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SEIDHR OU XAMÃNISMO NÓRDICO.

Por Marcelo Moura

Existem muitos textos em várias línguas sobre toda a Mitologia Nórdica / Germânica /
Escandinava, que falam sobre Runas, Vikings e sobre os povos Teutônicos, Anglo-Saxões e etc.
Mas, quando o assunto é Seidhr, é raro encontrarmos algum texto, principalmente em
português, que tenha qualidade e confiança. Por isto decidi me aventurar a fazer este trabalho.
A maioria deste material foi traduzido e adaptado por mim, mas sempre existem referências de
pessoas que me ensinaram muito.

Um pequeno comentário sobre que este texto. Ele não é a totalidade do que é o Seidhr, mas
apenas uma fonte de estudo sobre o assunto. Existem outros assuntos que o envolvem que
ainda não foram mencionados por mim, como Magia Nórdica e etc. Com mais tempo para
pesquisas, pretendo melhorá-lo. Boa leitura.

Na Antiga Europa, nas regiões frias, o Seidhr nasceu através de rituais femininos de transe
onde videntes e sacerdotisas prediziam o futuro através de viagens astrais pelos Nove Mundos
ou pela árvore Yggdrasil onde estas “viajantes” conseguiam informações que poderiam decidir
conflitos, guerras e até quem deveria lutar nas batalhas, tal a importância de suas palavras
(vide o 13 Guerreiro). Antes de qualquer decisão estratégica, uma vidente sempre era
consultada. (Yggdrasil ou Nove Mundos - Midgard – Terra, Hell – Reino dos Mortos, Asgard –
Reino dos Aesir, Hossálfheimr – Mundo dos Elfos Luminosos, Swartáfheimr – Reino dos Anões,
Nifheimr – Reino do Gelo, Vanaheimr – Reino dos Vanir, Jotunheimr – Reino dos Gigantes &
Muspelheimr – Reino do Fogo).

Normalmente, mesmo tendo este valor para com reis e senhores da guerra, as mulheres que
escolhiam este caminho não moravam na aldeia preferindo a solidão e o contato com a
natureza para colher ervas e viver livre dos conceitos da sociedade. Não eram bem vistas pelo
povo. Eram mulheres libertas (Freyja) do padrão social de nascer, trabalhar, casar e criar
família, daí provavelmente o conflito com a sociedade.

Como o homem também tinha um papel determinante na sobrevivência do clã como guerreiro,
desbravador, mantenedor da família e da continuidade da sociedade. Cabia a mulher a função
xamânica do Seidhr. O papel masculino em uma sociedade rude, onde para a sobrevivência
não havia espaço para o “UM” e sim para o “TODO”, onde o clima era o principal inimigo,
deixava pouco espaço para pessoas que divergiam do contexto social. Homens que fizessem o
Seidhr, segundo o ritual, deveriam se vestir com roupas femininas. Este desvio de
personalidade não era aceito, já que cabia a mulher o papel e qualquer homem que o quisesse
fazer, deveria na verdade querer ser uma mulher (padrões nórdicos). Isso era quebrar as
regras de sobrevivência e “homens efeminados” não eram bons guerreiros nem gerariam filhos,
sendo um peso para o clã.

Existe uma lenda em que Odin (Pai de Todos) acusa Loki (Deus do Fogo) de se disfarçar de
mulher em Midgard, de viver alguns anos sob este disfarce, inclusive casando e tendo filhos.
Loki quebrou, desta forma, o conceito que mantém a sociedade viva. Em um clima não
hospitaleiro onde se nasce com a função de manter a sociedade viva, como funções e futuro já
definido (Nornes) até a sua morte, onde um depende do outro para sobreviver, ser diferente é
por em risco a comunidade. Homens que faziam o Seidhr eram ridicularizados e desprezados
pela sociedade.

A primeira Deusa a utilizar o Seidhr é Freya (Deusa da Sexualidade, Valkiria e Disir).


Usando sua capa de plumas, ela viajava na forma de um pássaro através dos Nove Mundos e
retornava com valorosas informações. Outro Deus que foi seu discípulo e possível amante foi
Odin. Odin aprendeu as técnicas de Seidhr, mesmo sendo um homem. O curioso é que Odin
já possuía dois corvos, Memória e Pensamento, que o informavam de tudo que acontecia nos
Nove Mundos. O terceiro Deus a utilizar o Seidhr foi Loki que em algumas lendas roubava a
capa de plumas de Freya para usar em benefício próprio o que causava a ira de Odin, já que
este não era um dos “Dons” de Loki (viajar pelos Nove Mundos com o Seidhr).

