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32 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

SILVA, W.L.C.; MAROUELLI, W.A.; Brazil. In: INTERNATIONAL CONFERENCE


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Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente
Presidente: Welington Pereira
Técnica, 30 Embrapa Hortaliças Publicações Secretária-Executiv
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1 a edição Warley Marcos Nascimento
1 a impressão (2002): 1000 exemplares Expediente
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editoriais: Dione Melo da Silva
Maria Amélia de Amaral e Elói
Fotos
Fotos: Waldir A. Marouelli
Editoração eletrônica
eletrônica: Vicente Júnior / Brisa Editora
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 31

MAROUELLI, W.A.; SILVA, H.R. Aspectos MAROUELLI, W.A.; SILVA, W.L.C.; MORETTI,
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30 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

• O método do turno de rega simplifica- Referências Bibliográficas


do, baseado em dados históricos de
evapotranspiração, é fácil de ser utili- ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.;
zado e não requer o uso de equipamen- SMITH, M. Crop evapotranspiration
evapotranspiration:
tos; porém, apresenta menor precisão guidelines for computing crop water
que os métodos do balanço hídrico e requirements. Rome: FAO, 1998. 328p.
da tensão. (Irrigation and Drainage Papers, 56).

• Em termos gerais, o turno de rega para BURT, C.M.; O´CONOR, K.; RUEHR, T.
solos de textura média e fina de cerrado Fertigation. San Luis Obispo: Irrigation
Fertigation
varia de 1 a 2 dias durante os estádios Training and Research Center: California
inicial e de frutificação, de 4 a 6 dias Polytechnic State University, 1995. 295p.
durante o vegetativo e de 2 a 4 dias
durante o de maturação. FONTES, P.C.R. Diagnóstico do estado
nutricional das plantas
plantas. Viçosa: UFV, 2001.
• Para uniformizar a maturação e au- 122p.
mentar o teor de sólidos solúveis dos
frutos, as irrigações devem ser parali- FONTES, R.R. Solo e nutrição da planta. In:
sadas vários dias antes da colheita. SILVA, J.B.C.; GIORDANO, L.B., (Ed.).
Para solos de cerrado, maior rendi- Tomate para processamento industrial
industrial.
mento de polpa é obtido quando as Brasília: Embrapa Comunicação para
irrigações são suspensas cerca de 2 Transferência de Tecnologia: Embrapa
semanas antes da colheita (40% a Hortaliças, 2000. p.22-35.
50% de frutos maduros). Máxima
produção de frutos pode ser atingida GILBERT, R.G.; FORD, H.W. Emitter clogging.
irrigando-se até cerca de 1 semana In: NAKAYAMA, F.S.; BUCKS, D.A. (Ed.).
antes da colheita (80% a 90% de Trickle irrigation for crop production
production: design,
frutos maduros). operation and management. Amsterdam:
Elsevier, 1986. p.142-163.
• Por razões econômicas e práticas, a
fertirrigação pode ser realizada com HOCHMUTH, G.J.; SMAJSTRLA, A.G.
freqüência semanal. Também não se Fertilizer application and management for
faz necessário o fornecimento de todos micro (drip)-irrigated vegetables
vegetables. Gainesville:
os fertilizantes via água. Sugere-se University of Florida/Cooperative Extension
aplicar na adubação de plantio: 15% Service/Institute of Food and Agricultural
do nitrogênio e do potássio; 50% a Sciences, 1997. 33p. (Circular, 1181).
100% do fósforo; saturar o complexo
de troca do solo para 70%; 100% dos KELLER, J.; BLIESNER, R.D. Sprinkler and
demais macro e micronutrientes. trickle irrigation
irrigation. New York: VanNostrand
Reinhold, 1990. 652p.
• O tomateiro tem ciclo relativamente
curto e alta exigência nutricional, o que MAROUELLI, W.A.; SANT’ANA, R. R.;
não permite larga margem para a recu- SILVA, W.L.C. Performance econômica do
peração de danos causados por práticas tomateiro para processamento irrigado por
inadequadas de fertilização. Assim, a gotejamento e pivô central, nas condições de
adubação de plantio e a fertirrigação cerrados do Brasil Central. In: CONGRESSO
devem ser realizadas de forma adequa- NACIONAL DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM,
da, visando minimizar prejuízos ao Anais...
12., 2002, Uberlândia. [Anais...
Anais...]. Uberlândia:
rendimento da cultura. ABID, 2002. CD-Rom.
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 29

neste trabalho, a interpretação dos níveis de tro molhado na superfície do solo (20 a
nutrientes na solução do solo será diferente 40 cm para solos de cerrado).
quando o processo de fertilização for outro.
• As linhas de gotejadores devem ser
O nível de suficiência de determinado nutri- instaladas na superfície do solo ou –
ente depende, além da cultura, do tipo de para minimizar os danos mecânicos e os
solo e da percentagem do volume de solo causados por roedores à tubulação e
umedecido pelo sistema de irrigação. Além facilitar as práticas culturais e a colhei-
disso, devido às muitas possibilidades de ta – entre 5 e 10 cm de profundidade.
erros que podem ocorrer no processo de Profundidades superiores a 10 cm apre-
amostragem, principalmente, a análise quími- sentam limitações, não devendo ser
ca da solução do solo não deve ser utilizada utilizadas em solos de cerrado.
como única fonte para tomada de decisões,
mas apenas para indicar tendências. • O principal problema do gotejamento é
o entupimento dos emissores. Para
É conveniente observar ainda que nem evitá-lo, deve-se instalar um sistema
sempre variações de determinado nutriente, eficiente de filtragem de água, analisar
como por exemplo a redução de nitrato, a qualidade da água e verificar a compa-
significa que este foi absorvido pela plantas tibilidade dos fertilizantes a serem
durante o período em consideração. Neste aplicados via fertirrigação.
caso, pode ter havido perda por lixiviação,
causada por irrigações excessivas, chuvas • O estádio de frutificação é o mais críti-
ou por problemas de uniformidade de distri- co quanto à deficiência de água no
buição da irrigação. solo; contudo, o excesso favorece a
ocorrência de doenças e o apodrecimen-
to de frutos.
Síntese das Recomendações
• O controle preciso da irrigação pode ser
• O gotejamento é uma opção viável para realizado pelos métodos do balanço
a irrigação do tomateiro para processa- hídrico e da tensão da água do solo, os
mento industrial na região do Cerrado. A quais baseiam-se na avaliação, em tempo
viabilidade econômica, todavia, está real, de parâmetros relacionados à planta,
condicionada a um manejo racional da ao solo e ao clima. Requerem, todavia,
água de irrigação e da fertirrigação. equipamentos para medição da umidade
do solo e/ou da evapotranspiração.
• As principais vantagens do gotejamen-
to, comparativamente à aspersão, são: • As irrigações devem ser realizadas quan-
maior produtividade e qualidade de do a tensão de água no solo, a 50% da
frutos; menor gasto de água; menor profundidade efetiva de raízes, atingir
incidência de doenças foliares; maior 70 kPa durante o estádio vegetativo,
flexibilidade no uso da fertirrigação; 15 kPa durante o estádio de frutificação
maior receita líquida. e 40 kPa durante a maturação.

• O sistema de plantio deve ser realizado • O coeficiente de cultivo Kc para toma-


preferencialmente em fileiras simples, teiro irrigado por gotejamento é 0,45
com uma lateral de gotejadores por linha para o estádio inicial, 0,40 para o vege-
de plantio. O espaçamento entre goteja- tativo, 0,95 para o de frutificação e
dores deve ser de 50% a 70% do diâme- 0,70 para o de maturação.
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Disponibilidade de Nutrientes na regiões não típicas do sistema radicular e não


Solução do Solo acarretar resultados errôneos. Em termos
gerais, sugere-se que o extrator seja instalado
Adicionalmente aos procedimentos relata- entre 10 e 20 cm de profundidade, a cerca
dos anteriormente para avaliação do estado de 5 e 10 cm do gotejador e da planta.
nutricional das plantas, pode ser interessan-
te, quando possível, fazer-se o monitora-
mento da disponibilidade de nutrientes na Tipos de Análise
solução do solo, principalmente durante os A solução do solo pode ser analisada em
estádios mais críticos da cultura, como no laboratórios de análise química de solo/
de frutificação. Além dos nutrientes da água. Entretanto, dada a necessidade de
solução do solo, podem ser verificados ter-se respostas rápidas para que sejam
também a condutividade elétrica (CE) e o tomadas providências corretivas imediatas,
pH, que expressam, respectivamente, o é conveniente que as análises sejam realiza-
nível de salinidade e acidez do solo. das no próprio local de cultivo.

Devido à sua importância como nutriente e à


Amostragem da Solução sua dinâmica no sistema solo-planta, o
As amostras da solução do solo são coleta- procedimento de análise da solução tem
das, preferencialmente uma vez por sema- sido mais empregado para nitrogênio. Em
na, por meio de tubos extratores instalados geral, os kits de testes rápidos são limitados
na zona de desenvolvimento ativo do siste- a determinações de NO3 , pH e CE, o que na
ma radicular. Semelhante a um tensiôme- maioria das vezes é suficiente para resolver
tro, o tubo dispõe de uma cápsula porosa os problemas mais aflitivos. Todavia, equipa-
em uma das extremidades e uma tampa mentos para determinações de P, K, Ca, Mg,
hermética na outra. SO4 e Cl também estão disponíveis.

A coleta é realizada com auxílio de uma


bomba de vácuo para fazer a sucção da Interpretação dos Resultados
solução do solo para o tubo via cápsula Informações generalizadas para a interpreta-
porosa. A amostra da solução é, então, ção da análise da solução do solo são apre-
retirada com uma seringa e posteriormente sentadas na Tabela 13. Com base nas faixas
levada para análise. Em alguns tipos de de suficiência, a taxa de injeção de fertili-
extratores, a solução é automaticamente zantes pode ser ajustada para corrigir o
depositada em um pequeno recipiente suprimento dos nutrientes. Convém salientar
acoplado ao tubo coletor. que devido às características típicas da
fertirrigação por gotejamento, já discutidas
Pode ocorrer dificuldade na obtenção da
amostra quando o solo apresentar teores Tabela 1313. Sugestão para interpretação de
baixos a moderados de água no solo. Assim, nutrientes, condutividade elétrica (CE) e acidez na
para facilitar o procedimento, a amostragem solução do solo.
deve ser realizada logo após a irrigação. No Indicador Faixa de suficiência
caso da irrigação por gotejamento, as dificul- N-NO 3 50 – 75 mg/dm3
dades são menores, pois a umidade do solo é K 20 – 60 mg/dm3
mantida relativamente elevada durante quase Ca Balanço da solução: Ca = 10 x K
todo o tempo. Mg 20 – 30 mg/dm3
CE 2,0 – 3,0 dS/m
A instalação do tubo coletor deve ser cuida- pH 5,5 – 7,0
dosa para evitar a retirada de amostras em Fonte: Adaptado de Burt et al. (1995) e Allen et al. (1998).
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 27

amostras de material para análise em Pode ser uma valiosa ferramenta para moni-
laboratório. A estratégia de amostragem torar o programa de fertirrigação e para
inclui cuidados e procedimentos diagnosticar suspeitas de deficiência de
específicos para cada cultura. As amostras nutrientes em tempo real. Níveis adequados
devem ser coletadas em pelo menos 30 de nitrato e potássio na seiva de pecíolos de
plantas por hectare, de forma aleatória, tomateiro são apresentados na Tabela 12.
sempre retirando-se a quarta folha (e
respectivo pecíolo), a partir do ápice da A análise, geralmente de nitrogênio (nitra-
planta. Os resultados da análise devem ser to) e potássio, é feita com a utilização de
comparados a padrões existentes de níveis kits de reagentes comercializados em várias
de nutrientes na folha de tomateiro formas, principalmente fitas de papel que,
(Tabela 11). quando em contato com a seiva, apresen-
tam uma coloração de determinada intensi-
Um fator limitante do método é o tempo dade, a qual é comparada com padrões
(1 a 2 semanas) que leva entre a amostra- preestabelecidos. Também estão disponí-
gem e a obtenção dos resultados de labo- veis no mercado microeletrodos portáteis,
ratório. Dependendo do grau de deficiên- baseados em princípios potenciométricos.
cia, prejuízos ao desempenho da cultura
podem ocorrer antes mesmo dos resulta- A precisão das avaliações utilizando tais
dos da análise serem obtidos. dispositivos tem sido questionada devido a
uma série de fatores. O principal está relaci-
onado à falta de calibração específica para
Método da análise da seiva determinadas condições, pois os teores de
A análise de nutrientes na seiva, geralmente nutrientes na planta são muito influencia-
do pecíolo ou da folha, tem sido empregada dos por fatores ambientais, como hora do
em algumas culturas pela rapidez e facilida- dia e intervalo entre a última irrigação e o
de, podendo ser realizada no próprio campo. momento da avaliação.

