Você está na página 1de 3

NEWSLETTER QUEM SOMOS CONTATO ANUNCIE REDES SOCIAIS

Buscar
ESTEVAN
RODRIGUES GUIAS
VILHENA DE
NOTÍCIAS PLANOS DE AULA ETAPAS E DISCIPLINAS VAGAS E OPORTUNIDADES SALA DE AULA REVISTA DIGITAL VÍDEOS ALCANTARA

NOVA ESCOLA
Nesta área você encontrará todo o acervo da revista de maneira organizada e em formato digital

Sala de Aula | História | 6º ao 9º ano | Sala de aula

A pátria além do hino e da EDIÇÃO 282


bandeira
Documentos e narrativas ajudam a formar um
olhar crítico sobre a independência do Brasil

A edição de 17 de agosto de 1822 do Correio do Rio de Janeiro trazia na primeira página o Manifesto do
Príncipe Regente do Brasil aos Governos e Nações Amigas. No documento, D. Pedro I discorria sobre as
razões do rompimento de nitivo que ocorreria semanas depois, em 7 de setembro. O então príncipe
regente do Brasil criticava a ambição portuguesa na exploração das terras descobertas por Cabral, os
pesados impostos da coroa sobre a extração do ouro e as "leis tirânicas" que amarravam a colônia a um
severo sistema econômico de servidão à metrópole.

Os tempos eram de agitação: proprietários rurais, burocratas, membros da Justiça e comerciantes que
haviam se bene ciado da recente abertura dos portos pressionavam pela independência, revoltas
separatistas eclodiam por toda a colônia e a escravidão ainda era realidade para mais de um milhão de
negros em 1819.

Diante da quantidade e da complexidade de atores e processos, orientar os alunos para ter uma visão
crítica dos acontecimentos não é fácil. A escola tende a ensinar uma história cívica, herança da Educação
nacionalista do século 19, quando o Brasil Império buscava construir sua identidade. Por isso a bandeira e
o grito às margens do Ipiranga são referências do tempo em que os atuais professores de História
sentavam nos bancos escolares e marcam o imaginário coletivo, exigindo desmisti cação. "Hoje, o
objetivo deve ser entender como as narrativas da independência foram construídas e chegaram até nós",
diz Juliano Sobrinho, professor de História na Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo.

Com essa preocupação, o professor Luiz Paulo Lima analisou diversos discursos antigos e atuais com a
turma do 8º ano da EM Ceará, na zona norte do Rio de Janeiro.

O HOMEM POR TRÁS DA ESPADA

Embora na iconogra a ele apareça como herói nacional e grande líder militar, vale ressaltar que D.
Pedro I era um chefe de Estado com imensas di culdades de governar. Do ponto de vista
institucional, o imperador tinha somente o Poder Moderador, cuja atribuição era mediar con itos.
Porém, na prática, acumulava também o Poder Executivo, responsável pelas decisões
administrativas.

As narrativas da História

O docente começou projetando uma série de pinturas que retratam a América portuguesa e a família real,
que vivia no Rio de Janeiro desde 1808. Além de obras clássicas, como Independência ou Morte (1888), de
Pedro Américo (1843-1905) e A Proclamação da Independência (1844), de François-René Moreaux (1807-
1860), Lima escolheu aquarelas menos conhecidas. Jovens Negras Indo à Igreja para Serem Batizadas
(1821) e Tribo Guaicuru em Busca de Novas Pastagens (1823), ambas de Jean-Baptiste Debret (1768-
1848), mostram a situação de negros e índios. Também foram analisados diferentes retratos de D. Pedro I.

"Que tipos de pessoas estão representados? Em que lugares? Como são suas vestimentas? O que fazem? A
partir dessas perguntas básicas, os alunos conseguem descrever as imagens e notar diferenças entre
elas", conta Lima. "Também lemos artigos de jornais da época para observar que não existe uma única
versão dos fatos", completa.
O professor acrescentou narrativas concebidas no presente, como os sambas-enredo da Imperatriz
Leopoldinense: João e Marias (2008) narra a chegada da família real ao Brasil; Leopoldina, a Imperatriz
do Brasil (1996) fala sobre a princesa austríaca que se casou com o imperador. "Os alunos se identi cam
muito com essa escola de samba. Muitos moram próximo à quadra e os pais des lam por ela no
Carnaval", comenta.

Divididos em grupos, os estudantes compararam as pinturas antigas aos discursos dos sambas sobre os
mesmos acontecimentos. Puderam pesquisar mais detalhes em livros didáticos, dicionários e na internet
e, em seguida, apresentaram as conclusões à sala.

