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Archives of Veterinary Science ISSN 1517-784X

v.22, n.3, p.30-39, 2017 www.ser.ufpr.br/veterinary

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE CICATRIZANTE DE PREPARADOS À BASE DE


JUCÁ (Caesalpinia ferrea Mart.)
(Evaluation n of healing activity preparation with basis of jucá (Cesalpinia ferrea
mart.)

Emanuelle Karine Frota Batista, Hebelys Ibiapina da Trindade, Ingrid dos Santos Farias, Fernanda Maria
Madeira Martins, Osmar Ferreira da Silva Filho, Maria do Carmo de Souza Batista

1Correspondência: emanuellefrota@yahoo.com.br

RESUMO: A Cesalpinia ferrea, conhecida popularmente como jucá, possui diversas


atividades farmacológicas comprovadas. Na região nordeste do Brasil está planta é
frequentemente usado no tratamento de feridas cutâneas, apresentando bons
resultados, o que desperta grande interesse nos estudos biotecnológicos e
farmacológicos dessa espécie. O objetivo desse estudo foi avaliar a atividade
cicatrizante da vagem de jucá (C. ferrea) isolada ou em associação com o açúcar,
na cicatrização de feridas cutâneas de coelhos. Foram utilizados 40 coelhos
(Oryctalagus cunicullus) adultos, divididos em cinco grupos: controle, pó das vagens
in natura, pó das vagens in natura acrescido de açúcar (1:1), jucá em pomada com
veículo glicerinado, e jucá acrescido de açúcar em pomada com veículo glicerinado,
administrados três vezes ao dia. Após anestesia dissociativa foi realizada a
confecção cirúrgica de feridas padronizadas, na dimensão de 2,5 cm2. Foram
realizadas avaliações clínicas diárias, análises macroscópicas e histopatológicas
das lesões nos dias três e dez após a confecção cirúrgica das feridas. Os
resultados revelaram que não houve diferença significativa entre os grupos com
relação ao tempo de cicatrização, porém o tratamento tópico com pomada
formulada com o pó oriunda da vagem de jucá promoveu um aumento significativo
da contração da área da lesão no terceiro e décimo dia.
Palavras-chave: jucá, lesão, cicatrização

ABSTRACT: The Caesalpinia ferrea, popularly known as jucá, has many proven
pharmacological activities. In northeastern Brazil this plant is often used to treat skin
wounds, with good results, which arouses great interest in the biotech and
pharmacological studies of this kind. The aim of this study was to evaluate the
healing activity of jucá pod (C. ferrea) alone or in combination with sugar, healing of
skin wounds in rabbits. 40 rabbits were used (Oryctalagus cunicullus) adults, divided
into five groups: control, the pods powder fresh, pod powder in natura added sugar
(1: 1), jucá ointment with glycerin vehicle, and jucá plus sugar glycerin ointment
vehicle, administered three times a day. After anesthesia was dissociative
manufacture of surgical wounds standardized in size 2,5 cm2. Daily clinical,
macroscopic and histological analyzes of lesions in three ten days after the surgical
preparation of the wounds were made. The results showed no significant difference
between the groups regarding the healing time, but topical treatment with ointment
formulated with the powder coming from jucá pod caused a significant increase in
the lesion area of the contraction in the third and tenth day.
Key Words: wound healing, jucá, injury

Recebido em 28/01/2017
Aprovado em 10/11/2017
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Batista et al.. (2017)

INTRODUÇÃO Kede, 2009; Demidova-Rice et al., 2012;


