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Os Últimos anos de Stalin e a Ascensão de Khrushchev – Os Rumos da

Construção Socialista e o combate à Burocracia

Em 1917 o proletariado e o campesinato dirigidos pelo Partido Bolchevique


fizeram triunfar a Revolução de Outubro que após um árduo processo
revolucionário derrubaram o Czar e o governo provisório democrático
burguês, instaurando em seu lugar o primeiro estado socialista do mundo
inspirados pelas teorias de Marx, Engels e seu dirigente Lenin.

O fruto dessa revolução foi a consolidação do socialismo na União das


Repúblicas Socialistas Soviéticas após pesados anos de guerra civil,
disputas políticas entre leninistas e anti-leninistas, um processo de
coletivização, industrialização e modernização da economia, dificultosos
processos de expurgos a contrarrevolucionários, conturbadas reformas
democráticas e o enfrentamento das potências fascistas na Grande Guerra
Patriótica, todo esse processo foi dirigido por Stalin enquanto
Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética e Presidente do
Conselho de Ministros, que dirigiu um brilhante trabalho como teórico
organizador do leninismo e gestor da construção socialista. Porém aqui não
vamos lidar com esses ocorridos, nessa obra apenas nos atentaremos aos
eventos que se deram nos últimos anos do governo Stalin (1946-1953), à
ascensão de Khrushchev (1953-1957) e os anos finais até a queda de seu
governo (1958-1964), o objetivo de trabalhar esse período é desvendar
quais eram, de fato, os objetivos de Stalin nos seus últimos anos de
governo e o que levou ao processo de desestalinização após sua morte,
tendo em vista que esse período é muito pouco trabalhado, recheado de
historiografia conspiracionista e anti-stalinista pouco fundamentada.
Pontuo aqui que para compreender essa obra completamente é necessário
ter conhecimentos prévios da História da União Soviética e por isso
apresento esse texto como uma extensão da excelente obra “Pão, Paz e
Terra” que trabalhei como coautor.

Antes de falarmos dos últimos anos do governo Stalin, é necessário


explicar como se dava a organização do Estado soviético a partir da
Constituição Stalinista de 1936: O Estado funcionava de acordo com os
princípios do centralismo-democrático, onde os soviets distritais elegiam os
candidatos a deputados para o Soviet Supremo (órgão legislativo, Conselho
dos Soviets 1922-1936), os deputados eleitos elegiam os membros do
Presidium do Soviet Supremo (órgão legislativo-executivo), do Conselho
de Ministros (órgão executivo, Conselho dos Comissários do Povo
1922-1946) e da Suprema Corte (Órgão judiciário) a partir de candidaturas
dos próprios deputados, também elegendo os membros dos órgãos locais.
O Estado funcionava de acordo com o centralismo-democrático, ou seja,
após a promulgação das diretrizes de governo pelo Presidium esta deveria
ser respeitada por todo o governo e qualquer ação fracionista seria
retratada.

Quando Lenin assumiu o cargo de Presidente do Conselho de Ministros


(Chefe de Governo, na época “Presidente do Conselho de Comissários do
Povo”) em 1923 este passou a ser oficialmente o cargo de liderança do
Estado, após a morte de Lenin em 1924 Stalin não o substitui como chefe
de governo, mas a sociedade num todo passou a enxergar a liderança da
URSS na figura de Josef Stalin enquanto Secretário Geral do Partido
Comunista da União Soviética (PCUS) que já exercia a liderança efetiva do
país desde 1922 nesse cargo, esse foi um erro que acabou colaborando para
confundir o papel do partido como organização acima ou integral ao
Estado. Esse Estado não agia sozinho, mas com amplo apoio e participação
das massas através dos soviets.

Apesar da Constituição Stalinista de 1936 ter institucionalizado um Estado


socialista plenamente democrático (dentro daqueles padrões históricas de
ditadura do proletariado e do centralismo-democrático) ainda existia um
contraste entre a teoria e a prática, factualmente a maioria dos cidadãos não
viam o Estado soviético e sua direção como o órgão de liderança da URSS,
eles vinham essa liderança no PCUS e consequentemente na direção do seu
Presidium (na época “Politburo”) e Secretario-Geral, esse fenômeno não
ocorreu porque o Partido Bolchevique tinha a pretensão de ser o Estado
Soviético, mas sim porque este organicamente desenvolveu essa posição
graças ao seu legítimo status popular de Vanguarda da Revolução e
,portanto, Vanguarda do Estado Soviético que não foi problematizado até as
reformas constitucionais de 1936.

Essa condição consolidou uma burocracia de partido sobre o Estado, onde o


Presidium do PCUS ditava as diretrizes que o Estado deveria seguir,
indicava que candidatos deveriam ser eleitos para os órgãos executivos e
interferiam em diversos processos políticos do Estado, portanto, o partido
era o Estado. As reformas de Stalin direcionaram ataques diretos contra a
burocracia, isso foi destacado em seu informe ao XVII Congresso do PCUS
(STALIN, 1934), porém naquele momento os burocratas de partido
continuaram a ter grande influência sobre o Estado, apenas sendo afetados
no que tangia às eleições legislativas e seu trabalho administrativo, o debate
sobre a separação do Partido e Estado ainda precisava amadurecer, mas isso
foi atrasado pelos problemas que a URSS teve que enfrentar nesse mesmo
período.
Resumindo, desde 1936 Stalin vinha lutando pela consolidação de uma
série de reformas antiburocráticas para melhorar o funcionamento do
Estado socialista de ditadura do proletariado, ou seja, fortalecer a
democracia socialista contra o burocratismo de partido que se entranhou no
estado soviético, sendo esta separação definitiva do Partido e do Estado um
dos principais objetivos do governo Stalin. (FURR, 2005; PRUDNIKOVA,
2003)

Um destaque dessas reformas foi o XVIII Congresso do PCUS, em 1939,


onde Stalin junto principalmente ao camarada Andrei Zhdanov promoveu
diversas reformas na estrutura do partido, que aperfeiçoou seus processos
eleitorais e de gestão interna, uma significante medida para diminuir o
maquinário estrutural do partido em relação ao estado. (PRUDNIKOVA,
2007)

O Caso de Leningrado – A Luta de Classes Continua

Após o término do Grande Expurgo em 1938 e da Grande Guerra Patriótica


em 1945 foi possível que Stalin retomasse o rumo das reformas
antiburocráticas, as primeiras delas foram tomadas a partir de 1946 com o
restabelecimento oficial do cargo de Presidente do Conselho de Ministros
como liderança do país (com a eleição de Stalin para o cargo), a diminuição
da frequência de sessões do Presidium do Comitê Central do PCUS, de sua
intervenção no estado, a ascensão de novos dirigentes e o combate à
burocracia administrativa. Ainda em 1946 diversos departamentos de
gestão direta do partido nas estruturas do estado foram abolidos, mantendo
oficialmente apenas as funções de propaganda e agitação, em 1947 outros
cargos de gestão pessoal no partido também foram abolidos e em 1951 a
direção do partido teve seu salário cortado na proporção de três vezes,
reduzindo cada vez mais o papel burocrático do partido, no entanto em
termos práticos, apesar da perda de força das intervenções do Presidium do
PCUS no Soviet Supremo e Conselho de Ministros, o aparato burocrático
do partido interferindo constantemente nos assuntos de estado continuou a
sobreviver, mostrando que poucos dirigentes estavam comprometidos com
essas reformas stalinistas, afinal seria um duro golpe para os burocratas que
fizeram carreira no partido perder suas posições de poder.
(PRUDNIKOVA, 2007; Balayan, 2006)

Esta burocracia havia se fortalecido no pós guerra, onde alguns


administradores, dirigentes do partido e militares passaram a gozar de
enorme prestígio, popularidade e privilégios, caindo em um comodismo
burocrático, então mais do que nunca Stalin precisava acirrar as reformas
antiburocráticas, uma das primeiras lideranças a sofrer com o combate à
burocracia foi o Marechal Júkov, o maior dirigente militar da Segunda
Guerra, que foi repreendido por corrupção e perdeu sua posição, os
burocratas de fato haviam sentido o peso dos golpes de Stalin contra a
burocracia e isso ocasionou em um crescente medo e contradições entre
Stalin e alguns dirigentes do partido. (FURR, 2005; HOXHA, 1980).

No pós-guerra o principal objetivo da URSS foi reconstruir e avançar sua


economia, e junto a essas condições ressurgiram teses econômicas
direitistas. Entre os anos de 1948 e 1949 essas teses econômicas
apareceram entre os círculos do partido em Leningrado dirigidas por
Nikolai Voznosensky, essas teses em resumo defendiam a aplicação de
reformas de mercado capitalista quanto à lucratividade das empresas e
preços das mercadorias. Essas teses ganharam grande popularidade no
partido, Estado e academia, com isso Voznosensky utilizou de seu cargo de
Presidente da Comissão de Planejamento de Assuntos do Estado para as
aplicar sem devida aprovação, além de também ter fraudado eleições do
partido para promover seus apoiadores e suas políticas.

As suas teses também tiveram popularidade entre os círculos iugoslavos


durante uma visita à União Soviética em janeiro de 1948 por
uma delegação iugoslava liderada por Milovan Djilas dois meses antes de
serem expulsos da Cominform. Em janeiro de 1949 Voznosensky aplicou
suas reformas de preços e organizou uma feira atacadista sem a aprovação
dos órgãos superiores, ocasionando no aumento dos preços visando maior
lucratividade e um grande prejuízo econômico com o fracasso da feira, mas
em poucas semanas o governo começou a demitir todos os direitistas de
seus cargos e reverteu as reformas em julho, foi descoberto que esses não
só cometeram arbitrariedades como também foram responsáveis por uma
negligente gestão econômica.

Outra ideia defendida por esses fracionistas, foi a criação de uma sessão do
partido para a RSFSR, algo que não existia pois a Rússia Soviética, como
berço da revolução, se formou como um símbolo de “republica mãe” que
unia as outras repúblicas irmãs, por tanto era a única república que não
possui uma seção própria do PCUS, essa defesa tem um caráter muito
perigoso, pois poderia fortalecer o nacionalismo russo e enfraquecer a
união com as demais repúblicas. (PRUDNIKOVA, 2007)

Entre fevereiro e julho os direitistas também começaram a ser expulsos do


partido e entre novembro e dezembro foram investigados e presos por suas
políticas arbitrárias, em 1950 graças a esse caso a pena de morte foi
restaurada e os acusados foram julgados por seus crimes, Voznosensky e
outras figuras foram executados, mas a maioria apenas continuou preso, as
execuções foram justificadas pela entrega de informação sigilosa a
diplomatas da Iugoslávia e Inglaterra. (MIRONIN, 2007)

Ainda assim, por motivos que desconhecemos, esse caso só veio a público
no ano de 1952, quando Stalin publicou a obra “Problemas Econômicos do
Socialismo na URSS” e todo o partido e Estado passou a discutir
publicamente e ativamente essas questões econômicas, criticando e
condenando o anterior direitismo do grupo de Voznosensky e os novos
direitistas. Existem três especulações sobre a razão desse atraso na
exposição do processo, o mais popular é que o processo foi forjado e por
isso demorado para ser colocado a público, o que não faz muito sentido já
que Stalin não teria enfrentando oposição se tivesse exposto o caso de
primeira tendo em vista que já haviam ocorrido casos muito piores no
período do Grande Expurgo, a segunda hipótese é que havia uma
conspiração de revisionistas ocultos que atrasaram a exposição do caso,
uma leitura que é um tanto conspiracionista porque não existem
documentos ou relatos mostrando que o caso foi atrasado por decisão de
dirigentes revisionistas ocultos, e a última hipótese de que simplesmente
Stalin preferiu amadurecer o debate econômico para expor o caso de forma
assertiva.

Esse acontecimento ficou conhecido como o Caso de Leningrado, em 1956


Khrushchev viria a acusar Stalin de ter iniciado e dirigido esse expurgo sem
grande participação dos demais membros do Presidium do PCUS e,
portanto, seria um processo pessoal e arbitrário que apenas não sofreu
oposição porque o Presidium temia Stalin, mas como sabemos Stalin a
tempos vinha diminuindo a intervenção do Presidium nos assuntos de
estado, tendo sido o Caso de Leningrado dirigido pelos órgãos de segurança
do Estado dentro de todas suas instâncias executivas e judiciárias, os
membros do Presidium que tinham cargos nesses órgãos participaram
ativamente do processo e todo o Presidium aprovou a maior parte das
expulsões sem qualquer problematização.

Por tanto a acusação de Khrushchev nada mais fez do que reforçar a sua
própria burocracia partidária e falsificação dos acontecimentos históricos,
sendo o Caso de Leningrado um claro exemplo de luta de classes sobre o
socialismo na URSS, onde os economistas direitistas expressaram seus
interesses de classe burguesa a partir de suas teorias e reformas econômicas
e foram devidamente reprimidos por isso.

No entanto não podemos afirmar com toda certeza que foi isso que de fato
aconteceu, outros autores, apontam que Stalin não esteve envolvido tão
ativamente no caso, pois o período que as penas foram datas é o mesmo em
que Stalin estava em repouso médico, assim é afirmado que processo contra
Voznosensky foi uma farsa promovida por Malenkov, com a participação
de Khruschev, para assegurar que Malenkov se mantivesse na linha de
sucessão como Presidente do Conselho de Ministros.

É bem comum achar textos afirmando que essa disputa também se deu
porque Malenkov tinha uma rixa com Zhdanov, se opondo a centralidade
do trabalho ideológico defendida por Zhdanov, em favor da centralidade da
tecnocracia, no entanto não existe nenhuma documentação que sustente
essa especulação, e as próprias posições endossadas por Malenkov no XIX
Congresso contrariam completamente essa suposta disputa.

O único ponto que sustenta essa versão do Caso de Leningrado, é que


segundo Khrushchev em seu discurso de 1957 sobre o Caso de Leningrado
e segundo o segurança Georgy Alexandrovich Egnatashvili que diz ter
presenciado essa conversa, Stalin havia indicado Voznosensky para ocupar
este cargo no futuro, e assim, Malenkov, desejando o cargo, o incriminou.
No entanto, não encontrei suficientes dados para analisar a credibilidade
dessa versão e devido a todos os fatores apresentados aqui creio que ela
seja pouco plausível. (Balayan, 2006)

O XIX Congresso do PCUS: Mudanças na Direção do Partido e Estado

Em 1952 ocorreu o XIX Congresso do PCUS, o principal foco de suas


diretrizes foram o combate à burocracia e a continuidade da direção
econômica a partir da obra de Stalin, nesse congresso o Partido Comunista
de Toda União (Bolchevique) foi renomeado Partido Comunista da União
Soviética, o Politburo que compunha dois secretariados que auxiliavam a
direção do Estado foram abolidos e substituídos pelo Presidium, órgão que
agora era mais amplo, impedindo a centralização do poder em um pequeno
grupo, e não possuía mais mecanismos diretos de intervenção no Estado, o
cargo de Secretário-Geral foi abolido, a liderança coletiva do Secretariado
do Comité Central instaurada e novos quadros foram elevados ao Comitê
Central.

A necessidade de aprofundar o trabalho ideológico no partido e a restrição


da admissão de membros para melhor formação foi reforçado, assim como
a necessidade do aprofundamento dos processos de critica e autocritica
vindo das massas soviéticas contra as tendências burocráticas de seus
dirigentes e delas mesmas, que só pode ocorrer com o aumento do nível da
consciência comunista das próprias massas para o exercício da dedicação e
vigilância revolucionária, esse trabalho ideológico também não pode ser
feito através de fórmulas decoradas, mas sim de forma sensível, inovadora
e criativa.

É destacado que uma das principais deficientes se deve porque os


dirigentes, utilizando de sua autoridade para fazer indicações, deixaram de
indicar indivíduos qualificados ideologicamente e profissionalmente, para
fazerem indicações de caráter pessoal e oportunista, e isso só pode ser
revertido com o aprofundamento do trabalho ideológico e a vigilância das
massas na denúncia desses burocratas carreiristas, assim como a rescisão e
alteração de decisões errôneas tomadas pela direção, o que geralmente
deixa de ser feito por conta da blindagem de autoridade que esses dirigentes
criam sobre si deturpando a aplicação do centralismo-democratico em um
centralismo-burocrático inquestionável em nome da “unidade e disciplina”,
o que veremos ocorrer no próprio Presidium do PCUS durante os eventos
da ascensão de Khrushchev.

