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Introdução Ao Asatru
Introdução Ao Asatru
A menos de mil anos atrás os antigos sábios da Islândia tomaram uma decisão.
Sob pressão política da Europa cristianizada e enfrentando a necessidade de comércio, a
assembléia nacional declarou a Islândia como sendo um oficialmente um país cristão.
Dentro de poucos séculos os últimos remanescentes do Paganismo Nórdico, acabaram
morrendo. Contudo, a Islândia era um país tolerante e os mitos, estórias, e lendas da era
pagã felizmente não foram queimados, e com isso, acenderam o fogo das crenças pagãs
em gerações posteriores. Em 1972, depois de uma longa campanha feita pelo poeta e
Godhi (Sacerdote) Sveinbjorn Beinteinsson, a Islândia novamente reconheceu o
paganismo nórdico como uma religião legitima e legalizada.
Os Valores do Asatru
Os deuses de Asgard
Os Principais Deuses
Os Deuses mais importantes são Odin, Thor e Frey, que representavam as três
classes da antiga sociedade: os Reis, os Guerreiros, e os Fazendeiros.
FREY - Frey é o Deus da paz e fertilidade. Ele é um Deus Vanir, mas vive com
os Aesir para assegurar o tratado de paz.. Era o Deus cultuado pelos camponeses e
fazendeiros, que lhe faziam oferendas para que a fertilidade da Terra fosse mantida
durante o ano. A palavra "frey" significa "Senhor", por isso não se tem certeza se era o
nome do Deus ou era um titulo. Ele também era conhecido como Ing ou Ingvi, por isso
alguns o chamam de Frey Ingvi.
LOKI - Ele é o Deus do Fogo, também conhecido por sua inteligência, suas
artimanhas, e suas brincadeiras que causam problemas à Asgard. Ele é aquele que causa
o problema e fica rindo de fora, e depois arruma a solução, é o tipo de cara que aprecia
uma boa travessura. Ele é aquele que adora falar o que todo mundo sabe que é verdade,
mas ninguém tem coragem de dizer bem alto e direto. Sua maior façanha e a mais
conhecida é ter conseguido matar Balder. Balder era o Deus mais bonito e amado entre
os Deuses e uma das suas virtudes era que nenhum material do mundo poderia feri-lo,
com a única exceção do visco que foi considerado tão fraco e pequeno para ser uma
ameaça. Assim, Loki pegou o Deus Cego Hod e colocou um dardo feito de visco na sua
mão e o guiou para lança-lo. O dardo pegou em Balder, causando assim sua morte. Com
a morte de Balder, Loki se uniu aos gigantes e as legiões do caos e declarou guerra aos
Deuses, assim começando o Ragnarok. Muitas vezes essa lenda é mal interpretada e
com isso Loki acaba sendo visto como o "demônio nórdico", isso é um conceito
errôneo. Ignorar Loki, seria ignorar o irmão de sangue de Odin, o companheiro de
aventuras de Thor, o provedor de muitos dos benefícios dos Deuses e aquele que destroi
o mundo para que ele seja reconstruído das cinzas. Isso é uma parte do ciclo, assim
como está na Edda: "Cattle die, and men die, and you too shall die..." (O gado morre, os
homens morrem, e você também deve morrer...)
TYR - Embora raramente seja lembrado nos dias de hoje entre os Deuses mais
populares, Tyr é extremamente importante. Ele é o Deus da guerra, da justiça e da
nobreza. O mito mais importante envolvendo Tyr mostra tanto bravura quanto honra.
Ele perdeu sua mão para que o Lobo Fenris pudesse ser capturado pelos Deuses.
SKADI - É a Deusa do Inverno e da caça. Ela casou-se com Njord, Deus dos
Mares, porque acabou se confundindo no concurso de pés mais bonitos. Ela queria se
casar com Balder, por isso seu casamento não era tão feliz. Ela também é a Deusa da
Justiça, Vingança, e da Cólera Justa
Existem muitos outros Deuses dentro do panteão nórdico: Hel, Deusa da morte;
Sif , Deusa da Colheita; Bragi, o bardo e poeta dos Deuses; Idunna, Deusa da
Juventude; Vidar and Vali, Filhos de Odin; Magni and Modi, Filhos de Thor; Eostre,
Deusa da Primavera, Hoenir, o mensageiro dos Aesir; Sunna and Mani, o Sol e a Lua;
Ullr, o Deus da caça; and Nerthus, Deusa do Mar e dos Rios, etc.
Os Festivais do Asatru
Os Rituais do Asatru
Sacrifício
A oferenda não é só abençoada pela força dos Deuses, mas também "passou bela
lingua" das divindades. Esse tipo de ritual pode até parecer simples, mas é uma
poderosa experiência.
Libação
Uma das celebrações mais comuns dentro do Asatru e também dentro das outras
religiões pagãs. A libação é mais simples e social do que o sacrifício, mas a sua
importância não é menor.
Juramento
Segure um objeto (pode ser qualquer coisa uma pedra, um pingente, mas o mais
recomendado é um anel) e parado na frente do Altar, diga: "Eu [nome], juro pelo
símbolo do martelo sempre honrar a bandeira de Asgard e seguir o caminho do norte,
agindo sempre com honra, coragem e responsabilidade, fiel aos Aesir e Vanir! Que esse
anel (ou outro objeto) seja o símbolo da minha aliança com os Deuses!"
Depois do ritual pode ser feita uma libação com nove rodadas dedicadas aos
nove valores do Asatru.
Esse ritual não deve ser realizado sem antes ter absoluta certeza do que você está
fazendo. Quando alguém faz um juramento, deve segui-lo por toda a eternidade. Quem
não cumpre seus juramentos, seja em qualquer aspecto da vida, no trabalho, na família,
nas amizades, não merece respeito, pois não passa de um covarde.
Em diversos momentos dos últimos 150 anos, os eruditos têm postulado uma
variedade de origens para as runas. Uma das teorias advoga que elas sejam originárias
da migração para o norte da escrita cursiva grega. Outra, que sejam baseadas no alfabeto
latino, o que, pelo menos, tem mérito de destacar algumas similaridades superficiais nos
formatos das letras, especialmente quando consideramos que as formas angulares das
runas provêm do fato de serem talhadas e não escritas. Se fossem uma escrita de caneta
e tinta, as semelhanças poderiam aumentar dramaticamente. A teoria citada com maior
freqüência defende que as runas derivam de um alfabeto itálico do norte. Com certeza,
quando a evidência arqueológica é levada em conta, isso parece ter alguma veracidade.
Existem ainda outras idéias menos definidas que precisam ser exploradas. As runas
apresentam também uma forte semelhança com vários símbolos do hallristningar, os
símbolos do culto pré-histórico usados pelos povos setentrionais e registrados em
gravuras em rochas. E não importa qual seja a origem das runas, existem a debatida
questão sobre quem foi a primeira pessoa que realmente utilizou a escrita. Teria sido
desenhada por uma comissão ou teria sido criada como obra de um único indivíduo
inspirado? Provavelmente nunca saberemos e isso, por si só, aumenta o poder e o
mistério da escrita rúnica.
A Díada
"O número dois tem princípio nele mesmo, mas não se origina de si mesmo" (Os
Números). É impossível se produzir dois de um e se algo se separa dele pela
violência, só pode ser ilegítimo e uma diminuição de si mesmo. Mas esta diminuição
é aquela do âmago do ser, pois de outra forma, este seria apenas um. A diminuição
feita no âmago é realizado no meio do ser, pois dividir qualquer coisa ao meio é
cortá-la em duas partes. Esta é a verdadeira origem do binário ilegítimo.
"Mas a diminuição em questão não torna a unidade menos completa, pois esta não
é suscetível a nenhuma alteração; a perda recai sobre o ser que procura atacar a
unidade. Portanto, o mal é estranho à unidade. Mas o centro, sem sair de seu valor,
é removido para corrigi-lo por que há algo de si mesmo no ser diminuído. Desta
forma, podemos entender não só a origem do mal, mas também que ele não é um
poder hipotético, já que todos nós o tornamos real em quase todos os momentos
de nossa existência" (Os Números).
