TSF – Reportagem (emitida em 23-3-2009) – O pastor-autarca
Estar no campo a tratar dos animais é a tarefa diária de Albino Pedrinho.
Podem ser vacas, cabras ou cavalos. Ao todo são 280 animais para lida diária. – Vacas e vitelos tenho 52 cabeças. Tenho 5 cavalos. Tenho 40 cabras. Tenho 37 cabritos. E o resto são as ovelhas e borregos pequenos. Tenho galinhas, também… patos, pombos… Cães também tenho, sim, cães também… Só faltou contar os porcos e os gatos lá de casa. O trabalho de Pedrinho começou aos 10 anos. Andou nas vindimas no Douro, apanhou azeitona, foi ajudante de camionista e agricultor na Suíça. Aos 43 anos leva a vida passada no campo: – Agora levanto-me sempre às seis horas da manhã e despego às vezes nove horas, depende da hora, não é, mais ou menos, nove, dez horas da noite. E no Verão levanto-me sempre às quatro da manhã para sair com o gado cedo, quando de noite por causa do calor, dele comer pela fresca, saio sempre às quatro da manhã e nunca… Eu até tenho 43 anos nunca… não sei o que é uma sesta. Andam aí a dizer “Ó Pedrinho havias de descansar um bocado!” Eu não sei o que é uma sesta! Sem tempo para descanso, Albino Pedrinho só foi à praia uma vez na vida: – Eu fui à praia há… vai fazer agora dois anos para Agosto. – Pela primeira vez? – Pela primeira vez, sim! Fui mais a mulher, tratámos do gado, saí daqui de manhã, levámos um… um borrego… assámos aqui um borrego no forno… convidei aqui um casal, fomos dois casais… Fui de manhã e vim à noite, foi o único... Mas adorei… ir à praia… fui ali à Costa Nova, Aveiro… adorei… e depois na altura falei “Para o ano vimos outra vez ou daqui a…” mas nunca mais voltou esse dia. Já vai para dois anos, ainda não fui outra vez. Até no dia do casamento o pastor ordenhou as vacas: – Azar logo de manhã, faltou-me a luz no… onde… onde estava as vacas, não é… Lá vou, tropeço, bati no ferro, fiquei todo esmurrado aqui no nariz… então agarraram nas fotografias: todo esmurrado… Lá vou para o casamento, pronto, ordenhei as vacas, arrumei o gado. Depois fui ao casamento, à noite vim outra vez ordenhar as vacas. Já saí da vacaria naquele dia à meia-noite! E depois é que fomos descansar, não é… Mas pronto, não tive… foi a vida normal na mesma! – Quer dizer, teve de sair do casamento para ir ordenhar… – …as vacas, foi… – E a lua-de-mel, como é que foi? – Foi na mesma, passada em… Dormi aqui na aldeia na mesma, tudo na mesma! É a vida, não é!? Pedrinho nasceu e vive em Ribabelide, a segunda maior aldeia da freguesia de Bigorne: – Esta aldeia aqui, havia aqui oitenta pessoas! Neste momento, de Inverno estou cá eu mais a esposa e o meu filho. De resto, não há aqui ninguém! A freguesia já teve trezentos habitantes, hoje são quarenta e nove. Contando com os que estão fora, há cinquenta e dois eleitores recenseados em Bigorne, o que faz desta freguesia de Lamego a segunda mais pequena do país. Para além de pastor, Pedrinho é também o Presidente da Junta. Está no quarto mandato. Foi sempre escolhido como manda a lei.