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Educadores em
Liderança e Cidadania
Módulo 2 - Cidadania Local e Glogal &
Direito e Acesso à Justiça
“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Abrimos este texto com uma famosa afirmação elaborada por Paulo Freire. Dado o valor
social que a educação possui no mundo, é mais esperado que as pessoas apenas concordem com
essa afirmação em vez de buscar compreender de forma aprofundada como esse processo se
desenvolve.
Mas, como a educação muda as
pessoas ao ponto de conseguirem
transformar o mundo? Essa pergunta nos
possibilita várias respostas, mas
entendemos que um dos caminhos se dá
por meio do desenvolvimento da ciência
e da tecnologia. Outro caminho é por
meio da cidadania. Como a educação
pode transformar o mundo por meio dos
cidadãos? Uma das respostas pode ser
Fonte: Imagem licenciáveis - Paulo Freire. Senado encontrada na Base Nacional Comum
notícias.
Curricular (BNCC). Nos parágrafos
abaixo exploraremos quais são as
maneiras para o desenvolvimento da cidadania por meio da BNCC.
Primeiramente, é importante compreendermos os objetivos da BNCC. O principal talvez
seja o de definir o conjunto de aprendizagens essenciais de forma orgânica e progressiva que
todos(as) os(as) estudantes precisam desenvolver ao longo das etapas e modalidades da
Educação Básica. Por aprendizagens essenciais estão previstas competências e habilidades,
além dos componentes curriculares. Tais competências e habilidades que compõem esse
conjunto de aprendizagens essenciais almejam garantir uma formação para a cidadania. Mas
quando e como isso aparece na BNCC? Observe a primeira competência (C1)
:
“Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social,
cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a
construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. ” (BRASIL, 2018, p. 11)
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BNCC e o Novo Ensino Médio
Repare que a finalidade da competência apresentada vai além de valorizar e utilizar, mas
também de entender e explicar a realidade, e assim colaborar para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva. Isso também ocorre em outras competências gerais,
como o caso da sétima (C7), que traz uma preocupação com o posicionamento ético em relação
ao cuidado dos próprios estudantes, dos outros e do planeta. Na nona competência (C9) o foco é
a desconstrução de preconceitos de qualquer natureza e a décima (C10) traz uma orientação
para princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Dessa forma, os
componentes curriculares que os(as) estudantes terão contato, devem, em alguma medida, estar
dialogando com essas competências. Mas, como isso ocorre em sala de aula?
Imagine um caso de uma aula conduzida por um(a) professor(a) de Ciências da Natureza
e suas Tecnologias, de uma escola da zona rural, trabalhando o tema sobre captação de água. Ao
refletir sobre como o acesso de água chega nas residências dos(as) estudantes da comunidade,
pode-se abordar a sétima competência, pensando no cuidado da saúde de todas as famílias que
consomem aquela água, incluindo a própria escola. Para além dessa área de conhecimento,
pode-se expandir para comparar o acesso à água potável nos diferentes bairros do município,
atendendo ao que versa a primeira competência da Base Curricular. Se for possível ir ainda mais
adiante, há também os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, chamados de ODS
Um deles, o ODS 6 (Água potável e saneamento) almeja
assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e
saneamento para todos(as). Podem, então, ser apresentados
esses objetivos para os(as) estudantes, mencionando o fato de
que outros países também pactuaram tais metas, conectando
realidades locais com outras globais. Esse processo de iniciar a
aprendizagem no nível local e expandi-la para uma realidade mais
ampla é importante para que os(as) estudantes compreendam
que suas realidades, embora possuam especificidades, também
compartilham semelhanças com outras
localidades. Esse processo de identificar, por exemplo, demandas sociais semelhantes é um fator
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chave para o processo de mobilização de ações coletivas para reclamar direitos e solucionar
problemas sociais.
Embora o tema seja captação de água e seja conduzido pelo(a) professor(a) de Ciências
da Natureza e suas Tecnologias, há muito ainda o que explorar com os(as) estudantes sobre
problemas sociais decorrentes da falta de água em casa. Questões como desigualdade de gênero
e violência de gênero estão muito associadas à falta de acesso a água em muitos países.
Imagine que, para ter acesso a água, as pessoas precisam deslocar quilômetros para
chegar até uma das poucas (ou única) fonte de água disponível. Imagine agora quem
desempenhará essa função: homens e mulheres? Dado que a água é um recurso imprescindível
nas tarefas domésticas (tais como cozinhar e lavar roupas, entre outras atividades) e que em
sociedades marcadas pelo patriarcalismo e pelo machismo são as mulheres que realizam as
atividades domésticas não remuneradas, são as mulheres que exercem essa função de buscar
água longe de casa. Ao ter que fazer isso por não ter acesso a água, aumenta-se o tempo de
trabalho realizado não pago, ampliando também a desigualdade socioeconômica entre homens
e mulheres. Sem contar que muitas delas, durante o percurso, são vítimas de violência.
