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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ANA BEATRIZ PICHITELI GONÇALVES - 42135141

LAURA DARÉ BRAGA - 42140048

LORENZO FATAZZINI REICHTER - 42107873

MARCELA LOURENÇO FREGONESI - 42111048

THIAGO ALCANTARA MENDES - 42119928

THIAGO CARREIRA SOARES HANNA - 42109086

O trabalho está excelente!


você entenderam
exatamente como fazer e se
quiserem uma sugestão de
como melhorar mais um
nível: o próximo passo é a
reflexão crítica que baliza
diferentes argumentos
teóricos. Vejam a rubrica de
correção para entender o
TRABALHO SOBRE O FILME “ESTAMIRA” que quero dizer com isso.

9,4 Outra coisa: a parte


diagnóstica do trabalho está
em bloco único. Façam
separado da próxima vez ok?
Isso ajuda a acompanhar o
raciocínio e também em ver a
clareza de vocês em
perceber as lógicas
diagnósticas diferentes em
São Paulo interação.

2023
1

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO:....................................................................................................................3
1.1. O Histórico de vida:..................................................................................................... 4
1.2. Contexto familiar E social :..........................................................................................5
1.3. Relação com Deus :.................................................................................................... 5
1.4. Adesão e Relação com o tratamento :........................................................................ 5
1.5. Hipótese Diagnóstica :................................................................................................ 6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:...................................................................................... 9
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1. INTRODUÇÃO:

1.1. O Histórico de vida e doença


Estamira, uma idosa de 63 anos que viveu em condições de extrema pobreza e
enfrentando dificuldades desde muito cedo. Quando ainda era criança o seu pai faleceu,
ficando Estamira aos cuidados da mãe e do avô, que a estuprou e a levou para um prostíbulo,
onde sofreu mais abusos, conheceu o seu futuro marido e teve seu primeiro filho, Hernani. O
seu primeiro casamento foi aos 17 anos, com o pai de Hernani, com o qual viveu um
relacionamento conturbado e decide deixá-lo, e, eventualmente, ela acaba tendo Carolina, a
sua segunda filha, casando-se novamente e vivendo outro relacionamento perturbado. O seu
segundo marido, Leopoldo, considerava sua mãe como louca e obrigou a Estamira a
interná-la em um hospital psiquiátrico, evento que a marcou pela culpa, afinal sua mãe sofreu

1,8
diversos abusos e tormentas quando internada.
Eventualmente seu marido a expulsa de casa, e então ela vai para um aterro sanitário,
onde tem a sua terceira filha, Maria Rita, que convive pouco com Estamira, porque Hernani
a afasta da mãe, preocupado que sua loucura poderia ser prejudicial para a criança. Além
disso, tentou interná-la compulsivamente, machucando profundamente sua mente, que
mesmo notando o paralelo com o que ela fez com a própria mãe, considera as situações como
diferentes, justificando que conseguia distinguir realidade de loucura, diferentemente da mãe,
que para Estamira era louca. Esse evento mostra que na sociedade atual, a definição de Mjuito bom!
loucura e sanidade é abstrata, de tal forma que Estamira considera a mãe como louca, mas
não consegue afirmar que ela mesma é sã (Phillips, 2008). Na época do documentário, ela
vivia nas proximidades de um aterro sanitário. Obtendo seu sustento coletando materiais
recicláveis, desenvolvendo uma profunda relação com os objetos que encontrava, vendo
significados e conexões que a maioria das pessoas não enxergava.
Todo esse sofrimento de Estamira resultou no desenvolvimento de uma psicose, que Aqui caberia
dizer algo sobre
manifestou-se após um estupro que sofreu. Além da experiência em si ter sido traumatizante, o prodromo
dela, correto?
ela marca o início da ruptura da fé cristã de Estamira, afinal em meio ao estupro ela pede
ajuda a Deus, e o abusador respondeu “que Deus? Esquece Deus.” Após esse evento ela
passou a apresentar diversos sintomas psicóticos, como delírios, alucinações e linguagem
desorganizada. Esses sintomas se expressavam pela crença de que o FBI a perseguia, delírios
de onipotência e a crença de que coqueiros eram símbolos de poder. Sua visão de mundo foi Alguma coisa
sobre o tipo de
ficando cada vez mais delirante com o tempo, intensificando os seus sintomas, que evolução?

permaneceram até a época do documentário e impactaram profundamente a vida de Estamira.