Tabela 11
11. Níveis adequados de nutrientes na folha de tomateiro (matéria seca) no estádio inicial de florescimento.

Macronutriente Nível (g/kg) Micronutriente Nível (mg/kg)


N 40 - 60 B 30 - 100
P 3-6 Cu 5 - 15
K 30 - 50 Fe 40 - 200
Ca 10 - 30 Mn 40 - 250
Mg 4-6 Zn 20 - 50
S 5 - 10 Mo 0,3 - 0,5
Fonte: Fontes (2000).

Tabela 12
12. Faixas de suficiência para nitrato e potássio na seiva de pecíolos de tomateiro, nos diferentes estádios
de desenvolvimento.
Estádio N-NO3 (mg/kg) K (mg/kg)
Vegetativo 700 - 900 3.500 - 4.000
Início de floração / frutificação 600 - 800 3.500 - 4.000
Crescimento de fruto 500 - 700 3.500 - 4.000
Maturação 400 - 600 3.000 - 3.500
Obs.: N-NO3 = 0,226 x NO3
Fonte: Adaptado de Burt et al. (1995) e Hochmuth & Smajstrla (1997).
26 Fotos A e B: Leonardo B. Giordano - C : Acervo Embrapa Hortaliças - D : Waldir A. Marouelli - E: Ruy R. Fontes Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

A D

C E

Fig. 6. Sintomas de deficiências nutricionais do tomateiro: (A) nitrogênio; (B) fósforo; (C) potássio; (D) cálcio; (E) magnésio.
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 25

nóstico, deve-se levar em consideração ções e a necrose foliar. A clorose uniforme


aspectos como: distribuição dos sintomas tem sido considerada como o sintoma mais
na área; estado fisiológico da planta; posi- evidente da deficiência de nitrogênio. Na
cionamento dos sintomas na planta; locali- Tabela 10 e na Fig. 6 apresentam-se as
zação dos sintomas nas folhas; e simetria características dos principais sintomas
do aparecimento de sintomas de deficiência visíveis de deficiência de macronutrientes
mineral na planta. Os sintomas de deficiên- em plantas de tomateiro.
cia de elementos muito móveis nas plantas,
como o nitrogênio, fósforo, potássio e
magnésio, por exemplo, aparecem primeiro Outros métodos indiretos
nas folhas mais velhas. Existem vários outros métodos indiretos
para a avaliação de distúrbios nutricionais
O método visual, por ser realizado no cam- em plantas, que incluem, por exemplo, a
po, sem o uso de equipamentos, é muito medição da atividade enzimática em deter-
rápido. Existem, entretanto, desvantagens minado tecido, do teor de clorofila nas
ou dificuldades associadas à utilização do folhas, da reflectância de certos compri-
mesmo. As principais estão relacionadas às mentos de ondas pelas folhas e a avaliação
interações antagônicas por um lado e siner- de características morfológicas e fisiológi-
gísticas por outro, entre os elementos no cas das plantas. Geralmente requerem
solo e na planta, além de interferências e equipamentos sofisticados e caros e/ou
interações de diversos fatores ambientais e procedimentos trabalhosos.
genotípicos. Tudo isso faz com que seja
perdida a especificidade dos sintomas,
dificultando o diagnóstico. Método da análise química ou foliar
O método da análise foliar é um
Os sintomas de deficiência mais encontra- procedimento laboratorial para a
dos nas folhas, seja em todo o limbo foliar determinação das concentrações de macro
seja entre as nervuras, são a clorose, que é e micronutrientes existentes na planta.
um amarelecimento das folhas, as deforma- Desta forma, há a necessidade de coletar

Tabela 10
10. Sintomas visíveis de deficiências de macronutrientes em tomateiro.
Nutriente Sintomas

Nitrogênio Clorose das folhas mais velhas, com nervuras amareladas ou com tonalidade rósea. Em
casos mais severos, toda a planta apresenta estado de clorose. Senescência precoce.

Face dorsal dos folíolos novos (nervuras e áreas internervais) com tonalidade arroxeada, e
Fósforo face ventral com coloração verde intensa. Folíolos menores e curvados para baixo. Folhas
mais velhas podem mostrar necrose e leve clorose internerval.
Necrose na margem e extremidade das folhas mais velhas, com aparência de queima. Folhas
Potássio velhas podem mostrar clorose internerval; enquanto os folíolos, pequenos pontos necróticos
entre as nervuras. As plantas podem apresentar acamamento.
Flacidez dos tecidos da extremidade dos frutos, evoluindo para uma necrose deprimida, seca
Cálcio e negra (podridão apical). Podridão seca e negra interna ao fruto (coração preto). Folíolos
com extremidades recurvadas para baixo e morte das gemas terminais.
Clorose internerval em toda a superfície dos folíolos mais velhos, com coloração amarela
Magnésio brilhante, permanecendo verdes as nervuras. Sob deficiência severa, as áreas amarelas vão
escurecendo, tornando-se necrosadas.

Fonte: Fontes (2000) e Fontes (2001).


24 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

to de microorganismos no sistema e para por práticas inadequadas de fertilização.


melhorar a incorporação do fertilizante na Mesmo assim, é possível detectar proble-
zona radicular. mas a tempo de evitar maiores prejuízos ao
rendimento da cultura.

Estado Nutricional das Plantas Antes, porém, de serem tomadas quaisquer


providências no sentido de diagnosticar a
O processo de fertirrigação pressupõe quanti- ocorrência de deficiência ou toxicidade de
dades e freqüências de aplicação de nutrien- nutrientes às plantas, é necessário eliminar-se
tes adequadas visando maximizar a produtivi- a possibilidade de outros fatores estarem
dade. No entanto, muitas vezes depara-se causando determinados sintomas, tais como:
com sintomas de deficiências ou de toxicida- excesso ou falta de água; toxicidade de
de nas plantas. Além disso, o manejo impre- herbicidas; temperaturas anormais; danos
ciso da fertirrigação pode causar problemas mecânicos; e ataque de pragas e/ou doenças.
de salinização, de acidificação do solo e de
contaminação do lençol freático.
Métodos de Avaliação
A disponibilidade e as interações entre os Existem diversos procedimentos que podem
diversos macro e micronutrientes, além da ser empregados para avaliação, direta ou
produtividade, podem influenciar no ciclo da indiretamente, do estado nutricional das
cultura e na qualidade dos frutos. A manu- plantas. Os métodos indiretos estimam a
tenção de nível elevado de nitrogênio nas concentração de determinado nutriente na
folhas após a frutificação tende a prejudicar planta por meio da aparência visual da
a viabilidade de pólen e retardar a maturação. planta ou de alguma característica que seja
Alta disponibilidade de potássio no solo está correlacionada com as concentrações do
relacionada com maior síntese de açúcares nutriente na planta. Como exemplo, pode-
nos frutos, maior firmeza e melhor coloração se citar o teor de clorofila nas folhas como
de fruto, enquanto que excesso de nitrogê- função da concentração de nitrogênio. Os
nio causa redução nos teores desses carboi- métodos diretos são aqueles em que a
dratos e afeta a qualidade geral do fruto. Já concentração de certo nutriente é estimada
o fósforo ajuda o bom desenvolvimento das por meio da análise química da matéria seca
raízes, das ramas e das folhas. ou da seiva da planta.

A podridão apical e o coração preto são Qualquer que seja o método utilizado, a
distúrbios fisiológicos causados pela defici- interpretação dos resultados e o diagnósti-
ência de cálcio, resultante da baixa disponi- co serão mais confiáveis se feitos com
bilidade desse elemento no solo ou por auxílio de uma análise visual dos sintomas,
condições que limitem a translocação de eliminando-se os possíveis efeitos de
cálcio para o fruto, como é o caso da defi- fatores varietais, ambientais, pragas ou
ciência de água no solo. A incidência des- doenças.
ses distúrbios aumenta significativamente
quando os teores de cálcio no fruto caem
abaixo de 0,8 g/kg (massa fresca), raramen- Método visual
te ocorrendo com teores acima de 1,2 g/kg. Consiste na observação, caracterização e
descrição de sintomas de deficiência ou
A cultura do tomateiro, como a grande toxicidade em determinada planta e compa-
maioria das hortaliças, tem ciclo relativa- rá-los com sintomas padronizados de cada
mente curto, o que não permite larga mar- nutriente, para a mesma espécie ou varieda-
gem para a recuperação de danos causados de de planta. Para maior precisão do diag-
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 23

mente. Em solos de textura grossa, duas nal, mas nunca no mesmo dia para não
vezes por semana. A freqüência da fertirri- provocar problemas de precipitação na
gação para fósforo e cálcio pode ser sema- tubulação.

Exemplo 2: Calcular a quantidade de A dosagem de nitrogênio, computada


nutrientes a ser aplicada por fertirrigação conforme a previsão de produtividade, é
ao longo do ciclo cultural do tomateiro de 250 kg/ha (2,0 kg/t x 125 t/ha). Pela
para a seguinte situação: Tabela 7, para um solo com 85 mg/dm3 de
potássio e 18 mg/dm3 de fósforo, obtém-
• Ciclo da cultura: 115 dias se que a dosagem é de 150 kg/ha de K2 O e
500 kg/ha de P2 O5 . A dosagem total de
• Produtividade esperada: 125 t/ha
K2 O será de 310 kg/ha
• Solo: classe textural argilosa (cerrado) [150 kg/ha + 4,0 kg/t x (125 t/ha – 85 t/ha)]
e a de P2 O5 de 540 kg/ha
• Freqüência de irrigação: 1 a 3 dias [500 kg/ha + 1,0 kg/t x (125 t/ha – 85 t/ha)].
• Freqüência de fertirrigação: 1 vez por A quantidade de nutriente a ser aplicada
semana por semana (Tabela 9) é calculada multipli-
• Análise de solo: 85 mg/dm 3 de K; cando-se a dosagem total recomendada do
18 mg/dm3 de P nutriente pela quantidade relativa indicada
na Tabela 8 em cada fase, para um
• Dosagem de cálcio via fertirrigação: cultivo com ciclo de 115 dias.
50 kg/ha

Tabela 9 9. Quantidade de nitrogênio, potássio, fósforo e cálcio, em kg/ha/semana, a ser aplicada via
fertirrigação, ao longo do ciclo de desenvolvimento do tomateiro, referente à solução do exemplo 2.
Nutriente

Período da cultura (semana)

Plantio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
N 37,5 0,0 5,0 5,0 5,0 5,0 25,0 25,0 25,0 25,0 25,0 25,0 25,0 17,5 0,0 0,0 0,0
K2 O 46,5 0,0 6,2 6,2 6,2 6,2 31,0 31,0 31,0 31,0 31,0 31,0 31,0 21,7 0,0 0,0 0,0
P2 O5 270,0 0,0 10,8 27,0 27,0 27,0 27,0 27,0 27,0 27,0 27,0 27,0 16,2 0,0 0,0 0,0 0,0
Ca V=70% 0,0 0,0 0,0 0,0 2,5 2,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 0,0 0,0 0,0 0,0
V = saturação de bases recomendada para o solo.

