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RESUMO
Este trabalho visa discutir as relações de hospitalidade estabelecidas entre ‘visitantes’ e
‘visitados’ no ‘turismo de base comunitária’. O contexto de análise se dá no vilarejo dos
Três Picos, na zona rural do município de Nova Friburgo (RJ). Os dados aqui interpretados
foram levantados por meio de pesquisa qualitativa de base etnográfica, a partir de
observação direta e entrevistas em profundidade com moradores locais. Esse processo
resultou no estabelecimento de trocas e relações, marcadas pela hospitalidade, entre as
pesquisadoras e o grupo pesquisado. O contato entre turistas e moradores tem levado à
reelaboração das práticas de hospitalidade local, o que nos aponta para o caráter cultural,
condicional e dinâmico desta noção, que tem as suas regras constantemente negociadas a
partir do encontro entre diferentes grupos sociais e suas demandas.
PALAVRAS-CHAVE
Hospitalidade. Turismo de base comunitária. Identidade cultural. Três Picos, Nova
Friburgo, RJ, Brasil.
1
RESUMO EXPANDIDO
Como todo fenômeno social, a hospitalidade pode ser analisada por diversos ângulos: desde
um ponto de vista filosófico, com o enfoque nos seus aspectos éticos e estéticos, assim
como pela abordagem das ciências sociais, com o interesse em compreender suas dinâmicas
e significados na sociedade (Camargo, 2015). Essa segunda aproximação é a que adotamos
neste trabalho, com o objetivo de discutir as relações de hospitalidade estabelecidas entre
‘visitantes’ e ‘visitados’ no turismo comunitário, tendo em vista as suas peculiaridades
quando desenvolvido no meio rural.
O contexto de análise se dá em Três Picos (Nova Friburgo, RJ), vilarejo marcado pela
agricultura familiar e, mais recentemente, por atividades de turismo. Por meio de uma
pesquisa qualitativa de base etnográfica, realizamos entrevistas em profundidade e
observações diretas com moradores locais. Esse processo resultou no estabelecimento de
trocas e relações de hospitalidade entre o grupo pesquisado e as pesquisadoras –
identificadas como ‘turistas’ por vários entrevistados. Tais trocas permitiram-nos inferir que
as relações entre população receptora e visitantes têm levado à reelaboração das práticas de
hospitalidade local, interpretadas como um traço identitário dos moradores. Isso nos aponta
para o caráter cultural, condicional e dinâmico desta noção, que tem suas regras
constantemente negociadas a partir do encontro entre diferentes grupos sociais e os
interesses que representam – sobretudo nas experiências de turismo comunitário, nas quais
as formas de vida da comunidade e a sua identidade cultural representam parte dos produtos
turísticos oferecidos (Grünewald, 2003).
Três Picos localiza-se no 3º Distrito de Nova Friburgo/RJ. Sua população é constituída por
cerca de 40 famílias vinculadas à agricultura familiar. Diante das dificuldades de
escoamento e da variação dos preços de sua produção agrícola, diversos produtores
recorrem à pluriatividade3 para garantir seu sustento. Sendo assim, passam a dividir o
tempo de trabalho na lavoura com a prestação de serviços no comércio, na construção civil,
3
A ‘pluriatividade’ se refere à inserção plural de famílias agricultoras em atividades econômicas e no mercado
de trabalho, para além de atividades agropecuárias (Carneiro, 2012).
2
e em empregos domésticos oferecidos principalmente por moradores neorrurais4. Mais
recentemente, também com atividades relacionadas ao turismo.
A presença de turistas em Três Picos, todavia, não é algo novo. Desde a década de 1920, a
localidade é visitada por montanhistas que escalam as montanhas do entorno (Inea, 2013).
Em 2002, porém, a criação do Parque Estadual dos Três Picos (PETP) passou a atrair
visitantes voltados ao ecoturismo e ao turismo rural. Alguns produtores despertaram, então,
para a possibilidade de oferecer-lhes produtos e serviços, o que também parece ter sido
impulsionado pelo surgimento de empreendimentos turísticos gerenciados por neorrurais.
Em 2010, um jovem, filho de agricultores, associado a uma moradora neorrural, abriu a
primeira pousada da região, inaugurando o ‘turismo rural comunitário’ em Três Picos.
Iniciaram, então, um trabalho de valorização de práticas tradicionais locais (como a
ordenha da vaca, o debulhar do feijão, a fabricação artesanal de broas, entre outras) visando
à criação de atrativos turísticos e do ‘Circuito Turístico Três Picos’, nesse mesmo ano.
Em Três Picos, a maior parte das pessoas não tem intimidade com os princípios da
‘hospitalidade comercial’, sobretudo os agricultores. Poucos são os que viajam e têm acesso
ao papel social de ‘turista’. Por isso, muitos agem de modo intuitivo frente ao turismo,
4
A noção de ‘neorrurais’ refere-se aos citadinos que decidem morar no campo, motivados pela ‘qualidade de
vida’ por eles identificada no meio rural.
3
aprendendo com os visitantes. A atividade comercial no vilarejo tem forte influência de
uma ética própria da ‘hospitalidade doméstica’, na qual predominam as trocas e contratos
informais. Como exemplo, poderíamos citar o fato de o dono da pousada sentar à mesa para
compartilhar as refeições e ter ‘dois dedos de prosa’ conosco, pesquisadoras, mas também
hóspedes e turistas – uma vez que esse tem sido para eles o lugar por nós ocupado ao longo
do trabalho de campo (Ferreira & Mororó, 2017).
Em suas várias formas, a hospitalidade pode gerar sentimentos que vão desde a amizade até
algum nível de conflito e hostilidade (Camargo, 2015). Trata-se de uma noção
culturalmente condicionada (Spolon, 2017). Por isso, um mesmo gesto pode ser
interpretado de diversas maneiras, de acordo com os referenciais culturais dos sujeitos em
interação. O ‘amadorismo’, a rusticidade e o que ‘falta em infraestrutura’ em Três Picos,
pelo olhar de quem vive no meio urbano, pode representar certa inospitalidade no trato com
o visitante, assim como um diferencial positivo do turismo no vilarejo. Um entrevistado
neorrural nos falou da necessidade de ‘profissionalizar’ o turismo local. Por outro lado,
vários visitantes se mostram encantados com a acolhida oferecida – principalmente em
avaliações nas redes sociais5.
4
demandando, portanto, a preservação de suas especificidades e tradições (Cristóvão &
Pereiro, 2012).
Além disso, a urbanidade lida com formas de hospitalidade cada vez mais ‘miniaturizadas’
e automáticas – que se expressam em gestos como os sorrisos contidos ou a arte de olhar
para a direção oposta ao cruzar com um desconhecido (Le-Bras, 1997). Na cidade, a
hospitalidade está traduzida, pelo anonimato, em regras gerais que regem o contato
humano. Como uma espécie de hospitalidade ensaiada, nos são ensinados gestos de
aceitação e recusa que, não raro, se transformam em atos de hostilidade (Camargo, 2015).
Em Três Picos os moradores são confrontados com essas diferenças. De certa forma, são
pressionados a manter graus de solidariedade em suas relações internas, assim como gestos
de uma hospitalidade ‘do passado’, em falta nas atuais relações urbanas. Mas no que resulta
essa demanda? Como atendê-la se as fronteiras entre o rural e urbano, entre o local e o
global, são cada vez mais complexas e difíceis de delimitar?
5
refeições à base de trutas, para conseguirem recursos para as obras. Assim surgiu o
restaurante, com sugestões ‘de fora’ na sua estruturação e composição do cardápio.
Este caso nos fez refletir sobre como o turismo em Três Picos se constitui em função de
fatores externos, como a criação do Parque, os montanhistas, os neorrurais, os visitantes de
ecoturismo e turismo rural – o que não impede que tenha se tornado uma demanda dos
próprios moradores.
6
frente às demandas dos turistas (influenciados por certa romantização do ‘rural’ e do
‘comunitário’).
REFERÊNCIAS
7
Baptista, I (2002). Lugares de hospitalidade. In Dias, C.M. (Org.) Hospitalidade, reflexoes
e perspectivas. São Paulo: Manole
Cuche, D. (1999). Cultura e identidade. In A noção de cultura nas ciências sociais (p.
175-202). Bauru: Edusc.
Ferreira, H., & Mororó, V. (2017). Turismo rural comunitário e hospitalidade: A dinâmica
entre o ethos familiar e a ética comercial, em Três Picos/ RJ. Lecture Invtur,
Universidade de Aveiro, Portugal.
Inea. (2013). Plano de manejo Parque Estadual dos Três Picos (PETP).
8
Maldonado, C. (2009). O turismo rural comunitário na América Latina. In Sansolo, D.G,
Burstyn, I & Bartholo, R. (Orgs) Turismo de Base Comunitária: Diversidade de
olhares e experiências brasileiras (p. 25-44). Brasília: Letra e Imagem.
9
A HOSPITALIDADE E O TURISMO RELIGIOSO
RESUMO
O presente estudo buscou investigar a estratégia competitiva de destinos turísticos religiosos, tendo como
problema de pesquisa: como ações de hospitalidade e a oferta de serviços turísticos contribuem para a
obtenção de vantagem competitiva em um destino religioso? Com o objetivo geral: compreender a relação
entre os serviços turísticos ofertados e as ações de hospitalidade promovidas pelo Santuário Nacional de
Nossa Senhora Aparecida e suas contribuições para com o visitante. Buscou-se também identificar qual a
relevância da hospitalidade para os gestores do Santuário e os visitantes; analisar quais são as relações entre
a hospitalidade nos serviços ofertados e a estratégia de competitividade do Santuário; identificar os
principais stakeholders do Santuário e as relações sociais existentes entre eles. Três hipóteses foram
testadas e confirmadas. Como metodologia, optou-se por uma pesquisa empírica de caráter exploratório e
descritiva, quali-quantitativa, adoção do método de estudo de caso único conforme proposto por Yin
(2015), e utilizando-se do método de categorização de Bardin (1977) para análise de conteúdo.
PALAVRAS-CHAVE
RESUMO EXPANDIDO
1 Mestranda em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/2323197831049888 . E-mail: ana.c.g.antunes@gmail.com
2 Doutora. Professor na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo (a)
http://lattes.cnpq.br/4904816535433696; E-mail: ewada@uol.com.br
1
O turismo religioso, assim como o próprio turismo, apresenta-se como um fenômeno
múltiplo, de caráter complexo, abrangendo diferentes significados e motivações e
podendo ser analisado e compreendido por meio de abordagens diversas (Schneider &
Santos, 2013b). Neste sentido, o turismo religioso pode ser uma oportunidade
significativa para o desenvolvimento do turismo, já que os turistas com razões religiosas
revelam-se mais fiéis aos destinos turísticos que visitam do que os com outras motivações
(Salgado, 2003).
Para Trigo e Mazaro (2012, p. 498) o “turismo é um fenômeno com muitos fatores
econômicos positivos: cria empregos, gera impostos e o desenvolvimento. Mas se for mal
planejado e implantado, pode ser fator de poluição, exclusão social, concentração de
renda [...]”. Ruschmann (2003, p.83) afirma que “o planejamento é uma atividade que
envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos
propostos”. Tem-se, portanto, o planejamento como um sistema, um processo, um
mecanismo de ação voltado para o futuro.
Nas práticas religiosas, o princípio do bem acolher, do bem-estar das partes envolvidas,
concorre para que se produzam trocas simbólicas, negociações de demandas, laços de
hospitalidade (Schneider & Santos, 2013a). Camargo (2002, p. 5) também mostra a
ligação entre a hospitalidade e religião quando afirma que a hospitalidade foi e ainda é o
princípio básico de um grande número de ordens religiosas católicas: “desde os primeiros
beneditinos e cistercienses, cujos mosteiros até hoje cultuam as regras originais da
2
hospitalidade [...], até as mais recentes ordens e congregações religiosas”. Para Grinover
(2002) hospitalidade é sinônimo de acolher, receber, hospedar, boa acolhida, gentileza e
amabilidade. Lashley (2004, p. 21) complementa que “a hospitalidade é o relacionamento
que se tem entre anfitrião e hóspede”.
3
necessidade de ampliar as discussões sobre o turismo religioso, entendido como um
segmento promissor na área de turismo, tendo como problema da pesquisa: como ações
de hospitalidade e a oferta de serviços turísticos contribuem para a obtenção de vantagem
competitiva em um destino religioso?
H2. Os serviços turísticos ofertados pelo Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida
influenciam positivamente a satisfação dos visitantes.
H3. Existe uma relação de hospitalidade entre o Santuário Nacional de Nossa Senhora
Aparecida e seus stakeholders.
De acordo com os objetivos estabelecidos, optou-se por realizar uma pesquisa empírica
de caráter exploratório e descritiva. Quanto à natureza dos dados, a pesquisa é
denominada qualitativa e quantitativa ou quali-quantitativa.
4
Como primeira etapa elaborou-se um referencial teórico fundamentado em uma pesquisa
bibliográfica. As bases de dados consultadas neste estudo foram Scielo, Google
Acadêmico e o Portal da CAPES, para busca de artigos relacionados ao tema e periódicos
científicos disponibilizados em sites de buscas online, para tanto, foram utilizadas as
palavras-chave deste estudo.
3
Amostragem por bola de neve.
5
As questões fechadas do questionário foram fundamentadas na Escala Likert de 5 pontos,
sendo 5 questões para classificação demográfica e 20 questões divididas em 4 categorias
sendo que três categorias foram baseadas nas dimensões da hospitalidade definidas por
Camargo (2004) tais como: receber, alimentar e entreter; e a quarta categoria foi definida
como serviços, uma vez que um dos objetivos do estudo é analisar se os serviços
ofertados por destinos religiosos fazem a diferença durante a visita do fiel. Os
questionários foram distribuídos via e-mail e não houve identificação dos respondentes.
Foi utilizado um formulário na ferramenta Survey Monkey, com posterior tabulação em
Excel e análise estatística pelo software SPSS Statistics.
Visto que a hospitalidade tem uma abrangência multidisciplinar e que envolve, dentre
outros aspectos, recepção, acolhimento, alimentação, entretenimento, tratamento afável,
valorização e manutenção das tradições culturais e religiosas, é indiscutível sua relação
com o turismo religioso. Além disso, sua prática é considerada um importante diferencial
competitivo.
No que diz respeito aos procedimentos metodológicos adotados, a união dos métodos
qualitativo e quantitativo foi favorável, pois permitiu uma análise completa. As
entrevistas possibilitaram entender a percepção dos gestores do Santuário sobre a gestão
da hospitalidade. Já a aplicação do método quantitativo propiciou o cruzamento dos
dados e a confirmação das hipóteses.
Como esperado, os resultados da pesquisa mostraram que turistas religiosos também tem
interesse em entretenimento como parte da religião quando visitam um destino religioso.
6
Compreender um evento religioso na perspectiva dos devotos pode ajudar gestores de
turismo e tomadores de decisão a mantê-lo mais fidedigno.
Após as análises, percebe-se que por trás dos projetos de construção dos complexos
turísticos religiosos existem vários grupos sociais agindo. Políticos, empresários, clero,
moradores e visitantes utilizam-se de estratégias diferentes para que o capital simbólico
que representa a sacralização do local possa ser efetivamente produzido, acumulado e
distribuído em campos específicos. Com a nova configuração em prol de um turismo
religioso, estes bens simbólicos, expressos na forma de crenças, mitos, histórias, práticas
e principalmente, devoções, são absorvidos pela instituição religiosa, que mais uma vez
os reorganiza, os sistematiza e os torna legítimos.
REFERÊNCIAS
7
Camargo, L. O. de L. (2004). Hospitalidade. São Paulo: Aleph.
8
Ventos-Turismo e Hospitalidade, 5(4), 577-591.
Trigo, L. G. G., & Mazaro, R. (2012). Movimentos globais e cenários em turismo: uma
realidade dinâmica, uma viagem ao futuro. Revista Turismo em Análise, 3 (23),
486-508.
Wada, E. K.; & Moretti, S. L. do A. (2014). Hospitalidade: dos domínios às lentes e sua
inserção nos processos de gestão. Caderno de Estudos e Pesquisa do Turismo,
(3)1, 95-105.
9
A HOSPITALIDADE NO VAREJO DA MODA:
A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO
Ao entender o processo criativo e a sua estruturação como uma interação entre atores no
contexto da produção de um produto assume-se que há aproximação conceitual entre
economia criativa (Howkins, 2013) e a hospitalidade (Lashley, 2004, 2007 e 2015 e Lugosi,
2008 e 2009). Este estudo busca apresentar o processo criativo oriundo das interações entre
ideia, operacionalização e tangibilização da criatividade no espaço comercial de produtos
da moda. Assim, o problema de pesquisa deste artigo é: em que medida o espaço da
prestação de serviços (loja) formatado a partir dos conceitos de hospitalidade contribui
positivamente aos negócios da moda? A partir da pesquisa exploratória, com abordagem
qualitativa, por meio da entrevista não estruturada com dois participantes, cujas credenciais
são: o primeiro, mestre em design da moda e o segundo gerente de visual merchandising da
Calvin Klein/Brasil. As reflexões deste estudo apontam que a criatividade expressa no
ambiente do varejo de moda concebida pelo processo criativo, na construção do espaço
para exposição dos produtos, pode ser entendido como um espaço hospitaleiro.
1
Doutora em Administração Pública e Governo, FGV-SP. Professora e pesquisadora no Programa de Pós-
Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. E-mail:
roseanebmarques@yahoo.com.br
2
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo,
SP, Brasil. E-mail: brc2908@gmail.com
1
RESUMO EXPANDIDO
2
interação, mas o relacionamento e todas as consequências que nascem desse encontro. A
discussão a respeito do encontro, no contexto da hospitalidade, recebe contribuições de
Alain Montandon (2011), que enfatizará as características do espaço (local), do tempo
(momento) e dos atores envolvidos. Esta perspectiva conceitual pautada no momento do
encontro, em um espaço específico, cujos atores estão preenchidos cognitivamente de
conteúdos analíticos da complexidade humana evidencia o caráter efêmero da
Hospitalidade.
3
co-criação e formatação do espaço objetivando qualifica-lo como hospitaleiro aproxima-se
da discussão a respeito da economia criativa em Howkins (2000). O autor ao fazer uma
abordagem a respeito da criatividade enfatiza que o processo criativo é inerente à condição
humana.
A Nações Unidas (2010) aponta que não existe consenso a respeito da definição do termo
criatividade, que pode ser tanto um atributo humano como um processo pelo qual ideias
originais são criadas e sugerem que a criatividade pode ser artística, científica e econômica.
A criatividade artística compreende a imaginação e a capacidade de gerar ideias originais e
novas maneiras de interpretar o mundo, expressas em texto, som e imagens. A criatividade
científica envolve curiosidade e disposição para experimentar e fazer novas conexões ao
solucionar problemas. Enquanto que a criatividade econômica é um processo dinâmico que
leva à inovação em tecnologia, práticas de negócios, marketing, entre outros, sendo
intensamente relacionada à aquisição de vantagem competitiva na economia. O relatório
aponta ainda que estas três características da criatividade estão inter-relacionadas e
compreende, em menor ou maior grau, a criatividade tecnológica.
Assim como a criatividade, a economia criativa não tem um consenso conceitual por parte
dos autores. O relatório das Nações Unidas (2010) trabalha com a definição da Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) que enfatiza os ativos
criativos, oriundos das indústrias criativas, que têm potencial em gerar crescimento e
desenvolvimento econômico por meio do estímulo à geração de renda, empregos, inclusão
social diversidade cultural e desenvolvimento humano. A economia criativa compreende
aspectos econômicos, culturais e sociais nas dimensões tecnológicas, de propriedade
intelectual e turismo. Desta forma, ela pode ser definida como um conjunto de atividades
econômicas pautadas em conhecimento e na interação com a abordagem da economia
tradicional em suas dimensões micro e macroeconômica.
