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ALGARVE
INFORMATIVO 25 de novembro, 2023

1ALGARVE PREMIUM | ROTA DO PETISCO | «MUNICÍPIO AMIGO DO DESPORTO» E «AUTARQUIA


ALGARVE SOLIDÁRIA»
INFORMATIVO #412
RECANTE NO CHOQUE FRONTAL AO VIVO | LUÍS LEMOS | AL MOURARIA | PEDRA DURA | CALCETEIROS DE LETRAS
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ÍNDICE
Algarve Premium (pág. 12)

Prémios Município Amigo do Desporto


e Autarquia Solidária (pág. 20)

Rota do Petisco 2023 (pág. 30)

«Quando para sul / O azul / Luar»


do ColecTA no Cineteatro Louletano
(pág. 40)

Festival Spoken Word - Calceteiros


de Letras no Gimnásio Clube de Faro
(pág. 56)

20 anos de Al Mouraria no Cineteatro


Louletano (pág. 68)

Festival Pedra Dura em Lagos (pág. 80)

Pintura de Luís Lemos exposta


no Centro Cultural de Lagos (pág. 94)

Recante no Choque Frontal ao Vivo


no Teatro Municipal de Portimão
(pág. 108)

OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 116)

Ana Isabel Soares (pág. 120)

Alexandra Rodrigues Gonçalves


(pág. 122)

Lina Messias (pág. 126)

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Algarve Premium encerrou com
um sentimento de orgulho no
trabalho feito
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
o dia 25 de outubro, Algarve. “Neste mundo em que
o edifício do NERA, todos os dias nos trazem surpresas
na zona industrial de
que geram incertezas e
Loulé, acolheu a
sessão de
preocupações, é muito importante
encerramento do não desistir e prosseguir o nosso
«Algarve Premium», trabalho, com força, coragem e
com a presença dos parceiros do projeto, determinação para ultrapassar os
nomeadamente a Região de Turismo do obstáculos, sabendo que a vida
Algarve e a Associação de Turismo do não para e que temos que apostar
Algarve, mas, sobretudo, com os
na continuidade e no futuro”,
protagonistas, ou seja, as empresas do
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começou por dizer Vítor Neto, presidente de Turismo do Algarve entre agosto de
da direção do NERA. 2021 e outubro de 2023, contou com um
investimento total de 679 mil e 768 euros
O projeto aliou qualidade, tradição, e foi cofinanciado pelo Programa
identidade e inovação através de um Operacional CRESC ALGARVE 2020 |
vasto leque de atividades, desde sessões Portugal 2020, “em mais uma
de dinamização e capacitação, estudos e demonstração de uma colaboração
planos estratégicos, participação em entre diferentes instituições que
certames especializados, press e fam
não é ocasional”. “É um processo
trips, portfólios, vídeos promocionais,
missões de reconhecimento e várias que já ganhou força e confiança
ações de prospeção internacional a entre nós, um capital da região, e
Espanha, França, Suécia, Itália e o NERA respondeu sempre
Inglaterra. A grande meta do Algarve afirmativamente aos desafios que
Premium foi, efetivamente, o a CCDR Algarve nos foi lançando
desenvolvimento de um programa de nos últimos anos. Apresentamos
internacionalização de produtos de
esta candidatura num momento
excelência nos setores do Agroalimentar
e Mar, do Turismo Cultural e Criativo e do bastante dramático, em plena
Turismo Náutico, por forma a aumentar o pandemia, mas não ficamos à
seu reconhecimento, notoriedade e espera do que ia acontecer e
visibilidade internacional. avançamos com os nossos
parceiros, porque seria errado
O Algarve Premium foi então desperdiçar oportunidades”,
promovido pelo NERA – Associação justificou Vítor Neto.
Empresarial da Região do Algarve,
Associação Turismo do Algarve e Região

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execução já está na reta fina, e não
A iniciativa permitiu promover uma me canso de repetir que o Algarve
reflexão crítica sobre a importância do não tem turismo a mais, tem é os
reconhecimento internacional dos bens e outros setores em défice”, declarou
serviços da região, e sobre as melhores Vítor Neto.
estratégias para dinamizar futuras
iniciativas coletivas de cooperação para a O presidente da direção do NERA voltou
internacionalização, numa perspetiva de a enfatizar que o atual contexto
diversificação da estrutura económica do internacional está fortemente marcado
Algarve. “Não é por acaso que pela incerteza e a imprevisibilidade, com
apoiou de uma forma muito um abrandamento económico de
objetiva os setores do algumas das principais economias
Agroalimentar e do Mar, numa europeias e com possíveis subidas do
custo da energia em consequência da
clara aposta na valorização dos
crise do Médio Oriente. “Mas esta
nossos recursos endógenos. O
realidade conjuntural não nos
NERA e a Universidade do Algarve,
deverá fazer desviar da rota, nem
desafiados pela CCDR Algarve,
da nossa estratégia, que parte da
encontram-se também a
nossa especialização no turismo,
desenvolver em conjunto o projeto
alinhando-o com os desafios da
«Diversificar Algarve 2030», cuja
sustentabilidade. Ao mesmo
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tempo, impulsionar a tema de reuniões e de sessões
diversificação económica, passageiras”, salientou.
designadamente na Economia
Azul, na agricultura sustentável, O Algarve Premium teve também como
nas energias renováveis, na parceiros, conforme referido, a Região de
Turismo do Algarve e a Associação
eficiência energética, na transição
Turismo do Algarve, lideradas por André
digital e nas indústrias culturais e Gomes, para quem é crucial promover
criativas”, defendeu Vítor Neto. “O além-fronteiras os produtos endógenos
Algarve deverá afirmar-se como algarvios, a par do Turismo Cultural e
uma região turística competitiva, Criativo e do Turismo Náutico. “A
reconhecida pela qualidade da sua iniciativa visava elevar o
oferta e assente no reconhecimento, a notoriedade, a
desenvolvimento sustentável, mas visibilidade internacional destes
nada disto será possível sem o produtos, no âmbito da marca
envolvimento direto das empresas «Algarve», que já é sobejamente
da nossa região. É preciso passar à conhecida em todo o mundo.
ação, a internacionalização da Gostava que dentro de portas, não
nossa economia não pode ser só só em Portugal, mas, inclusive, no
Algarve, houvesse também esse

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reconhecimento do potencial ações exploratórias, a nível internacional,
desta marca, e isso passa também de comunicação. Os produtos-alvos do
por falarmos das coisas pela projeto estavam alinhados com os
positiva, por enaltecermos os bons domínios do Agroalimentar, do Mar e das
exemplos que existem no Indústrias Culturais e Criativas, bem
Algarve”, comentou o presidente da como do Turismo e da RIS3 Algarve, a
estratégia regional de investigação e
RTA e da ATA.
inovação para a especialização
No terreno, o trabalho do Algarve inteligente. “Conseguimos alcançar
Premium traduziu-se em diversas diversos marcos importantes,
intervenções centradas na criação, na como a realização do estudo do
dinamização e na capacitação de redes Turismo Cultural no Algarve, com o
colaborativas, complementadas por perfil do turista e perspetivas de
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segmentações específicas de
Turismo Cultural no Algarve e
apresentou recomendações
estratégicas para o seu
desenvolvimento contínuo,
abrangendo a oferta e a procura, e
esperamos que tenha um impacto
duradouro na promoção da cultura
e do turismo na região”.

