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Mana Yedda Linhares

A LUTA CONTRA
A METRÓPOLE
(Ãsià e Ãfrica)

1981
c;ópw/ízÀÍ(ê) Mana Yedda Linhares

Capa:
123(antigo 27)
Artistas Gráficos

Revisão:
José E. Andrade
Sânia S. Nicolai

ÍNDICE

Prólogo 7
A Europa face à descolonização 10
A conjuntura internacional do pós-guerra 10
A) Balanço material do conflito 10
11
B) O eclipseda Europa 14
C) As Nações Unidas . . .
D) A polarização intemacional e a guerra
fria 16
E) Os conflitos da guerra fna 20
A descolonização -- a quem cabe a iniciativa? 23
A) Colonizare descolonizar 23
B) A Grã-Bretanha 24
C) A França 28
D) Um novocapitalismo? 29
.4 co/órfã/ace ao co/onlaZismo 34
O colonialismo como sistema 34
editora brasiliense. s.a. 34
A) Para que secoloniza
O1042 -- rua barão de itapetininga, 93
sâb paulo -- brasil
6 Àíaría Meada .[íB&ares

B) Quem coloniza 40
C) Como se coloniza 45
A revolta do colonizado 52
A) Os condenados da terra 52
B) Os nacionalismos, bumerangue do im-
perialismo? 55
Os caminhos da descolonização 60
60
Os fatores da revolta .
60 PRÓLOGO
A) O movimento de idéias . .
B) As consequênciasimediatasda ll Guer-
ra Mundial 63
A descolonização pacífica 66
A) A conjunturacolonial 66
71 O períodoquese estendeentreo finalda ll
B) Aindependência da Índia
C) A independência da Birmânia, Ceilão e
Malâsia 75
D) A independência pacífica da Ãfrica 77
A libertação pela violência 81
A) A Indonésia 81
B) A Indochina 82
C) A Argélia 85
D) Do Conho Belga ao Zaire 87
E) Outras independências 92 nacional das nações independentes. . . . .
A descolonização tardia 96 A Liquidação dos impérios colodai:, de up
lado, e, de outm o surgimento ou o renascimento /le
A libertação de Angola, Moçambique e Guiné- povos que se cõiistituem em nações e Estados são, na
Bissau 96
96 realidade as duas faces de um mesmo processo his
A) Portugal: um colonialismodependente
B) Os movimentos de libertação nacional 100
Epílogo ? 108
Indicações para leitura 112
8 Murta YeddaLineares .4 .Lula Contra a .Aíerrl5po/e 9

do se reuniu a Conferência de São Francisco(abril- gerais, o nascimento de um novo mundo, assim como
junho de 1945), cujo objetivo foi o de discutir entre os o movimento de idéias que colocou em confronto
aliados vitoriosos sobre o nazi-fascismo um plano dominadores e dominados de ontem, dominadores e
que assegurassea paz entre os povos da Terra. dominados de hoje. Ou seja, interessa-nos verificar
O documento que selou o final dessa reunião foi até que ponto o fim de um valho colonialismouno
a Cana da Orgalzízação das .Nações Unidas(ONU) bojo da crise do capitalismo e das guerras mundiais,
que recebeu a assinatura de cerca de 50 Estados 'representou o início:de uma era .de .:libertação. de
fundadores. Estes se dispunham, pelo compromisso povos dominados e classeióprimidas.
assumido, a pâr em pratica um sistema internacional
capaz de assegurar a paz no mundo e a proteger os
direitos do homem por toda.ã parte. Os membros da
nova organização intemacidhal engajavam-se, ainda,
a garantir a paz por meios pacíficos, tendo como
objetivoprioritário o desarmamento, a reconhecer o
direito de defesa dos Estados, a recusar intervir nos
assuntos internos de outros Estados, a renunciar ao
empregoda força, salvo diante de uma ameaçaà
segurança mundial.
Decorrido um quarto de século da assinatura da
Carta de São Francisco, já se situa acima de 120 o
número de Estados-membros da ONU. Tal fato se
deve, principalmente,à entrada em cena dos novos
países asiáticos e africanos que emergiram da luta
contra o colonialismo. Por outro lado, enorme é a
distância entre a grandiloqüente declaração de inten-
ções de São Francisco e a.higt6ria como de fato se deu
nos anos subsequentes, com a sua teia de ocorrências
e as determinações de ordem económico-social, polí-
tico-ideológica e cultural que a moldaram.
Interessa-nos,aqui, relatar, em suas linhas mais
.4 Z#ta Contra a MêfrlópoZe 11

ções de infra-estrutura, equipamentos industriais e


campos agncolas, constituíram fatores que levaram à
diminuição da vitalidade dos países europeus e difi-
cultavam as possibilidades de recuperação a curto
prazo dessas populações. No entanto, novos fatores
devem ser considerados: o progresso técnico foi ace-
lerado ao longo do conflito e a descoberta de novos
meios para combater a doença(DDT, penicilina) e
A EUROPA FACE dominar a natureza(radar, aviação supersõnica,
processos mais avançados e rápidos de comunicação)
À DESCOLONIZAÇÃO eram elementos que iriam apressar a reconstrução da
Europa e do sistema económico. Assim, mais rapida-
mente do que no pós-guerra de 1918, o capitalismo se
equipava para se reconstruir após 5 anos de autodes-
A conjuntura internacional do pós-guerra truição sistemática.

A) . Balance material do conflito


B) OeclipsedaEuropa
A guerra que se encerrava em 1945, com a vitó- do ponto de vista político, emergia um mundo
ria dos aliadose o esmagamentomilitar da Ale- que parecia bem diverso daquele que nutrira o pró-
manha e do Japão, deixou atrás de si um saldo nega- prio conflito e preparara o caminho para as tensões
tivo para vencidos e vencem.res: um passivo superior de pós-guerra. Ao contrario da guerra de 1914-1918,
a 100milhões de seres humanos, entre baixas mili- essa segunda conflagraçãg mundial possuía um con-
tares, mortalidade civil e o genocídio de 5 milhões têüd(;iêioluçionârio. A partiêjpaêãõdaURSS'4paÉ
de judeus, além de perdas materiais estimadas em tii:'do 1941.e a vitória esmagadora sobre a-nazi-fas-
1500 bilhões de dólares desigualmente distribuídos. 'cismo em 1945 teve uma dupla significação: o reco-
O morticínio de jovens, as privações sofridas pelas nhecimento do carâter irreversível da revolução bol-
populações civis e os bombardeamentos de cidades e chevique, legitimando, assimJ a presença da União
aldeias, provocando a destruição maciça de instala- Soviéticacomo potência mundial. Um outro fatos, a
12 Mana YeddaLineares .4 .Ltzfa (biltre a ]Wefnópo/e 13

irrupção do socialismo,como um corpo de idéias, capitalismo sem rivais e sem competidores. Nesse
apresentava-se, com a experiência soviética, como momento, o mundo comportava duas superpotências
uma alternativa de desenvolvimento e de bem-estar apenas: o vitorioso do Pacífico sobre o Japão, a nação
aos países, povos e classessociais que, até então, milionária que permitira equipar os exércitos aliados
gravitavam na órbita do capitalismo. Considere-se, da frenteocidentalno ataquefinal à Alemanha e à
ainda, o fato de que a ocupação de territórios pelos ltâlia fascista, ou seja, os Estados Unidos, e a União
exércitos inimigos criou uma nova versão de ''nação Soviética que, apesar de ter lutado em seu próprio
em armas'', ou sqa, a resistênciados paísesocupa- território, foi a construtora da vitória sobre a Ale-
dos numa espécie de guerrilha contra as tropas fas- manha, levando-a a recuar até o aniquilamento in-
cistas, o que contribuiu para abalar o poder das bur- terno. Para os europeus, que.haviam.dado.o exemplo
guesias locais, acusadas, através de alguns de seus da revolução industrial e.do. desenvolvimento,capa
expoentes, de colaborar com os países do Eixo (alian- taoista.que com seus . Tburgueses conquistadores''
ça da Alemanha, ltália e Japão). Assim, à divisão comandarama, ciência,.a técnicae os'povõi'ao
social interna acrescenta-se, no decorrer dos anos de mundo, o sacrifício da guerra.ç..a.J:jlêria fb4r,Êõnjçi
ocupação(na Bélgica, na Holanda, na Fiança, na aliados que eram dos Estados IJnidos-e da.UniâQ
lugoslâvia), um fosso profundo entre a massa popu- Soviéticasignificaram, em última instância,..a pçlda
lar, ''resistente'' ao inimigo, e os ''colaboracionistas'' de'controle e de iniciativa na política internacional.
internos que passaram a representar os inimigos da Pela"primeira vez na História, seus destinosserão
nação. Essas divisõesinternas irão ter uma influência marcadospelas decisõesdos dois novos pólos de
considerávelsobre a conduta dos partidos políticos poder: as duas grandes potências, uma a leste, outra
após a guerra e o movimentode opinião sobre as a oeste, detentoras do poder material das armas e da
aspirações de libertação dos povos colonizados. Elas técnica e do poder espiritual de arregimentar diri-
favorecerão o desenvolvimento de uma consciêncj4 gentes e dirigidos através das idéias que passaram a
anticolonialistadentro da própria Europa. representar -- o capitalismo, como $inânimo de
O eclipiê provisório da Alemanha, da ltália e do democracia e liberdade, e o socialismo, como sinó-
Japão, em decorrência da derrota militar, as perdas nimo de instrumentode luta pela libertação dos
sofridas pela Inglaterra, França, Bélgica e Holanda, povos e das classes historicamente oprimidas.
revelaram o poderio económico e financeiro dos Es- Ocorre, porém, que o crédito da derrota do
tados Unidos da América, que emergem da guerra lapão não é somente dos Estados l.Jnidos. Coube à
como a primeira potência do Ocidente, líder de um China uma boa parcela de participação na luta con-
14 Mana YeddaLitthares .4 .Lula (bHfra a Mêí/x5po/e 15

tra o império japonês. Assim como os Estados Uni- monarquias europeias destinada a impedir os movi-
dos e a União Soviética,a China é um país gigante, mentos liberais. Reacionária nos seus propósitos e
de grande extensão territorial e imensa população. métodos, não chegou a ter vida efetiva duradoura e
Mas aí se encerra o paralelo. A longa guerra contra desapareceu com a ascensão do liberalismo e do na-
os japoneses e as dissensões internas que opunham cionalismo, a partir de 1830, na Europa. A segunda
de um lado as forças ''nacionalistas", capitaneados tentativa foi representada pela Sociedade das Nações
por Chiang-kai-cheke caracterizadas,por amigose após a l Guena Mundial, a qual também tevevida
inimigos, pela prepotênciae cornlpção de seus diri- efêmçra, não chegando a impedir a marcha do fas-
gentes, e, de outro, as forças ''comunistas'' de Mao- cismo nem o conflito armado que teve início em 1939
tsé-tung, que se apresentavam com um vigor inesis- com a invasão da Polõnia pela Alemanha de Hitler.
tível, dando a imagem de uma nova China, faziam Em janeirode 1941,enquantose desenrolava
a
com que a velha China tivesse reduzidas as suas guerra na Europa, o presidentedos Estados Unidos,
possibilidades de se constituir numa terceira grande Franklin D. Roosevelt, enviou uma mensagem ao
potência. Congresso americano proclamando as ''quatro liber-
Em resumo, o poder mundial que antes per- dades fundamentais'' (a lib.erdade de pensamento e
tencia aos pequenose médios Estados europeus, for- de expressão; a liberdade de crença; a liberdade de se
tes no comando do capitalismo, da tecnologiae do livrar da miséria; a liberdadede não ter medo)-.No
saber, transfere-se para otltros espaços geográficos, mesmoano(14 de agosto),juntamentecom o Pri-
.de maior poderio militar e potencialidade económica. meiro Ministro inglês Winston ChurchiU, promoveu
O fim da ll Guerra apresenta-se,assim, como o a assinatura da Carta do Atlântico, onde foram afir-
início de uma nova era da política mundial, na qual a madas os seguiiüei princípios:
Europa passa a ocupar um lugar secundário. a renúncia a qualquer aquisição de território sem
o prévio consentimentodas suas respectivaspo-
pulações;
C) .Ás .Noções [/nadas o direito à autodetemiinação dos povos; .
o acesso de todos os Estados ao comércio inter-
A idéia de uma organização intemacional com nacional;
poQçresde assegurar a paz entre os Estados foi posta a liberdade dos mares.
em pratica, pela primeira vez, com a Santa Aliança Com a entrada dos Estados Unidos na guerra
de Mettemich e a política de intervenção militar das (dezembro de 1941), encontros sucessivos entre os
16 Mana Yedda Linharn
\ ,4 lula Contra a Mêrrlépo/e 17

representantes dos Estados aliados(conferências de objetivocomum.Mas, mesmono decorrerdo con-


Moscou e Teerã, 1943) confirmam a aceitação desses flito, eram evidentesas divergênciasprofundas entre
princípios na organização do pós-guerra. Nas confe- os Estados Unidos, a União Soviéticae a Inglaterra.
rências de Yalta(fevereiro de 1945) e São Francisco O imenso poder militar soviético, revelado a partir de
(abril-junho de 1945) são delineadas e acertadas as 1943, quando teve início a contra-ofensiva na frente
diretrizes bem como os estatutos fundamentais da oriental e que só terminou com a derrocada final dos
nova organização internacional (ONU). Embora dis- exércitos alemães, provocava apreensões sobretudo
pondo de mecanismos mais eficazes de ação do que a entre os ingleses. ChurchiU previa a posição privile-
antiga Sociedade das Nações, como o de decidir se; giada que a União Soviética viria a ocupar no pós-
bre o enviode forças armadas destinadas a proteger guerra e a influência que ela exerceria, do ponto de
os países de agressõesexternas(Resolução de 1950) vista político e ideológico, em detrimento dos inte-
e o de atuar, através de comissões especiais, no sen- resses tradicionais do Império Britânico. Parecia
tido de minorar as distânciasentre paísesricos e mais ou menos evidente que nos campos de bata-
pobres(Organização Mundial de Saúde, Organiza- lha contra o racismo se travava a luta ideológica
ção pela Ciência, Cultura e Educação, pela Alimen- do socialismo contra o capitalismo que acabaria
tação e Agricultura), ela funciona, na. realidade, por opor os dois sistemassociais no plano interna-
como um Parlamento mundial onde predominam os cional. Previa-se, pois, que a construção da vitória
interessesdàs potências contra as quais é bem redu- militar já prenunciava as divisões futuras entre os
zida a capacidade dos países mais fracos de ter os aliados.
seus interesses reconhecidos ou de alterar, em seu Uma vez restaurada a paz, a supremacia ameri-
favor, o sistema internacional de poder, seja ele polí- cana tomara-se patente. Coube aos Estados IJnidos,
tico-militar ou económico. como potência capitalista,'exercer plenamente a sua
hegemonia;-Para-tanto,- competia-lhe desenvolver
suas atividades em vários planos:
a) na Europa, para combatera expansãodo
D) Apolarização internacional socialismo e o fortalecimento dos partidos comu-
e a guerra fria nistas locais, tratava-se, acima de tudo, de promover
a sua reconstruçãomaterial; surge, assim, o Plano
O esforço de guerra no sentido de vencer o ini- Marshall com o propósitode ajudar a Europa a recu-
migo uniu, provisoriamente,os aliados dentro do perar ''a saúde económica nomial sem a qual não há
19
18 Mana Yedda Lineares .A Z;ufa Contra a Mêt/l5po/e

estipulam pagamentos de reparações. O saldo desses


paz assegurada''. Para vencer ''a fome, a pobreza,
tratados é altamente favorável à URSS, tanto do
o desesperoe o caos'', propunha-sea política ameri-
cana a prestar uma ajuda contínua aos países euro- ponto de vista territorial quanto no tocante ao rece-
bimento de indenizações. Com eles, nasce o bloco
peus em troca de algumas recompensas(o controle
indireto dessaseconomias, a solidariedade ideológica socialistae é dado o toque de partida à guerra fna.
contra a ''ameaça'' do comunismo); O ano de 1947assinala, assim, a ruptura de fato.
b) no plano político-militar, a criação da OTAN entre os dois grandes aliados da véspera e tlê.surgir 4
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), em política dos "Blocos": de um lado, os Estados Uni-
abril de 1949,englobando, inicialmente, doze Esta- dos, escudados a partir de então no Plano Marshall e
dos (Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, na OTAN; de outro, a União Soviética, protegida
França, Grã-Bretanha, Holanda, lslândia, ltália, pela ''cortina de ferro'' que, segundo Churchill(dis-
Luxemburgo, Noruega e Portugal), aos quais se uni- curso de março de 1946), havia caído sobre a Eu-
rão mais três (Grécia e Turquia, em 1952, e Repú- ropa, de Dantzig a Trieste, dividindo-a em duas par-
blica Federal Alemã, em 1955). tes: o lestee o ocidente. Ao plano Marshall, responde
Stalin com o COMECON (Conselho de Assistência
Quanto à União Soviética, a paz a encontrava Económica Mútua), em 1949, englobando, além da
muito atingida materialmente, tendo sido entre os
beligeranteso que mais sofrera perdas humanas IJRSS, a Bulgária, a Hungria, a Polânia e a Tchecos-
(mais de 20 milhões). Carregando sozinha o peso da lovâquia, às quais aderem, posteriormente, a Albâ-
nia (1949), a Alemanha Oriental (1950) e a Mongólia
guerra contra a Alemanha, até junho de 1944 (de-
sembarque anglo-americano na Normandia), embora (1962).À OTAN e outrospactosregionaisque se
tendo recebido auxílio em material bélico dos Esta- estruturam(OTASE, SudesteAsiático e o Pacto de
dos Unidos (empréstimo e arrendamento), ela se de- Barda, tratados diretos entre os Estados Unidos e
fronta com a necessidadede assegurar a sua sobre- outros países), responde a IJRSS com uma organi-
vivência política face aos aliados dos anos de conflito. zaçãopolítica e militar constituída, basicamente, de
Jogando com a possibilidade de uma crise económica dois organismos: o Kominfomi(Comissão Comum
de Informação), destinado a coordenar a ação. :dos
di) capitalismo, Stalin:''gamo condutor da )vitória,
eiícontra'se no apogeu de seu prestígio pessoal. Os diferentespartidos comunistas do bloco oriental, nó
tratados de paz assinados em Pauis(lO de fevereiro poder, e os de outros países externos ao bloco, fora
de 1947) traçam as novas fronteiras da ltâlia, da do poder, e o Pacto de Varsóvia (1955) de natureza
multar. A vitória de Mao-tsé-tung sobre o governo da
Hungria, da Romênia, da Bulgária e da Finlândia e
Mana YeddaLineares
r' 21
20 ,4 lula Gonfra a Mefriópo/e

