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Engenharia Mecânica/IFF Campus Centro – Prof. Alan M. Ramalho - Ensaios Não Destrutivos

1 - Introdução Histórica:

Na maioria dos casos, as técnicas de END surgiram em atendimento a


eventos relacionados a desastres ou avaliação da saúde humana.

Por volta das 14h do dia 2 de março de 1854, uma explosão


ensurdecedora abalou o bairro de Dutch Point em Hartford, estado de
Connecticut nos EUA, após a explosão de uma enorme caldeira a vapor na
fábrica Fales & Gray Car Works. A força da explosão destruiu as paredes de
tijolos de 20 centímetros de espessura que envolviam a sala da caldeira da
fábrica, fazendo com que o teto desabasse e expondo quase um terço dos 300
trabalhadores da empresa a ferimentos causados por estilhaços ou escombros.
Foi o pior acidente industrial na história da cidade em rápida expansão.

Um relatório posterior descreveu uma cena macabra enquanto as


pessoas corriam em direção aos destroços que marcavam o local onde ficava o
prédio principal da fábrica momentos antes:

“Pintar a agonia dos [espectadores], cujos parentes sofriam, seria


impossível. … Em muitos casos, eles falharam em reconhecer seus próprios
parentes, tão enegrecidos, distorcidos e mutilados eram os corpos, pela sujeira,
hematomas e queimaduras terríveis. Alguns ficaram tão escaldados que, ao
tocá-los, a pele da mão se desprendeu.”

Dez anos depois, em 1864, era aprovada uma lei estadual em


Connecticut EUA para inspeção anual em Caldeiras.

Alguns exemplos de falhas catastróficas de caldeiras podem ser


observados nas figuras abaixo:
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Outro motivador de END foi um grande descarrilhamento de trem


também ocorrido nos EUA no século XIX, que foi responsável pelo
desenvolvimento de técnicas baseadas em correntes de indução/campos
magnéticos, ou método das partículas magnéticas (PM).
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No entanto, há situações em que o uso dos END foi motivado por


descobertas ao acaso, como o emprego dos Raios-X para inspeção de
material. Wilhelm Conrad Roentgen (1845-1923), em 1895. A descoberta dos
Raios-X foi acompanhada que grande entusiasmo, principalmente pela área
médica, pois se tratava de uma técnica capaz de atravessar carne humana,
assim como vários tipos de materiais. Em uma das demonstrações feitas por
Roentgen, foi feita uma radiografia do cano de uma espingarda e, sem querer,
descobriu um defeito no material. Isso motivou aos técnicos / engenheiros a
empregar essa técnica na inspeção de materiais, o que já foi feito amplamente
pela Alemanha durante a primeira guerra mundial (1914-1918).
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Também devido a uma gigantesca catástrofe humana, que foi a segunda


guerra mundial (1939-1945), mais técnicas de END foram desenvolvidos, como
os líquidos penetrantes (LP), empregadas principalmente na indústria
aeronáutica onde o uso de ligas disseminado de ligas não ferrosas
impossibilitava o uso de PM, EUA e o Reino Unido se beneficiaram desse
conhecimento na época. Já na Alemanha, em 1942, foi desenvolvido o uso de
ultra-som para inspeção de armas e equipamentos.

Após a segunda guerra mundial, outras técnicas foram surgindo como o


uso das correntes parasitas (Eddy Current), utilizadas também em metais não
ferrosos, mas com a vantagem de ser capaz de detectar defeitos
subsuperficiais, o que é uma das limitações do LP.
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Em meados da década de 1960, numa heróica persistência de um


médico japonês que buscava em se antecipar ao surgimento tumores
estomacais, foi elaborada pelos técnicos da gigante japonesa OLYMPUS o
método da endoscopia, que em pouco tempo a indústria adaptou para a
inspeção em equipamentos sob a denominação de inspeção por boroscopia.
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Tabela xx – cronologia dos ensaios não destrutivos.


Data/Época Fatos marcantes na área de END.
AC Deus criou o universo e surgiu a inspeção visual

1800 Primeiras observações termográficas por Sir William


Herschel.
1831 Primeiras observações de indução eletromagnética por
Michel Faraday.
1840 Primeira imagem infravermelho produzida por John Herschel
1879 Primeira referência ao ensaio de partículas magnéticas por
S.H. Saxby, ao observar o efeito de barris de armas
magnetizados em uma bússola.
1880 - 1920 Técnica do “óleo e revelador” (oil and whiting), precursor do
ensaio com líquido penetrante, utilizada para eixos
ferroviários e caldeiras.
1895 Descoberta dos Raios-X por W.C. Roentgen.
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1895 Descoberta da radiação por Marie e Pierre Curie.