André Gomes chamou ainda a atenção


para o papel do Turismo Náutico na
promoção internacional do Algarve e
para isso contribui, de forma decisiva, a
qualidade das marinas existentes na
região. “Proporcionam-nos uma
ampla variedade de experiências
em diferentes domínios e que
constituem uma porta de entrada
para a restante oferta que temos
na região, com vista a um
crescimento turístico sustentável e
menos sazonal. O Turismo Náutico
eleva muito a qualidade do serviço
prestado e do turista que nos
procura”, frisou o presidente da RTA e
desenvolvimento, num mercado da ATA. “Encerramos o Algarve
caracterizado pela procura de Premium com um sentimento de
experiências enriquecedoras e do orgulho, esperemos que ele
próprio crescimento pessoal de continue a impulsionar o
quem nos visita. Realizamos crescimento e a prosperidade
encontros em Espanha, desta região incrível, na expetativa
participamos em feiras, que este caminho se faça no rumo
dinamizamos missões de de uma oferta de qualidade
reconhecimento e criamos um superior, com produtos, serviços e
vídeo promocional”, descreveu André experiências que ultrapassam as
Gomes. “Este estudo teve a expetativas dos turistas”, finalizou
particularidade de identificar André Gomes .

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Galardões Município Amigo do
Desporto e Autarquia Solidária
foram entregues em Portimão
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
cidade de representantes das autarquias do sul do
Portimão foi a país distinguidas pela plataforma online
anfitriã, no dia 13 Cidade Social, responsável pelos
de novembro, da programas «Município Amigo do
entrega dos Desporto» e «Autarquia Solidária», que
galardões de visam a partilha de boas práticas e a
reconhecimento às formação em relação ao modelo de
autarquias do Alentejo e Algarve com intervenção pública nas áreas do
melhor desempenho nas áreas do desporto e da ação social.
Desporto e da Ação Social, numa
cerimónia que teve lugar no café- Os galardões enaltecem o trabalho
concerto do TEMPO – Teatro Municipal efetuado pelos municípios portugueses
de Portimão. Marcaram presença os para melhorar, de forma contínua, a

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qualidade de vida de todos os cidadãos vereadora com os pelouros do Desporto e
residentes nos seus concelhos, através da Ação Social na Câmara Municipal de
implementação de estratégias de Portimão, Teresa Mendes.
intervenção social que contribuam para o
progresso da comunidade. “As Para Pedro Mortágua Soares,
distinções são amigas das pessoas coordenador nacional dos programas
e dos municípios que fazem um «Município Amigo do Desporto» e
«Autarquia Solidária», ambos os
bom trabalho em prol dos seus
galardões “reforçam a visão das
munícipes. Quando falamos de
entidades premiadas em promover
desporto, falamos da prevenção
um ambiente de bem-estar e
de muitas doenças, e, no que toca
desenvolvimento sustentável para
às autarquias solidárias, elas
a sua comunidade, representando
procuram mitigar as dificuldades
o corolário do importante trabalho
dos mais desfavorecidos,
efetuado no dia-a-dia”. No Algarve,
contribuindo para que tenham
11 dos 16 municípios são «Amigos do
uma qualidade de vida que, sem Desporto» (Albufeira, Alcoutim, Castro
esse apoio, não teriam”, referiu a Marim, Faro, Lagoa, Lagos, Loulé,
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Portimão, Silves, Tavira e Vila Real de
Santo António) e a região passa a contar E como um dos principais pilares do
também com duas «Autarquias programa «Amigo do Desporto» é a
Solidárias», designadamente, Lagos e partilha de boas-práticas, a plataforma
Portimão. E a plataforma conta, a partir vai convidar um técnico de cada
de 2023, com mais um galardão ligado ao autarquia para uma formação em que se
turismo ativo, de desporto e natureza, irá fazer uma análise conjunta das várias
chamado «Destino Ativo e de candidaturas, na perspetiva de que, daqui
Experiências». “Aquilo que a um ano, se possam incluir mais aspetos
comprovam nas candidaturas é nas novas candidaturas. “Há
que os vossos territórios excelentes trabalhos nas áreas do
proporcionam a prática de Desporto e da Ação Social e que
atividade física, de desporto, mas devem ser partilhados para
também experiências ligadas ao puderem ser adaptados a outros
turismo gastronómico ou religioso, territórios”, entende Pedro Mortágua
entre outros”, revela o dirigente. Soares .

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Rota do Petisco 2023 terminou em
clima de festa com a atribuição de
prémios aos melhores petiscos
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Teia D’Impulsos
erminou, no dia 10 de reuniu a organização, parceiros,
novembro, mais uma estabelecimentos e petiscadores.
edição da Rota do
Petisco com a Em 2023, a Rota do Petisco decorreu
apresentação dos entre 15 de setembro e 15 de outubro, em
resultados e 176 estabelecimentos de 11 concelhos
atribuição de prémios. algarvios. Os petiscadores tinham ao seu
O Município de Silves acolheu a festa de dispor 150 petiscos, 26 doces, 14 pratos
encerramento, na Casa da Cultura de autor pelas mãos de conceituados
Islâmica e Mediterrânica, um verdadeiro Chefs, 12 pratos de outros países e 15
momento de celebração do projeto que petiscos vegetarianos na ementa
principal, além de diversas opções

