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“ENSINANDO A PALAVRA NO PODER DO ESPÍRITO”

ACONSELHAMENTO PASTORAL

MÉTODOS E TÉCNICAS

Professora: Priscilla Tatiane Oliveira Vale de Souza

Belo Horizonte

2009

Psicóloga Priscilla Tatiane Oliveira Vale de Souza – (31) 8633.4589 - priscillatsouza@ig.com.br


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SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO AO ACONSELHAMENTO................................................05
a. Aconselhamento...........................................................................05
b. Uma discussão antropológica......................................................05
c. A natureza humana......................................................................06
II. O CONSELHEIRO COMO UM AJUDADOR.............................................07
a. Características de um conselheiro...............................................07
b. O Papel do Pastor e Conselheiro.................................................07
c. Quem é esse que será aconselhado............................................08
d. Entendendo as crises...................................................................10
III. TÉCNICAS PARA UM ACONSELHAMENTO COM ÊXITO......................11
a. A escuta.......................................................................................11
b. Epoché ........................................................................................12
c. Cuidados com o vocabulário........................................................13
d. Mandamentos que facilitam o convívio........................................14
IV. FASES DO ACONSELHAMENTO .......................................................15
a. Causando impacto nas pessoas..................................................15
b. As necessidades do indivíduo......................................................15
c. Valor da individualidade e do convívio em comunidade..............16
d. Sinais de um Trabalho Inútil.........................................................16
e. Ética profissional..........................................................................17
f. Procure reduzir seu nível de stress..............................................17
V. ACONSELHANDO A FAMÍLIA..................................................................18
a. Conceito de família.......................................................................18
b. Ambiente favorável.......................................................................18
VI. ACONSELHANDO O MENTALMENTE ENFERMO..................................19
a. Conhecendo o mentalmente enfermo..........................................19
VII. FASES DO DESENVOLVIMENTO............................................................20
a. Estágios de desenvolvimento ......................................................20
VIII. O ADVENTO DA PSICOLOGIA.................................................................25
a. Psicologia ....................................................................................25
b. Aspecto emocional e afetivo do ser humano...............................26
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IX. MOTIVAÇÃO.............................................................................................27
a. Origem..........................................................................................27
b. Teorias.........................................................................................27
c. Desejo e necessidade..................................................................28
d. Desafio da psicologia...................................................................29
e. Tipos de motivação......................................................................29
X. MULHER....................................................................................................31
a. Conceito.......................................................................................31
b. A mulher e o preconceito de gênero............................................31
XI. ADOLESCÊNCIA.......................................................................................33
a. Crise na adolescência..................................................................33
b. Período de moratória....................................................................33
c. Identidade.....................................................................................33
XII. SEXUALIDADE..........................................................................................35
a. Identidade sexual.........................................................................35
b. Heterossexualidade......................................................................35
c. Homossexualidade.......................................................................35
d. Homossexualidade humana.........................................................36
e. Relações entre gêneros na homossexualidade humana.............41
f. Visão social da homossexualidade humana................................43
g. Bissexualidade.............................................................................44
h. Visão social da bissexualidade....................................................45
i. Preconceito sexual.......................................................................46
XIII. ABUSO......................................................................................................48
a. Abuso infantil................................................................................48
b. Abuso sexual de menor................................................................48
c. Formas de abuso.........................................................................49
3.1. Com contato físico......................................................................49
3.2. Sem contato físico......................................................................49
d. Conseqüências.............................................................................50
4.1. Físicas........................................................................................50
4.2. Psicológicas................................................................................50
4.3. Comportamento..........................................................................50
XIV. VIOLÊNCIA................................................................................................52
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a. Violência sexual...........................................................................52
b. Violência doméstica.....................................................................52
2.1. Violência doméstica física..........................................................52
2.2. Violência doméstica psicológica.................................................53
2.3. Violência doméstica fatal............................................................53
c. Violência sexual...........................................................................54
XV. NEGLIGÊNCIA..........................................................................................55
a. Negligência...................................................................................55
XVI. SUPER PROTEÇÃO.................................................................................56
a. Super-proteção.............................................................................56
XVII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS............................................................57
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“Não havendo sábia direção, o povo cai; mas na multidão de conselheiros há segurança.”
Provérbios 11:14.

I-INTRODUÇÃO AO ACONSELHAMENTO

O ato de aconselhar é inerente à raça humana, ou seja, desde que o homem


foi concebido percebe-se sua necessidade em ouvir e ser ouvido. O que pode
ser notado no livro de Gênesis, na Bíblia Sagrada, ao narrar que Deus
passeava no Jardim do Éden para visitar e se comunicar com Adão. (Gênesis
3:8).

1. Aconselhamento

Aconselhamento segundo o dicionário Michaelis (2002) é o ato de aconselhar,


que consiste em dar conselho; recomendar; convencer, persuadir; consultar ou
pedir parecer de.

Segundo Fred McKinney em Friesen (2000) “Aconselhamento é um


relacionamento interpessoal em que o conselheiro assiste ao indivíduo em
sua totalidade no processo de ajustar-se melhor consigo mesmo e com seu
ambiente”.

2. Uma discussão Antropológica

Todavia, para que haja condições de se aconselhar, ou seja, se relacionar


interpessoalmente, com alguém um conceito se faz imprescindível, para o
sucesso do conselheiro, para que o mesmo não o cometa. Ei-lo:

Etnocentrismo: Segundo Rocha (1999) é uma visão do mundo onde o nosso


próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e
sentidos através de nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que
é existência.
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No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a


diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo,
hostilidade, etc. (Rocha, 1999)

Um conselheiro não deve partir do seu pressuposto de mundo para julgar


alguém que lhe procura. O que primeiro deve ganhar ênfase em um
aconselhamento é o respeito às diferenças.

3. A natureza humana

Em seguida é necessário que o conselheiro se conheça, seja honesto para


perceber suas virtudes e limitações e então ser capaz de aconselhar alguém.

Conhece-se a ti mesmo. Sócrates

Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a


vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? 2
Coríntios 13:5.

Ocupa-te de te conheceres, que é esta a mais difícil lição da vida. D.


Quixote Cervantes.
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II- O CONSELHEIRO COMO UM AJUDADOR

1. Características de um conselheiro

Collins (2005) entende que o conselheiro exerce um papel de ajudador e


relaciona essa arte com a grande comissão, o significado e as características
do discipulado. Para tanto trata de temas como:

• Obediência;
• Amor;
• Frutificação;
• Os custos do discipulado;
• Relacionamentos pessoais;
• Ambições pessoais;
• Bens pessoais;
• Evangelização;
• Discipulando pessoas.

2. O Papel do Pastor e Conselheiro

Segundo Friesen (2000), o conselheiro utiliza os princípios psicológicos a fim


de alcançar um bom resultado:

• Diagnosticar problemas apresentados;


• Analisar o processo do desenvolvimento dos problemas;
• Planejar estratégias de auxílio à pessoa nos seus problemas;

Segundo Friesen (2000), o conselheiro deve se ater a:

• Seus cuidados pessoais;


• Manutenção do seu emocional, mental e físico;
• À sua auto Imagem;
• Ao código de conduta pastoral;
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• Ao não abuso: de poder, sexual, emocional, financeiro;


3. Quem é esse que será aconselhado

O conselheiro também deve se preocupar em conhecer quem o procura, ou


seja, deve investigar e se importar por esse que procura o aconselhamento.

Essa investigação deve levar em consideração o sujeito como um todo. Como


um ser Biopsicossocial e Espiritual.

A investigação perpassa por saber a respeito da família desse sujeito, sua


saúde física e psíquica. Se este é capaz de amar e trabalhar.

Freud reconhece como saudável aquele capaz de amar e trabalhar.


Considerando que amar e trabalhar são parte indiferenciáveis de um mesmo
sistema, onde um se retroalimenta do outro, pois para produzir é preciso
reproduzir, ou seja, o ser humano não se realiza em si mesmo. Só se constrói
quando se espelha no outro.

Segundo Friesen (2000) existem sete características da maturidade psíquica

• Encarar a realidade assim como ela é;


• Adaptar-se e ajustar-se às mudanças;
• Ser capaz de controlar preocupações e medos;
• Ser capaz de doar-se a si mesmo;
• Ter capacidade de considerar os outros;
• Refrear a hostilidade;
• Aprender a amar;
• Sentir-se bem consigo mesmo, com os outros e responder às
demandas da vida.

O conselheiro deve se interessar pelas relações interpessoais daquele a quem


assiste
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Por exemplo: no caso de brasileiros deve levar em consideração nossa


colonização, que recebe influência de tantas culturas: de várias religiões e
consequentemente de várias crendices e costumes.

A catequização dos índios pela igreja católica e a importação das religiões


africanas que vieram com os navios negreiros.

Bem como, a forma de como o brasileiro está acostumado a ganhar os direitos,


instaurado por Getúlio Vargas “Pai dos Pobres” com sua dádiva de “boas leis” e
concedendo diversos direitos trabalhistas.

Dessa forma, pressupõe-se que a tendência é esperar que seu líder lhe dê as
respostas, os direitos, os deveres.

Por fim, o conselheiro deve levar em consideração a história da educação no


Brasil, que só se abre à classe operária com o intuito de prepará-la para o
campo de trabalho, ou seja, te dou, mas quero algo em troca.

O conselheiro deve:

• Procurar saber em quem essa pessoa que o procura se espelha;


• O que ele sabe;
• Qual seu nível social;
• Sua visão de mundo;
• Suas preferências;
• Sua cultura familiar;
• Seu contexto social, cultural, espiritual, econômico, psíquico e
intelectual;
• Quais suas manias e vícios;
• E qual o sentido que essa pessoa dá para sua questão?
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4. Entendendo as crises

O aconselhamento se faz imprescindível quando é capaz de atuar em um meio


social, na vida de uma instituição, família ou indivíduo.

