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Avaliação da ansiedade na adolescência: A versão portuguesa da SAS-A.

Article · January 2004

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4 authors:

Marina Antunes da Cunha José Augusto Pinto-Gouveia


University of Coimbra University of Coimbra
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Sara Alegre Maria do Céu Teixeira Salvador


University of Coimbra University of Coimbra
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Psychologica
2004, 35, 249-263

Avaliação da ansiedadesocial
na adolescência: 249
A versão portuguesa da SAS-A
Marina Cunha*, JoséPinto Gouveia**,Sara Alegre***& Maria do Céu
Salvador**

RESUMO

A Escala de Ansiedade Social para Adolescentes de La Greca e Lopez (SAS-A) destina-se a


avaliar as experiências de ansiedade social dos adolescentesno contexto das relações com os pares.
Neste estudo apresentam-seas característicaspsicométricase a estrutura factorial da versão portuguesa.
Numa amostra de 522 jovens entre os 12 e os 18 anos de idade, do distrito de Coimbra, os
resultados mostram que a escala possui uma boa consistência interna e estabilidade temporal. A com-
posição factorial revelou-se semelhanteà encontrada na população americana, evidenciando-sea exis-
tência de três factores.
A validade de constructo foi estudada através da análise das correlações com a ansiedadee
evitamento em situações sociais (EAESSA), a ansiedadegeral (RCMAS), e sintomatologia depressiva
(CDI).
São apresentadose discutidos os dados nonnativos para a população portuguesa. Não obstante
as limitações apontadas,os resultados sugerem a SAS-A ser uma escala útil na avaliação da ansiedade
social em adolescentes.

PALAVRAS-CHAVE:
Ansiedade social; Avaliação; Adolescência, Questionários de auto-resposta.

Introdução

Emboraa avaliaçãoe o diagnósticono domínio da psicopatologiainfantil e juve-


nil deva assentarnum conjunto de estratégiasdiversificadase com base em múltiplos
informadores (criança, pais, professores),as medidas de auto-avaliaçãotêm vindo a
desempenharnos últimos anos um papel cada vez mais importante neste processo.

o Instituto SuperiorMiguel Torga.Coimbra.Largo Cruz de Celas,n° 1. 3000-132,Coimbra.


Telefone 239488030; Fax 239488803; E-mail- ismt@ismt.pt.
Correspondênciarelativa a este trabalho: Marina Cunha (e-mail: marinacunha@interacesso.pt)
00 Faculdadede Psicologiae Ciênciasda Educaçãoda Universidade
de Coimbra
000 Instituto EducativoPedroHispano.Soure
.
Cunha,M., Gouveia,
J. P.,Alegre,S. & Salvador,
M. C.

O seu contributo é particularmenterelevante,ou mesmo indispensável,para a com-


preensãodos distúrbiosde naturezaemocional(ansiedadee depressão)que, por defini-
ção, têm uma importante componentesubjectiva dificilmente acessívelà observação
directa dos adultos.
Se por um lado o uso de medidasde auto-avaliaçãopor parte de criançasmais
- novas levantamuitos problemasde validadee de fidelidade, exigindo necessáriaspre-
250 cauçõesna sua utilização, essasdificuldadessão claramenteesbatidasno caso de pré-
-adolescentesou adolescentesescolarizados,uma vez estesapresentarem já uma com-
preensãoe maturidadecognitiva capaz de lhes permitir avaliar os seussentimentose
pensamentos.
No domínio da avaliaçãoda ansiedade,existe actualmenteum número conside-
rável de escalaspara serempreenchidaspor criançase adolescentes, com o objectivode
avaliar a ansiedadegeral e de discriminar perturbaçõesde ansiedademais específicas
(Myers & Winters, 2002).
No caso específicoda perturbaçãoda ansiedadesocial (Cunha,2000), apesarda
importânciaclínica da ansiedadesocial duranteos últimos anosda infância e adolescên-
cia, apenasdois instrumentosde auto-respostaforam desenvolvidosespecificamente
para este efeito: o Social Phobia Anxiety Inventory for Children (Beidel, Thmer, &
Morris, 1995)e a SocialAnxietyScalefor Children(SAS-C)andfor Adolescents(SAS-A)
(La Greca & Stone, 1993; La Greca & Lopez, 1998).
O SPAI-C é formado por 26 itens que avaliam os aspectossomáticos,cognitivos
e comportamentaisda ansiedadesocial em criançasdos 9 aos 14 anos de idade. Este
inventáriotem sido amplamenteinvestigadoe tem mostradouma excelentefidedignidade
(Beidel, Thmer, & Fink, 1996; Beidel et al., 1995; Beidel, Thmer, Harnlin, & Morris,
2000; Beidel, Thmer, & Morris, 1999).Contudoa sua aplicaçãoé limitada a criançase
pré-adolescentes, estando,actualmentea ser desenvolvidauma versãopara adolescen-
tes, não havendo,ainda, dadosdisponíveis.
A Escalade AnsiedadeSocialparaAdolescentes (La Greca& Lopez, 1998),conhe-
cida sob a sigla SAS-A (SocialAnxiety Scalefor Adolescents)é, até à data,e do nosso
conhecimento,a única escaladesenvolvidaespecificamente para a avaliaçãoda ansiedade
social em adolescentes dos 12 aos 18 anosde idade,existindotambémuma versãopara
os pais.
Na verdade,esta escalaresulta de uma adaptação,para adolescentes dos 12 aos
18 anosde idade,da versãoSASC-R(SocialAnxiety Scalefor Children-Revised) desen-
volvida anteriormente,em 1993,por LaGrecae Stone,baseando-se, ambas,no trabalho
de Watson e Friends sobre a avaliaçãoda ansiedadesocial em adultos (La Greca &
Stone, 1993;Watson& Friend, 1969).
O estudode La Grecae Lopez, realizadocom uma amostrade 250 adolescentes,
estudantesde escolaspúblicas,reveloua SAS-A possuiruma estruturafactorial idêntica
à da escalapara crianças(SASC-R),evidenciandoigualmentea existênciade três fac-
tores: Fear of NegativeEvaluation (FNE), Social Avoidanceand Distressin New Situa-
tions (SAD-New) e Social Avoidanceand Distress-General(SAD-G). Revelou,ainda,
possuiruma boa consistênciainterna,com valoresde alfa de Cronbachde .91, .83 e .76
para as sub-escalasFNE, SAD-New e SAD-General,respectivamente(La Greca &
Lopez, 1998). Na populaçãoclínica, numa amostrade adolescentescom perturbações
de ansiedade,as sub-escalasrevelaramvalores mais elevadosde consistênciainterna
. Avaliação da ansiedade social na adolescência:
A versão portuguesa da SAS-A

