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DE CONTlNUlDADE NO ESPAÇO
ABERTURA
ENCERRAMENTO
02 SET 10H-19H
02OUT
INDIVIDUAL
LSABELLA DESPUJOLS
Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço
O título desta exposição é uma paródia à célebre escultura futurista de Umberto Boccioni “Formas úni-
Na tentativa de obter uma síntese entre ideia e forma, a artista entrelaça geometria e artesania de
cas da continuidade no espaço” (1913), cuja versão original em gesso integra o acervo do MAC USP. Se
forma singular, conferindo movimento às linhas costuradas em sofisticadas modulações de cores,
a primeira vanguarda europeia incorporava o movimento à arte, por outro lado postulava a negação do
texturas e vibrações rítmicas. Em sua atualização cubista, cinética, analítica e fragmentada do plano, a
passado em prol de uma crença utópica num futuro racional e tecnológico. A favor do movimento, mas
série “Composição com Losangos” gravita em torno da possibilidade de se criar uma experiência geo-
contra a unidade discursiva futurista, a presente exposição aposta na multiplicidade de referências e no
métrica ordenada por construções sensíveis. Nesses trabalhos, a relação figura e fundo é tensionada e
conflito de forças, transitando entre os domínios do artesanal, do matemático, do sensível e do poético.
a cor é testada à exaustão. Por sua vez, a série “Isometrias” desdobra a pesquisa em transformações
geométricas do plano, por meio de intrincadas operações, como rotações, translações e reflexões. São
O discurso plástico de Isabella Despujols – jovem artista venezuelana que já viveu em Paris, Miami,
formas, linhas, volumes e espaços cujas cores se tornaram mais sóbrias e sutis, chegando aos tons
Buenos Aires e atualmente reside no Brasil – reflete suas múltiplas experiências geográficas, com obras
monocromáticos. Filha de arquitetos, Isabella cria obras que conjecturam uma dimensão projetiva,
que insinuam ideias de propagação, continuidade, metamorfose e deslocamento, embora estáticas.
uma reordenação da espacialidade arquitetônica por meio de sua transfiguração em imagem gráfica.
Nas duas séries inéditas – “pinturas” feitas de linhas coloridas, bordadas diretamente nas superfícies
das telas – verifica-se uma oportuna interlocução entre as fortes tradições geométrico-construtivas
Coerentes com a lógica que os fizeram nascer, esses trabalhos parecem balizar os limites de
venezuelana e brasileira. Nelas, o fenômeno cromático é concebido como uma realidade autônoma
uma investigação da cor, da forma e do espaço como continuidade e multiplicidade ao mesmo
a avançar no espaço e no tempo, num presente contínuo que solicita um olhar atento do espectador.
tempo. Neste universo plástico pessoal e cambiante, que evolui em complexidade formal e téc-
nica, Isabella Despujols busca conquistar um espaço ambivalente. Consciente da instabilidade
Partindo do legado dos movimentos concretos, ópticos e cinéticos – especialmente das poéticas
do real, talvez ela se dedique àquilo que Borges chamou de “a tarefa de desenhar o mundo”.
dos seus conterrâneos Jesús Rafael Soto (1923-2005) e Carlos Cruz-Díez (1923-2019) –, as pinturas
ampliadas de Isabella também exploram a linha como elemento essencial da composição. Assim
como o que este último denominou de “cor aditiva”: radiação cromática de duas linhas paralelas
Luiz Flavio
de tons diferentes que se aproximam e parecem criar uma terceira linha virtual, transformando
Professor de História da Arte e curador da exposição
incessantemente a experiência sensível da cor. E, ao buscar equilibrar a racionalidade matemá-
ISABELLA DESPUJOLS
isabelladespujols20@gmail.com
Venezuela, 1994.