"As virtudes inatas das formas corpóreas foram projetadas para conter este poder
perverso e quando o homem permite que as virtudes que existem em seu corpo
sejam enfraquecidas por esta vontade vil e criminosa, os poderes perversos
assumem o controle e atuam na destruição daquele corpo" (Obras Póstumas).
A Tríade
"O Número Três não deriva seu princípio de si próprio e nem mesmo tem um princípio"
(Os Números). As observações a respeito deste número são dispersas e obscuras,
incluindo referências vagas a uma lei temporal da trindade, da qual a lei temporal da
dualidade depende completamente. "Na ordem divina, 3 é a Santíssima Trindade, como
4 é o ato de sua explosão e o 7, o produto universal e a imensidão infinitas que
resultaram das maravilhas desta explosão" (Corresp. Teosófica, carta LXXVI).
"O número três nos é revelado só através dos 12 unificados, como o 4 é por nós
conhecido apenas pela sua explosão ou multiplicação por 7, que nos dá 16, e como 7,
que é a soma deste 16 (1+6 = 7), descreve a nossa supremacia temporal (3) e espiritual
(4), ou a imensidão de nosso destino, como humanos" (Corresp. Teosófica, carta
LXXVI). O número três atua na direção das formas nas esferas celeste e terrestre; isto é,
sendo ternário, em todos os corpos, o número dos princípios espirituais. "Todos os
nomes e símbolos que recaírem neste número pertencem às formas, ou devem ter algum
efeito sobre as formas" (Os Números). Acima do celeste, foi o pensamento da
Divindade que concebeu o projeto de produzir este mundo, e assim o fez de forma
ternária, porque esta era a lei das formas, inata ao pensamento divino.
O Três é, também, o número das essências ou elementos dos quais os corpos são
universalmente compostos. Por este número, a lei que dirige a formação dos elementos
é expressa e os elementos são resumidos a três, por Saint-Martin, baseado no fato de
que há apenas três dimensões, três divisões possíveis de qualquer coisa sensória, três
figuras geométricas originais, três faculdades inatas em qualquer ser, três mundos
temporais, três níveis na Maçonaria, e como esta lei da tríade demonstra a si mesmo
universalmente, de forma tão clara, é razoável supor que o três também está no número
dos elementos que são a base de qualquer corpo.
"Se o número três é imposto a tudo que é criado, é porque ele imperava em suas
origens" (Obras Póstumas). "Se tivessem havido quatro, ao invés de três elementos, eles
teriam sido indestrutíveis e o mundo eterno. Sendo três, eles são esvaziados da
existência permanente, porque eles não têm unidade, como fica claro para aqueles que
conhecem as verdadeiras leis dos números" (Dos Erros e da Verdade).
"A razão, qualquer que seja ela, parece conflitar com outra afirmação de que pode
haver três em um, numa Trindade Divina, mas não um em três, porque aquilo que é um
em três deve estar sujeito no fim, a morte" (Dos Erros e da Verdade). "O três não é só o
número da essência e da lei que dirige todos os elementos, mas também, as suas
incorporações" (Dos Erros e da Verdade). "Ele é, finalmente, um número mercurial
terrestre que representa a parte sólida dos corpos, em correspondência simbólica com
a alma (sêxtuplo) dos animais, do qual é o primeiro produto e o de todos os princípios
intermediários de todas as classes" (Obras Póstumas).
A Pentada
"É dito que 2 se torna 3 pela sua diminuição, 3 se torna 4 pelo seu centro, 4 é
falsificado pelo seu centro duplo, que perfaz 5; e 5 é restringido pelos números 6, 7, 8,
9, 10, que formam os corretores e retificadores da péntada maléfica" (Os Números). O
número também se liga ao que Saint-Martin nos diz a respeito da aplicação dobrada de
todos os números. Números verdadeiros sempre produzem, invariavelmente, a vida, a
ordem e a harmonia. Portanto, eles sempre agem a favor e nunca são negativos, mesmo
quando servem de açoites da justiça, castigando para reparar o mal.
Ao passar pela mutação em seres livres, o caráter dos números é assim transformado,
porque são outros números que tomam os seus lugares, enquanto que as suas
prerrogativas originais permanecem sempre as mesmas em suas essências.
As virgens sábias concebiam apenas através de seus maridos e quando elas se uniam a
eles, elas não eram mais 5, mas sim 10, já que cada uma se unia a um deles. Ou então,
eram 6, se o marido for representado apenas por 1 (por uma idéia, um princípio).
Portanto, as outras 5 virgens são tão limitadas e insignificantes nos seus verdadeiros
números que, incapazes de renovar seu óleo, são forçadas a se refugiar na prudência e a
acertar as contas com a caridade, que pode ser encontrada apenas nos números
vivificadores, cuja força flui do núcleo do amor.
Entretanto, devemos distinguir entre os números falsos quando são empregados para
realizar a reintegração e quando estão perpetuando suas próprias injustiças. Neste caso,
eles são totalmente entregues a si mesmos e separados da verdade. Mas ao serem usados
como instrumentos de reintegração, seres verdadeiros assumem as suas formas e caráter
para descender às suas regiões infectas.
"Ao assumir as formas destes números falsos, estes outros Seres as corrigem,
relacionando-as aos números legítimos, assim opondo o verdadeiro ao falso. Desta
maneira, estes Seres também produzem a morte da morte" (Os Números).
A Héxada
Este Número é a forma pela qual cada operação se realiza. Não é um agente individual,
mas possui uma afinidade com tudo aquilo que age e nenhum agente realiza qualquer
ação sem passar por este número. O seis é a correspondência eterna da circunferência
divina com Deus. Por este motivo, Deus que tudo cria, abarca e tudo circunda.
Os 24 anciãos do Apocalipse são iguais a 6, que é por assim dizer: 1, 3, 4, 7, 8, 10. Estes
números somados formam 33, incluindo o zero - que é a imagem e evidência das
aparições corpóreas. Mas eles somam 24 sem o zero. Portanto, estes seis números
sozinhos são reais e imateriais, agiram e agirão eternamente. E isto é o mesmo que dizer
que há eternamente dois poderes: aquele de Deus e aquele do Espírito.
O seis foi ultrajado nas várias prevaricações que fizeram com que o Reparador descesse
a esta Terra; foi necessário que ele viesse reparar aquela realidade. Por esta razão, ele
transformou a água, contida nos 6 jarros no casamento de Canaã, em vinho.
"Não é menos verdade que a héxada, sendo apenas a forma de atuação de todas as
coisas, não pode ser vista, precisamente, como um número ativo e real, mas sim como
uma lei eterna impressa em todos os números. Também sendo aquilo sobre o que o
homem tinha o domínio, originalmente, e sobre o que ele irá governar novamente,
depois da sua Reintegração" (Os Números).
Finalmente, o número 2 opera na héxada de formas que são apenas uma adição passiva
dos dois princípios (Deus e o Espírito). A raiz destes é dois e é também o agente de suas
formas e sensações pela multiplicação de seus próprios elementos.
A Hêptada
"O Número do setenário espiritual significa o próprio Poder Divino" (Obras Póstumas).
Este é o número das formas universais do Espírito; o seu fruto sendo encontrado nos
seus múltiplos. O quadrado de 7, é 49, é portanto o 7 em desenvolvimento, enquanto
que em sua raiz, é o 7 concentrado. Esta explicação se faz necessária antes de
prosseguir, para chegar ao 8, que é o espelho temporal do invisível incalculável denário
(série de dez). Enquanto passa de 7 à 8, através da grande unidade com a qual se reúne,
ele também passa de 49 ao 50, através da mesma unificação com a unidade. E leva o
elemento quaternário da alma humana à sua integração ao faze-lo transcender e abolir o
caráter de 9 (novenário) das aparências, que é o nosso limite e a causa de nossas
privações.
"Isto demonstra que 5 é igual a 8 e que 8 é igual a 5, na grande maravilha que o Divino
Reparador produziu para nós, para que possamos nos regenerar" (Corresp. Teosófica,
carta XC). Obs.: Nesta carta, Saint-Martin afirma que esta revelação foi feita
diretamente para sua inteligência; e que não se originou de nenhum homem .O sete é
produto de uma única operação: 4 x 4 = 16 = 1+ 6 (redução teosófica) = 7.