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vegetarianas oferecidas por muitos assim como a oportunidade de
estabelecimentos. Em cada dia de Rota apresentar os seus projetos a um júri que
estima-se que foram vendidas cerca de 3 designará o apoio monetário a conceder
mil e 65 ementas e que cada a cada um deles. As instituições
estabelecimento terá vendido, em média, candidatas à Rota Solidária são o
18 «rotas» diariamente. No total foram Agrupamento de Escolas Eng. Nuno
vendidas 95 mil e 200 ementas, o que Mergulhão, Agrupamento de Escolas
resulta num impacto económico direto Poeta António Aleixo, Associação Em
para a região na ordem dos 353 mil e 30 Contacto, CASA – Centro de Apoio ao
euros. Sem Abrigo, FIR – Fundação Irene Rolo e
o GRATO – Grupo de Apoio aos
Adicionalmente, através da venda dos Toxicodependentes.
Passaportes que garantem o acesso ao
evento, foi possível angariar cerca de 12 Um dos momentos mais esperados foi a
mil e 500 euros a serem distribuídos por atribuição dos Prémios da Rota aos três
projetos sociais de instituições solidárias estabelecimentos mais votados pelos
do Algarve. Em fevereiro do próximo ano, petiscadores, nas redes sociais, para
a Associação Teia D’Impulsos convida as «Melhor Ementa» e a outros três pelo
seis instituições que se candidataram ao «Melhor Espírito» de bem receber os
apoio da Rota Solidária a participar num participantes do roteiro gastronómico.
Bootcamp de Empreendedorismo Social, Na Melhor Ementa destacaram-se o
que lhes dará as ferramentas necessárias Paladar Ibérico em Portimão, com Xerém
para desenvolver melhor as suas ideias do Mar acompanhado com Falso Gin
31 Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé
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Tónico do Chef Marcos Guedes; o original para o evento; três prémios da
Ceiceira Restaurant em Monchique com Rota das Imagens para as fotografias
Carne de porco preto e waffle caseiro do mais criativas; e foram ainda sorteados
Chef Gerard de Laure; e a Flor da Praça um total de 84 prémios com o apoio de
de Loulé, com cogumelos com alheira e vários parceiros da Rota. “O nosso
ovo de codorniz. No Melhor Espírito, os agradecimento aos municípios e
vencedores foram Southwest Bistro de aos estabelecimentos
Lagos com Twisted Lagareiro do Chef
Hugo Ferreira; o Vila Petra – Bucha Tapas
participantes por terem acreditado
& Wine Bar de Albufeira, com Brigadeiro mais um ano neste projeto, aos
de Camarão do Chef Hugo Martins; e o petiscadores, pois sem eles
Bel Mondo de Portimão, com Risotto também nada acontecia, e aos
Tropical. parceiros, todos eles com um
papel especial. Uma palavra à
A organização decidiu ainda, pela Carby, um parceiro bastante
primeira vez, premiar o «Melhor Chef» da
importante pelo apoio na
Rota do Petisco e a estreia recaiu sobre o
Chef Daniel Ski do KAMIZA Sushi Bar, em organização e logística, e ao
Loulé, que apresentou «Uma viagem pelo Turismo do Algarve pela forma
Japão» em forma de petisco. Por fim, os como nos ajudou a ganhar o
próprios petiscadores tiveram direito a Prémio Nacional em 2021”, disse, no
muitos prémios. O Prémio Especial, com final, o presidente da Associação Teia
estadia e experiência de karts no Algarve D’Impulsos, Luís Brito .
Race Resort, foi atribuído ao slogan mais
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PRIMEIRA CRIAÇÃO DO
TEATRAL DO ALGARVE
ATRAVÉS DE UM CORPO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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O COLECTA – COLECTIVO
CONTA O ALGARVE
O POÉTICO

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espetáculo «Qua Blanc, Mauro Coelho, Rafaella Ambrozio,
ndo para sul / O Sara Vicente, Tânia Silva e João Tátá
azul / Regala, provenientes de diferentes
Luar» estreou, no estruturas artísticas da região algarvia,
dia 10 de integram o elenco internacional do
novembro, ColecTA, sendo a criação realizada em
no Cineteatro parceria com a ACTA – A Companhia de
Louletano, em Loulé. A primeira criação Teatro do Algarve, A Fera Teatro, Ar
do ColecTA – Colectivo Teatral do Quente, Artis XXI, Sin-Cera Teatro,
Algarve, iniciativa da Mákina de Cena, Te.Atrito, TEL – Teatro Experimental de
conta o Algarve através de um corpo Lagos, ETIC Algarve e Casa da Cultura de
poético e resulta de um processo Loulé.
idealizado pela estrutura louletana e
dirigido pelo encenador Nuno Pino De acordo com a produção, “a
Custódio. Os atores Angelo Lorusso, jornada que atravessa todo um
Carolina Santos, Laura Pereira, Letícia
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território – como se uma pedra empreende uma viagem iniciática
rolasse de uma serra e que se desdobra numa consciência
desembocasse inexoravelmente próxima, local, escondida, mas
na orla costeira e caísse ao mar, do que se quer retransmitir
interior do montado mais solitário universalmente. De norte para sul,
ao litoral absurdamente mais do interior para o litoral, do verde
concentrado – é a de uma para o azul – abstrações e
realidade que se sustenta movimentos excêntricos onde a
periclitantemente na tensão de plasticidade dos corpos em ação
uma corda a dois palmos do chão no espaço se desenvolve e se
feita de contrastes, polaridades, partilha –, o Algarve conta-se
paradoxos, con itos, desarranjos, poeticamente a partir da
mas também harmonias, virtudes, linguagem da encenação onde ver
um senso de plenitude”. “Um «é ver enquanto se está a ser
corpo coletivo feito de atrizes e visto», e onde o teatro se dá
atores de ou no Algarve – um Coro enquanto dispositivo que só
na dimensão mais espacial e épica funciona na medida em que
que se possa compreender – humaniza”, afirma o encenador.

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como pelo seu consumo. “Ver teatro,
Após a estreia no Cineteatro Louletano, feito por algarvios, em diferentes
o espetáculo «Quando para sul / o azul / pontos do Algarve, com maior
luar» seguiu para o espaço da Mákina de
Cena, para duas sessões nos dias 11 e 12
regularidade, é um dos primeiros
de novembro, contando ainda com datas passos para a tão almejada
marcadas para 2024, em Lagoa, Lagos e evolução do sector na região. O
Faro, cidades coprodutoras do projeto. objetivo desta iniciativa é fazer
O ColecTA – Colectivo Teatral do nascer um coletivo que evolui no
Algarve é um projeto de capacitação tempo, numa atividade criativa
profissional de âmbito regional, que se cíclica e recetiva a outros
debruça, não só na criação, mas ainda na
formação. A iniciativa pretende reafirmar
participantes em futuras edições”,
o Teatro enquanto veículo de refere a direção da Mákina de Cena .
transformação, tanto pela sua prática,
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LUÍS ENE VENCEU
PRÉMIO CALCETEIROS
DE LETRAS’23
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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Gimnásio Clube uma viagem ao mundo psíquico, carnal e
de Faro voltou a visceral do ser humano, numa
trazer ao Algarve, performance de poemas autorais com
de 17 a 19 de banda sonora. Depois, Maria Giulia deu a
novembro, o que conhecer «A palavra mais bonita», um
de melhor se faz espetáculo lírico em que, a partir de
a nível nacional palavras escolhidas pela plateia, escreve
na área da palavra falada. Foram três dias poemas ao vivo e conta a história de
de palavra dita, poesia e performance na como aprendeu a comunicar sem a
sétima edição do Festival Spoken Word – linguagem verbal quando o seu pai
Calceteiros de Letras, numa abordagem perdeu a capacidade de falar, um ano
contemporânea que funde a arte da antes de sua morte.
palavra com dança, música, teatro e
vídeo, e o público também foi convidado No dia 18 de novembro realizaram-se os
a partilhar textos e poemas em serões de workshops «De palavra falada – o que é
«microfone aberto», em que o único nomeado nasce», com Maria Giulia, e
limite é a vontade de participar. «Leitura co-criativa» com Paulo
Condessa. À noite, Francisca Bartilotti e
No dia 17 de novembro, Cláudia Tomé Pedro André apresentaram «Como usar
Silva apresentou «Emoções Bárbaras», gruas para transportar contrabaixistas»,
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depois, houve lugar a «Stand up Poetry»,
poesia em pé, com Paulo Condessa. O Finalmente, procedeu-se à entrega do
festival encerrou, no dia 19 de novembro, Prémio Calceteiros de Letras, uma
com o habitual Momento «Calceteiros de criação do artista plástico João Frank que
Letras», com o envolvimento de coletivos pretende distinguir aqueles que mais
ligados ao mundo das artes, escolas contribuem para a difusão da palavra e da
associações, poetas amadores, que em poesia de forma criativa e original. E a
conjunto preparam performances à volta edição de 2023 foi precisamente para Luís
do imaginário da poesia. Assim se assistiu Ene, escritor radicado no Algarve há
a «Improvisos ao piano…» por Ricardo largos anos, autor de oito livros e que tem
Coelho, «Pedra ante…» pelos Calceteiros estado, nos últimos meses,
de Letras, «O fundo do poço» por Telma particularmente focado no lançamento
Saião, «Fernando e as estrelas» do da coleção «Espúria», que junta quase
Projeto Incorpora e «Haikus» pelo quatro dezenas de escritores algarvios ou
coletivo «A Língua no Ouvido», composto residentes no Algarve .
por Luís Ene e Todd Sheldrick.