A forma como a admissão de funcionários dirigentes era feita também foi


criticada, afirmando que não se pode admitir dirigentes de forma puramente
formal, com questionários e certificados, mas que os candidatos aos cargos
deveriam ser supervisionados pessoalmente para a sua admissão, é claro
que tudo isso requer muitos esforços de vigilância, para que os
trabalhadores tenham ímpeto para exercer esses esforços, é necessário uma
transformação de sua mentalidade, extirpando o pensamento individualista
burguês da cultura proletária, a direção de Stalin fez diversos esforços para
atingir esse nível de cultura, mas infelizmente Stalin também não teve
tempo de chegar a uma grande ideia para elevar essa tarefa, o que foi feito
com a tese da “Grande Revolução Cultural Proletária” de Mao Tse Tung,
onde seria necessário o impulsionamento de grandes e permanentes
mobilizações de massas em movimentos de transformação da sociedade,
tendo as próprias massas como protagonistas ativos e a frente desse
processo, ao invés da direção de vanguarda do partido carregando as
massas em sua retaguarda.

O documento em diversos pontos retoma a questão do trabalho ideológico e


afirma claramente que a ameaça da ideologia da classe burguesia continua
no socialismo e é um grande perigo, Stalin de fato compreendia que a luta
de classes continuou a existir no socialismo, mas infelizmente também não
teve tempo de desenvolver profundamente essa questão, como fez Mao Tse
Tung com a tese da “Luta de Duas Linhas” e da “Teoria da Contradição”,
onde a luta entre a ciência comunista e a ideologia burguesa remanescente,
seja em nível antagônico (vindo de contra-revolucionários) ou
não-antagônicas (vindo das próprias massas), e por isso se faz necessário a
ênfase absoluta no trabalho ideológico, na crítica, autocrítica e depuração
de forma esclarecida, o que não foi feito plenamente na URSS, pois se
tendia a crer que todas essas contradições eram antagônicas, relacionadas
externamente a influência estrangeira ou internamente a
contra-revolucionários sobreviventes, sendo esse reconhecimento da luta
entre a ciência comunista e a ideologia burguesa no seio das massas um
marco sovietico que foi rapidamente apagado por Khrushchev nos anos
seguintes.

Essas diretrizes apontadas no XIX Congresso, mostram que a direção de


Stalin de forma alguma havia se afastado das massas e perdido o ímpeto
revolucionário se degenerando no foco a direção formal, mas sim, que
Stalin tinha pretensões de colocar as massas no centro do processo
revolucionário contra a burocracia que havia infectado o partido e estado
soviético, expressando assim uma prévia do que viria a ser a tese da “Linha
de Massas” concluída por Mao Tse Tung.

Além das questões da reorganização do partido, também houve a reiteração


das teses econômicas expostas por Stalin em sua obra “Problemas
Econômicos do Socialismo na URSS”, afirmando que a tarefa do estado e
partido seria cumprir as medidas propostas por Josef Stalin, que incluíam o
avanço da coletivização das cooperativas kolkhoses, a substituição do
comércio de mercadoria entre as cooperativas agrárias e indústrias estatais
pela troca direta de produtos segundo a planificação, a superação das
contradições entre o campo e a cidade, a superação das contradições entre o
trabalho físico e intelectual, a introdução do ensino politécnico obrigatório
universal, a redução da carga horária de trabalho para 6 horas e depois 5
horas, a duplicação dos salários dos trabalhadores e redução sistemática nos
preços dos bens de consumo. Stalin defendeu que apenas cumprindo essas
tarefas nos próximos anos as massas poderiam adquirir a plena consciência
que devem se empenhar na construção e defesa inabalável do comunismo,
cuja Stalin, acreditava, que seria possível de se construir na própria URSS
sem a necessidade da revolução mundial, com a gradual dissolução dos
mecanismos de capital e estado, é claro, que as medidas apresentadas por
Stalin eram um pequeno passo para isso e de forma alguma ele idealizou
que a URSS chegaria ao comunismo em poucas décadas, como futuramente
afirmou Khrushchev em seus discursos vazios.

Tragicamente, o que veremos nos anos seguintes com a ascensão de


Khrushchev, é a destruição total desse projeto econômico, levando ao
estabelecimento do capitalismo de estado, a estagnação do
desenvolvimento econômico, poucas melhoras significativas na qualidade
de vida e o afastamento das massas da prática comunista cotidiana
indiferentes a seu partido-estado.
O XIX Congresso do PCUS representou um duro golpe na burocracia
partidária e essa fez de tudo para minimizar e destruir suas reformas com o
tempo, o discurso completo de Stalin nunca foi publicado, poucos dias
antes da morte de Stalin o Presidium foi reduzido para 10 membros (com a
desculpa de que um Presidium amplo era inoperável) e o próprio
documento de resolução do XIX Congresso do PCUS foi apagado com o
tempo, sendo até hoje muito difícil encontrar informações sobre ele.
(FURR, 2005) (MALENKOV, 1952)

Hoje muitos historiadores especulam com base na própria acusação de


Khrushchev que nesse período Stalin pretendia organizar um novo expurgo
e que esse expurgo afetaria a antiga direção stalinista, os eventos que
levaram a essa especulação foram a despromoção dos antigos dirigentes
stalinistas, mas os fatos são muito claros quanto à razão disso, a antiga
direção stalinista era composta por idosos que já não podiam exercer seu
trabalho com tanto vigor, portanto Stalin em seu discurso ao Plenário do
Comitê Central (STALIN, 1952) afirmou que era necessário substituir as
velhas lideranças por novas lideranças mais jovens, qualificadas e
enérgicas, mas de que forma alguma as velhas lideranças seriam
desprestigiadas. Factualmente houve uma mudança de diversas velhas
direções por novas direções, sendo que a maioria das novas direções de
partido também eram estadistas, com destaque para Malenkov, que era
reconhecido por ser um ótimo administrador e foi promovido para dirigir o
XIX Congresso do PCUS, esses eventos fizeram com que Malenkov
passasse a ser visto como o possível sucessor de Stalin.
Em suas memórias, Khrushchev afirma que ele e outros dirigentes do
partido, ficaram confusos com os novos nomes eleitos e não entenderam de
onde vieram as indicações daqueles nomes, afinal muitos deles não eram
destacadas figuras do partido, apenas bons estadistas, se negando a crer que
Stalin foi o responsável por fazer aquelas indicações para as eleições sem o
consentimento dos velhos dirigentes do Presidium, eles como apodrecidos
burocratas, não conseguiam enxergar essas medidas de Stalin como passos
para o fortalecimento da democracia socialista, consequentemente
passaram o ver como um velho debilitado que estava se tornando um tirano
louco ameaçando as posições de seus próprios velhos camaradas.

O próprio Stalin pediu sua exoneração do Presidium do PCUS e o desejou


também renunciar ao cargo de Presidente do Conselho de Ministros, porém
esse pedido novamente foi negado com grande desespero.

Outro evento que leva à especulação do expurgo à antiga direção stalinista


foram as críticas que Stalin dirigiu a Molotov e Mikoyan, o caso de
Mikoyan é simples como o próprio expõe em sua autobiografia, no período
das discussões econômicas a partir da obra de Stalin “Os Problemas
Econômicos do Socialismo na URSS” Mikoyan começou a ter
discordâncias com as teses de Stalin, caracterizando-as como
“esquerdistas”, em consequência Stalin apresentou abertamente suas
críticas às políticas econômicas de Mikoyan e isso afetou seu prestígio
político e relação com Stalin, as críticas de Stalin a um economista
destacado e camarada de longa data foram duras e pode ter havido
equívocos nela (como afirma Mikoyan dizendo que Stalin por sua memória
enfraquecida pela idade acabou por confundir alguns acontecimentos
administrativos), porém em geral estavam corretas visto agora que de fato
Mikoyan se inclinou para o direitismo econômico e burocracia partidária
khrushchevista nos anos seguintes.

Vale a pena citar que em sua autobiografia Mikoyan tentou de todas as


formas caracterizar as políticas antiburocráticas de Stalin como capricho e
paranóia na tentativa de eliminar a antiga direção que ele não confiava
mais, curiosamente ele cita três acontecimentos onde Malenkov ou
Khrushchev haviam dito que Stalin realmente pretendia remover ele e
Molotov do partido, tendo Mikoyan ido além e achado que seria
fisicamente eliminado. Mikoyan ter citado três acontecimentos de
diferentes períodos como ditos ou por Malenkov ou por Khrushchev é
muito estranho, o mais provável é que esses três boatos (de que Stalin
rompeu a amizade com Mikoyan, caracterizou Molotov e Mikoyan como
quase agentes americanos/britânicos e pretendia os expurgar) foram todos
inventados por Khrushchev e ele só não estabeleceu que foi Khrushchev
quem disse para não reforçar a ideia de que Khrushchev era um
conspirador. Esses relatos comicamente fazem parecer que o “paranoico”
não era Stalin mas sim o próprio Mikoyan que criou uma ameaça
inexistente com base nas mentiras oportunistas de Khrushchev.
(MIKOYAN, 1999)

Molotov era visto como a segunda maior liderança da URSS e amigo


pessoal de Stalin, assim porém sabemos que a relação de Stalin e Molotov
se deteriorou principalmente por causa da prisão de Polina Zhemchuzhina,
esposa de Molotov que em 1948 foi presa por ter vazado informações
confidenciais de Estado ao Embaixador de Israel em Moscow, Golda Meir.
Já no Plenário do Comitê Central de 1953 Stalin dirigiu críticas à Molotov
quanto às suas posições sionistas, por dar informações do Presidium a sua
esposa e amigos e por ter cometido erros diplomáticos, esses eventos de
fato deterioram as relações entre Stalin e Molotov, mas ainda assim eles
continuaram sendo amigos e com a soltura de Polina após a morte de Stalin
em 1953 (por Beria a pedido de Molotov) esta continuou a defender Stalin
fielmente assim como Molotov. O julgamento mais correto a se fazer sobre
esses eventos é que Stalin acabou por não livrar o deslize de Polina de sua
pena, a considerando de fato não confiável, porém Polina era sim uma fiel
stalinista e logo após a morte de Stalin, Beria tratou de a conceder anistia.
(BERNIKOVICH, 2016)

Diante desses fatos fica claro que Stalin de maneira alguma deu a entender
que pretendia expurgar as antigas lideranças stalinistas, tendo apenas
promovido novas lideranças e mantido total respeito às velhas lideranças,
portanto, essas acusações lançadas por Khrushchev e companhia, hoje
repetidas por alguns historiadores são completamente falsas.

O Caso dos Médicos – Conspiração ou Especulação?

Em 1948, Andrei Zhdanov faleceu, para aqueles que não estão


familiarizados, Zhdanov era um dos grandes dirigentes do partido e o mais
destacado ideólogo depois de Stalin, tendo influenciado fortemente a
formação cultural que a URSS desenvolveu, muitos o viam como um
possível sucessor de Stalin na direção do partido, principalmente pelo
destaque que recebeu no XVIII Congresso do PCUS, afinal, Zhdanov era o
que o partido precisava, um ideólogo comunista para destruir as bases
burocráticos do partido e o reorganizar em uma verdadeira vanguarda de
propaganda, agitação e formação ideológica das massas.

Após sua morte, a médica Lidiya Timashuk iniciou uma investigação que
acusou um grupo de médicos de terem aplicado métodos impróprios que
levaram a morte de Zhdanov, pela posição destaca que Zhdanov tinha, essa
acusação não soou meramente como uma falha profissinal dos medicos,
mas sim como um possivel assassinato conspiratorio, com isso os órgãos de
segurança iniciaram uma investigação sobre o caso.

Nesse período os órgãos de segurança do Estado eram divididos em dois


ministérios, o Ministério de Assuntos Internos (MVD), dirigido por Sergey
Kruglov (um aliado de Khrushchev) e o Ministro da Segurança de Estado
(MGB), dirigido por Victor Abakumov, este estava dirigindo bem as
investigações e até 1950 apenas um médico havia sido detido e colocado
sobre investigação para julgamento, o Dr. Yakov Etinger, o ocorrido
aconteceu após a descoberta de uma conversa grampeada de Etinger com
seu filho, onde esse expressou opiniões anti-stalinistas e sionistas.
Sabemos também que Abakumov empregou coerção física
(espancamentos) durante toda sua gestão para conseguir confissões e
mesmo assim chegou à conclusão de que Etinger e os médicos não estavam
envolvidos em uma conspiração terrorista para assassinar as lideranças
soviéticas, o caso logo se encerraria, porém em 1951 Abakumov sofreu
uma campanha de difamação liderada por Ryumin e Ignatiev, tendo
Ryumin escrito uma carta a Stalin relatando as “deficiências" de Abakumov
na direção do Caso Etinger, assim levando Abakumov a ser afastado de seu
cargo, sendo substituído por Ignatiev, pouco tempo depois Abakumov e
outros funcionários foram presos e julgados arbitrariamente, acusados de
falta de vigilância no anterior Caso de Leningrado e no Caso dos Médicos,
esse caso ainda é muito nebuloso, mas ao que tudo indica desde 1943 havia
uma disputa pelo poder dos órgãos de segurança (essa disputa não se dava
abertamente entre grupos organizados, mas entre políticos stalinistas
honestos e burocratas oportunistas/revisionistas ocultos, próximos e futuros
aliados de Khrushchev na sua ascensão, mas que não necessariamente tinha
intenções conspiracionistas naquele momento), esta disputa se dava
principalmente entre Beria, seus apoiadores e outros stalinistas
(representando a vigilância revolucionária) e os revisionistas e oportunistas
ocultos alinhados a Khrushchev (representando a burocracia
administrativa), nessa ocasião o grupo khrushchevista teve uma vitória com
a demissão e prisão de Abakumov, sendo substituído por Ignatiev, um
estreito aliado de Khrushchev, com isso tanto o MVD quanto o MGB
ficaram sob direção de oportunistas.

Pode-se acusar que Stalin motivado por “paranoia” e “anti-semitismo” se


mostrou insatisfeito com os resultados e assim exigiu a retirada de
Abakumov e a indicação de Ryumin e Ignatiev para a direção do Caso dos
Médicos, mas essa acusação não possui qualquer fundamento já que não
existe a menor evidência de que Stalin tenha feito qualquer intervenção na
investigação do Caso dos Médicos ou tenha tido conhecimento da
arbitrariedade do julgamento de Abakumov, é possível que Abakumov
tenha sido tão facilmente incriminado porque ele também era de fato
culpado por crimes de corrupção como indica Vasily Stalin em sua
autobiografia. O que de fato se sabe é que Stalin não acreditava que os
médicos eram culpados como indicou sua filha Svetlana Alliluyeva
(diga-se de passagem, uma anti-stalinista):

“My father’s housekeeper told me not long ago that my father was
extremely distressed at the turn events took… She was waiting on table
as usual, when my father remarked that he did not believe the doctors
were ‘dishonest’ and that the only evidence against them, after all were
the ‘reports’ of Dr. Timashuk.” (S. Allilyeva: Twenty Letters to a
Friend”; London; 1967; p. 215)
A direção de Ignatiev no Ministério de Segurança do Estado passou todas
as responsabilidades para seu vice Ryumin, este tinha a convicção de que
os médicos eram sim culpados e por isso dirigiu os ataques contra
Abakumov, suas investigações deliberadamente aplicaram métodos de
tortura para conseguir as supostas confissões que Abakumov não havia
conseguido, assim levando ao afastamento de diversos médicos em 1952,
em janeiro de 1953 executou a prisão de nove médicos e a confirmou a
existência da conspiração e seu envolvimento direto com a organização
sionista americana JOINT, alem desse caso, a direção de Ignatiev tambem
foi responsavel por arbitrariedades em diversos outros casos, como a
tentativa de executar todos os ex membros do Comite Judaico Anti-Fascista
e a execução de outros quatro membros de uma suposta organização
sionista na Usina Metalúrgica de Kuznetsk, não é dificil notar que Ignatiev
foi um legitimo sucessor da yezhovchina.