Fica claro, pelo menos aqui no Brasil, que do encontro entre as classes sociais
nasce à percepção da desigualdade social, uma vez que um sujeito da classe
C, D e E (popular) não se mostrará com o mesmo poder aquisitivo, símbolos e
condições de existência e status de um sujeito de classe A ou B. O que pode
ser embasado na fala de Max Weber em BOURDIEU (2004):

Max Weber distingue a classe social enquanto um grupo de


indivíduos que, por partilharem a mesma situação de classe, isto é, a
mesma “situação de mercado”, possuem as mesmas chances típicas
no mercado de bens e de trabalho, as mesmas condições de
existência e de experiências pessoais, e os grupos de status
(Stande) que são conjunto de homens definidos por uma certa
posição na hierarquia da honra e do prestígio. (BOURDIEU, 2004,
p.115).

Existe também uma lógica de mercado, que mantém essa desigualdade. Onde
o que tem explora o que não tem. O que se percebe em BOURDIEU (2004), é
que há ainda, uma lógica das relações simbólicas que se impõe aos sujeitos
como um sistema de regras necessárias, no jogo econômico quanto às
intenções particulares dos sujeitos, ou seja, as relações sociais são movidas
pela busca de prestígio, que passam pelas relações entre condições e
posições sociais que se realizam.

Além da desigualdade de mercado e de consumo, existe a desigualdade entre


os signos e símbolos definidos em cada camada da sociedade. O que
poderíamos chamar de identidade de cada camada. Todavia, essa identidade
muitas vezes é tomada como forma de distinguir quem tem de quem não tem.
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III-TÉCNICAS QUE AUXILIAM NO ACONSELHAMENTO

““... o que distingue o pior arquiteto da melhor das abelhas é que o arquiteto figura na
mente sua construção antes de transformá-la em realidade”, pois seu trabalho é
consciente e proposital, já o dos animais é instintivo.” (VEN, 2002)

O trabalho em sua forma humana foi chamado ação inteligente por Aristóteles,
dado que permite a uma concepção do resultado a ser produzido antes da sua
concretização do material.

Dessa forma, no aconselhamento é necessário o planejamento, a organização,


a oração e a ação. O que ocorrerá através da utilização de todos os sentidos:
visão, olfato, tato, paladar e audição (escuta):

1. A escuta

A escuta acontece em três níveis: Ativo, Sociável, Superficial

O nível básico, Superficial, é o que nós usamos quando estamos ouvindo, mas
não estamos escutando. Por exemplo, quando estamos conversando com um
convidado numa festa, tentando se interessar pelo que ele está dizendo, mas
mantendo a atenção dirigida a outro acontecimento. Talvez em alguma outra
conversa que nós percebemos ser mais interessante.

O problema é que nós estamos ouvindo o que o outro convidado está dizendo,
não escutando. Assim nós ficamos confusos, perdemos o fio da meada ou
acabamos tendo que pedir ao interlocutor para repetir o que disse há pouco.

Se fosse numa sessão de treinamento os danos seriam extremos. Se só


estamos ouvindo superficialmente é porque nossa mente está em outro lugar.
Isto estará refletido em nossa linguagem corporal e a pessoa que está sendo
treinada perceberá imediatamente. A relação de confiança vai ser destruída e o
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treinamento não terá qualquer resultado útil

O próximo nível, Sociável, é o tipo de escuta que a maioria de nós faz na maior
parte do tempo. Na escuta sociável nós escutamos enquanto nossos parceiros
falam e vice-versa. Porém, o perigo aqui é que enquanto a outra pessoa estiver
falando, nós estamos nos concentrando na construção da nossa próxima
observação, em lugar de verdadeiramente focalizar no que a outra pessoa está
dizendo.

Este é um importante desafio quando você começa a dar treinamento, pode ser
difícil de manter o fluxo de perguntas, quando você não está habituado. É
melhor parar e pensar na próxima pergunta, quando a outra pessoa acabar sua
fala.

No nível prático significa que nós não deveríamos tentar treinar quando
estivermos com pressa ou preocupados com qualquer outra coisa. Nós não
deveríamos desenvolver uma sessão de treinamento dentro um ambiente
ruidoso ou muito quente ou muito frio. É impossível escutar ativamente em tais
circunstâncias.

Para ouvir e aconselhar alguém o conselheiro deve utilizar a epoché, um


conceito da corrente humanista existencial.

2. Epoché

(εποχη) (epochè ou epokhé europeu da transcrição) é um termo grego que


descreve o momento teórico onde toda a opinião na existência do mundo real,
e conseqüentemente toda a ação no mundo real, são suspendidas.

Este conceito foi desenvolvido por Aristóteles e joga um papel implícito no


pensamento céptico, como em René Descartes princípio epistêmico radical de
dúvida metódica. O filósofo fenomenológico proeminente Edmund Husserl
pegara a noção de Epoché fenomenológico; em suas meditações cartesianas
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do trabalho influente onde o mundo é ' perdido a fim ser resgatado' com da
colocação do epoché.

Com base em reivindicar que nós não sabemos qualquer coisa, Pyrrho discutiu
que a atitude preferida a ser adotada é Epoché, isto é, a suspensão do
julgamento ou da retenção da aprovação. Não é verdadeiro que o resultado
deste é um abraço da idéia que nós não temos nenhuma base racional para
escolher o one-way da ação ou de outra; um pouco, um tipo da vida ou um tipo
da ação não podem definitiva ser ditos ser a 'correta' maneira ou ação. Em vez
do céptico que sugere uma vida da inércia, insiste que uma deve viver de
acordo com costumes, leis e tradições. Também, é importante anotar que os
cépticos não afirmam dogmaticamente a inabilidade saber qualquer coisa: a
palavra mesma SKEPSIS significa 'sempre pesquisando', certamente, seria
intuitivo afirmar corajosamente que nada pode ser sabido que desde que se
propor muito seja então elevado ao status de algo que é sabido.

Portanto, o conselheiro deve fazer a suspensão do juízo de valor para se


propor ao aconselhamento.

3. Cuidados com o vocabulário

Segundo Friesen (2000), em um aconselhamento existem palavras que


merecem destaque e que podem facilitar os relacionamentos ajudando
conselheiro e aconselhando, são elas:
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As seis palavras mais importantes: ADMITO QUE O ERRO FOI MEU.

As cinco palavras mais importantes: VOCÊ FEZ UM BOM TRABALHO.

As quatro palavras mais importantes: QUAL A SUA OPINIÃO?

As três palavras mais importantes: FAÇA O FAVOR.

As duas palavras mais importantes: MUITO OBRIGADO.

A palavra mais importante: NÓS.

A palavra menos importante: EU.

4. Mandamentos que facilitam o convívio

Segundo Friesen (2000), em um aconselhamento existem dez mandamentos


que merecem destaque e que podem facilitar os relacionamentos ajudando
conselheiro e aconselhando, são elas:

I. Fale com as pessoas. Vá de encontro às pessoas, principalmente se


elas não conseguiram fazer o mesmo;
II. Sorria para as pessoas, o que faz bem a todos, pois acionamos 72
músculos para franzir a testa e somente 14 para sorrir;
III. Chame as pessoas pelo nome, para muitos a música mais suave é
ouvir seu nome;
IV. Seja amigo e prestativo, para ter amigos é preciso ser amigo;
V. Seja cordial. Falar e agir com sinceridade e prazer;
VI. Interesse sinceramente pelos outros. Com certeza eles têm algo a
lhe acrescentar ou solicitar;
VII. Tenha generosidade ao elogiar e cautela ao criticar;
VIII. Considere o sentimento dos outros. Quem sente é que sabe o quanto
esse sentimento tem valor. Existem três lados numa controvérsia: o
seu, o do outro e o de quem está certo;
IX. Preocupe-se com a opinião dos outros. Ouça, aprenda e saiba
elogiar;
X. Procure apresentar um excelente serviço. O vale em nossas vidas é
o que fazemos para os outros.
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IV-FASES DO ACONSELHAMENTO

1. Causando impacto nas pessoas

Hendricks (1999) em seu livro aprenda a mentorear no capítulo ser uma


bênção causa impacto diz:

• Se quisermos causar um impacto duradouro, precisamos enfrentar


nossa cultura da maneira que é, e não da maneira que gostaríamos
que fosse;
• Se desejarmos causar um impacto duradouro em outros, nosso
objetivo deve ser mantermo-nos fiéis sem a preocupação de
sucesso;
• Se desejarmos deixar nossa marca, precisamos cultivar paciência,
não pressa;
• Se quisermos deixar nossa marca não podemos esquecer nunca de
que Deus não desiste de seu povo.

2. As necessidades do indivíduo

Enriquez (2001), ao falar sobre o papel do sujeito humano na dinâmica social


acredita que todo indivíduo nasce em uma sociedade que o instaurou, em parte
voluntariamente, em parte inconscientemente, uma cultura, ou seja, só existe e
pode funcionar no interior de um social dado, cultura particular que desenvolve
e lhe dita sua conduta.

Quintaneiro (1995), em sua introdução ao pensamento de


Marx, define as classes como uma decorrência de
determinadas relações sociais de produção; “constituem-se,
pois, ao nível da estrutura de uma sociedade”.
(QUINTANEIRO, 1995, p.8 e 9)

Percebe-se que o espaço social não se constitui apenas na


visão Marxista, ou seja, de produção. Para Bourdieu deve-se
fazer uso da contribuição estruturalista e aplicar ao mundo
social “um modo de pensamento relacional, que identifica o real
não a substâncias, mas as relações.” (BOURDIEU, 1999,
p.152).
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Muitas vezes enxergamos apenas o óbvio e não paramos para pensar no


espaço das relações invisíveis, ou seja, pensar que uma coisa existe em
relação à outra. Uma pessoa que recebe um título em uma sociedade está em
posição confortável e não tenderá a lutar contra esse lugar.

Enfim, a classe dominadora existe enquanto há uma classe que seja dominada.
Quem sente que está sendo dominado e se incomoda com isso é quem deve
dizer dessa dominação. Mas como fazê-lo? Se o sujeito desde que se entende
por sujeito se viu assim e muitas vezes já se acostumou a ponto de não saber
se isto lhe incomoda mais. Como ir contra a cultura que o instaura e o limita?