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TOURNÉE DOS 20 ANOS
PASSOU PELO CINETEAT
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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S DE AL MOURARIA
TRO LOULETANO

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s Al excelentes vozes de Teresa Violas e
Mouraria, Tatiana Pinto, que celebram de
criados pelo forma exímia o Fado, seja ele na
guitarrista forma mais tradicional, ou numa
Valentim «onda» mais moderna, a que se
Filipe, juntaram as convidadas especiais
celebram Inês Graça e Inês Gonçalves.
duas décadas a unir a guitarra Formado em 2003 e com sete
portuguesa e a viola acústica a um álbuns editados, o grupo comemora
contrabaixo, um multi- os 20 anos de carreira com um
instrumentista e um percussionista espetáculo que reúne os temas
e a sua tournée passou, no dia 5 de mais mediáticos gravados ao longo
novembro, por um esgotado do seu percurso, passando ainda
Cineteatro Louletano, em por alguns clássicos da música
Loulé. Acompanharam o coletivo portuguesa. E a reação do público,
de músicos formado por Valentim como seria de esperar, foi bastante
Filipe, Tiago Filipe, João Melro, entusiástica .
Bruno Vítor e Paulo Ribeiro as
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FESTIVAL PEDRA
DURA AGITOU VIDA
CULTURAL DE LAGOS
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Filipe Correia/ Festival Pedra Dura

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e 9 a 18 novembro, Matos, da CAMA a.c., a organizadora do
o Pedra Dura – evento.
Festival de Dança
do Algarve levou a O Festival arrancou com a projeção do
Lagos espetáculos filme «Ø ILHA» de Cláudia Varejão e
de dança nacionais Joana Castro, como território de
e internacionais, pluralidade paisagística não privatizado.
filmes, masterclasses, noites com DJ´s e Em colaboração com a CAMADA –
diversas propostas relacionadas com a Centro Coreográfico, Daniel Matos levou
ciência e com as escolas do concelho. ao palco do Centro Cultural de Lagos «11
“Nesta segunda edição do festival, Angels Saying No», onde desenha uma
as portas voltaram a abrir-se a partitura coreográfica para 11 anjos, que
uma dança atenta, esventrada, reivindicam o poder de decisão, num
silêncio aberto e iluminado, como que a
brilhantemente escondida na
antever um qualquer céu na terra. Já a
matéria. Um convite a que nos artista Flora Detráz veio de França para
percamos e deixemos levar, como apresentar «Tutuguri», um espetáculo
se o corpo e as arribas se onde se manipula o som e o espaço com
permitissem a ser escavados de uma voz que deixa transparecer o poder
dentro para fora”, explicou Daniel da subtileza.

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Entre a delicadeza e o ataque do Este ano, o Festival voltou a cruzar o
detalhe do corpo e da palavra, Sofia Dias Corpo-Dança com o Corpo-Ciência, num
& Vítor Roriz ocuparam o palco do Centro programa em colaboração com o Centro
Cultural de Lagos com a emblemática Ciência Viva de Lagos, propondo
peça «Um gesto que não passa de uma conversas em torno do Som e da
ameaça». A bailarina e coreógrafa Semiótica, passeios geológicos pelas
Elizabete Francisca proporcionou a arribas da Ponta da Piedade e uma
masterclass «Alteridade & Práticas de si» observação noturna do céu, numa
sobre técnicas de improvisação que foi contínua contemplação de paisagens
adquirindo ao longo do seu percurso estelares. Quando a noite caia, o clubbing
artístico, fruto do encontro com era o mote de reunião para a purga
diferentes criadoras e criadores das artes contínua e para uma dissolução absoluta.
performativas. A velocidade aumentou Em complementaridade com o trabalho
depois a galope com «Coin Operated» de de cena, o Pedra Dura acolheu a
Jonas&Lander, uma instalação- inauguração do CenDDA – Centro de
performance onde era o público que fazia Documentação de Dança do Algarve, um
arrancar o dispositivo. No território da projeto que procura recolher, adquirir e
música, a violoncelista e cantora Joana arquivar materiais que traduzem uma
Guerra apresentou o seu novo álbum dança em mutação, através da criação de
«Chão Vermelho», num concerto a solo. uma Biblioteca e de um Arquivo /
Mediateca .
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40 ANOS DE PINTURA
DE LUÍS LEMOS EM
EXPOSIÇÃO NO CENTRO
CULTURAL DE LAGOS
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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stá patente, até dia 30 «bad-painting», tendência de pintura
de dezembro, na Sala 1 figurativa americana dos anos 1970,
do Centro Cultural de classificada pela crítica e curadora Marcia
Lagos, a exposição «Luís Tucker. “Com obras produzidas
Lemos – 40 Anos de desde 1983 até à atualidade e
Pintura». O seu universo
saltando de uma linha estética
apresenta um percurso
mitológico de momentos emocionais, em
para outra, Luís Lemos pinta
que cada momento é revelado num grandes manchas com tintas
corpo, numa postura, num rosto. “A primárias em que a cor passa a ser
imagem do quadro nasce da fusão forma estruturante de equilíbrio
destes três elementos e a sua de cada pintura, assumindo com
síntese unitária cria o parâmetro coerência e audácia uma
místico, específico de cada obra”, linguagem descomplexada,
descreve a curadora, Alexandra Silvano. irreverente e até algum desprezo
pelos cânones do bom gosto, em
Luís Lemos apresenta um percurso e que a deformação da figura é
estética fortemente sensual e envolvente intencional e não uma
em torno do corpo humano. A sua pintura
incompetência técnica do artista”,
assume uma ligação ao
explica Alexandra Silvano.
«neoexpressionismo selvagem» e ao