Após esse processo arbitrário de incriminação dos médicos, o Caso dos


Médicos foi encerrado e os órgãos de segurança do Estado continuaram
sobre controle de Ryumin e seus aliados, diante desses fatos fica claro que
não havia nenhuma conspiração médica e sim uma especulação que acabou
sendo colocada como verdadeira por erros administrativos motivados pelos
caprichos de Ryumin, Ignatiev e companhia.

As potencias capitalistas e opositores da URSS, com o objetivo de reduzir o


papel soviético na vitória sobre o fascismo, acusaram falsamente a URSS
de promover uma política antissemita, utilizando como base o Caso dos
Médicos e campanha política anti-cosmopolita e antissionista que a URSS
estava engajada. Na realidade, apenas alguns dos médicos pertenciam à
etnia judaica e a campanha anti-cosmopolita e antissionista não possuiu
nenhum sequer direcionamento antissemita, porém houve um grande erro
nessa campanha, que foi a investigação mal dirigada e condenação do
Comitê Judaico Anti-Fascista, uma destacada organização soviética que
passou a ser criticada como sionista durante essa campanha, eventos que
ocasionaram no suposto assassinato do artista Mikhoels.

O que a historiografia anti-stalinista sugere é que Stalin motivado por


antissemitismo, paranoia e caprichos promoveu a desmoralização do
Comitê Judaico Antifascista e o assassinato de Mikhoels, essa
argumentação é sustentada pelo fato do próprio Abakumov no julgamento
dirigido por Beria ter admitido que o assassinato ocorreu por ordens de
Stalin, porém se analisarmos os detalhes desse processo vemos que a
operação foi organizada por Ogol’tsov e Tsanava sobre ordens de Suslov,
Ponomoranev e Malenkov, os dois primeiros sendo khrushchevistas e o
ultimo como sabemos um stalinista vacilante, sobre o pretexto de que era
uma ordem de Stalin, mas não existem evidências e nem motivos para
Stalin ter feito isso, é muito mais provável que a investigação abrupta e mal
coordenada tenha vindo diretamente dessas figuras já citadas, alem de que
quem encerrou as investigações e declarou a execução dos membros do
comite em 1952, foi Ignatiev, como concluiu a própria investigação sobre o
caso, organizada décadas depois no governo Gorbachev, porém esta culpou
unicamente Malenkov, já que não os convinha culpar Suslov, Ponomoranev
e Ignatiev que eram khrushchevistas. (ALLIANCE, 2014).

Lavranti Beria – Aliado ou Inimigo de Stalin?

Lavrentiy Pavlovich Beria nasceu em 29/03/1899 na região de Mingrelia na


Geórgia, pertencente a uma família modesta que conseguiu ingressar Beria
na educação acadêmica, onde se especializou em engenharia mecânica. Em
1915 Beria começou a participar de círculos de estudos marxistas e ajudava
sua família financeiramente dando aulas particulares.
Com a Revolução de 1917, Beria iniciou suas atividades revolucionárias no
Partido Bolchevique, tendo servido como engenheiro hidráulico do exército
e depois retornado à Geórgia para completar seus estudos, se tornando
secretário do Soviete de Baku em 1918. Posteriormente com sua prisão em
1953, ele teria sido acusado até mesmo de prestar esses serviços sem
autorização e de apenas ser oficialmente membro do partido em 1919, com
a intenção de o pintar desde essa época como uma carreirista
despreocupada com o partido. Tais acusações são desmentidas pelas
próprias correspondências em que Stalin e Kaganovich relatam sua
militância bolchevique desde 1917.

Em 1919, Beria completou sua faculdade, se tornando um técnico


certificado, a partir desse período serviu ao estado soviético como
presidente e instrutor de diversas células de técnicos, mostrando sua
proeminência como gerente técnico desde esse período. Ainda no mesmo
ano, também trabalhou nos serviços de contraespionagem. Tambem em seu
julgamento, Beria foi acusado de, no período de 1919-1920, trabalhar para
uma organização anti-bolchevique, o Partido Gummet, um partido social
democrata do Azerbaijão, todavia, se estudarmos a história dessa
organização, vemos que ela foi criada no ano de 1904 com a participação
do próprio Stalin e outros bolcheviques, sendo um partido aliado até o ano
de 1919 onde foi fracionado entre mencheviques e nacionalistas, tendo
Beria apenas se encontrado em reuniões com seus líderes junto a outros
bolcheviques.
Com isso, acusá-lo de atividade contra-revolucionária é infundamentado,
pois nesse mesmo período ele estava trabalhando nos serviços de
contraespionagem. Imaginar que Beria era um agente duplo infiltrado no
próprio serviço de contraespionagem soviético depois de toda essa
trajetória como bolchevique sem nenhuma grande evidência além de um
relato inconsistente e sem credibilidade é absurdo, tanto que esta acusação
nem entrou oficialmente em seu processo.

Ao retornar à Baku em 1920, Beria foi nomeado gerente do Comitê Central


do Partido Bolchevique, dando continuidade à sua ascensão política depois
de seus excelentes serviços na Cheka, tendo sido logo em seguida nomeado
para outros cargos administrativos na gestão da expropriação da burguesia
e melhora das condições de vida dos trabalhadores. Mesmo com sua
ascensão política, Beria solicitou que pudesse se afastar e retornar à vida
acadêmica para estudar arquitetura, tendo cumprido esse desejo. Contudo
não tardou para ser solicitado para retomar seus serviços administrativos,
cuja ele atendeu, demonstrando que Beria já nessa época tinha grande
prestígio e não era de forma alguma um carreirista que buscava prosperar
em cargos administrativos, mas um homem com suas próprias inspirações
acadêmicas e disponível para as solicitações do partido e Estado.

Em 1922, Beria se casa com Nina Gegechkor, sua esposa durante toda a
vida, a qual também teriam acusado de que Beria na verdade a abusou e a
submeteu ao relacionamento pela força, o que a própria tratou de desmentir.
A partir daí, as atividades de Beria se concentraram principalmente na
Cheka e em gestões administrativas, onde combateu todo tipo de
contra-revolucionário com maestria em diversas operações, possuindo um
prestígio crescente e tendo em 1923 escrito uma autobiografia onde pode-se
ler sobre seu trabalho descrito com muita modéstia.

Em 1931, Beria é eleito Primeiro Secretário do Partido Bolchevique na


Geórgia, tornando-se amplamente popular. Por conseguinte, sua direção foi
marcada pelo aumento da qualidade de vida, o avanço da educação e
cultura, desenvolvimento econômico, modernização e estabilização dos
conflitos no PC da Geórgia. Além disso, foi nesse período que ele se tornou
um camarada pessoal de Stalin.

Sua atuação não se limitou à Geórgia, atuando em toda transcaucásia, onde


colaborou em diversos projetos. Com Beria, o Marxismo-Leninismo e as
obras do camarada Stalin foram amplamente divulgadas entre as massas,
contrariando a vontade dos velhos figurões mencheviques e anti-leninistas
da Geórgia que futuramente se envolveriam nas conspirações
contra-revolucionárias.
Como já foi comentado, em 1936 foi estabelecida a Nova Constituição,
organizada por Stalin e pelos camaradas mais capacitados para traçar uma
nova etapa da história soviética, uma etapa de ampliação da democracia e
combate a todas as tendências burocráticas entranhadas no partido e no
Estado, tendo Beria se dedicado com entusiasmo à plena aplicação dessas
reformas na Geórgia, tornando-se um implacável combatente dos
burocratas acomodados em suas poltronas. Como veremos a frente, este
será o motivo da conspiração contra Beria organizada por esses próprios
burocratas cooptados por Khrushchev.

Como sabemos, em 1934 iniciaram-se uma série de expurgos e repressões


devido à explosão de atividade contra-revolucionária, ocasionando em uma
série de abusos e injustiças cometidas pelos órgãos de segurança pelas mais
diversas razões, com conspiradores dentro da própria direção da NKVD,
incluindo os dirigentes Yagoda e Yezhov. Beria foi acusado de ser mais um
carrasco do Grande Expurgo, levando à morte milhares de inocentes,
porém, se analisarmos os processos de expurgos dirigidos por Beria, vemos
uma lista muito menor do que as que estão na conta de outros dirigentes,
incluindo Khrushchev na Ucrânia que também cometeu ilegalidades. Ao
contrário, se analisarmos os casos de expurgos de grandes figuras com o
envolvimento de Beria, vemos que os processos foram legais e que as
acusações de que Beria teria forjado processos e assassinato investigados é
falsa, essas acusações chegam a descrever-lhe como uma sádico torturador,
sendo que, por várias vezes Beria fez exigências para que prisioneiros
fossem tratados com dignidade, e essa seria uma reivindicação durante toda
sua carreira nos serviços de segurança, além do mais, as investigações eram
tratadas com muito cuidado sobre a gestão de Beria, isto levou a
reabilitação de milhares de investigados, principalmente na Geórgia.

Em 1937 houveram as primeiras eleições para o Soviete Supremo sob a


Nova Constituição, tendo Beria sido eleito deputado e no início de 1938
acabou se afastando de suas atividades na NKVD para a liderar a gestão do
novo projeto arquitetônico em Tbilisi, arquitetura era sua paixão e ele a
executou com proeza. Que tipo de sádico é esse que troca o revólver por
um compasso?!

Mesmo no conturbado cenário do Grande Expurgo, a Geórgia teve um


enorme crescimento econômico e de qualidade de vida, excedeu as
demandas do plano quinquenal e avançou mais ainda no desenvolvimento
da educação, tendo sido fundado o Instituto Georgiano de Cultura Física
por iniciativa de Beria.
Em agosto de 1938, Beria retorna a Moscou convocado para supervisionar
a direção de Yezhov na NKVD, em novembro Yezhov é afastado e
investigado pelos crimes junto a seus colaboradores, tendo sido executado
em 1940. Beria imediatamente se tornou chefe da NKVD, abandonando a
direção do partido na Geórgia. Dirigiu o processo de estabilização dos
órgãos de segurança, do exército e de reabilitação de centenas de milhares
de presos condenados injustamente, dando fim ao trágico período do
Grande Expurgo. Em 1939 ele foi eleito membro do Politburo do Comitê
Central do Partido Bolchevique.

Durante a Grande Guerra Patriótica, Beria trabalhou incansavelmente nas


mais diversas atividades, tanto nos órgãos de segurança, quanto no exército
e na administração econômica, tendo prestados dezenas de colaborações
que o renderam um enorme prestígio, contudo a propaganda anti-Beria
tratou de inventar as mais absurdas calúnias sobre seu nome nesse período,
desde arbitrariedades e incompetência, até sabotagem e colaboracionismo
com o inimigo, e como de costume, nenhuma dessas acusações se
sustentam.

A competência e prestígio do trabalho administrativo prestado por Beria era


tanta, que este foi escolhido para dirigir a supervisão do projeto de
construção da bomba atômica em 1944, tendo também prestado esse
serviço especial com maestria graças aos seus amplos conhecimentos
científicos, pois é bom lembrar, antes de político, gerente e chekista, Beria
foi um acadêmico apaixonado por engenharia, arquitetura e ciências exatas.

Em 1946, Beria abandonou a direção da NKVD e se dedicou unicamente


ao trabalho administrativo na economia, principalmente no campo
militar-industrial, tendo sido eleito Vice-Presidente do Conselho de
Ministros da URSS. Durante todo esse período até a o falecimento de
Stalin, o trabalho de Beria foi prestigiado por diversos trabalhadores e pela
imprensa, mas é claro que com a propaganda anti-Beria, surgiram as mais
diversas acusações de arbitrariedades administrativas nesse período,
totalmente contraditórias a tudo o que havia sido relatado anteriormente.

A propaganda anti-Beria geralmente afirma que em 1946 Beria foi afastado


dos serviços de segurança não pelos motivos já ditos, mas porque esse caiu
em desprestígio e Stalin não mais confiava nele, essa acusação é
completamente fraudulenta, uma vez que os motivos do afastamento de
Beria dos serviços de segurança já foram explicitados e não faria sentido
colocar alguém sem prestígio e confiança na direção do projeto da bomba
atômica, como um dos vice-chefes de governo e dirigentes do partido.
Além disso,o já citado sucessor de Beria como chefe dos serviços de
segurança, Viktor Abakumov, foi indicado pelo próprio.

Outro argumento utilizado é que Stalin promoveu um expurgo na Mingrelia


para eliminar os corruptos “partidários do Beria”, mas o fato é que Stalin
não teve nenhuma participação direta nesse caso, tendo o mesmo sido
dirigido por Nikolay Rukhadze em 195, que através de falsificações e
confissões forçadas por tortura prendeu e executou cerca de 400
mingrelianos, muitos deles camaradas de Beria. Em 1952, Rukhadze foi
preso por seus crimes, mas nesse período os serviços de segurança estavam
sob direção do criminoso Ignatiev, tendo apenas em 1953, quando Beria
reassumiu a direção dos órgãos de segurança, revisado o Caso Mingreliano
como uma farsa e reabilitado os condenados, Contraditoriamente em 1954,
Khrushchev revisou o Caso Mingreliano novamente como uma conspiração
de Beria em conjunto com Rukhadze e Abakumov, ignorando que nem
Beria e nem Abakumov estavam trabalhando nos órgãos de segurança, é
curioso como a propaganda anti-Beria não decidiu se essa foi uma
conspiração de Stalin contra Beria ou do próprio Beria, mas o fato é que
toda essa inconsistência mostra que a conspiração não veio de nenhum dos
dois, mas sim dos próprios burocratas khrushchvistas que naquele período
tinham a direção dos órgãos de segurança.

Também existem muitas outras acusações absurdas e infundamentadas de


Khrushchev utilizadas para questionar a legitimidade de Beria enquanto um
stalinista e dirigente íntegro, porém é correto concluir que Beria de fato era
um legítimo stalinista e Stalin tinha confiança nele. (SERGEY, 2011;
FURR, 2005; BERNIKOVICH, 2016)

O Falecimento de Stalin e O Golpe de 1953 – Khrushchev Conspira


Contra Beria

Em 1953 Stalin faleceu devido à uma hemorragia cerebral provinda da


deterioração de sua saúde já há algum tempo, Stalin que havia dirigido o
PCUS e a URSS por 31 anos levando a enorme nação soviética a um
progresso colossal, “do arado a bomba nuclear”, agora havia deixado essa
nação órfã, as comoções populares pelo falecimento de Stalin foram
massivas e repercutiram internacionalmente, enfim o chamado “Pai dos
Povos” havia deixado a vida para ser eternizado na história, mas o que
fariam seus sucessores com seu pesado legado e como ele seria eternizado
na história? Antes de responder a essas perguntas vamos tratar de uma
famosa especulação que surgiu pouco depois do falecimento de Stalin, a
possibilidade de Stalin ter sido envenenado.
Alguns eventos que aconteceram anteriormente e posteriormente à sua
morte levaram à especulação de que Stalin teria sido assassinado em uma
conspiração entre a direção soviética. O Secretariado de Stalin (Setor
Especial do Secretariado do Comitê Central do PCUS) era chefiado por
Aleksandr Poskrebyshev e entre 1952 e 1953 Khrushchev ficou sob
suspeita de desviar documentos do seu secretariado, mas como admitiu em
1971 em suas memorias, Khrushchev forjou provas e convenceu Stalin de
que a culpa era do secretariado de Poskrebyshev e de seu segurança Vlasik,
com isso Vlasik foi preso e Poskrebyshev demitido, logo depois Vlasik
tambem foi falsamente incriminado no Caso dos Médicos.Os historiadores
que defendem a hipótese do assassinato de Stalin afirmam que essa foi uma
medida tomada por Khrushchev para deixar Stalin vulnerável, hipotese que
Vasily Stalin tambem levanta, além disso algumas documentações sugerem
que Stalin também não estava recebendo devido tratamento médico
conforme a deterioração de sua saúde. (BLAND, 1991)

Essa tese é corroborada como uma possibilidade por diversos historiadores,


principalmente pelas estranhas circunstâncias médicas da morte de Stalin, a
negligência de sua investigação, a demora da divulgação, a falta de
arquivos liberados e a própria denúncia do filho de Stalin, Vasily, que
acusou publicamente que seu pai teria sido assassinato em uma conspiração
do Presidium, tendo isso lhe rendido a prisão após serem forjados diversos
outros pretextos para o incriminar. Além de que algumas dessas teorias
também relacionarem o possível assassinato de Stalin com os possiveis
assassinatos dos stalinistas Gottwalt (dirigente da Checoslováquia) e Bierut
(dirigente da Polônia) que também morreram em estranhas circunstâncias
após visitar a URSS.