Atualmente, tanto homens quanto mulheres fazem o Seidhr através de um transe xamânico
induzido por concentração, batida de tambores, música (cânticos) ou plantas de poder.
Encontrei poucos textos sobre plantas de poder nórdicas que valham a pena citar, então esta
parte fica infelizmente para um outro texto.

Os elementos do Seidhr na viagem astral são sempre ligados a Mitologia Nórdica com o nosso
cotidiano e pode ser utilizado tanto para cura, ensinamentos e exercícios conforme veremos
nos textos abaixo.

Segundo D.J. Conway, em “O Livro Mágico da Lua”: “Seidhr quer dizer “encantamento”.
Transes para contatar seres do outro mundo e os mortos eram parte principal de um Seidhr. A
Volva sabia como contatar os Alfar ou Elfos para ajudar ou atrapalhar.

Transes eram utilizados em viagens astrais para obtenção de informações. Enquanto a Volva
estava em transe, outras sacerdotisas entoavam canções especiais, chamadas Galdr. Era na
verdade o uso dos cantos e a repetição de poesia que criava um estado alterado de
consciência, necessário para entrar em transe.

Mesmo com a condenação pelo patriarcado do uso do Seidhr, a lenda diz que o Deus Odin o
praticou após ser instruído por Freya.

SEIDHR IRLANDÊS – MODELO DE TRABALHO


Por Andrew Bentley

“Antes de entrar em transe, pergunte às pessoas com questões para passarem para você (no
máximo quatro ou cinco). Então sente na posição de Lótus com sua cabeça em suas mãos
abertas. Se seu cabelo for longo, ponha-o sobre o rosto. Se não, um véu de alguma espécie
poderá ser utilizado. O Vidente (Seer – homem / Sers – mulher) ou Viajante quase sempre
acaba o transe com frio e extremamente faminto”.
Esta é a visualização da jornada. Nenhuma batida é usada e apenas o vidente viaja.

- Você está voando sobre uma floresta, tão alto que você não pode ver individualmente
as árvores ou igualmente suas cores. Você vai abaixando e agora já pode ver suas cores
e seu formato. Então você está voando sobre o topo das árvores, você vai abaixando e
esta voando no meio das árvores. Mais baixo ainda, no meio dos troncos das árvores.
Finalmente, você está no nível do chão. É sempre crepúsculo entre os troncos das
árvores. Você compreende seu comportamento e olhando a sua volta, consegue ver um
cervo branco com chifres vermelhos. Persiga-o. Você não pode pegá-lo; mesmo que
acelere bastante ou diminua, isto dará no mesmo. Siga-o até você alcançar o limite da
floresta. Além das árvores mortas das pastagens e campos de cultivo, e na lateral a
distância estão as casas.Vá para as casas e fale com as pessoas que vivem lá. Elas são
fantasmas e irão responder suas perguntas, mas não em palavras. Alguns deles estão lá
antes de existirem palavras e alguns deles nem falam sua língua. Eles falarão com você
na sua cabeça. Quando terminar, agradeça e olhe pra o cervo verde com chifres
(alteração feita pelo autor). Isto irá conduzir você para casa pelo caminho que você veio.

SEIDHR PARA RESGATE DE ESPIRITOS


Por Jordsvin, Seidhmadhr (Praticante de Seidhr).

“No verão de 1996 eu tive a ocasião para adaptar o Oracular Seidhr para ajudar um número
de fantasmas a transpor de uma casa na fazenda em um local de 200 anos no qual
permaneceu uma família pelo mesmo tempo. Este é o Seidhr para resgate de espíritos, ou
como tenho chamado, Seidhr para fantasmas. Eu consegui a entusiasmada permissão do dono
da casa para juntamente com o meu mestre fazer um transe Seidhr indo diretamente para o
Reino de Hella”.

A primeira sessão foi conduzida no andar superior somente comigo e meu guia. Eu viajei dentro
do Hel enquanto meu “amigo psíquico”, Ramona, falou com os fantasmas e perguntou quem
gostaria de atravessar, mas necessitava de ajuda. Ela falou com eles dentro de si (sem
palavras) e agarrou minha mão quando pronta. Eu estava preparado para o que acontecesse,
mas isto foi ainda experiência única. Os fantasmas atravessaram por ela para dentro da minha
mão esquerda, através de mim e saíram pela minha mão direita dentro do reino de Hella. Eu
senti três pulsos no qual senti apenas como um nítido e poderoso choque!

