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O passado, o presente e o futuro da Musicoterapia

por Ira M. ALTSHULER, M.D.


Hospital Geral do Condado de Wayne, Eloise, Michigan, 1944.
Tradução: Marcus Leopoldino

Qualquer fator ou agente que ajude a prevenir, aliviar ou curar doenças ou ajude a saúde física ou
mental, pode ser entendido como terapia. Na verdade, promoção e preservação da vida, como
praticado pela própria natureza, é uma forma de terapia biológica. A natureza, aprimorando
constantemente as ferramentas e comodidades para manter e promover a vida pratica tratamento
profilático, a forma básica de terapia.

Minerais, ervas, água, eletricidade, o poder da palavra falada e da música são terapias em potencial.
Cada um deles possui a propriedade em comum de fomentar ou suprimir células vivas. Nenhum
medicamento com a exceção de produtos glandulares é capaz de criar novas funções no organismo
humano. A maioria deles age na base tanto da estimulação como da supressão. A música
compartilha desta capacidade com ou outros agentes terapêuticos.

A cura radical é a forma mais ideal de terapia. Ela é baseada no conhecimento preciso acerca do
processo patológico, assim como a completa apreciação da dinâmica do medicamento. A cura
radical é, entretanto, a exceção e não a regra. O tratamento da difteria com anti-toxinas é um bom
exemplo de cura radical. A maioria das terapias tratam apenas sintomas pelo fato da natureza da
maioria das doenças ser ainda obscura.

Se o médico esperasse pelo patologista e pelo farmacologista para abrir caminho para a cura radical,
ele não teria ousado fazer uma prescrição médica até a metade final do século XIX; esta foi a época
do início da farmacologia científica.

Uso Empírico

O fato da cura radical não poder ser executada com a música não deveria nos fazer abandoná-la
como tratamento. A utilização de um agente terapêutico não pode nem deve ser adiada para o
momento em que sua forma exata de ação, canais de ataque e dosagem precisa são conhecidas. A
história da medicina mostra que muitos agentes foram usados empiricamente e vantajosamente
como remédios sem o conhecimento preciso dos princípios ativos envolvidos. Um exemplo é o
tratamento de doenças do coração com Digitalis, ou fox-glove (ou dedaleira, em português). A
muito tempo atrás uma velha senhora em Shropshire, Inglaterra, tinha em seu poder uma receita
secreta de ervas para o tratamento de hidropsia (dropsy). Esta receita tinha em si, dentre outras
coisas, Digitalis, que depois de investigações subsequentes por médicos provou ser um dos
melhores medicamentos para problemas cardíacos. Assim, a partir de uma vaga apreciação de seu
potencial terapêutico no passado, esta droga tornou-se uma das mais conhecidas e pode agora ser
prescrita em doses precisas.

Palavras Vs. Música

Psicoterapia é a utilização de palavras, seus significados e a dinâmica por trás delas com o propósito
de introduzir uma atitude apropriada para com a vida. Os significados das palavras apela
primariamente aos hemisférios cerebrais, no telencéfalo (master brain). Não pode haver qualquer
resistência ou inibição da parte do telencéfalo para iniciar a ação. Depois de passado pelo

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telencéfalo, seguem-se reações emocionais e funções orgânicas. Se alguém me xinga, eu me magôo
e fico talvez pronto para brigar. Minhas glândulas e órgãos participam nisso, mas apenas depois do
telencéfalo ter tornado a situação clara para o organismo.

A poderosa forma verbal de terapia, tão habilidosa e bem sucedida desenvolvida pelos psiquiatras,
foi a muito tempo atrás usada pelo poeta, filósofo, escritor, educador e pastor. Sua influência
“terapêutica” antes da sua elevação a uma doutrina científica se fez sentir na educação, religião,
vida social e política e na propaganda.