3. Valor da individualidade e do convívio em comunidade

Nesse sentido, BOURDIEU (1996) nos esclarece acerca do habitus;

Habitus se trata de algo que está inserido socialmente no sujeito a


começar pela cultura familiar e em seguida pela cultura de classe
social. Habitus só se realizam efetivamente em relação com uma
estrutura determinada de posições socialmente marcadas. A força da
origem social é particularmente grande quando se trata de uma
posição em estado nascente capaz de impor suas normas próprias
aos seus ocupantes e em particular de sua autonomia. Dessa forma
o efeito de campo tende a criar condições favoráveis à aproximação
dos ocupantes de posições idênticas ou vizinhas no espaço objetivo,
mas não basta para determinar a reunião em corpo, condição do
aparecimento do efeito de corpo. (BOURDIEU, 1996, P.196).

4. Sinais de um Trabalho Inútil

Hans (1997), em seu livro: dez erros que um líder não pode cometer no
capítulo valorizando a rotina de trabalho em detrimento do pessoal aponta
alguns sinais de um trabalho inútil:

• “As pessoas me aborrecem – elas são interrupções.”

• “Prefiro ficar só – para terminar meu trabalho.”

• O ministério seria excelente – não fossem as pessoas!”

• Fora de contato com as redes e as tendências no local de trabalho.


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• Tende a atropelar as pessoas – insensível.

• Ouve pouco – quando ouve.

• Impaciente – tende a dizer: ”Pare com isso”.

• Sozinho, fechado e solitário.

• Auto-estima baseada nas realizações.

5. Ética profissional

Segundo Friesen (2000) por ser um ser social o ser humano se sente seguro
com a preservação de sua auto-imagem, ou seja, tem a necessidade de que as
pessoas o vêem com agrado, respeito, afeto e bem querer.

O forte impulso de proteger esta auto-imagem está no ser. E este só procura o


conselheiro, com suas dificuldades e mazelas, quando sabe que é
incondicionalmente aceito. Portanto, o conselheiro deve estar consciente da
importância do sigilo às informações colhendo-as e dispensando-lhes
tratamento confidencial.

O conselheiro não deve denegrir a imagem de ninguém, principalmente de um


colega de trabalho; Não deve falar de casos de outras pessoas ao
aconselhando; Não deve tocar o aconselhando desnecessariamente,
especialmente do sexo oposto e deve marcar horário e local fixos para o
aconselhamento;

6. Procure reduzir seu nível de stress

• Procure abordar todos os aspectos da vida sob uma abordagem bem


realista;
• Aprenda a conhecer e a expressar seus sentimentos;
• Não fique remoendo os problemas, faça algo a respeito;
• Não tente resolver tudo de uma só vez, dê um passo depois do outro
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V-ACONSELHANDO A FAMÍLIA

1. Conceito de família

A Família poderia ser concebida como: Estrutura particularista de relações


entre sexos e gerações organizada pelo princípio do parentesco (consangüíneo
e de aliança), implicando em direitos e deveres recíprocos e vínculos de poder
e trabalho e também de dependência afetiva, econômica e social entre seus
membros. (Bilac, 2003).

Segundo Friesen (2000) toda família tem seus valores, suas prioridades, suas
regras, seu jeitinho de ser e de funcionar.

2. Ambiente favorável

O conselheiro deve proporcionar:

• A expressão e liberação de fortes sentimentos que se criam em torno de


uma situação conflituosa;
• A elaboração do fato de que o ajuste no casamento demanda tempo;
• Aos cônjuges o autoconhecimento, para uma interação matrimonial
saudável e eficaz;
• A importância em se conhecer o cônjuge;
• A compreensão e definições dos papéis de cada cônjuge no casamento;
• A rendição a Cristo.
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VI-ACONSELHANDO O MENTALMENTE ENFERMO

1. Conhecendo o mentalmente enfermo

• Aceite a doença da pessoa como uma condição natural para ela;


• Não discuta com a pessoa gravemente perturbada;
• Encoraje o paciente a expressar-se = liberar idéias fixas, falando a
respeito;
• Não espere que a pessoa mentalmente enferma reaja de maneira
normal;
• Tranqüilize o paciente;
• Demonstre interesse genuíno pelas pessoas;
• Encoraje o paciente em seu tratamento, tanto medicamentoso quanto
de terapia;
• Seja sensível quanto às demandas que colocar sobre a pessoa
mentalmente enferma, ou seja, somente estabeleça tarefas possíveis
de serem executadas;
• Use material devocional de fácil acesso e fácil entendimento;
• Não encurte a sua visita, não tenha pressa.
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VII- FASES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Para que o conselheiro saiba o que abordar deve conhecer acerca da fase de
vida em que se encontra o aconselhando.

Existem vários estágios de desenvolvimento, os quais seguem:

Estágios do desenvolvimento cognitivo segundo Jean Piaget:

Sensório-motor 0 a 2 anos Inteligência prática: permanência do objeto e


Recém nascido aquisição do esquema meios-fins. Aplicação deste
e lactente esquema à solução de problemas práticos.
Operacional 2 a 12 anos Transição dos esquemas práticos às representações.
Concreto Primeira Infância Manejo freqüente dos símbolos. Uso freqüente de
e Infância crenças subjetivas: animismo, realismo e artificialismo.

Subperíodo pré- 2 a 7 anos Dificuldades para resolver tarefas lógicas e


operatório Primeira Infância matemáticas.
Subperíodo das 7 a 12 anos Maior objetivação das crenças. Progressivo domínio
operações Infância das tarefas operacionais concretas (seriação,
concretas classificação, etc..
Operacional 12-15 anos e Capacidade para formular e comprovar hipóteses e
formal vida adulta isolar variáveis. Formato representacional e não só
Adolescência e real ou concreto.
Vida Adulta Considera todas as possibilidades de relação entre
efeitos e causas.
Utiliza uma quantificação relativamente complexa
(proporção, probabilidade etc.).

Segundo Friesen (2000) o desenvolvimento humano sucede em vários níveis


de inter-relação:

• Dependência: em geral até os 13 anos.


• Contradependência: dos 13 aos 26 anos.
• Independência: dos 26 aos 39 anos (em média)
• Interdependência: a partir dos 39 anos.

Laura Winckler descreve as Fases do Desenvolvimento Humano


Consideremos cinco idades, de diferentes durações, da seguinte forma:
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• A infância, de zero a doze anos, se divide em três períodos: a da


amamentação e do engatinhar (de zero a três anos), a de criança (de
três a seis anos) e a de menino (a) (de seis a doze anos);
• A adolescência, de doze a vinte e um anos, incluindo, entre dezoito e
vinte e um anos, a transição para o mundo de jovem adulto;
• O jovem adulto, de vinte e um a quarenta anos, com três períodos: o
ingresso no mundo adulto (de vinte e dois a vinte e oito), a transição dos
trinta (vinte e oito a trinta e dois anos) e jovem adulto (de trinta e três a
quarenta e dois anos);
• O adulto, de quarenta a sessenta e cinco anos;
• O adulto envelhecendo, de sessenta e cinco em diante.

Ao longo de toda a vida integramos sempre novos dados. A infância e a


adolescência privilegiam o processo de aquisição; o jovem adulto procura
concretizar suas aquisições; o adulto maduro assume responsabilidades que
engrandecem; e, no adulto que está envelhecendo, aparece mais claramente a
preocupação com a finalidade de suas ações.

O psicólogo Levinson elaborou sua teoria sobre a edificação das estruturas da


vida como finalidade do desenvolvimento na idade adulta. Ela compreende em
aspecto externo, ligado à participação no sistema sócio-cultural, e um aspecto
interno, função dos sonhos, dos valores e da vida afetiva.

Enquanto elabora sua estrutura de vida, o indivíduo atravessa períodos


estáveis - no decurso dos quais faz escolhas e em função das quais vive - que
duram em geral de seis a oito anos. Conhece igualmente períodos de transição
que invadem os precedentes e duram de quatro a cinco anos. Estas fases de
transição lhe permitem se localizar e explorar as novas possibilidades que lhe
são oferecidas antes de aceder ao estádio seguinte.

A teoria do desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson (1971), prediz que o


crescimento psicológico ocorre através de estádios e fases, não ocorre ao
acaso e depende da interação da pessoa com o meio que a rodeia. Cada
22

estádio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e
uma vertente negativa. As duas vertentes são necessárias, mas é essencial
que se sobreponha à positiva. A forma como cada crise é ultrapassada ao
longo de todos os estádios irá influenciar a capacidade para se resolverem
conflitos inerentes à vida. Esta teoria concebe o desenvolvimento em 8
estádios, um dos quais se situa no período da adolescência:

1. Estágios de desenvolvimento

O primeiro estágio – confiança/desconfiança – ocorre aproximadamente


durante o primeiro ano de vida. A criança adquire ou não uma segurança e
confiança em relação a si próprio e em relação ao mundo que a rodeia, através
da relação que tem com a mãe. Se a mãe não responde às suas necessidades,
a criança pode desenvolver medos, receios, sentimentos de desconfiança que
poderão vir a refletir-se nas relações futuras. Se a relação é de segurança e as
suas necessidades são satisfeitas, a criança vai ter melhor capacidade de
adaptação às situações futuras, às pessoas e aos papéis socialmente
requeridos.

O segundo estágio – autonomia/dúvida e vergonha – é caracterizado por


uma contradição entre a vontade própria (os impulsos) e as normas e regras
sociais que a criança tem que começar a integrar. É altura de explorar o mundo
e o seu corpo e o meio deve estimular a criança a fazer as coisas de forma
autônoma, não sendo alvo de extrema rigidez, que deixará a criança com
sentimentos de vergonha. De fato, afirmar uma vontade é um passo importante
na construção de uma identidade.

O terceiro estágio – iniciativa/culpa – é o prolongamento da fase anterior,


mas de forma mais amadurecida: a criança já deve ter capacidade de distinguir
entre o que pode fazer e o que não pode fazer. Este estádio marca a
possibilidade de tomar iniciativas sem que se adquira o sentimento de culpa: a
criança experimenta diferentes papéis nas brincadeiras em grupo, imita os
adultos, têm consciência de ser “outro” que não “os outros”, de individualidade.
23

Deve-se estimular a criança no sentido de que pode ser aquilo que imagina ser,
sem sentir culpa.