Chiang-kai-chek na China (1949) contribuiu para târio de poder controlado pela burocracia do partido
fortalecer, ainda mais, o bloco dos países socialistas. oficial (o comunista), o controle estatal da economia
A dissolução do Kominform em 1956, após a morte e da sociedade,a ausênciade liberdadeindividual,
de Stalin, inaugurando 4 política de apaziguamento o ateísmomarxista; a geopolíticado Bloco Oriental,
\ de Krutch;;i';'é"õ'primeiro sintoma tle uma inüdança por suas características continentais(30 milhões de
iiãÕlãaadaestratégia internacional do comunismo, km2), estendendo-se da Alemanha do leste à costa do
ou sqa, a partir dessa data a URSS renuncia, oficial- Pacífico, com fortes concentrações demográficas
mente, à tradição de Lenin e.Stalin de pressionar (perto de um bilhão de pessoas na década dos 50),
internamente os países capitalistas através da ação configurava um mundo misterioso capaz de subver-
de seus partidos comunistas. Da mesma forma, a ter os ''valores" da civilização ocidental, Breca-ro-
ruptura militar entre a União Soviética e a China, em mana e cristã.
19S9, representou a primeira cisão profunda no seio O Bloco Ocidental se apresentava, pois, como o
do bloco comunistas.Mas, nesse momento, .a:.guerra herdeho das ''revoluções burguesas'' do século pas-
fna começava a ceder lugar à política de.coexistência sado, do racionalismo e do humanismo, enquanto o
liacífica entre o capitalismo e o socialismo. Bloco Oriental era encarado, pelos grupos sociais
dirigentes do Ocidente, como o resultado do irracio-
nalismo e da ''barbárie". Tais pressupostos mani-
E} Osconftitosdaguerraftia queístas, no entanto, têm receptividade diversa entre
as classes populares que viviam na órbita do impe-
Os dois mundos que se defrontam são divididos rialismo e que aspiravam a mudar o curso de sua
pelo sistema económico e social, pela geografia e pela história. Nessas condições, o socialismo tem para
ideologia. O Bloco Ocidental tem o Oceano Atlân- elas um conteúdo diverso daáiiêlê que Ihe é atribuído
tico como centro de atividades e de interesses; ao pela propaganda do Bloco Ocidental, apresentando-
capit41ismocorresponderia um determinado sistema se, assim, como um instrumento de.lida.contra a
de. -afganização política e de práticas económicas oi)ressão intima(a dominação de classe) e extema
(ã democracia liberal e o comércio intemacional), (a dominação colonial).
confundindo-se no ideário de propaganda com a A polarização da guerra fna revelou ainda uma
liberdade de organização económica,: o livre arbítrio situação de ''impasse" tecnológico. A tecnologia nu.
e formas de representaçãodemocrática de governo; clear desenvolvidatanto pelos Estados Unidos quan-
ao comunismo corresponderia um sistema autori- to pela URSS(posteriormente pela Inglaterra, Fran-
,4 Ztzfa Contra a Mêfpüpo/e 23
22 Mana Yedda Lineares

vênclapac#7ca,aceitando-se,para isso, um ''acordo


ça) mantinha uma relativa equivalência de potencial entre cavalheiros'' de respeito recíproco do sfaftis
agressivo. Dessa forma,: o "equilíbrio pelo terror'',
a certeza dê que uma Terceira Guerra Mundial não que. Seria uma nova divisão do mundo em esferas de
se faria, como no $.bisado, pelo uso de alias conven- influência?Como se colocaria a Europa? Como se
situaria aí a possibilidade de existir um Terceiro
cionais, e sim pela destruiçãoda espéciehumana, Mundo?
desvia as tensões para áreas geográfica e politica-
mente localizadas. Os conflitos da guerra fna não
passarão de ''episódios'' mais ou menos "quentes",
embora sem chegaremem qualquer momentoa A descolonização
constituir uma ameaça de generalização do conflito. a quem cabe a iniciativa?
Mencionaremos, aqui, apenas os de maior repercus-
são: a questão de Berlim(manutenção dos corredores .A) (b/o#ízaredesco/onizar
aéreos de acesso a Berlim), -a guerra da Coréia(1950-
53), as crises do Oriente Médio(a questãode lsrael
e da Palestina) . Depois de ter colonizado, o ''europeu descolo-
niza. Era-lhe indispensável manter a iniciativa",
A partir de 1960,são evidentesas fissuras den-
tro dos blocos, prenunciando o fim dâ rígida política assim se refere Jacques Amault(.Dtz coZoPzía/ümeatl
bipolarizada. Do lado americano, a revolução cu- socíaZüme, Paras, 1966) ao fato de que na palavra
bana, a "dissidência'' representada pela insubordi- descolonização esta implícita a ''vontade'. do.país
nação de De Gaulle, a luta de classe nos países capi- colonizador de abrir mão de seus dfreífos adquiridos
talistas; do lado soviético,a ruptura com a China, num Üetemúnado momento. Outros autores também
as ''veleidades'' autonomistasna Polânia e na Hun- vêem aí;-'na adição do termo, uma interpretação
gria e, posteriormente, na Tchecoslováquia. Além do eurocêntrica da História. Enquanto a colonização
resultou de uma ação europeia consciente com o obje-
mais, .as guerras anticoloniaise de libertação nacio-
nal vieram trazer novos elementos de complexidade à tivo de conquista, a descolonização,como processo,
adveio do seu contrario, ou seja, da revolta contrai
competição entre o Ocidente e o Oriente, entre capi-
talismo e socialismo, entre imperialismo e naciona- Ocidente. Ela se apresenta, historicamente, como
lismo. Passava-se a indagar, de um lado e de outro de produto dos movimentosnacionais, e não-como a
cada bloco, se não seria possíveldesistir do estado resultante de uma iniciativa"do colonizador. Assim,
permanente de tensão e fazer uma tentativa de convf- da visão eurocêntrica deveríamos passar a uma inter-
24 Marca yedda .LlnÁares ,4 .Z;ufa Gonfra a .A/efnipo/e 25

pretação asiocêntrica ou afrocêntrica da História. ltâlia, e participou da abertura da frente ocidental


No entanto, o próprio surgimento de aspirações em junho de 1944.A vitória Ihe custou400 mil
nacionais na órbita do colonialismo e a sua concre- mortos, cerca de 30%o de imóveis destruídos pelos
tização nos anos de pós-guerra foram favorecidos bombardeios, 300 bilhões de dólares de gastos mili-
pela nova conelação de forças entre os países do tares, uma dívida.externa que atingiu 14 bilhões de
mundo capitalista. As potências coloniais -- Grã- dólares, uma dívida pública que chegou a ser três
Bretanha, França, Holanda e Bélgica -- haviam saí- vezessuperior à renda nacional e uma inflação mone-
do extremamenteenfraquecidas da ll Guerra Mun- tária da ordem de 80%o.Sua marinha sofreu perdas
dial e contavam com a participação dos Estados Uni- enormes. Tratava-se para a Grã-Bretanha de realizar
dos para Q seu reerguimento económico. Na reali- um gigantesco esforço de recuperação material dos
dade, as duas guerras mundiais (1914-1918e 1939- desgastes, de reconversão económica após seis anos
1945)foram, no fundo,,guerras civis européias, com de guerra, sem grandes possibilidades de solução a
a participação inicialmente não prevista dos Estados curto prazo. O futuro imediato se apresentava som-
Unidos. ElasJoram produzidas, sobretudo . a se- brio
gunda, pelas contradiçõesentre.países industriali- as eleiçõesrealizadas logo após a guerra trou-
zados e apressaram a eclosão dos nacionalismos que xeram ao poder o Partido Trabalhista, com a sur-
levariam ao fim dos impérios coloniais. Nessas con- preendentederrota de ChurchiU, o condutor da vitó-
(!ições, â compreensão do movimento de indepen- ria. Coube aos trabalhistas reconduzir o país à eco-
dência das colónias asiáticase africanas envolvea l b nomia atravésde um amplo programa de
análise das transformações ocorridas no InfeHor das .,J durãilouras reformas do sistema económico e social.
Metrópoles. A Inglaterra, que fora o berço do capitalismoe da
i;evolução industrial, mantendo-se inflexivelmente
fiel aoi dogmas do liberalismo económico, tomava-se
.B) .4 Grã-.BrefanAa oprimeiro país capitalistaa passar por uma extensa
remodelação de seu sistema global no sentido de
Sem ter sofrido ocupação do território pelo ini- permitir uma redistribuição de rendas e a melhoria
migo, foi a Inglaterra, no entanto, duramenteatin- das condições de vida para o conjunto da população.
gida pelos bombardeios sucessivosda aviação alemã. Pára tanto, cli"ti.aÜalhistas
empreenderam
uma am:
Teve, ainda, que lutar no Índico e no Sudeste asiá- pla política de pzacíoma/ilações,partindo da noção de
tico contra os japoneses, no Norte da Ãfrica e na que ao Estado - o Estada:Providência OliTme7Ha/é
2Ó Metia YeddaLineares .4 .Lura C'entra a ]Wef7qópo/e 27

Sfafe --. compete reunir os instrumentos necessários trabalhadores que se dispuseram a diminuir a pres-
para a modernização de economia, promover através são dos movimentosreivindicatórios.A guerra da
de reforma tributária (imposto progressivo sobre a Corria (1950-53) contribuiu em muito para o inicio
renda e elevados direitos de herança) uma redução de um verdadeiro zoom industrial britânico pela am-
da distância entre ricos e pobres e assegüíar'os bóhê- pliação de seu comércio exterior.
Bcioí ãã'dêgéíiVOM.menta'ao unto grupos Sua política internacional, sobretudo a atitude
sociais: face aos movimentosnacionalistasnas áreas colo-
Em linhas gerais, foi posto em pratica o seguinte niais, sofreu;ãs influências dessa evolução interna e
programa (jamais alterado substancialmente pelos das conjunturas externas. Foram, assim, .os traba-
governos conservadores posteriores) : lhistas ingleses os primeiros aaceitall.a.êescok)aFI
a) nacionalização do Banco da Inglaterra, das záçãcl:'dando o sinal de pãltiaa,. ,em .!947,-.çom a
companhias de transportes (aéreos, terrestres, ferro- independênciada Índia. Foi ainda a Grã-Bretanha a
viários e marítimos), gás, luz, eletricidade, carvão, primeira potência capitalista a reconhecer o governo
siderurgia (desnacionalizada em 1953); comunista de Mao-tsé-tung na China, como também
b) criação de um eficientesistema de seguro e foi ela o primeiro país do Bloco Ocidental a contestar,
assistência social (do nascimento à morte) e subse- embora cautelosamente, a ampliação da influência
qüentenacionalização dos serviçosmédicos; americana naquelas partes do mundo que antes ti-
c) adoção e execução de gigantescos planos de nham sido de predomínio inglês (particularmente, o
habitação e urbanismo; Oriente Médio), a sua reserva de poder. No entanto,
d) medidas financeiras eficazes que assegura- as despesas crescentes de sua política social no plano
ram o valor monetário da libra e conversibilidadeao interno começavam a tomar por demais onerosa a
ouro. manutenção,por parte da Grã-Bretanha, de uma
Em 1950, a Inglaterra jâ podia orgulhar-se de política imperial e marítima (mormente em Suez e no
sua recuperaçãoa ponto de abrir mão dos recursos Indico).
assistenciais do Plano Marshall. Viu instaurada a A partir de 1950, a política de descolonização
paz social interna e consolidada a sua posição finan- total não será alheia aos imperativos do WeZáare
ceira. E indiscutível,porém, quepara atingiresses Sfafe e seus compromissos com a paz social domés-
objetivos, puderam os trabalhistas contar com um tica
certo ''estoicismo'' tanto dos setores até então mais
privilegiados da sociedade, como dos sindicatos de
28 Mana YeddctLineares .4 .Lura Contra a MefrópoZe 29

(:') .Arranca por fundos públicos. Em 1948, a produção industrial


jâ ultrapassava os índices de 1938. Entretanto, gran-
A recuperaçãoda França foi menosbrUhantee de parte dessesbenefícios foi corroída pela inflação
menos imediata do que a da Inglaterra. Ela sofrera (alta de preços e queda do poder aquisitivo) e por
600 mil perdas humanas, embora viesse a demons- sucessivas desvalorizações do franco.
trar uma capacidadede rápida recuperaçãodemo- À dança dos planos económicose financeiros
gráfica. Tanto a sua produção agrícolaquanto a corresponde uma intensa atividade política, sobre a
industrial atingiram índices baixíssimos. A ocupação qual se refletem os problemas criados com as guerras
alemã (quatro anos de duração) foi escorchante para coloniais(Indochina e Argélia), e uma participação
a populaçãocivil. Por outro lado, o final da guerra sempre atava dos movimentos operários. O advento
encontra um país profundamente dividido: a es- do segundogovemo do General De Gaulle em 1958
querda comunista, socialistae radical, almeja uma (insiauraçãl;'da üblica),'em yii;rude da questão
completa transformação das estruturas sociais e eco- argelina, inicia uma nova era de nacionalismo, con-
nómicas, de cunho anticapitalista, e a burguesia e a servadorna sua política interna, progressistana sua
pequena burguesia conservadoras opõem-se a mu- PÉ)líticaexterna, ao mesmo tempo em que coloca a
danças fundamentais do sistema. Mas apesar das necessidade de assegurar a paz social em benefício do
divergênciasideológicas, foi executado Ufn-ampl(o progresso económico. Situa:se, na primeira fase des-
programade reformas que se destinava a reconstituir se governoDe Gaulle (.1958-1962),a política de des-
a'economia e a minorar os desequilíbrios sociais. colonização geral da Africa de expressão francesa.
Entre 1944 e 1946, foram introduzidas as se-
guintes mudanças de estruturas: a nacionalização
dãs; minas de carvãol'da Renault (indústria automo- Z)) ZI/mnovo capífaZümo7
bilística), dos transportesaéreos, do crédito, do gâs e
da elefricidade, das companhias de seguro; a criação A rapidez das transformações por que passavam
do sistema nacional de seguro social extremamente os países europeus capitalistas, caracterizadas por
eficiente (aposentadoria e assistência médica gratuita uma maciça.intervenção..doEstado.em setores.de
para assalariados). De tal forma foram bem sucedi- base da economiae o reconhecimentodas !ejvindt
das essas iniciativas, principalmente as relativas ao cações trabalhistas, de longa data, quanto .à adoção
sistema de crédito e seguros, que em 1949 cerca de de.::piática$..89ciai$ .!çdistributivas de . renda, fazia
50%o dos investimentos nacionais eram financiados com que surgissem indagações: o capitalismo mtl:
30 31
Àiarfa Xedda .[ínáares l .,4 Ztzra Contra a .Aíefrx5poZe

dou? Os países capitalistas se socializam? XIX, que decidia nas bolsas de Londres e de Pauis,
Os. grupos económicos franceses, capitaneados posteriormente de 'hall Street, sobre a sorte do Capi-
por sua burguesiatradicional, foram maíi"resistentes tal e os destinos de milhões de indivíduos em todas as
do que os ingleses à adição de medidas reformadores partes do planeta. Cabia agora ao Estado exercer um
do sistema capitalista que reduzissem a sua cota de povo; papel.; .o de propulsor do sistema econõmiêõ
participação nos lucros provenientesdo crescimento (financiamento, seguros,'compras de material bélico
económico. Assim, as mudanças francesas não dei- e equipamento) ç regula(4g! dos .meçanismos sociais!
xaram de ser caracterizadas pela ascensão da luta de aliviando as tensões(previdência social, habitação,
classes e de uma intensa atividade partidária, o que seguro de desemprego, saúde, educaçãol lazer) .
levou à politização do sindicalismo, à participação de Mas o progresso desse novo capitalismo não
intelectuaisno debate de idéias e ao confronto, por indicava a solução de problemas fundamentaisuO
vezes violento, entre ''forças da ordem" e movimen- ppmeiro delesdiz respeito à incapacidade do Estado
tos populares. Nesse confronto, estevesempre pre- dãÕitalistã'de'intervir:decisivamente,no processo
sente a questão do capitalismo(a exploração do tra- produtivo de modo ã controlar. d dwenvo/pimento
balho pelo Capital), com sua decorrência, naquele fecho/óglcoe impedir o desperdício que é determi-
momento: a descolonização. nado Dela adoção contínua de fBovações . técnicas.
Dois fatos novos aparecem representados pela Assim, instalações industriais antes de serem amor-
revelação do extraordinário poder económico dos tizadas jâ são substituídas por outras, mais moder-
Estados Unidos(a gigantesca capacidade de seu par- nas e sofisticadas, o que impõe um esforço perma-
que industrial) e o desaparecimento da imagem clás- nente de investimento financeiro. ''Submetida à fata-
sica do capitalismo concorrencial(a "livre empre- lidade da inovação, a racionalidade técnica do mun-
sa''). Ao contrário do capitalismo de Adam Smith, do capitalista desemboca sobre a irracionalidade''
Ricardo e Say, nos seus primórdios, surgia um novo (Jean Mathiex e Gérard Vincent, .Hhfoíre .4t{»tzrd'
capitalismoem que o Estado se dispõe a intervir, ha1,.2945-.1970,
Paras,V. 1, 1972).
impedindo a repetição das crises de safe/prodtzçâó Poder-se-ia, pois, falar de um fpnpeHaZümo de
de equipamentos (1873, 1929) e seus efeitos dramá- /inovação, ou umneo-filipeHalümo; que marcará a fa-
ticos, compondo-secom as empresas, num acordo se de descolonização e o surgimento de novas relações
tácito, através dera/üícas ep/ane#amenfos. Aos pou- capitalistas no plano mundial. A inovação tecnoló-
cos, desaparece, também, aquela imagem do óur- gica é poupadora de mão-de-abri;'têndó"iiã.çaráter
gtlé) co/zquisfador, o capitalista empresário do século recessivo de emprego, tanto no setor secundário
32 Mana Yedda Lineares .4 .Lula Contra a .Bíefrópo/e 33

quanto no terciário da economia. Nessas condições, ricos'', em defesa da prosperidadee do bem-estar.


ela se traduz, socialmente,por um estado de desem- Já nos ''países pobres'', que representamcerca de
prego estrutural, de crise permanente. Ora, o aper- 50%oda população mundial, a insuficiência na pro-
feiçoamento infinito da tecnologia acaba por reforçar dução de alimentos leva à escassez, à subnutrição e à
o gigantismo das empresas, a complexidade da sua morte prematura de grande parte de seus habitantes
organização e de suas ligações múltiplas no plano (1/3 dos habitantes da Terra).
interno e externo(os conglomerados, as multinacio- Em síntese,se o capitalismo
mudoua faceda
nais), levandoà exacerbaçãoo carâter cada vez mais Europa no pós-guerra, ele, no entanto, não chegou a
internacional do capitalismo alterar o quadro estrutural das desigualdadessociais
Um segundo problema magna não solucionado sobre as quais se assenta. Pelo contrário, o seu aper-
pelos países capitalistasé o da agricultura, que se feiçoamento reforça a exploração do trabalho de for-
torna, dé forma ç.rescente,subordinada aos impera- ma cada vez mais sofisticada e acentua os desequi-
tivos dâ indústria e da rede:de comercialização.Ao líbrios, tanto no nível nacional, quanto no interna-
dependerda indústriapara a sua modernização
e cional.
aumento de produtividade (maquinas, fertilizantes, A luta pela descolonizaçãonão podia deixar de
inseticidas, diminuindo a dependência das conjun- ser uma luta contra o capitalismo, sem deixar de ser,
turas climáticas), ela também não consegue contro- também, no sentido político, uma luta contra as
lar a comercialização
e, por conseguinte,
os preços Metrópoles.
do que produz.
O mundo do pós-guerra defrontou-se, pois, com
o grande paradoxo de nossos tempos. Enquanto há
possibilidade de produção de alimentos ''excedentá-
ria'' nos países centrais do capitalismo, isso não se
dá, em virtude das políticas de controle dessa produ-
ção, de modo a não permitir a queda dos preços dos
produtos. Tal queda levaria a diminuir os rendimen-
tos dos agricultores. Medidas malthusianas(redução
da produção de alimentos, com subsídios para produ-
tores com terras não cu/tiradas) visando à sustenta-
ção dos preços agrícolas são aplicadas nos ''países
T
,4 Z#fa Contra a Mefn5po/e 35

Ionização'', que se concluiu com a liquidação dos


impérios coloniais ibéricos na América Central e
Meridional.
Foi, porém, ao longo do século XIX, com a
Europa da revolução industrial e do capitalismo, que
uma segunda onda expansionista levou os .=burgue-
ses conquistadores", senhores do Capital, .da. ciência
A COLÓNIA FACE e da.tecnologia(Charles Morazé, .Z;es .Bourgeois
quéranfs, Paria, 1957), h'esistivelmente, à apropria-
Coza -

AO COLONIALISMO ção direta ou indireta das terras e mares do globo.