Analizando os poderes da música, deveríamos ter em mente que a música sempre foi um importante
fator na vida instintual, emocional, intelectual, cultural e espiritual das pessoas, e, como tal, há
tempos imemoriais, exercitou uma variedade de influências terapêuticas.

A música, ainda mais do que a palavra falada, dá-se como uma terapia porque encontra pouca ou
nenhuma resistência intelectual e não precisa apelar para lógica para iniciar a ação. Ela é mais sutil
e mais primitiva e portanto seu apelo é mais amplo e maior.

O Ritmo e os Homens

O homem, um produto da natureza, não pode permanecer alheio à música porque tom e ritmo, dos
quais a música é composta, têm uma forte afinidade com organismos vivos. Todo o reino animal é
condicionado ao som e ao ritmo, e tais processos vitais como propagação e proteção dependem
deles. Em formas de vida inferiores a sensibilidade à vibração tem a função de audição, sentido esse
que se manteve no homem. A compulsão a responder ao som é vista na evolução de vários
mecanismos para capturá-lo. O peixe, por exemplo, tem um ouvido primitivo, a “linha lateral”, que
percorre toda a extensão de seu corpo, da cabeça à cauda. Ela registra diferenças de pressão na água
e assim age como um aviso da proximidade de um inimigo ou da presença da presa. Todo peixe
produz sons que nós podemos detectar agora com dispositivos elétricos. Algumas espécies
produzem sons puros e longos que alcançam próximo a uma oitava.

Muitas espécies de insetos e pássaros transformam certas partes de seus corpos em “instrumentos
musicais”. Até mesmo objetos externos são utilizados por algumas criaturas para produzir música.
Estes “instrumentos” sem dúvida têm a intenção de chamar a atenção, provocar emoções, criar um
clima e evocar respostas. Em certo sentido, esta é uma forma de “terapia” biológica que a natureza
pratica para salvaguardar e promover a vida. Alguns insetos fazem uma música barulhenta, desta
forma podem seu ouvidos a uma distância considerável, como no caso dos escaravelhos. Os sons
musicais produzidos por várias criaturas são altamente específicos, isto é, cada macho produz seu
próprio tom que é identificado pela fêmea. A mãe-pássaro usa sinais especiais para sua cria, e esta
para a mãe. Alguns insetos mostram incrível habilidade musical. Nos tempos antigos certos insetos
eram carregados em gaiolas para suprir música para entretenimento. A Esperança (Katydid) macho
- uma espécie de gafanhoto – e o grilo comum são grandes insetos músicos. O canto e a criação de
músicas pelos pássaros são bem conhecidos. Eles improvisam todo tipo de instrumentos. Eles nos
dão as tonalidades discerníveis na flauta, no tambor, no trompete e no violino.

No curso da evolução, mecanismos de escuta continuaram a evoluir, através do ouvido sensível dos
mamíferos que orienta o som através do espaço até o altamente aprimorado ouvido do homem
moderno, que por um lado não tem o mesmo alcance de altura como o do cachorro, mas pode
distinguir tons mais precisamente e combiná-los para o seu prazer e entretenimento. O homem,
diferente do lagarto, não vive num mundo de vibrações das quais ele deve fugir, mas aprendeu a
controlar o som e usá-lo a seu favor; próximo aos olhos, é o mais valioso dos sentidos. Ondas

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sonoras para os homens não são sinais de alarme ou um estímulo bruto de acasalamento, mas
através da intercessão do cérebro literalmente converte matéria em mente. De vibrações a impulsos
neurais, sensações, sentimentos, emoções e apreciações estéticas, espirituais e sociais.

O elemento ritmo na música entra intimamente no problema da musicoterapia. O homem é


essencialmente um ser rítmico. Há ritmo na respiração, nos batimentos cardíacos, na fala, na
marcha, etc. Os hemisférios cerebrais estão num perpétuo estado de oscilação rítmica – dia e noite.
Mesmo a mínima mudança no corpo, como o abrir e fechar das pálpebras causa uma mudança no
ritmo cerebral. Estas ondas cerebrais tornam-se diferentes em determinados estados emocionais:
febre, intoxicação, infecções e certas condições como a epilepsia.

