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A LUTA CONTRA
A METRÓPOLE
(Ãsià e Ãfrica)
1981
c;ópw/ízÀÍ(ê) Mana Yedda Linhares
Capa:
123(antigo 27)
Artistas Gráficos
Revisão:
José E. Andrade
Sânia S. Nicolai
ÍNDICE
Prólogo 7
A Europa face à descolonização 10
A conjuntura internacional do pós-guerra 10
A) Balanço material do conflito 10
11
B) O eclipseda Europa 14
C) As Nações Unidas . . .
D) A polarização intemacional e a guerra
fria 16
E) Os conflitos da guerra fna 20
A descolonização -- a quem cabe a iniciativa? 23
A) Colonizare descolonizar 23
B) A Grã-Bretanha 24
C) A França 28
D) Um novocapitalismo? 29
.4 co/órfã/ace ao co/onlaZismo 34
O colonialismo como sistema 34
editora brasiliense. s.a. 34
A) Para que secoloniza
O1042 -- rua barão de itapetininga, 93
sâb paulo -- brasil
6 Àíaría Meada .[íB&ares
B) Quem coloniza 40
C) Como se coloniza 45
A revolta do colonizado 52
A) Os condenados da terra 52
B) Os nacionalismos, bumerangue do im-
perialismo? 55
Os caminhos da descolonização 60
60
Os fatores da revolta .
60 PRÓLOGO
A) O movimento de idéias . .
B) As consequênciasimediatasda ll Guer-
ra Mundial 63
A descolonização pacífica 66
A) A conjunturacolonial 66
71 O períodoquese estendeentreo finalda ll
B) Aindependência da Índia
C) A independência da Birmânia, Ceilão e
Malâsia 75
D) A independência pacífica da Ãfrica 77
A libertação pela violência 81
A) A Indonésia 81
B) A Indochina 82
C) A Argélia 85
D) Do Conho Belga ao Zaire 87
E) Outras independências 92 nacional das nações independentes. . . . .
A descolonização tardia 96 A Liquidação dos impérios colodai:, de up
lado, e, de outm o surgimento ou o renascimento /le
A libertação de Angola, Moçambique e Guiné- povos que se cõiistituem em nações e Estados são, na
Bissau 96
96 realidade as duas faces de um mesmo processo his
A) Portugal: um colonialismodependente
B) Os movimentos de libertação nacional 100
Epílogo ? 108
Indicações para leitura 112
8 Murta YeddaLineares .4 .Lula Contra a .Aíerrl5po/e 9
do se reuniu a Conferência de São Francisco(abril- gerais, o nascimento de um novo mundo, assim como
junho de 1945), cujo objetivo foi o de discutir entre os o movimento de idéias que colocou em confronto
aliados vitoriosos sobre o nazi-fascismo um plano dominadores e dominados de ontem, dominadores e
que assegurassea paz entre os povos da Terra. dominados de hoje. Ou seja, interessa-nos verificar
O documento que selou o final dessa reunião foi até que ponto o fim de um valho colonialismouno
a Cana da Orgalzízação das .Nações Unidas(ONU) bojo da crise do capitalismo e das guerras mundiais,
que recebeu a assinatura de cerca de 50 Estados 'representou o início:de uma era .de .:libertação. de
fundadores. Estes se dispunham, pelo compromisso povos dominados e classeióprimidas.
assumido, a pâr em pratica um sistema internacional
capaz de assegurar a paz no mundo e a proteger os
direitos do homem por toda.ã parte. Os membros da
nova organização intemacidhal engajavam-se, ainda,
a garantir a paz por meios pacíficos, tendo como
objetivoprioritário o desarmamento, a reconhecer o
direito de defesa dos Estados, a recusar intervir nos
assuntos internos de outros Estados, a renunciar ao
empregoda força, salvo diante de uma ameaçaà
segurança mundial.
Decorrido um quarto de século da assinatura da
Carta de São Francisco, já se situa acima de 120 o
número de Estados-membros da ONU. Tal fato se
deve, principalmente,à entrada em cena dos novos
países asiáticos e africanos que emergiram da luta
contra o colonialismo. Por outro lado, enorme é a
distância entre a grandiloqüente declaração de inten-
ções de São Francisco e a.higt6ria como de fato se deu
nos anos subsequentes, com a sua teia de ocorrências
e as determinações de ordem económico-social, polí-
tico-ideológica e cultural que a moldaram.
Interessa-nos,aqui, relatar, em suas linhas mais
.4 Z#ta Contra a MêfrlópoZe 11
irrupção do socialismo,como um corpo de idéias, capitalismo sem rivais e sem competidores. Nesse
apresentava-se, com a experiência soviética, como momento, o mundo comportava duas superpotências
uma alternativa de desenvolvimento e de bem-estar apenas: o vitorioso do Pacífico sobre o Japão, a nação
aos países, povos e classessociais que, até então, milionária que permitira equipar os exércitos aliados
gravitavam na órbita do capitalismo. Considere-se, da frenteocidentalno ataquefinal à Alemanha e à
ainda, o fato de que a ocupação de territórios pelos ltâlia fascista, ou seja, os Estados Unidos, e a União
exércitos inimigos criou uma nova versão de ''nação Soviética que, apesar de ter lutado em seu próprio
em armas'', ou sqa, a resistênciados paísesocupa- território, foi a construtora da vitória sobre a Ale-
dos numa espécie de guerrilha contra as tropas fas- manha, levando-a a recuar até o aniquilamento in-
cistas, o que contribuiu para abalar o poder das bur- terno. Para os europeus, que.haviam.dado.o exemplo
guesias locais, acusadas, através de alguns de seus da revolução industrial e.do. desenvolvimento,capa
expoentes, de colaborar com os países do Eixo (alian- taoista.que com seus . Tburgueses conquistadores''
ça da Alemanha, ltália e Japão). Assim, à divisão comandarama, ciência,.a técnicae os'povõi'ao
social interna acrescenta-se, no decorrer dos anos de mundo, o sacrifício da guerra.ç..a.J:jlêria fb4r,Êõnjçi
ocupação(na Bélgica, na Holanda, na Fiança, na aliados que eram dos Estados IJnidos-e da.UniâQ
lugoslâvia), um fosso profundo entre a massa popu- Soviéticasignificaram, em última instância,..a pçlda
lar, ''resistente'' ao inimigo, e os ''colaboracionistas'' de'controle e de iniciativa na política internacional.
internos que passaram a representar os inimigos da Pela"primeira vez na História, seus destinosserão
nação. Essas divisõesinternas irão ter uma influência marcadospelas decisõesdos dois novos pólos de
considerávelsobre a conduta dos partidos políticos poder: as duas grandes potências, uma a leste, outra
após a guerra e o movimentode opinião sobre as a oeste, detentoras do poder material das armas e da
aspirações de libertação dos povos colonizados. Elas técnica e do poder espiritual de arregimentar diri-
favorecerão o desenvolvimento de uma consciêncj4 gentes e dirigidos através das idéias que passaram a
anticolonialistadentro da própria Europa. representar -- o capitalismo, como $inânimo de
O eclipiê provisório da Alemanha, da ltália e do democracia e liberdade, e o socialismo, como sinó-
Japão, em decorrência da derrota militar, as perdas nimo de instrumentode luta pela libertação dos
sofridas pela Inglaterra, França, Bélgica e Holanda, povos e das classes historicamente oprimidas.
revelaram o poderio económico e financeiro dos Es- Ocorre, porém, que o crédito da derrota do
tados Unidos da América, que emergem da guerra lapão não é somente dos Estados l.Jnidos. Coube à
como a primeira potência do Ocidente, líder de um China uma boa parcela de participação na luta con-
14 Mana YeddaLitthares .4 .Lula (bHfra a Mêí/x5po/e 15
tra o império japonês. Assim como os Estados Uni- monarquias europeias destinada a impedir os movi-
dos e a União Soviética,a China é um país gigante, mentos liberais. Reacionária nos seus propósitos e
de grande extensão territorial e imensa população. métodos, não chegou a ter vida efetiva duradoura e
Mas aí se encerra o paralelo. A longa guerra contra desapareceu com a ascensão do liberalismo e do na-
os japoneses e as dissensões internas que opunham cionalismo, a partir de 1830, na Europa. A segunda
de um lado as forças ''nacionalistas", capitaneados tentativa foi representada pela Sociedade das Nações
por Chiang-kai-cheke caracterizadas,por amigose após a l Guena Mundial, a qual também tevevida
inimigos, pela prepotênciae cornlpção de seus diri- efêmçra, não chegando a impedir a marcha do fas-
gentes, e, de outro, as forças ''comunistas'' de Mao- cismo nem o conflito armado que teve início em 1939
tsé-tung, que se apresentavam com um vigor inesis- com a invasão da Polõnia pela Alemanha de Hitler.
