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Asatru Introdução

A menos de mil anos atrás os antigos sábios da Islândia tomaram uma decisão.
Sob pressão política da Europa cristianizada e enfrentando a necessidade de comércio, a
assembléia nacional declarou a Islândia como sendo um oficialmente um país cristão.
Dentro de poucos séculos os últimos remanescentes do Paganismo Nórdico, acabaram
morrendo. Contudo, a Islândia era um país tolerante e os mitos, estórias, e lendas da era
pagã felizmente não foram queimados, e com isso, acenderam o fogo das crenças pagãs
em gerações posteriores. Em 1972, depois de uma longa campanha feita pelo poeta e
Godhi (Sacerdote) Sveinbjorn Beinteinsson, a Islândia novamente reconheceu o
paganismo nórdico como uma religião legitima e legalizada.

Hoje o paganismo nórdico, conhecido como Asatru ("lealdade aos Deuses" do


nórdico antigo), é praticado em vários países além dos países escandinavos. O Asatru
também faz parte do grupo das religiões neo-pagãs como o Druidismo, a Wicca, a
Bruxaria Tradicional, a Stregheria, etc. Contudo, o Asatru permanece desconhecido pela
maioria, até mesmo dentro da comunidade neo-pagã.

O mais importante para se lembrar é que o Asatru é uma religião. Não é um


sistema de magia ou uma "Prática New Age". A palavra Asatru derivou-se do "As"
(Aesir, família principal dos Deuses de Asgard) e "tru" (tru - true - verdade - confiança -
lealdade). Ser Asatru é estar ligado com lealdade e confiança aos antigos arquétipos do
norte da Europa, contudo, você pode pegar coisas de outras religiões e outros arquétipos
e continuar sendo Asatru, basta você ter o panteão nórdico como o seu preferido e sua
base nos princípios nórdicos. Outra coisa característica do Asatru é a condenação da
conversão, como nas religiões missionárias tipo o cristianismo. Para o Asatru não existe
"verdade absoluta"; cada pessoa é dona de si mesma e é capaz de escolher sua
"verdade", nenhuma religião é errada. Asatru valoriza seus ancestrais, valoriza o estudo
do passado e das origens e valoriza a guerra com sabedoria. O Asatru não é universal e
não considera seu caminho como sendo o correto para todos, o Asatru acredita que há
espaço para todos os arquétipos no mundo e que todos eles tem o seu valor. Baseado
nisso, clamar que Zeus é o mesmo Deus que Odin é loucura.

Os Valores do Asatru

Uma das funções básicas de qualquer religião é estabelecer um conjunto de


valores nas quais os seus seguidores poderão basear suas ações. No Asatru não existe
moralismo, nem caos desenfreado. Invés, de pré estabelecermos o que é certo ou
errado, o que é bom ou mal, nós lidamos com conceitos filosóficos básicos que são
baseados nas lendas dos Deuses.

No Asatru o julgamento moral está dentro do coração e da mente humana.


Nós como seres humanos com o presente da inteligência, somos sensatos e
responsáveis o bastante para determinar o que é melhor para nós e agir
adequadamente.

As nove virtudes da nobreza da alma, dentro do Asatru são: Coragem,


Verdade, Honra, Fidelidade, Disciplina, Hospitalidade, Força de Vontade,
Autoconfiança e Perseverança.

Os deuses de Asgard

Os Deuses nórdicos são divididos em três raças: os Aesir, os Vanir, e os Jotnar


(Gigantes). Os arquétipos dos Aesir estão mais ligados a sociedade, as facetas dos seres
humanos, etc. Os Vanir estão mais conectados com a Terra, representando a fertilidade
e as forças naturais benéficas aos seres humanos. Uma vez teve uma grande guerra entre
os Aesir e os Vanir, mas acabou sendo estabelecida e Frey, Freya e Njord vieram morar
com os Aesir para selar a paz. Os Jotnar são a terceira raça de Deuses e em costante
batalha contra os Aesir, mas não há nem nunca haverá paz entre eles. Os Jotnar
representam as forças naturais destrutivas e o caos, que estarão sempre em conflito com
os Aesir que representam a sociedade e a ordem. Assim como o fogo e o gelo se
misturaram para que o mundo pudesse ser formado, essa interação entre o caos e a
ordem é que mantém o mundo equilibrado.

Os Principais Deuses

Os Deuses mais importantes são Odin, Thor e Frey, que representavam as três
classes da antiga sociedade: os Reis, os Guerreiros, e os Fazendeiros.

ODIN - Odin é o Pai de Todos, relembrado hoje como o Deus da guerra e da


fúria dos vikings. Contudo, ele tem outros aspectos até mais importantes que esses. Nas
Eddas, ele é o líder dos Deuses, mas essa posição originalmente era de Tyr, pois Odin
tornou-se soberano durante a Era Viking, onde um Deus mais astuto era mais
importante que um Deus radicalmente justiceiro. Odin é o Deus da sabedoria e do poder
magicko, pois foi ele que resgatou as runas, o alfabeto que guarda os mistérios do
universo. Odin também é considerado Deus da morte, por que ele (juntamente com
Freya) recebia os guerreiros que chegavam em Valhalla.

THOR - Thor é provavelmente o Deus mais conhecido entre os Deuses


nórdicos. Ele é um Deus simples, o patrono dos guerreiros e do povo. Thor é conhecido
pelas suas grandes aventuras e por suas batalhas contra os gigantes. Ele possui uma
tremenda força e o martelo Mjolnir, que foi feito pelos Anões. Mjolnir é considerado o
maior tesouro dos Deuses por ser a proteção contra os gigantes. Thor é associado ao
trovão, e também é o Deus da chuva e das tempestades.

FREY - Frey é o Deus da paz e fertilidade. Ele é um Deus Vanir, mas vive com
os Aesir para assegurar o tratado de paz.. Era o Deus cultuado pelos camponeses e
fazendeiros, que lhe faziam oferendas para que a fertilidade da Terra fosse mantida
durante o ano. A palavra "frey" significa "Senhor", por isso não se tem certeza se era o
nome do Deus ou era um titulo. Ele também era conhecido como Ing ou Ingvi, por isso
alguns o chamam de Frey Ingvi.

FREYA - Freya é a Deusa mais importante e a mais conhecida. Ela é a irmã


gêmea de Frey. Freya é uma Deusa que tem duas facetas. Primeiramente, ela é a Deusa
do Amor e da Beleza, também é a Deusa da Guerra que recebe os heróis que morrem
dos campos de batalha (juntamente com Odin). Ela também é a Deusa das Feiticeiras e
da magia shamanica conhecida com Seidhr. Apesar de Freya ser a Deusa do amor e da
beleza, ela não é uma Deusa dependente e muito menos "delicada", como as Deusa do
amor de outros panteões.

FRIGG - Frigg é a misteriosa esposa de Odin. Ela é a Deusa do casamento, da


família e das crianças. Ela simboliza a manutenção da ordem, da harmonia e da paz,
dentro de casa. Dizia-se que Frigg sabe o futuro, mas nunca revela seus segredos, nem
mesmo ao seu esposo Odin.

LOKI - Ele é o Deus do Fogo, também conhecido por sua inteligência, suas
artimanhas, e suas brincadeiras que causam problemas à Asgard. Ele é aquele que causa
o problema e fica rindo de fora, e depois arruma a solução, é o tipo de cara que aprecia
uma boa travessura. Ele é aquele que adora falar o que todo mundo sabe que é verdade,
mas ninguém tem coragem de dizer bem alto e direto. Sua maior façanha e a mais
conhecida é ter conseguido matar Balder. Balder era o Deus mais bonito e amado entre
os Deuses e uma das suas virtudes era que nenhum material do mundo poderia feri-lo,
com a única exceção do visco que foi considerado tão fraco e pequeno para ser uma
ameaça. Assim, Loki pegou o Deus Cego Hod e colocou um dardo feito de visco na sua
mão e o guiou para lança-lo. O dardo pegou em Balder, causando assim sua morte. Com
a morte de Balder, Loki se uniu aos gigantes e as legiões do caos e declarou guerra aos
Deuses, assim começando o Ragnarok. Muitas vezes essa lenda é mal interpretada e
com isso Loki acaba sendo visto como o "demônio nórdico", isso é um conceito
errôneo. Ignorar Loki, seria ignorar o irmão de sangue de Odin, o companheiro de
aventuras de Thor, o provedor de muitos dos benefícios dos Deuses e aquele que destroi
o mundo para que ele seja reconstruído das cinzas. Isso é uma parte do ciclo, assim
como está na Edda: "Cattle die, and men die, and you too shall die..." (O gado morre, os
homens morrem, e você também deve morrer...)
TYR - Embora raramente seja lembrado nos dias de hoje entre os Deuses mais
populares, Tyr é extremamente importante. Ele é o Deus da guerra, da justiça e da
nobreza. O mito mais importante envolvendo Tyr mostra tanto bravura quanto honra.
Ele perdeu sua mão para que o Lobo Fenris pudesse ser capturado pelos Deuses.

BALDER - Infelizmente, escritores modernos, de uma linha de pensamento


cristã, tentam transformar Balder no "Cristo" nórdico. Balder é o Deus da luz, da beleza
e da bondade, mas seu nome significa "guerreiro". É um erro ver Balder como um
"Cristo" Nórdico. Balder morreu mais irá retornar após o Ragnarok.

HEIMDALL - É o guardião da ponte do arco-íris que leva a Asgard, morada


dos Deuses. Sua audição é tão boa que ele pode escutar a grama nascendo na Terra, ou a
lã crescendo no dorso da ovelha. A simbologia da ponte do arco-íris é vasta, ela pode
significar a conexão entre a matéria e o espírito, pode significar a ligação entre os
homens e os Deuses, etc... É Heimdall que vai dar o sinal para os Deuses que o
Ragnarok começou.

SKADI - É a Deusa do Inverno e da caça. Ela casou-se com Njord, Deus dos
Mares, porque acabou se confundindo no concurso de pés mais bonitos. Ela queria se
casar com Balder, por isso seu casamento não era tão feliz. Ela também é a Deusa da
Justiça, Vingança, e da Cólera Justa

Existem muitos outros Deuses dentro do panteão nórdico: Hel, Deusa da morte;
Sif , Deusa da Colheita; Bragi, o bardo e poeta dos Deuses; Idunna, Deusa da
Juventude; Vidar and Vali, Filhos de Odin; Magni and Modi, Filhos de Thor; Eostre,
Deusa da Primavera, Hoenir, o mensageiro dos Aesir; Sunna and Mani, o Sol e a Lua;
Ullr, o Deus da caça; and Nerthus, Deusa do Mar e dos Rios, etc.

Os Festivais do Asatru

Festas principais dentro do Assatru


(Equivalentes aos Sabbaths Wiccanianos)

20 até 31 de Dezembro - JUL - Celebração do ano novo nórdico; um festival de


12 noites. Este é o mais importante de todos os festivais. Na noite de 20 de Dezembro, o
Deus Frey Ingvi viaja através da Terra trazendo a paz, a confraternização, e o amor para
Midgard. Depois da influência cristã, o Deus Balder (Sincretizado com Jesus) é
renascido nesse festival como o novo ano Solar. O Deus Wotan (Odin); viaja pelo céu
com seu cavalo de oito patas, Sleipnir. Nos tempos antigos, as crianças germânicas e
nórdicas deixavam suas botas na janela cheias de açúcar para o cavalo Sleipnir. Em
retribuição, Odin deixava um presente como gentileza. Nos temos modernos, Sleipnir
foi transformado nas renas e o barbudo Odin acabou virando o simpático Papai Noel.
Até hoje existe uma estátua de Odin (ou Thor) na Noruega, que a Igreja acabou
transformando na estatua de "São Nicolau".

2 de Fevereiro - DISTING - É o festival onde o povo nórdico se preparava para


a para a chegada da primavera. Corresponde ao Imbolc wiccaniano. Disting é
caracterizado pela preparação da terra para a plantação, a contagem do gado e dos
lucros ou prejuizos do ano. Era dito que o nascimento de bezerros em Disting era um
sinal de que o ano iria ser de grande prosperidade.
21 de Março - OSTARA - Festa de Eostre, a Deusa da Primavera. É um festival
de alegria e fertilidade. É tempo de dar ovinhos coloridos de presente aos amigos, assim
como nossos ancestrais faziam, como um simbolo de boa sorte, fertilidade e
prosperidade. Essa tradição sobrevive até hoje no moderno feriado de Páscoa, só que os
ovos viraram de chocolate.

22 de Abril até 1 de Maio - WALPURGISNACHT - O festival de Walpurgis,


uma noite de festa e trevas. Nas nove noites de 22 até dia 30 de Abril, é relembrado o
auto-sacrifício de Odin pendurado na Árvore do Mundo Yggdrasil. Na nona noite (30
de Abril, Walpurgisnacht) que ele resgatou as Runas, e simbolicamente morreu por um
instante. Neste momento, toda a luz entre os 9 mundos foi extinguida, o caos reinou. No
ultimo toque na meia-noite, ele renasce e tudo volta ao normal.

21 de Junho - LITHA - Celebração do Solstício de Verão, quando a força solar


está no seu pico. Litha é um festival de poder e atividade. O Deus Balder morre nessa
época para renascer em Jul.

1 de Agosto - LAMMAS - Festival da Colheita.

22 de Setembro - MABON - Festival do final da Colheita.

31 de Outubro - WINTERNIGHTS - O começo do inverno nórdico. É uma


festa onde se relembra os mortos e os ancestrais. É uma data ótima para jogos
divinatórios.

"Full Moon Festivals"


(Equivalentes aos Esbaths Wiccanianos)

Lua Cheia de Janeiro - Festa em honra a Thor.


Lua Cheia de Fevereiro - Festa em honra a Freya.
Lua Cheia de Março - Festa em honra a Sif.
Lua Cheia de Abril - Festa em honra aos elfos, duendes, fadas e espíritos da natureza.
Lua Cheia de Maio - Festa em honra a Njord.
Lua Cheia de Junho - Festa em honra a Balder.
Lua Cheia de Julho - Festa em honra a Loki.
Lua Cheia de Agosto - Festa em honra a Frey.
Lua Cheia de Setembro - Festa em honra a Odin.
Lua Cheia de Outubro - Festa em honra a Tyr.
Lua Cheia de Novembro - Festa em honra aos Heróis mortos em batalha que estão em
Valhalla
Lua Cheia de Dezembro - Festa em honra a Skadi e Ull

Os Rituais do Asatru

Sacrifício

O Sacrifício é o ritual mais comum dentro do Asatru. Nos tempos antigos, se


consagrava um animal aos Deuses, o sacrificavam e com sua carne fazia-se um
banquete. Como hoje não somos mais camponeses, a oferenda é feita com frutas, bolos,
cervejas e vinhos.
Muita gente fica com um "pé atrás" quando se fala de um ritual desse tipo.
Rituais que são denominados "sacrificios", tem uma certa conotação violenta e
sensasionalista, porque tem sido interpretado de forma errônea. Quando se fala em
sacrifício vem em mente "comprar" certa entidade para que ela realize sua vontade, tipo
jogar um virgem dentro do vulcão para que o mesmo não entre em erupção. Outro
conceito errôneo de sacrifício é achar que se ganha algum tipo de energia com o ato de
causar o sofrimento do animal. Todos essas conceitos são errôneos, se você pratica
algum ritual desse tipo, você está precisando de um psiquiatra. Nossos ancestrais
matavam os animais por serem camponeses, e isso era comum na época, porque sua
carne era um ótimo sustento e seu couro dava ótima proteção contra o frio. Fazer isso
hoje não tem sentido, pois o mundo é outro e o ser humano evoluiu.

A concepção de relacionamento com os Deuses é de extrema importância para


que se compreenda a natureza do sacrifício. Nós não somos inferiores aos Deuses, e não
devemos adorá-los nesse sentido. Nós somos espiritualmente ligados com eles, porque
eles são facetas de nós mesmos e das forças naturais da Terra. Eles são o equilíbrio, o
ciclo, a vida, a morte, eles são tudo, e nós fazemos parte desse tudo. Por isso o sacrifício
não é apenas uma oferenda para conseguir um objetivo e sim uma comunhão com os
Deuses. Oferecer um presente é um ótimo símbolo de amizade e comunhão. Entre as
runas, Gebo é a que guarda os mistérios do sacrifício.