Surgia, assim, na esteira desse amplo movimentode
expansão capitalista e conquista territorial, empreen-
dido pelo homem branco, um sistema, em nível pla-
O colonialismocomo sistema netário, de dominação política, de exploração econó-
mica e de sujeição cultural: o colonialismo. A sua
implantação se fez através de acirrada concorrência
A) Para que se coZoniza e fortes tensões entre as potências colonialistas que
disputavam os mercados, a ocupação de territórios e
Os chamadosTempos Modernosque, para os a proeminência, ou seja, o prestígio nacional.
países do Mediterrâneo ocidentale da orla atlântica ''Colonizar'', afirmava, em 1912, um eminente
do continente europeu, nasceram da crise do sistema jurista, ''é relacionar-secom os países novospara
feudal e da gestação do capitalismo, conheceram o tirar benefícios dos recursos de qualquer natureza
primeiro momento de expansão transoceânica da his- destes países, aproveita-los no interesse nacional, e
tória ocidental. Com o descobrimento dos caminhos ao mesmo tempo levar às populações primitivas, que
marítimos, para o controledo comércio oriental, e a delas se encontram privadas, as vantagens da cultura
colonizaçãona América, formaram-seos impérios intelectual,social, científica, moral, artística, literá-
mercantilistas
dosséculos
XVI, XVll e XVIII. A ria, comerciale industrial, apanágiodas raças supe-
revolta dos colonos ingleses (as Treze Colónias) da riores. A colonização é, pois, um estabelecimento
América do Norte foi o início dessa primeira ''desco- fundado em país novo por uma raça de civilização
avançada, para realizar o duplo fim que acabamos
Y'
,4 .[tzfa Contra a Mefrópo/e 37
36 Àlarla yedda .LfnÀares l

Mas a crítica de Bemard Shaw, no final do sé-


de indicar."(Mérignhac, &'écü de /égüZaífopz ef culo XIX, não podia ser encarada com seriedade..úA
d'économíe
coZoníaZes,
Paras,1912). doutrina predominante estabelecia que a colonização
Destacam-se aí duas idéias: a colonização era que se processava; diferentemente da exploração mer-
um fator necessário à prosperidade da Europa, no cantilista da primeira fase, tomara-se um ''sistema de
interesse maclona/ dos países colonizadores; a coloni- intercâmbio'' legítimo. A obra civilizadora justifica a
zação era igualmente fundamental para as popula- dominação política e económica, embora fosse ex-
ções subjugadas que receberiam as benesses da civili- cluída qualquer possibilidade de consultar as popu-
zação. Estão explícitasas concepçõesde superiori- lações dominadas sobre os seus próprios interesses no
dade da ''raça branca'' e da ''civilização''européia, estabelecimento desse sistema de trocas. Este se de-
do ''direito'' e do ''dever" moral do colonizador de terminava por seu carâter unilateral e, ao firmar a
colonizar. missão clví/izadora com a qual se justificava e se legi-
Jâ Bemard Shaw encara de outra forma ''os timava, não podia deixar de levar consigo o gérmen
fins'' e os meios da colonização, menos morais e mais de sua própria destruição: os colonos, uma vez atin-
pragmáticos: gida a ''maturidade'' intelectual, se voltariam contra
''O inglês nasce com certo poder milagroso que o colonizador.
o toma senhor do mundo. Quando deseja uma coisa A palavra ''colono'' vem, etimologicamente, de
ele nunca diz a si próprio que a deseja. Espera co/ere, o que quer dizer ''cultivar'', significando, pois,
pacientementeaté que Ihe venha à cabeça, ninguém o mesmo que ''agricultor", o homem que cultiva a
sabe como, a insopitâvel convicção de que é seu dever terra em troca de um pagamento ín Pzafura. Existi-
moral e religioso conquistar aqueles que têm a coisa ram colónias na Antiguidade, assim como também
que ele deseja possuir. Toma-se, então, irresisüvel as já mencionadas dos Tempos Modernos. ''Coloni-
(...) Como grande campeãoda liberdadee da inde- zação'' significa fixar colonos em outras terras e re-
pendência, conquista a metade do mundo e chama a giões, mantendo elos com o país de origem. Trata-se
isso de Colonização. Quando desejaum novo mercado de uma pratica conhecida na história da humanidade
para se»s produtos adulteradas de Manchester, envia desde longa data, como forma de povoar regiões de-
um misbionârio para ensinar aos nativos o evangelho sertas ou habitadas por populaçõesmais atrasadas,
da paz. Os nativos matam o missionário; ele recorre tecnicamente, e de cultivar, para manter relações de
às armas em defesa da Cristandade; luta por ela, troca com a metrópole, a cidade-mãe.. Historica-
conquista por ela; e toma o mercado como uma mente, os exemplos são de duas ordens:
recompensa do céu ( . . .y' (The Màn oÍ.Desfínp)
38 39
Marca yedda ZlnÀa'ei l .4 lula Contra a .AíetrópoZe

a) as colónias que se estabeleceramapós uma mento de capitais, mormente após 1890 -- foram QS
conquista militar e política; nesses casos, a emigra- Governos levados a assuma' uma política expansio-
ção e o estabelecimento de colonos, em terras estra- nista;
nhas, resultam de uma política de poder, de domi- c) a passagem de uma expansão ''espontâneas'
nação imperial (Imperítzm: autoridade, dominação -- comandada por grandes colonizadores, pioneiros
absoluta) ;
da colonização e exploradores (Mungo Park, Rena
b) as colónias que se estabeleceramantes da Caiam, Brazza), missionários (Livingstone) e empre-
conquista militar e da dominação política; nesses sas coloniais, com esporádicas intervenções políticas e
casos, a marcha pioneira, a emigração, precede a militares -- a uma política deliberada que levara à
instalação do imperfum, da autoridade e da sobe- constituiçãode Impérios e a uma nova partilha do
rania.
m.findo, deve ser compreendida à luz das próprias
No entanto, o processo de colonização européia transformações por que passava o capitalismo.
do mundo não europeu ao longo do século XIX apre- Coube principalmente a J. A. Hobson, Rudolf
sentou certas particularidades, a saber: Hilferding, Kautsky, Rosa Luxemburgo e Lenin,
a) .Jla primeira metade do século, caracterizada fundamentados na analise do capitalismo monopo-
pelo capitalismo liberal, /aüser./abre, a expansão eu- lista, do novo papel do Estado militarista e das leis
rõpéialoi moderada; a Grã-Bretanha conservava a que regem a concentração do capital financeiro, ex-
Íàdià como centro do Império que construíra no plicar essa fase suprema do capitalismo como sendo
século precedente, sobretudo conquistando-o dos a do /mperla/esmo,uma etapa na história da huma-
franceses; a França conquista Argel, em 1830, ini- nidade. Afirmava Hobson, economistaliberal inglês:
ciando-se, aí, um longo processo de ocupação e colo- ''(...) a análise do Imperialismo, com seus naturais
nização da Argélia;
suportes, militarismo, oligarquia, burocracia, prote-
b)ua parti! da segunda metade do século -- com cionismo, concentração de capital e violentas flutua-
o espetacular desenvolvimento da civilização indus- ções do comércio, faz com que ele se apresente como
trial e suas conseqüências (expansão demográfica e o perigo supremo dos modernos Estados Nacionais''
procura de mercados para os seus produtos), a exa- (J. A. Hobson,.Ihperla/ísm,a .Srzzdy,Londres,1902).
cerbação dos nacionalismos burgueses, a competição Concluindo, poder-se-ia sintetizar com Jean-
;entre os países capitalistas (Inglaterra, França, Ale- Paul Sartre: ''A colonização (.. .) é um sistema que foi
manha), a busca não somentede mercados e maté- posto em pratica no meado do século XIX, começou
rias-primas, mas também de campos para investi- a dar frutos por volta de 1880, entrou em declínio
41
40 Jb/aria Xedda ZínÀarei . ,4 1,ufa Contra a Mernópo/e

após a Primeira Guerra Mundial e se volta, hoje, proteçãodo Canal de Suez; ocupa, ainda,.o Evito, o
contra a nação colonizadora''. (Zes Zemps Mbder- Sudão, Chipre, a Somâlia; na Ãfrica Ocidental, ins-
lzes, março-abril, 1956) tala-se na Costa do Ouro e na Nigéria; na Africa do
Sul, anexa o interior da Colónia do Cabo, através de
Cecíl Rhodes, surgindo,assim, as Rodésias;em
.B) Qzzemco/oniza 1902, após a guerra contra os Boers, antigos colonos
holandeses, conquista o Transvaal e Orange. Em
No meado do século XIX, pouco restava dos 1910,outorga o estatuto de Domínio ao Canadâ, à
antigos Impérios mercantilistas. Somente a (;rã-.Bre- Austrâlia, à Nova Zelândia e à Ãfrica do Sul.
fan&a permanecia como a grande potência marítima Às vésperasda ll Guerra Mundial, o..Império
e ''imperial'', embora procurasse evitar, até 1874, Britânico era extremamentillico e oodelg$g:.Elç..!g
novas anexações, salvo as escalas da índia (no Medi- estendia soQlç..B!!!AlgmQ.aa.PQplÜ4çãQ.do- planeta.e
terrâneo oriental, na rota da índia pelo Cabo)«;.O: ãÕiÚiãÇiiiM-çêgwuü@
problema do desempregoindustrial permitira,. ao l
longo do século,uma acentuadaemigraçãopara.as ããiãf:iããái;&6iê.é:.êüwd4..Q.Het!$!ççdQ.Qd'ntç
:colónias de povoamento (Canadâ, Cabo, Austrâlia, Mléãio''Cõiiiii;lava 15%oda produção mundial de
Neva Zelândia), que não tardarão a adquirir uma trigo, carne, manteiga, algodão, ferro e aço. Parecia
relativa autonomia. Nas Antilhas e na Guiana, ela imbatível e imperecível, embora pesasse sobre ele
mantém o sistema tradicional de colónias. A partir uma nuvem de preocupação: 85%odos seus 500 mi-
de 1874,após a primeira crise de superprodução do lhões de habitantes eram constituídos de populações
sistema industrial, toma corpo o movimento imperia- ''indígenas'' (negros, indianos, amarelos) .
lista na Inglaterra. Com a ascensão dos conservado- Jâ o .fp7zpérfo Cb/onça/ Xrancêç; menos espeta-
fés (a Rainha Vitória é coroada Imperatriz da Índia cular do que o inglês, foi produto de uma expansão
por Disraeli), a campanha por uma Greafer .Brffaf/z mais rápida e concentrada no tempo. Em 1815, só
canta as glórias (e a carga) da missão civilizadora do Ihe restavam vestígios do antigo império mercanti-
homem branco(Kipling, Chamberlaín). lista: Martinica, Guadalupe, Guianp, dois entrepos-
Na Ãsia, em nome da defesa da Índia, ela anexa tos quase abandonados ng Senegal, a Ilha de Reu-
a Birmâniae a Malâsia.Na Âfrica Oriental,apo- nião, cinco feitoriasna índia. A partir de 1830,
dera-se do Quênia, de Uganda, com o objetivo pro- anexa Argel, cuja conquista se fará lentamente, e
clamado de defender as fontes do Nulo e garantir a Libreville, no Gabão. De 1850em diante, ingressa na
42 43
Mhrfa Xedda Zz'nÀares .,4.Luta Contra a Metrópole

competição pelas colónias. Em 1939, estende-se so- e a sobrevivência


metropolitanas.
Ao ter inícioa
bre 13 milhões de quilómetros quadrados e possui Guerra de 1939-1945,a França era um país desi-
110 milhões de habitantes. Era esse o império que gualmente desenvolvidodo ponto de vista do capita-
tornara a França uma potência mundial. Nesse mo- lismo e sua população agrícola ainda representava
mento, 25%o do comércio exterior da Fiança era cercade 50%oda populaçãototal do país. Entre as
formado pelas importações e exportações coloniais. críticas que se faziam ao imperialismo francês uma
Seus principais pontos de dominação eram os se- se referia à ''sovinice" da administração- metropo-
guintes: litana, que nada despendia nas colónias, exigindo
na Africa do Norte: Argélia, com 8 milhõesde que estas se autofinanciassem, e outra dizia respeito
habitantes, dos quais perto de um milhão de fran- aos investimentos privados franceses que eram, de
ceses residentes e colonos; a Tunísia e o Marrocos preferência, canalizados para empréstimos externos,
na categoria de Protetorados; quase nada aplicando nas áreas coloniais.
o Saara, espraiando-separa o sul, até o golfo A .Hb/anda de 1939 conservava ainda a herança
da Guiné, e mais além, até as proximidadesdo do velho império mercantilista: as Índias neerlan-
Canga; essa Ãfrica negra dividia-se, para fins desas (Arquipélago de Sonda), Java, país de vulcões,
administrativos, em duas Federações: Ãfnca Oci- Celebese Sumatra, além de Boméu e Nova Guiné,
dental Francesa e Ãfrica Equatorial Francesa, concentravam toda a energia colonizadora da metró-
além dos mandatos da Sociedade das Nações, pole holandesa. Abrangendo 2 milhões de quilóme-
Toga e Camarões (ex-colónias alemãs) ; tros quadrados e 70 milhões de habitantes, opõem-se
no Oceano Índico, Madagáscar; a uma pequena Holanda de 35000 km' e uma popu-
no Pacífico, a Indochina Francesa (Anam, Laos, lação de 8 milhões, que se orgulhava da .sua obra
Camboja, Cochinchina e Tonquim); na Oceania, colonial, louvada como modelo de empreendimento,
Nova Caledânia, além de pequenas ilhas espar- prosperidade e organização..!ê!!=.!g!-.ç4çlDPlg-Sla
sas (Taiti, por exemplo); apontada.coma-uma-::l!$ma:êç.prç!!(118os coloniais!...a
nas Antilhas, Martinica e Guadalupe, entre as tiiihéira dp globo''(Hubert Deschamps;Za Ffn des
mais significativas; a Guiana; }liii»71;ãZofonlaux, Paria, 1950): al?!Hdânçia-dç
no Oriente Próximo, os mandatos da Síria e do mão- de-obra .baixo.justa. dç .ploduçãbubajxo.preço
Líbano. dã;inlpadações-holandês.as-baixo$jalários.
A guer-
Diferentemente da Grã-Bretanha, o império raãe descolonização iria revelar a natureza do "pa-
francês não era tão fundamental para a prosperidade raíso'' colonialneerlandêse faria surgir um novo
44 Murta Yedda Linltares 45
,4 Ztzfa Cozzfra a .4/efrópo/e

país: a Indonésia. plano, Arquipélago do Cabo Verde e Guiné, secun-


A .Bé/Pica, pequeno país de longa tradição co- dariamente. Sua obra colonizadora, uma vez posta à
mercial e fabril, nasceu em 1830 e dificilmente pode-
prova, contribuiu, nas duas últimas décadas, para
ria demonstrar ''vocação'' colonialista, não fosse a revelar a fragilidade do sistema económico e social
iniciativa, a título pessoal, de seu Rei Leopoldo ll da Metrópolee para fazer explodir, em 1974, as
(segundo rei belga, 1865-1909),também homem de bases do seu regime político ditatorial e defasado
negócios. Coube a esse rei, doubZé de empresário, (o Salazarismo).
promover um dos mais cruéis e devastadores empre-
endimentoscoloniais de que se tem notícia na his-
tória: a conquista e exploração do Conho, que foi C) Como se co/onlza
entregue a companhias internacionais. Em 1886 pro-
clamou o "Estado Independente do Conho'' do qual
A colonização se revestia de formas variadas de
se tomou, em carâter privado, soberano absoluto. dominação direta e indireta. Paul Leroy-Beaulieu,
Após sua morte, em 1909, deixou-o, em herança, à
Bélgica. Como os holandeses na Indonésia, os belgas que fez uma tipologia ''da colonização entre os povos
modernos", distinguiatrês tipos de colónias: as de
investiram grandes Capitais no Congo e empregaram comérc;o ou enfrqposfos(Hong-Kong e Singapura) ;
''métodos científicos'' de exploração económica e
administração (grandes culturas, explorações de mi- as depZanfagem ou de exp/oração, que exigiam capi-
tais e se destinavam a exportar produtos exóticos e
nérios, plantações de borracha, obras sociais, mis-
sõesreligiosas). Também, como na Indonésia, o pro- matérias-primas (Índia e Java); as de povoamento:
em climas temperados e com imigração ''branca''
cesso de descolonização se caracterizou por sua ex-
trema violência. (Canadâ e Austrália). outros autores distinguiam as
co/ónías-resewafórh(fornecimento de matérias-pri-
O impériopoHugaêsfaziao papelde primo mas e mão-de-obra à metrópole), as de escoamento,
pobre do imperialismo. No entanto, foi o mais resis-
tente à descolonização. Do velho império mercanti- que absorviam produtos da metrópole e mão-de-obra
lista restavam algumas ''sobras": no Indico, Diu e
ou, segundoG. Hardy, as de administração(anca'
Goa; no Arquipélago de Sonda, uma parte de Temor; dremenf). Além desses, havia um outro tipo não
ostensivamente declarado, de penetração financeira
na China, Macau, perto de Cantão, como uma antiga
(China, Turquia, América Latina). Como formas di-
feitoria;na Ãfrica, porém, conservavao melhorde versas de dominação colonial, refletiam as condições
suas conquistas, Angola e Moçambique, no primeiro
geográficas, políticas, económicas e culturais da ex-
46
Màrfa Xedda .LínÀares l '4 lula Contra a Mefrópo/e
47