tível, dando a imagem de uma nova China, faziam Em janeirode 1941,enquantose desenrolava
a
com que a velha China tivesse reduzidas as suas guerra na Europa, o presidentedos Estados Unidos,
possibilidades de se constituir numa terceira grande Franklin D. Roosevelt, enviou uma mensagem ao
potência. Congresso americano proclamando as ''quatro liber-
Em resumo, o poder mundial que antes per- dades fundamentais'' (a lib.erdade de pensamento e
tencia aos pequenose médios Estados europeus, for- de expressão; a liberdade de crença; a liberdade de se
tes no comando do capitalismo, da tecnologiae do livrar da miséria; a liberdadede não ter medo)-.No
saber, transfere-se para otltros espaços geográficos, mesmoano(14 de agosto),juntamentecom o Pri-
.de maior poderio militar e potencialidade económica. meiro Ministro inglês Winston ChurchiU, promoveu
O fim da ll Guerra apresenta-se,assim, como o a assinatura da Carta do Atlântico, onde foram afir-
início de uma nova era da política mundial, na qual a madas os seguiiüei princípios:
Europa passa a ocupar um lugar secundário. a renúncia a qualquer aquisição de território sem
o prévio consentimentodas suas respectivaspo-
pulações;
C) .Ás .Noções [/nadas o direito à autodetemiinação dos povos; .
o acesso de todos os Estados ao comércio inter-
A idéia de uma organização intemacional com nacional;
poQçresde assegurar a paz entre os Estados foi posta a liberdade dos mares.
em pratica, pela primeira vez, com a Santa Aliança Com a entrada dos Estados Unidos na guerra
de Mettemich e a política de intervenção militar das (dezembro de 1941), encontros sucessivos entre os
16 Mana Yedda Linharn
\ ,4 lula Contra a Mêrrlépo/e 17
Chiang-kai-chek na China (1949) contribuiu para târio de poder controlado pela burocracia do partido
fortalecer, ainda mais, o bloco dos países socialistas. oficial (o comunista), o controle estatal da economia
A dissolução do Kominform em 1956, após a morte e da sociedade,a ausênciade liberdadeindividual,
de Stalin, inaugurando 4 política de apaziguamento o ateísmomarxista; a geopolíticado Bloco Oriental,
\ de Krutch;;i';'é"õ'primeiro sintoma tle uma inüdança por suas características continentais(30 milhões de
iiãÕlãaadaestratégia internacional do comunismo, km2), estendendo-se da Alemanha do leste à costa do
ou sqa, a partir dessa data a URSS renuncia, oficial- Pacífico, com fortes concentrações demográficas
mente, à tradição de Lenin e.Stalin de pressionar (perto de um bilhão de pessoas na década dos 50),
internamente os países capitalistas através da ação configurava um mundo misterioso capaz de subver-
de seus partidos comunistas. Da mesma forma, a ter os ''valores" da civilização ocidental, Breca-ro-
ruptura militar entre a União Soviética e a China, em mana e cristã.
19S9, representou a primeira cisão profunda no seio O Bloco Ocidental se apresentava, pois, como o
do bloco comunistas.Mas, nesse momento, .a:.guerra herdeho das ''revoluções burguesas'' do século pas-
fna começava a ceder lugar à política de.coexistência sado, do racionalismo e do humanismo, enquanto o
liacífica entre o capitalismo e o socialismo. Bloco Oriental era encarado, pelos grupos sociais
dirigentes do Ocidente, como o resultado do irracio-
nalismo e da ''barbárie". Tais pressupostos mani-
E} Osconftitosdaguerraftia queístas, no entanto, têm receptividade diversa entre
as classes populares que viviam na órbita do impe-
Os dois mundos que se defrontam são divididos rialismo e que aspiravam a mudar o curso de sua
pelo sistema económico e social, pela geografia e pela história. Nessas condições, o socialismo tem para
ideologia. O Bloco Ocidental tem o Oceano Atlân- elas um conteúdo diverso daáiiêlê que Ihe é atribuído
tico como centro de atividades e de interesses; ao pela propaganda do Bloco Ocidental, apresentando-
capit41ismocorresponderia um determinado sistema se, assim, como um instrumento de.lida.contra a
de. -afganização política e de práticas económicas oi)ressão intima(a dominação de classe) e extema
(ã democracia liberal e o comércio intemacional), (a dominação colonial).
confundindo-se no ideário de propaganda com a A polarização da guerra fna revelou ainda uma
liberdade de organização económica,: o livre arbítrio situação de ''impasse" tecnológico. A tecnologia nu.
e formas de representaçãodemocrática de governo; clear desenvolvidatanto pelos Estados Unidos quan-
ao comunismo corresponderia um sistema autori- to pela URSS(posteriormente pela Inglaterra, Fran-
,4 Ztzfa Contra a Mêfpüpo/e 23
22 Mana Yedda Lineares
Sfafe --. compete reunir os instrumentos necessários trabalhadores que se dispuseram a diminuir a pres-
para a modernização de economia, promover através são dos movimentosreivindicatórios.A guerra da
de reforma tributária (imposto progressivo sobre a Corria (1950-53) contribuiu em muito para o inicio
renda e elevados direitos de herança) uma redução de um verdadeiro zoom industrial britânico pela am-
da distância entre ricos e pobres e assegüíar'os bóhê- pliação de seu comércio exterior.
Bcioí ãã'dêgéíiVOM.menta'ao unto grupos Sua política internacional, sobretudo a atitude
sociais: face aos movimentosnacionalistasnas áreas colo-
Em linhas gerais, foi posto em pratica o seguinte niais, sofreu;ãs influências dessa evolução interna e
programa (jamais alterado substancialmente pelos das conjunturas externas. Foram, assim, .os traba-
governos conservadores posteriores) : lhistas ingleses os primeiros aaceitall.a.êescok)aFI
a) nacionalização do Banco da Inglaterra, das záçãcl:'dando o sinal de pãltiaa,. ,em .!947,-.çom a
companhias de transportes (aéreos, terrestres, ferro- independênciada Índia. Foi ainda a Grã-Bretanha a
viários e marítimos), gás, luz, eletricidade, carvão, primeira potência capitalista a reconhecer o governo
siderurgia (desnacionalizada em 1953); comunista de Mao-tsé-tung na China, como também
b) criação de um eficientesistema de seguro e foi ela o primeiro país do Bloco Ocidental a contestar,
assistência social (do nascimento à morte) e subse- embora cautelosamente, a ampliação da influência
qüentenacionalização dos serviçosmédicos; americana naquelas partes do mundo que antes ti-
c) adoção e execução de gigantescos planos de nham sido de predomínio inglês (particularmente, o
habitação e urbanismo; Oriente Médio), a sua reserva de poder. No entanto,
d) medidas financeiras eficazes que assegura- as despesas crescentes de sua política social no plano
ram o valor monetário da libra e conversibilidadeao interno começavam a tomar por demais onerosa a
ouro. manutenção,por parte da Grã-Bretanha, de uma
Em 1950, a Inglaterra jâ podia orgulhar-se de política imperial e marítima (mormente em Suez e no
sua recuperaçãoa ponto de abrir mão dos recursos Indico).