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Luís Lemes nasceu em Belmonte e A sua pintura ganhou uma dimensão
ainda criança imigrou com os pais para internacional, aproximando-se do
França. Frequentou vários cursos de movimento neoexpressionista que estava
desenho na École du Louvre e em escolas a ocorrer na Alemanha, Itália e Estados
particulares, acabando por se fixar em Unidos. Ao seguir os seus mestres
Paris, em 1975. A sua primeira exposição expressionistas e, em simultâneo, com
individual realizou-se em 1982, no Palais artistas do movimento nouveaux
de l'Europe, em Le Touquet, na sauvages, aderiu ao neoexpressionismo.
Normandia. “O erotismo ousado “Em sintonia com a atmosfera
presente nas suas obras gerou no plástica e poética deste
público tal indignação que a movimento, as imagens da sua
exposição foi encerrada, porém, pintura surgem como símbolos de
foi, sem dúvida, o momento de acontecimentos, ora dramáticos,
viragem na sua carreia artística, ora provocatórios, e pela sua
com a glória e a hipótese de ser singularidade despertam no
descoberto e apoiado por espectador curiosidade,
profissionais de arte”, conta inquietação ou prazer. O artista
Alexandra Silvano. pinta de acordo com o seu instinto

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e de forma solitária, assumindo livre e crua, sem máscaras. O
com coerência e audácia uma artista explora o corpo não em
linguagem irreverente e ousada dependência da mente, mas
em que as cores vibrantes têm um articulando-o com ela. O corpo é
papel estruturante no plano do fonte de conhecimento, é
desenho e da deformação das inteligente, expressivo,
personagens”. intencional e fenomenal. Totaliza
uma história afetiva, social e
O corpo humano explorado até à cultural com a qual o espectador
exaustão é o tema recorrente da obra de poderá de modo interativo recriar
Luís Lemos e torna- se o centro das suas
uma experiência emocional,
narrativas, habitando-as com
personagens que exacerbam uma energia respondendo ao desafio, à sua
interior e erótica, por vezes em poses curiosidade e imaginação, para
misteriosas e sugestivas, revelando os que, no final, seja ele próprio a
mais secretos gestos de uma intimidade reconstruir a significação e a
sem rostos. “A identidade não é narrativa implícita nas imagens”,
importante para o autor, não se entende a curadora.
trata de criar retratos, mas de
passar para a tela uma natureza Não se tratando de uma retrospetiva, a
interior, sensações, uma emoção presente exposição é, contudo, uma

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mostra que reflete algumas fases do do mar na série «Oceanos». “O Mar
trabalho do artista ao longo de 40 anos significa a origem, a vida e a
de pintura. São apresentados dois fecundidade – fonte de inspiração
núcleos distintos, o mais antigo com
obras realizadas até 2015 e outro mais
e reflexão para o artista, é um
recente com pinturas que vão até à palco denunciador de histórias e
atualidade. Entre 1985 e 1992, Luís de mitos, símbolo de um Portugal
Lemos passa por um período mais universal e heroico, cenário da
abstrato, explorando a técnica da aventura de um povo destemido
colagem, a mancha densa e opaca, a que partiu à descoberta de novos
linha e fundos mais trabalhados que se mundos sonhando com deuses,
confundem com as personagens que
habitam as suas telas. Explora uma gama
ilhas e sereias”, comenta Alexandra
Silvano.
cromática de tons noturnos, azuis
intensos, castanhos, ocres e cores
O ato de pintar é tão essencial como
primárias camufladas. De 2015 até ao
respirar, só o presente interessa para Luís
presente, permanece longos períodos em
Portugal e, desta forma, inicia um novo Lemos. “São telas de grandes
ciclo na sua pintura com a representação dimensões representando figuras
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que podem ser femininas ou proposta de Luís Lemos ao público de
Lagos de embarcarem numa viagem em
masculinas, centradas e em diálogo com a sua arte, construindo
primeiro plano e que nos olham barcos em papel nas cores branco, azul e
fixamente numa atitude amarelo, sugerindo assim na
provocadora, estimulando os multiplicidade das cores e das formas
nossos sentidos e a nossa uma gigante vaga no núcleo dos
criatividade. A paleta permanece «Oceanos» da exposição. “Uma vez
vibrante, os corpos são modelados mais Luís Lemos, nesta exposição,
com vermelhos ou azuis intensos, defende a fuga às convenções,
pinceladas largas de brancos, apelando à contemplação e à
azuis-marinhos e negros interação do espetador e fazendo
transparentes a criarem fundos a apologia de uma liberdade sem
ritmados, expressão de uma limites de que a sua obra é
energia vital e contagiante”, aponta expressão”, conclui Alexandra
a curadora. Igualmente desafiante foi a Silvano.
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RECANTE ENCA
«CHOQUE FRON

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ANTARAM
NTAL AO VIVO»
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Vera Lisa