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1.2. Contexto familiar e social:

A história de Estamira é marcada por uma rede complexa de relações familiares e


sociais, onde o poder, a violência e o estigma desempenham papéis significativos. A relação
conturbada com sua família é um ponto central em sua vida. Hernani, seu filho mais velho,
representa uma figura que contribui para o isolamento de Estamira por meio de suas crenças
religiosas, o que o leva a considerar a mãe como possuída por forças demoníacas devido às
blasfêmias que ela diz, dizendo que irá retornar seu contato quando deus a redimir. Essa visão
reflete um conjunto de crenças presentes, originalmente na idade média, do que seria o insano
e estigmatizando a doença mental associando-a ao sobrenatural (Rodrigues, 2018). Esse
processo de estigmatização contribui para o isolamento de pessoas que estejam enfrentando
problemas de saúde mental, deixando as margens da sociedade (Goffman, 1998).
Outro ponto importante seria as figuras masculinas e as violências sofridas por
Estamira, sendo elas o abuso sexual que sofreu de seu avô, os maridos que a maltrataram e os Muito bom!

estupradores, destacam as questões da dominação masculina e da violência de gênero. Esses


são exemplos de como a sociedade patriarcal frequentemente silencia e oprime o corpo
feminino, especialmente o das mulheres em situação de vulnerabilidade econômica (Lucas;
Hoff, 2008). Sem contar que a violência sexual apresentou índices mais severos de
transtornos e consequências psicológicas e abuso de substâncias, segundo Souza (2012).
Quanto à sua condição social, Estamira encontra no aterro sanitário de Gramacho um
refúgio. Apesar de estar excluída socialmente e das inegáveis dificuldades que enfrenta, ela
afirma ter tido sorte de ter conhecido o local, pelo fato de sentir liberdade para ser ela mesma,
sendo um espaço sem julgamentos. O relato de Carolina sobre sua mãe ficar duas semanas
trabalhando no aterro e que nesse período ela aparentava estar melhor, reforça o aspecto de
que aquele ambiente permitia a expressão, projetando sua identidade a partir do trabalho,
tornando o aterro um símbolo de sua própria vida e existência como algo descartável pela
sociedade.
Apesar da falta de acesso ao ensino formal, a protagonista articula seu discurso
denunciando as instituições de poder, como a igreja e o manicômio, e da desigualdade social
em seu país com clareza. Embora esteja em uma posição marginalizada, essa crítica
desmascara as mazelas de sua vida e de inúmeras pessoas que se encontram na mesma
situação, onde o acesso a um sistema de saúde de qualidade, que busca ter um olhar holístico
do paciente, é muito distante e abrindo espaço para a medicalização (Basoli; Banelli, 2019).
4

Sua vida se desenrola literalmente entre os restos da sociedade, uma metáfora impactante da
maneira como a sociedade muitas vezes trata aqueles que não se encaixam em suas normas.
1,8
A história de Estamira é um testemunho da luta contra a dominação masculina, a
psiquiatrização e a exclusão social. Ela representa uma voz resistente em meio às forças Atenção aqui
com a
opressoras da família, da religião e da sociedade em geral, revelando as complexas dinâmicas romantização do
sofrimento.
de poder que moldam sua vida e a vida de tantos outros estigmatizados. Existe uma
possível
polarização de
pontos de vista
1.3. Relação com Deus: quando fazemos
isso. Lembrem
daquele
A personagem apresenta relações complexas com Deus e a religiosidade que se comentário
sobre a
transformam ao longo da narrativa. Inicialmente, ela é retratada como profundamente tendência
masoquista e
religiosa, mas ao longo de sua vida, especialmente após o segundo estupro que sofreu, seu sádica.
sentimento em relação ao divino evoluiu para um profundo ódio.
Podemos identificar a presença do mecanismo de defesa conhecido como "cisão"
(Gabbard, 1992) nessa dinâmica em que.Estamira divide sua relação com Deus em dois polos
opostos: por um lado, ela nutre um ódio profundo em relação ao Deus cristão, a quem atribui
2 a responsabilidade por não tê-la protegido das violências e adversidades em sua vida. Por
outro lado, há uma relação afetuosa e cúmplice com seu "Pai astral”. Essa cisão permite que
Estamira lide com a ambivalência emocional de forma menos conflituosa, separando suas
caberia ver algo
da relação que
emoções negativas das positivas em relação ao divino. a psicose
estabelece com
A cisão reflete a necessidade de Estamira de encontrar estabilidade emocional em um deus, mas está
ótimo assim
mundo marcado por traumas e desafios. É importante reconhecer que as mudanças em sua
relação com o divino são moldadas por suas experiências de vida e seu estado psicológico, o
que lança luz sobre a influência das experiências pessoais na construção das crenças
religiosas de uma pessoa.

