parece ciente do lugar.
A espiã se encolhe ao começar se explicar:
― Depois que meu pai morreu, descobri que ele havia comprado uma
ilha. Os dados do vendedor nunca foram revelados. Meu pai foi
extremamente sigiloso, tudo isso para manter minha família em segurança.
Uma semana antes da sua morte, ele pretendia nos levar para longe das
ameaças da LIGA. Então, quando me infiltrei, mandei minha mãe para o
lugar ― noto que ela não gosta de dar muitos detalhes, talvez seja por
questão de segurança.
Viro-me para Johnatan, vendo sua testa franzida.
― É uma ilha privada, não está localizada no mapa. Há outro mapa
especial e uma rota para se chegar até lá, mas só tem um probleminha...
― Que probleminha? ― interrompo Dinka e observo Cassandra.
― Tendo o cuidado com a segurança da minha mãe, não posso soltar
detalhes. Nem mesmo lhes mostrar o trajeto. O único que tem essas
informações é Dinka. Vocês sabem, fomos casados ― explica em tom firme.
― Eu sinto muito por isso, só não quero correr o risco de colocar minha mãe
em perigo.
Agora posso entender quando Johnatan pediu à Cassandra um
esconderijo para a família de Gaspard. Aperto meus lábios e aceno de acordo.
― Nesse ponto, não irei me intrometer, Cassandra. Entendo que faz
isso para proteger sua mãe e estou de pleno acordo ― Johnatan diz,
deixando-a mais tranquila. ― Mas por que disse para confiarmos em você?
Volto minha atenção para Cassandra.
― Devido ao cuidado que tenho de levá-los até lá, terei que vendá-los
― meus olhos se arregalarem ― A viagem de helicóptero até a ilha dura
cerca de seis a sete horas.
― Helicóptero ― murmuro, engolindo em seco.
Sinto Johnatan massagear meus ombros tensos.
― Será cansativo ― Shiu reflete.
― Se estiverem de acordo, agora mesmo vou em busca de um
helicóptero militar. É um dos meios mais rápidos. Cassandra e eu temos um
colega que pode nos ajudar ― Dinka informa, enquanto permanecemos
pensativos.
― Possivelmente teremos que fazer uma divisão ― Johnatan pensa e
abraça meu corpo, como se quisesse me acalmar. ― Dinka faça o que tem
planejado. Eu, Mine, Shiu, Messi e Karoá seguiremos primeiro.
― Sim, senhor ― Dinka se afasta, já discando em seu celular.
― Nectara e Shiu, voltem para a Colmeia e organizem as malas ―
Johnatan ordena.
― Já fizemos, chefe ― Shiu nos surpreende, dando um sorriso
aberto. ― Fomos mais espertos.
― Na verdade, eu os informei e já tínhamos a ideia formada na
cabeça, senhor. Mas não sabíamos que as notícias seguiriam tão rapidamente,
usei a ideia apenas por precaução. Ficaremos pouco tempo na ilha, fazendo
com que eles não tenham contato conosco, já que estamos com Messi ―
Cassandra explica, ao mesmo tempo em que observa o mensageiro.
― Por mim tudo bem, desde que a LIGA não atrapalhe o que está por
vir, por isso, teremos que ser ágeis. Como Johnatan falou, eles não podem ter
tempo de bolarem uma estratégia ― Messi murmura, apertando seu tampão
sem jeito antes de olhar em direção a Johnatan. ― Estarei lhe devendo uma?
Johnatan suspira exasperado, causando-me calafrios.
― É claro que vai ― afirma, e logo me puxa com ele. ― Vamos
terminar nosso jantar, depois, preparar as malas. Quanto a vocês, assim que
terminarem, descansem; nós faremos o mesmo ― Johnatan me olha por
alguns instantes.
Jordyn salta e corre para seu quarto, como se estivesse empolgada,
James revira os olhos ao segui-la.
― Estaremos prontos às três da manhã, senhor ― Cassandra acena e
atende a chamada de Dinka.
― Nectara, veja algumas roupas para Messi e Karoá ― Johnatan
pede.
― Claro ― a japonesa acena com desgosto.
Johnatan me puxa para fora do escritório, e encontramos Peter. Ele o
detém antes de voltarmos para a cozinha.
― Preciso que cuide da casa. Antes de sair, vou ativar o sistema de
segurança da mansão...
― O sistema de segurança é automático ― interrompo, tendo seus
olhos surpresos em mim. ― Eu mesma configurei tudo.
Johnatan pisca confuso e esfrega sua testa, sorri brevemente antes de
se voltar para Peter.
― Então, fique de olho. Eu e a equipe seguiremos para uma ilha. Não
ficaremos por muito tempo, mas estaremos nos preparando. Não permita que
se aproximem da casa. Qualquer coisa, deixarei os cavalos em alerta.
― Claro, senhor, não se preocupe. Tudo ficará bem ― Peter assegura.
Johnatan toca seu ombro.
― Mantenha Donna e Ian por aqui. Não sei se o sistema de rede na
ilha se conectará com o nosso, mas farei o possível ― dispara preocupado e,
ao mesmo tempo, dando-lhe segurança. Quando olha em meus olhos, franze a
testa, nem mesmo percebi que segurava a respiração. ― Traga o senhor Clark
para cá o mais rápido possível e peça para cinco seguranças de confiança
ficarem de vigia na vila.
― Pode deixar ― Peter acena, dando-nos um sorriso de conforto
antes de se afastar.
Abraço Johnatan com força, sentindo seus braços me envolverem.
― Obrigada ― agradeço com fervor.
― Não precisa me agradecer, amor ― murmura em meus cabelos,
enquanto esfrega minhas costas com carinho.
― Eu sinto a falta dele, iríamos visitá-lo ― a tristeza me invade
momentaneamente. ― Mas, se for para manter todos protegidos, faremos a
coisa certa ― sussurro, apertando meu rosto contra seu peito para escutar seu
coração bater.
― Se quiser, podemos ir fazer uma visita rápida ― ele afasta meu
rosto para olhar em meus olhos.
Balanço a cabeça pensativa.
― É melhor não. Ele vai querer intervir, não quero complicar ainda
mais ― desabafo.
― Não se preocupe. Eu protejo você ― sorrio por suas palavras
doces e o abraço com força.

Depois de terminar nosso jantar, caminho com Johnatan pensativa


sobre o que levar na mala. Antes que eu ouse seguir para meu quarto, seu
braço me aperta, impedindo-me de seguir em frente.
― Suas roupas estão no meu quarto ― dá de ombros, levando-me
junto com ele para o segundo andar.
― Você as colocou lá? ― pergunto, vendo seu sorriso se abrir.
― Donna colocou, enquanto estávamos fora. Você é minha esposa,
não faz sentido termos nossas roupas separadas ― seu ar brincalhão me faz
rir.
― Minhas calcinhas estão juntas com suas cuecas? ― entro na onda
do seu humor.
― Provavelmente enroscados ― abraço-o, feliz por ver seu sorriso.
― Você é um bobo ― sorrio e beijo seu peito.
No quarto, eu o deixo seguir até seu closet espaçoso. Minhas roupas
foram organizadas no lado oposto das suas, mas, para nossa decepção
cômica, as roupas íntimas estavam separadas. Antes de me juntar a ele, sigo
até o banheiro para fazer minha higiene, escovar os dentes e tomar um banho
rápido.
Johnatan é eficiente em fazer suas malas sem nem ao menos pensar
no que precisa, é como se ele já tivesse com uma lista em sua cabeça. Assim
que me olha, franze a testa por ver minha mala aberta, ainda vazia.
― Me permite? ― diverte-se ao ver o conflito em minha expressão.
― À vontade ― afasto-me da mala e me sento na cama a fim de
assisti-lo arrumar minha mala.
Meu marido seleciona uma pilha de roupas leves e finas. Tem até
mesmo peças que nunca usei desde que Jordyn comprou. Ele organiza tudo
rapidamente na mala e volta para pegar mais algumas peças, entre elas,
vestidos e camisolas. Por um momento, aprecio suas escolhas, as cores das
roupas são destaques entre estampas divertidas e tons mais claros, mas fico
embaraçada pela falta das peças mais importantes.
― O que foi? ― sua pergunta me deixa confusa.
― Oi? Quê? ― digo distraída.
― Você está vermelha ― analisa ao erguer meu queixo. ― Bastante
vermelha. Por que está envergonhada?
Arregalo meus olhos e engulo em seco.
― Não tenho roupas de banho ― fico sem jeito vendo seu sorriso. ―
Porque pensa bem... Vamos para uma ilha. E ilha lembra o quê? O mar ― é
impossível esconder meu entusiasmo.
Johnatan balança sua cabeça dando-me um sorriso torto.
― Resolveremos esse assunto até lá. No momento, não quero
imaginá-la de biquíni na frente de todos ― murmura, seguindo a missão de
terminar minha mala.
Abro minha boca surpresa. Ele não pode estar falando sério. Remexo-
me sentada e fecho minha mala assim que termina de organizá-la. Em
seguida, Johnatan pega as bagagens, colocando-as no chão.
― Ainda dá tempo de ficarmos na tenda? ― inclino minha cabeça e
pisco meus olhos com inocência.
Johnatan se curva na cama para beijar meus lábios delicadamente.
― Certo. Só vou tomar um banho rápido, depois descemos ― ele me
dá uma piscadela antes de seguir para o banheiro.
Eu o espero deitada, com a mão apoiada em minha cabeça, encarando
o banheiro, ele não fechou a porta, portanto, consigo ver uma parte da sua
silhueta pelo reflexo do espelho. Coro por espiá-lo, mas é impossível não o
observar, principalmente, quando sai do banho, secando seu corpo com a
toalha.
Assim que surge no quarto, finjo olhar para minhas unhas, mas logo
volto a vê-lo se trocar. É íntimo e, ao mesmo tempo, encantador e tranquilo,
ele nu à minha frente. Balanço minha cabeça para fugir da tentação, porém
não consigo. Agora, ele coloca sua calça escura de moletom, que pende em
seus quadris, destacando não só os músculos firmes, como aquelas que, para
mim, são as linhas laterais da perdição.
― Pronto? ― sinto minha garganta seca.
Johnatan sorri.
― Eu nem coloquei uma camiseta.
E nem precisa, balanço minha cabeça vendo-o escovar seus cabelos
molhados com os dedos. Solto uma respiração abafada só de vê-lo se mover
com tranquilidade.
― Mas eu sei que vai tirá-la quando estivermos na nossa tenda ―
sorrio, levantando-me da cama e pulando em seus braços.
― Vamos para nossa tenda antes que você fique impaciente ― seu
riso me aquece.
Envolvo meus braços em seu pescoço e inspiro seu perfume fresco.
Não me permito desgrudar de seu corpo, nem mesmo durante nosso caminho
até nosso refúgio. Johnatan me carrega em seus braços, enchendo-me de
beijos e carinho, arrepiando-me só de sussurrar frases russas junto ao meu
ouvido.
― O que tudo isso significa? ― exijo saber.
Johnatan aperta seus braços em minha cintura, caminhando
tranquilamente.
― Uma mistura de mulher maravilhosa... Gostosa... Excitante...
Atraente... ― ele para quando percebe que o observo com desconfiança. ― O
quê?
― Tem coisa pior no meio dessas frases, não tem? ― pergunto
quando entramos na tenda.
Ele finge ser modesto, mas, sendo Johnatan, nada ali é inocente.
Deixo que me coloque na cama e cubra meu corpo com o seu, fazendo
minhas pernas se enroscarem em sua cintura.
― Eu amo quando está molhada. Quando geme de prazer. E me
excito quando goza...
― Não... Não, não, não ― tapo sua boca rapidamente. ― É melhor
ficar no russo.
Johnatan ignora meu pedido.
― E quando minha língua percorre sua pele...
― Johnatan! Não... ― jogo minha cabeça para trás, rindo.
Sua boca desliza pelo meu pescoço exposto.
― Tem certeza? Sabia que essa posição é ótima para um encaixe? ―
continua a me provocar, enquanto tento inclinar minha cabeça ao sentir
cócegas em meu pescoço com sua respiração abafada. ― Mas tem uma coisa
entre a gente.
Ergo minha sobrancelha e o encaro. A luz da lua cheia ilumina o
lugar, dando um aspecto acinzentado.
― E o que é? ― dou-lhe um sorriso doce.
― Essa roupa ― observa meu pijama descaradamente. ― Na
verdade, prefiro você sem tecido nenhum ― a provocação faz meu corpo se
arrepiar.
Xingo-me por não ter pensado nisso depois do banho, mas me sentia
muito preguiçosa para procurar algo útil para vestir.
― Eu deveria ter colocado uma camisola. Você sabe, fácil acesso ―
pisco descaradamente.
O sorriso torto faz meu coração disparar.
― Isso não pegaria bem, porque estamos com visitas, suas camisolas,
em maioria, são curtas e desenham muito bem o seu corpo. Eu não ficaria
nada feliz se alguém te visse da forma como vejo ― Johnatan reflete
possessivamente, bato em seu braço.
― Como você é observador ― finjo repreendê-lo, fazendo-o acenar
de acordo. ― Na verdade, você é um perseguidor.
Seu olhar se ergue, como se eu tivesse acabado de atingir seu ego.
Logo, seu sorriso ameaçador aparece, tão sensual, que faz meu corpo aquecer
repentinamente. Reprimo um gemido ao senti-lo apertar minhas coxas e
deslizar suas mãos por meu corpo até se enfiar por debaixo da minha blusa
para apalpar meus seios.
― Se você acha assim... ― sussurra, mordendo meu lábio inferior.
Meu corpo arqueia contra o seu com desejo. ― Então, caço e ataco, mas acho
que prefiro algo como... Predador.
Antes que eu lhe questione, solto um leve grito empolgado ao vê-lo
avançar com um rosnado. Em seguida, cobre meus lábios com os seus num
beijo ardente, imediatamente sinto que nosso pequeno espaço muda para um
ar mais excitante.

Eu não quero acordar, mas os lábios quentes e macios fazem meus


olhos se abrirem sonolento.
― Boa madrugada ― inspiro ao sentir seu hálito suave.
― Já está na hora? ― rolo pela cama.
Parece que dormi apenas cinco minutos, ainda escuto os grilos ao
longe. Faço uma careta, odiando a ideia de ir tão cedo.
― Quase. Te acordei pra você já ir se preparar. Saímos em meia hora
― informa, beijando meu ombro.
― Minhas roupas? ― tento em vão me levantar.
― Estão aqui ― sinto-o tentar me acordar, enquanto arruma meus
cabelos. ― Tenho que admitir... Você fica linda com os cabelos bagunçados,
devo deixá-los mais rebeldes da próxima vez em que fizermos amor.
Sorrio, empurrando-o. Sento-me, não me importando com o fato de
que está me vendo nua, e visto meu pijama presunçosa. Observo Johnatan já
vestido com uma blusa de lã branca, jeans e sapatos num estilo casual. Sorrio
e roubo-lhe um beijo.
Saindo da tenda, seguimos juntos e de mãos dadas até o campo. Paro
abruptamente ao me deparar com o imenso helicóptero verde escuro parado
no campo. Arregalo meus olhos assustada. O helicóptero não é como o
padrão, parece ser mais resistente, mais fechado para carga pesada. Vejo
Cassandra e Dinka caminharem ao redor do helicóptero, conferindo e
organizando as malas.
― Eu vou me trocar ― fico intimidada pelo helicóptero, deixando
Johnatan seguir até Messi e Karoá, parados nos fundos da casa.
Passo direto, encontrando Shiu ainda de pijamas com seu laptop nas
mãos e os cabelos bagunçados.
― Olá, Shiu. Não vai se vestir? ― pergunto, vendo-o bocejar.
― Eu acho que meu humor não está para isso. Vou de pijama mesmo
― ele dá de ombros, me fazendo rir.
Corro para dentro de casa, indo direto para o quarto de Johnatan...
Droga, eu tenho o que parar de pensar assim, ainda mais sendo casada com
ele. Tomo um banho e visto um conjunto de moletom. Depois, escovo meus
dentes e penteio meus cabelos, prendendo-os num rabo de cavalo.
Ao descer as escadas correndo, encontro Donna já acorda, ela ainda
está vestida com seu pijama xadrez. Sorrio.
― Por que não vai dormir? ― sussurro, acariciando seus cabelos
brancos.
― Oh, não! Decidi preparar um café para todos. E vim te buscar para
tomar um café reforçado ― ela me puxa para cozinha.
Meu estômago se embrulha só de pensar em comer na madrugada,
mas devo admitir que devo fazer isso antes que passe mal naquela coisa.
Donna me serve omeletes, torradas e panquecas. Eu praticamente
engulo tudo, forçando os alimentos a descerem, mesmo que meu estômago
ainda esteja adormecido. Fico confusa quando Donna me serve uma xícara de
chá.
― O senhor Makgold disse que você fica muito agitada durante o
voo, então, eu me atrevi a preparar um chá forte de camomila com mel. Vai
dar um pouco de sono, mas você ficará mais relaxada ― sua doçura, assim
como seu cuidado, fazem meu coração se aquecer.
― Você viu o tamanho daquela coisa? ― minha careta a faz
gargalhar. ― Impossível se sentir tranquila naquilo. Acho que vou precisar é
de uma dose dupla desse chá ― suspiro e tomo a bebida.

Antes de partimos, eu me despeço de Donna e lhe peço para entrar em


contato com meu pai. Quando escuto que o monstro será ligado, corro para
Johnatan. Ele me leva até o helicóptero e me senta no assento, prendendo o
cinto em meu corpo. Vejo Shiu entrar, enquanto me distraio olhando pelo
vidro os cavalos nos espiarem do celeiro. Apesar de não enxergar, Hush
apenas vira sua cabeça, como se quisesse escutar o que acontece à sua volta.
Meu coração se aperta por deixá-los. Olho para Johnatan, surpreendendo-o.
― Vai ficar tudo bem ― ele toca meu rosto depois de conferir meu
cinto.
― Não ficaremos por muito tempo, não é? Os cavalos vão ficar com
saudade ― resmungo, vendo seu sorriso se abrir. Carinhosamente, beija meus
lábios.
Antes de Johnatan se acomodar ao meu lado, eu o deixo seguir até o
celeiro, onde os cavalos se curvam com sua presença. Depois, noto-o
murmurar algo a eles, Hush se erguer atento, enquanto Johnatan toca suas
cabeças e se afasta, correndo até o helicóptero.
Felizmente, preferi me sentar no meio. Por sorte, dentro do
helicóptero não dá para escutar o barulho ensurdecedor que é do lado de fora.
São seis lugares, fora os assentos dos pilotos, ocupados por Cassandra e
Dinka. Messi e Karoá sentam à nossa frente, enquanto me distraio vendo
Johnatan colocar seu cinto com agilidade.
― Aqui estão suas vendas ― Cassandra nos entrega um tecido escuro
de textura grossa
Inspiro fundo, deixando Johnatan me ajudar a colocar. É estranho,
mas, de certa forma, vagorosamente reconfortante, pois eu posso fingir que
estou em alguma parte do campo em vez desse monstro voador. Quando
escuto as portas se fecharem, pulo em meu assento, agarrando a mão de
Johnatan. Ao senti-lo acariciar minha mão com beijos, arrasto meus dedos até
seus olhos, notando que ele também está com a venda.
― Está tudo bem ― assegura-me num sussurro.
Inspiro fundo e me viro na direção de Shiu quando o escuto.
― Vocês não falam aqueles comandos sinistros que nem nos filmes?
― diz, fazendo Dinka gargalhar a frente.
― Não soltamos esse comando em voz alta. Além do mais, é uma
viagem para um lugar desconhecido e privado. Segurança, Shiu. ― Dinka o
lembra.
Sinto o helicóptero se mover e deito minha cabeça no ombro de
Johnatan, recebendo seus beijos em minha testa. Logo escuto Karoá sussurrar
com Messi em preocupação, franzo a testa, perguntando-me se ela gosta de
Messi por querer se arriscar até aqui. Talvez, eu mesma deva lhe perguntar na
intenção de arrancar alguma informação a nosso favor, caso seja necessário.
― Desculpe, meus amigos passageiros, mas podem falar mais alto?
Meus olhos estão fechados ― Shiu os interrompe, e aperto meus lábios para
não sorrir.
Sinto o sorriso de Johnatan ao beijar minha mão entrelaçada com a
sua.
― Nada de interessante, garoto ― escuto Messi suspirar.
― Então, não sussurrem, estamos em um helicóptero, vendados, e
devemos manter as coisas abertas ― Shiu reclama, trazendo uma onda de
risos. ― E estou sem meu laptop!
Até que o chá de camomila faz efeito ou se mistura com o restante do
meu sono. Sinto-me fraca e o corpo leve. Johnatan murmura algo, mas não o
escuto, sei que nem mesmo consigo segurar sua mão direito. O sono domina
meu corpo pesado. Luto para me manter acordada, mas enfraqueço quando
fecho meus olhos intensamente e me afogo num sono profundo.
43 – ILHA FANTASMA

Forço meus olhos a se abrirem, piscando até focalizar o teto de


madeira. É como se meu cérebro rodasse em minha cabeça e latejasse. Aperto
minhas têmporas, fazendo uma careta. Sinto-me entorpecida ainda mais com
a claridade, irritantemente, o ar quente deixa minha pele pegajosa.
Depois de olhar ao redor, confusa, sento-me rapidamente. O que me
chama atenção não é apenas a janela aberta com cortinas de tecidos leves que
balançam ao receber a leve brisa abafada, mas o mar diante dos meus olhos.
Chocada, encaro o quarto de madeira em formato de círculo, o lugar tem
espaço adequado para um casal. A cama aconchegante é baixa e estou
enroscada em um lençol fino, noto que visto uma camisola de cetim cor de
creme.
Do meu lado esquerdo há uma porta de vidro onde se localiza o
banheiro revestido de madeira e porcelana branca; ao lado, duas malas pretas.
O quarto é aconchegante e pacífico. Pacífico no sentido de escutar o barulho
tranquilo do mar do lado de fora, assim como das gaivotas que voam
tranquilamente para longe. Saio da cama e caminho descalça até a janela.
Afasto as cortinas, deixando o sol invadir o quarto e me surpreendo com a
imensidão do mar à frente.
O céu azul parece se mesclar com o mar, numa mistura
impressionante de tons cristalizados. Coloco minha cabeça para fora,
sentindo o ar mais quente. Olho para baixo, vendo o mar cercar a parte de
baixo do exterior do quarto. Arregalo meus olhos quando viro minha cabeça
para o lado. Estou numa ilha. O verde da natureza cerca grande parte do
lugar, mas consigo ver uma casa, ou mansão, escondida entre as palmeiras.
Sei que o que estou vendo é parte da ilha, mas só de me deparar com a
imensidão de tudo aquilo, fico em êxtase para explorar o ambiente.
Afasto-me da janela e sigo até a saída. Ao abrir a porta, é como se eu
estivesse distante. É maior do que imaginei, o caminho estreito de madeira
me leva direto para a areia branca. Olho para trás, vendo o quarto como uma
pequena casinha, lembra-me uma toca muito bem-construída e, do lado
esquerdo, há mais sete delas, idênticas.
Distraio-me quando sinto alguém se aproximar. Johnatan caminha em
minha direção, seus cabelos estão bagunçados devido ao vento, veste calças
de linho bege e camisa branca enroscada até os cotovelos. Corro até ele, mas
paro abruptamente ao sentir meus pés descalços queimarem.
― Você tem que colocar os chinelos ― Johnatan diz, pegando-me no
colo.
Abraço seu pescoço, notando seu rosto corado.
― Estamos na tal ilha mesmo? ― tenho que me assegurar de que o
lugar é real mesmo, enquanto ele me leve de volta para a toca.
― Sim, estamos ― responde, sentando-me na cama e colocando
meus chinelos.
Apesar de pouco abafado, o quarto é mais refrescante do que do lado
de fora.
― É enorme ― digo surpresa.
Johnatan sorri.
― Isso porque estamos no lado norte da ilha ― explica.
― Dormi por muito tempo? ― pergunto, esfregando minha testa.
― Fora as horas em que estivemos no helicóptero. Assim que
chegamos, você continuou dormindo por mais duas horas ― avalia-me. ―
Está com fome?
Sorrio.
― Não muita. Só estou confusa com a mudança do clima ― fico sem
jeito e encaro meus dedos. ― Na verdade, nunca vi o mar assim.
Suas mãos cobrem a minha, fazendo-me olhar em seus olhos azuis. A
atmosfera do lugar parece deixá-lo mais vivo. Seu sorriso branco me deixa
sem fôlego.
― Então, iremos explorar o lugar ― beija minha mão. ―
Provavelmente, você ficará com febre com a mudança do clima, na verdade,
você ficou, mas logo vai se acostumar... Por que está tão impaciente?
Eu não havia notado que minha perna balança insistentemente.
― Eu quero ver o mar. Quer dizer, quero senti-lo... Pisar na areia ―
empolgo-me e pulo em seus braços. ― Vamos, vamos, vamos!
Johnatan me segura, enquanto ri.
― Primeiro, vamos comer algo. Depois, eu te acompanho até o mar
― isso me diverte ainda mais.
Saio de cima dele e corro para saída.
― Mine... ― paro abruptamente, olhando para trás confusa.
Ele tem sua sobrancelha erguida.
― O quê?
― Você não vai sair assim ― Johnatan aponta para minha camisola
curta.
Reviro meus olhos e volto para o quarto, fechando a porta atrás de
mim.
― Eu vou entrar no mar e, de certa forma, Cassandra vai me
emprestar um biquíni. A pergunta é, o que o senhor meu marido vai fazer
com isso? ― coloco as mãos na cintura, à espera de sua resposta.
Vejo seus olhos ficarem vagamente perdidos.
― Vou pensar quanto a isso ― murmura, esfregando seu queixo.
― Como é? ― sobressalto-me.
Johnatan suspira relutante
― Minha Roza, ponha uma roupa leve e vamos para a mansão da
senhora Thorkers ― eu o observo pegar minha mala e abri-la.
― Quem é a senhora Thorkers? ― pergunto, pegando meu vestido
azul, na altura dos joelhos.
― Vanessa Thorkers, a mãe da Cassandra. Todos estão reunidos na
casa. Shiu está tentando conectar o sistema ― Johnatan explica, e o vejo
pegar um frasco, enquanto coloco meu vestido. ― Venha!
Caminho até ele e deixo que passe protetor solar em minha pele
exposta.
― Então, é aqui que Cassandra mantém a mãe escondida? ― sussurro
e amarro meus cabelos num coque frouxo.
― Sim, ela parece gostar do lugar.
― E vive aqui sozinha? ― impressiono-me.
― Não. Tem duas pessoas que a ajudam, é pouco, mas parece não ter
problemas algum com isso ― sorri, dando-me um beijo no nariz. ― Quanto a
outras informações eu não posso questionar, Cassandra mantém sigilo para
proteger a mãe ― aceno de acordo.
Fora do quarto, caminhamos tranquilamente de mãos dadas. Eu olho
para todos os lados com curiosidade, ficando cada vez mais encantada com o
paraíso diante dos meus olhos. A mansão escondida entre as palmeiras é
aberta e convidativa, mas não demoro muito para me distrair com o mar.
Conforme andamos, sinto-me como uma criança em um parque de
diversões, depois de passarmos pelo caminho de madeira, o mar fica
nitidamente mais atrativo para mim. Sem pensar, puxo a mão de Johnatan.
― Mine... ― tenta me interromper, só que estou empolgada demais
para lhe dar ouvidos.
― Vamos para o mar! Vamos... ― puxando-o com força.
Chuto meus chinelos e corro para a água assim que solto sua mão a
fim de sentir a água rasa tocar meus pés. A areia úmida é macia e morna,
mas, quando a água toca meus pés, pulo até me acostumar com sua
temperatura fria. Na verdade, continuo a saltitar como uma tola, girando meu
corpo e erguendo meus braços, a sensação é libertadora. Quando dou por
mim, sinto a falta de Johnatan. Olho para trás, vendo-o me observar com um
leve sorriso nos lábios, rindo da minha situação. Seus olhos brilham de
felicidade.
Sorrio e corro em sua direção. Ele me segura em seus braços, e o
beijo com todo meu amor.
― Você é incrível ― diz sem fôlego, roçando seu nariz no meu. ―
Gostou?
É impossível tirar o sorriso triunfante do meu rosto.
― É lindo. Tão tranquilo. Minha nossa... ― fico sem ar só de encarar
o mar. ― Eu passaria o resto da minha vida aqui.
Viro meu rosto, vendo-o maravilhado.
― Nada me deixa mais apaixonado do que ver sua felicidade, minha
Roza ― meu coração dispara, acaricio seu rosto e o beijo novamente.
Uma tossida discreta, porém desconhecida, me faz olhar para trás.
Uma mulher de meia-idade, com roupas casuais, cabelos louros e olhos
claros, nos olha com um sorriso amável. Mesmo ainda estando nos braços de
Johnatan, sinto-me constrangida, por outro lado, meu marido parece se
divertir com a situação.
― Olá! ― cumprimenta com simpatia. ― Tem razão, Johnatan, ela é
muito linda.
Fico confusa ao escutar seu elogio e me pergunto o que Johnatan
andou comentando sobre mim.
― Amor, essa é a Vanessa Thorkers, a mãe de Cassandra ― Johnatan
apresenta. ― Vanessa, essa é minha esposa, Mine Makgold.
Envergonhada, saio dos braços de Johnatan e coloco meus chinelos
antes de estender a mão para cumprimentá-la.
― É um prazer conhecê-la, senhora Thorkers. Obrigada por nos
receber em sua casa!
Atrás dela há uma casa, não uma casa, uma mansão extensa,
completamente de vidro. Eu encaro a mansão de dois andares em formato
retangular, impressionada, pois parece complementar a ilha, é ela que se
esconde entre as palmeiras.
― O prazer é todo meu. E, por favor, me chame de Vanessa ― a
mulher pede com um sorriso agradável. ― Você chegou adormecida e sugeri
que Johnatan a levasse para um dos quartos. Creio que está com fome.
Ela nos guia até sua casa e seguro a mão de Johnatan, olhando para o
mar e me despedindo. Por enquanto! Vanessa nos apresenta cada espaço da
casa por onde passamos, assim como os dois empregados simpáticos. O lugar
é maior do que imaginei, ainda mais com a linda vista do lado de fora.
Na sala de jantar, encontro quase todos comendo à mesa extensa
repleta de iguarias. Assim que me sento, olho para Cassandra ao meu lado.
Tento chamar sua atenção, movendo minha boca ao perguntar sobre um
biquíni e recebo sua piscadela em confirmação. Depois, volto minha atenção
para Johnatan, que me serve.
― Bem, só falta os outros chegarem ― Vanessa se empolga, fazendo
Cassandra revirar os olhos. ― Não consegui ver Dinka, assim que vocês
chegaram, ele teve que voltar para pegar o resto. Espero que aqui vocês
consigam alguma tranquilidade.
Ela não esconde sua preocupação ao olhar para a filha, acho que sabe
o suficiente do está acontecendo.
― Não se preocupe, Vanessa. Acredite, vamos apreciar bastante a
ilha ― conforto-a vendo seu sorriso surgir. Seu cuidado maternal me lembra.
― Agora, entendo do porquê a ilha fantasma ter esse nome. O sinal é
horrível. Isso é assustador ― Shiu boceja cansado.
― Acho que nem fantasma consegue chegar até aqui ― Messi ri e
vejo Karoá tentar ajudar Shiu com o laptop.
Sigo observando todos, mas, principalmente, a linda vista atrás de
mim. Ao terminar, pulo para as frutas.
― E o que pretendem fazer até o final da tarde? ― Vanessa pergunta.
― Teremos que esperar todos antes de iniciarmos o plano ―
Cassandra informa.
Distraio-me ao fixar meus olhos em Johnatan, somos como ímãs. Eu
me delicio com minhas frutas, enquanto encaro seus olhos azuis intensos
devido à luz do dia. Nem mesmo escuto o que Karoá e Messi explicam para
Vanessa.
― Provavelmente, eu ajudarei Shiu a fazer o sinal funcionar. Em
seguida, conversarei com Messi sobre a LIGA e as centrais em que se
escondem ― Johnatan murmura seu plano, sem tirar os olhos dos meus.
Aperto meu olhar e, por baixo da mesa, esfrego meu pé em sua perna.
Seu sorriso torto se abre.
― Você teve... duas horas... para fazer isso?!! ― digo exigente para
Johnatan, sem me importar quem nos cerca. ― Acho melhor você ter um
tempo para descansar e aproveitar sua esposa ― dou-lhe uma piscadela.
― Sem conexão, eu não sou ninguém ― escuto Shiu com seus
resmungos, mas não dou atenção, pois meus olhos estão presos em meu
marido.
― Shiu, passe-me seu laptop ― estendo minha mão em sua direção.
O sorriso de Johnatan aumenta. Não permito perder qualquer contato
da nossa intensidade. Esfrego meu pé no interior de sua coxa, fazendo-o
engolir em seco. Sorrio e, assim que Shiu me passa seu laptop, aperto as
teclas com agilidade, apreciando o desejo e a admiração no rosto de Johnatan.
Escuto um bip de aviso do laptop e digito o código de segurança, passando o
aparelho para o nerd em computação.
― Está conectado ― digo a Shiu e sorrio ao ver a expressão surpresa
de Johnatan.
― Mas como... ― Shiu se engasga surpreso.
― E o que iremos fazer, senhora Makgold? ― Johnatan pergunta. De
repente, sinto sua mão alcançar meu pé e arranhar minha panturrilha.
Mordo meu lábio pensativa.
― Bem... ― afasto meus olhos dos seus para olhar o mar. ―
Podemos ir para o mar. Ou ir para o mar. Ou ir para o mar. Você tem três
opções ― viro-me para ele empolgada.
E logo sou distraída com as pequenas risadas na mesa. Messi faz uma
careta, e Vanessa nos olha admirada. Johnatan sorri, balançando sua cabeça.
― Por enquanto, o sol está forte, mas podemos dar uma volta para
conhecer a ilha. Se Vanessa nos permitir ― Johnatan diz com educação,
fazendo Vanessa acenar.
Eu nem mesmo termino minha sobremesa direito e me levanto,
puxando-o para fora da mesa, enquanto os outros gargalham atrás de nós. Ao
sairmos, caminho rapidamente até o mar, voltando meus pés para a água.
Johnatan abraça minha cintura e sigo ao seu lado, apreciando a vista e o vento
abafado, como um convite reconfortante.
― Aqui é tão tranquilo ― murmuro em satisfação, enquanto
caminhamos. ― E lindo ― olho para Johnatan.
Posso ver em seu rosto a serenidade com que aprecia o lugar. E,
conforme nos afastamos, para uma parte mais verde e deserta da ilha,
seguimos um pouco mais até que a água bata em meus joelhos. Em seguida,
eu o abraço e beijo seu queixo.
Suas mãos acariciam meu rosto delicadamente.
― Eu acho que fica mais bonito com você aqui. Não, espere ―
balança a cabeça ao se corrigir. ― Na verdade, tudo fica perfeito com você
por perto, minha Roza. Desculpe, mas você é o ponto forte para tanta beleza.
Coro.
― Eu digo o mesmo de você ― confesso com fervor.
Fecho meus olhos quando seus lábios cobrem os meus. Deslizo
minhas mãos por seu rosto até seus cabelos, puxando-o para mim. Em
seguida, Johnatan me ergue para ficar da sua altura e nos abraçamos. Não
ouso abrir meus olhos, pois, naquele momento, imagino aquele lugar para
toda vida. Reflito como se estivesse meditando, ao passo que aprecio cada
som, cada detalhe do espaço.
Johnatan me aperta em seus braços, e me arrepio ao sentir seu nariz
inspirar o perfume em meu pescoço. Quando se afasta, sorrio por sentir que
observa meus olhos fechados.
― O que está pensando? ― pergunta, beijando meus lábios
suavemente.
― Apenas imaginando ― sorrio ainda mais com seus beijos.
Acaricio seus cabelos, deixando-me levar pelos meus pensamentos
novamente.
― Tipo o quê? ― insiste e morde meu lábio inferior.
― Feche os olhos e imagine ― o silêncio com meus lábios grudados
nos seus. ― Vivendo em um lugar assim... tranquilo, sem preocupação, sem
pesadelos. Onde apenas exista a paz e a felicidade completa. Estando com
todos juntos, divertindo-nos despreocupadamente. Não é como uma fase de
férias, mas como a vida inteira resumida a isso ― murmuro e abro meus
olhos, surpresa por ver os seus fixos em mim.
São olhos azuis intensos e atentos. Johnatan sorri, sem jeito por tê-lo
pego, e gruda seu rosto contra o meu.
― É assim que imagina quando tudo acabar? ― diz, beijando-me
brevemente.
Balanço minha cabeça.
― É assim que quero sentir quando tudo acabar. Todos juntos,
incluindo os cavalos ― abraço-o com força.
Johnatan suspira em satisfação e me beija com amor.
― Eu farei o que for preciso para que isso aconteça. Por você e para
você.
44 – DISTRAÇÕES

No quarto de Cassandra, eu me olho no espelho por um momento.


Visto um lindo conjunto de biquíni branco, as pequenas peças se ajustam
perfeitamente ao meu corpo, revelando minhas curvas.
― Acha que Johnatan vai pirar? ― analiso minha bunda.
― Depende do ponto de vista ― Cassandra murmura ao sair de seu
closet com um biquíni estampado sem alça, entregando-me uma canga
escura.
Pego, amarrando-a em meu quadril.
― É melhor eu ir. Se for para ele ter um infarto, que seja de uma vez
― digo, saindo do quarto e seguindo de volta ao mar.
Na praia, encontro Johnatan de costas, sem camisa, com uma bermuda
de banho cinza. Ele alonga seu corpo e encara o oceano. Caminho até ele,
feliz pela areia não estar tão quente, mesmo com o ar tão abafado.
Quando sente minha presença, ele se vira, e engulo em seco devido
aos seus olhos subitamente arregalados. Sorrio com malícia, dando-lhe uma
voltinha para tirar minha canga.
― Eu deveria proibi-la ― escuto-o murmurar quando volto a
caminhar em sua direção a fim de abraçar sua cintura.
― Mas é melhor assim do que com roupas ― beijo seu peito,
sentindo seus braços me apertarem. ― Além do mais, só estamos eu e você...
Antes que eu termine, escuto Shiu gritar empolgado e correr para o
mar com uma boia. Em seguida, Cassandra se aproxima com sua mãe, assim
como Messi e Karoá, que se juntam aos outros, vestidos com suas roupas de
banho.
― Poderíamos ir para um lugar mais reservado ― Johnatan reflete
inquieto.
Bato em seu braço.
― Você e seu ciúme ― zombo, afastando-me.
― Sempre vou sentir ciúme de tudo que há em você ― seu tom
possessivo contido me faz gargalhar.
Amarro meus cabelos num coque frouxo e olho para trás, vendo-o
como um predador, devorando meu corpo com seu olhar em chamas. Ele me
segue, e solto um gritinho quando me pega em seus braços e me leva para o
mar.
A água alivia o calor em meu corpo, mesmo estando entre beijos
ardentes e abraços grudados com meu marido. A serenidade é tão extrema
que nos distrai até para assistir aos outros se divertirem livremente,
arrancando risos de todos, como com Shiu, que parece relaxar em sua boia
antes de se assustar quando Cassandra o derruba.
Entretanto, a proteção de Johnatan está sempre presente, tão
cuidadoso ao se manter comigo, na preocupação de eu não me afundar.
Juntos, mergulhamos de mãos dadas e voltamos à superfície sorrindo um para
o outro.
― Já disse que está linda? ― sua pergunta me faz inclinar a cabeça
timidamente.
― Eu estava esperando você dizer isso assim que me viu com o
biquíni ― sorrio ainda mais ao ver a malícia em seus olhos.
― Sim, mas o elogio ao vê-la assim foi mais além do que falar algo
cortês ― dispara sem pensar.
Jogo água em sua direção, fingindo estar constrangida.
― Você é um abusado ― digo, deixando-o me puxar para seu corpo e
o beijo com amor.
Depois de sairmos da água, Johnatan e eu nos ajudamos com o
protetor solar. Deito-me em uma das espreguiçadeiras de madeira a fim de
pegar uma cor, ao mesmo tempo em que faço uma breve meditação. Eu fico
feliz pelo dia, tudo muito relaxante, sem nenhum estresse momentâneo.
Percebo que Shiu se recolhe antes, a fim de conferir o sistema, e Messi o
acompanha.
― Eu já volto, preciso ver como estão as coisas em casa ― Johnatan
beija meus lábios e sacode seus cabelos molhados em mim. Sorrio e o deixo
ir com Shiu e Messi.
Logo, Karoá se aproxima para deitar ao meu lado. Ela usa um maiô
preto decotado e óculos escuros.
― Você gosta dele, não é? ― digo, voltando para meu relaxamento.
― Não sei do que está falando ― pelo seu tom, Karoá se coloca na
defensiva.
― Não se preocupe. Eu vejo como age ao redor de Messi, assim
como o tem acompanhado ― murmuro.
― Sou como uma fiel escudeira ― o tom novamente me faz rir.
― Se não quiser revelar está tudo bem ― escuto Cassandra e abro
meus olhos, vendo-a secar seus cabelos com a toalha.
Em seguida, Vanessa se junta a nós com um sorriso.
― Eu prefiro não tocar nesse assunto ― Karoá parece incomodada, e
dou uma piscadela para Cassandra.
― Está tudo bem, querida. Não queremos aborrecê-la ― Vanessa se
desculpa ao se sentar na espreguiçadeira de Cassandra. ― Embora eu deva
confessar que adoraria ver minha filha com Dinka novamente.
Cassandra reprime uma careta.
― Mamãe, isso já passou...
― Eu ficaria tão feliz. Vocês são tão apaixonados...
― Éramos, mãe ― Cassandra quebra as emoções de sua mãe.
― Por que não deram certo? ― bingo! Karoá tira a pergunta da
minha boca.
― Porque ela é uma chata ― rimos com as palavras de Vanessa, que
surpreende a filha. ― Dinka é um bom homem, é lindo, maravilhoso... Um
genro que toda mãe gostaria de ter. É educado, trata bem a sogra, se preocupa
com ela...
― E quando a filha entra no meio? ― Cassandra pergunta,
impressionada por sua mãe só dizer sobre o genro dos sonhos.
Vanessa cai na risada e a acompanhamos.
― Ele sempre foi um bom rapaz, sempre foi um bom marido. Mas o
motivo? Nenhum deles quis me falar ― Vanessa revela um pouco
envergonhada. ― Ele disse que Cassy foi infiel...
Cassandra se senta de repente, chocada.
― O QUÊ? ― rimos ainda mais.
― Estou brincando, filha.
― Na verdade, somos diferentes em muitas coisas... ― a espiã tenta
se safar.
― Tipo o quê? ― eu a interrompo.
Cassandra se move em sua cadeira, revelando seu desconforto.
― Temos uma maneira de pensar muito diferente e, na maioria das
vezes, discutimos para chegar a um acordo. Acaba sendo exaustivo ―
explica.
Franzo a testa.
― Certo. Sinto que você diz como se fosse só uma questão de
trabalho e, por tudo que viveram... Agora, em momentos íntimos? ― minhas
palavras duvidosas a deixam perplexa.
― Temos nossas recaídas, mas sempre voltamos a discutir ―
Cassandra cruza os braços como se não quisesse mais tocar no assunto.
Sua mãe bate em seu joelho em conforto.
― Querida, devemos pensar no lado bom da relação. Nem tudo é um
mar de flores. Lembra como foi comigo e seu pai? Sempre discutíamos, mas
no final sabíamos que iria dar certo ― Vanessa transmite a emoção em seus
olhos assim como a saudade em suas palavras.
― Está tudo bem, mamãe, não precisa pensar mais nisso. Estamos
bem agora ― Cassandra a tranquiliza.
― Só que até isso acabar, sempre estarei preocupada, filha. ―
Vanessa suspira e me olha com um sorriso carinhoso. ― Johnatan ama muito
você. Posso ver em seus olhos que são feitos um para o outro.
Coro com o elogio.
― Isso eu não posso negar ― aceno gentilmente. ― E também não
posso negar que ele tem um gênio muito forte.
― Vocês não são tão diferentes, mesmo o senhor Makgold sendo bem
mais cabeça dura ― o desabado de Cassandra me diverte.
― Eles são como um casal com funções sincronizadas. Johnatan é a
razão e Mine a emoção ― Vanessa sorri abertamente.
Continuamos conversando e apreciando a ilha. Karoá até mesmo nos
conta como conheceu Messi, numa necessidade comum para encontrar um
emprego. Revelando que ele havia lhe ensinado alguns golpes de luta caso
fosse necessário se defender, além de orientar quanto a maneira de se portar
perante aos outros. Aproveitamos o bate-papo para perguntar sobre o
sobrinho de Messi, mas nem mesmo ela sabe sobre o garoto. Penso que, a
essa altura, possa estar nas mãos de Charlie, e o arrepio me percorre
angustiada com o que ele possa fazer.
Minutos depois, Johnatan e Messi se juntam a nós.
― Que horas os outros estarão aqui? ― pergunto ao meu marido,
deixando-o massagear minhas pernas.
― Entre onze horas e meia-noite ― responde.
― Enquanto isso, podemos adiantar algumas coisas ― Messi diz
pensativo.
― Quanto mais cedo melhor ― Cassandra revela, levantando-se.
― Eu vou para casa preparar o jantar e deixá-los trabalhar ― Vanessa
segue para sua casa.