Preparo e Aplicação da Solução O procedimento de aplicação de fertilizantes


Para evitar que fertilizantes sólidos causem via água de irrigação envolve três fases; na
problemas de obstrução de filtros e goteja- primeira e na terceira, deve-se somente irri-
dores, os fertilizantes devem ser previa- gar, e na segunda fertirrigar. A primeira
mente dissolvidos em um tanque secundá- permite equilibrar a pressão do sistema de
rio, obedecendo às limitações de compati- irrigação, de modo a garantir maior uniformi-
bilidade entre os fertilizantes. Nesse tan- dade de distribuição dos fertilizantes. A
que, a solução deve ser deixada em repou- segunda fase, em que o fertilizante é efetiva-
so por 24 horas para que resíduos não mente aplicado, não deve ser inferior a 10
solúveis sedimentem no fundo do tanque. minutos. A terceira fase deve ser suficiente
Somente a solução clara, transparente e para lavar completamente o sistema de irriga-
livre de resíduos deve ser transferida para ção, para minimizar problemas de corrosão,
o tanque de solução. entupimento de gotejadores, desenvolvimen-
22 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

produtividade de 85 t/ha. Se a produtivida- Recomendações para o parcelamento de


de esperada for acima de 85 t/ha, deve-se nutrientes via fertirrigação, ao longo do
aplicar uma quantidade adicional de potás- ciclo de desenvolvimento do tomateiro, são
sio e fósforo para suprir a maior extração apresentadas na Tabela 8. As quantidades
de nutrientes pelas plantas. Sugere-se são indicadas de forma relativa, sendo que
aplicar 4,0 kg de K 2 O e 1,0 kg de P2 O5 para a quantidade a ser aplicada por fertirrigação
cada tonelada de fruto produzido acima das é determinada a partir da dosagem total
85 t/ha. recomendada de cada nutriente.

Para cálcio deve-se aplicar, além da quanti-


dade necessária para que a saturação de Freqüência da Fertirrigação
bases do solo (V%) atinja 70%, uma dosa- A freqüência da fertirrigação depende,
gem entre 40 e 70 kg/ha de Ca via fertirri- dentre outros fatores, do tipo de fertilizan-
gação a partir do florescimento. te e do solo. Fertilizantes com maior po-
tencial de lixiviação, como os nitrogena-
dos, devem ser aplicados mais freqüente-
Parcelamento dos Nutrientes mente que aqueles com menor potencial,
Por razões econômicas, nem todos os nutri- como os potássicos. Todavia, para não
entes necessitam ser aplicados via fertirri- aumentar o uso de mão-de-obra, e em
gação no cultivo do tomateiro. Sugere-se razão de as principais fontes de nitrogênio
aplicar na adubação de plantio: 15% do e potássio poderem ser misturadas e apli-
nitrogênio e do potássio total requerido; cadas simultaneamente, geralmente se
50% a 100% do fósforo; saturar o comple- adota a mesma freqüência. Para goteja-
xo de troca do solo para 70%; 100% dos mento em solos de textura média e fina, a
demais macro e micronutrientes. fertirrigação pode ser realizada semanal-

Tabela 8 8. Quantidade relativa de nitrogênio, potássio, fósforo e cálcio a ser aplicada semanalmente via
fertirrigação, ao longo do ciclo de desenvolvimento do tomateiro.

Quantidade relativa do nutriente (%)1


Nutriente

Período da cultura (semana)


Plantio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Ciclo de 100 - 110 dias
N 15 0 2 2 2 7 10 10 10 10 10 10 10 2 0 0 -- --
K 15 0 2 2 2 7 10 10 10 10 10 10 10 2 0 0 -- --
P2 50 0 2 5 5 5 5 5 5 5 5 5 3 0 0 0 --
Ca3 V = 7 0 %4 0 0 0 5 5 5 15 15 15 15 15 10 0 0 0 -- --
Ciclo de 110 - 120 dias
N 15 0 2 2 2 2 10 10 10 10 10 10 10 7 0 0 0 --
K 15 0 2 2 2 2 10 10 10 10 10 10 10 7 0 0 0 --
P2 50 0 2 5 5 5 5 5 5 5 5 5 3 0 0 0 0 --
Ca3 V = 7 0 %4 0 0 0 0 5 5 15 15 15 15 15 15 0 0 0 0 --
Ciclo de 120 - 130 dias
N 15 0 2 2 2 2 5 10 10 10 10 10 10 6 6 0 0 0
K 15 0 2 2 2 2 5 10 10 10 10 10 10 6 6 0 0 0
P2 50 0 3 3 3 5 5 5 5 5 5 5 3 3 0 0 0 0
Ca3 V = 7 0 %4 0 0 0 0 0 5 5 15 15 15 15 15 15 0 0 0 0
1
% de nutriente a ser aplicada em cada fase da cultura em relação à quantidade total recomendada.
2
Aplicar todo o fósforo em pré-plantio caso a análise de solo indicar P > 20 mg/dm3 .
3
% em relação ao total a ser aplicada via fertirrigação.
4
Aplicar a quantidade necessária para que a saturação de bases atinja 70%.
Fonte: Adaptado de Marouelli et al. (2001).
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 21

injeção de fertilizantes incluem: • Os ácidos e os fertilizantes acidificados


são compatíveis com micronutrientes na
• Colocar inicialmente no tanque de mistu- forma de sulfatos até de 1,5% (em
ra entre 50% a 70% da água requerida peso), mas são incompatíveis com os
para a mistura. quelatizados.
• Misturar os fertilizantes líquidos à água • Não injetar fertilizantes contendo cálcio
antes de adicionar os fertilizantes sólidos em água com mais de 300 mg/L de
solúveis. carbonato ácido ( HCO3- ) e pH acima de
• Adicionar fertilizantes sólidos lentamen- 7,5, sob o risco de precipitar sais de
te na água mantendo a solução agitada cálcio.
para evitar formação de aglomerados • Evitar a injeção de fertilizantes contendo
que dificultem a solubilização. cálcio, magnésio e enxofre, pois podem
formar compostos insolúveis.
• Adicionar os ácidos lentamente na água e
nunca água ao ácido. • Não injetar fertilizantes nitrogenados na
forma nítrica em água contendo cálcio e
• Não misturar fertilizantes contendo
magnésio, pois a elevação do pH da água
sulfato com fertilizantes nem água con-
poderá precipitar esses elementos.
tendo concentrações de cálcio acima de
400 mg/L ou de magnésio acima de
240 mg/L. O resultado será a formação Manejo da Fertirrigação
de gesso insolúvel que irá entupir filtros
e gotejadores. Dosagem de Nutrientes
A dosagem total de nitrogênio é normal-
• Não injetar fertilizantes fosfatados em
mente calculada a partir da produtividade
água com concentração de cálcio acima
esperada do tomateiro, considerando que
de 60 mg/L, sob o risco de formar preci-
para cada tonelada de fruto a ser produzida
pitados de fosfato de cálcio.
deve-se aplicar cerca de 2,0 kg de nitrogê-
• Não misturar fertilizantes fosfatados nio. Por exemplo, se a produtividade espe-
com produtos contendo magnésio e rada é de 120 t/ha, a dosagem total de
ferro sob o risco de se formar fosfato nitrogênio a ser aplicada será de 240 kg/ha.
de magnésio ou de ferro, que são
insolúveis. As dosagens de potássio e de fósforo de-
vem ser determinadas conforme a análise
• Usar somente ácido fosfórico com alto química do solo e a produtividade esperada
grau de pureza para minimizar o risco de de frutos. Na Tabela 7 são apresentadas
obstrução de gotejadores. recomendações de adubação para uma

Tabela 7
7. Sugestão de adubação de fósforo e potássio, para solos de cerrado, segundo o nível de disponibilidade dos
nutrientes no solo, para uma produtividade esperada do tomateiro de 85 t/ha.
Fósforo Potássio
P no solo* (mg/L) P2 O5 (kg/ha) K no solo (mg/L) K2 O (kg/ha)
0 - 10 600 0 - 30 250
11 - 20 500 31 - 60 200
21 - 30 400 61 - 100 150
> 30 300 > 100 100
* Método de Mehlich.
Obs.: mg/L = 1 ppm.
Fonte: Adaptado de Fontes (2000).
20 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

aplicação de fósforo para valores entre 5,0 e enxofre às plantas é realizado usualmente
6,0, por meio da injeção de ácidos. por meio dos fertilizantes carreadores dos
macronutrientes primários, não sendo, via
Apesar do risco potencial de entupimento de regra, considerado no programa de
de gotejadores, da reduzida mobilidade do fertirrigação ou adubação convencional.
fósforo no solo e do maior custo das
fontes de fósforo solúveis, a aplicação de
fósforo via água de irrigação pode ser Fertilizantes com Micronutrientes
viável e proporcionar incrementos signifi- Os sulfatos são as fontes solúveis de zinco,
cativos de produtividade, principalmente manganês, cobre e ferro de custos mais
em solos com teor de fósforo abaixo de reduzidos para fertirrigação. Todavia, são
20 mg/L. pouco eficientes quando aplicados via
irrigação, por serem retidos na camada
superficial do solo.
Fertilizantes com Cálcio, Magnésio e
Enxofre As fontes mais eficientes de cobre, ferro e
O suprimento de cálcio e magnésio às plan- zinco via irrigação são as formas quelatiza-
tas é, normalmente, realizado por meio da das. Os quelatos movem-se no perfil do
calagem, com a aplicação de calcário dolomí- solo, juntamente com a água, disponibili-
tico ou calcítico, ou por ocasião do plantio, zando os micronutrientes às raízes. O alto
usando fertilizantes contendo tais elementos. custo é a principal desvantagem para o uso
das formas quelatizadas para fertirrigação.
O cálcio é absorvido em grandes quantida-
des pelo tomateiro (70 a 140 kg/ha), sendo O bórax e o ácido bórico são as fontes de
responsável pelo bom desenvolvimento boro mais comuns. O bórax apresenta baixa
radicular e fortalecimento da parede celular. solubilidade a frio, o que limita a utilização.
A fertirrigação com cálcio a partir do flores- De um modo geral, a maneira mais prática e
cimento elimina a ocorrência de podridão econômica de fornecer micronutrientes às
apical e a necessidade de pulverizações plantas é via adubação de plantio ou foliar.
foliares de cálcio. As fontes mais comuns
são o nitrato e o cloreto de cálcio, sendo o
cloreto a fonte de mais baixo custo. A Compatibilidade de Fertilizantes
aplicação de cálcio, no entanto, pode Para evitar problemas de precipitação e de
acarretar problemas de entupimento de entupimento de gotejadores, recomenda-se
gotejadores, não devendo ser realizada no avaliar a compatibilidade dos fertilizantes
mesmo dia da aplicação de qualquer fonte entre si e com a água a ser utilizada. Um
de sulfato, nitrato ou fósforo. teste simples pode ser feito misturando o(s)
fertilizante(s) a ser(em) injetado(s) com a
Aplicações de magnésio via irrigação não água de irrigação em um recipiente, na mes-
implicam, em geral, ganhos de produtividade, ma taxa de diluição a ser utilizada. Deve-se
além do risco potencial de formar compostos agitar a solução por alguns minutos e obser-
insolúveis e causar a obstrução de filtros e var, por cerca de uma hora, a ocorrência de
gotejadores. Caso necessário, pode ser utili- precipitados e a turbidez da solução. Se a
zado o sulfato ou o nitrato de magnésio. solução permanecer clara e transparente, será
provavelmente seguro injetar os fertilizantes
O enxofre apresenta alta mobilidade no testados no sistema de irrigação.
solo, existindo várias fontes solúveis para
fertirrigação, como o sulfato de amônio e o Algumas regras básicas de compatibilidade a
de potássio. Todavia, o fornecimento de serem observadas durante a mistura e a
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 19

A forma nítrica é a que apresenta maior cloreto indicado para fertirrigação apresen-
susceptibilidade à lixiviação, por permanecer ta coloração branca.
totalmente livre na solução do solo. Já o
nitrogênio amoniacal é retido pelas cargas O sulfato de potássio é uma fonte de custo
negativas das partículas de argila e matéria ligeiramente menor que o nitrato de potás-
orgânica, estando pouco sujeito à lixiviação. sio. Apresenta, porém, menor solubilidade
A uréia apresenta alta mobilidade no solo; que o nitrato e o cloreto de potássio. Não
todavia, é transformada rapidamente nos deve ser aplicado em água rica em cálcio
primeiros 5 a 10 cm do solo para a forma nem misturado com fertilizantes contendo
amoniacal. A lixiviação poderá ser significati- este elemento, pois pode provocar precipita-
va após a nitrificação do amônio. ção e entupir os gotejadores.