Outro fato curioso é que após a execução de Beria este foi acusado por
Khrushchev de possivelmente ter assassinato Stalin, podendo estar
Khrushchev jogando a responsabilidade para seu inimigo, é claro que não
existem provas concretas para essa teoria que se sustenta apenas em
especulações e possibilidades (as teorias que não são guiadas por bases
anti-stalinistas geralmente acusam Khrushchev e Ignatiev de ter assassinato
Stalin enquanto as anti-stalinistas geralmente acusam Beria ou até mesmo
todo o Presidium), portanto, as teses de que Stalin teria sido assassinado
ficam apenas no campo de teoria da conspiração e não devem ser colocadas
como um fato e eu diria que nem mesmo deveriam receber tanta atenção.

Outra especulação que creio que valha a pena destacar como curiosidade é
a possibilidade de Stalin ter indicado o destacado dirigente bielorrusso
Ponomarenko como seu sucessor na direção do governo, essa especulação
se popularizou através do relato do ministro Ivan Alekssandrovitch
Benediktov, de Vasily Stalin e de outros políticos soviéticos que relataram
que Stalin apresentou essa indicação através de um documento escrito que
desapareceu nos anos seguintes, essa especulação é contestada pela falta de
informação e relatos gerais, e favorecida pelo ocorrido de desprestígio da
carreira política de Ponomarenko no governo Khrushchev e por não haver
motivos claros do porque essa especulação teria sido inventada, mas aqui
vamos deixar ela apenas como uma possibilidade. (BENEDIKTOV,1989)

Com a morte de Stalin, imediatamente se iniciou um combate oculto entre


os verdadeiros stalinistas e os burocratas ameaçados pelas reformas que
Stalin dirigiu nos últimos anos de sua vida, é notório que as principais
figuras que deram continuidade ao combate à burocracia e melhora da
administração estatal foram Beria e Malenkov, que continuaram a dar
ênfase a esse aspecto e isso foi notado imediatamente por Khrushchev que
futuramente condenaria Beria por “promover o Estado acima do partido”
em seus discursos e ações, ou seja, dar continuidade ao combate da
burocracia partidária iniciado por Stalin. (SERGEY, 2011)

Khrushchev e seus apoiadores para impedir o andamento das políticas


antiburocráticas iniciaram o combate aberto à Beria e seus apoiadores,
temendo que Beria retomasse a direção da segurança do Estado e assim
dirigisse expurgos contra os burocratas, o que certamente afetaria ele e seu
círculo, como o mesmo em suas memórias relatada ter comentado com
Bulganin no leito de morte de Stalin:
“Stalin’s not going to pull through. . . . You know what posts Beria will take for
himself?’
‘Which one?’
‘He will try and make himself Minister of State Security. No matter what
happens, we can’t let him do this. If he becomes Minister of State Security it
will be the beginning of the end for us’.
Bulganin said he agreed with me”. (N. S. Khrushchev, Khrushchev Remenbers
(1970): p. 319).

O Comitê Central do PCUS executou uma reunião conjunta de emergência,


nesta foram discutidos assuntos de Estado, onde foi indicado que
naturalmente Malenkov deveria assumir o cargo de Presidente de Conselho
de Ministros e Beria deveria ser seu vice e Ministro de Assuntos Internos (a
partir da fusão do MGB e MVD), com isso Beria retomou o controle total
sobre os órgãos de segurança que anteriormente estavam sobre a direção
dos khrushchevistas e assim se tornou um dos dirigentes mais poderosos da
URSS, em suas memórias Khrushchev afirma que ele e seus aliados do
Presidium (Mikoyan e Bulganin) não se opuseram à direção de Beria com
medo de serem acusados de causar uma intriga.
Malenkov e Beria foram eleitos para os cargos indicados e sua liderança
reafirmou por um curto período de tempo o controle da linha esquerda
sobre o Estado e partido e a continuidade das políticas marxistas-leninistas
e anti-burocraticas de Stalin, agora Beria acumulando todos aqueles cargos
passou a ser a maior ameaça imediata para Khrushchev e os burocratas que
temiam ser expurgados, em contraposição a isso Khrushchev iniciou seus
planos para ascender ao poder e eliminar Beria e a linha esquerda.

Também é possível encontrar alguns historiadores afirmando que o


processo de desestalinização se iniciou com Beria e Malenkov, mas essa
acusação também é completamente falsa, de fato Malenkov deu início a
crítica do culto da personalidade, afirmando que esta era uma prática
estranha ao marxismo e combatida por Stalin, que a liderança coletiva
deveria ser reforçada e toda forma de culto a personalidade deveria ser
apagado, a prática de políticas contra o culto à personalidade, como a
retirada de retratos de dirigentes e das exaltações aos líderes em jornais,
duraram apenas alguns meses e logo voltou a normalidade pela falta de
aceitação que teve. A utilização da crítica ao culto à personalidade como
forma de atacar Stalin apenas se iniciou com Khrushchev e seus aliados nos
anos seguintes, resgatando e deturpando esse debate levantado por
Malenkov. (PRUDNIKOVA, 2007; PRUDNIKOVA, 2003 )

Também é interessante pontuar aqui, que a questão do culto a personalidade


é um item ainda em debate dentro do movimento comunista, é fato que
Lenin e Stalin condenaram veemente o culto à personalidade, porém
fazendo uma análise desse fenômeno, vemos que ele nasceu de forma
espontânea das massas, afinal é natural prestigiar dirigentes bem
destacados, e apenas foi utilizado de forma exagerada ou oportunista em
alguns casos. O Presidente Gonzalo, teórico e dirigente maoista,
desenvolveu a tese de que a construção de chefaturas fortes é um pilar do
comunismo e que o culto à personalidade não passa de uma crítica
burguesa, visto que todo processo social gera chefes que são reconhecidos e
admirados pelo seu povo. Tendo em vista que a sucessão de chefaturas
ineficientes ou direitistas, como foram a de Malenkov e outros dirigentes,
levou a capitulação total diante da ascensão dos revisionistas e
oportunistas, e que a crítica ao culto à personalidade foi utilizado como
arma por esses oportunistas, a posição de Gonzalo da necessidade da linha
esquerda forjar suas chefaturas parece coerente, tendo o papel das
“personalidades” sido historicamente subestimado.

A primeira manobra de Khrushchev para ascender ao poder foi criticar o


acúmulo de cargos e convencer Malenkov a se demitir do cargo de
Primeiro-Secretário para que pudesse exercer melhor a direção como chefe
de governo, o cargo de Primeiro-Secretário apenas possuía funções
organizativas e não mais de direção como o anterior cargo de
Secretário-Geral, mas como sabemos hoje, Khrushchev executou essa
manobra visando assumir o cargo e o utilizar para fins burocráticos, porém
o Presidium decidiu por não eleger um novo Primeiro-Secretário e
Khrushchev não se opôs a essa decisão naquele momento, assim o
Secretariado do Comitê Central ficou sob direção coletiva de cinco
membros no qual Khrushchev com o passar do tempo alocou seus aliados,
além disso essa posição de Khrushchev sobre a direção do partido e
governo foi levada em debate para as democracias populares, o que serviu
para Khrushchev criticar o acúmulo de cargos e apontar alguns de seus
aliados para a direção desses partidos e governos.

Como relata Hoxha (dirigente da Albânia Socialista e pilar do movimento


anti-revisionista), as intenções burocráticas de Khrushchev de forçar
Malenkov a abdicar a direção do partido e apenas se manter na direção do
Estado tinha o objetivo claro de inflar a autoridade do partido (e isto seria,
a sua autoridade) diante do Estado, ou seja, iniciar os esforços para destruir
as políticas antiburocráticas de Stalin:

“Imagine what would occur,” he said in his cunning way, “if the most capable
and authoritative comrade were elected chairman of the Council of Ministers.
He would have everyone on his back, and thus there would be a danger that the
criticism put forward through the party would not be taken into account and
hence the party would take second place and be turned into an organ of the
Council of Ministers.” (Enver Hoxha, The Khruschevites (1980))

Como já comentado anteriormente, agora que Beria tinha novamente o


controle das forças de segurança ele pôde executar um contragolpe na
Geórgia, levando a cabo as investigações contra os conspiradores
georgianos e restabelecendo as antigas lideranças aliadas de Beria no poder
do Estado e partido da Geórgia.

Muitos historiadores, comunistas e anticomunistas, acusam Beria de ser um


oportunista e revisionista que subverteu as políticas de Stalin, mas vamos
ver quais, de fato, foram as políticas promovidas por Beria após esse
assumir o ministério:

Beria promoveu um processo de investigação de diversos casos jurídicos


levando a anistia de milhares de cidadãos, quando Beria retomou o Caso
dos Médicos esse inocentou os médicos e culpou a antiga gestão de forjar
suas confissões através de métodos coercivos, dando como encerrado o
Caso dos Médicos e também o caso do Comitê Judaico Anti-Fascista,
Ignatiev e Ryumin foram investigados, porém os khruschevistas logo
conseguiram livrar Ignatiev defendendo que ele não tinha grande
envolvimento factual no processo, assim toda a culpa caiu sobre Ryumin, o
que era muito conveniente, já que Ignatiev era próximo de Khrushchev e
com ele sendo investigado não seria difícil descobrir suas atividades
conspiratórias. (PRUDNIKOVA, 2007)

Diante dessa política muitos historiadores afirmam que Beria fez isso para
expandir sua popularidade e não porque estava comprometido em corrigir
os erros da antiga gestão, tal acusação vem diretamente de Khrushchev e
não possui qualquer base, já que não houve nenhuma campanha em cima
das anistias, sendo um processo estritamente administrativo e não político,
diferente das reabilitações promovidas por Khrushchev após 1956, que não
teve qualquer rigor administrativo, reabilitando criminosos e fazendo uma
enorme campanha de promoção política em cima do processo, além do
mais o próprio Khrushchev se contradizendo veio de forma oportunista,
reivindicar ser o responsável pelas anistias de 1953, já que Beria nunca
havia tomado esse prestígio para si.

Não se pode dizer que as reabilitações feitas por Beria foram uma
subversão das políticas de Stalin, já que Stalin não exercia o controle sobre
as forças de segurança, desconfiava da legitimidade do caso dos médicos e
teria apoiado as reabilitações caso houvesse um esclarecimento das
arbitrariedades desses processos como já havia feito em 1939, o que
possibilitou tanto as reabilitações de 1939, quanto as reabilitações de 1953,
não foi a ausência de Stalin, mas sim a presença de Beria na direção dos
órgãos de segurança.

Já no campo da política das nacionalidades, Beria denunciou as políticas de


russificação vigentes na Ucrânia, Bielorrússia e Lituânia através do
documento conhecido como “Notas de Beria” e iniciou processos contra os
responsáveis. Khrushchev acusou Beria de através desse processo
promover o nacionalismo e enfraquecer a unidade das nacionalidades
soviéticas, o que é simplesmente absurdo, já que tudo o que ele estava
fazendo era levar a frente a política nacional de Stalin teorizada na obra
“Marxismo e o Problema Nacional” de 1913 e que já estava em vigor desde
que ele serviu como Comissário do Povo para as Nacionalidades de
1917-1923, sendo a política de russificação aplicada em casos isolados à
margem das diretrizes do Estado, tendo Beria dado continuidade à política
stalinista e de forma alguma promovido o nacionalismo.

Na política externa, Beria defendeu a neutralização da Alemanha e crítica


ao governo esquerdista de Ulbritch, a retomada das relações diplomáticas
entre a URSS e a Iugoslávia e criticou as arbitrariedades nos expurgos e
burocracia na direção do Partido dos Trabalhadores Húngaros. Khrushchev
acusou a posição sobre a Alemanha de servir aos interesses das potências
capitalistas, o que não faz o menor sentido tendo em vista que era a mesma
política de Stalin expressa no documento conhecido como “Notas de
Stalin” sobre a unificação e neutralização da Alemanha, e a posição sobre a
Iugoslávia e Hungria foram acusadas de subverter a autoridade do partido,
mas aprofundaremos essa questão mais à frente.

No campo da economia Beria defendeu a continuidade das políticas


econômicas stalinistas agora dirigidas por Malenkov, as únicas iniciativas
econômicas de Beria foram encerrar planos de construção que trariam
prejuízos econômicos e se opor aos tratados econômicos com a
Checoslováquia e Índia que acabaram por prejudicar a economia soviética.
Ao contrário do que muitos historiadores afirmam, Beria nunca defendeu
ou promoveu políticas capitalizantes na URSS, sendo essa afirmação
puramente especulativa, já que não existe um único documento que
comprove essa afirmação.

Por fim, no campo da política de Estado, como já foi dito, Beria promoveu
um implacável combate à burocracia e também à mediocridade
administrativa, dando continuidade às políticas antiburocráticas de Stalin
principalmente com foco na luta pela separação do partido e Estado.
Khrushchev e muitos historiadores afirmam que com isso Beria
simplesmente queria se autopromover nas posições de Estado já que não
podia se promover no partido, mas isso também é completamente falso, já
que, como vimos, Beria possui um histórico de combate à burocracia de
partido ao lado de Stalin e se desejasse simplesmente poderia alcançar o
poder através de políticas burocráticas de partido como fez Khrushchev
pois estava na mesma posição que ele e não lhe faltava prestigio aquela
altura.

Diante de todas essas observações podemos concluir que Beria não


subverteu as políticas de Stalin por revisionismo ou oportunismo, se
mantendo na linha stalinista e no combate à burocracia. Também é
necessário destacar que não havia nenhuma intriga, conspiração ou luta
pelo poder entre os stalinistas do Presidium, estes estavam em total acordo
com a nova organização política do partido e Estado após o falecimento de
Stalin, a conspiração contra Beria veio unicamente por iniciativa
oportunista de Khrushchev e dos khrushchevistas, apenas recebendo
cumplicidade dos stalinistas após serem convencidos da “ameaça de Beria”,
não existe qualquer mínima evidência que conteste isso e qualquer
historiografia que fantasie uma grande intriga e disputa pelo poder é
puramente conspiracionista. (BERNIKOVICH, 2016; SERGEY, 2011;
FURR, 2005)

Khrushchev e seus aliados não tiveram outra escolha se não apoiar todos
esses processos de combate aos revisionistas e oportunistas para se safar de
também serem investigados. Inclusive, uma das razões de Khrushchev
desejar a retirada de Beria do seu ministério, foi para evitar de ser
investigado pelas suas represálias na década de 30 e início de 40, como
relata Benedíktov:

«Pessoas competentes disseram-me que Khruchov deu ordem para ser destruída
uma série de documentos importantes relacionados com as repressões dos anos
30 e 40. Certamente que, em primeiro lugar, desejou esconder a sua participação
nas ilegalidades em Moscovo e na Ucrânia, onde, para ficar nas boas graças do
Centro, assassinou muitas pessoas inocentes. Ao mesmo tempo foram
destruídos documentos de outro tipo que demonstravam irrefutavelmente a
fundamentação das acções repressivas adoptadas no final dos anos 30 contra
algumas destacadas figuras do Partido e do Exército. A táctica é óbvia:
encobrir-se a si próprio e lançar todas as culpas pelas ilegalidades para cima de
Stáline e dos “stalinistas”, os quais eram vistos por Khruchov como a principal
ameaça ao seu poder.» (I.A.Benedíktov, Stáline e Khruchov, (1989): pág. 11)

Em julho de 1953, Khrushchev e os khrushchevistas em fim se


mobilizaram para golpear Beria, primeiro Khrushchev convenceu toda a
linha esquerda do Presidium de que Beria era uma ameaça pois acumulava
muitos cargos, exercia políticas anti-partido (ou seja, políticas
antiburocráticas), favorecia as potências capitalistas e pretendia tomar todo
o poder do Estado para si, até mesmo Malenkov que era um aliado próximo
de Beria concordou com a execução do golpe diante do apoio da maioria do
Presidium, em segundo lugar Khrushchev se aliou a Jukov e outros
militares que por suas atitudes burocráticas haviam perdido influência
política nos últimos anos e tiveram seus poderes reduzidos pelos órgãos de
segurança, essa aliança parecia proveitosa para Jukov restabelecer sua
posição que havia sido perdida com as penalidades que ele sofreu ao ser
condenado por seus crimes de corrupção e burocratismo, em suas memórias
o próprio relata o seu desgosto por Beria ter apoiado medidas mais duras a
serem tomadas contra sua pessoa. (PRUDNIKOVA, 2007)

Com o plano agora pronto para ser executado, Khrushchev durante uma
reunião do Presidium do CC do PCUS organizou os militares que cercarem
o Kremlin, deterem Beria e o executaram em um julgamento onde ele foi
acusado por dezenas de crimes completamente sem fundamentos, como por
exemplo ser um agente das potências capitalistas, de ter sido um agente
czarista, ter promovido repressões arbitrárias e de ser um estuprador. Hoje a
historiografia geral descarta as duas primeiras acusações pelo seu caráter
obviamente falso que não se sustenta em nenhuma evidência e que o
próprio Khrushchev e outros envolvidos admitiram em suas memórias
terem sido forjadas, mas não só essas como todas as demais também são
inteiramente falsas e não se sustentam em sequer um documento autêntico
ou vestígio plausível, como as acusações de corrupção e arbitrariedades
policiais.

