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TIPOGRAFIA DIGITAL -

HISTÓRIA E CLASSIFICAÇÃO
TIPOGRÁFICA
A u t o r : Me . Gab r i e l D ar c i n A l s o u za
R e v i s o r : Ed n i l t o n S i l v e s t r e C o s t a

[...]
A escrita foi um passo primordial para o desenvolvimento de
civilizações complexas, permitindo o registro e divulgação de
informações que transcendem as limitações espaciais e temporais
da fala. A escrita se complexifica com o passar do tempo e, assim,
desenvolvem-se os alfabetos, os sinais gráficos, convenções
linguísticas da escrita e ferramentas para a escrita.

Primeiramente, tem-se a produção de imagens e, na sequência, o


desenvolvimento de imagens que passam a ter um significado
intersubjetivo, ou seja, tem-se a imagem enquanto comunicadora. A
imagem passa a se abstrair e se torna linguagem. Na Mesopotâmia,
é possível identificar a primeira formalização de uma língua escrita.
Na cidade de Uruk, em 3000 a.C., por exemplo, utilizava-se a
pictografia para registrar informações importantes ao convívio em
comunidade. Contudo, a pictografia se abstrai e se torna a escrita
cuneiforme, a qual deixava de representar o mundo de forma
figurativa para representar ideias a partir de abstrações a
convenções.

A escrita cuneiforme na Mesopotâmia passou a abranger


pictogramas, ideografias e rébus, que contemplavam um sistema
amplo e complexo para ser apreendido. Logo na sequência, tem-se
o desenvolvimento dos hieróglifos egípcios e da escrita chinesa,
contudo, tais linguagens, assim como a cuneiforme, demandavam
muito treino para serem dominadas, visto que possuíam um
número muito alto de signos. A produção do alfabeto buscou
resolver esse problema, simplificando os signos em letras
(caracteres) as quais representam sons elementares de uma língua
falada. Assim, os caracteres podem ser utilizados para formar
palavras e, consequentemente, sentenças. Tal alteração foi de suma
importância para o desenvolvimento das civilizações (MEGGS;
PURVIS, 2009).

A Grécia representou um importante momento para a escrita por


meio do desenvolvimento do alfabeto e da língua grega, os quais
possibilitaram o desenvolvimento de saberes como filosofia e
política. Contudo, é a partir do Império Romano que o alfabeto
ganha a conformação atual ociedental. O alfabeto latino era
composto inicialmente pelas letras: A, B, C, D, E, F, G, H, I, K, L, M, N,
O, P, Q, R, S, T, V e X. Posteriormente, ocorreu a adição das letras
gregas Y e Z, após a absorção da cultura grega pelos romanos. Na
idade média, foram incluídas as letras: J, U e W (MEGGS; PURVIS
2009).

Tanto nas letras gregas quanto nas romanas, ocorre uma


geometrização cada vez maior. As letras gregas eram feitas,
principalmente, com linhas retas, finas e formas curvas abertas,
quando possível. No entanto, com o tempo, as letras gregas
engrossaram o traço, diminuíram sua abertura e surgiram as serifas,
que são traços nas terminações das letras. As letras romanas dão
sequência ao estilo grego, contudo, com um traço modesto e
modulado, isto é, a espessura do traço varia de acordo com o ângulo
que o escriba segura a pena, o qual é levemente inclinado, visto que
é uma posição confortável para a escrita do destro. As serifas
romanas são mais visíveis (MEGGS; PURVIS, 2009).

Posteriormente, no início da Idade Média, houve o desenvolvimento


das unciais, que consistiam em uma maneira de escrever as letras
de forma mais rápida e ágil. As unciais passaram a ter ascendentes
e descendentes e teve início um processo longo de produção da
caixa-baixa, este novo formato – semiunciais – era ainda mais ágil e
fácil de escrever. As letras passam a sofrer variações especialmente
ocasionadas pelo isolamento promovido no início da Idade Média,
por conta do perigo de viajar. Tem-se a formação da fonte celta que
continua o projeto das semiuniciais; Carlos Magno instaura uma
revolução tipográfica por meio dos tipos carolíngios, os quais foram
projetados de forma institucional para serem mais legíveis e fáceis
de escrever. Contudo, no período românico e gótico, as letras
retomam o peso por meio das letras góticas. As letras góticas
possuíam uma textura pesada na página e eram compostas por
letras quadradas com poucos arredondamentos e eixo vertical
pesado e dominante (MEGGS; PURVIS).