4
memorável. Neste trabalho realiza-se o recorte de economia criativa, mais especificamente
no segmento da moda de varejo e a partir da análise dos espaços de ponto de venda da
marca Calvin Klein, no Brasil. A comparação e análise entre as características do segmento
de varejo, nos negócios da moda, os elementos de manifestação da hospitalidade na
formatação do espaço comercial e a discussão a respeito da economia criativa está
fundamentada na pesquisa realizada, preliminarmente, em maio de 2017.
Entre os meses de Junho e Julho, 2017, foram investigadas as lojas da marca Calvin Klein,
na cidade de São Paulo, para uma atividade de percepção do ambiente e dos componentes
denominados criativos e hospitaleiros. Este resumo expandido apresenta a análise descritiva,
dos resultados teóricos e das entrevistas, cujos resultados foram elucidados a partir do
referencial teórico da hospitalidade.
5
uma atitude inerente a personalidade, uma classificação de suas experiências relacionando
as melhores experiências a uma facilidade de incorporar elementos dessa mesma interação
em cenários, rituais artísticos ou até mesmo objetos posteriormente produzidos. Além disso,
ao analisar ambos os profissionais deste mercado, algumas semelhanças na estrutura de
conceber e organizar o processo criativo foram registradas. Os resultados dessa primeira
etapa de entrevistas permitem as conclusões descritas a seguir.
Para o Sergio, que além de produzir alguns de seus objetos como designer, leciona para a
graduação das turmas de Design e Moda em Universidade do Rio de Janeiro, a interação
com os ambientes normalmente tem o papel de despertar-lhe o interesse, chamando mais ou
menos a atenção para o que está sendo apresentado. O que relata o profissional é uma
constante interação “100% dependente do quanto se é bem recebido em determinado
espaço [sic]”. Ao perceber o processo criativo do Gabriel, especialmente considerando suas
atuações numa empresa multinacional, o ambiente em que as ideias e processos criativos da
área de Visual Merchandising são concebidos, a hospitableness percebida nos encontros de
grupos de trabalho afetam na clareza da exposição e da interpretação das ideias e
consequentemente na tradução (literal ou não) dos conceitos que a marca expõe em suas
vitrines.
6
produtos, pode ser entendidas como um espaço hospitaleiro. Entende-se, contudo, que uma
ideia criativa, concebida e operacionalizada sob o prisma da hospitalidade influencia
positivamente a percepção de seus consumidores quanto ao serviço prestado.
REFERÊNCIAS
7
Camargo, L. O. (2015) Os interstícios da hospitalidade. Revista Hospitalidade, 12(n.
especial).
Howkins, J. (2013). Economia Criativa: como ganhar dinheiro com ideias criativas. São
Paulo: M. Books do Brasil.
Telfer, E. (2000). The philosophy of hospitableness. In: Lashley, C. & Morrison, A. (eds.).
In search of hospitality: theoretical perspectives and debates. Oxford: Butterworth-
Heinemann, p. 38-55.
8
ACESSIBILIDADE NO TURISMO:
1
Tecnóloga em Gestão de Turismo. Instituto Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil. E-mail:
condominiosalad@hotmail.com.
2
Tecnóloga em Gestão de Turismo. Instituto Federal de Sergipe. Aracaju, SE, Brasil. E-mail:
kakaxinha@hotmail.com.
3
Doutor. Instituto Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/2083645926095500. E-mail: liciovalerio@gmail.com.
1
RESUMO EXPANDIDO
As Pessoas com Deficiência (PCDs) têm desejos de realizar suas viagens, os quais são de
extrema importância pelo direito garantido pela Constituição, mas também pelas
possibilidades socialização promovidas pelo turismo. O Ministério de Turismo (2009)
declara um novo tipo de turista formado pelas Pessoas com Deficiência (PCDs) e de
mobilidade reduzida. Essas buscam satisfação pessoal ao desfrutar de uma viagem sem
nenhum tipo de barreira, conduzindo-os para uma prática de turismo de igualdade para
todos, solidariedade e a acessibilidade nós equipamentos turísticos. Para que esse novo
perfil seja contemplado fazem-se necessárias adaptações na infraestrutura nos locais
turísticos, nos transportes, nas vias de acesso, bares, restaurantes, aeroportos, shoppings,
teatros entre outros atrativos turísticos. (Brasil, 2009).
Esta pesquisa teve caráter exploratório, porque visou proporcionar maior familiaridade
com os problemas estudados, ou uma nova forma de considerá-los a partir de entrevistas
2
com pessoas que tenham experiências com o problema e análise de exemplos que
facilitem a compreensão (Lima, 2015). Teve uma abordagem qualitativa com base
essencialmente nos contextos, assim como nas significações individuais que as pessoas
imprimem às suas experiências. (Lima, 2015). Os instrumentos de pesquisa utilizados na
coleta de dados foram dois questionários com questões abertas e fechadas, sendo um para
um grupo de andantes e outro para cadeirantes. Os levantamentos foram complementados
com observação sistemática em campo, considerando as questões de infraestrutura dos
equipamentos de lazer e de turismo de Aracaju (Gil, 2009).
A definição de turismo na mente das pessoas é ver amigos, sair de casa, passear, tirar
férias ou até mesmo usar seu tempo livre de lazer para praticar esporte, correr, tomar
banho de sol e aproveitar o espaço. Porém o turismo vai além desse pensamento e
considera outros elementos como participação em convenções, reuniões de negócios ou
alguma atividade profissional como viagens de estudos acadêmicos. (Goeldner; Ritchie,
2009). Por outro lado, os viajantes utilizam várias formas de se locomover, seja em
carros, táxi, avião, ônibus e suas motivações estão cada vez mais envolvidas com o
turismo para suas viagens como um composto de atividades de diversos setores, como a
hospedagem, guiamento, transportes, infraestrutura, dentre outros elementos que
compõem o sistema turístico. (Goeldner & Ritchie, 2009).
Para Ferreira (2003), fazer turismo significar fazer viagem. No entanto, nem toda viagem
se configura como um deslocamento turístico. O trânsito de pessoas em transportes
públicos dentro de seus espaços habituais de convívio (trabalho, escola, compras etc.), as
3
viagens a estudo e a trabalho ainda que lugares não habituais como ocorrem com
imigrantes, diplomatas ou membros das forças armadas em missões não são considerados
como turismo. Esse mesmo autor define o turista como pessoas que se deslocam de um
lugar para o outro, temporariamente com pernoites fora do local habitual de habitação.
O crescimento das viagens de turismo ainda não permitiu que todos os segmentos da população
fossem beneficiados para desfrutar do turismo de lazer. Pessoas com deficiência de diferentes
tipologias e pessoas com mobilidade reduzida, tais como idosos e obesos, também poderiam ser
incluídos nas estatísticas de exclusão social do turismo, pois encontram dificuldades para se
adaptarem às instalações e equipamentos nas edificações turísticas e espaços de lazer, ao mesmo
tempo em que encontram prestadores de serviços sem qualificações específicas para um
atendimento diferenciado (Rocha, apud Brasil, 2009, p.9).
No que diz respeito ao contexto do Turismo Acessível, pode-se destacar o que menciona
Nunes (2011, p.14)
Para Simões (2011) acessibilidade significa “facilidade de acesso” não está ligada
somente a infraestrutura, mas também ao perfil das PCDs, contudo o perfil está ligado
aos idosos, jovens, mobilidade reduzida e outras como lésbicas, gays, bissexuais, travestis
e transexual (LGBT) considerado o acesso um conjunto de característica do ambiente
utilizado para todas as pessoas, independentemente da situação física, sensoriais ou
intelectuais.
4
adaptar os transportes, hospedagens e restaurantes, e dessa forma, permitir que todos
tenham acesso.
O Programa de Ação Mundial para Pessoa com Deficiência das Nações Unidas de 1982
construído por diversos países para garantir que PCD’s ou com mobilidade reduzida
tenham mesma chance de usufruir os mesmo direitos das outras pessoas através de sua
participação nas atividades de lazer, turismo e recreação tem oportunidade de desfrutar ou
frequentar restaurante, cinemas, teatros, assim como locais de lazer, estádio esportivos,
hotéis, praias, entre outros lugares de recreação. (ONU, 2017) Todas as pessoas desejam
fazer turismo, ou seja, viajar, conhecer outros lugares e culturas diferentes. Rahin e
Samad (2010) apud Ferreira (2013, p.16) salientam que as ações de adaptações
representam:
Iniciativa que visa a incluir a maior parte possível da população naquelas atividades consideradas
genericamente de turismo ou de lazer, levando em conta infraestrutura, equipamentos e serviços que
possam atender todas as pessoas independentemente de suas limitações e especificidades.
De acordo com Coelho (2014) o setor turístico encontra dificuldades para quebrar alguns
paradigmas do turismo acessível. Os desafios encontrados pelos PCDs passam pelos
ambientes públicos institucionais, governamentais, empresariais, comerciais, sociais,
familiares ou privados. Esses desafios configuram-se em barreiras físicas, infraestrutura e
equipamentos que dificultam a mobilidade.
5
Locurarte, além de trabalho de campo em lugares de visitação desses membros. E neste
sentido serão apresentados agora os principais resultados do levantamento de campo
realizado.
Com base nas observações, questionários, entrevistas e pesquisa de campo para este
estudo as investigação encontrou varias dificuldades enfrentadas pelos componentes da
Cia de Dança Loucurarte nos equipamentos de lazer e turismo de Aracaju:
1. Calçadas não acessíveis nem para cadeirantes nem para deficiente visual;
6
3. Bebedouros mau localizados e com altura inadequada para as PCDs.
5. Na Orla de Atalaia foi construída uma ponte para que todos os usuários pode-se
ter acesso, porém as pessoas com deficiência física encontram duas barreiras: uma
madeira distante da outra podendo haver uma acidente por conta do pneu pequeno
da cadeira de roda e do outro lado fixo uma barra de ferro e não existe rampa no
posto de informação que fica na Orla onde todos os turistas busca informações.
REFERÊNCIAS
7
Brasil. (2009). 10 Dicas sobre turismo inclusivo. Brasília: Mistério do Turismo
ONU. (1982) Programa de ação mundial para as pessoas com deficiência. Assembleia
Geral das Nações Unidas, 1982. Disponível em
<http://www.portalinclusivo.ce.gov.br/phocadownload/publicacoesdeficiente/progr
amadeacaomundialparaaspcd-onu.pdf> Acesso em 5 MAI 2017.
8
AS MANIFESTAÇÕES DE HOSPITALIDADE NAS ATIVIDADES DO
CORREIO AÉREO NACIONAL (CAN) EM LOCALIDADES ISOLADAS
RESUMO
RESUMO EXPANDIDO
O Correio Aéreo Nacional com seu protagonismo e a sua missão solidária, nasce como
Correio Aéreo Militar do Exército, em 12 de junho de 1931, já com a missão de integrar
o território brasileiro, levando o Estado aos rincões do território nacional. Com a criação
do Ministério da Aeronáutica, em 20 de fevereiro de 1941, ocorreu a fusão do Correio
1
Mestrando em Hospitalidade Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasill. Curriculo:
http://lattes.cnpq.br/7373379673914269. E-mail: robcalcada@gmail.com.
2
Doutor. Professor no Programa de Pós-Graduação da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP,
Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/0258622788919319. E-mail: octacam@uol.com.br.
1
Aéreo Militar com o Correio Aéreo Naval, criado em 29 de julho de 1934 (INCAER,
1990), daí formando o Correio Aéreo Nacional (CAN) da Força Aérea Brasileira, e
dando continuidade na missão de ajudar aos brasileiros das regiões afastadas e isoladas.
O tema CAN já foi explorado por meio de artigos, dissertações e teses, porém, até o
momento, não foi localizada nenhuma pesquisa sobre o CAN sob a ótica da
hospitalidade, o que justifica este trabalho. Por meio dos diversos autores citados neste
trabalho, foi possível analisar as atividades do CAN nas localidades isoladas e
estabelecer as suas relações com a hospitalidade.
2
o viajante, face a face, quando as expressões derramam imagens (como uma
linguagem), segundo Levinas (1998, p. 38), “o modo como o outro se apresenta,
ultrapassando a ideia do outro em mim, chamamo-lo, de fato, rosto”, traduzindo, sem
palavras, o sentimento do momento, passível de uma percepção própria e individual do
que sentem no acolhimento. Concluindo o autor (1988, p. 209), é “no acolhimento do
rosto que se instaura a igualdade”, o que Camargo (2008) chama de encontro
hospitaleiro, um atributo da hospitalidade.
Segundo Gotman, em Raynal (2013), tanto o hóspede como o anfitrião devem honrar
um ao outro, como em Pitt-Rivers (2012, p. 513), em que o “anfitrião pede a honra da
companhia do hóspede [...]”. Segundo Camargo (2005, p. 21), “o dom deve ser
recebido, aceito. Recusar um presente, uma honraria, uma lembrança é algo que ainda
soa insultuoso mesmo em nossos dias”, e pode provocar a hostilidade. Na hospedagem,
no apelo mítico de Boff (2005, p. 102), tomando Zeus e Hermes, o autor afirma que,
“tão expressivo quanto lavar os pés, dar de comer e beber superabundantemente é
oferecer a própria cama para o repouso de estranhos”, é realizar hospitalidade.
4
Segundo o Brigadeiro Athayde, “o maior agrado recebido pelos tripulantes era, sem
sombra de dúvida, o abraço sincero e a demonstração de alegria e felicidade daquela
gente”, como o rosto de Levinas (1988), sempre presente no pensamento, com a
percepção de que o rosto se abre para outras perspectivas que leva para um
entendimento ou compreensão do ser, dissociada da sua própria compreensão e do seu
poder.
De acordo com Boff (2005), no seu apelo mítico, oferecer a própria cama para o
repouso do visitante é uma manifestação de hospitalidade, como no apelo religioso de
Grassi (2011), em que a hospitalidade humilde se vincula à dimensão sagrada da
hospitalidade, simbolicamente de acesso ao divino. Fechando com Pitt-Rivers (2012, p.
513), “o anfitrião pede a honra da companhia do hóspede – (e isso não é apenas uma
fórmula modesta: ele ganha honra por meio do número e da qualidade dos seus
convidados)”.
6
consequente socialização, é significante como “um fator de hominização” e a
hospitalidade, na sua existência, é fato social e valor.
REFERÊNCIAS
Boni, V., & Quaresma, S. J. (2005). Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas
em Ciências Sociais. Em Tese, 2(1), 68-80.
7
Lashley, C. (2004). Para um entendimento teórico. Em busca da hospitalidade:
perspectivas de um mundo globalizado. São Paulo: Manole, p. 3-24.
Raynal, M. (2013). Entrevista com Anne Gotman. Revista Hospitalidade, 10(1), 146-
157.
8
AVALIAÇÃO DA HOSPITABILIDADE ATRAVÉS DAS PREFERÊNCIAS
COMPORTAMENTAIS E DA EMPATIA
1
Doutorando em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/4300529881127811. E-mail: gilberto@gg-guimaraes.com.br.
2
Doutor. Professor no Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade, da Universidade Anhembi Morumbi,
São Paulo, SP, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/0258622788919319. E-mail: octacam@uol.com.br.
1
RESUMO EXPANDIDO
Conseguir avaliar e prever a capacidade de alguém ser hospitaleiro pode ser importante em
todas as situações, especialmente do ponto de vista da experiência do consumo. Esta maior
hospitabilidade pode influenciar o nível de satisfação de um consumidor e ser percebido
como uma vantagem competitiva. Para Oliveira e Rejowski (2013) a hospitalidade pode
tornar um serviço mais competitivo. Segundo Moretti (2015), na prestação de serviços, o
encontro entre o provedor, e o cliente, é o epicentro da relação, é o momento da verdade.
Para Knutson e Beck (2004) o encontro hospitaleiro deve ser encarado como um processo
de três fases: 1) o pré-encontro, a criação de expectativas; 2) o encontro propriamente dito,
o momento da entrega; 3) a avaliação, a percepção de criação do valor, que pode ser
positiva, geradora de recompra e recomendações, ou negativa, que impedirá novas relações
e também comentários depreciativos. A percepção de satisfação com o serviço prestado
está associada com aspectos intangíveis nas atitudes do funcionário, que podem ser de uma
de três categorias gerais: 1) a atitude em reação a um problema; 2) a atitude frente às
necessidades dos clientes; 3) as atitudes que demonstrem interesse pelo atendimento do
cliente (Chon & Sparrowe, 2003).
Hospitalidade é encontro, é uma relação humana “em que acontece uma troca entre alguém
que recebe e alguém que é recebido, cujo desenrolar pode redundar em apaziguamentos,
sentimentos [...] a amizade, amor, calor humano [...]” (Camargo, 2015, p.47). Baptista
(2002) considera a hospitalidade como um encontro interpessoal marcado pela aceitação e
acolhimento. Como afirma Camargo (2015, p. 48) “a relação interpessoal é o componente
básico da cena hospitaleira”. A hospitalidade pode ser compreendida em quatro conceitos: a
relação humana, a virtude, o ritual e a troca (Camargo, 2015). Hospitalidade pode ser
entendida como um valor, um estágio avançado do comportamento humano e ser entendida
como uma característica fundamental, onipresente na vida humana (Lashley & Morrison,
2004; Lashley, Lynch, & Morrison, 2007).
Telfer (2004) definiu hospitabilidade como um traço de personalidade que algumas pessoas
possuem mais que outras. Segundo ela, as qualidades da hospitabilidade incluem: a) o
2
desejo de agradar; b) o desejo de suprir as necessidades; c) o desejo de receber amigos ou
de ajudar os que estão em dificuldade; d) o desejo de ter companhia ou de fazer novos
amigos; e) o desejo de receber e de entreter os outros. De forma similar, O’Connor (2005)
afirmou que a hospitalidade é um traço de caráter. Para Ariffin, Nameghi, e Zakaria (2013)
a hospitabilidade é um comportamento. Outros estudos definem hospitabilidade como uma
atitude que faz com que os hóspedes se sintam acolhidos e seguros (Brotherton, 1999;
Lashley et al., 2007). Blain e Lashley, (2014) desenvolveram um instrumento, composto
por treze perguntas, que fornece uma visão geral sobre as várias interações propostas no
processo da hospitalidade. Estas questões são agrupadas sob três grandes temas: 1) o desejo
de colocar hóspedes em primeiro lugar, antes de si mesmo; 2) o desejo de fazer hóspedes
felizes; 3) o desejo que os hóspedes se sintam especiais (M. Blain & Lashley, 2014). Tasci
e Semrad (2016) criaram os três Hs da capacidade de ser hospitaleiro; o heart-warming, o
heart-assuring,e o heart-soothing.
Em uma concepção clássica, empatia é vista como fator essencial das relações e, pressupõe
a capacidade de compreender e se identificar com as sensações e emoções de outra pessoa.
Premack e WoodrufF (1978) justificaram o conceito da teoria da mente a partir da empatia,
como sendo é um mecanismo automático que permite identificar as emoções alheias e agir
em função disso. Este mecanismo relaciona-se com os neurônios-espelho, identificados por
Rizzolatti et al. (1996). Os neurônios pré-motores, além de se ativarem quando alguém se
prepara para agir, também se ativam quando ela observa a ação, ou a intenção dos outros.
Na psicanálise, Freud (1921) associou empatia com identificação. Na escola kleiniana a
empatia é definida como o produto da identificação projetiva. Em Winnicott (2000),
empatia era apresentada como holding, acolhimento. Segundo Rogers (1975), toda empatia
é compreensiva, toda compreensão é empática. Kohut (1982) ampliou a compreensão da
empatia como sendo a expansão do self até incluir o outro, se constituindo em um poderoso
vínculo psicológico, talvez, até mais que o amor.