A refutação de cada uma das acusações que Beria sofreu em seu


julgamento pode ser encontrada nas obras aqui citadas sobre Beria, não vou
replicar cada uma delas pois isso estenderia muito o texto de forma
desnecessária, já que as acusações são inúmeras e de caráter claramente
absurdo, no entanto uma das acusações que mais choca e deixa alguns
convencido é a dos estupros, afinal, não é muito difícil de encontrar
abusadores sexuais em posições de poder, como foi seu antecessor, Yagoda,
por tanto, vale citar aqui a fonte dessas acusações.

A primeira “fonte” para essa acusação são os diversos itens sexuais que
foram encontrados em seu escritório, diferente de todos os casos anteriores,
neste os tais itens não foram divulgados, em seguida foi apresentado uma
lista com trinta contatos de mulheres que Beria teria mantido relações
durante os últimos anos, é dito que existiam dezenas de listas, mas essa é a
única sobrevivente, muito conveniente, em seguida é dito que Beria se
encontrava com prostitutas e tinha sífilis, sendo que não existe nenhum
documento médico que sustente isso, em seguida foi dito que havia uma
lista de centenas de nomes de mulheres que teriam sido abusadas e alguns
relatos, porém em seu julgamento houve apenas a apresentação de um
relato, sendo esse documento com o contato dessas mulheres é
praticamente idêntico ao que foi utilizado para identificar as amantes do já
citado Vlasik no julgamento de 1951, um claro indício de falsificação. Em
um piscar de olhos, um homem que nunca antes havia sido acusado de
qualquer imoralidade, pelo contrário, o único registro que podemos
encontrar referente a isso é do próprio Beria repreendendo o agente secreto
Akhmerov por ser mulherengo, de repente, se tornou um maníaco sexual.

Essas “provas” utilizados no julgamento vieram de Sarkisov, um associado


de Beria também julgado, que relatou que Beria selecionava mulheres nas
ruas próximas de sua residência e seus funcionários levavam essas
mulheres para sua casa durante a noite, um relato que por si só é
inconsistente, já que Beria vivia em um apartamento não muito grande com
sua esposa e família do filho, o que torna este constante fluxo de mulheres
em sua casa durante toda a noite pouco provável. Enfim, o primeiro golpe
de Khrushchev e da linha direita havia sido tragicamente vitorioso.
(MARTIROSYAN, 2016)
Com esse golpe os khrushchevistas retomaram o poder dos órgãos de
segurança do Estado, executaram diversos aliados de Beria em processos
arbitrários, executaram um novo golpe na Geórgia, um golpe no Azerbaijão
e iniciaram os processos de golpe nas Democracias Populares.

Ainda sobre o julgamento de Beria existe uma dúvida se esse foi um


julgamento oficial de meses ou se foi um julgamento sumário já que todo o
processo foi ocultado, pouco relatado e possui relatos contraditórios, mas
ainda assim a primeira opção é a mais provável já que os relatos que
favorecem a segunda são poucos e muito problemáticos, vindo de
especulações de algumas poucas figuras, como o próprio filho de Beria,
que possui memórias pouco confiáveis devido ao grande número de
afirmações sem qualquer evidências e contraditórias as evidências
existentes. Além disso um fato interessante é que a documentação final do
julgamento de Beria diz que esse confessou todos os seus crimes, mas
Enver Hoxha (dirigente da Albânia) afirmou que um conselheiro militar
soviético em uma conversa com ele relatou que Beria se defendeu e refutou
todas as acusações contra ele.

“When a general, who I believe was called Sergatskov, came to Tirana as Soviet
military adviser, he also told us something about the trial of Beria. He told us
that he had been called as a witness to declare in court that Beria had allegedly
behaved arrogantly towards him. On this occasion Sergatskov told our comrades
in confidence: ‘Beria defended himself very strongly in court, accepted none of
the asccusations and refuted them all.” (Enver Hoxha, The Khruschevites
(1980))

Outro documento de grande importância para compreender o processo do


Golpe de 1953 e a figura de Beria são as cartas que ele escreveu a
Malenkov no período que estava preso, existem contestações da
autenticidade dessas cartas, mas os argumentos utilizados não são muito
convincentes. Nessas cartas ele não se comporta de forma vacilante ou
covarde, pelo contrário, mantêm suas posições (apenas fazendo na segunda
carta algumas “autocríticas” em relação à maneira que ele tratou o
Presidium), defende sua inocência e pede para que o processo seja dirigido
de forma justa, sendo que não faria o menor sentido um culpado pedir que
o processo continue a ser dirigido (apenas solicitando que façam isso de
forma justa e não arbitrária como foi) ao invés de suplicar pela anulação do
processo como era comum, vou aqui destacar a última carta de Beria
(SERGEY, 2011):

“Товарищам Маленкову, Хрущеву, Молотову, Ворошилову, Кагановичу,


Микояну, Первухину, Булганину и Сабурову.
Дорогие товарищи, со мной хотят расправиться без суда и следствия, после
5 дневного заключения, без единого допроса, умоляю Вас всех, чтобы
этого недопустили, прошу немедленного вмешательства, иначе будет
поздно. Прямо по телефону надо предупредить.
Дорогие т-щи настоятельно умоляю Вас назначить самую ответственную и
строгую комиссию для строгого расследования моего дела, возглавив
т.Молотовым или т.Ворошиловым. Неужели член Президиума ЦК, не
заслуживает, того, чтобы его дело тщательно разобрали, предъявили
обвинения, потребовали бы объяснения, допросили свидетелей. Это со
всех точек зрения хорошо для дела и для ЦК. Почему делать, так как
сейчас делается, посадили в подвал, и никто ничего не выясняет и не
спрашивает. Дорогие товарищи, разве только единственный и правильный
способ решения без суда и выяснения дела в отношении Члена ЦК и
своего товарища после 5 суток отсидки в подвале казнить его.
Еще раз умоляю Вас всех, особенно т.т. работавших и с т.Лениным и
т.Сталиным, обогащенных большим опытом и умудренных в разрешении
сложных дел т-щей Молотова, Ворошилова, Кагановича и Микояна. Во
имя памяти Ленина и Сталина, прошу, умоляю вмешаться и
незамедлительно вмешаться и Вы все убедитесь, что я абсолютно чист,
честен верный Ваш друг и товарищ, верный член нашей партии.
Кроме укрепления, мощи нашей Страны, и единства нашей Великой
партии у меня не было никаких мыслей.
Свой ЦК и свое Правительство, я не меньше любых т-щей поддерживал и
делал все, что мог. Утверждаю, что все обвинения будут сняты, если
только это захотите расследовать. Что за спешка и при том, очень
подозрительная.
Т.Маленкова и т.Хрущева прошу не упорствовать разве будет плохо, если
т-ща реабилитируют.
Еще и еще раз умоляю Вас вмешаться и невинного своего старого друга не
губить.” (Лаврентий Берия,, №3 В Президиум ЦК КПСС (1 июля 1953 г.))

Em 1954, em julgamentos tão fajutos como os demais, Abamukov foi


condenado e executado acusado de forjar o Caso de Leningrado e Ryumin
foi condenado e executado acusado por forjar o Caso dos Médicos
(ALLIANCE, 2014). Uma das razões do Presidium não ter se oposto à
reabilitação do Caso de Leningrado foi por ele também ter sido retratado
como uma conspiração dos desprestigiados Beria e Abakumov.
(MIRONIN, 2007)

Os Anos da Ascensão– A Burocracia do Primeiro-Secretário de 1954, A


Desestalinização no XX Congresso do PCUS de 1956 e o Golpe de 1957

Nos primeiros meses após o golpe não houve grandes mudanças na política
interna da URSS, Malenkov continuou a conduzir as políticas e economia
no caminho da linha esquerda, mas agora que Khrushchev havia
consolidado seu prestígio no partido e influência sobre boa parte do poder
do Estado este em 1954 convenceu Bulganin a indicar ele mesmo para
Primeiro-Secretário (a nova restituição do antigo cargo de Secretário-Geral)
e Bulganin convenceu Malenkov a fazer a indicação como se a proposta já
tivesse sido resolvida, Malenkov assim o fez e Khrushchev foi eleito por
todos os membros como Primeiro-Secretário, tendo Kaganovich relatado
que os membros do Presidium viram isso como uma oportunidade de
Khrushchev adquirir experiência.

A direção de Khrushchev como Primeiro-Secretário do Presidium do CC


do PCUS não significou outra coisa senão mais uma vitória para burocracia
partidária e os revisionistas ocultos (a linha direita), durante todo o ano de
1954, Khrushchev e seus aliados passaram a intervir em todas as políticas
de Estado e fazer indicações de quais diretrizes deveriam ser seguidas nos
órgãos estatais, o próprio poder de Malenkov como chefe de governo foi
reduzido a quase nada, já que agora quem ditava as políticas executivas era
Khrushchev. Além disso Khrushchev promoveu a sua imagem de dirigente
como a de um genial inovador, especialista e homem do povo, colocando
todos os holofotes sobre si.

Foi no início desse período que de fato começaram a surgir os ataques a


Stalin de forma ainda sutil, esses ataques iniciados por Khrushchev e
aceitos por boa parte da direção do Presidium acusaram Stalin de ser
autoritário (passar por cima do Presidium), não tolerar críticas, estar
paranóico no seus últimos anos de vida e ter permitido as “arbitrariedades”
do Caso de Leningrado (que como já vimos havia sido revisado e
condenado por uma investigação arbitrária e oportunista com o objetivo de
condenar Abakumov e promover o khrushchevismo) e o Caso dos Médicos
(que como já vimos não ocorreu por iniciativa de Stalin ou dos stalinistas),
um desses ataques que ainda não abordamos foi a “intolerância de Stalin”,
muitos podem considerar que essa crítica é correta já que de fato os grandes
anti-stalinistas foram eliminados, mas sabemos que essa oposição foi
eliminada porque haviam cometido crimes, Stalin ao contrário do que
passaram a dizer não era intolerante quanto à opiniões divergentes, mas
tratava delas abertamente e com respeito quando essas não tinham um
caráter fracionário ou criminoso, esse fato pode ser observado a partir dos
relatos de diversas figuras que trabalharam junto com Stalin, como
podemos ver no relato do ministro soviético Ivan Alekssandrovitch
Benediktov:

“E, no entanto, é essa a realidade. Leia as memórias de pessoas competentes,


daqueles que conheciam bem Stáline, que trabalharam com ele lado a lado. G.K.
Jukov, A.M. Vassilievski, K.K. Rokossovski, N.G. Kuznetsov, I.S. Issakov, S.M.
Chtemenko e outros oficiais militares. Todos numa só voz reconhecem que
Stáline valorizava as pessoas que pensavam de forma autônoma e que eram
capazes de defender as suas opiniões. G.K. Jukov, que conhecia Stáline melhor
do que ninguém, escreve claramente que com ele podia-se discutir e que a
afirmação do contrário é simplesmente falsa. Ou passe os olhos pelo magnífico
livro, «O objectivo da Vida», o melhor na minha opinião sobre o nosso tempo,
do construtor de aviões A. Iakovlev. Nele encontra a avaliação isenta de um
intelectual russo honesto, independente dos campos ideológico” (Ivan
Alekssandrovitch Benediktov, Stáline e Khruchov (Entrevista publicada na
revista Molodaya Gvardia, 1989, N.º 4, págs. 12-65))

Também relatando sua própria experiência enquanto ministro:

“Aconteceu-me, embora bastante raramente, contestar posições de Stáline.


Discutir com ele não era nada fácil e não era apenas devido à pressão da sua
colossal autoridade. Stáline habitualmente estudava os assuntos profundamente
e sob os diversos ângulos, por outro lado, possuía uma intuição fina dos pontos
fracos e das posições do oponente. Nós, dirigentes económicos, tínhamos a
certeza de que não seríamos penalizados pelo facto de contestarmos o líder,
quanto muito este manifestava algum desagrado que depressa esquecia. Mas se
viesse a demonstrar que tínhamos razão, então era certo que a nossa autoridade
aumentaria aos olhos dele. Pelo contrário, se alguém escondesse a verdade,
preferindo o silêncio por comodidade pessoal, isso acabaria por se saber e aí, o
mais provável, era perder irremediavelmente a confiança de Stáline. Por tudo
isto, habituamo-nos a dizer a verdade, fosse a quem fosse, sem cuidar do
orgulho próprio dos superiores.” (Ivan Alekssandrovitch Benediktov, Stáline e
Khruchov (Entrevista publicada na revista Molodaya Gvardia, 1989, N.º 4,
págs. 12-65))

A acusação de que Stalin estava paranoico nos seus últimos anos de vida
também é igualmente falsa, esta acusação era necessária para explicar as
próprias políticas de Khrushchev, já que agora que este burocrata estava no
poder só restava a ele tentar desacreditar as políticas antiburocráticas,
processos de combate a contrarrevolucionários e críticas de Stalin feitas nos
seus últimos anos de vida como frutos de uma paranoia e debilidade senil,
destruir a imagem de Stalin, era uma necessidade para impedir que as
politicas de Khrushchev fossem negativamente comparadas com as
politicas de Stalin.

Como já vimos todas as políticas de Stalin nos seus últimos anos foram
corretas e bem fundamentadas, não existe a menor evidência de que Stalin
estava paranoico e senil, pelo contrário, suas últimas atividades destacam
uma perspicaz lucidez.

O Presidium do CC do PCUS tinha total consciência das arbitrariedades de


Khrushchev, mas em nome da unidade partidária não questionaram suas
políticas, a partir desse momento a direção do PCUS caiu no completo
imobilismo político permitindo o avanço da burocracia khrushchevista. As
decisões arbitrárias e direitistas de Khrushchev rapidamente passaram a
prejudicar a economia soviética, onde esse se julgando um especialista
aplicou políticas de monocultura agrícola contrariamente às decisões do
Estado e partido, descentralizou a direção dos kolkhozes, acabou com o
suporte técnico aos kolkhozes e iniciou uma política de urbanização rural
mal organizada, todas essas políticas de Khrushchev levaram a um enorme
retrocesso econômico.

Em 1955 Khrushchev jogou a culpa de seus erros econômicos em cima de


Malenkov e pediu sua exoneração, no início esse pedido foi rejeitado e
criticado, mas Khrushchev deu continuidade à sua campanha de ataques
contra Malenkov e insistiu em sua exoneração, mais uma vez o Presidium
em nome da unidade partidária capitulou e Malenkov sem qualquer
resistência foi exonerado do cargo de Presidente do Conselho de Ministros,
sendo substituído por Bulganin, não bastando suas oportunistas e falsas
críticas à direção de Malenkov, este também atacou Malenkov por sua
antiga proximidade com Beria e sua postura vacilante no processo do golpe
contra Beria. No mesmo ano Khrushchev conseguiu indicar Júkov para o
cargo de Ministro da Defesa, consolidando assim o seu controle sobre as
forças armadas.

No ano de 1955, a URSS também fundou o Pacto de Varsóvia como


organização internacional do bloco comunista alinhado à URSS contra as
agressões da OTAN, mas essa organização também passou a ser
fundamental para a aprofundar a influência khrushchvista no bloco
comunista.