Eu coloquei em petição enquanto estava no Hel para membros da família ou as Disis falarem
com os fantasmas para facilitar sua jornada. Eu vi uma senhora com um aspecto distinto
respondendo a minha petição. A esbocei mais tarde quando fora do transe para o fazendeiro e
este disse: “Oh meu Deus”, foi a um armário fechado e pegou o retrato dela.

Quando nós descemos, ela me informou que um grande grupo de fantasmas saltou para esta
parte da casa e necessitavam de ir também, mas eu não estava bem para isto e nós
combinamos com o proprietário para voltar outra data.
Vários dos amigos do proprietário vieram na data marcada para ajudar a crescer a energia para
o que prometia ser um trabalho muito mais extensivo. Todos foram bem até o proprietário
decidir perguntar uma questão antes do trabalho fantasma. Eu evidentemente fui me sentindo
mal desde que ela caiu em lágrimas pela resposta do meu guia. Enquanto eu estava em transe
profundo, tive que ir ajudá-la.

No começo, estava sentindo muito frio (estava frio nesta sala e eu estava usando um robe de
linho sufocante para ritual). Em algumas vezes, sinto frio após o trabalho de transe e
normalmente, estou igualmente exausto e faminto. Mais tarde (normalmente faço o Seidhr
após escurecer) eu pego um segundo sopro, ou como falo, o “Seidhr Rush” que algumas vezes
me mantém de pé até as cinco horas da manhã.

Quando meu guia retornou, nós terminamos o salvamento do espírito e finalizamos o ritual. Eu
estava prostado de exaustão no final. Não tinha idéia de quantos espíritos foram através de
mim, mas senti como se eu tivesse segurado a corda da vida em cada mão. Enquanto fazia
tudo isto, Hela falou comigo e indicou que preferia não haver tantos fantasmas Cristãos
entrando na após vida através de seu reino. Ela graciosamente deixou-os por este momento,
mas eu tive a impressão que num outro momento poderia ser preferível perguntar aos
fantasmas Disir (Valquírias mortas que retornam para ajudar familiares) para voltar a Midgard
comigo e conduzir para onde eles precisam ir por uma rota diferente.”

FRODHLEIKR SIDHR
Por Angelita

“Frodhleikr é uma palavra que equivale em português a Sabedoria, Conhecimento e Mágica. É a


designação que se dá a um tipo de ritual de transe, na qual o Seidhmanhr (homem) ou
Seidhkonna (mulher) entra em estado de meditação / relaxamento para acessar outros mundos
e ter acesso a revelações, conhecimento e etc. O rito de transe é marcado por cânticos e
batidas de tambor que se repetem a exaustão. Em geral, este ritual é aberto e as pessoas vão
a ele para receber orientação do vidente (Seer / Sers). As pessoas não fazem as perguntas
diretamente ao sacerdote, elas são transmitidas por meio de um guardião (Gothi – homem;
Gythia – mulher) que atua como ligação entre os neófitos e a vidente.