A vantagem da uréia em relação ao sulfato O potássio, elemento menos móvel que o


de amônio na fertirrigação por gotejamento é nitrogênio, é adsorvido pelas cargas negati-
sua maior penetração no perfil do solo, o que vas das partículas de argila e matéria orgâ-
minimiza a volatilização de nitrogênio nica. Pode, no entanto, ser parcialmente
(<5%). Perdas significativas de nitrogênio lixiviado quando aplicado em excesso,
(>40%) podem ocorrer, especialmente em especialmente em solos arenosos com baixo
solo e água com pH acima de 7, devido à teor de matéria orgânica.
transformação do amônio em amônia gasosa.
Além de menos sujeita à volatilização
(<5%), a forma nítrica pode reduzir substan- Fertilizantes Fosfatados
cialmente a volatilização se aplicada junta- As fontes solúveis de fósforo para fertirri-
mente com nitrogênio na forma amoniacal. gação são o fosfato monoamônico (MAP),
o fosfato diamônico (DAP), o fosfato mo-
nopotássio (MKP) e o ácido fosfórico. Esses
Fertilizantes Potássicos fertilizantes são mais caros que os utiliza-
As principais fontes de potássio para fertir- dos para aplicação convencional, como os
rigação são o cloreto e o nitrato de potás- fosfatos naturais, superfosfato simples e
sio (Tabela 6). O nitrato de potássio é um triplo.
produto excelente para fertirrigação, porém
apresenta custo muito mais elevado que o O fósforo é um elemento pouco móvel no
cloreto de potássio. A potencial desvanta- solo, com baixo potencial de lixiviação,
gem do cloreto de potássio é a presença do especialmente em solos de textura média e
íon cloreto, que pode causar problemas de fina. Fertilizantes fosfatados, mesmos
toxicidade às plantas de tomate quando aqueles altamente solúveis, são rapidamen-
aplicado em excesso ano após ano (acima te transformados em formas menos solúveis
de 2,0 meq/L). Este limite, devido à fácil de fósforo, tendendo a acumular na cama-
lixiviação do cloreto, é improvável de ser da superficial do solo (5 a 15 cm), princi-
atingido em regiões com precipitação palmente quando o pH do solo se situa fora
acima de 1.000 mm por ano. da faixa entre 6,0 e 6,5.

Deve-se evitar, todavia, utilizar o cloreto de A fertirrigação com fósforo pode causar
potássio de coloração rosa, normalmente problemas de entupimento de gotejadores
usado em adubação convencional. Este decorrente da precipitação de sais insolúveis,
fertilizante, embora apresente boa solubili- principalmente quando injetado em água com
dade, fornece uma solução com certo grau pH acima de 7,5 e concentração de cálcio
de oleosidade e de resíduos que pode levar acima de 60 mg/L. O risco pode ser minimiza-
à obstrução de filtros e gotejadores. O do reduzindo-se o pH da água durante a
18 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

fertilização convencional e os específicos fertirrigação durante o estádio de frutifica-


para fertirrigação, com maiores níveis de ção, quando a demanda por cálcio é expres-
pureza e solubilidade. siva. O problema do nitrato de cálcio e,
principalmente, do nitrato de potássio é o
Muitos dos fertilizantes sólidos para aduba- alto custo.
ção convencional, especialmente os granula-
dos, são manufaturados utilizando-se subs- O sulfato de amônio, que contém nitrogê-
tâncias para evitar que absorvam umidade nio amoniacal, pode ser utilizado como
com facilidade, não devendo ser utilizados fonte de enxofre na fertirrigação. Já a
para fertirrigação. Além disso, o uso de uréia, que contém nitrogênio na forma
fertilizantes não totalmente solúveis não amídica, é o fertilizante com menor custo
garante que a quantidade final de nutriente por unidade de nitrogênio, sendo por isso
aplicado seja igual à quantidade de nutriente um dos mais utilizados.
indicada no rótulo do fertilizante.
Dentre as formas de nitrogênio, a nítrica é
Existem no mercado formulações sólidas a preferencialmente utilizada pelas plantas,
NPK + micros próprias para fertirrigação. A sendo absorvida pelas raízes e translocada
desvantagem é que, além de apresentarem de imediato para a parte aérea da planta. A
custo mais elevado que dos fertilizantes amoniacal, preferida pelas plantas mais
individuais, não satisfazem, muitas vezes, jovens, é translocada após supridas as
as necessidades nutricionais da cultura. O exigências das raízes ou transformada para
recomendado é que o produtor, com o a forma nítrica. A forma amídica não é
devido conhecimento e/ou assistência, utilizada diretamente pelas plantas, mas
possa preparar as soluções com base nas somente após ser transformada em amônio
reais necessidades da cultura. e posteriormente em nitrato. Assim, um
balanço entre as formas nítrica e amoniacal
Outra opção são os fertilizantes líquidos, que (ou amídica) é recomendado para maximizar
podem conter somente um nutriente ou o desenvolvimento da cultura, especialmen-
diferentes concentrações de NPK + micros. te sob temperaturas abaixo de 15 oC, em
Embora práticos, devido à conveniência de que a taxa de nitrificação é reduzida. Em
manuseio, apresentam custo muito mais termos gerais, a quantidade de nitrogênio
elevado que o dos fertilizantes sólidos. na forma amoniacal (ou amídica) deve ser
semelhante à da forma nítrica, ou seja,
50% para cada.
Fertilizantes Nitrogenados
Os fertilizantes nitrogenados apresentam, A uréia e, principalmente, o amônio apre-
via de regra, alta solubilidade em água sentam alta capacidade de acidificação do
(Tabela 6). Os mais utilizados para fertirri- solo, não devendo ser utilizados como
gação são o nitrato de potássio, de cálcio e fontes isoladas de nitrogênio em solos com
de amônio, o sulfato de amônio e a uréia. O pH abaixo de 5,5. Para esses solos, a fração
nitrogênio, presente nessas fontes, pode de nitrogênio na forma nítrica deve repre-
estar disponível nas formas nítrica, amonia- sentar pelo menos 2/3 do total aplicado. No
cal ou amídica. caso do tomateiro cultivado em solos de
cerrado com pH devidamente corrigido (5,5
O nitrato de potássio é um excelente pro- a 6,5) cujo cultivo não seja realizado por
duto para a fertirrigação, pois contém mais de dois a três anos seguidos na mes-
nitrogênio, na forma nítrica, e potássio. O ma área, a fração de nitrogênio na forma
nitrato de cálcio contém cálcio e nitrogê- nítrica pode ser reduzida a 1/3 sem que a
nio, na forma nítrica, sendo útil para a produtividade seja afetada.
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 17

No caso de a tensão indicada pelos tensiôme-


tros superficiais ser muito maior que a tensão
recomendada (> 50%) e a tensão dos tensiô-
metros profundos muito baixa (≤ 10 kPa),
deve-se reduzir o intervalo entre irrigações. Tal
constatação é um indicativo de que o solo
não tem capacidade de reter toda a água
aplicada e que está ocorrendo perda de água
(e de nutrientes) por drenagem profunda.

Fertilizantes para Fertirrigação

Os nutrientes mais utilizados via fertirrigação


Fig. 5. Bateria de tensiômetros para avaliação da tensão de água
no perfil do solo explorado pelas raízes do tomateiro.
são aqueles com maior mobilidade no solo
como o potássio e, principalmente, o nitrogê-
nio. Para o tomateiro, a aplicação de fósforo
to (entre 5% e 10%) no valor de Kc e, e cálcio via irrigação, ainda que apresente
assim, aumentar a quantidade de água risco potencial de entupimento de gotejado-
aplicada nas irrigações subseqüentes. Por res, pode ser vantajosa.
outro lado, se a tensão, indicada pelos
tensiômetros mais profundos, atingir valo- Várias fontes de nutrientes podem ser
res inferiores a 20 kPa, deve-se reduzir o utilizadas para a fertirrigação (Tabela 6),
valor de Kc e, assim, diminuir a irrigação. considerando-se que a solubilidade, a con-
Tal procedimento permitirá que os valores veniência de uso, a concentração de nutri-
de Kc sejam ajustados para as condições entes, a disponibilidade no mercado e o
específicas de cultivo, as quais podem variar custo são os principais fatores a serem
com a cultivar, as práticas de cultivo e o considerados na escolha. Dentre os fertili-
sistema de plantio. zantes sólidos, existem aqueles usados na

Tabela 66. Teores médios de nutrientes e solubilidade em água a 20 oC dos principais fertilizantes utilizados
para fertirrigação.
Fertilizante Concentração (%)* Solubilidade (kg/L)*
Ácido fosfórico 46 a 76 P2 O5 líquido
Cloreto de cálcio 22 Ca, 38 Cl 1,00
Cloreto de potássio 60 K2 O, 47 Cl 0,35
Fosfato diamônico (DAP) 45 P2 O5 ; 16 N 0,57 (10 oC)
Fosfato monoamônico (MAP) 48 P2 O5 ; 10 N 0,37
Fosfato monopotássio (MKP) 34 K2 O; 52 P2 O5 0,23
Nitrato de amônio 34 N 1,95
Nitrato de cálcio 15 N; 34 Ca 2,20
Nitrato de potássio 14 N; 44 K2 O 0,31
Nitrato de sódio (Salitre do Chile) 15 N 0,88
Nitrato duplo potássio 15 N; 14 K2 O 1,10
Sulfato de amônio 21 N; 24 S 0,76
Sulfato de magnésio 13 Mg; 13 S 0,71
Sulfato de potássio 50 K2 O; 17 S 0,11
Uréia 46 N 0,85
* A concentração de nutrientes e a solubilidade dos fertilizantes podem variar dependendo do fabricante.
Fonte: Adaptado de Burt et al. (1995) e Montag (2001).
16 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

utilizando-se uma planilha eletrônica ou cultivada. Já os valores de TR apresentados


programa de computador disponível no na Tabela 2 podem requerer ajustes em
mercado, usar valores variáveis de Kc dentro razão de variações na capacidade de reten-
de cada estádio da cultura (Fig. 4). ção de água entre solos apresentando a
mesma textura.
Passo 8: Determinar a lâmina total de água a
ser aplicada por irrigação em cada estádio de Ajustes nos valores de TR e Kc podem ser
desenvolvimento das plantas. feitos monitorando-se a tensão ou teor de
água no solo com a auxílio de tensiômetros
(Fig. 5) ou outro tipo de sensor. Devem-se
(equação 7) instalar duas estações de monitoramento em
pontos representativos da área. Em cada
em que: estação, instalar um sensor a 50% da profun-
LTN = lâmina de água total necessária por didade efetiva do sistema radicular e outro
irrigação (mm); ligeiramente abaixo das raízes. Para solos de
n = número de dias entre irrigações consecu- cerrado, sugerem-se as profundidades de
tivas (i ≥ 1 dia). instalação de 10 e 30 cm até a início da
floração e a 20 e 50 cm após este estádio.
Passos 9 e 10: Seguir os mesmos passos do Os sensores devem ser posicionados a uma
método do “Turno de rega simplificado”. distância entre 7 e 15 cm do colo da planta e
do gotejador, sendo a maior distância para
solos de textura fina.
Adequação de TR e Kc
Os valores de Kc e TR fornecidos nas Tabe- A quantidade de água aplicada é considera-
las 2 e 4, respectivamente, podem não ser da insuficiente quando a tensão antes da
totalmente adequados para condições irrigação, indicada pelos tensiômetros mais
específicas de cultivo. Por exemplo, valores superficiais, for sistematicamente maior
de Kc podem variar ligeiramente dependen- que a tensão crítica de água no solo reco-
do das condições climáticas, condições de mendada para o tomateiro na Tabela 2.
cultivo, freqüência de irrigação e variedade Neste caso, deve-se fazer um ligeiro aumen-

Fig. 4. Curva de coeficiente de cultura (Kc) para tomateiro para processamento irrigado por gotejamento superficial.
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 15

Método do Tanque Classe A com Turno


de Rega Fixo
A precisão do método do “Turno de rega simpli-
ficado” pode ser melhorada calculando-se a ETo
em tempo real, e não com base em dados
climáticos históricos. Neste método, o turno de
rega é computado utilizando-se a Tabela 4, de
maneira semelhante ao método anterior.