O sol está quase se pondo, fazendo-me perceber que estamos


próximos do final da tarde. Pego minha canga, enroscando-a em meu corpo
como um vestido e seguimos para dentro da casa.
Encontramos Shiu em um escritório amplo, equipado com
computadores. A mesa extensa é o destaque, vejo desenhos de plantas e um
mapa, sendo o mesmo em que eu havia desenhado a tatuagem da LIGA.
Observo as plantas com atenção.
― Aqui são três lugares centrais da LIGA. Uma delas localizadas na
Rússia, a qual vocês invadiram ― Messi explica, apontando para um desenho
de um prédio escuro. ― Mas o que não sabem é que lá, eles possuem um
lugar reservado e, para entrarem, precisam de autorização. Não é possível
localizar no mapa comum, já que é uma área restrita.
― Por enquanto, creio que não estão na Rússia, já que a maioria deles
está espalhados principalmente na Nova Zelândia ― Cassandra diz,
conferindo a tela do laptop com Shiu.
― Isso porque eles querem pegar Johnatan ― Messi assente.
Eu me distraio, puxando um dos desenhos com os olhos arregalados.
― Todas as centrais deles ficam no subterrâneo? ― pergunto ao
observar o desenho de um prédio de vinte andares, logo abaixo dele, há uma
construção de três andares.
― Exatamente. Nesse caso, a LIGA não iria se expor dessa maneira.
Apesar de Charlie gostar de arriscar, ele quebra qualquer tipo de contato do
tipo. A sorte de vocês é ter o sistema da LIGA para investigarmos ― Messi
esclarece, enquanto o encaro boquiaberta.
― Lembro-me de que, no prédio em Queenstown, havia uma
construção inacabada no subterrâneo. Era de se esperar ― Johnatan esfrega
seus cabelos na surpreso. ― Onde vamos invadir?
Messi procura pelos papéis e entrega para Johnatan.
― A LIGA não costuma deixar seus prédios próximos a cidades
movimentadas. Em todo caso, se eles estão na Nova Zelândia, devemos
seguir até a cidade central, principalmente, por se tratar do mercado
financeiro ― Messi reflete, e fico ao lado de Johnatan.
― Parece que as entradas são bloqueadas. Também precisaremos de
uniformes semelhantes ao deles para disfarce ― escuto Shiu de repente,
vendo-o fixado em seu laptop.
― Nectara pode nos ajudar quanto a isso ― Johnatan comunica.
― Não é pra isso que estou aqui? Para invadir, precisarão da minha
ajuda, mas para chegarmos ao subterrâneo, deveremos passar despercebidos
pelo salão principal até os elevadores, tendo o cuidado tanto com os vigias
quanto com as câmeras de segurança. Será lá, no elevador, que teremos a
direção até o subterrâneo onde precisaremos do meu olho. Só espero que o
lugar não esteja muito movimentado ― franzo a testa, enquanto nos
atentamos às informações do mensageiro. ― Por enquanto é isso, estudem a
planta do prédio no subterrâneo com o foco na direção que querem seguir.
Eu observo a planta com atenção. É mais complexo do que imaginei.
― Cassandra, James e Nectara ficarão na ala superior. Dependendo
da movimentação no subterrâneo, precisaremos de Dinka e Matt conosco ―
Johnatan organiza rapidamente. ― Shiu, conseguirá invadir o sistema no
subterrâneo para o controle de movimentação?
― Na verdade, preciso instalar uma chave no sistema interno para
termos certeza de que é confiável. Então, deverei ir com vocês até lá pra
conseguir fazer isso. Claro, vão ter que me dar cobertura enquanto hackeio.
― Shiu analisa a situação com atenção, Johnatan acena de acordo.
― Acha que Charlie pode estar lá? ― pergunto de repente.
― Provavelmente não, mas se Shiu conseguir pegar tudo que é
necessário, podemos ter mais informações de outras centrais, de subterrâneo
a subterrâneo. Como uma ligação das mesmas bases ― Messi me explica.
― E assim poderemos rastreá-lo com mais facilidade ― as palavras
sombrias de Johnatan me dão arrepio.
Não gosto nem de imaginar caso pai e filho se encontrem cara a cara.
― Quando iremos? ― engulo em seco.
― O mais rápido possível, não devemos esperar até que eles acham
uma forma de ataque ― Johnatan diz exasperado. ― Quero acabar logo com
esse inferno para poder viver em paz.
Meu coração se aperta por seu desabafo. Aceno para ele e o deixo
organizar as equipes separadas para a vigilância. Quando terminamos nosso
plano, assisto, pela parede de vidro, ao sol se pôr tranquilamente no
horizonte.
― Com fome? ― Johnatan sussurra em meu ouvido, distraindo-me.
Viro-me para ele e o abraço.
― Não pensei em ir embora daqui tão cedo ― lamento em seu peito,
sentindo seus beijos em minha cabeça e suas carícias em meus braços como
um conforto.
― Quanto mais cedo terminamos melhor ― escuto-o murmurar. ―
Você estará comigo, mesmo eu nem sabendo como tudo irá seguir e nem
quantos homens da LIGA teremos que enfrentar ― sua preocupação me
atinge como uma bola de canhão.
Abraço-o com mais força.
― Não se preocupe. Tudo ficará bem ― tento confortá-lo e ergo
minha cabeça para beijar seus lábios.

No jantar comemos peixe assado com legumes preparados por


Vanessa. Durante nossa refeição, fico absorta às conversas que rondam a
mesa.
― Sente-se bem? ― a voz sussurrada de Johnatan me chama atenção.
Pisco meus olhos e balanço a cabeça.
― Mais que bem ― digo, acariciando seu rosto e sorrindo. ― Eu vou
para o quarto, preciso de um banho. Depois, volto para esperar os outros.
Johnatan me observa com a testa franzida.
― É melhor ir descansar. Eles vão chegar mais tarde, não precisa se
preocupar. ― Johnatan diz, puxando minha mão para beijar meus dedos.
Aceno com a cabeça e me levanto da mesa. Vanessa se retira junto
comigo, revelando seu cansaço, Cassandra a acompanha. Saio, seguindo em
direção ao quarto. Sinto-me pegajosa e desconfortável devido ao ar quente.
Assim que entro no quarto, inspiro aliviada, dando boas-vindas ao ar
condicionado. No banheiro, tiro a canga enroscada em meu corpo, assim
como o biquíni. Vou para debaixo do chuveiro gelado e relaxo meu corpo.
Mas meu alívio dura pouco, paro de esfregar meus cabelos e me concentro no
que me deixa em alerta. Logo, inspiro fundo ao sentir a presença de alguém.
Abro meus olhos rapidamente e sou surpreendida com braços fortes que me
rodeiam firmemente. Meu coração salta assustado, mas relaxo rapidamente.
― Johnatan, você me assustou ― digo virando meu rosto ao sentir
seus lábios em minha nuca.
― Não foi minha intenção ― diz afastando meus cabelos e
depositando beijos em meu ombro até chegar ao meu rosto. ― Está vendo
como devemos tomar cuidado ao nos aproximarmos? ― sorrio.
Viro-me para ele envolvendo meus braços em seu pescoço. Johnatan
sorri com malícia e nos leva de volta para o chuveiro, molhando nós dois.
Beijo seus lábios com amor e me arrepio ao sentir suas mãos percorrer por
meu corpo. Enrosco uma das minhas pernas em sua cintura para que ele
explore cada parte sensível da minha pele. Excitada, arqueio meu corpo
quando sinto sua boca escorregar para meus seios e sugá-los.
Com um impulso, deixo-o agarrar meus quadris para se grudar contra
o seu e aperto minhas coxas em sua cintura até sentir sua ereção esfregar-se
em meu sexo. Colo meu rosto contra o seu e beijo seus lábios, chupando sua
língua e deslizando minhas mãos descontroladas por seu corpo másculo.
Johnatan geme, fazendo com que eu me arrepie com sua doce tortura
em meu sexo. Quando me invade com força, jogo minha cabeça para trás e
me entrego ao prazer. Meu sexo se aperta contra o seu, e minhas entranhas
pulsam devido à excitação.
Ele se move mais fundo, conduzindo-nos para o desconhecido.
Gememos ofegantes, nem mesmo a ducha fria é capaz de sustentar tamanho
fogo que nos consome, e gozamos juntos, relaxando em seguida. Abraço seu
corpo como apoio e puxo o ar com força. Ao tocar seu rosto, sinto seus lábios
puxados.
― Você está rindo? ― murmuro com fraqueza.
― Estou feliz ― afasto-me para olhar seu rosto e perco o fôlego
novamente.
Seu sorriso ilumina seus olhos, deixando seu rosto mais jovem, sem
perder as linhas expressivas. Coro, beijando-o com amor.
― É ótimo vê-lo tão tranquilo. Nada me deixa mais feliz ― acaricio
seu rosto.
Gargalho quando o vejo se derreter e me encher de beijos molhados.
Voltamos para nosso banho, admirando um ao outro, coro até mesmo quando
me elogia por estar com a marca do biquíni. Para meu divertimento, eu o
ajudo a se lavar. Minha parte favorita é lavar seus cabelos com shampoo.
Enquanto esfrego seu couro cabeludo, vejo-o relaxar e me divirto ao tentar
fazer um penteado cômico com a espuma.

No quarto, depois de vestir minha camisola, pulo na cama,


observando Johnatan colocar apenas sua cueca box. Assim que se junta a
mim, apresso-me para me enroscar em seu corpo. Ele me acolhe, beijando-me
com amor e acaricia meus cabelos.
Logo, interrompo o beijo e franzo a testa ao escutar o barulho de um
helicóptero não muito distante.
― Eles chegaram? ― sussurro atenta.
Johnatan inspira meu perfume.
― Parece que sim ― responde presunçoso.
― Não é melhor ir vê-los? ― asseguro, inclinando minha cabeça para
evitá-lo de fazer cócegas em meu pescoço.
― Meu lugar é aqui com você. Eles vão saber se virar sozinhos ―
sua indisposição me faz rir. ― Além do mais, a maioria foi dormir. Só
ficaram Cassandra e Messi acordados.
― Nós também estamos acordados ― afirmo rindo.
― Você tem alguma ideia para nos entreter até pegarmos no sono? ―
mordo meu lábio, fingindo pensar na sua provocação. ― Tempo esgotado.
Dou uma breve gargalhada quando avança e aperta meu corpo contra
o seu, trazendo o prazer de volta e com mais intensidade.
45 – DESTINO SELADO

Sinto lábios quentes em minha pele, seguindo até meus lábios.


Espreguiço-me e esfrego meus olhos antes de abri-los.
― Johnatan... ― resmungo, logo escuto sua risada.
― Não vai se levantar? ― pergunta próximo ao meu ouvido. ―
Trouxe café da manhã, minha Roza.
― O quê? ― sento-me rapidamente. ― E por que continuo com
sono? ― sinto minha cabeça girar.
― Porque fomos dormir tarde e também por causa do fuso horário.
Parece que são três ou quatro horas mais cedo...
Eu nem presto atenção às suas palavras, mas sim em como está lindo
vestindo apenas uma calça de linho bege. Os músculos superiores expostos
parecem me atiçar. Balanço minha cabeça para manter o foco em outra
direção. Na ponta da cama, vejo uma bandeja repleta de frutas, torradas,
panquecas, omeletes, suco e café. Meu estômago ronca alto.
― A culpa é sua e do seu amigo aí ― aponto para seu membro,
fazendo-o rir, enquanto puxa a bandeja para o meu colo e se junta a mim no
café da manhã. ― Pensei que fosse só para mim.
― Não seja tão gulosa ― Johnatan brinca e me serve uma torrada.
― Como os outros chegaram? ― pergunto enchendo minha boca de
comida.
Johnatan me observa chocado.
― Bem... Estão treinando desde cedo. Vanessa ficou louca ao ver
Dinka.
Sorrio.
― Ela o adora ― beberico meu suco de laranja. ― Devemos fazer
algo por ele e Cassandra. Eles formam um casal tão bonito ― reflito.
― Devemos? ― pergunta atônito e afasta minhas mãos das
panquecas. ― Amor, você pode comer com calma? Assim você vai se
engasgar.
― A culpa é sua por me deixar tão faminta ― acuso batendo em sua
mão para que fique longe das panquecas.
― Ainda está com sono, não é? ― sua observação faz meus olhos
arregalarem.
― Não me diga que você...
― Eu sempre vou querer ― Johnatan fica na defensiva, mas com
malícia.
Sinto minhas bochechas latejarem. Em seguida, sua risada me faz
suspirar em alívio.
― Estou... ― confesso.
Ele ergue sua mão para acariciar meu rosto.
― Então, vou deixá-la dormir mais um pouco e depois a chamo, ok?
Suspiro tristemente depois que beija meus lábios com doçura.
― Não vamos ficar mais tempo, não é? ― murmuro, voltando para a
cama.
Johnatan afasta a bandeja e se junta a mim. Ele acaricia meus cabelos,
ninando-me na intenção de recuperar meu sono.
― Sim ― eu o escuto assim que fecho meus olhos.
― Me acorda para me despedir do mar? ― peço sonolenta, mas não
consigo ouvir sua resposta.

― Mine,... Acorda, cabrita! ― sinto alguém puxar meus pés.


Giro meu corpo resmungando:
― Jordyn, me deixa em paz ― reclamo rouca.
― Vamos fazer um luau, isso não é incrível? ― empolga-se, pulando
em minha cama, logo sinto a presença de mais pessoas no meu espaço
reconfortante.
Pisco meus olhos, encarando a claridade em meu quarto. Oh, céus! O
fuso horário me deixa mais confusa.
― Luau não é de noite? ― abraço meu travesseiro, recuso-me a sair
dali.
― Minha mãe gosta de antecipar e dispensa tradições ― escuto
Cassandra, a outra invasora.
Viro-me e vejo que além delas, estão Karoá e Nectara.
― Levanta, preguiçosa ― Nectara me observa.
Surpreendo-me. Todas estão elegantes com vestidos, prontas para
irem ao... Luau?
― Como assim luau? Espere. Onde está Johnatan? ― sento-me na
cama confusa.
― Ajudando com os outros nos preparativos. Minha mãe exigiu por
ajudas masculinas ― Cassandra ri.
― É como uma despedida do lugar, antes de pegarmos no batente ―
Jordyn revela.
― É melhor se levantar antes que seja tarde. Por que não vai tomar
um banho gelado? ― Karoá pressiona.
Franzo a testa, saindo da cama sem ânimo.
― Vocês estão muito bonitas ― elogio.
Jordyn e Cassandra usam um vestido curto cor de pele, justo ao corpo.
Os cabelos estão penteados em um coque folgado, deixando alguns fios
ondulados soltos. Nectara usa um vestido longo de renda lilás, seus cabelos
negros e lisos estão soltos, assim como Karoá, que também está com um
vestido longo, só que de fenda num tom rosa claro, seus cabelos curtos estão
ondulados. Mas o que há em comum em todas elas, além da leve maquiagem,
são as simples coroas de gipsófila em suas cabeças.
― Aposto que ficará também ― a japonesa me empurra para o
banheiro.
― Esse banheiro tinha que ser de vidro? ― escuto Jordyn reclamar.
Reviro meus olhos e tiro minha camisola.
No banheiro, não as escuto. Aproveito a pouca privacidade para
relaxar embaixo da ducha fria. Quando saio do meu banho, enrolada na
toalha, assusto-me ao ver minha cama repleta por kits de beleza e um vestido
espetacular.
― O que vocês vão fazer comigo? ― fico temerosa ao me sentar na
cadeira.
― Só vamos nos divertir, enquanto os homens trabalham duro ―
Jordyn se empolga. ― Karoá é ótima com penteados, ela vai te ajudar com os
cabelos e eu com a maquiagem. Depois, Nectara e Cassandra a ajudarão com
o vestido.
Não tenho para onde correr e nem opinar. Cassandra ajuda Karoá com
o secador em meus cabelos, enquanto Jordyn trabalha com a maquiagem em
meu rosto. Minutos depois, vejo grandes cachos castanhos caírem como
cortinas à minha frente. Karoá os remove com os dedos, bagunçando-os e os
colocando em seus devidos lugares.
Minutos depois Jordyn finaliza minha maquiagem deixando-me pré-
pronta. Quando finalmente terminam, sigo para vestir minha calcinha e um
espartilho adequado para o vestido. Como combinado Nectara e Cassandra
me ajudam a me vestir, até mesmo sinto a japonesa ajustar o tecido com
agilidade para que se grude perfeitamente em meu corpo, fazendo com que eu
me sinta completamente empinada. Dou altas risadas só de vê-las se
divertirem tanto por apenas me fazerem de boneca modeladora.
Ao encarar o vestido em meu corpo, impressiono-me. A parte
superior, justa em meu corpo, é um tecido de renda branca de frente única,
revelando minhas costas. Enquanto a longa saia godê branca é de chiffon, que
se gruda em minha cintura por um cinto cristalizado. Eu apenas tenho tempo
de soltar um longo suspiro impressionado.
Quando finalmente terminam os retoques, todas me encaram
admiradas.
― Você está linda ― o elogio de Jordyn faz as demais concordarem.
Franzo a testa, observando-as.
― E minha coroa? ― elas se olham.
― Esquecemos! ― Karoá diz chocada, como se isso fosse o fim do
mundo.
― Vou procurar e, enquanto isso,... vão para o luau ― Nectara se
apressa, saindo do quarto como um furacão.
Saímos, já recebendo o ar quente enquanto observo brevemente o mar
tranquilo. Quando ouso seguir em direção à entrada da mansão, Jordyn me
puxa para a direção oposta. Caminho tranquilamente, sentindo a areia macia
em meus pés. Logo, paro abruptamente ao encarar pétalas de rosas na areia, à
nossa frente há uma passagem até as palmeiras. Abro minha boca e a fecho
novamente, vendo as meninas seguirem apressadas.
Aperto meus lábios, sorrindo empolgada e, ao mesmo tempo, sinto
uma forte emoção. Caminho pelas pétalas de rosas vermelhas um tanto
nervosa. Devido à estranha onda de emoção que me atinge, seguro as
lágrimas em meus olhos e sigo em frente sozinha, sem deixar de estar curiosa
com a situação.
De repente, eu me choco ao encontrar os cavalos parados como se me
esperassem, e, ao notarem minha presença, se curvam. Os três possuem um
colar folgado de gipsófila no pescoço, mas, acima da cabeça de Sid, há uma
delicada coroa de rosas vermelhas. Em seguida, sinto alguém se aproximar e
me surpreendo com Donna toda elegante em um vestido bege. Seu sorriso
transmite a emoção em seus olhos. Ela pega a coroa de rosas e me curvo para
que coloque em minha cabeça. Depois, fecho meus olhos ao receber seu beijo
terno em minha testa.
Observo Donna se afastar e acaricio os cavalos antes de seguir em
frente. Os três seguem atrás de mim. Rapidamente, noto Ian parado, vestido
de social azul bebê, em suas mãos há um buquê de rosas vermelhas.
― Está radiante, amor ― elogia, passando-me o buquê.
Sorrio, secando minhas lágrimas e me curvo para beijar seu rosto. Ele
oferece sua mão e a pego, seguindo-o até um curto caminho. É um curto
caminho que faz meu coração saltar. Soluço ao ver meu pai à minha espera,
ele também está elegante, vestindo um terno confortável e aberto.
Corro até ele.
― Papai ― abraço-o com força.
― Acha mesmo que não a levaria? ― murmura e beija minha testa.
Afasto-me e o deixo tocar meu rosto. Seus olhos cinza estão cheios de
lágrimas.
― Senti sua falta ― sussurro estremecida.
― Não mais que eu, filha ― diz com emoção. ― Não sabe o quanto
está linda. Antes de seguirmos ao seu destino, quero que saiba que fiquei
aborrecido por saber só agora que aquele homem havia feito você assinar
uma certidão de casamento sem seu consentimento...
Pisco chocada.
― Papai... Eu iria lhe contar no momento certo...
― Espere ― ele me interrompe. ― Se fosse contra a sua vontade, eu
não estaria de acordo, mas vi que já havia aceitado e devo respeitar essa sua
decisão. Para mim... Se você está feliz, eu também estou. Então, desejo de
todo coração que se sinta assim ao lado de quem realmente te ama, como
também é minha obrigação deixar isso claro para Johnatan depois que deixá-
la em seus braços.
Soluço ao escutar suas falas. Beijo seu rosto e o abraço novamente.
― Não sabe o quanto suas palavras me confortam, papai. Eu te amo
tanto ― declaro com fervor.
Edson pigarreia, segurando suas emoções para si.
― É melhor irmos ― diz, oferecendo seu braço.
É como se a felicidade explodisse em meu peito e percorresse por
todo o meu corpo. Depois de inspirar fundo, enrosco meu braço no seu e
seguimos em frente até estarmos em um lugar mais amplo. As pétalas se
espalham como um tapete, dando vida e um intenso perfume ao lugar. Os
bancos de madeira estão enfeitados com galhos de folhas verdes e gipsófila.
Surpreendo-me ainda mais, pois todos estão ali presentes, elegantes com seus
ternos e vestidos em harmonia com a atmosfera.
Ao olhar para trás, vejo os cavalos se aproximarem e pararem na
entrada. Quando localizo Johnatan, aguardando-me pacientemente, meu
coração dispara. Ele veste algo simples, mas também transmite sua elegância
por trás da calça social branca, camisa da mesma cor enrolada até os
cotovelos e colete.
Seus cabelos penteados à mão dão destaque aos seus olhos azuis, e as
roupas claras iluminam seu sorriso triunfante. Sua volta me lembra a armação
da tenda com tecidos se movendo tranquilamente devido ao vento. É tudo
muito surreal. Aperto o braço do meu pai para conter a emoção que vibra
dentro de mim cada vez que me aproximo do meu amado.
Seus olhos em chamas transmitem a mesma sensação, dando-me uma
vaga tranquilidade e uma felicidade extrema. Quando estamos quase
próximos, Johnatan se aproxima para pegar minha mão, sem tirar os olhos
dos meus.
― Eu espero que cuide de minha filha, respeite-a em suas decisões,
que a proteja e a ame incondicionalmente, Makgold ― escuto meu pai não
pedir, mas exigir a Johnatan.
Eu, pelo contrário, não consigo desgrudar os olhos daquele que já é
meu marido.
― Não precisa me lembrar de algo que faço todos os dias e com
muito prazer ― Johnatan dispara com fervor e olha para meu pai. ― Eu
prometo. Obrigado.
Ao tocar em sua mão, é como se um calafrio em minha espinha
percorresse, agitando-me por inteira. Seguro minhas lágrimas e observo cada
movimento de Johnatan. Ele ergue minha mão para seus lábios e beija meus
dedos com delicadeza.
― Amor, isso tudo está... Maravilhoso!
Não consigo conter minha admiração.
― Você é que está maravilhosa ― elogia com doçura, fazendo meu
coração disparar e minha respiração travar.
Deixo que me conduza até a tenda aberta e entrego meu buquê para
Jordyn, notando as lágrimas em seus olhos.
Viro-me para Johnatan ao darmos as mãos, enquanto olhamos um
para o outro. É como se nos esquecêssemos de tudo à nossa volta e
apreciássemos apenas o nosso momento, a nossa bolha intocável. Em
seguida, Johnatan sorri abertamente antes de inspirar fundo ao começar a
falar:
― Não precisamos de papéis. Tudo já está assinado ― ele dá de
ombros, fazendo-me rir. ― Mas eu sei o quanto uma cerimônia, quase no
modo tradicional, é importante para você. E eu não me esqueci disso nem por
um minuto. Prometi fazer custasse o que custasse. Então, estamos aqui para
selar nosso amor e demonstrar perante Deus, familiares e nossos amigos
próximos, o quanto isso é importante, como uma prova de que sempre
estaremos unidos por toda a vida.
Meu corpo treme, tendo toda minha atenção somente para ele. Suas
palavras fervorosas, que me atingem como uma bola de canhão, me fazem
perder os sentidos e me equilibro apenas no toque de suas mãos e em sua voz
firme e cheia de sentimentos. Olho em seus olhos azuis, aprofundando-me na
intensidade deles.
Ian me distrai ao se aproximar para lhe entregar algo. Vejo duas
alianças em uma caixa de veludo. São de ouro, com uma fina risca de prata
que se envolve no ouro como uma serpente.
Johnatan continua:
― Antes de tudo, quero me desculpar por esse tempo que estive fora
sem poder estar com você, mas saiba que faço qualquer coisa para mantê-la
protegida, e, se aquilo era o certo, era o que eu deveria ter feito. Isso tudo,
porque não suportaria ficar sem você ou pensar que poderia te acontecer algo
― diz com sinceridade, fazendo-me chorar e acenar, aceitando suas escolhas
desesperadas. ― Mine Makgold... Eu aceito me casar com você como minha
companheira pra toda vida. Você faz meu mundo girar, faz aquela escuridão
desaparecer. Prometo amá-la cada segundo e fazê-la a mulher mais feliz
desse mundo. Eu prometo protegê-la todos os dias da minha vida e mantê-la
ao meu lado em segurança. Prometo aceitar suas decisões a partir do
momento em que eu estiver de acordo, sabendo que não correrá nenhum
risco, enquanto estiver ao meu lado. Eu apoiarei e cuidarei de você como
ninguém jamais cuidou. E, o principal de tudo, vou me lembrar todos os dias
da minha vida o quanto amo você e o quanto amarei até a eternidade. Eu te
amo, minha Roza, como ninguém jamais te amou.
Puxo o ar com força, percebendo que seguro suas mãos com firmeza,
enquanto choro. Deixo-o deslizar a aliança em meu anelar, onde se junta ao
meu anel de esmeralda. Inspiro fundo, sabendo que devo falar algo, agradecer
por tudo que tem feito por mim, mas as palavras me faltam, toda essa
surpresa... Eu não esperava por nada disso.
― Você é um homem maravilhoso ― começo com esforço, tentando
de segurar meus soluços. ― Eu não sei o que dizer além de agradecer por
tudo que tem feito. Eu não guardo nenhum ressentimento, pois sei que o que
faz por mim é mais que o suficiente para demonstrar seu amor e a sua
proteção. Eu devo entender, aceitar e respeitar, assim como você, com
minhas teimosias. Saiba que aceito estar ao seu lado e me casar com você,
por ser um homem de bom coração, um homem forte e, ao mesmo tempo,
determinado. Johnatan, você é meu orgulho, é meu primeiro e único amor. Eu
não suportaria te perder, não suportaria ficar um instante sem você. Eu te amo
tanto que uma simples frase parece pouco para expressar tudo que sinto aqui
dentro do meu peito. Mesmo assim, quero dizer o quanto amo estar com você
e agradeço todos os dias por você fazer parte da minha vida.
Pego a outra aliança e a deslizo com facilidade em seu anelar. A
felicidade que me surpreende se junta à ansiedade do momento, fazendo-me
perder o fôlego. Antes que eu diga algo mais, devido ao meu nervosismo e às
emoções que percorrem dentro de mim, sou puxada para seu corpo e
aquecida por seus lábios urgentes.
Acaricio seu rosto com ternura, aprofundando nosso beijo com paixão
quando seus braços me apertam intensamente. Só por esse pequeno contato
especial sinto o quanto estamos unidos. O ar puro do lugar se intensifica e
percebo que pétalas de rosas são jogadas em nossa direção, mas somos
incapazes de nos desgrudar, então, apenas nos amamos ainda mais e
contemplamos aquele momento de demonstração simbólica. Um amor unido,
um amor forte, um amor único.
46 – DE VOLTA À REALIDADE

Estou imensamente feliz e realizada. Não poderia me sentir melhor.


Desejo que esse momento com meu marido nunca acabe. Abraço-o forte, sem
vontade de soltá-lo novamente.
― Eu te amo! ― sussurra, trazendo seu leve sotaque russo.
Sorrio emocionada.
― E eu te amo ainda mais! ― murmuro e me afasto para olhar seus
olhos em chamas. ― Obrigada por me dar esse momento tão especial. E
inesquecível... ― A felicidade que sinto parece ser infinita.
― Todos os momentos com você são mais que inesquecíveis e
especiais. Não poderia deixar que nosso casamento passasse em branco. Eu
sabia o quão importante era para você. ― Encosto meu rosto contra o seu,
sentindo seus dedos acariciarem minhas costas.
Mas, por um momento franzo a testa ao estranhar o silêncio. Olho em
volta, vendo o vazio.
― Onde estão todos?
― Parece que nos deram um momento a sós ― Johnatan murmura,
beijando meu rosto com carinho.
― E o que vamos fazer? ― mordo seu lábio inferior ao demonstrar
minha malícia.
Johnatan sorri, erguendo sua sobrancelha.
― Primeiro, vamos curtir o luau com os nossos convidados. Depois,
desfrutaremos da nossa privacidade ― provoca, dando-me uma piscadela.
Aceno ansiosa. Depois de entrelaçarmos nossos dedos, deixo que me
conduza pelo caminho entre as palmeiras.
Eu me impressiono com o lugar aconchegante. Na areia, as mesas
baixas, com almofadas para assentos, cercam a fogueira em destaque. O
espaço se torna ainda mais convidativo e harmonioso com a iluminação; as
luzes postas em grandes globos alaranjados cercam ao redor.
Observo todos felizes em ocuparem seus lugares, enquanto nos
sentamos na mesa reservada para os recém-casados. Ao abraçar Johnatan ao
meu lado, contemplo também os cavalos correram pelo mar, naquele
momento, fico ainda mais feliz ao vê-los se divertirem com tranquilidade
num lugar diferente do que eles estão acostumados. Para completar, o
contraste do pôr-do-sol está perfeito para o luau, numa mistura entre um
rosado suave e um alaranjado profundo.
Durante a refeição, nosso banquete é servido com frutos do mar,
legumes e frutas. No momento do bolo, eu me divirto com meu marido ao
alimentarmos um ao outro, assim como na hora de bebermos o champanhe de
braços enroscados, mas, em seguida, minha atenção se volta para o bolo de
abacaxi com sorvete de creme, sem dar muita atenção para as piadas
maliciosas que nos cercam em relação a Johnatan censurar, durante a
cerimônia, a exposição da minha perna ao puxar alguma persex para jogá-la
aos homens, fico agradecida de não estar usando uma, seria constrangedor.
Na hora do buquê, decido fazer algo diferente em vez de jogá-lo,
preferindo dar as rosas para cada uma das mulheres, dando minha coroa para
Donna. Nesse momento, um pouco afastado, Johnatan me observa atento,
enquanto se junta ao grupo dos homens. Eu nem mesmo consigo tirar meus
olhos dele, muito menos prestar a atenção nas conversas das garotas.
Para melhorar ainda mais o clima, Vanessa decide ligar seu aparelho
de som. Uma música lenta ecoa suavemente, trazendo com ela uma atmosfera
mais íntima assim que Johnatan começa a se aproximar.
― Quer dançar comigo? ― convida todo cavalheiro.
Ignoro os uivos entusiasmados, dando-lhe a mão e seguindo para
perto do mar.
― Você sempre me surpreendendo ― murmuro, aproximando-me de
seu peito para envolver meu corpo junto ao seu até balançarmos lentamente
de acordo com a música.
― Essa é minha intenção ― o sussurro tentador faz meu coração
saltar. ― Obrigado por tornar minha vida mais feliz. Você colocou sentindo
em tudo que há em mim e afastou todos os pesadelos ruins. De fato, eu não
conseguiria nada sem você, minha Roza ― a súbita declaração intensa deixa
meus olhos embaçados pelas lágrimas.
― Eu é que tenho que te agradecer por ser o homem da minha vida, o
homem de todo o meu ser e por me fazer a mulher mais feliz desse mundo ―
digo com um fervor que queima meu peito.
Johnatan sorri orgulhoso e me beija com amor, apertando meu corpo
apaixonadamente. Não demora muito e os casais se juntam a nós para dançar.
Fico surpresa que até mesmo meu pai se arrisca com Vanessa.
― Como o convenceu? ― cerro meus olhos para Johnatan ao
mencionar meu pai.
― Acredite, não foi fácil, mas ele não tinha escolha ― isso é tudo o
que ele tem a me dizer, balanço minha cabeça, rindo da situação.
Depois de alguns minutos de dança, nós nos afastamos discretamente,
apenas os cavalos nos seguem para longe do luau. Sorrio empolgada,
correndo com eles à beira mar. Johnatan nos acompanha até conseguir me
puxar para seus braços, erguendo-me em ameaça de me levar até a água,
enquanto tento sair dos seus braços, mas é impossível. Quando afrouxa o
abraço, viro-me e jogo água em sua direção.
― Olha só! Você me molhou toda ― lamento pelo vestido.
― Gosto de você molhada ― abro a boca em choque.
― Você não tem limites! ― rosno ao avançar, mas acabo abraçando
seu pescoço.
― É difícil quando estou com você ― ele sorri e beija meus lábios
com paixão. ― Eu quero você ― sussurra deslizando sua boca por meu
pescoço.
Meu corpo vibra, já excitado com seu pedido.
― Hum... Acho que aqui não será possível. Alguém pode nos ver,
além dos cavalos ― aponto o queixo para Lake que nos observa e corre
empolgado, empurrando Sid. ― E também nossas roupas atrapalham muito...
Johnatan sorri.
― Entendo. Acho que vou ter que comprar uma ilha para que
tenhamos mais privacidade ― seu pensamento alto me faz rir.
― Tem meu total apoio ― dou-lhe beijos molhados antes de assistir
aos cavalos correrem.
Sid, como sempre, é mais atenta, apreciando a vista. Hush parece
perdido e, ao mesmo tempo, divertido com as ondas que se aproximam de
suas patas, ao contrário de Lake, que galopeia como se chutasse a água.
― Eles estão empolgados ― Johnatan observa satisfeito.
Aceno.
― Estão tranquilos e felizes ― sorrio e beijo seu rosto.
Seus olhos intensos me observam por um momento antes de eu
desvendar a oculta peripécia maliciosa entre eles. Solto um gritinho
empolgado quando meu marido me ergue em seus braços novamente, mas
dessa vez é para me tira do mar.
No nosso quarto, ele abre a porta, colocando-me no chão. Ao entrar,
encaro o ambiente fresco maravilhada, há velas acessas em volta da cama e
pétalas de rosas vermelhas espalhadas no colchão, onde seu aroma puro
preenche o lugar. Depois, noto uma pequena mesa com frutas, duas taças e
um balde de gelo com champanhe próximo à janela
Contemplo tudo ao meu redor, principalmente aos esforços de
Johnatan para esse momento, desde o início, sem que eu percebesse. Fecho
meus olhos ao inspirar fundo, agradecendo mentalmente por um momento
assim de paz. Em seguida, sinto suas mãos envolver minha cintura, colando
minhas costas contra seu peito, inspirando o perfume em minha nuca.
Meu corpo fica embriagado só de ter aquele contato, assim como o
sangue que ferve em minhas veias, ansiando pelo prazer em antecipação.
Giro meus calcanhares, erguendo-me à procura de seus lábios com urgência.
Nosso beijo é tão intenso que mal conseguimos respirar, apenas
deixamos nossos toques, nossas sensações, nossas carícias tomarem conta de
nós. Sem qualquer pressa, seus dedos suaves percorrem minhas costas tão
calmamente, que me faz me arrepiar; o vestido molhado e colado em meu
corpo só me deixa com mais calor.
Enquanto tiramos as roupas um do outro, não deixamos, nem por um
momento, de nos olhar, é como se registrássemos cada detalhe. Seus dedos
suaves em minha pele trabalham agilmente para tirar minhas peças, enquanto
eu tiro sua camisa primeiro, revelando seu peitoral másculo, do qual me
aproximo para beijar a pele exposta, sentindo sua respiração acelerada e
abafada devido ao meu contato; depois, volto minha atenção para afastar suas
calças com facilidade.
Quando voltamos a nos beijar, tudo se intensifica. Gemo só de senti-
lo perder o controle ao prender seus dedos entre meus cabelos, puxando-me
para ele. Todo meu corpo o anseia desesperadamente, num prazer
avassalador, como se nossos toques e nossas peles grudadas se incendiassem
numa excitação lasciva.
Johnatan me guia para a cama e me deita, mantendo sempre seu olhar
em chamas sobre mim. Ao se curvar, arqueio meu corpo para ele, sua boca
suga um dos meus seios intensamente antes de deslizar seus lábios delicados
por minha pele sensível, o simples toque me faz perder não só o fôlego como
também o juízo. Gemo espontaneamente ao senti-lo morder meu sexo por
cima da calcinha, minhas pernas se esfregam nele em agonia.
Johnatan não se interrompe, pelo contrário, ele me tortura e desliza
suas mãos fortes por minhas coxas, beijando o interior das minhas pernas sem
qualquer hesitação. Com o corpo febril, meu sexo lateja em excitação e meus
mamilos enrijecidos imploram por sua boca.
Embriagada como estou, pelas sensações estimulantes, arrisco-me a
olhar para baixo. Lambo meus lábios, com sede, ao apreciar Johnatan tirar
minha calcinha com os dentes. Ele joga o tecido insignificante para trás,
como um selvagem, e me dá um sorriso descarado. Eu não deveria ficar mais
molhada com aquele simples sorriso perverso, que faz minhas entranhas
vibrarem.
― Johnatan... ― choramingo.
Dessa vez, o torturador sexual desliza primeiro sua língua sobre meu
sexo antes de começar a sugá-lo com vontade. Eu me agarro no que tem à
minha volta, mas não bastam só suas sucções, seus gemidos também me
enlouquecem, estimulando-me a gemer ainda mais. São como murmúrios
vibrantes contra minha carne macia, mas quando estou a ponto de explodir,
ele para, afastando-se para tirar a cueca e revelar seu membro rígido.
― Como se sente, minha Roza?
Sua maldita provocação me faz rosnar, mas não consigo responder de
imediato, pois volto a gemer, sentindo-o penetrar dois dedos em minha
vagina.
― Não sabe o quanto me deixa louco, o quanto me deixa mais
apaixonado quando está assim.
Suas palavras são como uma oração para meus ouvidos, levando-me
para um lugar distante, onde imploro que me consuma. As palavras
provocantes são tomadas por seu sotaque russo, num tom calmo, carnal,
rouco e prazeroso. Fecho meus olhos ao senti-lo plantar beijos por minha
pele, enquanto move seus dedos ainda mais em meu sexo e me enlouquece
com seu polegar se esfregando em meu clitóris.
Quando sua língua invade minha boca, perco completamente as
estruturas, agarrando seus braços fortes e o arranhando com tesão. Ele afasta
sua mão, deixando-me na angústia, depois me provoca com sua ereção. Tento
suplicar, mas apenas o devoro com um beijo ardente e deixo que tudo que há
em mim lhe diga o quanto necessito dele, pois preciso que a dor pulsante em
meu ventre desapareça com sua invasão.
Sem demora, meu corpo salta contra o seu quando me penetra
profundamente. Nossas peles suadas se esfregam, enquanto nos movemos em
sincronia, assim como nossos gemidos, que se mesclam com o ar abafado, e
nossos prazeres, que se elevam com mais ferocidade, buscando cada vez mais
a excitação que nos consomem.
Agarro-me em seus ombros para deixar que me guie. Suas mãos
percorrem toda minha pele, prendendo-se em meus quadris inquietos e me
puxando até ficarmos um de frente para o outro.
Numa posição mais colada, olho em seus olhos e mordo seu lábio
antes de jogar minha cabeça para trás e cavalgar em seu colo, sentindo-o cada
vez mais profundo. Suas mãos fortes deslizam por minhas costas na intenção
de agarrar minha bunda para que eu acompanhe seus movimentos, e me perco
novamente em seus toques, em sua boca em meus seios e em suas investidas
estimulantes... até perdemos o controle ao gozarmos juntos com intensidade.
― Eu te amo! ― dizemos em uníssonos, ofegantes. Em seguida,
sorrimos pela coincidência.
Johnatan roça os lábios entre meus seios, enquanto eu puxo o ar com
força, sentindo meu corpo vibrante.
― Com sede? ― pergunta rouco.
Acaricio suas costas, saciada.
― Um pouco ― respondo quase sem fôlego.
Permito que se afaste e o observo caminhar nu pelo quarto até a mesa.
Ele abre a garrafa de champanhe num estouro rápido, servindo as duas taças
com o líquido claro espumante. Balanço minha cabeça, distraída por admirá-
lo como se estivesse dormindo acordada.
Quando retorna para mim, meu marido me oferece a taça, deixando-
me sem jeito por ter seu olhar intenso em meu corpo despido. Sorrio ainda
mais ao ser puxada para seu colo, onde volto a ficar sentada de frente para
ele, envolvendo meu braço em seus ombros.
― Vamos brindar ― aproximo minha taça da sua.
― Ao que você quer brindar? ― seus olhos me observam com
devoção.
― Ah... Para... ― fico sem jeito, esfregando meu rosto contra o seu.
― O quê? ― Johnatan ri e beija minha têmpora.
― Eu gosto quando me olha assim... ― suspiro apaixonada.
Minha reação o faz gargalhar.
― Assim como? ― ele consegue intensificar ainda mais seu olhar
deslumbrado.
Mas, ao me remexer em seu colo, seus braços me apertam no lugar,
fazendo-me parar de respirar brevemente.
― Voltando para o brinde... ― tento chamar sua atenção ao pigarrear.
― Quero brindar por nós. À nossa felicidade e a todos os momentos lindos
que passaremos juntos. E você?
Eu o surpreendo, fazendo seus olhos se erguerem ao ser pego
encarando meus seios.
― Eu brindo por ter casado com a mulher mais linda, sexy e
admirável do mundo. Ela é extraordinária ― coro com a declaração.
Em seguida, tomo um gole da bebida doce e gelada.
― Hum... ― degusto, olhando para o líquido espumante. ― Isso é
bom.
Johnatan também parece gostar do sabor, mas, de repente, eu o
assusto ao derramar o conteúdo de minha taça em seu peitoral, sua boca se
abre em surpresa. Antes que tome qualquer reação, empurro-o na cama e
deslizo minha língua por sua pele, apreciando o sabor em meu paladar até
chegar à sua ereção, seu fôlego se perde de imediato ao voltarmos onde
paramos.

Eu nem mesmo consegui dormir. Se isso aconteceu, o tempo recorde


foi de apenas duas horas. Tudo devido ao turbilhões de emoções que me
invadiu nos últimos momentos. Agora, parada em frente ao mar, de braços
cruzados, dou adeus à imensidão diante dos meus olhos marejados. O céu
escuro tem poucas estrelas. Nem tivemos tempo de contemplá-los
completamente, mas sabia que, quanto mais rápido isso terminar, mais paz
teremos em nossas vidas.
Sou distraída com a presença de Sid. Seus olhos negros também já
transmitem saudade, de uma forma, muito mais intensa que a minha. Ela
também quer aquela tranquilidade. Suspiro.
― Eu também vou sentir falta daqui ― acaricio sua pelagem branca.
― Temos que ir ― a voz de Johnatan me distrai.
Viro-me e o abraço com força.
― Quero voltar algum dia ― inclino minha cabeça, sentindo seus
dedos suaves em meu rosto.
― Farei até o impossível para que isso aconteça ― conforta-me com
fervor e beija meus lábios com doçura.
A plataforma próxima ao mar, onde se encontra o helicóptero de
carga, é extensa, num tamanho adequado. Não é o mesmo helicóptero em que
viemos, mas outro maior, mais potente.
Depois de me despedir de Vanessa com um aperto no coração, sigo
para dentro daquele monstro voador, já pegando a venda nas mãos de
Cassandra. Vejo Johnatan no fundo, colocando os cavalos numa espécie de
estábulos de aço. Ao me sentar, aguardo Johnatan, que logo me ajuda a
colocar os cintos e a venda nos olhos.
A volta para casa parece mais tranquila, talvez pelo fato do
helicóptero ser reforçado. Mesmo estando vendada, ele é mais confortável
que o outro. Em parte, estou feliz, tendo as lembranças memoráveis da ilha,
porém a tensão do que vem a seguir me preocupa. Fico tensa no sentido do
que vem daqui para frente, pois agora, mais do que nunca, tenho ciência de
que as coisas podem ser ainda mais arriscadas, muito mais do que
imaginamos.
Depois de um tempo, chego à conclusão de que não conseguirei
dormir, mesmo sabendo que a viagem de volta será longa. Sinto-me ansiosa e
preocupada.
Os lábios de Johnatan em minha testa me distraem. Aperto sua mão
ao meu lado e inspiro fundo.
― Não quer dormir? ― escuto-o sussurrar.
Encolho-me quando envolve seu braço em meus ombros.
― Não consigo. Acho que a tranquilidade se foi...
― Hey... Não fica pensando assim ― sinto-o inspirar meus cabelos.
― Vamos conseguir. Só precisaremos invadir aquele maldito lugar e, com a
ajuda de Shiu nos sistemas, tudo ficará mais fácil. Em breve, poderemos dizer
adeus a todo esse inferno. Não vejo a hora de começar uma vida nova, uma
vida normal.
Deslizo meu rosto para cima, à procura de seus lábios, e o beijo em
conforto. É tudo o que mais desejo no momento, principalmente pelo meu
marido. Sua urgência em ter uma vida pacata se tornou meu maior sonho
também.
Deito minha cabeça em seu ombro a fim de deixar a preocupação de
lado e me recordar do nosso casamento maravilhoso. Com isso, o conforto
me invade novamente ao lembrar seu empenho em me agradar com tudo. Ele
me fez sentir amada e protegida, mostrando-me sua espontaneidade acima de
sua resistência. Mesmo com o ar de durão e toda aquela seriedade, no fundo é
um homem inquieto e extremamente romântico. A cada dia, suas qualidades
me surpreendem ainda mais.
Quando estou prestes a pegar no sono, sinto o helicóptero descer. Não
me pareceu uma viagem tão longa, ou talvez seja por eu ter me distraído com
as lembranças.
― Chegamos! ― escuto Shiu gritar no banco à minha frente.
Tiro a venda dos olhos, enquanto meu marido já afasta meus cintos.
Assim que me levanto, sigo direto para o campo, deixando Johnatan libertar
os cavalos. Lake corre para fora, como se odiasse aquilo tanto quanto eu.
Caminho brevemente pelo campo maravilhada com o sol nascendo por trás
das montanhas. Peter ajuda Donna a carregar Ian adormecido e me aproximo
da janela da cabine para espiar Cassandra e Dinka.
― Vocês precisam de um café forte ― aceno.
Cassandra sorri cansada.
― Iremos tomar no meio do caminho ― Dinka esfrega seu rosto. ―
Ainda temos que pilotar até o centro.
Faço uma careta. Durante o voo, lembro-me, em uma das conversas,
Matt e Johnatan discutindo sobre a invasão ao prédio da LIGA, o qual
localizamos ficar no centro da cidade. A maneira mais rápida de se chegar
seria com um dos helicópteros.
― Nem me lembre ― reclamo com desgosto.
Afasto-me, observando os homens tirar as malas. Para tentar me
distrair, vou até meu pai e beijo seu rosto.
― Olá, querida ― ele sorri. ― Por que não vai descansar?
― Não estou com vontade agora, pai ― franzo o nariz. ― Vai voltar
para a vila?
― Sim. Você sabe que não me sinto confortável aqui ― diz ao
analisar a mansão.
Sigo seu olhar, vendo que, no muro da casa, estão as armas acionadas,
um alerta ameaçador caso alguém ouse avançar por onde não deveria.
― Entendo ― digo quieta. Não quero preocupá-lo, muito menos falar
sobre os riscos que vêm a seguir com a invasão do prédio localizado.
Quando o helicóptero é descarregado, vemos Dinka e Cassandra
decolarem. Tento ajudar Johnatan com as malas, mas sou impedida. Sigo
para casa, notando que o restante da equipe se organiza com suas bagagens
nos carros, já prontos para partirem, ao contrário de James e Jordyn, que
rastejam para dentro de casa como zumbis. Logo, eu me distraio com as
armas no muro sendo destravadas ao voltar para seus lugares
automaticamente.
― É melhor tomarmos um bom café da manhã ― escuto Donna ao
meu lado e abraço seus ombros em concordância.
― Eu vou tentar descansar um pouco ― Peter diz depois de voltar do
quarto de Ian.
Aceno, agradecendo por tudo e o deixando ir para seu quarto. Donna
também se afasta, mas em direção à cozinha.
― Assim que chegarem à Colmeia, antes de descansarem, preparem
os dois helicópteros ― escuto Johnatan ordenar à equipe. ― Apresentem
também as instalações para Messi e Karoá, eles já estão cientes do que
acontecerá caso isso vaze. Vejo vocês depois ― o alerta claro, sem muito
detalhe, faz até meus pelos eriçarem. Noto que até mesmo Karoá estremece
com o aviso, e Messi assente em silêncio.
― Certo ― Nectara concorda, depois de olhar os dois, e sai
rapidamente com seu carro junto com Shiu.
Já Matt fica encarregado de levar Messi e Karoá em seu carro, dando
a partida em seguida.
Depois de alguns minutos, distraio-me quando Johnatan vem em
minha direção e toca meu rosto perplexo.
― Temos dois helicópteros? ― pergunto com os olhos arregalados.
― Sim. Construídos por Shiu e Dinka ― Johnatan assente,
surpreendendo-me.
― Claro... Eles montam carros. Por que não montar um helicóptero?
― murmuro abobada, em seguida, eu o escuto rir.
― Exatamente. Agora, vamos comer.
Sou empurrada até a cozinha, onde já sinto o cheiro do café pronto.
Sento-me feliz em ver a mesa de café da manhã já repleta de comida.
― Jordyn e James capotaram ― Donna avisa, terminando sua
omelete.
― E meu pai? ― começo a beliscar as panquecas.
― Ele já saiu ― Johnatan informa.
Suspiro.
― Papai vai se acostumar ― digo sorrindo. ― Já conseguiu que ele
me acompanhasse ao altar. Vamos dar tempo ao tempo.
Johnatan assente orgulhoso, puxando minha mão para beijar minha
aliança. Sorrio com carinho e observo a sua; possessivamente, sinto que
agora ele me pertence mais que nunca.
Depois do café da manhã, escuto seu celular apitar. Johnatan verifica
a mensagem rapidamente.
― Matt pediu para usarmos roupas escuras ― franzo a testa com o
aviso. ― Tenho que ligar para Shiu. Por que não descansa um pouco,
enquanto fico com os cavalos?
Faço uma careta, mas aceito só por causa dos cavalos. Johnatan
também pede que Donna descanse e me afasto, seguindo para o quarto no
segundo andar.
No closet, já escolho minhas vestimentas antes de ir tomar um banho
relaxante. Ao terminar, visto um roupão felpudo e seco meus cabelos,
prendendo-os em um rabo de cavalo.
Não tenho vontade de dormir. Ao invés disso, abro as cortinas,
permitindo que a luz do sol invada o quarto. Olhando para o campo, assisto
maravilhada à ligação que Johnatan tem com os cavalos, enquanto conversa
pelo celular. Depois, afasto-me da janela ao encarar minhas roupas na cama.
Suspiro pensativa, mas não demora muito e já sigo em direção à
biblioteca. Na estante de livros, próximo à mesa de mogno, digito o código
no aparelho. A sala de armamento está intacta. Rapidamente, recolho três
pequenas facas e quatro dardos. Não posso pegar nada mais que isso, não
sabendo do risco que podemos correr. Depois de travar a porta, volto para o
quarto.
Dentro de uma das botas, faço um fundo falso para esconder as facas.
Com os dardos, precisarei da minha munhequeira guardada em uma das
minhas caixas vazias de sapatos. Visto minhas roupas pretas: calça skinny,
blusa de gola e uma jaqueta. Coloco as botas e escondo minha munhequeira
por baixo das mangas depois de organizar os dardos entre o tecido.
Após checar se tudo está em seus devidos lugares, encaro-me no
espelho do banheiro. Meu rosto está pálido e meus olhos, destacados num
cinza profundo, demonstram a preocupação. Assim que escuto a porta do
quarto se fechar, arrumo minha expressão rapidamente.
― Mas você já... ― vejo Johnatan me encarar surpreso pelo reflexo
do espelho.
Viro-me para ele.
― Para que perdermos tempo? ― aproximo-me para lhe dar um beijo
casto. ― Tome seu banho. Vou escolher suas roupas.
Na sua parte do closet, procuro por roupas escuras. É incrível como
Donna organiza as roupas por cores. Alguns casacos tem armas escondidas, e
me pergunto se a governanta notou aquilo. Prefiro nem imaginar sua reação.
Escolho uma calça escura, suéter, um dos casacos com apenas duas armas e
coturnos.
Assim que coloco as peças na cama, eu me assusto com o toque de
seu celular em cima da cômoda. Atendo no terceiro toque.
― Alô!
― Mine? É o Shiu ― o alerta em sua voz já me deixa inquieta.
― Sim, Shiu... Johnatan está no banho. Aconteceu algo? ―
preocupo-me.
― Dinka e Cassandra foram atacados.
Sento-me na cama, sentindo meu sangue esfriar.
― Como?
― Voltando para a Colmeia ― escuto Shiu inspirar fundo. ― Por
sorte, nada grave aconteceu. Apenas leves arranhões nos braços e um carro
destruído. O ataque até que nos favoreceu, pois eles conseguiram dois
disfarces da LIGA quase parecidos com o da central de segurança do prédio
que vamos invadir...
Inspiro um pouco mais aliviada.
― Espere, Shiu... ― interrompo-o e invado o banheiro, colocando o
celular no viva-voz, pedindo-lhe para repetir a informação a Johnatan.
― Não me diga que estou falando com o senhor Makgold pelado! ―
Shiu se enoja depois de informar o ocorrido.
Ergo a sobrancelha ao encarar meu marido. Bem... Quase nu,
Johnatan já havia se enrolado a toalha em seus quadris.
Ele pega o celular da minha mão.
― Certo, Shiu, mantenha essas roupas ― desliga e suspira
exasperado. ― Estão desconfiados.
― Devemos seguir em silêncio ― reflito.
― Não. É bom que chame a atenção na parte externa ― admite.
― O que fará com os uniformes?
― Vamos usá-los ― responde imediatamente ― Então? Pronta para
nos unir? ― seu tom misterioso me faz sorrir.
47 – O MELHOR

