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Laboratório II
Oficina II
Rosângela F. Leite
Fonte: Livro de Ouro da Independência
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasraras/bndigital0447/
bndigital0447.pdf
CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA
Grupo:
Aline Inácio Barbosa
Ana Luíza Afonso Dias de Freitas
Danielle Nogueira Marques
Raphael Bueno Medeiros
Rene Jules Degrave
Tábata de Oliveira Joffre
Vanessa Freitas Vicente
Guarulhos/2022
O Livro de Ouro da Independência
Relatório:
1
Para Pierre Nora, os lugares de memória são, primeiramente, lugares em uma tríplice acepção: são
lugares materiais onde a memória social se ancora e pode ser apreendida pelos sentidos; são lugares
funcionais porque têm ou adquiriram a função de alicerçar memórias coletivas e são lugares simbólicos
onde essa memória coletiva – vale dizer, essa identidade - se expressa e se revela. São, portanto, lugares
carregados de uma vontade de memória.
Longe de ser um produto espontâneo e natural, os lugares de memória são uma construção histórica e o
interesse que despertam vem, exatamente, de seu valor como documentos e monumentos reveladores dos
processos sociais, dos conflitos, das paixões e dos interesses que, conscientemente ou não, os revestem
de uma função icônica. ( Cf. Entrevistas com Pierre NORA em www.eurozine.com e
em www.gallimard.fr - consultadas em 06 de Julho de 2022.
http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/content/lugares-memoria-puc-rio)
2
Livro de ouro commemorativo do Centenario da Independência do Brasil e da Exposição Internacional
do Rio de Janeiro. 7 de setembro de 1822 a 7 de setembro de 1922 - 7 de setembro de 1923.
https://bdlb.bn.gov.br/acervo/handle/20.500.12156.3/437524
2) Leitura da imagem. Da esquerda para a direita, indique quais são os
principais elementos da composição visual.
3) Análise.
3
Marina MALUF e Maria Lúcia MOTT. Recônditos do mundo feminino. In SEVCENKO, Nicolau.
(org.) História da vida privada no Brasil. Da belle époque a Era do Rádio. São Paulo, Cia das Letras,
1998. p. 74.
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MORAES, Mirtes de. O seio político: A representação simbólica do seio feminino no espaço
público. 13° Congresso Mundos das Mulheres (MM). Florianópolis, SC. 2017. p. 02.
forma como as relações de gênero, bem como o papel social da mulher é construído e
marcado na sociedade brasileira do início do século XX. Ao analisarmos não só a
imagem
escolhida, como também as demais propagandas, podemos perceber a figura feminina
sendo constantemente representada e, quase que exclusivamente, em posições de
sexualização e de inferioridade intelectual, quando, por outro lado, não estão sendo
representadas como a figura positivista da mulher dona-de-casa, característica da
família
tradicional burguesa. Para tanto, tentaremos contextualizar a figura da dita “senhora da
liberdade”, cuja representação visual seria relativo à mulher dos seios fartos e, como tal
representação seria, de fato, concebida no Brasil republicano.
Nesse sentido, Iara Beleli (2007) ao pesquisar sobre o corpo feminino retratado
nas diversas propagandas, coloca a publicidade como uma maneira de se divulgar uma
cultura, que, por sua vez, está pautada na criação de estereótipos, levando, assim, à uma
identificação dos gêneros. À vista disso, ao Brasil que comemorava o centenário da
Independência, as influências relacionadas a Revolução Francesa e seus símbolos, são
de extrema relevância. Neste contexto, a partir da Terceira República Francesa, a figura
feminina sendo retratada com os seios desnudos tornou-se emblemática na construção
dessa nova sociedade, cujo simbolismo estaria vinculado à um sentido de liberdade,
fartura, virtude e quebra aos arcaicos preceitos do Antigo Regime. No entanto, no
Brasil, tal simbolismo adquiriu um caráter contrário ao francês. Através do forte ideal
positivista de Auguste Comte, seria descabido ter a mulher como a figura que
representaria a República.