O quarto estágio – indústria/inferioridade – decorre na idade escolar antes


da adolescência. A criança percebe-se como pessoa trabalhadora, capaz de
produzir, sente-se competente. Neste estádio, a resolução positiva dos
anteriores tem especial relevância: sem confiança, autonomia e iniciativa, a
criança não poderá afirmar-se nem sentir-se capaz. O sentimento de
inferioridade pode levar a bloqueios cognitivos e a atitudes regressivas: a
criança deverá conseguir sentir-se integrada na escola, uma vez que este é um
momento de novos relacionamentos interpessoais importantes.

O quinto estágio – identidade/confusão de identidade – marca o período da


adolescência. É neste estádio que se adquire uma identidade psicossocial: o
adolescente precisa entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua
singularidade. Há uma recapitulação e redefinição dos elementos de identidade
já adquiridos – esta é a chamada crise da adolescência. Fatores que
contribuem para a confusão da identidade são: perda de laços familiares e falta
de apoio no crescimento; expectativas parentais e sociais divergentes do grupo
de pares; dificuldades em lidar com a mudança; falta de laços sociais exteriores
à família (que permitem o reconhecimento de outras perspectivas) e o
insucesso no processo de separação emocional entre a criança e as figuras de
ligação.

O sexto estágio – intimidade/isolamento – ocorre entre os vinte e os 30


anos, aproximadamente. A tarefa essencial deste estádio é o estabelecimento
de relações íntimas do jovem adulto com outras pessoas. A vertente negativa é
o isolamento, pela parte dos que não conseguem estabelecer compromissos
nem troca de afetos com intimidade.
24

O sétimo estágio – generatividade/estagnação – é caracterizado pela


necessidade em orientar a geração seguinte, em investir na sociedade em que
se está inserido. É uma fase de afirmação pessoal no mundo do trabalho e da
família. A vertente negativa leva o indivíduo à estagnação nos compromissos
sociais, à falta de relações exteriores, à centralização em si próprio.

Por fim, o oitavo estágio – integridade/desespero – ocorre a partir dos


sessenta anos e é favorável uma integração e compreensão do passado vivido.
Quando se renega a vida, se sente fracassado pela falta de poderes físicos,
sociais e cognitivos, este estádio é mal ultrapassado.
25

VIII-O ADVENTO DA PSICOLOGIA

1. Psicologia

A psicologia é a ciência que estuda a mente, ou seja, em seus processos


internos (ou psíquicos), como sentimentos, pensamentos, razão, inconsciente.
Ou nos processos externos como comportamento do ser humano e do animal.
(BATISTA, 2008).

Segundo dicionário Michaelis (2002), psicologia é uma ciência que trata da


mente e de fenômeno e atividades mentais;

Ciência do comportamento animal e humano em suas relações com o meio


físico e social;
Conjunto de estados e processos mentais de uma pessoa ou grupo de pessoa
s, especialmente como determinante de ação e comportamento.

É uma ciência considerada das áreas sociais ou humanas. Portanto estudada


em vários métodos quantitativos (positivos) quanto qualitativos. (BATISTA,
2008).

Cabe à psicologia estudar questões ligadas à personalidade, à aprendizagem,


à memória, à inteligência, ao funcionamento do sistema nervoso e também à
comunicação interpessoal, ao desenvolvimento, ao comportamento sexual, à
agressividade, ao comportamento em grupo, aos processos psicoterapêuticos,
ao sono, ao sonho, ao prazer e à dor, alem de todos os outros processos
psíquicos e comportamentais não citados. (BATISTA, 2008).

2. Aspecto emocional e afetivo do ser humano

Já no século V a. C., Platão. Aristóteles e outros sábios gregos se viam a


estudar os mesmos problemas que hoje ocupam os psicólogos: a memória, a
26

aprendizagem, a motivação, a percepção, a atividade onírica e o


comportamento anormal. (SCHULTZ, 1981).

O primeiro indício de um campo distinto de pesquisa conhecido como


psicologia manifestou-se no último quarto do século XIX, quando o método
científico foi adotado como um recurso para tentar resolver os problemas da
psicologia. No decorrer desse período, manifestaram-se várias indicações
formais de que essa disciplina começava a florescer. Em dezembro de 1879,
em Leipzig, Alemanha, Wilhelm Wundt implantou o primeiro laboratório de
psicologia do mundo. Em 1881, fundou a revista Philosophische Studien
(Estudos Filosóficos), considerada a primeira revista de psicologia dedicada
primordialmente a relatos experimentais. (SCHULTZ, 1981).

A psicologia se expandiu não apenas em termos de seus clínicos,


pesquisadores, acadêmicos e de sua literatura publicada, mas também em
termos de seu impacto na vida cotidiana. Seja qual for à idade, ocupação e
interesse sempre há a influência de alguma maneira, pelo trabalho de
psicólogos. (SCHULTZ, 1981).

Todavia, esses acontecimentos só foram possíveis devido ao Zeitgeist (o


espírito ou clima intelectual de uma época).
27

IX-MOTIVAÇÃO

1. Origem

É necessário que o conselheiro conheça o que motiva o aconselhando, para


que possa perceber o que move este que está diante dele.

Motivação tem origem na palavra motivo, com o sentido de causa que está
psicologicamente ligada às ações do homem e dos animais em geral.

As ações humanas sempre estão relacionadas aos motivos e às forças que


levam à ação e são denominadas impulso ou instinto.

Existem duas espécies básicas de forças responsáveis pelas ações: as


fisiológicas e as emotivas. A primeira está relacionada com sentimentos como
a fome, o sono, a doença, a fadiga, etc. Enquanto que, as emotivas estão
ligadas ao desejo de agradar e ser aceito pelas pessoas que convivemos.

2. Teorias

São inúmeras as teorias que tentam explicar a motivação. Entre elas,


destacam-se:

• A teoria do Condicionamento que tenta explicar quaisquer


motivos destacando um reforço externo que vai satisfazer
uma necessidade fisiológica;
• A Teoria cognitiva que valoriza a motivação intrínseca
incluindo fatores como objetivos, intenções e expectativas;
• A Teoria Humanista que estabelece uma hierarquia de
necessidades e motivos, entre eles, motivos fisiológicos, de
segurança, necessidade de participação e conhecimento além
de necessidades estéticas e, por último, a...
28

• Teoria Psicanalista que responsabiliza as experiências


infantis como fonte principal dos comportamentos posteriores.

Na Teoria Humanista, também existe uma longa lista que enumera as


causas que levam à ação, todavia, para simplificação, pode-se
considerar a pequena lista apresentada pelo sociólogo William I.
Thomas, pelo fato dela ser muito conhecida e abrangente. Segundo
ele, um adulto normal apresenta quatro desejos fundamentais: desejo
de segurança, de correspondência, de aprovação social e desejo de
novas experiências.

3. Desejo e necessidade

O desejo de segurança é o motivo que nos leva a atender nossas


necessidades físicas, cuidar da saúde, trabalhar e adquirir bens.

O desejo de correspondência leva o ser humano à busca de contatos sociais e


sexuais. Todo adulto considerado normal, necessita da cumplicidade e de
relacionamento com pessoas cujos comportamentos e sentimentos tenham
afinidade com os seus.

Há também, a necessidade de se praticar atos e atitudes que sejam aprovados


pelo grupo social de convivência, o que caracteriza o desejo de prestígio ou
aprovação social.

Quanto ao desejo de novas experiências, é ele que leva o ser humano a


procurar a quebra da rotina e o faz variar com novas experiências visando à
fuga da monotonia.

Deve-se considerar uma hierarquia que classifica os motivos como primários,


instintivos e que podem ser inferiores e superiores. Essa hierarquia refere-se à
ordem de aparecimento dos motivos no desenvolvimento do indivíduo. Os
29

motivos fisiológicos aparecem como prioridade obstruindo os outros desejos


até que eles sejam satisfeitos, isto é, os desejos superiores aparecem em
primeiro lugar.

Um exemplo é a necessidade de estar descansado, sem sono e sem fome para


depois procurar um relacionamento social na busca de convívio em grupo.

4. Desafio da psicologia

Um dos maiores desafios da psicologia é o problema da medida da intensidade


da motivação humana. Essa questão tem desafiado os psicólogos há muito
tempo e, provavelmente, nenhum outro problema é mais fascinante e está em
maior carência de uma solução sábia. Tal solução traria inúmeros recursos
práticos nos mais variados campos da atividade humana e, sobretudo na
escola, pois é de suma importância e consideração e o aferimento dessa
medida.

Infelizmente, as ciências humanas não são numéricas como as ciências exatas


e, sabe-se que, quanto mais numérica é uma ciência, maior é a eficiência das
suas aplicações práticas na vida cotidiana.

Motivar significa predispor-se com um comportamento desejado para


determinado fim. Os motivos ativam o organismo na tentativa de satisfazer
suas necessidades e dirigem o comportamento para um objetivo que suprirá
uma ou mais necessidades.

5. Tipos de motivação

Segundo Novak, existem três tipos principais de motivação no processo de


aprendizagem e estes, não são mutuamente exclusivas. Um dos tipos é
chamado motivação por engrandecimento do ego. Ele acontece quando o
estudante reconhece que, de um jeito ou de outro, está se saindo bem, isto é,
está tendo progresso e demonstrando competência.
30

Provavelmente esse tipo de motivação é o mais eficiente para a aprendizagem,


pois é o modo através do qual o indivíduo engrandece sua imagem.

Quando o aprendiz se mostra motivado apenas para evitar conseqüências


desagradáveis, seja por punição ou por experiências que, de algum modo,
desagradam o seu ego, diz-se que a motivação é chamada de aversiva, que é
o segundo tipo principal de motivação considerada por Novak.
Experimentalmente, verifica-se que esse tipo de motivação não é eficiente
como a motivação por engrandecimento do ego, que é uma motivação natural
e espontânea enquanto que, a motivação aversiva acontece sob algum tipo de
pressão psicológica.

O terceiro tipo, citada por Novak é chamada de motivação por impulso


cognitivo. Ele é uma conseqüência da motivação por engrandecimento do ego.
A necessidade de passar de um ano a outro, se livrar da disciplina para se
graduar ou, de alguma forma, progredir ou evitar o fracasso, podem levar à
aprendizagem apoiada nesse tipo de motivação considerada como impulso
cognitivo.

