Você está na página 1de 4

AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS

CUTÂNEAS TRATADAS COM PRÓPOLIS

Valéria Adriano Vieira1, Antonio C. G. Prianti Jr. 1, Wellington Ribeiro1,


Rodrigo A. B. Lopes Martins1, José Carlos Cogo1, Miguel Angel Castilho
Salgado2

1- Laboratório de Fisiologia e Farmacodinâmica - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento - IP&D


II - Universidade do Vale do Paraíba - Av. Shishima Hifumi, 2911- Ubanova - 12244-000- São
José dos Campos - SP- Brasil. valeria-v@bol.com.br
2- Laboratório de Histologia da Faculdade de Odontologia - Universidade Estadual Paulista Júlio
Mesquita Filho - UNESP - Av. Eng. F. J. Longo, 777 - São José dos Campos-SP- Brasil. e-mail:
miguel@fosjc.unesp.br

Palavras-chave: Própolis, Cicatrização de Feridas


Área do Conhecimento: Ciências Biológicas

A própolis possui diversas atividades farmacológicas relatadas como, antimicrobiana, antifúngica,


antiprotozoária, antioxidante, cicatrizante e outras. Sabendo-se da ação cicatrizante da própolis
definiu-se como objetivo do presente trabalho fazer uma avaliação histológica do processo de
cicatrização de feridas cutâneas induzidas em ratos e tratadas com própolis a 10%. Para
realização deste trabalho foram utilizados 12 ratos Wistar machos, divididos aleatoriamente em
dois grupos de seis animais cada. As feridas foram realizadas no dorso de cada animal utilizando
punch de 8mm de diâmetro. Receberam tratamento de acordo com o grupo: Grupo tratado (T) com
pomada de própolis a 10% e Grupo controle (C) sem tratamento. Os animais foram sacrificados no
fim dos períodos experimentais de 03 e 07 dias, e feita a ressecção do local da ferida cirúrgica
para estudo histológico. Na avaliação microscópica avaliou-se: grau de epitelização, a intensidade
da reação inflamatória local, presença de tecido de granulação e neovascularização. Os resultados
constataram que o grupo tratado com própolis apresentou um processo de reparo mais evoluído,
demonstrando a eficiência da pomada de própolis a 10% no processo de cicatrização.

INTRODUÇÃO
O processo de cicatrização tem sido objeto (PARK, Y. K. et al., 1998, PEREIRA, A. S. et
de estudo com a finalidade de esclarecer al., 2002).
aspectos da neoformação tecidual e, A Própolis é uma resina produzida pelas
também, avaliar a ação de medicamentos de abelhas, misturando substâncias coletadas
uso sistêmico ou tópico sobre as feridas de diferentes partes das plantas, como
(CARVALHO, P. et al., 1991). brotos, botões florais e exudados resinosos
De alguns anos para cá, a literatura científica com as secreções produzidas em seu
vem relatando atividades farmacológicas da organismo, dando origem a um material de
própolis, como por exemplo: as coloração e consistência variada, utilizado-a
antimicrobiana, antifúngica, antiprotozoária, para fechar pequenas frestas, embalsamar
antioxidante, anti-flamatória dentre outras insetos mortos no interior da colméia e
proteger contra a invasão de insetos e
microrganismos (GHISALBERTI, 1979). naturais sendo amplamente utilizada pelos
Somente nos últimos 40 anos tem havido assírios, gregos, romanos, incas e egípcios.
interesse em se estudar a composição Na dermatologia é ainda utilizada na
química da própolis, relacionando suas cicatrização de ferimentos, eczemas,
propriedades farmacológicas (MARCUCCI, dermatite de contato, úlceras externas,
M. C., 1996). psoríase, lepra, herpes simples, zoster
Assim a própolis pode ser considerada como genitalis e pruridos dermatófilos
um dos mais eficientes medicamentos (MARCUCCI, M. C., 1996).
meio de análise histológica as modificações
teciduais do processo de cicatrização.