(.94, .87 e .80, respectivamente)(Ginsburg,La Greca,& Silverman, 1997).A estabili-


dade temporal das referidas escalas,avaliadano estudo de Vernberge colaboradores,
variou entre .54 e .78 para um intervalo de dois meses(Vernberg,Abwender,Ewell, &
Beery, 1992).
No que respeitaà validade concorrente,La Greca e Lopez (1998) encontraram
que os adolescentesque pontuavammais alto na SAS-A tambémreferiam percepções -
mais baixas de aceitaçãopelos parese de poder de atracçãoromântica.Mais concreta- 251
mente,os adolescentes com ansiedadesocial elevadareferiam menosapoio dos colegas
e percepçõesmais fracas de aceitaçãosocial, e de poder de atracçãoamorosa,que os
adolescentes com ansiedadesocial baixa.Apesardo padrãode resultadosser semelhante
para os rapazese raparigas,as correlaçõesforam consistentemente mais fortes para as
raparigas.TambémInderbitzen,Walters e Bukowski (1997) encontraramno seu estudo
que os adolescentesclassificadoscomo rejeitados ou negligenciadosreferiam níveis
mais elevadosde ansiedadesocial, avaliadapela SAS-A, que os classificadoscomo
médios,popularesou controversos,em termos sociométricos.Por último, os resultados
obtidos por Ginsburg e colaboradores(1997) revelaramque os adolescentescom um
diagnósticoprimário de fobia social pontuavammais alto na SAS-A que os adolescen-
tes com outros distúrbios ansiosos(Ginsburget aI., 1997; La Greca, 1999).
Recentemente,Inderbitzen-Nolane Walters (2000) procuraramreplicar e alargar
os dados de investigaçõesanteriorescom a SAS-A atravésda sua aplicaçãoa uma
amostrade 2937 estudantesdo 60 ao 110ano de escolaridade.Os resultadosreplicaram
a estruturade três factores,apresentandoas sub-escalasuma boa consistênciainterna e
revelandotratarem-sede sub-constructosinterrelacionadosmas distintos da ansiedade
social. Dado o tamanhoalargadoda amostra,foram obtidos dadosnormativospor sexo
e grupo de escolaridade,assimcomo a escalarevelou uma boa validadede constructo
analisadaatravésda suarelaçãocom a ansiedade(RCMAS) e sintomatologiadepressiva
(CDI).
Este conjunto de dados mostra que a SAS-A possui boas característicaspsico-
métricase validade,e apontapara a sua utilidade na avaliaçãoda ansiedadesocial.
O objectivo do presenteestudoé examinaras qualidadespsicométricasda versão
portuguesada SAS-A numa amostrade adolescentesdo ensino regular e verificar a
generalidadetranscultural dos resultados obtidos, nomeadamenteno que respeita a
replicação da estruturafactorial americana,contribuindo, assim, para reforçar a utili-
dade clínica destanova escala.Paralelamenteserãoestabelecidasnormas,por idade e
sexo,para adolescentesda região de Coimbra.

Metodologia

Procedimento
A Social Anxiety Scalefor Adolescentsfoi traduzidae adaptadapara português
seguindoas sugestõese indicaçõesDe Figueiredo (1980). Nomeadamente, foi feita a
tradução,seguidade retroversãoe revisto este procedimentopor um tradutor especia-
lizado a fim de assegurara equivalênciade conteúdodas versõesinglesae portuguesa
(De Figueiredo,1980).Prosseguiu-se com a administraçãoda escalaa pequenosgrupos
Cunha, M., Gouveia, J. P., Alegre, S. & Salvador, M. C.

(da comunidadee clínica) com o objectivo de verificar a acessibilidadedo vocabulário


e a compreensãounívocados itensI.
Finalmente,o terceiro passoconsistiuna aplicaçãodestaescalaa várias centenas
de jovens do distrito de Coimbra, na própria sala de aulas, duranteo tempo escolar,
juntamentecom um outro instrumentode medida de ansiedadesocial (EAESSA), um
- questionário de avaliação da ansiedade (RCMAS) e um inventário dos sintomas
252 depressivos (CDI).

Sujeitos
A amostrafoi constituídapor 522 jovens, 223 do sexo masculino(42.7%) e 299
do sexo feminino (57.3%), com idades compreendidasentre os 12 e os 18 anos, a
frequentaro 30 ciclo do ensinobásico e ensinosecundáriode seis escolasdo concelho
de Coimbra.A média de idadesdo total da amostraé de 14.83(DP=I.89) não existindo
uma diferença significativa entre as raparigase rapazes(1=1.08;p=.280), bem como
estesnão diferem entre si no que respeitaaos anos de escolaridade(r=2.18, p=.824).

