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22, Nº 7
DOI: 10.53660/CLM-681-736
ISSN: 1414-7327
Erich Barbosa Albuquerque Sales1*, Laura Lissa Soares Meirelles¹, Renata Barbosa de
Andrade¹, Élida Lúcia Barbosa Silva¹, Estácio Amaro da Silva Júnior¹
RESUMO
A Síndrome de Burnout (SB) é marcada por exaustão, despersonalização e reduzida realização
profissional, especialmente em funções assistencialistas como a dos cuidadores. Este estudo avaliou a
prevalência da SB em diferentes variáveis sociodemográficas e os fatores que levam ao esgotamento de
cuidadores de crianças ou adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A amostra foi
composta por 46 cuidadores, que responderam a um questionário sociodemográfico e ao Copenhagen
Burnout Inventory (CBI). Posteriormente, 10 cuidadores participaram de entrevistas semiestruturadas
sobre os fatores que impactam no esgotamento. A maioria da amostra foi do sexo feminino (97,8%), entre
34 e 45 anos (56,5%), com relacionamento estável (67,4%), Ensino Superior Completo (50%) e ″do lar″
(23,9%). A prevalência de SB foi de 95,7% (43), não havendo diferença entre as variáveis
sociodemográficas. O principal fator de impacto no esgotamento foi a dificuldade em conciliar trabalho,
tarefas domésticas e o cuidado dos filhos com TEA, impactando principalmente as mães.
ABSTRACT
Burnout Syndrome (BS) is marked by exhaustion, depersonalization and reduced professional
achievement, especially in care functions such as that of caregivers. This study evaluated the prevalence
of BS in different sociodemographic variables and the factors that lead to burnout in caregivers of
children or adolescents with Autistic Spectrum Disorder (ASD). The sample consisted of 46 caregivers,
who answered a sociodemographic questionnaire and the Copenhagen Burnout Inventory (CBI).
Subsequently, 10 caregivers participated in semi-structured interviews about the factors that impact
burnout. The majority of the sample was female (97.8%), between 34 and 45 years old (56.5%), with a
stable relationship (67.4%), Complete Higher Education (50%) and ″housewife″ (23.9%). The prevalence
of BS was 95.7% (43), with no difference between sociodemographic variables. The main impact factor
on burnout was the difficulty in reconciling work, household chores and caring for children with ASD,
impacting mainly mothers.
Keywords: Burnout, Psychological; Caregiver Burden; Autism Spectrum Disorder; Caregivers.
1
Universidade Federal da Paraíba
*E-mail: albuquerque.erich@gmail.com
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INTRODUÇÃO
principalmente nas mães, visto que, na maioria dos casos, assumem a função de cuidadoras e
abandonam a vida profissional para dedicação integral ao cuidado dos filhos (TORQUATTO;
FREIRE; JUNIOR, 2011).
Com isso em vista, torna-se imprescindível discutir sobre a saúde mental dos
cuidadores, possibilitando uma maior visibilidade e acompanhamento também desse grupo. Este
estudo analisou a prevalência da Síndrome de Burnout (SB) em cuidadores de crianças ou
adolescentes com TEA dos participantes, bem como as diferenças na manifestação do burnout
entre variáveis sociodemográficas e fatores que contribuem para o desenvolvimento da SB nessa
população.
METODOLOGIA
teórica, que ocorre quando nenhum novo elemento é encontrado e o acréscimo de novas
informações deixa de ser necessário, pois não altera a compreensão do fenômeno estudado
(NASCIMENTO et al., 2018). Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, que se
caracterizam pela presença de um roteiro de perguntas principais norteadoras e a possibilidade
de perguntas complementares baseadas nas circunstâncias momentâneas do diálogo entre o
pesquisador e o entrevistado. A escolha metodológica da entrevista permite apreender as feições
e impressões do entrevistado, compreendendo seus posicionamentos e como eles enxergam o
fenômeno a ser investigado, algo de suma importância para as pesquisas descritivas e
exploratórias (MOURA; ROCHA, 2017).