O sacrifício consiste em duas partes, a consagração e a oferenda. O sacerdote ou


a sacerdotisa invoca oralmente os Deuses a serem honrados, depois é traçado no ar as
runas dos Deuses invocados com a varinha ou o cajado. Depois disso a oferenda é
colocada no altar, então é traçado o símbolo do martelo (um T invertido). Com a
consagração completada, então é feita a oferenda oralmente aos Deuses. Depois de
simbolicamente a divindade ter bebido e comido a oferenda, o sacerdote faz o mesmo e
depois também todos os participantes do ritual. Antes de comer e beber da oferenda,
saúda-se os Deuses honrados com um Hail, exemplo: "Hail Odin!"

A oferenda não é só abençoada pela força dos Deuses, mas também "passou bela
lingua" das divindades. Esse tipo de ritual pode até parecer simples, mas é uma
poderosa experiência.

Libação

Uma das celebrações mais comuns dentro do Asatru e também dentro das outras
religiões pagãs. A libação é mais simples e social do que o sacrifício, mas a sua
importância não é menor.

A libação é muito simples. Os convidados ficam sentados, pegam a bebida


alcóolica (Vinho ou cerveja é mais recomendado), enchem seus copos, saúdam-se uns
aos outros, saúdam os Deuses, oferecem o primeiro gole aos Deuses deixando cair um
pouco da bebida no chão e começam a beber. O libação é um ritual onde se deve ficar
bêbado em honra aos Deuses, assim como nossos ancestrais e os heróis ficavam. É a
celebração da alegria e da confraternização, conta-se estórias, piadas, fala-se besteira,
nada disso é proibido, pelo contrário os Deuses adoram isso.
Cada rodada pode ser dedicada a alguma coisa, normalmente a libação Asatru
tradicional tem três rodadas, a primeira para os Deuses, a segunda para os heróis quem
estão em Valhalla e a terceira para os nossos Ancestrais que já não estão mais entre nós.

Juramento

É uma das mais importantes cerimonias no Asatru. É o ritual onde se confirma a


lealdade aos Deuses, contudo não é nenhuma cerimonia oculta ou iniciatória. É nada
mais, nada menos que declarar e afirmar sua lealdade aos Deuses nórdicos. É mais ou
menos como o exemplo abaixo:

Segure um objeto (pode ser qualquer coisa uma pedra, um pingente, mas o mais
recomendado é um anel) e parado na frente do Altar, diga: "Eu [nome], juro pelo
símbolo do martelo sempre honrar a bandeira de Asgard e seguir o caminho do norte,
agindo sempre com honra, coragem e responsabilidade, fiel aos Aesir e Vanir! Que esse
anel (ou outro objeto) seja o símbolo da minha aliança com os Deuses!"

Depois do ritual pode ser feita uma libação com nove rodadas dedicadas aos
nove valores do Asatru.

Esse ritual não deve ser realizado sem antes ter absoluta certeza do que você está
fazendo. Quando alguém faz um juramento, deve segui-lo por toda a eternidade. Quem
não cumpre seus juramentos, seja em qualquer aspecto da vida, no trabalho, na família,
nas amizades, não merece respeito, pois não passa de um covarde.

As Origens das Runas

Como informações históricas e arqueológicas, as runas se destacaram por um


período que se estende de 200 A.C., até o final da Idade Média (e até o presente) em
uma área da Islândia até a Romênia, do Báltico ao Mediterrâneo. Se levarmos em
consideração que as runas nunca foram utilizadas como escrita de caneta e tinta, mas
apenas como símbolos talhados ou gravados sobre madeira, osso metal e pedra, essa
vasta extensão geográfica é realmente notável e diz muito a respeito de sua atração e
durabilidade.

Há uma tendência a menosprezar as runas como sendo simplesmente a escrita da


Idade Média utilizada por aqueles povos setentrionais que não foram convertidos ao
cristianismo e, consequentemente, não aprenderam o monkalpha (alfabeto dos monges)
ou alfabeto latino. Por muitas razões, isso é um infortúnio. Estigmatizar simplesmente
as runas por serem um alfabeto pagão faz com que muitas de suas outras funções sejam
negadas.

Em diversos momentos dos últimos 150 anos, os eruditos têm postulado uma
variedade de origens para as runas. Uma das teorias advoga que elas sejam originárias
da migração para o norte da escrita cursiva grega. Outra, que sejam baseadas no alfabeto
latino, o que, pelo menos, tem mérito de destacar algumas similaridades superficiais nos
formatos das letras, especialmente quando consideramos que as formas angulares das
runas provêm do fato de serem talhadas e não escritas. Se fossem uma escrita de caneta
e tinta, as semelhanças poderiam aumentar dramaticamente. A teoria citada com maior
freqüência defende que as runas derivam de um alfabeto itálico do norte. Com certeza,
quando a evidência arqueológica é levada em conta, isso parece ter alguma veracidade.
Existem ainda outras idéias menos definidas que precisam ser exploradas. As runas
apresentam também uma forte semelhança com vários símbolos do hallristningar, os
símbolos do culto pré-histórico usados pelos povos setentrionais e registrados em
gravuras em rochas. E não importa qual seja a origem das runas, existem a debatida
questão sobre quem foi a primeira pessoa que realmente utilizou a escrita. Teria sido
desenhada por uma comissão ou teria sido criada como obra de um único indivíduo
inspirado? Provavelmente nunca saberemos e isso, por si só, aumenta o poder e o
mistério da escrita rúnica.

Os mistérios dos dez números


A Mônada

"O Número Um existe e é concebido independentemente dos outros números.


Tendo lhes vivificado através do curso dos dez números, ele os deixa para trás e
retorna à unidade" (Dos Erros e da Verdade). "Todos os números são derivados da
unidade como a sua emanação ou produto, enquanto que o princípio da unidade está
nela mesma e é de si própria derivada. Na unidade, tudo é verdadeiro. Tudo que é
eterno é a partir da unidade, perfeito, enquanto que tudo que é falso, está separado
da unidade. A unidade multiplicada por si mesmo nunca dá mais do que um pois ele
não pode proliferar a partir de si mesmo" (Os Números).

"Se a unidade pudesse se gerar e se equiparar ao seu próprio poder, ela se


destruiria, como a ação que se opera em cada raiz é finalizada por aquela operação.
Para que a unidade produzisse uma verdade central essencial, teria de haver uma
diferença entre a semente e o produto, a raiz e o poder. De acordo com a lei das
sementes e do produto, ao produzirem seus poderes eles tornam-se inúteis. portanto,
Deus não poderia reproduzir a Si mesmo sem padecer. Do princípio, Ele se tornaria
o meio e então, se aniquilaria em seus termos. Mas como o princípio, o meio e o final
não são Nele diferenciados, já que Ele é tudo isto de uma vez só, sem sucessão nas
Suas ações ou diferenças em Seus atributos, esta unidade nunca pode produzir a si
mesma e portanto, nunca foi gerada e nem extinta" (Os Números).

"Entre as coisas visíveis, o Sol é o símbolo da unidade da ação divina, mas é


uma unidade temporal e composta, que não tem os mesmos direitos que pertencem
ao seu protótipo" (Obras Póstumas). Da mesma forma, a sucessão contínua de
gerações físicas formam uma unidade temporal, que é um signo desfigurado da
simples, eterna e divina unidade. Estas imagens não devem ser negligenciadas, pois
elas refletem o seu modelo distante.
"Os extremos se tocam sem se parecerem; portanto, os seres puros vivem vidas
simples; aqueles que estão em expiação tem uma vida composta, ou vida mesclada à
morte; seres soberanamente criminosos e aqueles que a eles se assemelham, vivem e
viverão, simplesmente na morte, ou na unidade do mal" (Os Números).

Ao contemplarmos uma verdade importante, como o poder universal do


Criador, Sua majestuosidade, Seu amor, Sua profunda luz ou Seus outros atributos,
nós nos elevamos com todo nosso ser em direção do modelo supremo de todas as
coisas; todas as nossas faculdades são suspensas para que possamos ser preenchidos
com a Sua presença, com Quem na verdade nos tornamos um. Ele é a imagem viva
da unidade e o Número Um é a expressão desta unidade ou união indivisível, que
existindo intimamente entre todos os atributos da união de forças que Ele é, deveria
existir igualmente entre Ele e todas as suas criaturas e produtos.

"Mas depois de exaltarmos a nossa contemplação em direção a esta fonte


universal, se trouxermos nossos olhos de volta para nós mesmos e nos preenchermos
com a nossa própria contemplação, para que possamos nos ver como a fonte
daquelas luzes ou daquela satisfação interior que derivamos de nossa fonte superior,
estabelecemos assim dois centros de contemplação, dois princípios separados e
rivais, duas bases dissociadas - ou, resumindo, duas unidades, das quais uma é real
e a outra é aparente e ilusória" (Os Números).

A Díada

"O número dois tem princípio nele mesmo, mas não se origina de si mesmo" (Os
Números). É impossível se produzir dois de um e se algo se separa dele pela
violência, só pode ser ilegítimo e uma diminuição de si mesmo. Mas esta diminuição
é aquela do âmago do ser, pois de outra forma, este seria apenas um. A diminuição
feita no âmago é realizado no meio do ser, pois dividir qualquer coisa ao meio é
cortá-la em duas partes. Esta é a verdadeira origem do binário ilegítimo.

"Mas a diminuição em questão não torna a unidade menos completa, pois esta não
é suscetível a nenhuma alteração; a perda recai sobre o ser que procura atacar a
unidade. Portanto, o mal é estranho à unidade. Mas o centro, sem sair de seu valor,
é removido para corrigi-lo por que há algo de si mesmo no ser diminuído. Desta
forma, podemos entender não só a origem do mal, mas também que ele não é um
poder hipotético, já que todos nós o tornamos real em quase todos os momentos
de nossa existência" (Os Números).

A díade é portanto, o poder perverso que serve como receptáculo de todos os


flagelos da justiça divina, que são ligados às coisas materiais e perceptíveis para o
castigo de seu líder e de seus seguidores, que voluntariamente abandonaram o
âmago divino do seu correspondente espiritual. Sendo assim condenados ao exílio e
a atravessarem todo o horror de viver a separação da fonte da vida.

"As virtudes inatas das formas corpóreas foram projetadas para conter este poder
perverso e quando o homem permite que as virtudes que existem em seu corpo
sejam enfraquecidas por esta vontade vil e criminosa, os poderes perversos
assumem o controle e atuam na destruição daquele corpo" (Obras Póstumas).

A díade também é, de acordo com Saint-Martin, o verdadeiro número da água.

A Tríade

"O Número Três não deriva seu princípio de si próprio e nem mesmo tem um princípio"
(Os Números). As observações a respeito deste número são dispersas e obscuras,
incluindo referências vagas a uma lei temporal da trindade, da qual a lei temporal da
dualidade depende completamente. "Na ordem divina, 3 é a Santíssima Trindade, como
4 é o ato de sua explosão e o 7, o produto universal e a imensidão infinitas que
resultaram das maravilhas desta explosão" (Corresp. Teosófica, carta LXXVI).

"O número três nos é revelado só através dos 12 unificados, como o 4 é por nós
conhecido apenas pela sua explosão ou multiplicação por 7, que nos dá 16, e como 7,
que é a soma deste 16 (1+6 = 7), descreve a nossa supremacia temporal (3) e espiritual
(4), ou a imensidão de nosso destino, como humanos" (Corresp. Teosófica, carta
LXXVI). O número três atua na direção das formas nas esferas celeste e terrestre; isto é,
sendo ternário, em todos os corpos, o número dos princípios espirituais. "Todos os
nomes e símbolos que recaírem neste número pertencem às formas, ou devem ter algum
efeito sobre as formas" (Os Números). Acima do celeste, foi o pensamento da
Divindade que concebeu o projeto de produzir este mundo, e assim o fez de forma
ternária, porque esta era a lei das formas, inata ao pensamento divino.

"Agora, os pensamentos de Deus são seres. A ação harmoniosa e unanime na Divina


Trindade é representada pelos três padres quando eles conduzem juntos a Missa" (Os
Números).

O Três é, também, o número das essências ou elementos dos quais os corpos são
universalmente compostos. Por este número, a lei que dirige a formação dos elementos
é expressa e os elementos são resumidos a três, por Saint-Martin, baseado no fato de
que há apenas três dimensões, três divisões possíveis de qualquer coisa sensória, três
figuras geométricas originais, três faculdades inatas em qualquer ser, três mundos
temporais, três níveis na Maçonaria, e como esta lei da tríade demonstra a si mesmo
universalmente, de forma tão clara, é razoável supor que o três também está no número
dos elementos que são a base de qualquer corpo.

"Se o número três é imposto a tudo que é criado, é porque ele imperava em suas
origens" (Obras Póstumas). "Se tivessem havido quatro, ao invés de três elementos, eles
teriam sido indestrutíveis e o mundo eterno. Sendo três, eles são esvaziados da
existência permanente, porque eles não têm unidade, como fica claro para aqueles que
conhecem as verdadeiras leis dos números" (Dos Erros e da Verdade).

"A razão, qualquer que seja ela, parece conflitar com outra afirmação de que pode
haver três em um, numa Trindade Divina, mas não um em três, porque aquilo que é um
em três deve estar sujeito no fim, a morte" (Dos Erros e da Verdade). "O três não é só o
número da essência e da lei que dirige todos os elementos, mas também, as suas
incorporações" (Dos Erros e da Verdade). "Ele é, finalmente, um número mercurial
terrestre que representa a parte sólida dos corpos, em correspondência simbólica com
a alma (sêxtuplo) dos animais, do qual é o primeiro produto e o de todos os princípios
intermediários de todas as classes" (Obras Póstumas).

A Pentada

No misticismo numérico de Saint-Martin, o quinário é o número do princípio maléfico.


Portanto, seu pensamento difere, como já havíamos dito, daqueles sistemas ocultos de
numeração que vêem no 5 uma forma especial do microcosmos ou do homem. Também
é um aspecto do caráter fragmentário da doutrina Martinista dos números, pois ficamos
sem detalhes a respeito das propriedades do quinário, ou da péntada. Aqui somos
levados a imaginar que Saint-Martin reteve muitas informações a respeito deste número.

"É dito que 2 se torna 3 pela sua diminuição, 3 se torna 4 pelo seu centro, 4 é
falsificado pelo seu centro duplo, que perfaz 5; e 5 é restringido pelos números 6, 7, 8,
9, 10, que formam os corretores e retificadores da péntada maléfica" (Os Números). O
número também se liga ao que Saint-Martin nos diz a respeito da aplicação dobrada de
todos os números. Números verdadeiros sempre produzem, invariavelmente, a vida, a
ordem e a harmonia. Portanto, eles sempre agem a favor e nunca são negativos, mesmo
quando servem de açoites da justiça, castigando para reparar o mal.

Ao passar pela mutação em seres livres, o caráter dos números é assim transformado,
porque são outros números que tomam os seus lugares, enquanto que as suas
prerrogativas originais permanecem sempre as mesmas em suas essências.

Os números falsos, ao contrário, nada produzem. Podem imitar a verdade como


macacos, mas nunca conseguem reproduzi-la. Eles se manifestam no desmembramento,
nunca na criação, porque eles se tornaram falsos pela divisão e perderam a capacidade
criativa. Uma prova disto é encontrada na lenda das cinco virgens tolas, que ficaram
sem óleo (para se perfumar e ungir) porque sua conduta as havia separado das suas
outras cinco companheiras e também de seus noivos.

As virgens sábias concebiam apenas através de seus maridos e quando elas se uniam a
eles, elas não eram mais 5, mas sim 10, já que cada uma se unia a um deles. Ou então,
eram 6, se o marido for representado apenas por 1 (por uma idéia, um princípio).
Portanto, as outras 5 virgens são tão limitadas e insignificantes nos seus verdadeiros
números que, incapazes de renovar seu óleo, são forçadas a se refugiar na prudência e a
acertar as contas com a caridade, que pode ser encontrada apenas nos números
vivificadores, cuja força flui do núcleo do amor.

Entretanto, devemos distinguir entre os números falsos quando são empregados para
realizar a reintegração e quando estão perpetuando suas próprias injustiças. Neste caso,
eles são totalmente entregues a si mesmos e separados da verdade. Mas ao serem usados
como instrumentos de reintegração, seres verdadeiros assumem as suas formas e caráter
para descender às suas regiões infectas.

"Ao assumir as formas destes números falsos, estes outros Seres as corrigem,
relacionando-as aos números legítimos, assim opondo o verdadeiro ao falso. Desta
maneira, estes Seres também produzem a morte da morte" (Os Números).

A Héxada

Este Número é a forma pela qual cada operação se realiza. Não é um agente individual,
mas possui uma afinidade com tudo aquilo que age e nenhum agente realiza qualquer
ação sem passar por este número. O seis é a correspondência eterna da circunferência
divina com Deus. Por este motivo, Deus que tudo cria, abarca e tudo circunda.