Molotov era o Primeiro Vice-Presidente do Conselho de Ministros e


portanto deveria ter substituído Malenkov, mas Khrushchev insistiu na
indicação de Bulganin para o cargo, primeiro porque se o próprio
Khrushchev se indicasse isso seria contraditório à sua política contra o
"acúmulo de cargos” e segundo como forma de retribuição pelo apoio que
Bulganin deu a Khrushchev desde 1953, assim este foi eleito para o cargo.
Bulganin apesar de ter se aliado de forma oportunista a Khrushchev para
ascender ao poder, era um dedicado comunista e um bom dirigente, tendo
exercido bem suas funções na linha esquerda contrariando Khrushchev, isto
foi do desagrado de Khrushchev e este logo passou a atacar Bulganin como
um mau economista, mas o Presidium amistosamente rebateu essas críticas
e Bulganin permaneceu no cargo, tendo a aliança entre Bulganin e
Khrushchev se deteriorado já nessa época graças a esse conflito.

Molotov que exercia o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros foi o


próximo a ser atacado por Khrushchev, Molotov era muito experiente na
área diplomática e não havia razões para o criticar, mas Khrushchev insistiu
no ataque à sua competência, Molotov por iniciativa própria mais uma vez
em nome da unidade do partido capitulou e se exonerou do cargo, isso foi
muito oportuno para Khrushchev aprofundar mais ainda sua influência
externa no bloco comunista.
Em 1956 ocorreu o famoso XX Congresso do PCUS, todo o partido
trabalhou em harmonia na organização e no decorrer do Congresso, mas
próximo ao fim do Congresso no dia 26 de fevereiro, Khrushchev reuniu o
Presidium em uma sala e inesperadamente entregou cópias do seu
“Relatório Sobre o Culto à Personalidade de Stalin”, em menos de meia
hora o Presidium discutiu o relatório e nessa ocasião Kaganovich, Molotov
e Voroshilov disseram que o relatório não devia ser apresentado pois
possuía erros a ser corrigidos, mas apressados por Khrushchev não houve
uma votação e conclusão se o relatório deveria ser apresentado ou não.

A versão de Kaganovich de que o Presidium não teve tempo para discutir e


rejeitar o documento é contestada pelo registro de que o mesmo documento
já havia sido entregue para revisão no dia 23 de fevereiro, o que leva a crer
que os membros do Presidium que posteriormente viriam a fazer oposição a
Khrushchev, naquela altura haviam ignorado a revisão do documento e
acovardados não o contestaram, justamente porque para contestar a
narrativa de Khrushchev sobre a responsabilidade ser inteiramente de Stalin
e da NKVD, eles teriam que revelar as verdades do quanto eles mesmos
tiveram de responsabilidade nas repressões, de que as políticas de Stalin
nos anos finais de seu governo justamente tentaram combater essa
interferência do Presidium nos processos de estado e logo seria perceptível
a acentuada contradição do Presidium com as posições de Stalin e o
assassinato de Beria como forma de dar fim a essas posições dentro da
direção do partido.

Quando o Congresso teve continuidade Khrushchev apresentou o relatório


num clima de tensão e unilateralidade, as resoluções foram aprovadas
apesar de não ter havido debate e eleições sobre circunstâncias comuns, o
relatório ficou conhecido como Relatório Secreto e teve um objetivo claro,
denegrir a liderança de Stalin para reafirmar a legitimidade da sua própria
liderança completamente distinta da anterior.

Se os velhos dirigentes “stalinistas” tivessem preservado o seu fervor


revolucionário, eles certamente teriam se erguido, contestado o relatório,
colocado a verdade sobre a mesa e feito autocrítica de seus erros nos
últimos anos que levaram a essa situação catastrófica, e de forma alguma
teriam ficado em minoria no Congresso e calçado o colapso fracionário do
partido por esse ato como eles mesmos afirmaram para justificar sua
covardia, pois durante todo o congresso houve um acalorado clima de
exaltação do camarada de Stalin e apenas um confuso silêncio quando esse
clima foi rompido pelo inesperado relatório de Khrushchev sobre o culto à
personalidade. (PRUDNIKOVA, 2007)
O Comitê Central certamente não aceitou deliberadamente as resoluções
unilaterais do Relatório Secreto e a prova disso foi que poucos dias depois
foi organizada uma conferência com diversos partidos comunistas onde se
deu um aprofundado debate até a aprovação da resolução “Sobre a
Superação do Culto à Personalidade e das Suas Consequências”, apesar
dessa resolução reafirmar a legitimidade da liderança de Stalin ainda houve
grande influência e permanência de parte das calúnias khruschevistas
contra Stalin, principalmente quanto aos últimos anos de seu governo, um
exemplo disso foi a resolução que reafirmou o Caso de Leningrado como
um caso forjado, reafirmou que Stalin cometeu outras arbitrariedades e
concluiu que isso ocorreu porque Stalin “perdeu a cabeça” graças ao culto à
sua personalidade, análise essa que é completamente falsa, já que Stalin
sempre foi crítico ao culto a sua personalidade e nunca agiu de forma
arbitrária e irracional sobre o manto da autoridade de sua imagem.

Como vimos a crítica ao culto à personalidade de Stalin iniciada por


Khrushchev era completamente falsa, pois nela Khrushchev pressupunha
que foi Stalin quem iniciou e inflou esse culto, sendo que não existe
nenhuma evidência sequer de que Stalin tenha imposto políticas que
impuseram o culto a sua personalidade, essa expressão foi um
desenvolvimento espontâneo que se deu entre as massas e o partido graças
ao enorme prestígio de Stalin enquanto dirigente, sendo que principalmente
a partir do pós-guerra os próprios burocratas começaram a inflar esse culto
com o claro intuito de reafirmar sua autoridade se escondendo atrás de um
quadro de Stalin, com facilidade podemos encontrar diversos discursos do
próprio Khrushchev onde este bajula Stalin anteriormente à
desestalinização final de 1962, diferente dos que honestamente promoviam
louvores à sua imagem, Stalin sempre se opôs a este culto seja em maior ou
em menor grau, também podemos encontrar diversas citações suas que
confirmam isso, além é claro de relatos de terceiros que confirmam a
modéstia de Stalin, para não me estender aqui trarei apenas uma das
primeiras citações de Stalin em 1926 sobre o culto à sua personalidade
(BLAND, 1991):

 “Sinceramente, camaradas, devo dizer que não mereço nem metade das coisas
lisonjeiras que me foi dito aqui. Pelo que dão a entender, sou um herói da
Revolução de Outubro, o líder do Partido Comunista Internacional, o líder do
Comunismo, um guerreiro lendário, e tudo mais… Isso é um absurdo,
camaradas, um exagero completamente desnecessário. Este é o tipo de coisa que
costumam dizer no funeral de um revolucionário morto, mas eu não tenho
nenhuma intenção de morrer ainda. Na verdade, eu era e continuo a ser um dos
aprendizes de trabalhadores qualificados nas oficinas ferroviárias em Tbilisi”
(J.V. Stalin: Works, Volume 8, Moscou, 1954, p. 182).
Além de Khrushchev ter tomado todos os créditos na reabilitação do falso
Caso dos Médicos e ter desacreditado o Caso de Leningrado, este também
tentou promover investigações sobre os Processos de Moscow e o
assassinato de Kirov, com isso houve uma série de reabilitações incorretas e
Khrushchev se cercou do apoio dos reabilitados ainda vivos, a investigação
do caso de Kirov não obteve resultados para incriminar Stalin, portanto foi
abandonada sem divulgar seus resultados e Khrushchev continuou a
levantar a hipótese, que já existia como uma teoria da conspiração do
assassinato de Kirov por Stalin, calúnia trotskysta que é até hoje
amplamente utilizada pelos anti-stalinistas. (CHUEV, 1993)

Era muito conveniente para Khrushchev lançar toda a culpa das repressões
em cima de Stalin, Beria e outros dirigentes da NKVD, pois assim não
precisaria promover uma investigação profunda que acabaria
comprometendo ele mesmo, seus aliados e os membros do partido ainda
ativos que tiveram participação em processos arbitrários nos expurgos,
assim apenas foi necessário para Khrushchev montar um teatro de pseudo
investigações seletivas e pouco detalhadas, afirmando que Stalin, revestido
pelo culto à sua personalidade, afastou a direção do partido do controle dos
órgãos jurídicos e policiais do estado, e por sua exclusiva decisão
pressionou esses órgãos a caçar inimigos inexistentes em um frenesi
paranoico, quando na realidade diversas direções do partido tiveram ampla
participação e responsabilidade pela deliberação de repressões ilegais.

Assim como incriminar figuras selecionadas era um ato político para


fortalecer sua direção partidária burocrática e justificar a destruição do
legado de Stalin , as reabilitações também foram. Dezenas de milhares
foram reabilitados em processos rápidos e pouco criteriosos, sendo que a
maior parte desses reabilitados foram reintroduzidos em cargos de
importância no partido, assim criando artificialmente um contingente de
apoiadores para fortalecer sua base e suas campanhas. (PRUDNIKOVA,
2007)

O partido esperava que após o XX Congresso do PCUS a direção de


Khrushchev melhoraria, porém ocorreu o contrário, Khrushchev
aprofundou sua direção burocrática e arbitrária sobre todas as esferas do
poder e promoveu a sua própria exaltação, ainda em 1956 ele havia
completado os processos golpistas de submissão parcial ou total do bloco
comunista a sua vontade.

Ainda em 1954 a questão da Iugoslávia também foi trazida de volta,


sabemos que Malenkov e Beria desde 1953 defendiam a retomada das
relações entre os dois estados como forma de tirar a Iugoslávia do campo
de influência da OTAN, sendo que apenas Molotov defendeu que a URSS
não deveria reestabelecer qualquer relação diplomática com a Iugoslávia
porque sua aliança com a OTAN e suas sabotagens às democracias
populares eram imperdoáveis, sendo ambas as visões são plausíveis para
debate. A retomada das relações diplomáticas entre o Estado Soviético e o
Estado Iugoslavo foi aprovada, contrariando essa decisão Khrushchev não
apenas restabeleceu as relações de Estado como também as de partido,
justificando e promovendo as posições anti-stalinistas de Tito, fica claro
que o intuito de Khrushchev com isso era aprofundar a sua aliança com
Tito contra o stalinismo e trazer a hegemonia soviética khrushchevista à
Iugoslávia, porém isso não aconteceu, apesar da melhora das relações e a
reconciliação em 1955, Tito preferiu de forma oportunista se manter mais
alinhado à OTAN do que do Pacto de Varsóvia.

Também existe a possibilidade do anti-stalinismo titoista ter influenciado


diretamente a escalada anti-stalinista de Khrushchev, em 1954 quando as
relações foram retomadas Khrushchev ainda não havia feito nenhum ataque
direto a Stalin, tendo culpado Beria e Djilas pela ruptura entre a URSS e a
Iugoslávia, porém Tito respondeu que essa foi produto de Stalin e que o
stalinismo deveria ser destruído na URSS para que houvesse uma
reconciliação completa. (GOSSWEILER, 2002)

Como vimos até agora, as políticas promovidas por Khrushchev, enquanto


um burocrata oportunista, eram completamente opostas das políticas
promovidas por Stalin, por essa razão, foi necessário que Khrushchev
promovesse a destruição da imagem de Stalin, pois assim poderia
simplesmente reafirmar as certezas de suas políticas na negação
demonizada de Stalin, e não na refutação das políticas de Stalin como
superiores.

Outra questão retomada foi o da Alemanha Democrática, desde 1953


Malenkov e Beria defenderam a continuidade da linha esquerda de Stalin
quanto a questão alemã, ou seja, o foco nos esforços para a reunificação e
neutralização da Alemanha, mas Khrushchev e a maior parte do Presidium
apoiaram a linha esquerdista que visava o foco na construção acelerada do
socialismo alemão com o governo Ulbritch, como sabemos essa posição
esquerdista ocasionou numa série de problemas na Alemanha que
culminaram na construção do Muro de Berlim em 1961.

Em 1957 o Presidium finalmente pressionou Khrushchev a encerrar suas


manobras arbitrarias e burocráticas, Khrushchev se viu encurralado e
apenas aceitou a crítica, apesar das críticas terem sido amistosas e
imobilistas, Khrushchev agora se viu ameaçado e começou a orquestrar um
novo golpe contra a linha esquerda.

As bases para o golpe de Estado se deram no campo da economia, onde


Khrushchev continuou a aprofundar suas políticas direitistas, tendo abolido
diversos ministérios e transferindo suas responsabilidades para órgãos
locais burocratizados com quadros leais a ele, sabemos também que essas
reformas continuaram a causar danos não só ao desenvolvimento
econômico como também à gestão popular. Na academia burguesa
geralmente o governo Khrushchev é reverenciado como um período de
reformas econômicas de resultados positivos, mas se analisarmos os fatos
vemos que isso é completamente falso, suas reformas não só foram danosas
como também por diversas vezes Khrushchev se opôs a planos de
investimentos sociais e científicos.

Já as bases para o golpe no partido se deram através do aparelhamento do


Secretariado do Comitê Central do PCUS, como já foi dito esse era o órgão
responsável pela organização administrativa do partido e por presidir as
sessões do CC que substituiu o cargo de Secretário-Geral, tendo Khruschev
restaurado o cargo de Primeiro-Secretário com funções de liderança
partidária dentro do Secretariado em 1954, o Presidium era o órgão
superior contendo apenas os membros que podiam se reunir com frequência
para discutir e elaborar decisões políticas, nesse período Khrushchev fez
com que diversos de seus fiéis aliados ascendessem como secretários do
Secretariado do CC e isso o garantiu apoio dentro desse órgão contra o
Presidium, além disso, o Secretariado khrushchevista também passou a
intervir arbitrariamente em outras tarefas.

Uma situação agravante ocorreu durante um comício quando Khrushchev


fez um inesperado discurso sobre o desenvolvimento da pecuária sem
qualquer rigor econômico técnico, esse ocorrido deixou o Presidium e o
Conselho de Ministros totalmente insatisfeitos quanto às qualificações da
direção de Khrushchev. O Presidium e a Gosplan apresentaram a
Khrushchev o cálculo que mostrava que seu plano para a pecuária era
inviável e ainda assim traçou um plano conciliatório a essas metas,
Khrushchev aceitou a crítica de não ter discutido sobre o plano
anteriormente mas continuou a defender a viabilidade do plano e acusou os
opositores de serem economistas “conservadores”, esse ocorrido somado à
todos os demais erros econômicos anteriores de fato deixou claro para a
direção do partido e Estado que Khrushchev era um total incompetente
quanto às questões econômicas.
Ainda nesse período Khrushchev e outros dirigentes participaram de um
almoço social junto a diversos artistas, nessa social Khrushchev forjou uma
aliança entre os artistas soviéticos que anteriormente haviam sido
desprestigiados pela academia devido ao rigor do Realismo Socialista
consolidado no governo Stalin principalmente por Zhdanov, nessa social
Khrushchev se gabou para os artistas de suas reformas anti-stalinistas,
criticou Molotov e os prometeu uma liberalização das artes, que
futuramente seria aplaudida pela burguesia dos países capitalistas, apesar
disso parte da direção e dos artistas que estavam nesse almoço
desaprovaram os comentários de Krushchev, principalmente o seu
desdenhoso ataque a Molotov.

Depois desses eventos a tolerância do Presidium em nome da unidade


partidária acabou e a maioria concluiu que Khrushchev deveria ser
removido do cargo de Primeiro-Secretário, as relações de Khrushchev com
os demais membros do Presidium que já eram tensas desde meados de
1955, agora haviam se agravado mais ainda. Finalmente em uma sessão do
Presidium ocorrida em junho de 1957 e presidida por Bulganin (destaque
para sua condição de antigo aliado de Khrushchev), Malenkov em nome da
maioria do Presidium dirigiu as devidas críticas à direção arbitrária,
burocrática e incompetente de Khrushchev, solicitando uma discussão
sobre sua exoneração:

«Os camaradas sabem que nós apoiámos Khruchov» – disse Malenkov –.