A hospitalidade, sendo uma virtude, corresponde e se associa com valores tais como,
solidariedade, compaixão, amor, compreensão e aceitação, que são bases da empatia e que
3
são características de personalidade e são expressas no comportamento. Em Lashley
(2000), hospitalidade é relacionamento. Relacionamento é intersubjetividade.
Intersubjetividade é a maneira de se conectar entre pessoas, tornando-as sensíveis ao
mundo emocional um do outro. A relação entre empatia e intersubjetividade é estreita
(Agosta, 2014). Empatia é o processo essencial da intersubjetividade.
Foi utilizado um método misto, por duas diferentes pesquisas. Uma para avaliação da
hospitabilidade, a partir de uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, com a coleta dos
adjetivos mais significantes e representativos das características hospitaleiras, em vários
textos, de importantes autores. Outra, para avaliação da empatia e dos estilos
comportamentais, resultante de pesquisa quantitativa com 221 participantes, que
responderam ao teste de avaliação comportamental, com o questionário - mapa
preferências©.
Shani (2009), Skandrani e Kamoun (2014), Tasci e Semrad (2016), Telfer (2004).
3
http://www.mapapreferencias.com.br/pages/preferencias.asp
4
Os participantes eram profissionais que trabalhavam em empresas de vários setores
econômicos e foram participantes de cursos e treinamentos que executamos ao longo do
semestre.
Como resultado da pesquisa bibliográfica foram definidos trinta adjetivos, que, em ordem
alfabética são; 1) acessível, 2) acolhedor, 3) afável, 4) agradável, 5) amável, 6) amigável, 7)
atencioso, 8) caloroso, 9) compreensivo, 10) confiável, 11) consistente, 12) cordial, 13)
cortês, 14) educado, 15) favorável, 16) generoso, 17) gentil, 18) honesto, 19) mente aberta,
20) piedoso, 21) protetor, 22) receptivo, 23) reconfortador, 24) respeitoso, 25) simpático,
26) sociável, 27) solidário, 28) tolerante, 29) tranquilizador, 30) verdadeiro. Esses
adjetivos foram apresentados aos 221 participantes, juntamente com a pergunta “se tinham
prazer e hábito de receber convidados em suas casas”. Um total de 72 participantes,
5
respondeu afirmativamente, ou seja, indicaram se perceberem como acolhedores e
hospitaleiros.
Dos 221 participantes, 101 pessoas (45.7%) era de áreas comerciais, 44 (20%), eram de
áreas de recursos humanos, 70 (31,7%), eram de administração e finanças e seis (2,6%)
eram gestores gerais. Como resultado, os mapas de estilos comportamentais dos 221
participantes apresentaram perfis distribuídos nos quatro quadrantes, de acordo com a
seguinte distribuição: 1) 24% (53) apresentaram perfil A - Pensamento analítico; racional e
realista; 2) 21% (46) apresentaram perfil B - Pensamento sequencial; organizado e
concreto; 3) 23 % (51) apresentaram perfil C - Pensamento Interpessoal; relacional,
sensível e comunicativo; e 4) 32% (71) apresentaram perfil D - Pensamento imaginativo;
inovador, explorador e especulativo. Outros 28,5% (63) apresentaram o perfil afetivo e
interpessoal como a segunda preferencia comportamental.
A capacidade empática pôde ser avaliada pela capacidade de percepção que se tem do
outro. A hospitabilidade pode avaliada pela reação a essa percepção. A capacidade de se ter
uma maior percepção empática pode ser avaliada e medida pelas preferências
comportamentais predominantes. Consequentemente, a capacidade de alguém ser mais ou
6
menos hospitaleiro pode ser avaliada e prevista. Partindo dos resultados e das premissas
podemos considerar que podem ser utilizados meios e ferramentas para avaliar a
capacidade de uma pessoa ser mais ou menos empática e, portanto, mais ou menos
hospitaleira. No entanto, a conclusão também leva a pensar em investigar além das
características individuais, e avaliar também a situação em que se realiza o encontro, e em
qual a disposição emocional ele se realiza.
REFERÊNCIAS
Ariffin, A. A. M., Nameghi, E. N., & Zakaria, N. I. (2013). The effect of hospitableness
and servicescape on guest satisfaction in the hotel industry. Canadian Journal of
Administrative Sciences/Revue Canadienne Des Sciences de l’Administration,
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Bethmann, C. (2017). ‘Getting milk from the chicken’: Hospitality and hospitableness in
Bulgaria’s mass tourism resorts. Hospitality & Society, 7(1), 19-41.
Blain, M., & Lashley, C. (2014). Hospitableness: the new service metaphor? Developing an
instrument for measuring hosting. Research in Hospitality Management, 4(1/2).
7
Camargo, L. O. de L. (2015). Os interstícios da hospitalidade. Revista Hospitalidade, 13,
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Chon, K.-S., & Sparrowe, R. T. (2003). Hospitalidade: conceitos e aplicações. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning.
De Grandpré, F., LeBlanc, M., & Royer, C. (2016). How various segments of visitors
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Di Domenico, M., & Lynch, P. A. (2007). Host/guest encounters in the commercial home.
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Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 7.
Golubovskaya, M., Robinson, R. N. S., & Solnet, D. (2017). The meaning of hospitality: do
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Kohut, H. (1982). Introspection, empathy and the semi-circle of mental health. The
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8
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Lashley, C., Lynch, P., & Morrison, A. J. (2007). Hospitality: A social lens. Elsevier.
Pizam, A., & Shani, A. (2009). The nature of the hospitality industry: present and future
managers’ perspectives. Anatolia, 20(1), 134-150.
Premack, D., & Woodruff, G. (1978). Does the chimpanzee have a theory of mind?
Behavioral and Brain Sciences, 1(4), 515-526.
Rizzolatti, G., Fadiga, L., Gallese, V., & Fogassi, L. (1996). Premotor cortex and the
recognition of motor actions. Cognitive Brain Research, 3(2), 131-141.
9
Skandrani, H., & Kamoun, M. (2014). Hospitality Meanings and Consequences Among
Hotels Employees and Guests. In Tourists’ perceptions and assessments (p. 147-
156). Emerald Group Publishing Limited.
10
HOSPITALIDADE E A EVOLUÇÃO TÉCNICA DAS AERONAVES:
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo pesquisar a hospitalidade a bordo das aeronaves
associada à evolução técnica das aeronaves. Assim, por intermédio de pesquisa
bibliográfica, realizada utilizando as palavras chave hospitalidade, aviação e empresa aérea
foi possível identificar os principais artigos científicos abordando o tema. Como recorte
temporal as publicações abordam o período que permeia o final da Primeira Guerra
Mundial (1919) até os dias atuais (2017). O estudo permitiu identificar um início de
transporte aéreo de passageiros de forma rudimentar, com aeronaves mais simples e de
forma desconfortável; na sequência o surgimento do glamour e sofisticação a bordo de
cabines confortáveis e, finalmente, quase em um caminho reverso ocorreu a redução dos
níveis de hospitalidade a bordo com o surgimento das empresas low cost. O estudo conclui-
se, ao identificar uma tendência de algumas empresas em novamente prover níveis mínimos
de hospitalidade a bordo com o intuito de atingir outros segmentos de mercado.
1
Doutorando em Hospitalidade. Universidade Anhembi Morumbi. São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/1078842139043422. E-mail farokape@gmail.com.
2
Doutor. Professor no Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi. São
Paulo, SP, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/8415372088403504. E-mail: acavenaghi@gmail.com.
1
RESUMO EXPANDIDO
Observa-se, contudo, que a hospitalidade vai além do bem receber. É uma cena que supõe
dois personagens agindo dentro de leis estritas que, se não seguidas, ocasionarão em
inospitalidade ou hostilidade. Em análises e estudos anteriores tais como; “A Evolução da
Hospitalidade na Aviação: do Voo do Jahú aos tempos atuais de competição entre empresas
tradicionais e low-cost” (Kaperaviczus, 2015), “A gestão de serviços em hospitalidade: o
papel do comissário como anfitrião nas empresas aéreas brasileiras” (Salva, 2017), e
“Hospitalidade e serviços a bordo de aeronaves: o caso da Companhia Aérea Azul” (Santos,
2017); observa-se que a análise da hospitalidade, também se faz presente no transporte
aéreo, mais especificamente dentro das cabines das aeronaves.
Nesse contexto, a hospitalidade embarcada, termo utilizado para definir essas análises, está
em consonância com Camargo (2004, p. 52) para quem: “Hospitalidade pode ser definida
como o ato humano, exercido em contexto doméstico, público e profissional, de
recepcionar, hospedar, alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas de seu
habitat natural.”. Nessas análises, o que se percebe é que com a evolução do transporte
aéreo as empresas, compelidas pela competitividade do mercado e por altos tributos, tem
buscado diminuir custos e aumentar o número de passageiros transportados. Nesse aspecto
a utilização dos elementos analíticos da hospitalidade, permite perceber um diferencial
competitivo para um mercado agressivo e em crescimento, embora no Brasil, ainda que os
estudos nessa área estejam avançando, acontece um movimento contrário. O foco gerencial
2
do aumento do número de passageiros associado à diminuição de custos, ainda impedem a
utilização de ferramentas da hospitalidade como um suposto diferencial competitivo para as
empresas aéreas.
Nesse cenário, a aviação é o mais jovem de todos os meios de transporte, tendo sido o
primeiro voo comercial realizado em 1919. Ressalta-se que por muito tempo a aviação foi
submetida a excessivas regulamentações e interferências governamentais ao redor do
mundo. (Lyth, 1993). Assim, apesar das excessivas regulamentações governamentais
representarem obstáculos ao pleno desenvolvimento da aviação civil, tal fato não impediu
seu exponencial crescimento. É importante frisar que conforme Lyth (1993) esse
crescimento se deu, em parte, pelo incremento do segmento turístico na aviação e pelos
avanços na tecnologia, começando com o Douglas DC-3 na década de 1930 e na sequência
com o Douglas DC-4, DC-6 e o Lockheed Constelation que foram paulatinamente
aumentando a velocidade, o conforto e a capacidade de transporte de passageiros no interior
das aeronaves.
Camargo (2004) enfatiza que a hospitalidade se origina do sistema da dádiva e que ambas
não são observáveis de maneira clara pelas ciências aplicadas, que têm por objetivo a
gestão. É assim que o estudo da hospitalidade embarcada pode trazer outro olhar para o
interior das aeronaves. Ainda para Camargo (2004), quando percebida na sua dimensão de
acolhimento, a hospitalidade revela-se como uma espécie de vantagem competitiva para a
empresa aérea.
3
Na visão de Lashley (2001), a hospitalidade envolve um anfitrião e um hóspede que esteja
fora de seu domicílio, permeando uma gama de fatores intangíveis que tem como objetivo
prover ao hóspede segurança e conforto psicológico, estando relacionada aos domínios
privado, social e comercial. Para Nameghi e Arifin (2013) a história da hospitalidade
embarcada de 1920 a 1990 passou por diversas fases, associadas ao desenvolvimento
técnico das aeronaves, que permearam a aventura; o provimento de um conforto mínimo; o
glamour; e o transporte de massa propiciado pelas empresas low-cost. Portanto, ainda para
Nameghi e Arifin (2013), organizações hospitaleiras, tais como as empresas aéreas
precisam encontrar caminhos para surpreender os passageiros, fazendo com que se sintam
acolhidos e seguros no interior de suas aeronaves.
Quanto ao papel dos comissários de bordo, Nameghi e Arifin (2013) e Salva (2017),
lembram que inicialmente as aeronaves não eram pressurizadas, estando assim mais sujeitas
a severas turbulências, que, por sua vez, levavam os passageiros a passar mal, motivo pelo
qual as primeiras comissárias contratadas pela Boeing Air Transport em 1930 eram
enfermeiras treinadas e usavam seus uniformes brancos a bordo.
Foi assim que na visão de Nilsson (2012) viajar de avião passou a ser algo mais comum, o
que foi reforçado pelo surgimento das empresas low-cost, reduzindo sensivelmente o
glamour de voar. Ainda para Nilsson (2012) o caráter distintivo do transporte aéreo em
relação aos outros meios de transporte está para desaparecer, haja vista que as empresas
4
low-cost competem mais em velocidade e preço do que em experiência de serviços,
tornando improvável a manutenção dos prévios níveis de hospitalidade a bordo.
Nesse contexto, de todas as pesquisas apresentadas, é possível concluir que a aviação, nos
seus primórdios, propiciava um tipo de transporte que estava associado diretamente à
aventura. Com o passar do tempo, as aeronaves foram se modernizando e as sofisticações
passaram a ser trazidas para as cabines de passageiros, oferecendo experiências de luxo e
conforto, levando a hospitalidade a bordo a níveis inimagináveis para a grande maioria da
população.
Assim, partindo-se da percepção de que existe uma diminuição dos níveis de hospitalidade
percebidos a bordo, essa caracterização é analisada por Nameghi e Arifin (2013), que
criaram um construto para aferir a percepção da hospitalidade embarcada nos passageiros.
Nesse diapasão, o estudo levado a efeito pelos autores, teve por objetivo criar e validar um
construto que possibilitasse criar uma escala para se medir os níveis de hospitalidade
percebidos a bordo das aeronaves, que por intermédio do software “Statistical Package for
the Social Sciences” (SPSS) resultaram em 19 comportamentos agrupados em 4 dimensões
denominadas Cortesia, Apreciação, Socialização e Conforto que obtiveram níveis
satisfatórios de confiabilidade.
5
No estudo em tela, os autores desenvolveram um instrumento capaz de aferir os níveis de
hospitalidade percebidos a bordo de aeronaves, reforçando a importância de se conhecer os
níveis de satisfação dos passageiros, cujos índices, adequadamente analisados, podem
resultar em um diferencial competitivo no complexo mercado da aviação. No que diz
respeito ao aspecto metodológico, este trabalho foi desenvolvido por intermédio de
pesquisa documental, tendo como palavras chave de pesquisa os termos hospitalidade,
aviação, empresa aérea e acolhimento que permitiram localizar artigos científicos que
embasaram as conclusões alcançadas pelo autor. No que se refere ao recorte temporal
adotado, este compreendeu o pós Primeira Guerra Mundial (1919) até os dias de hoje
(2017), permitindo abranger período significativo da evolução técnica das aeronaves, que
resultaram em cabines mais espaçosas que propiciaram maiores níveis de conforto aos
passageiros, permitindo, assim, criar condições mais hospitaleiras para se acolher os
passageiros a bordo.
Nogueira (1977) explica que o método científico é a sucessão de passos pelos quais se
descobrem novas relações entre fenômenos que interessam a um determinado ramo
científico ou aspectos ainda não revelados de um determinado fenômeno. Esta pesquisa foi
inicialmente exploratória o que segundo Dencker (2000), diz respeito à própria dinâmica da
percepção dos conteúdos, leitura e compreensão de textos, estando mais voltada para a
pesquisa bibliográfica. Nesse cenário, foi realizada pesquisa histórica relativa à
hospitalidade e à hospitalidade embarcada tendo como norteador os artigos científicos que
abordam o tema direta e indiretamente.
Torna-se relevante esclarecer que por ser uma pesquisa da área de hospitalidade,
envolvendo essencialmente aspectos intangíveis das relações humanas, é natural que ela
seja essencialmente qualitativa. Desta forma, esta pesquisa se justifica a partir da
constatação de que os estudos da hospitalidade na aviação mostram-se incipientes. Se por
um lado tal fato pode ser interpretado como um obstáculo à realização de estudos, pela
escassez de fontes de pesquisa, por outro, tal constatação figurou como um motivador ao
6
trilhar novos caminhos que poderão gerar novos conhecimentos no inesgotável e desafiador
campo da hospitalidade.
Nesse diapasão o que se pôde concluir é que logo após a Primeira Guerra Mundial a
aviação iniciou uma trajetória de evolução técnica, passando inicialmente por cabines
extremamente desconfortáveis e chegando, com o passar do tempo, a cabines luxuosas em
que os passageiros, que compunham uma faixa diminuta da população, eram tratados com
requinte e sofisticação. Tal cenário se modificou com o surgimento das empresas low cost
inaugurando um tipo de transporte aéreo que quase se pode chamar de massa, haja vista o
acesso propiciado a grande parcela da população, empreendendo uma caminhada no sentido
inverso ao que se poderia chamar de trajeto hospitaleiro.
REFERÊNCIAS
7
Caillé, A. (2002), A Dádiva e associação. In: Martins, P.H. (org.) A Dádiva entre os
modernos: discussão sobre os fundamentos e as regras do social. Petrópolis-RJ:
Vozes. p. 191-205.
Dencker, A. F. M. (2000). Turismo como aprender como ensinar. São Paulo: Senac.
Lashley, C., & Morrison, A. (2001). In Search of Hospitality: theoretical perspectives and
debates. Oxford: Butterworth-Heinemann.
Lyth, J. P. (1993). The history of commercial air transport. A progress report, 1953-93.
The Journal of Transport History, 14(2), 166-180
Nameghi, E N. M.; & Arifin, A.A.M.(2013). The measurement scale for airline hospitality:
Cabin crew’s performance perspective. Journal of Air Transport Management 30,
1-9.
Nogueira, O. (1977). Pesquisa social: introdução às suas técnicas. São Paulo: Nacional.
8
Salva, V. (2017) A gestão de serviços em hospitalidade: o papel do comissário como
anfitrião nas empresas aéreas brasileiras. São Paulo : Anhembi Morumbi,
Dissertação de Mestrado, 130 p.
9
HOSPITALIDADE NA ECONOMIA COMPARTILHADA: UM ESTUDO SOBRE
OS LAÇOS FORTES E FRACOS NA RELAÇÃO ANFITRIÃO-HÓSPEDE NO SITE
AIRBNB
RESUMO
Estudos publicados a respeito dos Laços Fortes e Fracos (Granovetter, 1973) e sua
interação nos ambientes comerciais e econômicos, serão inseridos no contexto da
hospitalidade na economia compartilhada presente na plataforma digital AirBnB. Este
artigo apresenta um modelo de análise acerca da relação entre laços sociais, fortes e fracos,
e o encontro hospitaleiro, anfitrião e hóspede. Diante desta perspectiva são apresentados os
conceitos de hospitalidade, economia compartilhada e laços sociais e a respectiva interação
com os serviços da plataforma digital Airbnb. A problematização deste artigo refere-se a
verificar se os laços sociais influenciam nas relações hóspede-anfitrião durante a
hospedagem por meio do site Airbnb. Os resultados, levaram à aproximação conceitual, das
características hospitaleiras discutidas em Telfer (2000), nas práticas da economia
compartilhada, especificamente, nas atividades de interação propostas pelo AirBnB.
Concluindo, contudo, que há influência destes laços na relação constituída entre o hóspede
e o anfitrião.
1
Doutora. Professora e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade da Universidade
Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/7646561918886612. E-mail:
oseanebmarques@yahoo.com.br.
2
Mestrando em Hospitalidade Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade da Universidade Anhembi
Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/2664909374214753. E-mail:
ana_polazzo@hotmail.com.
1
RESUMO EXPANDIDO
A hospitalidade pode ser diferenciada de outras formas de troca humana, como sendo a
expressão do desejo de bem-estar mútuo entre as partes. Os autores questionaram se o
termo hospitalidade poderia ou não ser aplicado ao domínio comercial. Trata-se de uma
interessante questão que, ainda é muito debatida hoje, embora a utilização dos seus
conceitos para um atendimento mais hospitaleiro em meios de hospedagem, já seja um
consenso geral (Moretti, 2015).
