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AS SUTILEZAS DE UM ATO FALHO (1935)

NOTA DO EDITOR INGLÊS

(a) EDIÇÕES ALEMÃS:

1935 Almanach, 1936, 15-17.


1950 G.W., 16, 37-9.

(b) TRADUÇÕES INGLESAS:

‘The Fineness of Parapraxia’

1939 Psychoan. Rev., 26 (2), 153-4. (Trad. de A. N. Foxe.)

‘The Subleties of a Parapraxis’

1950 C.P., 5, 313-15. (Trad. de James Strachey.)

A presente tradução inglesa, com título modificado, é uma versão corrigida da que foi
publicada em 1950.

Esta foi uma contribuição posterior, contudo não a última, de Freud, ao seu tema predileto,
a psicopatologia da vida cotidiana. (Freud, 1901b.) Retornou ao assunto, mais uma vez, em suas
inacabadas ‘Lições Elementares’ (1940b [1938]).

AS SUTILEZAS DE UM ATO FALHO

Eu estava preparando para uma amiga um presente de aniversário - uma pequena pedra
preciosa trabalhada, para ser engastada num anel. Ela estava fixa no centro de um recorte de
cartolina resistente, e neste escrevi as seguintes palavras: ‘Comprovante para entrega, à firma L.,
joalheiros, de um anel de ouro … para a pedra anexa, na qual está gravado um barco, com vela e
remos.’ Contudo, no ponto em que ali deixei uma lacuna, entre ‘ouro’ e ‘para’ havia uma palavra
que eu fora obrigado a riscar por ser inteiramente desnecessária. Era a pequena palavra ‘bis‘ [‘até’,
em alemão]. Mas por que eu a teria escrito?
Ao ler toda a breve inscrição que havia feito, surpreendeu-me o fato de que continha a
palavra ‘für‘ [‘para’] duas vezes, em rápida sucessão: ‘para entrega’ - ‘para a pedra anexa’. Isto
pareceu feio, devia ser evitado. Então me ocorreu que ‘bis‘ tinha sido substituído por ‘für’, numa
tentativa de evitar a deselegância estilística. Certamente era isto; era, porém, uma tentativa que se
utilizava de meios extremamente inadequados. A preposição ‘bis‘ estava muito fora de lugar nesse
contexto e não tinha como ser substituída pelo necessário ‘für‘. Assim sendo, por que justamente
‘bis‘?
Talvez a palavra ‘bis‘ não fosse a preposição indicativa de tempo-limite. Pode ter sido algo
totalmente diferente - a palavra latina ‘bis‘ - ‘uma segunda vez’, que conservou seu significado em
francês. ‘Ne bis in idem‘ é uma máxima da lei romana. ‘Bis! bis!‘ é o que grita o francês, quando
deseja ver repetida uma apresentação. Assim, esta deve ser a explicação de meu absurdo lapso
de escrita. Eu estava sendo advertido contra o segundo ‘für‘, contra uma repetição da mesma
palavra. Alguma outra devia ser colocada em seu lugar. A fortuita identidade de som entre a
palavra estrangeira ‘bis‘, que incorporava a crítica à fraseologia original, e a preposição alemã
possibilitou a inserção de ‘bis‘ em lugar de ‘für‘ na forma de lapso de escrita. Esse engano, todavia,
atingiu seu objetivo, não ao ser efetuado, mas somente depois de ter sido corrigido. Tive de riscar
o ‘bis‘, e com isto, por assim dizer, eliminei a repetição que me perturbava. Realmente digna de
interesse essa variante do mecanismo de uma parapraxia!
Senti-me muito satisfeito com essa solução.Na auto-análise, porém, o perigo de fazer
coisas incompletas é muito grande. Pode-se, com muita facilidade, ficar satisfeito com uma
explicação parcial, atrás da qual a resistência facilmente pode estar ocultando algo que talvez seja
mais importante. Contei esta pequena análise a minha filha, e ela imediatamente viu como a coisa
acontecera:
‘Mas o senhor já deu a ela uma pedra igual a essa, para um anel, anteriormente. Esta é
provavelmente a repetição que o senhor quer evitar. As pessoas não gostam de dar sempre o
mesmo presente.’ Isto me convenceu; havia realmente a objeção contra uma repetição do mesmo
presente, não da mesma palavra. Tinha havido um deslocamento para algo banal com a finalidade
de desviar a atenção de algo mais importante: uma dificuldade estética, talvez, em lugar de um
conflito instintual.
Pois foi fácil descobrir a outra seqüência. Eu estava procurando um motivo para não dar de
presente a pedra, e esse motivo foi providenciado pela reflexão de que eu já havia dado o mesmo
presente (ou um muito parecido). Por que essa objeção devia ser ocultada, ou disfarçada? Logo vi
por quê. Não tinha nenhuma vontade de me desfazer da pedra. Gostava muito dela e a queria para
mim.
A explicação para essa parapraxia foi encontrada sem maiores dificuldade. Na realidade,
logo me ocorreu uma idéia consoladora: pesares desse tipo só aumentam o valor de um presente.
Que espécie de presente seria este, se não se lamentasse um pouco dá-lo? Não obstante, o
episódio possibilita que se perceba, mais uma vez, como podem ser compilados os processos
mentais mais modestos e aparentemente mais simples. Cometi um lapso ao redigir umas
anotações - coloquei ‘bis‘ onde devia escrever ‘für‘ -, percebi-o e o corrigi: um pequeno erro, ou
antes, uma tentativa de erro, e assim mesmo encerrava tão grande número de premissas e de
fatores dinâmicos. Com efeito, o erro não podia ter ocorrido se o material não fosse especialmente
favorável.

UM DISTÚRBIO DE MEMÓRIA NA ACRÓPOLE (1936)

NOTA DO EDITOR INGLÊS

BRIEF AN ROMAIN ROLLAND (EINE ERINNERUNGSSTORUNG AUF DER AKROPOLIS)

(a) EDIÇÕES ALEMÃS:


1936 Almanach 1937, 9-21.
1950 G.W., 16, 250-7.

(b) TRADUÇÃO INGLESA:


‘A Disturbance of Memory on the Acropolis’

1941 Int. J. Psycho-Anal., 22 (2), 93-101. (Trad. de James Strachey.)

1950 C.P., 5, 302-12. (Reimpressão da anterior.)

A presente tradução inglesa baseou-se na versão corrigida da que foi publicada em 1950.

Romain Rolland nasceu a 29 de janeiro de 1866, e este trabalho foi-lhe dedicado por
ocasião de seu setuagésimo aniversário. Freud tinha por ele a maior admiração, conforme
comprovou não só pelo presente trabalho, mas também pela mensagem a Rolland quando este
completou sessenta anos (Freud, 1926a), e pelas seis ou sete cartas que lhe escreveu e que foram
publicadas (Freud, 1960a), bem como por uma passagem no começo de O Mal-Estar na
Civilização (1930a), Edição Standard Brasileira, Vol. XXI, págs. 81-2, IMAGO Editora, 1974. Freud
correspondera-se com ele, pela primeira vez, em 1923, e uma única vez, parece, em 1924, teve
um encontro com ele.

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