«Tanto eu como Bulgánine apresentámos a proposta de eleger Khruchov para
primeiro secretário do CC. Mas agora vejo que nos enganámos. Ele revelou-se
inapto para presidir ao CC. Comete erros atrás de erros no trabalho, tornou-se
presunçoso, e o seu relacionamento com os membros do Presidium, sobretudo
depois do XX Congresso, é inadmissível. Substitui-se ao aparelho do Estado,
comanda directamente passando por cima do Conselho de Ministros. Não é isto
a direcção partidária dos órgãos soviéticos. Temos de tomar uma decisão sobre a
exoneração de Khruchov das funções de primeiro secretário do CC.» (Lazar
Kaganóvitch, Pámiatnie Zapiski (notas memoriais), ed. Vagrius, Moscovo,
2003, pp. 557-589 (N. Ed.))

Em seguida interviram a favor da exoneração Voroshilov, Kaganovich,


Molotov, Bulganin, Pervúkhine, Saburov e contra a exoneração Mikoyan
(membros do Presidium), já Brejnev, Suslov, Furtseva, Pospelov interviram
contra a exoneração e apenas Shipilov a favor (esses eram apenas membros
do Secretariado do CC). O Presidium e o Secretariado se reuniram durante
quatro dias e para que diversos membros do CC pudessem comparecer
foram levados até Moscow para participar do processo, havendo um amplo
e democrático debate sobre o caso da exoneração de Khrushchev, mas o
secretariado khruschevista em minoria frequentemente se reunia em
reuniões fracionistas para tramar seu golpe.
Uma dessas reuniões se deu na Sala Sverdlov e foi descoberta, ocasionando
na alocação dos membros do Presidium na sala para dar continuidade ao
processo e a repreender o Secretariado, só que ,inesperadamente,
Khrushchev entrou na sala junto a Suslov (Presidente da KGB) e Júkov
(Ministro da Defesa) e quanto o plenário começou Khrushchev sobre o
manto da autoridade de Suslov e Júkov iniciou seu relatório sobre o “Grupo
Anti-Partido de Malenkov, Molotov e Kaganovich”, onde isolou esses três
membros e falsamente os acusou de serem conspiradores golpistas que a
partir de métodos fracionistas e anti-partido tentaram tomar o poder
derrubando Khrushchev, como vimos anteriormente ficou claro que não
existia nenhuma conspiração se não a vinda do próprio Khrushchev e este
era quem de fato estava em minoria fracionária, mas mesmo diante de
todos esses fatos em um clima militar e policial de “contra-golpe”
Khrushchev exigiu expulsar esses três membros do Presidium, o restante da
linha stalinista em uma covarde manobra vacilante para preservar suas
posições simplesmente se submeteu a Khrushchev, assim expulsando os
membros do “grupo anti-partido” do Presidium e futuramente do PCUS.
(ZAPISKI, 2003; Kilev, 2005)

Ainda em 1956 Khrushchev havia dissolvido a Cominform com o objetivo


de burocratizar o movimento comunista internacional com sua direção
unilateral, em 1957 reuniu seus antigos membros e o Pacto de Varsóvia em
uma reunião para impor a liderança da União Soviética, isto é, a hegemonia
imperialista e intervencionista da URSS sobre o campo comunista, porém
esse enfrentou problemas, nas diversas reuniões da Conferência de Moscow
entre 1957 e 1960, diversos partidos deram ênfase no combate ao
revisionismo moderno, o que provocou um recuo de Khrushchev na
desestalinização, a retomada de jargões stalinistas e uma ofensiva da
direção soviética contra o revisionismo titoista desmentindo toda a anterior
política oportunista de revisão da ruptura e reaproximação com a Iugoslávia
titoista para que essa ofensiva internacional anti-revisionista não se voltasse
contra Khrushchev e outros destacados revisionistas que tentavam se
ocultar em mantos do marxismo-leninismo, para se preservar os
revisionistas também destacaram nessa conferência o combate ao
“dogmatismo” e “sectarismo"

Nesse momento decisivo de embate entre o revisionismo e o


anti-revisionismo, sem uma direção verdadeiramente anti-revisionista da
parte da URSS, o que ocorreu foi uma luta retórica que apenas possibilitou
o avanço dos revisionistas de diversos campos, a Iugoslávia de Tito se
recusou a participar da reunião, Gomulka (dirigente da Polônia e próximo
do titoismo) e Togliatti (dirigente do Partido Comunista Italiano) se
opuseram à liderança da URSS, com isso Khrushchev não conseguiu impor
a total hegemonia do revisionismo social imperialismo sovietico a todos os
seus aliados, mas ainda assim continuou a ter uma enorme influência e
controle sobre eles, o que representou uma vitória geral do revisionismo
moderno nesse período de embates teóricos entre 1957 e 1960.

Nesta mesma reunião Togliatti se aproveitou do revisionismo


khushchevista para promover seu próprio revisionismo eurocomunista,
onde defendeu a transformação do partido de vanguarda em um partido de
massas, a via da “revolução” eleitoral, a aliança com partidos burgueses e o
abandono da defesa da ditadura do proletariado, em resumo, o abandono
prático do marxismo-leninismo, sendo que todas essas posições foram
respeitadas por Khrushchev e até hoje esse neocomunismo prevalece em
grande parte dos partidos comunistas. O próprio Khrushchev acompanhou
o entusiasmo revisionista internacional para aprofundar suas teses
revisionistas, definindo agora que na URSS não existia mais ditadura do
proletariado, mas sim “democracia de todo o povo”, que o partido já não
era um partido de vanguarda proletário mas sim “partido de todo o povo”,
que a coexistência pacífica deveria ter um caráter conciliador, que o
socialismo soviético em pouco tempo superaria as potências capitalistas
decadentes e chegaria ao comunismo, tendo essas teses apenas servido para
oficializar o fim da vigilância revolucionária no partido, Estado e
sociedade, ocasionando na proliferação da burocracia e mentalidade
burguesa.

Em 1960, Khrushchev organizou a Conferência de Bucareste, onde reuniu


diversos partidos comunistas para discutir determinadas questões, a
principal delas foi o ataque dos khrushchevistas às políticas da direção de
Mao Tse Tung na China, não vamos aprofundar aqui o conteúdo dessas
críticas, mas essas não tinham um intuito honesto, o objetivo dessa
conferência e dos ataques feitos à China foi desmoralizar a direção de Mao
Tse Tung e assim tentar submeter a China ao domínio soviético
khruschevista, mas essa tentativa foi frustrada, a delegação chinesa se
defendeu fortemente, os albaneses criticaram o caráter oportunista dos
ataques soviéticos e os partidos de fora do Pacto de Varsóvia se mantiveram
neutros. A consequência dessa conferência foi o rompimento e sabotagem
da União Soviética à Albânia em 1961 e com a China em 1964, sendo que
esses países sob a direção de Enver Hoxha e Mao Tse Tung foram os únicos
a romper completamente com o revisionismo khrushchevista e assim dar
início ao movimento anti-revisionista.

Após todo esse processo Khrushchev de fato derrotou a linha esquerda e


consolidou o poder da oculta linha direita no PCUS e no Estado,
expulsando os stalinistas remanescentes nos próximos anos. O golpe de
1957 não teve qualquer resistência revolucionária por parte da antiga
direção stalinista, mostrando que essa havia esquecido a vigilância
revolucionária e se estagnado em uma mentalidade de imobilismo legalista,
preferindo assim aceitar o golpe de Khrushchev para não causar uma crise
na unidade ao invés de levar a cabo uma resistência revolucionária e um
contra-golpe. O Partido Comunista da União Soviética foi totalmente
entregue ao revisionismo de Khrushchev, tal qual o seu antecessor na
direção do movimento comunista internacional, o Partido Social Democrata
da Alemanha, também havia acabado entregue ao revisionismo de Kautsky
e Bernstein, a tragédia histórica mais uma vez se repetiu como farsa.

Esses acontecimentos demonstram a necessidade universal de aplicação das


já citadas teses maoístas da linha de massas, luta de duas linhas, revolução
cultural, chefatura e também da tese do mar armado de massas
desenvolvida por Gonzalo, que consiste no armamento ideológico
militarizado das massas em milícias tão numerosas que superem a força de
coerção do estado nessas situações de golpes da linha direita, evitando
assim sua queda pelo imobilismo institucional legalista.

Portanto, é dever dos comunistas destruir esse imobilismo legalista que


prevaleceu na URSS “em nome da unidade e ordem” diante do golpe de
1957 e se manter vigilante para não cair em conspirações por poder como
foi com o golpe de 1953. (HOXHA, 1980)

O Governo Khrushchev – A Desagregação do Socialismo

Durante o restante do governo Khrushchev suas reformas revisionistas


foram aprofundadas, levando a destruição da ditadura do proletariado e do
modo de produção socialista, intensificando a burocracia, a repressão
estatal e a lógica de mercado capitalista. Ele fez um grande número de
reformas direitistas na União Soviética, que podem ser resumidas nestes
tópicos:

• A shift towards “market”-oriented reforms;


• A concomitant shift away from heavy industry and the manufacture of the
means of production, towards consumer-goods production;
• In international politics, a shift away from the traditional Marxist-Leninist
concept that war with imperialism was inevitable as long as imperialism exists,
to the avoidance of any direct warfare with imperialism at all costs;
• A de-emphasis on the working class as the vanguard of social revolution in
order to emphasize building alliances with other classes;
• A new notion that capitalism itself could be overcome without revolution by
“peaceful competition” and through parliamentary means;
• An abandonment of Stalin's plans for moving on to the next stage of socialism
and towards true communism. (FURR, 2011)

As reformas econômicas implementadas por Khrushchev de fato


restauraram o capitalismo na URSS, um capitalismo de estado onde a
classe burocrática (burguesia estatal) passou a ditar as diretrizes
econômicas com participação popular mínima, onde a mais-valia deixou de
ser coletivizada através da ampliação do mercado de consumo popular e
investimentos sociais eficazes, agora toda a economia funcionava de acordo
com a velha lógica de mercado capitalista adaptada ao estadismo e
planejamento econômico soviético.

A pior consequência dessas reformas econômicas foi o surgimento da


segunda economia, o mercado negro que cresceu sem parar até o fim da
URSS gerando grandes prejuízos econômicos. Essas reformas econômicas
representaram a vitória do pensamento burguês da linha direita do PCUS
que havia se expressado através da fração de Bukharin nos anos 1920-1930,
de Voznosensky nos anos 1940 e por fim de Khrushchev e de seus
sucessores até a dissolução da URSS, mais um vívido exemplo da
continuidade da luta de classes no socialismo. (KEERAN & KENNY,
2008; KHABAROVA, 2014).

Além das reformas econômicas, Khrushchev também consolidou seu poder


burocrático de partido através de uma série de manobras, os stalinistas e
alguns antigos aliados que passaram a criticar seus métodos arbitrários e
má gestão foram afastados a partir de 1958 e Khrushchev enfim assumiu a
direção do governo tornando-o uma mera extensão do partido. Os
burocratas dirigidos por Khrushchev depois desse conturbado processo para
manter sua própria sobrevivência tragicamente haviam vencido a política
antiburocráticas de Stalin, substituindo a ditadura do proletariado pela
ditadura burocrática de partido com limitada gestão democrática.

Acompanhado da tentativa de destruição da economia stalinista, era


necessário também destruir por completo Stalin enquanto dirigente e
indivíduo. Como já vimos, em seu infame discurso ao XX Congresso ao
PCUS, Khrushchev faz um ataque frontal à pessoa de Stalin, desferindo
inúmeras calúnias contra o mesmo, mas vale pontuar que a desestalinização
não foi um processo que se deu da noite para o dia, mas um longo e
delicado processo que aos poucos minou a memória de Stalin, processo
esse iniciado no XX Congresso do PCUS em 1956 e concluído no XXII
Congresso do PCUS em 1961 com o total rompimento à figura de Stalin.
Com os dados disponíveis atualmente acessíveis, o professor Grover Furr,
após um grande estudo sobre todas os crimes debitados contra Stalin por
Khrushchev, chega à seguinte conclusão:

I suspected that today, in the light of the many documents from formerly secret
Soviet archives now available, serious research might discover that even more
of Khrushchev's "revelations" about Stalin were false. In fact, I made a far
different discovery. Not one specific statement of "revelation" that Khrushchev
made about either Stalin or Beria turned out to be true. Among those that can be
checked for verification, every single one turns out to be false. Khrushchev, it
turns out, did not just "lie" about Stalin and Beria - he did virtually nothing else
except lie. The entire "Secret Speech" is made up of fabrications (FURR, 2011)

Porém o processo de desestalinização também enfrentou por diversas vezes


resistências que se deram por meio de manifestações e protestos, sendo o
mais notório o protesto em Tbilisi que contou com 60.000 trabalhadores
pedindo a retirada de Khrushchev da direção e a reabilitação de Stalin,
manifestação essa que foi reprimida com tanques levando a morte de 20
pessoas e cerca de 600 feridos. As reações entre as massas foram das mais
diversas, existindo diversos relatos daquelas que acreditam nas calúnias
contra Stalin com tristeza e confusão, outros que acreditaram com
entusiasmo e daqueles que desacreditaram, na defesa de Stalin, mas
sobretudo o que fez com que muitos acreditassem foi a confiança que
construíram na direção soviética, no processo democratico e centralizado
do partido e estado, sem ter a consciência dos objetivos de restauração
capitalista dessa nova direção oportunista e revisionista, já que todas as
maquinações capitalizantes e burocratizantes foram feitas por debaixo dos
panos, encobertas como "autocrítica e renovação socialista na fidelidade ao
marxismo-leninismo”, as massas foram enganadas de Khrushchev a
Gorbachev, e dificilmente as massas edificadas nesse espírito de confiança
por décadas poderiam ter tomado a conclusão de que houve a articulação de
um golpe oportunista por parte de Khrushchev, seus aliados e sucessores.

É evidente que esse espírito acabou por ser minado nos anos que seguiram,
com parte das massas, principalmente a intelectualidade e juventude,
desiludidas com todo esse circo passando a dar ouvidos ao
anti-comunismo, afinal, se os anti-comunistas estavam certos sobre Stalin
como confirmou Khruschev, também poderiam estar certos sobre o
comunismo de forma geral, é isso que o anti-stalinismo oportunista de
Khrushchev representou, uma arma do anti-comunismo que permitiu a
degradação do entusiástico apoio que as massas possuíam em relação aos
partidos comunistas, esses mesmos partidos que abraçaram o revisionismo,
se tornaram o centro do anti-comunismo, já que a formação e vigilância
revolucionária foi completamente destruída para evitar os “excessos
stalinistas” na depuração do partido e estado, permitindo todo tipo de
infiltração reacionária e burocrática, apenas reprimindo numa lógica
burocrática policial aqueles elementos que poderiam desestabilizar a
“ordem”, o que também proporcionou a morte da crítica, autocrítica e
desenvolvimento criativo do marxismo, exercendo a ditadura contra o
proletariado e não do proletariado.