Com o olhar sobre as relações comerciais, Telfer (2000) argumenta que, embora este
domínio possa ser inóspito, a hospitalidade comercial poderá atuar de forma hospitaleira,
caso as pessoas envolvidas manifestem atitudes de hospitableness. A autora sugere que ao
2
receber a verdadeira hospitalidade o indivíduo sente-se querido e bem-vindo. O conceito de
hospitableness cunhado por Telfer (2000) pode ser definido como a capacidade das pessoas
de serem hospitaleiras. Desta forma, estaria nos hóspedes o desejo de ser reconhecido e até
de retribuir a quem se comporta com hospitableness. Ainda, segundo a autora, os motivos
para ser hospitaleiro são, após a geração do lucro, assegurar a satisfação e a manutenção do
cliente, evitar o número de reclamações. O trabalho realizado além das expectativas pode
ser considerado hospitableness.
A economia compartilhada encontra então nestes autores a descrição de uma parte de suas
principais atividades: receber e ter hospitableness, embora dentro de uma relação mercantil.
Recentemente, Moretti (2015) argumentou que as empresas que fornecem serviços podem
ganhar vantagem competitiva caso compreendam de forma adequada as relações do
domínio social e privado da hospitalidade. Lashley (2000, 2008, 2015) propõe diferenciar a
cultura de hospitalidade e a hospitableness, que seria relacionada às qualidades
desempenhadas pelo anfitrião. Para o autor a cultura de hospitalidade reflete os valores e
normas (empresas), enquanto indivíduos praticam hospitableness. Na perspectiva de
Lashley (2015) a hospitalidade pode ser vista, mais do que o encontro em si, envolvendo
inteligência emocional e, diretrizes e valores da empresa que orientam e suportam as
atitudes individuais dos colaboradores expressadas por meio de atitudes hospitaleiras, ou
hospitableness.
3
O setor da hospitalidade compreende negócios diversos, dos quais serão destacados neste
artigo, os meios de hospedagem alternativos, sendo mais especificamente a hospedagem
através do site Airbnb. A principal característica do Airbnb é a sua operação ser
caracterizada pelo compartilhamento e a relação cliente-empresa, ou melhor, hóspede–
anfitrião ocorrer, em um primeiro momento dentro de uma dentro da plataforma
tecnológica.
Discorrendo também sobre os meios de hospedagem não tradicionais, Beni (2013) descreve
os meios de hospedagem, distintos dos hotéis como: pensão, pensionato, colônia de férias,
acampamento turístico, imóvel locado, segunda residência, leitos avulsos em casas de
família e alojamentos de turismo rural. Estes meios de hospedagem são considerados
estabelecimentos mercantis, sendo extra-hoteleiros, por Montejano (2001). Eles também
são considerados alternativos por Giaretta (2005) e Pydd et al. (2011). Ainda sobre a
definição de formas de hospedagens diferenciadas, Aldrigui (2007) descreve como
iniciativas de pequenos empreendedores, acrescentando os albergues da juventude, bed and
breakfast, campings, acampamentos, residências estudantis, alojamentos esportivos e
quartos em residências da população local.
O Airbnb é o primeiro site que permite alugar temporariamente uma casa, quarto ou cama
em qualquer lugar do mundo. Ele foi criado em 2008 por três jovens empreendedores
americanos. Do ponto de vista do hóspede, o site Airbnb apresenta características atraentes,
reunindo a experiência de lazer ou negócios, a percepção de bem-estar e boa acomodação
sempre é muito bem-vinda. Os contatos com o site, antes do cadastro e login acontecem na
busca por localidade, onde é possível acessar diversas opções de tamanhos, preços,
localizações e tipos.
4
sociais na formação de arranjos organizacionais cooperativos também pode ser associada às
questões institucionais de cada país. Os autores relatam que se pode identificar uma
dimensão instrumental na opção por se apoiar em laços sociais na construção de um arranjo
organizacional cooperativo ou uma determinação cultural do modo de ação do tomador de
decisão na organização. Pesquisadores têm mostrado, por exemplo, que relações sociais são
centrais nas práticas de negócio em países como México, China e Coréia. Para Portugal
(2007), a ação das redes sociais obedece aos princípios gerais do sistema de dádiva,
revelando-se como a tríplice obrigação “dar, receber, retribuir” estrutura as práticas e
representações dos atores. As normas surgem claras, mas a sua análise detalhada
desvenda princípios contraditórios, resistências, tensões e conflitos.
5
Scopus e na ferramenta de busca Google Acadêmico. O levantamento na Base Scopus foi
feito com o recorte nas áreas de Negócios, Gestão e Contabilidade e utilizando as palavras-
chaves “Laços Fracos e Hospitalidade”. Foi então encontrado o artigo “Managerial ties in
economy hotel chains in China” dos autores Cathy H.C. Hsu, Zhaoping (George) Liu e
Songshan (Sam) Huang, que trouxe os resultados que indicaram que os gerentes em
empresas de diferentes tipos de propriedade usam diferentes combinações de rede e diferem
na medida em que podem se beneficiar de laços gerenciais.
Neste artigo, através da visão dos principais autores e da construção do referencial teórico,
buscou-se entender a relação entre os laços sociais e os encontros de hospitalidade entre o
hóspede e o anfitrião do site Airbnb. O encontro entre o hóspede e o anfitrião, ocorre por
meio da plataforma tecnológica, e durante a experiência a interpelação acontece podendo
gerar os já citados laços sociais. Lopes e Baldi (2005) acreditam que os laços exercem
influência no processo de arranjos cooperativos, Peixoto e Egreja (2012), nos resultados de
seus estudos afirmam que as redes possibilitam o ajustamento entre a oferta e a demanda,
mas, a informação que circula melhor ocorre por meio dos laços fracos.
Por outro lado, na visão de Lashley (2008) a hospitalidade pode ser vista, mais do que
como o encontro em si, envolvendo inteligência emocional, diretrizes e valores da empresa
que orientam e suportam as atitudes individuais dos colaboradores, expressadas por meio
6
de atitudes hospitaleiras, ou com hospitableness. A Hospitalidade, no ponto de vista
comercial, pode ser encontrada na característica da “hospitableness“ definida por Telfer
(2000). E hospitableness pode ser também uma impulsionadora dos laços fracos.
Considerando o enfoque sobre o objeto deste estudo, o site Airbnb, foi identificado que a
relação anfitrião hóspede passa pela interdependência da plataforma. E a interação ocorrerá
de forma pontual durante a experiência da relação, onde os laços fracos, influenciados pela
hospitableness, poderão gerar uma possibilidade de retorno ou indicação posterior.
REFERÊNCIAS
Beni, M. C. (2013). Turismo e animação cultural no espaço urbano. Rosa dos Ventos
Turismo e Hospitalidade, 5(3).
Granovetter, M. (1973). The strength of weak ties. American Journal of Sociology, 78(6),
1360-1380.
Hsu, C.; Liu, Z.& Huang, S. (2012). Managerial ties in economy hotel chains in China:
comparison of different ownership types during entrepreneurial
processes. International Journal of Contemporary Hospitality Management,
24(3), 477-495.
7
Lashley, C. & Morrison, A. (eds.). (2000). In search of hospitality: theoretical
perspectives and debates. Oxford: Butterworth-Heinemann.
Lashley, C. (2015) Hospitality and hospitableness. Revista Hospitalidade 12, 70- 92.
Peixoto, J. & Egreja, C. (2012). A força dos laços fracos: estratégias de emprego entre os
imigrantes brasileiros em Portugal. Tempo Social, 24(1), 263-282.
Portugal, S. (2007). O que faz mover as redes sociais? Uma análise das normas e dos
laços. Revista Crítica de Ciências Sociais, 79, 35-56.
Pydd, A. M. (2011). Bed and breakfast e a copa de 2014 no Brasil. Turydes, 4(11).
8
9
HOSPITALIDADE ORGANIZACIONAL: UMA APROXIMAÇÃO ENTRE ESTUDOS
ACADÊMICOS E EXPERIÊNCIAS INSTITUCIONAIS
RESUMO
Pretendemos mostrar, através deste recorte, que a hospitalidade tem um espaço amplo para
abordagens e estudos nas organizações de diversos segmentos e não apenas em
empreendimentos ligados ao turismo, hotelaria e gastronomia, como comumente
encontramos nas publicações. Temos a intenção de apontar para uma possível e necessária
aproximação dos estudos acadêmicos com a realidade das práticas de acolhimento
utilizadas pelas empresas. Caracterizamos, como pressuposto teórico, a hospitalidade na
perspectiva do Corpo Coletivo Acolhedor, das autoras Santos, Perazzolo e Pereira (2014).
Na sequência apresentamos o Instituto Brasileiro de Hospitalidade Empresarial – IBHE e
trazemos a pesquisa sobre hospitalidade, feita anualmente, com os dados mais relevantes
coletados e tabulados. Com base nesse extrato, mesmo que parcial, podemos ressaltar a
importância de uma cultura de hospitalidade nas empresas, o que vem destacando-as como
proativas, acolhedoras e estimuladoras de relacionamentos efetivos e afetivos, através de
uma comunicação transparente.
RESUMO EXPANDIDO
1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul,
Caxias do Sul, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1540146213907375. E-mail: spflores@ucs.br
1
Nossa intenção neste estudo não é fazer uma retrospectiva sobre o surgimento, os conceitos
ou formas de abordagem da hospitalidade, mas sim trazer o assunto para uma discussão
que, de certa forma, não é muito realizada, ou seja, a prática da hospitalidade. Em outras
palavras, a hospitalidade tem um importante espaço para abordagens e estudos nas
organizações e não somente nas ligadas ao turismo, hotelaria e gastronomia.
Nesse sentido, vemos como relevante o trabalho desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de
Hospitalidade Empresarial – IBHE2, que realiza a Pesquisa Hospitalidade Empresarial3, que
vamos explorar através de seu site institucional. Em um estudo exploratório, como o
proposto, existe a ênfase em coletar informações, compreender um fenômeno ou, ainda,
buscar diferentes percepções como forma de gerar novas ideias. Conforme ressalta Cervo
(2007), é possível obter descrições concisas da situação em estudo e encontrar as relações
existentes entre os elementos que a compõem. Buscamos, assim, um maior contato com o
tema hospitalidade e a forma como vem sendo tratada pelas diferentes organizações. Um
estudo mais assertivo envolve, aliando ao referencial teórico, também, vivências práticas e
exemplos concretos.
Com tal propósito nos aproximamos de Gehrels (2015), que ressalta sobre a importância de
existir “motivação para a busca de novos caminhos na pesquisa aplicada cujo objetivo é
promover inovações em hospitalidade, não apenas no que diz respeito a conteúdos, mas
também no que se refere a metodologias.” (p.219). O autor refere-se, ainda, a percepção
com relação à realidade do mercado e ao relacionamento/parceria entre a academia e o setor
da hospitalidade.
2
Acolhedor, propondo “um processo em que a alternância relacional desloca os sujeitos que
acolhem e são acolhidos [...] embora nem sempre alinhado no tempo e no espaço, é o
processo de interação, constituído na forma de trocas, que envolve moeda, produtos, afetos
e saberes [...].” (p.50). Ainda sobre o Corpo Coletivo Acolhedor, é importante mencionar os
elementos vinculados e apresentados pelas autoras:
[...] é necessário que se busque explicitar o processo na perspectiva coletiva, ou seja, quando envolve a
participação de um sistema complexo no jogo das relações, constituído por grupos humanos, por suas
organizações estruturais e funcionais; seus elementos do entorno; seus recursos internos disponíveis ou
passíveis de serem explorados; suas trajetórias históricas, constitutivas dos valores, da cultura e dos
processos adotados para a transmissão, e seus projetos de futuro. Essa é a perspectiva que se aplica ao
exame do acolhimento [...]. (p. 53).
Parece senso comum falar em mudanças, visto que elas vêm ocorrendo aceleradamente, em
diversos âmbitos e formas, e têm exigido das organizações que se adequem, que
modifiquem, que revejam suas culturas4 e também considerem os sujeitos envolvidos nos
processos. Há necessidade de novas formas de sociabilidade, novos nexos de
pertencimento, novas inclusões e/ou exclusões e articulações sociais. São situações que
envolvem transformações pessoais, estruturais e conjunturais, objetivas e subjetivas,
desafios próprios da contemporaneidade e que exigem laços sociais mais estreitos e
efetivos. Há controvérsias quando se fala de hospitalidade empresarial, mas Dencker 5 traz
4 Motta (1996) vê a cultura como uma rede de símbolos e ressalta que os indivíduos coabitam um universo de
significados que decodificam incessantemente. Sendo assim, não são apenas palavras, mas expressões,
posturas, ações de toda natureza, o que propicia uma noção de sentido à ação dos demais indivíduos.
5 Acesso em 26 de setembro, 2017 em
http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/29278428381383696639983910656608153591.pdf
3
uma análise coerente quando menciona que as relações de mercado não são isoladas,
fazendo parte de outras formas de relação de troca, visto que é da natureza humana a
interação com o outro, a troca de emoções, o compartilhamento de sonhos, esperanças,
tristezas.
É importante ressaltar que um dos trabalhos mais relevantes que tem sido realizado pelo
IBHE é Pesquisa de Hospitalidade Empresarial6, que acontece anualmente e já teve cinco
edições, de 2012 a 2016. O objetivo da pesquisa é o de aprofundar conceitos e levantar o
entendimento dos profissionais sobre o tema Hospitalidade Empresarial, bem como sua
4
relevância e importância para os negócios no Brasil. Em outras palavras, a pesquisa aponta
as companhias e profissionais que mais propagam a cultura da hospitalidade, no Brasil. A
pesquisa de 2016 utilizou um questionário eletrônico com dez perguntas, aplicado a 502
respondentes, no período de outubro/2016 a janeiro/2017.
Foram indagados os seguintes aspectos: ramo de atividade das empresas envolvidas e perfil
dos respondentes (cargo); percepção sobre a hospitalidade; peso da hospitalidade na
experiência com o cliente; influência da hospitalidade na decisão de compra de um
serviço/produto; formas de disseminação da hospitalidade para colaboradores e suas
experiências com os clientes; identificação de um serviço hospitaleiro; indicadores para
mensuração de o quanto uma empresa é hospitaleira; relações com empresas hospitaleiras;
indicação de empresa hospitaleira (dentre um ranking de 360 empresas indicadas); nome de
empresa hospitaleira; contribuição e atributos da hospitalidade para os profissionais e
lideranças no mercado; indicação de profissional hospitaleiro; percepção da hospitalidade
da empresa do respondente. Com relação aos resultados obtidos por intermédio da pesquisa,
ressaltamos os seguintes pontos:
5
- A maioria dos respondentes (99%) ressalta que a hospitalidade marca a experiência do
cliente. Qualquer canal de contato existente, quer seja presencial, virtual ou telefônico, deve
promover uma relação positiva com uma empresa.
- Para os respondentes, que podiam indicar até três opções, a cultura da hospitalidade pode
ser disseminada através do exemplo das lideranças (29%), da melhoria do relacionamento
interno (24%) e do cuidado com os colaboradores, também com 24%.
- Um serviço hospitaleiro, para os respondentes, que podiam escolher até duas opções,
vinculava-se à postura das pessoas na prestação do serviço (43%) e do sentimento que
ficava após o serviço prestado (42%).
- 70% das respostas apontou que as pessoas mantém contatos com empresas hospitaleiras.
Das 360 citações recebidas para empresas que consideram hospitaleiras, 73,1% das
indicações apontavam empresas com menos de nove citações, e 26,9% foram para
empresas com nove ou mais citações, as quais foram consideradas no ranking das empresas
hospitaleiras.
- Das empresas citadas como hospitaleiras, o Grupo Fleury (medicina e saúde) se destacou,
com 45,3%; na segunda posição ficou a Porto Seguro (empresa de seguros, consórcios e
serviços), com 19,6%; em terceiro lugar o Hospital Israelita Albert Einstein, com 13,4%; a
Natura (segmento de beleza) em quarto lugar com 12,4%; e em quinto lugar Salomão Zoppi
Diagnósticos (medicina diagnóstica), com 9,3%.
6
- A maioria dos respondentes concorda (67%) que ser hospitaleiro é uma característica
comportamental relevante, onde a forma como o relacionamento acontece entre as partes
envolvidas, é fator estratégico para os negócios.
- Entre os atributos de um líder hospitaleiro foram apontados os seguintes (até três opções
podiam ser escolhidas): respeito ao outro (29%), disposição para servir/ajudar (26%) e
valorização da equipe (20%).
- 84% dos respondentes considera suas empresas hospitaleiras, mas ressaltando que ainda
estão em processo de amadurecimento dessa cultura.
O propósito inicial deste texto era o de levantar dados preliminares no campo empírico,
como forma de aproximação com os estudos acadêmicos. A proposição teórica do Corpo
Coletivo Acolhedor, de Santos e Perazzolo (2012), propicia estudos nas empesas, visto que
enseja que a compreensão de que o corpo social de um grupo/comunidade se organiza
através da interligação de, pelo menos, três vértices, que são: trocas/serviços;
conhecimento/cultura; organismo gestor. O modelo proposto constitui-se em um
instrumento que pode ser aplicado às realidades empresariais, tanto no que diz respeito aos
seus públicos internos e/ou externos.
7
empresarial, como as promovidas pelo IBHF, têm mostrado indicadores que merecem ser
conhecidos, analisados e discutidos e confrontados com os arcabouços teóricos existentes.
REFERÊNCIAS
Cervo, A. L., Bervian, P. A. & Silva, R. da. (2007). Metodologia científica. São Paulo:
Pearson Prentice Hall.
Santos, M. M. C., Perazzolo, O. A. & Pereira, S., (2014). A hospitalidade numa perspectiva
coletiva: o corpo coletivo acolhedor. In: Santos, M. M. C.& Baptista, I. (org.). Laços
sociais: por uma epistemologia da hospitalidade. Caxias do Sul: Educs, p. 49-63.
Santos, M. M. C. & Baptista, I. (org.). (2014). Laços sociais: por uma epistemologia da
hospitalidade. Caxias do Sul: Educs.
8
MOBILIDADE CORPORATIVA, RELAÇÕES DE HOSPITALIDADE ENTRE
STAKEHOLDERS E A NOVA CLASSE MÉDIA: UM ESTUDO DE CASOS
MÚLTIPLOS
Cintia Goldenberg1
RESUMO
No Brasil, nos últimos 10 anos, 35 milhões de pessoas passaram a fazer parte da classe
média. Segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República
(SAE/PR, 2015), a sociedade brasileira se divide em três grandes grupos em termos da
renda domiciliar per capita: classes baixa, média e alta; sendo considerados pertencentes
à classe média todos aqueles com renda domiciliar total entre R$2.005,00 e R$8.640,00
por mês. No momento de realização da pesquisa (2015 e 2016), o país passava por um
período de crise econômica, no entanto a classe média ainda forma a maior parte da
população brasileira.
A mobilidade social causada pelo crescimento econômico traz consigo o acesso a bens e
serviços antes inacessíveis, dentre os quais a educação. Com isso, ocorre o ingresso de
um novo contingente de profissionais qualificados no mercado de trabalho (SAE/PR,
2015). Esses trabalhadores passam a ter novas atribuições, entre as quais viajar a trabalho,
participando, portanto, da mobilidade corporativa. Surge, assim, um novo perfil de
viajante corporativo, com especificidades e necessidades diferentes dos viajantes
“antigos” e mais experientes.
Com base em tais reflexões, essa pesquisa teve como objetivo geral compreender a
relação entre gestão de experiências de hospitalidade, prestação de serviços na
mobilidade corporativa e competitividade. Buscou-se também conhecer as demandas da
nova classe média enquanto viajante de negócios; compreender a hospitalidade na relação
entre os stakeholders envolvidos na mobilidade corporativa da nova classe média e
analisar de que forma a empresa anfitriã atende as necessidades específicas do viajante da
nova classe média na mobilidade corporativa. A problemática da pesquisa estabeleceu-se
com a seguinte questão: De que forma a gestão das experiências de hospitalidade no
processo de prestação de serviços na mobilidade corporativa contribui com a
competitividade?