1922 Radiografia industrial de metais desenvolvida por Dr. H. H.
Lester.
1927 - 1928 Sistema de detecção de indução de corrente elétrica/campo
magnético desenvolvido pelo Dr. Elmer Sperry e H. C. Drake
para inspeção de ferrovia.
1929 Desenvolvimento de partículas magnéticas e de
equipamentos por V. DeForest e F.B. Doane.
1929 Uso de transdutores de quartzo para criar vibrações
ultrassônicas em materiais por S. Y. Sokolov, na Rússia.
1930 Aplicações práticas para radiografia gama usando rádio
foram demonstradas por Robert F. Mehl.
1935 - 1940 Técnicas de líquido penetrante desenvolvidas por Betz,
Doane e DeForest
1935 – Anos Melhorias no instrumento de Eddy por H.C. Knerr, C. Farrow,
40 Theo Zushlag e Dr. F. Foerster.
1940 - 1944 Método de ensaio ultrassônico desenvolvido nos EUA por
Dr. Floyd Firestone.
1942 O primeiro aparelho de ultrassom foi desenvolvido por
Donald Sproule, Alemanha;
1946 Primeiro instrumento de medição de espessura por
ultrassom criado por Branson.
1950 Utilização de emissão acústica como método de END por
J.Kaiser.
1964 Olympus Optical Company começou a desenvolver câmaras
com fibroscópios anexados, permitindo o que basicamente é
o inicia da boroscopia.

1.1 - Os ENDs no Brasil.

O professor Paulo Gomes de Paula Leite (1920-2007) foi pioneiro e


decano na área de END no Brasil. Trabalhou por mais de 50 anos no Arsenal
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de Marinha do Rio de Janeiro (Ilha das Cobras) tendo iniciado o uso de Raios-
X para inspeção de equipamentos, além de disseminador desse
conhecimentos para várias instituições publicas e privadas. Também escreveu
o primeiro livro sobre END editado no Brasil e foi sócio fundador da ABENDI
(Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção).

De acordo com o referido professor, no artigo intitulado “A Origem dos


END no Brasil”, publicado em 1989 na Revista dos END, os Ensaios Não
Destrutivos foram realizados pela Marinha do Brasil em 1940 nas etapas de
construção naval, com a utilização dos Raios-X.
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Em 1963 tem-se a primeira empresa dedicada ao emprego de END no


Brasil, a Metaltest Cia. Brasileira de Ensaios Industrial, em São Paulo.
Na década de 1970, com o aumento das exportações de produtos
industriais brasileiros, principalmente na área de siderurgia, além de operações
de risco nas áreas de refino e exploração de petróleo, o Brasil foi obrigado a se
enquadrar no padrão internacional de ensaios e inspeções. Alem disso, com o
projeto, construção, operação e manutenção das usinas nucleares (Angra 1, 2
e 3) as exigências de qualificação e uso de END ganhou novo impulso em
nosso país, sendo o seu uso disseminado em uma ampla gama de uso nas
industriais instaladas no território nacional.

1.2 – Resumo comparativo entre os ENDs.

Tabela xx – resumo dos ENDs quanto as vantagens e desvantagens.


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2 – Ensaios por Partículas Magnéticas (PM).


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O método de ensaio por Partículas Magnéticas (PM), também chamado


de Magnetic Particles Inspection (MPI) ou Magnetic Particle Testing (MPT/MT),
é utilizado para a detecção de descontinuidades superficiais e sub-superficiais
em materiais ferromagnéticos.
É um método relativamente simples e fácil de ser realizado. É baseado
no princípio de que as linhas de campo magnético em um material
ferromagnético são distorcidas por uma interrupção na continuidade do
material, que pode ser provocada por variações dimensionais abruptas,
presença de descontinuidades estruturais (como trincas e porosidades) ou
presença de qualquer material (inclusões) com propriedades magnéticas
diferentes do metal base.
Se as descontinuidades são abertas à superfície ou se estão
suficientemente próximas à mesma, as linhas de fluxo magnéticas distorcidas
pelas descontinuidades darão origem aos chamados campos de fuga,
promovendo o aparecimento de pólos magnéticos, capazes de atrair partículas
magnetizáveis para esta região, revelando-as.
Uma característica interessante que pode ser observada é que o campo
de fuga somente ocorre quando existe uma diferença na continuidade das
características magnéticas do material base inspecionado. Assim, todas as
descontinuidades a serem detectadas, tais como, trinca, escórias, falta de
fusão, porosidade, inclusões, etc., devem possuem características magnéticas
significativamente distintas do metal base, o que gera para o ensaio uma
grande sensibilidade de detecção.
Para que ocorra um campo de fuga adequado na região das
descontinuidades, a intensidade de campo deve atingir valores adequados e as
linhas de força devem ser o mais perpendicular possível ao plano da
descontinuidade, ou então não será possível o acúmulo das partículas de
forma nítida. Outra característica também é a não existência de um tamanho
mínimo da descontinuidade para que ocorra o campo de fuga, o que faz com
que, para materiais ferromagnéticos, o método de ensaio por partículas
magnéticas seja o mais eficiente dos métodos superficiais, até mesmo mais
que o ensaio por líquidos penetrantes.
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ABNT NBR NM 342 – Ensaios não destrutivos – Partículas magnéticas – Detecção de


descontinuidades.

2.1 - PARTÍCULA MAGNÉTICA – RESUMO:

O que é partícula magnética?