No entanto cada vez mais o descontentamento com as reformas do governo


Khrushchev cresceu e foi expresso publicamente pelo povo, de toda
maneira Khrushchev não tolerou ser questionado e reprimiu toda forma de
contestação, estagnando e desgastando as bases de seu governo e da
estrutura soviética. (PRUDNIKOVA, 2007)

No campo internacional, vários países socialistas manifestaram seu repúdio


ao discurso de Khrushchev. O Partido Comunista da China, sob a liderança
do Presidente Mao Tse-tung, acusou o relatório do XX Congresso e a
política de Khrushchev de ser um verdadeiro fracasso para o movimento
comunista internacional:

The Open Letter of the Central Committee of the CPSU loudly proclaims the
“splendid” and “majestic results” of the 20th Congress of the CPSU.
But history cannot be altered. People not suffering from too short a memory will
recall that by its errors the 20th Congress produced not “splendid” or “majestic
results” but a discrediting of the Soviet Union, of the dictatorship of the
proletariat and of socialism and communism, and gave an opportunity to the
imperialists, the reactionaries and all the other enemies of communism, with
extremely serious consequences for the international communist movement.
(PCCH, 1965, p. 67-68)

Sobre a questão do papel de Stalin, o balanço traçado pelo Partido


Comunista da China é essencialmente correto tendo em vista o limitado
acesso que eles tiveram sobre os acontecimentos do governo Stalin, apesar
de fazerem críticas que hoje não cabem mais, lembram de seu importante
papel na construção do socialismo no país e do movimento comunista
internacional, o PCCh conclui que seus méritos sobrepuseram seus erros:

Stalin’s merits and mistakes are matters of historical, objective reality. A


comparison of the two shows that his merits outweighed his faults. He was
primarily correct, and his faults were secondary. In summing up Stalin’s
thinking and his work in their totality, surely every honest Communist with
a respect for history will first observe what was primary in Stalin. Therefore,
when Stalin’s errors are being correctly appraised, criticized and overcome, it is
necessary to safeguard what was primary in Stalin’s life, to safeguard
Marxism-Leninism which he defended and developed. (PCCH, 1965, p. 121)

Junto ao Partido Comunista da China, também tomaram parte desse debate


o Partido do Trabalho da Albânia, na direção de Enver Hoxha, e vários
outros Partidos Comunistas mundo afora. Assim ficará chamado o
Movimento Anti-revisionista, que lutara bravamente para denunciar a
restauração capitalista que estava sendo concretizada na União Soviética e
no bloco comunista, e para compreender de que maneiras evitar a ascensão
revisionista. A partir disso, dezenas de grupos alinhados contra o
revisionismo apareceram na URSS e outros países do bloco comunista
fazendo a oposição ao revisionismo, apesar de não terem conseguido
grande expressividade devido a forte repressão do estado. (SMITH, 2019)

A desestalinização khrushchevista se tornou uma arma para todos os


propagandistas capitalistas difamarem o movimento comunista, se antes
Stalin e o movimento comunistas eram vistos por muitos como
combatentes democráticos, agora esse prestígio foi dissolvendo cada vez
mais pela propaganda anti-comunista entremeada em todos os cantos da
sociedade, e até hoje esses mitos anti-comunistas são divulgados em
materiais historiográficos, livros didáticos e documentários como verdades
absolutas. Assim como movimentos políticos de todo tipo abraçaram o
anti-comunismo, o próprio movimento comunista em sua falta de firmeza
ideológica na aplicação do marxismo-leninismo se enfraqueceu e começou
a colapsar nos braços do khrushchevismo e neocomunismo.

Como já citado, a ascensão do revisionismo na URSS, também significou a


geralmente arbitrária ascensão do revisionismo em quase todos os partidos
comunistas do mundo e nos estados do bloco comunista, na Polônia, após a
morte do grande dirigente Boleslaw Bierut, Khrushchev indicou o vacilante
Edward Ochab, que sofreu os efeitos da desestalinização e ao discordar dos
rumos econômicos impostos de Khrushchev foi forçado a renunciar e
substituído por Wladyslaw Gomulka, um criminoso oportunista e
revisionista de longa de data que havia sido reabilitado com a
desestalinização, a completa incompetencia de Gomulka e de seus
sucessores tornou a Polônia um dos países mais instáveis do bloco
comunista, que passou por manifestações reacionários que quase levaram
um desastre contra-revolucionário em 1956, como já foi dito, no fim das
contas, Gomulka, o escolhido de Khrushchev, acabou por se tornar uma
pedra em seu sapato, tornando o governo da Polônia mais autônomo à
direita titoista em relação a URSS khrushchevista.

Na Checoslováquia, após a morte do grande dirigente Klement Gottwald, o


burocrata Antonín Zápotocký se submete a vontade de Khrushchev e leva o
país para os mesmos que a URSS apontava, que na próxima década levaria
ao fortalecimento de um movimento contra-revolucionario de liberalizantes
contrariando a “linha dura” soviética, ocasionando na bem conhecida
Primavera de Praga.
Na Mongólia, após a morte do grande dirigente Khorloogiin Choibalsan,
este foi sucedido pelo burocrata Yumjaagiin Tsedenbal, que tambem apenas
aceitou o julgo sovietico na Mongólia a sua vontade, sendo praticamente
uma extensão da URSS.

Na Bulgária, após a morte do grande dirigente internacional, Georgi


Dimitrov, este foi sucedido por Valko Chernenkov, que logo sofreu com o
processo golpista de Khrushchev e a linha direita búlgara sendo comparado
como “o Stalin bulgaro”, levando a sua demissão e substituição por Todor
Zhivkov, um dos mais bem adestrados cães soviéticos, levando a Bulgária a
ser um dos mais estáveis estados fantoches da URSS.

No entanto houveram exceções para alguns países, como o Vietnã de Ho


Chi Minh, Coreia Popular de Kim Il Sung e Romenia de Gheorghe
Gheorghiu-Dej, que conseguiram resistir consideravelmente a influência
imperialista soviética no campo político e econômico mantendo governos à
esquerda em relação ao revisionismo moderno, mas os que de fato
comporam o campo anti-revisionista e garantiram a plena construção do
socialiamo, foram apenas a Albânia de Enver Hoxha e China de Mao Tse
Tung. As revoluções que aconteceram nos governos seguintes a
Khrushchev, também foram em sua maioria subjugadas pelo imperialismo
sovietico, mostrando o quão predatório foi a política internacional
estabelecida por Khrushchev na submissão do movimento comunista
internacional a seus interesses mesquinhos, diametralmente opostas às
políticas de Stalin que incentivaram de todas as formas o desenvolvimento
soberano, criativo, internacionalista e de fato marxista-leninista dos
partidos comunistas internacionais e das democracias populares. (PCR-FV,
2020)

O primeiro desastre internacional das políticas khrushchevistas, foi o


levante fascista de 1956 na Hungria, dirigido pelas camadas mais
reacionárias da população e amplamente apoiado pela CIA contra o
governo comunista húngaro, este ocorreu porque Rakosi promoveu as
políticas de construção do socialismo sem possuir grande apoio popular e
condições materiais para isso, ocasionando em diversas dificuldades para o
país, além disso Rakosi (Secretário-geral e Primeiro-Ministro)
frequentemente intervinha nos processos jurídicos dos expurgos e promovia
métodos coercivos para conseguir confissões, esses expurgos tiveram
grandes proporções e colaboraram para a insatisfação popular.

Em junho de 1953 a alta delegação soviética e húngara se reuniram para


discutir esses problemas, nesse plenário Beria indicou que Rakosi deveria
parar de intervir nos processos jurídicos e abandonar os métodos coercivos:
“It is not right that Comrade Rákosi gives directions regarding who must be
arrested; he says who should be beaten. A person that's beaten will give the kind
of confession that the interrogating agents want, will admit that he is an English
or American spy or whatever we want. But it will never be possible to know the
truth this way. This way, innocent people might be sentenced. There is law, and
everyone has to respect it. How investigations should be conducted, who should
be arrested, and how they should be interrogated must be left to the
investigating organs.” (Transcript of the Conversations between the Soviet
Leadership and Hungarian United Worker's Party Delegation in Moscow on 13
June 1953.)

Além do mais no relatório “Sobre as Ações Criminosas Anti-Partido e


Anti-Estado de L.P. Beria” Khrushchev relata este diálogo:

“Lembremos como Rakosi (líder comunista húngaro) disse: Gostaria de saber


que é que decide o Conselho de Ministros e que o Comitê Central, que tipo de
divisão deve existir… Beria contestou tranquilamente: Que Comitê Central?
Deixemos que Conselho de Ministros decida e que o Comitê Central se ocupe
das suas funções de quadros e propaganda” (Stalin e a Luta Pela Reforma
Democrática, Grover Furr, 2005, p. 65-66)

No plenário foi indicado que Inre Nagy assumisse o cargo de Presidente do


Conselho de Ministro e Matyas Rakosi continuasse no cargo de
Secretário-Geral, a recomendação foi expressa por Beria mas isso não
necessariamente indica que a iniciativa tenha vindo dele, de qualquer
forma essa recomendação foi um erro e outro erro foi a crítica expressa ao
acúmulo de cargos que como já vimos foi uma iniciativa de Khrushchev
aceita como correta por todo o Presidium, incluindo Beria, por mais que
esse ainda acumulasse cargos.

Nagy começou a expressar abertamente suas tendências revisionistas em


1954 e em 1955 Rakosi depois de um exaustivo debate e expurga no
partido, mas Khrushchev interveio na política húngara e forçou a demissão
de Rakosi e da linha esquerda em prol de Nagy, estabelecendo a direção da
linha direita no governo e Kadar (um titoista reabilitado em 1954) no
partido, gerando um cenário de caos político e desastrosas reformas que
ocasionaram em descontentamento popular, foi nesse cenário que o
governo khrushchevista promoveu um evento de reabilitação das “vítimas
do stalinismo” que acabou se transformando numa violenta manifestação
contrarrevolucionária que arrastou junto a si parte da população
descontente. O governo Nagy em uma manobra oportunista passou a apoiar
a contrarrevolução e em desesperada reação o partido dirigido por Kadar
pediu a intervenção do Pacto de Varsóvia após dias desse caos que tambem
já estava a ser aplaudido por anti-comunistas e por certos revisionistas
como o governo polones de Gomulka que exaltaram o levante fascista uma
"insurreição popular pela autonomia nacional”, o pedido foi atendido e a
intervenção esmagou o levante contrarrevolucionário, cuja China e Albânia
decidiram apoiar a intervenção pela gravidade do caráter reacionário e
fascista dessa contrarrevolução, essa tragédia permitiu que o governo Kadar
se estabelecesse com uma maior autonomia à direita titoista em relação a
URSS khrushchevista, consolidando assim a tríade do comunista nacional
titoista no “bloco comunista”, Iugoslávia de Tito, Polônia de Gomulka e
Hungria de Kadar, este foi apenas o início das desastrosas consequências
das políticas internacionais de Khrushchev. (MARTENS, 2018) (HOXHA,
1980)

Um dos outros grandes desastres foi a construção do Muro de Berlim em


1961, o marco de uma nação dividida, como já vimos, a URSS tentou por
diversas vezes unificar e neutralizar a Alemanha antes da RFA entrar
definitivamente na OTAN e que essas políticas pela unificação foram
abandonadas quando Khrushchev chegou à direção do partido em 1954.
Também se sabe que, historicamente, a parte Oriental sempre foi mais
pobre que a ocidental, e que após a guerra, a situação se manteve. Portanto,
desde o início, o governo da RFA oferecia melhores salários e condições de
vida, ainda que a legislação trabalhista e de seguridade social fosse muito
maior do lado oriental. Por fim, a RFA foi isenta de todas as dívidas da
guerra, ao passo que a RDA teve que arcar com tudo. Isso levou a uma
crescente taxa de imigração do leste para oeste, tendo a população da RDA
encolhido cerca de 10% na primeira década de sua existência (GOWANS,
2009).

O governo comunista da RDA, tinha como dirigente oficial Wilhelm Pieck,


um destacado líder comunista nos anos de combate revolucionário, no
entanto quando a RDA foi estabelecida este já estava com sua saúde muito
debilitada, vindo a falecer em 1960, deixando pouquíssimas informações de
suas posições sobre os rumos da Alemanha, por tanto o líder factual do
regime sempre foi o dirigente do partido, Walter Ulbricht, que também viria
a suceder a chefatura do estado, este, sabemos muito bem as posições,
tendo sido um esquerdista que promoveu de forma desorganizada a rápida
construção do socialismo na RDA sem bases materiais e de apoio popular
para este feito.

Quando Khrushchev chega ao poder, Walter Ulbricht abraça


completamente as políticas khrushchevistas, agora completamente
endossado pela URSS, este governo cheio de desvios perigosos, conduziu
uma série de políticas incorretas no país recém-formado, que foram
combatidas inicialmente por Stalin e depois Beria e seus partidários no
Comitê Central antes de sua queda, provocando um crescente
descontentamento dos trabalhadores alemães, o que é destacado pelo
levante popular de 1953 enquanto Stalin ainda estava vivo, cuja foi
necessária a infelizes repressão militar soviética para normalizar a situação.
(ALLIANCE, 2003).

Todos esses fatores, somados à constante sabotagem e espionagem


promovida por agentes americanos no país (que facilmente podiam cruzar a
fronteira), levaram à construção do Muro (GOWANS 2009). O fato é:
haviam problemas reais a serem resolvidos pelo governo comunista da
Alemanha Oriental. Entretanto, a construção do Muro foi uma atitude
totalmente precipitada, que apenas escancarou os problemas ao invés de
resolvê-los. O Muro de Berlim refletia novamente a incapacidade de
Khrushchev de lidar com problemas da construção do socialismo. Era
possível encontrar pichações do lado ocidental do Muro com as seguintes
inscrições: “UNTER STALIN GAB ES KEINE MAUER! (SOB STALIN
NÃO HAVIA MURO!).

A última grande tragédia internacional do governo Khrushchev foi a Crise


dos Mísseis Cubanos em 1962, como sabemos, em 1959 ocorreu a
revolução cubana, estabelecendo o governo nacionalista de Fidel Castro,
que devido as repressalias dos EUA e influencia dos militantes comunistas
de Cuba, acabou por se aproximar da URSS e aderir ao estabelecimento do
regime comunista, este que tambem caiu nos braços do imperialismo
sovietico, sofrendendo pesada influencia e subjulgação politica e
economica ao modelo khrushchevista.

Após os EUA estabelecer mísseis nucleares em bases na Turquia e Itália a


URSS em contraofensiva estabeleceu mísseis em Cuba, porém isso gerou
uma série de tensões diplomáticas contra a URSS, Khrushchev querendo
evitar o aumento dessas tensões de guerra fria conseguiu um acordo pouco
favorável de retirada dos mísseis, o que não agradou Fidel Castro que as
queria usar como arma diplomática e de garantia de sua soberania, isso
mostra que de fato com Khrushchev a política externa da URSS de
“Coexistência Pacífica” se tornou confusa e conciliadora aos interesses do
imperialismo da OTAN, este evento gerou uma enorme comoção
internacional como o ápice da ameaça nuclear e também foi uma grande
demonstração da incompetência de Khrushchev para o mundo,
desmoralizando mais ainda a URSS. (PCR-USA, 1977)

Em 1964 o próprio governo Khrushchev havia se tornado extremamente


impopular e improdutivo, levando assim a Leonid Brezhnev executar um
golpe de Estado que sem qualquer transtorno exonerou Khrushchev da
direção do partido e assim se colocou em seu lugar, os anos que se
seguiram até a dissolução da URSS deram continuidade a essência das
políticas khrushchevistas agora adaptada aos caprichos dos novos
dirigentes. (MARTENS, 1990)

Para concluir me resta dizer que essa produção textual que vos apresentei
demonstra em primeira mão (no Brasil) com muitos detalhes as políticas
dos últimos anos da direção de Stalin, reafirmando a sua lucidez no
combate à burocracia e aperfeiçoamento do socialismo refutando assim
todas as principais acusações de “crimes” ou deficiências atribuídas à Stalin
no período de 1946-1953, detalha o processo de ascensão de Khrushchev
desmentindo as dezenas de especulações e mentiras khrushchevistas sobre
os anos de 1953-1957 e ,por fim, de forma mais resumida mostra as
negativas consequências do governo Khrushchev de 1958-1964, dando
ênfase à necessidade que Khrushchev e os khrushchevistas (burocratas,
revisionistas-direitistas e oportunistas) tiveram em destruir por completo a
memória e legado de Josef Stalin, dando todas as armas para a burguesia
internacional caluniar Stalin com respaldo da União Soviética. Mas a
memória e legado de Stalin não permanecera manchado por mentiras pois
como o mesmo disse (CHUEV,1993):

“Eu sei que após a minha morte jogarão muito lixo sobre o meu


túmulo, porém os ventos da história os removerão” - Josif
Vissarionovich Dzhugashvili Stalin

BIBLIOGRAFIA:

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Work of the Central Committee of the C.P.S.U. – Josef Stalin

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(часть II) - Лев Балаян
(HOXHA,1980): The Khruschevites – Enver Hoxha

(MIRONIN,2007): Ленинградское дело – надо ли ставить


кавычки? - С. С. Миронина
NOTA SOBRE O AUTOR: Muitos historiadores contestam as obras de
Mironin pelo seu caráter notoriamente anti-científico e conspiracionista,
porém seu artigo sobre O Caso de Leningrado é o mais completo e
aparentemente correto que tivemos acesso, sendo esse assunto ainda
muito nebuloso pela falta de documentação primária.

(MALENKOV,1952): Report to the Nineteenth Party Congress on the


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(STALIN,1952): Iosif Stalin, Unpublished Speech at the Plenum of the


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(MIKOYAN,1999): Так было - Микоян Анастас Иванович

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Ludo Martens

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