O método do tanque Classe A (Fig. 3) é um dos


mais práticos e utilizados para se determinar a
ETo em tempo real. Utilizando-se coeficientes
empíricos, a ETo é estimada a partir da evapora-
ção do tanque por meio da seguinte relação:
Fig. 3. Tanque de evaporação Classe A para estimativa da
evapotranspiração do tomateiro (solo nu).
ETo = Kp × Eca (equação 6)

em que: Passo 1: Determinar, diariamente, a


Kp= coeficiente de tanque (adimensional); evapotranspiração de referência (ETo) pelo
Eca= evaporação do tanque Classe A (mm/dia). método do tanque Classe A*.

Os valores de Kp podem ser determinados a Passos 2 a 7: Seguir os mesmos passos do


partir da Tabela 5, conforme a velocidade do método do “Turno de rega simplificado”.
vento, umidade relativa do ar e tamanho da Caso o manejo da irrigação seja realizado
bordadura ao redor do tanque. Os passos
necessários para o manejo da irrigação são
sintetizados a seguir: * Podem-se utilizar outros métodos para estimar a
ETo em tempo real. No mercado existem estações
agro-meteorológicas automáticas de ETo.

Tabela 5
5. Coeficiente Kp para o tanque Classe A conforme a bordadura, umidade relativa do ar e velocidade do vento.
Tanque circundado por grama ou tomateiro
Umidade relativa (%)
Vento Baixa (<40%) Média (40% - 70%) Alta (>70%)
(m/s) R (m)* R (m)* R (m)*
10 100 10 100 10 100
Leve (<2) 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85 0,85
Moderado (2 - 5) 0,60 0,65 0,70 0,75 0,75 0,80
Forte (5 - 8) 0,55 0,60 0,60 0,65 0,65 0,75
Tanque circundado por solo nu
Umidade relativa (%)
Vento Baixa (<40%) Média (40% - 70%) Alta (>70%)
(m/s) R (m)* R (m)* R (m)*
10 100 10 100 10 100
Leve (<2) 0,60 0,55 0,70 0,65 0,80 0,75
Moderado (2 - 5) 0,55 0,50 0,65 0,60 0,70 0,65
Forte (5 - 8) 0,50 0,45 0,55 0,50 0,65 0,60
*R: posição do tanque - menor distância do tanque ao limite da bordadura (grama ou solo nu).
Fonte: Adaptado de Allen et al. (1998).
14 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

Passo 8: Determinar a lâmina total de água a em que:


ser aplicada por irrigação em cada estádio de Vt = volume total de água a ser aplicado
desenvolvimento das plantas. por irrigação (m3 );
Ai = área irrigada por vez (ha).
(equação 3)
Passo 10: Calcular o tempo de irrigação para
aplicação da lâmina de água total necessária:
em que:
LTN = lâmina de água total necessária por (equação 5)
irrigação (mm);
TR = turno de rega (dia).
em que:
Passo 9: Calcular o volume total de água a Ti = tempo de irrigação (min);
ser aplicado por irrigação: Sl = espaçamento entre laterais (m);
Sg = espaçamento entre emissores (m);
V t = 1 0 × LTN × Ai (equação 4) Vg = vazão do gotejador (L/h).

Exemplo 1: Determinar a freqüência e o Passo 6: Pela Tabela 4, para ETc = 5,2 mm/dia,
tempo de irrigação para a seguinte condição. Z = 30 cm, solo tipo II e estádio de frutifica-
• Local: Brasília/DF; ção, o turno de rega recomendado no mês de
• Classe textural do solo: argila julho é de TR = 1 dia.
(cerrado);
• Mês: julho; Passo 7: Para o presente exemplo, considerar
• Temperatura média do ar: 20 ºC; uma uniformidade de emissão de Ue = 0,85
• Umidade relativa média do ar: 55%; (fita gotejadora). Para solo do tipo II, a efici-
• Estádio: frutificação (início); ência associada as perdas por percolação
• Área irrigada por vez: 2 ha; profunda não controlável é de Es = 0,95.
• Espaçamento entre linhas de gotejado-
res: 1,2 m; Passo 8: Para ETc = 5,2 mm/dia, TR = 1 dia,
• Espaçamento entre gotejadores: 0,20 m; Ue = 0,85 e Es = 0,95, tem-se que a lâmina
• Vazão do gotejador: 1,1 L/h. total necessária é de:

Passo 1: Pela Tabela 3, para a temperatura de


20 ºC e umidade relativa de 55%, obtém-se
ETo = 5,5 mm/dia.
Passo 9: O volume total de água necessário
Passo 2: Pela Tabela 2, para o estádio de por irrigação para aplicar uma lâmina de LTN
frutificação, tem-se Kc = 0,95. = 6,4 mm em uma área de Ai = 2 ha é de:

Passo 3: Pela equação 1, para Kc = 0,95 e V t = 1 0 × 6,4 mm × 2ha = 128 m3


ETo = 5,5 mm/dia obtém-se:
ETc = 0,95 x 5,5 mm/dia = 5,2 mm/dia Passo 10: Para espaçamento entre as linhas
laterais de 1,2 m, espaçamento entre gotejado-
Passo 4: Pela Tabela 2, a profundidade efetiva no res de 0,20 m e vazão de gotejador de 1,1 L/h,
início do estádio de frutificação é de Z = 30 cm. tem-se que o tempo de cada irrigação, após a
completa pressurização do sistema, é de:
Passo 5: O solo, de cerrado com classe textural
argila, deve ser enquadrado como do tipo II.
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 13

Tabela 4
4. Sugestão de turno de rega (dias) para a cultura do tomateiro irrigada por gotejamento conforme a
evapotranspiração da cultura (ETc), profundidade de raízes, tipo de solo e estádio de desenvolvimento.

Profundidade efetiva de raízes


ETc 10 cm 20 cm 30 cm 40 cm
(mm/dia) Solo tipo Solo tipo Solo tipo Solo tipo
I II III I II III I II III I II III
Estádio inicial e de frutificação
2 1/2 1 2 1 2 3 2 3 5 --- --- ---
3 1/3 1 1 1 1 2 1 2 4 1 3 5
4 1/4 1/2 1 1/2 1 2 1 2 3 1 2 4
5 1/4 1/2 1 1/2 1 1 1/2 1 2 1 2 3
6 1/5 1/3 1/2 1/3 1 1 1/2 1 2 1 1 2
7 1/6 1/3 1/2 1/3 1/2 1 1/2 1 1 1/2 1 2
8 1/7 1/3 1/2 1/4 1/2 1 1/2 1 1 1/2 1 2
9 1/8 1/4 1/2 1/4 1/2 1 1/3 1 1 1/2 1 1
10 --- --- --- 1/5 1/2 1 1/3 1/2 1 1/2 1 1
11 --- --- --- 1/5 1/2 1/2 1/3 1/2 1 1/3 1 1
12 --- --- --- 1/5 1/3 1/2 1/4 1/2 1 1/3 1 1
Estádio vegetativo
2 --- --- --- 2 5 8 3 7 12 --- --- ---
3 --- --- --- 1 3 5 2 5 8 --- --- ---
4 --- --- --- 1 2 4 1 4 6 --- --- ---
5 --- --- --- 1 2 3 1 3 5 --- --- ---
6 --- --- --- 1/2 2 3 1 2 4 --- --- ---
7 --- --- --- 1/2 1 2 1 2 3 --- --- ---
8 --- --- --- 1/2 1 2 1 2 3 --- --- ---
9 --- --- --- 1/2 1 2 1/2 2 3 --- --- ---
10 --- --- --- 1/2 1 1 1/2 1 2 --- --- ---
11 --- --- --- 1/3 1 1 1/2 1 2 --- --- ---
12 --- --- --- 1/3 1 1 1/2 1 2 --- --- ---
Estádio de maturação
3 --- --- --- --- --- --- 1 3 6 2 4 8
4 --- --- --- --- --- --- 1 2 4 1 3 6
5 --- --- --- --- --- --- 1 2 3 1 3 5
6 --- --- --- --- --- --- 1 2 3 1 2 4
7 --- --- --- --- --- --- 1/2 1 2 1 2 3
8 --- --- --- --- --- --- 1/2 1 2 1 2 3
9 --- --- --- --- --- --- 1/2 1 2 1/2 1 2
10 --- --- --- --- --- --- 1/2 1 2 1/2 1 2
11 --- --- --- --- --- --- 1/2 1 1 1/2 1 2
12 --- --- --- --- --- --- 1/3 1 1 1/2 1 2

Solo tipo I: solos de textura grossa (areia, areia franca, franco arenoso).
Solo tipo II: solos de textura média (franco, franco siltoso, franco argilo-arenoso, silte) e de cerrado (exceto os de textura grossa).
Solo tipo III: solos de textura fina (franco argilo-siltoso, franco argiloso, argila arenosa, argila siltosa, argila, muito argiloso), exceto
os de cerrado.
Obs.: 1/2 representa duas irrigações por dia; 1/3, três irrigações por dia e assim por diante.
Fonte: Valores computados segundo Keller & Bliesner (1990), Marouelli et al. (1996) e Marouelli et al. (2001).
12 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

apresentam, em geral, baixa capacidade de gotejadores da primeira e última lateral,


armazenamento de água (média de 1,2 mm/cm) estando as quatro outras igualmente espa-
devido ao elevado grau de agregação das çadas.
partículas. Assim, os solos de cerrado de
textura fina devem ser considerados, para
(equação 2)
efeito de cálculos da irrigação no método de
manejo ora apresentado, como do tipo II.
em que:
Passo 6: Determinar, pela Tabela 4, o turno de Ue = uniformidade de emissão (decimal);
rega conforme a ETc, profundidade efetiva do = média das 25% menores vazões medidas;
sistema radicular e textura do solo, para cada
= média das vazões de todos os gotejadores.
estádio da cultura. Os valores médios de turno
de rega, para a região do Cerrado, são também
apresentados na Tabela 2. A uniformidade de emissão, determinada
pela equação 2, expressa a variabilidade de
Passo 7: Determinar a eficiência de irrigação do vazão dos gotejadores devido à qualidade
sistema. do processo de fabricação do gotejador
(coeficiente de variação), a variações de
A eficiência de irrigação é dependente da pressão (coeficiente de descarga do emis-
uniformidade de emissão dos gotejadores, das sor) e a problemas de entupimentos.
perdas devido à percolação profunda não
controlável e das perdas menores, controláveis, Adicionalmente, a vazão média dos goteja-
como escoamento superficial, vazamentos e dores, medida a cada safra, deve ser com-
perdas resultantes de irrigações inadequadas. parada com a vazão média determinada
Por serem previsíveis e controláveis, as perdas imediatamente após a instalação do sistema
menores devem ser evitadas, realizando-se a de irrigação. Vazões significativamente
manutenção preventiva do sistema e manejan- inferiores podem ser um indicativo de pro-
do-se a irrigação de forma adequada. blemas de pressão ou de entupimento de
gotejadores.
Em sistemas de irrigação bem dimensiona-
dos é comum obter-se uniformidade de Perdas por percolação profunda não contro-
emissão entre 0,85 e 0,90. Todavia, em vez lável, para irrigação de alta freqüência,
de se utilizar o valor da uniformidade defi- podem ocorrer mesmo em sistemas adequa-
nida na elaboração do projeto e fornecido damente manejados. A eficiência associada
pela empresa revendedora, recomenda-se a estas perdas (Es) é função principal do
sua determinação diretamente no campo, tipo de solo. Para solos do tipo I, recomen-
pelo menos no início da safra. Isto pode ser da-se Es = 0,90; para solos do tipo II,
realizado medindo-se a vazão dos gotejado- Es = 0,95; e para solos do tipo III,
res em condições normais de operação do Es = 1,00.
sistema.
Sistemas devidamente dimensionados e
A uniformidade de emissão em nível de com manutenção adequada apresentam
campo é calculada pela equação 2, medin- eficiência (Ue x Es) entre 80% e 90%.
do-se, por exemplo, a vazão de 10 goteja- Todavia, é comum se observar no campo
dores ao longo de 6 linhas laterais dentro sistemas operando com eficiência entre
de um setor de irrigação. Os gotejadores, 50% e 75%, seja em razão do dimensiona-
incluindo-se o primeiro e o último de cada mento inadequado, do uso de equipamen-
lateral, devem estar igualmente espaçados tos de baixa qualidade ou da manutenção
ao longo das laterais. Devem-se avaliar os inadequada (principalmente entupimento).
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 11