Na Colmeia, Johnatan separa a equipe em grupos de cinco pessoas, os


internos e os externos. James e Jordyn seguirão disfarçados fora do prédio
junto com Karoá para analisar a movimentação de entradas e saídas. Já Matt e
Cassandra observarão o terraço numa distância adequada para termos fácil
acesso aos helicópteros assim que escaparmos, além de averiguarem qualquer
movimentação fora do comum.
Enquanto isso, na área interna, Johnatan, Shiu e eu seguiremos para o
subterrâneo com Messi para termos a tal autorização de entrada. Dinka e
Nectara deverão chegar logo em seguida, sem levantar suspeitas, dando-nos
cobertura. Todos escutam atentos e prontos.
Minutos antes, quando Johnatan e eu chegamos à Colmeia, vestimos
nossos coletes de proteção antes de colocarmos os estranhos uniformes que
foram guardados depois do ataque, pior é a máscara de filtro encapuzada,
sendo um acessório confuso para mim, levando-me a pensar que eles gostam
mesmo é de se esconderem.
Mesmo com a roupa folgada em meu corpo, consegui ajustá-las com a
ajuda de Nectara. Agora, Johnatan elabora, em suas roupas, fundos falsos
para colocar algumas armas. Sorrio, vendo-o me arrumar, enquanto coloca
duas pistolas em seus devidos lugares.
― Vou poder usá-las? ― pergunto, vendo sua sobrancelha se erguer.
― Quando chegarmos lá, eles revistarão Messi e Shiu. Ambos estarão
desarmados ― Johnatan comenta atento. ― Ao entrarmos, daremos a eles as
pistolas. E seguiremos apenas com o que eu tiver.
Aceno obediente, depois observo aqueles que estarão na parte externa,
tendo o cuidado de não mostrar suas armas escondidas nas roupas, além do
ponto conectado em nossos ouvidos.
Assim que saímos da Colmeia direto para o estacionamento,
surpreendo-me ao ver os dois helicópteros equipados parados sobre uma
superfície ampla de aço, franzo a testa pelas cores preta e cinza. Em seguida,
o teto se abre automaticamente, deslizando para o lado.
Dinka e Cassandra já seguem para cada uma das aeronaves.
― Pelo menos, isso não é difícil de pilotar ― escuto Matt antes dele
entrar na cabine com Cassandra.
― Tentamos deixar os helicópteros semelhante aos da LIGA em
última hora. Matt seguirá com Cassandra como planejado ― Shiu aponta
para os helicópteros, fazendo Johnatan acenar de acordo.
Disfarçados, Messi usa terno escuro e óculos aviador, enquanto Shiu,
que adere aos cabelos escovados para trás, prossegue num estilo moderno
social, ao mesmo tempo em que aparenta ser um nerd em computação.
Estamos no helicóptero de Dinka, que pilota atento, também vestido de social
e com lentes castanhas. Mas, além de Johnatan e eu estarmos com uniformes
e máscara de filtro de segurança, a única coisa que incomoda em tudo isso
depois da máscara, são as luvas folgadas.
Eu me distraio com os avisos de Johnatan pelo fone:
― Dinka, seja breve. Você deverá conseguir um disfarce da
segurança assim como Nectara antes de entrar. Shiu desativará os elevadores
para o acesso interno, enquanto eu e Mine faremos a ronda para que Messi
ajude Shiu, caso necessite de alguma autorização ― Johnatan ordena por trás
de sua máscara. Eu acharia engraçado se não estivesse tão tensa.
Depois de longos minutos, olho pela janela, vendo a cidade abaixo de
nós. É maior do que imaginei. Dinka pilota até avistarmos localidades mais
calmas, longe de olhos alheios, sem muitos prédios e casas próximas. Noto
um prédio alto, semelhante ao desenho do edifício que vi na ilha. A
plataforma de pouso está quase vazia, com pouca movimentação de
segurança. Dinka desce o helicóptero, enquanto mantenho minha postura
rígida.
― Vou deixá-los aqui e colocar o helicóptero em um lugar seguro até
a chegada de Matt e Cassandra. Nós nos vemos em breve ― Dinka diz
disfarçadamente assim que pousa.
Vejo vagamente os seguranças que rondeiam o local mirarem suas
armas para o helicóptero. Sinto Johnatan apertar minha perna em conforto.
Um homem alto, de pose militar, aproxima-se, retirando sua máscara da
cabeça e revela seus cabelos grisalhos.
― No radar não consta a chegada dessa aeronave! ― o homem mal-
humorado dispara para Dinka, próximo à porta.
Seguro minha respiração.
― Eu entrei em contato com vocês diversas vezes! ― Dinka retruca
no mesmo tom firme e lhe mostra algo no painel ao abrir sua porta.
― Confere! ― o homem rude ordena para um dos seguranças, que
corre para o compartimento.
O homem nos observa ainda dentro do helicóptero. Em seguida, ele se
afasta quando o segurança se aproxima para dizer algo junto ao seu ouvido.
Franze a testa, assentindo uma vez.
― Tudo bem. Tivemos um pequeno erro nos computadores ― noto o
sorriso sinuoso de Shiu, sabendo que ele fez parte disso. ― Um dos
seguranças vai acompanhá-lo até a outra plataforma ― gesticula para Dinka.
A partir daqui, não podemos mais permanecer dentro do helicóptero.
Saio com Johnatan como escoltas de Shiu e Messi, enquanto noto o homem
grisalho nos observar assim que Dinka parte com um dos guardas.
Mesmo os óculos da máscara me dando uma visão mais escura do dia,
posso apostar que aquele homem exagerou no bronzeamento artificial.
― O que vieram fazer aqui? ― o militar pergunta diretamente a Shiu,
mas Messi o interrompe.
― O senhor Charlie Makgold jamais permitiria que um segurança
qualquer ficasse a par de seus assuntos particulares ― Messi responde em um
surpreendente tom autoritário. ― Precisamos descer.
Dois seguranças se aproximam de imediato, afastando tanto Johnatan
quanto eu para revistar Messi e Shiu. Com o disfarce, para eles, somos parte
da segurança interna.
― Só que não tenho nenhuma autorização para acesso ao subterrâneo
― o homem destaca sua frieza.
― Meu olho tem a autorização que preciso. Tanto é que dois de seus
seguranças irão nos acompanhar ― Messi anuncia apontando brevemente
para mim depois para Johnatan.
O homem nos observa confuso.
― Vocês os revistaram antes? ― pergunta.
― Sim, senhor ― Johnatan responde com firmeza, destacando um
sotaque mais britânico.
― Sempre fazemos outra revista quando colocam os pés aqui. Não se
esqueçam disso ― a arrogância do militar me faz querer socá-lo. ― Vocês
irão acompanhá-los junto com outro segurança. Qualquer coisa estranha, nos
avise ― encara em ameaça principalmente Shiu.
Depois de revistarem nossos protegidos, como Johnatan alertou,
deixamos as pistolas com eles, antes de seguirmos com Messi e Shiu. O outro
segurança nos acompanha em silêncio até o elevador. Ao descer para o térreo,
vejo Messi deslizar as teclas para baixo, revelando um pequeno painel de
identificação, então, ele tira seus óculos e aproxima o olho. A tela escaneia
com uma luz branca, dando o acesso permitido.
O elevador volta a se mover, só que para a subterrâneo, e permaneço
em meu lugar em silêncio. Noto a temperatura ficar mais fria, mas estar com
a máscara me faz sentir desconfortável. O segurança quieto nos acompanha
atento. Quando o elevador para, abrindo a porta de aço, avistamos um
corredor extenso. Ao sairmos, observo com cautela o corredor branco,
iluminado e vazio. Mais à frente há entradas pelos dois lados.
Lembro-me de que o primeiro andar dá direto para a sala dos sistemas
de servidores. Ao meu lado, Johnatan já saca sua arma com silenciador e atira
em direção à nuca do segurança, fazendo o homem cair no chão
imediatamente. Retiro a máscara, vendo Johnatan arrastar o corpo do homem,
depois de desarmá-lo, para outro corredor. Depois, volta, tirando sua
máscara.
― Temos que seguir pelo lado esquerdo. Qualquer coisa, vocês
mantenham contato pelo ponto ― Johnatan alerta, verificando as armas antes
de entregar para cada um deles.
― Provavelmente, vamos encontrar dois técnicos na sala, mas está
tudo bem. É melhor os outros chegarem antes de começarem a perceber a
falha no sistema interno ― Shiu avisa já preparando seu iPad.
Johnatan acena com cautela, enquanto Shiu e Messi entram na sala ao
mesmo tempo em que nos afastamos.
― Aqui é sufocante ― reclamo.
― A entrada de oxigênio não parece ter sido bem-instalada ―
Johnatan observa, como se também não gostasse nada da ideia.
Caminhamos à frente e colocamos as máscaras de volta. Estranho, ao
passar por cada corredor, à procura de outras salas, pois as paredes começam
a ter alguma graça além do branco liso. Há quadros abstratos, mas, em sua
maioria, há tanto pinturas de navios, quanto de tanques de guerras. Confusa
com aquela atmosfera, observo com atenção, enquanto acompanho Johnatan.
― Tem mesmo câmeras de segurança? ― minha voz sussurrada na
máscara sai abafada, mas Johnatan entende.
― Sim ― confirma e sutilmente maneia sua cabeça para os quadros.
É quando noto pequenos pontos sutis em cada quadro.
O lugar, mesmo tranquilo, é sufocante... É, de alguma forma,
intimidante. A sensação não permanece por muito tempo; durante nossas
passagens pelos corredores, localizamos mais seguranças. Felizmente não nos
notam após seguimos para outro corredor sem dar chances para suspeitas.
― Nectara e o restante já chegaram. Consegui o acesso às câmeras,
e Messi acabou de assassinar mais dois membros da máfia por aqui ―
escuto Shiu comunicar pelo ponto, um tanto horrorizado, talvez pelo o que
presenciou.
― Certo. Mantenha a entrada liberada agora ― Johnatan responde
rapidamente. ― Estamos próximos a uma sala do lado oeste.
Uma porta lisa à frente se abre automaticamente assim que nos
aproximamos. O espaço amplo me lembra um salão de aço e vidros. Na
frente, em destaque, há um painel que se estende de parede a parede, assim
como um enorme televisor acima. Johnatan e eu tiramos as máscaras e
seguimos a bancada digital.
Assim que Johnatan manuseia alguns botões no painel, o telão se
ilumina imediatamente. Enquanto tiro as luvas irritantes, caminho pelo lugar,
sempre de vigia tanto em Johnatan, quanto na entrada do local.
― Shiu, qual a senha? ― escuto Johnatan se comunicar assim que o
televisor mostra o bloqueio de acesso.
Eu nem mesmo consigo prestar a atenção na comunicação deles,
porque me distraio ao escutar um estalo suave. Novamente dou um passo
adiante e o fino barulho como de um papel plástico sendo rasgado volta a me
incomodar. Subitamente, olho para cima e, de alguma forma, vejo... É como
se o teto começasse a rachar. A partir daqui, eu não consigo me mover.
― Johnatan... ― chamo-o relutante, soltando a máscara e as luvas.
― Shiu! ― Johnatan tenta se comunicar, não tendo a mínima ideia do
que está prestes a acontecer.
― É o seu nome senhor ― escuto Shiu responder pelo ponto num
tom chocado.
Olho para trás, vendo a expressão confusa de Johnatan com a
revelação óbvia da senha.
Rapidamente, ele digita seu nome e antes de avançar, conecta uma
espécie de pen drive na caixa inferior dos monitores, confirmando a senha em
seguida. A tela mostra os dados sendo copiados com rapidez, porém a sirene
de invasão ecoa por todos os lados.
Inspiro fundo.
― Infeliz! Shiu...
― Está tudo bem, senhor ― Shiu o interrompe, sabendo o que deve
fazer.
Quando Johnatan olha em minha direção, franze o cenho, confuso.
― Não! ― ergo minha mão rapidamente assim que ele tenta se
aproximar.
Mas o seu passo causa outra trinca, dando vida à rachadura que se
estala até se juntar com a minha. Estranhamente, pela minha visão periférica,
noto algo diferente se movendo.
― Corre ― a urgência de Johnatan me estremece. ― VAMOS!
Mal tenho tempo para raciocinar quando Johnatan corre para pegar
minha mão, levando-me junto com ele. Saímos em disparada para fora da
sala, escutando os vidros caírem no chão, como se cravassem no solo com
suas pontas afiadas.
Sem parar, continuamos correndo até eu perceber que os movimentos
são das paredes, principalmente as dos corredores, que começam a se fechar à
nossa volta num jogo de labirinto. De repente, um tiro disparado em nossa
direção nos chama atenção, e Johnatan saca sua arma rapidamente, revidando
o atentado e matando outro segurança atrás de nós.
Antes de estar aqui, assim que vi a planta do local, por um momento
imaginei que as condições do subterrâneo fossem estranhas, mas de uma
maneira articulada.
Quando desviamos para outro corredor, o qual se transforma em um
caminho mais estreito, as paredes se movem mais rápidas até pressionar
nossos corpos. Johnatan me mantém de frente para ele espalmando suas
mãos, em cada lado do meu corpo, ao tentar em vão afastar a parede oposta.
Faço o mesmo com esforço, até sentir seu corpo cada vez mais pressionado
contra o meu.
― SHIU! ― Johnatan grunhe com os dentes à mostra.
Eu rosno ao sentir meus braços enfraquecerem, inutilmente mantenho
meu joelho como trava, assim como Johnatan.
― Estou tentando, senhor ― o coreano responde em desespero. ― O
lugar está cercado.
Arfo, perdendo o fôlego, e Johnatan se esforça para manter as paredes
afastadas com o impulso de suas mãos e suas costas. Logo, sinto meu joelho
escorregar, fazendo a parede nos pressionar ainda mais.
― Sabe ― puxo o ar com força. ― Eu sempre quis me enterrar em
você... Mas não dessa forma.
― Mine, pare de dizer besteiras ― Johnatan dispara entredentes. ―
Vamos lá. Você consegue passar.
Olho para a apertada fresta de passagem.
― E acha que vou deixá-lo aqui? ― arfo sem fôlego.
Nossas cabeças próximas demais fazem nossas bocas se colarem.
― Não vamos discutir isso quando estamos prestes a ser esmagados!
― ele exaspera em minha boca.
Ergo minha sobrancelha e encaro seus olhos em chamas.
― Para sua informação, estamos sustentando isso juntos. Se um sair,
o outro será esmagado ― digo com esforço.
― E você tem ideia melhor? ― sua fúria me atinge, mas não lhe dou
ouvidos. ― Mine, o que está fazendo? Para... Seus peitos... ― tapo sua boca
com eles pressionado em sua cara quando escorrego para cima e deslizo
minha mão por dentro de seu uniforme pegando uma reserva, pois a outra
arma que havia usado caiu no chão.
Concentro-me, mesmo a parede insistindo em se fechar, e olho para o
teto, observando as luzes fluorescentes. Uma delas está trêmula,
demonstrando a falha. Miro a arma para cima e atiro no espaçamento entre as
lâmpadas. Com isso, um vapor branco sai num chiado ensurdecedor. Logo, as
paredes se afastam como destravas e caímos separados em busca de ar.
― Nunca mais julgue a capacidade de uma mulher ― sibilo para ele,
entregando e chutando suas armas.
― Eu espero que você não tenha furado a passagem do pouco
oxigênio que temos ― reflete em voz alta.
Fico chocada, mas tenho certeza de que não provoquei isso e, antes
que eu proteste, escuto armas serem destravadas. Olho para nosso lado
direito, vendo que três seguranças se aproximam com cautela.
― Droga! ― xingo, agindo rapidamente ao arrancar três dardos
afiados da minha munhequeira.
Quando arremesso, acerto dois deles para que se distraiam, mas me
choco ao ver que acertei um no pescoço.
A distração facilita Johnatan em atirar, sem lhes dar chances de reagir,
matando-os com tiros à queima-roupa. No mesmo instante, nós nos afastamos
para nos proteger. Rápido demais para termos qualquer reação, sinto um
baque em meu ombro. Ao olhar para o lado, onde uma parede se abriu, vejo
outro deles próximo demais, enquanto observo o local do furo em meu
uniforme.
Johnatan também se atenta ao que acabou de me acontecer, mas o que
vem a seguir é aterrorizante. Assim que o desconhecido magricelo tenta atirar
em minha direção novamente, sua arma trava e o assisto recuar quando
Johnatan se aproxima como um leão selvagem, agarrando o corpo do homem
para cima e o arremessando contra o chão com brutalidade.
O grito agonizante não me assustou tanto quanto o som de ossos
sendo quebrados no momento do ataque. Johnatan não lhe dá chances e
mantém o corpo do homem em seus joelhos, terminando sua tortura ao
quebrar sua espinha com um estalo alto.
Fico em choque, em seguida, afasto o tecido, vendo a bala cravada em
meu colete. Johnatan se aproxima com frieza e, ao observar meu ombro, solta
sua respiração presa com força.
― Eu estou bem ― tranquilizo-o, inspirando profundamente.
― Graças a Deus! ― dispara exasperado, logo somos interrompidos
com mais uma aproximação. ― Eu disse que isso iria ser um inferno? ―
engulo em seco ao escutar suas palavras. E quando não é? Reflito.
Arrependo-me inutilmente de não ter pegado armas mais potentes. Ao
olhar para trás, observamos mais um grupo deles e corremos para nos
proteger atrás das paredes opostas dos corredores, enquanto os tiros são
disparados em nossa direção sem parar. Em seguida, Johnatan também
confronta os disparos, depois de recarregar sua arma, e volta a se proteger em
seu esconderijo, assim como eu.
Para nossa surpresa, dou graças aos céus ao ver Dinka no corredor
onde está Johnatan. Noto uma leve ferida em seu queixo. Ele não tem tempo
de explicar nada e aciona uma espécie de tubo de metal, o qual arremessa na
direção do corredor central.
― Mine! Encontre Shiu e nos esperem no terraço ― Johnatan ordena
antes de se afastar quando a bomba explode.
Eu me abaixo no mesmo instante, protegendo-me do fogo que se
alastra e depois se recolhe.
Tusso, escutando o zumbido em meus ouvidos devido à explosão. No
meio da fumaça, tenho um vislumbre de Dinka e Johnatan, lutando com mais
deles para os manterem afastados de onde estou. Não sei quantos membros da
LIGA nos cercam, mas tenho que agir rapidamente. Levanto-me e corro pelos
corredores, tentando lembrar agora onde foi parar a sala de servidores.
― Shiu? Onde vocês estão? ― tento chamá-lo pelo ponto, mas não
tenho retorno ou talvez o zumbido não me deixa escutar direito. Frustrante!
Surpreendo-me, então, com a aproximação de outro homem
uniformizado. Sem lhe dar tempo para atirar, afasto sua arma com um chute
alto, enroscando minha perna em seu pescoço e acertando sua nuca com um
soco. O movimento me dá facilidade de pegar duas facas na minha bota, ao
mesmo tempo em que o impulsiono a cair para trás comigo.
De repente, um tiro do meu lado oposto chama minha atenção.
Protejo-me com o corpo do homem à minha frente, mantendo o segurança
caído em cima de mim até sentir seu corpo pesado. Às cegas, atiro as duas
facas e acerto uma delas nas costelas de outro segurança que se aproxima.
Rapidamente consigo alcançar minha última faca da bota com esforço
e arremessá-la com dificuldade. Em seguida, arregalo meus olhos ao ver uma
lâmina atravessar o corpo do segurança e se retirar, fazendo-o cair no chão.
Suspiro aliviada ao ver Nectara me observar, enquanto empurro o outro
segurança morto de cima de mim.
― Você está bem? ― pergunta.
Em seguida, arremessa sua adaga atrás de mim e a vejo atingir a
cabeça de outro segurança, atravessando a máscara de filtro.
Engulo em seco ao vê-lo cair de cara no chão.
― Sim... Estou encarando isso como uma aula prática ― digo,
levantando-me. ― Acho que perdemos o contato com Shiu, precisamos ir
para o terraço ― aviso.
― Eles estão bloqueando as passagens. Ache-o, vou atraí-los para
longe ― Nectara propõe com urgência.
Aceno e corro para longe, atenta a tudo à minha volta. Ao recuperar
um pouco mais da minha audição, o barulho de tiros e bombas me fazem
perceber que estamos numa espécie de um labirinto cheio de surpresas.
Por sorte, reconheço um dos corredores e encontro Shiu atirando na
direção esquerda.
― Shiu ― chamo-o quase sem fôlego, tendo sua atenção.
Arregalo meus olhos quando mira sua arma para mim.
― Abaixe-se! ― antes mesmo dele ordenar já me curvo.
Olho para trás, vendo outro vigilante cair com um tiro na cabeça.
Corro até Shiu e puxo o ar com força, surpresa ao encarar, dentro da cabine
de servidores, os aparelhos destruídos e corpos caídos, já sem vida.
― Onde está Messi? ― pergunto impressionada ao ver mais deles
caídos no chão onde atirava.
― Seguiu até o elevador. Eu perdi a conexão com vocês assim que
terminei de baixar o sistema ― explica.
― Messi deve tê-los distraído. Temos que ir para o terraço... ―
cogito
― Tem razão, temos. Antes que isso aqui desabe ― suas palavras me
assombram, enquanto sou puxada para longe.
― Desabe?
― Não acha que o senhor Makgold deixaria as coisas tão fáceis para
Charlie, acha? ― em meio ao caos, Shiu se diverte.
Quando somos surpreendidos por mais um membro da LIGA, consigo
desarmá-lo e nocauteá-lo com golpes ágeis. Shiu pisca impressionado, mas
logo atira no homem caído no chão, assustando-me.
― Estou assustada em ver você matando alguém ― confesso a ele.
― Senhora Makgold, eu ficaria ainda mais se você fizesse isso ―
pelo humor do nerd coreano, posso adivinhar que as coisas deram certo. Isso
alivia um pouco a minha tensão.
Imediatamente, ao encontrarmos o elevador aberto, corremos para
dentro e quase atacamos Messi quando surge ofegante. Noto que sua perna
está machucada quando manca.
― E os outros? ― pergunto assustada, vendo Shiu destruir o painel
do elevador, nos dando acesso direto para o terraço.
― Há outro elevador no leste do subterrâneo. Shiu conseguiu
interromper as autorizações visuais ― Messi comenta, puxando a respiração
com força, enquanto as portas do elevador se fecham.
Sinto a angústia repentina ao pensar em todos, principalmente em
Johnatan. Logo, observo Shiu e Messi recarregarem suas armas, odiando-me
por ter apenas um dardo sobrando. Como se isso pudesse fazer diferença
contra armas potentes, penso ironicamente.
Nós nos preparamos em silêncio quando estamos prestes a chegar ao
terraço. Dou espaço para os dois, deixando-os à minha frente para me darem
cobertura. Assim que as portas de aço se abrem, sinto meu coração disparar.
Um grupo se aproxima e um helicóptero no ar à frente sobrevoa parado,
fazendo mais homens da LIGA descerem pelas cordas.
Aquilo era o verdadeiro inferno. Inspiro fundo, observando atenta aos
homens que nos encaram sem suas máscaras. São uns mais fortes que outros,
com olhares de ódio e prontos para avançar. Uma parte deles caminha
lentamente pelos cantos, enquanto a outra mantém suas armas erguidas.
Messi e Shiu já haviam escondidos suas únicas armas atrás do corpo
e, ao seguirmos em frente, eles erguem suas mãos em rendição. Ao contrário
de mim, que caminho calmamente quando somos ordenados a seguir para o
centro da plataforma. Mesmo eu estando em meus piores dias, com os nervos
à flor da pele, jamais me renderei a um crápula feito Charlie Makgold, muito
menos aos seus subordinados.
― Não atirem! O Mestre quer eles vivos! ― Não me diga, penso ao
ouvir um deles ordenar aos berros.
Subitamente, uma explosão nos distrai. Assisto ao helicóptero da
LIGA, em chamas, cair para baixo do prédio; assustadoramente, alguns
homens tentam se salvar. Em seguida, tiros ecoam por todo o lugar, acertando
cada um deles, enquanto tentam revidar apontando para o céu.
Meu choque é explícito quando olho para cima e vejo meu pai
escorado no helicóptero pilotado por Matt. Pisco meus olhos, ainda mais
surpresa, por não acreditar que ele usou uma bazuca e agora está prestes a
usar uma metralhadora. Depois, outro helicóptero se aproxima, dessa vez
com Karoá no comando, enquanto Cassandra desliza por uma corda, já
atacando os homens desarmados, assim como Messi e Shiu, que também
seguem com tiros necessários e lutam contra seus adversários.
Pela minha visão periférica, noto que dois deles avançam em minha
direção. Rapidamente, defendo-me com golpes e chutes fortes, acertando
seus estômagos e joelhos, sem nenhuma piedade. De repente, um deles cai
morto no chão e sei que meu pai o acertou. Com o outro, aproveito não só
para socar seu pescoço, como também esmagar suas bolas. Ele se curva de
dor, mas antes que lhe nocauteie alguém o mata com um tiro no pescoço.
Olho para o lado, vendo Messi abaixar sua arma e acenar para mim.
Puxo o ar com força, vendo os cadáveres no chão. Poupariam suas
vidas se ficassem do nosso lado. Apesar da aflição do momento, a tristeza me
invade, sendo membros de uma organização, eles não nos poupariam se fosso
ao contrário.
― Vocês! ― a enfurecida voz familiar do militar grisalho me chama
atenção.
Ao olhá-lo, vejo-o mirar sua arma para mim. Ele manca e cospe
sangue. Em um rápido movimento, arremesso meu único dardo, que se crava
em seu olho direito. O disparo alto me faz saltar para trás assim que Shiu
invade meu espaço para atirar na cabeça do homem insuportável no mesmo
instante em que papai também dispara.
Inspiro aliviada, olhando ao redor para ver quem está ferido, exceto os
homens mortos.
Em seguida, observo brevemente Matt pousar o helicóptero
barulhento, fazendo o vento bater mais forte. Viro-me novamente para fugir
da ventania e, sem que eu espere, Shiu cai em meus braços. Desequilibrada,
tento segurá-lo, deitando-o no chão. O alívio só dura pouco tempo, meu
coração dispara contra meu peito trêmulo.
― SHIU! ― grito em desespero.
Assustada, seguro sua cabeça para que ele continue acordado. Em seu
estômago vejo o sangue se espalhar por toda sua camisa.
― Não, não, não! ― escuto a voz agonizante de Cassandra.
Shiu estremece em minhas mãos ao tentar puxar a respiração.
― Respira com calma. Aguente um pouco mais, por favor ― tento
conter minhas lágrimas.
Cassandra se aproxima e a deixo segurar a cabeça de Shiu.
― Por favor... Por favor, seja forte. Precisamos de você ― implora,
pela primeira vez a vejo desesperada.
Os olhos de Shiu piscam à procura de foco.
― Não... Se-preocupem... Nós, nós conseguimos ― Shiu tenta falar,
mas o interrompo.
― Não se esforce ― seguro sua mão com firmeza ao perceber que ele
procura as minhas.
Logo, Matt se aproxima para abrir a camisa de Shiu. Viro o rosto, não
querendo lidar com aquilo.
― Que merda! ― Matt pragueja e sei que não há nada que possamos
fazer.
Não demora muito para todos se reunirem a nós e param ao nosso
redor. Escuto não só murmúrios de choque, como também de revolta.
Johnatan avança preocupado, e Matt se afasta com um lamento.
― Hey! Vai ficar tudo bem... Mesmo eu... eu não podendo participar
dessa vitória... com vocês ― Shiu ofega estremecido, tossindo sangue. ―
Brow? Aquela cerveja no final do expediente... vai ter que ser... ser cancelada
― ele luta para olhar para cima.
Choro por vê-lo assim.
― Qual é, irmão? ― Dinka ofega ao meu lado e tenta conter suas
lágrimas. ― Não faz isso com a gente, cara. QUE MERDA, SHIU! ― a
revolta do atirador faz Cassandra chorar intensamente.
― Shiu... Eu sinto muito ― Johnatan lamenta desnorteado, vejo suas
mãos em punhos firmes e seus olhos entristecidos.
Escuto mais alguém chorar e noto ser Jordyn, sendo acolhida por
James. Nectara permanece de pé, piscando seus olhos embargados, como se
não soubesse o que fazer.
― Sabem? Nunca imaginei isso... como uma equipe ― Shiu tosse e
engasga, deixando suas lágrimas caírem ao controlar sua respiração. ― Mas
sim como... como uma família. Uma família que nunca tive. Obrigado a
todos... Por me mostrar o quanto devemos lutar para sermos felizes, por
tentarem ter uma vida normal... E por todos terem me ensinado a me tornar
alguém melhor... ― engole com dificuldade e diz cada palavra lentamente,
assim como pisca seus olhos pesados.
― Não conseguiríamos sem você ― Cassandra soluça, acariciando
seu rosto e recebendo o sorriso fraco de Shiu.
― Nós que agradecemos por tudo que tem feito ― aperto sua mão
contra meu peito, sentindo a dor em meu coração.
Nosso valente nerd aperta os lábios ensanguentados e pisca os olhos
sonolentos.
― Só não terminem como eu. Não permitem... que isso continue ―
seu desejo me faz chorar ainda mais. ― Nós somos os fortes... Eles são os
fracos ― dispara com esforço.
Johnatan alcança sua mão esquerda, mantendo mandíbula travada.
Observo os olhos de meu marido com lágrimas, atento a Shiu.
― Você sempre foi e sempre será o melhor, Shiu. Obrigado por fazer
parte dessa família ― Johnatan o conforta, fazendo o sorriso trêmulo de Shiu
se abrir com orgulho, em seguida, seu rosto fica imóvel.
Pisco assombrada e puxo o ar com força sem conseguir conter meu
choro ao ver Cassandra fechar os olhos de Shiu e o acolher em seus braços
com desespero. Dinka grunhe na dor de perder o melhor amigo com tristeza.
― Temos que ir ― Johnatan pede em meio à tristeza. ― Leve-o para
o helicóptero, por favor.
Afasto-me cambaleante e deixo Dinka pegar o amigo, erguendo-o
pelos ombros.
Permaneço ajoelhada no chão, desmanchando-me nos braços de
Johnatan assim que ele me acolhe.
― Não é justo. Isso não é justo! ― soluço incontrolavelmente,
apertando seus braços.
― Eu sei, amor, mas agora temos que ir ― assente com tristeza,
afastando suas lágrimas para manter-se firme.
Não tenho forças para me levantar e o deixo que me carregue para o
helicóptero pousado onde está Karoá, junto com James e Jordyn. Matt se
junta a nós, seguindo para a cabine do piloto com Karoá sentada ao lado,
enquanto eu observo o outro helicóptero com o restante da nossa equipe. Meu
pai, Messi e Nectara os ajudam com o corpo de Shiu. Em seguida, decolamos
o mais rápido possível, antes que mais membros da LIGA cheguem ao
terraço, e assisto ao prédio desabar, enquanto choro nos braços de Johnatan.
48 – CONECTE

Eu posso entender meu pai com relação a cemitério. A agonia e a


perda que nos cercam, é sufocante. A pior parte ao se despedir de um ente
querido é quando sentimos sua partida definitivamente, quando sabemos que
nunca mais voltaremos a vê-los.
À minha volta, escuto choros e lamentos. As roupas escuras são
destaques de uma manhã sem brilho. Estamos em luto, estamos devastados, e
nem mesmo nos esforçamos a pensar em algum sentido em nossas vidas.
Olho para os lados, observando ao meu redor. Cassandra se encolhe
nos braços de Dinka. Assim como James, que aperta Jordyn em seus braços,
enquanto ela tenta esconder seu rosto em seu peito. Messi e Karoá observam
o caixão por trás dos seus óculos escuros. Matt e Nectara permanecem em
silêncio, como se escondessem a dor sufocante dentro de si. Já Peter
permanece ao lado de Donna e Ian, confortando-os. O que todos temos em
comum, além da palidez em nossa face, é a presença da dor e a saudade.
Eu estou à frente do caixão pronto para ser sepultado. Assim que
trouxemos o corpo de Shiu, Matt e Peter correram para cuidar dos
preparativos do funeral, pois segundo os desejos do nosso nerd querido, ele
gostaria de ser enterrado em vez de seguir as tradições de seu país.
Não tive forças para acompanhá-los e Johnatan preferiu me trazer pela
manhã para dar adeus a Shiu pela última vez. Eu sabia que Johnatan não
queria estar presente nesse momento, algo o incomodava, talvez lembranças
conturbadas do passado e respeitei sua decisão de estar distante.
Quando o caixão começa a descer, minha garganta já se fecha com
força, fazendo-me apertar a rosa vermelha contra meu peito na tentativa inútil
de sufocar o aperto que sinto. Logo, dois funcionários do cemitério se reúnem
para ajudar com a terra. Imediatamente, o choro de todos presentes me faz
estremecer.
Antes que os funcionários comecem, jogo minha rosa como
despedida. Em seguida, vejo Ian pegar um punhado de terra e jogar por cima
da minha rosa. Sem nem ao menos esperar, os funcionários começam a
enterrá-lo para desespero de todos. E é essa a parte mais difícil de presenciar.
Ao me encolher de tristeza, sinto braços fortes envolverem minha
cintura, segurando-me com firmeza e abraçando meu corpo contra o seu. Só
depois de segundos me dou conta de que estava prestes a cair no chão.
― Vamos, amor. Eu sabia que isso não iria te fazer bem ― Johnatan
sussurra em meus cabelos e, com esforço, vira meu corpo, fazendo-me
abraçá-lo com fraqueza. ― Você precisa comer algo.
Assim que me afasta para longe, consigo ver meu pai encostado no
carro, de onde observa preocupado.
― Não estou com fome ― mal dá pra sair minha voz. Fraca como me
sinto, quase tropeço em meus próprios pés.
Johnatan me segura no lugar e me observa, levantando meu rosto com
a testa franzida. O céu branco me cega brevemente.
― Querendo ou não, você precisa se alimentar. Não comeu nada
desde ontem ― sinto-o puxar uma das minhas mãos para seu peito, apertando
delicadamente meu pulso para verificar meus batimentos.
― Ela está muito pálida. É melhor levá-la para longe desse lugar ―
escuto meu pai se aproximar.
Sinto minha cabeça girar e meu corpo escorregar contra Johnatan.
Vagamente, escuto seu murmúrio sem conseguir decifrá-lo. Pisco meus
olhos, tentando focalizar seu rosto, enquanto ele toca minha testa preocupado.
Mesmo estando fraca, tanto pelo cansaço físico quanto pelo emocional, estou
consciente de que Johnatan me ergue em seus braços e me carrega para
longe.

No quarto de Johnatan na Colmeia, encaro a bandeja de café da


manhã reforçado, sem ânimo.
― Isso não é obra de arte para você ficar observando, Mine ―
Johnatan me repreende. Em seguida, suspira, apertando meu joelho. ― Eu sei
que está sendo difícil, não só para você, como para todos nós, mas temos que
superar. Sabemos o tempo inteiro dos riscos que corremos... Peço que tente
não pensar mais nisso agora.
Engulo em seco.
― Só estou refletindo... Quantos de nós terão que morrer para
conseguirmos o fim desse tormento? ― falo atônita, preferindo encarar sua
camisa preta.
Quando olho para cima, vejo seus olhos azuis se abrirem em choque.
― Amor... ― Johnatan pondera antes de se aproximar para beijar
minha testa ternamente. ― Independentemente de qualquer coisa,
continuaremos lutando. E, se temos uma meta a cumprir, se estamos
batalhando por isso, quer dizer que nossos esforços não serão em vão.
Inclino minha cabeça, fechando meus olhos quando sinto seus dedos
acariciarem meu rosto para afastar minhas lágrimas.
― Como consegue... ― pigarreio. ― Como consegue ser tão
centrado? Tão forte? ― abro meus olhos fracamente, vendo seu sorriso triste.
― Fora todo o inferno, tenho que ser assim por você, meu amor.
Tenho que ter forças suficientes para deixá-la segura, protegida e estar
presente no que for preciso ― sorri ao ver meus lábios se puxarem para cima.
― Na alegria e na tristeza, nunca se esqueça.
Arrasto-me na cama e o abraço.
― Não sei o que seria de mim sem você ― sussurro rouca, sentindo
seus beijos em meu ombro.
― Nem eu sem você ― declara e se afasta para beijar meus lábios. ―
Agora come, não gosto de vê-la assim. Não seja teimosa em me dizer que não
está com fome ― repreende-me novamente quando vê minha careta.
Subitamente, Matt me distrai ao aparecer na porta do quarto com sua
maleta.
― Com licença. A porta está aberta ― Matt diz com educação
quando Johnatan permite sua entrada.
― Ela ainda está fraca por conta da falta de comida em seu
organismo. Um pouco de febre e com as pálpebras inferiores sem cor ―
Johnatan dá meu diagnóstico, surpreendendo-me.
O máximo que sinto é meu corpo esmorecido e a cabeça pesada.
Johnatan se afasta da cama, deixando Matt se aproximar e abrir sua
maleta. Franzo a testa, vendo Johnatan cruzar os braços musculosos. Eu
quase questiono irritada se o advogado mudou sua profissão para a medicina,
já que passa seu tempo livre estudando o assunto arduamente a área, assim
como bioquímica. Eu o invejo em parte, mas, em vez disso, mordo a língua
pela petulância, pois sei que faz não só por nós, como também em memória à
sua esposa.
Quando Matt aproxima uma luz clara dos meus olhos, pisco pela
claridade repentina.
― Teve vertigem? ― Matt analisa atento.
― Sim ― Johnatan responde por mim.
Faço cara feia.
― Mas pra que isso? ― reclamo quando o advogado substitui sua luz
por um aparelho de pressão e estetoscópio.
― Durante a invasão, na parte exterior, Matt teve que lançar um gás
tóxico no prédio. O oxigênio pode, ou não, ter uma das entradas de ar por ali,
ocasionando um contato direito. Não acredito que tenha nos afetado, mas, por
precaução, precisamos saber se está tudo bem ― Johnatan explica, enquanto
observo o advogado aproximar uma seringa, depois de enroscar um elástico
em meu braço. ― Não tenha medo, eu também tirei ― assegura como se
estivesse falando com uma criança ao mostrar o interior do seu braço direito
um pequeno esparadrapo.
― Na verdade, todos tiraram sangue, só preciso ver se alguém
inspirou o gás. Caso tenha ocorrido, terei que dar um medicamento até que os
sintomas passem. Enquanto isso, alimente-se e beba bastante líquido ― Matt
aconselha.
― Você teve vertigem? ― pergunto a Johnatan ao mesmo tempo em
que assisto Matt tirar meu sangue.
― Não, mas você... ― Johnatan cogita e volta a se sentar ao meu lado
quando Matt se afasta depois de colocar um algodão em minha pele, fazendo
meu braço se erguer.
Aperto meus olhos pensativa ao me lembrar do tiro no teto que dei
para fazer as paredes se afastarem, mas não acredito que aquilo tenha a ver
com a entrada de ar. Johnatan tem os olhos nos meus e acena como se
adivinhasse meus pensamentos. Impossível, pois estudei por meses as áreas
automáticas e suas tecnologias na mansão, disso eu posso me gabar.
― Assim que tiver os resultados, passarei para Johnatan ― Matt se
afasta, dando-nos um breve adeus.
― E meu pai?
― Foi para casa junto com Peter, Donna e Ian ― Johnatan responde,
e continuo a encará-lo. ― Certo, pergunte.
Suspiro.
― Você havia falado com ele? Ele está no meio dessa situação...
Johnatan... ― eu quase não consigo refletir tendo meu pai envolvido.
― Edson é como você, teimoso. Não pude recusar. Ele havia
escutado o plano na ilha por Dinka e veio me consultar. Não posso segurá-lo.
Aliás, o que ele faz é proteger você ― não sei se Johnatan o julga ou se o
defende.
Aceno e tento comer qualquer coisa que encontro na bandeja ao meu
lado.
― Sabe sobre a família de Shiu?
― Matt diz que o pai abandonou a mãe quando ele ainda era bebê.
Isso acabou afetando a saúde mental da mãe de Shiu com o decorrer do
tempo. Ela está internada em uma clínica na Coreia. Shiu não gostava muito
de mencionar isso ― ele esfrega seus olhos como se estivesse cansado.
Continuo comendo, sem sentir gosto da torrada em minha mão.
― E o que ela tem? ― engulo temerosa.
― Alzheimer ― estremeço. ― Provavelmente, teve uma forte
depressão e a doença veio com o tempo. Não tenho informações necessárias,
mas tenho os dados da clínica e percebi que Shiu depositava uma quantia
mensalmente para os cuidados da mãe. Continuarei depositando por ele ―
seu sorriso delicado me emociona.
Ergo minha mão para seu peito.
― Você é um homem maravilhoso ― digo com fervor, vendo seus
olhos piscarem sem jeito.
― Só faço o que acho correto. E também porque devo isso a ele. É
minha função ― reflete, depois puxa minha mão para beijá-la. ― Agora,
termine de comer e descanse.
― Você também precisa descansar. Está... ― antes que eu continue,
meu marido me interrompe, colocando uma colher cheia de omelete em
minha boca. ― Espere... E as notícias? Aliás, um prédio foi destruído na
cidade. Com pessoas dentro ― balbucio de boca cheia.
― Ainda não vimos os noticiários ― ele se distrai ao me alimentar.
― Mas como sempre, a LIGA oculta todas as informações que possam
prejudicá-la. Se vazar qualquer informação a respeito, saberão o quão
expostos podem ficar ― explica fazendo meus olhos se abrirem.
― Você nunca pensou em soltar isso para a mídia? ― minha voz sai
esperançosa com a ideia.
Johnatan assente e me serve um suco de laranja.
― Sim, mas não acha que tende a ter informantes nesse meio
também? ― a esperança se vai, fazendo meus ombros se curvarem.
― Tem certeza? ― beberico meu suco.
― Não duvido nada de que possam haver membros que ocultem ou
subornem gente nos meios de telecomunicação. Não é bom confiar tão
abertamente em pessoas desses setores. Qualquer deslize e isso cairá como
uma bomba sobre nós. Temos que ter provas suficientes para que isso venha
à tona. No momento, vamos nos preocupar com aqueles que necessitam da
nossa ajuda, como você sugeriu ― encolho-me com suas palavras confiantes.
― Acha que, a essa altura do campeonato, ainda terá pessoas que se
aliem a nós? ― Depois de tudo o que aconteceu com aqueles que se aliaram
a nós, penso arrepiada.
Ao notar meu temor repentino, seus olhos se tornam mais suaves.
― Perdemos pessoas, mas foi graças a elas que conseguimos avançar
os passos. Não temos nada a perder. A luta continua, não só por nós, como
por eles e suas famílias, cientes ou inconscientes do que acontece.
Agora é a vez dele de me passar confiança, enquanto me envergonho
de mim mesma, mas antes que lhe faça mais perguntas, Johnatan volta a
encher minha boca de comida, dando fim ao assunto.