pansão. Dizem respeito aos métodos empregados e do emprego das armas(militarismo dos Estados
pelo colonizador e, também, ao nüe/ de desenho/- Nacionais e ''corrida'' armamentista), estendeu-se,
vlmenfo#üfóríca das populaçõessobre as quais se assim, em profundidade e em extensão. Objetivava o
exerciam as políticas do Ocidente capitalista. lucro, o poder e o prestígio,embora advertisse,em
Na ética acima, as colónias resultaram, em seus pleno apogeu do imperialismo, Leroy- Beaulieu: "É
tipos diversos, da conjugação dos interesses impe- raríssimo que uma colónia forneça um rendimento
rialistas (de grupos económicos e de políticas ''na- líquido à mãe-pátria (pois) na infância, ela não pode
cionais'' européias) e das estruturas pré-coloniais (e) na maturidade, ela não quer''. Por outro lado,
(condições materiais e formas de organização social não escapava aos observadores contemporâneos a
''nativas'' ou ''indígenas''). Para uma análise global concorrência desastrosa que o afluxo de produtos co-
do fenómeno de formação dessas novas sociedades, loniais nos mercados metropolitanos(trigo do Ca-
devem ser levados em conta os seguinteselementos nadá, vinho da Argélia, óleo e azeite do Senegal)
ou fatores: representava para os agricultores do lado capitalista.
a) as determinaçõesgerais do capitalismomo- Mas na crítica dos.liberais, como Hobson, por exem-
nopolista; plo, estava a noção de que a colónia empobrecia mais
b) as políticas nacionalistas dos Estados euro- do que enriquecia às metrópoles.
peus; No entanto, para economistascomo Frederic
c) o processo de conquista e de ocupação colo- List, as colónias serviam para desenvolver as manu-
nial, de modo a verificar como se deu o contato com faturas, as importações,as exportaçõese, ainda, a
as populações locais, como se organizavam as socie- marinha. Para um estadistacomo Bismark, eram
dades ''pré-coloniais'' e quais os recursos de que dis- uma condição da paz européia, um derivativo das
punham (nível das forças produtivas); competições no continente. Para os ideólogos do
d) o resultado, em termos sócio-económicos e imperialismo,a Europa levaria a paz aos bárbaros,
político-culturais, da colonização: as sociedades aos povos primitivos, ''protegendo-os'' e lavrando-os
emergentes. das guerras intestinas. Ela deveria exterminar a
O capitalismo eurQpeui por intermédio de com- escravidão, interditar o canibalismo, sacrifícios hu-
panhias especialmenteorganizadas para esse fim, da manos, a incineração das viúvas, levar práticas mo-
mobilizaçãodo capital financeiro(construção de es- dernas de combate às epidemias, à doença e à fome.
tudas de ferro, exploração de minérios, obras de Como dizia o Cardeal Mercier, a colonização''é um
infra-estrutura, como portos e serviços urbanos, etc.) ato coletivo de caridade que num determinado mo-
48 Metia YeddaLineares 49
.4 Ztzfa Contra a Mêfn5po/e

mento uma nação superior deve às raças deserda-


das' ' !
Apesar dos ''benefícios'' que seriam levadospelo
homembranco, a ocupação colonialfoi, via de regra,
um ato de conquista que enfrentou resistências locais
mais ou menos acirradas. Os métodos de penetração
dependeram, portanto, das possibilidadesdo coloni-
zador e das próprias condiçõeslocais. Na história do
capitalismo, esses episódios receberam o nome de
"partilha da Ãsia e da Ãfnca". A forma de relação
será marcada pela presença do colonizador branco
na colónia, fator este que exercera um papel impor-
tante na descolonização, explicando, em grande par-
te. o caráter mais ou menosviolentoque ela assu-
mira. Vemos aí duas hipóteses:
a) o peso da população branca é inversamente
proporcional ao nível pré-colonial da sociedade geral
dessa colónia;
b) o grau de exploração da colónia estará vincu-
lado ao nível de desenvolvimentocapitalista da me-
trópole e das sociedades pré-coloniais.
Em todos os casos, a colónia será:
a) uma dependênciajurídica(presença de dele-
gados da Metrópole, que administram);
b) uma dependênciaeconómica que se traduz
pela reedição do ''pacto colonial''(a co16nia como
reserva de matérias-primas, mão-de-obra e merca-
dos) e pelas possibiHdades de investimento;
c) uma dependência cultural.
Um critério de classificar as colónias seria o de
Mana Yedda Lineares ,4 Lula Gonfra a Mêf/lópoZe 51
50

considerar as características demográficas e culturais lações, nem as suas características sócio-culturais.


das áreascolonizadas: Um especialista africano, Hosea Jaffa(Z)e/ 7'H-
a) regiões densamente povoadas onde se desen- ba/Esmo a/ Socialismo, 1976) propõe, no tocante à
volveram, desdea Antiguidade, civilizaçõessuperio- Ãfrica, a seguinte tipologia:
res e que mantiveram contatos, mais ou menos di- a) Colónia ''tribal", com separação racial; eli-
retos, mais ou menos intermitentes, com os países e minação do tribalismo, ocupação branca; separação.
povos da Europa ocidental: possuíam uma estrutura por linha de cor; Ãfnca do Sul, Bechuanalândia,
social complexa; eram, inicialmente, ''países ricos. Niasalândia, as Rodésias, as colónias portuguesas;
que deviam remediar a pobreza da Europa; consti- a ''retribalização'' resultou da necessidade colonial
tuíam Estados organizados, dotados de uma buro- dos habitantes ''brancos'' de terem mão-de-obra ba-
cracia; situam-se aí os países da Ãsia, do Oriente rata para o trabalho fora da ''zona tribal'';
Próximo e do Norte da Ataca; a presença da Europa, b) Colónia de ''autoridade tribal'', onde exis-
pela conquista e pela anexação, resultou no empo- tiam traços ''protofeudais'' (sociedades mistas tribais
brecimento dessas comunidades e Estados, no acir- e ''feudais'', Buganda, Katanga, Sudão, Guiné); in-
ramento das rivalidades entre comunidades locais trodução da monocultura comercial; regressão ao
(muçulmanos contra hindus, malaios contra chine- nível de cultura; apropriaçãodas terras tribais no
ses, judeus contra árabes); caso de Tanganica; situam-se ainda nessecaso Ugan-
b) regiões de fraca densidade de povoamento, da, Quênia, Nigéria, Gana, Serra Leoa, Gâmbia, o
em nível distinto de evolução histórica e de civili- ConhoBelga, Ruanda, Burundi, o conjuntoda Ãfn-
zação; organização social predominante, o triba- ca Ocidental Francesa; predomina a ''pratica de go-
lismo, este também diferenciado;a introdução do verno indireto'', pela utilização das chefias tribais
colonialismo destrói o sistema tradicional(a pZalz- ''transformadas'' na tarefa de manutenção dos cha-
fafíon comercial se substituiu à economia de subsis- mados governos locais em associação com a admi-
tência) e as instituições (comunidades de aldeia, clãs, nistração colonial; é preservado o racismo branco ao
associaçõesreligiosas, hierarquias sociais); surge lado das ''autoridades nativas'' europeizadas;
uma nova ''elite'' subordinada aos valores e interes- c) Colónia ''feudal'' representada pelo norte da
ses da Metrópole e que servirá de intermediária no Ãfrica, Somâlia,Eritréia, Etiópia; salvona Argélia
sistema de dominação; são mantidas e/ou !profun- que teve povoamento europeu, elas se caracteriza-
dadâs as rivalidades intertribais; no caso da Ãfrica, a riam pela prática de dominação interposta(chefias
partilha não levou em conta o passado dessaspopu- locais em aliança com o imperialismo) .
52 Mana YeddaLineares .4 .Lura Cbnfra a Mêfn5poZe 53

A revolta do colonizado melros progressos fundamentais, como a domesti-


cação dos animais, a agricultura, a criação, a cerâ-
A) Os condenados da terra mica, a metalurgia,o papel, a pólvora, etc., bem
como as instituições de vida social (cidades, Estados
''Não faz muito tempo'', escrevia Jean-Paul Sar- organizados, moeda, a escrita), perdeu, ao longo de
tre, em 1961, ''a terra contava com dois bilhões de dois séculos de dominação européia, cinco milénios
habitantes, ou seja, 500 milhões de homens e um de autonomia e liderança. Seus povos altamente civi-
milhão e meio de indígenas. Os primeiros dispunham lizados tinham padrões éticos bem diversos dos valo-
do Verbo, os outros o pediam emprestado. Entre uns res que acompanharama ocupaçãopelo Ocidente,
e outros,reis de fancaria, feudais, uma burguesia que atribuíam preeminênciaà técnica e aos bens
inteiramente falsa, serviamde intermediários.Pe- materiais. O sistema social da índia, da Chjxm e das
rante as colónias, a verdade se mostram\nua: .as regiões que receberam sua influência, fundamen-
'metrópoles' queriam que ela se apresentasse vestida; tava-se num conjunto de valores que ''dava o pri-
reciboque o indígenaas amasse. Como se, de meiro lugar ao sábio, àquele que sabe no domínio
alguémmodo, fossem mães. A elite europeia procurou literário, poético, metafísicoe espiritual''(Mathiex-
fabricar um indigenato de elite; selecionavam-seado- Vincent,.Hhfolre.4tdotzrd'&uí, v. 11,1973).A perda
lescentes que tinham sobre a testa, marcados a ferm, de sua identidade cultural seguiu-se à perda de suas
os princípios da cultura ocidentale a boca recheada riquezas, de sua autonomia, à tentativa de Ihe arran-
de mordaças sonoras, belas palawas pastosas que se car o passado pelas raízes.
colavam aos dentes; após uma breve estada na metró- A Ãfrica, cuja verdadeira história começa a ser
pole, eram enviadosde volta, truncados. Mentiras escrita pelos africanos, sofreu a espoliação mais com-
ambulantes, nada mais tinham a dizer a seus irmãos; pleta que se conheceem homens, recursos, valores
estesfaziam eco; de Pauis, de Londres, de Amsterdã, culturais. Os invasores mudaram os velhos padrões
lançâvamos as palavras 'Partenonl Fratemidadel' e, da sociedade tribal, impuseram o trabalho forçado,
em alguma parte da Ãfrica, da Ãsia, .lábios.se entre- o racismo, algumas vezes por métodos paternalistas
abriam: '. .. tenon! ... nidadel'. Era a idade de ouro'' que encobriam a proletarização do trabalhador aM..
Sartre foi a grande voz da consciência europeia anti- cano, como foi o caso de Katanga (Congo Belga). E
colonialista. conhecida a anedota dos livros franceses de História
A Ãsia, que tinha sido berço das grandes civi- ilsados nas escolas de suas colónias pelos ''nativos'l,
lizações, a cujo génio a humanidade deve seus pri- cuja primeira frase falava de ''nossos antepassados os
55
54 Mbría Xedda .Z,ínÀares l Á luta Contra a MêfrúpoZe

gauleses':. ,A .própria memória coletiva 4e um pas- .B) Os nacionalismos, bumerangue


sado comum lhes era arrancada, apagada. do imperialismo ?
Na raiz do racismo e da alienaçãocultural está o
regime de brutal exploração do homem pelo homem,
sobreo qual repousavamas estruturascoloniais. A meanChesneaux (.LHsíe Orienta/e atlx XZ.Xe. ef
tomada de consciênciapor parte dos povos coloni- XXe. .SíêcZes,Paris, 1966) propõe uma tipologia dos
zados desse processo de expropriação absoluta cons- movimentos nacionais contra os regimes coloniais,
titui a essência do processo de descolonização. A de- a saber:
núncia desse estado de coisas partirá da intelectuali- a) os movimentos de resistência à conquista co-
dade colonizada e de intelectuais ''rebeldes'', contes- lonial que se prolongam até o início do século XX:
tatários e antiimperialistasno seio do Ocidente, anha do imperador do Anam, Ham-Nghi= que
como Franz Fannon (.[es Damnés de la berre, ''os recusa o tratado de protetorado francês de 1885; as
condenados da terra"), Albert Memmi(O refrafo do insurreições dos ''letrados'' de Tonquin; a insurreição
coZonüado e o refrafo do co/o/zí,apor) e Sartre na sua da Alta Bimiânia em 1886-87;os suicídios dos ''ra-
trincheira, a revista.[ei Ternos Mbderzzes. Em Paras, jás'' da Indonésia,sobretudode Bati(principio do
a revista Présence Wncafne, com Aliune Diop e um século XX); na Ãfnca, a persistente luta de Samori
grupo de poetas e escritores negros de expressão por um império, contra os francesesno Níger (1881-
francesa, Léopold Senghor, Aimé Césaire, David 1890), a resistênciana Argélia, no Senegal,.no Su-
Dion, lança um movimento de idéias, a zzegrírtzde, dão, na Costa do Ouro(as guerras dos axanti contra
proclamando a consciência do ''eu negro". Sobre ele, os ingleses), as guerras dos zulus; essesmovimentos
assimseexpressaum historiador negro, do Alto Vol- não deixam de ter um carâter popular, sob uma
ta: ''Um dos aspectos fundamentais da negritude é a liderança militar obstinada;
afirmação de si, após a longa noite de alienação, b) os movimentos que se distinguem pelo cara l
como aquele que sai de um pesadelo e apalpa o corpo ter religioso, na medida em que a religião tradicional
todopara se reconhecera si próprio, como o prisio- se apresenta como símbolo da realidade nacional;
neiro libertado que exclama bem alto: 'Estou livre!', \ surgem aí os movimentos de renovação religiosa; o
embora ninguém Ihe pergunte nada''. (Joseph Ki- lslã, na Indonésia,no Egito e nas regiõescircunvi-
Zerbo, Hhlórfa da A/rica Negra, Visou, 1980). zinhas, inspirando organizações políticas nacionalis-
tas: na Birmânia e no Camboja, associaçõese mani-
festações budistas refletem a repulsa popular ao re-
57
56 Metia YeddaLineares .4 .Lula Contra a Metrópole

gamecolonial; na Índia, a revolta dos Cipaios (1857), minante local e como tais se distanciam das cama-
apesar de seu caráter heterogêneo, foi marcado pelo
hinduísmo tradicional;
c) os movimentos ''modernistas'' ou ''ocidenta-
listas'' patrocinados pelas novas camadas sociais que
emergiram com o colonialismo: a InfeZ7zkentsfamo-
derna, a burguesia mercantil, por vezes agrícola e
manufatureira, empregados das administraçõespú-
b blicas ou privadas, interessam-se pela independência
mas, também, pela modernização e pelo progresso;
esses exemplos são mais tipicamente asiáticos e nikte-
afriçanos(Egito e Argélia) do que da Ãfrica negra;
na Agia, os exemplos de Sun-yat-sen (Kuomintang)
e do Japão(vitória de 1905), serviam de inspiração;
na Indonésia holandesa, entre 1920e 1930, surge o
partido nacionalistade Sukamo; em Saigon, em
1925, um partido nacionalista de direita e, na Bh'-
mania, grupos conservadoresfazem o jogo constitu-
cionalista britânico.
Acrescentaremos à tipologia acima os movi-
mentos nacionais que levaram, após a Segunda
Guerra Mundial, à descolonização.Eles serão, no
entanto, tratados no capítulo seguinte. Quanto aos
movimentos ''modernistas'', de cunho burguês e de
inspiração ocidental, carregam consigo o gérmen
antiimperialista. Nutridos pela ideologia do ' Oci-
dente, em cujos manuais assimilaram o ideário de
seus colonizadores(liberdade, igualdade, fralemi-
dade, parlamentarismo, soberania popular, lide em-
presa), apresentam-se como elementos da classe do-
11
58 Metia YeddaLineares ,4 .Lura Cbnfra a Mef/IÓpo/e 59

da Índia; é a quintessência da vontade consciente ou a um estatuto especial -- o do Indlgenafo -- que


inconsciente destes milhões de pobres''. O Movi- outorga aos administradores poderes disciplinares,
mento do Congresso nascido em 1885 com o objetivo não incorpora as grandes liberdades públicas; os
de desenvolveruma política de colaboração anglo- ''assimilados", com direitos de cidadão, seriam os
indiana, muda de orientação e, em 1920, assumindo ''evoluídos", os desenraizados e perdidos na Europa e
a feição de partido, adere ao programa de não-coope- na Ãfrica. Nessas condições, foram mais tardios os
ração e define-sepela autonomia. Pelo Estatuto de movimentos nacionalistas nessas colónias francesas
1935(.Brífü&Índia .Acf), a Índia deveriavir a ser um ao sul do Safira.
Estado Federal, o que não atendia às reivindicações
nacionalistas./
Na Ãfrica, o governo inglês adotou a polítici3çJae
atender às aspirações autonomistas das colónias.sob
o contmle local de minorias brancas e racistas(Ãfri-
ca do Sul e Rodésias). Na 4»'lca Ocfdenfa/ (Nigéria,
Costa do Ouro e Serra Leoa) e na Uganda, fora
implantado o sistema de governo indireto.(fndlrecf
tule) preconizadopor Lugard (o Alto Comissário da
Coroa exercia o poder com a intermediação das ''au-
toridades nativas'' devidamente controladas e ''euro-
peizadas''). A língua comum, o inglês, em unidades
administrativas onde existiam inúmeras línguas lo-
cais, representouum fator favorávelao surgimento
do nacionalismo.
Quanto à França, existiam opiniões divergentes
sobre qual das doutrinas deveria ser aditada no to-
cante às colónias: a ass/míZação ou a associação,
ambas contraditórias, por não corresponderemà
doutrina da autoridade. Para os coloniais, as idéias
humanitáriasda RevoluçãoFrancesa não se aplica-
vam a súditos tão diferentes! Estes foram submetidos
,4 luta 6onfra a .A4eíriêpoZe 61

beldia na Ãsia e na Ãfnca contra a presençaestran-


geira e ocidental. Já os socialistas ingleses achavam
que o remédio contra o imperialismo não era o nacio-
nalismo anticolonial ou o movimento autonomista
(se/F govemmenf) e, : sim, o internacionalismo que
superada o nacionalismo, instrumento ideológico da
burguesia. No entanto, a atuação dos socialistas e
radicais não foi muito eficiente, caracterizando-se
OS CAMINHOS pela ambiguidade.
No período de entre-guerras, encontramos o
DA DESCOLONIZAÇÃO Partido Socialista francês, os radicais, os liberais e
trabalhistas ingleses fazendo belos discursos antica-
pitalistas e humanitários, mas sem uma. definição
política clara anticolonialista. Coube ao marxismo-
Os fatores da revolta leninismoj vitorioso na Rússia, a partir de . 1917,
pelo du-
A) O movimento de idéias Rússia
revolucionária, tendo à frente o Partido Bolchevique,
Mencionamos, anteriormente, a oposição ao definia-se sobre a questão nacional interna e sobre a
colonialismo e ao imperialismo, a partir da crítica li- luta antümperialista. Nos congressos do Komintem
beral (Hobson) e da crítica socialista e mamista (assembléia periódica dos representantesdos parti-
(Rosa Luxemburgo e Lenin). Até a vitória da revo- dos comunistas internacionais), .depois de 1919, ofi-
lução russa, em 1917,o socialismoeuropeu opunha- çializava-se a posição do movimento comunista inter-
se à colonização,em nome dos interessesda classe nacional na luta contra o imperiaHsmo, posição essa
operária, já que o colonialismoreforçava o caÍ)ita- confirmada e:incentivada por Stalin, sobretudo a
lismo, e em nome do princípio democráticode auta:.. pàrtii; de 1928(VI Congresso da Intemacional Comu-
determinaçãodos povos, embora sem que houvesse niitar"As principais teses ao movimento revolucio-
unanimidade sobre este último ponto. Não escapava nário nas colónias eram as seguintes: condenação do
aos socialistas a importância dos movimentos de re- imperialismo ''parasita por natureza'', cuja presença
62 Mana Yedda Lineares ,4 .Ltzfa qzzrra a Mefnipo/e
63