O “Davises of Harvard” certa vez observou “instâncias nas quais tons iniciaram ondas especiais
(Ritmo ou Ondas Beta) e também as aboliram”. Viver em um universo rítmico adiciona mais
responsividade ao ritmo musical. O ritmo produzido pelo homem é uma réplica dos ritmicos
cósmico e corporal. A máxima de Descartes “Penso, logo existo” talvez devesse significar “Ritmo,
logo existo”...

O estudo de lendas folclóricas, contos de fada e mitos – produtos do inconsciente coletivo –


indicam que o homem sempre atribuiu grandes poderes à música. A música, de acordo com estas
crenças, era tão onipotente que podia restaurar a vida dos mortos, curar os doentes e até afetar o
curso da própria natureza. É interessante que a antípoda do homem primitivo – o filósofo – manteve
crenças similares acerca dos poderes da música. Os antigos filósofos gregos foram profundamente
cientes da influência da música sobre a vida social e política. Platão pensava que nenhuma mudança
poderia ser feita na música sem afetar profundamente as políticas de um estado. Malícia, insolência
e seu oposto poderiam ser trazidas pela música, ele acreditava. Aristóteles concordava com esta
opinião.

O estudo da cultura grega revela que eles reconheceram o valor da música como higiene mental.
Uma das sete musas, Euterpe, era responsável pela profilaxia da música e pela promoção da
civilização. As propriedades terapêuticas da música foram profundamente apreciadas pelos gregos.
Apolo, o Deus do Sol, tinha uma dupla função – a de deus da Medicina e da Música, enquanto seu
filho mítico, Esculápio (ou Asclépio), era o patrono da Medicina.

Abordagem Objetiva

Nos séculos XVIII e XIX, e especialmente com o advento do método experimental, uma nova
orientação surgiu a respeito da influência da música sobre o organismo humano. Uma tentativa foi
feita na direção de uma abordagem objetiva. Relatórios interessantes apareceram na Europa e nos
EUA onde o efeito da música sobre o metabolismo, energia muscular, pressão sangüínea, respiração
e pulso foram descritos. Cannon, o eminente fisiologista de Harvard, acredita que a música provoca
emoções e libera adrenalina e talvez outros hormônios. Relatórios clínicos lidando com observações
feitas em grupos de pacientes psiquiátricos também apareceram. Todos esses experimentos e
observações, apesar de interessantes e valiosos, falharam em levar em consideração dois fatores
fundamentais, a saber, o papel do sistema nervoso central na músico-dinâmica e nos elementos
estruturais da música.

Várias estruturas cerebrais, como o hipotálamo, o tálamo e o cerebelo, além do encéfalo, tomam
parte não apenas na metamorfose do tom e do ritmo em música, mas também dando conteúdos
emocionais e mentais a isso. A compreensão da anatomia e fisiologia destas estruturas é portanto
indispensável. O hipotálamo exerce influência sobre tais processos fisiológicos como metabolismo,

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sono, ritmo, etc. Ele está conectado via caminhos nervosos com o tálamo e, através deste, com
outros centros cerebrais. Podemos ver então como a música pode influenciar o corpo, assim sendo
via tálamo e hipotálamo.