assistenciais do Plano Marshall. Viu instaurada a A partir de 1950, a política de descolonização
paz social interna e consolidada a sua posição finan- total não será alheia aos imperativos do WeZáare
ceira. E indiscutível,porém, quepara atingiresses Sfafe e seus compromissos com a paz social domés-
objetivos, puderam os trabalhistas contar com um tica
certo ''estoicismo'' tanto dos setores até então mais
privilegiados da sociedade, como dos sindicatos de
28 Mana YeddctLineares .4 .Lura Contra a MefrópoZe 29
dou? Os países capitalistas se socializam? XIX, que decidia nas bolsas de Londres e de Pauis,
Os. grupos económicos franceses, capitaneados posteriormente de 'hall Street, sobre a sorte do Capi-
por sua burguesiatradicional, foram maíi"resistentes tal e os destinos de milhões de indivíduos em todas as
do que os ingleses à adição de medidas reformadores partes do planeta. Cabia agora ao Estado exercer um
do sistema capitalista que reduzissem a sua cota de povo; papel.; .o de propulsor do sistema econõmiêõ
participação nos lucros provenientesdo crescimento (financiamento, seguros,'compras de material bélico
económico. Assim, as mudanças francesas não dei- e equipamento) ç regula(4g! dos .meçanismos sociais!
xaram de ser caracterizadas pela ascensão da luta de aliviando as tensões(previdência social, habitação,
classes e de uma intensa atividade partidária, o que seguro de desemprego, saúde, educaçãol lazer) .
levou à politização do sindicalismo, à participação de Mas o progresso desse novo capitalismo não
intelectuaisno debate de idéias e ao confronto, por indicava a solução de problemas fundamentaisuO
vezes violento, entre ''forças da ordem" e movimen- ppmeiro delesdiz respeito à incapacidade do Estado
tos populares. Nesse confronto, estevesempre pre- dãÕitalistã'de'intervir:decisivamente,no processo
sente a questão do capitalismo(a exploração do tra- produtivo de modo ã controlar. d dwenvo/pimento
balho pelo Capital), com sua decorrência, naquele fecho/óglcoe impedir o desperdício que é determi-
momento: a descolonização. nado Dela adoção contínua de fBovações . técnicas.
Dois fatos novos aparecem representados pela Assim, instalações industriais antes de serem amor-
revelação do extraordinário poder económico dos tizadas jâ são substituídas por outras, mais moder-
Estados Unidos(a gigantesca capacidade de seu par- nas e sofisticadas, o que impõe um esforço perma-
que industrial) e o desaparecimento da imagem clás- nente de investimento financeiro. ''Submetida à fata-
sica do capitalismo concorrencial(a "livre empre- lidade da inovação, a racionalidade técnica do mun-
sa''). Ao contrário do capitalismo de Adam Smith, do capitalista desemboca sobre a irracionalidade''
Ricardo e Say, nos seus primórdios, surgia um novo (Jean Mathiex e Gérard Vincent, .Hhfoíre .4t{»tzrd'
capitalismoem que o Estado se dispõe a intervir, ha1,.2945-.1970,
Paras,V. 1, 1972).
impedindo a repetição das crises de safe/prodtzçâó Poder-se-ia, pois, falar de um fpnpeHaZümo de
de equipamentos (1873, 1929) e seus efeitos dramá- /inovação, ou umneo-filipeHalümo; que marcará a fa-
ticos, compondo-secom as empresas, num acordo se de descolonização e o surgimento de novas relações
tácito, através dera/üícas ep/ane#amenfos. Aos pou- capitalistas no plano mundial. A inovação tecnoló-
cos, desaparece, também, aquela imagem do óur- gica é poupadora de mão-de-abri;'têndó"iiã.çaráter
gtlé) co/zquisfador, o capitalista empresário do século recessivo de emprego, tanto no setor secundário
32 Mana Yedda Lineares .4 .Lula Contra a .Bíefrópo/e 33
a) as colónias que se estabeleceramapós uma mento de capitais, mormente após 1890 -- foram QS
conquista militar e política; nesses casos, a emigra- Governos levados a assuma' uma política expansio-
ção e o estabelecimento de colonos, em terras estra- nista;
nhas, resultam de uma política de poder, de domi- c) a passagem de uma expansão ''espontâneas'
nação imperial (Imperítzm: autoridade, dominação -- comandada por grandes colonizadores, pioneiros
absoluta) ;
da colonização e exploradores (Mungo Park, Rena
b) as colónias que se estabeleceramantes da Caiam, Brazza), missionários (Livingstone) e empre-
conquista militar e da dominação política; nesses sas coloniais, com esporádicas intervenções políticas e
casos, a marcha pioneira, a emigração, precede a militares -- a uma política deliberada que levara à
instalação do imperfum, da autoridade e da sobe- constituiçãode Impérios e a uma nova partilha do
rania.
m.findo, deve ser compreendida à luz das próprias
No entanto, o processo de colonização européia transformações por que passava o capitalismo.
do mundo não europeu ao longo do século XIX apre- Coube principalmente a J. A. Hobson, Rudolf
sentou certas particularidades, a saber: Hilferding, Kautsky, Rosa Luxemburgo e Lenin,
a) .Jla primeira metade do século, caracterizada fundamentados na analise do capitalismo monopo-
pelo capitalismo liberal, /aüser./abre, a expansão eu- lista, do novo papel do Estado militarista e das leis
rõpéialoi moderada; a Grã-Bretanha conservava a que regem a concentração do capital financeiro, ex-
Íàdià como centro do Império que construíra no plicar essa fase suprema do capitalismo como sendo
século precedente, sobretudo conquistando-o dos a do /mperla/esmo,uma etapa na história da huma-
franceses; a França conquista Argel, em 1830, ini- nidade. Afirmava Hobson, economistaliberal inglês:
ciando-se, aí, um longo processo de ocupação e colo- ''(...) a análise do Imperialismo, com seus naturais
nização da Argélia;
suportes, militarismo, oligarquia, burocracia, prote-
b)ua parti! da segunda metade do século -- com cionismo, concentração de capital e violentas flutua-
o espetacular desenvolvimento da civilização indus- ções do comércio, faz com que ele se apresente como
trial e suas conseqüências (expansão demográfica e o perigo supremo dos modernos Estados Nacionais''
procura de mercados para os seus produtos), a exa- (J. A. Hobson,.Ihperla/ísm,a .Srzzdy,Londres,1902).
cerbação dos nacionalismos burgueses, a competição Concluindo, poder-se-ia sintetizar com Jean-
;entre os países capitalistas (Inglaterra, França, Ale- Paul Sartre: ''A colonização (.. .) é um sistema que foi
manha), a busca não somentede mercados e maté- posto em pratica no meado do século XIX, começou
rias-primas, mas também de campos para investi- a dar frutos por volta de 1880, entrou em declínio
41
40 Jb/aria Xedda ZínÀarei . ,4 1,ufa Contra a Mernópo/e
após a Primeira Guerra Mundial e se volta, hoje, proteçãodo Canal de Suez; ocupa, ainda,.o Evito, o
contra a nação colonizadora''. (Zes Zemps Mbder- Sudão, Chipre, a Somâlia; na Ãfrica Ocidental, ins-
lzes, março-abril, 1956) tala-se na Costa do Ouro e na Nigéria; na Africa do
Sul, anexa o interior da Colónia do Cabo, através de
Cecíl Rhodes, surgindo,assim, as Rodésias;em
.B) Qzzemco/oniza 1902, após a guerra contra os Boers, antigos colonos
holandeses, conquista o Transvaal e Orange. Em
No meado do século XIX, pouco restava dos 1910,outorga o estatuto de Domínio ao Canadâ, à
antigos Impérios mercantilistas. Somente a (;rã-.Bre- Austrâlia, à Nova Zelândia e à Ãfrica do Sul.
fan&a permanecia como a grande potência marítima Às vésperasda ll Guerra Mundial, o..Império
e ''imperial'', embora procurasse evitar, até 1874, Britânico era extremamentillico e oodelg$g:.Elç..!g
novas anexações, salvo as escalas da índia (no Medi- estendia soQlç..B!!!AlgmQ.aa.PQplÜ4çãQ.do- planeta.e
terrâneo oriental, na rota da índia pelo Cabo)«;.O: ãÕiÚiãÇiiiM-çêgwuü@
problema do desempregoindustrial permitira,. ao l
longo do século,uma acentuadaemigraçãopara.as ããiãf:iããái;&6iê.é:.êüwd4..Q.Het!$!ççdQ.Qd'ntç
:colónias de povoamento (Canadâ, Cabo, Austrâlia, Mléãio''Cõiiiii;lava 15%oda produção mundial de
Neva Zelândia), que não tardarão a adquirir uma trigo, carne, manteiga, algodão, ferro e aço. Parecia
relativa autonomia. Nas Antilhas e na Guiana, ela imbatível e imperecível, embora pesasse sobre ele
mantém o sistema tradicional de colónias. A partir uma nuvem de preocupação: 85%odos seus 500 mi-
de 1874,após a primeira crise de superprodução do lhões de habitantes eram constituídos de populações
sistema industrial, toma corpo o movimento imperia- ''indígenas'' (negros, indianos, amarelos) .