Eu não tenho vontade de dormir. Nos poucos cochilos que tive, o que
me atrapalhava era o começo de pesadelos. Ao invés disso, fico rolando pela
cama pensativa. Johnatan teve que sair para conversar com Dinka sobre a
invasão, nós nem mesmo tivemos cabeça para nos reunir. Agora sem Shiu,
parece que tudo se complica.
Levanto-me da cama impaciente e saio do quarto, andando até a sala
de monitoramento. Encontro James sozinho, sentado e pensativo.
― Oi! ― cumprimento rouca, tendo sua atenção.
― Você deveria descansar. O senhor Makgold está com Dinka e Matt
― seu comunicado termina com um suspiro profundo.
Puxo uma cadeira e sento-me à sua frente.
― Eu não consigo ― admito sem ânimo. ― Tudo parece diferente
agora ― olho para os computadores desligados com tristeza.
― Fomos pegos de surpresa ― assente relutante, deslizando os dedos
em seus cabelos, como se estivesse exasperado. ― Mesmo assim, sabemos os
riscos que corremos.
― Não quero que isso aconteça novamente ― disparo com os dentes
apertados.
Ele me oferece seu sorriso complacente.
― O que aconteceu com Shiu poderia ter acontecido com qualquer
um ― assegura. ― Não podemos evitar, Mine, mas estamos todos juntos,
como Shiu disse, somos uma família ― sua lembrança me faz sorrir
brevemente.
― Por mais que nos arrisquemos, devemos ter mais cuidado ―
inspiro fundo.
― O que devemos fazer é seguir em frente e ajudar uns aos outros. Se
algo acontecer, devemos apenas nos lembrar da vitória conquistada e da
honra de estar fazendo parte disso tudo ― seu sorriso gentil me aquece, em
seguida, ele se curva para apertar minhas mãos em conforto. ― Não podemos
lamentar pelo inevitável, muito menos, desistir e deixá-los vencer.
Aperto meus lábios ao assentir de acordo.
― E como está Jordyn?
― Está dormindo agora. Também está em choque com tudo o que
aconteceu, mas ficará melhor ― assegura com um sorriso encantador.
― Fico feliz que a esteja apoiando ― sorrio.
― Para falar a verdade, gosto de vê-la fragilizada. Não que isso seja
uma coisa boa, mas me dá tempo suficiente para ficar ao seu lado e acolhê-la
― a confissão me faz sorrir ainda mais. ― Exceto, nas vezes em que ela está
atacada, isso eu apenas consigo suportar.
Pela primeira vez no dia, minha risada aparece, mesmo sendo ligeira.
― Jordyn é incrível. Você a ama ― digo com carinho.
― Sim, amo ― admite.
Uma tossida nos distrai. Jordyn se aproxima com os cabelos
bagunçados. Ela ignora, com uma careta, as provocações de James e se senta
em seu colo. Permaneço com eles até que, aos poucos, os restantes da equipe
aparece na sala de monitoramento, o ânimo de todos não é cem por cento,
mas estamos à procura de distração. Noto que Cassandra se aproxima de
Dinka e o abraça com força. Eu os assisto distraída, feliz ao pensar que se
reconciliaram em meio a tanta tristeza.
― Se quiserem, todos podem ir para casa. Lá vocês vão relaxar
melhor que aqui. ― Johnatan sugere, fazendo todos refletirem sobre a
proposta.
Levanto-me e sigo em sua direção para abraçá-lo.
― Concordo com você ― aceno, observando seu rosto sereno.
― Você não dormiu, não é? ― eu vejo a preocupação em seus olhos.
― Eu tentei ― admito, recebendo seus beijos em meus lábios.
― Vou cuidar de você assim que chegarmos à mansão. Você estará
mais confortável na tenda e com os cavalos ― Johnatan não poderia estar
mais certo.
― E com você ― completo, vendo seu sorriso; em seguida, ele me
acolhe em seus braços.

No caminho para a casa, meu marido dirige o conversível e conversa


com Donna ao celular para acomodar os convidados. À frente, vejo os outros
com seus carros, seguindo para a casa conosco. Subitamente, um calafrio me
percorre e noto Johnatan atento em mim.
― Com frio? ― pergunta.
Balanço minha cabeça confusa, como se as coisas não estivessem
certas.
― Não ― articulo de maneira estranha e aperto sua mão sobre meu
joelho.
Suspiro num alívio inesperado ao entramos em fileira. Os quatro
carros seguem para o estacionamento, enquanto Johnatan passa pelo portão,
preferindo estacionar em frente a mansão. Pelo para-brisa, vejo Peter, Donna
e meu pai nos aguardarem na entrada. Quando Johnatan sai do carro, eu o
deixo dar a volta para abrir a porta e puxar minha mão como um cavalheiro.
Sorrio sem jeito por sua gentileza, mas logo meu sorriso desaparece, assim
que um carro de polícia passa pelo portão desesperadamente e freia
abruptamente.
Johnatan se vira com a testa franzida.
― O que está acontecendo? ― estudo Donna murmurar para alguém
atrás de mim.
Dois policiais fardados, saem armados. Seguro minha respiração ao
apertar a mão de Johnatan. Pela minha visão periférica, vejo os cavalos se
aproximarem em ameaça. Johnatan solta um comando em russo, fazendo-os
parar.
― Johnatan Makgold, o senhor está preso! ― um deles, o loiro,
ordena, apontando sua arma em direção ao meu marido. Ele é alto e forte, os
cabelos claros destacam seus olhos escuros.
O outro permanece ao lado do carro, murmurando algo em seu rádio,
enquanto nos observa atento. Minha vontade é de ensina-lhes boas maneiras,
já que não somos nenhuma ameaça contra eles para estarem tão na defensiva.
― O quê? ― disparo assustada, sem acreditar.
Imediatamente, seguro Johnatan no lugar, encarando-o em desespero.
Ele se vira e solta minha mão para tocar meu rosto antes de encarar meus
olhos profundamente.
― Está tudo bem. Mine... Está. Tudo. Bem ― como diabos ele tenta
me confortar enquanto tremo em pânico?
― Não. Não. Johnatan? ― por reflexo, vejo todos da equipe se
reunirem a nós.
― Não se preocupe, amor ― arregalo meus olhos cada vez mais
desesperada.
― Você tem o direito de permanecer em silêncio. Tudo que você
disser poderá e deverá ser usado contra você no tribunal. Você tem o direito
de ter um advogado... ― o discurso do policial é interrompido pelo rosnado
de Johnatan.
Mas, assim que o loiro ameaça destravar sua arma, escuto as armas
equipadas do campo ativarem e mirar em direção a eles, deixando-os
chocados.
― Eu sou o advogado. Por que deu voz de prisão para meu cliente?
― Matt interrompe, e encaro os olhos azuis de Johnatan.
― Não é o óbvio? Estelionato, falsa identidade e crime de homicídio
pela morte de Susan Lee. E agora, pelo que vejo, porte ilegal de armas ― o
policial avalia, fazendo-me encará-lo seriamente.
― Isso é mentira! ― rosno, tendo sua atenção.
― É melhor a mocinha tomar cuidado ao se dirigir à autoridade ― o
loiro exibido articula com petulância, sem deixar de ser agressivo.
Escuto Johnatan suspirar pesadamente, em seguida, afasta-se
gentilmente quando tento segurá-lo. Ele caminha em direção ao policial, que
continua mirando sua arma, como se o artefato fosse seu escudo. Que
bizarro, penso.
― Primeiro, cuidado ao se dirigir à minha esposa. Segundo, há mais
crimes que esses? ― analisa tão ameaçador quanto, fazendo o policial dar um
passo atrás.
― Johnatan... ― Matt o chama em alerta.
― É melhor você se render, senhor Makgold. Se ajoelhe com as mãos
para cima! ― o policial comanda, e seu companheiro solta seu rádio para
mirar sua arma também.
Johnatan ri sem humor.
― Que piada! Invadiram minha casa sem minha autorização, agora
isso? Você não é ninguém para ser chamado de autoridade, não na minha
casa. Por isso, é melhor entrar no carro com seu amigo ali e saírem daqui
antes que eu esmague seu crânio ― o aviso explícito na voz de meu marido
me faz estremecer.
Os policiais ficam assustados.
― No caso do meu cliente ser preso, preciso de relatos e da ordem em
mãos ― Matt ordena atento.
O outro policial assente, pegando uma pasta dentro do carro. Em
seguida, caminha em nossa direção para entregá-la a Matt. Johnatan mantém
os olhos fixos no loiro. Olho para o advogado para ver sua reação e o vejo
suspirar.
― O que diz? ― pergunto impaciente. ― Matt?
― Temos que comparecer à delegacia ― murmura.
Sinto meu estômago se contorcer.
― De fato, temos a prova disso, senhor Makgold. É melhor vir
conosco por bem ou por mal ― o loiro me dá nos nervos.
― Eu não recebo ordens de um pedaço de merda feito você. Saiam da
minha casa! ― Johnatan se vira bruscamente, enquanto caminho em sua
direção.
Seus braços me cercam e o beijo em desespero.
― O senhor não pode resistir, Makgold. Tem que nos acompanhar, de
preferência, algemado ― o policial destaca a última parte com gosto.
Johnatan afasta seu rosto do meu para lhe dar seu sorriso sombrio.
― Eu mandei sair da minha casa. Me espere do lado de fora, eu não
vou ser algemado ― o comando frio faz meu coração disparar.
― Isso é uma brincadeira, não é? Johnatan... Por favor ― imploro
chorando.
Seus lábios acariciam os meus e se arrastam por minha testa,
plantando um beijo terno. Estranhamente, sinto-o colocar uma das mãos por
dentro da minha jaqueta e logo tocar meu rosto para que eu volte a olhar em
seus olhos.
― Não se preocupe. Assim que sair, vá para dentro e conecte ― o
pedido me deixa confusa.
Balanço minha cabeça.
― Johnatan... ― puxo o ar com força enquanto o abraço, colando
meu rosto contra o seu. ― Não me deixe.
― Makgold! ― o infeliz insiste.
Johnatan virar sua atenção rudemente.
― SAIAM DA MINHA CASA! ― seu grito firme assusta até mesmo
os cavalos, que relincham surpresos.
― É melhor os senhores esperarem do lado de fora. Pelo o que pode
ver, o senhor Makgold não irá resistir ― escuto Dinka pedir de maneira
controlada.
Observo os olhos em chamas de Johnatan, vendo-o preocupado. Em
seguida, nós nos beijamos com amor, enquanto envolvo meus braços em seu
pescoço, apertando-o com força.
― Minha Roza, eu não vou te deixar. Eu prometo. Só faça o que estou
pedindo ― sussurra em meus lábios sem fôlego. ― Amor...
― Por favor! ― imploro angustiada. ― Johnatan,... ― tento lutar
para me agarrar em seu corpo assim que tenta me afastar.
― Matt, ― Johnatan o chama. Rapidamente, sinto alguém me puxar
para trás. ― Eu te amo!
Fecho meus olhos quando ele volta a beijar meus lábios antes de
afastar minhas mãos agarradas em seu casaco.
― Filha, acalme-se! ― meu pai murmura junto ao meu ouvido, e vejo
Johnatan seguir em frente.
O carro da polícia atendeu seu pedido e está estacionado de prontidão
na rua. Sem se deixar influenciar, Johnatan ignora a algema e entra no carro.
― Eu vou com eles ― Matt avisa, já correndo para o estacionamento.
Eu olho Johnatan com tristeza, pela janela do carro, seus olhos se
mantêm em mim. O desespero bate em meu coração e tento correr até ele,
mas meu pai me segura no lugar. Assim que os policiais entram na viatura,
dão a partida; em seguida, Matt segue com seu carro atrás deles.
O pânico me invade com força, esfriando-me dos pés à cabeça. Ao me
soltar de meu pai, cambaleio.
― Vão matá-lo ― tento engolir o nó em minha garganta.
Aperto meu peito ao sentir a angústia torturante tomar conta de mim.
― Eu vou segui-los ― James dispara rapidamente e corre para o
estacionamento junto com Nectara, que também decide ir.
Pisco meus olhos na tentativa inútil de me concentrar. Brevemente
franzo o cenho e vasculho o bolso dentro da minha jaqueta. Fico cada vez
mais embaraçada ao ver um microcartão de memória em minha palma.
― O que foi, Mine? ― Cassandra pergunta depois de me distrair com
James e Nectara saindo com outro carro.
― Conecte ― repito a palavra sussurrada de Johnatan em dúvida.
Por um momento, olho para todos confusa, até me dar conta do que
fazer. Corro para dentro de casa. Ele falou para conectar, penso repetidas
vezes. Subo as escadas, seguindo em direção à biblioteca. Ignoro os passos
que me seguem e rapidamente procuro pelo minileitor de cartão nas gavetas.
Assim que o encontro, ligo o computador de Johnatan.
Todos invadem a biblioteca confusos ao me ver conectar o
microcartão no leitor principal da máquina. Em seguida, aguardamos.
― O que será isso? ― escuto Messi perguntar em minha direção.
― Eu não sei ― respondo em dúvida ao me sentar na cadeira.
Surpreendo-me ao ver o computador sendo reiniciado. Depois, a tela
se ilumina, copiando dados numa velocidade absurda.
Tento observar, mas não consigo acompanhar o letreiro. Nós nos
espantamos ao escutar alguns estalos pela biblioteca, como se estivesse
calibrando o conjunto maquinário de segurança da casa. Evito tirar o cartão,
deixando a instalação seguir com suas cópias.
― Eu me lembro que Shiu e Johnatan andaram mexendo com algo
em relação ao sistema da casa ― a revelação de Dinka chama minha atenção
e noto sua confusão assim como a de todos.
De repente, a cópia é interrompida, fazendo o computador deslizar.
Me curvo para ligá-lo, mas me afasto quando faz o trabalho sozinho ao ligar
novamente. Uma iluminação no centro da biblioteca deixa todos atentos. No
meu caso, fico chocada.
É como um espelho, uma tecnologia mais avançada a olho nu. Tudo
que apresenta na tela do computador se reflete no meio da sala, numa imagem
mais plana e realista. O azul toma conta do lugar, como uma apresentação do
novo sistema. Eu assisto, com atenção, a um globo girar e se expandir como
um mapa. Em seguida, um círculo azul fluorescente, que se mescla com o
globo, toma conta do espaço. Ao lado, há efeitos em linhas retas, destacadas
entre finas e grossas, que vibram, ecoando pela sala silenciosa uma voz
metalizada muito familiar:
― Obrigado por me instalar! Peço desde já que não me toquem e
nem tentem vasculhar meu sistema sem minha autorização! Eu sou o novo
sistema K-Shiu, criado pelo próprio Kim Shiuk para monitorar, operar,
rastrear, hackear, assegurar, executar operações ordenados, entre outros
serviços. Nesse sentido, estarei com vocês para onde quer que sigam. Suas
funções? Nada mais, nada menos que falar comigo. Acharam que se
livrariam de mim? Ah! Se enganaram! Agora... No que posso ajudá-los?
49 – PROTEGER

― Filho da mãe! ― escuto Dinka praguejar surpreso. ― Ele criou...


Ele é absurdo...
― Mais respeito rapaz ― o novo sistema repreende.
― Shiu... ― sussurro emocionada.
― Senhora Makgold ― cumprimenta-me, imediatamente faço uma
careta.
― Apenas Mine ― falo com desdém.
As luzes se movem conforme ele fala automaticamente:
― Fui programado para tratá-la formalmente. Exigência do senhor
Makgold ― pisco perplexa.
― Há quanto tempo teve isso em mente, Shiu? ― Cassandra pede ao
se encostar na estante de livro. Pela expressão, ela está tão surpresa quanto
eu.
Minha atenção volta para o reflexo azul do sistema à nossa frente.
― Esse projeto foi trabalhado há mais de dez anos para revolucionar
o mundo da tecnologia. Agora, estou aqui para seguir esse trajeto e
comandar as máquinas sem precisar que as operem. Tanto aqui quanto na
Colmeia, ou em qualquer outro lugar, estarei com vocês para lhes dar
qualquer suporte ― imagino que, se Shiu estivesse vivo, estaria saltando seu
ego com orgulho.
Balanço minha cabeça.
― Precisamos saber sobre Johnatan. Matt, James e Nectara foram
atrás deles...
Antes que eu continue a dar informações, vejo a imagem do sistema
operar rapidamente. Logo, o sistema K-Shiu nos informa sobre a falta de dois
automóveis.
― Você se conectou nos carros? ― Messi está impressionado.
― Mesmo eu estando em todos os lugares, só posso ser ligado com
quem está autorizado. Os carros construídos pela equipe possuem máquinas
de fácil acesso para nos comunicarmos. No caso, somente os membros da
Colmeia têm acesso aos meus serviços. Possuo um detector de voz e digitais.
Se um anônimo tentar se comunicar comigo, não terá respostas ― Shiu
notifica, enquanto me distraio com as imagens, via satélite, à procura dos
carros.
As fotos de James, Nectara e Matt estão ao lado, num rastreamento
facial. Fico boquiaberta devido às imagens ao vivo de dentro do carro.
Enquanto James dirige, tendo Nectara ao lado; no outro carro, Matt conduz,
atento à sua frente. Ambas as imagens se dividem na tela.
― Shiu, consegue nos ligar com eles? ― pergunto.
― É claro.
Aguardo sem tirar os olhos de Matt, que avança para o carro de
polícia à sua frente.
― Eles estão indo em direção à delegacia da cidade ― meu coração
dispara ao escutar Cassandra murmurar.
― Ligação viva-voz ativado ― Shiu informa.
Inspiro fundo.
― Olá. Sou eu, Mine... Não se assustem, é um sistema que Shiu criou
e estamos descobrindo agora. Depois isso será explicado ― assim que falo,
vejo os três ficarem chocados, mas sem tirar os olhos da estrada pouco
movimentada. Seria uma reação engraçada, mas não nas circunstancias em
que nos encontramos.
Assim como eu, todos estão atentos ao carro de polícia que, em
seguida, desvia.
― Eles cortaram o caminho ― escuto Nectara disparar entredentes.
Percebo que Matt também pode ouvi-la ao assentir com a cabeça.
― Vamos avançar mais a frente e bloqueá-los até chegarmos à
delegacia ― Matt sugere.
Franzo a testa preocupada. James acelera, deixando Matt agir para
trás. Solto a respiração pesada quando o carro de polícia volta ao meu campo
de visão, seguindo entre James e Matt.
― Droga! ― Matt freia abruptamente.
Meus olhos se arregalam quando o carro de polícia explode. Aperto
meu peito, já sentindo meu coração acelerar e minhas pernas tremerem.
― Vocês estão bem?! ― Cassandra dispara preocupada, mas não
escuto suas respostas. É como se meus ouvidos fossem tapados e minha
cabeça girasse a 180 graus.
Sinto meu corpo fraco ao encarar todas na biblioteca. Depois, vejo
Dinka se levantar da cadeira, pronto para partir junto com Cassandra.
― Esperem! ― interrompo-os numa ordem sem fôlego. ― Shiu,
consegue voltar duas imagens? Antes do carro cortar caminho e antes da
explosão?
O sistema opera com facilidade, como capturas em pequenos quadros.
Fico atenta, pedindo que pause ambas as imagens. De longe, as duas figuras
do carro de polícia parecem iguais, se não fosse por um pequeno deslize dada
a uma diferença no veículo antes da explosão, um sinuoso risco vertical
vermelho no vidro escuro traseiro.
― Eles trocaram o carro ― afirmo, vendo o sistema K-Shiu focar
pontos de diferença até nos mostrar o risco vermelho.
Escuto James e Nectara decidirem voltar na contramão e seguir pela
estrada, pela qual os policiais cortaram o caminho, deixando Matt observar a
pouca movimentação de pessoas assustadas se aglomerarem no local. No
carro de James, a câmera nos mostra o segundo carro de polícia, onde deveria
estar Johnatan, parado no meio da rua. Porém ambos os policiais estão
mortos, com todas as portas da viatura escancaradas.
Meu coração acelera em ansiedade ao ver Nectara seguir até o
acidente assim que James estaciona. Vejo-a caminhar com suas espadas até
os policiais mortos, em seguida, olhar dentro do carro. Ela faz um sinal para
James e balança sua cabeça. Minha respiração trava na hora.
― Está vazio? ― James diz confuso ao receber o sinal de Nectara.
Parado a um quarteirão, Matt soca seu volante em frustração assim
que o escuta.
― Sequestro ― arrepio-me violentamente só de escutar a palavra. ―
Podem ter usado esses homens para conseguirem fazer isso. Mesmo seguindo
pela estrada cortada, de qualquer forma tinham que voltar para a rua principal
― Dinka murmura pensativo, apontando os trajetos.
― E devem ter usado um carro comum para não termos suspeitas ―
Messi concorda.
Esfrego minha testa em frustração.
― Ele sabia disso. Johnatan sabia o que iria acontecer! ― minha
agonia se transforma em exaustão. ― E agora? Como vamos localizá-lo?
― Shiu, faça um reconhecimento facial pela cidade. Eles podem
transferir o senhor Makgold para outro veículo. Sendo assim, com certeza,
teremos câmeras de segurança expostas em alguma parte ― Cassandra exige
com urgência, enquanto me curvo na mesa.
― Isso só pode ser um pesadelo ― desabafo exasperada.
― Vai ficar tudo bem, Mine ― ouço Karoá. Nem mesmo notei
direito sua presença na sala e a vejo ao lado de Messi com o olhar
preocupado.
Nessa situação, eu nem mesmo sei como pensar, nem planejar, apenas
agir.
― Shiu? ― chamo, tendo sua resposta. ― Peça para James e Matt
voltarem para a mansão. Tem que ter algum jeito, alguma pista para que
possamos encontrar Johnatan.
O sistema acata meu pedido rapidamente.
― A LIGA parece estar fora de controle ― Messi chama minha
atenção e franzo a testa.
― Charlie sempre quis a cabeça de Johnatan, mas não compreendo
nada agora. Por que Johnatan facilitou? ― pondero, esfregando meu peito
com preocupação.
― Provavelmente, porque o senhor Makgold quer seguir com a
extinção da LIGA. Com isso, não quis perder tempo. E Charlie pode estar
desesperado ― o sistema Shiu averigua, deixando-me confusa.
― Desesperado?
― Sim. Durante anos, Charlie tem sua conta bancária reservada,
movida pelos roubos e furtos que fez durante sua trajetória na LIGA e com
os membros bem-sucedidos que possui. Muitos deles parecem não terem
cumprido com acordos, os quais, por consequência de algum contrato,
acabaram perdendo tudo para ele, outros até mesmo foram mortos ― não
me impressiono já que tudo o que Charlie tem foi fruto da sua ganância
corrupta. ― A questão de tanta perseguição é que a senhora Grekov possuía
uma enorme fortuna com a herança da família. Herança essa que está nas
mãos do único herdeiro vivo, fora as conquistas empresariais e negócios que,
até agora, o senhor Johnatan Makgold conseguiu administrar com
sucesso ― meu coração se aperta só de ouvir sobre a mãe de Johnatan.
Pobre mulher, penso tristemente.
― E Charlie se casou por interesse ― murmuro, em parte não estou
surpresa.
― Podemos aproveitar essa parte vulnerável e expor Charlie, não
sei... Talvez para os jornais locais, que talvez possam nos ajudar a encontrar o
senhor Makgold ― Jordyn sugere.
O sistema K-Shiu continua, enquanto reflito com as informações.
― Temos que tomar cuidado. Não se pode chegar assim do nada,
ainda mais para um meio de comunicação que já noticiou a suporta morte do
senhor Makgold. Por sorte, ele nunca deu detalhes sobre sua vida, apenas é
conhecido como um empresário de grandes empresas, a parte da lenda da
cidade fica por conclusão dos supersticiosos de Queenstown. Sendo assim,
ele pode dizer que tudo não passou de boatos. Só que há riscos, mesmo se
exigir manter sua identidade em segredo, pois quando se há ameaças assim
você pode ter o direito de preservar sua vida. Para que isso ocorra, é preciso
ter alguém de confiança que mantenha contato diretamente com o governo,
sem deixar cair em mãos erradas ― frustrada, solto minha respiração.
A essa altura do campeonato, não temos tempo para encontrar nada
além de meu marido. Logo, distraio-me com as palavras de Messi:
― E, se a LIGA não disse nada sobre Johnatan até o momento, é
porque também não quer se envolver com algo que possa destruí-la ao ser
revelada. Charlie esconde muitas coisas embaixo do tapete ― o mensageiro
cruza os braços pensativo.
― Mas e quanto a Charlie estar desesperado? O que ganhamos com
isso? ― exaspero-me com o sistema à minha frente.
― Recapitulando, com base nas afirmações antes, juntamente com as
de agora, o banco não pode questionar sobre o que entra ou o que sai da
conta do senhor Makgold, que de fato é vinculada com a senhora Mine
Makgold. Essa conta faz parte do recebimento dos lucros das empresas, mas
há também outra conta exclusiva ― franzo a testa sem entender onde o Shiu
tecnológico quer chegar. ― Em todas as invasões em que estivemos,
tirávamos, em uma infiltração de sistemas locais, a quantia da conta de
Charlie nos pontos onde a LIGA agia. Isso fazia seu dinheiro diminuir. Na
última invasão, no subterrâneo, além de copiar o sistema da LIGA por
completo, concluímos a retirada de boa parte do dinheiro ― arregalo meus
olhos.
― Não estou surpreso ― Messi dispara, dando um sorriso sem
humor.
― Vocês roubaram Charlie? ― fico chocada.
― Corrigindo, roubamos o que ele havia roubado durante anos ―
Shiu ressalta.
― Estamos falando de quanto? ― pergunto desconfiada.
― Está próximo dos bilhões ― quase me engasgo com minha própria
saliva.
― É claro que Charlie está louco e nada satisfeito. Aliás, é a única
coisa que importa na vida dele ― encosto-me na cadeira. ― O que temos que
fazer agora é encontrar Johnatan.
― Podemos dar uma volta local para termos alguma ideia. A rua vai
estar interditada devido à explosão ― Dinka opina e concordo, deixando-o
sair com Cassandra.
― Em se tratando da LIGA, acho difícil. Eles procuram qualquer
buraco para se esconderem ― Messi dispara com desdém.
Inspiro fundo.
― Se Johnatan fez isso ciente do que ia acontecer, tinha um
propósito. Devemos manter a calma, mas sem prolongar mais tempo que o
necessário ― digo absorta.
Minutos depois, James invade a sala em disparada, distraindo-me do
sistema K-Shiu em processo de rastreamento facial.
― Matt preferiu circular pelas ruas, mas não obteve sucesso. Disse
que iria até a Colmeia para trazer armas e roupas. Nectara preferiu ficar com
ele para ajudá-lo ― James informa sem fôlego. Jordyn imediatamente vai
para seu lado.
― É como se ele sumisse do mapa ― escuto Karoá murmurar para
Messi, enquanto observa o rastreamento no sistema.
Não quero pensar no pior, nem mesmo escutar palavras negativas.
― Podem me deixar sozinha, por favor? ― peço, sentindo como se
um peso pairasse sobre minha cabeça.
Com meu pedido súbito, até mesmo o sistema Shiu recua, informando
que continuará com a operação.
Assim que fico sozinha, esfrego meu rosto em agonia. Depois,
recosto-me na cadeira e me perco em pensamentos, encarando a biblioteca
silenciosa. Devo segurar minha preocupação por alguns instantes para agir
com a razão. Se algo acontecer com Johnatan, não sei como eu reagirei, mas
sei que as chances de sobreviver são mínimas nas mãos daqueles que querem
seu mal.
Apoio meus cotovelos sobre a mesa e meu queixo em minha mão
direita, enquanto olho o anel de esmeralda que Johnatan me deu, junto com a
aliança de casamento. Logo, as lembranças do nosso dia tão especial invadem
meus pensamentos, me fazendo sorrir emocionada. Suspiro, depois de alguns
minutos, apreciando meus anéis ao afastar minhas lágrimas, mas paro quando
volto a encarar meu anelar mais de perto. O quê? As duas palavras são como
um alarme que martela em minha mente.
Abro minha boca chocada, em seguida, fecho novamente. A reação se
repete sucessivamente e, quanto mais observo, mais meus olhos se arregalam.
― Eu prometo protegê-la todos os dias da minha vida ― repito as
palavras sussurradas por ele no dia do nosso casamento. Meu coração dispara
com a possibilidade. ― Você não tem limite quando o assunto é proteção,
Johnatan ― constato, revirando meus olhos. ― Shiu!
O sistema recebe o chamado imediatamente e o vejo se abrir
novamente no meio da biblioteca. Levanto-me, encarando-o.
― Ainda não obtive sucesso, senhora ― para um sistema avançado
seu tom pode transmitir as emoções ao se lamentar. Incrível.
Balanço minha cabeça.
― Preciso de uma informação ― inspiro fundo, a ansiedade faz meu
corpo estremecer. ― Sabe se Johnatan colocou algum tipo de rastreador em
nossas alianças de casamento? ― sinto minha esperança aumentar.
Rapidamente, Shiu verificar em seus recentes dados arquivados.
Impressiono-me ao ver as imagens de nossas alianças, como se elas,
estranhamente, já fossem escaneadas e verificadas. É como se estivesse
fazendo um laudo, examinando cada ponto do ouro. Surpreendo-me ao ver
minúsculas letras gravadas no interior das alianças, eu não fazia ideia
daquilo. Pergunto-me se é alguma palavra ou frase em russo. Em seguida,
uma caixa de acesso aparece à frente e Shiu coloca o código, tendo a entrada
ativada.
― Qual é a senha de acesso, Shiu? ― fico curiosa.
― Desculpe, senhora Makgold, mas não estou autorizado a passá-la.
Acabo de verificar neste registro, por questões de segurança ― o sistema
informa, deixando-me perplexa.
― Não me diga... Ordens de Johnatan? ― tento controlar minha
irritação.
― Certamente. Você estava certa. As alianças possuem um sensor de
rastreamento ― admite.
Imediatamente, o sistema rastreia um mapa local, dando-me a certeza
de que não está na cidade. O que chama atenção é um ponto vermelho que
pisca, dando um alerta de movimento.
Franzo a testa ao me aproximar da imagem.
― Onde é isso? ― sou interrompida com a entrada de alguém.
― Mine, precisamos conversar... ― Matt invade a sala e se
interrompe impressionado com o sistema K-Shiu. ― Uau! Os outros me
falaram sobre o novo sistema, mas não achei que seria tão avançado a olho
nu. Enfim... ― sacode a cabeça para ordenar seus pensamentos antes de vir
em minha direção.
― Chame os outros ― peço distraída com a direção que o ponto
vermelho se move.
― Primeiro preciso esclarecer algumas coisas ― Matt reluta ao
inspirar fundo.
― É sobre Johnatan? ― pergunto.
― Hum... Não... ― o advogado responde.
― Então, não temos tempo. Pode ser depois? ― digo às pressas. ―
Shiu?
― A movimentação está seguindo pelo Mar de Tasman, pode ocorrer
desvio ― o sistema parece tão ansioso quanto eu.
Matt e eu nos olhamos confusos.
― No mar? Mas isso não é nem perto daqui ― Matt tira as palavras
da minha boca. ― Consegue saber a direção exata desse helicóptero pelos
arquivos da LIGA?
Não, não é um helicóptero, reflito cada vez mais alarmada. Logo,
lembro-me dos quadros em um dos corredores do subterrâneo.
― Navio. Eles o levaram para um navio ― disparo em choque antes
de Shiu nos mostrar um navio de grande porte.
Em seguida, apresenta-nos plantas junto com mapa de cada setor da
embarcação. O monstro em alto mar é pior, muito pior do que imagino.
― A LIGA possui um navio de carga para transporte e operações de
serviços ilegais ― o sistema explica. ― É um dos pontos seguros para eles,
com difícil acesso. O lugar é monitorado por uma enorme quantidade de
vigias.
― Precisamos dar um jeito de chegar antes que haja qualquer
mudança ― apresso-me. ― Shiu continue rastreando o sistema desse navio e
explique para os outros a localização de Johnatan ― ordeno.
― Podemos fazer isso com cautela. É um navio, os riscos são ainda
maiores. Não sabemos as surpresas que enfrentaremos ― Matt analisa
apreensivo. ― Se está seguindo pelo mar, podemos falar com Dinka e
Cassandra para conseguirem um helicóptero e nos levarem até lá, mas é
importante que você, Mine, fique aqui.
A ordem de Matt me faz encará-lo fixamente.
― O mais importante, nesse momento, é ajudar e estar ao lado do
meu marido ― digo com firmeza.
O advogado reluta e não entendo sua preocupação.
― É melhor permanecer aqui, não quero imaginar a cara que o
Johnatan faria se você...
― Eu sei lidar com ele, não tem que se preocupar com isso ― aperto
minha mandíbula em frustração. ― Não se preocupe, vai dar tudo certo.
― Mine, entenda, agora, você tem prioridade ― Matt insiste,
fazendo minha paciência se evaporar.
― O que está querendo dizer? O que é mais importante do que tentar
ajudar meu marido? ― aperto minhas mãos e tento controlar minha voz.
― Mine, você está grávida!
Abro minha boca, mas a fecho novamente. Balanço minha cabeça e
me afasto. Meu coração acelera, enquanto tento me equilibrar para não cair
para trás.
― O quê? ― estremeço em choque, vendo o advogado me observar
com seus olhos escuros.
― Não posso deixá-la ir. É arriscado. Sabe os exames de sangue que
tive que fazer com todos? Assim que cheguei à Colmeia, já estavam prontos,
felizmente, ninguém inspirou o gás, mas no seu caso... ― estou abismada
demais para notar sua reação. ― O sistema K-Shiu opera muito bem e me
deu os resultados precisos. Achei melhor falar com você do que o sistema
informar ― sinto que Matt tenta ser cuidadoso ao ver que estou mais
assustada que ele. ― Você pode estar confusa agora, mas tem que manter a
calma. Ninguém esperava por isso.
Engulo em seco, minha respiração fica acelerada.
― Como pode ter tanta certeza? Eu-eu... Atrasos... Remédios... Ou
fuso horários? Meu Deus... Johnatan vai enlouquecer ― encolho-me toda vez
que gaguejo e encaro o chão como se aquilo pudesse me salvar.
― Parabéns, senhora Makgold! ― assusto-me com a felicitação de
Shiu, ainda mais quando abre o resultado positivo do exame, soltando efeitos
de fogos de artifícios na imagem tecnológica.
Aquilo não é cômico, é meu pânico em meio ao caos. Quanto mais
meu corpo vibra em tremores, mais me encolho.
― Não diga isso a ninguém. Nem mesmo a ele, até que eu decida
revelar. Vamos invadir o navio de qualquer forma. ― Quando vejo que está
prestes a protestar, ergo meu indicador para interrompê-lo. ― Matt, eu não
ficarei bem até tirar Johnatan daquele lugar, ainda mais se eu estiver aqui,
mas pode ficar tranquilo, tomarei cuidado ― asseguro, apertando minhas
mãos em punhos firmes.
― Mine, você ainda não absorveu a notícia, eu entendo. Só que
sabemos os riscos... ― Matt continua com seu protesta e o detenho.
― Damos um jeito, me deem cobertura. Quando isso passar, eu direi a
Johnatan. No entanto não diga nada a ninguém. Nem você e nem o sistema
K-Shiu. É uma ordem! ― determino, engolindo em seco.
― O problema é, e se os planos não derem certo, Mine?
― Apenas confie em mim ― asseguro com firmeza.
Matt permanece inquieto até soltar a respiração afobada e erguer as
mãos em rendição. Quando os outros invadem a biblioteca, nós nos afastamos
em silêncio e deixamos que Shiu explique sobre a localização de Johnatan,
fazendo-nos estudar cada lugar do navio como se nada tivesse acontecido
minutos atrás.
Sem que eu espere, Shiu consegue acesso a uma câmera de segurança
no navio onde Johnatan está preso em uma cadeira, numa sala branca isolada.
Está sem camisa e com o corpo molhado. Arregalo meus olhos quando o vejo
ser torturado com choque por um homem baixo e acima do peso. Ele parece
receber instruções, porém Johnatan permanece em silêncio, resistindo à
tortura. O homem permanece com aparelho de choque mais tempo que o
necessário. Sinto o nó em minha garganta se intensificar e, num impulso
distraído, coloco minha mão esquerda sobre minha barriga. Logo, viro meu
rosto, não suportando mais assistir as imagens.
― Chega, Shiu! ― Matt nota meu desconforto, em seguida, conversa
com alguém.
― Vou ligar para nosso amigo da base militar. Podemos dar-lhe
instruções para chegar até aqui e seguiremos direto para a localidade por onde
o navio trafega ― Cassandra informa, olhando-me com cumplicidade.
Algo em minha expressão a faz ter mais empatia.
― Ele é de confiança. Não se preocupe, Mine ― Dinka me assegura.
Imediatamente, noto que eles só precisam da minha aprovação, já que
Johnatan não está no comando.
― Eu aproveitei para ir à Colmeia e trouxe os uniformes ― Nectara
parece impaciente com a situação. ― Suas vestimentas estão no quarto ―
aceno agradecida.
Em seguida, K-Shiu já começa a nos explicar como devemos seguir.
Sem precisar de código, a sala de armamento na biblioteca se abre com seu
comando. Caminhamos para dentro, já recebendo equipamentos necessários
para nos comunicar.
Cada um possui um ponto de ouvido especial, exceto Karoá e Messi,
franzo a testa confusa, mas penso que talvez Shiu tenha criado antes de
conhecê-los. É diferente do que estamos acostumados a usar, o pequeno
aparelho prata me lembra um fone de bluetooth sem fio.
― Com esse fone eu estarei me comunicando com cada um de vocês,
dando as coordenadas para cada um seguir. Por exemplo, enquanto estou
falando com Dinka em um local a ser seguido e respondendo suas dúvidas,
eu também estarei operando com outro membro da equipe da mesma
forma ― nós nos impressionamos com Shiu. ― Legal, não é? Imaginem só,
vários Shius perto de vocês...
Suas palavras nos fazem rir brevemente. O sistema explica que, além
de obter os pontos, podemos chamá-lo ao apertá-lo contra o ouvido para ter
sua atenção. Depois, nós nos atentamos para a explicação de alguns
armamentos especializados e explosivos automáticos, dos quais Matt e James
têm conhecimento. São pequenos sensores pretos que me lembram aranhas
robóticas.
Depois de explicar, voltamos à biblioteca para analisarmos fotos do
extenso navio, cujo tamanho é um pouco intimidante para mim. A primeira
parte é praticamente a entrada da base, na qual está um galpão com uma
enorme área centralizada e aberta, que me lembra uma plataforma para
aeronaves. Na segunda parte, temos acessos aos corredores e setores de
serviços técnicos, lá é onde se encontra a sala onde Johnatan deve estar,
localizado no lado norte do navio. Na terceira parte, encontramos o local de
refrigeração e também os motores.
Shiu e eu separamos as equipes em ordem, enquanto Dinka e
Cassandra entram em contato com seu amigo militar. Sem perder tempo,
James e Jordyn já correm para se prepararem, e inspiro fundo, afastando-me
do olhar insistente de Matt, ao mesmo tempo em que o escuto exigir extrema
proteção à minha volta. Quando tudo está em ordem, saio da biblioteca e sigo
para o quarto a fim de me trocar.
Na cama, já encontro meu colete especial à prova de balas e minhas
vestimentas. Reviro meus olhos, pois Nectara segue o estilo justo e bostas de
saltos. Ao lado das roupas, observo as armas: pequenas facas afiadas, dardos
e os cabos das minhas espadas. Assim que alcanço os instrumentos, as
lâminas disparam para fora.
Começo a colocar meu uniforme rapidamente, ajustando as armas por
baixo das minhas roupas escuras. Ignoro a jaqueta de couro, decidindo ficar
apenas com as malhas aquecidas. No banheiro, ao amarrar meus cabelos num
rabo de cavalo firme, olho para meu reflexo com mais atenção.
Não sei se me sinto diferente, mas nem mesmo tive tempo de
processar nada, nem fazer uma contagem do meu ciclo, nem parar para
imaginar o momento. Encaro meus olhos cinza ao afastar as lágrimas
acumuladas. Engulo o nó em minha garganta, tentando controlar minhas
emoções ao mesmo tempo em que me faz refletir sobre as pílulas que
consumi.
Esfrego a testa ao pensar no uso indevido ou nos fusos horários que
vivenciei nos últimos dias. Talvez Matt esteja enganado, e os exames tenham
falhado. De qualquer forma, mesmo procurando obstáculos negativos para a
gravidez, eu toco minha barriga sorrindo, mas logo transformo minha
expressão em tristeza.
Não sei qual será a reação de Johnatan sobre o assunto, nem mesmo
lhe perguntei sobre construir uma família ao meu lado, muito menos sei se
ele se sente confortável com isso. Tem que ser no momento certo, num
ambiente tranquilo para lhe contar e tomar os devidos cuidados, mesmo que
eu esteja me arriscando no momento.
Agora, não estarei lutando por apenas uma pessoa, mas por duas. E
até que provem o contrário, posso sentir o pequeno ser dentro de mim e a
força que carrego para sobreviver a todo esse inferno. Toco minha barriga,
dando um leve sorriso.
― Ninguém vai machucá-lo, eu prometo. Neste momento, eu vou te
proteger. Nós vamos te proteger ― as palavras arderem em minha garganta
com fervor. Sinto meu sangue ferver, mantendo meu corpo tenso, como se
estivesse protegida por uma parede resistente, a qual somente eu posso
ultrapassar.
50 – ENCONTRO