Como possíveis respostas ao problema foram consideradas três proposições que foram
testadas e consistiram em: (P1) a identificação das demandas dos viajantes da nova classe
média no que se refere às dimensões da hospitalidade facilita a correta prestação de
serviços no processo de mobilidade corporativa; (P2) existe uma relação de
hospitalidade entre os stakeholders do processo de mobilidade corporativa e a
organização e (P3) a partir do momento em que a organização assume o papel de
anfitriã no processo de mobilidade corporativa da nova classe média e atende as
necessidades específicas desses viajantes, essa organização torna-se mais competitiva.
A terceira etapa da metodologia foi realizada por meio de estudo de casos múltiplos. Os
objetos de estudo foram três organizações privadas selecionadas na base de dados da
empresa ALATUR JTB, especializada em viagens corporativas, primeiramente
considerando-se o volume de viagens realizadas pelas organizações e em seguida
verificando-se a aderência do perfil das organizações pré-selecionadas ao tema dessa
pesquisa. São elas Diageo, Femsa e Roche.
Pôde-se concluir com base no survey que viajantes frequentes, com escolaridade superior
completa e idade compreendida entre 31 e 40 anos – maior parte da amostra dessa
pesquisa- dão mais importância a aspectos práticos em suas viagens, tais como rapidez do
meio de transporte, disponibilidade de internet no destino e limpeza do meio de
hospedagem.
Em relação à (P1)- A identificação das demandas dos viajantes da nova classe média no
que se refere às dimensões da hospitalidade facilita a correta prestação de serviços no
processo de mobilidade corporativa, em algumas das entrevistas realizadas, notou-se que
o conceito de hospitalidade aparecia junto ao de serviços e vice-versa, o que confirma
que uma vez entendido e internalizado o conceito de hospitalidade, ele passa a fazer parte
da percepção de uma boa prestação de serviços, como afirma Lashley (2015) ao tratar da
hospitalidade como mais valia, ou como complemento na prestação de serviços.
Por outro lado, não foi possível confirmar nas organizações estudadas uma preocupação
específica com colaboradores viajantes da nova classe média e suas necessidades
específicas. As políticas e regras de viagens são desenvolvidas de forma geral para
aplicação a todos os colaboradores, independentemente de seu perfil socioeconômico.
A problemática da pesquisa pôde ser respondida com base nos achados da pesquisa de
campo e com suporte do referencial teórico. Foram também cumpridos os objetivos geral
e específicos desta pesquisa.
Carroll, A.B.; & Buchholtz, A.K.(2003). Business and Society: ethics and stakeholder
management. Sidney: Thomson South Western.
Freeman, R.E.; Harrisson, J.S. & Wicks, A.C. (2007) Managing for stakeholders:
Survival, reputation and success. Connecticut: Yale University Press.
Kesserling, S. (2015). Corporate mobilities regimes. Mobility, power and the socio-
geographical structuration of mobile work. Mobilities, 10(4), 571-591.
Wada, E.K.& Moretti, S.L.A. (2014). A. Hospitalidade: dos domínios às lentes e sua
inserção nos processos de gestão. Caderno de Estudos e Pesquisa do Turismo
3(3), 95-105.
WTTC- World Travel and Tourism Council (2014). Travel and tourism economic
impact. Disponível em:
https://www.wttc.org//media/files/reports/economic%20impact%20research/regions%202016/worl
d2016.pdf
Yin, R.K. (2005). Estudo de caso: Planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman.
MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE DE CRUZEIRISTAS:
Maraísa Esch1
Ronaldo Balassiano2
RESUMO
1
Mestre Instrutora de Turismo no SENAC, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/3181675637359538. E-mail: esch.maraisa@pet.coppe.ufrj.br.
2
Doutor. Professor no Programa de Engenharia de Transportes do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-
Graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/6752694076216380. E-mail: ronaldo@pet.coppe.ufrj.br.
1
RESUMO EXPANDIDO
É nesse contexto que se localiza o Terminal Internacional de Cruzeiros Pier Mauá, que
desde o início do século XXI se tornou sazonalmente o portão de entrada de uma relevante
quantidade de turistas advindos de navios de cruzeiro. Muitos desses cruzeiristas
desembarcam e saem do terminal de passageiros com a intenção de conhecer
principalmente os atrativos turísticos mais icônicos do destino Rio de Janeiro: o Corcovado,
o Pão de Açúcar, o Maracanã e a praia de Copacabana. Porém, o fato é que esses atrativos
icônicos se encontram relativamente distantes da área portuária da cidade, o que pode se
tornar uma impedância no aproveitamento do tempo – geralmente apenas algumas horas –
que esses turistas possuem no destino de parada do navio para conhece-los, desfrutá-los e
retornar em tempo hábil ao terminal de passageiros. Nesse sentido, aos olhos dos
cruzeiristas, os atrativos turísticos e locais de interesse existentes na região central do Rio
de Janeiro se tornam uma interessante opção para o eficiente aproveitamento qualitativo do
destino.
2
Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na região central do Rio de Janeiro agrega valor
qualitativo – tanto como um transporte-atrativo em si, quanto através de sua
intermodalidade – à experiência turística dos cruzeiristas durante seus respectivos
deslocamentos pela cidade. Outro importante objetivo foi o de observar se esse novo modal
estimularia esses turistas a passar mais de seu tempo pela área central do que indo aos
atrativos turísticos icônicos, modificando, assim, o padrão comumente identificado em seus
deslocamentos intradestinos.
Para efeito de seleção, este resumo expandido foca nos resultados da dissertação que se
referem aos principais problemas relacionados a mobilidade e a acessibilidade,
identificados nos respectivos deslocamentos dos entrevistados. É importante ressaltar que,
durante a aplicação dos questionários, houve a necessidade de o entrevistador explicar aos
cruzeiristas a perspectiva de “mobilidade” e de “acessibilidade” que se pretendia atingir no
contexto da pesquisa. Nesse sentido, a pergunta sobre mobilidade tinha ênfase na qualidade
da experiência de deslocamento entre os locais visitados, enquanto a acessibilidade
procurava entender se houve facilidade de informação para se chegar a esses lugares
visitados e/ou com intenção de visitação.
3
presentes na região portuária do Rio. É possível observar tentativas de incremento das áreas
residenciais, comerciais, turísticas e culturais, entre outras, que acabam por se apropriar da
rica herança histórica da cidade no local, estimulando a área revitalizada a se tornar
atrativa, tanto para turistas quanto para cidadãos residentes.
Amsler (2011) complementa, ao lembrar que nessa região há uma carência de novos
espaços para o surgimento de outros centros de negócios, e que poder suprir essa
disponibilidade aonde já existe um eixo principal da rede de transporte público da Região
Metropolitana do Rio também será relevante para o futuro da cidade (ver figura 1).
3
O mapa mostra a integração desse novo sistema com os demais modos de transporte presente na área central.
Em destaque também alguns atrativos turísticos (relacionados a cultura, gastronomia, lazer e entretenimento)
existentes nas proximidades de seu traçado, os quais os cruzeiristas podem visitar durante o curto período de
estadia no destino Rio de Janeiro.
4
No contexto da densidade de atividades existente no Centro e região portuária do Rio de
Janeiro, é possível perceber a necessidade de uma circulação de pessoas eficiente, que
priorize o pedestre e seu deslocamento confiável, seguro e confortável. O VLT Carioca foi
implementado para cumprir essa função para curtas distâncias, e também entre médias e
longas distâncias do Centro, através do alcance da intermodalidade para qual esse novo
sistema de transporte foi implementado, como pode ser observado na figura 1.
Nesse sentido, o VLT transforma o deslocamento intradestinos dos cruzeiristas que chegam
pelo Terminal Internacional de Cruzeiros Pier Mauá em uma agradável e sustentável
alternativa de experiência turística. Isso porque esse “bonde moderno” privilegia o
pedestre, ao se inserir com ele nas áreas de convivência, áreas verdes e centros históricos
sem grandes impactos (Bernardes & Mesquita, 2015). Somam ainda pontos positivos a essa
experiência o fato desse modal se deslocar a velocidades medianas, emitindo poucas
vibrações e baixo nível de ruído (Alouche, 2008), o que facilita o “ir e vir” desses turistas
para curtas distâncias.
Dessa forma, o VLT Carioca contribui para se alcançar uma mobilidade intradestinos
eficiente e inclusiva, agregando qualidade à experiência turística dos cruzeiristas e também
uma imagem positiva à cidade do Rio de Janeiro. Os resultados encontrados nas duas
temporadas durante as quais foram realizadas as entrevistas com os cruzeiristas para a
dissertação de mestrado puderam ser comparados sob muitos aspectos.
5
Vale ressaltar também a elevação da utilização do transporte público coletivo pelos
cruzeiristas entre as temporadas (de 4% na primeira temporada para 16% na segunda).
Mesmo que estes índices não tenham sido tão expressivos em termos numéricos, eles
podem sinalizar uma possível modificação da forma como os cruzeiristas passarão a optar
por realizar seus deslocamentos nas próximas temporadas de cruzeiros, caso haja uma
continuidade na manutenção dos benefícios advindos com a revitalização do entorno do
Pier Mauá e dos investimentos na rede de transporte público da cidade.
Nesse sentido, pôde-se observar que o potencial turístico para a utilização do VLT não
parece estar sendo adequadamente trabalhado, especialmente com relação aos cruzeiristas.
Muitos deles manifestaram durante as entrevistas não terem obtido informação precisa e
confiável sobre o que fazer e como ir por conta própria até os respectivos locais de interesse
na cidade e retornar em tempo hábil ao terminal de cruzeiros, tendo deixado de usufruir do
Veículo Leve sobre Trilhos por esse motivo. Tal fato foi identificado como consequência
para a baixa utilização desse novo sistema de transporte por essa classe de turistas, uma vez
que somente 12% utilizaram o VLT em algum momento durante sua viagem de cruzeiro.
Muitos cruzeiristas que optaram por realizar seus deslocamentos intradestinos através de
um passeio com roteiro organizado e guia de turismo justificaram essa escolha devido à
falta de informação eficiente. Sobre esse ponto de análise, é interessante observar que essa
decisão de deslocamento se vincula à uma falsa sensação de garantia de retorno dos
cruzeiristas em tempo hábil para o Pier Mauá, uma vez que os veículos de turismo, assim
como todos os demais, estão sujeitos aos engarrafamentos e demais impedâncias de trânsito
existentes pela cidade. Além disso, vale lembrar que o “trânsito intenso” foi o principal
6
problema de mobilidade mencionado pelos entrevistados em ambas as temporadas, o que
corrobora a observação.
Prospecta-se que para as próximas temporadas de cruzeiro o Veículo Leve sobre Trilhos se
tornará gradualmente um sistema de transporte mais familiar para os cidadãos e para os
turistas que chegam ao Rio de janeiro como um todo, mas especialmente para os
cruzeiristas, caso haja uma continuidade na manutenção dos benefícios advindos com a
revitalização da Região Portuária, bem como dos investimentos na expansão e melhoria do
transporte público coletivo da cidade.
REFERÊNCIAS
Amsler, S. (2011). The redevelopment of Rio de Janeiro’s historic port district – A study of
urban waterfront revitalization as a catalyst for real state development. In Porto
Maravilha: Estudos Acadêmicos. Disponível em: <http://www.portomaravilha.com.br>.
Bernardes, F. F. & Mesquita, A. P. (2015). Veículos leves sobre trilhos no Brasil: Análise
metodológica e estudo de caso – Fortaleza e Rio de Janeiro. Anais... 20º Congresso
7
Brasileiro de Transporte e Trânsito. ANTP, Santos, SP. Disponível em:
<www.antp.org.br>.
Rogers, R. (1997). Sustainable cities. In Cities for a small planet. p.25-63 Londres: Faber
and Faber Limited.
8
O PAPEL DOS GOs NA HOSPITALIDADE DO CLUB MED
RESUMO
Este trabalho parte de uma pesquisa mais ampla, ainda em andamento, dedica-se a analisar a forma de
hospitalidade concedida no Club Med pelos funcionários conhecidos como Gentis Organizadores (GOs),
a partir da compreensão sobre sua interação com os hóspedes, chamados de Gentis Membros (GMs). Em
que pese essas relações serem determinadas pela empresa, observa-se que há subjetividades inerentes ao
processo de interação, que colocam em foco a natureza genuína ou encenada da hospitalidade, bem como
o papel relevante desempenhado pelos GOs, cuja atitude pode influenciar os resultados da empresa, na
medida em que têm impacto direto sobre a satisfação do serviço oferecido. Os resultados, parciais,
indicam que a percepção a respeito da hospitalidade dada pelas empresas, pelos clientes, colabora para
seu sucesso como negócio. Da mesma forma, mesmo que esta hospitalidade não seja entregue de maneira
tão genuína, reconhece-se a importância dos GOs como os verdadeiros agentes do bom acolhimento, no
ambiente comercial.
PALAVRAS-CHAVE
RESUMO EXPANDIDO
A necessidade do ser humano de ter um local de abrigo e segurança foi o mote para o
surgimento da hospedagem, primeiramente oferecida graciosamente por ordens
religiosas ou pessoas de bem, preocupadas em acolher peregrinos e, depois, dada
mediante pagamento, por estabelecimentos cuja configuração foi sendo alterada com o
tempo e em função da cultura. A hospitalidade como negócio é descrita no contexto
1.
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Turismo, Universidade Federal Fluminense, em Niterói,
RJ, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/7823816572488663.. Email: felipecard2@hotmail.com.
2.
Doutora. Professora na Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/3648839193122269. Email: carolescura@gmail.com.
3.
Doutora. Professora na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, RJ, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/6925630903453508. Email: anapaulaspolon@gmail.com.
1
chamado por Lashley (2000) e Camargo (2004) profissional ou comercial, em
estabelecimentos de diversas categorias, que atendem a clientes de variados perfis.
Para Petrocchi (2002), um serviço atinge um certo nível de excelência quando há nele
uma natureza intangível, quando o que está sendo oferecido caracteriza-se não pelos
atributos físicos, mas a elementos de natureza subjetiva.
Outra forma significativa de hospitalidade e que está ligada à essência do ser humano é
a comensalidade. Para Leonardo Boff (2006) a comensalidade, ou o ato de comer e
2
beber juntos ao redor da mesma mesa, uma prática que vem dos nossos ancestrais,
supõe a solidariedade e a cooperação de uns para com os outros. Por isso, importa
reservar tempo para estar à mesa com as pessoas e promover a conversação livre e
desinteressada. Há que se praticar a comensalidade como comunhão, tendo-se a comida
como fonte permanente de restauração da humanidade (Boff, 2006).
Camargo (2008) demonstrou que há duas formas de se entender as trocas entre turistas e
residentes: como uma operação comercial (um negócio), ou como uma encenação. Em
um caso ou em outro, o espaço hospitaleiro se caracteriza no espaço do encontro entre
anfitriões e visitantes, no qual seres humanos diferentes descrevem relações e
estabelecem os termos objetivos e subjetivos para a troca de conhecimentos, sensações e
desejos.
3
Fixando olhares na direção da mão de obra atuante no turismo, em especial a hotelaria,
Castelli (2003) considera o elemento humano peça fundamental para o processo de
acolhida e também para a garantia da rentabilidade do negócio. De modo parecido,
Avena (2006) defende que a qualidade do acolhimento depende tanto do ser humano,
quanto da forma de organização dos serviços, do cuidado que se dá aos detalhes e das
condições nas quais trabalham os responsáveis pelo acolhimento.
O Club Méditerranée, mais conhecido como Club Med, é uma das mais importantes
redes hoteleiras internacionais dedicadas ao segmento de lazer. A rede opera
empreendimentos que oferecem serviços e equipamentos de lazer e de repouso em
localidades diferenciadas. A empresa foi pioneira na formatação do conceito de resort e
do sistema all inclusive, além de introduzir o conceito de GOs, como são conhecidos os
Gentis Organizadores, profissionais responsáveis pelo entretenimento e atendimento aos
hóspedes, nos empreendimentos da rede (Club Med, 2017; Brandão, 2009).
4
Todos os GOs residem dentro dos estabelecimentos hoteleiros, em habitações próximas
às dos hóspedes, as chamadas villages, que se localizam em lugares privilegiados, em
praias, montanhas, reservas naturais ou próximas de rios e/ou lagos. Nesse sistema de
nomenclaturas próprias, os hóspedes são chamados de GMs, ou Gentis Membros.
Com o passar dos anos, muitas empresas foram se adaptando e trabalhando de forma
parecida com o Club Med, porém a própria empresa afirma que até hoje seu principal
diferencial é a prestação de serviços realizada pelo GO (Gentil Organizador). O
treinamento que os GOs recebem e sua liberdade de relacionar-se com os GMs torna-se
um diferencial no segmento hoteleiro. Toma-se por base que os GOs são “a alma e a
personificação do Club Med” (Club Med, 2017).
Quando se fala em liberdade de atendimento aos hóspedes, tem-se que é possível dividir
a rotina do GO em duas partes. A primeira é a função principal dentro do village, o que
irá determinar em qual setor o GO está inserido. A segunda, está diretamente envolvida
com o entretenimento do GM. Na prática, todos os GOs possuem uma função primária,
em um setor específico: recepcionista, bartender, instrutor de esportes, etc. (brito,
2007). A função secundária seria a interação com o hóspede, o que inclui almoçar e
jantar na mesma mesa, conversar em qualquer momento do dia, praticar algum esporte
junto, atuar no espetáculo teatral diário, dançar à beira da piscina e/ou convidar para as
atividades diárias (Club Med, 2017; Brito, 2007).
Como toda empresa que visa lucros e deve priorizar as necessidades de seus clientes,
pode-se dizer que com o Club Med não seria diferente e, no sentido do reconhecimento
do GO como fundamental para que o estabelecimento atinja os resultados desejados,
retomamos a questão fundamental: de que forma o GO contribui para hospitalidade do
Club Med?
A priori, seria fácil pensar que a prática hospitaleira dos GOs se define pelo fundamento
da troca monetária: o serviço é prestado porque o GO é pago para isso. Contudo, pode-
5
se também considerar que essas práticas hospitaleiras dos GOs distanciam-se da troca
comercial. No cenário proposto por Camargo (2008), aconteceriam situações de
encontro ou de desencontro, dependendo do grau de reciprocidade que se desenha na
sequência de prestações e contraprestações estabelecidas na relação entre GMs e GOs.
Esse encontro será mais ou menos encenado, em função do nível de intimidade entre
GMs e GOs.
Não é sempre que estamos dispostos a sermos acolhedores. O GO, como qualquer ser
humano, vive essa contradição. Mesmo que muitas vezes tenha vontade de receber e
acolher o GM da melhor maneira possível, há dias em que não existe o desejo de sentar-
se à mesa ou socializar com alguém desconhecido. Então, pode-se dizer que nem
sempre a hospitalidade é praticada genuinamente. Em alguns casos, pode ser dada
apenas como exigência do ofício, em uma rotina de trabalho que obrigatoriamente deve
ser cumprida.
Como foi visto, parece claro que a vida pessoal do GO está intrinsecamente ligada à sua
vida profissional e, por óbvio, suas alterações de humor podem acabar por influenciar
seu estado de espírito no trabalho, o que influenciaria no ambiente, tornando-o mais ou
menos acolhedor.
Para Mauss (1974), há que se atentar para as ocasiões em que existe algum tipo de
obrigação moral relacionada às relações estabelecidas entre os indivíduos, em
sociedade. Obrigações morais podem gerar encontros caracterizados por sentimentos
positivos ou negativos. Quando a obrigação moral se impõe em ambiente trabalhista,
criando por exemplo situações em que os funcionários tenham de agir de determinada
forma, ela acaba por despertar sentimentos negativos.