VIAGEM DE CURA SEIDHR


Por Courtney

*** Significa uma longa pausa

Idealmente esta viagem de cura Seidhr poderá ser feita com um cd ou tape tocando sons de
oceano. Estimado em trinta minutos.
Todos ficam em uma posição confortável *** aguarde todos estarem prontos para iniciar ***
Antes de iniciar, sinta que você está em total e completo controle todo o tempo. Se por alguma
razão em qualquer momento durante esta jornada você necessitar parar *** você poderá
simplesmente abrir os olhos *** Então se algo acontecer, você pode abrir os olhos para poder
sentir-se refeito e alerta. *** Olhe este momento como um momento muito especial que você
tem firmado aparte para você mesmo. Um momento de fazer alguma coisa especial para usar
sua mente em um caminho que pode ser útil para você.
Inspire 2 *** 3 *** 4 *** e expire *** 2 *** 3 *** 4 *** inspire 2 *** 3 *** 4 *** expire 2
*** 3 *** 4 *** enquanto você houve a minha voz agora *** a resposta do relaxamento inicia
com a vinda do corpo com cada respiração. Enquanto isso acontece feche seus olhos. Eu
poderia com você pensar por um momento na experiência que você tem feito na praia nos
olhos da sua mente. *** Permitindo você mesmo compreender *** e sentir *** Enquanto você
caminha na praia você é como a areia. Isto é, agradavelmente morno *** calmante ***
relaxante *** e confortável. Você pode ver as ondas vindo para a praia e ouvir os sons da
arrebentação. O céu esta levemente nublado e você sente uma brisa, muitas vezes vinda do
lago.
Você vê uma “caixa forte” na praia com uma tampa pesada. Você está curioso sobre o que está
dentro da caixa e ergue a tampa. Sobre a tampa você vê um sinal. Este sinal diz para por todos
os seus medos, temores e preocupações dentro dela e tranque a tampa. Você está a salvo
nesta praia e nenhum dano te acontecerá. Tudo que você colocar dentro irá somente ficar no
seu caminho se você quiser. Uma vez com seus medos dentro da caixa, selecione um ponto na
areia próximo a linha da costa e aproveite para uma boa soneca.
Você decidiu que é uma boa idéia, então você pôs seus temores e medos na caixa e achou um
bom e confortável ponto na areia para deitar *** Enquanto você deita e fica confortavelmente
aquecido e sente a brisa vinda do lago *** você escuta os sons da arrebentação ***
Continuando se permitindo relaxar para um mais confortável e profundo nível *** Confortável
*** Profundo *** Completamente relaxado *** Um maravilhoso sentimento *** um agradável
*** e confortante sentimento. Você continua a relaxar tão confiante e profundo.
Enquanto você respira *** você se lembra que não esta mais em perigo *** Não incomoda
você que o fundo de seus pés estejam ficando molhados *** Enquanto a água rodeia seus pés
eles se tornam relaxados e flutuantes. Eles se tornam um com a água *** com cada respirada
a água continua a subir no corpo e cada seção do corpo se torna flutuante e uma com a água.
Inspire 2 *** 3 *** 4 *** respire 2 *** 3 *** 4. Inspire 2 *** 3 *** 4 *** e respire 2 *** 3
*** 4 *** e respire 2 *** 3 *** 4 *** pausa longa.
Tire um momento e apenas pense sobre seu braço direito ou esquerdo, qualquer um *** pense
sobre este braço estando dentro da água e a água permitindo que o braço se sinta muito
flutuante *** sem um grande esforço *** Este braço que você escolheu, perfeitamente lento
*** confortavelmente e facilmente boiando acima da água *** você pode sentir isto.
Enquanto você escuta a minha voz, você experimenta a sensação de flutuar *** não se sinta
surpreso se este braço que você selecionou, lentamente, mas seguramente elevar sobre seu
colo. Sentindo este toque de flutuação enquanto você pensa sobre o flutuar deste braço e a
mão na água. Isto pode não acontecer todo tempo enquanto nos fazemos esta jornada, mas se
acontecer e perfeitamente certo. *** Isto e apenas sua mente e corpo trabalhando juntos, eles
estão permitindo você experimentar este momento especial *** O braço sente tanta luz e está
tão flutuante *** tão flutuante *** enquanto você continua a relaxar profundamente ***
profundamente.
Eu irei contar ao contrário de 7 até 0. Com cada número *** você se permitirá relaxar para um
nivelamento profundo e um nível profundo de conforto e relaxamento *** 7, uma maravilhosa,
agradável e confortável sentimento *** 6 *** e 5 e em adição a este maravilhoso relaxamento
muscular você pode também iniciar para sentir agora um relaxamento interno 4 *** um quieto,
tranqüilo, calmo e sentimento confortáveis *** 3 O braço continua a se sentir leve e flutuante
*** e 2 quase totalmente quase completamente *** 1 apenas um pouco profundo *** e zero
*** profundo *** relaxado *** seu subconsciente é semelhante a uma forte e poderosa parte
de você. Isto pode ajudar você e auxiliar a ajustar qualquer desconforto que você pode sentir.
Pense sobre um desenvolvimento na troca.

UM XAMÃ VAI ATÉ OS CÉUS


Por Edmundo Pelizari
(TEXTO ESCRITO PARA O JORNAL DE UMBANDA SAGRADA, MAIO DE 2008, CASO COPIE CITAR A FONTE, POR FAVOR)
- Uma história dos antigos curandeiros escandinavos, para os espiritualistas de
hoje,recontada por Ras Adeagbo.

Uma velha história contada ao pé da fogueira pelos poderosos "skaldos" (poetas


adivinhos), conta que Thorvald, um misterioso xamã, resolveu viajar até os céus
onde moravam os deuses e divindades de todo o Universo.
Certa noite, ele fez suas poderosas meditações e preces, subindo como uma águia
até as distantes mansões celestiais.