Depois de conferir se está tudo certo com minhas roupas, sigo até a
saída, dando de cara com Jordyn.
― Oi! ― pisco ao ser pega no flagra.
Ela franze a testa e me olha desconfiada.
― Oi! Bem... Eles já chegaram, temos que ser rápidos ― gagueja,
enquanto ajusto o ponto em meu ouvido.
― Perfeito. Vamos...
― Você está bem?
― Sim ― escondo meu nervosismo. ― Por que a pergunta?
Seu olhar duvidoso me deixa confusa.
― Parece diferente. Não sei... ― engulo em seco, mas logo minha
amiga ri e balança a cabeça antes de seguir para o andar de baixo. ― Queria
te pedir uma coisa...
Observo-a com cautela.
― Hum... O que você quer? ― pergunto desconfiada, enquanto
descemos as escadas.
Jordyn cora, sorrindo abertamente.
― Será que tem a possibilidade de dispensar James e eu quando tudo
isso acabar? ― ela pede sobressalta. ― É claro, se tudo der certo e não
precisarem mais da gente.
Inspiro fundo.
― Está pedindo permissão pra mim? ― faço uma careta.
Depois, paro para encará-la no meio da sala de entrada.
― Você é a senhora da casa. Quando o todo poderoso não está, eu
devo consultar a rainha do deserto ― em meio a tanto conflitos, a garota me
faz rir.
Aceno.
― Fique à vontade, Jordyn, mas espere até a poeira baixar. É bom nos
mantermos atentos ― pondero apreensiva.
― Obrigada, chefa.
― Jordyn! ― repreendo, vendo-a sair correndo.
― Vê se come alguma coisa na cozinha, Donna preparou uma
refeição antes de sairmos ― diz sobre os ombros.
Distraio-me quando Peter se aproxima.
― Espero que dê tudo certo.
― É o que mais desejamos, Peter. Por favor, cuide de Donna e Ian.
Qualquer coisa que dê errado, o sistema irá informá-lo ― peço a ele,
recebendo um aceno confiante.
― Não se preocupe. O K-Shiu já me assegurou dos planos por aqui
― Peter aperta meus ombros. ― Boa sorte!
― Obrigada!
Depois de comer uma refeição reforçada na cozinha, saio da mansão,
já atenta à movimentação de todos pelo campo. Dinka e Cassandra estão
próximos a um helicóptero camuflado, conversando com um homem. Ele usa
roupas escuras e um boné, pelas poucas rugas de expressão, aparenta ter
quarenta anos. Antes de me aproximar, sinto alguém puxar meu braço. Ao
olhar para trás, encaro meu pai dos pés à cabeça.
― Não pense que vai sair sem mim ― dispara rudemente, terminando
de carregar um fuzil.
― O quê? Papai? ― arregalo meus olhos.
― Como assim o quê, menina? Eu sempre disse que iria te proteger.
Agora mais do que nunca não vou te deixar sozinha, e sei que precisarão de
mais ajuda do que imaginam. Isso não é nenhuma brincadeira, filha! ― sua
fúria é justificável, mas no fundo, no fundo, encontro em seus olhos cinza a
preocupação. ― Não vou ficar aqui de braços cruzados pensando no pior.
Sua angústia faz meu coração se apertar e o abraço com força,
deixando-o que me aninhe em seus braços.
― Se eu pedir para ficar será perda de tempo, não é mesmo? ―
murmuro em seu peito.
― Se eu pedisse para você ficar, escutaria? ― rebate.
― Não.
― Então, sabe como nossos gênios funcionam ― seu comentário me
faz rir e o deixo se afastar para seguir os outros.
Estranhamente, impressiono-me ao notar que até meu pai possui um
ponto de ouvido, mas Karoá e Messi não. Agora, não acredito que tenha feito
os dispositivos antecipadamente.
― Shiu? ― eu o chamo, já recebo sua resposta em meu ouvido. ―
Por que Karoá e Messi não têm uma escuta como todos?
― Simples, senhora ― seu orgulho é intocável até mesmo para um
software avançado ―, eles precisam conquistar minha confiança. Ao invés
disso, seguiram com os outros nos setores combinados.
Balanço minha cabeça de acordo.
― Está certo ― pondero pensativa. ― E quanto ao meu pai?
― Ele está usando o do senhor Makgold. Eu autorizei. Edson irá
seguir na área externa para dar cobertura ― Shiu informa.
― Obrigada.
Volto a caminhar em direção a Dinka e Cassandra. Eles me
cumprimentam, enquanto eu observo o homem alto de aspecto forte.
― Olá, Mine! Esse é Marco Bergonzi, ele é o comandante da base
militar. O pai dele é chefe do exército e tem autorização para nos guiar até a
localidade do navio ― Dinka nos apresenta e aperto a mão do comandante.
― Meus amigos me contaram sobre o ocorrido. Tenho dois homens
de confiança fazendo a supervisão da aeronave até o local ― Marco numa
voz potente.
Observo.
― Se conhecem há muito tempo? ― minha pergunta é mais por
precaução.
― Sim, somos praticamente irmãos. Dinka e eu somos amigos desde
quando entramos para o exército. Eu também fui padrinho do casamento de
ambos ― Marco ri, noto Cassandra se encolher. ― Os dois já me ajudaram
muito, então, devo favores a eles.
― Eu agradeço a ajuda. Mesmo assim, não queremos o colocar em
problemas ― digo agradecida.
― Não se preocupe. Tenho anos de experiência e sei como funciona
um campo minado desse tipo. Eu estarei sobrevoando ao redor ― Marco
assegura como um profissional confiante, e volto a agradecê-lo.
Deixo-os se organizarem, enquanto fico entretida com a aproximação
de Lake. Sorrio para o cavalo caramelo ao encarar seus grandes olhos negros
e sinceros.
― Voltaremos em breve. Você e os outros cuidem de tudo por aqui,
ok? ― murmuro e o impeço de se curvar para abraçar seu pescoço.
Por questão de segurança, Nectara pede que eu já coloque um cinto
para a descida nas cordas resistentes assim que chegarmos ao navio; em
seguida, ela me passa luvas de choque específicas, criadas por Shiu. Observo
o tecido de couro, vendo pequenos sinais redondos por onde passam linhas,
os quais carregam as cargas elétricas. Não ouso nem me arriscar acionar o
acessório, não no momento.
Quando todos estão prontos, seguimos direto para o monstruoso
helicóptero e coloco meu cinto de segurança com a ajuda de Matt. Depois,
Shiu reforça as coordenadas para todos antes da aeronave começar a decolar.
O sistema explica, individualmente, o caminho que cada um seguirá.
Eu seguirei para a sala onde Johnatan se encontra. Ao que parece, os
membros da máfia o transferiram para outra área, mas até lá, tenho que tentar
fingir como se fizesse parte da LIGA e estivesse cumprindo funções.
Quando eu chegar à sala, nós teremos apenas meia hora para recuar
devido aos explosivos programado por ele assim que forem colocados na
parte interna onde estão os motores do navio.
Movo minha perna impacientemente, à medida que sobrevoamos para
fora de Queenstown. Escuto Marco e Cassandra darem os comandos de voo e
me distraio com o restante da equipe, preparando seus armamentos. Fico
surpresa ao ver uma bolsa de armas extras entre nós. Logo, recebemos a
informação de que estaremos próximos ao mar em meia hora.
Assim que a água domina nosso campo de visão, encaramos o azul
abaixo de nós.
― Localizamos movimentação próxima! ― Cassandra grita no banco
da frente, e a vejo pegar seu binóculo.
― Parecem querer desviar ― escuto Marco falar desconfiado, ao
mesmo tempo em que observa sua tela de monitoramento fixa no painel; logo
Shiu confirma para todos a hipótese.
Puxo o ar profundamente para conter minha preocupação. À minha
frente, meu pai toca meu joelho em conforto, dando-me seu olhar confiante e
amável. Sorrio brevemente e permaneço à espera até que estejamos prontos
para o ataque.
De repente, o sinal de aproximação é disparado, deixando todos em
alerta. Abaixo de nós está o navio em meio à imensidão do oceano. Com isso,
Shiu já notifica as movimentações na embarcação e vejo Matt, Dinka e meu
pai destravarem suas armas. Por outro lado, Marco nos comunica sobre a
proximidade do navio, na intenção de não prejudicar nossa descida pelas
cordas.
Ajusto meu ponto de ouvido, conectando-me com Shiu. Assim que o
helicóptero se aproxima do convés da embarcação, o sistema nos informa
sobre vigias na área externa. Dinka, Matt e meu pai apontam seus fuzis com
silenciador e atiram quando alguns deles começam a aparecer. Os homens
com fardas pretas caem antes mesmo de tentarem reagir.
Rapidamente, tiro meus cintos de segurança do banco e me preparo
para desder na corda, enquanto escuto Dinka explicar a maneira certa que
devemos agir, por mais que o dispositivo de rapel seja automático.
O navio de carga é maior que imaginei. Aproximo-me da porta aberta,
e, sem ter um comando ou o preparo dos outros, desço pela corta até meus
pés tocarem o solo do navio. Cassandra, Nectara e Jordyn descem em
seguida, e caminhamos, observando o local com atenção. Um homem louro
sai de uma cabine com um armamento potente, pronto para disparar em
direção ao helicóptero e é atingido na cabeça por James no momento em que
desce pela corda.
― Mine, não é melhor tentar entrar pela porta de emergência? ―
Nectara sugere ao meu lado quando notamos a porta de aço fechada, sabendo
que é o elevador principal, o qual dá para os corredores e a outra passagem
mais estreita dá para o segundo andar.
A porta de emergência, por mais que seja a de entrada mais curta, no
momento não seria uma boa escolha, considerando a movimentação de fácil
acesso ao convés. Por outro lado, o balançar do navio não é nada agradável
para mim.
― É melhor vocês seguirem pela outra passagem. Eu vou entrar pela
principal ― afirmo, caminhando à frente. ― Shiu, destrave as portas,
bloqueie qualquer tipo de acesso ou alerta. Mostre que tudo está intacto e
controle as câmeras de segurança.
― Já estou trabalhando nisso. Um deles deu alerta de invasão, mas
não chegou até a parte interna ― escuto-o.
― Ótimo. Agora me guie até Johnatan ― ao entrar no elevador
aberto, observo brevemente o restante da nossa equipe descer do helicóptero
antes da porta se fechar.
No elevador não há botões, muito menos algum painel especificando
o andar exato, por sorte, sinto-me tranquila por Shiu o estar operando.
Depois, assim que as portas se abrem, deparo-me com uma área plena, onde
estão caixotes empilhados e alguns homens distantes, ocupados com seus
afazeres em organizar o estoque.
― Aproveite a distração e siga direto ― Shiu ordena.
Obedeço, caminhando com confiança, sem demonstrar que sou uma
invasora.
― O que há nessas caixas? ― murmuro, até chegar a uma porta dupla
de aço forte.
― Armamentos ilegais ― aguardo poucos segundos, vendo as portas
deslizarem para o lado.
Assim que entro, dou de cara com um corredor branco e vazio.
Depois que as portas se fecham atrás de mim, continuo andando, sempre
atenta a qualquer ameaça.
― Johnatan continua isolado? ― averiguo.
― Sim, em outra sala. Agora, após passar por duas entradas, vire à
esquerda. Em seguida, vá pela direta, lá você encontrará uma escada de
poucos degraus. Caminhe até o final do corredor e vire à direita novamente.
É onde você vai encontrar um espaço amplo com pouca movimentação.
Então, deverá seguir para um corredor com a luz azul ― o sistema explica
tão rapidamente que noto precisar me concentrar ainda mais em suas
coordenadas.
― Johnatan está sozinho? ― preciso me preparar para não ser
surpreendida.
― Há dois vigias na porta ― inspiro nervosa só de pensar no que
deve estar acontecendo. ― Alguém ordenou que um membro fosse até a
câmera fria.
Lembro-me disso no mapa, mas não achei que fosse algo necessário,
não até agora.
― Para quê? ― murmuro sobressalta não pela informação, mas, ao
chegar ao espaço amplo, vejo Zander caminhar em passos firmes em direção
ao corredor da luz azulada.
Disfarçadamente, giro meu corpo em direção a outro setor para que
ele não me veja e sigo uma mulher ruiva de óculos com um jaleco. Estranho,
penso.
― Senhora Makgold, está indo na direção errada ― o sistema me
repreende como um GPS irritante. Ignoro, sabendo que a tal câmara fria
segue pela direção oposta da sala onde Johnatan se encontra.
Algumas pessoas com fardas passam por mim, enquanto finjo ser o
guia da mulher distraída, e as deixo seguir sem lhes dar um sorriso sequer,
sabendo que nenhum deles são corteses uns com os outros. Em seguida, a
ruiva para em frente a porta da câmera fria, na qual acessa o código e
rapidamente entra, sem me notar.
Disfarçadamente, aguardo ao lado da porta, observando-a pela fresta
de vidro se mover às pressas, colocando alguns frascos junto com as seringas
em um carrinho auxiliar. Pelo breve vislumbre que tive do local, não me
surpreenderia que aquilo fosse feito para medicamentos ilegais.
Coloco minhas luvas, pronta para a saída da mulher. Assim que
acontece, surpreendo-a por trás e aperto seu pescoço, ao mesmo tempo em
que impeço que a câmera se feche. Seu corpo estremece violentamente com o
choque e a escuto engasgar antes de cair no chão. Antes de empurrá-la para
dentro da câmera fria, retiro, às pressas, seu jaleco e os óculos, encontrando
em um dos bolsos uma estranha chave de três pinos e volto a guardá-la no
lugar, junto com minhas luvas elétricas.
― Shiu, desative a refrigeração do lugar e o código de acesso da
entrada e saída ― peço, assim que a porta se fecha, notando, pelo controle de
acesso, que a entrada de ar fria foi desligada.
No fundo, não acho que a mulher seja uma ameaça, já que a pouca
reação, tanto distraída, quanto embraçada, me fez refletir se ela foi obrigada a
fazer aquilo, mas, principalmente, porque em sua carteira, escondida em um
dos meus bolsos diz seu nome e a profissão de enfermeira em um asilo de
Queenstown. Por outro lado, não sei por quanto tempo ela permaneceu ali.
Olho ambos os lados ao caminhar disfarçada, deixando a ruiva
desacordada para trás.
― Ótimo disfarce senhora ― Shiu elogia.
― Como estão os outros? ― pergunto, retomando o caminho e
empurrando o carrinho até finalmente chegar ao corredor da luz azul.
― Dinka e James estão tentando controlar um batalhão. Messi e
Edson estão dando cobertura externa. Matt e Karoá estão a caminho da
entrada, pensando em se separar para despistar os vigias. Quanto à
Cassandra, Nectara e Jordyn? Elas estão à sua volta ― franzo a testa, mas
logo me distraio ao escutar alguém se sufocar.
Atrás de mim, vejo Cassandra matar um homem e o arrastá-lo para
longe.
Assim que chego à área da luz azul, avisto dois vigias no final do
corredor. Enquanto me aproximo, eles se afastam para minha entrada. Engulo
em seco e abro a porta quando é destravada por Shiu. Para minha surpresa, o
lugar é como uma cópia idêntica à cabine de interrogatório na Colmeia.
Exceto pelo fato de que há pouca iluminação e a sala principal é o único local
escuro.
Inspiro fundo e disfarçadamente, empurrando o carrinho até o canto
da parede. Há um aparelho ligado com luzes acessas como se estivesse em
volume de nível máximo. Uma entrada abrupta me faz erguer o corpo
rigidamente, mas mesmo sem olhar para trás, imagino que mais de uma
pessoa está na cabine.
― Ele parece reagir bem ― escuto uma voz rouca indagar e me
afasto, fingindo preparar a seringa depois de colocar as luvas descartáveis.
Um homem acima do peso vai até o aparelho e me seguro para não
buscar informações com Shiu.
― O aparelho é desconhecido não está conectado com o sistema ― o
sistema responde minhas perguntas silenciosas em meu ponto, engulo meu
nervosismo. ― Não há cabos de entradas.
― Me deixe sozinho com ele ― reconheço a voz de Zander, enquanto
permaneço em meu lugar apenas escutando.
― Mas, senhor... ― o homem tenta persuadir.
De repente, seguro minha respiração quando escuto o tiro estrondoso
atrás de mim. O corpo pesado do homem cai aos meus pés.
― Você! Ande logo com isso! ― Zander ordena para mim com
petulância.
Controlo minha fúria ao vê-lo entrar na sala de interrogatório.
Uma dupla de vigias entra na sala, carregando o homem morto fora
dali. Eu não quero nem imaginar o que eles são capazes de fazer para se livrar
do cadáver. Minha intuição não dura muito tempo, pois assim que giro meu
corpo, arregalo meus olhos. As luzes foram ligadas e Johnatan está sentado
em uma cadeira de aço com os braços presos. A blusa branca de gola V cola
em seu corpo molhado, assim como alguns fios de seu cabelo úmido em sua
testa. Noto que em seus ouvidos há um fone.
Quando Zander para à sua frente, vejo os olhos febris de Johnatan se
abrirem numa fúria intensa, posso até mesmo imaginar o quanto sua
respiração está extremamente sufocada. Estremeço.
― Shiu, peça para alguém despistar os dois vigias do lado de fora ―
sussurro depois de apertar o ponto em minha orelha para me conectar,
enquanto observo Johnatan pelo vidro, não fazendo ideia do que ele está
escutando.
Suas mãos apertam o descanso de braço e nem mesmo consigo
escutar o que Zander diz, pois, a sala é a prova de som. A mandíbula de
Johnatan trava com firmeza, enquanto fecha os olhos com força, seu rosto
está um pouco corado, como se tivesse sido agredido recentemente.
Estranhamente, a luz é apagada de novo e, rapidamente, sigo para dentro da
sala, empurrando o carrinho de cabeça baixa.
― Vamos para minha parte favorita? ― o tom malicioso na voz de
Zander me assombra.
Em seguida, no canto inferior da parede à frente de Johnatan, vejo um
televisor com uma gravação antiga. O vídeo parece ligado junto com o
aparelho da cabine. Meu espanto maior é quando Zander avança as cenas e
aumenta o volume.
― JOHN!!! ― tanto a voz da criança quanto da mulher são
horripilantes. Meu corpo vibra só de assistir à cena.
No vídeo, vejo um garoto caído no chão, de onde tenta inutilmente se
levantar, enquanto é cercado por homens que o agridem com brutalidade. O
garoto se arrisca em lutar, mas é interrompido no mesmo momento em que
sua mãe e sua irmã também o são. Quando a câmera corta para a criança e a
mulher sendo atacadas por outros homens, fecho meus olhos. É a cena mais
triste, mais revoltante, mais horrível que já vi em toda minha vida.
Ao escutar a risada de Zander, meu sangue ferve por sua falta de
compaixão. Não satisfeito, ele aumenta ainda mais o volume, fazendo
Johnatan soltar um rosnado doloroso. Viro-me quando Zander desliga o
televisor, deixando tudo escuro novamente, mas ainda com as vozes muito
familiares para Johnatan num replay infinito.
Agora, mais do que nunca, eu posso entender seu ódio, posso
entender como não conseguiu reagir para ajudar sua família. A raiva cresce
dentro de mim e me dou conta de que Zander, impaciente, aproxima-se em
minha direção depois de ordenar algo que não escutei, mas só percebo que
segurava o carrinho com força quando o arremesso às cegas, atingindo o
bastardo infeliz que cambaleia.
Sem lhe dar chances para reagir, alcanço a bandeja pesada do chão e
volto a agredi-lo, mas antes que isso aconteça, sinto-o puxar a bandeja da
minha mão e jogá-la para longe. O barulho é oco por baixo dos gritos dos
vídeos. Preparo-me concentrada, lembrando-me dos treinos que já tive no
escuro na Colmeia. Quando pressinto que está prestes a avançar, recuo e, no
mesmo momento, eu me abaixo para golpear sua perna brutalmente, fazendo-
o cair. Imediatamente, ordeno que Shiu ligue as luzes.
― Você! ― Zander olha-me com fúria ao tentar se levantar.
Percebo que os machucados em seu rosto não foram causados só por
mim, no momento em que atingi o carrinho, há outras feridas recentes. Por
outro lado, ele não parece surpreso com minha presença. Seus olhos cor de
gelo são frios e cheios de ódios. Tenta me atingir, mas sou rápida e bruta,
aproveitando que está de joelhos, para golpear sua cabeça com um chute,
onde cai para trás desacordado.
Rapidamente, corro até o televisor, arrancando os cabos. Inspiro
aliviada pelo súbito silêncio e logo vou até Johnatan para soltá-lo, notando
que as entradas das travas são do mesmo formato da chave que achei no
bolso do jaleco.
De repente, assim que retiro os fones de seu ouvido e o jogo para
longe, Johnatan, com os olhos apertados, se lança como um leão selvagem
em minha direção e afasto seus punhos fechados em socos diretos até sentir
meu corpo grudar-se contra a parede.
― Johnatan... Não! ― peço desesperada e o abraço com força.
Sinto seu corpo enfraquecer imediatamente; em seguida, seus braços
me seguram como se eu fosse sua salvação.
― Minha Roza. Você está aqui! ― o alívio em sua voz aperta meu
coração.
Eu o abraço com força, desejando tirar as imagens horríveis que
tornou a presenciar.
― Sim... ― digo ao me afastar para encher seu rosto de beijos até
encontrar seus lábios. ― Não poderia ficar de braços cruzados. Por que não
me disse seus planos?
Lentamente, seus olhos se abrem um pouco apreensivos.
― Já se arriscou demais estando aqui. Tenho que te manter longe
disso.
― Lá se foi a tranquilidade ― reviro os olhos e me encolho ao
receber seu olhar repreendedor. ― Certo, temos que ir. Já adianto que não
temos muito tempo.
― Sim. Shiu está operando? ― ergo minha sobrancelha para ele.
― Pergunto-me por que não me disse isso antes também? ― saio de
seus braços, deixando-o se afastar.
― Tudo aconteceu rápido demais ― Johnatan responde, verificando
os bolsos das roupas escuras de Zander para pegar as armas, olhando o corpo
do bastardo com ódio.
― Em casa conversamos sobre isso, senhor meu marido. Agora, não
se preocupe com ele. Em breve, esse navio vai afundar ― para minha
surpresa, noto um sorriso perverso em seus lábios.
― Só você para me tirar do inferno em que me encontro, amor. Estou
orgulhoso ― meu coração dispara aquecido por seu elogio.
― Você está bem? ― pergunto ao sairmos da sala de interrogatório e
seguirmos direto para a saída da cabine.
Johnatan fecha os olhos brevemente.
― Por enquanto, não quero pensar nisso. Não há tortura pior do que a
que acabou de acontecer ― desabafa e toco sua face um pouco corada.
― Te machucaram.
― Isso não é nada do que senti ao relembrar o passado. As
provocações de Zander não me atingiram tanto quanto aquilo ― confessa,
inspirando o perfume em meu pulso.
― Eu sinto muito. Não pensei que fosse tão... É melhor irmos ―
balanço minha cabeça, não querendo ver a tristeza em seus olhos e deixo que
abra a porta para que eu saia primeiro, agradecida pelos vigias não estarem
presentes.
Antes de Johnatan sair, ele observa a porta atentamente. Franzo a testa
quando aponta para um pequeno sensor no teto, o qual se reflete para as luzes
azuis. Toco o ponto em meu ouvido para me conectar com Shiu.
― Shiu, desative... ― Johnatan ergue seu dedo me interrompendo.
O alarme ensurdecedor dispara por todos os lados.
― E bom mantê-los em alertas. Quanto tempo, temos? ― Johnatan
pergunta.
Engulo em seco, eu não esperava por aquilo.
― Meia hora ― respondo com a mão na barriga.
Johnatan percebe o movimento, meu sangue gela.
― O navio está te deixando enjoada? ― sua observação faz meu
sangue gelar.
Nego com a cabeça relutante.
Um grupo de homens armados se aproxima e corremos quando os
disparos são feitos em nossa direção. Não é nada parecido com o que tivemos
que enfrentar no subterrâneo. Há mais homens aqui do que no prédio. Eles
disparam sem hesitar. Quando corremos para outro corredor oposto, mais
grupos aparecem e nos afastamos para proteger nossos corpos. Johnatan
destrava a arma já atirando, enquanto eu arranco três pequenas facas da
minha manga e arremesso.
― POR AQUI! ― escuto Dinka gritar no final do corredor e o
seguimos.
Cinco homens nos interrompem e Johnatan luta com dois deles,
enquanto Dinka mata o restante. Pela minha visão periférica, vejo um outro
indivíduo se aproximar, atento, e rapidamente cravo uma das minhas facas
em direção à sua mão, sabendo que ele estava prestes a atirar em Johnatan.
Dinka o mata com um tiro na nuca.
― Estamos cercados ― Shiu informa no ponto e Dinka me observa
perplexo.
Mesmo exasperado, Johnatan consegue nocautear outro homem,
jogando-o no chão brutalmente. Impressiono-me ao perceber que lutou com
mais de três ao mesmo tempo, é bem provável que apareçam mais deles.
Minha teoria só dura meio segundo quando mais tiros disparados me fazem
curvar e correr até outra parede para me proteger. Assim que Johnatan fica à
minha frente, assusto-me com seu braço machucado.
― Te acertaram ― digo sem fôlego.
Johnatan olha para seu braço esquerdo.
― Só foi de raspão ― seu olhar me examina para ver se eu também
estou ferida.
Mal temos tempo e os tiros contínuos me deixam em alerta, enquanto
Dinka consegue acertar mais deles com agilidade, dando-nos cobertura.
― É melhor seguirem reto. Eles estão bloqueando as saídas ― Dinka
desconfia.
Assentimos de acordo, logo Johnatan se mantém à minha frente como
proteção, mas, de repente, somos surpreendidos por uma arma apontada.
― Você vem comigo ― Karoá dispara, fazendo meus olhos se
arregalarem.
51 – DUELO

Penso em sacar minhas espadas, porém o movimento repentino no


momento não seria uma boa ideia, por isso, eu me atento para a outra arma
reserva nas costas de Johnatan e, antes de puxá-la, Karoá me olha em alerta.
― É melhor não fazer nenhum movimento. Não pensaram que estaria
nessa com vocês, pensaram? Charlie me contratou para ter esse propósito de
conseguir trazê-los para cá ― Karoá sorri abertamente, ao mesmo tempo,
satisfeita com o serviço. ― Foi muito fácil subornar Camille antes de vocês a
deixarem jogada nas ruas de Montreal.
― Eu sabia! ― escuto o sistema rosnar em meu ouvido.
De repente, as portas de segurança são fechadas, separando a equipe
de nós. Karoá observa intrigada, sem abaixar sua arma. Batalhões de vigias
mascarados nos cercam com seus fuzis apontados. Engulo em seco, não
quero nem imaginar o que esteja acontecendo na parte externa.
― Senhora Makgold, a equipe está se separando. Será mais fácil
espalhar os membros para conseguirem chegar até vocês ― tento controlar
meu nervosismo quando olho ao redor.
Karoá apenas nos observa, como se fôssemos um troféu.
― Então, conseguiu se infiltrar só para nos trazer aqui? ― fico atenta
aos homens que nos cercam.
― Sim! Veja? Não foi tão difícil. Vocês confiaram tanto em mim ―
a traidora sorri satisfeita. ― Quanto a Messi? Ele foi apenas uma carta fácil
do barulho. Vocês são o que o meu Mestre precisa ― aperto meus dentes só
de escutá-la.
A risada zombeteira vinda da garganta de Johnatan nos surpreende.
― E pensou mesmo que eu viria para cá tão facilmente? ― Johnatan
diz num tom mais sombrio, aproximando-se até a arma de Karoá grudar-se
em seu peito, fazendo-a se afastar. ― Saiba que antes de você preparar a
massa, eu já estava com o pão pronto para comer. Não consegui dados da
LIGA à toa, e muito menos invadi lugares sem ter uma pesquisa de perfis
concretos.
Karoá sorri ao assentir.
― Bem, usamos um ao outro ― sorri.
― Não. Você se usou, é isso que Charlie faz. Manipula pessoas e
depois as descarta. ― Nisso meu marido tem razão, eu me seguro para não
aplaudir.
― Meu Mestre jamais faltaria com sua palavra ― Karoá ergue sua
sobrancelha.
Logo, ela se assusta, assim como todos, quando algumas estruturas do
navio começam a ranger, em seguida, para. Me pergunto se as bombas já
começaram a danificar alguns motores. Volto minha atenção alarmada para
meu marido.
― Duvido muito ― Johnatan garante ao observar o batalhão
destravar suas armas em ameaça. ― Ele não liga para a vida de ninguém. Só
que o seu pior erro, em vez de se meter apenas no meu caminho, foi ter
arriscado a vida da minha esposa até aqui.
Num movimento rápido, Johnatan afasta a mão armada de Karoá com
um soco, fazendo-a grunhir de dor, depois, puxa seu corpo como uma boneca
em trapos, quebrando seu pescoço num golpe certeiro. A mulher cai no chão
sem vida, com os olhos arregalados.
Rapidamente puxo o braço de Johnatan na tentativa de nos afastar
quando os homens ficam prontos para atirar. Só que, para meu espanto,
alguns vigias atiram uns contra os outros. Johnatan me mantém atrás de seu
corpo quando um deles se aproxima.
Ele é alto e, pela roupa, aparenta ser forte, destrava seu fuzil,
deslocando sua mira para atirar. Ao olhar para atrás, assisto a um homem
com farda cair morto. Antes que Johnatan o ataque, vejo-o erguer sua mão
em rendição assim que solta seu fuzil. O desconhecido afasta seus óculos
acima do capacete junto com a máscara de filtro de boca para revelar seu
rosto.
Não muito amigável, mas sério, seus olhos claros transmitem
seriedade e foco. A barba por fazer demonstrar ser um homem maduro, mas
de, algum modo, é jovem e de poucos sorrisos. Ele olha em direção a
Johnatan, de maneira confiável, antes de se aproximar para estender sua mão.
― Olá, senhor Makgold. É um prazer conhecê-lo ― sua voz pacífica
e, ao mesmo tempo, cansada, surpreende-me muito mais que alguns dos
comandos de homens atrás dele para seguirem as ordens.
Johnatan franze a testa e estende sua mão, apertando-a.
― Daniel Halloper! ― saúda, chocando-me cada vez mais.
Daniel pisca seus olhos claros e me olha, dando-me um aceno com a
cabeça.
― Senhora Makgold! ― cumprimenta-me, mas sem se aproximar.
No momento, sinto-me perplexa com a situação.
― Desculpe chegar dessa forma ― lamenta, depois de dar rápidas
instruções —com apenas acenos de dedos para os lados norte e sul — para os
homens armados. ― Como podem ver, agora não tenho tempo para me
explicar. O que digo é que faço parte de uma operação secreta que está atrás
da LIGA há muitos anos. Sou um agente e há mais equipes comigo. O FBI e
a SWAT se juntaram a nós para ajudar na causa.
― Você é agente? Espere... Sobrinho de Messi? ― estou tão surpresa
que mal consigo coordenar meus pensamentos.
Johnatan apenas observa um pouco confuso.
― Sim, mas só faço operações secretas. Longe de escândalos para
não chamar atenção e nem assustar a população ― informa como um
profissional. ― Vejo que também possui uma equipe, senhor Makgold. Eu
me impressionei que até mesmo alguns membros da LIGA recuaram para
defendê-los. Tem um ótimo pessoal ― a notícia de ter alguns membros da
máfia nos ajudando me surpreende.
― Você disse que não temos muito tempo ― Johnatan dispensa os
elogios de Daniel, fazendo-o acenar.
Em parte, meu marido está certo, mas seu tom rude para com o agente
me passa uma vontade de lhe ensinar boas maneiras. Logo, distraio-me com o
sistema em meu ouvido:
― Temos aliados ― em seguida, ele me passa as últimas
informações.
― Parece que sua equipe de trezentos homens se dividiu no lado
externo e interno para controlar os membros da máfia. Trinta mergulhadores
colocaram explosivos ao redor do navio, e, além da nossa equipe, dez
programaram bombas na parte interna. Um explosivo já foi ativado na parte
superior. Com a mudança de tempo, temos apenas quarenta minutos para
sairmos daqui antes que o navio afunde ― digo exatamente tudo que Shiu me
informa e vejo Daniel me observar surpreso.
― Como sabe... ― ele franze a testa desconfiado.
Ergo minha sobrancelha para o agente.
― Assim como você, também possuímos nossas ações sob controle
― brevemente noto Johnatan esconder seu sorriso.
― Impressionante. Precisamos ir ― Daniel se apressa ao escutarmos
a aproximação de mais inimigos.
― Temos que nos separar, há outros para nos dar cobertura ―
Johnatan reflete brevemente. ― Mas uma boa parte da LIGA pode nos
bloquear e podem haver pessoas infiltradas dizendo-se aliadas. Nesse caso, é
melhor não confiar ― explica, apontando o queixo para o corpo de Karoá
como exemplo.
Daniel concorda e olho para Johnatan.
― Você não está pensando...
― Vá com ele e esteja fora daqui ― sua ordem me faz encará-lo
friamente.
― Nem pensar!
Johnatan trava sua mandíbula. Daniel se afasta para ordenar algo pelo
rádio para seus homens que se aproximam, na intenção de nos dar um pouco
de privacidade.
― Você já fez o bastante até aqui. Arriscou-se demais, agora tem que
saber a hora de recuar e eu não quero que nada te aconteça. Vou me encontrar
com você daqui alguns minutos. Só preciso que saia daqui, enquanto ordeno
que todos recuem ― Johnatan dispara sem me dar chances de protestar,
enquanto pega o ponto do meu ouvido, colocando-o no seu. ― Shiu?

― Não pode fazer isso. Se for para sair daqui, vamos sair juntos ―
retruco, mas engulo em seco quando Johnatan me encara com os olhos sérios.
― Eu mandei você ir com eles. Estarei com você em alguns minutos.
Será que é difícil para você entender que estarei mais preocupado com você
aqui? ― sua bronca é como um tapa na minha cara.
Em seguida, Johnatan suspira e toca meu rosto.
― Amor, por favor. Eu sei o quanto você quer me ajudar... Acredite,
você me ajuda sempre. Mas, às vezes, é preciso pensar como nos sentimos
quando não podemos nos proteger, sabendo que tudo está um caos e o tempo
corre às pressas. Essa é nossa chance de estarmos livres.
Seguro meu choro e inspiro fundo, enquanto olhos em seus olhos.
Pior seria se eu revelasse... Balanço minha cabeça ao me dar conta da minha
situação.
― Certo ― digo relutante. ― Mas entenda que não vou me sentir
nada bem sabendo que continua aqui dentro ― deixo-o me abraçar e beijar
minha testa.
― Eu prometo estar com você em breve ― garante antes de beijar
meus lábios ternamente. ― Faremos o seguinte, nós nos encontramos no
andar superior, você viu o mapa desse lugar. Lá tem uma espécie de galpão
que dá direto para a saída. É mais seguro e com pouca movimentação ― de
algum modo, Johnatan tenta não ser tão duro comigo.
Afasto-me com os lábios apertado, evitando de olhá-lo, mas é
impossível, pois ele também me observa com a mesma intensidade. Antes
que eu dê mais um passo à frente, onde Daniel me aguarda, volto correndo
para Johnatan e o abraço com força. Seus braços me seguram, fazendo meus
pés saírem do chão. Acaricio seu rosto e sorrio ao ver seu sorriso tranquilo.
― Eu te amo! ― sussurro ao beijá-lo com amor.
― Não tanto quanto eu amo você, minha Roza ― sussurra em meus
lábios.
Relutantemente nos separamos. Em seguida, volto a caminhar até
Daniel, sem olhar para trás.
O agente me dá cobertura, enquanto mais membros da LIGA se
aproximam. Um deles me surpreende, mas o golpeio com um chute no joelho
e empurro sua arma para longe. Antes que eu o nocauteie, Daniel o mata.
Frustrante.
O tremor do lugar volta, dessa vez com mais força, e tento me
encostar na parede. Pulo para o lado quando a estrutura do teto cai entre nós,
separando-nos. Logo, as luzes do navio começam a falhar, deixando-me
preocupada.
― Senhora Makgold?! ― Daniel chama em alerta, e tusso pela
poeira.
― Eu estou bem ― asseguro, mas não consigo vê-lo.
A movimentação do navio já começa a me dar náuseas.
― Caminhe à frente, vou encontrá-la em breve. Por favor, tenha
cuidado ― o agente pede e corro sem perder minha atenção às ameaças ao
redor.
Até que outro vigia corre em minha direção; mesmo machucado, ele
está desesperado. Mantenho meu corpo firme, tendo o cuidado ao me mover.
Tenho um vislumbre dele arrancar de suas costas dois machados. Defendo-
me para não ser atingida, observando sempre os pontos precisos para abordá-
lo.
Seria arriscado demais serpentear por seu corpo como eu gostaria, por
isso, aproveito uma brecha da sua distração, com seu machado cravado na
parede, para golpear sua costela com um chute violento. Ele grunhe numa
língua diferente e desiste dos machados para lutar comigo.
Afasto uma de suas mãos frenéticas e puxo a outra para quebrá-la,
num giro impulsionado pelo meu corpo, escutando-o gritar de dor antes de
cair. Aproveito sua impotência para agarrar seu cabelo e chocar sua cabeça
contra o chão, deixando-o desacordado. Rapidamente, alcanço o outro
machado, que está no chão, e me atento ao raso vazamento de água que se
aproxima. Assustada, volto a seguir meu caminho.
― SOCORRO! ― um grito me faz parar abruptamente e encarar um
pequeno corredor com luzes falhando entre o teto rachado.
Caminho devagar, atenta aos barulhos de objetos caindo no chão.
Detenho-me na entrada para espiar. Zander mantém Jordyn presa em suas
mãos, apertando seu pescoço e arremessando-a para longe.
― Onde está seu chefe?! ― o ódio de Zander é mais explícito do que
antes.
Jordyn puxa o ar com força e luta contra Zander quando ele volta a se
aproximar para machucá-la. Seus golpes ágeis parecem leves, entretanto o
infeliz está alheio aos seus movimentos. Quando derruba Jordyn com
violência mais uma vez, assisto-o caminhar com um sorriso zombeteiro e
pegar uma espécie de adaga longa que estava caída no chão.
Aperto o machado em minhas mãos pronta para arremessá-lo, mas
sou distraída com a chegada de James que o afasta numa luta bruta. Zander
não recua, mantendo sua atenção em matar Jordyn, que tenta se manter de pé.
James grunhe ao impedi-lo, enquanto Zander aperta a adaga com força,
movendo-a em direção a Jordyn.
Alarmada com a situação, arremesso o machado que seguro de uma
vez. Para meu espanto, Zander pega a tempo e retorna o machado para mim.
Abaixo-me rapidamente, vendo o machado cravar contra a parede acima da
minha cabeça. Inutilmente, mesmo se eu for arremessar minhas facas ou um
dos meus dardos, isso não vai fazê-lo parar e eu me arriscaria demais se
lutasse com ele junto com minhas espadas.
― NÃO! ― o grito fino de Jordyn me dá calafrio.
Ao levantar meu olhar estremeço dos pés à cabeça com James
encarando Zander com os olhos arregalados. Zander puxa a adaga
atravessada na barriga de James antes de empurrá-lo para o chão. James tosse
sem qualquer reação e Jordyn corre para socorrê-lo.
― PARE! AGORA! ― ordeno com rancor, levantando-me sem
pensar para mantê-lo longe de Jordyn.
Quando vejo voltar a erguer a adaga ensanguentada para atingir
Jordyn, saco meus cabos e os fixo em cada lateral de seu tronco, acionando as
lâminas, ouvindo o rasgar de sua carne interna. Os movimentos de Zander
param por ali, o sangue escorre de sua boca assim que me olha nos olhos sem
nenhum remorso, mas é quando me dou canta de que ele usa o pouco do seu
tempo para virar a adaga para mim.
Em seguida, eu me assusto com um tiro alto, que empurra sua cabeça
bruscamente para trás. Ao olhar atrás de mim, vejo Daniel abaixar sua arma.
Eu sinto meu corpo gelado assim que recuo minhas lâminas e vejo Zander
cair de costas com um tiro na cabeça, o sangue que se espalha é como uma
possa horripilante.
Olho para meus cabos em minhas mãos trêmulas ao pensar que, pela
primeira vez, matei alguém e rapidamente guardo-os no lugar, assim que me
distraio com a presença de Daniel à minha frente. Puxo o ar com força, pois
não tenho tempo de assimilar tudo e corro para James.
― James, aguenta mais um pouco, temos que sair ― Jordyn pede em
desespero e me olha com os olhos cheios de lágrimas. ― Não podemos
deixá-lo aqui!
James tenta falar algo, mas apenas tosse e tenta puxar o ar. O sangue
encharca sua roupa. Seu rosto perdeu toda a cor e seus olhos piscam,
lentamente enfraquecido.
Acaricio seu rosto na tentativa de conter minha aflição.
― Você vai ficar bem... ― minhas palavras estremecidas são
automáticas.
― Temos que ir ― Daniel nos lembra e o encaro com lágrimas nos
olhos.
― Tem que nos ajudar a tirá-lo daqui ― imploro, vendo-o recuar.
― Senhora Makgold, essa não é minha função. Ele não vai
sobreviver.
Eu quero brigar, quero protestar, quero exprimir toda minha revolta,
mas não há forças em mim diante da situação.
― E quem é você para dizer algo assim?! Nós nunca deixamos um
membro da equipe para trás. Dane-se suas funções! Se ele ficar, eu também
fico! ― Jordyn grita com ódio.
Tento tocar seu ombro, mas ela recua para abraçar James em
desespero. Olho para cima, vendo Daniel observar a cena com relutância.
― Você consegue carregá-lo. Ele precisa mais de proteção do que eu
― peço sem qualquer esperança.
Daniel solta um suspiro exasperado.
― Se quer que eu ajude... Me dê licença ― dispara em tom ríspido.
Jordyn se afasta e deixa que Daniel cuide de James, amarrando uma
cinta firme acima da ferida. O agente se esforça ao máximo para colocar
James em seu ombro e Jordyn o ajuda com cuidado. Depois, eu o escuto
informar sobre o ferido em seu rádio, enquanto o seguimos para fora,
deixando Zander morto para trás, em sua poça de sangue.
Homens da equipe SWAT se aproximam para ajudar Daniel com
James. Jordyn os segue, e caminho preocupada com as luzes falhas. Nós nos
seguramos quando o navio volta a estremecer bruscamente, o som das
estruturas é ainda mais assustador.
― SAIAM DAQUI! ― Daniel grita, de repente, quando mais
membros mafiosos aparecem, atirando incansavelmente.
Uma explosão na entrada ao meu lado faz Daniel me empurrar
gentilmente para o chão e me proteger.
― MINE! ― escuto a voz de Jordyn ao longe.
Não enxergo ninguém devido à fumaça, mas prendo a respiração para
não a inspirar, o zumbido em meu ouvido me deixa incomodada. Sigo às
cegas, puxando minha blusa para meu nariz e não encontro Jordyn. Corro
ligeiramente, sabendo que me perdi deles e tento me lembrar de em qual setor
me encontro. Assim que me livro da fumaça, solto a respiração e avisto uma
escadaria para uma área superior. Sigo até ela, deparando-me com o galpão
que Johnatan havia mencionado.
É como na planta que vi no sistema. O lugar tem um centro aberto e
posso escutar, mesmo de longe, o barulho de helicópteros e as explosões.
Meu desespero parece inacabável ao me preocupar em como está o restante
da equipe, bem como Johnatan.
Caminho pelo galpão amplo até chegar ao teto aberto. O lugar
conservado é equipado por pilhas de canos e barrar extensas de ferros
potentes que se prendem apenas por correntes nas laterais. Franzo a testa,
lembrando-me sobre os tais armamentos e talvez boa parte da produção seja
relacionada a isso. Em seguida, atento-me para um movimento de uma porta
sendo fechada. Olho em alerta e vejo Johnatan se aproximar com cautela. O
alívio me invade imediatamente.
― Mine... ― ele diz como se tirasse um peso de suas costas, dando-
lhe conforto.
Sorrio emocionada e corro até ele, pronta para despejar todas as
minhas inseguranças, mas sou interrompida por um tiro em meu ombro,
fazendo-me cambalear e cair para o lado. Apoio-me no chão, em choque, ao
ver a bala cravada em meu colete. Olho na direção em que ocorreu o disparo.
Alguém se aproxima, jogando algo no chão e batendo palmas. Johnatan rosna
e fica imóvel.
Charlie Makgold aparece na luz, revelando seu sorriso para Johnatan.
Ele nem mesmo parece ter tido problemas devido ao caos que se encontra em
seu navio. Suas roupas escuras e seus sapatos engraxados parecem intocados.
Claro, são suas marionetes que fazem isso por ele.
― Como é bom te encontrar depois de tantos anos ― Charlie admite
com petulância. ― Como vai, filho? E você, minha nora? Parece bem melhor
depois da última vez que a encontrei ― a malícia em sua voz faz meu
estômago se embrulhar.
― Não dirija a palavra à minha esposa. Você não tem esse direito ―
Johnatan dispara, os pelos da minha nuca se arrepiam por sua frieza. ― E
quanto a mim? Estou pronto para acabar com você.
Charlie ri assentindo. Querendo ou não, ambos se aparecem
fisicamente.
― Estou esperando por isso ― o ódio em meio às suas palavras são
explícitas.
Johnatan mantém os olhos em chamas no pai. Engulo meu pânico e
sinto minhas pernas tremerem com o reencontro. Johnatan não responde, mas
sua expressão é a mais sombria que já presenciei. Não há qualquer tipo de
piedade, muito menos compaixão. É como se fossem dois inimigos muito
poderosos que precisam ser eliminados.
Sem que eu espere, ambos avançam, depois de recarregarem suas
armas, mas, antes, lutam com velocidade, atingindo um ao outro com golpes
fortes e brutais. Johnatan não esconde sua raiva, rosnando e não deixando que
seu pai o provoque com palavras sujas. De repente, eu me assombro quando
levantam as armas, parando-as uma contra a testa do outro, prontos para
dispararem.
― ATIRA! ― a ordem firme e furiosa de Johnatan me faz
estremecer.
Meu coração se desespera ao assistir ao duelo.
52 – OLHO POR OLHO