Tabela 3
3. Evapotranspiração de referência (ETo), em mm/dia, conforme a temperatura e umidade relativa média do ar.
Temp Umidade relativa (%)
(ºC) 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
18 6,7 6,1 5,5 5,0 4,4 3,9 3,3 2,8 2,2 1,7
20 7,3 6,7 6,1 5,5 4,9 4,3 3,6 3,0 2,4 1,8
22 8,0 7,3 6,6 6,0 5,3 4,6 4,0 3,3 2,7 2,0
24 8,6 7,9 7,2 6,5 5,8 5,0 4,3 3,6 2,9 2,2
26 9,4 8,6 7,8 7,0 6,2 5,5 4,7 3,9 3,1 2,3
28 10,1 9,3 8,4 7,6 6,7 5,9 5,1 4,2 3,4 2,5
30 10,9 10,0 9,1 8,2 7,3 6,4 5,4 4,5 3,6 2,7
32 11,7 10,7 9,7 8,8 7,8 6,8 5,8 4,9 3,9 2,9
Obs.: Valores de ETo nos intervalos de umidade relativa e temperatura apresentados podem ser obtidos por interpolação linear.
Fonte: Valores obtidos a partir da equação de Ivanov (Marouelli et al., 2001).

Passo 2: Determinar, pela Tabela 2, o pendicularmente à linha de plantio permite


coeficiente de cultura (Kc) para cada estádio uma avaliação visual da profundidade.
de desenvolvimento das plantas.
Passo 5: Determinar o tipo de solo.
Passo 3: Determinar a evapotranspiração da
cultura (ETc) para cada estádio de Para fins de manejo é necessário conhecer a
desenvolvimento: capacidade de armazenamento de água do solo
para, em função da evapotranspiração da cultu-
ETc = Kc × ETo (equação 1) ra, determinar o intervalo entre irrigações em
cada estádio de desenvolvimento das plantas.
em que:
ETc = evapotranspiração da cultura (mm/dia); Para o uso do presente método, a caracteriza-
Kc = coeficiente de cultura (adimensional); ção do solo é feita com base na textura e
ETo = evapotranspiração de referência (mm/dia). estrutura. Muitas vezes o produtor já dispõe
da análise da textura do solo a ser irrigado,
Passo 4: Determinar a profundidade efetiva do sendo uma informação freqüentemente reque-
sistema radicular (Z) para cada estádio da cultura. rida por bancos para a liberação de financia-
mentos agrícolas. A partir da classe textural,
Para esta determinação, não se deve conside- fornecida pela análise, deve-se utilizar o
rar todo o perfil do solo explorado pelas seguinte critério:
raízes, mas apenas a profundidade efetiva,
• Solo tipo I: solos de textura grossa
que corresponde à camada onde se encontram
(areia, areia franca, franco arenoso).
cerca de 80% das raízes. Na Tabela 2 são
apresentadas sugestões de profundidades • Solo tipo II: solos de textura média
médias nos diferentes estádios do tomateiro. (franco, franco siltoso, franco argilo-
arenoso, silte) e os de cerrado (exceto
os de textura grossa).
Entretanto, diversos fatores, tais como
textura de solo, fertilidade, práticas cultu- • Solo tipo III: solos de textura fina (franco
rais, solos rasos, irrigações muito freqüen- argilo-siltoso, franco argiloso, argila
tes e horizontes de solo fortemente diferen- arenosa, argila siltosa, argila, muito
ciados, podem afetar o desenvolvimento argiloso), exceto os de cerrado.
das raízes. Para uma melhor estimativa da
profundidade efetiva, é aconselhável avaliar Há casos em que a estrutura do solo é tão ou
o sistema radicular no próprio local de mais importante que a textura. Por exemplo, os
cultivo. A abertura de uma trincheira per- solos de cerrado, com altos teores de argila,
10 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

manejada de forma adequada e em solo com de serem utilizados e não requerem o uso
boa drenagem, produz frutos com maior teor de equipamentos; porém, apresentam me-
de sólidos solúveis e produtividade próxima nor precisão que os métodos do balanço
da potencial. hídrico e o da tensão.

Para uniformizar a maturação e aumentar o A seguir são apresentados dois métodos,


teor de sólidos solúveis dos frutos, as com diferentes graus de precisão, para o
irrigações devem ser realizadas adotando-se manejo da irrigação por gotejamento na
um turno de rega maior que no estádio cultura do tomateiro. Do ponto de vista do
anterior e paralisadas vários dias antes da produtor, é altamente desejável a possibili-
colheita. Para solos de cerrado, maior dade de antever as datas das irrigações,
rendimento de polpa é obtido quando as visto ser possível programar as práticas
irrigações são realizadas a cada 4 a 6 dias, culturais e as necessidades de trabalho.
a partir do início da maturação dos frutos, Assim, os dois métodos apresentados utili-
e paralisadas com 40% a 50% de frutos zam turnos de rega fixo em cada estádio de
maduros (cerca de 2 semanas antes da desenvolvimento da cultura.
colheita). Por outro lado, máxima produção
de frutos pode ser atingida irrigando-se a
cada 1 a 3 dias até 80% a 90% de frutos Método do Turno de Rega Simplificado
maduros (cerca de 1 semana antes da O cultivo do tomateiro na região do Cerra-
colheita). do é realizado principalmente na época em
que a ocorrência de chuvas é pouco signifi-
A suspensão brusca das irrigações em perío- cativa. Sob tais condições, a variabilidade
dos de alta radiação solar pode provocar, em da evapotranspiração de ano para ano é
algumas cultivares, problemas de escaldadura menor que na estação chuvosa, o que torna
de frutos, especialmente se as irrigações nas viável manejar a irrigação a partir de dados
duas semanas anteriores à suspensão forem climáticos históricos.
realizadas em regime de alta freqüência e em
quantidades excessivas. O método, que não requer a utilização de
equipamentos para o manejo da água,
permite estimar o turno de rega e o tempo
Manejo da Água de Irrigação de irrigação, para cada estádio de desenvol-
vimento do tomateiro, conforme as condi-
O manejo da água de irrigação engloba uma ções climáticas médias da região (tempera-
série de procedimentos para responder tura e umidade relativa do ar), o tipo de
quando e quanto irrigar. Vários são os solo a ser cultivado, a profundidade efetiva
métodos para o manejo da irrigação. Os do sistema radicular da cultura e as caracte-
métodos do balanço hídrico e o da tensão rísticas do sistema de irrigação.
da água do solo baseiam-se na avaliação,
em tempo real, de parâmetros relacionados O procedimento para a utilização do méto-
à planta, ao solo e ao clima, e permitem um do é apresentado passo a passo a seguir:
controle preciso da irrigação. Requerem,
todavia, equipamentos para medição da Passo 1: Determinar, pela Tabela 3, a eva-
umidade do solo (tensiômetros, sensores potranspiração de referência (ETo) confor-
capacitivos, blocos de resistência elétrica me os dados históricos médios de tempera-
etc.) e/ou da evapotranspiração (tanque tura e umidade relativa do ar disponíveis na
Classe A, termômetros, higrômetros, radiô- região. Estes dados podem, muitas vezes,
metros etc.). Métodos baseados em dados ser obtidos nos escritórios locais de exten-
históricos de evapotranspiração são fáceis são rural ou prefeituras.
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 9

Estádio Inicial Estádio de Frutificação


Atualmente, os plantios de tomate são reali- O estádio de frutificação, que se prolonga
zados utilizando-se de mudas. Assim, o até o início da maturação, é o mais crítico
estádio inicial vai do transplante das mudas quanto à deficiência de água no solo. A
até o estabelecimento inicial das plantas. deficiência de água reduz a viabilidade de
Irrigações em excesso podem favorecer a pólen e o tamanho de frutos, comprome-
maior incidência de doenças e comprometer tendo a produtividade; enquanto o excesso,
o estande. Por outro lado, a falta de água especialmente em sistema por gotejamento
prejudica o pegamento das mudas. superficial, favorece a ocorrência de doen-
ças de solo e da parte aérea.
O transplante deve ser realizado em solo
previamente irrigado. A lâmina de água a ser É o estádio em que o tomateiro atinge a
aplicada antes do transplante deve ser sufici- máxima demanda de água, devendo a umida-
ente para elevar a umidade da camada de de do solo permanecer próxima à capacidade
solo entre 0 e 40 cm até a capacidade de de campo. Períodos prolongados de deficiên-
campo. Dependendo do tipo e da umidade cia hídrica, seguidos de irrigação em excesso,
inicial do solo, deve-se aplicar uma lâmina podem causar danos fisiológicos, como
líquida entre 10 e 20 mm para solos de rachaduras de fruto. Apesar de ser um aspec-
textura grossa e entre 20 e 50 mm para os de to genético associado à variedade, a racha-
texturas média e fina. Para melhor formação dura de fruto pode ser favorecida pela alter-
do bulbo molhado, a lâmina total deve ser nância entre períodos prolongados de defici-
fracionada e aplicada durante 2 a 3 dias. ência hídrica e irrigação em excesso. Do
ponto de vista prático, o emprego de cultiva-
Após o transplante, as irrigações devem ser res sabidamente resistentes às rachaduras e o
freqüentes (1 a 2 dias), procurando-se manter manejo da irrigação de maneira a evitar o
a umidade da camada superficial do solo (0 a estabelecimento de déficits hídricos severos
20 cm) próxima à capacidade de campo. são as principais estratégias de controle.

Estádio Vegetativo Estádio de Maturação


O estádio vegetativo compreende o período É o período entre o início da maturação de
entre o estabelecimento inicial das plantas e frutos e a colheita. Neste estádio há uma
o início da frutificação. É o estádio menos sensível redução do uso de água pelas
crítico do tomateiro quanto ao déficit hídri- plantas (20% a 30%). Irrigações em exces-
co. A deficiência moderada de água favorece so prejudicam a qualidade de fruto, aumen-
o desenvolvimento do sistema radicular, tando a incidência de apodrecimento de
permitindo maior eficiência na absorção de frutos, prejudicando a coloração, reduzindo
água e nutrientes pelas raízes. o teor de sólidos solúveis totais, a acidez e
sua conservação na planta.
Limitações no crescimento das plantas,
resultantes da ocorrência de déficits hídri- Já a ocorrência de déficit hídrico prolongado
cos moderados, têm pequeno efeito na ou estresse salino, durante o início do está-
produção, desde que o suprimento de água dio de maturação, pode afetar a consistência
no estádio de frutificação seja adequado. e a coloração dos frutos. Por outro lado, o
Irrigações em excesso, tanto neste quanto tomateiro apresenta tolerância moderada à
nos estádios seguintes, podem favorecer concentração de sais na solução do solo.
maior incidência de doenças, além de favo- Assim, a irrigação com água ligeiramente
recer a lixiviação de nutrientes, especial- salina (até 2,0 dS/m), durante o estádio de
mente de nitrato. frutificação e de maturação, desde que
8 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

Partículas de maior diâmetro e densidade, 10 e 20 mg/L, se injetado de uma a duas


como areia grossa, são eliminadas por filtros do vezes por semana durante os últimos 30
tipo ciclone, centrífugos ou tanques de sedi- minutos da irrigação. Problemas graves de
mentação. Problemas com detritos vegetais obstrução podem ser minimizados realizando-
(folhas, galhos etc.) podem ser reduzidos com se uma supercloração (100 a 500 mg/L) e
o uso de telas na captação de água. deixando-se a solução por 24 horas dentro da
tubulação. Para maior eficiência, o cloro deve
O uso de água com quantidade excessiva de ser usado em água com pH entre 5,5 e 6,5. O
materiais em suspensão requer a lavagem hipoclorito de sódio ou de cálcio, o gás cloro
freqüente do elemento filtrante para não e o ácido hipocloroso são as principais fontes.
provocar perdas excessivas na pressão do
sistema. Nesses casos, os filtros com retrola-
vagem automática são recomendados. Necessidade de Água das Plantas