"A hêptada é ao mesmo tempo o número do Espírito, por que se origina do Divino e
perfaz 28, na contagem de seu poder duplo contrário ao poder lunar. Deveria ser
notado que o número 28 indica que a Palavra não se realizou, até a segunda
prevaricação. Mas estas são simples palavras, porque 7 vindo de 76 não é raiz
(redução teosófica), nem é o poder fundamental de 4, pois penetra na raiz apenas
através da adição" (Os Números).
A Ôctada
É apenas depois do quadrado do Espírito se haver completado, que a ôctada pode ter
lugar. Enquanto que o seu trabalho pode ser conhecido claramente apenas através do
número 50, porque daí o número da injustiça e o número da matéria são dissipados pela
influência vivificadora e regeneradora da Unidade que as substitui. Ao que tange a
Unidade Absoluta, ou o Pai, ninguém nunca viu, ou O deverá ver neste mundo, exceto
pelas oitavas e por meio da ôctada, as únicas formas de alcança-lo.
Cristo é trino em seus elementos de atuação, assim como em seus fundamentos Seu
número é 8, e sua extração mística nos mostra que em seu trabalho na Terra ele foi de
uma vez só divino, corpóreo e perceptível. Apesar de ser, ao se considerar sua ordem
eterna, divino em seus três elementos. Ele era o caminho, a verdade e a vida. Era
necessário que ele compreendesse em si mesmo o divino, uma alma sensória e o
corpóreo, para atuar aqui embaixo, na esfera perceptível.
Toda a criação - porque mesmo o nosso pensamento não pode ser manifestado se não
estiver associado ao nosso invólucro individual mais grosseiro - não pode ser
manifestado sem a mediação de uma ligação material individual. Por isso, o Divino
Reparador não poderia estar associado à sua Natureza corpórea (Cristo), senão através
de uma alma sensória. Esta alma O investe do número 4, seu Ser Divino é representado
pelo número 1 e seu corpo pelo número 3.
Em nós, a alma divina é representada pelo número 4, o corpo pelo 9, enquanto que
Saint-Martin afirmava que o número de nossa alma sensória era por ele desconhecido.
Mas ele tinha razão ao pensar que fosse o mesmo do Salvador, porque em todos os
outros elementos semelhantes aos nossos, que ele possuía, ele invariavelmente detinha
números superiores.
A chave do homem consiste nesta alma sensória; através desta é que ele é integrado à
sua natureza sensória, ou animal e corporal. Mas como ele não é posto nesta prisão de
livre e espontânea vontade, como Cristo o foi, não pode ser esperado do homem
conhecer as chaves que o trancam. Saint-Martin pensava, no entanto, que este número
correspondia ao seis.
A Eneáda
Nove é o número de todo limite espiritual, como a circunferência material é o limite dos
princípios elementais que lá agem. Portanto, o nove representa o curso de todas as
expiações infringidas à humanidade, pela justiça divina. O homem decaiu ao querer
avançar do 4 ao 9 e apenas pode ser restaurado ao voltar do 9 ao 4.
Esta lei é terrível, mas não é nada se comparada com aquela do número 56, que é
assustador para quem o encara, já que eles não podem chegar aos 64, até terem
atravessado todas as suas provações. A passagem do 4 ao 9 é a passagem do espírito
para a matéria, que em dissolução, de acordo com os números, perfaz 9. A respeito da
lei do 56, esta depende do conhecimento das propriedades e condições do número 8, que
foram parte da luz obtida por Saint-Martin por meio de sua iniciação, não sendo
explicadas em maiores detalhes. "Mas é sabido que os criminosos permaneceram no
número 56, enquanto que os justos e purificados chegarão ao 64, ou à Unidade"
(Corresp. Teosófica, carta XIII).
A Década
Pela união do setenário espiritual e do ternário temporal, obtemos o tão famoso denário,
que está sempre presente nos pensamentos de um Iniciado. Como uma imagem da
Divindade em si mesmo, a década (ou série de dez), realiza a Reconciliação de todos
seres ao fazê-los retornar à unidade.
"O denário temporal é formada de dois números, o 3 e o 7, mas o seu caráter está
diretamente relacionado à unidade e não está sujeito a qualquer divisão ou substração"
(Obras Póstumas).
"Quando os números são ligados à década, nenhum deles apresenta qualquer traço de
corrupção ou deformidade; sendo que estas características se manifestam apenas em
suas separações. Entre os números com estas características específicas alguns são
totalmente maus, como 2 e 5, que sozinhos são capazes de dividir a série sagrada de
dez. Outros, estão num processo ativo, de sofrimento ou cura, como acontece com o 4,
o 7 e o 8. Outros ainda são dados apenas pela sua aparência, como o 3, o 6 e o 9. Mas
nada disto é visto na série completa de dez, porque naquela ordem suprema não há
deformações, ilusões, ou sofrimentos" (Os Números).
A Métrica de Saint-Martin
Saint-Martin via a poesia profética como pertencente à primeira ordem, porque era
derivada do primeiro princípio da inspiração e emoção. Para ele, o verdadeiro tema da
poesia é a lei divina em todas as categorias às quais ela se aplica e não o amor humano e
ainda menos a natureza material, como queriam muitos poetas e artistas de sua época.
Portanto, ele encarava a maioria da poesia épica e lírica como uma impertinência, um
desvio. A respeito da métrica dos versos, ele postula um axioma que é muito
característico, pois, como muitas opiniões de Saint-Martin, nunca haviam passado pela
concepção de outros homens. "A música suprema não tem métrica e a poesia pertence a
esta classe." (Obras Póstumas). O que é muito mais do que dizer simplesmente que, a
poesia deveria ser avaliada mais pelo seu conteúdo, do que pela sua forma. Estas duas
perspectivas são, em certo sentido, impossíveis de coexistirem, ou pelo menos,
incompatíveis. Pelo menos naquela época, onde se afirmava que a palavra divina
deveria tomar uma forma divina, para ser válida e merecedora de adoração.
A Psicologia Holística
A Psicologia da Gestalt
Formulada entre fins do século passado e início do nosso século, a Psicologia dos
Padrões de Totalidade ou de Totalidades Significativas(Gestalten, em alemão)
surgiu como um protesto contra a tentativa de se compreender a experiência
psíquico-emocional através de uma análise atomística-mecanicista tal como era
proposto por Wundt - análise esta no qual os elementos de uma experiência são
reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada um destes
componentes são peças estudadas isoladamente dos outros, ou seja, a experiência
é entendida como a soma das propriedades das partes que a constituiriam, assim
como um relógio é constituído de peças isoladas. A principal caraterística da
abordagem mecanicista é, pois, a de que a totalidade pode ser entendida a partir
das características de suas partes constituidas. Porém, para os psicólogos da
Gestalt, a totalidade possui características muito particulares que vão muito além
da mera soma de suas partes constitutivas. Como exemplo, poderíamos tomar uma
fotografia de jornal é que constituída por inúmeros pontinhos negros espalhados
numa área da folha de jornal. Nenhum desses pontinhos, isoladamente, pode nos
dizer coisa alguma sobre a fotografia. Apenas quando tomamos a totalidade da
figura, é que percebemos a sua significação. A própria palavra Gestalt significa uma
disposição ou configuração de partes que, juntas, constituem um novo sistema, um
todo significativo. Sendo assim, o princípio fundamental da abordagem gestáltica é
a de que as partes nunca podem proporcionar uma real compreensão do todo, que
emerge desta configuração de interações e interdependências de partes
constituintes. O todo se fragmenta em meras partes e/ou deixa de ter um
significado quando é analisado ou dissecado, ou seja, deixa de ser um todo. Esta
escola teve como principais expoentes Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt
Koffka. Posteriormente, Kurt Lewin elaboraria uma teoria da personalidade com
base na compreensão gestáltica da totalidade significativa, onde se estipula que o
comportamento do indivíduo é a resultante da configuração de elementos internos
num "espaço vital", que é a totalidade da experiência vivencial do indivíduo num
dado momento ( ou seja, todo o conjunto de experiências que se faz sentir num
dado momento, de acordo com a percepção/interpretação do indivíduo ). Estas
idéias foram, em parte, adotadas por Carl Rogers em sua teoria da personalidade,
conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa já que é o cliente que dirige o
andamento do processo psicoterapêutico, trazendo e vivenciando o material pessoal
exposto nas sessões. Já o psicoterapeuta Frederick S. Perls desenvolveria uma
corrente de psicoterapia baseada nos fundamentos da escola da gestalt, pondo em
prática uma ação terapêutica voltada aos padrões vivenciais significativos do
indivíduo. Esta corrente é conhecida como Gestalt-Terapia.