nos países coloniais havia prejudicado o desenvolvi- Na Ãfrica, coube aopa/zi4Hrfcanismo, sob a lide-
mento das forças produtivas; importância dos movi- rança de um intelectual negro norte-americano, Wil-
mentos revolucionários na China, Índia, Indonésia, liam B. Du Bois, a partir de 1919, e com o suporte de
Síria e Ãfnca do Norte, favoráveis à desagregação do intelectuais ''burgueses'' africanos, como o senega-
imperialismo; a ação em favor da luta revolucionária lês, deputado, Blaise Diagne, promover a campanha
deveria adaptar-se às condições particulares de cada de unidade e autonomia da Ataca. Retórico por
país da Ãsia e da Ãfrica e ser conduzidapelos par- excelência, esse ideal pan-africano foi julgado dema-
tidos comunistas locais recrutados numa ampla fren- siadamente conservador por outros elementos, como
te social (aí compreendida a burguesia ''nacional"); Marcus Garvey, da Jamaica, que pregou o movi-
favorecer a mobilização das massas operárias e cam- mento de retorno à Âfnca. Apesar de seu insucesso,
ponesas em prol da independência completa; conde- a juventude africana, nos anos de 20 e 30, sentiu o
nar a política colonial dos social-democratas. Tal es- impacto dessas idéias que preparam o terreno para a
tratégiafoi prejudicadapelo advento de Hitler e a eclosãodo nacionalismonegro a partir do conflito
necessidadede concentrar a ação dos partidos comu- contra o nazi-fascismo.
nistasna luta contrao fascismo.Uma vez, porém,
terminada a ll Guerra, os partidos comunistas rea-
tivaram a sua combatividade na luta contra o colo- B ) As conseqüênciasimediatas
nialismo. Daí a importância fundamental que eles da lIGuerra Mundial
vieram a assumir na Indonésia e na Indochina.
No entanto, é forçosoreconhecerque, no inte-
rior da União Soviética, país constituído de múltiplas O caráter mundial que assumira a guerra euro-
nações, a política do partido comunista de incorpo- péia, principalmente com a entrada do Japão ao lado
ração dessas nacionalidades como Repúblicas fede- da Alemanhae da ltália, põs em xeque a segurança
radas, foi contraria aos princípios gerais, oficialmente das colónias. A Alemanha já havia perdido o seu
proclamados, de respeitoàs minorias étnicas. Na crí- império após 1918, mas a ltália se mantinha na Etió-
tica à URSS coloca-se,pois, como fundamental,a pia (anexadaem 1935),na Eritréia e na Líbia. A
entrada dos Estados Unidos no conflito (dezembro
questão do colonialismo interno(domínio sobre mif
normasétnicas), em flagrante contradição com a retó= de 1941) foi mais um fator da internacionalização da
rica da lll Internacional Comunista e da própria guerra.
política exterior soviética. l O esforço bélico dos aliados exigia a participa-
T
64 Murta Yedda Lineares .4 Z,tira Contra a ]Wef/úpo/e 65

ção das colónias (campanha da produção) e o alista- perigo para a estratégia do capitalismo na guerra
mento das populações colonizadas nos exércitos que fria: o suporte que poderia ser dado a esses países
lutavam na Europa, no Norte da Ãfrica e na Ãsia. No pela União Soviética. Ep}..!94Z..g.Keminform .491L-
entanto,foi o Japão, ao ocupar militarmente,e com nira a estratégiado comunismo nas mesmas linhas
grande facilidade, algumas dessas colónias (Indo- anteriores de Stalin. Por outro lado, a ONU se tor-
china, Malâsia e Indonésia), que revelouo quanto harâ'oloêà1'6iide se debatiam todas essas questões e
eram vulneráveis os senhores brancos. Após a vitória se jogava com os destinos do colonialismo.
final sobre os japoneses e antes da retomada militar O desencadeamento.da descolonização fez sur-
das colónias pelos exércitos dos antigos senhores, gir uma estratégia dos países que emergiam, na Ãsia
puderam os ''resistentes''locais, sob a liderança dos e na'Ãfrica. Em 1955, em Bandung (Indonésia),
respectivospartidos comunistas, apoderar-se dos es- reüniFani-se 29 desses países que se apresentavam
tuques bélicos abandonados e reforçar a confiança como um Terceiro Mundo. Pronunciaram-se pelo
das massas populares. No decorrer da guerra, os socialismo e pelo neutralismo, mas também contra o
chefes aliados haviam assinado documentos (cf. Pri- Ocidente e contra a União Soviética, e proclamaram
meira Parte) em que se comprometiam a respeitar o o compromisso dos povos liberados de ajudar a liber-
direito de autonomia dos povos. Assim, jâ em 1945, tação dos povos dependentes. O ''espírltg..dg.Ban.
200 delegadosda Ãfnca Negra num Congresso em duns::.pgtglaneceupor mai!.dê uma'ãêêada, acom-
Manchester afirmavam o seu propósito de libertar o panhando asequençlê.aõiinovimentoi'dilibel'taçãõ:
continente. No mesmo ano, começa a revolta na Ar- Mãs, aos poucos, foi creiêéiídõ'fconi'iéêãõ de que a
gélia. No Marrocos, o sultão Ben Yussef declarava- independência política não significava, necessaria-
se disposto a pâr fim ao Protetorado francês. mente, a independênciacompleta. Colocava-se, as-
Com a polarizaçãodo mundo pela guerra fria, sim, a questão da manutenção dos laços de depen-
/os países colonizadosviram a oportunidade de tirar dência ''neocolonial'': as Metrópoles pemtaneciam
xllk' benefícios da rivalidade americano-soviética. Mas os por novos mecanismos de subordinação. A idéia de
Estados Unidos, esquecendo a política de Roosevelt e Terceiro Mundo desaparece, portanto, na medida
os compromissos da Carta de São Francisco, nega- em que a guerra fria chega ao seu término, o Bloco
ram o apoio tão desejado em prol das aspirações Soviético se cinde (a questão da China) e o capita-
nacionais, recusando-sea aceitar, em 19SI, que a lismo se redefine numa ética policentrista.
;7'autodeterminação dos povos fosse incluída como um
dos Direitos do Homem. Essa orientação tinha um
,4 luta Co/zfra a Mefrópo/e 67
66 Mana YeddaLineares

A descolonização pacífica ca (.. .y'. Pronunciamentos semelhantes são feitos pe-


lo governo holandês no exílio e pelo Comissário das
Colónias da ''França Livre'' (governos sediados em
.4) .4 co/dunfura coZonía/ Londres em virtude da ocupação alemã).
Nessas condições, QUQ!!mçnlg.pe14. intemaçio-
Nos primeiros anos da guerra europeia, .deli- nalização, preconizado, em-grande.parte,.por orga-
neava-se a tendência representada pela estratégia de nizações americanas,-.que- pregavam.a.entrega das
Roosevelt e anunciada jâ desde a Cana do .4tZándco , co16niasà futura Assembléia das Nações, até qué as
de reconhecer o princípio da autodeterminação dos mesmas atingissem a ''maturidade",. foi freado nos
povos; ela se expressada através do movimento de encontros subsequentes entre os Aliados. Aparente-
Intemacfona/lzação das colónias. Contra ela, deba- mente,a idéia ''imperial''deveriasair da guerra
tia-se Winston ChurchiH, cuja posição é confirmada quase intacta. No entanto, o desenrolar da guerra
em discurso no dia 5 de outubro de 1941: ''Não nos afetara as relaçõesentre Metrópoles e co16niase foi
en94jamos nesta guerra com o objetivo de lucro ou de decisivo para aguçar as contradições do sistema, re-
velando, de um lado, a vulnerabilidadedo país colo-
de honra e para cumprir nosso dever como defen- nizador e, de outro, as possibilidades concretas de
soresdo direito. Entretanto, desejoser claro: o que ruptura definitiva dos laços de dependência.
temos, nós o conservamos. Não me tomei Primeim A guerra em si provocara a ruptura, de fato, dos
Ministro de Sua Majestade a fim de proceder à liqui- elos coloniais (eclipse da Bélgica, da Holanda e da
dação do império britânico". Logo após, o .Cb/onça/ França). Em 1942, o Comífê Francês de Zfbedação
Wce(Ministério das Colónias) se pronunciava con- .Nhclolza/,marcando oposição frontal ao govemo de
trariamente à idéia de internacionalização das coló- Vichy, proclamava o desejo de construir novas bases
nias: "A soberania não é apenas uma questão de de relações coloniais; procurava, assim, obter o su-
poder. Ela também implica responsabilidade: .As res: porte pata-a ''França Livre'' (governo de De Gaulle,
ponsabilidades coloniais futuras não.se limitarão à em Londres) dos setores ''esclarecidos e evoluídos''
feitura de leis e à manutenção da ordem: elas signi- das colónias e das populações colonizadas. No final
ficarão também uma ajuda financeira e económica de 1943, oferecia aos povos da Indochina(então sob
em grande escala(..:.) qualquer sugestão de adminis- influência japonesa) um estatuto político novo, no
tração internacional não leva em conta o sentimento âmbito da comunidade .francesa, de modo a assegu-
real dos povos dos territórios interessados. Mas.creio rar, dentro de uma organização federal, as liberda-
firmemente que a administração deve ser britâni-
68 Murta Yedda Lineares
,4 lula Copzfru a Mêfn5po/e 69

des dos diversos países do que viria a ser a União sacramentou o nascimento da União Francesa, ''fun-
Francesa. Anteriormente (janeiro de 1943), o Gene-
damentada na igualdade dos direitos e dos deveres''
ral De Gaulle, em discurso pronunciado na Argélia,
anunciava a outorga de cidadania, no ''estatuto corâ- Entretanto, afirmava no Preâmbulo que a França
''assumia o encargo de alguns povos e os faria evoluir
nico'', a milhares de muçulmanos. A (;o/IÁerêPzcía de
no sentido da gestão de seus t)róprios assuntos''. O
.BrazzavíZ/e(janeiro/fevereiro de 1944), que reuniu
texto constitucional é pleno de contradições. De um
governadores da Ataca negra e de Madagâscar, sem lado, declara o fim do arbítrio, garante a todos o
representação de autóctones, recomendava a ''inte- acesso às funções públicas, as liberdades fundamen-
gração na comunidade francesa'', acrescentando que tais e os direitos de cidadania às populações de ultra-
''na França colonial, não hâ povos a libertar, nem mar; de outro, entrega a administração, como antes,
discriminação racial a abolir". Para as populações de
''ultramar'' só haveria uma independência a ser reco- a governadores responsáveis tão-somente perante o
nhecida: a da França! Ministro de Estado. Mais uma vez, as cartas são jo-
Paradoxalmente, decidia-seem Brazzaville que gadas sem consulta prévia e sem negociação com as
partes mais interessadas: os povos colonizados. Na
as colónias seriam representadas na futura Consti-
primeira Constituinte (eleita em outubro de 1945,
tuinte francesa e se preconizava uma Assembleia fe- com maioriade comunistase socialistas)e na se-
deral como instituição do Império, de modo a per-
gunda (eleita em junho de 1946, com uma esquerda
mitir uma descentralização,por etapas, e o acesso à
minoritária), os representantesda Âfrica negra, da
personalidade política das colónias. Os conselhos re-
Argélia e de Madagáscar e suas posiçõesrelativa-
gionais e as assembléias representativas de cada co- mente moderadas (mais moderadas na primeira do
lónia seriam constituídas de representantes''autóc-
tones'' eleitos. Com relação à Indochina, era estabe- que na segunda Assémbléia) provocaram, sem dú-
vida, um certo temor entre os conservadores, sobre-
lecidos'em março de 1945, que ela formaria com a
tudo na medida em que se acentuam as colocações
França e outras partes da Comunidadeuma União mais nacionalistas de argelinos e malgaxes, em 1946,
Francesa. Surgiam, assim, duas tendências:a evo- numa Constituinte não mais dominada pelo antico-
luçãono sentidodo particularismo,no âmbitoda lonialismo de comunistas e socialistas.
União Francesa(solidariedade voluntária?, inda- No caso da Holanda, a sua política do pós-
gava-se), e a assimilação. A Constituição de 1946,
discutida a princípio num ambiente de otimismo e guerra se construiu sobre uma série de equívocos.
Em 1940, a metrópole foi invadida e o governo se
entusiasmo, através de duas Constituintes sucessivas,
instaurou no exílio. Em 1942, as índias neerlandesas
.4 .Eüfa Cbnfra a JWef/l5po/e 71
70 Mana YeddaLineares

tecadeveria Drepar© os quadra!!.!gçêb(antigos com-


foram ocupadas pelo Japão e os holandeses aí insta- batentes intelectuais, proãssionais liberais, comer-
lados violentamente atingidos ou exterminados. Um ciantes) para a constituição de goy!!!!!!!jndppenden:.-
governo provisório das índias neerlandesas foi esta- tes, passando.pela. etapa.-tjq4utoqglpiaadininistEa-
belecido em Brigbane(Austrália), sob Van Mook. As tivã gmdual. A cada:etapa corresponderia um .çslg=
declaraçõesde Londres e de Brisbane, ao longo da fura'iegoàíaao,.ggdlç!.põlíÜçQ,:õ.qual deveria ser
guerra, primaram pela recusa em.reconhecer o que acoinEiããhadÕ'do desenvolvimento de condições eco-
se passava na Indonésia, de avaliar.a importância nómicas de modo a permitir a manutenção por parte
das aspiraçõesnacionalistase pela ilusão de julgar do Estado organizadode responsabilidadessociais
que, uma vez terminada a guerra, os antigos senho- necessárias (saúde, educação e habitação). Para a
res recuperariam suas posições. execução dessas tarefas, foi aprovada uma legislação
No caso da Grã-Bretanha, que não conhecera específica, a lei do .Desenho/pimentoCb/onça/e do
derrota nem invasão, ela jâ tinha tido uma expe- .Bem-esgar, que previa:.3..cglgboraç4o j.conõmlca..!n.
riência de descolonização: após 1918, a constituição ilesa n(}.processcL4ç. descolQnizaçãg.progressiva, . ao
da Comunidade de Nações (a Commonwea/f& oÍ .IVa- üesino téi;ii;i; em que llQtt#leq! os laços de inJleresses
ílons) outorgara a independência às suas antigas co: entre'Õr6iíutQ11çs..!@aii(especificamente africanos) e
lânias de povoamentobranco. Com o término da oííhéicados ingleses. Tais desígnios, no entanto, não
Segunda Guerra, a opinião pública inglesa aparen' foram seguidos. A evolução dos nacionalismos nas
tava indiferençaface à sortedo Império, conforme colónias e suas conjunturas, assim como as carac-
atestaram sondagens efetuadas. No entanto, para os terísticas específicas das sociedades colonizadas, em
dirigentes ingleses parecia claro naquele momento sua diversidade, explicam as diferenciações nos pro-
que a manutenção dos interesses económicos não cessos de descolonização e de libertação, marcados
dependia da manutenção a qualquer custo. do jis: ora pelo carâter pacífico, ora pela violência.
tema de subordinação política e administrativa. Daí
a fórmula de A. Bevin, trabalhista: Gire and jeep
(dar para conservar). No ''Livro Azul'' publicado B) AindependênciadaÍndia
pelo governo trabalhista em 1948aparece claramente
A Índia tem sido apresentadacomo o exemplo
mal britânica(que é) o de conduzir os territórios por excelência da descolonizaçãopacífica, produto
coloniais ao estágio de self gorar'Pzmenfresponsável da ''sabedoria'' britânica. Entretanto, a dominação
no seio da Commonwea/fA. Assim, ã evolllção !glí-
q
72 Mana YeddaLinhares .4 lura (bizfra a Mêf/l5pole 73

inglesa na índia se caracterizou pela violência da


dominação e continuada resistência das populações
locais. Em plena guerra, em 1942, a Índia reagiu vio-
lentamente, atacando e destruindo transportes mili-
tares, instalações ferroviárias, correios, postos de po-
lícia. ''Deixai nossopaís e nós o defenderemos'',pro-
clamava-se. Paralelamente, um amplo movimento de
não cooperação não violenta provocou a repressão
inglesacom a subsequenteprisão de Ghandi e Nehru
e o bombardeio de aldeias. A fome grassou em 1943,
provocando a morte de mais de dois milhões de pes-
soas no sul e no nordeste. Ao término da guerra, dois
partidos se defrontam: o Partido do Congresso, sob a
liderançade Ghandi e Nehru, e a Liga Muçulmana
&eJinnah Mohamed Ali, revelando, assim, a $tãtiéa
colonial inglesa que aproveitara, ao mesmo -tempo
em que aprofundava, a oposição entre hindus e mu-
çulmanos.
Jinnah MohamedAli nascera em Karachi
(1876), estudou Direito em Londres e cedo aderiu ao
Partido do Congresso, pertencendoa um grupo de
nacionalistas moderados. Após as reformas inglesas
de 1919 e os decorrentes conflitos entre comuni-
dades, começou Jinnah a temer pela sorte das mino-
rias no conjuntoda maioria hindu. Por não concor-
dar com Ghandi, rompeu com o Congresso e se aliou
à idéia.de uma soluçãofederalistapara a Índia, em
defesa dos muçulmanos (um quarto da população).
O nacionalismo indiano reforçará-se ao remontar às
suas fontes hindus (sobrevivência do sistema de cas- Mahatma Ghandi
74 Mana Yedda Lineares ,4 .Lula Contra a MbfrlópoZe 75

tas). Da mesma forma, tomara corpo, no séculoXIX, naco


um ''renascimento muçulmano'' do ponto de vista
cultural e político(criação da Liga Muçulmana em
1906). Tal movimento de renovação alcançava o con- C) A independência da Birmânia, Ceilão
junto dos países islâmicos, sobretudo .os que se en- e Malâsia
contravam sob dominação extema. A partilha de
Bengala, de 1905, se fez destacando do.conjunto a
população muçulmana, e o sistema eleitoral posto Na Birmânia, a .[fga .AlzfzMascüfa reza ]ndepepz -
em pratica daí por diante na Índia dava represen' dêncla do Favo saíra da guerrafortalecida pelo papel
tação separada aos adeptos do lslã. Em 1937, a Liga que desempenhará na luta contra o invasor japonês.
se transforma num partido de luta e em 1940 coloca, As tentativaspor partede Attleeüe negociaruma
oficialmente, a constituição de um Paquistão inde- forma de autonomiapara a Birmânia foram infru-
pendenteseparadodo restoda Índia. Para Jinnah e tíferas. Os birmaneses se recusam a integrar a Comu-
sua Liga, a verdadeiraluta se deveriatravar, não nidade Britânica e sob a liderança e U Nu obtêm,
contra os britânicos, mas contra o hinduísmo e o em 4 dejaneiro de 1948, o reconhecimento do Estado
Partido do Congresso. Rompia-se, dessa folha, a soberano e independente, a República da União Bir-
solidariedade nacionalista. manesa.
Quando, em fevereirode 1947, explodemdis- Quanto ao Ceilão, após um longo período de
túrbios generalizados, o governo trabalhista de Attlee reformas constitucionais a partir de 1931, o governo
tomou a iniciativa de declarar ao Parlamento britâ- inglês, para evitar iminentes agitações e distúrbios,
nico que daria a independência à índia até junho de concedeu, por Ordem do Conselho de 19 de dezem-
1948,'o mais tardar. Coube a Lord Mountbatten, bro de 1947, ao parlamento e ao govemo da ilha o se/F
nomeado Vice-rei das índias, obter a aceitação dg govemmezzf completo no âmbito da Comunidade
plano de partilha pela Liga e peloCongresso. Em 15 Britânica.
de julho foi votadaa lei de Independênciae a 15 de No tocante à Malâsia, a soluçãofoi mais com-
agosto sãQ formados os govemos interinosl um para a?.. plexa, em parte pela multiplicidade dos grupos ra-
Índia e outro para quistãa:'A execuçãoda par-l ciais que a compõem(chineses, malaios e indianos) .
tinhase fez na mais completa desordem, marcada por.l. Debatiam-se várias tendências: simpatizantes da
fitos de violência entre hindus e muçulmanos, sob o ,l) China, adeptos do pan-islamismo, partidários dos
olhar aparentemente indiferente do exército brita- J movimentos nacionalistas modemizantes de influên-
,4 .Lura Contra a Mefrüpo/e 77
76 Mana Yeddal.inhames