Desde a consolidação do alfabeto grego, muitas alterações foram


realizadas na escrita, como maiúsculas estreitas, rústicas e unciais
largas, letra gótica, maiúsculas e minúsculas. Houve também o
desenvolvimento de pontuação na Idade Média, especialmente por
conta das anotações musicais, e as variações na forma das letras,
que se alteram de acordo com o tempo, região e língua. Além disso,
na Europa, ocorre o desenvolvimento de línguas e variações
estilísticas de layout e ilustração. Na Idade Média, por exemplo, um
copista bem treinado reconhecia aproximadamente cerca de 10
estilos de escrita diferentes (MEGGS; PURVIS, 2009).

Após a ascensão do cristianismo no Império Romano, é possível


identificar o surgimento dos manuscritos iluminados, ou seja, livros
cuidadosamente preparados, escritos e decorados de cunho
religioso. Para ser mais preciso, isso ocorre nas três religiões
monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo. Os manuscritos
iluminados são a principal fonte que possuímos hoje para
compreender o desenvolvimento da escrita (MEGGS; PURVIS, 2009).

Saiba mais
O Livro de Kells é um manuscrito religioso produzido
aproximadamente no século 9, na Irlanda. Tanto a escrita como as
ilustrações são amplamente ricas e possibilitam compreender o
patrimônio intelectual e material que envolvia a produção de um
livro. A seguir, você encontra o link de um microdocumentário
sobre a caligrafia do Book of Kells produzido pela Trinity College
Dublin, universidade irlandesa que detém o Livro de Kells. Embora
esteja em inglês, é possível utilizar a ferramenta do Google para
traduzir. No canal do Youtube da Trinity College, é possível
encontrar outros microdocumentários sobre o assunto.

O Livro de Kells é um exemplo notável de como o processo de escrita


era restrito. Na Idade Média, a produção de livros ocorria de forma
lenta, por exemplo, um simples livro de 200 páginas exigia cerca de
cinco meses de trabalho de um escriba e 25 peles de carneiro
como suporte de pergaminho, isso sem considerar os anos de
estudo e prática aos quais os escribas eram submetidos para
realizar tal função. Os escribas (copistas) eram treinados para
copiar manuscritos utilizando técnicas de escrita e formas
tipográficas específicas. Esse trabalho era a principal forma de
reprodução de textos e imagens dominados pelo clero. Tal
processo era bastante lento, complicado e caro (MEGGS, PURVIS,
2009).
Para ser mais claro, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido,
possuía apenas 122 livros em sua biblioteca em 1424, pois os livros
eram os bens mais caros do momento e o principal patrimônio da
universidade. No entanto, havia uma crescente demanda por livros
e textos impressos, considerando a constante complexificação da
sociedade e o aparecimento da classe média burguesa que buscava
formas de ascensão. Desse modo, a produção de livros passa a
deixar de ser limitada ao universo religioso e passa a ser também do
interesse da burguesia (MEGGS; PURVIS, 2009).

Vamos Praticar
O eixo humanista surge com a caligrafia na Idade Média. Ele
implica um modo natural da escrita no qual os braços ficam
relaxados e conseguem percorrer o papel com facilidade. Para
escrever a partir do eixo humanista, basta utilizar uma pena chata
ou caneta com ponta chata, quanto mais larga for a ponta chata,
mais visível ficará o contraste da tipografia.

Com a ajuda de uma pena ou caneta chata, escreva algumas


palavras com o braço levemente inclinado em uma posição de
descanso. Depois, observe as letras escritas e como o peso das
letras varia de acordo com o movimento. Lembrando que o eixo
deve ser no sentido noroeste/sudeste.

História da tipografia
Inicialmente, a escrita era realizada por meio da inscrição de pedras,
argilas (que depois eram sacadas ou cozidas para tornarem-se
pedras) e madeira. Posteriormente, passou-se a utilizar papiro,
pergaminho e, posteriormente, papel advindo da china. Além disso,
utilizava-se também o formato de rolo, entretanto, a partir do
cristianismo, adotou-se o formato códice. A tecnologia de inscrição
era realizada por pena e pincel, porém, algumas transformações
técnicas possibilitaram o aparecimento de uma tecnologia mais
eficiente para o registro e disseminação de informações (MEGGS,
PURVIS, 2009).