Para o ensino e a aprendizagem, recomenda-se a preferência pela motivação


por engrandecimento do ego, de modo que, as atividades propostas procurem
enfatizar a necessidade do crescimento pessoal do estudante como um dos
recursos prioritários para seu sucesso como cidadão crítico e integrado no
meio em que atua.
31

X-MULHER

1. Conceito

“... não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma adjutora que esteja
como diante dele.” (Genesis 2: 18)

Segundo o dicionário Michaelis (2002), adjunto vem do adjetivo contíguo, junto,


perto, próximo, unido. 1. Ajudante, auxiliar. 2. Associado. E mulher: feminino de
homem. 2. Esposa. 3. Pessoa adulta do sexo feminino.

2. A mulher e o preconceito de gênero

A violência de gênero, mas especialmente, a violência doméstica atinge de


forma indiscriminada mulheres de diferentes classes sociais. Mas,
considerando as relações de gênero como uma construção cultural no interior
das desigualdades da vida em sociedade...

... não é difícil perceber as razões pelas quais sua incidência é maior em
camadas sociais mais desfavorecidas, seja da capital ou da região
metropolitana.

Embora haja poucos estudos sobre essa temática, já é sabido que a violência
de gênero caracteriza-se tanto pela dominação e opressão simbólica, como
pelo confronto direto. Ela é resultante de um longo processo histórico de
construção dos papéis dos homens e das mulheres. Deles se espera e se
autoriza a virilidade e a autoridade – freqüentemente associada ao uso da força
– “próprias do provedor da casa”. Delas, a passividade no cumprimento de
suas “obrigações sexuais” e a dedicação às atividades domésticas.

Se atribuirmos à violência de gênero à diferenciação de papéis sociais e


relações desiguais na sociedade, torna-se importante o destaque, também nos
dias atuais, para a influência do fator econômico.
32

O fato é que a causa das mulheres, a necessidade de se garantir a


possibilidade do exercício de seus direitos – a vida, a sociabilidade, a
dignidade, a integridade física e psicológica, a atividade produtiva, as escolhas
– tornou-se objeto da Lei 11.340/2006, a “Lei Maria da Penha”. Comentários de
autoria da Dra. Ana Paula Sciammarella sobre os avanços trazidos por esta lei
podem ser lidos na edição 23 deste jornal (disponível na página).
33

XI-ADOLESCÊNCIA

1. Crise na adolescência

O conselheiro deve conhecer a cerca da fase de desenvolvimento que muitas


vezes deixa o aconselhando em crise. Como por exemplo, a adolescência,
para que ocorra, é necessária as seguintes condições: certo nível de
desenvolvimento intelectual, a ocorrência da puberdade, certo crescimento
físico e pressões culturais que levem o adolescente à efetiva ressíntese da sua
identidade. Para além das mudanças físicas já referidas acima, o adolescente
adquire também a capacidade de operações formais e raciocínio abstrato.

O pensamento formal constitui a capacidade de reflectir acerca do seu próprio


pensamento e do pensamento dos outros.

O raciocínio abstrato permite colocar hipóteses, conceber teorias e opera com


proposições.

2. Período de moratória

É fundamental que ocorra o chamado período de moratória, em que o jovem tem


possibilidades de explorar hipóteses e escolher caminhos. De fato é nesta
altura que vários agentes de socialização exercem pressão para o assumir
responsabilidades e para a tomada de decisões, principalmente do foro escolar
e profissional. Erikson considera que a moratória institucionalizada – rituais
sociais para a entrada na idade adulta, como a escola da área profissional no
ensino escolar – facilitam a preparação para a aquisição de papéis na
sociedade. Por outro lado, um contexto social não estruturado pode levar a
uma crise de identidade. Como não é possível separar a crise de identidade
individual com o contexto histórico da sociedade em que se insere o indivíduo,
34

momentos de crise como guerras, epidemias e revoluções influenciam o


adolescente em larga escala, quanto aos seus valores morais, por exemplo.

3. Identidade

outros têm um importante papel na definição da identidade: o jovem vê refletido


no seu grupo de amigos parte da sua identidade e preocupa-se muito com a
opinião dos mesmos. Por vezes, procura amigos com “maneiras de estar”
divergentes daquela em que cresceu, de forma a poder pôr em causa os
valores dos pais, testando possibilidades para construir a sua própria
“maneira”. O grupo permite um jogo de identificações e a partilha de segredos
e experiências essenciais para o desenvolvimento da personalidade.

Segundo Erikson, o adolescente que adquire a sua identidade é aquele que se


torna fiel a uma coerente interação com a sociedade, a uma ideologia ou
profissão, que é também uma tarefa deste estádio. A fidelidade permite ao
indivíduo a devoção a uma causa – compromisso com certos valores.

Também permite confiar em si próprio e nas outras pessoas, como tal, a


interação social é fundamental. A formação de identidade envolve a criação de
um sentido de unicidade: a unidade da personalidade é sentida por si e
reconhecida pelos outros, como tendo uma certa consistência ao longo do
tempo. E afirma que:

Para se tornar um adulto maduro, cada indivíduo deve desenvolver


em grau suficiente todos os mencionados atributos do ego... A
integridade do ego implica uma integração emocional que permite a
participação consentida assim como a aceitação da
responsabilidade da liderança. (ERIKSON, 1971, p.248)

Sendo assim, uma pessoa tenderá a sofrer influência dos outros processos da
infância em seu processo de construção de identidade.
35

XII-SEXUALIDADE

1. Identidade sexual

Identidade sexual

Macho · Fêmea · Androginia· Identidade de gênero · Transtorno de identidade de


Gênero gênero · Genderqueer · Papel social de gênero · Intersexualidade · Pangênero ·
terceiro gênero · Transgénero · Travesti · Transexual

Bissexualidade · Heterossexualidade · Homossexualidade · Pansexualidade ·


Orientação sexual
Assexual · Gay · Lésbica

Terceiro gênero Fa'afafine · Fakaleiti · Hijra · Kathoey · Khanith · Mukhannathun · Muxe · dois-espírito

Poliamor · Swinging · Queer · Pomossexualidade · Ex-gay · Ex-ex-gay · GLBT ·


Outros
Orgulho gay · Direitos dos homossexuais pelo mundo
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Bissexualidade"

2. Heterossexualidade

Segundo o dicionário Michaelis (2002), heterossexual: 1. Relativo ou pertinente


aos dois sexos. 2. Que se refere à afinidade, atração ou comportamento sexual
entre indivíduos de sexo diferente. Antônimo de homossexual.

3. Homossexualidade

Homossexualidade é o atributo, a característica ou a qualidade de um ser —


humano ou não — que é homossexual (grego homos = igual + latim sexus=
sexo) e, lato sensu, define-se por atração física, emocional e estética entre
seres do mesmo sexo.

O termo homossexual foi criado em 1869 pelo escritor e jornalista austro-


húngaro Karl-Maria Kertbeny. Deriva do gr. homos, que significa "semelhante",
"igual".

Historiadores afirmam que, embora o termo seja recente, a homossexualidade


existe desde os primórdios da humanidade tendo havido diversas formas de
abordar a questão.
36

4. Homossexualidade humana

Homossexualidade é uma das variantes da sexualidade humana.

Em 1870, um texto de Westphal intitulado "As Sensações Sexuais Contrárias"


definiu a homossexualidade em termos psiquiátricos como um desvio sexual,
uma inversão do masculino e do feminino. A partir de então, no ramo da
Sexologia, a homossexualidade foi descrita como uma das formas
emblemáticas da degeneração. Nessa época já existiam leis que proibiam as
relações entre pessoas do mesmo sexo.

No século XX, essa tendência alterou-se e a homossexualidade deixou de ser


considerada doença e a maioria dos países não mais preconceituam as
relações entre pessoas do mesmo sexo, havendo alguns que as tratam em
absoluta igualdade com as relações entre pessoas de sexo oposto.

A partir dos movimentos de liberação homossexual e sobretudo após o


incidente de Stonewall em Nova York, em junho de 1969, emergiu o termo gay
como meio para apagar o teor psiquiátrico por trás da palavra homossexual.

Assim, gay é um termo politizado e menos estigmatizante. Chamava-se


originariamente gay ao homossexual masculino passivo. Hoje em dia, o termo
gay aplica-se indistintamente quer ao homem que se relaciona sexualmente
com outro homem, quer à mulher que se relaciona sexualmente com outra
mulher. Diferentemente do sexo entre animais, onde as relações sexuais são
determinadas fundamentalmente pelo instinto, a sexualidade humana
manifesta-se através de padrões culturais historicamente determinados. A
sexualidade humana, através da história, manifestou-se por culturas e períodos
de abertura sexual, intercalados por períodos de recato e privações sexuais.

É cada vez menos comum o uso de nomenclaturas diferenciadas e específicas


quanto ao gênero originário, anátomo-fisiológico, bem como quanto ao papel
desempenhado, ativo ou passivo, ou ambos, ainda quanto à freqüência,
37

também quanto à mudança ou intercorrência de variações. A mulher gay ativa


chamava-se sapatão (Brasil) por alusão à sua feição comportamental sexual
tipicamente masculina: ela seria o homem para outra mulher, esta, por seu
turno, classicamente era chamada de lésbica. Esse tipo de discurso nega quer
às mulheres lésbicas quer aos homens homossexuais a sua própria
sexualidade a partir do princípio que apenas é possível o sexo entre alguém
que faz o "papel" de homem e o papel de mulher. Na prática a maior parte das
pessoas homossexuais não se revêem nesta idéia de papel sexual e preferem
assumir que fazem sexo com pessoas do mesmo sexo.

Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela


Associação Americana de Psiquiatria e, na mesma época, foi retirada do
Código Internacional de Doenças (sigla CID). A Assembléia-geral da
Organização Mundial de Saúde (sigla OMS), no dia 17 de Maio de 1990, retirou
a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, declarando que "a
homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que
os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham
tratamento e cura da homossexualidade. Apesar disso e mesmo contra
recomendações do Conselho Federal de Psicologia do Brasil, existem técnicos
da saúde que vêem a homossexualidade como uma doença, perturbação ou
desvio do desejo sexual - algo que pode necessitar de tratamento ou
reabilitação, aos quais está associado o movimento ex-gay, dedicado à
"conversão" de indivíduos homossexuais para a heterossexualidade.