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«Choque Frontal tradicional alentejano através do som
ao Vivo» foi etéreo de sintetizadores e
palco, no dia 16 processamentos digitais.
de novembro, de
mais um A acompanhar a banda na estrada há
programa que vai mais uma novidade, pois «As Horas Que
ficar na memória São» é na realidade um EP em formato
de todos aqueles que esgotaram o físico onde os Recante dão a conhecer o
Pequeno Auditório do TEMPO – Teatro seu conceito. O EP conta com cinco
Municipal de Portimão, com a passagem canções, os três primeiros singles já
dos Recante a ser adjetivada pelo público distribuídos, «Pêra Verde», «Amora
de “inesperada, surpreendente e Madura» e «Pelo Toque da Viola», uma
intensa”. O projeto liderado por Luís versão de ensaio do «Fui Colher Uma
Caracinha, Maria Jones e Ruben Romã» e, por fim, o «Solidão, ai dão, ai
Salamanca tem estado em grande dão». E tudo isto se escutou com grande
evidência nos últimos meses e «As Horas atenção e entusiasmo em mais um
Que São Tour» é o nome da pequena «Choque Frontal ao Vivo», programa da
digressão onde a banda nos convida a rádio Alvor FM da responsabilidade de
viajar por temas icónicos do cancioneiro Ricardo Coelho e Júlio Ferreira .
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Exposição de Luís Marques
e Rúben Gonçalves
Mirian Tavares (Professora)
eidegger, na Origem bloco de granito fazia que a sua
da obra de arte, significação fosse alterada e o bloco
questiona o que subsumisse na obra de arte, adquirindo
transforma uma um novo lugar.
coisa numa obra de
arte. Entendendo Aquilo a que Heidegger chama de
coisa como sendo a «coisa» está relacionada, intimamente,
materialidade aparente dos objetos no e ao espaço – “Pois atrás do espaço, assim
do mundo. Para o filósofo, a coisa existe parece, já não existe nada a que pudesse
antes e depois da obra – o artista e a obra ser reconduzido. Diante dele, não existe
não podem evadir-se da materialidade desvio possível para uma outra coisa”. O
que o(s) constitui. Em dado momento, ele espaço é o lugar de reconhecimento, e de
afirma: “Uma simples coisa é, por angústia, pois revela a limitação da
exemplo, este bloco de granito. É duro, linguagem e a apreensão humanas – o
pesado, extenso, maciço, informe, rude, ponto de encontro com a materialidade,
colorido, ora baço, ora brilhante”. O que ou superfície, que nem sempre é legível
torna um pedaço de granito algo único? ou transformável em significação.
O que pode transformá-lo numa obra de
arte? E de que forma a arte traz consigo As obras que Luís Marques e Rúben
os elementos fundamentais que são Gonçalves prepararam para esta
constituintes do bloco de granito? A arte, exposição fizeram-me pensar nas
ao longo da História, procurou disfarçar, questões que o filósofo nos deixou.
alterar, refazer as coisas em si para que Também me fizeram pensar nas
aquilo que saísse da mão dos artistas experiências de artistas como Richard
pudessem ser não um objeto do mundo, Long, Donald Judd, Michael Heizer cujas
mas algo fora dele, uma representação, obras aconteciam no espaço e dele se
adaptação ou reinvenção. Foi no início do constituíam – das suas rugosidades,
séc. XX, através das provocações de materiais, idiossincrasias. Constituíam-se
Duchamp, ou mais tardiamente, no ainda da luz que ora habitava ora
alvorecer da Arte Conceptual e do desaparecia, criando zonas instáveis,
Minimalismo que os artistas deixaram efémeras, propositadamente não
que os objetos aparecessem em sua resolvidas.
inteireza na obra. Muitas vezes, a obra e a
coisa/objeto eram indivisíveis, e só pelo Home/House lança um desafio ao
facto de o artista chamar de arte a um espectador que é colocado diante de
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Foto: Vasco Célio

obras cuja ambiguidade formal (pintura, o lugar onde a arte acontece. A ideia de
escultura, instalação) torna ainda mais habitar o espaço foi também uma
complexa a interpretação do que tem maneira que os artistas encontraram para
diante de si. E do que habita o espaço da demonstrar a validade de uma metáfora.
galeria – que é tomada pelos artistas e A galeria é uma casa, será um lar
transformada num espaço, no sentido possível? E quem tem acesso ao
hedeiggeriano do termo – o lugar de espaço/casa/lar? Quem nele habita?
onde não se pode fugir, o lugar do
enfrentamento com o real ou com as As obras que Luís Marques apresenta
nossas limitações de linguagem ou de dão continuidade aos trabalhos que o
interpretação. No caso desta exposição, é caracterizam como artista – trazem a sua
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assinatura. Uma assinatura que se sentidos que damos aos espaços. Sejam
evidencia na escolha dos materiais – eles sociais, políticos, afetivos ou
rudimentares, naturais, restos de coisas – artísticos. A galeria, casa das artes, abriga
e na metodologia da sua constituição. O uma casa dentro de si – pronta para ser
artista se reconhece como fazedor, cria percorrida, acentuando assim o jogo da
com suas próprias mãos os tijolos que arte, entre a simulação e a realidade,
dão forma às esculturas/instalações que tornando artística algumas das questões
nos traz em Home/House. Este gesto que Heidegger propõe aos seus leitores.
remete-nos à ideia de tradição, de
manufactura, de um passado que foi Além das obras criadas por Luís
substituído pelo betão e que só resiste, de Marques e Rúben Gonçalves, o
maneira discreta e quase invisível, em espectador é confrontado com uma peça
construções perdidas pelo Algarve, região que, não sendo de nenhum deles, torna-
que foi esventrada pelo rápido e voraz se de ambos. Aqui, os artistas/curadores
crescimento imobiliário. fizeram uma escolha dentro do acervo do
Museu Municipal de Faro, de um objeto
Há ainda uma pintura, que se apresenta que fosse icónico, que revelasse uma
como uma obra tridimensional, ligação intrínseca ao lugar. A escolha
acentuando a ambiguidade daquilo que recaiu sobre um tríptico em azulejos que
representa – uma paisagem talvez, mas traz a imagem de Santo António no
uma paisagem que subsome no traço centro. Quer a imagem do santo, e a sua
mais abstrato, uma paisagem que própria significação, quer o azulejo são
emerge, como uma ideia, uma sombra. elementos presentes em várias casas
Uma imagem do passado no presente, tradicionais, proporcionando, muitas
afirmando assim o seu lugar noutra vezes, a transformação de casa em lar, ao
paisagem que a subjugou. revelar as escolhas, os gostos, as crenças
de quem nelas habita.
Rúben Gonçalves concentra as suas
obras também no espaço, mas com um Entre as técnicas tradicionais e as
acento na geografia humana, ou na sua escolhas contemporâneas, os artistas
ausência. As obras desta exposição – uma construíram uma exposição que leva o
instalação, uma escultura e uma pintura – espectador a sair da sua função, muitas
usam o espaço da galeria como um lugar vezes passiva, para entrar num jogo que
de reflexão sobre a habitação, ou a falta faz com que ele encare o espaço – o lugar
dela, sobre a exclusão das pessoas do que da angústia, aquele do qual já não se
deveria ser um lar, o Algarve, convertido consegue fazer ilações, pois é um
no paraíso de casas de veraneio. O artista existente, e a sua materialidade e dureza
convoca a arquitetura evidenciando as obrigam a cada um de nós a ver, através
suas nuances e o seu caráter simbólico. da arte e pela arte, o possível lugar do
Uma casa é sempre mais que uma casa, real. O lugar onde a vida acontece .
uma edificação não é apenas feita de
pedras – há sempre algo que nos escapa
ou que nela acrescentamos através dos
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Octogésima sétima tabuinha - Versos e ruas
Ana Isabel Soares (Professora)
uço muito a Romanceiro e Cancioneiro do Algarve.
telefonia: acordo Devo tê-la ouvido num dos registos do
a ouvir a estação Tiago Pereira (da Música Portuguesa a
de rádio, deito- Gostar Dela Própria, que é aquilo que a
me e adormeço música portuguesa gosta de fazer) e diz
ao som da rádio; assim: “Encontrei o sol de noite / na rua
se vou a conduzir, dos mercadores / Quando o sol anda de
levo o rádio aceso. A Senhora Virgília, noite / que fará quem tem amores”. Ou o
que Deus tem e tanto me ensinou, diria: meu ouvido me atraiçoou ou ouvi mesmo
“É uma companha”. É isso, faz-me assim, se bem que no tal «Archive»
companhia e garante-me a dose diária de aparece transcrito aquele terceiro verso
surpresas e espantos (só falo dos como “quando o sol and'ás occultas”, o
espantos e das surpresas que me trazem que me soa muito mais lindo. Ora, o que
sorrisos, que outros são de ocorrência este arquivo me mostrou também foi o
mais frequente ainda, mas bem os resto da composição, ou do poema, que
dispensaria e não tenho palavras para contém, nas três estrofes derradeiras,
com eles desperdiçar). Calha ouvir outras tantas referências a nomes de
alguma melodia bonita ou uma letra que ruas: além desta “dos mercadores”,
me desperte mais a atenção, anoto em aparece uma “rua de Serpa Pinto”, outra,
papelinhos, escrevo ou dito para o suponho que igualmente rua, “da
telefone (que nem sempre há papelinhos G^rredoara”, que é mais capaz de ser “da
à mão). Depois, com esta dispersão e o Corredora” e uma “rua do Garapeto”
meu carácter naturalmente esquecido (“Carapeto”...?), onde “não se pode
(que é distraído do tempo), descubro namorar” porque de dia há “velhas à
essas anotações com nova surpresa – em porta” (assim mesmo, o acento gralhado)
grande parte das vezes, se não registo a e de noite há “cães a ladrar”. Da melodia
data em que ouvi o que ouvi, não faço não recordo nada, paciência – mas os
ideia do quando, do onde, do quem. O versos têm medida que se ajusta a
telemóvel marca algumas destas qualquer trautear, é cantá-los e saem
informações – mas eu lá confio num cantigas. De que cantiga me fui lembrar a
telemóvel mais do que na minha própria propósito da dita quadrinha, mas? Nada
letra? mais nada menos do que uma das minhas
favoritas ali da zona da infância,
O que achei eu? Uma bela quadrazinha, composição de um filósofo que até, por
que anotei completa e já localizei (hoje é sinal, foi quem, cerimoniosamente, me
tão fácil), no «Internet Archive», como entregou em mãos o diploma de
integrante de um rol delas no doutorada (por ser na altura o Reitor da
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Foto: Vasco Célio