Jan Smuts, militar e estadista inglês, que se tornou uma figura importante na
história da África do Sul, é freqüentemente reconhecido e citado como o grande
pioneiro e precursor filosófico da moderna teoria organísmica ou holística do século
XX. Seu livro seminal intitulado Holism and Evolution, de 1926, exerceu uma
grande influência sobre vários cientistas e pensadores, muito embora, na época de
seu lançamento, tenha passado quase despercebido da elite intelectual da primeira
metade do século, tendo só aos poucos ganhando seu merecido espaço nos meios
acadêmicos e filosóficos, principalmente graças ao impacto que exerceu em
pensadores e teóricos do porte de um Alfred Adler, famoso teórico da personalidade
e discípulo dissidente de Sigmund Freud; ou de um Adolf Meyer, psicobiólogo; ou
na recente e menos mecanicista linha médica, dentro da alopatia, chamada de
psicossomática, etc. Smuts cunhou o termo holismo da raiz grega holos, que
significa todo, inteiro, completo. Mas as verdadeiras bases da concepção holística,
ou do pensamento holístico, vêm verdadeiramente de muito antes, desde Heráclito,
Pitágoras, Aristóteles e Plotino até Spinoza, Goethe, Schelling, Flammarion e Willian
James (Hall e Lindzey, 1978; Crema, 1988; Guimarães, 1996).
Segundo Goldstein, o corpo e a mente não podem ser vistos como entidades
separadas, tais como separamos o software do hardware, pois ambos só se
expressam na conjunção, na união e íntima conexão de ambos. O organismo é uma
só unidade e o que ocorre em uma parte afeta o todo, como já era reconhecido
pela da medicina Homeopática e pelas artes da cura não ocidentais, como na
medicina chinesa, e na sabedoria das tradições populares e xamanísticas de povos
ditos "primitivos" (Capra, 1986; Eliade, 1997; Guimarães, 1996).
Qualquer fenômeno, quer seja positivo ou não, se passa tanto ao nível fisiológico
quanto psicológico, ou seja, se passa sempre no contexto do organismo como um
todo, a menos que se tenha isolado artificialmente este contexto, como se fez nas
ciências e nos meios acadêmicos desde Descartes, com as esferas da Res Cogitans,
que é a esfera do mental, e da Res Extensa ou a esfera do físico, e a ramificação
entre ciências naturais e ciências humanas. Ora, não existe real diferenciação (no
sentido de mensuração) entre estes dois ramos. Assim, qualquer redução ou
caracterização em um ou outro destes critérios (físico e mental) é um isolamento
artificial e, consequentemente, parcial.
Angyal criou o termo biosfera para traduzir uma concepção holística ou ecológica
que compreenda o indivíduo e o meio "não como partes em interação, não como
constituintes que tenham uma existência independente dos demais, como peças de
um relógio, mas como aspectos de uma mesma realidade, que só podem ser
separados realizando-se uma abstração" (Angyal, cit. em Hall e Lindzey, 1978, p.
43).
A biosfera, portanto, em seu sentido mais amplo seria mais ou menos como a atual
concepção de Gaia, ou da Terra viva. A biosfera pode ser vista em vários níveis,
inclusive no nível humano, onde um indivíduo constitui uma biosfera particular em
relação ao seu conjunto orgânico e psíquico, assim como uma sociedade, etc.
Assim, a Biosfera inclui tanto os processos somáticos quanto os psicológicos
(individuais e coletivos) e os sociais, que podem ser estudados assim,
separadamente, mas só até certo ponto.
Segundo Hall e Lindzey (1978), embora seja a Biosfera um todo indivisível, ela é
composta e organizada por sistemas estruturalmente articulados. A tarefa do
cientista seria, assim, de identificar as linhas de demarcação determinadas na
biosfera pela estrutura natural do todo em si mesmo. Assim, um homem se
diferencia de outro homem, mas ambos possuem características que nos permitem
classificá-los como homens e não como peixes, etc.
Bibliografia
• Hall, Calvin S. & Lindzey, Gardner. Theories of Personality, 3º Ed., Jonh Wiley
& Sons, Inc. 1978
• Fadiman, James & Frager, Robert. Teorias da Personalidade. Ed. Harbra, São
Paulo, 1986
• Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação, Ed. Cultrix, São Paulo, 1986.
• Guimarães, Carlos. Percepção e Consciência, Ed. Persona, João Pessoa, 1996
Alguns anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o jovem passava por outra cerimônia.
Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira menstruação,
marcando o fato que, entrando no seu período fértil, estava apta a preparar-se para o
casamento. Para os rapazes, essa cerimônia geralmente se dava no momento em que ele
fazia a caça e o abate do primeiro animal. Ligadas, portanto, ao derramamento de
sangue, essas cerimônias significavam a integração daquela pessoa como membro
produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade (pela
procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente misturando o seu próprio
sangue ao sangue do seu clã.
Outras cerimônias seguiam-se, ao longo da vida. O casamento era uma delas, e os ritos
fúnebres eram considerados como a última transição, aquela que propiciava a entrada no
reino dos mortos e garantia o retorno futuro ao mundo dos vivos.
Nos tempos atuais e nas sociedades modernas, muitos desses ritos subsistiram, embora
muitos deles esvaziados do seu conteúdo simbólico. Batismo e festas de aniversário de
15 anos, por exemplo, são resquícios desse tipo de cerimônia, que hoje representam
muito mais um compromisso social do que a marcação do início de uma nova fase na
vida do indivíduo.
Ao lado dos ritos que abordamos, de certa forma institucionalizados e regulados pela
família e pela sociedade, haviam outros ritos específicos, que poderiam configurar uma
categoria distinta de passagem ou iniciação. Embora pudessem acontecer depois de
alguma preparação, era comum que esses ritos ocorressem espontâneamente, a partir de
uma casualidade que era então tida como propiciada pelos deuses. Estes eram os ritos de
iniciação dos xamãs ou dos heróis.
Muitas pessoas, após passarem incólumes por algum tipo de experiência traumática, que
poderia ter provocado a sua morte, eram consideradas como pertencendo a uma classe
especial. Estados semicomatosos induzidos por doenças, picada de animais
peçonhentos, etc, eram normalmente considerados como modificadores da pessoa, que
retornaria desses estados possuindo uma nova e mais clara visão do mundo. Essas
pessoas, geralmente, eram alçadas à condição de xamãs pela tribo.
Por um outro lado, o contrário também poderia acontecer: dentro do processo normal de
treinamento de um xamã, chegava-se a um ponto em que determinadas provas deveriam
ser enfrentadas, para que o treinando comprovasse a sua capacidade de enfrentar seus
medos e seus próprios limites físicos e mentais. Isolamento, frio, fome, às vezes
extremos, eram utilizados nesse sentido.
A idéia aqui, portanto, não era a de rito de passagem simplesmente como transição de
um período para outro da vida, mas também como de um estado de consciência para
outro. Ou seja: essa forma de rito não depreendia uma idade ou ocasião específica, e
nem ao menos uma cerimônia específica. Poderia acontecer a qualquer momento da
vida, por acaso ou por escolha própria, e tinha um cunho de transformação de
personalidade mais profundo, geralmente associado a uma missão a cumprir, após a
iniciação.
O caráter de morte e renascimento nesses ritos era profundamente marcado. Vê-se tal
caráter em diversas lendas de heróis mitológicos, como, por exemplo, no mito egípcio
de Osíris, que possui todas as características associadas ao processo das iniciações
míticas.