Estudos sobre sexualidade enfatizam que a história da homossexualidade e da


criação de seus termos permite compreender o fato de que a "normalidade"
depende da estigmatização e subalternização de identidades para se
consolidar socialmente. Dessa forma, a invenção dos termos
homossexualidade, homossexualismo, homossexual e outros termos usados
de forma pejorativa freqüentemente contribuem para estabelecer a naturalidade
do comportamento heterossexual em detrimento ao homossexual. Atualmente,
estudos mostram que a orientação sexual não é uma escolha livre, pois nossa
sociedade com freqüência forma a todos para se relacionarem
obrigatoriamente com pessoas do sexo oposto. Assim, essa obrigação
38

aprendida na família, na escola, nos mídia, na religião e no contato social em


geral se constitui em um sistema denominado heteronormatividade.

Na caracterização do sexo de uma pessoa, quatro elementos devem ser


levados em consideração: seu sexo biológico, sua identidade sexual, seu papel
social e sua preferência afetiva.

Existem estudos que apontam para fatores genéticos que determinariam a


manifestação da homossexualidade. Estudos com gêmeos univitelinos (que
possuem o DNA idêntico) demonstram que há uma correspondência de mais
de 50% entre a sexualidade dos dois irmãos/irmãs. A correspondência
permanece alta mesmo quando os gêmeos não são univitelinos, onde os
estudos apontam para pouco mais de 20% de correspondência na
homossexualidade.

Outros estudos, sobretudo aqueles influenciados pela óptica da psicanálise,


crêem que a conjunção do meio com a figura dominadora do genitor do sexo
oposto são decisivos na expressão da homossexualidade. Para o criador da
psicanálise Sigmund Freud, a homossexualidade pode ser um desenvolvimento
normal em algumas pessoas. Freud defendia a teoria de que há uma
bissexualidade natural em todas as pessoas e que elas desenvolvem a
heterossexualidade por instinto biológico. Nesse sentido Freud defendeu a
hipótese de que a homossexualidade adulta pode estar correlacionada com
limitações dos instintos sexuais na infância, inibindo o desenvolvimento da
heterossexualidade. Nesse sentido, um dos motivos para a homossexualidade
resultaria do Complexo de Édipo na infância.

Já para os que defendem a influência do meio, perante a complexidade do


comportamento humano seria incorreto limitá-lo meramente à fatores
genéticos. O único ponto em que a maioria dos atuais investigadores
concordam é que o comportamento homossexual é uma característica que se
manifesta na espécie humana. É preciso que se admita que as origens da
homossexualidade são complexas e, muitos casos, desafiam explicações
simples. Em relação às explicações psicológicas, sublinha-se o fato de que
39

embora alguns fatos mostaram-se verdadeiros para alguns indivíduos, elas não
serão para todos.

O neurobiólogo Roger Gorski, da Universidade da Califórnia, EUA, fez


experiências em laboratórios com ratos cujas fêmeas prenhas receberam
testosterona - o hormônio sexual masculino - ainda em fase intra-uterina.
Observou que, desde a primeira fase da vida, os filhotes do sexo feminino
mostravam comportamentos masculinos, como gostos, brincadeiras mais
agressivas além de sentirem-se mais atraídas por fêmeas. O estudo, contudo,
não foi conclusivo pois os filhotes do sexo masculino cujas fêmeas progenitoras
receberam hormônios feminimos (estradiol e progesterona) não desenvolveram
significativas características femininas.

No ramo da ciência da genética vários estudos têm sido realizados no sentido


de investigar origens hereditárias para a homossexualidade. Um dos estudos
mais conhecidos nesse sentido tenta estabelecer uma correlação entre a
homossexualidade masculina com o gene Xq28. É efetivamente uma tese que
coloca a homossexualidade não como uma opção ou estilo de vida, mas sim
como resultado de uma variação genética. Considere-se, contudo, que existem
estudos que contradizem a influência do gene Xq28 para explicar a
homossexualidade. A tese de que a homossexualidade pode ter origens
genéticas tem sido usada bem como recusada tanto por aqueles que
consideram a homossexualidade como algo negativo como os que consideram
algo a defender.

Glenn Wilson e Qazi Rahman, investigadores na área da psicologia e autores


de Born Gay: The Psychobiology of Sex Orientation, concluem que há
diferenças biológicas entre pessoas homossexuais e heterossexuais, e que
estas não podem ser ignoradas. Esses investigadores estão dispostos a aceitar
a teoria do "gene gay", e complementam-na com a idéia de que alguns fetos
masculinos com pré-disposição genética para a homossexualidade são
incapazes de absorver corretamente a testosterona no seu processo de
desenvolvimento, de modo que os circuitos neurocerebrais responsáveis pela
atração pelo sexo oposto ou nunca se desenvolvem ou o fazem
40

deficientemente. Quanto à homossexualidade feminina, Rahman avança com a


hipótese de haver uma proteína no útero responsável pela proteção dos fetos
femininos contra a exposição excessiva a hormônios masculinos que não
atuam suficientemente cedo no processo de desenvolvimento.

Contrários a essas argumentações apenas biogenéticas sobre as causas da


homossexualidade, estão psicólogos e psicanalistas. Sem negar que
incontáveis características humanas (tendências de desenvolver algumas
doenças, por exemplo) têm base genética, consideram, todavia, a percepção
da homossexualidade como um traço apenas geneticamente determinado
incorreta, buscando antes explicações associadas ao meio e à educação dos
indivíduos homossexuais.

Dr. Daryl Bem, psicólogo da Universidade de Cornell, nos EUA, desenvolve


pesquisas sobre a importância da formação intra-familiar na pessoa
homossexual. Uma nova geração de psicólogos americanos, tais como Judith
Harris, tende a valorizar as relações interpessoais (com vizinhos, colegas da
escola, colegas da rua...) como os fatores mais fortes no desenvolvimento e
estruturação da personalidade, e dentro desta, na definição da orientação
sexual de cada um.

Segundo o psicanalista Kenneth Lewes há atualmente quatro teorias inspiradas


em Sigmund Freud que podem explicar a homossexualidade: a primeira seria
resultado de um complexo de édipo resultante da percepção pela criança de
que sua mãe é "castrada" sexualmente. Essa percepção induziria a criança a
uma grande tensão, fazendo-o a ver sua mãe como uma mulher com pênis; a
segunda teoria seria explicada através de uma grande identidade do filho com
sua mãe. Nessa teoria, segundo instintos narcisistas, o menino tentaria se
espelhar no modelo da sua mãe, assumindo os mesmos gostos, levando-o
amar outros homens como sua mãe o ama; a terceira teoria seria explicada por
uma inversão do complexo de édipo, onde o menino busca o amor de seu pai,
representado pela sua identidade masculina, buscando e assumindo uma
identidade feminina, com forte erotismo anal; a quarta teoria seria explicada por
41

uma reação de formação: ciúmes e inveja sádicos em relação ao pai e irmãos


poderiam levar a uma pessoa a manter relações homossexuais.

Há diversas críticas às tentativas de explicações científicas para a


homossexualidade, principalmente porque a maioria delas começa a ser
desenvolvida ainda no século XIX, quando se procuravam comprovações
científicas para afirmar que determinadas características humanas tornariam
um indivíduo superior a outro. E buscar interpretar a complexidade do
comportamento humano com base no estudo do comportamento animal —
dizem os críticos — não tem sentido. Veja-se darwinismo social.

Quanto às pesquisas neuro-bioquímicas, os seus críticos indicam que "existe o


risco de alguns pesquisadores estarem, na verdade, procurando uma forma de
curar tal comportamento, seja mapear o que gera o desejo homossexual, para
depois convertê-lo em desejo heterossexual". Nesse contexto um dos
exemplos marcantes foi a teoria desenvolvida por Magnus Hirschfeld a respeito
da homossexualidade. Hirschfeld defendia a teoria de que a homossexualidade
era nata e não modificável, explicada por diferenças de natureza hormonal. A
teoria de Hirschfeld, que foi um grande ativista, buscando veementemente a
derrubada do Parágrafo 175 na Alemanha pré segunda guerra foi polemizada
por Freud em seu livro Three Essays on the Theory of Sexuality (1905). A
Terapia de Choques Elétricos foi aplicada por Ugo Cerletti a partir de 1938 para
várias finalidades, incluido a tentativa de cura para a homossexualidade,
utilizando o pressuposto de que se a homossexualidade tem explicações
neuro-bioquímicas, então ela é curável. Na mesma linha, a lobotomia,
desenvolvida por Antônio Egas Moniz em 1935 também foi aplicada como
tratamento da homossexualidade até 1979 na Alemanha. No domínio das
explicações psicológicas, há a constatação de que não é porque alguns fatos
se mostraram verdadeiros para alguns indivíduos, eles o serão para todos os
casos, ou seja, com tais construções de pensamento ocorre a prática de
generalização indevida e precipitada, bem como adoção de procedimentos
errados, inadequados e contraproducentes. Ainda dentro das explicações
psicológicas, estudos iniciados por Harry Benjamin mostraram ao longo de
décadas de estudos que o tratamento psiquiátrico é ineficaz para tratar
42

("curar") a transexualidade, por exemplo, servindo apenas como terapia de


apoio.

Uma crítica em relação a essas tentativas de explicação é o seu foco em


explicar a homossexualidade e pouco se preocuparem em explicar a orientação
sexual em geral, e a heterossexualidade em particular.

5. Relações entre gêneros na homossexualidade humana

Há quem interprete a homossexualidade como altamente diferente da


heterossexualidade na natureza das relações que engloba. Muitos consideram
tal interpretação como errônea por ocorrer diz-se, alienação do conceito das
relações entre dois seres do mesmo sexo por falta de familiaridade com essas
relações.