Instrumentos
A SAS-A (Social Anxiery Scalefor Adolescents)avalia as experiênciasde ansie-
dade social dos adolescentesno contexto das relações com os pares (La Greca &
Lopez, 1998). É uma escalade auto-respostaconstituídapor 22 itens dos quais 4 são
itens neutros(filler items2)não contabilizadosna cotaçãototal. Os itens são avaliados
segundouma escalatipo Likert de 5 pontos,em que 1 couespondea "De forma nenhuma"
e 5 a "Todasas vezes".Por conseguinte,a pontuaçãototal obtida pode oscilar entre o
mínimo de 18 e o máximo de 90. A escalaé cotadade forma a que quantomaior é a
pontuação,maior é a ansiedadesocial assim medida.Para além da pontuaçãoTotal, a
escalapermite obter outros três resultadosbaseadosnos factoresou sub-escalasque a
compõem,nomeadamente FNE, SAD-Newe SAD-General(La Qreca, 1999).
Na versãoamericana,a sub-escalaFNE (Fear of NegativeAvaliation) é formada
por 8 itens que reflectem medos e preocupaçõesacercada possibilidadeda avaliação
negativapor parte dos outros, (e.g. "Preocupo-mecom o que os outros pensamde
mim"). O factor SAD-New (Social Avoidanceand Distress) é constituídopor 6 itens
referentesao desconfortoe evitamento social sentidosespecificamenteem situações
novas ou que envolvam pares desconhecidos(e.g. "Fico nervoso(a)quando conheço
pessoasnovas"). Por último, o SAD-General caracterizao desconfortoe evitamento
experienciadoem situaçõesmais gerais de interacçãocom os pares, sendoquatro os
itens que fazem parte destefactor (e.g. "Sinto-me timído(a) mesmo com colegasque
conheçobem") (La Greca, 1999; La Greca & Lopez, 1998).
A Escala de Ansiedade e Evitamento de SituaçõesSociais para Adolescentes
(EAESSA - Cunha,Pinto Gouveia& Salvador,2001) é formadapor 34 situaçõessociais

,
I Utilizando estes procedimentos, verificou-se igualmente um aspecto da validade racial do
instrumento.
2 Estes itens (e.g.: "Gosto de ler": "Gosto de praticar desportos") encontram-sedispersospela
escala e destinam-se a reduzir o enviesamento das respostas, resultante de uma eventual avaliação
negativa, por parte dos sujeitos, dos itens relacionados com a ansiedadesocial.

'iC""'8:C:J,ikCc"c:"C;'.;:;';:C""" ."",;;"",;
Avaliação da ansiedade social na adolescência:
A versão portuguesa da SAS-A

que procuram avaliar o grau de ansiedade e de evitamento que provocam. É, constituída


por duas sub-escalas, a sub-escala de desconforto/ansiedade e a sub-escala de evita-
mento, permitindo obter, assim, para além da pontuação total, pontuações para cada
uma das sub-escalas. A resposta a cada item, para ambas as sub-escalas, varia de 1
("nada ansioso" e "nunca evito") a 5 ("muitíssimo ansioso" e "evito quase sempre").
Esta escala revelou boas características psicométricas, apresentando uma boa consistên- -
cia interna (a de Cronbach =.91 para a sub-escalade desconforto/ansiedadee de .87 para 253
a sub-escala de evitamento) e fidelidade temporal (r=.74 e r=.71, para as sub-escalasde
desconforto/ansiedade e de evitamento, respectivamente) (Cunha e colaboradores, em
preparação).
A Escala Revista de Ansiedade Manifesta para Crianças (RCMAS - Revised
Children's Manifest Anxiety Scale; Reynolds & Richmond, 1978) é constituída por 37
itens que avaliam a presença (Sim) ou ausência (Não) de uma grande variedade de sin-
tomas de ansiedade em crianças e adolescentes dos 6 aos 19 anos de idade. Os resulta-
dos de uma análise factorial, numa amostra de crianças americanas, revelam a existência
de três factores de ansiedade: 1) ansiedade fisiológica, 2) problemas de concentração e
3) preocupações ou hipersensibilidade; para além destes, a escala apresenta, também,
um factor de mentira ou de desejabilidade social, o qual pode ser particularmente impor-
tante, já que algumas crianças ansiosas parecem responder ao questionário duma forma
socialmente desejável. Este instrumento encontra-se traduzido e adaptado à população
portuguesa (Fonseca, 1992). Os resultados da sua aplicação, a uma amostra constituída
por 635 crianças portuguesas, do concelho de Coimbra, com idades compreendidas entre
os 8 e os 17 anos, mostram que a escala apresenta boas características psicométricas,
designadamente no que se refere à consistência interna (coeficiente <X=.78),fidelidade
teste-reteste (r(20) =.68), e validade. Contudo, neste estudo, não foi replicada a estru-
tura factorial da versão americana mostrando, os dados obtidos, dois factores principais,
um factor de ansiedade global (28 itens) e um factor de mentira ou de desejabilidade
social (9 itens) (Fonseca, 1992). Resultados semelhantes foram, também, obtidos por
Dias e Gonçalves (1999), no estudo de avaliação da ansiedade em crianças e adolescen-
tes da população portuguesa (Dias & Gonçalves, 1999).
O Inventário de Depressão para Crianças (CDI- Children 's Depression Inven-
tor; (Kovacs, 1985) é um questionário de auto-resposta constituído por 27 itens que
procuram avaliar os sintomas depressivos em crianças e adolescentes com idades com-
preendidas entre os 7 e os 18 anos de idade. É um dos instrumentos mais comuns e
mais citado na literatura da depressão na infância e adolescência.
Cada um dos 27 itens que constitui o CDI exige que a criança escolha uma das 3
frases alternativas que melhor descreve os seus sentimentos e ideias. O resultado total é
o somatório dos resultados atribuídos, separadamente,a cada item, oscilando os valores
de cada item entre O e 2. Deste modo, o resultado total está compreendido entre O e 54,
significando os valores mais elevados uma maior severidade dos sintomas.
As características psicométricas do CDI têm sido objecto de numerosas investiga-
ções revelando resultados bastante satisfatórios relativamente à sua fidelidade e validade.
A consistência interna tem variado entre. 70 e .94 para diferentes amostras norte-ameri-
canas (Kovacs, 1985, 1992; Simões, 1999; Simões & Albuquerque).
Os estudos realizados na população portuguesa revelam que o CDI possui uma
boa precisão (Dias & Gonçalves, 1999; Marujo, 1994). Quer o estudo de Marujo
~

Cunha, M., Gouveia, J. P., Alegre, S. & Salvador, M. C.