Flanagen, 2013).
A pele caracteriza-se como uma Embora não se possa acelerar o
barreira protetora ao exterior, e quando processo de cicatrização, existem vários
ocorrer qualquer ruptura, essa deve ser fatores, locais e sistêmicos, que afetam
rápida e eficientemente reparada. Ferida adversamente a cicatrização das feridas
é toda e qualquer solução de como idade, estado fisiológico,
continuidade da pele, geralmente condições nutricionais, temperatura e
produzida por ação traumática externa. principalmente pela instituição ou não
A cicatrização é o processo pelo qual de medidas terapêuticas adequadas
um tecido lesado é substituído por (Mandelbaum et al., 2003; Neto, 2003;
tecido conjuntivo vascularizado, para Rushton, 2007; Borges, 2008).
que haja restauração da função e da A utilização de plantas medicinais
continuidade anatômica deste tecido e produtos naturais é uma prática
(Diegelmann e Evans, 2004; Melo et al., comum no país e representa uma
2009; Panobianco et al., 2012). grande possibilidade de descoberta de
A cura ou reparação de feridas substâncias que possam influenciar
corresponde ao processo de positivamente o processo cicatricial,
cicatrização, que pode ocorrer por sobretudo reduzir a fase inflamatória,
primeira intenção (união imediata das que é a que ocasiona mais desconforto
bordas) ou por segunda intenção (as ao paciente (Veiga Júnior et al., 2005).
bordas ficam separadas) havendo a No processo de cicatrização de feridas,
necessidade de neoformação tecidual, o sua utilização não se difere, elas são
qual é chamado de cicatricial (Rushton, mencionadas desde a pré-história,
2007). A cicatrização de feridas é um quando eram utilizados plantas e
processo que envolve eventos celulares, extratos vegetais, na forma de
fisiológicos e bioquímicos de modo a dar cataplasmas, com o intuito de estancar
resposta à lesão do tecido. Este hemorragias e favorecer a cicatrização,
processo compreende três fases, são sendo muitas dessas plantas ingeridas,
elas: inflamação, proliferação e para atuação em via sistêmica (Silva e
remodelação (Pryde, 2003; Velnar et al., Mocelin, 2007).
2009; Demidova-Ricen et al., 2012). O emprego de plantas medicinais
A fase inflamatória inicia logo na recuperação de feridas tem evoluído
após a lesão, havendo liberação de ao longo dos tempos desde as formas
mediadores que dão início ao processo mais simples de tratamento local
de reparo, com migração de leucócitos e (provavelmente utilizada pelo homem
plaquetas que aderem aos vasos das cavernas) até as formas
sanguíneos danificados, iniciando uma tecnologicamente sofisticadas da
reação hemostática. Em seguida inicia- fabricação industrial utilizadas pelo
se a fase proliferativa ou granulação, em homem moderno (Lorenzi e Matos,
que ocorre a epitelização (migração de 2002). Como as perdas de pele nos
células epiteliais sobre a área lesada), animais são muito frequentes e oriundas
neovascularização, produção de de diferentes causas, é importante
colágeno pelos fibroblastos e contração diversificar as opções de tratamento a
da ferida. Por último, sucede a fase fim de se obter condições específicas
remodelação, que dura meses e tem para cada situação (Oliveira et al.,
como meta a melhoria nos componentes 2010).
das fibras colágenas e a reabsorção de A espécie Caesalpinia ferrea
água para aumentar a força da cicatriz e Mart. pertence à família Fabaceae. É
diminuir sua espessura (Pryde, 2003; uma espécie nativa do Brasil,

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principalmente na região Amazônica e Em relação ao uso terapêutico do