1.4. Adesão e Relação com o tratamento:

Pode-se perceber que a questão do tratamento é bastante complexa e conflituosa para


Estamira, remetendo a períodos complicados de sua vida. O primeiro aspecto apresentado
sobre seu histórico de tratamento foi a tentativa de seu primogênito de interná-la
compulsoriamente, fazendo-a se sentir um “monstro” ao ser amarrada. Além disso, ao final
do documentário, sua filha relata que no passado Estamira chegou ao ponto de internar sua
mãe à força em um hospital psiquiátrico, local no qual passou por diversas violências, como
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agressões e choques, chegando até a implorar para que sua filha a tirasse de lá. Essa situação
deixou Estamira com um grande sentimento de culpa que a acompanhou ao longo dos anos.
Fora as tentativas de internação compulsória, Estamira chegou a procurar tratamento
em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) com uma psiquiátrica e com retorno a cada
40 dias e a partir disso relatou que a médica ignorava suas reclamações e só prescrevia
remédios que ela sabia que não precisava, fazendo parte do que ela chama de “quadrilha dos
dopantes” para cegar os homens. O que ela acaba por denunciar é essa visão reducionista,
onde o médico reduz o paciente a apenas a doença e o desumaniza (Basoli; Banelli, 2019).
1,8 Ademais, outros fatores que podem ter influenciado sua baixa adesão foi a crença de
que, diferentemente de sua mãe, ela consegue distinguir suas “perturbações”. Também cita
que a lucidez na realidade não te deixa ver e que prefere viver por menos tempo, mas em
liberdade, do que viver “bem” por mais tempo, só que dentro de uma clínica.
Diante disso, é de suma importância a elaboração de práticas na saúde mental que
foquem mais nas peculiaridades e complexidades de cada paciente, se atentando ao respeito
aos limites e oferecendo o suporte emocional necessário e outro aspecto a ser priorizado é a
promoção da autonomia, desconstruindo a relação de tutela e o lugar do objeto que captura a
possibilidade de ser sujeito (Torres, 2001).

1.5. Hipótese Diagnóstica:

A personagem exibe características consistentes com o Transtorno Delirante, de


acordo com os critérios do DSM-5 (2014). Seus delírios elaborados, como a crença fantasiosa
de que conversa literalmente de forma direta com Deus e seu "Pai astral," são uma
característica essencial deste transtorno. Além disso, Estamira mantém um grau de
funcionalidade em sua vida cotidiana, o que está em linha com a natureza do Transtorno
Delirante, que muitas vezes permite que os indivíduos mantenham um funcionamento global
relativamente preservado. A persistência de seus delírios ao longo do tempo também se
alinha com os critérios do Transtorno Delirante, que requerem que as crenças delirantes
estejam presentes por pelo menos um mês.
No contexto psicodinâmico, os mecanismos de defesa evidenciados na experiência de
Estamira desempenham um papel crucial na compreensão de seu diagnóstico. A projeção,
onde ela atribui ao mundo exterior sentimentos que são difíceis de aceitar em si mesma, e a
clivagem de objetos e do ego, como visto em sua criação delirante de um eu onipotente, são
mecanismos de defesa primitivos que ajudam a explicar sua percepção distorcida da realidade
6

(GABBARD, 1992). Ao adicionar esses mecanismos de defesa à presença de pensamentos