lista na Inglaterra. Com a ascensão dos conservado- Jâ o .fp7zpérfo Cb/onça/ Xrancêç; menos espeta-
fés (a Rainha Vitória é coroada Imperatriz da Índia cular do que o inglês, foi produto de uma expansão
por Disraeli), a campanha por uma Greafer .Brffaf/z mais rápida e concentrada no tempo. Em 1815, só
canta as glórias (e a carga) da missão civilizadora do Ihe restavam vestígios do antigo império mercanti-
homem branco(Kipling, Chamberlaín). lista: Martinica, Guadalupe, Guianp, dois entrepos-
Na Ãsia, em nome da defesa da Índia, ela anexa tos quase abandonados ng Senegal, a Ilha de Reu-
a Birmâniae a Malâsia.Na Âfrica Oriental,apo- nião, cinco feitoriasna índia. A partir de 1830,
dera-se do Quênia, de Uganda, com o objetivo pro- anexa Argel, cuja conquista se fará lentamente, e
clamado de defender as fontes do Nulo e garantir a Libreville, no Gabão. De 1850em diante, ingressa na
42 43
Mhrfa Xedda Zz'nÀares .,4.Luta Contra a Metrópole
pansão. Dizem respeito aos métodos empregados e do emprego das armas(militarismo dos Estados
pelo colonizador e, também, ao nüe/ de desenho/- Nacionais e ''corrida'' armamentista), estendeu-se,
vlmenfo#üfóríca das populaçõessobre as quais se assim, em profundidade e em extensão. Objetivava o
exerciam as políticas do Ocidente capitalista. lucro, o poder e o prestígio,embora advertisse,em
Na ética acima, as colónias resultaram, em seus pleno apogeu do imperialismo, Leroy- Beaulieu: "É
tipos diversos, da conjugação dos interesses impe- raríssimo que uma colónia forneça um rendimento
rialistas (de grupos económicos e de políticas ''na- líquido à mãe-pátria (pois) na infância, ela não pode
cionais'' européias) e das estruturas pré-coloniais (e) na maturidade, ela não quer''. Por outro lado,
(condições materiais e formas de organização social não escapava aos observadores contemporâneos a
''nativas'' ou ''indígenas''). Para uma análise global concorrência desastrosa que o afluxo de produtos co-
do fenómeno de formação dessas novas sociedades, loniais nos mercados metropolitanos(trigo do Ca-
devem ser levados em conta os seguinteselementos nadá, vinho da Argélia, óleo e azeite do Senegal)
ou fatores: representava para os agricultores do lado capitalista.
a) as determinaçõesgerais do capitalismomo- Mas na crítica dos.liberais, como Hobson, por exem-
nopolista; plo, estava a noção de que a colónia empobrecia mais
b) as políticas nacionalistas dos Estados euro- do que enriquecia às metrópoles.
peus; No entanto, para economistascomo Frederic
c) o processo de conquista e de ocupação colo- List, as colónias serviam para desenvolver as manu-
nial, de modo a verificar como se deu o contato com faturas, as importações,as exportaçõese, ainda, a
as populações locais, como se organizavam as socie- marinha. Para um estadistacomo Bismark, eram
dades ''pré-coloniais'' e quais os recursos de que dis- uma condição da paz européia, um derivativo das
punham (nível das forças produtivas); competições no continente. Para os ideólogos do
d) o resultado, em termos sócio-económicos e imperialismo,a Europa levaria a paz aos bárbaros,
político-culturais, da colonização: as sociedades aos povos primitivos, ''protegendo-os'' e lavrando-os
emergentes. das guerras intestinas. Ela deveria exterminar a
O capitalismo eurQpeui por intermédio de com- escravidão, interditar o canibalismo, sacrifícios hu-
panhias especialmenteorganizadas para esse fim, da manos, a incineração das viúvas, levar práticas mo-
mobilizaçãodo capital financeiro(construção de es- dernas de combate às epidemias, à doença e à fome.
tudas de ferro, exploração de minérios, obras de Como dizia o Cardeal Mercier, a colonização''é um
infra-estrutura, como portos e serviços urbanos, etc.) ato coletivo de caridade que num determinado mo-
48 Metia YeddaLineares 49
.4 Ztzfa Contra a Mêfn5po/e
gamecolonial; na Índia, a revolta dos Cipaios (1857), minante local e como tais se distanciam das cama-
apesar de seu caráter heterogêneo, foi marcado pelo
hinduísmo tradicional;
c) os movimentos ''modernistas'' ou ''ocidenta-
listas'' patrocinados pelas novas camadas sociais que
emergiram com o colonialismo: a InfeZ7zkentsfamo-
derna, a burguesia mercantil, por vezes agrícola e
manufatureira, empregados das administraçõespú-
b blicas ou privadas, interessam-se pela independência
mas, também, pela modernização e pelo progresso;
esses exemplos são mais tipicamente asiáticos e nikte-
afriçanos(Egito e Argélia) do que da Ãfrica negra;
na Agia, os exemplos de Sun-yat-sen (Kuomintang)
e do Japão(vitória de 1905), serviam de inspiração;
na Indonésia holandesa, entre 1920e 1930, surge o
partido nacionalistade Sukamo; em Saigon, em
1925, um partido nacionalista de direita e, na Bh'-
mania, grupos conservadoresfazem o jogo constitu-
cionalista britânico.
Acrescentaremos à tipologia acima os movi-
mentos nacionais que levaram, após a Segunda
Guerra Mundial, à descolonização.Eles serão, no
entanto, tratados no capítulo seguinte. Quanto aos
movimentos ''modernistas'', de cunho burguês e de
inspiração ocidental, carregam consigo o gérmen
antiimperialista. Nutridos pela ideologia do ' Oci-
dente, em cujos manuais assimilaram o ideário de
seus colonizadores(liberdade, igualdade, fralemi-
dade, parlamentarismo, soberania popular, lide em-
presa), apresentam-se como elementos da classe do-
11
58 Metia YeddaLineares ,4 .Lura Cbnfra a Mef/IÓpo/e 59
nos países coloniais havia prejudicado o desenvolvi- Na Ãfrica, coube aopa/zi4Hrfcanismo, sob a lide-
mento das forças produtivas; importância dos movi- rança de um intelectual negro norte-americano, Wil-
mentos revolucionários na China, Índia, Indonésia, liam B. Du Bois, a partir de 1919, e com o suporte de
Síria e Ãfnca do Norte, favoráveis à desagregação do intelectuais ''burgueses'' africanos, como o senega-
imperialismo; a ação em favor da luta revolucionária lês, deputado, Blaise Diagne, promover a campanha
deveria adaptar-se às condições particulares de cada de unidade e autonomia da Ataca. Retórico por
país da Ãsia e da Ãfrica e ser conduzidapelos par- excelência, esse ideal pan-africano foi julgado dema-
tidos comunistas locais recrutados numa ampla fren- siadamente conservador por outros elementos, como
te social (aí compreendida a burguesia ''nacional"); Marcus Garvey, da Jamaica, que pregou o movi-
favorecer a mobilização das massas operárias e cam- mento de retorno à Âfnca. Apesar de seu insucesso,
ponesas em prol da independência completa; conde- a juventude africana, nos anos de 20 e 30, sentiu o
nar a política colonial dos social-democratas. Tal es- impacto dessas idéias que preparam o terreno para a
tratégiafoi prejudicadapelo advento de Hitler e a eclosãodo nacionalismonegro a partir do conflito
necessidadede concentrar a ação dos partidos comu- contra o nazi-fascismo.
nistasna luta contrao fascismo.Uma vez, porém,
terminada a ll Guerra, os partidos comunistas rea-
tivaram a sua combatividade na luta contra o colo- B ) As conseqüênciasimediatas
nialismo. Daí a importância fundamental que eles da lIGuerra Mundial
vieram a assumir na Indonésia e na Indochina.