A circunferência é composta por seis triângulos equiláteros. Os quais são produtos de


dois triângulos que agem um sobre o outro. O seis é a expressão dos seis atos do
pensamento divino, manifestados nos 6 dias da criação e destinados a realizar a sua
reintegração. Portanto, este número é a forma através da qual tudo se gera, apesar de
não ser nem seu princípio e nem seu agente. É na adição teosófica (adição teosófica é a
soma dos algarismos unitários que compõe um número. Assim, a adição teosófica de 10
é igual a 1, por que 1 + 0 = 1) do número três que encontramos a prova da influência
que o seis tem sobre a corporificação dos princípios. As Escrituras remontam o seis à
origem das coisas e o levam para além das coisas. Tendo realizado o trabalho dos 6 dias,
o seis põe, no Apocalipse, perante o trono do Eterno, 4 animais de 6 asas e 24 anciãos,
que se prostram perante Deus. Com isto vemos que o seis é a maneira universal das
coisas, porque tem o mesmo caráter na ordem universal e assim sendo, nossas
faculdades trinas têm de seguí-lo para obterem a realização de suas ações: Pensamento,
1; Vontade, 2; Ação, 3 que é igual a 6.

Os 24 anciãos do Apocalipse são iguais a 6, que é por assim dizer: 1, 3, 4, 7, 8, 10. Estes
números somados formam 33, incluindo o zero - que é a imagem e evidência das
aparições corpóreas. Mas eles somam 24 sem o zero. Portanto, estes seis números
sozinhos são reais e imateriais, agiram e agirão eternamente. E isto é o mesmo que dizer
que há eternamente dois poderes: aquele de Deus e aquele do Espírito.

O seis foi ultrajado nas várias prevaricações que fizeram com que o Reparador descesse
a esta Terra; foi necessário que ele viesse reparar aquela realidade. Por esta razão, ele
transformou a água, contida nos 6 jarros no casamento de Canaã, em vinho.

"Não é menos verdade que a héxada, sendo apenas a forma de atuação de todas as
coisas, não pode ser vista, precisamente, como um número ativo e real, mas sim como
uma lei eterna impressa em todos os números. Também sendo aquilo sobre o que o
homem tinha o domínio, originalmente, e sobre o que ele irá governar novamente,
depois da sua Reintegração" (Os Números).

Finalmente, o número 2 opera na héxada de formas que são apenas uma adição passiva
dos dois princípios (Deus e o Espírito). A raiz destes é dois e é também o agente de suas
formas e sensações pela multiplicação de seus próprios elementos.

A Hêptada

"O Número do setenário espiritual significa o próprio Poder Divino" (Obras Póstumas).

Este é o número das formas universais do Espírito; o seu fruto sendo encontrado nos
seus múltiplos. O quadrado de 7, é 49, é portanto o 7 em desenvolvimento, enquanto
que em sua raiz, é o 7 concentrado. Esta explicação se faz necessária antes de
prosseguir, para chegar ao 8, que é o espelho temporal do invisível incalculável denário
(série de dez). Enquanto passa de 7 à 8, através da grande unidade com a qual se reúne,
ele também passa de 49 ao 50, através da mesma unificação com a unidade. E leva o
elemento quaternário da alma humana à sua integração ao faze-lo transcender e abolir o
caráter de 9 (novenário) das aparências, que é o nosso limite e a causa de nossas
privações.

"Isto demonstra que 5 é igual a 8 e que 8 é igual a 5, na grande maravilha que o Divino
Reparador produziu para nós, para que possamos nos regenerar" (Corresp. Teosófica,
carta XC). Obs.: Nesta carta, Saint-Martin afirma que esta revelação foi feita
diretamente para sua inteligência; e que não se originou de nenhum homem .O sete é
produto de uma única operação: 4 x 4 = 16 = 1+ 6 (redução teosófica) = 7.

"A hêptada é ao mesmo tempo o número do Espírito, por que se origina do Divino e
perfaz 28, na contagem de seu poder duplo contrário ao poder lunar. Deveria ser
notado que o número 28 indica que a Palavra não se realizou, até a segunda
prevaricação. Mas estas são simples palavras, porque 7 vindo de 76 não é raiz
(redução teosófica), nem é o poder fundamental de 4, pois penetra na raiz apenas
através da adição" (Os Números).

"Independentemente da raiz numérica (Raiz Numérica: neste texto, o termo raiz


numérica é empregado para designar o produto da redução teosófica) que expressa o
poder setenário da alma, podemos descobri-la nos poderes sobre a trindade dos
elementos e a dos princípios. Este poder sobre as duas trindades (dois triângulos)
forma o eixo central humano. A alma é o centro destes dois triângulos. Se, ao invés
deste centro, analisarmos o poder da alma sobre o que é celestial, encontraremos de
forma mais clara o poder setenário da alma sobre o físico e o espiritual" (Os
Números).

Mas 7 x 7 = 49 x 7 = 343. O homem é elevado a este posto, ou melhor, emancipado


desta forma, só quando seu poder é triplicado, formando o seu cubo. É nos elementos
deste cubo que podemos enxergar claramente o destino deste homem primordial, já que
ele foi posto entre o triângulo superior - do qual derivou tudo - e o triângulo inferior, o
qual ele domina. Para conhecermos as verdadeiras propriedades de um ser, o seu poder
tem de ser analisado de forma cúbica (elevado à terceira potência), pois somente assim
todas as suas potencialidades são reveladas, ou desenvolvidas.

O Número Sete também indica que a manifestação da justiça universal, ou


temporalidade, deve ser enviada a todos os prevaricadores, apesar de ser o número
Quatro o agente que executa esta justiça. Como este agente é o Espírito e o Espírito não
pode aparecer no tempo sem uma embalagem corpórea, Este é feito perceptível pela
seteneidade, que é o corpo do quaternário, como o seis é o corpo do setenário, assim
como a trindade material é o corpo do seis que a executou. Concluindo, o quaternário é
o corpo da unidade, que não pode ser manifestada neste mundo em sua forma absoluta,
mas deve subdividir os poderes que foram colocados na criação, para que possamos
entendê-la.

A Ôctada

É apenas depois do quadrado do Espírito se haver completado, que a ôctada pode ter
lugar. Enquanto que o seu trabalho pode ser conhecido claramente apenas através do
número 50, porque daí o número da injustiça e o número da matéria são dissipados pela
influência vivificadora e regeneradora da Unidade que as substitui. Ao que tange a
Unidade Absoluta, ou o Pai, ninguém nunca viu, ou O deverá ver neste mundo, exceto
pelas oitavas e por meio da ôctada, as únicas formas de alcança-lo.

"O número 50 desapareceu quando a Santíssima Oitava se aproximou, porque os dois


não poderiam coexistir. A injustiça e as aparências não se sustentariam perante a
unidade e o seu poder. Isto é a razão de ser da Divina Igreja, fora à qual, nenhum
homem pode ser salvo e contra a qual os portais do inferno não devem prevalecer. Esta
(a ôctada) é a chave que abre e ninguém fecha, ou que tranca e ninguém mais abre"
(Os Números).

Cristo é trino em seus elementos de atuação, assim como em seus fundamentos Seu
número é 8, e sua extração mística nos mostra que em seu trabalho na Terra ele foi de
uma vez só divino, corpóreo e perceptível. Apesar de ser, ao se considerar sua ordem
eterna, divino em seus três elementos. Ele era o caminho, a verdade e a vida. Era
necessário que ele compreendesse em si mesmo o divino, uma alma sensória e o
corpóreo, para atuar aqui embaixo, na esfera perceptível.

Toda a criação - porque mesmo o nosso pensamento não pode ser manifestado se não
estiver associado ao nosso invólucro individual mais grosseiro - não pode ser
manifestado sem a mediação de uma ligação material individual. Por isso, o Divino
Reparador não poderia estar associado à sua Natureza corpórea (Cristo), senão através
de uma alma sensória. Esta alma O investe do número 4, seu Ser Divino é representado
pelo número 1 e seu corpo pelo número 3.

Em nós, a alma divina é representada pelo número 4, o corpo pelo 9, enquanto que
Saint-Martin afirmava que o número de nossa alma sensória era por ele desconhecido.
Mas ele tinha razão ao pensar que fosse o mesmo do Salvador, porque em todos os
outros elementos semelhantes aos nossos, que ele possuía, ele invariavelmente detinha
números superiores.

A chave do homem consiste nesta alma sensória; através desta é que ele é integrado à
sua natureza sensória, ou animal e corporal. Mas como ele não é posto nesta prisão de
livre e espontânea vontade, como Cristo o foi, não pode ser esperado do homem
conhecer as chaves que o trancam. Saint-Martin pensava, no entanto, que este número
correspondia ao seis.

A Eneáda

Nove é o número de todo limite espiritual, como a circunferência material é o limite dos
princípios elementais que lá agem. Portanto, o nove representa o curso de todas as
expiações infringidas à humanidade, pela justiça divina. O homem decaiu ao querer
avançar do 4 ao 9 e apenas pode ser restaurado ao voltar do 9 ao 4.

Esta lei é terrível, mas não é nada se comparada com aquela do número 56, que é
assustador para quem o encara, já que eles não podem chegar aos 64, até terem
atravessado todas as suas provações. A passagem do 4 ao 9 é a passagem do espírito
para a matéria, que em dissolução, de acordo com os números, perfaz 9. A respeito da
lei do 56, esta depende do conhecimento das propriedades e condições do número 8, que
foram parte da luz obtida por Saint-Martin por meio de sua iniciação, não sendo
explicadas em maiores detalhes. "Mas é sabido que os criminosos permaneceram no
número 56, enquanto que os justos e purificados chegarão ao 64, ou à Unidade"
(Corresp. Teosófica, carta XIII).

Saint-Martin afirma que recebeu este conhecimento da escola de Martinez de Pasqually.


Quaisquer que sejam os poderes elevados ao número 9, ele sempre permanece sendo 9,
porque, como 3 e 6, tem apenas um poder ternário, enquanto que 4, 7, 8 e 10 são
poderes secundários e sendo, somente a unidade, o primeiro poder. Portanto a unidade,
em todas as multiplicações possíveis resulta somente em um, porque, como já foi visto,
ela não pode se separar e se reproduzir a si mesma. Ela (a Unidade) se manifesta fora de
si por seus poderes secundários e ternários, eternamente ligados à Unidade.

"Se soubéssemos o caminho através do qual a unidade afeta a manifestação de seus


poderes, seríamos seus iguais. No entanto, sabemos que ela realiza suas expansões
apenas nesta série de dez aqui apresentada. As expansões sozinhas operam apenas fora
desta série. Há expansões espirituais e das formas que atuam por leis diferentes e
produzem resultados distintos. Os poderes secundários estão ligados diretamente ao
centro, mas os ternários se ligam ao centro só de forma mediadora (como meios para
expressá-lo) assim produzindo formas, sem uma lei criativa ou geradora, pois esta
característica é da Unidade e sem leis administrativas, pois estas são restritas aos
poderes secundários" (Os Números).

A Década

Pela união do setenário espiritual e do ternário temporal, obtemos o tão famoso denário,
que está sempre presente nos pensamentos de um Iniciado. Como uma imagem da
Divindade em si mesmo, a década (ou série de dez), realiza a Reconciliação de todos
seres ao fazê-los retornar à unidade.

"O denário temporal é formada de dois números, o 3 e o 7, mas o seu caráter está
diretamente relacionado à unidade e não está sujeito a qualquer divisão ou substração"
(Obras Póstumas).

"Quando os números são ligados à década, nenhum deles apresenta qualquer traço de
corrupção ou deformidade; sendo que estas características se manifestam apenas em
suas separações. Entre os números com estas características específicas alguns são
totalmente maus, como 2 e 5, que sozinhos são capazes de dividir a série sagrada de
dez. Outros, estão num processo ativo, de sofrimento ou cura, como acontece com o 4,
o 7 e o 8. Outros ainda são dados apenas pela sua aparência, como o 3, o 6 e o 9. Mas
nada disto é visto na série completa de dez, porque naquela ordem suprema não há
deformações, ilusões, ou sofrimentos" (Os Números).

A Métrica de Saint-Martin

Entre os legados literários de Saint-Martin estão "Phanos: Um Poema sobre Poesia" e


uma diversidade de versos espalhados. Ele também publicou durante sua vida, um
livreto métrico chamado "O Cemitério de Amboise", enquanto que em suas Obras
Póstumas há um ensaio, em prosa: "Poesia Profética, Épica e Lírica".

Saint-Martin via a poesia profética como pertencente à primeira ordem, porque era
derivada do primeiro princípio da inspiração e emoção. Para ele, o verdadeiro tema da
poesia é a lei divina em todas as categorias às quais ela se aplica e não o amor humano e
ainda menos a natureza material, como queriam muitos poetas e artistas de sua época.
Portanto, ele encarava a maioria da poesia épica e lírica como uma impertinência, um
desvio. A respeito da métrica dos versos, ele postula um axioma que é muito
característico, pois, como muitas opiniões de Saint-Martin, nunca haviam passado pela
concepção de outros homens. "A música suprema não tem métrica e a poesia pertence a
esta classe." (Obras Póstumas). O que é muito mais do que dizer simplesmente que, a
poesia deveria ser avaliada mais pelo seu conteúdo, do que pela sua forma. Estas duas
perspectivas são, em certo sentido, impossíveis de coexistirem, ou pelo menos,
incompatíveis. Pelo menos naquela época, onde se afirmava que a palavra divina
deveria tomar uma forma divina, para ser válida e merecedora de adoração.

A definição de Saint-Martin é a melhor daquelas duas, porque não utiliza o raciocínio


lógico, mas sim metáforas. A outra é uma falácia comum. A poesia perfeita é um
espírito (idéia) perfeito, casada com uma forma da mesma qualidade. Quando as duas
(idéia e forma) não estão muito bem associadas, então já não estamos falando de poesia.
Assim como o espírito do homem não é humano se não tiver a forma (o corpo) de um
homem.
No entanto, não há motivos para nos estendermos sobre um argumento a respeito do
qual ninguém discute. A respeito da concepção de que os exercícios de métrica dos
versos de Saint-Martin não são poesia, há algo neste tema que compromete o assunto
com aqueles que o admiram. Tentar dar uma versão de seus versos, versão esta que
deveria ser compreendida pelo ponto de vista de que uma tradução do francês para o
português não tem o mesmo apelo (estético, literário e semântico) daqueles versos
concebidos em sua língua original, estaria portanto fora de uma análise correta a
tentativa de análise da métrica de Saint-Martin em nosso idioma.

A Psicologia Holística

Teorias Organísmicas da Personalidade Humana

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Desde que René Descartes estabeleceu seu método de análise como um


instrumento cientificamente eficaz no estudo dos fenômenos físicos e humanos,
exaltando o reducionismo e as relações causais entre as partes que constituem um
todo complexo, no século XVII, e postulou uma divisão estrita entre corpo e mente
- ou entre a res extensa e a res cogitans -, que as diversas disciplinas acadêmicas
tentam se adaptar a um esquema cartesiano de explicação dos diversos fenômenos
a que se dedicam. Assim sendo, na esteira da tradição biomédica, a Psicologia foi,
desde Wundt, moldada como uma disciplina voltada para a análise do
comportamento humano de acordo com preceitos academicamente aceitos de
reducionismo e mecanicismo. Tal bagagem referencial vem dificultando o
entendimento das relações complementares e a maneira como a mente e o corpo
interagem.

Wundt, que é considerado o pai da Psicologia experimental moderna, seguindo a


tradição empírica tão cara ao século XIX - tradição esta que advém dos enormes
sucessos da Física Clássica de Issac Newton, que, por seu turno, foi precedida pela
preparação de uma filosofia racionalista apropriada e em grande parte desenvolvida
por René Descartes - estabeleceu uma orientação atômica ou elementarista dos
processos mentais, a qual sustentava que todo o funcionamento do nosso
psiquismo poderia ser analisado em elementos básicos, elementares e indivisíveis (
como os átomos elementares e indivisíveis que constituiriam o universo mecânico
imaginado por Newton), e que seriam os tijolos constituintes das nossas sensações,
sentimentos, memória, etc. Esta abordagem reducionista e mecanicista, muito
simplória para dar conta de toda a imensa e complexa riqueza do psiquismo
humano, logo suscitaram uma forte oposição entre muitos psicólogos e filósofos
europeus, que não aceitavam a natureza extremamente fragmentária da psicologia
de Wundt. Estes críticos europeus enfatizavam uma compreensão unitária entre a
consciência e a percepção, e, em parte, de sua inter-relação com o organismo
como um todo. Esta pioneira abordagem holística em Psicologia deu origem a uma
importante escola na Alemanha: a Gestalt.

