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- Eu preciso de um modo de pensar em Deus que funcione para mim, outras palavras
ou caminhos para olhar para essa beleza, essa poderosa energia, e então meu nome para
Deus é “Amada Energia Divina”. Por um tempo foi somente Energia Divina, mas então eu
estava lendo algo sobre as religiões orientais, e poetas orientais, e eu amei como eles têm
essa conexão pessoal amorosa com essa Energia. E eu achei que aquilo me levava a chamar
Deus “Amada Energia Divina” . Para mim essa Amada Energia Divina é vida, conexão com a
vida.
- Para mim, dar de nós mesmos significa uma expressão honesta do que está vivo em
nós neste momento. Intriga-me por que cada cultura saúda a outra “Como está você?” Essa
é uma questão tão importante. Que presente é ser capaz de saber a cada dado momento o
que está vivo em alguém.
Dar um presente a alguém é uma manifestação de amor. É quando você revela a si mesmo
nua e honestamente, em dado momento, sem outro propósito senão como um presente do
que está vivo em você. Sem acusação, sem crítica ou punição. Simplesmente “Aqui estou e
aqui está o que eu gostaria”. Essa é a minha vulnerabilidade neste momento. Para mim, isso
é um jeito de manifestar amor.
E o outro jeito que nós nos damos é através de como recebemos a mensagem da outra
pessoa. Recebê-la com empatia, conectando-nos com o que está vivo nela, não fazendo
julgamentos. Somente ouvir o que está vivo na outra pessoa e o que ela gostaria. Então, a
Comunicação Não Violenta é simplesmente a manifestação do que eu entendo que seja
Amor.
7) Como você evita que o Ego interfira em sua conexão com Deus?
- Vendo o Ego como a coisa mais estreitamente ligada ao jeito que a minha cultura me
treinou a pensar e me treinou a comunicar-me. E como a cultura me treinou para atender às
minhas necessidades de certo modo, para ter minhas necessidades misturadas com certas
estratégias, eu devo atender às minhas necessidades. Então eu tento permanecer cônscio
desses três caminhos que a cultura me programou para fazer coisas que realmente não são
do meu maior interesse, para funcionar mais no Ego que na minha conexão com a Energia
Divina. Tenho tentado aprender meios de treinar a mim mesmo para estar consciente
quando estou pensando nesse jeito culturalmente aprendido e tenho incorporado isso na
Comunicação Não Violenta..
8) Então você acredita que a linguagem de nossa cultura nos impede de conhecer nossa
Energia Divina mais intimamente?
- Oh, sim. Definitivamente. Eu acho que nossa linguagem torna isso realmente difícil,
especialmente a linguagem que nos é dada pelo treinamento cultural que a maioria de nós
segue, e as associações do que “Deus” cria para as pessoas. O pensamento julgador, ou do
certo/errado é uma das mais coisas mais difíceis que tenho encontrado para conseguir
ensinar Comunicação Não Violenta por todos esses anos. As pessoas com quem trabalho têm
vindo todas de escolas e igrejas e é muito fácil para elas, se gostam da Comunicação Não
Violenta, dizer que esse é o jeito ‘certo’ de se comunicar. É muito fácil pensar que a
Comunicação Não Violenta é o objetivo.
Eu modifiquei uma parábola budista que se relaciona com essa questão. Imagine um local
lindo, íntegro e sagrado. E imagine que você poderia realmente conhecer Deus quando
estivesse nesse lugar. Mas há um rio entre você e esse lugar e você gostaria de alcançar
esse lugar mas você tem que transpor esse rio para chegar lá. Então você obtém uma balsa,
e essa balsa é uma verdadeira ‘mão na roda’ para levar você do outro lado do rio. Uma vez
cruzado o rio você pode caminhar o resto de muitas milhas para esse lindo lugar. Mas a
parábola budista termina dizendo que “aquele é um tolo que continua carregando a balsa
nas costas no lugar sagrado”.
A comunicação Não Violenta é uma ferramenta para me fazer superar meu aprendizado
cultural de modo que eu possa alcançar aquele lugar. Não é o lugar. Se ficamos apegados à
balsa, fica mais difícil chegar ao lugar. As pessoas que somente aprendem a processo de
Comunicação Não-Violenta podem esquecer tudo sobre paz. Se ficam muito presos à balsa, o
processo torna-se mecânico.
A Comunicação Não-Violenta é uma das ferramentas mais poderosas que eu encontrei para
conectar-me com pessoas num modo que me ajuda a ficar num lugar onde estamos
conectados com o Divino, onde o que fazemos para o outro provém da Energia Divina. Esse
é o lugar onde eu quero estar.