O tálamo é o centro cerebral sub-cortical feito de massa cinzenta, localizado abaixo do encéfalo. É a
principal estação de retransmissão de emoções, sensações e sentimentos. Acredita-se que até mesmo
sentimentos estéticos são retransmitidas pelo tálamo para o encéfalo. O tálamo é conectado ao
encéfalo via caminhos nervosos, e a estimulação deste afeta quase imediatamente o primeiro. Uma
vez que o estímulo chega no encéfalo, este envia impulsos de volta ao tálamo e então um circuito
reverberante é colocado em movimento. Este é um achado importante: existem pacientes
psiquiátricos (nervous and mental pacients) que não podem ser alcançados através da palavra falada
(isto é, pelo encéfalo), por que estes pacientes ou são desatentos, distraídos, confusos, deprimidos,
delirantes ou encontram-se num estado de ansiedade o qual torna o contato verbal próximo a
impossível. É precisamente aqui que a música torna-se útil. A música, que não depende do encéfalo
para ganhar acesso ao organismo, pode ainda emergir pela via do tálamo – o retransmissor de todas
as emoções, sensações e sentimentos. Uma vez sendo capaz de alcançar o tálamo, o encéfalo é
automaticamente invadido, e ao dar continuidade por certo tempo, um contato próximo entre o
encéfalo e o mundo real pode assim ser estabelecido.

Contato através da Música

Ao lidar com pacientes neuróticos e psicóticos, isto é muito importante: com o intuito de ser capaz
de iniciar a terapia, a remoção de estados de inatenção, ansiedade, tensão e humores mórbidos é
essencial. Este contato temporário que pode ser estabelecido com o paciente através da música vem
do fato que pacientes consideravelmente perturbados ou confusos responderão à música tanto
batendo o pé, mexendo o corpo ou balançando a cabeça. Tais respostas são conhecidas como
reflexos talâmicos. Quando o tempo da música é alterado pode-se observar que o tempo da batida
do pé, mesmo no mais confuso e perturbado dos pacientes, é afetado correspondentemente. O
fenômeno do reflexo talâmico é importante em outro aspecto; ele pode ser utilizado no estudo
objetivo dos efeitos da música sobre pacientes de saúde mental. Experiências clínicas indicam que o
estado de humor e o tempo mental de pacientes psicóticos pode ser influenciado mais prontamente
pela música se uma abordagem especial é empregada. Assim, quando um paciente está deprimido, a
música triste (em tons menores) irá capturar seu estado de espírito mais prontamente do que a
música alegre. A música alegre pode no início inclusive irritá-lo. Pacientes hipomaníacos, cuja
tonalidade emocional está aumentada e que pensam, falam e andam de forma acelerada, podem ser
mais facilmente capturados por músicas com o tempo rápido.

Somente após ter-se trabalhado “musicalmente” dentro do estado de espírito ou tempo do paciente é
que uma mudança para outro estado pode ser feita; isso, claro, pelo emprego de músicas especiais.
Esta manobra é conhecida como Princípio ISO. “ISO” significa simplesmente “igual”, isto é, o
tempo da música no início deve ter uma relação “ISO” com o estado ou tempo do paciente. O
Princípio ISO é estendido também ao volume e ao ritmo. Numa enfermaria barulhenta, por
exemplo, algumas vezes o volume da música é aumentado para superar o barulho.

No trabalho clínico com pacientes de enfermaria, onde encontra-se todo tipo e graus de psicose, é
importante alguma preparação para que o máximo de pacientes possa ser alcançado de uma só vez.
É uma prática no Eloise Hospital fazer um levantamento prévio na enfermaria antes da iniciação à
musicoterapia em grupo. Entre outras coisas, nestes levantamentos, o número de pacientes, o sexo,
a idade, a porcentagem de diferentes nacionalidades e o número de casos apresentando violência,
depressão e ansiedade é anotado. O propósito do levantamento é escolher a música certa para os

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pacientes na enfermaria. Assim, p. ex., se existem 15% de polacos, 10% de italianos e 70% de
americanos, a música é dispensada de acordo. Se existem, p. ex., 30% de deprimidos e 70% de
hiperativos, a música novamente é alocada proporcionalmente de acordo com o Princípio “ISO”.
Onde é conveniente, pacientes depressivos podem ser separados em certo local; arranjos similares
podem ser feitos para se trabalhar com diferentes nacionalidades, faixas etárias, etc.