Osíris era uma divindade civilizadora - a ele era atribuída a invenção da escrita e o
desenvolvimento da agricultura. No mito, seu corpo é despedaçado e espalhado por todo
o Egito; em seguida sua esposa Ísis empreende uma longa busca pelos seus pedaços, e
reúne-os para que ele gere com ela seu filho Hórus, que irá prosseguir seu trabalho
civilizador. Há de se notar que Ísis, além de esposa, era irmã de Osíris, ou seja: a idéia é
que os dois, na verdade, eram duas faces distintas de uma mesma pessoa. Osíris
representa o aspecto de nossos conhecimentos prévios que hão de ser desfeitos, ao passo
que Ísis representa a parte de nós que realiza a busca e a reconstrução.
Note-se, também, que Osíris (o conhecimento), após ser reconstruído, não permanece
existindo, mas apenas cumpre a função de gerar em Ísis um novo ser, filho da fusão
entre as duas partes. A mensagem, portanto, é: aquele que busca o conhecimento deverá
morrer (perder a individualidade, desfazer-se), recolher suas partes através de um árduo
e longo trabalho e, por fim, transformar-se em um novo ser, com uma missão a cumprir.
O termo iniciação tem sido bastante mal compreendido dentro do paganismo atual.
Confunde-se iniciação com "início", e muitos julgam que a iniciação seria uma espécie
de cerimônia de admissão em certas vertentes do paganismo. Contrapõe-se a figura do
iniciante à do iniciado, o que é correto apenas em parte.
Na realidade, há de se encarar o paganismo, se não como uma religião (já que essa
palavra geralmente implica dogma e sistematização), pelo menos como uma forma de
manifestação da religiosidade natural do ser humano. Dessa maneira, não faria sentido
um ritual específico para que uma pessoa pudesse praticá-lo, da mesma maneira que
nenhuma condição é pré-estabelecida para que alguém frequente uma igreja. Por um
outro lado, para a maioria das pessoas, adotar essa forma pagã de religiosidade significa
romper, de qualquer maneira, com velhos dogmas e sistemas, ou seja: é uma forma de
passagem. Já que a própria concepção pagã, como descrevemos no início deste texto,
preconiza a marcação das passagens com celebrações específicas, a idéia da existência
de uma cerimônia de iniciação (ou várias) estaria portanto justificada.
O que se vê, no entanto, não é isso. A idéia da iniciação, por ser mal compreendida, é
comumente descrita como uma espécie de ritual mágico, que pode ser realizado sozinho
e que transformaria as pessoas em bruxos. Isso é, pura e simplesmente, uma deturpação
da idéia.
O rito de passagem tem suas próprias funções, como vimos: ele marca transições, marca
o assumir de novos hábitos e responsabilidades e marca a aceitação de uma pessoa por
um determinado grupo. Não se poderia esperar, no entanto, que essas transformações
fossem efetivadas sem uma preparação específica. Voltando às sociedades tribais,
podemos observar que os jovens, no decorrer de sua vida, são constante e
cotidianamente preparados para os momentos de seus ritos de passagem. Apenas como
exemplo, o futuro caçador passa por vezes anos acompanhando os grupos de caça,
assumindo funções progressivamente mais importantes nesses grupos, até finalmente
chegar a abater, sozinho, a sua primeira presa. Quando isso acontece, ele passa pela
cerimônia que marca a sua aceitação pelo grupo dos caçadores, tendo provado que é
digno de fazer parte desse grupo.
As Jornadas Iniciáticas
Uma vez compreendido que a iniciação é o resultado de um processo mais ou menos
longo de compreensão, conhecimento e prática, que leva a uma mudança de status
pessoal por marcar uma mudança de hábitos; que ela é a culminância de um processo e
não o processo em si, há de se entender como esse processo se dá.
O Louco representa a própria desconstrução. Consideramos louco tudo aquilo que não é
estruturado, tudo aquilo que é, de certa forma, caótico ou vazio. No entanto, a real
estruturação apenas pode surgir do caos; caso contrário, o que se dá é apenas uma
reformulação, ou mesmo apenas um ajuste. É emblemática a frase que surge em
praticamente todas as cosmogonias, com ligeiras variações: no princípio era o caos.
Uma jornada iniciática não pode partir de preceitos estabelecidos. Muito pelo contrário:
ela deve começar justamente pela eliminação de todo e qualquer conceito que possa, de
alguma forma, direcionar ou influenciar o caminho de quem se propõe a empreendê-la.
Note-se que o Louco se encontra, justamente, à beira do abismo. O próximo passo, que
ele já começou a dar, o lançará no desconhecido, sem nenhum ponto de apoio, deixando
para trás tudo aquilo que é sólido.
Um exemplo disso nos é dado pela própria vida, a grande jornada iniciática em si, que
encerra todo o processo cíclico de nascimento, aprendizagem, morte e renascimento.
Somos matéria bruta ao nascermos e, ao longo dos anos, adquirimos o conhecimento
que nos dá, na velhice, a clara visão do mundo, tão decantada como a sabedoria que
surge com a idade. O próximo passo, no entanto, é novamente o mergulho no abismo,
no desconhecido.
Chave absoluta das ciências ocultas
dada por Guilherme de Postel e completado por Eliphas Levi
Os espíritos humanos têm a vertigem do mistério. O mistério é o abismo que atrai, sem
cessar, nossa curiosidade inquieta por suas formidáveis profundezas.
O maior mistério do infinito é a existência de Aquele para quem e somente para Ele -
tudo é sem mistério.
Necessariamente absurdo, uma vez que a razão deve renunciar para sempre a atingi-lo;
necessariamente crível, uma vez que a ciência e a razão, longe de demonstrar que ele
não é, são fatalmente levadas a deixar acreditar que ele é, e elas próprias a adorá-lo de
olhos fechados.
É que esse absurdo é a fonte infinita da razão, a luz brota eternamente das trevas
eternas, a ciência, essa Babel do espírito, pode torcer e sobrepor suas espirais subindo
sempre; ela poderá fazer oscilar a Terra, nunca tocará o céu.
Dizem que para bem aprender é preciso esquecer várias vezes. O mundo seguiu esse
método. Tudo o que se questiona em nossos dias havia sido resolvido pelos antigos;
anteriores a nossos anais, suas soluções escritas em hieróglifos não tinham mais sentido
para nós; um homem reencontrou sua chave, abriu as necrópoles da ciência antiga e deu
a seu século todo um mundo de teoremas esquecidos, de sínteses simples e sublimes
como a natureza, irradiando sempre unidade e multiplicando-se como números, com
proporções tão exatas quanto o conhecimento demonstra e revela o desconhecido.
Compreender essa ciência é ver Deus. O autor deste livro, ao terminar sua obra,
acreditará tê-lo demonstrado.
Depois, quando tiverdes visto Deus, o hierofante vos dirá: Virai-vos e, na sombra que
projetais na presença desse sol das inteligências, ele fará aparecer o Diabo, o fantasma
negro que vedes quando não olhais para Deus e quando acreditais ter preenchido o céu
com vossa sombra, porque os vapores da terra parecem tê-la feito crescer ao subir.
Pôr de acordo, na ordem religiosa, a ciência com a revelação e a razão com a fé,
demonstrar em filosofia os princípios absolutos que conciliam todas as antinomias,
revelar enfim o equilíbrio universal das forças naturais, tal é a tripla finalidade desta
obra, que será, por conseguinte, dividida em três partes.
Mistério dos outros mundos, forças ocultas, revelações estranhas, doenças misteriosas,
faculdades excepcionais, espíritos, aparições, paradoxos mágicos, arcanos herméticos,
diremos tudo e explicaremos tudo. Quem pois nos deu esse poder? Não tememos
revelá-lo a nossos leitores...
Essas chaves são descritas e seu uso é explicado num livro cujo dogma tradicional
remonta ao patriarca Abraão, é o Sepher Yétsirah, e, com a inteligência do Sepher
Yétsirah, penetra-se o sentido oculto do Zohar, o grande livro dogmático da Cabala dos
hebreus. As clavículas de Salomão, esquecidas com o tempo e que se dizia estarem
perdidas, nós as encontramos, e abrimos sem dificuldade todas as portas dos antigos
santuários, onde a verdade absoluta parecia dormir, sempre jovem e sempre bela, como
aquela princesa de um conto infantil que espera durante um século de sono o esposo que
deve despertá-la.