No entanto, é forçosoreconhecerque, no inte-
rior da União Soviética, país constituído de múltiplas O caráter mundial que assumira a guerra euro-
nações, a política do partido comunista de incorpo- péia, principalmente com a entrada do Japão ao lado
ração dessas nacionalidades como Repúblicas fede- da Alemanhae da ltália, põs em xeque a segurança
radas, foi contraria aos princípios gerais, oficialmente das colónias. A Alemanha já havia perdido o seu
proclamados, de respeitoàs minorias étnicas. Na crí- império após 1918, mas a ltália se mantinha na Etió-
tica à URSS coloca-se,pois, como fundamental,a pia (anexadaem 1935),na Eritréia e na Líbia. A
entrada dos Estados Unidos no conflito (dezembro
questão do colonialismo interno(domínio sobre mif
normasétnicas), em flagrante contradição com a retó= de 1941) foi mais um fator da internacionalização da
rica da lll Internacional Comunista e da própria guerra.
política exterior soviética. l O esforço bélico dos aliados exigia a participa-
T
64 Murta Yedda Lineares .4 Z,tira Contra a ]Wef/úpo/e 65
ção das colónias (campanha da produção) e o alista- perigo para a estratégia do capitalismo na guerra
mento das populações colonizadas nos exércitos que fria: o suporte que poderia ser dado a esses países
lutavam na Europa, no Norte da Ãfrica e na Ãsia. No pela União Soviética. Ep}..!94Z..g.Keminform .491L-
entanto,foi o Japão, ao ocupar militarmente,e com nira a estratégiado comunismo nas mesmas linhas
grande facilidade, algumas dessas colónias (Indo- anteriores de Stalin. Por outro lado, a ONU se tor-
china, Malâsia e Indonésia), que revelouo quanto harâ'oloêà1'6iide se debatiam todas essas questões e
eram vulneráveis os senhores brancos. Após a vitória se jogava com os destinos do colonialismo.
final sobre os japoneses e antes da retomada militar O desencadeamento.da descolonização fez sur-
das colónias pelos exércitos dos antigos senhores, gir uma estratégia dos países que emergiam, na Ãsia
puderam os ''resistentes''locais, sob a liderança dos e na'Ãfrica. Em 1955, em Bandung (Indonésia),
respectivospartidos comunistas, apoderar-se dos es- reüniFani-se 29 desses países que se apresentavam
tuques bélicos abandonados e reforçar a confiança como um Terceiro Mundo. Pronunciaram-se pelo
das massas populares. No decorrer da guerra, os socialismo e pelo neutralismo, mas também contra o
chefes aliados haviam assinado documentos (cf. Pri- Ocidente e contra a União Soviética, e proclamaram
meira Parte) em que se comprometiam a respeitar o o compromisso dos povos liberados de ajudar a liber-
direito de autonomia dos povos. Assim, jâ em 1945, tação dos povos dependentes. O ''espírltg..dg.Ban.
200 delegadosda Ãfnca Negra num Congresso em duns::.pgtglaneceupor mai!.dê uma'ãêêada, acom-
Manchester afirmavam o seu propósito de libertar o panhando asequençlê.aõiinovimentoi'dilibel'taçãõ:
continente. No mesmo ano, começa a revolta na Ar- Mãs, aos poucos, foi creiêéiídõ'fconi'iéêãõ de que a
gélia. No Marrocos, o sultão Ben Yussef declarava- independência política não significava, necessaria-
se disposto a pâr fim ao Protetorado francês. mente, a independênciacompleta. Colocava-se, as-
Com a polarizaçãodo mundo pela guerra fria, sim, a questão da manutenção dos laços de depen-
/os países colonizadosviram a oportunidade de tirar dência ''neocolonial'': as Metrópoles pemtaneciam
xllk' benefícios da rivalidade americano-soviética. Mas os por novos mecanismos de subordinação. A idéia de
Estados Unidos, esquecendo a política de Roosevelt e Terceiro Mundo desaparece, portanto, na medida
os compromissos da Carta de São Francisco, nega- em que a guerra fria chega ao seu término, o Bloco
ram o apoio tão desejado em prol das aspirações Soviético se cinde (a questão da China) e o capita-
nacionais, recusando-sea aceitar, em 19SI, que a lismo se redefine numa ética policentrista.
;7'autodeterminação dos povos fosse incluída como um
dos Direitos do Homem. Essa orientação tinha um
,4 luta Co/zfra a Mefrópo/e 67
66 Mana YeddaLineares
des dos diversos países do que viria a ser a União sacramentou o nascimento da União Francesa, ''fun-
Francesa. Anteriormente (janeiro de 1943), o Gene-
damentada na igualdade dos direitos e dos deveres''
ral De Gaulle, em discurso pronunciado na Argélia,
anunciava a outorga de cidadania, no ''estatuto corâ- Entretanto, afirmava no Preâmbulo que a França
''assumia o encargo de alguns povos e os faria evoluir
nico'', a milhares de muçulmanos. A (;o/IÁerêPzcía de
no sentido da gestão de seus t)róprios assuntos''. O
.BrazzavíZ/e(janeiro/fevereiro de 1944), que reuniu
texto constitucional é pleno de contradições. De um
governadores da Ataca negra e de Madagâscar, sem lado, declara o fim do arbítrio, garante a todos o
representação de autóctones, recomendava a ''inte- acesso às funções públicas, as liberdades fundamen-
gração na comunidade francesa'', acrescentando que tais e os direitos de cidadania às populações de ultra-
''na França colonial, não hâ povos a libertar, nem mar; de outro, entrega a administração, como antes,
discriminação racial a abolir". Para as populações de
''ultramar'' só haveria uma independência a ser reco- a governadores responsáveis tão-somente perante o
nhecida: a da França! Ministro de Estado. Mais uma vez, as cartas são jo-
Paradoxalmente, decidia-seem Brazzaville que gadas sem consulta prévia e sem negociação com as
partes mais interessadas: os povos colonizados. Na
as colónias seriam representadas na futura Consti-
primeira Constituinte (eleita em outubro de 1945,
tuinte francesa e se preconizava uma Assembleia fe- com maioriade comunistase socialistas)e na se-
deral como instituição do Império, de modo a per-
gunda (eleita em junho de 1946, com uma esquerda
mitir uma descentralização,por etapas, e o acesso à
minoritária), os representantesda Âfrica negra, da
personalidade política das colónias. Os conselhos re-
Argélia e de Madagáscar e suas posiçõesrelativa-
gionais e as assembléias representativas de cada co- mente moderadas (mais moderadas na primeira do
lónia seriam constituídas de representantes''autóc-
tones'' eleitos. Com relação à Indochina, era estabe- que na segunda Assémbléia) provocaram, sem dú-
vida, um certo temor entre os conservadores, sobre-
lecidos'em março de 1945, que ela formaria com a
tudo na medida em que se acentuam as colocações
França e outras partes da Comunidadeuma União mais nacionalistas de argelinos e malgaxes, em 1946,
Francesa. Surgiam, assim, duas tendências:a evo- numa Constituinte não mais dominada pelo antico-
luçãono sentidodo particularismo,no âmbitoda lonialismo de comunistas e socialistas.
União Francesa(solidariedade voluntária?, inda- No caso da Holanda, a sua política do pós-
gava-se), e a assimilação. A Constituição de 1946,
discutida a princípio num ambiente de otimismo e guerra se construiu sobre uma série de equívocos.
Em 1940, a metrópole foi invadida e o governo se
entusiasmo, através de duas Constituintes sucessivas,
instaurou no exílio. Em 1942, as índias neerlandesas
.4 .Eüfa Cbnfra a JWef/l5po/e 71
70 Mana YeddaLineares
D) A independência
pacifica
daAfrica
cia urbana e burguesa. As riquezas da Malâsia ti-
nham peso na economia inglesa(estanho e borracha) A independênciada 4Éríca negra de expressão
e Cingapura era um ponto estratégico enfie o Indico e .Pancesa ocorreu sob a IV República (1946-1958),
o Pacífico. Por momentos,julgou a Grã-Bretanha ser pela Lei-Quadro (.Zloí-ladre) de G. Deferre (23 de
possível desvencilhar-se da autoridade arcaica dos junho de 1956), que se destinavaa introduzir uma
sultões locais e fazer a Malâsia enveredar pelo cami- ampla descentralização(generalizaçãodo sufrágio
nho de um governo unificado e modemizante. Em universal, africanização dos escalões administrativos
1946.foi criada a IJnião Malaia, com a exclusãode e ampliação das atribuições das assembleias eleitas) .