Toda possível propriedade terapêutica inerente à música deveria ser utilizada. O instrumento e o
timbre possuem uma dada propriedade terapêutica. Sua natureza e efeito deveriam ser estudadas
futuramente. Instrumentos de corda são melhores para músicas tristes (sad music) e deveriam ser
usados no trabalho com pacientes depressivos em uma aproximação musical inicial. Os metais não
se adaptam a pacientes sensíveis ao som ou sofrendo de estados ansiosos. Combinações de
instrumentos podem também ser usadas. Consideramos o trio (violino, cello e piano) uma boa
combinação no trabalho com saúde mental.

Ordem de apresentação

Em adição à manobra “ISO”, a estratégia de abordagem por “graus” (“level” attacks) também é
praticada no Eloise Hospital na tentativa de captar a atenção, modificar o estado de humor (mood),
estimular o imaginário e a associação – passos fundamentais para iniciar a psicoterapia. Por certo
tempo, nós exercemos a seguinte ordem na exposição de nossos pacientes à música: começamos
com músicas onde há a predominância do ritmo; isso porque o ritmo, como é sabido, tem um forte
apelo às esferas instintivas e primitivas. O ritmo, com sua tensão (stress), duração e pausa, exercita
um efeito fisiológico e psicológico que difere dos da melodia. Esta última é apreendida como uma
entidade, e fortalece, portanto, efeitos inteiramente diferentes. A melodia é seguida pela harmonia, a
qual tem um efeito integrador e está conectada a influências cerebelares. O cerebelo, como
mencionado, é o centro da integração e coordenação, recebendo impulsos do ouvido e de todos os
músculos periféricos. O “acorde” sentido na harmonia é devido à influência do cerebelo
primariamente e ao córtex em segundo lugar. A próxima música executada tem a predominância de
um estado de espírito – triste ou alegre. A intenção é capturar o estado de espírito dos pacientes e
então transformá-lo para o tom emocional (emotional tone) desejado. Isto pode ser alcançado
executando antes uma música tristes e então uma alegre. Músicas de associação pictórica são
tocadas em seguida para estimular o imaginário e associações. Através de tais músicas fica
facilitada a rememoração de experiências passadas. A música deixa não só uma “memória” na
mente mas na esfera emocional em movimentos e músculos. É mais facilmente recordada pelo
paciente que qualquer outra coisa por estar mais firmemente implantada em seu sistema. Recordar
experiências passadas significa trazer de volta à mente dos pacientes realidades básicas. Estes grãos
de realidade agem como bóias, fazendo uma ponte entre a mente do paciente e o mundo externo.
Desta forma proporcionamos um efeito terapêutico especial, mesmo que este tenha vida curta. O
efeito temporário vem com a repetição de tal música todos os dias. No Eloise Hospital temos
sessões diárias em certas enfermarias nas quais a seqüência Ritmo, Melodia, Harmonia, Clima
(mood) e Associação pictórica estão incluídas na prescrição musical.

Antes da administração da prescrição citada, uma canção (theme song) é executada. O propósito
desta canção é atrair e induzir os pacientes a se juntar ao grupo que se encontra na enfermaria.

Compositores, que escreveram músicas, naturalmente não sabem que suas composições podem ser
utilizadas para fins terapêuticos. Não existem portanto formas musicais que sejam puramente
rítmicas, melódicas ou pictórico-associativas, mas existem composições que têm predominância de
um ou outro elemento. Assim, p. ex., a Marcha é ritmicamente dominante, enquanto o Intermezzo é
melódicamente dominante. Em Eloise nós temos catalogadas formas musicais de acordo com a

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predominância de certo elemento estrutural. No uso da abordagem por “graus” (level attacks) não se
busca afetar diferentes psicoses, mas os mesmos pacientes em seus diferentes níveis mentais
(mental levels).