A Psicologia da Gestalt

Formulada entre fins do século passado e início do nosso século, a Psicologia dos
Padrões de Totalidade ou de Totalidades Significativas(Gestalten, em alemão)
surgiu como um protesto contra a tentativa de se compreender a experiência
psíquico-emocional através de uma análise atomística-mecanicista tal como era
proposto por Wundt - análise esta no qual os elementos de uma experiência são
reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada um destes
componentes são peças estudadas isoladamente dos outros, ou seja, a experiência
é entendida como a soma das propriedades das partes que a constituiriam, assim
como um relógio é constituído de peças isoladas. A principal caraterística da
abordagem mecanicista é, pois, a de que a totalidade pode ser entendida a partir
das características de suas partes constituidas. Porém, para os psicólogos da
Gestalt, a totalidade possui características muito particulares que vão muito além
da mera soma de suas partes constitutivas. Como exemplo, poderíamos tomar uma
fotografia de jornal é que constituída por inúmeros pontinhos negros espalhados
numa área da folha de jornal. Nenhum desses pontinhos, isoladamente, pode nos
dizer coisa alguma sobre a fotografia. Apenas quando tomamos a totalidade da
figura, é que percebemos a sua significação. A própria palavra Gestalt significa uma
disposição ou configuração de partes que, juntas, constituem um novo sistema, um
todo significativo. Sendo assim, o princípio fundamental da abordagem gestáltica é
a de que as partes nunca podem proporcionar uma real compreensão do todo, que
emerge desta configuração de interações e interdependências de partes
constituintes. O todo se fragmenta em meras partes e/ou deixa de ter um
significado quando é analisado ou dissecado, ou seja, deixa de ser um todo. Esta
escola teve como principais expoentes Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt
Koffka. Posteriormente, Kurt Lewin elaboraria uma teoria da personalidade com
base na compreensão gestáltica da totalidade significativa, onde se estipula que o
comportamento do indivíduo é a resultante da configuração de elementos internos
num "espaço vital", que é a totalidade da experiência vivencial do indivíduo num
dado momento ( ou seja, todo o conjunto de experiências que se faz sentir num
dado momento, de acordo com a percepção/interpretação do indivíduo ). Estas
idéias foram, em parte, adotadas por Carl Rogers em sua teoria da personalidade,
conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa já que é o cliente que dirige o
andamento do processo psicoterapêutico, trazendo e vivenciando o material pessoal
exposto nas sessões. Já o psicoterapeuta Frederick S. Perls desenvolveria uma
corrente de psicoterapia baseada nos fundamentos da escola da gestalt, pondo em
prática uma ação terapêutica voltada aos padrões vivenciais significativos do
indivíduo. Esta corrente é conhecida como Gestalt-Terapia.

A Psicologia Organísmica de Kurt Goldstein

Jan Smuts, militar e estadista inglês, que se tornou uma figura importante na
história da África do Sul, é freqüentemente reconhecido e citado como o grande
pioneiro e precursor filosófico da moderna teoria organísmica ou holística do século
XX. Seu livro seminal intitulado Holism and Evolution, de 1926, exerceu uma
grande influência sobre vários cientistas e pensadores, muito embora, na época de
seu lançamento, tenha passado quase despercebido da elite intelectual da primeira
metade do século, tendo só aos poucos ganhando seu merecido espaço nos meios
acadêmicos e filosóficos, principalmente graças ao impacto que exerceu em
pensadores e teóricos do porte de um Alfred Adler, famoso teórico da personalidade
e discípulo dissidente de Sigmund Freud; ou de um Adolf Meyer, psicobiólogo; ou
na recente e menos mecanicista linha médica, dentro da alopatia, chamada de
psicossomática, etc. Smuts cunhou o termo holismo da raiz grega holos, que
significa todo, inteiro, completo. Mas as verdadeiras bases da concepção holística,
ou do pensamento holístico, vêm verdadeiramente de muito antes, desde Heráclito,
Pitágoras, Aristóteles e Plotino até Spinoza, Goethe, Schelling, Flammarion e Willian
James (Hall e Lindzey, 1978; Crema, 1988; Guimarães, 1996).

Um dos maiores expoentes do pensamento holístico em psicologia e em psiquiatria


é Kurt Goldstein. Ele formulou a sua teoria holística da psique a partir de seus
estudos e observações clínicas realizados em soldados lesionados no cérebro
durante a I Guerra Mundial, e de estudos sobre distúrbios de linguagem. Deste
leque de observações, Goldstein chegou à conclusão (hoje mais ou menos óbvia) de
que um determinado sintoma patológico não pode ser compreendido ou reduzido a
uma mera lesão orgânica localizada, mas como tendo características e/ou fortes
reforços ou abrandamentos do organismo como um todo, como um conjunto
integrado, como um holos e não como um conjunto de partes mais ou menos
independentes.

Segundo Goldstein, o corpo e a mente não podem ser vistos como entidades
separadas, tais como separamos o software do hardware, pois ambos só se
expressam na conjunção, na união e íntima conexão de ambos. O organismo é uma
só unidade e o que ocorre em uma parte afeta o todo, como já era reconhecido
pela da medicina Homeopática e pelas artes da cura não ocidentais, como na
medicina chinesa, e na sabedoria das tradições populares e xamanísticas de povos
ditos "primitivos" (Capra, 1986; Eliade, 1997; Guimarães, 1996).

Qualquer fenômeno, quer seja positivo ou não, se passa tanto ao nível fisiológico
quanto psicológico, ou seja, se passa sempre no contexto do organismo como um
todo, a menos que se tenha isolado artificialmente este contexto, como se fez nas
ciências e nos meios acadêmicos desde Descartes, com as esferas da Res Cogitans,
que é a esfera do mental, e da Res Extensa ou a esfera do físico, e a ramificação
entre ciências naturais e ciências humanas. Ora, não existe real diferenciação (no
sentido de mensuração) entre estes dois ramos. Assim, qualquer redução ou
caracterização em um ou outro destes critérios (físico e mental) é um isolamento
artificial e, consequentemente, parcial.

As leis do organismo são as leis de uma totalidade dinâmica, que harmoniza as


"diferentes" partes que constituem esta totalidade. Portanto, é necessário descobrir
as leis pelas quais o organismo inteiro funciona, para que se possa compreender a
função de qualquer de seus componentes, e não o inverso, como se tem feito até
hoje (Hall e Lindzey, 1978). É este o princípio básico da teoria organísmica ou
holística em saúde, principalmente em Psicologia.

Goldstein acreditava que os sintomas patológicos eram uma interferência do meio


sobre a organização do todo, ou eram, em menor grau, conseqüências de
anomalias internas. Mas, de qualquer forma, a tendência intrínseca ao equilíbrio
dinâmico poderia levar o indivíduo a se adaptar à nova realidade, desde existam os
meios que sejam apropriados para isso. Assim, Goldstein via em todo o ser vivo
uma tendência de auto-realização que significaria uma esforço constante para a
realização das potencialidades inerentes dos seres vivos, mesmo que haja um meio
hostil. É assim que, mesmo em ambientes não propícios, vemos nascerem plantas
que, mal grado, não consigam se desenvolver totalmente, mesmo assim teimam
em nascer, mesmo que venham a morrer ou a se atrofiarem em breve, mas a ânsia
de viver é mais forte. Esta idéia de auto-realização ou de auto-atualização foi,
posteriormente, adotada por teóricos vários, desde Carl Rogers até biólogos, como
Maturana.

Andras Angyal e o conceito de Biosfera

Assim como Goldstein, Andras Angyal, húngaro naturalizado americano, não


poderia conceber uma ciência que não fosse holística, alcançando a pessoa e a vida
como um todo. Mas, ao contrário de Goldstein, Angyal não podia admitir numa
distinção entre o organismo e o meio-ambiente, assim como um físico relativista
não pode acreditar numa separação rígida entre matéria e energia. Angyal afirma
que organismo e meio ambiente se interpenetram de uma forma tão complexa que
qualquer tentativa para separá-lo expressa uma visão mecanicista do mundo que
destrói a unidade natural de todas as coisas (unidade sutil, é verdade, mas bem
visível na interdependência bio-ecológica e social de todos os seres vivos), o que
cria uma diferenciação artificial e patológica entre o organismo e o meio (Hall e
Lindzey, 1978; Capra, 1986), o que estimula todo o tipo de crime social e ecológico
que vemos em nosso século. Se, na história da humanidade, houve grandes
catástrofes naturais e grandes genocídios através da mão humana em nome da
religião, por exemplo, mesmo assim nunca se matou tanto como em nossos dias,
em nome de uma concepção de mundo mecanicista- racionalista e capitalista, onde
tudo foi separado de tudo, e os seres vivos são vistos como máquinas e nada mais.

Angyal criou o termo biosfera para traduzir uma concepção holística ou ecológica
que compreenda o indivíduo e o meio "não como partes em interação, não como
constituintes que tenham uma existência independente dos demais, como peças de
um relógio, mas como aspectos de uma mesma realidade, que só podem ser
separados realizando-se uma abstração" (Angyal, cit. em Hall e Lindzey, 1978, p.
43).

A biosfera, portanto, em seu sentido mais amplo seria mais ou menos como a atual
concepção de Gaia, ou da Terra viva. A biosfera pode ser vista em vários níveis,
inclusive no nível humano, onde um indivíduo constitui uma biosfera particular em
relação ao seu conjunto orgânico e psíquico, assim como uma sociedade, etc.
Assim, a Biosfera inclui tanto os processos somáticos quanto os psicológicos
(individuais e coletivos) e os sociais, que podem ser estudados assim,
separadamente, mas só até certo ponto.

Segundo Hall e Lindzey (1978), embora seja a Biosfera um todo indivisível, ela é
composta e organizada por sistemas estruturalmente articulados. A tarefa do
cientista seria, assim, de identificar as linhas de demarcação determinadas na
biosfera pela estrutura natural do todo em si mesmo. Assim, um homem se
diferencia de outro homem, mas ambos possuem características que nos permitem
classificá-los como homens e não como peixes, etc.

O organismo individual, um sujeito, portanto, constitui um pólo da biosfera, e o


meio ambiente, natural e social, o outro polo. Toda a dinâmica essencial da vida
está fundada na interação entre estes dois pólos. Angyal postula que não são os
processos de um ou de outro que determinam ou refletem a realidade, mas a
interação contínua de ambos. Assim, a vida como um todo unitário nos daria uma
nova visão e a possibilidade de percebermos fenômenos e detalhes que nos
escapam no estudo polar de ambos os níveis da realidade.

Bibliografia

• Hall, Calvin S. & Lindzey, Gardner. Theories of Personality, 3º Ed., Jonh Wiley
& Sons, Inc. 1978
• Fadiman, James & Frager, Robert. Teorias da Personalidade. Ed. Harbra, São
Paulo, 1986
• Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação, Ed. Cultrix, São Paulo, 1986.
• Guimarães, Carlos. Percepção e Consciência, Ed. Persona, João Pessoa, 1996

Iniciação e ritos de passagem


Por Jan Duarte

Em todas as sociedades primitivas, determinados momentos na vida de seus membros


eram marcados por cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou ritos de
passagem. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição particular para o
indivíduo, representavam igualmente a sua progressiva aceitação e participação na
sociedade na qual estava inserido, tendo portanto tanto o cunho individual quanto o
coletivo.

Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada dentro do próprio ambiente


familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito, o recém-nascido era apresentado
aos seus antecedentes diretos, e era reconhecido como sendo parte da linhagem
ancestral. Seu nome, previamente escolhido, era então pronunciado para ele pela
primeira vez, de forma solene.

Alguns anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia.
Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação,
marcando o fato que, entrando no seu período fértil, estava apta a preparar-se para o
casamento. Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento em que ele
fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ligadas, portanto, ao derramamento de
sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela pessoa como membro
produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade (pela
procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente misturando o seu próprio
sangue ao sangue do seu clã.

Variadas cerimônias marcavam, ainda, a idade adulta. Entre os nativos norte-


americanos, algumas tribos praticavam um rito onde a pele do peito dos jovens
guerreiros era trespassada por espetos e repuxada por cordas. A dor e o sangue
derramado eram, dessa forma, considerados como uma retribuição à Terra das dádivas
que a tribo recebera até ali.

Outras cerimônias seguiam-se, ao longo da vida. O casamento era uma delas, e os ritos
fúnebres eram considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no
reino dos mortos e garantia o retorno futuro ao mundo dos vivos.

Todas essas cerimônias, no entanto, marcavam pontos de desprendimento. Velhas


atitudes eram abandonadas e novas deviam ser aceitas. A convivência com algumas
pessoas devia ser deixada para trás e novas pessoas passavam a constituir o grupo de
relacionamento direto. Muitas vezes, a cada uma dessas cerimônias, a pessoa trocava de
nome, representando que aquela identidade que assumira até então, não mais existia -
ela era uma nova pessoa.

Nos tempos atuais e nas sociedades modernas, muitos desses ritos subsistiram, embora
muitos deles esvaziados do seu conteúdo simbólico. Batismo e festas de aniversário de
15 anos, por exemplo, são resquícios desse tipo de cerimônia, que hoje representam
muito mais um compromisso social do que a marcação do início de uma nova fase na
vida do indivíduo.

No entanto, a troca do símbolo pela ostentação pura e simples, acaba criando a


desestruturação do padrão social. Tomando o batizado cristão como exemplo, poderia-
se perguntar quantas pessoas que batizam os seus filhos são, realmente, cristãs. Quantas
pretendem realmente cumprir a promessa solene, feita em frente ao seu sacerdote, de
manter a criança na fé dos seus antepassados? Obviamente, nas sociedades primitivas,
tais promessas eram obrigações indiscutíveis e sagradas. Rompê-las era colocar em
risco a própria sobrevivência da tribo como unidade coerente, o que não era, ao menos,
cogitável.

A Iniciação dos Xamãs e Heróis

Ao lado dos ritos que abordamos, de certa forma institucionalizados e regulados pela
família e pela sociedade, haviam outros ritos específicos, que poderiam configurar uma
categoria distinta de passagem ou iniciação. Embora pudessem acontecer depois de
alguma preparação, era comum que esses ritos ocorressem espontâneamente, a partir de
uma casualidade que era então tida como propiciada pelos deuses. Estes eram os ritos de
iniciação dos xamãs ou dos heróis.

Muitas pessoas, após passarem incólumes por algum tipo de experiência traumática, que
poderia ter provocado a sua morte, eram consideradas como pertencendo a uma classe
especial. Estados semicomatosos induzidos por doenças, picada de animais
peçonhentos, etc, eram normalmente considerados como modificadores da pessoa, que
retornaria desses estados possuindo uma nova e mais clara visão do mundo. Essas
pessoas, geralmente, eram alçadas à condição de xamãs pela tribo.

Por um outro lado, o contrário também poderia acontecer: dentro do processo normal de
treinamento de um xamã, chegava-se a um ponto em que determinadas provas deveriam
ser enfrentadas, para que o treinando comprovasse a sua capacidade de enfrentar seus
medos e seus próprios limites físicos e mentais. Isolamento, frio, fome, às vezes
extremos, eram utilizados nesse sentido.

A idéia aqui, portanto, não era a de rito de passagem simplesmente como transição de
um período para outro da vida, mas também como de um estado de consciência para
outro. Ou seja: essa forma de rito não depreendia uma idade ou ocasião específica, e
nem ao menos uma cerimônia específica. Poderia acontecer a qualquer momento da
vida, por acaso ou por escolha própria, e tinha um cunho de transformação de
personalidade mais profundo, geralmente associado a uma missão a cumprir, após a
iniciação.

O caráter de morte e renascimento nesses ritos era profundamente marcado. Vê-se tal
caráter em diversas lendas de heróis mitológicos, como, por exemplo, no mito egípcio
de Osíris, que possui todas as características associadas ao processo das iniciações
míticas.

Osíris era uma divindade civilizadora - a ele era atribuída a invenção da escrita e o
desenvolvimento da agricultura. No mito, seu corpo é despedaçado e espalhado por todo
o Egito; em seguida sua esposa Ísis empreende uma longa busca pelos seus pedaços, e
reúne-os para que ele gere com ela seu filho Hórus, que irá prosseguir seu trabalho
civilizador. Há de se notar que Ísis, além de esposa, era irmã de Osíris, ou seja: a idéia é
que os dois, na verdade, eram duas faces distintas de uma mesma pessoa. Osíris
representa o aspecto de nossos conhecimentos prévios que hão de ser desfeitos, ao passo
que Ísis representa a parte de nós que realiza a busca e a reconstrução.
Note-se, também, que Osíris (o conhecimento), após ser reconstruído, não permanece
existindo, mas apenas cumpre a função de gerar em Ísis um novo ser, filho da fusão
entre as duas partes. A mensagem, portanto, é: aquele que busca o conhecimento deverá
morrer (perder a individualidade, desfazer-se), recolher suas partes através de um árduo
e longo trabalho e, por fim, transformar-se em um novo ser, com uma missão a cumprir.