(1994), realizado numa amostrade 2209 crianças dos três ciclos do Ensino Básico,
como o estudode Dias e Gonçalves(1999) numa amostrade 191 sujeitos,com idades
compreendidas entre os 8 e os 17 anos,encontraramvaloreselevadospara a consistência
interna, com coeficientesalfa de Cronbachde .84 e.80, respectivamente. Ao contrário
do estudo de validaçãodo cru numa amostracanadiana(Kovacs, 1992), nestesdois
- estudosnacionaisa análisefactorial realizadanão permitiu distinguir as cinco escalas
254 como factores diferenciadosevidenciandoque este instrumento é composto por um
único factor (Dias & Gonçalves,1999; Marujo, 1994).

Recolha de dados
Foram seleccionadas quatro escolaspúblicase duasprivadas,urbanase sub-urba-
nas,do distrito de Coimbraapósautorizaçãoda DREC (DirecçãoRegionalda Educação
do Centro) para a referidainvestigação.As turmas(uma de cadaano e por cadaescola)
foram seleccionadassegundoum processoaleatório.
A SAS-A, juntamentecom os questionáriosem cima citados,foi administradaàs
turmas seleccionadas, nas salasde aula, depoisde obtido o consentimentodas escolase
das faffillias. Acompanhavaa bateriade questionáriosuma folha de rosto na qual eram
explicadosde forma clara e sucintaos objectivose importânciadesteestudo,bem como
solicitados alguns dados demográficos.A leitura da folha de rosto, bem como das
instruçõese exemplosdo 10 questionárioa ser preenchidoera feita em voz alta no
sentidode assegurara familiaridadedosjovens com a tarefa.A ordemde aplicaçãodos
questionáriosfoi balanceada,procurando,assim,controlar possíveiscontaminaçõesdas
respostasdos adolescentesde uns questionáriospara os outros.

Resultados

Estrutura ractonal da escala


Com o objectivo de determinara composiçãofactorial destaescalarecorreu-seao
método de análise de componentesprincipais seguidode rotaçãoVarimax (efectuada
com o programa SPSSversãol0.0 para Windows). Para a medida de Kaiser-Meyer-
-Olkin (KMO) foi obtido o valor de .90, revelandouma boa adequaçãoda amostragem,
bem como foi significativo o teste de esferecidadede Bartllet (X2=3275.49; p<.OOOl),
demonstrandoque a matriz de intercorrelaçõesé significativamentediferente de uma
matriz de identidade.
A soluçãoinicial permitiu extrair 3 factorescom eigenvaluessuperioresa 1 que
explicam 50.8 da variânciatotal. Dos três factoresextraídos,após rotaçãovarimax, o
factor 1, responsávelpor 33.5% da variânciatotal, é constituídopor itens que reflectem
uma preocupaçãocom a avaliaçãonegativapor parte dos outros (e.g. "Tenho medo que
os outros possamnão gostar de mim", "Preocupo-mecom o que os outros pensamde
mim"; "Preocupo-me com o que os outros dizem acerca de mim"), sendo,
consequentemente, designadopor Medo de Avaliação Negativa ou FNE3).

3 Optámos por manter as siglas segundo a língua inglesa, dada a farniliarização com o signifi-
cado destas e facilidade de comparaçãodos diversos estudos onde são utilizadas estas nomenclaturas.
. Avaliação da ansiedade social na adolescência:
A versão portuguesa da SAS-A

O factor 2, Desconforto e Evitamento Social em Situações Novas (SAD-N), expli-


ca 10.3% da variância, e aparece constituído por 7 itens que traduzem preocupação e
mal-estar sentido em situações sociais novas, isto é, que traduzem interacções com pes-
soas novas ou desempenhos novos (e.g. "Sinto-me tímido quando estou com pessoas
que não conheço bem", "Fico nervoso quando tenho que falar com colegas que não
conheço bem", "Preocupo-me se tiver que fazer alguma coisa nova à frente dos outros". -
Finalmente, o terceiro factor, Desconforto e Evitamento Social Geral (SAD-G) 255
contribui com 7.1% para a explicação da variância, e diz respeito ao evitamento e ansie-
dade provocados por situações sociais gerais (e.g. "Sinto-me tímido mesmo com cole-
gas que conheço bem", "É difícil, para mim, convidar outras pessoas para fazer coisas
comigo").
No quadro 1 são apresentadosos factores com os itens que os compõem e respec-
tivas saturações, assim como os valores de consistência interna de cada factor. Uma
análise mais detalhada na comparação das estruturas factoriais das duas versões desta
escala, versão americana e portuguesa, permite-nos verificar que, apesar da semelhança
e concordância encontradas, existem, também pequenas diferenças quanto à composição
dos factores, nomeadamente no que diz respeito à distribuição dos itens 6, 17 e 15
pelos três factores.