O ódio nos olhos de ambos é tão notável quanto fatal. Aperto meus
olhos, enquanto eles apertam o gatilho. De imediato, escuto apenas um clique
das armas descarregadas. Pisco surpresa, mas antes que meu alívio tome
conta do meu corpo, Charlie acerta uma coronhada na cabeça de Johnatan,
afastando-o e jogando sua arma para longe.
Assim que Johnatan se recompõe, ambos circulam, de punhos
cerrados, antes de se atacarem numa luta livre. Meu coração se amedronta ao
presenciar a brutal briga entre pai e filho. Eles conseguem acertar um ao
outro com golpes rápidos, profissionais e, ao mesmo tempo, violento. É uma
verdadeira luta de inimigos em um campo perigoso. Os acertos estalados e o
grunhido raivoso de cada um me fazem estremecer no chão e me encolher.
Outra explosão, dessa vez mais próxima e forte, faz o chão sacudir no
momento em que me seguro em meu lugar ao tentar me manter de pé.
Johnatan e Charlie não se importam com o ocorrido. Como se aquilo fosse
incapaz de afastá-los depois de tantos anos, reflito horrorizada.
Meu medo se intensifica ainda mais, quando Charlie derruba
Johnatan, mantendo-o de joelhos, pronto para matá-lo, mas meu marido
revida com a mesma fúria, atingindo uma das pernas do pai com o cotovelo e
a lateral da mão, não permitindo que Charlie seja mais forte que ele. O golpe
é tão forte, que me faz saltar para trás e me assustar com um corpo de um
vigia morto próximo à pilha de ferros.
Controlo meu estado emocional, pois devo agir rápido antes que o
pior aconteça. Distraio-me por um minuto ao escutar o rosnado furioso de
Charlie. Ele parece frustrado, enquanto os dois voltam a circular, avaliando o
ponto mais fraco do oponente.
― Olhe só para você. É como eu, não se abate tão facilmente ―
Charlie articula sem fôlego e afasta o sangue que escorre de sua boca
machucada.
Assim como ele, Johnatan também tem o rosto corado, mas com
machucados superficiais.
― Não me compare a alguém tão desprezível feito você ― Johnatan
arfa em tom firme, sem perder qualquer controle do seu corpo rígido.
― Você é meu filho. Tem meu sangue. E... muitas coisas que me
pertencem ― o mafioso infeliz dispara no mesmo tom do filho. ― Johnatan,
Johnatan. Se tivesse se juntado a mim...
― E me transformado como Zander? ― meu marido rebate em tom
zombeteiro e balança sua cabeça.
Charlie sorri, demonstrando brilho em seus olhos antes de dizer
satisfeito:
― Ele era apenas um bastardo, uma peça chave nada importante.
Aliás, eu o encontrei morto, pena que fizeram isso antes de mim.
Fico chocada ao escutar o prazer em aniquilar as pessoas em seu tom
de voz, mesmo sendo aquele que tenha o eu próprio sangue. Sacudo minha
cabeça e aproveito que eles apenas se provocam para procurar alguma arma
no vigia morto, enquanto não me torno o centro das atenções.
― Me diga! O que te leva a fazer algo assim? Qual o prazer em
destruir, ferir e matar pessoas, entre elas sua própria família?! Que espécie de
humano é você que enxerga apenas coisas materiais e fortunas? Fortuna essa
que não foi com seu esforço, claro, que foi roubada dentro das suas sujeiras?
― Olha só quem fala. A pessoa que acaba de roubar o próprio pai.
Não se vanglorie tanto, garoto! ― a voz ríspida do infortunado faz meu
sangue ferver.
― Jamais vou me vangloriar para alguém que obriga pessoas a
chamá-lo ridiculamente de Mestre! Não pense que, de alguma forma, vou
usar o dinheiro sujo para meu benefício! ― Johnatan deixa claro sua posição,
destacando sua raiva. ― Aceite, Charlie. Você é um perdedor, sempre foi,
mesmo que tenha conquistado um serviço criminoso com trabalho desonesto,
você é o tipo de homem que não valoriza o que tem. Não valoriza uma
família e coloca sua ambição acima de suas escassas conquistas.
Vergonhosamente, você vive à custa dos outros. É um incapaz, um impotente
que não consegue ter seu mérito reconhecido, porque é imprestável! Nada
que me lembre você me traz orgulho, nada em você me faz ter pena ou
compaixão. Apesar de que, nem mesmo você tem esse tipo de sentimentos,
não é verdade?
É como se Johnatan tivesse guardado suas palavras durante muito
tempo, deixando-as serem soltas com uma bola fervente contra o opressor.
Ao invés de usar as provocações de Charlie contra sua existência, ele não só
se pôs como exemplo, como também se colocou de modo geral junto àqueles
que foram vítimas inocentes.
Mesmo que lhe doesse relembrar tudo que já viveu ao estar frente a
frente com o homem que passou dia após dia tentando destruir sua vida, mas
as palavras retrucadas em si contêm a força de destruir um ego hostil. Meu
coração se enche de orgulho ao escutar meu marido agir com inteligência,
fazendo-me admirá-lo ainda mais.
― John... Você sempre foi assim. Culpa da inútil de sua mãe por
mimar demais e colocar limites estúpidos em você e na pirralha da sua irmã.
Vocês nunca tiveram orgulho próprio. Nenhuma ambição...
― Não use sua boca imunda para citá-las. Você não teve nenhuma
piedade. Foi ardiloso, frio, calculista, covarde, cruel... Tão cruel a ponto de
deixar que ferisse uma criança! DEIXOU QUE FERISSEM A SUA
PRÓPRIA FILHA! ― Johnatan cospe cada palavra com tanto fervor, que as
veias de seu pescoço saltam.
Por outro lado, o tal Mestre fica satisfeito por tirar seu filho do sério.
― Olha o homem que você se tornou? Por mais que me esforçasse ou
ficasse impressionado com sua evolução ao tentar te capturar, agora,
observando bem, vejo que está enfraquecendo ― Charlie analisa com calma,
enquanto engulo meu nervosismo ao notar que o chão começa a se mover
para a direita sinuosamente. ― Talvez seja por se envolver com uma mulher
sem conteúdo. É por isso que se tornou tão... insignificante? O que um amor
estúpido não faz com o ser humano, não é mesmo? Deveria ter continuado
com a vida que começou a te pertencer desde seus dezesseis anos. As
mulheres com quem se divertia para conseguir chegar até a mim eram
numerosas.
As objeções do desgraçado deixam meu corpo mais tenso e atento.
Paro de vasculhar a farda do vigia já com a arma em minhas mãos, enquanto
sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem em alerta. Um rosnado de
Johnatan me estremece. Rapidamente, eu me curvo quando um tiro é
disparado em minha direção, acertando um dos ferros ao meu lado.
Abaixada, olho para trás e vejo Johnatan o afastar para longe como
um leão enraivecido, jogando a pistola no chão. Charlie sorri ao ver a ira
exposta do filho e sei que suas provocações foram propositais, para deixá-lo
vulnerável.
Johnatan o mantém por baixo do seu corpo e o golpeia no rosto com
ferocidade. Mesmo Charlie estando machucado, ele parece não se importar
com a fúria do filho. Em defesa, Charlie o joga para o lado e ambos rolam
sem desgrudar um do outro. Logo miro a arma pronta para atirar, mas os dois
se movem inquietos.
No primeiro momento, tento acertar em Charlie, só que acabo errando
o alvo. Com isso, o barulho chama sua atenção, e o vejo tentar alcançar sua
outra arma de sua bota, a qual é jogada para longe de seu alcance. Johnatan o
afasta, mantendo-o de joelhos com esforço e chocando sua cabeça contra a
dele.
Charlie pisca desorientado antes de cair no chão. Em seguida,
Johnatan não lhe dá tempo para reagir e o pressiona contra o piso novamente,
só que, dessa vez, para estrangulá-lo. Charlie engasga e ergue seus braços
para afastar Johnatan, que recebe os golpes fortes sem se importar.
― Me matar... só vai fazê-lo ser igual a mim... Não somos tão
diferentes ― Charlie se esforça para dizer entre seu sufoco.
Johnatan fica imóvel, encarando-o com ódio e, ao mesmo tempo,
absorto em pensamentos.
― Você é doente. Um ser humano sem alma. Sem coração... Sem
amor! ― Johnatan arfa entredentes.
O infeliz tosse rindo, seu rosto já começa a mudar de cor devido ao
aperto.
― Um dia vai me entender e saber o quanto somos parecidos. Pense...
― puxa o ar com força ― Pense bem, sua mãe e sua irmã já foram nossas
peças descartadas. Estamos, estamos no mesmo jogo... Queremos liderar,
queremos aquilo que vai nos tornar donos de uma nação.
Aquilo é o limite para Johnatan que sai do controle e soca seu pai
brutalmente. Charlie tenta revidar, golpeando Johnatan no estômago e, antes
que eu volte a atirar, distraio-me com um barulho assustador. Johnatan
também se atenta ao que acontece e me olha brevemente em alerta.
Quando ousa correr para mim, Charlie o puxa para longe.
Rapidamente, corro até as correntes, segurando-as com esforço quando o
navio começa a se curvar. A água invade o lugar como uma explosão à
direita, onde estão Charlie e Johnatan. Os dois se seguram para se manterem
no lugar.
Seguro-me com firmeza em uma das correntes, ainda mantendo a
arma em minha mão direita, o corpo do vigia cai para baixo até sumir na água
invasiva. Um barulho próximo me chama atenção e ergo meus olhos, na área
aberta onde me encontro, vejo o helicóptero de Marco se aproximar,
procurando a melhor forma de se locomover para nos resgatar.
O navio se curva ainda mais com o peso da água. Ao olhar para baixo,
assusto-me, pois Johnatan é puxado mais para o fundo por Charlie. A
preocupação nos olhos febris de meu marido está em mim segura nas
correntes. As luzes do galpão piscam e se apagam, deixando apenas a
claridade aberta do navio iluminar o lugar.
O barulho do navio se movendo, pronto para afundar de vez, causa-
me pânico. Um rosnado de Johnatan me chama atenção, ambos lutam,
arrastando-se próximos da água.
Controlo minha respiração acelerada e observo o local onde me
seguro com firmeza, em seguida, solto uma das minhas mãos brevemente
para mirar a arma na estrutura à frente, onde as correntes seguem presas aos
ferros, e atiro, arrebentando algumas delas. Subitamente, as enormes e
grossas barras de ferro caem de uma vez, e me protejo a tempo.
― JOHNATAN! ― grito desesperada para que ele tenha cuidado.
Ele recebe meu chamado e pula para o lado, segurando-se em uma
barra de escoramento na parede. Charlie também se salva ao mesmo tempo,
louco para agarrar o filho e jogá-lo em frente às enormes barras que caem
violentamente e se afundam na água. É desesperador escutar um estalo no
navio, o que me faz me desequilibrar, mas me mantenho segura na corrente.
Charlie ergue seu olhar para mim assim que miro a arma em sua
direção, quando aperto o gatilho, percebo que está descarregada. O sádico
sorri sombriamente até que noto que ele resgatou sua pistola carregada,
mirando-a para cima. Imediatamente, Johnatan pula para ele, fazendo com
que o tiro atinja outra pilha de canos de metal.
Ambos caem na água ao serem empurrados por uma barra e se
afastam quando voltam à superfície, se protegendo. O barulho ensurdecedor
dos ferros se batendo uns contra os outros me assusta e só piora a invasão da
água no local. Na abertura do galpão, observo mais helicópteros se
aproximando com a equipe de resgate.
Uma extensa barra de metal bloqueia sua descida e me distraio ao
localizar um de nossos explosivos fixo no metal que ameaça cair. Charlie
também vê e puxa Johnatan para ficar exposto junto a ele. Inspiro fundo,
encarando os helicópteros que se aproximam — com a equipe de Daniel — e
a distância da barra.
Quando Charlie planeja atingir Johnatan com as últimas barras que
caem acima do cano bloqueado, escorrego pelo chão curvado, deslizando
minhas mãos pela corrente em direção ao explosivo. Assim que meus pés
fixam e se empurram contra a barra extensa, arranco o aparelho e deslizo para
baixo, como se estivesse descendo em uma avalanche numa velocidade
extrema.
Por reflexo rápido, Johnatan se defende da aproximação, jogando
Charlie contra o chão inclinado e saltando para cima da barra pesada, que
empurra o corpo do líder da máfia para o fundo à minha frente. Rapidamente,
eu me curvo a tempo de fixar o explosivo na gola de seu casaco e o nocauteio
com um soco firme, tendo a corrente enroscada em meu punho.
― ELE NÃO É COMO VOCÊ! ― destaco meu ódio ao inimigo.
Antes que eu me afunde com ele por completo, sinto meu braço
direito ser puxado e segurado num aperto forte. Ao erguer minha cabeça,
pisco pela claridade do céu sem conseguir ver o rosto de Johnatan, apenas sua
silhueta segurando firme a mesma corrente em que eu estava segura.
Ergo minha mão direita e enrosco meu braço contra o seu, firmando-
me em seu bíceps rígido. Depois, sinto um vento forte se aproximar, agitando
a água abaixo dos meus quadris, mostrando-me a sombra do helicóptero e o
barulho alto de sua aproximação.
A água gelada começa a subir acima de minha cintura, enquanto
Johnatan tenta me puxar com esforço. Algo me prende no lugar pelo
calcanhar e tento afastar com meus pés. Arfo assustada assim que nossos
braços escorregam a ponto de manter nossas mãos unidas com força.
― Rápido! ― escuto Johnatan ordenar num rosnado.
― Eu estou presa! ― desespero-me ao sentir uma das correntes
enroscada em meu tornozelo.
A corrente forte da água invadindo o lugar não ajuda e tento me
segurar, mas sou puxada para o fundo, fazendo com que nossas mãos se
desgrudem. E a única visão que tenho é da água violenta invadindo a área
aberta do galpão antes de Johnatan gritar em desespero, enquanto seguro o ar
em meus pulmões.
― MINE! ― o grito aterrorizante que invade meus ouvidos é
bloqueado pela água.
Sinto-me ser puxada ainda mais quando tento lutar contra a maré na
intenção de encontrar a mão de Johnatan, mas quanto mais luto, mais afundo.
Com a pouca claridade, consigo ver Charlie se aproximar, enquanto puxa a
corrente presa em meu tornozelo.
Mantenho meu corpo no controle assim como meus pulmões firmes,
sabendo lidar com a água que me envolve. Eu treinei para aquilo, para
permanecer por mais tempo sem respirar e não será um imbecil imprestável
que irá me vencer.
Travo minha mandíbula ao apertar meus dentes e tento chutar o rosto
de Charlie para longe do meu pé. Curvo-me na tentativa de me soltar, mas o
infeliz não permite. A parte mais frustrante, além de tentar me defender para
ficar livre, é que nem mesmo a água ajuda, tornando apenas uma luta
miserável.
Então, para tentar manter Charlie distante, sigo um pouco mais para o
fundo e, com esforço, aproveito a velocidade e enrosco a corrente em volta
do pescoço dele antes de mover meus braços em direção à superfície.
Johnatan mergulha à minha procura e me puxa com ele, logo o sinto
fixar algo em minha cintura, o que faz com que nos movamos mais rápido
contra a água. Charlie se debate e, mesmo prestes a ser enforcado, enrosca
seu braço na corrente para puxar junto a ele.
Johnatan tenta afastá-lo, mas somos distraídos quando mais alguém
mergulha. Meu pai observa-me com atenção até olhar para baixo e localizar
Charlie. Johnatan não me deixa reagir e segura meu corpo com firmeza,
enquanto meu pai tenta afastar a corrente de meu tornozelo. Logo, um
barulho oco me assusta e me dou conta de que Charlie atirou novamente.
O tiro atinge meu pai, pois seu corpo é levado para trás devido ao
impacto. Tento lutar nos braços de Johnatan, enquanto somos puxados assim
que sinto meu pai soltar a corrente. Curvo meu corpo para tentar puxá-lo
comigo, vendo-o arrancar o explosivo do casaco e colocá-lo na boca de
Charlie com esforço, ao mesmo tempo em que o mantém longe de mim.
Sem pensar abro minha boca em vão, na tentativa de chamar por meu
pai. O ato faz com que a água salgada invada minha boca, fazendo minha
garganta arder com o contato repentino e o ar em meus pulmões parecerem
presos assim que tento tossir, mas a situação só piora quando subitamente
meu corpo busca oxigênio. Sinto-me fraca, enquanto permito que Johnatan
me puxe para a superfície.
Assim que minha cabeça fica fora da água, tusso engasgada. Em
seguida, somos puxados por um helicóptero, tendo as cordas de segurança
fixas à nossa volta. Tusso com força, envolvendo meus braços em volta do
pescoço de Johnatan, enquanto tento controlar minha respiração acelerada e
interrompida.
Meu marido aperta seus braços ao meu redor e cola sua boca na
minha rigidamente. Ele solta sua respiração até encher meu peito, depois,
suas palmas em minha espinha me afundam, numa pressão cuidadosa, e logo
me afasto para cuspir toda a água acumulada em minha garganta.
― Devagar, devagar... ― Johnatan arfa ao me ver puxar o ar
desesperadamente.
Mas nem mesmo o escuto direito, pois tento me mover para achar
meu pai, enquanto o helicóptero sobe, erguendo-nos pelas cordas.
― Pa-pai... MEU PAI! ― minha garganta arde
Johnatan me mantém em seus braços. Noto que uma das cordas que
meu pai seguia havia sido arrebentada. Outro helicóptero se aproxima mais
de perto com Daniel, e o vejo pular para mergulhar, levando consigo outra
corda de segurança.
― Puxem! ― Johnatan ordena para cima.
― PAI! ― desespero-me, enquanto me afasto para longe.
― Não temos tempo! MINE, ME ESCUTA! ― Johnatan grita para
chamar minha atenção em meio à minha agitação. ― Temos que ir.
Ele me abraça, vendo em meus olhos a angústia exposta. É impossível
lutar. Meu peito arde e, ao puxar o ar, sinto minha garganta queimar.
Johnatan mantém seus braços firmes em minha cintura e somos puxados para
dentro do helicóptero da SWAT, com soldados.
Logo meu corpo desaba de alívio ao lado de Johnatan quando meu pai
é resgatado por Daniel, sendo socorrido por outro helicóptero, que se afasta
junto com o nosso. Johnatan também parece aliviado, e o abraço aos prantos,
sendo acolhida por seus braços firmes.
Depois de breves minutos, recomponho-me surpresa que tenha mais
de dez helicópteros, mas não vejo o de Marco. Segundos depois, eu o avisto
sobrevoando ao redor da metade do navio, que se afunda devagar. Olho para
imensidão do oceano, enquanto o piloto dá um comando em código. Encolho-
me nos braços de Johnatan quando a explosão do navio cega meus olhos, ele
me abraça com força e acaricia minhas costas.
― Você está bem? ― vejo a urgência em sua pergunta, a
preocupação refletida em suas palavras.
Choro e soluço com força.
― Acabou... ― digo como uma oração glorificada e o abraço,
apertando meus braços ao seu redor e grudando meu rosto molhado contra o
seu, enquanto prende os cintos em meu corpo.
Os ombros de Johnatan caem relaxados ao ver a esperança em meus
olhos. Ele acaricia minha face com delicadeza ao acenar.
― Acabou ― meu corpo parece flutuar não só com sua reposta, mas
também com aquela profundidade obscura de seu olhar, que desaparece a
cada segundo.
Sua emoção, maior que a minha, é tão grande, que me faz perder o
fôlego assim que beija meus lábios com amor.
Gemo emocionada, intensificando nosso beijo e nem mesmo me
importo que haja quatro soldados armados à nossa volta. Quando nos
afastamos, suspiro, sem deixar minha preocupação de lado.
― Charlie o feriu ― volto minha atenção para a janela, estamos
distantes dos outros helicópteros.
― Ele ficará bem ― Johnatan assegura e volto a olhá-lo, perdendo-
me em seu olhar intenso. ― Você é tão... Forte, valente. Tão firme. Colocou-
se numa situação muito perigosa, eu deveria repreendê-la, mas, depois do
susto, estou encantado ― sua voz suave e rouca me faz estremecer.
Pisco, sentindo meu corpo aquecer, e inclino minha cabeça em sua
mão.
― Há uma coisa que vai me incomodar mais tarde, mas prefiro não
dizer nada por enquanto ― quero falar sobre o que fiz com Zander, só de
pensar estremeço.
Johnatan não questiona, mas percebe que me mantenho insegura
perante os soldados.
― Por outro lado, eu aprendi com o melhor ― sorrio e beijo seus
lábios brevemente.
― Não ― Johnatan balança a cabeça, deixando-me confusa. ― Não
me envergonho em dizer que aprendi a me tornar alguém melhor, a defender
quem eu amo. Você me ensina e me motiva a seguir dessa forma. Me faz
valorizar todos os dias o que mais tenho de precioso, que é você. E só não
cedi aos erros, porque eu a mantive em meus pensamentos onde sinto que me
guia para longe da escuridão. Na verdade, não quero ser pior do que já fui,
não quero me tornar em alguém como ele.
Sorrio emocionada e acaricio seu rosto.
― Você não é. Você é bom, tem um coração enorme. É forte o
suficiente para lidar com os perigos e seguir no controle. Isso eu aprendi com
você. Mesmo que, muitas vezes, não tenha muita paciência para certas
provocações ― rimos do meu comentário e suspiramos, olhando um nos
olhos do outro. ― Eu não vou permitir que mude sua forma de agir ou de
pensar, nem mesmo suas ordens, pois sei que faz para o bem de todos. Só eu
sei o que há dentro deste seu grande coração. É por isso — e por muito mais
motivos — que o amo com toda minha alma.
Johnatan me escuta com atenção, dando-me um sorriso presunçoso. É
a primeira vez, desde que o conheci, que o vejo mais aliviado, mais à
vontade. Ele está glorioso.
― Mine, você não é só minha fraqueza, é também minha força, minha
vida ― a terna declaração me faz suspirar apaixonada.
Meu marido beija meus lábios, apertando minha mão contra seu peito
com força, permitindo-me sentir seu coração bater acelerado.
― Agora, podemos viver em paz? ― murmuro em seus lábios e me
delicio com sua risada rouca.
― Temos mais uma etapa.
― O quê?
Franzo a testa, mas logo entendo assim que se direciona aos soldados,
que não parecem muito confortáveis com a cena romântica que acabaram de
presenciar. Coro.
― Para onde vamos? ― Johnatan pergunta para eles.
O piloto pigarreia antes de responder:
― Para Wanaka, nossa equipe se instalou num local próximo para
atendimentos ― o piloto explica.
Logo, avistamos a cidade Wanaka com a área fechada e equipada
próximo às montanhas. O lugar sempre foi calmo e isolado, exceto hoje. Na
área central, destaca-se uma enorme tenda escura.
Há mais helicópteros ao redor, além de carros com a logo das
empresas, estacionados próximos à tenda. Soldados se movem de um lado
para o outro, alguns seguindo para os helicópteros de grande porte prontos a
fim de decolarem novamente, outros, para dentro da tenda. A área também
foi equipada por máquinas de seguranças e vigias atentos a meio metro do
local.
Assim que nosso helicóptero pousa, avistamos Daniel se aproximando
e se curvando devido ao vento forte. Ao sairmos, Johnatan e eu, seguimos de
mãos dadas ao seu encontro, enquanto o helicóptero se afastar para longe.
Meus olhos vasculham a movimentação e me surpreendo quando nos
entregam cobertores. Johnatan cobre meus ombros e me aperta ao seu lado.
― E meu pai? ― disparo impaciente observando a imensa tenda
negra.
Homens de fardas entram e saem apresados, dando comandando uns
aos outros.
― Permanece inconsciente, mas calma ― Daniel tenta me confortar.
― Edson Clark ficará bem. Levou um tiro no ombro esquerdo, a bala já foi
removida. Ele também aspirou muita água. Foi encaminhado para o nosso
centro cirúrgico na capital ― explica.
Arregalo meus olhos e me viro para Johnatan.
― James... Ele foi ferido ― estremeço, assim que os olhos de
Johnatan disparam para o agente. ― Zander estava a ponto de acertar Jordyn,
mas James interveio e acabou recebendo o ataque ― lembro-me do choque
de Jordyn, os olhos perdidos de James e... Zander.
― Ele foi enviado diretamente para a capital. A garota se recusou a
ficar conosco e foi junto com ele. Não sabemos sobre o estado de saúde, mas
foi atendido com urgência ― a voz de Daniel não é esperançosa, o que
desperta ainda mais minha agonia.
Johnatan percebe que tremo e tenta me confortar.
― Eu o matei. Matei Zander, e Daniel deu um tiro em sua cabeça ―
as lágrimas caem sem parar quando me lembro dos olhos cor de gelo. ― Eu
me sinto horrível.
― Amor, ― Johnatan me segura antes que eu despenque ― eu sinto
muito, querida. Você agiu em defesa... Oh, minha Roza. Sinto muito por ter
passado por isso...
― Não preferem entrar? ― Daniel aponta sua cabeça em direção à
tenda.
Sinto-me fraca, mas Johnatan continua me segurando firme em seus
braços, enquanto me observa preocupado.
― Mine?
Pisco desorientada.
― Eu vou ficar bem ― esfrego meu peito angustiado. ― Onde estão
os outros? ― ignoro a preocupação de Johnatan, preciso me distrair.
― Alguns estão sendo atendidos por nossa equipe de médicos no
local e outros, em observação, até mesmo meu tio Messi ― Daniel informa
sem jeito.
Franzo a testa pensativa, logo me dou conta de que as coisas podem
se complicar com todas essas autoridades ao nosso redor. Isso não é bom,
isso não é nada bom, meu subconsciente reflete em alerta.
― Não vamos sair daqui tão cedo, não é? ― Johnatan pergunta
exasperado.
― Sinto muito, senhor Makgold, mas nossos investigadores estão
com o caso da LIGA, estão em busca de novas informações...
― O que quer dizer? ― interrompo o agente com desconfiança.
Na verdade, eu queria perguntar se vamos ser presos, mas logo um
soldado se aproxima para falar algo no ouvido de Daniel, fazendo-o acenar.
― Nosso diretor, o senhor Barrett, está aguardando.
Johnatan ergue sua sobrancelha surpreso.
― Diretor? ― Daniel assente. ― Preciso levar minha esposa para ser
atendida primeiro, depois verei seu diretor e os investigadores.
O agente observa com cautela.
― A senhora Makgold também ― engulo em seco, assim que
Johnatan o encara seriamente.
― Primeiro a saúde da minha esposa. Depois, resolvo qualquer
assunto com esse Barrett.
― Senhor Makgold, vai me desculpar, mas estamos em uma área de
segurança, seguimos regras e leis...
Meu marido se aproxima, dando-lhe um olhar de alerta.
― Eu não estou aqui para receber ordens, muito menos respeitar
normas ou leis como se estivéssemos em um campo de batalha ― a rispidez
dele me faz olhar em volta, sem saber o que fazer. ― Primeiro minha esposa.
Daniel não se intimida, mas assente.
― Tudo bem. Não quero deixá-los desconfortáveis. Vou levá-los até
a área hospitalar da tenda ― Daniel dispara relutante.
Balanço minha cabeça e chamo a atenção de ambos com uma tossida.
― É melhor eu ir sozinha ― Johnatan fica perplexo com minha
decisão. ― Assim, você se adianta com esse diretor e o encontro em breve.
Encolho-me, sabendo que ele não aceita minha decisão.
― Posso pedir para que alguém a acompanhe ― Daniel parece de
acordo.
― É melhor ― sussurro para meu marido.
Logo, avisto Matt sair da tenda com um curativo acima de sua
sobrancelha. Assim que ele nos avista, caminha em nossa direção.
― Como vocês estão? ― pergunta ao se aproximar.
― Bem... Por enquanto. E a equipe? ― Johnatan murmura sem
humor algum. Lá se foi a paz, o sorriso libertador, o olhar suave.
Suspiro entristecida.
― Estão sendo interrogados e dando seus depoimentos ― Matt faz
uma careta.
― Vejo que Matt foi liberado. Posso ir com ele para ser atendida e o
verei em breve ― deixo que meus olhos insistam mais que minhas palavras,
e Johnatan cede relutante.
― Matt, leve-a para a área hospitalar. Tenho que resolver um assunto
― Johnatan pede ao amigo, que acena desconfiado.
― Assim que terminar, leve a senhora Makgold até o local reservado
do diretor Barrett ― Daniel pede antes de se afastar com Johnatan.
Eu os observo entrarem na tenda em silêncio.
― Já disse a ele? ― Matt pergunta ao meu lado.
Estremeço.
― Ainda não.
53 – ANJO

Ao entrar na tenda equipada, noto que há entradas para alguns campos


fechados e observo, dando a volta com Matt até afastar um tecido grosso
onde encontro um espaço equipado com macas, equipamentos médicos e
enfermeiros que socorrem alguns feridos, entre eles a enfermeira que eu
persegui até a refrigeração.
O cheiro de medicamento me enjoa. Uma mulher de meia-idade, com
os cabelos negros e olhos escuros, se aproxima e se apresenta como Doutora
Regina Nivera. Depois de nos cumprimentar e resumir os ocorridos de meia
hora atrás, sigo-a, deixando Matt sozinho.
Tiro o cobertor dos meus ombros ao entrarmos em outro local
reservado, onde me sento na cadeira. Em seguida, Regina pergunta sobre
meus sintomas, verifica minha pressão e meus batimentos cardíacos.
― A única coisa que quero saber é como está meu bebê ― a força
que sinto ao dizer minha verdadeira preocupação é tão grande que me faz
perder o fôlego.
Minha pergunta inesperada a surpreende, mas logo a médica tenta se
recompor.
― Sabe quantas semanas?
― Não. Eu fiquei sabendo recentemente, eu não tive tempo de
procurar uma ginecologista.
A médica assente, sorrindo com carinho, depois faz perguntas sobre
minha alimentação, se tenho sintomas como dores ou algum corrimento, mas
apenas o que sinto é desconforto com o cheiro do local.
― Infelizmente, não tenho equipamentos necessários para realizar
exames para saber como está o seu bebê, mas posso lhe dar uma vitamina e te
orientar para me procurar o mais rápido possível para, assim, seguirmos com
exames e ver o desenvolvimento do feto. É muito importante a mãe se cuidar
durante a gravidez ― a voz suave da doutora me acalma. ― Seu bebê pode
estar bem, mas exige cuidados. Você já se expôs ao risco, precisa evitar esse
tipo de situação.
A repreensão me faz encolher, evito até de me defender sobre eu ter
me cuidado ao máximo para não atingir o bebê, mas apenas aceno com os
meus lábios apertados depois de beber uma vitamina oferecida por ela.
― Farei isso. Peço que mantenha em segredo. Não quero que a
notícia vaze, eu ainda não disse nada ao meu marido. Posso contar com você?
Regina pisca surpresa e acena sorrindo.
― Vou lhe dar meu cartão, tenho um consultório particular em
Queenstown. Lá eu a instruirei melhor. O local é pouco movimentado e longe
de olhos alheios ― brinca.
Sorrio agradecida.
― Obrigada.
Depois de terminar minha consulta, sigo com Matt até o local onde
Johnatan se encontra. O lugar é movimentado, ao mesmo tempo silencioso,
com guardas seguindo comando, Matt me informa que eles continuarão
trabalhando no local por um tempo para seguir até onde o navio explodiu na
busca de restos mortais e qualquer objeto suspeito, o principal é encontrar o
corpo de Charlie.
Para mim, a única coisa que quero no momento é ir para casa
descansar para, no dia seguinte, visitar meu pai e James. Quando chegamos
ao tal local reservado, encontro Daniel que me guia até a entrada.
O pequeno espaço foi equipado por uma mesa sem cadeiras, laptop,
rádios, celulares e armas. Algumas pastas estão empilhadas na mesa.
Johnatan está em pé, com os braços fortes cruzados. Assim que chamo sua
atenção, sigo até ele e o abraço.
― Olá, senhora Makgold. É um prazer conhecê-la ― um homem de
meia-idade, esguio, vestido com terno, cabelos um pouco grisalhos,
cumprimenta ao estender sua mão. ― Sou Arnold Barrett, diretor da Base
Secreta de Agentes de Segurança e Serviços Especiais do país.
Afasto-me de Johnatan para apertar sua mão, sem muita confiança.
― Olá! ― cumprimento timidamente, percebendo que Johnatan está
atento.
Os olhos azuis-escuros de Arnold piscam com simpatia.
― Como podem ver, nosso pessoal trabalhou duro hoje. Durante
anos, estivemos atrás da máfia, denominada como LIGA. Lamentavelmente,
nossos agentes que tentavam se infiltrar eram descobertos e mortos. Foi
difícil, mas conseguimos sucesso. Por enquanto, estamos fazendo uma busca
árdua e continuaremos assim até concretizar nossas investigações ― Barrett
explica e olha para Daniel atrás de mim. ― Sua bravura, assim como a sua
coragem em agarrar esse serviço e permanecer nele, por mais difícil que
fosse, merece não só meu respeito como também minha admiração. É um
orgulho tê-lo conosco, Agente Halloper ― o diretor agradece Daniel de
forma profissional.
O agente aceita o elogio, mas não parece se importar.
― Só fiz o meu trabalho junto com a equipe, senhor ― dispara.
― Messi sabia? ― pergunto a ele de repente.
― Não, para ele está sendo uma surpresa até agora ― pela primeira
vez, eu o vejo sorrir. O Agente Halloper deveria sorrir mais vezes, penso.
Viro-me para Barrett, que parece muito orgulhoso de seu funcionário.
― Mesmo assim, temos que estar atentos. Halloper, tire o dia de
folga, vá rever seu tio, sei que têm muito que conversar ― Barrett o dispensa.
O agente acena antes de sair, deixando-nos a sós.
― Continuando... ― sem rodeios, Johnatan dispara para o diretor.
Fico confusa com sua reação exasperada. Barrett assente com a
cabeça.
― Sei que os últimos dias não foram fáceis, para nós também não.
Estávamos em busca do mesmo objetivo e concluímos, mas, como diretor
desta unidade secreta, eu devo cumprir minhas obrigações. Nós seguimos as
buscas por mandados, por investigações, fazemos parte da lei e de
autoridades que necessitam dos serviços... ― Barrett explica
Balanço a cabeça para tentar clarear até onde ele quer chegar.
― Seu ponto de chegada é nos repreender por agirmos de forma
ilegal? ― explodo. O diretor pode estar certo, mas eu não aceito.
Pela minha visão periférica, vejo Johnatan satisfeito com meu ataque,
abrindo um sorriso hostil.
Barrett parece relutante.
― Como eu disse, faz parte do meu trabalho. Sei que o que fizeram
foi não só ajudar a si mesmos, como também nos ajudaram. Eu estive
presente nas investigações de todos os ataques em que vocês estiveram,
porém temos que compreender que há vítimas, pessoas mortas. Enfim, o
número de assassinatos é gritante ― olha para Johnatan e ergo minha
sobrancelha.
― Tenho certeza de que nossa ajuda foi necessária para você e seu
pessoal fortemente armado, mas aposto que não conseguiria chegar a tal
ponto se não percebesse o escândalo envolvido. Mesmo que Charlie agisse
para esconder tais crimes e acobertar qualquer tipo de ataque, vocês estavam
presentes para fazer suas investigações e, certamente, conheciam suas
verdadeiras intenções! ― rebato, observando-o com atenção.
― Está coberta de razão. Com isso, continuamos nossos serviços
informando ao governo, sabíamos que até mesmo ali poderia haver
envolvidos com a máfia para apagar qualquer vestígio de suspeitas ― explica
com calma. ― Mesmo assim, agindo dessa forma, estamos apenas cumprindo
a lei e procuramos agir o mais cuidadosamente possível.
― E agora que as coisas estão seguindo a seu favor ao obter
respostas, o que pretende fazer? ― se eu não conhecesse meu marido tão
bem, nem notaria seu sarcasmo.
O direto inspira fundo antes de responder:
― Há um acordo, sobre o qual tive que insistir com outros diretores.
Cruzo meus braços atenta.
― Que tipo de acordo? ― Johnatan tira a pergunta da minha boca.
― Há duas partes do acordo. Bem, de modo geral, terei que deixá-los
em observação para que não façam nada ilegal. Caso o contrário, serão
presos. Principalmente o senhor ― ele articula para Johnatan com cuidado.
Mantenho minha postura rígida.
― Que piada! Se quisessem mesmo prendê-lo já o teriam feito!
Agora, estou me perguntando, onde vocês estavam na hora em que pessoas
inocentes precisavam da ajuda da sua equipe? Vocês apenas investigam, mas
não colocam seus planos em prática, exceto para nós! ― minha fúria choca
Barrett.
― Não poderíamos agir em contra-ataque sem saber o que realmente
estava acontecendo, senhora Makgold. Querendo ou não, vocês cometeram
crimes ― tenta se defender.
Seguro minha blasfêmia a tempo para não passar dos limites.
― E qual é a outra parte do acordo? ― disparo sem humor.
Para minha breve surpresa, noto Johnatan segurar seu riso com uma
tossida.
― Foi essa foi a parte em que tive que insistir com nossos diretores
para ter benefícios para ambas às partes ― Barrett sorri esperançoso,
curvando-se sobre sua mesa enquanto eu fico confusa. ― Queremos vocês e
o restante de sua equipe como aliados. Será uma boa união, destacaremos os
conhecimentos de ambas as partes para termos o controle do nosso país.
Vocês nos ajudam e nós os ajudaremos.
A opção de Barrett faz Johnatan e eu nos olhar com atenção,
pensativos.
― Em troca do quê? ― Johnatan pergunta, ainda me olhando de
relance.
― A liberdade de vocês ― Barrett nos dá um sorriso triunfante. ―
Trabalhando conosco, vocês serão muito bem-recompensados. Ficha limpa.
― Mine? ― é como se Johnatan passasse a responsabilidade e a
autorização da última palavra para mim.
Inspiro fundo, mal tenho tempo para refletir sobre isso.
― Podemos pensar?
O sorriso no rosto do diretor se transforma em uma careta.
― E há o que pensar, senhora Makgold? ― rebate ignorando minha
pergunta.
Olho em volta do local e balanço os ombros.
― Dá mesma forma que você quis chegar a um acordo com seus
diretores em busca de autorização, como uma forma de aceitar ou não,
também temos o direito de pensar sobre o assunto. Aliás, não estávamos
sabendo sobre essa possível aliança ― reflito calmamente. ― Por enquanto,
senhor Barrett, a resposta é não. Eu ainda não me familiarizei com seu
pessoal e creio que meu marido, assim como nossa equipe, também não.
Iremos investigar primeiro, para depois chegar a esse acordo em que, pelo o
que vejo, você está bastante interessado. Tão interessado que evita nos
prejudicar.
Barrett fica surpreso e olha para Johnatan.
― Faço minhas palavras o que minha esposa acabou de dizer ―
Johnatan conclui sem paciência.
― O FBI, em aliança com SWAT, entrou nesse ataque e os
ajudaram...
― E estamos imensamente agradecidos. Principalmente a Daniel, que
se arriscou tanto, a ponto de se infiltrar na LIGA em segredo, mas não quer
dizer que estamos preparados, confiantes ou de acordo com a sua
possibilidade de aliança ― admito, surpreendendo-o novamente.
O diretor solta sua respiração incômoda, em seguida, assente com a
cabeça.
― Tudo bem. Vou dar a vocês um tempo para pensarem. Só que não
pensem que vou desistir, costumo ser bastante insistente. Reflitam bem, é o
melhor para vocês ― sorri com simpatia. ― Enquanto isso, vocês serão
supervisionados. Questão de segurança, faz parte dos procedimentos.
Olho para Johnatan, vendo-o revirar os olhos.
― Não se preocupe. A última coisa que queremos, nesse momento, é
rastrear alguém da LIGA, e isso já não faz mais parte dos nossos planos ―
meu marido assegura rudemente.
― Mesmo assim, eu insisto. Colocarei seguranças próximos à sua
casa e terão seguranças que irão escoltá-los... ― Barrett é interrompido
quando meu marido se aproxima para encará-lo de perto.
Posso escutar sua saliva descer com dificuldade em sua garganta.
― Uma coisa é você se meter nos problemas relacionado a uma máfia
que foi movimentada por meu pai e investigar sobre o assunto, sem contar
sobre a sua obediência com suas leis para a segurança do país. Outra bem
diferente é querer se meter em minha casa, nos meus negócios e, até mesmo,
em minha vida particular ― dispara com frieza, adivinhando as intenções do
diretor. ― Portanto, espero que você encerre o caso, o qual eu estarei
acompanhando durante esse tempo para o que for preciso. E, quando tudo
que envolva a máfia estiver acabado, aí sim, pensaremos sobre sua proposta.
Barrett se afasta e acena de acordo, esfregando sua mandíbula.
― Tem toda razão. Primeiro devemos encerrar esse assunto ―
suspira exasperado e levanta sua mão em rendição. ― Mesmo assim, serão
escoltados.
Reviro meus olhos.
― Agora podemos ir? ― pergunto impaciente.
― A senhora sim, mas o senhor Makgold deve finalizar um
depoimento o qual o interrompi. ― Barrett diz, olhando para Johnatan, ao
mesmo tempo se desculpando.
Johnatan se vira para mim e acaricia meu rosto.
― Não se preocupe. Eu irei em breve, não queria que eles a
incomodassem com perguntas, então, tomei as rédeas. Vá com os seguranças,
logo eu te encontro ― Johnatan sussurra para mim antes de se voltar ao
homem da lei. ― E exijo que finalizem as investigações e depoimentos da
minha equipe por hoje.
Relutantemente, Barrett aceita a exigência a fim de não contrariar
meu marido.
― Tudo bem. Eu vou seguindo na frente ― eu não sei se fico
agradecida ou amedrontada para o caso de eu ter dar um depoimento e revelar
que meu maior crime foi ter matado alguém.
― Vá, amor.
Tento controlar meu nervosismo para não deixar Johnatan
preocupado.
― Espero que não demore. Já aviso que, se algo acontecer, juro que
derrubo esse lugar e ateio fogo com todos dentro ― ameaço sem pensar.
Johnatan sorri e me abraça.
― Nos vemos em breve ― sussurra, colocando algo no bolso da
minha calça discretamente.
Nós nos afastamos quando um soldado entra no local para me
acompanhar até o carro depois de acatar a ordem de Barrett.
Os outros estarão livres em breve e seguirão para casa. Ao sair,
assisto ao pôr-do-sol entre as montanhas e enfio a mão em meu bolso,
notando que é meu ponto de ouvido. O frio começa a tomar conta do meu
corpo e a roupa úmida não ajuda em nada, nem mesmo o colete à prova de
balas, que parece pesar em meu corpo.
Não sei para que tantos seguranças, mas eles já estão prontos para me
levar. Depois de guardar o ponto novamente em meu bolso, entro na SUV
escura com quatro agentes armados. Mais três carros também nos cercam
pela estrada, como se nos dessem cobertura. Um segue à frente e os outros
dois atrás de nós, numa distância cautelosa.
Segurança máxima me irrita. Não que Johnatan seja diferente, mas, ao
lado dele, sinto-me muito mais confortável do que com homens
desconhecidos tanto dentro do carro, quanto aqueles que seguem nas SUVs à
frente e atrás. Nem mesmo consigo apreciar a noite surgindo com a lua cheia
dando boas-vindas.
Eu me pergunto se os outros estão próximos, já que Johnatan exigiu
para Barrett que os soltassem. A ansiedade de pegar o ponto em meu bolso e
me conectar com Shiu é controlada, como se qualquer movimento meu fosse
uma distração para os soldados. É quando, de repente, assim que meus olhos
fixam na SUV à frente, vejo-a voar para cima, em chamas, e capotar mais
adiante, fazendo-nos parar abruptamente.
Assim que houve a explosão o carro estremeceu e o barulho
ensurdecedor fez meus ouvidos zunirem, tornando minha audição um pouco
distante ao tentar escutar os soldados se comunicarem com alguém; em
seguida, eles saem do carro.
― Permaneça no veículo, senhora ― um deles me alerta, preocupado
antes de se afastar com os outros, tendo suas armas preparadas, observando
as chamas e outras duas SUVs se aproximarem e frearem.
― O quê? ― antes que eu proteste, ele fecha a porta, deixando-me
perplexa.
Dentro do carro, eu assisto um deles informar o ocorrido pelo rádio, e
os outros se juntam em alerta. Sinto a bile subir em minha garganta e
estremeço, afastando-me da janela. Ao me aproximar da outra porta, noto que
está travada. Sem que eu espere, os mesmos homens que saíram da SUV de
trás destravam suas metralhadoras e começam a disparar para os que os
chamam atenção.
Eu me curvo no carro, mesmo que os vidros sejam blindados, e tento
em vão abrir a porta. De repente, eu a sinto ser puxada e me assusto ao ver
um dos homens, o que me pediu para ficar no carro, escorregar para o chão
com um ferimento na nuca.
― Fuja! ― ele se engasga com seu sangue antes de morrer.
Engulo meu pânico e saio cuidadosamente.
Ao escutar a outra SUV se aproximar, percebo que homens armados
atiram uns contra os outros. Me curvo escondida na lateral do carro para não
ser atingida.
― Senhora Makgold?! Saia do carro! ― alguém de voz potente
ordena assim que termina o massacre.
Espio pelo vidro um homem alto, de cabeça raspada, mirando sua
arma atento.
Ele atira e me abaixo. De relance, vejo um sinuoso vento quente
passar perante meus olhos quando espio pela traseira do carro. A bala
atravessa as chamas atrás de mim. Penso em me afastar, mas seria arriscado
demais, já que estão disparando sem intervalo, até escutar o mesmo homem
ordenar que parem. Rapidamente, pesco em meu bolso o fone, colocando-o
no ouvido, para me conectar com Shiu.
― Shiu. Estou numa embosca ― murmuro, analisando que há oito
deles. ― Onde está a equipe?
Arregalo meus olhos quando os vejo se aproximarem, atentos ao carro
onde me escondo. O líder chuta, sorrindo, um dos soldados morto. Em
seguida, ele abaixa sua arma no chão, assim como os outros.
― Não queremos machucá-la, senhora. Apenas conversar! ― seu tom
continua autoritário. ― Queremos resolver algo com Johnatan Makgold, mas
está difícil. Sabemos que a melhor forma de o encontrar é através de você ―
escuto murmúrios de risadas e, estranhamente, correntes se arrastando pelo
asfalto.
Tento olhar com mais cuidado para os outros que o acompanham,
notando, nas mãos de alguns, barras de ferros, correntes, manguais e tacos de
madeira. O líder possui uma katana negra. Inspiro fundo para me controlar
em meu lugar, mas o calor desconfortável do fogo próximo não me ajuda.
― Senhora Makgold, eles estão a caminho ― é um alívio escutar o
sistema, algo familiar para me manter concentrada. ― Agora, neste momento,
preciso que você se prepare para correr. A mansão não está muito longe.
Porém há mais deles se aproximando com motos ― engulo em seco ao
pensar na melhor maneira de fugir sem me machucar.
― Estou vendo que não há outra opção, não é mesmo? ― sussurro.
― Infelizmente não. Saia do local com cuidado e corra. Aconselho
que corte o caminho pela floresta, não é muito longo, chegará à estrada da
mansão em curto tempo. Assim acionarei os armamentos no muro ― o fato
de ter que atravessar a floresta me leva a maus pensamentos. ― Só que,
antes, preciso que faça algo.
Pisco surpresa com o pedido repentino.
― O quê?
― Não estaremos em contato, mas lhe rastrearei até a rua principal.
Com isso, preciso que tire o seu ponto e o jogue dentro do carro que está à
sua direita. Jogue-o e corra ― Shiu ordena.
Franzo a testa sem entender seu pedido, observando o carro onde me
escondo, o homem continua provocando dizendo estar impaciente.
Minha única saída é à direita, a parte mais exposta entre as chamas e
os pinheiros. Puxo o ar com força ao me preparar, sem ter como discutir com
Shiu, retiro o fone e o jogo dentro do carro. Em seguida, como nos treinos,
mantenho o equilíbrio em meu corpo e corro velozmente para a direita.
Uma explosão repentina me chama atenção. Olho para trás,
observando a SUV, a qual me protegeu, em chamas numa densa fumaça que
acaba afastando os homens. De relance, vejo uma lâmina ser arremessada e
me desvio, a katana crava no caule de um pinheiro.
Continuo com minha corrida sabendo que eles não se intimidam,
perseguindo-me em alta velocidade, até mesmo se separando na intenção de
me bloquear. Avisto, à frente, a curva para a rua da mansão, ela é extensa, por
isso, apenas continuo mantendo meus passos firmes, mesmo escutando outros
ao longe se aproximando.
― Droga! ― murmuro ao encarar a floresta do meu lado esquerdo.
Relutante, entro na floresta iluminada pela lua na tentativa de me
desviar deles e sigo em linha reta, apenas me desviando dos pinheiros. A
minha única esperança no momento é estar na rua de casa, próxima o
suficiente de onde se encontra os armamentos. Os gritos de guerra dos outros
e, ao mesmo tempo, murmúrios de risadas me enfurece, mas não me permito
ser interrompida ou distraída, enquanto avanço a todo vapor.
Meu sangue ferve e meu coração acelera assim que observo a rua
próxima. Quando noto que dois deles avançam mais à frente, na tentativa de
me barrar, forço minhas pernas. Para atrapalhá-los, arranco dois dardos da
minha manga, arremessando em suas direções e acertando um deles no rosto.
Ao chegar à rua principal, não tenho tempo de parar e puxar a
respiração. Apenas prossigo, ansiando pelo muro próximo. Arfo ao parar
abruptamente quando um homem mediano e esguio me interrompe num
sorriso malicioso, em suas mãos há uma corrente pesada. Estranhamente,
percebo que ele não é como os da LIGA, é sujo e nojento, possuindo dentes
amarelados, enquanto masca o fumo e cospe para o lado.
― Acho que ficou sem saída, gracinha ― sinto agonia só de vê-lo
mascar aquilo.
Ao escutar a chegada de seus companheiros, assim como suas risadas
de deboche por eu ser pega, distraio-me com a corrente que se move em
minha direção. Ergo minha mão e deixo que o metal pesado serpenteie por
meu braço a ponto de travá-lo.
Sem que o homem esguio espere, ao arrebatá-lo para mim, chuto suas
costelas, enquanto giro atrás dele no mesmo instante em que enrosco a
corrente ao redor do seu corpo e em seu pescoço com firmeza, fazendo-o se
engasgar com o fumo. Aperto a corrente até fazê-lo cair no chão e atinjo o
restante do metal em seu rosto com um rosnado. Ele grunhe num protesto
sufocante e volto a correr quando os outros notam a reação do amigo.
Assim que avisto o muro familiar, mesmo com as armas destravadas
prontas para aproximação das ameaças, não ouso interromper minha corrida,
mas me distraio com os relinches. Corro em desespero para a mansão e me
interrompo ao ver Lake e Hush saírem pelos portões em disparada.
Observo, olhando para trás, o homem esguio caído no chão se assustar
na tentativa de se soltar a tempo. Vejo Hush passar por cima dele com
brutalidade, depois volta para farejá-lo. O homem pede por ajuda, enquanto
alguns dos seus companheiros apenas observam a cena, os outros correm de
Lake quando entra na floresta.
Como num filme de terror, diante dos meus olhos, assusto-me ao
ouvir o homem suplicar por socorro em agonia quando Hush pisoteia suas
pernas e abocanha a corrente, arrastando-a para dentro da floresta com uma
brutalidade selvagem. E, mesmo sendo dois cavalos, alguns homens
ameaçam avançar, até mesmo o líder.
Os tiros repentinos são disparados, mas logo os vejo recuar assim que
veem os motoqueiros que se aproximam caírem no chão, mortos. Quando
uma moto consegue desviar, e tenta se aproximar de mim, volto a correr, mas
paro novamente ao ver Sid surgir como um vulto branco e derrubar o homem
que é morto por um dos fuzis da casa.
A égua se interrompe à minha frente sem perder o foco das ameaças.
O relinchado dos cavalos ao longe me faz estremecer. Sid relincha com força
como resposta. Balanço minha cabeça, sabendo que sua intenção é prosseguir
para dentro da floresta.
― Sid... Volte para casa. Agora! ― ordeno e a persigo quando ousa
avançar. ― SID!
A égua chega a correr, mas para com meu grito. Escuto mais motos se
aproximarem da estrada. Sid parece frustrada e me assusto com sua
brutalidade repentina em minha direção. Ela ergue suas patas dianteiras e
choca-se à minha frente, fazendo-me pular para trás.
Cambaleio assombrada, caindo com as mãos espalmadas no chão.
Olho para cima vendo seus olhos negros em alerta. Novamente a égua volta a
me ameaçar, enquanto rastejo para trás assustada. É como se a antiga Sid
estivesse de volta só que mais intimidante, me encarando sombriamente e
relinchando como se estivesse ordenando para me afastar.
Estremeço ao tentar me manter de pé e seguir para longe dela, até
passar pelo portão da mansão. Puxo o ar com força e me debruço em meus
joelhos ao escutar os tiros. O portão de aço fecha-se atrás de mim. Assusto-
me quando Ian e Donna tocam meus braços.
― O que aconteceu? ― Donna pergunta alarmada, vendo as armas
em disparada no muro. ― Onde estão os outros? ― sua pergunta faz meu
coração se apertar.
― Entrem na casa! ― ordeno.
― Mine... Os cavalos... ― Ian aponta em direção ao portão.
Aceno, segurando a preocupação em meu peito.
― Eles vão ficar bem. Agora, só precisamos entrar em casa ―
empurro-os até a entrada e impeço Peter de sair correndo.
― Mine?
― Fiquem por aqui ― peço temerosa, não permito arriscar mais
ninguém nesse inferno.
Em seguida, subo para a biblioteca, chamando pelo sistema.
― Onde os outros estão?
― Dinka, Cassandra e Nectara, bloquearam os outros motoqueiros.
Matt, Messi e Daniel estão seguindo para a floresta. O senhor Makgold
acaba de atropelar três deles e passar com o carro por cima de outros dois.
― Shiu parece apreciar, mas apenas vejo pontos e movimentos na imagem
tecnológica.
― E os cavalos? ― observo o mapa local na tela à minha frente mais
atenta.
― Não tenho controle sobre eles, senhora.
― Como não?! ― digo ríspida.
― O senhor Makgold não me passou nenhum tipo de controle em
relação aos cavalos, senhora ― o sistema parece se desculpar.
Suspiro, tentando em vão aceitar a opção de Johnatan, só que não.
― O que esses homens querem?
― Provavelmente seja o segundo plano de Charlie Makgold antes de
estarem no navio. ― Shiu explica e esfrego meu rosto, exasperada. ― Não
preocupe, os armamentos estão equipados para proteger a casa.
Como se uma simples informação fosse aliviar minha tensão.
Inquieta, peço para Shiu abrir a sala de armamento e arranco um fuzil
carregado de uma das prateleiras. Desço as escadas, vendo Ian abraçado com
Donna. Peter observa o lado de fora, também com sua arma em punho,
enquanto circula pelo o campo, eu o acompanho, observando os fuzis em
cima do muro dispararem e virarem em direção à ameaça do lado de fora.
A noite não deveria ser tão angustiante, muito menos fria, e sim ser o
nosso momento de paz. Quando os portões se abrem, Peter e eu miramos
nossas armas, mas logo abaixamos ao ver Nectara e Dinka entrarem. Assim
como Cassandra, que entra mancando depois de jogar uma barra de ferro na
grama, seu rosto está machucado.
Dinka corre até ela para examinar seu rosto. Matt, Messi, Daniel
chegam minutos depois, apoiando-se em seus joelhos à procura de ar.
Distraio-me aliviada em ver Lake e Hush correrem juntos pelo campo, mas
me pergunto por onde eles entraram se não pelo portão.
Logo a Mercedes prateada com o capô amassado invade meu campo
de visão, meu alívio chega de imediato ao ver Johnatan sair do carro,
observando todos até me encontrar no meio do campo. Solto meu fuzil e
corro para ele. Johnatan segue em minha direção de braços abertos para me
receber. Abraço-o desesperada e examino seu rosto com novos machucados
acima da sobrancelha e perto de sua boca. Ele puxa o ar com força parecendo
cansado.
― Eles tocaram em você? ― afasta-me para me analisar por inteiro.
― Não ― respondo trêmula, mas aliviada por tê-lo comigo e sou
acolhida em seus braços novamente.
A quentura da adrenalina em meu corpo evapora, dando lugar ao frio
e estremeço em seus braços.
― Eu não posso deixá-la sozinha. Onde eu estava com a cabeça? ―
culpa-se depois de me beijar com amor.
― Não se preocupe, eu estou bem... Eles-eles eram da LIGA... ―
Johnatan me aperta em seus braços ao ver minha preocupação desesperada.
― Muitos estão mortos, outros foram capturados pela equipe de
Daniel. Eu só preciso saber sobre essa infiltração, mesmo eu tendo minhas
hipóteses, mas não agora. Precisamos relaxar, vamos terminar com esse
pesadelo por hoje ― deseja cansado, beijando meu rosto e meus lábios.
Acolho-me em seus braços, escutando nossos parceiros reclamarem
dos ataques, que, para eles, foram o ápice do desgaste do dia.
De repente, um relinchar feliz dos cavalos me chama atenção. Afasto-
me dos braços de Johnatan para ver Sid correr, atravessando o portão, e parar
ao notar a movimentação. Meu alívio se intensifica ao tê-la conosco
novamente.
Hush e Lake correm até Sid para acompanhá-la, mas, de algum modo
eles estão agitados. Sinto os braços firmes de Johnatan ao meu redor ficam
tensos.
Franzo a testa.
― Não... ― Johnatan arfar e caminha até Sid, que se interrompe
brevemente ao vê-lo.
― SID! ― Ian berra do outro lado do campo, enquanto corre. ― SID!
Sigo Johnatan e paramos de caminhar quando Sid se aproxima, como
sempre, linda e elegante, como um anjo. A luz da lua e a iluminação do
campo faz sua pelagem branca cintilar. Fico confusa, pois seus olhos negros
estão apenas em Johnatan.
Assusto-me quando Lake relincha e salta, chocando suas patas contra
o chão. Hush se mantém instável, farejando seu espaço inquieto. Meu oração
se afunda quando a égua relincha fracamente e fecha os enormes olhos antes
de se curvar para Johnatan.
― Não... ― tapo minha boca com força. Minhas lágrimas caem de
uma vez.
Em suas costas e nas laterais de seu tronco, vejo os machucados. O
sangue vermelho cobre a linda pelagem branca. Próxima à sua dianteira
esquerda, vejo uma ferida profunda e sei que foi atingida, torturada, por
mangais. Johnatan chega mais perto quando a vê tremer por não conseguir se
manter curvada por muito tempo. Sid escorrega para chão e permanece
deitada, puxando o ar com força. Johnatan mantém sua cabeça em seu colo,
enquanto analisa os machucados. Lake fareja, como se estivesse
inconformado ao rinchar.
Corro para Sid e me ajoelho entre seu corpo para ver o machucado
profundo mais de perto. Não é apenas um, mas vários. Ela foi torturada muito
mais do que eu havia imaginado. Choro e toco sua pelagem pegajosa, não me
importando com o sangue.
Vejo seus olhos negros dispararem em minha direção. Ao olhar para
Johnatan ajoelhado, observando Sid, enquanto esfrega sua palma em seu
pescoço, eu sinto seu olhar perdido, assim como sua angústia silenciosa, pois
não há o que fazer por ela.
― Não... Não... ― lamento e me curvo sobre o corpo de Sid para
chorar.
O choro inconsolável de Ian e o relinchar dos cavalos me faz
estremecer. Meu coração se apertar de forma tão dolorosa que me deixa sem
ar. Sinto Sid trêmula com a respiração enfraquecida.
De repente, surpreendo-me ao escutar Johnatan cantar, nunca o ouvi
cantar, nem mesmo sua voz embargada carregada de tristeza. Eu reconheço a
letra, mesmo sendo pronunciada num russo intenso, carregada de compaixão
e ternura. Johnatan murmura no silêncio da noite a perfeita canção de O
Magico de Oz, Somewhere Over The Rainbow. Depois, ele contempla o olhar
perdido de Sid ao murmurar palavras russas, como se lhe agradecesse.
― Me desculpe... Me desculpe, Thessy ― Johnatan lamenta com a
voz pesada.
Minha dor se intensifica por saber que, de alguma forma, Sid o
lembrava sua irmã.
Ela relincha suavemente de dor, o som faz Johnatan fechar os olhos.
Curvo-me para pegar sua mão sobre a pelagem branca.
Ele aperta minha mão com força e estremece. Quando volta a olhá-la
novamente, Sid inspira profundamente, como se estivesse aliviada, em
seguida, fecha seus olhos e solta sua respiração fraca pela última vez. Encaro-
a perplexa. A dor em meu coração é intensa, sufocante.
Choro sobre seu corpo machucado, deslizando minha palma em sua
pelagem. Aperto meus olhos ao escutar Lake e Hush relincharem, a dor deles
é maior que a minha. Lake fareja afobado, depois choca suas patas
novamente no chão para ter alguma reação de Sid.
Ao abrir meus olhos me emociono, Hush se curva para Sid de olhos
fechados. Por outro lado, Lake observa sem entender. Ergo minha mão
ensanguentada para ele, na intenção de niná-lo, mas o cavalo caramelo
apenas se aproxima com cuidado para cheirar minha mão e se afasta para
longe.
― Traga a caminhonete ― surpreendo-me com a ordem repentina de
Johnatan.
Ele se esforça para se manter firme e o observo acariciar a cara de sua
égua em seu colo. É a primeira vez o vejo tão devastado, como se perdesse
uma das coisas mais importantes da sua vida.
― Johnatan... ― escuto Matt tentar protestar.
― Eu mandei trazer a caminhonete! ― Seu tom alto faz todos que
nos cercam se assustarem.
Vejo seus olhos em chamas, marejados de lágrimas, fixos em Matt.
― Eu faço ― Peter se oferece e segue para o estacionamento.
Não ouso interrompê-lo, sua dor é explícita. Em poucos minutos,
Peter se aproxima com a caminhonete de Donna. Afasto-me e deixo que os
homens ajudem Johnatan a pegar Sid e colocá-la na caçamba com cuidado,
ele se esforça para deter sua fraqueza. Quando terminam, eles se afastam,
enquanto Johnatan segue para o volante.
― Me deixem sozinho ― a voz embargada do meu amor faz meu
coração enfraquecer. A vontade de pegá-lo em meus braços e acolhê-lo é
angustiante.
Busco controlar minhas emoções, mas é inevitável, vendo-o se afastar
pelo campo com a caminhonete. Tomada pelo sentimento de solidão, observo
o corpo de Sid pela última vez. Hush o acompanha. Encolho-me em prantos
ao sentir Peter abraçar meus ombros.
― Vamos entrar, não podemos ficar no frio. Precisam descansar ―
Donna tenta se manter forte e nos puxa para casa. ― Venha, querida. Deixe-o
sozinho. Por enquanto, será melhor.
Eu nem mesmo tinha notado a presença de Donna conosco, mas ela
também está angustiada. Pior é ver Ian se afastar, encolhido aos soluços,
deixa-me ainda mais enfraquecida.
Ver todos se afastar me faz olhar para o campo em melancolia. Eu já
sinto o buraco ali, como se tudo mudasse da água para o vinho, pois, aquela
pequena alegria nunca mais vai voltar. O pressentimento me faz me perder
em pensamentos sobre como Johnatan seguirá pelas manhãs ao encontrar
seus companheiros de treino, assim como eu que não irei encontrar a minha
companheira tão querida.
O pensamento me faz relembrar de dias atrás, a ponto de me deixar
paralisada, enquanto minhas lágrimas escorrem pelo meu rosto. A égua
sempre demonstrou sua bravura, sua fidelidade, sua brutalidade, sua coragem,
seu companheirismo, sua força, sua proteção... tantas qualidades em um só
animal, mas há algo mais importante, algo que só quem é dessa natureza é
capaz de sentir.
Minhas mãos trêmulas se erguem direto para minha barriga, meu
choro se transforma numa mistura de dor e emoção ao ter certeza de que...
― Você sabia.
54 – UMA NOVA ERA