É um produto desenvolvido a partir do pó de ferro ou óxido de ferro, com
a propriedade de ser visível ou fluorescente, em pó seco ou diluído em
soluções preparadas, utilizado para a detecção de descontinuidades
superficiais ou subsuperficiais em materiais ferromagnéticos, elaborado para
ser utilizado na realização da Inspeção por Partículas Magnéticas
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O que é a Inspeção por Partículas Magnéticas?


Um método de Ensaio Não Destrutivo que torna possível a detecção de
descontinuidades superficiais e subsuperficiais em materiais ferromagnéticos (o
material pode ser magnetizado).

O que é uma indicação linear?


Qualquer indicação cujo comprimento seja ao menos três vezes maior
que sua largura (Comprimento = 3 x > Largura)

Quais são as vantagens da inspeção por partículas magnéticas?


 O processo de ensaio é rápido e simples em sua aplicação;
 Altamente sensível à detecção de indicações superficiais e
subsuperficiais;
 As indicações aparecem na mesma peça que se está ensaiando;
 O método pode, algumas vezes, funcionar através de camadas de
contaminantes ou recobrimentos de pequenas espessuras;
 O método é barato e eficiente no controle de qualidade de materiais
ferrosos.

Quais são as limitações da inspeção por partículas magnéticas?


 O material a ser ensaiado deve ser ferromagnético;
 Oferece potencial variação e limitações para a detecção de indicações
na superfície;
 A direção do campo magnético deve cruzar com a dimensão principal da
descontinuidade;
 Caso a peça a ser ensaiada tenha uma geometria complexa, isto pode
apresentar problemas para a determinação adequada de amperagem e
intensidade do campo magnético;
 Frequentemente é necessário desmagnetizar a peça depois de sua
inspeção.

Existem diferentes tipos de partículas magnéticas?


Sim. Os diferentes tipos são:
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 Método seco, visível;


 Método úmido, fluorescente;
 Método úmido, visível.

Via Seca Via Úmida

Quais são as propriedades das partículas magnéticas em pó seco vs em


suspensão úmida?
São partículas de óxido de ferro, finamente divididas em tamanhos que
variam entre 0,125 e 60 microns com uma alta permeabilidade (facilmente
magnetizáveis) e de baixa retenção (propriedade para permanecer
magnetizadas). As partículas secas são pintadas quimicamente para oferecer
contraste contra o fundo da superfície que se está ensaiando. A aplicação pode
ser através de um borrifador manual ou pistola de aplicação pressurizada. As
partículas em suspensão úmida utilizam um veículo líquido ou condutor a base
de óleo ou água. Com água deve-se utilizar distensores além de um agente
umectante e inibidores da corrosão.

Qual é a diferença de sensibilidade entre o método úmido e o seco?


O método úmido oferece uma melhor sensibilidade para a detecção de
descontinuidades muito finas e superficiais. O método seco oferece uma
melhor sensibilidade para a detecção de descontinuidades abaixo da
superfície.

A qual profundidade máxima as partículas magnéticas podem detectar uma


descontinuidade?
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Teoricamente é 6,3mm, na prática tem-se entre 1,2mm à 2,54mm um


valor mais realista.

2.2 – Técnicas Aplicadas nos Ensaios de PM:

2.2.1 – Técnicas dos Eletrodos.

Figura xx- Representação esquemática da inspeção ela Técnica dos Eletrodos.

Tabela xx – Limitação da corrente elétrica na Técnica dos Eletrodos


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Figura xx – Uso da Técnica dos Eletrodos para inspeção de uma solda


realizada numa conexão.

2.2.2 – Técnica do Contato Direto.


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Figura xx – Técnica de inspeção por Contato Direto.

(a) (b)
Figura xx – Imagens mostrando a técnica de magnetização circular por Contato
Direto, onde: (a) o técnico pulveriza o pó magnético seco num eixo
magnetizado por passagem de corrente elétrica; (b) o técnico posiciona o eixo
para a realização do ensaio de PM por Contato Direto.

2.2.3 – Técnica da Bobina.


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Figura xx – Técnica de inspeção de PM por Bobina ou Solenóide.

Figura xx – Ensaio de um virabrequim utilizando a técnica de PM por bobina.

Figura xx – Fotografia da técnica de magnetização longitudinal de um eixo por


meio de bobinas.
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2.2.4 – Técnica do Yoke (ou Ioque).

Figura xx – Representação esquemática da técnica de inspeção de PM por


Yoke.

(a) (b)
Figura xx – Imagens do Yoke em ação, onde: (a) aparelho com pernar
articuláveis; (b) aparelho com pernas fixas.

2.2.5 – Técnica do Condutor Central.


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Figura xx – Representação esquemática da técnica de inspeção de PM por


Condutor Central.

Figura xx – Indicação de trinca pela técnica de PM do Condutor Central. Note a


linha circular formada na superfície do anel pelo acumulo do pó magnético.
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Tabela xx – Resumo dos métodos e técnicas de magnetização.

Figura xx – Medidor de campo magnético utilizando a sonda de Hall. Pode-se


mensurar de 10 a 30.000 Gauss, o que é muito útil para verificação do valor
efetivo do campo magnético formado na peça a ser inspecionada por PM.

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