Quadro1 - Factores, alfa de Cronbach de cada factor


e respectivas
saturações
dos itensque os compõemrelativosà SAS.A

FI F2 F3 Comunalidades
Factor 1. Medo de AvaliaçãoNegativa(a=.87)
9. Tenhomedoqueosoutrospossamnãogostardemim .82 .16 .17 .73
8. Preocupo-mecomo queosoutrospensamdemim .82 .19 .07 .71
12.Preocupo-me como queosoutrosdizemacercademim .81 .16 .17 .72
14.Preocupa-me queosoutrosnãogostemde mim .78 .20 .17 .68
3. Preocupo-mecomo factodepodersergozado(a) .65 .22 ::10 .48
18.Quandodiscutocom alguém,preocupo-me com a possibili- .50 .06 .42 .43
dade de a outra pessoanão gostarde mim
Factor 2- Desconforto e Evitamento Social em Situações
Novas (a=.74)
4. Sinto-me tímido(a) quandoestoucom pessoasque não .19 .77 -.05 .63
conheço
10. Fico nervoso(a)quandotenho que falar com colegasque não .17 .71 .23 .59
conheçobem
13. Fico nervoso(a)quandoconheçopessoasnovas .18 .63 .29 .51
20. Sinto-me nervoso(a)quandoestoucom certaspessoas .24 .51 .28 .39
1. Preocupo-mese tiver que fazer alguma coisa nova à frente dos .23 .50 -.02 .30
outros
15. Fico calado(a) quandoestounum grupo de pessoas .01 .49 .33 .35
5. S6 falo com pessoasque conheçorealmentebem -.01 .39 .31 .25
Factor 3- Desconforto e Evitamento Social Geral (a=.71)
21. Sinto-metírnido(a) mesmocom colegasque conheçobem .07 .17 .66 .47
22. É difícil para mim convidar outraspessoaspara fazer coisas .01 .31.66 .53
comigo
17. Sinto que os outros fazem troça de mim .37 .09 .61 .52
19. Tenho medo de convidar outras pessoaspara fazer qualquer .22 .24 .57 .43
coisa comigo
6. Sinto que os meuscolegasfalam de mim nas minhascostas .40 -.04 .53 .45

~
Cunha, M., Gouveia, J. P., Alegre, S. & Salvador, M. C.

Como está representadono Quadro 2, os 6 itens que constituema escalaportu-


guesa FNE são os mesmosque constam da escala americanacom o mesmo nome,
integrandoestaúltima mais dois itens. Relativamenteao factor SAD-N, dos 7 itens que
o compõem,seis são comunsaos dois países.Por último, dos 5 itens que fazem parte
da escala SAD-G, 3 estão presentesna escala americanacorrespondente.Para além
- destagrandesobreposiçãoentre as escalas,não se verificam discrepânciasrelativamente
256 ao conteúdodas mesmas,não comprometendoa consistênciaou coerênciadas escalas
da estruturafactorial portuguesa.

Quadro2 - Comparação das versõesamericana e portuguesa da SAS-A


relativamente aos itens que constituem cada factor da escala

SAS-AI Factores Versãoamericana


J.lens VersãoJ.LCns
Portuguesa

--
FNE 3,6,8,9,12,14,17,18 3,8,9,12,14,18
SAD-New 1,4,5, 10, 13,20 1,4,5, 10, 13,20, 15
SAD-General 15,19,21,22 19,21,22,6,17
. . .,

Para avaliar a correspondênciaentre estesfactorese os factoresobtidos por La


Grecana populaçãoamericanacalcularam-seas correlaçõesentreas estruturasfactoriais
obtidasnos dois países.Por outraspalavras,utilizando-sea amostradesteestudo,calcu-
laram-seas correlaçõesde Pearsonentre cadaescaladerivadada nossaanálisefactorial
e cada escalacorrespondenteda versão americana.Como seria de esperar,obteve-se
uma acentuadacorrespondênciaentre as escalasportuguesase americanas(r=.97 para
as escalas FNE; r=.98 para as escalas SAD-N; e r= .85 para as escalas SAD-G,
(p< p=O.Ol).
Em síntese,dadaa convergênciados resultadosencontrados, verifica-seque os três
factores encontradospor La Greca encontramuma correspondênciapara a população
geral portuguesa.

Fidelidade da escala

Consistênciainterna
Para se determinara consistênciainterna, calculou-seo alia de Cronbachquer
para a totalidadedos itens do questionário(18), quer para cadauma das escalas(facto-
res) que a compõem,revelandoestaescalauma boa consistênciainterna «X=.88para o
Total da Escala;<X=.87para o factor FNE; <X=.74para o factor SAD-N e <X=.7lpara a
escalaSAD-G). Tal como se pode ver, atravésda análisedo Quadro3, todos os itens
mostramcorrelaçõesitem-total superioresou iguais .35, exceptoo item 5 ("Só falo com
pessoasque conheçorealmentebem") que apresentauma correlaçãode .30. O Quadro
4 apresentaos coeficientesaIfa das três sub-escalas
e as correlaçõesinter-escalaspara o
total da amostra.Os valoresmoderadosdas correlaçõesentre as sub-escalasda SAS-A
sugeremque estas,embora interrelacionadas,representamsubconstructosdistintos da
ansiedadesocial.

ê',cf;'i,;7!~::,~""
. Avaliação da ansiedade social na adolescência:
A versão portuguesa da SAS-A