D) A independência
pacifica
daAfrica
cia urbana e burguesa. As riquezas da Malâsia ti-
nham peso na economia inglesa(estanho e borracha) A independênciada 4Éríca negra de expressão
e Cingapura era um ponto estratégico enfie o Indico e .Pancesa ocorreu sob a IV República (1946-1958),
o Pacífico. Por momentos,julgou a Grã-Bretanha ser pela Lei-Quadro (.Zloí-ladre) de G. Deferre (23 de
possível desvencilhar-se da autoridade arcaica dos junho de 1956), que se destinavaa introduzir uma
sultões locais e fazer a Malâsia enveredar pelo cami- ampla descentralização(generalizaçãodo sufrágio
nho de um governo unificado e modemizante. Em universal, africanização dos escalões administrativos
1946.foi criada a IJnião Malaia, com a exclusãode e ampliação das atribuições das assembleias eleitas) .
Cingapura, sob protestodos chefes locais tradicio- O desaparecimentodas antigas Federações(Ãfnca
nais, das classesdominantese das próprias massas OcidentalFrancesa e Ãfrica Equatorial Francesa)
malaias que temiam o poder dos elementos chineses favorecia, segundo L. Senghor, do Senegal, a "balca-
da população. Em 1948, o governo britânico fez vigo- nização'' da Ataca, a pulverização em Estados sem
rar uma nova constituição, a da Federação Malaia,
força e sem realpoder. Para alguns observadores, ela
confímiandoos privilégiosdos sultões,mas gru- significou, em certo aspecto,uma vitória de Hou-
pando noveEstados(e ainda Penang e Malaca) numa phouet Boigny, da Costa do Marfim, influente no
Federação sob o controle inglês. Tal solução descon- governo metropolitano e rival de Senghor no tocante
tentou os nacionalistas, o que levou a acirradas lutas à liderança nessaparte do continente.A vitória do
intemas. Finalmente, em 3 de agosto de 1957, foi federalismoterminariapor dar proeminênciaao Se-
aceito um projeto de constituição para a Federação e negal, em detrimento da Costa do Marfim, e Dacar,
a 31 de agosto proclamada a independência malaia, destinadaa ser a capital, tomaria Abidjan uma
após a revogação do protetorado da Grã-Bretanha. ''vaca leiteira'' desse eventual Estado Federal, se-
No mesmo ano, era reconhecida a autonomia de gundo alegava Boigny.
Cingapura, que se tornou um Estado em 1958. A for- O advento de De Gaulle em 1958(V República)
mação de uma Grande Malâsia, em agosto de 1963, aprofundou a tendência da Lei-Quadro: pelo ri!:He-
no entanto, englobando o conjunto dos territórios rendum de 28 de setembrode 1958todos os territó-
britânicos do Sudeste da Ãsia, encerrou o ciclo do rios da Ataca negra(com exceçãoda Guiné) e
velho Império e se constituiu num bastião que se Madagáscar optaram pela entrada na Comunidade
destinava a conter a influência chinesa nessa região, Francesa. Em 1960,resguardadoo princípio de Coo-
sobretudo dos cidadãos chineses no interior da Fede- peração, foi proclamada a independência das antigas
ração.
78 Mana YeddaLineares .4 luta Contra a Mefrljpo/e 79

mente reconhecida a total e imediata independência


do Marrocos.
Na Aõ'ica Ocidental de expressão inglesa, é pre-
ciso ressaltar o papel desempenhadopor Gana(ex-
Costa do Ouro), sob a liderança de Kwame N'Kru-
mah, e pela Nigéria. Gana pode ser apresentada
Guiné(Conakri)'se tomara independente dois anos como um exemplo típico da diversidade que carac-
antes. . . terizava o conjunto dos tenitórios africanos. Suas
No Norte da Ãfnca, a Tunísia acedeu gradual- fronteiras eram artificiais e delimitavam quatro re-
mente âo rol dos países independentes. Em 1954, foi giões étnica e administrativamente individualizadas
proclamada, em Cartago, sua autonomia interna e, (a Colónia ao sul, os Axanti, o Norte e o Toco), com
em 1956, no ministério Guy Mollet, a Fiança.nco- diferenciações religiosas, linguísticas e sociais(gran-
nhecia a sua independência ''na interdependência des proprietários, burguesia cacaueira, burguesia
livremente consentida''. .. . . . mercantil, profissionais liberais, proletariado urbano
No Marrocos, onde era poderosa a influência do e da mineração). AÍ se opunham tendências diversas:
lstiqlal, partido nacionalista, a descolonizaçãode os conservadores, aferrados às tradições e à hierar-
iniciativa francesa encontrou resistências locais. A quia, e os partidos modernos de conteúdo democrá-
Liga Árabe, de inspiração egípcia, exercia forte atra- tico. Em 1947, um partido organizado pelo Dr. Dan-
ção entre os povos e governos islâmicos do Norte da quah e tendocomo secretárioKwame N'Krumah
Âfnca. O Sultão Ben Yussef assume uma posição (Unlfed Go/d Coasf Convepzffon) começou a reivin-
firme contra o Protetorado. O nacionalismo con- dicar mudanças constitucionais. A sua transforma-
quistaas massaspopulares,.com nítido conteúdo ção em partido de massas deu a liderança a N'Kru-
antiburguê$ provocando le'dantessangrentos. Li- mah que, em 1949, fundou, em novas bases, o Partido
gado à questão dinástica, o nacionalismo se associa da Convenção do Povo. Este se dispunha a lutar pela
ao SultãoBen Yussef, que fora raptado e eldlado independência com o apoio crescente da população.
pelos franceses, e prepara a revolta armada. No Mal N'Krumah foi preso duas vezese cada prisão signi-
de 1953, o Sultão foi reconduzido ao trono e assinada ficava uma vitória do movimento nacionalista. Mas,
uma Declaração conjunta pela qual era firmado o para obter a independência, fez concessõese acertou
compromisso de realizar refomias no Marrocos, que fórmulas conciliatórias, como a do reconhecimento
o conduziriam à independência. Em 1959, foi final- das divisõesregionaisda Costa do Ouro. Em 1957,
80 Metia YeddaLineares 81
,4 .Lura Contra a Mefn5poZe

era reconhecida a independência e no mesmo dia Ihe assim como os partidos, tendiam a ter um caráter
era incorporado o Toga. Gana foi o primeiro país da cada vez mais regionalizada, o que impedia põr em
Ãfrica negra a selibertar. pratica qualquer programa de união nacional. O
N'Krumah nascera em 1909e fez seus estudos resultadofoi o reforço dado à estrutura federal que
universitários nos Estados Unidos, onde entrou em sacramentou a constituição do novo Estado da Ni-
contato com o movimento negro pan-africanista. géria em 1960. Seis meses depois (abril de 1961), a
Doutorou-se em Filosofia em Londres (1945) e com- Serra Leoa tinha a sua independênciareconhecida,
pareceu à reunião pan-africana de Manchester. Na após uma evoluçãosemelhanteà da Costa do Ouro.
qualidade de Presidente de Gana, assumiu posições
radicais em nome do ''socialismo africano'', mas foi
derrubado por um golpe militar reacionário em 1966, A libertação pela violência
de inspiração imperialista. Faleceu em 1972, no exi-
lio .4) .4/ndolzésía
ja a Nigéria teveuma independênciamais tran-
quila, embora tenha sido mais conturbadaa sua Em 1942, a$.]tqdias neerlandesas foram lllibçc.
evolução posterior. É formada de nove grupos étnicos tadái::lBêíõi-japoneses4ue retiraram.da prisão.os..lí:
principais, 248 dialetos e 3 grandes grupos religiosos, deres naciona!!$!as..inclusiMukamçi.osjappnesçs,
sendo que essas fronteiras não coincidiam com as de ''lí15êjtãdQtes:!r.bg©passaram-a invasores. Com a
administrativas. Ao norte, predominavam os emira- capitulação japonesa:.SpklamQ. proclamou. .a..bdç:
dos dos Haussa, Fulani e Kanuú; a leste, os lbo; a peããêiiêia em !Z..de..êsQgç!..dç 1945. Tentaram os
oeste,os lomba. Lagos, a oeste,formava uma enti- hoianaeses recuperar a colónia, mas foram forçados
dadeà parte. A Nigéria é bem um produto do colo- a reconhecer a República Indonésia em Java e Su-
nialismocom suas divergênciasinternas, difícil de matra, emboraprocurandoformar com ela uma
ser concebida como Estado e como Nação. União: em troca do reconhecimentodos bens oci-
Seu nacionalismo encontra uma primeira ex-
dentais, comprometiam-se a retirar as tropas. Coube
pressão na burguesia rica do sul que se opunha ao aos holandesesa iniciativa de romper o acordo, por
govemo das ''autoridades locais'' reforçadas pelos duas vezes, sempre através de violentas intervenções
ingleses e participantes do flzdlrecf r'zl/e. Seus arautos armadas para recuperar o exclusivo controle colonial
foram os intelectuais que se formaram nos Estados e apesar de sucessivasintervençõesda ONU. Em
Unidos e na Inglaterra. Mas a agitação nacionalista, consequência, os indonésios empreenderam uma
.4 .Z;ula Contra a MêfriópoZe 83
82 Alada Meada ZínÀares

bem sucedida guerra de guerrilha contra os 140000


soldados holandeses, obtendo, além do total suporte
da populaçãocivil, a solidariedadeasiâüca, o apoio
somático e a contrafeita netifraZldade dos Estados
Unidos, que não queriam descontentar as duas par-
tes. Pelos acordos de Haja, em 1949, a Holanda teve
de recuar e assinar uma união com a Indonésia em
condições de igualdade, mas, decorridos cinco anos,
coube'à Indonésia denunciar o acordo e afastar os
holandeses para sempre de sua vida íntima.

.B) .4 1ndocAípza
Também aí, a guerra teve um efeito arlas114g!
para a potência colonial. a"Ftãiíêã:"Ao'terminar o
conflítõ;'õs'ihélesei'oêupãvãiiíõ'iiiíê os chineséÉ õe
Cüiãng.kai-éhek õ corte. Em setembrode1945, prü;
clamava:se'i'mdêpendência do Vietnã, em Hanói,
nascendo,assim, a RepúblicaDemocráticacom Ho
Chi Minh e a liderança do Vietminh. A atitude da
França daí por diante foi desastrosa. Reconheceu,
em 1946, o Vietnã como. Estado-membro da Fede-
ração Indochinesa e da União Francesa e compro-
metia-se a evacuar suas tropas do Tonquim no prazo
de cinco anos. Arbitrariamente, foi proclamada a
República da Cochinchina pela Fiança, em.violação
dos acordos anteriores. Coube também aos franceses
violar os compromissos assumidos e iniciar operações
militarescom o bombardeia de Haiphong, causando Ho ChiMinh
Mana YeddaLineares A Luta Contra a Metrópole 85
84

6 mil mortos, ao que o Vietminh respondeucom o ciados'') e promovendo o retomo do ex-imperador do


ataque aos bairros europeus de Hanói. Nesse mo- Anam, Bao Dai, colaboracionistadosjaponeses,a
mento, o governode Ho Chi Minh entra na clandes- um Vietnã inviável.A este se opunham as forças
tinidadee tem início a guerra da Indochina, que só populares e nacionalistas de Ho Chi Minh que, como
terminaria em 1954com a humilhante derrota fran- comunista, comandava a frente de libertação repre-
cesa em Dien Bien Phu. Essa guerra de guerrilha sentada pelo Vietminh, reconhecido como o verda-
revelou o gênio estrategista de Vo Nguyen Giap e a deiro poder da República Democrática do Vietnã
capacidade de organização e de liderança de Ho Chi pela URSS e pela China. Até 1954, a França oscila
Minh. Além disso, ao se transformar numa guerra entre negociaçõespolíticas infrutíferas e infelizes
anticolonial, mobilizou as forças populares, adquiriu campanhas militares, até a derrota final em 1954,
um caráter nacional e socialízante e, com a ascensão quando foram assinados os acordos de Genebra pon-
de Mao-tsé-tuna na China (1949), tomou-se um pião do fim à ''fase francesa da guerra da Indochina''
da guerra fria, peça estratégica do ''mundo ocidental Daí por diante, a divisão em dois países, o do sul e o
e capitalista''na luta contra a expansãodo comu- do norte, revelara as contradiçõesinternas dessa
nismo. nova construçãopolítica, as quais, acrescidasdas
Assim como os outros produtos do colonialismo, tensõesinternacionais, desembocarão num longo pe-
a Indochina era uma construção política artificial: o ríodo de guerra com a intervenção militar norte-ame-
norte(Tonquim) de influência cultural chinesa, o ricana, também de dramáticas conseqüências para o
Camboja e o Laos de povoamentonão vietnamita e sofrido e heróico povo vietnamita.
com afinidades indianas; o Anam, no centro, por suas
características étnicas e origens históricas, aproxima-
se do norte. Para a França, foi, pelo trabalho dos C) .4 .4rpé/ía
camponeses vietnamitas, uma rica colónia agrícola e
de investimentos financeiros. Também aí, como em A libertação dê Argélia, assii&.gamo a sua con-
outros territórios da Ãsia e da Ãfnca, o colonialismo quista-peiaFrança.DO.século
]llX.$e 4
deixou trágicas sequelas: divisões internas, caos eco- uma longa gyg!!a.que..tenpino\l.ÇQm gE.acordos.gç
nómico e intermináveis guerras civis. Evian (março dej962}eçom a partida da população
Após 1946, tentoua Fiança manter o proteto- francesa"aÍ'residente (os p/eds-nolrs). Deixando de
rado sob formas disfarçadas de ''independências'' lado a cronologia militar do período, veremos algu-
concedidas(Laos e Camboja como Estados ''asso- mas de suas características mais relevantes.
87
Murta Yedda Lineares ,4 luta CbBíra a MêfzlãpoZe
86

para outros, De GauUe deverialiquida a.questão


O fim da SegundaGuerra correspondeua uma argelinade forma honrosa.:Violências de lado a lado
grave crise económica que provocou uma revolta po.
como marcaram esse período, sendo de se ressaltar a uni-
pular no Setif: a fome começava a ser encarada dade do povo argelino em tomo do movimento de
um mal do colonialismonum país em que a comuni- libertação, a ação recalcitrante da população fran-
dade muçulmana era numericamentesuperior (5/6 cesa residente na Argélia(um milhão de pessoas) e a
da população) à comunidade de origem francesa ou brutalidade da repressão.
ocidental Nesta se concentravam as vantagens da A independência, uma vez reconhecida, não
"êiWização'' colonial: a propriedade das melhores rompeu; entretanto,os laços entre a Fiança e a Ar-
terras e o controle geral sobre a economia, a admi- gélia. A saída dos francesescorrespondeua uma
nistmçãoe os serüços.Por outro.lado,o despertar nova fase de relações franco-argelinascomandadas
árabe e a ascendência do nacionalismo egípcio, bem
pela cooperação técnica, por acordos comerciais e
como og acontecimentosmundiais, não podiam dei- culturais e uma esperança, por parte da França, de
xar de repercutir sobreo ânimo dos argelinos(árabes preservar investimentos na Argélia e no Seara.
e berberesi. Assim, o início oficial da guerra de liber-
tação (1954) foi, na realidade, precedido de revoltas,
manifestações e fitos de repressão por parte do go- Db Do CongoBelgaaoZaire
verno cola;mal.Este, por sua vez, embora reconhe-
cendo ser a Argélia(Estatuto de 1947) um grupo de
Depois de esquecidas as atrocidades cometidas
departamentos dotado de personalidade.civil e de pelas companhias belgas do Rei Leopoldo no mo-
autonomia financeira, recusava-se a reconhecer-lhe o
mento da ocupação do Congo, passou a Bélgica a
direito à autonomia política. A insurreição.de 1954
figurar no grupo dos colonizadores beneméritos.
e a criação da Frente de Libertação Nacional Como bem acentua Joseph l(i-Zerbo, ''a história do
(F.L.N.) foram a resposta aos 120 anos de ocupação Conho Belga desde a segunda guerra mundial é a his-
francesa. tória de uma descolonização hâ .longo tempo fa-
A guerra da Argélia dividiuradicalmentea opt: lhada". O seu território é oitenta vezes a superfície
da Bélgica, estendendo-sepor 2 345000 quilómetros
adrados, em pleno coração da Ãfnca. Foi durante
todo o período da colonização um feudo belga, com o
(1958) foram consequências diretas do conflito norte: auxílio de companhias financeiras monopolistas: a
africano. Para uns, tratava-se de preservar a Argélia;
Mana YeddaLineares .4 1,afa Cbnfra a Mêfrópo/e 89