Cingapura, sob protestodos chefes locais tradicio- O desaparecimentodas antigas Federações(Ãfnca
nais, das classesdominantese das próprias massas OcidentalFrancesa e Ãfrica Equatorial Francesa)
malaias que temiam o poder dos elementos chineses favorecia, segundo L. Senghor, do Senegal, a "balca-
da população. Em 1948, o governo britânico fez vigo- nização'' da Ataca, a pulverização em Estados sem
rar uma nova constituição, a da Federação Malaia,
força e sem realpoder. Para alguns observadores, ela
confímiandoos privilégiosdos sultões,mas gru- significou, em certo aspecto,uma vitória de Hou-
pando noveEstados(e ainda Penang e Malaca) numa phouet Boigny, da Costa do Marfim, influente no
Federação sob o controle inglês. Tal solução descon- governo metropolitano e rival de Senghor no tocante
tentou os nacionalistas, o que levou a acirradas lutas à liderança nessaparte do continente.A vitória do
intemas. Finalmente, em 3 de agosto de 1957, foi federalismoterminariapor dar proeminênciaao Se-
aceito um projeto de constituição para a Federação e negal, em detrimento da Costa do Marfim, e Dacar,
a 31 de agosto proclamada a independência malaia, destinadaa ser a capital, tomaria Abidjan uma
após a revogação do protetorado da Grã-Bretanha. ''vaca leiteira'' desse eventual Estado Federal, se-
No mesmo ano, era reconhecida a autonomia de gundo alegava Boigny.
Cingapura, que se tornou um Estado em 1958. A for- O advento de De Gaulle em 1958(V República)
mação de uma Grande Malâsia, em agosto de 1963, aprofundou a tendência da Lei-Quadro: pelo ri!:He-
no entanto, englobando o conjunto dos territórios rendum de 28 de setembrode 1958todos os territó-
britânicos do Sudeste da Ãsia, encerrou o ciclo do rios da Ataca negra(com exceçãoda Guiné) e
velho Império e se constituiu num bastião que se Madagáscar optaram pela entrada na Comunidade
destinava a conter a influência chinesa nessa região, Francesa. Em 1960,resguardadoo princípio de Coo-
sobretudo dos cidadãos chineses no interior da Fede- peração, foi proclamada a independência das antigas
ração.
78 Mana YeddaLineares .4 luta Contra a Mefrljpo/e 79
era reconhecida a independência e no mesmo dia Ihe assim como os partidos, tendiam a ter um caráter
era incorporado o Toga. Gana foi o primeiro país da cada vez mais regionalizada, o que impedia põr em
Ãfrica negra a selibertar. pratica qualquer programa de união nacional. O
N'Krumah nascera em 1909e fez seus estudos resultadofoi o reforço dado à estrutura federal que
universitários nos Estados Unidos, onde entrou em sacramentou a constituição do novo Estado da Ni-
contato com o movimento negro pan-africanista. géria em 1960. Seis meses depois (abril de 1961), a
Doutorou-se em Filosofia em Londres (1945) e com- Serra Leoa tinha a sua independênciareconhecida,
pareceu à reunião pan-africana de Manchester. Na após uma evoluçãosemelhanteà da Costa do Ouro.
qualidade de Presidente de Gana, assumiu posições
radicais em nome do ''socialismo africano'', mas foi
derrubado por um golpe militar reacionário em 1966, A libertação pela violência
de inspiração imperialista. Faleceu em 1972, no exi-
lio .4) .4/ndolzésía
ja a Nigéria teveuma independênciamais tran-
quila, embora tenha sido mais conturbadaa sua Em 1942, a$.]tqdias neerlandesas foram lllibçc.
evolução posterior. É formada de nove grupos étnicos tadái::lBêíõi-japoneses4ue retiraram.da prisão.os..lí:
principais, 248 dialetos e 3 grandes grupos religiosos, deres naciona!!$!as..inclusiMukamçi.osjappnesçs,
sendo que essas fronteiras não coincidiam com as de ''lí15êjtãdQtes:!r.bg©passaram-a invasores. Com a
administrativas. Ao norte, predominavam os emira- capitulação japonesa:.SpklamQ. proclamou. .a..bdç:
dos dos Haussa, Fulani e Kanuú; a leste, os lbo; a peããêiiêia em !Z..de..êsQgç!..dç 1945. Tentaram os
oeste,os lomba. Lagos, a oeste,formava uma enti- hoianaeses recuperar a colónia, mas foram forçados
dadeà parte. A Nigéria é bem um produto do colo- a reconhecer a República Indonésia em Java e Su-
nialismocom suas divergênciasinternas, difícil de matra, emboraprocurandoformar com ela uma
ser concebida como Estado e como Nação. União: em troca do reconhecimentodos bens oci-
Seu nacionalismo encontra uma primeira ex-
dentais, comprometiam-se a retirar as tropas. Coube
pressão na burguesia rica do sul que se opunha ao aos holandesesa iniciativa de romper o acordo, por
govemo das ''autoridades locais'' reforçadas pelos duas vezes, sempre através de violentas intervenções
ingleses e participantes do flzdlrecf r'zl/e. Seus arautos armadas para recuperar o exclusivo controle colonial
foram os intelectuais que se formaram nos Estados e apesar de sucessivasintervençõesda ONU. Em
Unidos e na Inglaterra. Mas a agitação nacionalista, consequência, os indonésios empreenderam uma
.4 .Z;ula Contra a MêfriópoZe 83
82 Alada Meada ZínÀares
.B) .4 1ndocAípza
Também aí, a guerra teve um efeito arlas114g!
para a potência colonial. a"Ftãiíêã:"Ao'terminar o
conflítõ;'õs'ihélesei'oêupãvãiiíõ'iiiíê os chineséÉ õe
Cüiãng.kai-éhek õ corte. Em setembrode1945, prü;
clamava:se'i'mdêpendência do Vietnã, em Hanói,
nascendo,assim, a RepúblicaDemocráticacom Ho
Chi Minh e a liderança do Vietminh. A atitude da
França daí por diante foi desastrosa. Reconheceu,
em 1946, o Vietnã como. Estado-membro da Fede-
ração Indochinesa e da União Francesa e compro-
metia-se a evacuar suas tropas do Tonquim no prazo
de cinco anos. Arbitrariamente, foi proclamada a
República da Cochinchina pela Fiança, em.violação
dos acordos anteriores. Coube também aos franceses
violar os compromissos assumidos e iniciar operações
militarescom o bombardeia de Haiphong, causando Ho ChiMinh
Mana YeddaLineares A Luta Contra a Metrópole 85
84
Unilever(no Kivu), a Fonnhiêre (no Kasai), .a So- luídos'', tinham os belgas os ''matriculados'', em-
ciété Généralede Belgique(no Baixo Canga) e a bora em menor número e nem sempre reconhecidos
IJnion Miniêre du Haut-Katanga. O Comigoera ainda pelos brancos com o direito de penetrar nos círculos
um grande produtor de urânio, cobalto,. cobre p.zin- fechados dos colonos. Aos africanos era reservado o
co, cuja exploraçãose fazia nos clássicospadrões ensino primário, em línguas locais, mas o secundário
coloniais, quase nada restando. no país para o seu e o superior nem excepcionalmentese destinavam
desenvolvimento económico e social autónomo. Da aos negros. Objetivava-se, assim, evitar que o con-
mão-de-obra empregada, 37%o concentravam-se na golês entrasse em cantata com o mundo exterior e se
indústria e na mineração. resguardassenessa ''infância'' mental até que, um
Quanto ao campesinato, cabia-lhe tão-somente dia, não se sabia quando, ele pudesse atingir a maio-
produzir, de forma insuficiente,para o prõpno sus' ridade. Nenhum estudante devia continuar seus es-
tento. As companhias intemacionais detinham as tudos fora do Conho, não estando previsto pelo sis-
riquezas do país e os seus benefícios. A industria- tema imposto qualquer debate político e, menos ain-
lização provocara o desmantelamento de instituições da, qualquer forma de representação.