O Significado das Iniciações no Paganismo

O termo iniciação tem sido bastante mal compreendido dentro do paganismo atual.
Confunde-se iniciação com "início", e muitos julgam que a iniciação seria uma espécie
de cerimônia de admissão em certas vertentes do paganismo. Contrapõe-se a figura do
iniciante à do iniciado, o que é correto apenas em parte.

Na realidade, há de se encarar o paganismo, se não como uma religião (já que essa
palavra geralmente implica dogma e sistematização), pelo menos como uma forma de
manifestação da religiosidade natural do ser humano. Dessa maneira, não faria sentido
um ritual específico para que uma pessoa pudesse praticá-lo, da mesma maneira que
nenhuma condição é pré-estabelecida para que alguém frequente uma igreja. Por um
outro lado, para a maioria das pessoas, adotar essa forma pagã de religiosidade significa
romper, de qualquer maneira, com velhos dogmas e sistemas, ou seja: é uma forma de
passagem. Já que a própria concepção pagã, como descrevemos no início deste texto,
preconiza a marcação das passagens com celebrações específicas, a idéia da existência
de uma cerimônia de iniciação (ou várias) estaria portanto justificada.

O que se vê, no entanto, não é isso. A idéia da iniciação, por ser mal compreendida, é
comumente descrita como uma espécie de ritual mágico, que pode ser realizado sozinho
e que transformaria as pessoas em bruxos. Isso é, pura e simplesmente, uma deturpação
da idéia.

O rito de passagem tem suas próprias funções, como vimos: ele marca transições, marca
o assumir de novos hábitos e responsabilidades e marca a aceitação de uma pessoa por
um determinado grupo. Não se poderia esperar, no entanto, que essas transformações
fossem efetivadas sem uma preparação específica. Voltando às sociedades tribais,
podemos observar que os jovens, no decorrer de sua vida, são constante e
cotidianamente preparados para os momentos de seus ritos de passagem. Apenas como
exemplo, o futuro caçador passa por vezes anos acompanhando os grupos de caça,
assumindo funções progressivamente mais importantes nesses grupos, até finalmente
chegar a abater, sozinho, a sua primeira presa. Quando isso acontece, ele passa pela
cerimônia que marca a sua aceitação pelo grupo dos caçadores, tendo provado que é
digno de fazer parte desse grupo.

Assim, a idéia de uma cerimônia de iniciação dentro do paganismo, se admitida como


necessária, há de ter essas mesmas características. Passar por essa cerimônia significa
que o iniciado adquiriu conhecimento e prática, e por isso mesmo tornou-se digno de
fazer parte de um grupo. Logo, isso não pode ser nem um ato prévio nem um ato
solitário. É incongruente tanto dizer-se que novas atitudes serão assumidas sem que
tenhamos nos preparado para isso, quanto nos admitirmos num "grupo" do qual apenas
nós fazemos parte.

As Jornadas Iniciáticas
Uma vez compreendido que a iniciação é o resultado de um processo mais ou menos
longo de compreensão, conhecimento e prática, que leva a uma mudança de status
pessoal por marcar uma mudança de hábitos; que ela é a culminância de um processo e
não o processo em si, há de se entender como esse processo se dá.

Um processo de iniciação é um processo de trabalho da personalidade, que envolve,


como dissemos, a desconstrução de padrões pré-estabelecidos e a construção de novos
padrões, que passarão a nortear a nossa conduta e existência. Vemos uma representação
desse processo nos arcanos maiores do tarô: cada um deles representa um passo, um
degrau, um conhecimento específico que se deve adquirir, ao longo de um caminho
iniciático. Esse caminho é, no tarô, percorrido pelo Louco, que justamente por isso é o
arcano sem número, podendo se encontrar, portanto, em qualquer uma das posições, ou
estágios do caminho.

O Louco representa a própria desconstrução. Consideramos louco tudo aquilo que não é
estruturado, tudo aquilo que é, de certa forma, caótico ou vazio. No entanto, a real
estruturação apenas pode surgir do caos; caso contrário, o que se dá é apenas uma
reformulação, ou mesmo apenas um ajuste. É emblemática a frase que surge em
praticamente todas as cosmogonias, com ligeiras variações: no princípio era o caos.

Uma jornada iniciática não pode partir de preceitos estabelecidos. Muito pelo contrário:
ela deve começar justamente pela eliminação de todo e qualquer conceito que possa, de
alguma forma, direcionar ou influenciar o caminho de quem se propõe a empreendê-la.
Note-se que o Louco se encontra, justamente, à beira do abismo. O próximo passo, que
ele já começou a dar, o lançará no desconhecido, sem nenhum ponto de apoio, deixando
para trás tudo aquilo que é sólido.

Lançar-se no abismo (domínio do Ar e, portanto, dos inícios) significa, também,


mergulhar na própria consciência, ir ao fundo de si mesmo, atirar-se ao fundo do poço
de nossa personalidade. Ao atingirmos o fundo do poço, só existe um caminho de saída:
para cima. Logo, apenas ao atingi-lo poderemos empreender a escalada; construir,
degrau por degrau, a escada que nos levará das profundezas escuras de volta ao Sol,
para que possamos, novamente, ver o Mundo.

Esse é, portanto, o teor da jornada iniciática, da qual a cerimônia de iniciação, o rito de


passagem, marca simplesmente a culminância do processo. Por isso mesmo, em sua
celebração, o rito busca reprisar os episódios da jornada, refazer a desconstrução e
reconstrução da personalidade, representar em momentos aquilo que, por vezes, levou
anos. No decorrer de nossa vida, podemos passar por diversos processos desse tipo,
conscientes ou não, orientados ou não. O final de cada um desses processos é apenas o
início do próximo.

Um exemplo disso nos é dado pela própria vida, a grande jornada iniciática em si, que
encerra todo o processo cíclico de nascimento, aprendizagem, morte e renascimento.
Somos matéria bruta ao nascermos e, ao longo dos anos, adquirimos o conhecimento
que nos dá, na velhice, a clara visão do mundo, tão decantada como a sabedoria que
surge com a idade. O próximo passo, no entanto, é novamente o mergulho no abismo,
no desconhecido.
Chave absoluta das ciências ocultas
dada por Guilherme de Postel e completado por Eliphas Levi

A religião diz: Acreditai e compreendereis. A ciência vem vos dizer: Compreendei e


acreditareis. "Então, toda a ciência mudará de fisionomia; o espírito, por muito tempo
destronado e esquecido, retomará seu lugar; será demonstrado que as tradições antigas
são inteiramente verdadeiras; que o paganismo não passa de um sistema de verdades
corrompidas e deslocadas; que basta limpá-las, por assim dizer, e recolocá-las em seu
lugar, para vê-las brilhar com todo o esplendor. Em uma palavra, todas as idéias
mudarão; e, uma vez que, de todos os lados, uma multidão de eleitos clama em
concerto: "Vinde, Senhor, vinde!", por que reprovaríeis os homens que se lançam nesse
futuro majestoso e se glorificam de adivinhá-lo?" Joseph de Maistre, Soirées de Saint-
Pétersbourg

Os espíritos humanos têm a vertigem do mistério. O mistério é o abismo que atrai, sem
cessar, nossa curiosidade inquieta por suas formidáveis profundezas.

O maior mistério do infinito é a existência de Aquele para quem e somente para Ele -
tudo é sem mistério.

Compreendendo o infinito, que é essencialmente incompreensível, ele próprio é o


mistério infinito e externamente insondável, ou seja, ele é, ao que tudo indica, esse
absurdo por excelência, em que acreditava Tertuliano.

Necessariamente absurdo, uma vez que a razão deve renunciar para sempre a atingi-lo;
necessariamente crível, uma vez que a ciência e a razão, longe de demonstrar que ele
não é, são fatalmente levadas a deixar acreditar que ele é, e elas próprias a adorá-lo de
olhos fechados.

É que esse absurdo é a fonte infinita da razão, a luz brota eternamente das trevas
eternas, a ciência, essa Babel do espírito, pode torcer e sobrepor suas espirais subindo
sempre; ela poderá fazer oscilar a Terra, nunca tocará o céu.

Deus é o que aprenderemos eternamente a conhecer. É, por conseguinte, o que nunca


saberemos.

O domínio do mistério é um campo aberto às conquistas da inteligência. Pode-se andar


nele com audácia, nunca se reduzirá sua extensão, mudar-se-á somente de horizontes.
Todo saber é o sonho do impossível, mas ai de quem não ousa aprender tudo e não sabe
que, para saber alguma coisa, é preciso resignar-se-a estudar sempre!

Dizem que para bem aprender é preciso esquecer várias vezes. O mundo seguiu esse
método. Tudo o que se questiona em nossos dias havia sido resolvido pelos antigos;
anteriores a nossos anais, suas soluções escritas em hieróglifos não tinham mais sentido
para nós; um homem reencontrou sua chave, abriu as necrópoles da ciência antiga e deu
a seu século todo um mundo de teoremas esquecidos, de sínteses simples e sublimes
como a natureza, irradiando sempre unidade e multiplicando-se como números, com
proporções tão exatas quanto o conhecimento demonstra e revela o desconhecido.
Compreender essa ciência é ver Deus. O autor deste livro, ao terminar sua obra,
acreditará tê-lo demonstrado.
Depois, quando tiverdes visto Deus, o hierofante vos dirá: Virai-vos e, na sombra que
projetais na presença desse sol das inteligências, ele fará aparecer o Diabo, o fantasma
negro que vedes quando não olhais para Deus e quando acreditais ter preenchido o céu
com vossa sombra, porque os vapores da terra parecem tê-la feito crescer ao subir.

Pôr de acordo, na ordem religiosa, a ciência com a revelação e a razão com a fé,
demonstrar em filosofia os princípios absolutos que conciliam todas as antinomias,
revelar enfim o equilíbrio universal das forças naturais, tal é a tripla finalidade desta
obra, que será, por conseguinte, dividida em três partes.

Mistério dos outros mundos, forças ocultas, revelações estranhas, doenças misteriosas,
faculdades excepcionais, espíritos, aparições, paradoxos mágicos, arcanos herméticos,
diremos tudo e explicaremos tudo. Quem pois nos deu esse poder? Não tememos
revelá-lo a nossos leitores...

...Existe um alfabeto oculto e sagrado que os hebreus atribuem a Henoch, os egípcios a


Tot ou a Mercúrio Trismegisto, os gregos a Cadmo e a Palamédio. Esse alfabeto,
conhecido pelos pitagóricos, compõe-se de idéias absolutas ligadas a signos e a números
e realiza, por suas combinações, as matemáticas do pensamento. Salomão havia
representado esse alfabeto por setenta e dois nomes escritos em trinta e seis talismãs e é
o que os iniciados do Oriente denominam ainda de as pequenas chaves ou clavículas de
Salomão

Essas chaves são descritas e seu uso é explicado num livro cujo dogma tradicional
remonta ao patriarca Abraão, é o Sepher Yétsirah, e, com a inteligência do Sepher
Yétsirah, penetra-se o sentido oculto do Zohar, o grande livro dogmático da Cabala dos
hebreus. As clavículas de Salomão, esquecidas com o tempo e que se dizia estarem
perdidas, nós as encontramos, e abrimos sem dificuldade todas as portas dos antigos
santuários, onde a verdade absoluta parecia dormir, sempre jovem e sempre bela, como
aquela princesa de um conto infantil que espera durante um século de sono o esposo que
deve despertá-la.

Depois de nosso livro, ainda haverá mistérios, mas mais alto e mais longe nas
profundezas infinitas. Esta publicação é uma luz ou uma loucura, uma mistificação ou
um monumento. Lede, refleti e julgai.

A Meditação da Introspecção (Vipassana Bhavana): Como funciona.

Do livro "O Budismo Vivo e o Mundo Contemporâneo"


de Lama Anagarika Govinda

A Meditação Vipássana chamada de Meditação da Introspecção ou da Percepção opera


em dois níveis: no nível psicológico e no nível espiritual.

No nível psicológico a meditação ajuda-nos primeiro a chegar a um acordo com os


nossos estados mentais negativos. Aprendendo a observar atentamente as nossas
variações de humor e aceitando-as, iremos conhecer os nossos eus secretos: os estados
mentais de raiva, culpa, ansiedade, tristeza e depressão. A meditação nos ensina como
lidar com todos eles. Estando consciente desses estados, não tentando fugir deles mas
aceitando-os realmente como são. Isto significa que nós nem os ampliamos nem
fazemos as coisas piores fantasiando, nem sonhamos acordados pensando nos deixar ser
apanhados pelas emoções. Ao invés disso, desenvolvemos a conscientização e a
observação, nós permitimos que os estados mentais sejam eles mesmos. Então
experimentamos por nós mesmos exatamente o que o Buda ensinou: observando e
vigiando os estados da mente, eles perdem energia, enfraquecem gradativamente e
após um tempo extinguem-se completamente.

Do mesmo modo, até mesmo os sentimentos profundamente reprimidos no


subconsciente vão emergir e enfraquecer até que tenhamos purificado completamente a
mente de todos os estados negativos. Gradativamente começamos a experimentar mais e
mais os estados positivos da mente: amor, compaixão, alegria, harmonia e paz. Esta
transformação tem seu efeito sobre nossos relacionamentos e na nossa vida diária,
fazendo-nos pessoas muito mais felizes!

No nível espiritual, como o processo de purificação da mente continua, com a


concentração e a conscientização, surge então a sabedoria intuitiva e começamos a ver a
natureza real da mente. Percebe-se e compreende-se as características da vida humana:
sua insatisfatoriedade essencial e sua natureza impermanente. A consciência
continua operando assim até o momento em que, sendo favoráveis as condições, ela
penetra no Absoluto, além do corpo e da mente - o Nirvana.

Isto é apenas um resumo de como a meditação funciona, mas lembrem-se quando


meditamos, não pensamos acerca disto, nós apenas desenvolvemos a vigilância e a
consciência. Apenas observamos o que surge na mente, não ficamos procurando
por coisa alguma.

Você compreendeu que o Buda não ensinou um sistema no qual todos tivessem que
acreditar antes de começar a praticar. O que ele fez foi ensinar uma teoria, dar-nos
um método, uma técnica: a prática da meditação. através da qual podemos testar tal
teoria. Como a meditação não é um sistema de crença, ela pode ser praticada por
qualquer pessoa independente de sua religião ou crença pessoal. Ela é simplesmente
o Caminho para a Purificação Mental. Ela é útil para cada e para todos os seres
humanos.

Esperamos que você continue a praticar para seu próprio benefício e para o benefício de
todos os seres. Possa sua meditação ser proveitosa!

Venha meditar conosco!

O Significado De "Insight", Conhecimento e Sabedoria No Budismo

Em contraste com as religiões baseadas em improváveis artigos de fé, a base do


budismo é o entendimento. Esse fato iludiu alguns observadores ocidentais que
pensavam no budismo como uma doutrina puramente racional que pode ser
compreendida em termos apenas intelectuais. No entanto, o entendimento no budismo
significa um insight na natureza da realidade é de sempre o produto de experiência
imediata.

Começando com a experiência do sofrimento como um axioma primário, válido


universalmente, o budismo adota o ponto de vista de que somente aquilo que foi
experimentado, e não o que se pensou, tem valor de realidade. Desta maneira, o Buda-
Dharma prova que é uma religião genuína, mesmo que não solicite revelações não-
provadas advindas de um domínio sobrenatural como os adeptos de uma religião
normalmente têm que aceitar.

Próximo da virada desse século, alguns hinduistas tentaram apresentar o budismo como
um sistema filosófico-moral amplamente baseado em considerações psicológicas.

Mas o budismo é mais do que uma filosofia, porque não despreza a razão nem a
lógica, apenas as usa dentro da esfera apropriada. Também transcende os limites de
qualquer sistema psicológico porque não está confinado à análise e à classificação de
forças e fenômenos psíquicos reconhecidos, mas ensina seu uso, transformação e
transcendência. O budismo também não pode ser reduzido a um sistema moral
válido para o tempo todo ou como "um guia para fazer o bem", pois penetra uma
esfera que transcende todo o dualismo e está estabelecida em uma ética que sai do
entendimento mais profundo e da visão interior.