Unilever(no Kivu), a Fonnhiêre (no Kasai), .a So- luídos'', tinham os belgas os ''matriculados'', em-
ciété Généralede Belgique(no Baixo Canga) e a bora em menor número e nem sempre reconhecidos
IJnion Miniêre du Haut-Katanga. O Comigoera ainda pelos brancos com o direito de penetrar nos círculos
um grande produtor de urânio, cobalto,. cobre p.zin- fechados dos colonos. Aos africanos era reservado o
co, cuja exploraçãose fazia nos clássicospadrões ensino primário, em línguas locais, mas o secundário
coloniais, quase nada restando. no país para o seu e o superior nem excepcionalmentese destinavam
desenvolvimento económico e social autónomo. Da aos negros. Objetivava-se, assim, evitar que o con-
mão-de-obra empregada, 37%o concentravam-se na golês entrasse em cantata com o mundo exterior e se
indústria e na mineração. resguardassenessa ''infância'' mental até que, um
Quanto ao campesinato, cabia-lhe tão-somente dia, não se sabia quando, ele pudesse atingir a maio-
produzir, de forma insuficiente,para o prõpno sus' ridade. Nenhum estudante devia continuar seus es-
tento. As companhias intemacionais detinham as tudos fora do Conho, não estando previsto pelo sis-
riquezas do país e os seus benefícios. A industria- tema imposto qualquer debate político e, menos ain-
lização provocara o desmantelamento de instituições da, qualquer forma de representação.
tribais, 'o êxodo forçado e uma acentuada concen- Ecoavam, porém, no Congo os movimentosna-
tração urbana. Entre 1938 e 1960, 40%o dos congo- cionalistas que agitavam a intelectualidade africana
leses se transferiram para as periferias urbanas que por toda parte. Os ''exemplos'' francês e inglês, de
se transformariam em verdadeiras cidades indígenas, descolonização progressiva, repercutiam na própria
distintas das cidades europeias, ''brancas''. Ki-Zerbo intelectualidadebelga e nos grupos católicos do
as chama de ''cidades destribalizadas'', que tiveram Congo, que passaram a reivindicar a abolição da dis-
o papel de reunir os primeiros descontentese orga- criminação racial. Em 1956, surgia a .4bako (Asso-
nizar o pioneiro trabalho de associação entre congo- ciação do Baixo Congo) presidida por J. Kasavubu,
}esese pregando a constituição de partidos e a emancipação
O sistema colonial belga caracterizava-se pelo política do país. No ano seguinte, era ele eleito bur-
''assimilacionismo'' e, ao mesmo tempo, contradito- gomestre (magistrado) em Léopoldvílle. Daí por di-
riamente, pelo preconceito da separação racial. So- ante, atiça-se o nacionalismo, a exemplo do que se
bre ambas as tendências, pairava o caráter paterna- passava nos Estados vizinhos, já se constituindo o
lista e autoritário que permeava a legislação segre- Movimento Nacional Congolês, tendo à frente Pa-
gacionista, o sistema escolar, o trabalho e as ''obras trice Lumumba, que se tornaria o grande mártir da
sociais". Assim como os franceses possuíam os ''evo- independênciado Canga. A seguir, os acontecimen-
90 Mana Yedda Lineares .4 Ztzfa Cbnfra a Mêrrl5po/e 91

tos se precipitam. Tal foi a sua velocidadeque se de Katanga.;({l'shombe),' sendo' :assassinado. logo a
fixou para30 de junho de 1960::a data da indepen- seguir. A guerra civil se prolonga até a eliminação
dência, após escaramuças e tumultos em várias par- das resistências regionalistas. Dessa longa luta, nas-
tes do território. ceu o cafre, com o reconhecimento do governo cen-
Quanto à constituição do novo Estado, . d?fron- tral de Mobutu. De 1966em diante, o Zaire passou
tavam-se duas teses: a dos federalistas, com Kasa- por extensas reformas, inclusive a nacionalização da
vubu(Estados regionais fortes sob um poder federal Union Miniêre. Mas para os seusopositores,apesar
fraco)l.e a dos unitaristas, com Lumumba (Estado da posição do Zaire de apoio à independência de
centralizado).Para os belgas, o Congo seria uma Angola' e de outras medidas liberais no tocante à
república parlamentar com seis governos provtnciats. política externa, nada mudou em profundidade, con-
As eleiçõesde maio de 1960derama vitóriaao tinuando o velho Congo, agora africanizado, ainda
M.N.C. de Lumumba, que foi nomeadoChefe do dependente dos grandes interesses do capitalismo
Governo, cabendo a Kasavubu a Presidência da. Re- internacional.
pública. Em oposição, como forças centrífugas, en- Em 1962(19 de julho), por decisãoda ONU, a
contravam-se Moisés Tshombe (de Katanga) e Ka- Bélgica perdia a tutela sobre Ruanda-Burundi. Esses
londji(do Kasai), aos quais caberá torpedear, em territórios adquiriam a independência, tomando-se
associação com os interesses imperialistas das gran- os Estados de Ruanda (capital Kigali) e Burundi
des companhias, a conquista da independênciapor (capital Bujumbura).
Lumumba. Movimentos separatistas logo explodi- Pretendemos nesseresumo da descolonizaçãodo
ram dando a impressãoao mundo de que, como que- Canga, apresentar as grandes linhas de um processo
riam os belgas, o Canga não estava ''maduro'' para o que, no geral, foi comuma boa parte das colónias,
exercício
da soberania.Em poucosmeses,a ativi- na Ãsia e na Ãfrica. Após a longa dominaçãoestran-
dade económica foi paralisada, o caos se instala, geira que tudo revolveue a nada deixoupor tocar,
tropas belgas ocupam cidades e tropas da ONU in- destn4jndosistemas de valores tradicionais, hierar-
tervêm. Violências e atrocidades são cometidas con- quias sociais, solos e recursos naturais, o naciona-
tra brancose congoleses,igualmente.Golpes e con- lismo se colocava como uma aspiração legítima de
tragolpes destituem Lumumba e Kasavubu. É a auto-afirmação, embora muitas vezes manipulada
guerra civil brutal, com intervençãoexterna. O Co- pelas ''burguesias locais'', pelos senhores de fora e de
ronel Mobutu apodera-sedo poder. Em 1961(ja- dentro. A constituição dos novos países, artificiais
neiro) Lumumba foi preso e entregue às autoridades como entidades políticas, só poderia ser um processo
92 h4aria Yedda Lineares 93
,4 .[tifa (lbnfra a .Aíernipo/e

doloroso. A garantia da independência seria a se- etc.). Logo a seguir, iniciaram-se as reformas polí-
gunda etapa, aquela que hoje se atravessa. ticas que deveriam dar a representação aos três gru-
pos raciais do território (europeus, africanos e hin-
E) Outras independências dus). Logo se destaca a personalidade de Julius D.
Nyerere, africano ''ilustrado'', fundador da União
Embora sem abranger a totalidade dos proces- Nacional Africana de Tanganica. Como Ghandi e
sos de descolonização, focalizaremos alguns aspectos Nehru, era partidário da não violência. Sob sua lide-
dos movimentosemancipatórios na Ãfrica Oriental rança, a africanização se fez gradativamente, até que
britânica. No bojo desses movimentos emergiram três Tanganica se tomou independente, em 1961, e mem-
países: Tanzânia (ex-Tanganica), Quênia e Uganda. bro da Commonwealth.Em 1964, foi firmada com
Tanganica, antigo território alemão sob tutela in- Zanzibar uma união que tomou o nome de TaBzâmla,
glesa, teve a primazia cronológica no processo. sob a presidência de Nyerere e a vice-presidência de
Inicialmente, pensaram os britânicos em reali- Karume, dirigente de Zanzibar.
zar uma Federação que englobasseaqueles três terri- A Tanzânia adotou, como regime, um tipo de
tórios. No entanto, interesses políticos e económicos ''socialismo africano'', burocratizado, desenvolvi-
opuseram-sea tal prometo:o povoamento branco no mentista e muito discutível entre os africanos radi-
planalto de Quênia, onde predominavam ricos fazen- cais. No entanto, ela goza de grande prestígio no
deiros, levou a rejeitar qualquer união com Tanga- conjunto dos países africanos por sua sempre deci-
nica (etimologicamente, ''terra ou cidade árida''), dida política nacionalista, apesar do apoio a Tshom-
conhecida por sua pobreza. Por outro lado, as velhas be, agente dos imperialistas e dos mercenários de
estruturas tribais e monárquicas de Uganda recu- Katanga.
savam qualquer tipo de federação. AÍ, como em ou- A independência do Quênia foi bem mais com-
tras partes da Africa, as forças centrífugas serão pre- plexa. Por ter sido uma colónia de povoamento,a
ponderantes. Com relação a Tanganica, procuraram presença de população branca (60 mU europeus em
os britânicos implantar uma agricultura comercial 1950) irá dificultar o ascenso do movimento nacio-
(o amendoim) no sudeste e investiram substanciais nal. Essa população branca (1%) da população total)
recursosem obras de infra-estrutura, com resultados monopolizava25%odas terras cultiváveise mais fér-
medíocres. Em 1956, novo impulso é dado à sua teis do país (o planalto). Para os negros restava uma
economia (modernização do porto de Dar-es-Saiam, situação de penúria, segregados nas cidades e expro-
construção de barragens, culturas de sisal, café, priados de suas terras. Jomo Kenyatta, outro afri-
Murta Yedda Lineares ,4 lula (]onfra a Mêfll5poZe 95
94

cano ilustrado, formado em Londres, tornara:se pre- uma política de índirecf m/e através das autoridades
sidenteda União Africana do Quênia. Foi el!,. sem ''nativas'' tribais e .''feudais". Coube a uma ''pe-
dúvida, uma das grandes figuras da nova Ãfrica. quena burguesia'' formada à margem dos grandes
O problema agrário se revelou, em 1950, com a negócios e do sistema tribal, promover a partir de
ande agitação na mais poderosa e avançada das 1950, aproximadamente, as primeiras organizações
tribos do Quênia, os kíkuyu(à qual pertencia o pró- de conteúdo nacionalista e sindical, surgindo daí o
Partido Democrata. A formação do Congressodo
prio Jomo KenyaHa). O movimento logo se alastrou:
lançando o pânico entre os fazendeiros do planalto e Povo de Uganda com Apollo Milton Obote deu novo
caracterizando-se por uma xenofobia exacerbada. No impulso ao movimento autonomista que se concreti-
exterior, ele foi conhecido pelo nome de .Zbíizzi-Mau
, zará em 1962. Obote se proclamava socialista, assim
que celebrizou o caráter extremamente violento da como Kenyatta e Nyerere, socialismoeste difícil de
revolta. Esta foi, finalmente, vencida pela adminis- ser justificado num país que tinha uma renda nacio-
tração colonial, que acedeu a reivindicações. .consti- nalper capita de 64 dólares, uma produção centrada
tucionais(a participação de africanos e asiáticos no em matérias-primas e alimentos para a exportação
Conselho de Ministros de Nairobi), de modo a per- (algodão e café), totalizando 90%o da produção agrí-
mitir a africanizaç.ãolenta e progressiva do território. cola de mercado, e uma população assalariada que
Em 1963, Quênia ascende à independência, condu- correspondia a 20%oda população total. Mais de 500
zida por Jomo Kenyatta, sem que, no. entanto, seus companhiasestrangeirascontinuaram a operar no
social país, fazendo com que 50%o do produto nacional
principais problemas de ordem económica e
tenham encontrado o caminho da solução, a saber: líquido fossem exportados. Outros dados poderiam
o acesso à terra pelos africanos, o controle efetivo de ser acrescidose que só serviriam para comprovar a
seus destinos como Estado soberano e a democracia mistificação desse tipo de socialismo.
Em 1971, Obote foi derrubado pelo General Idi
ractaLo caso de Uganda, sua ocupação pela Grã-Bre- Amin, que por cerca de sete anos govemarâ Uganda
tanha se fizera no século XIX como parte da .estra- com mão-de-ferro através da utilização de primitivos
tégiade se apossardas fontesdo Nulo.Foram aí e brutais métodos ditatoriais. Enfim, Uganda, como
instaladas companhias(como a [Jganda Company e a maioria dos países africanos, ainda tem pela frente
a Sociedade Missionária) que controlavam as plan- um longo caminho a percorrer na busca de fórmulas
tações de algodão desenvolvidascom mão-de-obra africanas de convivência democrática e de bem-estar
nativa. Foi adotada a pratica de trabalho forçado e soctal.

B
,4 .Lura (lbzzfra a ,B#em5po/e 97

que perdera. Deste, restavampoucos territórios, que


permaneciam subordinados a uma Metrópole por sua
vez também subordinada, para a manutenção dos
privilégios de uma minúscula burguesia financeira,
âo capital estrangeiro e aos seus agentes internos
portugueses. Entre as ''glórias'' passadas, situava-se
o pioneirismo de que Portugal dera prova na desco-
berta da costa da Ãfrica, no tráfico de escravos e na
institucionalização da escravidão na América. Com a
A DESCOLONIZAÇÃO TARDIA ajuda de missionários e comerciantes, seus soldados e
marinheiros apossaram-sedo interior do continente
africano e instituíram o seqüestro, em larga escala,
de homens, mulheres e crianças, para serem vendi-
dos como escravos, deixando atrás de si terras e
A libertaçãode Angola, tribos arrasadas. No caso da costa oriental, por
Moçambique e Guiné-Bissau exemplo, a penetração portuguesa para o interior na
busca de ouro e escravos, atingindo as sociedades
A) Portugal: um colonialismo tribais e ''prototribais'', como assinala Hosea Jaffe,
dependente do Zimbabwe e Malawi, provocou o deslocamento
dos ngoni e, depois, dos zulus em direção ao sul. Nas
Portugal representou na Europa a última.resis- regiões onde não se verificava o tráfico de escravos,
tência do colonialismo. Salazar, que foi seu ditador conforme relatam viajantes, havia tribos ''bem vesti-
entre 1932e 1968 e cujo regime só se desintegrou pelo das, bem alimentadas e bem alojadas'', comparáveis
movimento de 25 de abril de 1974, declarou, certa pelo padrão de vida ao dos camponeses de melhor
vez: ''Somos antiliberais. Somos contra o parlamen- situação da Europa (R. F. Burton, T&e .Late Reglons
tarismo, contra a democracia, e queremosconstruir oÍCenfra/#rlca, 1856).
um Estado corporativo Dos primeiros avanços portugueses sobre a Âfn-
Nesse momento, o fascismo estava em ascensão ca (séculos XV, XVI e XVII), duas: foram as regiões
e Portugal era um pequeno e pobre país que vivia das nas quais se estabeleceram e permaneceram: na cos-
ta ocidental, o Conho (a partir de 1482), posterior-
glórias de seus navegantes e do império mercantilista
,4 Z&fa CoPztra a Mêlrópole 99
98 Mana YeddaLineares

mente limitado a Angola, e, na costa oriental, Mo- introduto!es.da.prático:4o ''governo indireto"(pc!!!!..


çambique. A própria história desses estabelecimen- mormente atribuído aos ingleses) peia ãêitãbaliza-
tos, com suas'denominações e seuslimites geográfi-
cos atuais, é longa e repleta de acidentes. Para re- chefias locais coniventes. Por esse meio, as tribos
constitui-laseria necessárioremontar às lutas pela passariam a constituir uma peça fundamental na co-
expansão mercantil dos holandeses, ingleses e portu- lonização. Do ponto de vista social, apregoavamos
Weses, seusfluxos e refluxos, bem como, e sobre- portugueses a igualdade racial como um dos seus
tudo, aos movimentos internos africanos que confi-
guram sua própria dinâmica social. Não..podemos co, mais pronunciado em Angola do que em Moçam-
esquecer que toda essa história se notabilizou.bela bique, implantado sobre as novas estruturas tribais,
pilhagem e pelo desmantelamento das sociedades levou ao mcismo como norma administrativa e polí-
africanas. tica. Aliás, como ressalta Ki-Zerbo, a emigração por-
A partir do século XIX, poderíamos dizer que se tuguesa para as colónias era üma emigração de fuga
recria um império português. Foi um processo de da miséria. Entre 1930e 1960, o número de brancos
lutas e conquistas no qual a política internacional e a passou de 30 mil para 200 mil, abrangendo..traba-
competição interimperialista tiveram grande papel. lhadores de todas as categorias. É lógico, pois, que
No tocantea Moçambique, sua evoluçãofoi condi- para esses brancos a mão-de-obra africana represen-
cionada tanto pela pobreza de Portugal quanto pelo tasse uma ameaça. Segrega-laseria a fórmula de
desenvolvimentodas minas de ouro de Johannesburg autopreservaçãodos colonizadores. Transforma-la
na Ãfrica do Sul e das minas de cobre e carvão da em mão-de-obra servil e ''aluga-la'' aos capitalistas
Rodésia. O mesmo se pode dizer de Angola. Assim, o inglesesdo sul seria uma apreciável fonte de rendi-
colonialismo português servia de intermediário: suas mentos e uma forma de aliviar possíveis pressões
colóniasse transformaram,já que não mais forne- demográficas sobre a terra. Por esses mecanismos, e
ciam escravos ao tráfico atlântico, em fornecedoras ainda pelo investimento direto de companhias estran-
de mão-de-obra barata para as companhias de mine- geiras'(alemãs, belgas, inglesas e sul-africanas): se
deu o domínio do capital intemacional em Angola e
Moçambique. Assim, foi. o sistema colonial ''portu-
guês" qué impôs a discriminação pela cor, o trabalho
entre PortugajHas.rdg forçada e a pobreza dos africanos.
e certa forma, haviam sido os portuguesesos A Lei Colonial de 1930dividira a populaçãoem
100.
Mana Yeddal.inltares .4 .Lula CbBfra a MêírlãpoZe 101

''indígenas'' e ''não indígenas", respectivamente, trabalhadores e camponeses em greve. Daí por dian-
97%oe 3%o. Na segunda categoria se encontravam os te, centenas de pessoas suspeitas de participação
''assimilados"(correspondentesaos ''evoluídos'' política ilegal foram presas em Angola e Moçambi-
franceses) e os colonos brancos. Em 1953, os assimí- que, inclusive sacerdotes católicos e Agostinho Neto,
/aços adquiriram a cidadania portuguesa, embora médico e poeta, que lançava na clandestinidadeo
continuassea discriminaçãopela cor, que se acen- Movimento Popular para a Libertação de Angola
tuava na medida em que se ampliava a população (MPLA). A década de 50 também se notabilizou
branca (esta, em 1970, atingiu 5%o). pela entrada maciça de capitais estrangeiros nas duas
Do ponto de vista económico, Portugal ocupava colónias. Em Moçambique, os investimentos se con-
uma posição secundaria no comércio com suas coló- centraram em obras de infra-estrutura(barragem no
nias. Sua pax'ticipação nas exportações de Angola e Limpopo, via férrea até a fronteira rodesiana, mo-
Moçambique para o exterior era, respectivamente, demização do porto de Lourenço Marquês e constru-
de 20%o e 50%o ; nas importações de Angola eMoçam- ção de uma central hidrelétrica); em Argola, além
bique, provenientesdo exterior, Portugal contribuía dos investimentos de base(transportes, eletricidade e
com 45%o para a primeira e 30%o para a .segunda. irrigação), penetraram os alemães na mineração de
Mas Portugal, como princípio doutrinário: obsti- ferro (Krupp) e os belgas no petróleo (Petrofina),
nava-se em proclamar que não possuía nem império sendoreativada a exploração do manganês, alumínio
nem colónias e, sim, ''províncias ultramarinas". , . . e diamantes.
Nessas condições, o fim de sua presença.na Ãfn- Foi, no entanto, na agricultura de exportação
ca se fez através de uma longa guerra de libertação que se encontraram os grandes incentivos. As cul-
dos povos africanos, cujos impasses atuais refletem turas de café no norte de Angola correspondiam,
séculos de expropriação e violência. naquela década, a 40%odo valor das exportaçõesda
colónia(80%o das plantações pertenciam aeuropeus) .
Um certo zoom económico, estimulado pela codun-
B) Os movimentos de !ibertação nacional tura internacional, favoreceu a imigração branca e a
urbanização onde se acentuava a demarcação .pela
O sinal de partida para a rebelião dos africanos, cor, entre os habitantes das cidades e os da periferia,
na sua forma mais moderada, contra a dominação entre europeus e afncanos. As cidades cresciam e
portuguesa, foi dado em São Tomo, em 1953. .Nesse eram embelezadas. Portugal se orgulhava do dina-
momento,a polícia salazarista matou mais de 100 mismo de suas ''províncias ultramarinas''!
.4 .Z,ufa Contra a MêfrópoZe 103
Mana Yeddal.inhames
lm