tribais, 'o êxodo forçado e uma acentuada concen- Ecoavam, porém, no Congo os movimentosna-
tração urbana. Entre 1938 e 1960, 40%o dos congo- cionalistas que agitavam a intelectualidade africana
leses se transferiram para as periferias urbanas que por toda parte. Os ''exemplos'' francês e inglês, de
se transformariam em verdadeiras cidades indígenas, descolonização progressiva, repercutiam na própria
distintas das cidades europeias, ''brancas''. Ki-Zerbo intelectualidadebelga e nos grupos católicos do
as chama de ''cidades destribalizadas'', que tiveram Congo, que passaram a reivindicar a abolição da dis-
o papel de reunir os primeiros descontentese orga- criminação racial. Em 1956, surgia a .4bako (Asso-
nizar o pioneiro trabalho de associação entre congo- ciação do Baixo Congo) presidida por J. Kasavubu,
}esese pregando a constituição de partidos e a emancipação
O sistema colonial belga caracterizava-se pelo política do país. No ano seguinte, era ele eleito bur-
''assimilacionismo'' e, ao mesmo tempo, contradito- gomestre (magistrado) em Léopoldvílle. Daí por di-
riamente, pelo preconceito da separação racial. So- ante, atiça-se o nacionalismo, a exemplo do que se
bre ambas as tendências, pairava o caráter paterna- passava nos Estados vizinhos, já se constituindo o
lista e autoritário que permeava a legislação segre- Movimento Nacional Congolês, tendo à frente Pa-
gacionista, o sistema escolar, o trabalho e as ''obras trice Lumumba, que se tornaria o grande mártir da
sociais". Assim como os franceses possuíam os ''evo- independênciado Canga. A seguir, os acontecimen-
90 Mana Yedda Lineares .4 Ztzfa Cbnfra a Mêrrl5po/e 91
tos se precipitam. Tal foi a sua velocidadeque se de Katanga.;({l'shombe),' sendo' :assassinado. logo a
fixou para30 de junho de 1960::a data da indepen- seguir. A guerra civil se prolonga até a eliminação
dência, após escaramuças e tumultos em várias par- das resistências regionalistas. Dessa longa luta, nas-
tes do território. ceu o cafre, com o reconhecimento do governo cen-
Quanto à constituição do novo Estado, . d?fron- tral de Mobutu. De 1966em diante, o Zaire passou
tavam-se duas teses: a dos federalistas, com Kasa- por extensas reformas, inclusive a nacionalização da
vubu(Estados regionais fortes sob um poder federal Union Miniêre. Mas para os seusopositores,apesar
fraco)l.e a dos unitaristas, com Lumumba (Estado da posição do Zaire de apoio à independência de
centralizado).Para os belgas, o Congo seria uma Angola' e de outras medidas liberais no tocante à
república parlamentar com seis governos provtnciats. política externa, nada mudou em profundidade, con-
As eleiçõesde maio de 1960derama vitóriaao tinuando o velho Congo, agora africanizado, ainda
M.N.C. de Lumumba, que foi nomeadoChefe do dependente dos grandes interesses do capitalismo
Governo, cabendo a Kasavubu a Presidência da. Re- internacional.
pública. Em oposição, como forças centrífugas, en- Em 1962(19 de julho), por decisãoda ONU, a
contravam-se Moisés Tshombe (de Katanga) e Ka- Bélgica perdia a tutela sobre Ruanda-Burundi. Esses
londji(do Kasai), aos quais caberá torpedear, em territórios adquiriam a independência, tomando-se
associação com os interesses imperialistas das gran- os Estados de Ruanda (capital Kigali) e Burundi
des companhias, a conquista da independênciapor (capital Bujumbura).
Lumumba. Movimentos separatistas logo explodi- Pretendemos nesseresumo da descolonizaçãodo
ram dando a impressãoao mundo de que, como que- Canga, apresentar as grandes linhas de um processo
riam os belgas, o Canga não estava ''maduro'' para o que, no geral, foi comuma boa parte das colónias,
exercício
da soberania.Em poucosmeses,a ativi- na Ãsia e na Ãfrica. Após a longa dominaçãoestran-
dade económica foi paralisada, o caos se instala, geira que tudo revolveue a nada deixoupor tocar,
tropas belgas ocupam cidades e tropas da ONU in- destn4jndosistemas de valores tradicionais, hierar-
tervêm. Violências e atrocidades são cometidas con- quias sociais, solos e recursos naturais, o naciona-
tra brancose congoleses,igualmente.Golpes e con- lismo se colocava como uma aspiração legítima de
tragolpes destituem Lumumba e Kasavubu. É a auto-afirmação, embora muitas vezes manipulada
guerra civil brutal, com intervençãoexterna. O Co- pelas ''burguesias locais'', pelos senhores de fora e de
ronel Mobutu apodera-sedo poder. Em 1961(ja- dentro. A constituição dos novos países, artificiais
neiro) Lumumba foi preso e entregue às autoridades como entidades políticas, só poderia ser um processo
92 h4aria Yedda Lineares 93
,4 .[tifa (lbnfra a .Aíernipo/e
doloroso. A garantia da independência seria a se- etc.). Logo a seguir, iniciaram-se as reformas polí-
gunda etapa, aquela que hoje se atravessa. ticas que deveriam dar a representação aos três gru-
pos raciais do território (europeus, africanos e hin-
E) Outras independências dus). Logo se destaca a personalidade de Julius D.
Nyerere, africano ''ilustrado'', fundador da União
Embora sem abranger a totalidade dos proces- Nacional Africana de Tanganica. Como Ghandi e
sos de descolonização, focalizaremos alguns aspectos Nehru, era partidário da não violência. Sob sua lide-
dos movimentosemancipatórios na Ãfrica Oriental rança, a africanização se fez gradativamente, até que
britânica. No bojo desses movimentos emergiram três Tanganica se tomou independente, em 1961, e mem-
países: Tanzânia (ex-Tanganica), Quênia e Uganda. bro da Commonwealth.Em 1964, foi firmada com
Tanganica, antigo território alemão sob tutela in- Zanzibar uma união que tomou o nome de TaBzâmla,
glesa, teve a primazia cronológica no processo. sob a presidência de Nyerere e a vice-presidência de
Inicialmente, pensaram os britânicos em reali- Karume, dirigente de Zanzibar.
zar uma Federação que englobasseaqueles três terri- A Tanzânia adotou, como regime, um tipo de
tórios. No entanto, interesses políticos e económicos ''socialismo africano'', burocratizado, desenvolvi-
opuseram-sea tal prometo:o povoamento branco no mentista e muito discutível entre os africanos radi-
planalto de Quênia, onde predominavam ricos fazen- cais. No entanto, ela goza de grande prestígio no
deiros, levou a rejeitar qualquer união com Tanga- conjunto dos países africanos por sua sempre deci-
nica (etimologicamente, ''terra ou cidade árida''), dida política nacionalista, apesar do apoio a Tshom-
conhecida por sua pobreza. Por outro lado, as velhas be, agente dos imperialistas e dos mercenários de
estruturas tribais e monárquicas de Uganda recu- Katanga.