Depois de nosso livro, ainda haverá mistérios, mas mais alto e mais longe nas
profundezas infinitas. Esta publicação é uma luz ou uma loucura, uma mistificação ou
um monumento. Lede, refleti e julgai.
Você compreendeu que o Buda não ensinou um sistema no qual todos tivessem que
acreditar antes de começar a praticar. O que ele fez foi ensinar uma teoria, dar-nos
um método, uma técnica: a prática da meditação. através da qual podemos testar tal
teoria. Como a meditação não é um sistema de crença, ela pode ser praticada por
qualquer pessoa independente de sua religião ou crença pessoal. Ela é simplesmente
o Caminho para a Purificação Mental. Ela é útil para cada e para todos os seres
humanos.
Esperamos que você continue a praticar para seu próprio benefício e para o benefício de
todos os seres. Possa sua meditação ser proveitosa!
Próximo da virada desse século, alguns hinduistas tentaram apresentar o budismo como
um sistema filosófico-moral amplamente baseado em considerações psicológicas.
Mas o budismo é mais do que uma filosofia, porque não despreza a razão nem a
lógica, apenas as usa dentro da esfera apropriada. Também transcende os limites de
qualquer sistema psicológico porque não está confinado à análise e à classificação de
forças e fenômenos psíquicos reconhecidos, mas ensina seu uso, transformação e
transcendência. O budismo também não pode ser reduzido a um sistema moral
válido para o tempo todo ou como "um guia para fazer o bem", pois penetra uma
esfera que transcende todo o dualismo e está estabelecida em uma ética que sai do
entendimento mais profundo e da visão interior.
Por essa razão, Buda não colocou no início da Nobre Senda Óctupla uma mudança em
nosso modo de vida e comportamento, mas a visão controlada de mundo em nós e
com relação a nós mesmos; pois só assim conseguimos conquistar um insight sem
preconceitos sobre natureza da existência e das coisas, e então, através da mudança em
nosso ponto de vista, atingir uma reorientação completa para a nossa luta. Esse modo
de observar as coisas é chamado em páli samma ditthi, que os indologistas sempre
traduzem como "visão correta " ou "opinião".
Mas samma ditthi significa mais do que um mero acordo com algumas idéias morais ou
dogmáticas preconcebidas. É uma maneira de ver que ultrapassa os pares de opostos
dualisticamente concebidos, de um ponto de vista unilateral, condicionado pelo ego.
Samma significa o que é perfeito, inteiro, isto é, nem dividido nem unilateral; alguma
coisa de fato, completamente adequada a todos os níveis de consciência.
Aquele que desenvolveu o samma ditthi é, portanto, uma pessoa que não olha as
coisas de forma parcial, mas as vê de forma equilibrada e sem preconceitos, e que
em objetivos, atos e palavras é capaz de enxergar e respeitar o ponto de vista dos
outros tanto como o seu próprio. Pois Buda estava bem consciente da relatividade
de todas as formulações conceituais. Não estava, portanto, preocupado em divulgar
uma verdade abstrata, mas em apresentar um método que desse capacidade às pessoas
para chegar à visão da verdade, isto é, experimentar a realidade. Assim, ele não
apresentou uma nova fé, mas tentou libertar o pensamento das pessoas dos princípios
dogmáticos de forma a possibilitar uma visão da realidade livre de preconceitos.
Está bem claro que ele foi o primeiro entre os grandes líderes religiosos e pensadores da
humanidade a descobrir que o que importa não é tanto os resultados finais
padronizados, isto é, nosso conhecimento conceitual em forma de idéias, confissões
religiosas e "verdades eternas", ou na forma de "fatos científicos" e fórmulas, mas o
que leva a esse conhecimento, o método de pensamento e ação. A adoção dos
resultados do pensamento das outras pessoas - ou até mesmo dos chamados "fatos
simples", quando isso é feito sem senso crítico, geralmente é mais um obstáculo do
que vantagem, porque coloca um bloqueio à experiência direta e por isso pode se
tornar um perigo. Dessa forma, uma educação que consiste inteiramente de um
acúmulo conhecimentos e padrões de pensamento já prontos leva à esterilidade
espiritual. O conhecimento e a fé que perderam sua ligação com a vida se
transformam em ignorância e superstição. O mais importante e o mais essencial é a
capacidade para a concentração e para o pensamento criativo. Em vez de ter como
objetivo a erudição, deveríamos preservar a capacidade para o aprendizado em si,
e assim manter a mente aberta e receptiva.
Há uma admissão tácita de que o mundo que construímos com o nosso pensamento é
idêntico ao mundo de nossa experiência, na verdade ao mundo "tal como é". Mas, essa
é uma das fontes principais de nossa visão errônea daquilo que chamamos de
"mundo". O mundo que experimentamos na verdade inclui o mundo dos nossos
pensamentos, mas esse mundo nunca pode compreender totalmente aquele que
experimentamos, porque vivemos simultaneamente em várias dimensões, das quais o
intelecto (ou acapacidade para o pensamento discursivo) é apenas uma delas.
O que o mestre suscitou, portanto não foi a ênfase em um racionalismo frio, unilateral,
mas a cooperação harmoniosa de todos os poderes da psique humana, entre os quais a
razão é o princípio da discriminação e do direcionamento.
Samma ditthi, então, não é uma simples aceitação de algumas idéias religiosas ou
morais preconcebidas. Significa uma maneira cada vez mais perfeita e nunca unilateral
de ver as coisas. Portanto, não é verdade que tantos problemas do mundo vêm
principalmente do fato de todos verem as coisas a partir de seu próprio ponto de
observação? Não deveríamos, em vez de nos trancarmos a tudo que seja
desagradável e doloroso, encarar o fato do sofrimento e descobrir suas causas, fato
este que está em nós e que conseqüentemente só por nós pode ser superado?
A sexta-feira é 13. Muita gente tem medo dela! Seu nome sugere feitiçaria e,
para muitos, sua ocorrência no calendário é prenúncio do azar. Toda sexta-feira,
entretanto, acha-se associada à idéia do Sabá, como ficou conhecido a partir da
época medieval o festim em que as bruxas reunidas banqueteiam em presença do
Demônio. Também às sextas, à luz da lua cheia, os amaldiçoados lobisomens se
transformam, e os vampiros propalam-se em vôo sedento de sangue à procura de
suas vítimas.
Sábado, em português, vem do latim sabbatum, que, por sua vez foi emprestado
do grego sábbaton. Este, seria proveniente do hebraico sahabbat, que,
etimologicamente, deriva do verbo sabat (parar). Outras fontes o extraem de seba
(sete), ou o tomam como corruptela do termo sabi'at (sétimo dia). Tenhamos em
conta ainda que o hebraico sabbat guarda enorme semelhança com sapatu, que em
dialeto árcade primevo significava "parada, descanso", também "sono da lua".
Nesse caso, o termo hebraico seria originário do grego, ao contrário da primeira
hipótese.
Qual a ligação desta festa com o sabá das feiticeiras? Entendamos a questão. A
Igreja, já no ano de 360, no sínodo de Elvira, admitia a existência dos poderes
mágicos, que seriam decorrentes de pactos com o demônio, e negava a comunhão,
mesmo à hora da morte, para os que caíssem em tal tentação. Até o século XI, a
Santa Sé diferenciava os seres maléficos, devotados aos sortilégios, aos
encantamentos por bonecos de cera, aos filtros e maus-olhados, das strigae,
demônios femininos que sob a forma de pássaro se alimentavam de recém-
nascidos. Strega, bruxa em italiano, deriva-se daí, e em português temos
igualmente o termo estrige; ambos oriundos da raiz latina strix, a significar coruja,
pássaro noturno ou qualquer outra ave de rapina. Um século antes, o monge
Regino de Prün dizia que voar à noite com a deusa Diana não podia ser algo real,
senão mera ilusão provocada pelo Demônio.