Durante o jantar todos permanecem em silêncio. Assim que termino


minha refeição, sigo direto para o quarto a fim de tomar um banho e vestir
um pijama confortável. Antes de ir me deitar, espio pela janela o campo
silencioso. As lágrimas voltam a preencher meus olhos ao sentir o vazio
inesperado, tendo apenas lembranças guardadas na memória.
Sigo para a cama, depois de desligar o abajur, deixando apenas a
claridade da lua invadir o quarto em tom acinzentado. Não sei por quanto
tempo permaneço imóvel, encarando a porta na esperança de ter Johnatan
comigo. Por mais que eu quisesse estar em sua companhia, eu tinha que
deixá-lo sozinho.
O cansaço me vence até eu dormir em um sono profundo. Bem, seria
mais profundo se não fosse pelos sonhos obscuros que me fazem acordar de
hora em hora, deparando-me com o quarto vazio até voltar a pegar no sono.
Acordo, de repente, ao me sentir a claridade do dia. Meu coração
dispara e deslizo as mãos por meus cabelos, sentindo-o úmido e minhas
roupas pegajosas. Olho para meu lado com a certeza de que Johnatan não
apareceu durante a noite. Chuto as cobertas para longe do meu corpo e encaro
o relógio no criado-mudo. São quase sete horas da manhã.
Ao me levantar de uma vez, sinto minha cabeça girar, inspiro fundo e
relaxo meu corpo. Franzo a testa ao tentar lembrar o sonho que me deixou
assustada e me fez acordar repentinamente. Estremeço só de imaginar
Zander.
Quando a tontura passa, volto a me levantar e sigo para o banheiro a
fim de tomar um banho rápido. Depois, visto um vestido branco longo, com
detalhes em renda, e deixo meus cabelos soltos. Ao sair do quarto, desço as
escadas à procura dele. Caminho até a cozinha onde encontro Donna
preparando o café da manhã.
― Bom dia, querida ― pela sua expressão, dá para notar que ela
também não teve uma boa noite de sono.
Eu não quero nem imaginar como ela reagirá quando souber sobre
James. Estremeço.
― Bom dia, Donna. Por que não vai descansar?
― É melhor manter minha mente ocupada. Passei a noite inteira com
Ian ― diz com tristeza.
Engulo o nó em minha garganta.
― Posso imaginar como ele se sente ― sussurro e inspiro fundo. ― E
Johnatan?
Franzo a testa quando Donna se encolhe com minha pergunta.
― Só o vi na madrugada. Ele não subiu para o quarto, mas deve
estar... ― ela se retrai ainda mais. Preocupo-me com sua reação.
― Onde você acha que ele está?
― No porão ― eu quase não escuto sua voz.
― No porão? ― penso no que ele foi fazer em um lugar cheio de
ferramentas.
Donna acena.
― Mas não é o porão que conhecemos, é o secundário. Ele fica
próximo dos quartos do primeiro andar, seguindo direto para o escritório. A
estante alta do lado esquerdo é a porta de entrada...
Antes que Donna termine, saio da cozinha e caminho até o local.
Jamais pensaria que a estante de madeira fosse uma porta para a entrada de
um porão. Nem mesmo sabia que ele existia além que está localizado nos
fundos da casa.
Assim que passo pelo escritório, encaro a estante, notando que está
um pouco afastada. Olho para a madeira e a toco, empurrando-a com
facilidade. Impressiono-me com a entrada do porão, onde há tochas
luminárias ligadas na parede do pequeno corredor. Entro, puxando a estante,
e observo como o lugar é moderno, com piso de vinílico escuro e paredes
claras.
Logo, o caminho curto me leva direto para um espaço mais amplo. As
tochas seguem acessas, iluminando o lugar e me fazendo observar alguns
móveis desgastados e um pouco queimados. Surpreendo-me até mesmo
quando encontro novamente o quadro da garotinha encostado na parede,
aquele foi o quadro que vi quando invadi, pela primeira vez, a biblioteca de
Johnatan.
Um movimento me chama atenção e sigo em frente, desvencilhando-
me dos objetos um poucos queimados. De repente, outro quadro me chama
atenção, um retrato desenhado de uma mulher jovem, seu cabelo negro
destaca seus olhos doces e claros, assim como o sorriso angelical, que
ilumina seu rosto sereno.
Por trás de toda aquela beleza, a semelhança na seriedade de seus
olhos profundos e de sua postura, lembra-me de Johnatan. Aquela era sua
mãe. Distraio-me ao escutar uma respiração ofegante. Ao girar meu corpo
meu coração se aperta com o que me deparo.
Johnatan está sentado no chão, ao lado de uma cama dossel queimada,
apertando uma boneca de algodão contra seu rosto. Aproximo-me dele,
notando suas roupas e suas mãos sujas de terra. Seu corpo treme e se encolhe
devido a uma nova onda de choro.
Abaixo-me e acaricio seus cabelos. Minhas lágrimas caem em tristeza
por vê-lo tão frágil, tão exposto a uma tristeza profunda. Johnatan afasta a
boneca de seu rosto para me olhar, suas lágrimas me quebram por inteira. Seu
rosto corado está suado, seus lábios tremem ao puxar o ar com força.
Aproximo-me ainda mais dele e o abraço com fervor.
― Sid era a única coisa que me fazia lembrar Thessy ― Johnatan diz
rouco e me aperta em seus braços trêmulos.
― Ela se arriscou para nos salvar. Não podíamos fazer nada ―
sussurro, beijando seus cabelos e desejando que sua dor desapareça. ― Eu sei
o quanto esses cavalos significam para você. Sei o que você fez por eles e o
que eles fazem por você. Tenho certeza de que Sid... Sid se foi... muito grata
por isso ― choro, inspirando fundo, em seguida, seguro seu rosto para afastar
suas lágrimas.
― Eles são uma parte muito importante da minha vida ― ele me olha
com intensidade. ― E o que mais me dói... É que não pude fazer nada por
ela. Eu não pude salvá-la, assim como não pude salvar minha mãe e minha
irmã.
O nó em minha garganta se intensifica. Balanço minha cabeça,
chamando sua atenção para mim.
― Amor, você não deve se culpar por isso. Temos que viver essa vida
como um caminho sem saída, ganhando e perdendo. Contudo, quando
tivermos no futuro e olharmos para trás, veremos que tudo valeu a pena, que
até nossas perdas serviram para nos guiar para seguirmos em frente ―
acaricio seu rosto, enquanto ele me escuta com atenção. ― E, neste
momento, temos que agradecer por tudo que Sid fez por nós. Ela fez mais do
que você imagina ― sussurro, beijando suas pálpebras úmidas e vendo sua
testa franzida.
― O que quer dizer? ― a pergunta faz com que eu me afaste, um
pouco mais empolgada.
― Eu direi. Mas primeiro, preciso que você se levante. Vá tomar um
banho e me acompanhe até a tenda ― sorrio abertamente.
Johnatan solta sua respiração, dando-me seu sorriso torto.
― Ninguém jamais entrou aqui, exceto Donna. Quando a casa
queimou, consegui recuperar poucas coisas que pertenciam à minha mãe e
irmã ― ele olha ao redor e encara a boneca em suas mãos, eu observo
também. ― Era de Thessy, se chama Sid. Acho que eu não deveria manter
isso aqui.
Sorrio ao ser apresentada para a boneca, em seguida, ele a coloca na
cama atrás de nós. Sem que espere, encho seu rosto de beijos.
― Não precisa se livrar de nada disso, faz parte de você. São as
únicas coisas que você tem para se lembrar delas ― sorrio, derretendo-me
com seu olhar amoroso.
― Minha Roza, você é excepcional. É uma pessoa com o coração de
ouro. Por isso que te amo com todas as minhas forças. Você é a única que me
guia para a luz ― sua declaração me derrete.
Ele se aproxima para beijar meus lábios, tendo o cuidado de não sujar
meu vestido, mais do que já está sujo.
Ignoro seu cuidado e enrosco meus braços em seu pescoço. Logo, ele
me ergue em seus braços, levando-me para fora do porão. Quando empurra a
estante com o pé, fechando a entrada sem desgrudar seus lábios dos meus,
abro meus olhos para encarar os seus em chamas.
― Então, Johnatan Makgold está de volta? ― sussurro em seus
lábios, quero afastá-lo de qualquer tristeza.
Me conforto com seu sorriso aberto.
― Está mais ativo do que nunca. Obrigado, amor ― murmura e beija
meus lábios novamente. ― Preciso de um banho.
Sorrio, deixando que me leve junto com ele. Não ouso perguntar onde
deixou Sid, nem mesmo falar sobre o quadro de sua mãe, pois não quero
trazê-lo de volta para a escuridão. Eu o provoco, mordiscando seu lóbulo,
enquanto sobe as escadas.
― Eu só preciso trocar esse vestido. Já tomei banho ― falo sorrindo.
― Dizem que um segundo banho com acompanhante deixa o dia
melhor ― sua sugestão descarada me surpreende.
― Não estou sabendo disso ― brinco quando entramos no quarto.
― Acabei de inventar ― suga meus lábios. ― Podemos adiantar o
que temos para fazer na tenda ― o familiar sotaque russo sussurrado me
arrepia.
― Oh... Não estrague minha surpresa ― disparo, interrompendo-o na
entrada do banheiro.
Johnatan me olha confuso.
― Surpresa?
Aperto meus lábios e pisco meus olhos com inocência, fazendo-o
rosnar em frustração.
Tomamos um banho cheio de provocações picantes, mas não permiti
que ele avançasse o sinal. Isso só aconteceria quando estivéssemos na tenda.
Até lá, eu tenho que me segurar com suas provocações e me divertir com suas
frustrações. Tudo na intenção de nos afastarmos de pensamentos tristes.
Exceto saber informações sobre James e meu pai.
Quando coloco outro vestido simples e branco, aguardo Johnatan e o
ajudo a fazer um curativo em seu braço, devido à bala que o atingiu de
raspão. Em seguida, eu o assisto colocar sua calça de moletom cinza e uma
blusa preta fina, de gola V, que se ajusta perfeitamente ao seu corpo másculo.
― Como será que está James? ― pergunto assim que seguimos para a
biblioteca.
― Vamos saber agora ― murmura, depois chama pelo sistema K-
Shiu, que surge nos dando boas-vindas num som dançante.
Franzo a testa.
― Desculpe. É uma playlist que programei de gênero k-pop. Vocês
vão se viciar nisso ― o sistema se anima, e agradeço pelo bom humor.
Johnatan revira os olhos e pede informações sobre James.
― Ele está internado no hospital da Central de Agentes em estado
grave e fará outra cirurgia nesta tarde. Daniel seguiu em viagem para
Wellington essa madrugada, ele também passou informações por e-mail.
Jordyn está hospedada em um hotel próximo, Edson receberá alta nesta
manhã e Matt está cuidando das papeladas dos últimos ocorridos, por
precaução ― Shiu informa, mostrando-nos a mensagem e imagens de James
em uma sala isolada, respirando com a ajuda de aparelhos.
Meu coração se parte em mil pedaços. Johnatan me olha preocupado,
seguro minha respiração, caminhando até ele e abraçando sua cintura. Seus
braços me cercam em conforto.
― Deixe-nos por dentro de tudo Shiu. Amanhã, seguirei até essa
Central para visitar James. Informe a Jordyn sobre um apartamento que
possuo na região. Imagino que ela não voltará para casa tão cedo. Vou pedir
para Donna fazer suas malas ― Johnatan ordena.
― Nem mesmo contamos a Donna o que ouve com James ―
encolho-me preocupada.
Johnatan acaricia meu rosto.
― Eu farei isso, amanhã ― ele suspira. ― Shiu, seria mais fácil para
nós se você tentasse invadir o sistema da Central para nos deixar mais
informado. Amanhã, verei o que posso fazer quanto a isso ― Johnatan diz
pensativo.
― Farei o possível, senhor. E também devo informar que o senhor
Barrett está ansioso para vê-lo novamente. Daniel deixou claro no e-mail
que o diretor ainda quer conversar com o senhor sobre a infiltração da noite
passada.
A informação deixa Johnatan exasperado.
― Ele não vai desistir nunca.
― Pensei que já tinha deixado as coisas bem claras a ele ― murmuro
em seu peito.
― Ele é persistente. Mas, se tivermos um resumo de seus sistemas,
descobriremos se está sendo sincero ou não ― olho para Johnatan
desconfiada.
― Isso não seria ilegal? ― sussurro, vendo seu sorriso se abrir de
maneira sombria. ― Johnatan...

No café da manhã nós nos reunimos com Dinka e Cassandra. Nectara


e Messi se juntam em seguida. A conversa flui sobre Daniel esconder suas
verdadeiras intenções para com a LIGA. Vejo nos olhos de Messi seu orgulho
pelo sobrinho. Pela primeira vez, consigo confiar em suas palavras, depois de
tudo que passamos juntos.
Na conversa evitamos detalhes que me fazem ter calafrios só de
relembrar, até Donna sentir a falta de James e Jordyn. O silêncio volta a nos
dominar. Peter, que chega depois, também percebe a atmosfera mudar.
― Depois conversamos sobre isso, Donna ― Johnatan assegura,
fazendo a governanta acenar com o olhar perdido.
Esforço-me e com facilidade tomo meu café da manhã
tranquilamente. Bem, eu tento, pois a atenção de Johnatan se volta para mim.
― O quê?
― Nada. Só estou impressionado com seu apetite ― nota.
Coro ao perceber seus olhos maliciosos.
― Johnatan... ― repreendo-o baixinho entredentes.
Caminhamos em direção à tenda de mãos dadas, olhando o campo
vazio. Hush parece apreciar o sol num semblante solitário, já Lake se mantém
isolado, farejando o lugar. Balanço minha cabeça para me afastar de
pensamentos tristes e puxo Johnatan.
Ao chegar à tenda, afasto os tecidos e tiro minhas sandálias antes me
deitar no colchão macio para encarar o céu azul aberto. Em seguida, sinto
Johnatan percorrer meu corpo com beijos até encontrar meus lábios. Acaricio
seu rosto e o beijo com amor.
Meu corpo se aquece com seus toques. Sua aproximação me faz
perder os sentidos e me concentrar apenas em nós dois, amando um ao outro
com ternura. O momento nos leva mais além, onde já sentimos nossas peles
se unindo, intensificando nossa conexão. Fazemos amor de forma lenta e
delicada.
Cada toque, cada movimento, cada prazer que podemos dar e
satisfazer um ao outro nos excita cada vez mais. Meus gemidos ofegantes são
mesclados com sua respiração quente em minha boca. Perco-me em suas
mãos escorregadias por meu corpo e seus lábios roçantes em minha pele.
Meu corpo se arqueia contra seu peito, enquanto ele se move mais
intensamente, atingindo meu ponto mais prazeroso, num ritmo lento e
ardente, levando-me à loucura. Agarramos um ao outro, e nos olhamos nos
olhos, enquanto chegamos juntos ao clímax.
Pouco tempo depois, Johnatan sela meus lábios num beijo
apaixonante, fazendo-me perder os sentidos quando sua língua acaricia a
minha e suas mãos voltam a percorrer meu corpo com delicadeza.
― Não sabe o quanto fica linda dessa forma ― sussurra junto à
minha pele.
― Devo dizer o mesmo de você ― sorrio ainda mais e o beijo,
sugando seu lábio inferior.
Meu amado esposo se afasta um pouco e observa meus olhos com a
testa franzida.
― Era essa a surpresa? Bem, confesso que aqui se tornou meu lugar
preferido, pois tenho você comigo sem qualquer interrupção ― seus lábios
percorrem meu queixo e se arrastam por meu pescoço.
Sorrio.
― Você está coberto de razão ― aceno rindo, erguendo minha cabeça
para ele prosseguir com a carícia. ― A tenda é nosso lugar especial. É onde
podemos viver tranquilos e em paz. Poderia até mesmo passar o resto da
minha vida aqui ― sussurro melancólica.
Fecho meus olhos e recebo seus beijos.
― Você disse a mesma coisa quando estávamos na ilha ― sua
lembrança me faz sorrir ainda mais.
― Ah... Mas é porque são lugares lindos e significativos para mim.
Por isso que são especiais, principalmente a tenda ― mordo meu lábio e olho
em seus olhos.
― Verdade. O que acabou de acontecer se torna cada vez mais
especial e importante para mim ― Johnatan assente, perdido em outra
dimensão.
Jogo minha cabeça para trás para rir.
― Quase isso ― falo quando me recomponho.
Johnatan me analisa, numa expressão confusa.
― Estamos comemorando o fim de uma vida infernal, certo? ― diz
pensativo. ― Mas não faríamos isso na tenda. Aqui é como um espaço
sagrado, longe de problemas e desses pensamentos...
― Você não faz ideia, não é mesmo? ― pergunto, vendo sua cabeça
balançar.
― Você disse algo referente à Sid... ― quanto mais ele tenta pensar,
mais quero rir de sua reação. ― Eu devo adivinhar?
Sorrio suspirando e acaricio seus cabelos presunçosamente.
― Vou começar dizendo que ela protegeu algo importante desde o
momento que descobriu. Agora, posso perceber o quanto ela se colocou como
uma verdadeira protetora e, em seu último momento, colocou-se em nossa
defesa ― fico perdida em lembranças quando Sid se encostou em minha
barriga e no momento em que me afastou do perigo. ― Ela se tornou mais
atenta do que de costume.
Johnatan pisca ainda mais confuso.
― Ela foi uma grande égua, mas não estou entendendo. O que... ―
silencio seus lábios com meu indicador e acaricio seu rosto, vendo-o inspirar
o perfume em meu pulso.
― Amor... ― chamo-o quando vejo seus olhos se fecharem ao inalar
meu perfume com intensidade.
― Estou aqui... ― murmura deliciado.
Meu coração bate acelerado, mas minha expressão se torna serena ao
pensar nas minhas próximas palavras.
― Eu estou grávida ― anuncio sem fôlego.
Seu corpo parece travar em minhas mãos. Eu nem mesmo sinto sua
respiração abafada em meu pulso. Logo, seus olhos se abrem e me encaram
numa expressão séria. Engulo em seco, puxando o ar sem soltá-lo de meus
pulmões direito. Sua testa franze e seus olhos piscam, como se ele estivesse
tentando entender o que acabei de lhe dizer.
― Você... ― Johnatan se interrompe.
Em seguida, apoia-se em seus cotovelos para me observar com
atenção. Sem pensar, toco seu peito. Seu coração está mais acelerado que o
normal.
― Vamos ter um bebê ― sussurro tão baixo que temo por sua reação.
― Você... você, não-gostou? ― minha voz sai abafada e trêmula.
Minhas lágrimas começam a preencher meus olhos, enquanto
Johnatan fixa em mim e pisca assustado.
― Não é algo que esperava ouvir. Dê-me um segundo.
Assim que ele se afasta, eu o vejo soltar o ar preso e deslizar suas
mãos por seus cabelos. Eu também aproveito para respirar com mais
tranquilidade antes de falar.
― Eu deveria...
Johnatan me interrompe, erguendo sua mão e o noto percorrer minha
barriga com seus olhos.
― Isso é inacreditável ― ele sussurra. ― Mine, você tem certeza?
Pisco confusa.
― Hum... Eu devo fazer alguns exames. Mas eu sinto... Bem, eu não
sei explicar ― tento me manter tranquila, mas eu simplesmente estou
hipnotizada por sua reação. ― Você não gostou...
Seus olhos me encaram seriamente.
― Como pode me dizer isso? Eu só estou... Por Deus, mulher, eu
estou em choque ― Johnatan desabafa, deixando seus ombros caírem.
O alívio me invade tão de imediato, que acabo rindo da sua expressão.
― Desculpe! Mas você me assustou ― confesso, vendo-o me olhar
incrédulo.
― Só me responda uma coisa... Pare de rir ― aperto meus lábios, ele
também segura seu sorriso, mas é impossível. ― Você está gravida?
Maneio a cabeça.
― Foi o que eu disse. Acho que você só vai acreditar quando a
barriga estiver aparecendo ― inconscientemente, acaricio minha barriga.
O gesto chama sua atenção. Sem que eu espere, Johnatan se debruça
sobre meu corpo para encarar meu ventre. Em seguida, roça seus lábios,
espalhando beijos delicados, enquanto sussurra palavras doces em russo. Meu
corpo se arrepia, meu coração dispara e se preenche até sentir minhas
lágrimas retornarem com força.
― Como você pôde pensar que eu não poderia gostar de uma notícia
dessas, minha Roza? Eu não sou um monstro. E isso... isso é mais que um
presente para mim. É algo que eu nem pensei que merecia ganhar ― suas
palavras chamam minha atenção.
Acaricio seus cabelos, vendo suas lágrimas preencherem seus olhos
também.
― Johnatan, você merece... ― balanço minha cabeça incapaz de falar
devido às emoções, sinto seus beijos subirem até encontrar meus lábios. ―
Eu te amo tanto.
Ele sorri, enquanto acaricia minha barriga com carinho.
― Não tanto quanto eu a amo neste momento e por toda a eternidade
― declara em meus lábios antes de me beijar com amor, fazendo-me perder o
fôlego. ― Você não faz ideia de como estou me sentindo nesse momento.
Mine Makgold, você sabe fazer um marido feliz.
Sua felicidade me contagia. Logo, deixo-o deslizar, empolgado, para
baixo e grudar seu ouvido em minha barriga.
― É apenas um pontinho bem pequeno. Ainda impossível de escutar
― disparo rindo.
― Podemos não escutá-lo, mas podemos senti-lo, não é? ― ergue seu
queixo, dando-me uma piscadela numa expressão emocionada.
― Eu mal posso esperar para vê-lo como pai ― afasto suas lágrimas
com carinho.
Eu me perderia nesse pensamento paterno se seu sorriso não se
fechasse de vez, dando lugar a um semblante sério. Oh-Oh!
― Espere...
Johnatan se levanta pensativo, afastando o lençol que nos enrosca e
pega sua calça para vesti-la. Eu apenas me preparo.
― É hora de correr? ― sussurro mais para mim mesma. ― Johnatan
feroz ativado em três, dois, um...
― Eu não acredito! Como você foi capaz de embarcar naquele navio,
arriscando sua vida e a do nosso filho? Espere... Mais alguém sabia disso?!
COMO VOCÊ PÔDE SER TÃO IRRESPONSÁVEL DESSE JEITO,
MINE? E se algo acontecesse com vocês? Mine, não sorri, estou te fazendo
perguntas! Como acha que eu iria me sentir se algo tivesse acontecido com
vocês?! ― ele está bravo, muito bravo, até os pássaros voam para longe, mas
é impossível não sorrir de seu ataque.
― Eu tive meus cuidados...
― Você não me respondeu! ― acusa, caminhando de um lado para o
outro.
― Johnatan... Por favor. Não vamos falar de coisas ruins, ainda mais
aqui ― imploro, só que ele me ignora.
― Você é terrível, Mine. O que devo fazer com você agora? Colocá-
la em uma jaula equipada para sua proteção? ― dessa vez eu fico séria.
― Você não se atreveria ― sento-me ao dizer entredentes.
― Não me teste ― ele se curva na cama para me olhar de perto. ―
Você vai ficar longe de qualquer atividade que coloque em risco a vida do
nosso bebê, e vou acompanhá-la em todos os exames que tiver que fazer para
saber o estado de saúde de ambos. Fui claro?
Sua aproximação me faz encarar tanto seus olhos ferventes quanto
seus lábios firmes. Aproximo-me e roubo-lhe um beijo.
― Eu não sei se me aborreço ou se me admiro com sua proteção ―
sorrio, vendo sua relutância ao tentar se manter severo. ― Eu prometo a você
que vou cuidar muito bem de mim e do bebê.
Johnatan me observa por um tempo até estar satisfeito. Logo, o
sorriso volta para seus lábios antes de me beijar com fervor.
― Mal posso esperar. Se já estou assim agora, imagine quando for o
nascimento ― sua empolgação é contagiante.
― Bem, até lá vamos aproveitar muito. Também pensaremos nos
nomes. Olha, se for menino, talvez eu faça uma homenagem ao meu pai. Oh,
Deus! Ainda tenho que dizer a ele. E devo fazer isso sozinha, porque não
quero que ele perca o controle e acabe te matando ― eu me alarmo
brevemente, Johnatan ri das minhas suspeitas. ― Agora, se for menina? Que
tal uma homenagem para sua mãe e sua irmã.
Johnatan franze o cenho, inspirando fundo.
― O gesto é nobre e também posso entender agora o que quis dizer
referente à Sid. Aquela égua sempre foi maternal ― ele reflete antes de se
sentar à minha frente.
Fico surpresa com seu tom duvidoso.
― Eu pensei que você ficaria feliz por isso também.
― É isso que a maioria dos casais fazem quando têm uma perda de
um ente querido na família, mas não me leve por esse lado, minha Roza.
Agora, pensando sobre isso, tenho os meus receios ― Johnatan desabafa com
seus olhos fixos no colchão. ― Não quero ter que olhar para nosso bebê e me
lembrar delas da forma como tudo aconteceu, nem mesmo chamar pelo nome
e sentir a agonia em meu peito. Eu não quero isso, não quero ter que pensar
que aquilo possa voltar.
Sento em seu colo para beijar seu rosto e seus lábios.
― Posso entende o que sente. E quer saber? Vamos nos divertir muito
até chegarmos a um acordo do nome adequado. Quero que seja único ―
suspiro pensativa.
― Algo te incomoda ― percebe.
Remexo-me em seu colo, deixando-o me aninhar em seus braços.
― O garoto, Allan ― engulo em seco ao relembrar. ― Precisamos
saber sobre ele, saber como ele está. Se foi usado por uma família que
passava necessidade. Eu não sei...
― Tudo bem, tudo bem... ― Johnatan tenta me acalmar. ― Já
estávamos à procura do menino, mas, depois dos últimos acontecimentos,
acabei deixando esse assunto um pouco de lado. Desculpe. Prometo a você
que vamos encontrá-lo e saber como está.
― Obrigada. Obrigada. Obrigada! ― digo feliz, enchendo-o de
beijos.
Johnatan sorri mais relaxado e me perco em seus lábios novamente,
em nosso espaço especial, em nossa bolha aconchegante.

― Também tive a mesma reação ― Johnatan aparece na sala de


entrada como se estivesse dando total apoio.
Eu o fuzilo com um olhar mortal
― Pai, está tudo bem. Vou fazer exames, prometo ficar longe de
problemas.
― Eu não estava preparado para isso, quanto mais essa invasão. Meu
Deus, se algo tivesse te acontecido, filha... ― sua preocupação me faz engolir
em seco.
Johnatan assente.
― Eu estou bem... ― repito para tentar tranquilizá-lo.
Meu pai suspira e me observa. Seus olhos se iluminam e sua mão se
ergue para tocar meu rosto.
― Me perdoe por ser tão severo, querida. Isso eu nunca vou mudar.
Tudo que eu mais prezo é por sua segurança e sua felicidade ― ele olha para
Johnatan e, depois, volta sua atenção para mim. ― Não posso acreditar que
serei avô! Não sabem a emoção que estou sentindo agora, só espere ela
passar para eu te dar uma broca.
Suas lágrimas surgem e o abraço com cuidado.
― Pai... Eu sempre soube que tinha um coração derretido ―
murmuro em seu peito, sentindo-o sorrir.
― Só quando necessário, filha. Agora, mais do que nunca me recuso
a ficar afastado de você ― diz com emoção, dando-me beijos na bochecha.
― Você pode se instalar aqui, Edson. Não há problema nenhum ―
Johnatan sugere.
Viro-me para ele sorrindo com amor.
― Obrigado pelo convite. Ficarei até minha recuperação, depois
disso, voltarei para vila, mas virei visitá-la sempre ― meu teimoso pai
decide.
Suspiro.
― Como quiser. Eu também posso visitá-lo sempre ― sorrio e olho
para Johnatan, vendo seus olhos amolecerem.
― Claro. Eu mesmo vou me encarregar disso ― meu marido
assegura antes de estender sua mão para meu pai. ― Eu não tive a
oportunidade de agradecer pelo o que tem feito. Muito obrigado.
Olho para meu pai, esperando que aceite o gesto de Johnatan, logo,
ele estende sua mão ilesa para apertar a de Johnatan com firmeza.
― Sem ressentimentos. Agora, vejo que faço parte dessa equipe, mas
quero deixar bem claro que, a partir do momento que machucar minha filha,
estará encrencado ― o alerta de Edson é sério.
Meu marido não protesta, ele concorda fielmente.
― Ok... Isso é assustador, mas nada me deixa mais feliz do que ver
vocês finalmente entrando em um acordo. Agora, devemos dar a notícia para
os outros, saber como está James e contar à Donna toda a situação. Mais do
que nunca nós precisamos uns dos outros ― puxo ambos para abraçá-los. ―
Acompanhem-me, meus dois homens mais importantes da minha vida.
55 – ADEUS

MESES DEPOIS...
Depois de tomar um banho relaxante, visto uma legging de moletom
escura e uma blusa bata branca antes de sair do quarto. Caminho descalça até
a cozinha, carregando minha sapatilha e meu celular.
― Johnatan já chegou?! ― minha voz alta assusta Donna.
― Minha nossa, querida. ― ela põe a mão em seu coração. ― Me
assustou.
― Desculpe ― sento-me na cadeira já devorando um cookie com
leite, enquanto calço minhas sapatilhas.
― Ainda não, mas ele já deve estar a caminho ― Donna diz,
servindo-me de mais cookies. ― Ian deve chegar daqui a pouco da escola, e
o restante da turma pretende jantar aqui.
Sorrio para ela e me distraio com uma mensagem de Jordyn, dizendo
que James conseguiu mover o dedo. Meus olhos se enchem de lágrimas e
conto para Donna, que se emociona comigo. Quando Johnatan foi visitá-lo
pela primeira vez, não me deixou acompanhá-lo.
Até o momento não o vi pessoalmente, apenas em fotos e recebendo
mensagens de Jordyn. Sua melhora é lenta, não demonstrou nenhuma reação
desde então, apenas uma, quando Jordyn lhe disse sobre Sid e me informou
sobre as lágrimas de James, mas as chances de conseguir qualquer outra
reação eram mínimas.
Mesmo assim, nunca deixei de encorajá-la, e até mesmo trocávamos
poucas mensagens sobre minha gravidez, pois a maior parte do assunto era
nosso sofrimento em ter James naquele estado.
Assim como hoje, Johnatan viaja para Wellington uma vez por
semana na intenção de ver James e saber das últimas informações sobre a
LIGA e dos poucos homens capturados. No momento, seu maior estresse era
o insistente diretor Arnold Barrett. Depois do ocorrido da infiltração da
equipe de Arnold no navio, Johnatan exigiu que não tivesse nenhuma
aproximação deles na casa.
― Vou ligar para ele ― eu não sei quantas vezes liguei para Johnatan
hoje.
Johnatan atende no meio do primeiro toque.
― Vai demorar? ― resmungo, acariciando minha barriga volumosa
ao sentir meu bebê mexer.
A emoção de sentir meu bebê dentro de mim é maior do que qualquer
outra coisa que já senti na vida, eu estava ansiosa para tê-lo em meus braços.
Por outro lado, justamente hoje era dia de consulta e, na verdade, agradava-
me ter Johnatan ao meu lado, enquanto a doutora Regina Nivela e sua
sobrinha ginecologista, Bianca, encarregavam-se de nos dizer como estava
seguindo com a gestação. Segundo elas, éramos fortes e saudáveis.
― Minha Roza, você me ligou faz cinco minutos. Já estou a caminho,
amor ― Johnatan se impressiona.
― Sentimos sua falta. Não demora ― peço, escutando seu riso do
outro lado da linha.
― Prometo chegar mais cedo do que imaginam. Amo vocês ―
declara com fervor, fazendo-me sorrir ainda mais.
― Pode ter certeza de que o bebê escutou isso. Ele não para de se
mexer ― digo rindo e suspiro. ― Nós nos vemos em breve, te amo. Pense,
quanto mais cedo estiver aqui, mais cedo saberemos o sexo do bebê ― hoje
era o grande dia.
Desligo rapidamente e olho para Donna, que se aproxima para tocar
minha barriga.
― Parece mais empolgado do que nunca ― ri.
Eu, por outro lado, sinto minha boca se encher d'água.
Eu li, pesquisei, soube de relatos que muitas mulheres dizem sobre
enjoos durante a gestação, mas esse problema eu não tive até o momento. Até
agora, minha gravidez é tranquila, exceto por algumas azias e,
principalmente, desejos.
― Donna?
― Sim?
― Pode fazer meu omelete assado com legumes e gotinhas de limão
por cima? ― meu pedido deixa a governanta confusa.
― Limão?
― Isso... ― engulo a saliva antes de me levantar. ― Eu já volto.
Sigo para os fundos da casa para apreciar o dia ensolarado como todas
as manhãs. Assim que saio de casa, eu me distraio com os relinchados altos
de Hush e Lake. Desde a partida de Sid, tudo parece diferente, achamos que,
pelo menos, isso voltaria ao normal, mas, de certa forma, eles sofriam,
principalmente Lake.
A cada dia que passava o cavalo caramelo se mostrava mais solitário
e sem muitas brincadeiras, mas não era só por Sid, ele também sentia a falta
de James, farejava, procurava por eles e não os encontrava. Com um suspiro
triste, caminho até encontrá-los, pois tenho certeza de que estão na frente de
casa e tenho que dar a volta pelo campo.
Paro abruptamente ao encontrá-los se afrontando. Isso jamais
aconteceu. Hush parece impedir Lake de fazer algo, mas o cavalo avança,
afastando Hush. Ambos erguem suas dianteiras e se empurram. Hush se
mantém de forma rígida, enquanto Lake relincha. Mesmo que Hush não
possa enxergá-lo, Lake apresenta um olhar negro sombrio antes de atacar
Hush com brutalidade.
― Hey! Não! Já chega! Parem... PAREM AGORA! ― ordeno aos
gritos, mas me mantenho distante para não ser atingida por eles.
Hush tenta afastar Lake novamente. Meu coração se aperta por vê-los
brigar.
― LAKE, PARE!
Meu grito desesperado sai alto suficiente. Ambos se separam num
relinchado ofegante. Aproximo-me de Hush e acaricio sua pelagem negra,
notando que acima de seu olho direito está machucado. Olho para Lake com
tristeza e, ao tentar acariciá-lo, ele se afasta relinchando, como se estivesse
envergonhado; em seguida, curva-se para mim. Balanço minha cabeça em
negação, novamente me aproximo para tocar sua cabeça.
Distraio-me quando o portão da casa se abre e sei que Johnatan está
chegando. O som profundo vindo de Hush me assusta. É quando Lake corre
para longe até sair pelo portão. Arregalo meus olhos perplexa. Sem pensar
duas vezes, corro até a saída, vendo-o se distanciar. Meu coração se
desespera.
― Lake! Lake, volta! Lake, não! Volta! ― corro em vão.
Quase tropeço, se não fosse por Hush me manter firme, bloqueando-
me com sua cabeça, enquanto me escoro em seu pescoço à procura de
equilíbrio.
O carro de Johnatan, que se aproxima, para abruptamente a meio-fio.
Ele sai do carro chocado, batendo a porta com força, olhando para a estrada
confuso e depois para mim.
Afasto-me de Hush e caminho até ele.
― O que pensa que está fazendo, Mine?! ― seu tom é severo, mas
meu desespero é maior.
― Faça alguma coisa. Vá atrás dele ― choro ao implorar. ― Lake
não está bem, ele não é assim. Não pode deixá-lo ir.
Johnatan suspira pesadamente e acaricia meus cabelos, abraçando-me.
Tento manter minha respiração controlada.
― Mine, eu nunca os deixei presos. Eles são livres, jamais vou
mantê-los aqui contra a vontade ― Johnatan sussurra ao afastar minhas
lágrimas.
― Eu entenderia se não fosse por nada, mas ele está sofrendo. Eu o
quero por perto, não quero que se vá. Por favor ― imploro, soluçando em
seguida.
Johnatan observa Hush, erguendo sua mão para acariciar o cavalo
antes de suspirar ao encontrar o machucado acima de seu olho.
― Você não deveria se colocar nessa situação ― Johnatan me
repreende, esfregando seu rosto exasperado. ― Eu te conheço. Você é
impossível.
Inspiro fundo ao encará-lo perplexa.
― O que está pensando?
Engulo meu nervosismo quando seus olhos em chamas se fixam em
mim.
― Prometo a você que vou procurar Lake. Só que neste momento,
Mine, vou me ocupar em levá-la para a ilha.
Não há protesto, pois Johnatan já saca seu celular do bolso e liga para
Cassandra, enquanto me ajuda a ir para casa aos prantos.
56 – METAMORFOSE