Quadro 3 - Médias, desvios-padrão,e correlações item-total para cada item


e para o Total da SAS-A

N=S22
Item-total
SAS.A/ Itens
- M DP r
1. Preocupo-mesetiver que fazeralgumacoisanovaà frentedosoutros 2.96 1.03 .35 -
3. Preocupo-mecomo facto de podersergozado(a) 3.15 1.13 .53 257
4. Sinto-metímido(a)quandoestoucom pessoasquenãoconheço 3.20 1.10 .45
5. Só falo com pessoasqueconheçorealmentebem 2.54 1.22 .30
6. Sinto queos meuscolegasfalamde mim nasminhascostas 2.67 1.00 .44
8. Preocupo-mecom o queos outrospensamde mim 3.16 1.19 .61
9. Tenhomedoqueos outrospossamnãogostarde mim 2.86 1.24 .65
10.Fico nervoso(a)quandotenhoquefalar com colegasquenãoconheçobem 2.62 1.05 .55
12.Preocupo-mecom o queos outrosdizemacercade mim. 2.96 1.16 .65
13.Fico nervoso(a)quandoconheçopessoasnovas 2.49 1.06 .54
14.Preocupa-me queos outrosnãogostemde mim 2.77 1.23 .64
15.Fico calado(a)quandoestounum grupode pessoas 2.37 1.04 .37
17. Sinto queos outrosfazemtroçade mim 2.25 1.00 .54
18.Quandodiscutocom alguém,preocupo-mecoma possibilidadede a outra 2.57 1.12 .51
pessoanãogostarde mim
19.Tenhomedode convidaroutraspessoasparafazerqualquercoisacomigo 2.11 1.05 .50
porquepodemdizer quenão
20. Sinto-menervoso(a)quandoestoucom certaspessoas 2.69 0.93 .50
21. Sinto-metímido(a)mesmocom colegasqueconheçobem 1.57 0.86 .41
22. É difícil aramim convidaroutras essoas arafazercoisascomi o 2.03 1.03 .45
TOTAL 46.97 11.16 1.00
N~t~~Os itens2, 7,11 e 16 nãoforamconsiderados umavez quesãoitensneutrose, comotal. nãodevem
sercotados

Quadro 4 - CoeficientesAlfa de Fidelidade e Correlações inter-escalasda SAS.A


Alfa/Correlações Amostra (N=522)
CoeficienteAlfa
FNE .87
SAD-New .74
SAD-General .71
Correlaçõesinter-escalas
FNE e SAD-New .47
FNE e SAD-General .53
SAD-New e SAD-General .54
Nota: FNE=Fear ofNegative Evaluation; SAD-N=Social Avoidance
and Distress Specific to New Situations; SAD-G= Generalized
Social Avoidance and Distress.
Todas as correlações são significativas ao nível de .001

Estabilidade temporal (Fidelidade teste-reteste)


Outra característicaanalisadafoi a da estabilidadetemporaldo questionário.Com
este objectivo, a SAS-A foi de novo administrada,1 mês mais tarde, a um grupo de
jovens adolescentes(N=77), obtendo-seum coeficientede correlaçãode Pearsonde.74,
que sugereuma aceitávelestabilidadetemporal desteinstrumento.
. ;:_; j,~;;-y':""~~'~-'
Cunha, M., Gouvela, J. P., Alegre, S. & Salvador, M. C. ":'",""'c-,
,c""",~,,'
..,-.,~'
~;,'~r
~
;: ':;:::ii;i.
~

Validade convergentee divergente

Para estudara validade convergentee divergentedesta escalacalcularam-seas


suas correlaçõescom a Escala de Ansiedadee Evitamentode SituaçõesSociais para
Adolescentes (EAESSA), Escala Revista de Ansiedade Manifesta para Crianças
- (RCMAS) e Inventáriode Depressãopara Crianças(CDI). Como se pode ver no Qua-
258 dro 5, os coeficientesde correlação,todos estatisticamentesignificativos ao nível de
.01, variam entre .54 e .26 e, de modo geral, sugeremque a SAS-A tem uma validade
convergentesatisfatória.Como seria de esperar,correlaçõesmais elevadassão obtidas
entre aSAS-A, EAESSA e RCMAS, uma vez que procuramavaliar constructosseme-
lhantesrelacionadoscom a ansiedadesocial e com a ansiedadegeral, sendoestasclara-
mente superioresàs correlaçõesregistadasentre a SAS-A e o CDI.

Alguns dados normativos

No Quadro 6 apresentam-se as médias e desvios-padrãodo total e factoresdo


SAS-A, separadamente para os rapazese raparigas,para cadanível etário, grau de esco-
laridade, e na amostraglobal. Para efeitos de comparação,são, também,indicadosos
resultadosobtidos por Inderbitzen e colaboradores(2000), numa amostraamericana,
alargadade adolescentes.

Os resultadosde diversasanálisesde variânciarevelaramum efeito significativo


do sexo quer em relação ao Total da escala(F (1, 520)=10.35,p=.OOI),quer relativa-
mente aos factoresFNE (F(I,520)=10.21,p=.OOI)e SAD-N (F( 1,520)=7.68,p=.OO6),
obtendoas raparigaspontuaçõesmais elevadasque os rapazes.Na sub-escalaSAD-G,
as raparigascontinuama pontuarmais alto embora,aqui, a diferençanão seja significa-
tiva (F(I,520)=2.40),p=.122).Não se registaramdiferençassÍgnificativasnos resultados
obtidos (ver Quadro6) em função do nível etário (F (6,515)=1.11, p>.05) e do grau de
escolaridade(F(5, 516)=.94, p>.05). Contudo, uma comparaçãoentre as médias dos
diversosgruposetáriose de escolaridadepermitiu verificar que são os gruposdos 12 e
15 anos,correspondentes ao 7° e 10° anosde escolaridade,que apresentamvaloresmais
elevadosno Total da SAS-A Estesdados não deixam de ser curiososse tivermos em
conta que ambosmarcamo início de um novo ciclo escolar(7° ano: primeiro ano do 3°
ciclo do Ensino Básico; 100ano: primeiro ano do Ensino secundário)indicando,assim,
períodosde transiçãoque podem implicar ajustamentosa novas situações.