Essa imagem é reforçada por representações recorrentes da sexualidade do


indivíduo homossexual como secundária ou ausente; grande parte das
instâncias de representação de homens homossexuais nos meios de
comunicação, por exemplo, sugerem uma visão à parte, efemeninados e
caricatos, e tanto se enfatizam esses traços, que o suposto fator definidor da
identidade homossexual (atração por membros do mesmo sexo), é pouco
reconhecido. Isso se acentua mais com as lésbicas, na mídia também mais
raras.

No entanto, é comum que no caso das relações homossexuais as


características habitualmente atribuídas a cada gênero prevaleçam: o homem
homossexual tem, essencialmente, pela genética do seu sexo e pela educação
num meio em que se encaixa no papel de homem segundo parâmetros
heteronormativos, a mesma probabilidade de encaixar na visão comum da
identidade masculina tradicional como o heterossexual, como o tem a mulher
de encaixar na da feminina, tanto em termos não só de modo de estar,
personalidade e interesses, como na sua forma de desenvolver relações. Estas
relações têm, precisamente, uma dinâmica similar à das heterossexuais, em
termos emocionais, sexuais e pessoais, exceto pelas diferenciações inerentes
43

ao sexo dos indivíduos envolvidos, como o sugere o relato de indivíduos nelas


envolvidos e estudos observatórios recentes.

Ainda assim, há pelo menos uma distinção recorrente a notar, entre, mais uma
vez, o hétero e o homossexual, de natureza funcional e expressa a nível
doméstico, no contexto de uma relação homossexual. Tal como no caso de
heterossexuais em ocorrências socialmente transitórias — pessoa solteira
vivendo sozinha, serviço militar, estudante fora de casa etc. — as pessoas
homossexuais vêem-se na necessidade de adaptar a atribuição de tarefas no
dia-a-dia. Efetivamente, a falta de vivência na habitação com indivíduos do
gênero oposto implica que várias tarefas socialmente vistas como exclusivas
do outro terão agora de ser realizadas pela própria pessoa. No contexto de
uma relação do mesmo sexo, essa experiência e transformação da atribuição
de funções levam a um meio em que fatores como a personalidade e
conveniência possam sobrepor-se, até certo ponto, a convenções de gênero,
outra vez, pela pura ausência do gênero oposto.

6. Visão social da homossexualidade humana

Pela reduzida presença de indivíduos abertamente homossexuais tanto na


mídia como em campos de ficção proeminentes (como a televisão) a visão
popular da homossexualidade resume-se, freqüêntemente, a determinados
parâmetros, resultantes essencialmente:

• Da observação limitada de alguns casos em particular - especialmente a


de indivíduos mais efeminados, por estes serem os que, publicamente,
mais facilmente se assume serem gays .

Da interpretação da natureza, para muitos algo alienígena, de alguém que, ao


contrário das regras de género aceites, forma relações sexuais e amorosas
com pessoas do mesmo sexo — o estabelecimento de determinadas noções
quanto a esta condição de acordo com o que se conhece das relações entre
homens e mulheres.
44

Há, portanto, uma consciência reduzida porém crescente do que envolve ser
homossexual e viver como tal. Grupos GLBT ("Gays, Lésbicas, Bissexuais e
Transgêneros") observam que isso leva à formação de estereotipos
prejudiciais, e como tal, uma das suas preocupações é a luta contra essas
mesmas representações e correspondentes visões da homossexualidade. Os
integrantes dos GLAAD ("Gay and Lesbian Alliance Against Defamation"), em
particular, entregam há muito os GLAAD Media Awards, que pretendem
aplaudir representações de indíviduos gays ou bissexuais que consideram
admiráveis pela boa imagem que passam dos homossexuais.

Embora decorra, ainda, tanto entre teoristas como entre cientistas a discussão
quanto a qual a verdadeira origem da homossexualidade, todos os pontos em
cima são descreditados. Uma das teorias mais abrangentes e,
coincidentemente ou não, mais aceitas, é precisamente que a orientação
sexual é determinada tanto por fatores biológicos e psicológicos decorrentes ao
longo do desenvolvimento da identidade do indivíduo.

Assim, a atribuição da homossexualidade a trauma pode ser objetável (muitos


homossexuais não têm sequer na sua experiência um desses "traumas de
infância"), como o é a noção de que a sua aceitação e consciencialização, a
presença de figuras educadoras homossexuais, ou a mera interação com
indivíduos gays gera-o. Embora haja pessoas que o apóiam (principalmente
populares, não-científicas), a observação das experiências sexuais e a relação
entre gêneros leva maioria da comunidade científica a considerar tais teorias
desprovidas de validade, sendo a crença de que a orientação sexual é
escolhida ou alterável descreditada. Também consideram a associação da
homossexualidade a uma qualquer incapacidade de relacionamento como sexo
oposto, visto que de forma geral, o indivíduo homossexual tem potencialmente
um comportamento e experiência sociais iguais às do heterossexual.
45

7. Bissexualidade

A bissexualidade consiste na atração fisica, emocional e espiritual por


pessoas tanto do mesmo sexo como do oposto, com níveis variantes de
interesse por cada um, e à identidade correspondente a esta orientação sexual.

Bissexual é portanto o termo aplicado a seres e, mais comumente, pessoas,


que se sentem atraídos por ambos os sexos, servindo portanto de um quase
meio-termo entre o hetero e o homossexual. O número de indivíduos que
apresentam comportamentos e interesses de teor bissexual é maior do que se
suporia à primeira impressão, devendo-se a pouca discussão desta situação
essencialmente a uma tendência geral para a polarização da análise da
sexualidade, tanto em nível acadêmico como, muito mais marcadamente, em
nível popular, entre a heterossexualidade e a homossexualidade.

8. Visão social da bissexualidade

Embora, teoricamente, por se apresentar também nela uma faceta de


heterossexualidade, no sentido da atração por indivíduos do sexo oposto,
segundo o olhar de homossexuais exclusivos, a bissexualidade pode parecer
mais facilmente aceita. A verdade é que em geral, há incidências específicas
de preconceito contra pessoas bissexuais partindo tanto de certos
homossexuais quanto de heterossexuais. Por exemplo, a percepção das
pessoas bissexuais como a ponte que trouxe a AIDS dos homossexuais para
os heterossexuais, pode ser considerada com uma demonstração de bifobia.

Outra face da bifobia se dá quando certos homossexuais consideram a


bissexualidade pouco mais que um meio-termo confortável entre a
heterossexualidade estabelecida e a identidade homossexual pela qual lutam
46

por estabelecer. Além disso pessoas bissexuais podem ser alvo tanto de
homofobia (por parte de alguns heterossexuais) quanto de heterofobia (por
parte de alguns homossexuais). Nos dias de hoje têm sido comum também o
uso do termo queer na denominação tanto de pessoas bissexuais como
homossexuais numa tentativa de fugir do dualismo e subcategorização
humana, englobando num único termo as pessoas que possuem uma
orientação sexual divergente da heterossexualidade dominante.

No entanto, em termos históricos mais amplos, o comportamento bissexual foi


aceito e até encorajado em determinadas sociedades antigas, especificamente,
entre outras, na Grécia, e em determinadas nações do Médio Oriente.

Em termos de estudos quanto à Bissexualidade, sublinha-se em notoriedade e


importância para estudos posteriores do assunto os Relatórios Kinsey,
publicados em 1948 e 1953, quanto a um estudo cujas conclusões afirmavam,
entre outras constatações, que grande parte da população Americana tinha
algumas tendências bissexuais de intensidade variante. Embora algo
criticados, em particular quanto à selecção dos indivíduos a quem se aplicaram
os inquéritos correspondentes ao estudo, estes vieram a tornar-se uma
referência notória no que toca a estudos da sexualidade, e apresentou pela
primeira vez a noção de que a Bissexualidade é, possivelmente, muito mais
comum do que se pensa, mantendo-se por isso também importante em
campos teóricos - em particular pela noção apresentada da sexualidade
humana ser composta não por duas alternativas únicas, a heterossexualidade
e a homossexualidade, mas por um espectro de interesse e comportamento
sexual, que tem as duas como extremos.

9. Preconceito sexual

O preconceito sexual é discriminar alguém pela sua orientação sexual.


Homossexuais e bissexuais são agredidos por não serem "iguais" às regras da
sociedade. Nesse caso, muitas pessoas escondem sua orientação sexual, por
47

medo de insultos e preconceitos de outra ordem. A sexualidade de uma pessoa


não é uma "opção sexual", a maneira como ela irá desenvolver o seu desejo
sexual depende de vários fatores (ainda discutidos pela psicologia). A maioria
das sociedades contemporâneas são heterossexistas e imaginam que a
heterossexualidade é a única manifestação do desejo sexual, interpretando as
demais manifestações como dignas de sanção moral.
48

XIII-ABUSO

1. Abuso infantil

O abuso infantil, ou maltrato infantil, é o abuso físico e/ou psicológico de uma


criança, por parte de seus pais - sejam biológicos ou adotivos - por outro adulto
que possui a guarda da criança, ou mesmo por outro adultos próximos à
criança (parentes e professores, por exemplo).

O abuso infantil envolve a negligência por parte do adulto em cuidar do bem-


estar da criança, como alimentação ou abrigo. Também comumente envolve
agressões psicológicas como xingamentos ou palavras que causam danos
psicológicos à criança, e/ou agressões de caráter físico como espancamento,
queimaduras ou abuso sexual (que também causam danos psicológicos).

Os motivos do abuso infantil são vários, entre elas, destacam-se o alcoolismo e


o uso de drogas ilegais. Muitas vezes, os pais/cuidadores da criança são
pobres e/ou possuem pouca educação, e podem tentar impedir o acesso da
criança aos serviços médicos necessários, evitando a descoberta do abuso por
parte dos médicos.

Super-proteção dos pais em relação à criança é também uma forma abuso


infantil, embora à primeira vista não o pareça, por possuir origens totalmente
diferentes dos outros tipos de abuso.