Mas foi durante o século XII que se difundiu mais rapidamente a idéia do sabá,
reunião noturna das sextas-feiras, à qual compareciam as bruxas voando em suas
vassouras, cavalgando seus bodes, ou mesmo transformadas sob a forma de
pássaros. Para que pudessem voar, untavam seus corpos com uma poção mágica
por elas preparada; e na cerimônia, iniciada à meia-noite, entregavam-se a orgias
e ao Demônio.
O "Malleus", código atroz contra as artes negras de magia, mais do que a bula
papal, peremptoriamente abriu as portas para o rolo compressor da santa histeria
em que se transformou a Inquisição. Sua intenção era pôr em prática a ordem do
Êxodo, 22;17: "A feiticeira, não a deixarás com vida".
Sobre o rito do sabá das feiticeiras, concluíram os Tribunais: uma bruxa servia
sempre de altar. A seu lado, uma figura de madeira, com chifres, representava o
bode, ou Satanás. As estriges chegavam "voando" sobre suas vassouras, isto é,
com o falo em suas mãos e por entre as pernas. Havia um banquete, durante o
qual corria uma poção mágica, sempre uma beberagem excitante, a qual
predispunha os participantes ao sexo sem critério. Era feita então a oferenda ao
Diabo, geralmente alimento e bebida; apresentava-se a hóstia negra; consagrava-
se o último morto e o último nascido na comunidade, já que à Terra voltam os que
dela nascem; invocava-se o raio; e por fim dilacerava-se um animal em sacrifício
ao Demônio.
Ora, parece claro a qual tradição nos reportam os sabás das feiticeiras; nenhuma
outra senão a pagã. Algo bem mais antigo e distante do que representa o sabbat
dos hebreus. E à Igreja coube a façanha sangrenta de pôr fim a quaisquer
resquícios destes rituais, e fez associar a figura até então quase apagada do
Demônio às práticas consideradas heréticas. Deturpando os relatos dos que
freqüentavam livremente tais cerimônias, interpretando-os como obra demoníaca,
reformulou a roupagem dos mitos de fertilidade e inventou o Mal que neles nem
havia.
A história da Bruxaria
Ao contrário do que se pensa, o cristianismo não foi imediatamente adotado pelo povo
europeu ao ser declarado religião oficial do Império Romano. Esta conversão dos
Romanos ao catolicismo teve motivos políticos, e não teve grande penetração fora dos
centros urbanos. A grande massa da população permaneceu fiel a seus deuses antigos.
Os cultos antigos, então, receberam a denominação pejorativa de "pagãos" ("pagani",
plural de paganu, ' morador do campo'), por ter como foco de resistência à nova religião
o povo dos campos, longe das cidades e das zonas de comércio e ensino.
Os missionários cristãos, com o tempo, passaram a ter mais aceitação nas cidades, mas
continuavam sendo repelidos no campo, nas montanhas e nas regiões distantes,
verdadeiros enclaves da Antiga Religião. Houve ainda uma tentativa de reativar o
paganismo e o culto aos Deuses antigos como religião oficial do Império Romano. Esta
última esperança deveu-se ao Imperador Juliano (conhecido como "O Apóstata"), que
reinou no século IV EC. Mas, como sabemos, essa tentativa não foi frutífera, derrubada
pela própria conjuntura da época, onde já se pressentia o poder de manipulação,
domínio e intriga do cristianismo, evidenciado nos séculos seguintes. Um dos ardis
utilizados pelos cristãos era o de apropriar-se de festividades pagãs como
comemorações religiosas de sua própria religião. Assim, por exemplo, o festival do
solstício de inverno, onde se comemorava o nascimento do Deus-Sol, transformou-se no
Natal cristão. Também o festival de Samhain, comemorado em intenção dos mortos,
recebeu o nome de Dia de Todos os Santos, logo seguido pelo dia de Finados. A
despeito destas tentativas, as tradições pagãs continuaram mantendo sua força.
Os padres tinham a seu favor o tempo, o poder e a força. Os pagãos tinham que lutar
sozinhos contra a profanação de seus templos, crenças e costumes. Desta maneira, o
povo simples dos campos foi acostumando-se à nova religião, e, gradualmente, foi
sendo convertido. Mas os sacerdotes restantes da Antiga Religião não se renderam à
nova ordem. Juntamente com pessoas ainda fiéis às antigas crenças, mantiveram o culto
ao Deus de Chifres e à Deusa Mãe. As crenças pagãs, enfatizando a adoração aos
Deuses e a realização dos festivais de fertilidade, foram amalgamando-se à magia
popular, criando a Bruxaria Européia. A magia popular consistia em um conjunto de
feitiços feitos com o uso de ervas, bonecos e diversos outros meios. Estes feitiços
tinham como objetivo a cura, a boa sorte, atrair amores, e fins menos nobres,como a
morte de algum inimigo. São práticas desenvolvidas a partir do que restara da magia
simpática pré-histórica, unidas ao conhecimento xamânico dos povos bárbaros.
Os teólogos cristãos passaram então a sustentar que a Bruxaria não existia. Assim,
pretendiam terminar com a credibilidade dos bruxos e anular sua influência. Foi um
período de relativa paz para a Arte. Mas logo os cristãos perceberam que seus esforços
para exterminar completamente o paganismo não haviam dado resultado. Fizeram então
mais uma tentativa: transformaram o Deus de Chifres na personificação do Mal, do
Antideus, do Inimigo. A natureza dos Deuses pagãos é completamente diferente da do
todo-poderoso "senhor de bondade" dos cristãos. Nossos Deuses são quase "humanos",
pois têm características tanto 'boas' quanto 'más'. A teologia cristã já pressupunha a
existência de um antagonista a seu Jeová (o 'Satan' hebraico do Antigo Testamento e o
'diabolos' do Novo): um Inimigo. Ele ainda não possuía forma definida e, quando era
representado, o era em forma de serpente, como a que persuadiu Adão a comer a fruta
da Árvore da Sabedoria. Dando a seu Satã a forma do Deus de Chifres (notadamente de
deuses agropastoris como Pã e Sileno, dotados de cascos de bode e pequenos cornos),
os cristãos conseguiram iniciar um clima de terror e medo em relação aos praticantes da
Antiga Religião, o que os forçou a praticarem seus ritos em segredo.
Mas a era mais triste da Arte ainda estava por vir. A Era das Fogueiras A situação da
Igreja até o século XIII era caótica. Facções adversárias lutavam entre si, cada uma
degladiando-se em favor de um dogma. Nos numerosos concílios realizados, ora uma
das facções impunham sua visão, ora outra. Isso favorecia um desmoralizante 'entra-e-
sai' de dogmas, o que desacreditava a Igreja. Algumas destas facções também
criticavam a corrupção e o jogo de poder dentro da classe sacerdotal, e levantavam
dúvidas sobre o poder espiritual do papado. Foi então criado um instrumento de
repressão: o Tribunal de Santa Inquisição. Consistia em um corpo investigatório
ignorante, brutal e preconceituoso, dirigido pela ordem dos Dominicanos. Sua função
primordial era a de acabar com as facções que se opunham à Igreja (denominadas
'heréticas'), através do extermínio sistemático de seus membros. Exemplos destas
facções 'heréticas' eram os cátaros, os gnósticos e os templários. Com o tempo, os
cristãos perceberam outro uso para seu Tribunal. Ainda persistiam cultos aos Deuses
Antigos, e, graças à transformação do Deus de Chifres no Demônio Cristãos, eram
acusados de delitos absurdos, como o canibalismo, a destruição de lavouras (acusar de
tal crime uma Religião dedicada à manutenção da fertilidade das colheitas é, no
mínimo, ridículo) e muitos outros. Foi então proclamada, em 1484, a Bula contra os
Bruxos, pelo Papa Inocêncio VIII. Neste documento, ele relacionava os crimes
atribuídos aos bruxos e dava plenos poderes à Inquisição para prender, torturar e punir
todos aqueles que fossem suspeitos do 'crime de feitiçaria'. Em 1486 foi publicado o
Malleus Malleficarum ('Martelo dos Feiticeiros'), escrito pelos dominicanos Kramer e
Sprenger. O livro, absurdo e misógino, era um manual de reconhecimento e caça aos
bruxos, e, principalmente, às bruxas (o livro trazia afirmações surpreendentes, como :
"quando uma mulher pensa sozinha, pensa em malefícios"). A partir daí, a Igreja
abandonou completamente a postura de ignorar a Bruxaria: pelo contrário, não acreditar
na sua existência era considerada a maior das heresias. Iniciou-se então um período de
duzentos anos de terror, conhecido entre os bruxos como "Era das Fogueiras". Mas os
bruxos (e também os hereges e inocentes: doentes mentais, homossexuais, pessoas
invejadas por poderosos, mulheres velhas e/ou solitárias) não pereciam só em fogueiras:
eram também enforcados e esmagados sob pedras. Isso quando não pereciam nas
torturas, as quais são tão cruéis e sádicas que não merecem nem ser mencionadas. A
Inquisição tornou-se uma válvula de escape para as neuroses da época: em época de
forte repressão sexual, condenavam-se mulheres jovens, que eram despidas em frente a
um grupo de 'investigadores', tinham todo seu corpo revistado diversas vezes, à procura
de uma suposta 'marca do diabo', e, por fim, eram açoitadas, marcadas a ferro e
violentadas. Terminavam condenadas e executadas como bruxas. Seu crime: serem
mulheres jovens, belas e invejadas. Anciãs que moravam sozinhas, geralmente em
companhia de alguns animais, como gatos (daí a lenda da ligação dos gatos com as
bruxas), eram alvo de desconfiança e logo declaradas 'feiticeiras', e, assim, assassinadas.