Para além disso, a sociedade brasileira do século XX havia se frustrado com as
idealizações que antes fizera da República, o que, por sua vez, corroborou para que a
figura simbólica da “deusa libertadora” se convertesse à um viés caricaturista,
desprezado e cômico. Características que, agora, não seriam relativas as mulheres
respeitáveis dos lares e, sim às mulheres da vida 5. Por esta perspectiva, podemos
analisar o teor das propagandas publicitárias da época estudada a partir desse prisma,
levando em conta que tais campanhas seriam, em grande medida, destinadas ao público
masculino. Neste contexto, propagandas inseridas em almanaques, tais como o Livro de
Ouro, foram tão somente destinadas à eles, que, dessa maneira, reforçaram estereótipos,
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MORAES, Mirtes de. O seio político: A representação simbólica do seio feminino no espaço
público. 13º Congresso Mundo das Mulheres (MM). Florianópolis, SC. 2017. pp 4.
incentivaram uma sociedade patriarcal e construíram a “objetificação” do corpo
feminino, que resultaram na submissão da mulher em relação ao homem.
Para além disso, ao tratarmos do conceito de “objetificação”, podemos perceber,
em diversas propagandas, algumas características ligadas à mulher e seu corpo como
um
objeto. Como abordado no artigo A “objetificação” feminina na publicidade: uma
discussão sob a ótica dos estereótipos (2014), de alunos do curso de Publicidade e
Propaganda da UFF, símbolos como a mulher servindo de apoio para produtos e
serviços,
a sensualidade da mulher sendo explorada a troca de nada, assim como a mulher, em
muitos casos, é representada como a própria mercadoria, remetem à ideia de
objetificação.
Ademais, como salientado pela historiadora Mirtes de Moraes (2017) a imagem política
e crítica da mulher dos seios fartos popularizada na Europa perdeu-se nos territórios
brasileiros e, os mesmos seios fartos, que antes estariam a mostra politicamente em prol
do progresso, torna-se ridicularizado e ironizado em protestos feministas na luta pela
emancipação e autonomia do próprio corpo ou, por outro lado, são sexualizados e
objetificados em propagandas destinadas aos homens, evidenciando, portanto, as
diferentes interpretações do corpo feminino no espaço público.
Assim, ao observarmos e refletirmos sobre os anúncios publicitários contidos no
Livro, podemos facilmente e, infelizmente, identificar todos os elementos acima citados.
Mulheres nuas ou seminuas em propagandas de sabonetes, fábricas de chás e
confeitarias,
em trajes sensuais para anúncios vinculados a vinhos e cigarros, em poses semelhantes
às
musas renascentistas para publicações de perfumarias, além, é claro, das representações
femininas absurdamente descontextualizadas e de altíssimo teor sexual, em publicidades
de sapatos, evidenciando-nos, o “papel” da mulher em tais imagens.
Referências Bibliográficas
BELELI, Iara. Corpo e Identidade na Propaganda. Rev. Estud. Fem. [online]. 2007,
vol. 15, n.1. ISSN 1806-9584.
JUNQUEIRA, Júlia Ribeiro. As comemorações do sete de setembro em 1922.
Revista de História Comparada, ISSN-e 1981- 383X, vol. 5, n. 2, 2011.
LOURENÇO, Ana Carolina Silva; ARTEMENKO, Natália Pereira. A “objetificação”
feminina na publicidade: uma discussão sob a ótica dos estereótipos. Espírito
Santo, 2014.
MALUF, Mariana. MOTT, Maria Lúcia. Recônditos do mundo feminino. In:
SEVCENKO, Nicolau. (org.) História da vida privada no Brasil. Da belle époque a Era
do Rádio. São Paulo, Cia das Letras, 1998.
MORAES, Mirtes de. O seio político: A representação simbólica do seio feminino
no espaço público. 13º Congresso Mundos de Mulheres (MM). Seminário
Internacional Fazendo Gênero 11. Florianópolis, Santa Catarina. 2017. Anais
Eletrônicos.
SITES:
http://nucleodememoria.vrac.puc-rio.br/content/lugares-memoria-puc-rio)
https://bdlb.bn.gov.br/acervo/handle/20.500.12156.3/437524
https://conservasdeportugal.com/livro-de-ouro-comemorativo-do-centenario-da-
independencia-e-da-exposicao-internacional-do-rio-de-janeiro/
https://youtu.be/UJODr3XTj_E