delirantes, que indicam sérios distúrbios na capacidade de discernir a realidade, é possível
argumentar que o diagnóstico psicodinâmico mais apropriado para Estamira é o de psicose.
Esses mecanismos de defesa, embora primitivos, servem como estratégias de enfrentamento
para lidar com suas experiências e emoções intensas, revelando a complexidade de sua
psicologia.
Considerando a estrutura esquizoparanóide da teoria de Melanie Klein, um de seus
mecanismos de defesa é a cisão do ego, onde o indivíduo, delirante e consumido pela raiva e
pela hostilidade, projeta seu ressentimento e raiva nos outros como forma de se proteger do
reconhecimento de impulsos inaceitáveis em si mesmos (SADOCK, 2016). Podemos
observar esse fator em Estamira, quando ela deixa de enxergar a imagem de Deus como
provedora e protetora, passando a vê-la como algo maligno, colocando suas frustrações e
culpas em Deus. A partir disso, podemos considerar que Estamira esteja consolidada na
posição esquizoparanóide, de tal forma que os seus comportamentos psicóticos se manifestam
por meio de delírios e alucinações, e também por seus pensamentos desorganizados, por
exemplo quando no meio da frase começa a falar em outra língua incompreensível. Suas
alucinações, como ouvir vozes do além ou sentir um choque causado por controle remoto,
sustentam a sua esquizofrenia. Vale ressaltar, entretanto, que seus delírios são organizados e
sistematizados, não afetando sua vida pessoal e nem suas funções psíquicas, conseguindo
Aqui teria sido
manter uma rotina plena. Dessa forma, podemos diagnosticá-la tanto com psicose melhor separar
os modelos
esquizofrênica quanto como paranoica, sendo a segunda com maior presença no diagnóstico. diagnósticos.
Dentro de uma
Como um diagnóstico diferencial, acreditamos que Estamira tenha uma psicose, que das lógicas não
é possível falar
se expressa por meio de alucinações, ilusões do pensamento e ideias de referência; além desse jeito, de
outro modo é...
disso, sua forma de pensar soa ilógica a qualquer ouvinte (MCWILLIAMS, 2014). é importante
dizer de qual
Perceptivelmente, Estamira apresenta uma desorganização mental e comportamental, ponto de vista
vocês estão
falando.
exteriorizando sua agressividade por meio de xingamentos e ofensas, mas sem destiná-los a
alguém em específico. Ademais, seus comportamentos tendem a ser tensos, desconfiados,
cautelosos, reservados e, às vezes, hostis ou agressivos, mas também ocasionalmente capazes
& Kaplan
de se comportar de forma adequada em algumas situações sociais (SADOCK, 2016). Outro
critério importante que consideramos para o diagnóstico foi a vivência de influência corporal
e ideativa. Esse sintoma é manifestado quando Estamira afirma que os “cientistas” controlam
as pessoas em seus comportamentos e pensamentos por um controle remoto. Vale ressaltar
também que Estamira preserva seu narcisismo acreditando ser inalcançável pelos “homens” e
portadora de uma verdade absoluta.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos


mentais: DSM-5.. 5 Porto Alegre: Artmed, 2014,

BASOLI, Laura Pampana e BENELLI, Silvio José. Medicalização como Sintoma Social
Dominante: estratégias a partir do Paradigma Psicossocial. Rev. Psicol. UNESP [online].
2019, vol.18, n.spe, pp. 217-242. ISSN 1984-9044.

GABBARD, G.O. Psiquiatria Psicodinâmica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de


Janeiro: LTC. 1988.

LUCAS, Luciane; HOFF, Tânia. Formas sutis de dominação hierarquizada: Corpo e


feminização da pobreza. Ex aequo, [s. l], n.17, p.133-154, 2008. Disponível em:
https://scielo.pt/pdf/aeq/n17/n17a09.pdf

MCWILLIAMS, Nancy. Diagnóstico Psicanalítico: Entendendo a Estrutura da Personalidade


no Processo Clínico-2. Artmed Editora, 2014.

Philips, A. Louco para ser normal, 2008

RODRIGUES, Evaldo Teles. Loucura e estigma à luz da obra Dom Quixote de La Mancha.
2018. 24f. Artigo (Bacharelado em Medicina) - Centro de Formação de Professores,
Universidade Federal de Campina Grande, Cajazeiras, Paraíba, Brasil, 2018.

SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virginia A.; RUIZ, Pedro. Compêndio de Psiquiatria-:
Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Artmed Editora, 2016.

SOUZA, Flavia Bello Costa De; DREZETT, Jefferson; MEIRELLES, Alcina De Cássia;
RAMOS, Denise Gimenez. Aspectos psicológicos de mulheres que sofrem violência sexual.
Reprodução & Climatério, [S. l.], v. 27, n. 3, p. 98–103, 2012. DOI:
8

10.1016/j.recli.2013.03.002. Disponível em:


https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S141320871300006X. Acesso em: 28 set. 2023.

TORRE, E. H. G.; AMARANTE, P. Protagonismo e subjetividade: a construção coletiva no


campo da saúde mental. Cien Saude Colet, v. 6, n. 1, p. 73-85, 2001.

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