A maioria das vítimas dos tribunais de Inquisição não eram verdadeiros praticantes da
Arte, mas muitos bruxos pereceram na mão dos cristãos. Aproximadamente nove
milhões de crimes como este foram cometidos durante a Inquisição, ironicamente em
nome de uma religião que se dizia 'de amor'. Nunca uma religião demonstrou tanta
necessidade de exterminar seus antagonistas como o cristianismo. A perseguição aos
bruxos não resumiu-se apenas ao países católicos: espalhou-se pela Europa protestante.
Os protestantes não se guiavam pelo Malleus Malleficarum, mas davam razão à sua
paranóia através do uso de uma citação do Antigo Testamento: "não deixarás que
nenhum bruxo viva". Na Era das Fogueiras, os praticantes da Antiga Religião adotaram
o único comportamento que lhes possibilitaria a sobrevivência: "foram para o
subterrâneo", ou seja, mantiveram o máximo de discrição e segredo possível. A
sabedoria pagã só era passada por tradição oral, e somente entre membros da mesma
família ou vizinhos da mesma aldeia. Como técnica de proteção, os próprios bruxos
ajudaram a desacreditar sua imagem, sustentando que a Bruxaria não passava de lenda,
ou disseminando idéias de bruxos como figuras cômicas e caricatas, dignas de pena e
riso. Por volta do final do século XVII, a perseguição aos bruxos foi diminuindo
gradativamente, estando virtualmente extinta no século XVIII. A Bruxaria parecia,
finalmente, ter morrido. Mas os grupos de bruxos ("covens") resistiam, escondidos nas
sombras. Algo que surgiu nos primórdios da humanidade não morreria assim tão
facilmente.
"Sendo um, se torne múltiplo, sendo múltiplo, volte a ser único, podes aparecer e
desaparecer sem encontrar resistência, passar através das paredes,montanhas,
como se fosses ar, se fundir com a terra e emergir dela como se fosses água,
caminhar sobre a água sem que ela se abra como se fosses terra, atravessar os
ares, tocar com tuas mãos o Sol e a Lua, astros poderosos e maravilhosos e com
seu corpo, chegar até o mundo de Brahma."
Meditações da Lua
A Deusa da Lua possui três aspectos: crescente, é donzela; cheia, é a Mãe; minguante é
a anciã. Parte do treinamento de cada iniciado implica períodos de meditação sobre a
Deusa em seus vários aspectos. Abaixo segue uma meditação para cada um dos três
aspectos da lua.
Concentre-se e centre-se. Visualize uma lua crescente cor de prata, que se curva para a
direita. Ela é o poder daquilo que inicia, do crescimento e geração. Ela é tempestuosa e
indomada, como as idéias e planos antes de serem equilibrados pela realidade. Ela é a
página em branco, o campo não semeado. Sinta as suas próprias possibilidades
escondidas e potenciais latentes; seu poder para iniciar e crescer. Veja-a como uma
menina de cabelos prateados correndo livremente pela floresta sob a lua delgada. Ela é
virgem, eternamente não penetrada, a ninguém pertencendo, exceto ela mesma. Invoque
seu nome, "Nimuël", e sinta poder dentro de você.
Concentre-se e centre-se e visualize uma lua cheia. Ela é a mãe, o poder de realização e
de todos os aspectos da criatividade. Ela nutre aquilo que foi iniciado pela lua nova.
Veja-a abrindo os braços, os seios abundantes, o ventre desabrochando em vida. Sinta
seu próprio poder de nutrir, dar, tornar manifesto o que é possível. Ela é a mulher
sexual; seu prazer na união é a força motriz que sustenta toda a vida. Sinta o poder em
seu próprio prazer, no orgasmo. Sua cor é o vermelho do sangue, que é vida. Invoque
seu nome "Maril" e sinta sua própria capacidade de amar.
Concentre-se e centre-se. Visualize uma lua minguante, que se curva para a esquerda,
envolta pelo céu escuro. Ela é a anciã, a velha que ultrapassou a menopausa, o poder de
terminar, da morte. Todas as coisas devem terminar a fim de suprir os seus inícios. O
grão que foi plantado deve ser cortado. A página em branco deve ser destruída, para que
a obra seja escrita. A vida se alimenta da morte; a morte conduz à vida e, nesse
conhecimento, encontra-se a sabedoria. A velha é a mulher sábia, infinitamente velha.
Sinta a sua própria idade, a sabedoria da evolução armazenada em cada célula do seu
corpo. Conheça o seu próprio poder para terminar, para perder assim como ganhar, para
destruir aquilo que está estagnado e decadente. Veja a velha em seu manto negro sob a
lua minguante; invoque seu nome "Anul" e sinta seu poder em sua própria morte.
Concentração Mental
Da média aritmética do nosso tipo de onda mental, pode-se estabelecer o clima psíquico
de cada um. Para o intercâmbio espiritual, os Espíritos Benfeitores situam as Entidades
comunicantes na onda vibratória do pensamento de sensitivo, do que decorre a ativação
dos mecanismos mediúnicos, gerando as comunicações de múltiplos aspectos, conforme
a área alcançada.
Exercício do Sol
Eleve seu pensamento e estabeleça uma conexão amorosa com seus amparadores.
Percorra este corredor e ao caminhar, perceba que a luz vai ficando mais intensa.
Visualize, ao final deste corredor, uma enorme esfera de luz dourada, viva e
incandescente. Esta esfera é o Sol.
Junto com os raios luminosos, irradie também muito sentimento. Faça isto por um
tempo. A seguir, visualize à sua frente o planeta Terra, bem menor do que você.
Então, como o Sol, irradie luz e amor para todo o planeta. Perceba o movimento da
Terra à sua frente. Assim, ela pode receber a luz que você está irradiando em toda sua
extensão. Faça sua luz chegar igualmente a todos, sem importar-se com as fronteiras dos
países, cor de pele, classe social ou religião. Continue emanando luz e amor por um
tempo. Sempre que você puder, faça isto. O planeta está carente de luz. Há tantos
hospitais, tantas prisões e tanta dor... Há tantas pessoas doentes do corpo e tantas
doentes da alma...
Faça você mesmo a diferença e seja um Sol em seu trabalho, em sua casa, em todos os
lugares!
Irradie luz e amor anonimamente a todas as pessoas, pelo simples fato de que em todas
elas, você encontrará a mesma essência que há em você, a essência de Brahman*!
E por fim, agradeça aos amparadores por tanta ajuda, tanta paciência e tanto amor...
(12/10/98)