caatinga nordestina, conhecida açúcar, suas primeiras indicações
popularmente como jucá, pau-ferro, clínicas foram descritas na antiguidade
ibirá-obi, muirá-obi, muiré-itá (Souza, com o uso do mel ou do melado (Prata
2007). Há pesquisas comprovando a et al., 1988). As ações obtidas com o
utilização desta planta como emprego do açúcar em feridas são:
antibacteriano e antifúngico (Lima et al., oferta de nutrição às células lesadas,
1997; Ximenes, 2004), como a diminuição do odor exalado, drenagem
antiulcerativa (Bacchi e Sertié, 1994; de exsudação, redução do edema
Bacchi et al., 1995), analgésica e anti- inflamatório, diminuição do pH, dilatação
inflamatória (Carvalho et al., 1996) e dos pequenos vasos sanguíneos,
antibacteriana (Sampaio et al., 2009). formação de uma camada protetora de
Os frutos são utilizados como proteína, liberação de calor ao dissolver-
antidiarréicos, anticatarrais e se, atração de macrófagos reduzindo a
cicatrizantes e as raízes são necessidade de debridamento cirúrgico
antipiréticas (Maia, 2004). Seu uso e estimulação dos tecidos de
também é relatado para afecções granulação e epitelial (Mathews e
bronco-pulmonares, diabetes, Binnington, 2002). Também possui
reumatismo, câncer, distúrbios efeito benéfico no tratamento de feridas
gastrintestinais, diarréia, inflamação e infectadas devido ação bactericida ou
dor (Nakamura, 2002; Frasson et al., bacteriostático, além das propriedades
2003; Gomes, 2003). supracitadas (Petrucci et al., 2009).
Avaliando a ação cicatrizante de Considerando que o jucá e o
Caesalpinia férrea, Oliveira et al. (2010) açúcar são popularmente empregados
observaram que as feridas tratadas com na cura de ferimentos, este estudo foi
o pó da casca desta planta conduzido com o objetivo de avaliar
apresentaram processo de cicatrização macroscópica e microscopicamente o
mais acelerado que o grupo controle, efeito do pó e pomada formulada a partir
tratados com vaselina, pela análise da vagem da planta, isoladamente e em
histológica. Também em modelo associação com o açúcar, na
experimental, foi testada a ação anti- cicatrização de feridas de coelhos, por
inflamatória do extrato etanólico do fruto segunda intenção.
de C. ferrea, com inibição do edema na
orelha induzido com xileno, com MATERIAL E MÉTODOS
resultado de 66,6% comparado a 16,4%
do grupo controle (Lima et al., 2011). Na No Centro de Ciências Agrárias
região nordeste do Brasil o pó da casca (CCA) da Universidade Federal do Piauí
de C. ferrea,é frequentemente usado no (UFPI), a pesquisa foi desenvolvida
tratamento de feridas cutâneas, utilizando-se coelhos como modelo
apresentando bons resultados, o que animal para a abordagem sobre a
desperta grande interesse nos estudos cicatrização.
biotecnológicos e farmacológicos dessa
espécie (Ximenes, 2004). Animais
A análise química das folhas e
caule de C. ferrea, demonstrou a Foram utilizados um total de 40
presença de flavonóides, saponinas, coelhos (Oryctalagus cunicullus)
taninos, esteróis e compostos fenólicos machos adultos, sem padrão racial
(Gonzalez et al., 2004; Oliveira et al., definido, com peso variando entre três a
2010). cinco quilogramas, distribuídos
aleatoriamente em cinco grupos de oito

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animais, mantidos em condições Cada formulação foi


uniformes de manejo, recebendo ração acondicionada em recipiente plástico
balanceada e água ad libidum, além de esterilizado contendo cânula para
uma suplementação com capim elefante facilitar a administração.
napier e alface. O experimento recebeu
parecer favorável do Comitê de Ética Confecção das feridas experimentais
em Experimentos com Animais da UFPI,
número 095/2010 (CEEA-UFPI). Após a montagem do
delineamento experimental, realizou-se
Coleta da vagem de Jucá a confecção das feridas pelo método
cirúrgico, mediante prévia anestesia
As vagens de jucá foram colhidas dissociativa utilizando-se cetamina
no Campus da UFPI. A espécie foi associada à xilazina (30 mg/kg com
identificada como Caesalpinia ferrea 4mg/kg, respectivamente), por via
Mart. A exsicata recebeu o número intramuscular. Após a anestesia dos
TEPB: 3447 e foi depositada no herbário animais selecionou-se a região dorso-
Graziela Barroso –UFPI. lateral direita da linha media dorsal
Para a obtenção do pó de jucá, realizando-se tricotomia. As feridas
as vagens da planta foram colhidas, foram demarcadas usando-se um molde
levadas ao Laboratório de Ciências de esparadrapo com 2,5 cm2 e
Fisiológicas do Departamento de produzidas cirurgicamente, retirando-se
Morfofisiologia Veterinária do CCA- a pele e tecido subcutâneo.
UFPI, lavadas em água corrente e
imersas em solução de hipoclorito de Tratamento das feridas
sódio a 2% por 10 minutos e
posteriormente dessecadas ao sol Decorridas 24 horas após a
durante dois dias. A seguir foram cirurgia, iniciou-se o tratamento tópico
fragmentadas e trituradas em moinho das feridas, conforme o delineamento
elétrico, passadas em peneira de malha detalhado no Quadro 1.
fina para obtenção do pó, utilizado como
matéria prima para a confecção das
pomadas.