Há dois filmes internacionais que retratam muito bem como a falta de água pode
impactar a vida das pessoas e perpetuar/aumentar desigualdades e a exposição à
violência; são eles: “Carta para o Primeiro Ministro” e “O menino que descobriu o
vento”. Ambos filmes são exemplos muito importantes de serem explorados em sala de
aula, uma vez que mostram como a prática cidadã e o uso da ciência e tecnologia
podem mudar a vida das pessoas da comunidade dos(as) estudantes.
órgãos para que consigam alcançar seus objetivos. Para isso, precisarão “compor argumentos
relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos"
(EM13CHS103) para sustentarem suas opiniões e fazerem com que seus problemas sejam
objeto de discussão pública, para que então sejam solucionados. Ainda nesse processo de
participação na esfera pública do debate, os(as) estudantes estarão expostos(as) a dinâmicas de
argumentação e convencimento, onde terão seus argumentos questionados e serão criticados.
Em uma democracia, os problemas são resolvidos na base do diálogo, sendo este respeitoso,
guiado pela ética e pela responsabilidade social. Nesse ponto é importante que os(as)
estudantes entendam que a democracia não representa a ausência de conflitos. A democracia é
a melhor forma de governo porque possui um sistema mais efetivo de resolução de conflitos. Os
caminhos democráticos para a resolução de conflitos devem estar em consonância com valores
atrelados aos Direitos Humanos e às prerrogativas Constitucionais. Apenas as democracias,
entre as outras formas de governo conhecidas, respondem da melhor forma a esses desafios.
Comunicação Não Violenta (CNV) - Uma ferramenta que pode ser muito útil para
auxiliar na construção de debates saudáveis dentro do ambiente escolar é a CNV. Ela
busca incentivar alguns princípios: compreender a perspectiva do próximo, e
reconhecê-la como verdade, reconhecer emoções nos outros e ver o sentimento que os
temas provocam, não julgar as pessoas envolvidas no debate, evitar utilizar adjetivos
para caracterizar as falas. Além de que é fundamental a empatia. E para conhecer
melhor sobre a CNV indicamos a leitura da Eletiva “Diálogo, debate e negociação”. E
também os vídeos: O poder da Empatia e Para início de conversa.
Nesse sentido, é importante que a educação seja democrática para educarmos para a
democracia. E como isso pode ser observado e praticado em sala de aula? Há várias formas por
meio das quais os(as) professores(as) podem consolidar valores democráticos. Por exemplo, em
uma atividade para trabalhar em grupo, separe a turma em dois blocos: os(as) estudantes que
estiverem no bloco 1 não poderão escolher seus grupos, ao passo que os(as) estudantes do
segundo bloco poderão formar seus grupos conforme seus interesses. Ao levar essa informação
para a turma é possível que haja insatisfação do grupo que não terá autonomia de escolha,
provocando reações. Esse é um dos pontos dos quais os(as) professores(as) podem avaliar e
consolidar valores democráticos entre os(as) estudantes. A forma como essas reações são
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expressadas podem desviar de valores democráticos, mesmo que essa atividade não seja
sobre a democracia. São esses detalhes sutis da formação democrática que precisamos explorar
em sala de aula para consolidar uma cultura política democrática.
Ainda na mesma atividade, o fato de trabalharem em grupo já coloca os(as) estudantes
em uma situação de exercício democrático. Uma vez que precisam se organizar em grupos para
resolver “problemas”, deverão saber lidar com opiniões divergentes e propostas incompatíveis
para que cheguem a algum posicionamento ou solução.
Esse é o processo pelo qual todos(as) estudantes passarão tanto na vida política, no
mercado de trabalho e até nas relações familiares. É nesse momento que a escola estará
desenvolvendo habilidades e valores de uma liderança ativa, que poderá impactar a sociedade e
fazer diferença em suas vidas. Nesse processo é importante consolidar, entre os(as) estudantes,
que os valores democráticos não se fazem necessários apenas em momentos específicos, mas
permeiam todas as esferas da vida.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
UNESCO. Educação para o desenvolvimento sustentável na escola: caderno introdutório /
editado por Tereza Moreira e Rita Silvana Santana dos Santos. – Brasília. 2020.