Na China, aconteceram as primeiras experiências de impressão que


possibilitaram uma otimização no processo de produção e
divulgação de textos e imagens. No século III a.C., já eram utilizados
“sinetes”, os quais consistiam em pequenos carimbos que, por meio
do relevo cuidadosamente entalhado, possibilitaram a impressão
rápida de sinais de identificação. Posteriormente, passou-se a
desenvolver o decalque de matrizes de pedra que continham
inscrições em relevo e, depois, o desenvolvimento e
aperfeiçoamento da xilografia para a produção de dinheiro, textos
religiosos e registros do governo.

Contudo, a revolução acontece com a produção de “tipos móveis”,


desenvolvidos por Bì Sheng, em 1045, na China. Os tipos móveis
eram pequenas matrizes intercambiáveis para cada caractere da
escrita, os quais eram reaproveitados. Porém, a escrita chinesa não
é alfabética, assim, a produção a partir de tipos móveis não
impactou drasticamente a sociedade chinesa. Os tipos móveis,
entretanto, alteraram as dinâmicas europeias, visto que
proporcionaram um aumento radical do material impresso, a
alfabetização e transformações tecnológicas (MEGGS; PURVIS,
2009).

Por volta de 1450, o alemão Gutenberg reúne uma série de inventos


que estavam sendo desenvolvidos na europa a partir do comércio
com a Ásia, e os organiza em um complexo sistema, composto por
subsistemas, o qual permitia imprimir livros em grande escala por
meio da ideia de tipos móveis. Tem-se, assim, o surgimento da
impressão tipográfica, ou seja, a impressão a partir de matrizes
intercambiáveis, independentes, móveis e reutilizáveis de metal ou
madeira em alto-relevo. Dentre os feitos de Gutenberg, destaca-se
o desenvolvimento de um sistema para a produção de tipos móveis
a partir de metal. Os tipos móveis desenvolvidos por Gutenberg
tinham o objetivo de simular a escrita dos escribas de sua região
(estilo gótico). Desse modo, o alemão produz também a primeira
família tipográfica, composta de letras quadradas e compactas, que
possibilitam economizar papel, bem como possuem letras
maiúsculas e minúsculas, ligaturas, pontuação e numerais.
Gutemberg também desenvolveu uma tinta específica à base de
óleo (MEGGS; PURVIS, 2009).

Gutenberg trabalhou cerca de 10 anos para obter sua primeira


impressão e cerca de 20 anos até a conclusão de seu primeiro livro:
A Bíblia das 42 linhas. Durante sua pesquisa em materiais e técnicas
para tornar a tipografia uma realidade, o alemão realizou
empréstimos os quais não conseguiu pagar e, por conta disso, foi
processado e perdeu sua oficina gráfica nas vésperas da conclusão
de sua obra-prima (MEGGS; PURVIS, 2009).

O desenvolvimento da tipografia por Gutenberg foi rapidamente


copiado por outras oficinas e logo aconteceu a instauração de
gráficas que tornaram a produção de materiais impressos mais
acessível. Com isso, surgiu também a figura do tipógrafo que
desenvolve famílias tipográficas para serem utilizadas nas gráficas.
Além disso, há também a figura do compositor, ou seja, aquele que
utiliza uma família tipográfica para diagramar a página a ser
impressa. A possibilidade de reproduzir textos por um valor mais
acessível foi transformadora, sendo ela um dos passos mais
importantes da humanidade. Sem a impressão tipográfica,
certamente, a modernidade não teria se desenvolvido da forma
como se desenvolveu (MEGGS; PURVIS, 2009).

Estilos Históricos Tipográficos


Ao longo da história, é possível identificar variações na forma da
tipografia e na maneira de compor os impressos, sendo elas
atreladas às transformações produtivas, técnicas, culturais e
artísticas. O infográfico interativo a seguir apresenta a letra “f” e
destaca alguns elementos de sua anatomia, os quais variam ao
longo da história da tipografia.

ANATOMIA DA LETRA
As letras são compostas por diversos elementos, os quais variam
conforme o decorrer da história da tipografia. Alguns desses
elementos, no entanto, são determinantes para a anatomia geral
da fonte”.