A teoria da dádiva ajuda a entender melhor a complexidade das trocas entre GOs e
GMs, que apresenta a pluralidade de lógicas instituída na interação social. Os villages
aparecem como um sistema de práticas sociais que são materializadas pelas
experiências concretas de relacionamentos entre GMs e GOs, oriundas dos encontros
sociais continuamente desenhados e vividos. O detalhe é que os GOs precisam obedecer
a regras impostas aos funcionários da empresa hoteleira. GOs e GMs não estão em
posições equivalentes dentro dos villages, embora coexistam numa artificial situação de
6
igualdade. O GO, como funcionário, tem a difícil missão de tornar o GM satisfeito com
o serviço, ao mesmo tempo que precisa cuidar da sua própria motivação e lidar com o
desafio de viver e trabalhar no mesmo lugar (BRITO, 2007). Os GOs não apenas
buscam fazer um bom trabalho, para serem bem vistos dentro da empresa, mas vivem
em um contexto onde vida pessoal e profissional se misturam, potencializando,
instintivamente, o exercício da hospitalidade ou da hostilidade.
Parece contraditório dizer que a comensalidade dentro dos villages é um dos processos
hospitaleiros mais importantes para os agentes que ali estão, pois parece óbvia a
possibilidade de o GM se sentir acolhido ao fazer uma refeição com alguém que vive e
7
pertence àquele lugar. Para o GO, por sua vez, se esta prática é bem-sucedida, é
obviamente bom poder fazer uma refeição tranquila e ter a sensação do trabalho ter sido
realizado com sucesso (Brandão, 2009; Brito, 2007).
É preciso colocar em perspectiva o argumento de que o hóspede pode não ter este senso
crítico. Observou-se, em várias situações, que o cliente sabe que o produto comprado é
o resort, que inclui as belas paisagens, o conforto da infraestrutura hoteleira, assim
como as interações com os GOs. Ou seja, o turista não está sendo enganado. Ele
reconhece que o GO é pago para fornecer esse tipo de serviço e, mesmo assim, escolhe
a empresa como destino de férias (Brandao, 2009). Para Camargo (2008) e Lashley
(2015) esse é o sentido do contrato, uma troca que é feita entre iguais, com base em
condições claramente estabelecidas e prazo determinado de encerramento.
Pode-se propor que as relações entre GOs e GMs, apesar de serem impostas pela
empresa, não são mecanizadas, em sua maioria. Ou seja, o GO, apesar de ter a
obrigação de interagir com o hóspede, o faz também por prazer, até por considerar o
village a sua casa e, por isso, intuir ou reconhecer que deve receber clientes (GMs)
como receberia convidados em seu lar.
Mesmo considerando que a empresa treina os GOs para agradar e fidelizar seus clientes,
pode-se também depreender que o GO o faz por desejar companhia, por ter a
expectativa de ter uma refeição agradável ou simplesmente pelo interesse de bem
8
receber o outro, não somente para crescer dentro da hierarquia da empresa ou porque
possui um salário para fazer isso, mas porque isso lhe faz bem.
Mesmo que a hospitalidade comercial exija o pagamento imediato para que a acolhida
aconteça, nem por isso o relacionamento entre os GOs e GMs pode ser classificado
como artificial.
Como seres humanos que são, também os GOs tiveram suas primeiras experiências de
consumir e de prover alimentos, bebidas e hospedagem em contextos domésticos. Desse
modo, não se pode afirmar que o relacionamento entre GOs e GMs não seja genuíno e
tampouco se pode afirmar que a hospitalidade fornecida pelos GOs é totalmente
verdadeira. Deve-se considerar que a subjetividade não é mensurável. Deve-se ainda
analisar cada caso isoladamente, quando se pesquisa aspectos subjetivos da prestação de
serviços. Entretanto, no âmbito deste estudo, vem-se percebendo que há uma tendência
do ser humano de valorizar a hospitalidade dada pelas empresas, mesmo que tenham
consciência que essa hospitalidade possa ser construída de forma não genuína. Neste
sentido, é fundamental o papel dos GOs como reais provedores de hospitalidade, no
ambiente comercial.
REFERÊNCIAS
Avena, B.M. (2006). Turismo, educação e acolhimento: um novo olhar. São Paulo:
Roca.
Boff, L. (2006). Virtudes para um outro mundo possível. II: Comensalidade – comer
e beber juntos e viver em paz. Petrópolis, RJ: Vozes.
9
Camargo, L.O. de L. (2008). A pesquisa em hospitalidade. Revista Hospitalidade. São
Paulo, 5(2), 15-51.
Lashley, C., Lynch, P. & Morrison, A. J. (eds.) (2007). Hospitality: a social lens.
London: Elsevier.
Mauss, M. 1974 [1924]. Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades
arcaicas. In Mauss, M. Sociologia e Antropologia. 2. São Paulo: Edusp.
Przybylski, I.M. (2014). Hospitalidade sob o olhar do hóspede nos espaços do hotel.
Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Turismo, Universidade de Caxias do
Sul, Caxias do Sul.
10
OMOTENASHI: A RELAÇÃO DA HOSPITALIDADE AO ESPÍRITO JAPONÊS
COM A COMPETITIVIDADE DOS SERVIÇOS DO PONTO DE VISTA DOS
STAKEHOLDERS
RESUMO
RESUMO EXPANDIDO
A hospitalidade para autores como Baptista (2008), Brotherton e Wood (2004), Camargo
(2004), Derrida (1999), Gotman (2009), Grinover (2002), Lashley (2004), Montandon
(2011), Morrison (2004), O´Mahony (2015), Quadros (2011), Selwyn (2004), Telfer
(2004) é interpretada como o acolhimento, gentileza, cortesia e uma virtude que se espera
do outro. Avena (2006), assim como Boff (2005) e Camargo (2004) afirmam que o
acolhimento é um “fato social”, pois os sujeitos são seres sociais, com dificuldade de
viverem isolados. O acolhimento remete também a hospedagem, mas não se configura
1 Mestre. Professor na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo:.
http://lattes.cnpq.br/8878414669504622 E-mail:: liliane.amikura@gmal.com
2 Doutora. Professora e pesquisadora na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil.
Currículo:http://lattes.cnpq.br/4904816535433696 E-mail:ekwada@anhembi.br
1
como exclusivo a esta atividade. Na verdade, o acolhimento se estende a qualquer setor
de serviços e às práticas de sociabilidade; possui sua origem nas relações sociais e na
cultura, e cada povo a concebe de forma diferente.
2
questionário para o idioma japonês, a fim de aplicá-lo no Japão para verificar a percepção
dos japoneses sobre a hospitalidade.
A terceira etapa dessa pesquisa foi realizada por meio de estudo de casos múltiplos
conforme método preconizado por Yin (2005). Para o autor, o objetivo de um estudo de
caso é “[...] uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo
dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e
o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2005, p. 32).
A partir dos autores Belal, Shirahada e Kosaka (2013), na tradução da palavra, omote tem
o significado de superficial e nashi, de menos, ou seja, algo não superficial. Do ponto de
vista da hospitalidade diz-se que é uma prestação de serviço sem expectativa de algo em
troca ou de recompensa. No idioma inglês há uma distinção entre os termos guest e
cliente, ou seja, entende-se que há uma hierarquia entre o cliente e aquele que presta o
serviço para o mesmo. Já na concepção japonesa, não existe hierarquia, mas sim, uma
relação de igualdade das partes, uma relação sem domínio entre um e outro. Por um viés
filosófico, diz-se da hospitalidade como receber o cliente ou visitante da melhor forma
possível, sem segundas intenções, com o coração puro. Isso tanto para "coisas" (mono)
que sejam visíveis (tenham forma) como para aquelas invisíveis (sentimentos). É um
sentimento transformado em atitude, transmitido de forma sutil, delicada e, por vezes,
silenciosamente, pelo povo japonês. Sem alarde, com muita discrição, mas também com
muito sentimento. O omotenashi é a alma do Japão e advém do coração, tem significado
similar à hospitalidade (YANATA, S.; ISHIBASHI, K.; NOMAKUCHI, T., 2016), porém
sustenta a imagem da hospitalidade japonesa com reconhecimento para o lado humano.
3
Diante das práticas de omotenashi e dos estudos sobre hospitalidade, observou-se que seu
entendimento fundamental está no relacionamento construído entre anfitrião e hóspede,
de forma mais genuína, no relacionamento entre pessoas (CAMARGO, 2015;
LASHLEY, 2004), logo, a hospitalidade pode ser apresentada por meio da prestação de
serviços e oferta de produtos, pois um anfitrião hospitaleiro pode fazer com que o cliente
retorne, além de que por meio da qualidade desta hospitalidade prestada é possível
aumentar a satisfação com a oferta de serviços (LOVELOCK, 2006), bem como
desenvolver uma forte ligação entre os prestadores de serviços e clientes, porque é difícil
de ser imitada por empresas concorrentes.
Ao abordar a hospitalidade que tem seu conceito voltado para uma relação entre pessoas,
faz-se necessário identificar o conceito de stakeholder, uma vez que a pesquisa em
questão tem o ponto focal na empresa anfitriã e seus stakeholders. Sua abordagem inicial
4
é apresentada por Freeman que propõe que stakeholders são todos aqueles que afetam ou
são afetados pelas ações das empresas e podem ser representados por funcionários,
clientes, fornecedores, acionistas, bancos, ambientalistas, governo e outros grupos que
ajudam ou prejudicam a organização (FREEMAN, 1984). Portanto, a hospitalidade
quando presente na relação entre empresa e seus stakeholders pode contribuir para a
competitividade de seus serviços, pois permitem que as empresas criem uma competição
estratégica por meio de um serviço exemplar. (ZEITHAML, BITNER e GREMLER,
2014).
Segundo Porter (1999, p. 52), “o lema da estratégia competitiva é ser diferente. Significa
escolher, de forma deliberada, um conjunto de atividades para proporcionar um mix único
de valores”. O autor ainda cita os japoneses, que em sua visão, revelam uma tradição de
serviços profundamente arraigada, que os predispõe a dar o melhor de si para satisfazer a
qualquer necessidade dos clientes. As empresas que competem dessa forma acabam
desfocando as distinções das respectivas posições, tornando-se tudo para todos os clientes,
o que pode ser o caso do omotenashi.
5
survey de escala de importância, adaptado dos autores Asli D. A. Tasci e Kelly J. Semrad,
e pela pesquisa de campo, tem seu respaldo em Al-Alsheikh (2014), o qual afirma que
para compreender o omotenashi, é preciso estudar sua cultura, sua história e explorar o
contexto social para chegar às raízes desta hospitalidade.
Para a academia, a pesquisa é relevante por abordar um tema pouco explorado pela
literatura até o momento e por oferecer dados que poderão estimular estudos posteriores.
No que tange à relevância social, a abordagem do omotenashi é uma forma de
compreendê-lo e valorizá-lo por suas práticas, importantes para o relacionamento entre as
pessoas e o respeito ao próximo. Para a área de negócios, os resultados da pesquisa
retratam a representatividade da hospitalidade na competitividade dos serviços, podendo
estimular outras empresas a praticá-la.
Referências
6
Avena, B. M. (2006). Turismo, educação e acolhimento um novo olhar. São Paulo:
Rocca.
Belal, H. M., Shirahada, K. & Kosaka, M. (2013). Value co-creation with customer
through recursive approach based on japanese Omotenashi Service. International
Journal of Business Administration.
Lovelock, C., & Wright, L. (2006). Serviços: Marketing e Gestão. . São Paulo: Saraiva.
7
MONTANDON, A. (2011). O livro da hospitalidade: A acolhida do estrangeiro na
história e nas culturas. São Paulo: Senac de São Paulo.
Yanata, S., Ishibashi, K., & Nomakuchi, T. (2016). Tourism-Oriented policy, economy
and tourism english in Japan. International Conference on Education and New
Developments.
8
PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE GUIAS DE VIAGEM (1996-2015):
APROXIMAÇÕES COM A HOSPITALIDADE
1
Ana Paula de Camargo Fernandes
2
Diego Ribeiro Santos
3
Mirian Rejowski
RESUMO
Guias de viagem são veículos de comunicação sobre os destinos turísticos na visão de seus
produtores, que projetam uma pseudocomunicação entre o visitante potencial e aqueles que
o receberão, passível de ser investigada na ótica da hospitalidade. Nesta pesquisa
exploratório-descritiva de caráter documental sobre artigos científicos que abordam os
guias de viagem de periódicos da base Scopus editados em inglês a partir do termo
guidebooks, procurou-se sistematizar essa produção. Baseou-se em estudos sobre a
produção científica em Turismo e Hospitalidade e utilizou-se a análise de conteúdo com
categorias temáticas definidas a posteriori, sendo elas: “comunicação turística”, “demanda
turística” e “oferta turística”. Identificou-se um conjunto de 54 documentos produzidos de
forma irregular no período de 1996 a 2015, com destaque para a década de 2010 e para o
periódico Annals of Tourism Research. As aproximações com a hospitalidade, mostra o
papel do guia de viagem como “anfitrião construído”, os seus usuários como “visitantes” e
os destinos e atrações como “lugares de hospitalidade” acolhedores.
1
Mestre em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/3464879079513910. E-mail: apcfernandes@hotmail.com.
2
Mestre em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/6173042514530885. E-mail: diego_rsantos@outlook.com
3
Doutora Professora no Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi São
Paulo, SP, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/8468269699377558; E-mail: mirwski@gmail.com
1
RESUMO EXPANDIDO
Os guias de viagem são utilizados por diversos turistas para obter informações específicas
sobre os destinos a serem visitados, promovendo um melhor conhecimento desses destinos
e/ou a escolha das atrações e passeios. Khatchikian (2000) cita na história do turismo que
no século II surgiu a primeira obra considerada como guia de viagem, intitulada A
Descrição da Grécia escrita pelo viajante Pausânia 4 . Trata-se de uma narração
pormenorizada das cidades, monumentos e acontecimentos históricos e lendários da região,
dividida em dez livros. Embora existam páginas de conteúdo aberto na Internet, aplicativos
e outras fontes de pesquisa para os viajantes, os guias de viagem, impressos ou eletrônicos,
ainda são uma importante fonte de informação que os turistas valorizam, pois são acessíveis
a qualquer hora e em qualquer lugar (Gorp, 2012), antes e durante a viagem na oferta de
informações confiáveis.
Para compreender a evolução dessas publicações de apoio aos turistas e viajantes, elegeu-se
como objetivo central investigar a produção científica sobre o tema guias de viagem, a fim
de identificar suas interfaces com a hospitalidade. Como objetivos secundários
estabeleceram-se os seguintes: a) caracterizar os artigos selecionados, considerando suas
informações editorais; b) identificar temas e subtemas como base para a classificação de
categorias temáticas; c) analisar essas categorias à luz das abordagens teóricas da
hospitalidade.
Lashley (2004, p. 5), ao mesmo tempo em que reconhece que “a hospitalidade envolve,
originalmente, mutualidade e troca e, por meio dessas, sentimentos de altruísmo e
beneficência”, acredita que seja necessária uma definição mais ampla e propõe analisar
suas atividades sob os domínios social, privado e comercial. Neste artigo, consideram-se a
dimensões fundamental e diversificada de hospitalidade de O’Gorman (2007), a primeira se
refere à existência da hospitalidade por meio da alimentação, bebida e acomodação,
4
Pausânias, viajante, geógrafo e arqueólogo do século II da era cristã, provavelmente nascido na Líbia. Autor
da obra Descrição da Grécia, dividida em dez partes e detalha fatos da topografia, mitologia e arqueologia da
Grécia antiga. (Khatchikian, 2000).
2
atendendo deste modo as necessidades e propósitos do hóspede; e a segunda trata das
acomodações de pouso (alojamento) e serviços associados, itens encontrados em guias de
viagem com o intuito de atender as necessidades do turista ou viajante.
Beni e Moesch (2015) afirmam que o turismo está ligado às culturas, ao ato de receber,
sendo assim, está ligado à hospitalidade e sua tradição. Convencionalmente, o hóspede é
um viajante que recebe hospitalidade no lar do anfitrião. Esse anfitrião pode ser visto como
a pessoa que está na linha de frente no momento de entrega da hospitalidade para hóspedes
que podem ou não ser membros de um certo grupo de viajantes, incluindo migrantes e
turistas (Bell, 2009).
Para estudar mais profundamente a relação entre turismo e hospitalidade, Bell (2009)
divide locais urbanos, em locais de alimentação, bebidas e descanso e classifica as cidades
como lugares de turismo. A hospitalidade em ambientes comerciais é de extrema
importância, uma vez que esses locais proporcionam formas de hospitalidade entre seus
hóspedes e anfitriões que não ocorrem somente ao âmbito econômico, pois se estendem ao
social, trazendo momentos de convívio no dia a dia das pessoas, principalmente nos
estabelecimentos relacionados à comensalidade, onde são partilhados não somente
alimentos e bebidas, mas também visões do mundo e padrões de vida (Bell, 2007).
3
cortesia que um hóspede deve receber. Grinover (2009) ressalta a importância de uma
cidade tornar-se uma experiência ativa tanto para quem a visita como para quem nela reside.
Para ele, uma cidade passa a ser um lugar “importante” pela sua capacidade de mudar as
pessoas que por lá passam, fazendo com que essas pessoas não sejam mais as mesmas após
a experiência nela vivenciada.
Para Barrado Timón (2004, p. 55), o destino turístico surge da interação entre duas áreas de
criação e consumo turístico. Os guias de viagem auxiliam na divulgação de bares, cafés e
outros estabelecimentos que proporcionam encontros e interações entre indivíduos,
possibilitando relações entre os habitantes de uma cidade e também entre os turistas,
trazendo experiências únicas principalmente àqueles que estão de passagem e carregam em
si mais do que uma simples informação geográfica sobre o destino turístico, portam ideais e
visões concebidas pelos autores ou editoras.
Esta pesquisa exploratório-descritiva foi realizada por meio de um estudo documental (Gil,
2002), fundamentada nos estudos sobre produção científica de Rejowski (1996) e Bastos
(2008). Expande uma pesquisa similar desenvolvida por Fernandes, Santos e Rejowski
(2015), utilizando a análise de conteúdo como estratégia, com características definidas “a
posteriori”, conforme Bardin (2011) a partir da base de dados Scopus com o termo de busca
“guidebook”, uma vez que a produção em língua inglesa mostrou ser mais robusta,
restringindo-se o período entre 1996 e 2015, a fim de cobrir vinte anos de produção. Após o
tratamento dos dados editoriais, além do título, resumo e palavras-chave, o recorte da
produção científica investigada na pesquisa contou com 54 artigos. Por fim, após a leitura e
releitura dos títulos, resumos e palavras-chave, os documentos foram agrupados com base
em seus temas e subtemas, estabelecendo-se três categorias de análise.
4
destaque para o Annals of Tourism Research (8), seguido pelo Tourism Analysis (4) e pelo
Tourism Management (3). A maior concentração da produção científica ocorreu na
categoria “comunicação turística” (26), seguida de “demanda turística” (15) e “oferta
turística (13).
5
guias de viagem aos turistas ou viajantes, colocando estes como o “outro”, o “convidado”
(Bell, 2009), entende-se que essas publicações influenciam na escolha de destinos ou na
experiência de viagem, construindo relacionamentos entre hóspede e anfitrião baseados na
confiança. (Lashley, 2004).
6
se locomove ou tem intenção de se locomover a determinado destino ou atração turística, os
quais são lugares de hospitalidade por proporcionarem interações, contato e proximidade
entre pessoas. Em suma, um guia de viagem é capaz de desempenhar seu papel de
“anfitrião construído”, os seus usuários são como “visitantes” e os destinos e atrações são
apresentados como “lugares de hospitalidade” acolhedores.
REFERÊNCIAS
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Hospitalidade, reflexões e perspectivas. São Paulo: Manole, p. 157-164.
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XII Seminário da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo,
Natal.
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8
REALIDADE VIRTUAL, TURISMO E HOSPITALIDADE: UMA REFLEXÃO
ATRAVÉS DA ANÁLISE FÍLMICA DO LONGA O VINGADOR DO FUTURO.