- A base espiritual para mim é que eu estou tentando conectar a Energia Divina em
outros e conectá-los com a Energia Divina em mim, porque eu acredito que quando estamos
realmente conectados com essa Divindade dentro de cada um e de nós mesmos, aquela
pessoa desfruta contribuindo para o bem estar de outro mais que qualquer outra coisa.
Então para mim, se estamos conectados com o Divino nos outros e em nós mesmos, vamos
aproveitar o que acontece, e essa é a base espiritual. Ness lugar é impossível haver
violência.
10) É essa falta de conexão com a Energia Divina a responsável pela violência no mundo?
- Eu gostaria de dizer desse jeito: Eu penso que temos tido a graça de escolher criar o
mundo da nossa escolha. E temos toda essa graça desse grande e abundante mundo para
criar um mundo de alegria e abundância. Para mim, a violência no mundo ocorre quando
ficamos alienados ou desconectados dessa Energia. Como ficarmos conectados se somos
educados para sermos desconectados? Eu creio que é nosso condicionamento cultural e
educação que nos desconectam de Deus, especialmente nossa educação sobre Deus.
Walter Wink escreve sobre como as culturas de dominação usam certos ensinamentos sobre
Deus para manter a opressão. Eis porque Bispos e Reis têm estado geralmente muito
próximos. Os Reis precisaram dos Bispos para justificar a opressão, para interpretar os livros
sagrados de modo que justificassem as punições, dominação e assim por diante.
Uma palavra que não tenho usado quando falo sobre isso é a palavra ‘inevitabilidade’. Então
muitas vezes tenho visto que não importa o que tenha acontecido, se as pessoas se
conectam de certo modo, é inevitável que eles terminem gostando de se doar uns aos
outros. É inevitável. Para o meu trabalho é quase como assistir a um show de mágica. É
muito lindo para caber em palavras.
Mas algumas vezes essa Energia Divina não funciona tão rápido quanto eu acho que deveria.
Eu lembro de ter sentado ali, em meio a toda aquela raiva e dor pensando “Energia Divina,
se podes sanar toda essa confusão por que estás demorando tanto, por que estás colocando
essas pessoas nisso?” E a Energia Divina me falou, e disse: “Você faz somente o que quer
para se conectar. Ponha sua energia nisso. Conecte-se e ajude às outras pessoas a se
conectarem e deixe-me cuidar do resto”. Mas apesar do que estava acontecendo em uma
parte do meu cérebro, eu sabia que a alegria era inevitável. Se pudéssemos somente nos
manter conectados com nossa própria Energia Divina e com as dos outros.
E aconteceu. Aconteceu com grande beleza. No último dia todos eles estava conversando
sobre alegria. E muitos deles disseram: “Eu pensava que nunca mais me sentiria alegre de
novo depois do que passamos”. Esse era o tema em todos os lábios. De modo que aquela
noite vinte Sérvios e vinte Croatas, que sete dias antes tinham somente uma dor
inimaginável em relação ao outro, celebravam a alegria de viverem juntos.
O céu que eu ganho conhecendo a Deus é essa inevitabilidade, saber o inevitável, que não
importa o que o inferno está fazendo, se temos esse nível de conexão uns com os outros,s e
somos tocados pela Energia Divina uns dos outros, é inevitável que apreciemos dar e receber
da vida. Tenho tido esse tipo de coisa tão completamente com as pessoas que não fico
preocupado com nada mais. É inevitável. Se conseguimos essa qualidade de conexão,
estaremos onde nos agrada.
Encanta-me quão efetivo isso é. Eu poderia lhes falar de exemplos semelhantes entre os
extremistas israelenses, tanto política como religiosamente, e o mesmo do lado palestino, e
entre os Hutus e Tutsis, e os Cristãos na Nigéria. Com todos eles espantou-me como é fácil é
promover essa reconciliação e cura. Uma vez mais, tudo o que nós temos que fazer é
conectar ambos os lados às necessidades do outro. Para mim as necessidades são o meio
mais rápido e íntimo de fazer conexão com a Energia Divina. Todo mundo tem as mesmas
necessidades. As necessidades existem porque estamos vivos.
13) Como você faz inimigos reconhecerem que eles precisam se dar um ao outro?
- Quando você faz as pessoas se conectarem nesse nível é difícil manter aquela
imagem de ‘inimigo’. A Comunicação Não-Violenta em sua pureza é o meio mais poderoso e
rápido que eu encontrei para fazer as pessoas irem do jeito alienado de pensar onde elas
querem ferir uns aos outros, para desfrutarem de se darem uns aos outros.