Originalmente, as serifas (destacadas na fonte) eram traços em


algumas terminações das letras inscritas em pedra. Com o tempo,
se tornaram recursos estilísticos das letras e podem variar em
tamanho, largura, formato ou serem ausentes.
Repare que existe uma diferença na largura do traço ao longo da
letra “f”. Existem duas áreas destacadas em azul na letra: uma
superior, que enfatiza a menor largura; e uma inferior, que enfatiza
a maior largura do traço. Essa diferença ocorre por conta do uso de
pena chata na produção de letras, o que promove uma variação do
traço a partir da pressão e formato da pena. A diferença entre o
traço mais largo e mais fino é denominada contraste tipográfico,
podendo ser inexistente ou sutil, moderada e exagerada.
A imagem apresenta uma barra inclinada sobre a letra que
representa o eixo da escrita, ou seja, a postura angular do braço de
quem escreve a letra. Observe que o contraste tipográfico varia de
acordo com o eixo da escrita, sendo a parte mais fina do traço
sempre perpendicular e a mais grossa paralela ao eixo.
A seguir, abordaremos algumas considerações sobre como as letras
e a tipografia se alteram ao longo da história, uma vez que os estilos
continuam sendo revisitados por designers na produção de imagens
e textos que referenciam o passado ou utilizam o passado para
projetar o futuro. A análise proposta tem por base o histórico da
tipografia desenvolvido por Bringhurst (2011). A apresentação tem
como foco as letras latinas, desse modo, letras góticas, carolíngias e
celtas não serão levadas em consideração, especialmente porque
passam a ser pouco utilizadas a partir da modernidade.

Renascentista
As famílias tipográficas renascentistas romanas foram
desenvolvidas a partir de 1465 e continuaram por mais de um
século. A referência para esse estilo consistia no retorno aos gregos
e romanos, assim como no renascimento cultural. Assim como as
obras artísticas renascentistas que se opuseram à obscuridade do
gótico, a tipografia passa a assumir formas mais leves. O eixo
humanista é a principal característica, isto é, a tipografia busca
simular a maneira como os escribas seguravam as penas no ato da
escrita, o que proporciona um traço modulado no sentido
noroeste/sudeste (BRINGHURST, 2011).

O traço renascentista possui um contraste médio, ou seja, a


diferença na espessura do traço varia de forma moderada. As serifas
são bem-definidas, sendo as do topo inclinadas (em letras como “b”
e “r”) e as da base bilaterais abruptas, chatas ou levemente abertas
(em letras como “r”, “l” e “p”); terminais são abruptos assim como no
traço a partir de pena, como nas letras “a”, “c”, “f” e “r”; barra do “e”
é perpendicular ao eixo humanista; bojos são aproximadamente
circulares; hastes são verticais e altura-x é modesta. A letra
renascentista romana não acompanha uma versão itálica, sendo
esta versão utilizada como uma opção para a letra romana. Com o
passar do tempo, as letras ficam mais suavizadas: as serifas do topo
se tornam mais próximas de uma cunha; as serifas da base se
tornam menos abruptas, as terminações se suavizam a se
aproximam da forma de uma gota; e a barra do “e” se torna
horizontal (BRINGHURST, 2011).

Na imagem a seguir, é possível identificar quatro famílias


tipográficas contemporâneas que simulam as tipografias
renascentistas romanas, respectivamente: Centaur (1914) de Bruce
Rogers a partir do trabalho do tipógrafo Nicolas Jenson; Bembo
(1929) da Monotype a partir do trabalho do tipógrafo Francesco
Griffo; Adobe Garamond (1988) por Robert Slimbach a partir do
trabalho do tipógrafo Claude Garamond; DTL van den Keere por
Frank Blokland a partir do trabalho do tipógrafo Hendrik van den
Keere. Os quatro exemplos ilustram as principais características da
tipografia renascentista romana e também mostram divergências
sutis entre elas, como a terminação da letra “j” (BRINGHURST, 2011).
Figura 1.1 - Tipografias renascentistas romanas.
Fonte: Bringhurst (2011, p. 137).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, c, e, f, g, n, o, p e j
em quatro famílias tipográficas diferentes: Centaur, Bembo, Adobe
Garamond e DTL van den Keere. As letras estão em cor preta sobre
fundo branco.
A letra romana caixa-alta tem origem nas inscrições imperiais
romanas e a letra romana caixa-baixa foi desenvolvida na Idade
Média, recebendo os ajustes finais em Veneza, na baixa renascença.
Consequentemente, convencionou-se chamar a letra romana o
conjunto de caixa-alta e caixa-baixa. Na renascença, a Itália
contribuiu mais uma vez com o desenvolvimento de uma nova
modalidade de letra: a letra itálica, ou seja, a letra levemente
deitada. No entanto, inicialmente, a letra itálica não era
desenvolvida para ser utilizada no texto em parceria com a romana
(como utiliza-se atualmente para destacar trechos), mas sim para
otimizar a quantidade de letras na página dos livros. A romana era
utilizada por si só em sua modalidade de caixa-alta e baixa, e a itálica
era utilizada majoritariamente em caixa-baixa, com a utilização de
iniciais romanas em caixa-alta (BRINGHURST, 2011).
A letra renascentista itálica tem as seguintes conformações: hastes
de inclinação regulares, não excedendo 10º; bojo elíptico; traços
leves (baixo contraste) e modulados de acordo com o eixo
humanista; altura-x modesta; serifas de entrada e saída bem-
definidas e oblíquas; descendentes serifados de ambos os lados ou
sem serifas; terminais abruptos ou em gota; itálico independente do
romano, sendo utilizada a caixa-baixa itálica com versais romanas
eretas. A seguir, é possível ver, respectivamente, as letras das
famílias tipográficas: Monotype Arrighi por Frederic Warde a partir
do trabalho de Ludovico degli Arrighi; Monotype Bembo Italic
baseada no trabalho de Arrighi e Giovanni Antonio Tagliente
(BRINGHURST, 2011).