Assim, poderíamos dizer que o Buda-Dharma é, como experiência e como caminho


para a realização prática, uma religião; como a formulação intelectual dessa
experiência, uma filosofia, e como resultado da análise sistemática, uma psicologia.
Quem trilha esse caminho adquire uma norma de comportamento que não vem por
imposição externa, mas é resultante de um processo de amadurecimento interior que
podemos observar de fora, chamar de moralidade. Mas essa moralidade no Budismo
não é tanto o ponto de partida - como em muitas outras religiões - quanto o resultado de
uma experiência religiosa que produziu tal mudança decisiva em nosso ponto de vista
que começamos a ver o mundo com novos olhos.

Por essa razão, Buda não colocou no início da Nobre Senda Óctupla uma mudança em
nosso modo de vida e comportamento, mas a visão controlada de mundo em nós e
com relação a nós mesmos; pois só assim conseguimos conquistar um insight sem
preconceitos sobre natureza da existência e das coisas, e então, através da mudança em
nosso ponto de vista, atingir uma reorientação completa para a nossa luta. Esse modo
de observar as coisas é chamado em páli samma ditthi, que os indologistas sempre
traduzem como "visão correta " ou "opinião".

Mas samma ditthi significa mais do que um mero acordo com algumas idéias morais ou
dogmáticas preconcebidas. É uma maneira de ver que ultrapassa os pares de opostos
dualisticamente concebidos, de um ponto de vista unilateral, condicionado pelo ego.
Samma significa o que é perfeito, inteiro, isto é, nem dividido nem unilateral; alguma
coisa de fato, completamente adequada a todos os níveis de consciência.

Aquele que desenvolveu o samma ditthi é, portanto, uma pessoa que não olha as
coisas de forma parcial, mas as vê de forma equilibrada e sem preconceitos, e que
em objetivos, atos e palavras é capaz de enxergar e respeitar o ponto de vista dos
outros tanto como o seu próprio. Pois Buda estava bem consciente da relatividade
de todas as formulações conceituais. Não estava, portanto, preocupado em divulgar
uma verdade abstrata, mas em apresentar um método que desse capacidade às pessoas
para chegar à visão da verdade, isto é, experimentar a realidade. Assim, ele não
apresentou uma nova fé, mas tentou libertar o pensamento das pessoas dos princípios
dogmáticos de forma a possibilitar uma visão da realidade livre de preconceitos.
Está bem claro que ele foi o primeiro entre os grandes líderes religiosos e pensadores da
humanidade a descobrir que o que importa não é tanto os resultados finais
padronizados, isto é, nosso conhecimento conceitual em forma de idéias, confissões
religiosas e "verdades eternas", ou na forma de "fatos científicos" e fórmulas, mas o
que leva a esse conhecimento, o método de pensamento e ação. A adoção dos
resultados do pensamento das outras pessoas - ou até mesmo dos chamados "fatos
simples", quando isso é feito sem senso crítico, geralmente é mais um obstáculo do
que vantagem, porque coloca um bloqueio à experiência direta e por isso pode se
tornar um perigo. Dessa forma, uma educação que consiste inteiramente de um
acúmulo conhecimentos e padrões de pensamento já prontos leva à esterilidade
espiritual. O conhecimento e a fé que perderam sua ligação com a vida se
transformam em ignorância e superstição. O mais importante e o mais essencial é a
capacidade para a concentração e para o pensamento criativo. Em vez de ter como
objetivo a erudição, deveríamos preservar a capacidade para o aprendizado em si,
e assim manter a mente aberta e receptiva.

Por outro lado, Buda jamais negou a importância do pensamento e da lógica;


designou o lugar que ocupam e mostrou a seus discípulos a sua relatividade: a ligação
insolúvel pela qual o pensamento e a lógica se encerram em um único sistema de
interdependência e condicionalidade mútuas.

Há uma admissão tácita de que o mundo que construímos com o nosso pensamento é
idêntico ao mundo de nossa experiência, na verdade ao mundo "tal como é". Mas, essa
é uma das fontes principais de nossa visão errônea daquilo que chamamos de
"mundo". O mundo que experimentamos na verdade inclui o mundo dos nossos
pensamentos, mas esse mundo nunca pode compreender totalmente aquele que
experimentamos, porque vivemos simultaneamente em várias dimensões, das quais o
intelecto (ou acapacidade para o pensamento discursivo) é apenas uma delas.

Buda não procurava discípulos cegos que seguissem suas instruções


mecanicamente, sem entender suas razões ou necessidades. Para ele, o valor da ação
humana não está no efeito aparente, mas no motivo, na atitude dessa consciência da qual
surgiu. Queria que seus discípulos o seguissem por causa de seu próprio insight na
realidade acentuada pelo ensinamento, e não da simples fé na superioridade de sua
sabedoria ou de sua pessoa. A única fé que esperava de seus alunos era a fé em seus
próprios poderes interiores.

O que o mestre suscitou, portanto não foi a ênfase em um racionalismo frio, unilateral,
mas a cooperação harmoniosa de todos os poderes da psique humana, entre os quais a
razão é o princípio da discriminação e do direcionamento.

O ensinamento do Buda começa com a apresentação das Quatro Nobres Verdades.


Mas, devido aos limites estreitos da consciência individual, seu significado não pode ser
percebido de forma completa quando se está iniciando no Caminho. Se fôssemos
capazes de atingir isso, conquistaríamos a liberdade imediatamente e os passos
seguintes seriam desnecessários. Mas o simples fato do sofrimento e suas causas
imediatas é algo que podemos experimentar em todas as fases da vida, de forma que um
simples processo de observação e análise da experiência de uma pessoa, ainda que
limitado, é suficiente para convencer um ser pensante de que a tese do Buda é razoável
e aceitável.
Da mesma forma, se o indivíduo inicia seu caminho exigindo a "visão perfeita", isso
não significa a aceitação de um dogma em particular estabelecido para todo o tempo, ou
de alguma crença ou artigo de fé, mas o insight imparcial e sem preconceitos na
natureza das coisas e de todas as ocorrências exatamente como são.

Samma ditthi, então, não é uma simples aceitação de algumas idéias religiosas ou
morais preconcebidas. Significa uma maneira cada vez mais perfeita e nunca unilateral
de ver as coisas. Portanto, não é verdade que tantos problemas do mundo vêm
principalmente do fato de todos verem as coisas a partir de seu próprio ponto de
observação? Não deveríamos, em vez de nos trancarmos a tudo que seja
desagradável e doloroso, encarar o fato do sofrimento e descobrir suas causas, fato
este que está em nós e que conseqüentemente só por nós pode ser superado?

Se prosseguirmos dessa maneira, manifesta-se dentro de nós a consciência do objetivo


grandioso, o objetivo do esclarecimento e da libertação, e também do caminho que leva
a sua realização. Samma ditthi é assim o experimentar, e não apenas a aceitação
intelectual das Quatro Nobres Verdades proclamadas por Buda. Somente a partir de
tal atitude é que a decisão perfeita que abrange toda a humanidade pode surgir, o
que exige o compromisso da pessoa como um todo no pensamento, na palavra e na
vontade, o que levará, através da interiorização e penetração, à perfeita
iluminação.

O sabá das feiticeiras

Por Paulo Urban (*)


Publicado na Revista Planeta nº 346 / julho 2000

Predicadas pelo estranho 13, as sextas-feiras, noites de sabá, impõem maior


respeito ao imaginário popular; se a noite for de lua cheia então...

A sexta-feira é 13. Muita gente tem medo dela! Seu nome sugere feitiçaria e,
para muitos, sua ocorrência no calendário é prenúncio do azar. Toda sexta-feira,
entretanto, acha-se associada à idéia do Sabá, como ficou conhecido a partir da
época medieval o festim em que as bruxas reunidas banqueteiam em presença do
Demônio. Também às sextas, à luz da lua cheia, os amaldiçoados lobisomens se
transformam, e os vampiros propalam-se em vôo sedento de sangue à procura de
suas vítimas.

Mas, e quanto ao maldito número 13? É o número da morte, do azar, do mau


agouro, dizem alguns. Para outros, contradizendo, pode simbolizar a sorte por
trazer em si as transformações, visto que o 13 representa o rompimento dos
limites, a quebra dos padrões estatutários impostos pelo 12. Expliquemos melhor.
O 12 expressa as coisas inteiras, os sistemas fechados e completos. Observe-se
que são 12 os meses do ano, as horas do dia e da noite; também o número de
deuses do Olimpo e de constelações e signos do zodíaco; e 12 são as notas
musicais, tons e semitons. Já o 13 é aquele que ultrapassa a ordem conhecida das
coisas, promove a revolução do novo, e se intromete em nosso mundo de modo a
perturbar nossa aparente sensação de segurança, advinda da ordinária dimensão à
qual estamos acostumados. Associado ao jogo, às vicissitudes da vida, igualmente
à sorte e ao azar, o 13 ainda compõe o número de cartas de cada um dos 4 naipes
dos baralhos comuns. E eram 12 os apóstolos presentes à última ceia de Cristo, de
onde se criou a superstição medieval de que quando 13 se reúnem à mesa para
comer, um em breve irá morrer.
Predicadas pelo estranho 13, as sextas-feiras, noites de sabá, impõem maior
respeito ao imaginário popular; se a noite for de lua cheia então...

Na mitologia assírio-babilônica, data-se além de 8 mil anos a crença de que


Isthar, a lua, tornava-se indisposta a cada plenilúnio, quando então se observava o
sabattu, período de recolhimento dos homens em respeito à Grande Deusa. Veja-se
que provém da antigüidade mais remota o útil conselho dado aos maridos para que
estes não provoquem suas mulheres em fase pré-menstrual. Durante a indisposição
de Isthar, guardava-se o sábado, que primitivamente era mensal, dia considerado
nefasto, no qual não se autorizava qualquer tipo de trabalho, nem viajar ou
cozinhar alimentos. Com a percepção de que Isthar apresentava fases cíclicas,
crescente, cheia, minguante e nova, a cada 7 dias renovadas, a prática do sabattu
estendeu-se a todas as semanas de modo a demarcar sempre o último dia da
semana.

Sábado, em português, vem do latim sabbatum, que, por sua vez foi emprestado
do grego sábbaton. Este, seria proveniente do hebraico sahabbat, que,
etimologicamente, deriva do verbo sabat (parar). Outras fontes o extraem de seba
(sete), ou o tomam como corruptela do termo sabi'at (sétimo dia). Tenhamos em
conta ainda que o hebraico sabbat guarda enorme semelhança com sapatu, que em
dialeto árcade primevo significava "parada, descanso", também "sono da lua".
Nesse caso, o termo hebraico seria originário do grego, ao contrário da primeira
hipótese.

Em meio às divergências semânticas, muitos acreditam que a Igreja, em sua


obstinada caça às bruxas, tenha julgado conveniente escolher um nome da tradição
judaica, especificamente aquele que denota o período de oração que se inicia ao
pôr do sol das sextas-feiras, para nomear o conclave das feiticeiras. Agindo assim,
transformaria judeus, bruxas e demais hereges, inimigos comuns da fé cristã, em
gatos de um mesmo saco. Além disso, no início das perseguições, denominava-se
"sinagoga" o local escondido nas florestas destinado à reunião das bruxas.

Pesquisando mais profundamente encontramos o termo grego sabbathéos,


literalmente "o sabá divino", relacionado às sabátidas, festas dedicadas a Sabácio,
divindade agrícola conhecida na Trácia e na Frígia, com atributos similares aos de
Dionísio, ainda que não tão popularizada quanto este. As sabátidas já ocorriam
anteriormente a Moisés e ao judaísmo; e a seu deus eram consagrados o trigo e a
cevada, da qual se fermentava uma bebida inebriante, servida aos presentes.

Sabácio era representado com chifres na cabeça, semelhante a Dionísio, também


chamado Deus-cabrito. Pan e Príapo eram igualmente cultuados nas sabátidas, e
representavam-se pela figura de faunos ou bodes, senão pelo falo que os
substituía, espécie de bastão que todos traziam à reunião, invariavelmente noturna,
na qual banqueteavam os convivas, sentados no chão sobre peles de animais
caprinos, com as quais também se cobriam encarnando seu comportamento e
imitando seus berros. Neste culto agrário, uma virgem nua, símbolo da fertilidade,
em alusão à Demeter (a Mãe Terra), deitava-se sobre a mesa ritualística e recebia
sobre o ventre as oferendas, geralmente o trigo e a cerveja, sendo ela própria após
o banquete oferecida à divindade caprina dona da festa, sempre encarnada por um
sacerdote com máscara de chifres, vestido com pele de cabra, assim como os
demais presentes. Após o gozo do mestre, e enlevados pela bebida, misturavam-se
todos não importando o sexo, "fecundando-se" mutuamente. Ao final da festa,
semelhantemente às Bacanais, invocava-se o raio, talvez alusão ao mito dionisíaco,
posto que esta divindade antes de (re)nascer da coxa de Zeus fora fulminada e
esquartejada por raios dos Titãs. Também a desvirginada do altar arrancava com
sua boca a cabeça de um sapo, e a cuspia ao chão, em alusão às Mênades
possessas que dilaceravam os animais conforme descreveu Eurípedes de modo
perturbador nas Baccantes. Estes eram os originais pagãos, cujas festas
celebravam no pago, isto é, no próprio povoado, geralmente nos campos de suas
comunidades.

Qual a ligação desta festa com o sabá das feiticeiras? Entendamos a questão. A
Igreja, já no ano de 360, no sínodo de Elvira, admitia a existência dos poderes
mágicos, que seriam decorrentes de pactos com o demônio, e negava a comunhão,
mesmo à hora da morte, para os que caíssem em tal tentação. Até o século XI, a
Santa Sé diferenciava os seres maléficos, devotados aos sortilégios, aos
encantamentos por bonecos de cera, aos filtros e maus-olhados, das strigae,
demônios femininos que sob a forma de pássaro se alimentavam de recém-
nascidos. Strega, bruxa em italiano, deriva-se daí, e em português temos
igualmente o termo estrige; ambos oriundos da raiz latina strix, a significar coruja,
pássaro noturno ou qualquer outra ave de rapina. Um século antes, o monge
Regino de Prün dizia que voar à noite com a deusa Diana não podia ser algo real,
senão mera ilusão provocada pelo Demônio.

Mas foi durante o século XII que se difundiu mais rapidamente a idéia do sabá,
reunião noturna das sextas-feiras, à qual compareciam as bruxas voando em suas
vassouras, cavalgando seus bodes, ou mesmo transformadas sob a forma de
pássaros. Para que pudessem voar, untavam seus corpos com uma poção mágica
por elas preparada; e na cerimônia, iniciada à meia-noite, entregavam-se a orgias
e ao Demônio.

Somente em 1250 é que alguns bispos entregam ao dominicano Étienne de


Bourbon a primeira descrição do sabá. Oito anos depois iniciam-se os processos por
feitiçaria, e só no ano de 1275, após várias condenações, uma primeira acusada é
morta na fogueira. O próprio São Tomás de Aquino (1225-1274), expoente da
escolástica, declara ser possível a união carnal com Satanás. "Tudo o que acontece
por via natural, o diabo pode imitar!", afirmou.

Em 1318, o bispo de Cahors é condenado à fogueira sob acusação de haver


tramado magicamente contra o Papa João XXII, por encantamento com boneco de
cera, do qual a história tem relatos semelhantes desde 2500a.C. O poeta Virgílio
(70-19a.C.) também fez referência à mesma prática. Em 1398 será a vez da
Universidade de Paris reforçar a tese da união sexual entre as bruxas e o demônio,
e em 1424 o monge Bernardino de Siena (1380-1444) prega contra as artes
mágicas em Roma. Em 1465, curioso fato, é condenado à fogueira o prior da ordem
dos Servitas, dono de um bordel, acusado não de empreender qualquer tipo de
negócio ilícito, mas sim porque eram súcubos (demônios sob a forma feminina)
quem ele oferecia aos que visitavam sua casa de prazeres.