As entrevistas foram realizadas com o consentimento livre e esclarecido dos cuidadores,
acontecendo de forma virtual com data e horário agendados previamente com os
entrevistados(as). Além disso, as entrevistas foram gravadas, com prévia autorização do
participante, e transcritas, na íntegra, com o intuito de compor um corpus que foi analisado
através de um processamento sistemático de leitura, análise, categorização e descrição dos
núcleos temáticos para investigar a visão dos cuidadores de crianças ou adolescentes com TEA
sobre os fatores que impactam no desenvolvimento ou agravo da Síndrome de Burnout. A
pesquisa seguiu todos os preceitos éticos das resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional
de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres humanos, sendo aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisas do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba, sob o número
CAAE 47669921.9.000.8069. Todos os participantes foram informados previamente sobre o
objetivo, benefícios e malefícios deste estudo, sendo possível a não aceitação de participar e/ou
abandono livre durante as avaliações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
(2,2%) respondeu “nunca ou quase nunca”. A partir das respostas coletadas, observa-se que, em
todas as 6 perguntas da escala de Burnout pessoal do CBI, as opções “frequentemente” e
“sempre” somam pelo menos 52,2% das respostas dos cuidadores quando avaliam com que
frequência sentem exaustão física e psicológica.
Em relação ao escore de Burnout nos cuidadores, a média na amostra foi de 72,3 e
desvio padrão de 15,6, com escore mínimo de 45,8 e máximo de 100. A prevalência de Burnout
na amostra foi de 95,7%, com escore igual ou maior a 50 em 44 dos 46 cuidadores. No que se
refere à prevalência da SB nas diferentes características do questionário sociodemográfico,
como exposto na Tabela 2, temos que a prevalência por sexo na amostra foi de um indivíduo
(100%) no sexo masculino e 43 (95,5%) no sexo feminino, com medianas de escore 62,5 (IQR
62,5-62,5) e 70,8 (IQR 83,3-58,3) respectivamente, não existindo diferença estatisticamente
significativa entre os grupos (p=0,473).
escolaridade foi de 21 (91,3%) no grupo com Ensino Superior Completo, 18 (100%) no grupo
com Ensino Médio Completo, 2 (100%) no grupo com Ensino Fundamental Completo e 3
(100%) no grupo com Ensino Fundamental Incompleto, com medianas de 66,7 (IQR 81,2-58,3),
77,1 (IQR 90,6-66,7], 68,7 (IQR 76,0-61,5) e 66,7 (IQR 79,2-66,7) respectivamente, não
havendo diferença estatisticamente significativa na amostra (p=0,536). Por fim, a prevalência de
Burnout por profissão foi de 11 (100%) no grupo “do lar”, 6 (100%) no grupo “autônoma”, 3
(75%) no grupo “professora”, 12 (100%) no grupo de profissões da área da saúde e 12 (92,3%)
no grupo de outras profissões diversas. As médias e desvios padrões foram, respectivamente,
73,9(17,5), 77,8(16,6), 64,6(15,4), 77,1(14,3) e 66,3(14,3), não havendo diferença
estatisticamente significativa entre os grupos na amostra (p=0,313).
Pode-se observar, neste estudo, o impacto que a função de cuidador exerce no
desenvolvimento ou agravo da SB nos cuidadores familiares de crianças ou adolescentes com
TEA, tendo em vista não apenas a alta prevalência da síndrome na amostra, mas sua média
elevada, o que é um indício da gravidade do Burnout a que os cuidadores estão submetidos no
desempenho de suas funções. Este achado entra em concordância com a literatura existente a
respeito do agravante de exercer funções assistencialistas no desenvolvimento da SB, nas quais
o cuidador acaba por abdicar de partes de suas vidas que são responsáveis pelo bem-estar
próprio e passa a ter um foco maior no bem-estar do outro, em função da responsabilidade que
assume como cuidador (SILVA et al., 2018).
Em cuidadores familiares, como exposto por Torquatto, Freire e Junior (2011), é
possível observar esse agravante principalmente nas mães, que muitas vezes acabam assumindo
a responsabilidade pela função de cuidadoras, seja por vontade própria ou por imposição do
restante da família, o que frequentemente resulta em abandono da vida profissional e redução de
atividades de lazer e convívio social devido às dificuldades de socialização e de acomodação
que o TEA provoca nas crianças e adolescentes, o que dificulta as atividades em ambientes fora
da casa da família.
Nesse estudo, esse contexto é sugerido, pois, ainda que não tenha existido diferença
estatisticamente significativa, possivelmente devido ao tamanho da amostra, foi observada uma
grande discrepância nas características dos cuidadores que se inscreveram voluntariamente:
quase em sua totalidade os cuidadores são do sexo feminino, genitoras, em relacionamento
estável, entre 34 e 45 anos e com Ensino Superior completo, porém grande parte abdicou da
vida profissional e da antiga profissão para não trabalhar fora de casa e desempenhar a função
de cuidadora em tempo integral. Dessa maneira, devido à maior responsabilidade que acaba
sendo imposta às mães no cuidado dos filhos, essas acabam por assumir posições com maior
exposição ao desenvolvimento do esgotamento, uma vez que ou abandonam a própria carreira e
abdicam desse aspecto gerador de independência, autonomia e bem-estar, ou passam a ter uma
dupla carga horária ao tentar conciliar a vida profissional fora de casa com a função de
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É bem diferente, o homem, falando como pai, tem aquela visão de chegar,
trabalhar e colocar as coisas dentro de casa, a gente não, a gente tem que dar
conta de casa, trabalhar, dar conta da terapia do meu filho. É bem mais para a
mulher, é muito desigual. Eu não posso ter carteira assinada por conta do
meu filho, fica impossível conciliar cuidar dele e do trabalho (participante 4).