Lisele Taufer1
Luciane Todeschini Ferreira2
Olga Araújo Perazzolo3
RESUMO
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul,
Caxias do Sul, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/8770780215826975. E-mail: ltaufer@ucs.br.
2
Doutora em Letras, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora e pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS,
Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1830986077334296. E-mail: ltferrei@ucs.br.
3
Mestre em Educação, pela Universidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. Membro do Corpo
Permanente do Grupo de Pesquisa UCS/CNPq Turismo: desenvolvimento Humano, Linguagem e Processos
Educacionais. Currículo: http://lattes.cnpq.br/2036396343653638. E-mail: oaperazz@ucs.br.
1
RESUMO EXPANDIDO
E nessas antecipações, nessas nesgas visionárias, uma das temáticas recorrentes é a relação
homem-máquina. Nas mais diferentes metáforas que o cinema pode produzir, o cerne da
discussão concentra-se no quanto, num futuro não mais tão distante, as máquinas
substituirão os homens; ou, se não o substituirão, como interferirão na sua relação com
aquilo que se conhece como realidade. O icônico Blade Runner, o caçador de andróides
dirigido por Ridley Scott (1982), Matrix, dirigido por Lana Wachowski e Lilly Wachowski
(1999); AI - Inteligência Artificial de Steven Spielberg (2001); Eu, Robô, de Alex Proyas
(2004); Avatar (2010), dirigido por James Cameron e Ex_Machina: Instinto Artificial,
dirigido por Alex Garland e lançado em 2015 são expoentes dessas inquietações, que ora
apontam para a relação do homem com a máquina, ora apontam para as novas realidades
que são possíveis pelas múltiplas conexões entre homem e máquina.
Como o homem viajará? Qual será a sua relação com o tempo e o espaço? Que
configurações cerebrais sofrerão mudanças? Como o homem se comportará nesse novo
2
espaço de interação e relação? Que características tem o sujeito interfacetado? E mais,
como será o fazer turismo, como se darão os laços de hospitalidade? Os questionamentos,
advindos de observação de uma realidade que se faz cada vez mais presente em diferentes
espaços, são vários e o seu valor está ainda na possibilidade de reflexão e não na certeza da
resposta.
O presente trabalho tem o objetivo de refletir sobre algumas dessas questões, a partir de
leitura de fragmentos do filme “O Vingador do Futuro” de 1990, dirigido por Paul
Verhoeven.
3
Pereira e Santos (2014), a hospitalidade ocorre no espaço entre sujeitos. Nessa relação,
acolhidos e acolhedores alteram os papéis, pois todos envoltos em aprendizagens:
“hospitalidade e o acolhimento são termos designativos, respectivamente, da forma e da
dinâmica de um fenômeno que se constitui no espaço ‘entre’ sujeitos que interagem,
potencializando o crescimento e a mudança” (Perazzolo, Santos e Ferreira, 2016, s/p)
O fenômeno turístico, para Moesch (2002), é apresentado em sua forma, em seu cerne, “a
experiência comum, realizada pelo sujeito, em espaços reais ou virtuais, na busca do
imaginário, da diversão, da poesia, da emoção.” (p. 118). Como se observa, Moesch já
anuncia que experiências se dão em espaços virtuais e que o sujeito vai em busca de.
4
Assim, no desafio imposto de pensar (e buscar respostas), cabem as reflexões: e se o
deslocamento acontecer em outros planos, e se o deslocamento a ser feito envolver outras
realidades, e se o homem puder viajar por outros espaços, e se houver outras realidades, ou
ainda, e se o deslocamento puder ocorrer apenas em forma de lembrança? E mais, na forma
de uma lembrança implantada no cérebro daquele que compra essa lembrança? E se a
compra puder ser realizada com a mesma naturalidade com que hoje compramos uma
passagem área via site?
Muitas condicionais são apresentadas (“e se”), pois uma nova relação já inaugura-se entre o
homem e o objeto a ser experienciado. Entre o homem e a sua experiência, uma outra forma
de conhecer.
5
possa vivenciar uma outra realidade, com todas as sensações, fazendo-o acreditar que está
em um espaço real, quando, na verdade, está sentado em uma cadeira eletrônica, com
sensores de movimento e um óculos tridimensional, que projeta a imagem
computadorizada, a qual é assimilada pelo cérebro. Essa experiência pode ser vivenciada no
Animal Kigdom, com o brinquedo Avatar Flight of Passage. (Moesch, 2002, p.89).
Como anteriormente anunciado, que o cinema antecipa tendências, destaque é feito para a
cena em que Doug intenta comprar experiências, memórias de viagens. Sua esposa, Lori,
tenta desmotivá-lo a comprar o pacote de viagens à Marte, por considerar um lugar
inóspito. Porém, Doug conhece uma forma de visitar Marte sem necessariamente deslocar-
se para lá, ao assistir na televisão do metrô um comercial da empresa “Rekall”. A Rekall
vende memórias de viagens implantadas no cérebro, dando ao cliente a sensação de já ter
visitado o local. Nesse caso, como deve ser compreendida a experiência turística, se não
houve deslocamento do corpo físico, mas, para a mente, cuja lembrança foi implantada?
Ora, ao ser implantado no cérebro da personagem a memória de uma viagem a Marte, ela,
personagem, tem a lembrança de uma experiência no tempo e espaço paralelo à sua própria
realidade. Isso não significa que essa lembrança seja inválida, pois, para aquele que
comprou a lembrança, a mesma existe registrada em suas emoções, e, portanto, registrada
na memória, “além das diferentes formas de captação dos sentidos, também pensamentos e
memórias evocam emoções, e essas desencadeiam novos pensamentos e lembranças,
caracterizando ciclos que marcam as experiências”. (Perazzolo, Santos, Pereira & Ferreira,
2013, p.157),
6
Porém, também há riscos: no mesmo filme, uma outra cena apresenta Doug confuso a cerca
da realidade em que está. Em um momento de conflito, sua esposa Lori, e uma personagem
que se apresenta como psiquiatra, tentam convencê-lo que ele está em outro plano, que não
o real. Que Doug é outra pessoa e que aquela conversa que estão tendo é realizada de forma
virtual. O discurso é convincente e Doug está prestes a ceder quando observa uma
manifestação física, um resquício de suor, escorrer no rosto do psiquiatra.
A pulsão humana pelo conhecimento, esse desejo de saber, de conhecer faz parte do próprio
homem, justificando as suas buscas. E, na busca, o homem experiencia, sendo as emoções
as tonalizadoras da experiência que fica registrada na memória.
A virtualidade trouxe outro espaço e outro tempo de experimentação, sendo possível hoje
refletirmos sobre o sujeito interfaceado, aquele que interage com ambientes outros, tendo o
seu corpo acoplado a dispositivos. Essa forma de interação abre campo de estudos em
diferentes áreas, inclusive no Turismo.
REFERÊNCIAS
Barwinski, L. (2009). A World Wide Web completa 20 anos, conheça como ela surgiu.
São Paulo: Tecnomundo. Recuperado de
https://www.tecmundo.com.br/historia/1778-a-world-wide-web-completa-20-anos-
conheca-como-ela-surgiu.htm.
7
Feitshans, B.; Shusett, R. (produtores) e Verhoeven, P. (Diretor). (1990) O Vingador do
Futuro 1990 (Total Recall) [cinematografia]. Estados Unidos: Carolco Pictures.
Perazzolo, O. A.; Santos, M. M. C. dos.; Pereira, S.; & Ferreira, L. T. (2013). Significação
da experiência estética no turismo: a sensorialidade ao acolhimento. Pasos 11(3),
155-162.
Santos, M. M. C. dos.;& Baptista, I. (Org.) (2014). Laços sociais: por uma epistemologia
da hospitalidade. Caxias do Sul, RS: Educs.
8
SINALIZADORES DE ACOLHIMENTO NA LITERATURA SOBRE FILÓS:
BREVE ANÁLISE DE FILÓ – UMA EXPERIÊNCIA DE PARAÍSO, DE ROVÍLIO
COSTA
Samara Camilotto1
RESUMO
O presente trabalho analisa sinalizadores de acolhimento na literatura sobre filós e utiliza como objeto de
estudo o texto “Filó – uma experiência de paraíso”, de autoria de Rovílio Costa, publicado no livro “Nós,
os ítalo-gaúchos”, em 1998, e organizado por Mario Maestri. Conforme Rovílio Costa relata, o filó
acontecia na Itália e no Rio Grande do Sul em seus respectivos e diferentes formatos. No Rio Grande do
Sul, essa prática sociocultural dos imigrantes italianos acontecia no anoitecer ou à noite e era um momento
de conversar, de comer e beber, de rezar, de conviver. Depreende-se, pela análise, que os sujeitos
participantes dos encontros mantinham um nível de igualdade em relação às demandas e às
disponibilidades de trocas. Através da escuta mútua, ambos, acolhedor e acolhido, ensinavam e aprendiam.
Na geração de saberes, os sujeitos transformavam-se, e o fenômeno do acolhimento se constituía.
RESUMO EXPANDIDO
1 Mestranda em Turismo e Hospitalidade pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul, RS,
Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/0398906421549611. E-mail: camilotto.sa@gmail.com.
2 Doutora. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Caxias
do Sul, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/4918303295310860 E-mail: mcsantos@ucs.br
3 Mestre. Professora na Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2036396343653638. E-mail: oaperazz@ucs.br.
1
Filós eram encontros noturnos em que amigos, vizinhos e parentes, ao anoitecer, ou à
noite, reuniam-se para conversar, comer, cantar, mas, sobretudo, para conviver. A prática
sociocultural de “fazer filó” foi comum desde o início da imigração de italianos ao Rio
Grande do Sul, pois, por conta da divisão dos lotes, as residências distavam-se em cerca
de 300 metros, e a necessidade de convívio emergiu desde logo (De Boni & Costa, 1984).
Em “Nós, os ítalo-gaúchos”, livro organizado por Mario Maestri (1998), Rovílio Costa
dedica um capítulo à rememoração de um passado em que o filó se fazia presente tanto na
Itália quanto nas colônias onde viviam os imigrantes italianos. No decorrer do texto,
diversas são as menções às relações interpessoais oportunizadas pela prática e, dessa
forma, a relações de hospitalidade/acolhimento4.
O autor explica que a palavra “filó” significava, na Itália, “[...] o conjunto de trabalhos
manuais que podiam ser executados em casa, no período do inverno” (Costa, 1998, p.
178). Nessa época do ano, não havia condições de trabalhar na lavoura e, se não houvesse
trabalhos domésticos, os dias transcorreriam monótonos. O termo “filó” englobava:
preparo de refeições, costura, fiação, bordadura, ensino do catecismo para os filhos e
fabricação de comidas derivadas do leite (queijo, manteiga e requeijão). Como a maior
parte do tempo era livre, adotou-se o costume de encontros entre vizinhos. Anciãos de
duas ou três famílias reuniam-se em uma casa também para economia de lenha, escassa
na época de inverno. Costa (1998, p. 178-179) assim relata: “Uma família visitava a outra
e vice-versa”, “[...] um dia nesta, outro dia naquela casa [...]”.
4 Perazzolo, Ferreira, Santos e Zerger (2016, p. 542) justificam a adoção dos termos
“hospitalidade” e “acolhimento” como equivalentes, com a concepção de que hospitalidade e
acolhimento são termos que se permeiam e se referem, respectivamente, à forma e à dinâmica
do fenômeno que se constitui no espaço “entre” sujeitos em interação, potencializando-lhes o
crescimento e a transformação nas perspectivas individual e coletiva.
2
hospitalidade e o que envolve maior complexidade do ponto de vista de ritos e
significados.”.
Costa (1998) explica que, no Rio Grande do Sul, apesar de não haver no mesmo grau o
problema do frio no período do inverno, como acontecia na Itália, os imigrantes italianos,
mantendo a tradição, adotaram o filó realizando-o costumeiramente. As pessoas jantavam
em suas casas e, na sequência, saíam para visitar os vizinhos, tendo o cuidado de chegar
cerca de duas horas antes que a família visitada fosse dormir. Conforme a safra e a
produção da estação, convidavam-se os amigos para comer uva, pinhão, amendoim,
laranja e beber vinho e graspa. De acordo com Costa (1998, p. 180), “a sensibilidade
sugeria que se convidassem os vizinhos que não haviam produzido tal e qual produto para
compartilhar com eles”.
Essa forma de partilha descortina uma relação de comensalidade. Comer juntos possui,
para Boutaud (2011), um significado ritualístico e simbólico, que é superior à satisfação
alimentar. Boff (2005, p. 100) considera que “[...] a hospitalidade e convivência se
concretizam maximamente na comensalidade.”, sendo somente considerados comensais
aqueles que são ou que se fizeram amigos. Semelhantemente, Boutaud (2011, p. 1215)
ressalta que “se a relação em torno da mesa cria um laço, com maior frequência ainda ela
fortalece o laço já existente”.
3
Não só a produção agrícola das propriedades refletia-se na alimentação nos filós, mas
também tematizava as conversas dos colonos, cujas narrativas diziam respeito às suas
vivências. Os adultos falavam sobre “[...] as culturas, preços, negócios, a troca de
sementes, empréstimo de animais reprodutores, troca de jornadas em tarefas especiais, a
necessidade de auxiliar alguma família que necessitava de mão de obra, por ter alguém
doente.” (Costa, 1998, p. 179) – o que consistia num momento de aprendizagem para os
jovens, ao qual se somava a oportunidade de encontrar seu(sua) amado(a). Já as crianças,
aproveitavam para brincar juntas. Caso alguma pessoa da família estivesse doente, o
costume de visita também era na forma de filó. Este, mais breve que os demais, mantinha
um ritual de modo a não perturbar o enfermo (Costa, 1998).
O filó era, pois, um momento de harmonia da família com sigo (sic) mesma, da família com Deus
através da oração, e da família com os vizinhos através de encontros periódicos, ditados pelo bom-
senso e pelo nível de amizade entre famílias de costumes e tradições próprias. [...] O filó era, pois, a
grande síntese da vida do homem em família, em vizinhança e em relação com Deus.
4
nos polos da relação, saindo enriquecidos e fortalecidos (Perazzolo, Santos & Pereira,
2013, tradução nossa).
Nesse sentido, a casa onde se realizava o filó desbordava sua condição de imóvel
destinado à habitação. Espaço de acolhimento, ela se aproximaria do sentido de “morada”,
como referido por Lévinas (1988), espaço de interioridade e, como tal, de disponibilidade
para o outro. Lembremos com Derrida (2003, p. 55), que “Não existe casa ou
interioridade sem porta e sem janelas”.
E, atualmente, será que ainda se conserva a prática de “fazer filó”, quer na Itália, quer no
Brasil, ou, particularmente, nas regiões de imigração italiana no Rio Grande do Sul? Se
ainda acontece, qual seria seu formato, suas características? Em que se teria mantido ou
modificado no decorrer do tempo? Seria ele ainda motivador da construção e do
fortalecimento de vínculos de sociabilidade e de acolhimento? Essas são algumas das
questões fomentadoras de pesquisa de Mestrado em desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
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de todos (V. 1). Petrópolis, RJ: Vozes.
Costa, R. (1998). Filó – uma experiência de paraíso. In M. Maestri (Org.), Nós, os ítalo-
gaúchos (p. 178-180) Porto Alegre: Ed. UFRGS.
5
De Boni, L. A., & Costa, R. (1984). Os italianos do Rio Grande do Sul. Caxias do Sul,
RS: EST/UCS.
Perazzolo, O. A., Ferreira, L. T., Santos, M. M. C. dos, & Zerger, E. (2016). Relações de
Hospitalidade no Entrecruzamento das Dimensões ‘Sincronia’ e ‘Simetria’ no
Contexto do Turismo. Revista Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, 8(4),
538-554.
Perazzolo, O. A., Pereira, S., & Santos, M. M. C. dos. (2014). Sincronia e simetria:
proposições tipológicas para o acolhimento. Anais... 11º Seminário da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, Fortaleza, CE. Recuperado de
https://www.anptur.org.br/anais/anais/v.10/Anais/DHT2/061.pdf
6
SISTEMA DA HOSPITALIDADE NO ENCONTRO HOSPITALEIRO
RESUMO
1
Doutorando em Hospitalidade Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/4300529881127811. E-mail: gilberto@gg-guimaraes.com.br.
2
Doutora em Administração Publica e Governo. Professora do Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade
na Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7646561918886612. E-mail: rbsousa@anhembi.br.
3
Livre Docente. Professor no Programa de Pós-Graduação em Hositalidade da Universidade Anhembi
Morumbi, São Paulo, SP, Brasil.. Currículo: http://lattes.cnpq.br/0258622788919319. E-mail:
octacam@uol.com.br.
1
RESUMO EXPANDIDO
North (1990) constatou que evoluções institucionais foram mais importantes do que
inovações tecnológicas, e buscou formular uma teoria (institucional) do desenvolvimento
econômico. North (1990) mostrou que o sucesso das economias do Ocidente foi
consequência do desenvolvimento de instituições capazes de atingir o crescimento
econômico de longo prazo. Gala (2003) mostra que a dificuldade de enfrentar a incerteza e
superar os custos de transação levou os seres humanos a se estruturarem em instituições, e a
interagirem a partir de regras. Uma instituição envolve normas, atividades, pessoal e
material e as regras que o grupo deve obedecer. Envolve, também, uma “função”, uma ação
coletiva responsável e pressupõe a cooperação e uma organização entre os indivíduos.
Para Motta (1971) as organizações podem ser vistas como um sistema dinâmico e aberto,
um conjunto de elementos mutuamente dependentes que interagem entre si com
determinados objetivos e realizam determinadas funções. “Para sobreviver a organização
precisa de ajustes com o ambiente externo, além de ajustes no ambiente interno”(Motta,
1971). Worren e Worren (2016) baseados em conceitos da teoria geral dos sistemas
2
mostram que a análise funcional pode ser usada para melhorar os processos e, assim,
aumentar a eficácia dos sistemas sociais. Homans (1974) estabelece que uma organização
pode ser definida como um sistema de papéis. Ele considera como variáveis básicas, as
atividades, as interações e os sentimentos, e que qualquer alteração nessas variáveis muda
todo o contexto das demais.
3
Foi realizada uma pesquisa qualitativa, bibliográfica analítica- comparativa, com leitura
interpretativa dos textos dos principais autores. Os autores e textos foram selecionados,
através de pesquisas na base Scopus. Uma primeira pesquisa, realizada em 22 de Junho de
2017, buscou textos recentes sobre teoria dos sistemas nas organizações com a sequencia
investigativa (title-abs-key "system theory" and title-abs-key corporate), cujo resultado
apresentou seis artigos: Kim e Daniel (2016); Musgrave e Woodward (2016); Worren e
Worren (2016); Wilke, Wilke e Viglione (2015); Dankova, Valeva e Štrukelj (2015);
Andersen (2015). Uma segunda pesquisa, buscou artigos que apresentassem uma visão
sistêmica da hospitalidade, com a sequencia investigativa (title-abs-key system theory and
hospitality) limitada a artigos na área de “business”, cujo resultado apresentou três artigos:
Sydnor-Bousso et al. (2011); Murphy, Dipietro e Murrmann (2007); Scott e Laws (2006).
Scott e Laws (2006) apresentam a teoria dos sistemas como um enquadramento viável no
turismo. Beni (1990) desenvolveu o SISTUR, aplicando a teoria geral dos sistemas ao
turismo. Com base no SISTUR foi estabelecido um modelo para definir o sistema da
hospitalidade - o encontro hospitaleiro, em ambiente comercial, especificamente, no
momento da entrega do produto ou serviço, ou seja, no encontro hospitaleiro entre
funcionário-anfitrião e cliente hóspede tal como apresentado na figura 1.