Preparo das formulações

As formulações, descritas abaixo,


foram preparadas em ambiente
laboratorial, utilizando-se glicerina Avaliação macroscópica
líquida como veículo para produção das
pomadas. A avaliação macroscópica do
Pó 1: sólido pulverizado oriundo das processo cicatricial foi feita pela
vagens de jucá in natura. observação diária das feridas,
Pó 2: sólido pulverizado oriundo das verificando-se a ocorrência de
vagens de jucá in natura acrescido hiperemia, exudação e aspecto da
açúcar granulado (2:1). crosta (Martins 2010; Batista et al.,
Pomada 1: vagem de jucá em pó (24g), 2014), considerando a ferida cicatrizada
glicerina qsp 100g. quando ocorreu o fechamento total da
Pomada 2: vagem de jucá em pó (16 pele.
g), açúcar granulado (8g), glicerina em Para avaliar a progressão da
qsp 100g. cicatrização e o efeito do tratamento

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sobre a fase mais crítica, que é a Análise estatística


inflamatória, procedeu-se a mensuração
da área das feridas com o auxílio de um Utilizou-se a análise de variância
paquímetro nos dias 0 (imediatamente (Anova) e o teste de Tukey ao nível de
após a cirurgia), 3, 10 e 17 de pós- 5% de probabilidade, para avaliar o
operatório e para calculá-la utilizou-se a tempo final de reparação das lesões
equação descrita por Prata et al. (1988): (expresso em dias) e os percentuais de
A = .R.r, onde “A” significa a área, “R” contração das feridas (expressos em
o raio maior e “r” o raio menor da ferida. média ± desvio padrão). A análise
A contração da ferida foi avaliada por estatística dos parâmetros histológicos
meio da seguinte fórmula: (área inicial – foi realizada pelo método não
área do dia da medida) ÷ pela área paramétrico de Kruskal-Wallis com
inicial × 100 = percentual de contração significância de 5%.
do dia (Agren et al., 1997). Todas as
medidas foram aferidas pelo mesmo RESULTADOS E DISCUSSÃO
operador e o percentual de contração da
ferida foi expresso como grau de O estudo macroscópico do efeito
reparação tissular. das formulações com a vagem de jucá
(Caesalpinia férrea), com e sem a
Avaliação histopatológica adição de açúcar, nos diferentes
esquemas de administração, na
Nos dias 3 e 10 após a cirurgia terapêutica tópica de feridas cutâneas,
foram retirados fragmentos de dois consistiu-se na observação clínica diária
animais de cada grupo para avaliação das lesões e mensuração da área das
histopatológica das lesões, sendo que feridas.
os animais utilizados na coleta de Na avaliação clínica diária das
material, para estudo microscópico não feridas foram observados edema,
foram contados na análise do tempo hiperemia e formação de crostas em
final de cicatrização, uma vez que suas todos os grupos, no terceiro dia após a
lesões foram ampliadas. Os fragmentos cirurgia, entretanto, os sinais de
retirados foram fixados em formol exsudação foram menos evidentes nos
tamponado a 10% (pH 7) por período de grupos tratados com as formulações em
24 horas, desidratados em álcool, pó. A utilização de jucá (C. ferrea) no
diafanizados em xilol, incluídos em tratamento de feridas cutâneas mostra-
parafina, cortados em 5 μm. Foram se benéfico, principalmente nos
preparadas duas lâminas para cada primeiros dias de pós-operatório, devido
animal, as quais foram coradas pelas à formação de uma crosta escura
técnicas de Hematoxilina-Eosina e aderindo toda lesão, favorecendo a
Tricrômico de Masson. O campo reparação tecidual.
histológico de cada lâmina foi avaliado Essa formação de crosta
através dos critérios: inflamação aguda, possivelmente pode ser explicada pela
inflamação crônica inespecífica, riqueza de taninos na sua composição,
proliferação fibroblástica, colagenização que promove proteção física impedindo
e reepitelização da ferida. A a penetração e multiplicação de
quantificação de cada variável microrganismo do meio externo no leito
observada seguiu o esquema: ausente da ferida, assim como a perda de água
= 0, discreta = 1, moderada = 2 e e calor do tecido de granulação
acentuada = 3. (Monteiro, 2003; Gonzalez et al., 2004).
Segundo Andrade (2006), a presença
de crosta em uma ferida não é pré-