2. Abuso sexual de menor

O abuso sexual de menores corresponde a qualquer ato sexual abusivo


praticado contra uma criança ou adolescente. É uma forma de abuso infantil.
Embora geralmente o abusador seja uma pessoa adulta, pode acontecer
também de um adolescente abusar sexualmente de uma criança.
49

Num sentido estrito, o termo "abuso sexual" corresponde ao ato sexual obtido
por meio de violência, coação irresistível, chantagem, ou como resultado de
alguma condição debilitante ou que prejudique razoavelmente a consciência e
o discernimento, tal como o estado de sono, de excessiva sonolência ou
torpeza, ou o uso bebidas alcoólicas e/ou de outras drogas, anestesia, hipnose,
etc. No caso de sexo com crianças pré-púberes ou com adolescentes abaixo
da idade de consentimento (a qual varia conforme a legislação de cada país), o
abuso sexual é legalmente presumido, independentemente se houve ou não
violência real.

Num sentido mais amplo, embora de menor exatidão, o termo "abuso sexual de
menores" pode designar, também, qualquer forma de exploração sexual de
crianças e adolescentes, incluindo o incentivo à prostituição, a escravidão
sexual, a migração forçada para fins sexuais, o turismo sexual, o rufianismo e a
pornografia infantil.

3. Formas de abuso

Existem duas formas de abuso sexual que os adultos podem praticar contra as
crianças e os adolescentes: com contato físico ou sem contato físico. Nos dois
casos, o adulto abusa do jovem para conseguir algum tipo de prazer ou
satisfação interior.

3.1. Com contato físico

• Violência sexual: forçar relações sexuais, usando violência física ou


fazendo ameaças verbais.
• Exploração sexual de menores: pedir ou obrigar a criança ou o jovem a
participar de atos sexuais em troca de dinheiro ou outra forma de
pagamento.

3.2. Sem contato físico

• Assédio: falar sobre sexo de forma exageradamente vulgar.


50

• Exibicionismo (ato obsceno): mostrar as partes sexuais com intenção


erótica.
• Constrangimento: ficar de longe observando jovens ou crianças sem
roupa ou ficar olhando de maneira intimidatória.
• Pornografia infantil: tirar fotos ou filmar poses pornográficas ou de sexo
explícito.

4. Consequências

As consequências de uma violência sexual praticada contra crianças e


adolescentes podem ser físicas, psicológicas ou de comportamento, todas
igualmente prejudiciais para quem sofre a violência.

4.1. Físicas

• Dor constante na vagina ou no ânus.


• Corrimento vaginal.
• Inflamações e hemorragias.
• Gravidez precoce, colocando em risco a vida da criança ou adolescente.
• Doenças sexualmente transmissíveis, como AIDS, hepatite B, etc.

4.2. Psicológicas

• Sentimento de culpa
• Sentimento de isolamento de ser diferente.
• Sentimento de estar "marcado" para o resto da vida.
• Depressão.
• Falta de amor próprio (baixa auto-estima).
• Medo indefinido permanente.
• Tentativa de suicídio.
• Medo de sair na rua.

4.3. Comportamento

• Dificuldade de expressar o sentimento de raiva.


• Queda no rendimento escolar
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• Atitudes autodestrutivas: uso excessivo de álcool, de drogas, etc.


• Aumento do grau de provocação erótica.
• Tendência ao abuso das relações sexuais.
• Regressão da linguagem e do comportamento.
• Agressividade contra a família.

Quanto maior é o tempo em que o jovem fica calado, maiores são as


consequências negativas.
52

XIV-VIOLÊNCIA

1. Violência sexual

Na maioria das vezes que acontece um abuso sexual, o abusador é uma


pessoa que a criança confia, conhece e muitas vezes ama. Existe uma
tendência das pessoas acharem que o pedófilo se enquadra na descrição de
alguém que sofre de distúrbios psicológicos, um psicótico portanto, ou então
num homossexual em geral; nada mais enganoso. Pesquisas demostram que o
perfil da grande maioria dos abusadores são homens heterossexuais e as
vítimas são meninas. Segundo AZEVEDO e GUERRA (2000) os agressores
sexuais de crianças e adolescentes que sofrem distúrbios psiquiátricos são
uma minoria. São pessoas aparentemente "normais", com laços estreitos com
a vítima. Pode ser uma pessoa da família, como pai, padrasto, avô, primos,
tios, alguém conhecido e supostamente de confiança, como vizinhos, amigos
dos pais, ou mesmo alguém com estatuto de confiança social (educadores,
padres, pastores, etc.)

O adulto que comete violência sexual sempre pede para a criança guardar
segredo sobre o que aconteceu usando diversas formas de pressão. É muito
comum a criança se sentir culpada e até merecedora da violência em si, haja
visto ela não ter estrutura mental suficiente para explicar tal ato cometido
contra si. Aliado ao sentimento de culpa, a pressão psicológica exercida pelo
perpetrador, o próprio laço de afeição entre estes (não se esqueçam que
normalmente o abuso ocorre entre familiares).

2. Violência doméstica

2.1. Violência doméstica física

Segundo Azevedo & Guerra (2007) Corresponde ao emprego de força física no


processo disciplinador de uma criança ou adolescente por parte de seus pais
(ou quem exercer tal papel no âmbito familiar como, por exemplo, pais
adotivos, padrastos, madrastas). A literatura é muito controvertida em termos
de quais atos podem ser considerados violentos: desde a simples palmada no
53

bumbum até agressões com armas brancas e de fogo, com instrumentos (pau,
barra de ferro, taco de bilhar, tamancos etc.) e imposição de queimaduras,
socos, pontapés. Cada pesquisador tem incluído, em seu estudo, os métodos
que considera violentos no processo educacional pais-filhos, embora haja
ponderações científicas mais recentes no sentido de que a violência deve se
relacionar a qualquer ato disciplinar que atinja o corpo de uma criança ou de
um adolescente. Prova desta tendência é o surgimento de legislações que
proibiram o emprego de punição corporal, em todas as suas modalidades, na
relação pais-filhos (Exemplo: as legislações da Suécia - 1979; Finlândia - 1983;
Noruega - 1987; Áustria - 1989).

2.2. Violência doméstica psicológica

Segundo Azevedo & Guerra (2007), a violência psicológica também designada


como "tortura psicológica", ocorre quando o adulto constantemente deprecia a
criança, bloqueia seus esforços de auto-aceitação, causando-lhe grande
sofrimento mental. Ameaças de abandono também podem tornar uma criança
medrosa e ansiosa, representando formas de sofrimento psicológico.

Pode se manifestar como:

• Isolamento emocional
• Dificuldades de fala ou linguagem
• Ausência de contato olho-a-olho
• Medo (real ou aparente) da vítima em relação ao agressor(es)

2.3. Violência Doméstica Fatal

Segundo Azevedo & Guerra (2007, a violência fatal é aquela praticada em


família contra filhos ou filhas, crianças e/ou adolescentes, cuja conseqüência
acaba sendo a morte destes. Tem sido denominada, impropriamente, de
infanticídio (quando a vítima é um bebê em suas primeiras horas de vida),
assassinato Infantil (homicídio de crianças no lar ou fora dele), ou filicídio
(morte dos filhos praticada por pais consangüíneos ou por afinidade). A
impropriedade desses termos decorre do fato de serem parciais, não cobrindo
todo o espectro de vítimas e/ou agressores; genéricos, misturando, por vezes,
54

sob uma mesma rubrica, mortes ocorridas dentro e fora da família, ou ainda,
conceituações médicas com outras de caráter legal; camuflar dores da
violência subjacente às ações ou omissões fatais praticadas em família.

3. Violência sexual

Segundo Azevedo & Guerra (2007), configura-se a violência sexual doméstica


como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual, entre um ou
mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular
sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-la para obter uma
estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa. Ressalte-se que em
ocorrências desse tipo, a criança é sempre vítima e não poderá ser
transformada em ré. A intenção do processo de Violência Sexual é sempre o
prazer (direto ou indireto) do adulto, sendo que o mecanismo que possibilita a
participação da criança é a coerção exercida pelo adulto, coerção esta que tem
raízes no padrão adultocêntrico de relações adulto-criança vigente em nossa
sociedade... a Violência Sexual Doméstica é uma forma de erosão da infância.
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XV-NEGLIGÊNCIA

1. Negligência

Segundo Azevedo & Guerra (2007, a negligência consiste uma omissão em


termos de prover as necessidades físicas e emocionais e uma criança ou
adolescente). Configura-se quando os pais (ou responsáveis) falham em
termos de alimentar, de vestir adequadamente seus filhos, de prover educação
e supervisão adequadas, e quando tal falha não é o resultado das condições
de vida além do seu controle. A Negligência pode se apresentar como
moderada ou severa. Nas residências em que os pais negligenciam
severamente os filhos, observa-se, de modo geral, que os alimentos nunca são
providenciados, não há rotinas na habitação e para as crianças, não há roupas
limpas, o ambiente físico é muito sujo com lixo espalhado por todos os lados,
as crianças são muitas vezes deixadas sós por diversos dias. A literatura
registra entre esses pais, um consumo elevado de drogas, de álcool, uma
presença significativa de desordens severas de personalidade. Recentemente,
o termo vem sendo ampliado para incorporar a chamada supervisão perigosa.
[Cf. Azevedo, Maria Amélia e Guerra, Viviane N. de Azevedo (1998:184 e ss).
Infância e violência fatal em família. São Paulo: Iglu]
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VI-SUPER PROTEÇÃO

1. Super-proteção

No caso de super-proteção familiar, os pais/cuidadores da criança muitas


vezes são bem educados; o abuso neste caso é a super-proteção dado à
criança, que a isola da sociedade. Motivos são vários, como alta criminalidade
na região ou outro medo irracional dos pais. Este risco aumenta se a criança e
a família vivem em lugares isolados como uma fazenda, por exemplo.

• Isolamento emocional
• Isolamento da criança em relação à sociedade
• Timidez acima do normal; poucos ou nenhum amigos
• Ótimo desempenho escolar nos primeiros anos escolares, com posterior
queda na adolescência
• Ausência de contato olho-a-olho
• Agressividade dirigida principalmente (ou apenas) contra
pais/cuidadores.
• Dificuldades de fala e linguagem
• Medo de novas relações
• Falta de interesse sexual
• Incapacidade de cuidar-se de si mesmo(a)
• Raramente vai a lugares públicos, com a possível exceção da escola
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XVII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS

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