OBJETIVO MATERIAL E MÉTODOS

Através da aplicação tópica da própolis em


feridas cutâneas propõe-se verificar, por
Para a realização deste estudo foram da lesão cirúrgica. As feridas excisionais
utilizados 12 ratos Wistar (Rattus norvegicus foram padronizadas medindo 8mm de
albinus, Rodentia mammalia) adultos jovens, diâmetro no dorso de cada animal. Todos os
machos, variando entre 200 a 250g, animais foram sacrificados com uma
provenientes da ANILAB – Animais de overdose intramuscular de anestésico geral
Laboratório e Comércio LTDA. Zoletil® 50 e deslocamento cervical, ao
Os animais foram alojados no Biotério do término dos períodos experimentais. Foi feita
Serpentário da Universidade do Vale do a ressecção do local da ferida com uma
Paraíba – UNIVAP, mantidos no pré e pós- margem de 0,5 mm de cada lado. Esse
cirúrgico em gaiolas individuais, etiquetadas fragmento de pele foi fixado em solução de
de acordo com o tratamento, forradas com formol a 10% por um período mínimo de 48
maravalha especial para laboratório e horas e as peças foram processadas para
trocadas diariamente. Estes foram inclusão em parafina. Posteriormente o
alimentados com ração padronizada Labina® material foi submetido à microtomia e os
e água " ad libitum ". As condições cortes histológicos foram corados por uma
ambientais de temperatura, umidade e solução de hematoxilina-eosina (HE) para a
luminosidade foram mantidas sob controle. análise morfológica da cicatrização.
Os 12 animais foram divididos aleatoriamente O procedimento cirúrgico foi realizado no
em dois grupos de seis e cada grupo Laboratório do Serpentário e os cortes
subdividido em dois grupos de três animais, histológicos foram preparados e corados no
recebendo tratamento duas vezes ao dia e Laboratório de Histologia da Faculdade de
sacrificados no fim do período experimental Odontologia, de São José dos Campos da
de 03 e 07 dias respectivamente. Universidade Estadual de São Paulo -
O procedimento cirúrgico nos 12 animais foi UNESP.
realizado sob anestesia geral, com injeção Estes cortes histológicos foram analisados
intramuscular de Zoletil® 50 (Virbac S. A), no em microscópio óptico, avaliando-se o grau
membro posterior direito do animal com uma de epitelização, a intensidade da reação
dosagem de 0.1ml/100g de peso. Os animais inflamatória local, presença de tecido de
foram colocados em decúbito ventral, em granulação e neovascularização.
seguida foi feita a tricotomia do dorso na área
Análise Microscópica

RESULTADOS

A análise microscópica do período exsudato fibrinoso intensamente permeado


experimental de três dias, mostrou presença por leucócitos polimorfonucleares de maneira
de uma crosta superficial formada por semelhante nos grupos (T) e (C) (Fig.1A;
2A). No tecido conjuntivo da derme plasmócitos (Fig. 2A). No período
observou-se que o grupo (T) apresentou uma experimental de sete dias, no grupo controle
reação inflamatória mais concentrada na observou-se a presença da crosta na
derme papilar, neovascularização acentuada superfície, não ocorrendo a re-epitelização
com presença de vasos congestos, da lesão (Fig. 2B). Resultado semelhante foi
acentuada quantidade de tecido de observado no grupo (T), entretanto em
granulação de celularidade mista alguns espécimes deste grupo a migração
predominantemente mononuclear epitelial foi mais acentuada (Fig. 1B). O
caracterizada pela presença de fibroblastos tecido conjuntivo subjacente mostrou uma
jovens (Fig. 1A). No grupo (C) a reação inflamação moderada nos grupo (C) e (T),
inflamatória mostrou-se com moderada porém observou-se maior número de
intensidade apresentando vasos congestos, fibroblastos e de matriz extracelular nos
neovascularização e tecido de granulação de animais tratados com própolis (Fig.1B).
celularidade mista predominado linfócitos e

(A) (B)

Figura 1 - Fotomicrografia da região da ferida cirúrgica de ratos tratados com Própolis. (A) Período
experimental de 03 dias (!) crosta formada por exsudato fibrinoso (!) vaso dilatado e congesto
(B). Período experimental de 07 dias (!) Re-epitelização (!) Vaso fino. H-E. 100x.

(A) (B)

Figura 2 - Fotomicrografia da região da ferida cirúrgica de ratos do grupo controle. (A) Período
experimental de 03 dias (!) observar a crosta formada pelo exsudato fibrinoso permeado por
leucócitos polimorfonucleares (") vaso dilatado e congesto. (B) Período experimental de 07 dias
(!) crosta formada por exsudato fibrinoso (") vaso dilatado e congesto. H-E. 100x.
CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos pela metodologia empregada, conclui-se que:


- O grupo controle desenvolveu um processo de reparação dentro dos parâmetros descritos na
literatura.
- O grupo tratado com própolis a 10% mostrou melhores resultados, evidenciando um processo de
reparo tecidual mais evoluído, considerando o maior numero de fibroblastos e matriz extracelular
do que o apresentado no grupo controle.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, P. S. R., TAGLIAVINI, D. G., TAGLIAVINI, R. L. Cicatrização cutânea após aplicação


tópica de creme de calêndula e da associação de confrei, própolis e mel em feridas infectadas:
Estudo Clínico e Histológico em Ratos. Rev. Ciênc. Bioméd., São Paulo, v. 12, p. 39-50, 1991.

COTRAN, R. S., KUMAR, V., COLLINS, T. Robbins Patologia Estrutural e Funcional. 6ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan , 2000. p. 44-99.

GHISALBERTI, E. L. Propolis: A Review. Bee World, 60, p. 59-84, 1979.

MARCUCCI, M. C. Propriedades Biológicas e Terapêuticas dos Constituintes Químicos da


Própolis. Quím. Nova, v. 19, p. 529-536, 1996.

PARK, Y. K. et al. Determinação das Atividades Citotóxica e Anti-HIV dos Extratos Etanólicos de
Própolis Coletadas em Diferentes Regiões do Brasil. Rev. Mensagem Doce, 56, p. 2-4, 2000.

PEREIRA, A. S., SEIXAS, F. R. M. S., AQUINO NETO, F. R. Própolis: 100 anos de


pesquisa e suas perspectivas futuras. Quím. Nova, v.25, nº.2, p.321-326. 2002.

Você também pode gostar