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requisito para a cicatrização podendo que este não influenciou


apresentar vantagens e desvantagens significativamente o processo cicatricial,
para a evolução do processo cicatricial, pois não houve diferenças significativas
funcionando como barreira física, entre as formulações (Tabelas 1 e 2).
protegendo de contaminação e servindo Quanto às análises histológicas,
de bandagem natural, mas podendo não foram observadas diferenças
apresentar um aspecto seco e retardar a significativas entre grupos, ao longo do
contração da pele durante o processo período experimental. Esses dados
de cicatrização. corroboram com Fernandes (2013), que
A análise geral do tempo médio não observou diferenças histológicas
de cicatrização mostrou que os nas feridas tratadas com jucá quando
preparados com a vagem de jucá, com comparadas ao grupo controle.
e sem a adição de açúcar não Entretanto, Oliveira et al. (2010)
influenciaram significativamente o tempo observaram que as feridas do grupo
final de cicatrização de feridas limpas de controle, tratadas com vaselina,
coelhos, por segunda intenção (Tabela necessitavam de maior tempo para
1). cicatrização em relação as feridas
tratadas com jucá aos 21 dias de
tratamento.
Observou-se que a proliferação
vascular foi mais uniforme no grupo
tratado com a pomada 1 (formulada com
o pó da vagem em veículo de glicerina)
Analisando-se a evolução do no terceiro dia e perdurou até o décimo
processo de cicatrização através do dia. Os vasos sanguíneos oriundos da
percentual de inibição da área da lesão, angiogênese, que tem como
calculado a partir da mensuração da consequência a formação do tecido de
área das feridas no terceiro, décimo e granulação. Esse processo de
décimo sétimo dia após a cirurgia, neovascularização ocorre para
verificou-se que ocorreu redução restabelecer o fluxo sanguíneo e
gradual em todos os grupos, porém nos consequentemente a oxigenação no
grupos tratados com as pomadas a local da ferida, sendo esses novos
redução foi mais acentuada, sobretudo vasos um dos primeiros constituintes do
no grupo 4, tratado com a pomada 1 tecido de granulação (Berry e Sullins,
(Tabela 2), o qual diferiu 2003; Neto, 2003; Werner e Grose,
significativamente do grupo controle. 2003; Kumar et al., 2005).
Em todos os grupos tratados com as A proliferação fibroblástica
formulações contendo jucá, com e sem também foi mais uniforme no grupo
açúcar, ocorreu aumento numérico da tratado com a pomada 1, com achados
contração da área cruenta, se variando de moderado a acentuado, no
comparado ao controle (Tabela 2). décimo dia de tratamento. No grupo
controle, a proliferação fibroblástica
mostrou-se discreta em todos os
períodos de observação. A
reepitelização foi uniforme nos grupos
tratados com as pomadas 1 e 2. As
fibras colágenas estavam aumentadas
em todos os grupos, no décimo primeiro
Com relação ao efeito do açúcar dia de avaliação, ocorrendo de forma
nas formulações com jucá, observou-se