Durante a atividade, notaram os diferentes pontos de vista registrados nos materiais analisados. Um
exemplo: o samba-enredo de 1996 dá a entender que a Imperatriz Leopoldina in uenciou D. Pedro I a
proclamar a independência, mas ela nem sequer aparece nos quadros da época ou nos artigos de jornais
analisados. "Se o professor proporciona uma re exão sobre como a história é construída, os alunos são
levados a criticar os documentos. Não é interessante usá-los apenas para ilustrar as falas", aponta
Sobrinho.

INDEPENDÊNCIA PARA QUEM?

Apesar do clima de festa e libertação de alguns registros históricos, a vida no Brasil Império era
marcada pelo autoritarismo. Após a independência, a escravidão foi mantida. Não havia liberdade de
imprensa, pouquíssimas pessoas tinham direito a voto e a relação entre os poderes era tensa. Em
1824, D. Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte e outorgou a primeira Constituição brasileira.

O imaginário da independência

Levante a espada quem nunca ouviu falar que a bandeira brasileira traz o verde das nossas matas e o
amarelo do nosso ouro ou jamais celebrou o 7 de Setembro no pátio da escola. No Ensino Fundamental 1,
as aulas de História ainda são muito atreladas às datas comemorativas. "Só porque os pequenos
memorizaram alguns fatos não quer dizer que se tratou do tema da independência do Brasil
adequadamente", alerta Daniel Helene, coordenador pedagógico do Centro de Estudar Acaia
Sagarana. Além disso, as crianças menores têm di culdade de entender conceitos complexos como o que
signi ca deixar de ser colônia.

Então, como trabalhar esse assunto? "O maior cuidado é não dar um sentido de louvação, mas de
compreensão desses símbolos nacionais. O olhar sobre eles pode ter mais historicidade", sugere Lucas
Monteiro, professor de História da Escola Santi, em São Paulo.

Uma possibilidade é partir do imaginário dos alunos. Francisco Lisboa, docente da EM Professor Luiz
Costa, em Fortaleza, adotou essa linha com a turma do 6º ano, recém-chegada do Ensino Fundamental 1.
Ele explica que, nas séries iniciais, trabalha-se muito a questão das representações sociais ligadas ao
conceito de autoridade. "É preciso respeitar o horizonte imaginativo. Inicialmente, a criança quer ser o
imperador, montar o cavalo, usar aquelas roupas. Aos poucos, isso vai mudando", diz Lisboa.

Essa abordagem desmisti ca a gura do governante ao enfatizar suas funções institucionais. O docente
explica as tarefas burocráticas e o papel político que D. Pedro I cumpria, comparando-os aos cargos e
poderes políticos do atual sistema de governo brasileiro. "O grande objetivo não é dizer ao aluno que ele
está equivocado, mas trabalhar elementos para que possa construir uma imagem dos personagens
históricos mais próxima da realidade", comenta o professor.
"As crianças veem a batalha do quadro do Pedro Américo e perguntam: 'Mas Dom Pedro precisava mesmo
de uma espada?'. Explico que existe um lado simbólico na arte e que aquela pintura é uma representação",
conta Lisboa. Esse tipo de re exão, em que os alunos procuram compreender as motivações de quem
fazia o registro histórico, ajuda a dissolver estereótipos. "É importante que os estudantes vejam que a
gente precisa de documentos para construir o conhecimento de História, que façam esse 'tatear' histórico
e entendam que uma pintura, por exemplo, é uma recriação do artista", diz Helene.

IDENTIDADE NACIONAL
Quem vivia aqui no século 19 não tinha a percepção de que era brasileiro, já que ainda não existia um
estado nacional. Vale mostrar aos alunos que boa parte do interior do país era desconhecida e que o
Brasil Império teve que se esforçar para manter sua unidade territorial frente a movimentos
separatistas. O plano de aula disponível em abr.ai/independencia propõe uma visão da
independência como parte de um processo histórico maior.

CONTEÚDOS RELACIONADOS
Revista Digital Revista Digital Revista Digital

A paisagem, da crosta ao Palavras e erros sob Crianças em busca de


cume investigação autonomia
Formação geológica e relevo podem (e Análise das regularidades fornece pistas Ao aliar aprendizagem e cuidado, cria-se
devem!) ser ensinados de forma integrada sobre a ortogra a e ajuda a aprimorar a um ambiente propício à tomada de
escrita decisões

Anterior Índice Próxima

Newsletter Quem somos Contato Anuncie

Notícias Planos de Aula Etapas e Disciplinas Vagas e Oportunidades


Sala de Aula Revista Digital Videos
MANTENEDORA

Associação Nova Escola © 2017 - Todos os direitos reservados.


É proibida a reprodução total ou parcial deste website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização. REDES SOCIAIS

Você também pode gostar