universidade onde me doutorei), ainda


antes de ser ele Doutor, José Barata
Moura – «A Cidade do Penteado», onde
as casas, “p’ra variar, têm cabelo e não
telhado”. Essa cantiga tem no fim uma
“Avenida Maria, coisa levada da breca”,
mas entra-se pela “rua da Charamusca, /
mesmo junto do passeio”, passa-se o
“largo Pinto Calçudo, / mesmo em frente
ao mercado”, pelo “beco Sarapintado” e
pela “Travessa no Jardim dos Girassóis”
(adivinha-se a rima que deve ser) para
chegar, por fim, à “Praça do Nabo
Cozido”. Belos passeios em verso, belas
ruas da poesia .

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35 anos a semear
Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola
Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg)
odos gostamos de Universidade. O corpo docente é
celebrar as datas que altamente especializado nas suas áreas
são importantes. No científicas principais.
dia 22 de novembro
foi dia de festa. A Procuramos acompanhar a
Escola Superior de modernização tecnológica, e
Gestão, Hotelaria e introduzimos novos espaços e programas
Turismo celebrou 35 anos da sua na oferta formativa, de que são exemplo
existência. o Marketing Digital e, no ano que vem,
em conjunto com o Instituto Superior de
Todos os anos relembramos a nossa Engenharia, o CTESP em Gastronomia e
grandeza e os nossos feitos. A ESGHT é a Inovação Alimentar.
Escola do Ensino Politécnico com maior
número de alunos da Universidade do A ESGHT tem contribuído de forma
Algarve. Temos cerca de 1.900 alunos, significativa para a formação e
perto de 120 colegas docentes (dos quais qualificação superior na região em
61 de carreira), e cerca de 20 colegas não gestão, em marketing, no turismo e na
docentes. Estamos em Faro há 35 anos e hotelaria, mas também noutras áreas
em Portimão há 31 anos. mais técnicas e profissionais, tais como a
contabilidade, a fiscalidade, o
Anualmente colocamos em estágio secretariado, os sistemas e tecnologias,
perto de 400 alunos de todas as entre outras ofertas pós-graduadas.
licenciaturas e CTESP, dentro e fora da
região. A taxa de empregabilidade Publicamos com regularidade duas
apresenta dados muito positivos em revistas científicas há vários anos – a TMS
todas as áreas de formação (com registos e a dos algarves – e organizamos uma das
acima dos 90%). Temos centenas de maiores conferências Internacionais em
diplomados formados pela ESGHT em Turismo – a Tourism & Management
todas as áreas de atividade profissional. Studies International Conference que dá a
conhecer muita da sua investigação em
Privilegiamos um ensino interativo e desenvolvimento.
participado, acompanhado de aulas
práticas, com projetos inovadores e Estamos presentes em redes
muitos oradores convidados, entre internacionais e nacionais na área da
empresários e ex-alunos da própria Gestão, do Marketing, da Hotelaria e do

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Turismo, assim como em vários eventos.
Agarramos todas as oportunidades para Agradecemos publicamente e
tentar encontrar financiamento e penhoradamente à EC Travel e à Ricky
oportunidades de inovação e Travel, ao Eliseu e ao Ricardo, que se
empreendedorismo, mas estamos juntaram para atribuir respetivamente
ansiosos por continuar a renovar. 12+3 bolsas de apoio a estudantes de
Turismo, contribuindo assim para os
Conscientes que é fundamental a estudantes dos nossos jovens.
aproximação ao sector empresarial,
temos vindo a celebrar parcerias e A proximidade como princípio
protocolos com novas empresas e fundamental
instituições e constituímos o Conselho
Consultivo. Neste dia promovemos um A ESGHT é hoje também o destino de
debate extremamente enriquecedor estudo de vários estudantes estrangeiros
sobre estas questões do Algarve, e participa em parcerias com diversas
Presente e o Futuro, e a sua relação com universidades internacionalmente nas
a formação superior e a requalificação mobilidades do programa ERASMUS.
dos recursos humanos, e convidamos um Colaboramos em projetos de extensão
conjunto vasto de parceiros, que foi cultural, na prestação de serviços e na
moderado pela jornalista Maria Augusta transferência de conhecimento e de
Casaca da TSF. investigação.
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Acreditamos que a proximidade é um
Ao nível do Ensino, temos este ano uma alicerce fundamental para o
nova oferta conjunta de CTESP em desenvolvimento do espírito de equipa e
Gastronomia e Inovação Alimentar com o para o sucesso de qualquer projeto.
Instituto Superior de Engenharia,
esperando que a Casa do Reitor se Neste momento vivemos de forma
concretize como espaço dedicado à muito intensa e por vezes demasiado
hotelaria e que o novo campus em rápida, as exigências dos tempos
Portimão possa ser uma realidade, modernos, mas no projeto de escola
possibilitando novas ofertas formativas e procuramos contribuir para uma
a captação de novos estudantes; ao nível formação com ética e responsabilidade,
da Investigação & Transferência respeitando o multiculturalismo e as
queremos aumentar a atividade, diferenças da sociedade atual, mas
prosseguindo com os trabalhos de interagindo com significado e de forma
consultadoria a vários agentes regionais, profissional.
mas também pela produção científica; ao
nível da comunidade externa pretende-se Outros valores e desafios emergem hoje
prosseguir com o trabalho conjunto de como essenciais nas propostas
novas parcerias e ao nível interno, formativas como a Sustentabilidade e os
conseguir melhorar as condições de Objetivos do Desenvolvimento
ensino e de satisfação, dentro das Sustentável, ou a Inteligência Artificial,
possibilidades que estão na dependência que procuramos integrar e privilegiar nos
direta da Unidade Orgânica. percursos formativos.