savam qualquer tipo de federação. AÍ, como em ou- A independência do Quênia foi bem mais com-
tras partes da Africa, as forças centrífugas serão pre- plexa. Por ter sido uma colónia de povoamento,a
ponderantes. Com relação a Tanganica, procuraram presença de população branca (60 mU europeus em
os britânicos implantar uma agricultura comercial 1950) irá dificultar o ascenso do movimento nacio-
(o amendoim) no sudeste e investiram substanciais nal. Essa população branca (1%) da população total)
recursosem obras de infra-estrutura, com resultados monopolizava25%odas terras cultiváveise mais fér-
medíocres. Em 1956, novo impulso é dado à sua teis do país (o planalto). Para os negros restava uma
economia (modernização do porto de Dar-es-Saiam, situação de penúria, segregados nas cidades e expro-
construção de barragens, culturas de sisal, café, priados de suas terras. Jomo Kenyatta, outro afri-
Murta Yedda Lineares ,4 lula (]onfra a Mêfll5poZe 95
94
cano ilustrado, formado em Londres, tornara:se pre- uma política de índirecf m/e através das autoridades
sidenteda União Africana do Quênia. Foi el!,. sem ''nativas'' tribais e .''feudais". Coube a uma ''pe-
dúvida, uma das grandes figuras da nova Ãfrica. quena burguesia'' formada à margem dos grandes
O problema agrário se revelou, em 1950, com a negócios e do sistema tribal, promover a partir de
ande agitação na mais poderosa e avançada das 1950, aproximadamente, as primeiras organizações
tribos do Quênia, os kíkuyu(à qual pertencia o pró- de conteúdo nacionalista e sindical, surgindo daí o
Partido Democrata. A formação do Congressodo
prio Jomo KenyaHa). O movimento logo se alastrou:
lançando o pânico entre os fazendeiros do planalto e Povo de Uganda com Apollo Milton Obote deu novo
caracterizando-se por uma xenofobia exacerbada. No impulso ao movimento autonomista que se concreti-
exterior, ele foi conhecido pelo nome de .Zbíizzi-Mau
, zará em 1962. Obote se proclamava socialista, assim
que celebrizou o caráter extremamente violento da como Kenyatta e Nyerere, socialismoeste difícil de
revolta. Esta foi, finalmente, vencida pela adminis- ser justificado num país que tinha uma renda nacio-
tração colonial, que acedeu a reivindicações. .consti- nalper capita de 64 dólares, uma produção centrada
tucionais(a participação de africanos e asiáticos no em matérias-primas e alimentos para a exportação
Conselho de Ministros de Nairobi), de modo a per- (algodão e café), totalizando 90%o da produção agrí-
mitir a africanizaç.ãolenta e progressiva do território. cola de mercado, e uma população assalariada que
Em 1963, Quênia ascende à independência, condu- correspondia a 20%oda população total. Mais de 500
zida por Jomo Kenyatta, sem que, no. entanto, seus companhiasestrangeirascontinuaram a operar no
social país, fazendo com que 50%o do produto nacional
principais problemas de ordem económica e
tenham encontrado o caminho da solução, a saber: líquido fossem exportados. Outros dados poderiam
o acesso à terra pelos africanos, o controle efetivo de ser acrescidose que só serviriam para comprovar a
seus destinos como Estado soberano e a democracia mistificação desse tipo de socialismo.
Em 1971, Obote foi derrubado pelo General Idi
ractaLo caso de Uganda, sua ocupação pela Grã-Bre- Amin, que por cerca de sete anos govemarâ Uganda
tanha se fizera no século XIX como parte da .estra- com mão-de-ferro através da utilização de primitivos
tégiade se apossardas fontesdo Nulo.Foram aí e brutais métodos ditatoriais. Enfim, Uganda, como
instaladas companhias(como a [Jganda Company e a maioria dos países africanos, ainda tem pela frente
a Sociedade Missionária) que controlavam as plan- um longo caminho a percorrer na busca de fórmulas
tações de algodão desenvolvidascom mão-de-obra africanas de convivência democrática e de bem-estar
nativa. Foi adotada a pratica de trabalho forçado e soctal.
B
,4 .Lura (lbzzfra a ,B#em5po/e 97
''indígenas'' e ''não indígenas", respectivamente, trabalhadores e camponeses em greve. Daí por dian-
97%oe 3%o. Na segunda categoria se encontravam os te, centenas de pessoas suspeitas de participação
''assimilados"(correspondentesaos ''evoluídos'' política ilegal foram presas em Angola e Moçambi-
franceses) e os colonos brancos. Em 1953, os assimí- que, inclusive sacerdotes católicos e Agostinho Neto,
/aços adquiriram a cidadania portuguesa, embora médico e poeta, que lançava na clandestinidadeo
continuassea discriminaçãopela cor, que se acen- Movimento Popular para a Libertação de Angola
tuava na medida em que se ampliava a população (MPLA). A década de 50 também se notabilizou
branca (esta, em 1970, atingiu 5%o). pela entrada maciça de capitais estrangeiros nas duas
Do ponto de vista económico, Portugal ocupava colónias. Em Moçambique, os investimentos se con-
uma posição secundaria no comércio com suas coló- centraram em obras de infra-estrutura(barragem no
nias. Sua pax'ticipação nas exportações de Angola e Limpopo, via férrea até a fronteira rodesiana, mo-
Moçambique para o exterior era, respectivamente, demização do porto de Lourenço Marquês e constru-
de 20%o e 50%o ; nas importações de Angola eMoçam- ção de uma central hidrelétrica); em Argola, além
bique, provenientesdo exterior, Portugal contribuía dos investimentos de base(transportes, eletricidade e
com 45%o para a primeira e 30%o para a .segunda. irrigação), penetraram os alemães na mineração de
Mas Portugal, como princípio doutrinário: obsti- ferro (Krupp) e os belgas no petróleo (Petrofina),
nava-se em proclamar que não possuía nem império sendoreativada a exploração do manganês, alumínio
nem colónias e, sim, ''províncias ultramarinas". , . . e diamantes.
Nessas condições, o fim de sua presença.na Ãfn- Foi, no entanto, na agricultura de exportação
ca se fez através de uma longa guerra de libertação que se encontraram os grandes incentivos. As cul-
dos povos africanos, cujos impasses atuais refletem turas de café no norte de Angola correspondiam,
séculos de expropriação e violência. naquela década, a 40%odo valor das exportaçõesda
colónia(80%o das plantações pertenciam aeuropeus) .
Um certo zoom económico, estimulado pela codun-
B) Os movimentos de !ibertação nacional tura internacional, favoreceu a imigração branca e a
urbanização onde se acentuava a demarcação .pela
O sinal de partida para a rebelião dos africanos, cor, entre os habitantes das cidades e os da periferia,
na sua forma mais moderada, contra a dominação entre europeus e afncanos. As cidades cresciam e
portuguesa, foi dado em São Tomo, em 1953. .Nesse eram embelezadas. Portugal se orgulhava do dina-
momento,a polícia salazarista matou mais de 100 mismo de suas ''províncias ultramarinas''!
.4 .Z,ufa Contra a MêfrópoZe 103
Mana Yeddal.inhames
lm
depor de 190$
l ..........--
106 Mana Yeddal.inhames .4 Ztifa (;onera a .A4efrópoZe 107
Parecia evidente,em 1974, que a combinação nómica dessa colónia para Portugal, assim como evi-
das lutas do PAIGC, do MPLA e da FRELIMO: dessescom denciam as dissensões internas entre Agostinho Neto
o aÜoío do coitjunto'das populações africanas e o movimento conservador, de vinculações interna-
territórios, fora fundamental para a derrota do.colo- cionais, de Holden Roberto. As riquezas de Angola
(petróleo de Cabinda, minérios e plantações agríco-
las) e o povoamentobranco(cerca de meio milhão)
tomavam fundamental, mesmo para um Portugal
rçjuvenescido, encontrar uma fórmula conciliatória.
O período que se situa entre o movimento de 25 de
abril e o abandono final pelas tropas da ex-metrópole
Bissau em setembm de 1974(acordo de Argel), em- foi marcado por divisões internas, lutas sangrentas
(batalha de Luanda pelo controle do porto, entre
outras) e intensas negociações internacionais. O for-
talecimentodo MPLA de Agostinho Neto, reconhe-
que teve a sua indepen enchareconhecida pelo acor- cido interna e extemamente como o partido capaz de
do de Lusaka(setembro de 1974), que só seria pro- manter a unidade nacional, significou, por fim, a
clamada em 25 de junho de 1975, provocando, em vitória de Angola. A ela deveria caber um novo pa-
represália,am levante dos residentesbrancos(de!:li- pel, juntamente com Moçambique: o de fornecer a
bero que se asgemelhouao dos franceses da Argeua base contra o racismo na Ãfnca do Sul.
colonizador. O caminho que o Ocidente lhes poderia dades sociais internas, contra a ameaça constante de
mostrar seria necessariamenteaquele por ele mesmo governos opressores e de ditaduras pseudo-modemi-
trilhado: o parlamentarismo, a pluralidade dos par- zantes, e, sobretudo, como dominar os males do
subdesenvolvimentolegados pelo colonialismo e
aprofundados pelos novos mecanismos de dependên-
cia?
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da sociedade
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d::itê'ãéiitr(;L.delas--esü:En
wn--sempre-enterrado, e
.issÕllgã-n..futuria.-poderáresolver. Daí, a importância
ffundamental para o pesquisador de penetrar nas so-
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HISTÓRIA DO BRASIL
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As Lutas da Independênciano Brasil -- Epzide ib/esqí/fa
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