Quando você tem duas pessoas em frente um do outro, Hutu e Tutsi, e suas famílias foram
mortas pelo outro, é espantoso que em duas ou três horas possamos levá-los a nutrirem um
ao outro. É inevitável. Inevitável. Eis por que eu uso essa abordagem.
Encanta-me quão simples isso é dada a quantidade de sofrimento que houve, e quão
rapidamente isso pode acontecer. A Comunicação Não Violenta realmente sara rapidamente
quando as pessoas experimentaram muita dor. Isso me motiva a fazer isso acontecer mais
rapidamente porque o jeito que estamos fazendo isso agora toma um bom tempo.
Como ter isso feito mais rapidamente com os outros 800.000 Hutus e Tutsis, e o resto do
planeta? Eu gostaria de explorar o que poderia acontecer se pudéssemos fazer filmes ou
programas de televisão sobre esse processo, porque tenho visto que enquanto duas pessoas
seguem o processo com outras pessoas olhando, acontece aprendizagem indireta, cura e
reconsiliações. Então eu gostaria de explorar meios para usar a mídia para criar massas de
pessoas para rapidamente completarem o processo juntas.
14) Você tem encontrado algumas barreiras culturas ou linguísticas nesse processo?
- Espanta-me quão poucas e pequenas elas são. Quando eu comecei a ensinar esse
processo em outra língua, eu realmente duvidei de que pudesse ser feito. Lembro-me da
primeira vez, eu estava na Europa, estava indo pela primeira vez a Munique e a Genebra.
Minha colega e eu duvidávamos que pudéssemos fazê-lo em outra língua. Ela estava indo
fazê-lo em francês e eu estaria lá para que ela me fizesse perguntas se alguma coisa
acontecesse. Eu estava indo para pelo menos tentar ver se poderíamos fazê-lo com
tradutores. Mas tudo funcionou muito bem, sem nenhum problema, e eu acho que a mesma
coisa ocorrerá em qualquer lugar. Então eu simplesmente não me preocupo com isso, eu
faço em inglês e você traduz e funciona bem. Não me lembro de nenhuma cultura onde eu
tenha tido mais que pequenos problemas, mas não com a essência em si mesma. Não
somente não tivemos problema mas também aconteceu de repetidas e variadas pessoas
dizerem que isso é o que essencialmente suas religiões lhes dizem. É coisa antiga, eles a
conhecem, e são gratos por essa manifestação, mas não é nada novo.
15) Você acredita que uma prática espiritual é importante para praticar a não-violência?
A gratidão também tem importante papel para mim. Se eu expresso gratidão quando estou
consciente da ação humana para a qual eu quero expressar gratidão, a consciência de como
me sinto quando a ação ocorre, se é uma ação minha ou de outra pessoa, e quais
necessidades minhas ela preenche, então expressar gratidão me enche da consciência do
poder que nós seres humanos temos para preencher nossas vidas. Faz-me consciente de que
nós somos Energia Divina, que nós temos tal poder para fazer a vida maravilhosa, e que não
há nada que gostemos mais do que fazê-lo.
Para mim essa é uma poderosa evidência de nossa Energia Divina, que nós temos esse
poder para fazer a vida tão maravilhosa e que não há nada de que gostemos mais. É por isso
que parte de minha prática espiritual é justamente estar cônscio da gratidão.
Mas quando nós estamos tentando atender essa necessidade nossa para ‘viver’ essa Energia
Divina, tentando contribuir para a vida, há um pedido que vem com ela. Nós pedimos pelo
retorno de qualquer criatura cuja vida estejamos tentando melhorar. Nós queremos saber de
fato “ Minha intenção e minha ação estão sendo correspondidas” Houve preenchimento?
Na nossa cultura onde pedidos são distorcidos em nosso pensamento de que temos a
necessidade de que outra pessoa nos ame pelo que temos feito, aprecie o que temos feito,
nos aprove pelo que temos feito. E isso distorce e embota a beleza do processo inteiro. Não
é sua aprovação o que precisamos, nossa verdadeira intenção era usar nossa energia para
enriquecer a vida. Mas precisamos de retorno. Como vou saber se meus esforços foram bem
sucedidos sem ter nenhum retorno?
E eu posso usar esse retorno para me ajudar a saber se eu estou me afastando da Energia
Divina. Eu sei que estou me afastando da Energia Divina quando eu valorizo a crítica mais
que o agradecimento.