Porém, ainda que exista essa divisão desigual no caso de cuidadoras com
relacionamento estável, foi relatado que o fato de possuírem algum apoio dos companheiros
ainda era melhor que estarem sozinhas para lidar com todas as atribuições do cuidado, o que
ilustra uma situação preocupante de dependência das mães em relação aos pais, bem como um
agravante para o esgotamento no caso de cuidadoras que não possuem relacionamento estável
ou apoio do pai da criança:
Ser casada ajuda com certeza, quando a gente é mãe solo a responsabilidade é
toda em dobro, porque você não tem com quem compartilhar aquele
momento para desestressar, conversar e desabafar (participante 5).
Tudo quem vai resolver é a mãe, o pai tá lá, bem distante, bem de boa, e vem
quando quiser, quando der pra vir, a mãe que vai levar no médico, a mãe que
vai levar na escola, a mãe que vai acalmar nas crises, acho que a parte que
mais impacta é essa. Em muitos casos os pais não aguentam ou não querem
aguentar, ou não querem ver, não querem enxergar, não querem participar,
dizem que não tem paciência e acabam jogando tudo para a mãe. Sou
divorciada e abandonei o trabalho pra poder cuidar do filho, o maior impacto
é esse, eu sempre trabalhei, sempre fui independente e aí de repente eu tive
que abandonar tudo (participante 9).
Isso se torna preocupante principalmente dentro do contexto de que boa parte das
cuidadoras relatam que deixaram de trabalhar para acompanhar os filhos, fazendo com existisse
uma maior dependência de apoio da família. Nesse cenário, é importante o fato de que boa parte
das entrevistadas citaram a carreira profissional como um fator atenuante do Burnout, com o
trabalho profissional sendo encarado como uma espécie de terapia e realização pessoal em meio
à sobrecarga provocada pela função de cuidadora:
Eu tenho a sorte de trabalhar com uma coisa que eu gosto muito, que é criar.
Então assim, não é um trabalho cansativo, não, na verdade ele é até relaxante
para mim. Ele ajuda e muito (participante 3).
Muitas vezes muitas mães deixam sua vaidade de lado, mas tem muitas
vaidades que precisam existir, porque a gente tem que ter nosso momento de
lazer, de beleza, tudo, a gente precisa estar bem consigo mesma, mas só que
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às vezes me preocupo tanto e às vezes a pessoa tem tanto cuidado com o filho
que acaba não se preocupando tanto com ela mesma (participante 7).
Eu sinto bastante falta, sendo que já sou bem acostumada com questão de
isolamento. Nós, mães de autistas, já vivemos muito isoladas, eu sofria muito
nos finais de semana, porque todo mundo estava nas praias, saindo e eu em
casa (participante 6).
Como visto em alguns trechos das entrevistas, diversos fatores contribuíram para o
desenvolvimento ou agravamento da SB nos(as) cuidadores(as) de crianças ou adolescentes com
TEA, especialmente nas mães-cuidadoras, que representam a maioria. É possível perceber que a
sobrecarga física e psíquica, nesta população, tem origem não apenas na função de cuidar, que
já é um fator de risco para a SB, mas também no somatório de aspectos que envolvem a
imposição de outras responsabilidades além da função de cuidar, impactando em aspectos da
vida pessoal, conjugal e profissional das cuidadoras.
CONCLUSÕES
estar, contribuindo para o aumento da sobrecarga física e psíquica, que pode desencadear a SB.
Ademais, percebeu-se que esse encargo ocorre nos cuidadores através de diversos aspectos
como a necessidade de conciliar o trabalho profissional, as tarefas domésticas e o
acompanhamento do filho, aumentando os sentimentos de ansiedade, solidão e depressão devido
à frequente abdicação da carreira profissional, do tempo de lazer e autocuidado, bem como a
falta de convívio social e compartilhamento de experiências com outras pessoas.
Dessa forma, percebe-se a necessidade do aumento de visibilidade a respeito das
necessidades dos cuidadores, bem como um acompanhamento e suporte adequados para impedir
o processo de adoecimento também nesta população.
REFERÊNCIAS