Discussão

É amplamenteconhecidoo facto das experiênciasde ansiedadesocial seremfre-


quentesduranteo períododa adolescência, podendoter sériasconsequências no casode
seremintensase persistentes. A suaavaliaçãotoma-se,assim,um aspectocrucial para a
investigaçãoe prática clínica na adolescência.Nesteprocessode avaliação,os questio-
nários de auto-respostadesempenham um papel importantepermitindo com facilidade,
e de forma fidedigna e válida, ter acessoa formas de pensar,sentir e agir dos adoles-
. Avaliação da ansiedade social na adolescência:
A versão portuguesa da SAS-A

Quadro 5 - Correlações entre SAS-A e medidas de medo e evitamento social,


ansiedadee sintomas depressivos

Escala de Ansiedade Social (SAS.A)


TOTAL FNE SAD-N SAD-G
EAESSA -
Ansiedade .53** .39** .52** .39** 259
Evitamento .52** .37** .51 ** .40**
RCMAS
Ansiedade .54** 52** 35** .45**
CDI .40** .36** .26** .37**
EAESSA=EscalaAnsiedadee Evitamentode SituaçõesSociais para Adolescentes;
RCMAS=RevisedChildrenManifestAnxietyScale;CDI=Children'sDepressionInventory
**Correlaçãosignificativaao nível .01

Quadro6 - Resultados
do Total e sub-escalas
da SAS-Apor sexo,idadee grau de escolaridade

Sub-escalasSAS-A
Total FNE SAD-N SAD-G
N Média D.P. Média D.P. Média D.P. Média D.P.
Sexo
Masculino 223 45.17 11.29 16.57 5.46 18.22 4.78 10.38 3.46
Feminino 299 48.31 10.89 18.12 5.49 19.35 4.52 10.84 3.31
F 10.35** 10.21** 7.68* 2.40
Idades
12 69 49.55 11.27 18.22 4.84 19.83 4.84 11.51 3.95
13 81 47.06 12.46 18.37 5.15 18.28 5.15 10.41 3.63
14 92 46.39 10.65 17.05 4.32 18.93 4.32 10.40 3.24
15 89 47.67 11.62 17.91 4,81 19.38 4.81 10.38 3.39
16 62 45.15 9.63 16.08 4.17 18.90 4.17 10.16 2.74
17 75 46.75 11.07 17.37 4.69 18.33 4.69 11.04 3.35
18 54 45.76 10.72 16.79 4.40 18.24 4.40 10.72 3.01
F 1.11 1.55 1.21 1.38
Escolaridade
7° ano 109 48.74 11.82 17.63 5.95 19.88 5.14 11.23 3.99
8° 99 46.77 11.93 18.37 5.48 18.15 4.90 10.24 3.40
9° 94 45.72 10.96 16.90 5.59 18.64 4.39 10.18 3.24
100 75 47.32 11.10 17.89 5.58 18.97 4.58 10.45 2.98
11° 73 45.89 10.37 16.23 5.41 18.86 4.11 10.79 2.93
12° 72 46.92 10.10 17.47 4.76 18.50 4.40 10.94 3.26
F .943 1.57 1.65 1.49
Total 522 46.97 11.16 17.46 5.23 18.87 4.66 10.64 3.38
Total(amostraamericana)
Sexo masculino 1431 41.84 12.39 18.69 6.72 12.91 4.03 10.26 3.69
Sexofeminino 1506 40.46 12.59 20.76 6.87 13.68 4.12 10.12 3.71
Nota. Todos os testesunivariados para o sexo, grupos de idade e grupos de escolaridadetêm,
respectivamente,(1, 520), (6, 515) e (5, 516) grausde liberdade.* p<.05. ** p<.OOl
Cunha, M., Gouveia, J. P., Alegre, S. & Salvador, M. C.

centes.A SAS-A, atravésde diversosestudos,tem reveladoser uma escalacom boas


característicaspsicométricase útil no estudo da ansiedadesocial dos adolescentesno
contextode interacçãocom os pares.
O presenteestudo teve como principal objectivo avaliar a versãoportuguesada
SAS-A relativamente à sua fidedignidade e validade, bem como testar a estrutura
- factorial destaescalanuma amostrade adolescentes portuguesescom idadescompreen-
260 didas entre os 12 e os 18 anos.
No que respeitaàs análisespsicométricasda SAS-A, a versãoportuguesarevelou
uma estrutura factorial idêntica à encontradapara a versão americana(La Greca &
Lopez, 1998).Por outraspalavras,à semelhançada versãooriginal, este estudoprodu-
ziu três factores,que explicam 51.% da variânciatotal, relativosao Medo de Avaliação
Negativa(FNE), Ansiedadee Evitamentode SituaçõesSociaisNovas(SAD-N) e Ansie-
dade e Evitamentode SituaçõesSociais Gerais (SAD-G). O primeiro factor (FNE) é
formado,na versãoportuguesapor 6 itens que avaliamo medo e preocupações relativos
a avaliaçõesnegativasdos pares;a sub-escalaSAD-N, formadapor 7 itens, consistena
avaliaçãodo desconfortoe evitamentodas situaçõessociaisnovasou com paresdesco-
nhecidos;e, finalmente,a terceiradimensão,SAD-G, é formadapor 5 itens que avaliam
o desconforto,ansiedadee inibição social geral. Os valoresmoderadosdas correlações
entre as sub-escalasda SAS-A sugeremque estas,emborainterrelacionadas, represen-
tam subconstructosdistintos da ansiedadesocial. Embora as sub-escalas, na população
portuguesae americana,não sejamcompletamentecoincidentesquantoaos itens que as
constituem,verifica-seuma larga sobreposiçãonão nos parecendorelevanteas pequenas
diferençasencontradas.Esta interpretaçãoé apoiadapelas elevadascorrelaçõesobtidas
entre as sub-escalas portuguesase as suashomologasamericanas.Seráimportanteveri-
ficar, em futuros estudos,se os resultadosagora obtidos na comunidadepodem ser
confirmadosnoutrasamostras,designadamente em amostrasda populaçãoclínica.
A versãoportuguesada SAS-A mostrou possuirvaloresel,evadosde consistência
interna para o total e sub-escalas,indicandouma boa fidedignidadedesteinstrumento.
A estabilidadetemporal foi avaliadacom um mês de intervalo mostrandovaloresacei-
táveis e coerentescom os obtidos na populaçãoamericana(La Greca, 1999).A SAS-A
reveloucorrelaçõesmoderadasou mesmoelevadascom outros instrumentosque medem
constructossemelhantes,como a EAESSA e RCMAS.
Os valoresobtidos para o total e sub-escalasda SAS-A na populaçãoportuguesa
foram semelhantesaos encontradosna populaçãoamericana(Inderbitzen,Walters, &
Bukowski, 1997; Inderbitzen-Nolan& Walters, 2000; La Greca, 1999; La Greca &
Lopez, 1998).A mesmaconsistênciade dadosse verificou em relaçãoà distribuiçãoda
ansiedadesocial segundoo sexo, constantando,também, à semelhançados estudos
americanos,que as raparigasapresentamvalores significativamentemais elevados,que
os rapazes,de ansiedadesocial avaliadapelo Total e sub-escalasFNE e SAD-New da
SAS-A. Em relaçãoao papel da idade na ansiedadesocial, não se verificaramdiferen-
ças significativasentre os grupos na populaçãoportuguesa.Estes resultadosestão de
acordo com alguns estudosrealizadosna populaçãoamericanacom criançase adoles-
centes (Ginsburg et al., 1997; La Greca & Lopez, 1998), embora existam, também,
dadoscontraditóriosa esterespeito(Inderbitzen-Nolan& Walters,2000). Sintetizandoa
informação recolhida na investigaçãoamericana,verifica-se que, duma forma geral,
quando se obteve um efeito da idade ou grau de escolaridade,os adolescentesmais
~