Temos conseguido criar oportunidades Alguém reproduzia esta semana as


para muitos jovens que connosco palavras de José Tolentino: mais vale ser
desenvolvem competências essenciais completo que ser perfeito. A prossecução
para o seu desenvolvimento pessoal e do trabalho tem por base um esforço
humano. Assim, hoje queremos dizer-vos contínuo que deve ser partilhado, com
que a ESGHT tem mudado a vida de humildade e esperança no amanhã.
muitos de nós. Partilhamos uma Continuamos a semear.
identidade forte e estamos presentes
num vasto território. Contamos com a dinâmica de cada um
A autocrítica está muito presente, ainda para uma escola resiliente, inovadora e
que nem sempre acolhida da melhor ativa, pelo que, cada qual é peça
forma por todos. Os momentos de fundamental da ESGHT do futuro!
celebração são desenvolvidos em Obrigada por aquilo que nos dão:
comunhão com docentes, não docentes e docentes, funcionários, estudantes e
estudantes procurando sempre a partilha todos os parceiros. A ESGHT é Um lugar
com todos, inclusive com os que já não onde é bom estudar.
estão no ativo.
#SomosESGHT .

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125 ALGARVE INFORMATIVO #412
Coragem!
Lina Messias (Especialista em Feng Shui)
a internet em geral, Madeira. A Madeira é predominante em
nas redes sociais em quem inicia, inova e tem coragem para
particular, a palavra fazer e criar algo diferente, sem estar
coragem tem sido condicionado pelas tradições e crenças
usada nos últimos colectivas (elemento Terra) e colocando
tempos de tal na matéria, na realidade os seus sonhos
forma, que já está (elemento Água).
banalizada e «gasta»!
Eu também não fui uma criança
As muitas frases feitas a incentivar e corajosa, sempre evitei qualquer tipo de
dignificar a coragem, os muitos gurus que aventuras que envolvessem algo radical
afirmam ser donos do segredo para ou potencialmente arriscado. Ao
sermos corajosos e que conseguem contrário do meu irmão que tem um
vender essa ideia, os milhares de mapa mundo na cabeça de tantas vezes
influencers que falam dela na primeira que caiu de bicicleta e que já teve gesso
pessoa nos seus vídeos e fotos em praticamente todos os membros do
instagramáveis (adoro estes novos corpo, o mais próximo que estive desse
termos), levam o comum dos mortais a tipo de mazelas foi no corredor da casa
sentir-se diminuído e um fracalhote se onde vivia, quando caí e rachei a cana do
não se lançar no vazio de para-quedas ou nariz. A única vez que tive coragem (após
não se jogar de um penhasco de encontro muita insistência do meu irmão) de saltar
ao mar revolto, ou então largar esta vida um muro fiquei dois dias de cama sem
materialista, vender tudo e ir viver o resto falar devido ao choque traumático do
dos dias para uma cabana à beira mar salto. Também nunca tive coragem de ser
numa ilha paradisíaca do Belize. aquela aluna que se levantava
voluntariamente para responder às
Os portugueses, como povo, têm uma perguntas da professora, mesmo
história incrível de coragem digna de ser sabendo as respostas, e muito menos
um exemplo e inspiração para o Mundo, para ir ao quadro de ardósia escrever ou
mas presentemente não considero que o falar seja o que for. Sempre detestei
sejamos em termos colectivos. Somos os parques de diversões, montanhas-russas,
sonhadores de grandes feitos guardados cangurus e nem os carrinhos de choque
para «um dia, talvez». Em termos das feiras alguma vez me convenceram.
energéticos, o elemento da natureza Também não me recordo de facilmente
(ciclo dos 5 elementos da natureza da ter coragem para dizer um sentido NÃO
Medicina Tradicional Chinesa) que mais ou assumir as minhas diferenças e
está associado à dita coragem é a particularidades.
ALGARVE INFORMATIVO #412 126
quando podia ficar
sossegada em casa
com os gatos,
escolher ter tempo
para mim mesmo
quando estou
«atascada» de
solicitações,
escolher viajar
sozinha quando não
tenho companhia,
escolher afastar-me
de algumas pessoas
quando podia fingir
estar feliz
acompanhada.

Há (muitos) dias que é o medo que


Nos últimos anos tenho sido apelidada vence, há (muitos) dias que dou passos à
de corajosa, e quando partilho um pouco rectaguarda neste processo, mas tenho a
da minha história, sei que a coragem tem certeza que o caminho que escolhi é o
sido uma palavra-chave para chegar onde que faz o meu coração vibrar e me
estou e ser quem sou. permite viver em verdade e não há
medos que resistam a tantos sonhos e
Da criança medrosa à MULHER corajosa determinação.
há um longo caminho de medos e receios
superados que não se aprende em Quem sabe se um dia, a coragem, a
workshops nem masterclasses. Todo o paciência, a resiliência e outras se
percurso de desenvolvimento pessoal é consigam encomendar numa farmácia
individual e sem recurso às tais fórmulas perto de si. Até lá, são as escolhas que
generalistas que muitos apregoam e fazemos todos os dias que determinam
vendem. Por mais simplista que esta como queremos viver.
explicação seja, ser corajosa tem sido
apenas uma escolha, uma opção de P.S. Mesmo com esta coragem toda,
avançar e agir apesar do medo, muitas nem pensem que me vão ver a
vezes do pânico de o fazer. experienciar a adrenalina de andar uma
montanha-russa ou a dar saltos e vomitar
Escolher dizer não quando podia aceitar no canguru.
a vontade alheia, escolher ser empresária
quando podia ter rendimento certo no Fazer as malas e ir para o Belize? Isso já
final de cada mês, escolher não ser mãe é outra história! .
quando a pressão para tal era muita,
escolher falar em público e expor-me
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129 ALGARVE INFORMATIVO #412
DIRETOR:
Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis
e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924
Telefone: 919 266 930

EDITOR:
Daniel Alexandre Tavares Curto
dos Reis e Pina
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