Até esse momento, no entanto, os processos só eventualmente levavam à pena


capital. Embora houvesse campanhas da Igreja contra hereges e pagãos, nenhuma
caça sistematizada às bruxas existia. Tanto é que os carmelitas, em 1474, de seu
púlpito, arriscavam-se a prever o futuro durante as missas, e o diziam fazer com
auxílio dos demônios. Só com a reiterada insistência de dominicanos alemães é que
o Papa Inocêncio VIII, em 5 de dezembro de 1484, publica a bula Summis
Desiderantes Affectibus ("Desejando com Suma Ansiedade"), que espalharia o
terror pelo continente:

"...tem chegado recentemente a nossos ouvidos que em certas regiões da


Alemanha setentrional [...] nas dioceses de Mainz, Colônia, Trier, Salzburgo e
Brêmen, muitas pessoas de ambos os sexos, esquecendo-se de sua própria
salvação e apartando-se da Fé Católica, têm mantido relações com os demônios
[...] por meio de encantamentos, feitiços, conjuros e outras superstições
malditas..."

Confirmada pelo imperador Maximiliano I, o Papa designa para executar a bula,


a começar pelo país reclamante, os monges Heinrich Institor e Jacob Sprengher.
Este último, deão da Universidade de Colônia, publicaria dali a dois anos, com
Heinrich Kramer, prior de Salzburgo, a mais importante obra sobre demonologia da
história, o temível Malleus Malleficarum ("O Martelo das Bruxas"), fonte de
inspiração para todos os tratados posteriores.

O "Malleus", código atroz contra as artes negras de magia, mais do que a bula
papal, peremptoriamente abriu as portas para o rolo compressor da santa histeria
em que se transformou a Inquisição. Sua intenção era pôr em prática a ordem do
Êxodo, 22;17: "A feiticeira, não a deixarás com vida".

O "Martelo das Bruxas" dividia-se em três partes. A primeira discursava aos


juízes, ensinando-os a reconhecer as bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes.
A segunda expunha todos os tipos de malefícios, classificando-os e explicando-os. A
terceira regrava as formalidades para agir "legalmente" contra as bruxas,
demonstrando como inquiri-las para sempre condená-las.

O processo era cruel. Levava-se ao tribunal qualquer um que fosse suspeito de


feitiçaria. Bastavam três testemunhas para que juntas servissem como "prova" dos
autos. Os filhos podiam entregar seus pais; os cônjuges podiam delatar-se
mutuamente. Por meio de tortura obtinham-se as confissões. Os réus eram ainda
submetidos às provas ordálicas; nestas, qualquer mancha escura na pele do
acusado serviria como prova do pacto com o Demônio. A insensibilidade à dor em
qualquer parte do corpo também era indício de feitiçaria; ademais, amarravam-se
os suspeitos em cruz sobre madeiras, e os atiravam nalgum rio. Se o acusado não
afundasse, estava aí a prova de que o Diabo o protegia, razão pela qual era
entregue à fogueira; caso se afogasse, estaria antecipada a justiça divina.

Extraíam-se assim as mais absurdas confissões, incluindo transformações dos


envolvidos em cisnes negros, gatos ou lobos; também suas sevícias trocadas com
Satanás.

Na Alemanha, onde nascera o terror, os números não deixam dúvidas do


empenho inquisitorial: 45 feiticeiras queimadas num só ano em Colônia; em
Salzburgo, 79; 300, em 3 anos, na Província de Babemberg; quase mil em
Wuerzburgo; e mais de 6.500 em Trier!

Um curioso episódio merece ser contado. Três mulheres incriminavam um


homem perante o implacável Sprengher, de ele lhes ter lançado um mau-olhado,
posto que, ao mesmo tempo haviam sentido um arrepio quando estava perto delas
somente o tal rapaz. O acusado jurava por todos os santos ser inocente; mas em
vão. Por fim, sentenciado à fogueira, sua memória clareou; disse ser mesmo
verdade, pois agora se lembrava de que na hora em que lhe atribuíam o mal feito
ele de fato expulsara aos chutes três gatas pardas que haviam sorrateiramente
entrado em sua casa. Sprengher, meritíssimo esclarecido, compreendeu então o
fato; mandou libertar o pobre homem e levou à fogueira as acusantes.

Com o terror espalhado, o fantasioso distorcia a realidade. Mulheres histéricas,


convencidas de sua culpa, muitas vezes aceitavam resignadas sua condenação à
fogueira. Há casos de senhoras maiores de 80 anos confessando em detalhes como
haviam sido violentadas pelo demônio. Em várias cidades as escolas são fechadas,
posto que serviam às crianças para que trocassem entre si conhecimentos mágicos
proibidos.

Em que pese a histeria disseminada no bojo do horror da Inquisição, algo resta


acima de qualquer dúvida: os relatos do sabá tomados por confissão na Alemanha,
em nada diferiam dos que eram detalhados pelas bruxas suíças, francesas,
italianas, espanholas ou portuguesas. Na Inglaterra, onde a forca era quem
esperava os hereges, os relatos são quase idênticos. Onde quer que se prendessem
as bruxas, as confissões acerca do sabá traziam curiosa coincidência, que não
poderia ter sido mera obra do acaso. Se por um lado os Tribunais forçavam seus
réus a mentiras e falsas confissões que os incriminassem, por outro, havia de fato
uma cultura pura, não cristã, ou cristã divergente da moral católica, que nem se
importara muito com a Igreja até esta resolver deitar sua rede de holocausto sobre
os povos pagãos, como os cátaros albingenses e os valdenses no sul da França, por
exemplo, dentre outras tantas minorias germânicas que, massacradas pela
Inquisição, refugiaram-se em terras nórdicas.

Sobre o rito do sabá das feiticeiras, concluíram os Tribunais: uma bruxa servia
sempre de altar. A seu lado, uma figura de madeira, com chifres, representava o
bode, ou Satanás. As estriges chegavam "voando" sobre suas vassouras, isto é,
com o falo em suas mãos e por entre as pernas. Havia um banquete, durante o
qual corria uma poção mágica, sempre uma beberagem excitante, a qual
predispunha os participantes ao sexo sem critério. Era feita então a oferenda ao
Diabo, geralmente alimento e bebida; apresentava-se a hóstia negra; consagrava-
se o último morto e o último nascido na comunidade, já que à Terra voltam os que
dela nascem; invocava-se o raio; e por fim dilacerava-se um animal em sacrifício
ao Demônio.

Ora, parece claro a qual tradição nos reportam os sabás das feiticeiras; nenhuma
outra senão a pagã. Algo bem mais antigo e distante do que representa o sabbat
dos hebreus. E à Igreja coube a façanha sangrenta de pôr fim a quaisquer
resquícios destes rituais, e fez associar a figura até então quase apagada do
Demônio às práticas consideradas heréticas. Deturpando os relatos dos que
freqüentavam livremente tais cerimônias, interpretando-os como obra demoníaca,
reformulou a roupagem dos mitos de fertilidade e inventou o Mal que neles nem
havia.

Foram tantos os processos e tão assustador o cenário de vida montado pela


Inquisição, que esta não fez senão maior milagre que o de espalhar a fé no
Demônio por toda a parte, criando-O para sempre a partir da santa luta que
despendeu durante séculos contra Ele. Enquanto o espírito da Renascença revelava
sua lucidez e ressuscitava clássicos da filosofia platônica e aristotélica que invadiam
o mundo, traduzidos pelos árabes (não cristãos, evidentemente), a religião cristã
sadicamente se divertia em sua cruzada insana contra as bruxas. Numa época em
que as artes progrediam, e as Universidades se firmavam, o Demônio crescia para
o mundo quanto mais a Igreja lançava almas ao fogo de seu abismo.

Lentamente extinguir-se-ão as fogueiras...a última condenação teve lugar em


1793; e no México a Inquisição fecharia suas portas somente um século mais tarde.

Nem as ciências, nem a medicina ou psicologia estavam desenvolvidas durante a


"caça às bruxas" de modo a impedir este fenômeno hediondo, fruto da superstição
cristã.

Hoje, os tempos são outros; a Igreja perdeu a hegemonia, sofreu crises, e


colheu bem os frutos que plantou. É sempre assim! E eu, sem receio de ser
guardado num cinzeiro, escrevo o que bem entendo sobre o sabá das feiticeiras.
Conheço até algumas amigas que se dizem bruxas; mais que isso, duas delas
freqüentam as missas de domingo. Mesmo quando caem numa semana de Sexta-
feira 13!

* Dr. Paulo Urban é médico psiquiatra, criador da abordagem terapêutica, a


Psicoterapia do Encantamento

A história da Bruxaria

Ao contrário do que se pensa, o cristianismo não foi imediatamente adotado pelo povo
europeu ao ser declarado religião oficial do Império Romano. Esta conversão dos
Romanos ao catolicismo teve motivos políticos, e não teve grande penetração fora dos
centros urbanos. A grande massa da população permaneceu fiel a seus deuses antigos.
Os cultos antigos, então, receberam a denominação pejorativa de "pagãos" ("pagani",
plural de paganu, ' morador do campo'), por ter como foco de resistência à nova religião
o povo dos campos, longe das cidades e das zonas de comércio e ensino.

Os missionários cristãos, com o tempo, passaram a ter mais aceitação nas cidades, mas
continuavam sendo repelidos no campo, nas montanhas e nas regiões distantes,
verdadeiros enclaves da Antiga Religião. Houve ainda uma tentativa de reativar o
paganismo e o culto aos Deuses antigos como religião oficial do Império Romano. Esta
última esperança deveu-se ao Imperador Juliano (conhecido como "O Apóstata"), que
reinou no século IV EC. Mas, como sabemos, essa tentativa não foi frutífera, derrubada
pela própria conjuntura da época, onde já se pressentia o poder de manipulação,
domínio e intriga do cristianismo, evidenciado nos séculos seguintes. Um dos ardis
utilizados pelos cristãos era o de apropriar-se de festividades pagãs como
comemorações religiosas de sua própria religião. Assim, por exemplo, o festival do
solstício de inverno, onde se comemorava o nascimento do Deus-Sol, transformou-se no
Natal cristão. Também o festival de Samhain, comemorado em intenção dos mortos,
recebeu o nome de Dia de Todos os Santos, logo seguido pelo dia de Finados. A
despeito destas tentativas, as tradições pagãs continuaram mantendo sua força.

A partir de um decreto do papa Gregório, os cristãos também se apossaram dos locais


sagrados da Antiga Religião e, derrubando os templos ali existentes, erigiram suas
igrejas. Os Deuses de cada santuário foram transformados em santos e santas (um
exemplo é Santa Brígida, da Irlanda, na verdade a Deusa Bhríd, protetora do fogo e dos
partos). Quando os cristãos deram-se conta da importância da Deusa-Mãe para as
pessoas, aumentaram a proeminência da Virgem Maria no culto cristão. Mitos e práticas
pagãs foram, sistematicamente, absorvidas, distorcidas e transformadas em ritos
cristãos. Esculturas de temas pagãos foram incluídos em igrejas e capelas . O maior
exemplo de sincretismo entre costumes pagãos e cristãos é o cristianismo irlandês, que
ainda hoje conserva hábitos célticos mesclados a liturgias cristãs.

Os padres tinham a seu favor o tempo, o poder e a força. Os pagãos tinham que lutar
sozinhos contra a profanação de seus templos, crenças e costumes. Desta maneira, o
povo simples dos campos foi acostumando-se à nova religião, e, gradualmente, foi
sendo convertido. Mas os sacerdotes restantes da Antiga Religião não se renderam à
nova ordem. Juntamente com pessoas ainda fiéis às antigas crenças, mantiveram o culto
ao Deus de Chifres e à Deusa Mãe. As crenças pagãs, enfatizando a adoração aos
Deuses e a realização dos festivais de fertilidade, foram amalgamando-se à magia
popular, criando a Bruxaria Européia. A magia popular consistia em um conjunto de
feitiços feitos com o uso de ervas, bonecos e diversos outros meios. Estes feitiços
tinham como objetivo a cura, a boa sorte, atrair amores, e fins menos nobres,como a
morte de algum inimigo. São práticas desenvolvidas a partir do que restara da magia
simpática pré-histórica, unidas ao conhecimento xamânico dos povos bárbaros.

Os teólogos cristãos passaram então a sustentar que a Bruxaria não existia. Assim,
pretendiam terminar com a credibilidade dos bruxos e anular sua influência. Foi um
período de relativa paz para a Arte. Mas logo os cristãos perceberam que seus esforços
para exterminar completamente o paganismo não haviam dado resultado. Fizeram então
mais uma tentativa: transformaram o Deus de Chifres na personificação do Mal, do
Antideus, do Inimigo. A natureza dos Deuses pagãos é completamente diferente da do
todo-poderoso "senhor de bondade" dos cristãos. Nossos Deuses são quase "humanos",
pois têm características tanto 'boas' quanto 'más'. A teologia cristã já pressupunha a
existência de um antagonista a seu Jeová (o 'Satan' hebraico do Antigo Testamento e o
'diabolos' do Novo): um Inimigo. Ele ainda não possuía forma definida e, quando era
representado, o era em forma de serpente, como a que persuadiu Adão a comer a fruta
da Árvore da Sabedoria. Dando a seu Satã a forma do Deus de Chifres (notadamente de
deuses agropastoris como Pã e Sileno, dotados de cascos de bode e pequenos cornos),
os cristãos conseguiram iniciar um clima de terror e medo em relação aos praticantes da
Antiga Religião, o que os forçou a praticarem seus ritos em segredo.

Mas a era mais triste da Arte ainda estava por vir. A Era das Fogueiras A situação da
Igreja até o século XIII era caótica. Facções adversárias lutavam entre si, cada uma
degladiando-se em favor de um dogma. Nos numerosos concílios realizados, ora uma
das facções impunham sua visão, ora outra. Isso favorecia um desmoralizante 'entra-e-
sai' de dogmas, o que desacreditava a Igreja. Algumas destas facções também
criticavam a corrupção e o jogo de poder dentro da classe sacerdotal, e levantavam
dúvidas sobre o poder espiritual do papado. Foi então criado um instrumento de
repressão: o Tribunal de Santa Inquisição. Consistia em um corpo investigatório
ignorante, brutal e preconceituoso, dirigido pela ordem dos Dominicanos. Sua função
primordial era a de acabar com as facções que se opunham à Igreja (denominadas
'heréticas'), através do extermínio sistemático de seus membros. Exemplos destas
facções 'heréticas' eram os cátaros, os gnósticos e os templários. Com o tempo, os
cristãos perceberam outro uso para seu Tribunal. Ainda persistiam cultos aos Deuses
Antigos, e, graças à transformação do Deus de Chifres no Demônio Cristãos, eram
acusados de delitos absurdos, como o canibalismo, a destruição de lavouras (acusar de
tal crime uma Religião dedicada à manutenção da fertilidade das colheitas é, no
mínimo, ridículo) e muitos outros. Foi então proclamada, em 1484, a Bula contra os
Bruxos, pelo Papa Inocêncio VIII. Neste documento, ele relacionava os crimes
atribuídos aos bruxos e dava plenos poderes à Inquisição para prender, torturar e punir
todos aqueles que fossem suspeitos do 'crime de feitiçaria'. Em 1486 foi publicado o
Malleus Malleficarum ('Martelo dos Feiticeiros'), escrito pelos dominicanos Kramer e
Sprenger. O livro, absurdo e misógino, era um manual de reconhecimento e caça aos
bruxos, e, principalmente, às bruxas (o livro trazia afirmações surpreendentes, como :
"quando uma mulher pensa sozinha, pensa em malefícios"). A partir daí, a Igreja
abandonou completamente a postura de ignorar a Bruxaria: pelo contrário, não acreditar
na sua existência era considerada a maior das heresias. Iniciou-se então um período de
duzentos anos de terror, conhecido entre os bruxos como "Era das Fogueiras". Mas os
bruxos (e também os hereges e inocentes: doentes mentais, homossexuais, pessoas
invejadas por poderosos, mulheres velhas e/ou solitárias) não pereciam só em fogueiras:
eram também enforcados e esmagados sob pedras. Isso quando não pereciam nas
torturas, as quais são tão cruéis e sádicas que não merecem nem ser mencionadas. A
Inquisição tornou-se uma válvula de escape para as neuroses da época: em época de
forte repressão sexual, condenavam-se mulheres jovens, que eram despidas em frente a
um grupo de 'investigadores', tinham todo seu corpo revistado diversas vezes, à procura
de uma suposta 'marca do diabo', e, por fim, eram açoitadas, marcadas a ferro e
violentadas. Terminavam condenadas e executadas como bruxas. Seu crime: serem
mulheres jovens, belas e invejadas. Anciãs que moravam sozinhas, geralmente em
companhia de alguns animais, como gatos (daí a lenda da ligação dos gatos com as
bruxas), eram alvo de desconfiança e logo declaradas 'feiticeiras', e, assim, assassinadas.