A música é prazerosa por ser uma das poucas artes que ajudam a aliviar tensões instintuais e
emocionais. Esta capacidade da música pode ser traçada desde os animais inferiores. Neste nível de
vida, sons produzidos na temporada de acasalamento são de natureza mais “sociável” - atrair,
induzir, sugerir, ao invés de forçar. Ambos macho e fêmea, como mencionado, têm a oportunidade
de aliviar suas tensões emocionais pela produção de ritmos e sons. De certa forma, o animal
encontra uma auto-confiança considerável na execução de introduções musicais (process of making
musical overtures). Biologicamente, o canto de um pássaro é o primeiro passo para o processo de
acasalamento e gera assim auto-confiança. Entre os seres humanos, embora mais disfarçado, ainda
assim possui o mesmo intento. O canto de uma canção de amor por um jovem, mesmo sem a
presença de sua amada, oferece algum alívio emocional. O indivíduo apaixonado deve antes se
assegurar interiormente de que existe um objeto de amor, e cantar, fazer ou escutar música reforça
esta esperança.

O Eu, enquanto canta ou faz música, se expande e escutando e cantando identifica a si mesmo com
o mundo exterior, realidade, com o estético. O soldado no ataque gritando “Hurrah” expande seu
Eu, faz-se se sentir uma parte de seu grupo, e, assim, alivia seu medo.

A música tem sido sempre um grande fator de ajuda na sublimação do sensual, do agressivo e do
destrutivo. A sublimação é mais fácil com a ajuda da música pois ouví-la nos dá mais oportunidades
do que qualquer outra arte para ação muscular e motora – processos a não muito tempo removidos
dos padrões naturais de satisfação instintual. Não há restrições sociais impostas nem sentimento de
culpa no jitter-bugging ou no boogie-woogie, mesmo sendo sua natureza e manifestações
inconfundivelmente sensuais. Mesmo ouvindo uma sinfonia a libido encontra amplo espaço para
expressão e satisfação; isto sem que a pessoa esteja ciente. A frase de Shakespeare “Se a música é o
alimento do amor não parem de tocar. Dêem-me música em excesso; tanta que, depois de saciar,
mate de náusea o apetite”, ganha então um significado adicional.

O impulso narcisista (amar o próprio corpo) encontra ampla satisfação através da música,
especialmente pelo seu ritmo. O ritmo da música, que estimula o ritmo corporal, dá aos seres
humanos a oportunidade de sentirem-se não só mais integrados e organizados mas capazes de se
expressarem fácil e graciosamente.

A música tem a capacidade adicional de reconciliar os mais contrastantes e estranhos sentimentos.


É capaz de provocar e acalmar ao mesmo tempo. Levando-nos próximo ao espiritual sem, contudo,
nos separar do instintual.

A música, em adição às propriedades fisiológicas e psicológicas, possui propriedades que nenhum


outro agente ou mídia têm. Ela tem em si o estético e o espiritual, e, através do intérprete
(performer), o artístico. A música como pura arte sempre exerceu influência benéfica sobre as
pessoas normais. Sua influência não é diminuída entre neuróticos e psicóticos. Trazer ao paciente
boa música significa adicionar poder terapêutico. Nós insistimos, portanto, que sempre que possível
a música seja administrada por músicos hábeis e talentosos. A pureza da música é ainda mais
essencial que a pureza das drogas.

No futuro o músico será destinado a ter um importante papel no cuidado e tratamento das doenças
mentais, assim como na higiene mental. O musicoterapeuta terá de ser treinado em psicologia e
temas relacionados para assim poder estar mais integrado ao seu trabalho. O Michigan State

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College já deu passos nesta direção. Está oferecendo cursos de musicoterapia e um internato de três
meses no Eloise Hospital para graduação.

O músico do futuro será capaz de entender e atender prescrições musicais escritas pelo psiquiatra.
Ele combinará o papel do químico e do farmacêutico. Irá aderir ao seu papel tradicional de
intérprete artístico trazendo ao paciente as propriedades terapêuticas da música travestida em arte.

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