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mais organizada nos tratamentos com observações realizadas no terceiro dia e


as pomadas 1 e 2. décimo dia após a confecção das
Resultados semelhantes foram feridas. Este fato reveste-se de
observados por Soares et al. (2013), importância, visto que, atualmente,
que trataram topicamente ratos winstar busca-se estratégias terapêuticas que
com pomadas a base de jucá a 10% e minimizem a fase inicial de cicatrização,
observaram grande quantidade de que é a fase inflamatória do processo,
neovasos, presença de discreta crosta aquela que causa mais desconforto ao
fibrino leucocitária e de infiltrado paciente.
leucocitário. Oliveira et al. (2010)
avaliaram a ação cicatrizante de REFERÊNCIAS
pomada a base de jucá em caprinos e ANDRADE, L.S.S. Avaliação
constataram completo processo de terapêutica das pomadas do
reepitelização, com tecido conjuntivo
polissacarídeo Anacardium
apresentando grande quantidade de Occidentale L. e do extrato em pó da
fibroblastos ativos, fibras colágenas Jacaratia corumbensis O. kuntze em
melhor organizadas e pequena feridas cutâneas produzidas
quantidade de vasos sanguíneos. experimentalmente em caprinos
A proliferação endotelial e (Capra Hircus L.) Aspectos clínicos,
fibroblástica ocorrem com a formação bacteriológicos e histopatológicos.
do tecido de granulação, que depende 2006. 85p. Tese (Doutorado em Ciência
das linfocinas, que vão estimular células Veterinária – Departamento de Medicina
endoteliais, fibroblastos e macrófagos, Veterinária), Universidade Federal rural
entre outras substâncias (Neto, 2003; de Pernambuco.
Sarandy, 2007).
O tratamento tópico com BACCHI, E.M.; SERTIÉ, J.A.A. Antiulcer
preparações à base do pó da vagem de action of Styrax comporum and
jucá, sobretudo com pomada onde o pó Caesalpinia ferrea in rats. Planta
foi incorporado em veículo glicerinado, Médica, v. 60, p.118-120, 1994.
com e sem adição de açúcar, BACCHI, E.M. et al. Antiulcer action and
desencadeia um processo cicatricial toxicity of Styrax comporum and
esteticamente mais organizado, menos Caesalpinia ferrea. Planta Médica, v.
hiperêmico e exsudativo, indicando que 61, n. 3, p.204-207, 1995.
intervém beneficamente no processo
cicatricial, minimizando eventos da fase BATISTA, E. K, F. et al. Avaliação do
inflamatório. efeito de formulações com o látex da
Euphorbia tirucalli na terapêutica tópica
CONCLUSÃO de feridas cutâneas: aspectos clínicos e
histopatológicos. Medicina Veterinária,
Este estudo permitiu concluir que Recife, v.8, n.2, p.1-11, 2014.
a aplicação tópica da vagem de jucá, BERRY, D. B.; SULLINS, K. E. Effects
três vezes ao dia, nas formulações em of topical application of antimicrobials
pó e pomada, com e sem açúcar and bandaging on healing and
granulado, não reduz significativamente granulation tissue formation in wounds
o tempo de cicatrização, por segunda of the distal aspect of the limbs in
intenção, em feridas limpas de coelho. horses. American Journal of
Porém a pomada formulada com o pó Veterinary Research, v.64, p.88–92,
da vagem a 24% produz aumento 2003.
significativo do percentual de contração
da área cruenta, fato constatado nas BORGES, E. L. Evolução da
cicatrização. In: BORGES, E. L.; SAAR,

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