Estou na extensa plataforma onde o helicóptero deve pousar. O trovão


forte ilumina o céu escuro, causando-me desconforto ao pensar na
tempestade. Encaro o céu na esperança de ter algum sinal de sua chegada.
A agonia começou assim que Johnatan seguiu em viagem para Nova
Zelândia, de madrugada, acompanhado por Dinka e Messi, e estaria de volta
para trazer meu pai. Mas boa parte da viagem foi para resolver o assunto
urgente de Barrett, visitar James e sei que, pela milésima vez, foi à procura de
Lake.
A aproximação de Hush me tranquiliza, nos últimos quatro meses ele
se tornou meu fiel companheiro. Deslizo minhas mãos por sua pelagem
negra, observando seus olhos profundos.
― Eu também sinto falta deles ― a dor em meu coração por vê-lo tão
solitário se intensifica.
Mas mesmo com a distância de nosso único parceiro, eu e Hush nos
conectamos de uma forma intensa, principalmente com minha gravidez. Toco
minha enorme barriga quando ele fareja.
Depois que Johnatan me trouxe para a ilha, passei os meses aos
cuidados de Donna, Cassandra e Vanessa, surpreendendo-me que a mãe de
Cassandra fosse formada em medicina e abandonou o cargo para se manter
na ilha a pedido da filha.
Devido a isso, Johnatan fez questão de ter equipamentos necessários,
instalados em um cômodo da casa para continuar com o acompanhamento de
minha gravidez, e mesmo fazendo ultrassons, sempre acompanhada de
Johnatan, decidimos por fim não saber o sexo do bebê até seu nascimento.
A ilha passou a ser nossa colônia de férias, para a alegria de Ian,
porém esse tinha aulas particulares com Nectara e Peter. Por outro lado,
mesmo que eles estivessem atualizados em notícias, eu era a única que não
tinha o direito de se estressar, ficando de fora dos assuntos atuais. Nem
mesmo o sistema K-Shiu, instalado na casa de Vanessa, permitia que eu
tivesse acesso às informações. E como Johnatan tinha isso em sua mente, eu
estava blindada.
Uma parte de mim sentia-se isolada e depressiva, mas a outra parte
sentia-se protegida e mimada, principalmente em momentos com Johnatan
acariciando minha barriga. Todas as noites, antes de dormir, eu o escutava
sussurrar em russo a mesma canção que havia cantado para Sid. Eu sorria
toda vez que o bebê se remexia quando ele acabava e voltava a cantar.
Percebíamos que o bebê só se aquietava depois de repetir a música
três vezes. Eram como nesses momentos, agora, que eu desejava ter a
tranquilidade em meu coração, principalmente em meu corpo pesado. Minhas
costas estavam me matando.
Outro trovão próximo me assusta e o vento abafado da ilha faz a
quentura do meu corpo piorar. Não, eu não iria ficar tranquila tão cedo.
― Parece que vem tempestade por aí ― a voz de Donna me distrai.
Viro-me para ela vendo a preocupação em seus olhos. ― Você deveria
descansar, querida.
― Não consigo. É como se eu precisasse dele perto de mim ―
confesso
Sinto o bebê se mexer, causando-me uma cólica desconfortável. Foi
assim o dia inteiro.
― Johnatan chegará em breve. Pelo menos, entre e se sente. Você
está muito tempo aqui fora nesse sereno ― Donna pede com carinho.
Não posso tirar sua razão. Aceno e, ao dar o primeiro passo para
acompanhá-la, sinto um líquido quente escorrer por minhas pernas.
― Donna... ― chamo, encarando chão da plataforma assustada.
Ela se vira confusa. Aponto para meus pés e minha camisola molhada.
Não é como se eu estivesse fazendo xixi, mas é estranhamente
semelhante e assustador ao se tratar de algo que estava previsto para daqui
uma semana.
― Oh... Meu Deus! ― Donna se desespera. ― Querida, como se
sente?
Nem mesmo sei o que responder. Apenas a deixo puxar minha mão,
levando-me, com cuidado, em direção à nossa casa.
Donna grita por Vanessa, que corre preocupada e me observa com os
olhos arregalados. Estranho, só que um pouco engraçado, pois consigo
caminhar tranquilamente. Mas assim que chego dentro da casa, curvo-me
com a dor repentina e insuportável. Ela segue minhas costas até meu ventre,
fazendo minhas pernas estremecerem.
― Peter! Leve-a para o quarto! ― Vanessa pede quando todos se
reúnem desesperados para saber o que acontece.
Gemo de dor e puxo o ar com força. A cólica profunda parece se
contorcer dentro de mim. Por Deus, não era para ser agora. Não sem
Johnatan.
Peter me carrega até o quarto, onde passei meus últimos dias depois
da mudança de clima da ilha, e deita-me da cama.
― Ela vai entrar em trabalho de parto ― escuto Donna informar com
urgência a alguém.
Uma nova onda de dor domina meu corpo. Aperto os olhos, na
tentativa inútil de suportá-la, enquanto mantenho minhas mãos em meu
ventre. O calor insuportável parece intensificar a sensação turbulenta,
deixando-me desconfortável e frágil pelo nervosismo. Mesmo estando
impotente, posso notar as movimentações no quarto, luzes próximas, e ordens
de Vanessa para que Cassandra, Nectara e Donna permaneçam ali para ajudá-
la.
Grito espontaneamente ao sentir o nó dolorido em meu ventre até me
dar conta que elas começam a tirar minha camisola molhada, deixando
apenas um lençol até a metade do meu corpo para tapar meus seios fartos e
manter minhas pernas abertas expostas. Abro meus olhos na intenção de, pelo
menos tentar, me concentrar na chuva que chicoteia a janela de vidro. Rosno
nervosa só de escutar uma delas pedir para que eu me acalme.
As contrações torturantes não me dão tempo nem de puxar o ar para
meus pulmões. Além das contrações, o calor insuportável me deixa suada e
pegajosa. Eu já começo a odiar a ilha.
― Johnatan,... ― eu o chamo, apertando meus dentes e o colchão ao
fazer força involuntariamente.
― Ele está a caminho... ― alguém murmura.
― Eu preciso dele ― digo sem fôlego.
― Mine, preciso que, neste momento, você controle sua respiração,
que contenha sua força até a dilatação exata. Está prestes a dar à luz,
precisamos que você se concentre. ― Vanessa pede com carinho.
Cassandra agarra minha mão, e a aperto com força. Eu não faço ideia
quanto tempo de tortura se passou, só desejei que ela fosse embora para
sempre, mas só me dou conta quando pisco fracamente vendo Vanessa entre
minhas pernas e Donna ao lado.
― Vamos! Força, querida! ― Donna me encoraja, e faço o que me
pede.
― Mais, Mine, não desista ― escuto Vanessa me encorajar.
Mas não consigo me concentrar, minha cabeça gira ao pensar em
Johnatan. Engulo meu choro ao inspirar fundo, tentando controlar minha
respiração quando volto a fazer forçar, ao mesmo tempo em que desejo que a
dor rasgante cesse. Em seguida, Nectara entra no quarto trazendo toalhas para
Donna.
― O senhor Makgold chegou.
A notícia de Nectara me faz suspirar ofegante e, antes que ela diga
algo mais, grunho com uma nova onda de força, pois meu corpo pede por
aquilo e o desespero de tirar meu bebê daquele sufoco é torturante.
Cassandra me encoraja quando forço ainda mais. Definitivamente,
decido juntar todas as minhas energias possíveis para aquele momento, a
ponto de quase me sentar. Em seguida, volto para o colchão tendo o alívio
repentino. As lágrimas preenchem meus olhos ao escutar um choro fino, alto
e potente.
― Mine! ― na porta ao lado, vejo Johnatan invadir o quarto como
um furação.
Ele para abruptamente perplexo, atento não só a mim, mas também ao
choro que preenche o quarto.
Vanessa e Donna se derretem, assim como as outras. Olho para elas
afastando os panos com sangue e limpando meu bebê rapidamente,
enrolando-o em uma manta branca. Olho para Johnatan, que se aproxima
numa expressão surpresa, Cassandra se afasta e me distraio quando Donna
me entrega o bebê com emoção nos olhos.
― É uma menina ― olha para Johnatan com orgulho.
Pego minha filha e afasto a manta para olhar seu rosto inchado,
demonstrando sua careta de aborrecimento ao chorar. Emociono-me ao
mesmo tempo sinto a força do amor incondicional, algo que se ilumina, que
se expande por meu único e pequeno ser.
É inexplicável a força do sentimento que ocorre dentro de mim,
enquanto observo cada detalhe seu, ansiando para que abra os olhos e me
olhe da mesma forma que a olho, com admiração, ternura, amor e uma
intensidade veloz que preenche meu peito. Olho para cima, vendo olhos em
chamas, confusos e emocionados, há um turbilhão de sentimento naquele
olhar. Sorrio para Johnatan enquanto ele se senta ao meu lado.
― É nossa... Nossa filha, meu amor ― falo emocionada.
Johnatan sorri ainda em choque e olha para nosso bebê com
curiosidade. Entrego a ele assim que ela para de chorar. Johnatan ofega e a
pega com cuidado, fazendo-me sorrir ainda mais ao vê-la em seus braços, tão
pequena e delicada. Ele a admira como eu, até mesmo vejo sua mão tremer ao
pegar a pequena mãozinha, deixando que aperte seu indicador.
Johnatan não só observa seu rosto, mas também seus dedos grudados
em seu dedo antes de me olhar e piscar os olhos. Suas lágrimas caem numa
emoção exposta e seu sorriso se abre como se fosse algo surreal. Ele afasta
sua mão dela com cuidado para tocar meu rosto. Inclino minha cabeça em sua
palma.
― Você... Você é incrível. É a mulher mais forte, mais maravilhosa,
mais corajosa que já conheci ― sua mão quente treme sobre minha pele, e o
vejo observar nossa filha, assim como eu. ― Só que isso... Isso não me dá
palavras para decifrar o tipo de mulher que você se tornou em minha vida a
partir desse momento. Eu não tenho palavras para descrever o quanto você
significa para mim.
― Eu vejo pelo seu olhar. Não precisa me dizer nada ― sussurro
maravilhada.
Johnatan ofega sorrindo sem acreditar. Nunca o vi tão emocionado,
tão intenso só de olhar nós duas.
― Você me deu um presente que nunca pensei que iria ganhar um
dia. Me deu mais uma luz para minha escuridão. Você me deu uma família.
Eu não sei como lhe agradecer pelo resto da minha vida ― o nó em minha
garganta se intensifica.
Beijo sua palma comovida.
― Você já me agradeceu dando-me nossa filha e sendo não só o
marido mais cuidadoso como também o mais amoroso desse mundo. Isso é
apenas o começo de nossas vidas ― sorrio afastando suas lágrimas antes de
me erguer para beijá-lo com amor.
Nós nos afastamos ao escutar um pequeno gemido entre nós. Olho
para o quarto silencioso, vendo o vazio e o lençol sob meu corpo limpo. Nem
mesmo percebi que as mulheres haviam finalizado tudo, muito menos quando
nos deixaram a sós.
― Ela tem meus olhos ― a voz de Johnatan me chama atenção.
Eu o vejo observar nossa filha em seus braços, voltando a pegar sua
mãozinha, dessa vez, para beijá-la com suavidade.
Aproximo-me para ver e perco o fôlego. Ele tem razão. São grandes e
destacados, um azul líquido profundo, mas algo entre eles os tornam únicos,
como se fossem mais brilhantes, mais delicados, mais iluminados.
― São mais que lindos ― observo encantada.
― E qual será seu nome? ― a pergunta carinhosa de meu marido
aquece meu coração.
Ela pisca com uma doçura inocente, fazendo-me derreter e me
aprofundar em seus olhos brilhantes.
― Cristal ― sussurro de repente como se estivesse decifrando o
brilho intenso de seu olhar.
Johnatan mantém sua expressão confusa.
― Cristal? ― é como se ele estivesse testando o nome que se enrola
em sua língua.
Eu o beijo com fervor e me afasto, vendo seu sorriso se abrir.
― Os olhos dela são como um cristal, como cada um daqueles cristais
da parede do meu quarto na mansão. Era minha distração, eu assistia
maravilhada até pegar no sono.
Johnatan a observa e suspira apaixonado.
― Cristal ― sorrio ao vê-lo concordar.
― Sabe? Você disse que não queria nome da sua mãe e sua irmã.
Então, isso não me impede de colocar o sobrenome de sua mãe ― digo, sua
postura fica em alerta. ― Acho Makgold um sobrenome expressivo demais
para alguém tão doce.
Johnatan me olha com amor ao acenar e beija minha têmpora com
doçura.
― Você sempre me surpreendendo, minha Roza. Ela é linda, é meu
grande e precioso tesouro. Vou amá-la e protegê-la com toda minha alma ―
arrepio-me com suas palavras. ― Cristal Grekov ― Johnatan pronuncia num
russo tão perfeito que me faz estremecer.
Céus! Suas palavras ferventes e cheias de forças fortalecem ainda
mais meu amor por ambos. Ele se curva, quando ergo minha mão para
acariciar seus cabelos, e pressiona seus lábios contra os meus, num beijo
delicado repleto de amor.
― Eu te amo ― beijo-o levemente.
― E eu a amo ainda mais. Mais do que você imagina, minha Roza ―
sussurra rouco em meus lábios.
Sorrimos um para o outro, apreciando nosso espaço completo com
nossa pequena Cristal. O momento, as circunstâncias, tudo, não só nos
fortalece, como também nos transforma numa transação perfeita, uma ligação
intacta.
Agora, pensando por outro lado, somos como duas feras em uma
metamorfose sincrônica. Mais vulneráveis, mais furiosas, mais fortes, mais
protetoras, mais selvagens e muito mais perigosas. Então, quanto a qualquer
toque em ambas as partes, os efeitos tendem a ser triplicados. Johnatan tinha
razão ao dizer: Fique longe do perigo. E não é nada referente àqueles que nos
cercavam, mas sim, a nós mesmos.
EPÍLOGO
(Johnatan Makgold)

― Tenho poucas informações sobre o garoto Allan ― K-Shiu


comunica para todos no helicóptero.
Pisco surpreso, não é de hoje que estamos atrás do menino.
― Prossiga. ― Seja lá qualquer informação, sou todo ouvidos.
― Não se sabe o nome completo do garoto, mas devido às
características passadas pela senhora Makgold e as câmeras de segurança
para identificação facial, encontrei uma criança semelhante. Ele foi
localizado em um hospital infantil em Seattle, sua ficha incompleta foi
arquivada em registros de órfãos. Estava internado, mas não se encontra
mais no local.
Matt me observa confuso.
― E sabe o que o garoto tinha? ― ele pergunta.
― Infecção pulmonar. Parece que levaram o garoto sem ele receber
alta.
Inspiro fundo, não querendo pensar no pior.
― Continue investigando, Shiu, e não diga nada à Mine até eu chegar
a ilha ― ordeno antes de seguir com meus afazeres.
Saio do helicóptero, deixando Dinka e Matt à minha espera até eu
acabar de resolver os assuntos pendentes. Estou aborrecido por ter que me
deslocar da ilha para resolver assuntos com Barrett em Wellington.
Uma das grandes unidades da Central de Agentes FBI está localizada
no coração da cidade, numa área isolada, longe dos olhos alheios, com a
máxima restrição e segurança. Para conseguir entrar no local, é necessária
uma autorização das autoridades e diretores. Reviro meus olhos com o
pensamento de ter que lidar com isso novamente e caminho pelo térreo
aberto, amplo e com placas de vidro, até a entrada do extenso prédio
retangular de dois andares, as paredes em si já destaca o reforço do local.
Assim que passo pela entrada, a irritante porta detectora me faz travar
e olhar para o lado onde há um jovem, provavelmente com seus vinte anos.
Leio sua identificação.
― Senhor, não pode entrar armado ― Calvin me alerta, e o encaro
seriamente, vendo-o engolir seu nervosismo. ― Se não faz parte da nossa
unidade... É proibido ― o pobre garoto gagueja, mostrando a placa de aviso
atrás de si.
― A minha entrada até aqui foi liberada. Eu não vou tirar minhas
armas ― ignoro e sigo em frente.
O sobrinho de Messi já aparece na entrada todo uniformizado.
― Está tudo bem, Calvin ― Daniel diz em tom de comando. ― Que
bom revê-lo, senhor Makgold. Vou informar ao diretor Barrett que está
aqui...
Eu o interrompo ao encarar a parede de mármore que dá para os
corredores do primeiro andar em direção ao hospital do local.
― Quero ver James primeiro ― informo e caminho à frente, com ou
sem sua autorização. ― Jordyn está aqui?
― Pediu para ir almoçar, mas logo estará de volta. Tem vezes que
fica a noite inteira com ele ― a reclamação de Daniel me surpreende.
― Fico feliz que ela esteja com James, embora eu tema que isso seja
pior. Como ele está? ― pergunto, caminhando pelo corredor até chegar a
uma área aberta que dá para a recepção do hospital.
― Na mesma condição, nenhuma reação e só está sobrevivendo com
ajuda dos aparelhos ― uma coisa que admiro no sobrinho de Messi é que ele
não enrola no assunto.
Ao entrar no quarto espaçoso, eu me sinto desconfortável,
principalmente por encontrar James naquela situação. Ele continua da mesma
forma que o vi da última vez. Aproximo-me da cama, em seguida, um
médico entra, chamando nossa atenção para relatar o estado de James.
― Por quanto tempo ele ficará assim? ― observo o rosto magro e
pálido de James. Seus olhos fechados estão mais fundos, como se estivesse
cansado.
― Ele está em coma, pode levar meses ou anos ― o médico de meia-
idade revela. ― Mesmo que consiga se recuperar aos poucos, as sequelas
serão maiores e continuará tendo a ajuda dos aparelhos para sobreviver,
principalmente no que se refere ao aparelho respiratório.
― O golpe que sofreu com a espada acabou atingindo seus órgãos e
sua coluna vertebral. Foi difícil controlar a hemorragia, tanto interna quanto
externa ― Daniel murmura de braços cruzados ao encarar a cama.
Esfrego meu rosto preocupado ao pensar que poderia dar boas
notícias para Mine quando voltasse para ilha.
― Depois de quase seis meses, pensei que o encontraria com alguma
melhora, não que continuaria em estado vegetativo ― rapidamente tento
controlar minha indignação. ― Daniel, mantenha-me informado sobre a
saúde de James, não quero que Jordyn tenha que lidar com algo tão difícil
quando as chances são tão mínimas.
― Claro, não se preocupe ― assegura-me, e deixo que o médico se
afaste depois de examinar James.
Toco o braço do rapaz e suspiro.
― Eu deveria ter escutado, Mine. Não devia ter ido longe demais e ter
me arriscado tanto ― lamento e logo me distraio com a entrada de Jordyn.
É como um fantasma, os olhos cheios de alegria se esconderam atrás
de um brilho lacrimoso e triste. Ela dispara em minha direção para abraçar
minha cintura. Envolvo meus braços ao seu redor e vejo Daniel recuar.
― Vou aguardá-lo do lado de fora ― o agente informa antes de sair
rapidamente.
Jordyn ofega em meu peito.
― Esse tormento não acaba nunca ― sua voz rouca sai estremecida.
O que devo dizer? Que ficará tudo bem? Que em breve James irá se
recuperar? Eu posso sentir o que ela deve estar passando, faz mais de seis
meses e James continua numa cama de hospital. Depois de uma semana após
uma nova cirurgia, fui comunicado de que ele permaneceria em coma. Desde
então, não tivemos nenhuma melhora.
― Tem que se manter firme, Jordyn. E, mesmo que não queira nos
acompanhar até a ilha, acharia injusto deixar James por aqui. Por isso, preciso
que fique com ele e o acompanhe no que for preciso ― afasto-a para encarar
seus olhos. ― É sempre bom manter os olhos abertos, não há ninguém
melhor que você para fazer isso. Eu ainda não estou familiarizado com esse
lugar, mas temos coisas pendentes a resolver...
― Eu ficarei aqui. Não importa o que aconteça. Não se preocupe...
James até hoje foi muito bem-tratado e eu também ― suspira, secando suas
lágrimas com a manga da blusa. ― E como está Mine? E a bebê?
Sua pergunta faz meus olhos brilharem e meu sorriso se abrir
repentinamente. Eu sinto saudade, eu sinto muitas saudade... Meu desejo, no
momento que estou com elas, é de nunca me afastar.
― Elas estão cada dia mais lindas. Espero que, em breve, você as veja
e conheça Cristal pessoalmente ― aperto seus ombros.
― Tenho certeza de que vou amá-la, assim como James também ―
sorri com tristeza.
Eu me aproximo para beijar sua testa.
― Garanto que sim ― aceno. ― Agora, vou ter que ver Barrett.
Depois, seguirei até a mansão.
Jordyn senta-se na poltrona ao lado de James para pegar sua mão.
― Soube que está em reforma ― ela sorri brevemente.
Confirmo assentindo.
― Sim. Como venho para cá duas vezes no mês, estou acompanhando
a reforma. O sistema está me ajudando com isso ― informo. ― Bem, eu
tenho que ir. E o que você precisar, pode contar comigo, certo?
Jordyn acena.
― Obrigada mais uma vez pelo apartamento.
― Se cuida ― despeço-me.
Saio, encontrando Daniel encostado na parede. Ergo minha
sobrancelha, e caminhamos até a escadaria do andar superior.
― Mudando de assunto, senhor, os poucos membros capturados da
LIGA serão levados para a Central em Nova York a fim de prestarem
depoimentos até serem condenados ― a informação me pega de surpresa.
― Pensei que isso já estivesse em andamento ― digo.
― É um processo longo e cansativo ― até o agente não se conforma.
Balanço a cabeça.
― Dentre esses membros há algum conhecido? ― indago, avistando
a porta da sala de Barrett à frente.
― Não muitos. Dentre os treze, uma mulher ― paro abruptamente
para escutá-lo atentamente. ― Não informamos antes, porque estávamos
investigando...
De fato, eu já estava ciente disso. Levanto minha mão o
interrompendo.
― Que mulher? ― pergunto com a testa franzida, fingindo interesse.
― O nome dela é Nicole Banks. Ela estava próxima ao navio numa
distância de quase dois metros. Tentou fugir, mas foi capturada ― Daniel
confirma minhas hipóteses.
Encaro sua farda, pensativo.
― Isso foi antes ou depois da explosão?
― Depois da explosão. Estava em um bote salva-vidas ― responde.
Sacudo minha cabeça para tentar me concentrar.
― Quero conversar com ela depois de terminar com Barrett. Leve-a
até a sala de interrogatório ― ordeno.
Em seguida, afasto-me antes que ele relute. Rapidamente, coloco o
ponto em meu ouvido para me conectar com Shiu.
Invado a sala de Barrett sem bater na porta e o encontro ao celular,
finalizando uma ligação. Entro na sala, vendo-o surpreso com minha invasão.
― Senhor Makgold, que prazer revê-lo ― cumprimenta-me,
enquanto me acomodo na cadeira à frente.
― Acredite, eu não queria estar aqui ― admito, pegando uma pasta
parda quando me entrega.
Abro-a, analisando os relatórios sobre o navio de Charlie, fotografias
de destroços e os depoimentos escutados até o momento. Eu apenas folheio,
pois já tenho boa parte daqueles documentos recuperados pelo sistema K-
Shiu. Na primeira vez em que estive na Central de Agentes, consegui fazer
com que Shiu hackeasse o sistema deles para meu benefício.
― Estamos na busca de mais provas.
Ergo meu olhar para ele.
― Mais provas? ― ironizo. ― Ou está estendendo o caso para nos
manter em seus olhos? ― pondero, folheando os papéis.
Barrett sorri.
― Você, mais que ninguém, sabe sobre meu interesse em ter você
com sua equipe conosco, não sei por que recusam. Terão a máxima segurança
e serão reconhecidos merecidamente ― o diretor sugere novamente.
Eu já estou cansado de seus argumentos e suas propostas. Faço uma
careta de desinteresse.
― Nosso único propósito, Barrett, é a paz em nossas vidas, e,
acredite, está indo muito bem ― coloco a pasta em cima de seu laptop. ―
Então, voltando sua atenção para o agora, você apresentou relatórios, fotos,
mas nada disso me chamou atenção. Eu quero saber sobre os restos mortais...
― Isso já está em nosso laboratório ― interrompe-me com um sorriso
aberto.
― Ótimo. Quero ver ― exijo.
― Devo dizer que isso não é permitido para aqueles que não fazem
parte da nossa companhia. Eu estou lhe dando oportunidades, Makgold. ―
Barrett vasculha as pastas em sua mesa e abre uma, arrastando os papéis para
mim. ― Isso é um contrato, vou deixar com o senhor para dar uma analisada.
Ao assiná-lo, poderá ter direito dentro dessa empresa e a liberdade para
aquilo que deseja.
Eu o avalio por inteiro.
― Está me ameaçando? ― murmuro seriamente.
Seu sorriso se abre ainda mais.
― Não quero soar dessa forma, Johnatan, mas todos vocês podem
correr risco com a justiça ― em parte, admiro sua posição firme em relação
ao caso. ― Por falar nisso, como está sua esposa?
Aperto minha mandíbula e me levanto, mantendo meu corpo rígido.
― Ela está ótima. Aliás, melhor que nunca ― digo, o observando
caminhar atrás de sua mesa tranquilamente.
― Eu me pergunto por que até hoje não a trouxe para conhecer nossas
instalações, assim como as propostas que tenho a oferecer. Talvez ela se
interesse e enfrentaria isso de maneira franca ― murmura pensativo.
Porque o único interesse de minha esposa no momento é nossa filha e
acredite...
― Eu adoraria tê-la trazido ― completo meu pensamento em voz
alta. ― De fato, deveria enfrentar minha esposa. Ela anda com os nevos
bastante alterados. E, antes que você prossiga falando sobre ela, devo dizer
que está bem-informada sobre o que se passa por aqui ― explico rudemente.
Barrett assente de acordo.
― Está certo, senhor Makgold. Pior seria se ela fosse surpreendida
com o que possa acontecer, caso não aceite o acordo. Isso seria lamentável.
Meu controle evapora em questão de segundos, quando dou por mim
já estou o arremessando contra a parede e chocando sua cabeça contra o
concreto, onde sustento minha mão firme em seu pescoço, mantendo-o preso
até escutá-lo engasgar. A raiva que sinto é pior do que a causada pelas
ameaças direcionadas sem aviso prévio contra Mine.
― Escute bem! Você pode ameaçar e jogar suas propostas
diretamente a mim. Mas, de uma coisa o deixarei bem-informado, antes que
eu perca o pouco do meu controle e quebre seu crânio até seus miolos saírem
para fora, jamais use suas palavras de acordos com o propósito de atingir
minha esposa. Agradeça a Deus que não seja ela aqui na sua frente, porque as
consequências seriam ainda maiores ― solto-o de supetão, fazendo-o tossir e
passar a mão em sua cabeça para ver o sangue escorrer em seus dedos. ―
Espero que o aviso esteja claro.
Barrett tenta se manter de pé e balança sua cabeça, fazendo uma
careta, como se estivesse com dor.
― Acredito em suas palavras, senhor Makgold ― tosse ao puxar o ar
com força. ― Mas se lembre novamente, sou bastante insistente e tenho
certeza de que o senhor irá ceder.
Ergo minha sobrancelha, logo lhe dou um sorriso sombrio.
― Pode insistir o quanto quiser. No momento, não estou com cabeça
para trabalhos, nem em nada que me faça tirar a paz que há em meu lar ―
disparo com firmeza. ― Vamos dizer que, pela primeira vez em minha vida,
tirei umas férias.
― E quanto tempo durará isso? ― Barrett pergunta com interesse,
ajustando sua gravata.
Afasto-me até a saída.
― Tempo indeterminado, quem decide sou eu ― saio, fechando a
porta abruptamente e caminho em passos pesados até a sala de interrogatório.
― Shiu?
― Sim, senhor? ― ele me responde de imediato, como se estivesse
pronto para um combate.
― O microplug foi colocado no laptop de Barrett. Hackeie-o ―
ordeno.
Durante nossa conversa, assim que me deu a pasta, aproveitei para
retirar o minúsculo plug do meu bolso e colocá-lo em seu laptop no mesmo
momento em que depositei a pasta em seu aparelho.
Encontro Daniel novamente. Agora, juntamente com dois policiais de
vigia na cabine. Sem lhe dar oportunidade para falar, invado a sala de
interrogatório, encontrando Nicole sentada com as mãos apoiadas sobre a
mesa de aço.
Nada daquilo parece pertencer a ela: as roupas de luxo foram
substituídas por um uniforme folgado de presidiário, os cabelos louros
sempre bem-arrumados, estão molhados e oleosos. Quando nota minha
presença, seus olhos castanhos, antes fixos na tela de vidro, ficam febris e
fuzilantes. Em seu rosto pálido, há poucos machucados superficiais.
Cruzo meus braços, olhando-a.
― Que surpresa, Makgold! ― destaca seu rancor.
― Eu iria perguntar onde andou por todo esse tempo, mas tenho
certeza de que estava fazendo trabalhos ilegais ― pondero, ignorando seu
tom de voz.
― Você não está tão errado.
Sorrio com ironia.
― Como se sente estando assim? ― em parte gosto de ver sua
frustração, seu desconforto.
― Está gostando do que vê, não é mesmo?!
Logo sua fúria é colocada para fora e a vejo se levantar da cadeira
para me enfrentar, mas apenas bate suas mãos contra a mesa.
― E deve estar pensando que tudo está acabado, mas não está,
Makgold! Você e todos que te acompanham vão me pagar! Vão me pagar
muito caro! Não pensem que já me derrotaram! NÃO PENSEM QUE EU
PERDI!
Eu me curvo contra a mesa para encará-la de perto.
― Como pode ter tanta certeza disso, Nicole? Como pode dizer isso
com tanta segurança? ― sussurro, olhando-a fixamente.
― Não seja tão ingênuo, Makgold. Você sabe mais que ninguém que,
quando eu quero algo, eu consigo, com ou sem ajuda. E aquele que estiver no
meu caminho, ou na minha lista, sofrerá as consequências ― ela se aproxima
sussurrando rispidamente antes de sorrir. ― Quer saber quem são os
primeiros da lista? Eu vou facilitar... É você e sua querida esposa.
Principalmente ela. Se aquela criatura não tivesse aparecido em nossas vidas,
tudo seria tão... mas tão diferente ― suas mãos se erguem para puxar seus
cabelos, demonstrando sua frustração e ódio.
― Não se martirize por algo que nunca iria acontecer, Nicole. Talvez,
estando em um lugar isolado, você pense nos erros que cometeu até o
momento ― disparo, tirando-a de seus sonhos lunáticos, tendo-a de volta
para mim com seu olhar fixo.
Nicole sorri e inclina sua cabeça, balançando lentamente.
― E deixar que a diversão aconteça sem minha presença? Deixar de
seguir meus planos? ― ela ri antes de respira fundo para controlar seu humor
sombrio. ― Sabe... Será lento, torturante, não se preocupe. Posso matá-la
com honra. Se antes a poupei, dessa vez não terá escapatória ― ameaça,
erguendo sua mão para acariciar meu rosto.
Ergo minha cabeça para tentar me afastar, mas apenas observo seus
olhos escuros febris.
― Só por cima do meu cadáver ― murmuro pausadamente.
Nicole ri acenando.
― Não, não! E perder a diversão? Preciso que você assista ― logo
seu indicador se arrasta por meu pescoço em direção ao meu peito. ― Eu vou
tocar onde mais te dói! ― cutuca meu peito.
Subitamente, puxo-a contra meu corpo. Em seguida, enfio meus
dedos em seus cabelos próximos à nuca e os puxo para que ela olhe
fixamente para mim. Seus olhos ficam alarmados com meu ataque, enquanto
a escuto gritar de dor, pois tenho seu braço direito torcido ao imobilizá-la.
Basta um mínimo movimento e eu sou capaz de quebrar seu osso com
facilidade.
― Senhor Makgold! ― escuto Daniel chamar minha atenção, mas
sou incapaz de soltar Nicole.
Eu me curvo próximo ao rosto pálido da mulher miserável e sigo com
meus lábios até seu ouvido.
― Eu prometo a você que viverá num inferno pior do que já vivi. E,
se de algum modo, você ousar se aproximar daquilo que me pertence, quem
terá uma morte cruel e torturante será você ― sussurro em ameaça, fazendo-a
gemer de dor, enquanto torço um pouco mais o seu braço. ― Você pode ter
um dos melhores advogados para conseguir tirá-la daqui, mas pense muito
bem antes de agir. Caso isso aconteça, eu mesmo farei o serviço sem
nenhuma piedade.
Novamente escuto Daniel ao longe. Sei que há armas sendo apontadas
em minha direção, mas o ignoro, minha raiva é potente demais para me
desviar da vítima. Nicole puxa o ar ao estremecer.
― Então, por que não me mata de uma vez? ― ofega trêmula.
É como se implorasse por aquilo, mas sei que só está fazendo isso
devido à dor que está sentindo.
Desvio-me de seu ouvido para encarar seu rosto próximo do meu e
manter seus cabelos puxados fixos em meus dedos. Seus olhos lacrimejam
por causa do meu ataque.
― Porque para mim, assim como para ele, serve como um brinquedo
fácil ― disparo com gosto. ― Ou pensa que eu não sei, que, de algum modo,
você salvou Charlie e o mantém escondido, enquanto está neste lugar, para
ficar mais próxima de informações? Você deixou que os agentes a pegassem.
Você estava naquele navio para tirá-lo antes da explosão.
Meu tom ríspido, assim como as minhas teorias, fazem seus olhos se
arregalarem ainda mais.
― Não...
― NÃO MINTA! ― grito.
Ela estremece.
― Senhor Makgold! ― Daniel chama bruscamente.
Seguro meu rosnado enraivecido em minha garganta e a jogo contra a
cadeira, vendo-a arfar e gemer de dor ao tentar massagear seu braço que, de
fato, quebrei.
― É melhor pensar muito bem antes de cometer erros, Nicole. O
estrago será pior do que um simples osso quebrado! ― ameaço, fazendo-a
saltar quando empurro a mesa em sua direção. ― Eu recomendo que vocês a
mantenham numa cela isolada, assim como as visitas. Vigiem-na vinte quatro
horas por dia. Não a deixem próxima a nenhum contato e, se isso acontecer,
tenha certeza de que vou descobrir ― os olhos castanhos de Nicole ficam
perplexos com minhas ordens repentinas.
Daniel e os policiais recuam quando passo por eles feito uma
tempestade. Saio da sala de interrogatório, mas na cabine o agente me
bloqueia.
― Desculpe, senhor Makgold, mas ela é uma das testemunhas mais
importantes para as investigações, que em breve serão concluídas ― ele se
desculpa, guardando sua arma.
Inspiro fundo.
― Você parou para pensar que pode estar sendo usado em tudo isso?
― o agente fica confuso com minhas palavras. ― Abra os olhos, Halloper,
observe onde pisa. As cascas de ovos podem conter vidros. Não deixe que
sua inteligência lhe afete por algo que não lhe convém.
Daniel franze a testa ao observar Nicole pela tela e o deixo ali. Saio
caminhando em passos rígidos.
― Shiu, entre em contato com Messi. Peça para ele fazer aliados com
alguns prisioneiros, assim, estaremos atentos até mesmo na área isolada da
Central ― comando pelo ponto, já recebendo sua resposta. ― E quanto a
Barrett?
― Ainda está em processo de hackeamento. Posso adiantar que, em
um dos seus arquivos, há uma gravação interna de uma residência de luxo,
onde houve o assassinato do doutor Banks. Nicole, a esposa, cometeu o
crime com a ajuda de Zander.
― Por que não estou surpreso? ― murmuro, saindo em direção ao
térreo.
Logo Dinka e Matt me acompanham até o helicóptero.
― Novidades? ― Dinka pergunta, bebericando sua água.
― Charlie continua vivo.
― O quê? E o que pretende fazer? ― Matt se espanta.
― Primeiro, não quero preocupar Mine, isso é uma prioridade.
Segundo, teremos a ajuda do agente Halloper. Assim como ele conseguiu se
infiltrar na LIGA, consegue passar despercebido por esse lugar, é só ele abrir
os olhos ― digo ao olhar o prédio de dois andares. ― Terceiro... Barrett faz
parte de LIGA. Ele mantém Charlie escondido e Nicole por perto. Sendo
assim, o falso diretor não vai parar de nos perturbar até conseguir o que quer.
― Confesso que, de todas essas opções, a que mais me dá medo é a
primeira ― Dinka admite ao entrarmos no helicóptero. ― A senhora
Makgold ligou e disse que é capaz de sair da ilha nadando até aqui para enfiar
seu celular em seu ouvido ― o comentário me faz rir, e saco meu celular do
bolso, enquanto sobrevoamos.

Nossa parada em Queenstown foi na Colmeia, na intenção de dar uma


olhada nos equipamentos e conferir alguns dados das minhas empresas.
Messi está na cidade há um mês, acompanhando a reforma da mansão junto
com Edson. Eles também se atentam com a movimentação do local em
contato com Daniel.
Decido seguir para a mansão com o carro e, sem pensar duas vezes,
peço para Shiu ligar para Mine.
Ela atende no segundo toque.
― Isso são horas? ― dispara preocupada ao atender, e logo escuto o
choro de Cristal.
Suspiro de saudade.
― Desculpe não ter ligado antes, amor. Estava tentando resolver os
assuntos primeiro para depois falar com você com mais tranquilidade ―
confesso, enquanto a escuto tranquilizar Cristal. ― O que ela tem?
― Sente sua falta, nem Donna conseguiu acalmá-la... É o papai... ―
Mine diz com carinho, me fazendo sorrir.
Meu humor melhora ainda mais quando escuto Cristal interromper
seu choro ao saber que sou eu.
Oh, sim! O incrível da-da-da. Eu amo. Eu realmente amo o som de
sua voz e amo ver Mine tentar focalizar suas primeiras falas em “mamãe”.
― Agora ela parou ― adivinho rindo e Mine suspira.
― O que vai fazer agora? ― sua pergunta segue por risos calorosos,
talvez seja algo que nossa pequena filha esteja fazendo.
― Estou indo para a mansão ver a reforma. Prometo não demorar
muito. Sairei daqui em breve para passar um longo tempo com as duas
pessoas que mais amo no mundo ― sorrio só de escutar sua risada tranquila.
Meu coração se enche por sentir a felicidade e a tranquilidade de
minha esposa. Eu a amo ainda mais, não que antes fosse insignificante, mas a
cada segundo que passa a admiro, não só como minha mulher, mas também
como mãe. Com a maternidade eu a vi se transformar de uma mulher
protetora à mulher decidida. Está mais forte, mudada. E o que temos em
comum em termo de proteção é com nossa pequena garotinha. Cristal é o
complemento da minha razão para tornar meus dias mais felizes.
Eu nem mesmo consigo me cansar e me recuso a afastá-la de mim.
Seus sorrisos, seus gestos, seus ronronados, tudo faz meu coração preencher a
ponto de explodir. Mesmo tão pequena e tão gordinha, já demonstra suas
peripécias, não muito diferente de mim, Cristal odeia sapatos. No momento, a
minha meta assim que eu chegar à ilha é tê-las comigo e cantar para minha
pequena filha três vezes Somewhere Over The Rainbow. Eu ainda tinha
esperança de que, com o tempo, o número de vezes que cantasse diminuísse
até ela pegar no sono.
― Johnatan? ― Mine me chama para o presente, e pisco assustado.
― Desculpe, amor. O que disse? ― eu nunca fiquei tão desligado ao
se tratar delas.
― Perguntei como foi na Central.
Inspiro fundo.
― Nada de interessante ― minto. ― Barrett continua com o mesmo
assunto ― reviro os meus olhos.
― Argh! Ele nunca vai se cansar ― ela suspira. ― Venha logo para
cá ― sua súplica faz meu sorriso se abrir novamente.
― Farei o possível para sair mais cedo daqui. Só vou dar uma olhada
para ver como está o quarto de Cristal...
― Você fez isso mês passado ― Mine reclama.
― Amor, eu quero que tudo esteja perfeito. E que ela ame ― digo
chocado.
― Johnatan, ela é só um bebê, e eu sei o quanto estará bonito ― seu
elogio é só para me agradar.
― Você realmente não entende a preocupação que um pai tem por
sua filha.
É tão difícil querer agradar alguém?
― Johnatan?
― Estou aqui, minha Roza ― um arrepio me percorre sempre que a
chamo carinhosamente dessa forma.
― Amor... Não seja um pai neurótico ― suas palavras me deixam
perplexo.
― Prefiro pensar que suas palavras não são ofensivas ― digo,
observando a estrada.
Nos últimos meses, sempre faço isso quando dirijo, na intenção de
achar algo de que sentimos falta.
Mine ri, em seguida, suspira.
― Lake? ― adivinha.
― Eu sempre estou à procura dele, amor. Não se preocupe. Mais cedo
ou mais tarde, ele voltará para casa ― tranquilizo-a.
― Tudo bem ― sinto suas palavras relutantes, mas logo me assusto
ao escutar Cristal gritar e bater palmas
― O que foi isso?
― Hush chegou! ― Mine anuncia feliz.
Minha pequena Cristal demonstra seu amor, mesmo tão pequena. Seu
momento preferido sempre foi ao lado de Hush, era como se para ela, ele
fosse seu enorme urso de pelúcia.
― Eu vou desligar agora, estou chegando à mansão ― informo,
observando os materiais de construção no local.
Matt também está no campo junto com Dinka. Ambos chegaram com
o helicóptero, enquanto eu preferi seguir de carro em busca de Lake, sem
sucesso.
― Eu estarei te esperando. Não demore ― seu tom provocante me
tira atenção, enquanto estaciono.
― Mine,... ― rosno numa excitação antecipada.
Eu a escuto gargalhar, em seguida, desliga na minha cara, deixando-
me abismado.
Saio do carro e sigo em direção à entrada. Há cortinas de plásticos e
lençóis por toda parte, protegendo os móveis e os vidros.
― Senhor, as armas já estão disponíveis no quarto ― Shiu comunica
assim que subo as escadas. Não é a primeira vez que ele se prepara.
Minha intenção para reforma é reforçar a segurança da casa, ao
mesmo tempo, dar um ar agradável e familiar, não algo sombrio e reservado.
Porém a proteção estava em primeiro lugar, principalmente no segundo
andar, no final do corredor, próximo a outro cômodo em reforma, onde está
localizado o quarto de Cristal.
O lugar era semelhante à biblioteca. Um espaço favorável, em forma
de círculo, com uma ampla tela de vidro à frente, que dá para uma vista
panorâmica das montanhas. A única coisa que ocupa o cômodo é uma mesa
de madeira retangular com armas organizadas em fileira, das menores até as
maiores.
― Certo, sistema, como anda aqui?
A voz automática do K-Shiu ecoa pelo quarto.
― Tanto o chão quanto as paredes estão revestidos de metal titânio.
Aliás, esse metal cerca toda a casa. O sistema de segurança continua a
mesmo; proteção para invasão com sensor de movimentação não
identificada, e armamentos instalados no teto, nas paredes e no solo. Bem
como explosivos equipados para qualquer invasão em ameaça.
Shiu demonstra o que explica, fazendo as pistolas equipadas de cada
ângulo saírem e se esconderem novamente em seus lugares.
― O acesso de entrada com digital também já foi instalado, senhor,
só precisamos da digital da pequena Cristal.
― Quanto ao vidro?
Observo a ampla parede de vidro em formato de U, que acompanha as
paredes de concreto do quarto, enquanto tiro meu paletó e carrego as armas.
― Esse é o mais resistente. Já foi testado, tanto interno quanto
externo ― o sistema me assegura, mas não estou convencido.
Aproximo-me do vidro, analisando-o do chão ao teto.
― Na última vez que testei um desse havia um arranh... ― reclamo,
tocando o vidro com a mão antes de dobrar as mangas da minha camisa até o
cotovelo para me preparar. ― Desative todo o sistema de segurança e peça
para Dinka testar o lado de fora.
― Sistema desativado, senhor ― Shiu comunica, enquanto coloco
óculos e fones protetores.
Em seguida, atiro contra o vidro, trocando as armas, sem dar
intervalos contra os disparos e vejo Dinka fazer o mesmo no lado de fora. As
balas chocam-se na superfície protetora e caem ao chão amassadas. Depois,
troco as pistolas por metralhadoras com balas mais pesadas. Disparo por todo
o vidro, estendo os tiros pelas paredes de concreto, seguindo até a porta de
aço.
O pó começa a tomar conta do lugar, enquanto testo os armamentos,
mas não interrompe meu campo de visão, já que as paredes estão revestidas
por titânio. Quando termino com as armas, tiro os protetores e me aproximo
do vidro, erguendo minha mão para Dinka finalizar com sua metralhadora.
Os barulhos de seus tiros são ocos.
Observo o vidro com atenção e as paredes intactas, apenas com os
concretos destruídos. Em seguida, pego meu aríete de aço e seguro as alças
com firmeza, arremessando-o contra o vidro com força. Solto o equipamento
para arrombamento no chão e me aproximo do vidro a fim de examinar
novamente.
― Shiu? Como está a situação da parede? ― pergunto, atento a cada
detalhe.
― Nenhuma perfuração, senhor. Tudo resistente.
― Sendo assim, teste aprovado ― admito, pegando meu paletó e o
sacudindo para afastar os vestígios do concreto. ― Pode pedir para
prosseguirem com a construção, mas sempre faça testes precisos para não
termos nenhum dano. Quero esse lugar intacto. Verifique também novos
armamentos equipados no campo e fora dele. Cansei de movimentação no
raio de cem metros próximo à minha casa. Informarei Matt para ficar de olho
e orientar os operários.
― Precisa que seja o mais rápido possível, senhor? ― o sistema
pergunta antes que eu saia do quarto.
Suspiro.
― Não se preocupe com isso, Shiu, não voltaremos para cá tão cedo
― aviso e saio depois de colocar minha digital na segunda tela superior para
adultos.
Rapidamente, o sistema volta a ativar a segurança do quarto. Caminho
pelo corredor até as escadas, pegando meu celular. Assim que a tela se
acende com um toque, sorrio ao ver a foto de Mine e Cristal. Minha garotinha
mantém suas mãos gordinhas próximas à boca, enquanto Mine a aperta
contra seu rosto. Por um lado, ambas se parecem, mas Cristal tem muito mais
de mim, principalmente os olhos e seus gestos impacientes quando quer algo,
eu tenho certeza.
De repente, franzo a testa numa expressão cética, depois de olhar para
a imagem delas como proteção de tela do meu celular. Reviro meus olhos ao
me lembrar do recente comentário de minha amada esposa.
― Neurótico ― murmuro numa lufada irônica.

FIM DA SEGUNDA PARTE...


A FERA - O RECOMEÇO
*TRECHO BÔNUS DO LIVRO III*

Ao passarmos pela segurança da Central, seguimos reto sem dar


satisfação para os dois seguranças de plantão. Estou enfurecida demais para
ter que lidar com homens fardados.
― Eu espero que Arnold Barrett não tenha um par de vira-latas em
sua porta ― rosno para Johnatan ao meu lado.
― Não se preocupe. Caso tenha, terei orgulho de tirá-los do nosso
caminho ― ele dispara e sei que me olha brevemente.
Mas minha visão está à frente, enquanto subo as escadas e seguimos
juntos como duas feras, prontas para atacar. Só com o nome de Arnold
rondando minha cabeça, meus músculos ficam rígidos e tenho que flexionar
meus punhos na tentativa de esticar meus nervos doloridos.
― Estamos com sorte ― Johnatan diz ao observamos a porta no final
do corredor à frente. Não há nenhum indício de guardas.
Ali já indica a sala do tal diretor.
― Shiu? Já bloqueou todos os contatos e os sistemas dentro da
Central? ― pergunto, parando na porta assim que recebo as informações pelo
ponto de ouvido. Johnatan apenas me dá um sorriso sombrio e perfeito. ―
Ótimo.
― A segurança deverá estar aqui em questão de segundos ― meu
querido marido alerta, mas dou de ombros.
― Não me importo.
Invado a sala, já encontrando Arnold sentado em sua mesa com a testa
franzida se debatendo com o telefone, que, de fato, não está funcionando.
Assim que nota nossa presença abrupta, nos dá um sorriso amarelo.
― Senhor e senhora Makgold! É um prazer...
― Faça as honras, amor ― Johnatan me dá carta branca depois de
trancar a porta atrás de si.
Antes que Arnold seja cordial demais para o meu gosto, agarro seus
cabelos e arremesso seu rosto contra a mesa, o sangue de seu nariz escorre
rapidamente. Imediatamente, agarro sua gravata vermelha, arremessando-o
contra a parede. O golpe pega o diretor de surpresa. Vejo-o se engasgar
quando aperto sua gravata e choco sua cabeça contra a parede, deixando-o
atônito. Sem me dar por satisfeita, soco suas costelas com força.
― Você mexeu com algo que não deveria, seu desgraçado! ― minha
voz sai mais que ameaçadora...

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SINOPSE: Após ser demitida, por ter se esbarrado em um dos convidados
por acidente, Mine é surpreendida ao ser chamada para uma vaga de trabalho.
O que ela não esperava é que o local fosse na misteriosa mansão da cidade.
Um lugar isolado onde só ouviu falar em histórias urbanas sobre uma terrível
tragédia no passado.
Lá, Mine vai descobrir o que há por trás dos muros de concreto,
principalmente quem é o homem misterioso que a salvou dos perigos desde o
primeiro momento que a viu e o porquê ronda seu caminho como um protetor
sombrio.
A atração fatal vai dominá-los, numa paixão intensamente perigosa capaz de
suportar os caminhos difíceis a percorrer, mas se depender dele ninguém
sairá vivo se ousarem a tocá-la. Seu recado é claro:
“Não sou de dar sorrisos agradáveis, nem gestos afetivos. Tudo que há em
mim é estratégico, falso, sem nenhuma redenção. Não me incomodo com o
que você e os outros pensam ao meu respeito. Na verdade, não dou a mínima
para sentimentalismo, e muito menos para suas sensações prazerosas. Tudo
isso está perdido na minha escuridão e não pretendo trazer à tona. Mas
apenas uma... Uma maldita jovem pode me fazer mudar. Apenas ela estará
perto o suficiente do perigo, e se depender de mim, longe o bastante.
Lembrem-se, é apenas ela e não você. ”
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SINOPSE: Ele odeia garotas exibidas. Ela odeia homens arrogantes. À


primeira vista, David Foster é apenas um marrento bad boy e um mecânico
de tirar o fôlego, mas quem realmente o conhece, sabe que apesar da casca
dura, David é capaz de lutar com unhas e dentes por todos aqueles que ama.
Além de ser um homem responsável, é desejado pelas mulheres, em todos os
sentidos. Por outro lado, Natalie Scott aparenta ser apenas mais uma garota
rica e mimada, que ainda vive à custa do pai. As aparências enganam e assim
como David, por trás de toda a pose, existe uma jovem sonhadora que busca
apenas amar a ser amada. Por ironia do destino os dois se veem frente a
frente e apesar de, inicialmente, soltarem faíscas, ambos sentem algo tão forte
um pelo outro que serão capazes de derrubar as barreiras e mostrar o
verdadeiro significado do amor. Opa! Será que eles foram feitos um para o
outro?
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SINOPSE: Por um momento Elizabeth pensou que estivesse livre de um


marido agressivo e conturbado. O que ela não esperava era que fosse acusada
injustamente por sua morte. Depois de passar anos numa prisão por um crime
que não cometeu, ela retorna com um nome falso para se proteger de ameaças
e começar suas buscas pela verdade, a fim de expor o verdadeiro assassino,
Robert Harrison. Mas sua sede de vingança dá lugar a atração ao se deparar
com o filho do seu inimigo. Eric Harrison é um empresário bem-sucedido e
arrogante, mas por trás de toda sua bravura existe um homem intenso e
apaixonado que se encontrará atraído pela nova funcionária misteriosa. A
obsessão se torna algo íntimo e ardente, mas por trás de tantos mistérios a
verdadeira vingança chega onde menos se espera.
CONTATOS DA AUTORA LILIAN GUEDES:

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