A quantidade de água necessária


Aspectos Biológicos para a irrigação do tomateiro varia de
O desenvolvimento de algas e bactérias, 350 a 500 mm, dependendo das condi-
inclusive dentro da tubulação, pode causar ções climáticas, da cultivar e do sistema
problemas de obstrução de gotejadores. A de irrigação. O uso diário de água, cha-
proliferação de algas é estimulada pela pre- mado de evapotranspiração da cultura e
sença de nutrientes aplicados pela fertirriga- expresso em mm/dia, engloba a lâmina de
ção. Vários gêneros de bactérias, por outro água transpirada pelas plantas e a água
lado, quando na presença de substâncias evaporada do solo.
como sulfetos, ferro, manganês e argila,
produzem mucilagem (lodo) que podem O tomateiro apresenta quatro estádios
obstruir os gotejadores. Ativo desenvolvi- distintos de desenvolvimento com relação
mento de bactérias pode ocorrer mesmo às necessidades hídricas: inicial, vegetativo,
quando a concentração de ferro, manganês frutificação e maturação. A duração de
ou sulfetos na água é baixa (0,2 mg/L). cada estádio depende, principalmente, da
cultivar e das condições edafoclimáticas
A cloração é o tratamento mais indicado para predominantes. Informações sobre turno de
o controle de algas e bactérias; todavia, é rega, coeficiente de cultura, tensão crítica
caro e requer manejo cuidadoso. O cloro de água no solo e profundidade efetiva do
residual livre no final da linha de gotejadores sistema radicular das plantas nos diferentes
deve ser entre 0,5 e 2,0 mg/L, se injetado de estádios de desenvolvimento são apresenta-
forma contínua durante a irrigação, ou entre das na Tabela 2.

Tabela 2
2. Valores médios de turno de rega (TR), tensão crítica de água no solo (Ts), coeficiente de cultivo (Kc) e
profundidade efetiva do sistema radicular do tomateiro (Z), irrigado por gotejamento, nos diferentes estádios de
desenvolvimento da cultura.
Duração TR 1 Ts Kc 2 Z1
Estádio (dias) (dias) (kPa) (cm)
Normal Direto
Inicial 6 - 8 1 - 2 --- 0,45 0,35 10
Vegetativo 23 - 27 4 - 6 70 0,40 0,35 20 - 303
Frutificação 50 - 60 1 - 2 15 0,95 0,85 30 - 403
Maturação 26 - 30 2 - 4 40 0,70 0,65 40
1
Valores recomendados para a região do Cerrado.
2
Plantio convencional e direto de mudas em palhada, respectivamente.
3
O menor valor refere-se ao início do estádio.
Fonte: Adaptado de Marouelli & Silva (2001) e Marouelli et al. (2001).
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 7

medidor de pH). O uso do ácido fosfórico fabricantes de gotejadores recomendam


deve ser evitado, pois possui baixo poder filtros entre 75 e 150 µm (200 e 100 mesh,
acidificante, pode formar precipitados na respectivamente). Alguns tipos de goteja-
presença de cálcio e pode conter quantida- dores toleram partículas de até 600 µm
des expressivas de ferro solúvel. (20 mesh).

Outra medida preventiva que pode ser adota- Partículas de silte (2 a 50 µm) e de argila
da quando as concentrações de ferro, man- ( < 2 µm) não provocam, via de regra,
ganês e sulfetos na água de irrigação estive- problemas de entupimento de gotejadores
rem acima dos limites mínimos aceitáveis de fluxo turbulento, pois fluem facilmente
(Tabela 1) é a cloração da água, mantendo-se pelas passagens de água. Todavia, águas
cerca de 1 mg/L de cloro residual livre. Neste barrentas podem provocar obstrução
caso, os precipitados resultantes da oxidação gradativa em alguns tipos de gotejadores,
devem ser filtrados antes de adentrarem o devendo ser evitadas. Neste caso, a água
sistema de irrigação. deve ser submetida a um processo de
sedimentação ou de floculação antes
O processo mais eficiente para a remoção de de ser utilizada.
ferro da água de irrigação é o da aeração
seguido de filtragem ou decantação. Antes Os filtros de disco e de tela são indicados
que adentre o tanque de decantação, a água para eliminar praticamente quaisquer tipos
é submetida a uma completa aeração para de sólidos suspensos, mas são facilmente
oxidar o ferro à forma insolúvel. A incorpora- obstruídos por materiais orgânicos. Os
ção de oxigênio à água pode ser realizada filtros de areia retêm grandes quantidades
aspergindo a água ou fazendo com que a de sólidos suspensos e de materiais orgâni-
água passe sobre uma série de defletores. cos antes de serem obstruídos. Apesar de
reterem partículas menores que 100 µm
A obstrução parcial de gotejadores por preci- (depende do diâmetro do elemento
pitados químicos pode ser muitas vezes filtrante), os filtros de areia devem ser
revertida injetando-se ácido durante 30 a seguidos por um filtro secundário de tela
60 min no sistema, numa concentração ou discos para evitar que partículas
que reduza o pH da água para 4,0. de areia do próprio filtro entrem no
Problemas mais sérios de entupimento po- sistema (Fig. 2).
dem, em alguns casos, ser minimizados
reduzindo-se o pH da água para 2,0.
Após a aplicação do ácido, deve-se
irrigar em excesso e com a pressão mais
elevada possível para a limpeza final
das tubulações e gotejadores.

Aspectos Físicos
As partículas inorgânicas suspensas e os
materiais orgânicos presentes na água
podem causar a obstrução dos gotejadores.
O problema pode ser eliminado filtrando-se
a água e lavando-se a linha de gotejadores
periodicamente. O uso de válvulas de final
de linha, em cada lateral, possibilita que a
Fig. 2. Conjunto de filtros de areia e de disco, com sistema de
lavagem seja automática. A maioria dos retrolavagem automática.
6 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

ativa, o espaçamento pode chegar a valores presença de ferro em algumas fontes de água
acima de 50 cm. Avaliações de campo pode trazer problemas.
devem ser realizadas visando estabelecer o
espaçamento ideal. Como regra geral, o Água com pH acima de 7,5 e com alta con-
espaçamento entre gotejadores deve ser de centração de bicarbonato de cálcio ou de
50% a 70% do diâmetro molhado na super- magnésio pode provocar a obstrução gradati-
fície do solo. Espaçamentos superiores va dos gotejadores, devido a sua precipita-
podem reduzir significativamente a produti- ção. O ferro e o manganês presentes na água
vidade do tomateiro. Para evitar a formação podem também formar precipitados insolú-
de uma zona de saturação junto ao colo da veis na presença de sulfeto ou sob condições
planta, a linha de gotejadores deve ser de pH e temperatura elevada.
posicionada entre 5 a 10 cm em relação à
linha de plantio. Quando a qualidade química da água apre-
sentar risco potencial de entupimento de
gotejadores (Tabela 1) deve-se atuar de
Qualidade e Tratamento da Água forma preventiva, pois tentar solucionar um
problema já existente de entupimento é
O principal problema do gotejamento é o difícil. Em muitos casos será necessária a
entupimento devido à qualidade da água substituição de todos os gotejadores.
utilizada para a irrigação e ao manejo inadequa-
do da fertirrigação. Isso se deve à presença de O procedimento mais utilizado para prevenir
impurezas em suspensão, formação de precipi- problemas de precipitação química nas
tados e atividade microbiológica. Um guia para tubulações é a redução do pH da água para
avaliação do risco de obstrução de gotejadores, níveis entre 5,5 e 7,0, por meio da injeção
conforme as características físicas, químicas e de ácidos, como o nítrico, o sulfúrico, o
biológicas da água, é apresentado na Tabela 1. muriático e o cítrico. A quantidade de
ácido (0,02% a 0,2% da capacidade do
sistema), que depende da qualidade e
Aspectos Químicos temperatura da água e do tipo de ácido,
A presença de carbonatos, cálcio, magnésio, pode ser calculada a partir de uma curva de
ferro, manganês e sulfetos pode favorecer a titulação, determinada em laboratório, ou
formação de precipitados que irão obstruir por tentativa e erro na própria propriedade
filtros e gotejadores. Na região do Cerrado, a (em ambos os casos deve-se dispor de um

Tabela 1
1. Risco potencial de entupimento de gotejadores conforme a qualidade da água de irrigação.
Risco de entupimento
Qualidade
Pequeno Médio Alto
Física
Sólidos suspensos (mg/L) < 50 50 - 100 > 100
Química
pH < 7,0 7,0 - 8,0 > 8,0
Sólidos dissolvidos (mg/L) < 500 500 - 2.000 > 2.000
Bicarbonato (mg/L) < 50 50 - 180 > 180
Cálcio (mg/L) < 50 50 - 150 > 150
Manganês (mg/L) < 0,1 0,1 - 1,5 > 1,5
Ferro total (mg/L) < 0,2 0,2 - 1,5 > 1,5
Ácido sulfídrico (mg/L) < 0,2 0,2 - 2,0 > 2,0
Biológica
Bactérias (no/ml) < 10.000 10.000 - 50.000 > 50.000
Fonte: Adaptado de Gilbert & Ford (1986).
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 5

rais e de colheita, a lateral pode ser insta- lação; e prevenir a entrada de raízes nos
lada a cerca de 5 cm de profundidade. gotejadores. Para se evitar a entrada de
Neste caso, devem-se utilizar tubos de raízes nos gotejadores, pode-se realizar
maior espessura de parede visando minimi- uma aplicação única de trifuralina
zar danos à tubulação e facilitar sua retira- (0,25 mL/gotejador) no início do ciclo de
da após a colheita. desenvolvimento do tomateiro via água de
irrigação durante 20 a 30 minutos. Existem
Além das vantagens normais do gotejamen- também no mercado gotejadores impregna-
to, o sistema subterrâneo apresenta algu- dos com trifuralina, ou que apresentam
mas outras adicionais: menor uso de água projeto de construção que minimizam a
em razão da redução da evaporação de entrada de raízes.
água do solo; menor ocorrência de apodre-
cimento de frutos devido ao fruto não
entrar contato com o solo úmido; menor Espaçamento entre laterais e
uso de mão-de-obra; e aumento da vida útil gotejadores
do sistema devido à não necessidade de O espaçamento entre as linhas laterais de
remoção das linhas laterais ao final de cada gotejadores depende do sistema de plantio
ciclo da cultura. Para tal, faz-se necessário a ser utilizado, o qual pode ser em fileiras
que a lateral seja instalada a uma profundi- simples (120 a 150 cm), com uma lateral de
dade suficiente para que a superfície do gotejadores por linha de plantio, ou em
solo permaneça seca e que não haja danos fileiras duplas (140 x 40 cm a 160 x 50 cm),
à tubulação durante o preparo do solo. com uma lateral por dupla de fileiras.