Primeiro ele encontrou um grande palácio, todo fortificado e protegido pelos


anjos mais terríveis e fulgurantes.
Adentrando por uma fortificada porta de ouro, caminhou até a sala principal
onde encontrou um deus idoso e luminoso, sentado em um magnífico trono de
fogo.
Irado com aquela invasão, o deus perguntou ao xamã o que fazia ali e o ameaçou
com terríveis maldições.

Thorvald respondeu que desejava conhecer a verdadeira natureza dos deuses e


tirar suas próprias conclusões.

O deus então gritou, lamentou, lembrando ao mortal xamã que ali não era lugar
de simples humanos.
Depois pediu que fosse rapidamente embora, voltando a terra para cumprir os
deveres impostos aos seus pobres habitantes.
Thorvald, sem perder a compostura, perguntou se havia alguma vantagem em
seguir os ensinamentos e os mandamentos de um deus tão bravo e exigente.
Irritado ainda mais, o deus o expulsou dali.
Tranqüilamente Thorvald acenou e foi embora um tanto desapontado.

Em seguida, voando mais alto, ele avistou outro palácio celestial.


Era uma construção muito bela, florida e perfumada.
Ali morava o deus do amor.
Mais uma vez, Thorvald entrou sem ser anunciado, encontrando um deus afável e
carinhoso, sentado em uma simples almofada.

O deus do amor, dando mostras de satisfação, gentilmente perguntou ao xamã


quem era ele e o que desejava ali em sua modesta morada.

Thorvald respondeu que desejava conhecer a verdadeira natureza dos deuses e


tirar suas próprias conclusões.
O tranqüilo deus ficou profundamente triste com tal pergunta.
Argumentou que necessitava ser amado, acarinhado, respeitado, pois sofria por
todos os humanos e tinha dado tudo para a ignorante humanidade, sem nada
receber em troca.
Depois disso, desabou em lamentos infindáveis.
Thorvald, sem ficar abalado, perguntou se havia alguma vantagem em seguir os
ensinamentos e os mandamentos de um deus tão bom, carente e pedinte.
O deus do amor abaixou os olhos e suspirou longamente...

Thorvald, decepcionado mais uma vez, saiu daquele lugar.


Na imensidão dos céus, desta vez resolveu voar mais longe e mais alto ainda.

Viajando além das estrelas jamais vistas a olho nu, viu ao longe uma magnífica
fortaleza e dentro dela uma pequena cidade.
Entrou nela, andou pelas ruas e ouviu uma grande algazarra vinda de uma espécie
de taverna.
Assombrado por tão grande alarido, Thorvald abriu a porta e encontrou uma
centena de deuses gritando, cantando e rindo como crianças.
Subindo em cima de uma mesa, ele valentemente indagou que espécie de
espelunca celeste era aquela e que tipo de deuses malucos eram eles.
Ninguém respondeu...
Thorvald passou a gritar cada vez mais forte,
Mas nada acontecia.
Ele era completamente ignorado pelos divertidos convivas.
De repente, um jovem e belo deus olhou para ele e o convidou para um trago.
Thorvald, que já havia visto de tudo sob o céu e debaixo da terra também,
Ficou completamente atordoado com tal comportamento e sugestão.
Não suportando mais aquela ridícula cena,
Ele começou ofender todos os que ali estavam sem temer as conseqüências.
Os deuses pararam a brincadeira,
Olharam para Thorvald e caíram em uma debochada gargalhada.
Em seguida retomaram suas canções e jogos.

O jovem e belo deus tornou a olhar para o confuso xamã e disse alegremente:
“Meu filho, você nada entende de boas maneiras”.
Sabe que podemos destruí-lo agora mesmo?
Mas de que adiantaria?
Já que viajou tanto para buscar uma verdade,
Sente-se e beba conosco.

Contudo, escreva em seu coração:

Sempre desconfie de um deus e de uma religião que não tenha senso de humor!"

O xamã, caindo em si, agradeceu a lição e foi embora pensativo.

Retornando rapidamente para junto dos humanos,


Thorvald estava completamente satisfeito.
Aprendera a verdadeira natureza dos deuses e divindades.
Encontrara, por fim, o sentido real da religião.

Centenas de anos se passaram...


E a pobre humanidade voltou a ser séria, iracunda, fanática,
Chorosa e egoísta em matéria de religião.
Deuses sedentos de vingança ou repletos de culpa fazem sucesso na vida
moderna.

O xamã Thorvald,
Hoje habitando o céu dos alegres deuses e deusas,
Olha para baixo e ri de todos nós...
(Texto escrito para o Jornal de Umbanda Sagrada do Mês de Maio de 2008,
Caso queira reproduzir, por favor, cite a fonte).

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