Guiné e Cabo Verde(Partido Africano da Indepen-


Na década dos 60 tem início a fase de revolta dência da Guiné e Cabo Verde) e a Moçambique.
armada. Além de distúrbios urbanos (tentativa de Em Moçambique se formaram agrupamentos
invadir a prisão de Luanda), com Mortos e feridos, pela independência,como a União Nacional Afri-
foi no norte de Argola, na região cafeeira, que estou- cana de Moçambique e a União Democrática Na-
raram os primeiros ataques de guerrilheiros às fazen- cional. Coube à FRELIMO(Frente de Libertação de
Moçambique) realizar a união das forças naciona-
listas. A Guiné-Bissau pôde contar com a liderança
de Amilcar Cabral(PAIGC) com base no próprio
território.
o emprego de napalm. O terror caracterizava ambos A condenação a Portugal proveio de todas as
os lados, embora o terror branco dispusessede maior partes do mundo. Na Assembléia da ONIJ, seus alia-
dos explícitos estavam limitados à Espanha(fran-
poderor volta de 1961, calculava-seem 10 mil os quista)e à Ãfrica do Sul, por motivosóbvios. No
entanto, ele continuava a ser abastecido em arma-
mentos pela OTAN, na qualidade de aliado, e os
utilizava contra a Ãfrica. As pressões externas e a
revolta interna levaram-no a introduzir algumas re-
formas, como paliativo (supressão formal do traba-
lho forçado, supressão do ''indigenato'' e ampliação
das possibilidades de acesso à cidadania, aplicação
de sançõesdo Código Civil, e não mais do Código
Penal, como era antes, em matéria de contratos de
trabalho). Apesar da euforia metropolitana, os acon-
tecimentos na Ãfrica começavam a pesar demasiada-
mente sobre o orçamento de Portugal. A luta armada
exigia um dispêndio permanente de homens e re-
cursos materiais.
Entre 1969 e 1972, a maior parte do exército
português(142 mil homens) se encontravamobili-
105
Mana Yedda ZínAarés .,4.Lula Contra a Meülópole
104

BAO 'lDhlÊ B PRINCIPB


iHS
CABINDA

atesd 2.i BuerrB mundial


entre 10590 10n
em 1000

depor de 190$

l ..........--
106 Mana Yeddal.inhames .4 Ztifa (;onera a .A4efrópoZe 107

Parecia evidente,em 1974, que a combinação nómica dessa colónia para Portugal, assim como evi-
das lutas do PAIGC, do MPLA e da FRELIMO: dessescom denciam as dissensões internas entre Agostinho Neto
o aÜoío do coitjunto'das populações africanas e o movimento conservador, de vinculações interna-
territórios, fora fundamental para a derrota do.colo- cionais, de Holden Roberto. As riquezas de Angola
(petróleo de Cabinda, minérios e plantações agríco-
las) e o povoamentobranco(cerca de meio milhão)
tomavam fundamental, mesmo para um Portugal
rçjuvenescido, encontrar uma fórmula conciliatória.
O período que se situa entre o movimento de 25 de
abril e o abandono final pelas tropas da ex-metrópole
Bissau em setembm de 1974(acordo de Argel), em- foi marcado por divisões internas, lutas sangrentas
(batalha de Luanda pelo controle do porto, entre
outras) e intensas negociações internacionais. O for-
talecimentodo MPLA de Agostinho Neto, reconhe-
que teve a sua indepen enchareconhecida pelo acor- cido interna e extemamente como o partido capaz de
do de Lusaka(setembro de 1974), que só seria pro- manter a unidade nacional, significou, por fim, a
clamada em 25 de junho de 1975, provocando, em vitória de Angola. A ela deveria caber um novo pa-
represália,am levante dos residentesbrancos(de!:li- pel, juntamente com Moçambique: o de fornecer a
bero que se asgemelhouao dos franceses da Argeua base contra o racismo na Ãfnca do Sul.

Ãfrica do Sul; Angola não apenas empreendeuuma

Angola. tecimentos que precederam a indepen-


dência de Argola atestam bem da importância eco-
,4 .Z,ufa Cbpzíra a ]b/efrhópo/e 109

concomitante dos novos países abro-asiáticos.


Por outro lado, é forçoso reconhecer.que o fim
do$..inlpériog..eQ10niais..gQ$.$éc1ld} XIX.! XX não
resultõii'de uma decisão.metrõpolitandloti do desejo
de abdicação"dopoder, e sim da capacidade1lere-
volta que é inerente ao oprimido. Daí, a improprie-
dade do temia.''descolonização'', que reflete a visão
eurocêntrica-da História.(%:.!jberalização-do sistemth
colonial, sobretudo na década . 1950-1960, resultou /
EPÍLOGO? muito mais de uma necessidadeou de uma imposi-\
ção, do que propriamente de uma escolha unilateral 2
por parte do poder metropolitanomais ou menos
democrático, mais ou menos esclarecidoou mais ou
menos bondoso. A própria resistência de Portugal à
ideia de ''descolonizar" pôde ir até o momento em
que a revolta nas colónias se tomou irnsistível e que
mesmo os interesses capitalistas garantidos nos seus
territórios africanos se defrontaram com a insurrei-
ção armada. Tratar-se-ia de um recuo momentâneo
desses grupos capitalistas? De qualquer modo, mes-
mo o retomo da exploração pelo capital intemacio-
nal se fará sempre de forma transformada em face de
outra realidade política.
Uma segunda questão diz respeito à possibili-
dade de tenm os países recentementelibertados --
em alguns casos, aparentemente libertados -- da
dominação colonialista direta, de escolher o seu pró-
prio caminho de afirmação política e de identidade
cultural. Vimos, nos capítulosprecedentes,o grau de
destruiçãodas sociedadeslocais em contatocom o
Murta Yedda Lineares ,4 .Luta Cbnrra a JWefrópo/e 111
110

colonizador. O caminho que o Ocidente lhes poderia dades sociais internas, contra a ameaça constante de
mostrar seria necessariamenteaquele por ele mesmo governos opressores e de ditaduras pseudo-modemi-
trilhado: o parlamentarismo, a pluralidade dos par- zantes, e, sobretudo, como dominar os males do
subdesenvolvimentolegados pelo colonialismo e
aprofundados pelos novos mecanismos de dependên-
cia?
l

A ''descolonização'' dos velhos modelos chegou


leninistaque degeneraem autoritarismo e ditadura.
Ora, tal caminho não encontra correspondência a seu fim. Resta saber como evoluem os novos países
nas sociedades asiáticas e afncanas pré-coloniais. e como poderão eles enfrentar os novos problemas: a
Como bem ressalta Jean Chesneaux: o.estudo da blq- construção de suas sociedades. Se forem bem sucedi-
dos será porque o colonialismotambém teve o seu
guesia asiática(acrescentamos: e da burguesia afri- fim e eles encontraram o seu próprio caminho.
cana) não se inscreve diretamente na história da bur-
guesia dos países industrializados; da mesma forma,
a ''cidade asiática(e a africana) não é, como no

da sociedade

;'='Xlã:l;'lã;-.fa:ã=ãúii;ÜÜe..i$®Fo O©
d::itê'ãéiitr(;L.delas--esü:En
wn--sempre-enterrado, e
.issÕllgã-n..futuria.-poderáresolver. Daí, a importância
ffundamental para o pesquisador de penetrar nas so-

'!' intimas que nos levara a en-


contrar a dinâmica de sua evolução. .
E, finalmente, uma terceira questão. Como en
frentar a batalha contra a fome, contra as desigual-
1-13
.4 .Ltifa (bnfra a Metllópo/e

Grimal, .ZlaDécoZonízafün .19.19-.19á3,excelente ma-


nual universitário da Colação U, Paras, Armand Co-
lin, 1965;Jean Mathiex e Gérard Vincent, 4tljourd '
huÍ .1945:]970, premier cycle .Hhfolre, Pauis, Mas-
son Éd., 1972e 1973,2 vols., também na categoria
de manual universitário de boa qualidade e extrema-
mente úteis; Rena Sédillot, .Hhfofre des Cb/onüa-
flbns, Paria, Arthême Fayud, 1958; J. Strachey, 7%e
End oÍ.EPnpire,Londres,GoUancz,1959;H. V. .Wi-
INDICAÇÕES PARA LEITURA seman, .Bdfafn apzd fÀe GommonweaZf&, Londres,
Allen & Unwin, 1965.
Sobre a Ãsia e o impacto do imperialismo exis-
tem em tradução brasilePa dois trabalhos básicos:
mean Chesneaux, .L'Hsle OHentaZe atu MXe. ef We.
Por ser extremamente rica e extensa .a biblio- síêc/es, Pauis, Nouvelle Caio, 1966(.A .fÍsla OneBfa/
nos .Sécu/osXZXe .XX, editado pela Pioneira) e K. M.
Panikkar,' ,4sía and vestem .DomínaBce, Loldres,
1953(.4 Z)omínaçâo Ocldenía/ a ..4sia, Ed.. Saga).
Sobre a visão do colonizado, hâ os clássicos
Frantz Fanon, Z)amzzésde ZaTen'e, Pauis, Maspéro,
1961(Co/zdeBados da Terra, em sucessivas edições
internacionais)e Albert Memmi, Podralf dtz GoZo-
nisé, 1966(Retrato do Colonizado .»ecedído do Re-
trato do Colonizador, ed. Civilização Brasileira) que
ficaram famosospelos prefácios de Jean-Paul Sartre.
Sobre a Ataca, destacam-se, como contribuição
importante da própria intelectualidade africana, Jo-
seph Ki-Zerbo, .Hh/óna da .4/Hca .hle#ru, Visem, 2
vols. , ed. portuguesa, fundamental e, ainda, pelo seu
caráter polémico e contestatário das visões tradicio-
115
114 Mana Meada.[ínÀares .4 Ztifa Contra a Mef/l5po/e

nause ocidentalizantes, Rosca Jaffe, .De/ 7ríba/fumo Para as colóniasportuguesas,excluindo-sea


a/ SoclaZümo,SíRIoVeintiunoEd., 1976(traduzido literatura propagandista do período salazarista, exis-
do italiano); Kwame N'Krumah, .NêocoZo laxismo, tem os trabalhos fundamentais de Marvin Harris,
Ü7ffmo Esfágfo do empena/fumo, Rio de Janeü'o, Ed. .f)orftzga/'s
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estruturas sócio-económicas,leia-se Jack Woddis, Ehnmarck e Wastberg, .ÁPzgo/a and .A4ozambíqae,
.4#fca -- ..4s Rales da Revolta, Rio de Janeiro, fãe Case agaflzsfPodtzga/, Londres, Pall Mail Press,
1963
Zahar Editores, 1961, ambos em tradução do
inglês; para o debate de temas gerais na fase da Poderíamos,ainda, acrescentaruma lista de
descolonização, existe uma coletânea publicada pela depoimentosprestados em variados momentospor
Editora Anhembi, São Paulo, em 1961,sob o título líderes da emancipação e da libertação, tanto da Ãsia
,4 ]Vova 4/Pica, com artigos de especialistas; para o quanto da Ãfrica. Esperamos, entretanto, que o lei-
tor nos perdoe por essa omissãojâ que, como adver-
acompanhamento das discussões relativas ao pro-
cesso de descolonização é imprescindível a leitura das timos, qualquer bibliografia sobre tema tão amplo
revistas Présence .4»'ícafne e .ZI,es Te/nps .Z14bden'z:es, corre o grave risco de ser extremamente superficial e
ao longo do período, reproduzindo a posição de inte- insuficiente. Para ser menos imperfeita, ultrapas-
lectuais africanos e ocidentais sobre a problemática saria as dimensões deste pequeno limo.
do colonialismo e do capitalismo, em seus múltiplos
aspectos e implicações.
Quanto à temática do socialismo. africano,
vqa-se, numa primeira abordagem,o livro de Jac-
ques Amau[t, .Du (]o]onía/üme au Sacia/ísme. .[es
Estais de /a .obtive//e Crlflqtie, Ed. Socíales, 1966;
para a crítica das posições''socialistas'' de J. Nye-
rere, Jomo Kenyatta, N'Krumah e outros líderes afri-
canos da emancipação, leia-se o acima mencionado
Hosea gaffe, fundamental pelo aporte bibliográfico.e
pela perspectiva mais radical de alguns setores da
atual intelectualidade afncaíia.
Soba a Autora

Nasceu em Fortaleza em 1921. Seu interesse pela História se reve-


lou quando,em 1938,venceua Maratona Inülectual promovidapelo
MEC. Iniciou e concluiu sua formação em História na Universidade do
Brasil(Rio de Janeiro) e nos Estados Unidos(Nova lorque). Fez sua mu-
nira universitária na Faculdade Nacional de Filosofia(UFRJ) entre 1946
e 1969, ano em que foi aposentadapelo Al-5. após b! conquistado.
sucessivamente, por concursos públicos de provas e defesa de. tese, .o
titulo de Lide Doente (1953) e o cargo de Professor Catedrático de
História Morfema e Contemporânea(1957). Além de duas teses sobre
história das mações intemacionais(as relações anglo-egípciase o Sudão
e as n loções franco-alemãs e o Manocos), publicou artigos no Brasil. na
Europa e na América, tendo participado em congressos, realizado confe-
rênci;s e lesionado como Professor Visitante tanto na Fiança(Univer-
sidade de Paras) como nos Estados Unidos(Universidade de Columbia,
Nova lorque). Transferiu-sepua a Fiança em 1969e.foi nomeadaPlo-
/assear.4ssocféde História Modems e do Brasil na Uniwrsidade de Tou-
louse. De volta ao Brasil, em 197S, passou a dedicar-se à pesquisa em
história agrária. Durante quatro anãs, foi professora da Fundação Ge-
túlioValsas e desenvolveuo Programa de História da Agricultura Brasi-
leira(Centro de P6s-Graduação em DesenvolvimentoA8Hcola,.EIAP/
FGV) sobre cujo üma publicou numerosos artigos e dois lidos: ã:sfón'a
d) .4õafeclmenfo, uma P ub/emárfcaem Quesfã)(/530-/9/8) e Hisfóría
Folüica do .4&asfccfmento(]9/8-/974). No momento, é Professora Visi-
tante do Mestrado em História da Universidade Federal Fluminense.
Anistiada, retomou à UFRJ.

&
HISTÓRIA DO BRASIL
COLEÇÃO TUDO É HISTÓRIA
A Inquisição no Brasil -- .4nf/a /Vovlnski
As Lutas da Independênciano Brasil -- Epzide ib/esqí/fa
HISTÓRIA GERAL O Antigo SistemaColonial -- .rosé R. ,amara/ l,apa
Motins e Tensões na Sociedade Colonial -- A4arfaOd//a l,eí/e
O Estado Absolutista -- fer/bando /Vol,al.ç As Revoluções Indígenas no Brasil -- Z,alma À/esgrat,ís
O Mercantilismo -- Francísco F'a/con Os Quilombos ---: C/óvfs /b4oura
As Revoluções Burguesas -- À/odes/o florePzzano A Revolta de 1817 -- Car/os Gui//zer/zze A/Of/a
A Revolução Industrial -- f'ranc;sco /g/és/as A Balaiada -- À/aria de l,ourdei /algo/fí
A História do Trabalho Fabril -- Esgar de l)ecc'a A. Cabanagen\ -- Dulce melena Pessoa Ramos
O Movimento Operário no Século XIX -- U//.çse.ç Glíarf/)a A Revolução Praieira -- /sabe/ À/arsopz
As Internacionais Operárias -- A4alrrí('fo Tragre/zóerg O Nordeste Insurgente ( 1840-1890) -- Harlzi/fonde À/al/os
A Revolução Russa -- 7'béo Sanflago fdot\toiro
A Crise de 1929 -- ,4díz/ber/o À/arsorz Canudos e Contestado -- Z.///a/t7orlfzSc/zwarcz
O Fascismo -- ,4riía/do Coar/er #

A Crise do Escravismo e a Grande Imigração


A 2.a Guerra Mundial -- /oe/ S//ve/ra -- Palita Beiguetman
A Revolução Chinesa -- l)ame/ ,darão Re/s Ff//zo A Abolição da Escravidão -- Sue/í Roó/e.ç dt' Que/roz
A Construção do Socialismo na China -- Z)an/e/,4. Ref.f F///lo A Economia Cafeeira -- /o.çé R. H/nau/ Lapa
A Guerra Fria -- Z)éa Feno/on A Proclamação da República -- /osé Énfo CasaZesc/zl
Paris -- Maio-68 -- O/faria C. F'. it/afo.f A Revolta da Vacina Obrigatória -- Sflvfa Basseffo
A Revolta da Chibata -- /b/arco.f ,4. (/a SÍ/va
ÁFRICA-ÁSIA O Banditismo no Brasil ( 1880-1940) -- ra/mlr B. Correia
O Coronelismo -- /\daria de l.otírdei /a/zó/fí
O Tráfico Negreiro -- /oe/ Rtr/ino do.f San/o.ç
O Cangaço -- Car/o.ç .4 /berro Z)(;r/a
+ A Luta Contra a Metrópole (Ásia e África)
-- Mana Yedda Lirtllares A Burguesia Brasileira -- /ac(5 Gorender
.A Questão Árabe -- À/aria yedda Z.ínàares O Estado no Brasil Império -- Z,uís Roncar/
O Estado na l .a República -- A/aria de l,ozzrdes/arzofrl
AMÉRICA LATINA O Movimeto Operário na l .a República -- À/ic/zae/Ha//
A Semana de Arte Moderna -- ,4/exandre Eu/á/ío
+

As Independênciasna América Latina -- l,eón Po zer O Tenentismo -- Z)éclo Sae.ç


A Acumulação do Capitalismo na América Latina A Revolução de 30 -- /fa/o 7'ronca
(Séc. XIX) -- Hec'ror Br {f/ As K'migrações no Brasi1 -- ,4/cír Z.en/zero
O Populismo na América Latina -- A/ar/a l,ígla Prado O Movimento Constitucionalista de 32 /varia He/e/za
O Militarismo na América Latina -- C/ól,fs Rossí Capelato
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,4 spásla Camarão
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As O Golpe de 64 -- Lourdes Sola . Anta tio tendes Jr


A A História do Movimento Estudantil
O Al-5 -- /Uárc]o ]14oreira 41ves
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Ai
Pai

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