Para solos de cerrado, a instalação dos Para reduzir o investimento inicial, a maio-
gotejadores entre 10 e 20 cm de profundi- ria dos agricultores tem optado pelo plantio
dade possibilita alta produtividade, mas em fileiras duplas, com uma lateral por
requer o uso da aspersão, durante o estádio dupla de fileiras. Estudos realizados na
inicial de estabelecimento da cultura (10 a Embrapa Hortaliças, no entanto, indicam
20 dias), para auxiliar o pegamento de que o sistema em fileiras simples possibili-
mudas. Ademais, laterais instaladas a estas ta, em termos gerais, um incremento de
profundidades não podem ser facilmente produtividade de cerca de 10%, quando
retiradas ao final de cada colheita, devendo comparado ao sistema de fileiras duplas, o
permanecer instaladas no campo. Assim, que é suficiente para compensar o custo
para que não sejam danificadas por discos mais elevado desse sistema. A maior produ-
de grade e arado, devem-se implementar tividade no sistema de fileiras simples,
ajustes no sistema de preparo do solo, comparativamente ao sistema de fileiras
adotando-se, por exemplo, o plantio direto duplas, deve-se ao melhor suprimento de
de mudas. Profundidades maiores que água às plantas, especialmente no estádio
20 cm não devem ser utilizadas, pois o inicial de estabelecimento de mudas, e à
suprimento de água às plantas é deficiente menor incidência de frutos podres.
e a produtividade drasticamente reduzida.
Os gotejadores devem ser espaçados ao
Para se evitar problemas de entupimentos longo da lateral de maneira a formar uma
no gotejamento subterrâneo, alguns cuida- faixa molhada contínua e uniforme ao longo
dos devem ser tomados: usar gotejadores da linha de plantio. Para solos de cerrado, o
recomendados para tal finalidade; posicio- espaçamento varia entre 10 e 40 cm, sendo
nar os gotejadores virados para cima; usar função da vazão do gotejador, freqüência
válvulas anti-vácuo para prevenir a sucção de irrigação e, principalmente, do tipo de
de partículas sólidas para dentro da tubu- solo. Para solos argilosos, contendo argila
4 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

O custo por metro linear das fitas goteja- são considerados excelentes, entre 0,05 e
doras não varia com o espaçamento entre 0,10 são aceitáveis e acima de 0,20 são
emissores, pois os gotejadores são integra- inaceitáveis.
dos à fita (moldados na própria parede da
mangueira durante o processo de fabrica- Uma das características mais importantes do
ção). Já os tubos gotejadores têm o custo gotejador é a interdependência da vazão a
aumentado quanto menor a distância entre variações de pressão, expressa pelo expoente
gotejadores em razão de os emissores de descarga do gotejador. Quanto maior o
serem estruturas distintas, que são previa- expoente, maior a sensibilidade da vazão a
mente manufaturados e posteriormente variações de pressão. Um expoente igual a
afixados internamente na parede do tubo 1,0 (fluxo laminar) indica que o gotejador é
durante o processo de extrusão (gotejador totalmente sensível a variações de pressão,
interno) ou acoplados externamente (gote- ou seja, uma variação de 20% de pressão
jador tipo botão). causa 20% de variação de vazão. Um expo-
ente igual a 0,5 (fluxo turbulento) significa
A suscetibilidade do gotejador ao entupi- que 20% de variação de pressão causa 10%
mento depende, em grande parte, do de variação de vazão. Já um expoente igual a
diâmetro para passagem da água e do zero (totalmente autocompensante) significa
regime de fluxo. Em geral, maiores diâme- que a vazão não é afetada por variações de
tros e fluxo turbulento resultam em menor pressão. A maioria dos gotejadores disponí-
risco de entupimento. Entretanto, existem veis no mercado apresentam expoentes de
gotejadores que apresentam dispositivos descarga entre 0,3 a 0,7. Os gotejadores
ditos “auto-limpantes”. Assim, a suscetibi- chamados autocompensantes não têm efeti-
lidade ao entupimento pode ser avaliada vamente expoente zero, mas entre 0,1 e 0,3.
usando informações do fabricante e experi- Por suas características de fabricação, os
ência de campo. gotejadores autocompensantes permitem o
uso de laterais mais longas e são indicados
Em geral, a vazão dos gotejadores varia de para terrenos ondulados, sendo a uniformida-
0,5 a 4,0 L/h, sendo aqueles com vazão de de emissão afetada mais por problemas de
entre 1,0 e 2,0 L/h os mais utilizados. entupimento ou qualidade de fabricação do
Gotejadores com alta vazão podem ter a que por variações de vazão. Todavia, apre-
vantagem de reduzir problemas de entupi- sentam custo mais elevado que os demais
mento, devido ao maior diâmetro de passa- tipos de gotejadores.
gem de água, e aumentar ligeiramente a
largura da faixa de molhamento. Entretan-
to, exigem a utilização de linhas laterais Profundidade de instalação dos
com menor comprimento que gotejadores gotejadores
de baixa vazão para se atingir uma desejada O sistema de irrigação por gotejamento
uniformidade de emissão, o que aumenta o pode ser classificado em superficial e sub-
custo do sistema de irrigação. terrâneo. No Brasil, o sistema subterrâneo é
muito pouco utilizado para hortaliças. O
O processo de fabricação pode afetar a comum é instalar as linhas laterais de gote-
variabilidade de descarga do gotejador, jadores na superfície do solo próximas à
sendo a qualidade do processo indicado fileira de plantas.
pelo coeficiente de variação do gotejador.
Quanto menor o coeficiente de variação, Para minimizar danos mecânicos à tubula-
menor a variação de vazão para uma mesma ção e os causados principalmente por
pressão e melhor a qualidade de fabricação roedores, cupins e alguns tipos de formi-
do gotejador. Coeficientes inferiores a 0,05 gas, bem como facilitar as práticas cultu-
Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento 3

Fig. 1. Válvula hidráulica e painel de controle para automação da irrigação por gotejamento.

reprogramadas manualmente conforme ficam, normalmente, sob a responsabilidade


variações na demanda de água durante o das empresas revendedoras.
ciclo da cultura. Em controladores mais
sofisticados, todavia, o ajuste pode ser
realizado automaticamente por meio de Tipos de gotejadores
sensores de umidade de solo e/ou climáti- Entre os componentes do sistema, os
cos. Os sistemas automatizados têm maior gotejadores têm um dos mais importantes
custo inicial, mas reduzem a utilização de papéis no sucesso do empreendimento.
mão-de-obra, erros de operação e proporci- Existe no mercado uma grande variedade
onam economia no dimensionamento hidrá- de tipos de gotejadores. As principais
ulico por permitirem que o sistema opere características a serem observadas na
24 horas por dia. escolha do gotejador são: custo, durabili-
dade, suscetibilidade ao entupimento,
Para atender com eficiência às necessidades vazão, coeficiente de variação e expoente
hídricas da cultura, o sistema deve ser de descarga do gotejador.
dimensionado levando-se em consideração
aspectos agronômicos, hidráulicos, operaci- As tubulações podem ser agrupadas nas
onais e econômicos. Além disso, deve ser categorias de fita gotejadora (“tape” ou
adotado um sistema de manutenção contí- cinta) e tubo gotejador. O diâmetro varia
nuo para se evitarem problemas de vaza- de 16 a 20 mm; e a espessura da parede,
mentos e entupimentos, garantindo a uni- de 100 a 1.200 µm, sendo que as de
formidade de emissão de água dos goteja- maior espessura apresentam normalmente
dores. Procedimentos para o dimensiona- maior durabilidade. As tubulações com
mento do sistema podem ser encontrados espessura entre 200 e 900 µm são as mais
em publicações específicas. No Brasil, a utilizadas por reduzirem custos e facilita-
elaboração do projeto, o fornecimento dos rem o rebobinamento no final de cada
equipamentos e a implantação do sistema safra.
2 Tomateiro para Processamento Industrial: Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

almente o consumo de água e a incidência • Redução de 40% a 60% no uso de


de doenças da parte aérea, aumentando a fungicidas: por não molhar a folhagem e
produtividade e a qualidade dos frutos. Em os frutos e não lavar o fungicida aplica-
2002, a área irrigada de tomateiro por goteja- do, diminui a incidência de doenças da
mento atingiu 620 ha, devendo, segundo parte aérea.
previsão das indústrias de processamento,
• Maior flexibilidade no uso da fertirriga-
aumentar expressivamente nos próximos
ção: os fertilizantes são aplicados junto
anos.
às raízes das plantas, em regime de alta
freqüência conforme as necessidades
A viabilidade econômica do gotejamento
das plantas, aumentando a eficiência
somente é plenamente atingida quando o
de uso pelas plantas.
manejo da irrigação e da fertirrigação é
realizado de forma eficiente e racional. Por • Incremento na receita líquida do produ-
favorecer que os nutrientes sejam fornecidos tor entre 20% e 30%.
de forma parcelada, atendendo às necessida-
des das plantas, a fertirrigação contribui para Alguns inconvenientes associados ao goteja-
que a fertilidade do solo seja mantida num mento são: maior custo inicial por unidade de
nível próximo ao ótimo durante todo o ciclo área (R$ 6.000 a 10.000/ha contra R$ 3.500 a
da cultura, maximizando a absorção de 5.000/ha na aspersão); possibilidade de entupi-
nutrientes pelas raízes. mento dos gotejadores; necessidade de remo-
ção das linhas de gotejadores ao final de cada
Esta circular é destinada a produtores e safra. Entretanto, o maior custo do sistema é
técnicos ligados à área de produção de compensado por um incremento na receita
tomate para processamento industrial. Tem total, enquanto que problemas de entupimento
por objetivo apresentar informações básicas, podem ser evitados com o tratamento da água
assim como aspectos relevantes e atuais e o manejo adequado da fertirrigação.
sobre o manejo da água de irrigação e da
fertirrigação por gotejamento.
Características do Sistema
O sistema de irrigação por gotejamento é
Sistema por Gotejamento constituído, de forma geral, por: conjunto
motobomba; cabeçal de controle (sistema
de filtragem, sistema de injeção de fertili-
Vantagens do Sistema
zantes); unidade de distribuição de água
As principais vantagens do gotejamento,
(linha adutora, linhas de distribuição, linhas
comparado à aspersão, para a irrigação do
laterias, gotejadores, válvulas, acessórios).
tomateiro são:
Válvulas reguladoras de pressão, anti-vácuo
• Incremento de produtividade entre e de final de linha devem ser utilizadas para
20% e 40%: rendimentos de 100 a um melhor funcionamento do sistema e
140 t/ha podem ser facilmente obtidos. maior eficiência da irrigação.

• Menor gasto de água: utiliza entre 20%


O sistema pode ser automatizado por meio
e 40% a menos de volume água, por
de painéis controladores, válvulas hidráuli-
não molhar toda a superfície do solo e
cas e sensores (Fig. 1). Freqüentemente são
apresentar maior eficiência de irrigação.
utilizados controladores básicos, onde são
• Maior eficiência (25% e 40%) no uso programados apenas as datas, os horários e
de água pelas plantas: 25 a 35 gramas a duração das irrigações. Para tais controla-
de fruto por quilograma de água. dores, a duração das irrigações devem ser
ISSN 1415-3033
Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

Tomateiro para Processamento Industrial:


Irrigação e Fertirrigação por Gotejamento

30 Introdução

O tomateiro para processamento


industrial é a hortaliça de maior
importância econômica cultivada
na região do Cerrado. Durante os
anos de 2000 a 2002, a área
cultivada nos Estados de Goiás e
Minas Gerais foi, em média, de
13,2 mil hectares, representando
cerca de 80% da área cultivada no Brasil.

A irrigação do tomateiro tem sido realizada predominantemente por


aspersão, sendo o pivô central o sistema mais utilizado. Nos últimos
anos, a utilização de pivô central vem sendo questionada pelo manejo
inadequado da água de irrigação e falta de esquema eficiente de rota-
ção de culturas, favorecendo, por exemplo, a ocorrência e o acúmulo
de patógenos no solo, e, principalmente, pela necessidade da racionali-
Brasília, DF
Dezembro, 2002 zação do uso de água e de energia. Além disso, por molhar a parte
aérea das plantas, a aspersão ainda favorece uma série de doenças,
como as provocadas por Xanthomonas campestris pv. vesicatoria e
Pseudomonas syringae pv. tomato, podendo provocar perdas significa-
tivas na produção e na qualidade dos frutos.

Nos últimos três anos, o gotejamento vem se tornando uma opção


viável para a irrigação do tomateiro devido, principalmente, à redução
do custo do sistema e ao aprimoramento das tecnologias de produção.
Por aplicar água diretamente no solo e junto à planta, sem molhar toda
a superfície do solo, a folhagem e os frutos, o sistema reduz substanci-

Autores
Waldir A. Marouelli
Eng. Agrícola,
Ph.D., Embrapa
Hortaliças

Washington L. C. Silva
Eng. Agrônomo,
Ph.D., Embrapa
Hortaliças

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