-, Avaliaçãoda ansiedadesocial na adolescência:


A versãoportuguesa da SAS-A

novos referiam níveis mais elevados de ansiedade social que os adolescentesmais velhos,
Contudo, os efeitos obtidos, associados à idade ou grau de escolaridade, não foram
consistentes, e, quando foram encontradas diferenças, a sua magnitude era pequena (La
Greca, 1999). Na população portuguesa, os valores de ansiedade social revelaram dois
picos situados aos 12 e 15 anos, e 7° e 100 ano de escolaridade, correspondentes a anos
de transição para novos ciclos de ensino. Este dado pode ser interessante, porque apesar -
de não haver diferenças significativas, sugere que os períodos de transição podem desem- 261
penhar um papel importante na ansiedade social pelas mudanças e adaptaçõesque impli-
cam, como por exemplo, a mudança de escola que, no caso do nosso sistema educativo
público, envolve a passagem do 3°ciclo do ensino básico para o ensino secundário.
Futuras investigações poderão contribuir para uma clarificação deste aspecto.
Algumas limitações podem ser apontadas a esta investigação. A primeira prende-se
com a necessidade de replicar estes dados com amostras maiores e mais diversificadas
do ponto de vista geográfico. Por outro lado, uma vez que estes dados são retirados da
população da comunidade é importante ver o comportamento deste instrumento com
amostras clínicas. São necessárias novas investigações que analisem a validade discri-
minante da SAS-A para garantir a sua utilidade e relevância clínica. Até à obtenção de
dados adicionais, em amostras da comunidade mais alargadas e em amostras clínicas,
sugerimos a utilização exclusiva do Total da escala para a avaliação da ansiedade social.
Não obstante as limitações apontadas,os resultados deste estudo preliminar sugerem
que a versão portuguesa da SAS-A é um instrumento com boas características psi-
cométricas e útil para a avaliação da ansiedade social nos adolescentes.

RESÚMÉ

L'évaluation de I'anxiété socialedans I'adolescence:Ia version portugaisedu SAS-A


L'échelled' AnxiétéSocialepour Adolescents de La Grecae Lopez(SAS-A)a le but d'évaluer
les expériences de I' anxiétésocialedes adolescents
dansle contextedes relatiõnsentrepaires.Dans
cette étude,on présenteles caractéristiquespsychométriqueset Ia structurefactoriellede Ia version
portugaise.
Dansun universde 522jeunesentre12 et 18 ans.du districtde Coimbra,les résultatsmontrent
que I' échellea une bonneconsistanceinterne et une certainestabilité temporelle.La composition
factorielles'est révéléepareilleà celle que l'on a trouvéedansIa populationaméricaine.
en montrant
I' existencede trais facteurs.
La validité conceptuellea été étudiéeà traversl'analyse des corrélationsavec I'anxiété et
l'évitementdansdes situationssociales(EAESSA),I'anxiétégénérale(RCMAS)et Ia symptomatolo-
gie dépressive(CDl).
On présenteet on discuteles donnéesnormatifspour Ia populationportugaise.Malgré les
limitations signalées,les résultatssuggerentI' SAS-A commeune échelleutile dansl'évaluationde
l'anxiété socialeparmi les adolescents.
Mars-cLÉ:Anxiété sociale;Évaluation;Adolescence;
Donnéespsychométriques.

ABSTRACT

Assessmentof Social anxiety in adolescence: lhe Portugueseversion of lhe SAS-A


La Greca and Lopez (SAS-A) Social Anxiety Scale for Adolescentsaims to evaluatelhe
experienceof social anxiety felt by adolescents
in the contextof their relationshipwith their pairs.
Cunha, M., Gouveia, J. P., Alegre, S. & Salvador, M. C.

This study presents lhe psychometric characteristics and lhe factorial structure of lhe Portuguese
version.
In a survey made among 522 youngsters between lhe ages of 12 and 18, in lhe district of
Coimbra, lhe results show that lhe scale as an accurate internal consistency and temporal stability. The
factorial composition proved to be similar to lhe one found in lhe American population, showing

- clearly lhe existence of three factors.


The construct validity as been studied through lhe analysis of lhe co-relationships with lhe
262 anxietyand avoidingin socialsituations(AASSSA),lhe generalanxiety(RCMAS)and lhe depressive
symptomatology (CDI).
The normative data for lhe Portuguese population are presented and discussed. Despite lhe
limitations shown, lhe results suggest that lhe SAS-A is a useful scale on lhe evaluation of lhe social
anxiety among adolescents.

KEY-WORDS:
Social anxiety; Evaluation; Adolescence; Psychometric data.

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