4
ambiente local comportamento
atrativos do anfitrião e
atuação do hospede
custos diretrizes
preços organizacionais
remuneração e cultura local
ambiente econômico e
estrutura da região do
anfitrião
prestador tomador
de serviço de serviço
empresa e
condições de local Entrega
Encontro Hospitaleiro
5
não pela entrega realizada; 6) Retroalimentação ou feedback; formalizado pela recompra e
recomendação da empresa e dos produtos e serviços fornecidos ou pelas críticas e por uma
contraindicação; 7) Ambiente; os fatores externos, como por exemplo, a infraestrutura
física, o mercado de trabalho, as regras e leis, o governo, a concorrência, os fornecedores,
os consumidores, a comunidade, o sistema financeiro, os sindicatos, a tecnologia, a cultura,
as diretrizes empresariais, etc.
Assim podemos definir tanto uma Superestrutura como uma Infraestrutura específica para o
modelo. Na superestrutura temos o Ambiente econômico e estrutura da região da empresa a
que pertence o anfitrião, que é formado por; 1) as condições econômicas e empresariais do
País e da região da empresa; 2) as condições da estrutura do País e da região; espaço
urbano, estradas, transporte, agua, telecomunicações, etc. Na Infraestrutura temos as
características da empresa a que pertence o anfitrião e, as condições do local onde ela atua,
que são formadas por; 1) as condições da estrutura da empresa; acessibilidade, reservas; 2)
as condições físicas da empresa; espaço físico, recepção, wi-fi, banheiros, móveis, etc. Com
relação ao Conjunto das Relações Ambientais temos os seguintes componentes:
6
2. Social: formado por: 1) Comportamento; o estilo, hábitos e crenças das
pessoas, o estilo da liderança e a marca da empresa; 2) Características pessoais do
anfitrião e hóspede, 3) Os estilos comportamentais dos participantes do encontro
hospitaleiro, tanto do funcionário-anfitrião e do cliente-hóspede.
7
Finalmente, é considerado, no modelo proposto, como momento da entrega, aquilo que no
modelo de Beni (1990) era considerado como o da distribuição. Essa entrega, independente
de disponibilização, ou não, de algum produto, se configura na prestação simultânea de um
serviço, e assim ela é realizada em um encontro hospitaleiro. Esse Encontro Hospitaleiro,
essa relação interpessoal, acontece entre uma pessoa, um colaborador, que representa a
empresa, e que realiza as funções de anfitrião, e outra pessoa, um consumidor, cliente, que
assume o papel de hospede. O aspecto intangível, o fator humano, é um dos ingredientes
mais importantes para que haja a percepção de uma experiência positiva do encontro
hospitaleiro. Por ser a hospitalidade uma relação interpessoal, intersubjetividade, a
hospitabilidade pode ser conceituada e avaliada por intermédio das características
comportamentais e da empatia, dos participantes. Além disso, é preciso, também,
considerar a situação, a cena, em que esse encontro se realiza e, também, com qual a
disposição emocional dos participantes ele se realiza.
O objetivo era, a partir da teoria geral de sistemas, construir um modelo que, de alguma
forma, pudesse se constituir em um sistema da hospitalidade. Uma das bases de
estruturação foi o sistema de turismo, o SISTUR, do prof. Dr. Beni (1990). Devido a
complexidade e multiplicidade de possibilidades, optou-se por focar no encontro
hospitaleiro, que ocorre em prestação de serviços. Em conclusão, apesar das dificuldades
encontradas, por conta, não só da complexidade da conceituação da hospitalidade e dos
múltiplos componentes envolvidos, mas também pela dificuldade de mensuração das
variáveis emocionais e relacionais, conseguiu-se chegar a uma primeira versão de um
modelo sistêmico para o encontro hospitaleiro. O modelo resultante ficou restrito aos
conceitos de hospitalidade comercial, e em prestação de serviços. O desafio passa a ser,
então, a partir de análises mais profundas, fazer evoluir, em continuidade, o modelo
proposto.
8
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11
SISTEMA DE HOSPITALIDADE A PARTIR DO CONJUNTO DE RELAÇÕES
AMBIENTAIS DO SISTUR
1 Mestranda em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumb, São Paulo, SP, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/1443345802273459. Email: ericana@gmail.com
2Doutora. Professora no Programa do Pós-Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumb,
São Paulo, SP, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/7646561918886612. Email:
roseanebmarques@yahoo.com.br
3 Doutora. Professora no Programa do Pós-Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumb,
São Paulo, SP, Brasil. Currículo http://lattes.cnpq.br/4904816535433696. Email: ewada@uol.com.br
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RESUMO EXPANDIDO
A Hospitalidade, dentre diversas outras abordagens, pode ser entendida como a relação
entre anfitrião e hóspede (Lashley, 2004) com o objetivo de vínculo; como o meio de criar
relacionamentos com estranhos (Selwyn, 2004) e pode ser analisada sob três domínios:
social, privado e comercial.
O objetivo geral deste artigo é encontrar uma aproximação teórica entre o Sistur e a
Hospitalidade dando início a insights que possam ajudar na explicação de um sistema
próprio da Hospitalidade. Como objetivo específico está levantar os componentes do
conjunto das relações ambientais do Sistur para transpor na “gestão da experiência de
Hospitalidade”, proposta por Lashley (2004). Esses objetivos surgiram da problematização:
Por que o Sistur, aliado à teoria dos três domínios da Hospitalidade, pode ser utilizado
como insight para a criação de um sistema próprio da Hospitalidade? Foi delineada a
proposição (P1) de que o sistema é flexível e os componentes do Turismo e da
Hospitalidade tem estreita aproximação, o que confirmaria que o Sistur pode ser adaptável
ao estudo da Hospitalidade, se aliado à teoria dos domínios da Hospitalidade de Lashley
(2004).
Para melhor compreensão da realidade muitas vezes são desenvolvidos modelos com
estruturas lógicas para simplificar situações. Neste artigo, pretende-se utilizar a definição
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de framework4 como uma forma de organizar um objeto de pesquisa em um determinado
contexto, podendo ser utilizados para organizar ideias, conceitos, dados (Pearce, 2012).
Dentre esses frameworks, estão os sistemas, que são importantes para sistematizar e
consequentemente explicar (de forma gráfica ou não) uma relação complexa, em vez de
simplesmente analisar seus elementos isoladamente. Sistemas, especialmente, os mais
complexos são dinâmicos, caracterizados por diversos loops e feedbacks (Pearce, 2012) e
podem ser um conjunto integrado, de elementos interatuantes (Cuervo, 1967). Bertalanffy
diz ainda que seus componentes são mais do que apenas a soma das partes (Panosso Netto,
2005). Neste artigo foi utilizado um sistema brasileiro criado para conceituar a atividade
turística, conhecido como Sistur.
O domínio privado foi identificado como o contexto onde podem ser analisadas as
expectativas de anfitriões e hóspedes, que podem ter implicações no âmbito comercial,
enquanto o domínio social representa as expectativas, obrigações e responsabilidades
desses anfitriões e hóspedes, que podem ocorrer em diferentes tempos e espaços (Lashley,
2015). Quanto à hospitalidade no domínio comercial, essa prática é tão antiga quanto o
comércio em si (Walton, 2004) e discussões sobre esse domínio se fazem pertinentes, pois a
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Termo utilizado por Douglas Pearce (Pearce, 2012), que aqui é utilizado em um contexto de estrutura ou
alicerce, uma vez que não há consenso entre autores sobre a definição do termo e, por isso, optou-se por
utilizar o termo em inglês.
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promoção da hospitalidade pode ser um diferencial decisivo em empresas de serviços
(Wada, 2004), trazendo competitividade.
Trata-se de um artigo de análise (Marconi & Lakatos, 2010), que conta com uma pesquisa
de abordagem exploratória, conceitual, de cunho qualitativo, que visa a contribuir com a
discussão sobre um desenvolvimento de um sistema de Hospitalidade. Por se tratar de um
estudo conceitual, foi feita uma revisão de literatura sobre sistemas e hospitalidade (Tabela
1). Optou-se então pelo Sistur, sistema desenvolvido por Mario Beni.
Sistemas (Beni, 1990, 1997; Cuervo, 1967; Panosso Netto, 2005; Pearce, 2012)
(Baptista, 2002; Camargo, 2015; Lashley, 2004, 2007, 2015; Lugosi, 2017;
Hospitalidade Telfer, 2004; Wada, 2004; Walton, 2004)
Optou-se por, aliado à teoria de sistemas, propor uma modelagem a partir dos conceitos de
framework, instrumento proposto por Pearce (2012). Isto porque, conforme menciona Beni
(1997), a análise da estrutura de toda atividade requer o estabelecimento de limites no
contexto em que ele se processa e há qualidades que não podem ser previstas olhando-se
apenas os componentes. A modelagem por frameworks é importante para ilustrar
graficamente dinâmicas e interrelações (Pearce, 2012), como é o caso dos sistemas.
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O Sistur, sistema proposto por Mario Carlos Beni, trata-se de uma consolidação, ordenada e
estruturada, dos componentes do Turismo e servirá como um dos frameworks para análise
das relações de Hospitalidade. No entanto, alguns teóricos divergem sobre a questão da
relação entre Turismo e Hospitalidade em relação a qual está contido no outro; se a
Hospitalidade é parte do Turismo ou vice-versa.
Para transpor esta discussão, no presente artigo será abordada a visão de Peter Lugosi
(Lugosi, 2017), que prevê que na verdade há uma área de intersecção entre os dois campos
de estudo, onde a Hospitalidade é algo mais abrangente, que pode explicar dinâmicas não
somente do Turismo como de outros setores. Em uma aproximação da relação entre
Hospitalidade e Turismo no diagrama de Venn proposto por ele, temos a segunda imagem
onde consta uma área de intersecção entre os dois campos (Figura 2).
Partindo do princípio da Teoria Geral de Sistemas de Bertalanffy, que afirma que cada
variável interage com outras variáveis de forma tão completa que causa e efeito não podem
ser separados e que essas variáveis não podem ser isoladas de seu contexto (Beni, 1997),
vê-se parte do Sistur na Figura 3 e sua ilustração de relações dos componentes do Turismo.
Apesar de visualmente parecer reducionista inserir algo tão amplo como este excerto do
Sistur dentro de uma área aparentemente pequena como a do diagrama, é importante
ressaltar que a discussão proposta por Lashley é bastante abrangente.
No Turismo temos seus componentes que, apesar de interligados, podem ser analisados
separadamente. Já na gestão da hospitalidade, existe uma simbiose dos acontecimentos. Os
fatores externos estão contidos no anfitrião, que está imbuído de todos esses contextos.
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Figura 2. Adaptado de modelo (diagrama de Venn) proposto por Lugosi
Fonte: (Lugosi, 2017)
Figura 3. Ilustração de áreas para interposição e assim criar sugestão de um sistema de Hospitalidade. A
proposta é a inserção do Sistur (diagrama à esquerda) na área da “gestão da experiência em hospitalidade”,
dentro do diagrama de Venn proposto por Lashley (2004).
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Conforme menciona Telfer há uma experiência da Hospitalidade quando o anfitrião se
encarrega de acomodar, alimentar, mas também entreter e proporcionar segurança ao seus
hóspede (Telfer, 2004) e aborda ainda questões do comportamento hospitaleiro no domínio
comercial (Lashley, 2007). Percebe-se que a Hospitalidade abarca discussões tanto
epistemológicas e conceituais quanto nas organizações prestadoras de serviços e como
mencionado anteriormente, esses serviços não estão restritos ao Turismo.
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A Hospitalidade é um campo que envolve interação entre anfitrião e hóspede em várias
esferas da sociedade. Apesar da diversidade de abordagens, notou-se que é um campo que
ainda não tem um sistema consolidado, como o Turismo, onde estudiosos fizeram
representações gráficas na tentativa de explicar o fenômeno. O presente trabalho propôs a
explicação de um sistema do Turismo como insight para a criação de um sistema de
Hospitalidade, e propor a configuração de um modelo extrapolando o modelo Sistur para
criar um framework de Hospitalidade.
Pode-se concluir que o Sistur é flexível e viável para o estudo da Hospitalidade e, aliando
ao diagrama dos três domínios proposto por Lashley, pode ser uma ferramenta importante
para a construção de um sistema de Hospitalidade. No entanto, como limitação deste estudo
fica a restrição da análise ao conjunto das relações ambientais.
REFERÊNCIAS
Beni, M. C. (1990). Sistema de Turismo Sistur: estudo do turismo face à moderna Teoria de
Sistemas. Turismo em Análise, 1(1), 15-34.
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Lashley, C. (2004). Para um entendimento teórico. In Lashley, C. Em busca da
hospitalidade: perspectivas para um mundo globalizado (p. 1-23). Barueri, SP:
Manole.
Marconi, M., & Lakatos, E. (2010). Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas.
Panosso Netto, A. (2005). Filosofia do Turismo: teoria e epistemologia. São Paulo: Aleph.
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VISÃO SISTÊMICA DA HOSPITALIDADE NAS
1
Doutora em Administração Pública e Governo (FGV-SP). Professora e pesquisadora no Programa de Pós-
Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. E-mail:
roseanebmarques@yahoo.com.br
2
Mestrand no Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo,
SP, Brasil. E-mail: luciane.oliveira@behaviourbrasil.com.br
3
Doutor. Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP,
Brasil. E-mail: semoretti@anhembi.br
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RESUMO EXPANDIDO
A noção de hospitalidade como fato social, por sua vez, remete a uma visão sistematizada
do conceito, principalmente ao analisarmos os conceitos de fato social de Durkheim e a
hospitalidade substantiva, se comparada ao fato dessas abordagens servirem para a
organização da vida em sociedade, tal pensamento nos remete a uma teia de alcance, na
qual a ética, a moralidade, as coerções, obrigações estão impostas quando o oposto, a
hostilidade ou inospitalidade estão presentes nas relações.
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Teoria dos Sistemas - A visão sistêmica visa o equilíbrio das organizações e instituições
diante da complexidade inerente ao crescimento econômico e globalizado. Churchman
(1971). As organizações vêm sofrendo mudanças significativas por diversas razões, como
por exemplo, os novos paradigmas da globalização e tecnologia, pela integração dos
sistemas e ferramentas e sistemas de gestão. (Fernandes & Fernandes 2016)
North (1991), por sua vez, traz uma análise sistêmica da história econômica e explicação
das mudanças econômicas e institucionais, pautada pelas incertezas em razão,
principalmente, dos custos em executá-las, pelo custo de transações, ou seja, dos custos
associados aos controles e cumprimento destas transações. Para reduzir as incertas, as
sociedades desenvolvem as instituições, as quais ditam as regras do jogo e criam restrições
que estruturam a interação política, econômica e social. Assim, o desempenho das
economias é entendido como parte de uma evolução incremental das instituições, através de
investimento dos empresários em conhecimento e habilidade, que gradualmente alteram a
estrutura institucional básica.
Através da leitura da sistematização de Douglas North sobre as instituições, fica claro que o
conceito de que a totalidade, sob o ponto de vista das Instituições, prevalece em relação à
individualidade. Beni (1990), através do fato e do fenômeno do turismo, utiliza a noção de
sistema e a reduz a um modelo referencial, retratando a dinâmica de interação do ambiente
e da forma como este impacta na demanda do turismo. Partindo-se desse modelo e,
analisando a hospitalidade como fenômeno e a um fato social, pretende-se no presente
artigo, esboçar um sistema de hospitalidade relacionado à satisfação de clientes, em um
processo de serviços em IES.
Instituições de Ensino Superior [IESs] - Todo país tem na educação um dos principais
destinos dos recursos arrecadados com os impostos cobrados de sua sociedade. A
importância da educação é intrínseca, ou seja, todos reconhecem sua importância para o
indivíduo e para a nação, pois além de ser primordial para a empregabilidade e, na mesma
medida que propicia melhores oportunidades de trabalho, também é fator preponderante
para o desenvolvimento sócio econômico de um Estado, inclusive o Brasil. Para Corbucci,
3
Kubota, Paula e Meira (2011), a reforma universitária de 1968 foi o marco inicial do
predomínio do setor privado sobre a educação superior no Brasil, no que diz respeito aos
cursos de graduação, ao mesmo tempo que atribuiu à Universidade o papel de
desenvolvimento de ensino, pesquisa e extensão.
4
Terenzini, 2005). Sendo assim, a relação de consumo estabelecida entre IES e alunos não
deve ser a única preocupação e o único desafio das IES (Kalil, 2016). Ainda abordando os
desafios enfrentados pelas universidades, Carpinelli (1994) ressalta que a universidade deve
reconhecer a sua verdadeira função, não sendo esta apenas a formação de profissionais, mas
sim de formar cidadãos de bem e com objetivos sociais.
Assim, as IES acabam por adotar o perfil de um local que necessita acolher pessoas com
diversidade de ofertas de produtos ou serviços, algo que talvez possa ser comparado em
certa medida ao conceito similar ao de um Shopping Center. Segundo Piza et al. (2011), as
pessoas que frequentam uma Instituição de Ensino Superior precisam se alimentar, procurar
por um livro, realizar pesquisas, ter acesso a equipamentos de tecnologia e à internet,
enfim, demandam de uma vasta gama de produtos e serviços e, assim como qualquer outra
pessoa que vive em grandes centros urbanos, possuem pouco tempo disponível, fazendo
desta oferta uma estratégia de marketing das IES.
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experiências, de maneira que a interação entre pessoas de diferentes contextos sociais
permita que possam conhecer e vivenciar experiências até então ignoradas e/ou
inexploradas.
Resultados - O Sistema do Turismo (SisTur) criado por Beni (1990), no Brasil, apresenta a
sistematização do turismo abordando todos os componentes que colaboram para a
concretização dos objetivos do turismo sob o ponto de vista das demandas causadas pelo
ambiente. A instituição, entretanto, não tem controle sobre as mudanças causadas no
ambiente, devendo adequar-se a ele e estruturar suas bases de acordo com tais mudanças.
Percebe-se que uma análise sistêmica antecipa possíveis perdas.
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instituição, o aluno torna-se parte integrante do sistema de produção, distribuição e
consumo. Ele entra como candidato, usufrui do serviço à sua disposição e sai como egresso.
Nessa dinâmica se o processo ocorrer com maior ou menor grau de qualidade, poderá
impactar na percepção de satisfação do alunado e o vínculo ou não estará estabelecido.
Neste caso, de acordo com o pensamento sistêmico dentro do objeto de estudo no presente
artigo, é possível estabelecer um modelo de sistema de hospitalidade desde que se
estabeleça a área em que se deseja aplicar esse critério e se clarifique o objetivo geral da
hospitalidade a ser analisada.
Referências
Churchman, C.W (1971). Introdução à Teoria dos Sistemas. Rio de Janeiro: Vozes.
Corbucci, P. R., Kubota, L. C., Paula, A., & Meira, B. (2011). Evolução da educação
superior privada no Brasil: da reforma universitária de 1968 à década de 2010.
Retrieved from
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7066/1/Radar_n46_evolução.pdf
7
http://anhembi.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788508110933/pages/5
North, D. С. (1991). Institutions STÖR. The Journal of Economic Perspectives, 5(1), 97-
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Pascarella, E. T., & Terenzini, P. T. (2005). How college affects students 2. Jossey-Bass
San Francisco, CA.
Piza, V.T.; & Scaglione, V.L.T. (2011). Estratégias de marketing aplicadas a instituições de
educação superior privadas. Revista Gestão Universitária na América Latina-
GUAL, 4(2).
Righi Schleich, A. L.; Jorge Polydoro, S. A., & Dos Santos, A.A.A. (2006). Escala de
satisfação com a experiência acadêmica de estudantes do ensino superior. Avaliação
Psicológica, 5(1).
8
Salles, M. do R. R., Bueno, M. S., & Bastos, S. (2010). Desafios da pesquisa em
hospitalidade. Revista Hospitalidade, 7(1), 3-14.