A maioria das vítimas dos tribunais de Inquisição não eram verdadeiros praticantes da
Arte, mas muitos bruxos pereceram na mão dos cristãos. Aproximadamente nove
milhões de crimes como este foram cometidos durante a Inquisição, ironicamente em
nome de uma religião que se dizia 'de amor'. Nunca uma religião demonstrou tanta
necessidade de exterminar seus antagonistas como o cristianismo. A perseguição aos
bruxos não resumiu-se apenas ao países católicos: espalhou-se pela Europa protestante.
Os protestantes não se guiavam pelo Malleus Malleficarum, mas davam razão à sua
paranóia através do uso de uma citação do Antigo Testamento: "não deixarás que
nenhum bruxo viva". Na Era das Fogueiras, os praticantes da Antiga Religião adotaram
o único comportamento que lhes possibilitaria a sobrevivência: "foram para o
subterrâneo", ou seja, mantiveram o máximo de discrição e segredo possível. A
sabedoria pagã só era passada por tradição oral, e somente entre membros da mesma
família ou vizinhos da mesma aldeia. Como técnica de proteção, os próprios bruxos
ajudaram a desacreditar sua imagem, sustentando que a Bruxaria não passava de lenda,
ou disseminando idéias de bruxos como figuras cômicas e caricatas, dignas de pena e
riso. Por volta do final do século XVII, a perseguição aos bruxos foi diminuindo
gradativamente, estando virtualmente extinta no século XVIII. A Bruxaria parecia,
finalmente, ter morrido. Mas os grupos de bruxos ("covens") resistiam, escondidos nas
sombras. Algo que surgiu nos primórdios da humanidade não morreria assim tão
facilmente.

Daniel Pellizzari - texto retirado da internet

Um tratado sobre iniciações


Uma colaboração de Ausonia Klein, mestra de Reiki

O ser humano, em sua evolução, ampliou sua sensibilidade em relação aos


segredos da Natureza. Alguns destacaram-se pelo grau de conhecimento
conseguido através desta percepção, passando a transmiti-los a todos que
manifestavam interesse em adquiri-los, sem discriminação. Assim, os
conhecimentos adquiridos por alguns, foram utilizados de forma extremamente
egoísta e em benefício próprio, utilizando a Sabedoria recebida, para tirar
vantagens físicas e materiais.

"O conhecimento gera o Poder. O conhecimento absoluto o Poder absoluto". Por


estas razões,os Mestres limitaram os conhecimentos a serem proporcionados às
pessoas em geral. O acesso aos Mistérios, tornou-se uma prática que deu início às
chamadas Iniciações. As Iniciações como nos ensina Helena Blavatsky são
cerimônias de Mistérios, mantidas ocultas dos profanos e dos não Iniciados. Para
Platão, as Iniciações são a conquista progressiva dos estados de consciência. No
livro de Job lemos que, há uma alquimia espiritual e uma transmutação física e o
conhecimento de ambos nos é comunicado nas Iniciações. Para os Neo Platônicos
ela é a união da parte com o Todo. A harmonização, é uma das chaves para que
ocorra o equilíbrio físico, mental e espiritual necessários ao iniciante.As energias
que se apresentam em todas as Iniciações, se manifestam sempre,conforme relatos
dos iniciados, como chispas luminosas, luzes encantadas, símbolos dançantes
multicoloridos, que são vistos, ouvidos ou sentidos.

Segundo alguns ocultistas,as primeiras iniciações começaram com Rama, há 4 ou 5


mil anos A.C. o sacerdote da antiga Citia na Ásia, Rama foi um rei espiritual do
planeta Terra, o Inspirador da Paz e o primeiro legislador a interligar a vida
humana, ao ciclo das estações do zodíaco. Para E.Schure, Rama foi quem primeiro
fixou os signos do Zodíaco. Desta forma Rama nos legou as Doze Primeiras
Grandes Iniciações,os Doze Passos do Zodíaco, que o ser humano tem que
percorrer passo a passo, para melhor dominar seus instintos, emoções, purificar
pensamentos, palavras e ações, conscientizar em si a ilusão da separatividade,
para exercer a regra máxima da purificação do Iniciante, a "Primeira Pedra do
Templo da Sabedoria ",o Silêncio. Os Mistérios de Samotracia seguem os seguintes
Passos: a purificação, a recepção,a revelação,a amizade e a comunicação com
Deus. A Iniciação Egípcia tem por maior Passo, a pergunta feita ao adepto antes de
ser admitido nos Mistérios: "Conheceis quem sois?"

Em Menfis no Egito,os Passos do iniciante são os das 7 virtudes morais. Na


Iniciação à Esfinge um dos Sagrados Passos é o da revelação do único e verdadeiro
atributo humano - SER. A Iniciação ao Pentágono consiste na reforma ou
sublimação interior do Homem pelas lutas interiores. A Iniciação de Cagliostro se
dirige ao espírito, à energia, abnegação, confiança no futuro, a glorificação de Deus
em Si. A Iniciação Maçônica (Sabedoria-ciência das coisas), em seu rito francês
assinala que quem deseje realizar os Mistérios, terá que viajar só, sem temor,
purificado pelo fogo, água e ar."Por ter vencido o medo e a morte e preparado sua
alma para receber a luz,terá direito de sair do seio da terra e ser admitido na
revelação dos grandes Mistérios". Das Iniciações realizadas no antigo Egito, Grécia,
Roma, podemos lembrar algumas que ainda hoje são realizadas em locais
sagrados:os Sete Atributos da Lira de Apolo, os Sete Oceanos, os Mistérios de
Eleusis, de Samotracia, Órficos, Ceres, de Baco, a Sagrada Iniciação dos Trinta e
Dois Caminhos do Sepher Jetzirah (O Livro Sagrado da Sabedoria Secreta), os Vinte
e Dois Caminhos Secretos da Letras do Sagrado Alfabeto Hebreu, as de Isis, Osiris,
Horus e as do Sagrado Sol Central, que desde a época do continente Mu, são em
número de quatro:

1) a do Sol Central ou Sol Perfeito;


2) o Sol Poder da Suprema Inteligência;
3) O Sol Visível;
4) O Mistério do Espírito e da Palavra.

A Sagrada Iniciação Budista nos declara em um dos seus Mistérios:

"Sendo um, se torne múltiplo, sendo múltiplo, volte a ser único, podes aparecer e
desaparecer sem encontrar resistência, passar através das paredes,montanhas,
como se fosses ar, se fundir com a terra e emergir dela como se fosses água,
caminhar sobre a água sem que ela se abra como se fosses terra, atravessar os
ares, tocar com tuas mãos o Sol e a Lua, astros poderosos e maravilhosos e com
seu corpo, chegar até o mundo de Brahma."

Outras Iniciações como o Yoga Hindu da revelação, os Mantras Védicos, os


Upanishad iluminam a mente para a Verdade Brahmanica do Homem e Deus, dos
Deuses e Mantras. O Conhecimento Divino das forças Supremas de Luz, Agni,
Indra, Soma, o mito de Angiras entre tantos, nos lêvam a uma prosternação e
como nos diz Sri Aurobindo, "a verdade, a retidão, a imensidade dos Vedas, nos
conduzem à Plenitude e a Imortalidade". Iniciar, de acordo com E. Alfonso,
fundador da Escola de Iniciação Filosófica é realizar no ser humano, a transmutação
da consciência humana em Divina, e todas as Iniciações Indianas nos conduzem à
essa transmutação. Não podemos deixar de mencionar a Sagrada Iniciação do SHRI
CHAKRA, contido no texto do Bhavana Upanishad, que nos conduz ao nosso próprio
centro e à obter os dons divinos da Generosidade, da Vontade da Consciência
Cósmica entre tantos outros, que nos são fornecidos pelos Mestres Rishis, Sadus e
Yogas, etc. As Iniciações Reikianas, redescobertas pelo Dr. Mikao Usui no século
passado, formas tão puras e simples de sutil canalização energética, são realizadas
pelos mestres, através do dom divino da energia do Amor. Transformando,
religando, purificando, transmutando energeticamente o ser humano, desenvolve
em cada um, a sua própria Mestria.

As iniciações reikianas, concedem uma maior consciência e capacidade para que,


possamos nos assumir integralmente. Alinhando mente, corpo e espírito aos
Princípios Constitutivos do Homem, nos torna uno com o Universo e assim, como
um canal energético, auxiliamos "a cada Ser a tomar para si,a cura que necessita"
(Dr. Mikao Usui). A obtenção do conhecimento do "Eu Deus", do Amor ao Eu
Superior, ao Deus em Nós, nos torna harmoniosamente sintonizados com o
Universo-Amor-Unicidade-Deus, graças à Iniciação em Reiki. Em todos os processos
iniciáticos, uma verdade é comum à todos, a religação com o Uno, o AMOR, a
conscientização de que devemos realizar em nós o Divino. Manter, sempre em
permanente estado de vigília, todos os nossos centros (Gurdijeff), faz parte dos
caminhos iniciaticos dos adeptos. A reverberação contínua do Eu Sou, a Sagrada
Atenção, o Silêncio, são os Mistérios Maiores da Unicidade divina contida nas
Iniciações. Todos o Passos, Mistérios, terão que ser percorridos dentro de nós, para
que possamos ser iniciados,"Não chegarás ao Caminho se não te converteres no
Caminho".

Lembrarmos sempre que todos os Grandes Iniciados, Jesus, Buddha, Lao-Tse,


Orfeu, Krishna, Moisés, Hermes, e tantos mais, realizaram o Divino no Humano.
Eles são as verdadeiras encarnações do Verbo, os Mediadores da Consciência
Cósmica Universal, pois transcenderam todos os estados de consciência para
realizarem a Vontade Divina do Sagrado Único - O AMOR

Meditações da Lua

A Deusa da Lua possui três aspectos: crescente, é donzela; cheia, é a Mãe; minguante é
a anciã. Parte do treinamento de cada iniciado implica períodos de meditação sobre a
Deusa em seus vários aspectos. Abaixo segue uma meditação para cada um dos três
aspectos da lua.

MEDITAÇÃO DA LUA CRESCENTE

Concentre-se e centre-se. Visualize uma lua crescente cor de prata, que se curva para a
direita. Ela é o poder daquilo que inicia, do crescimento e geração. Ela é tempestuosa e
indomada, como as idéias e planos antes de serem equilibrados pela realidade. Ela é a
página em branco, o campo não semeado. Sinta as suas próprias possibilidades
escondidas e potenciais latentes; seu poder para iniciar e crescer. Veja-a como uma
menina de cabelos prateados correndo livremente pela floresta sob a lua delgada. Ela é
virgem, eternamente não penetrada, a ninguém pertencendo, exceto ela mesma. Invoque
seu nome, "Nimuël", e sinta poder dentro de você.

MEDITAÇÃO DA LUA CHEIA

Concentre-se e centre-se e visualize uma lua cheia. Ela é a mãe, o poder de realização e
de todos os aspectos da criatividade. Ela nutre aquilo que foi iniciado pela lua nova.
Veja-a abrindo os braços, os seios abundantes, o ventre desabrochando em vida. Sinta
seu próprio poder de nutrir, dar, tornar manifesto o que é possível. Ela é a mulher
sexual; seu prazer na união é a força motriz que sustenta toda a vida. Sinta o poder em
seu próprio prazer, no orgasmo. Sua cor é o vermelho do sangue, que é vida. Invoque
seu nome "Maril" e sinta sua própria capacidade de amar.

MEDITAÇÃO DA LUA MINGUANTE

Concentre-se e centre-se. Visualize uma lua minguante, que se curva para a esquerda,
envolta pelo céu escuro. Ela é a anciã, a velha que ultrapassou a menopausa, o poder de
terminar, da morte. Todas as coisas devem terminar a fim de suprir os seus inícios. O
grão que foi plantado deve ser cortado. A página em branco deve ser destruída, para que
a obra seja escrita. A vida se alimenta da morte; a morte conduz à vida e, nesse
conhecimento, encontra-se a sabedoria. A velha é a mulher sábia, infinitamente velha.
Sinta a sua própria idade, a sabedoria da evolução armazenada em cada célula do seu
corpo. Conheça o seu próprio poder para terminar, para perder assim como ganhar, para
destruir aquilo que está estagnado e decadente. Veja a velha em seu manto negro sob a
lua minguante; invoque seu nome "Anul" e sinta seu poder em sua própria morte.

A Dança Cósmica das Feiticeiras


STARHAWK

Concentração Mental

Concentração Mental Quando pensamos, emitimos ondas a espraiar-se pelo espaço.

Mediante um processo natural de sintonia, de freqüência de nossa onda mental atua em


outras que lhe são equivalentes, estabelecendo uma sincronia de forças.

Espírito encarnados ou desencarnados, situamo-nos em faixas vibratórias oscilantes, que


são as conseqüência das nossas criações mentais habituais.

Da média aritmética do nosso tipo de onda mental, pode-se estabelecer o clima psíquico
de cada um. Para o intercâmbio espiritual, os Espíritos Benfeitores situam as Entidades
comunicantes na onda vibratória do pensamento de sensitivo, do que decorre a ativação
dos mecanismos mediúnicos, gerando as comunicações de múltiplos aspectos, conforme
a área alcançada.

Quando solicitamos concentração dos cooperadores, pedimos que as mentes


sincronizem no dinamo gerador de forças, que é a Divindade, a fim de podermos
catalisar as energias mantenedoras do ministério mediúnico.
A média que resulta das fixações mentais dos membros que constituem o esforço da
sessão mediúnica, oferece os recursos para as realizações programadas.

A concentração individual, portanto, é alta relevância, porque a mente que sintoniza


com as idéias superiores, vibra em freqüência elevadas.

Quem não é capaz de manter-se no mesmo clima de vibração, produz descargas


oscilantes sobre a corrente geral, que se desarmoniza, à semelhança da estática que
perturba a transmissão da onda sonora nos aparelhos de rádio.

Indispensável criar-se um clima geral de otimismo, confiança e oração, o que produz à


produção de energias benéficas, de que se utilizam os Instrutores desencarnados para as
realizações edificantes no socorro espiritual.

A concentração é, pois, fixação da mente nua idéia positiva, idealista, ou na repetição


meditada da oração que edifica, e que, elevando o pensamento às fontes geradoras da
vida, dá e recebe em reciprocidade descargas positivas de alto teor de energias
santificadoras.

Concentrar é deter o pensamento em alguma coisa, fenômeno a principio, de natureza


intelectual, em breve se torna automático pelo hábito, consoante ocorre nas pessoas
pessimistas, enfermiças ou idealistas, e que por um processo de repetição inconsciente
mantém sempre o mesmo clima psíquico, demorando-se nas províncias do pensamento
de lhes atrai.

Com o esforço inicial, com os exercícios em continuação, e com a disposição de acertar,


criar-seão as condições positivas para êxito de uma concentração feliz; facilitando, desta
forma, as comunicações espirituais que se sustentam nessas faixas de vibrações.

Exercício do Sol

(Por Nair Cortijos)

Eleve seu pensamento e estabeleça uma conexão amorosa com seus amparadores.

Visualize à sua frente um corredor muito iluminado.

Percorra este corredor e ao caminhar, perceba que a luz vai ficando mais intensa.
Visualize, ao final deste corredor, uma enorme esfera de luz dourada, viva e
incandescente. Esta esfera é o Sol.

Entre no Sol e sinta todo seu esplendor! Transforme-se totalmente em Sol,


transbordante de luz! Comece a irradiar este brilho intenso por todos os seus poros.

Junto com os raios luminosos, irradie também muito sentimento. Faça isto por um
tempo. A seguir, visualize à sua frente o planeta Terra, bem menor do que você.

Então, como o Sol, irradie luz e amor para todo o planeta. Perceba o movimento da
Terra à sua frente. Assim, ela pode receber a luz que você está irradiando em toda sua
extensão. Faça sua luz chegar igualmente a todos, sem importar-se com as fronteiras dos
países, cor de pele, classe social ou religião. Continue emanando luz e amor por um
tempo. Sempre que você puder, faça isto. O planeta está carente de luz. Há tantos
hospitais, tantas prisões e tanta dor... Há tantas pessoas doentes do corpo e tantas
doentes da alma...

Faça você mesmo a diferença e seja um Sol em seu trabalho, em sua casa, em todos os
lugares!

Irradie luz e amor anonimamente a todas as pessoas, pelo simples fato de que em todas
elas, você encontrará a mesma essência que há em você, a essência de Brahman*!

Agradeça pelo Sol de todo dia. Agradeça as constantes oportunidades de crescimento.

E por fim, agradeça aos amparadores por tanta ajuda, tanta paciência e tanto amor...

Paz e Luz a você!

(12/10/98)

* Brahman (do sânscrito): Deus; O Todo; O Absoluto; Grande Arquiteto do Universo.

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