Figura 1.2 - Tipografias renascentistas itálicas


Fonte: Bringhurst (2011, p. 138).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, c, e, f, g, n, o, p, x,
y e z em duas famílias tipográficas diferentes: Monotype Arrighi e
Monotype Bembo Italic. As letras estão em cor preta sobre fundo
branco.

Maneirista
O maneirismo é uma fase intermediária entre o renascimento e o
barroco, desse modo, a tipografia maneirista permite sutis exageros
ornamentais, adicionando extensão, angularidade e tensão às
letras. Famílias tipográficas eram feitas especificamente para os
títulos em versais romanos com extensões longas e ornamentadas.
As fontes de texto eram mais contidas, porém, ainda continham
elementos decorativos. Durante o maneirismo, também foi possível
observar a utilização de tipos romanos e itálicos no mesmo livro e,
às vezes, na mesma página (BRINGHURST, 2011).

A seguir, encontram-se duas versões contemporâneas baseadas em


famílias tipográficas maneiristas. A primeira tipografia é a Poética
(1992) de Robert Slimbach, e foi produzida com base em tipografias
do século 16. Ela possui elementos decorativos como na letra “e”, “d”
e “z”, além disso, possui ligaturas no duplo “f” e “s” e “p”. As ligaturas
e elementos decorativos eram utilizados com modéstia e destinados
a momentos de destaque do texto, com a finalidade de não
atrapalhar a leitura. A segunda tipografia é a Galliard (1978) por
Matthew Carter baseada no trabalho de Robert Granjon. Na
segunda tipografia, notam-se letras mais simples destinadas à
produção textual. A tipografia segue o estilo renascentista, com
traço e contraste moderado, seguindo o eixo humanista
(BRINGHURST, 2011).
Figura 1.3 - Tipografias maneiristas
Fonte: Bringhurst (2011, p. 140).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras e, com uma longa
extensão ornamental, q, u, b, d, a, ligatura entre dois f, g, l, o, p,
ligatura entre s e p, e z com extensão final. Na linha seguinte,
encontram-se as letras a, b, e, f, o, p, primeiro na versão romana
seguida da versão em itálico. A primeira linha é feita com letras da
Poética e a segunda a partir da Galliard. As letras estão em cor
preta sobre fundo branco.

Barroca
A tipografia barroca segue a lógica do movimento artístico barroco,
ou seja, aposta em contradições tipográficas, especialmente,
mantendo o eixo humanista para algumas letras e invertendo-o em
outras, acontecendo tanto na caixa-baixa quanto na romana, como
itálica. Na itálica, tal contradição fica ainda mais evidente, visto que
as letras são escritas de forma ambidestra, ou seja, tanto da direita
para esquerda como da esquerda para a direita. Desse modo, o
barroco passa a se distanciar do modelo manuscrito e a criar uma
nova linguagem a partir da noção de que as letras não precisam ser
desenvolvidas a partir da lógica da pena. Tal noção será continuada
ao longo da história da tipografia e aprofundada ainda mais nos
movimentos subsequentes.
O jogo dramático é continuado na mistura do estilo itálico e do
romano na mesma linha, criando ritmo e ênfases. As letras
apresentam um traço ainda mais modulado e maior contraste. A
inclinação da itálica é mais notável que na renascentista, cerca de
15º a 20º. A altura-x é maior e a abertura é reduzida. As terminações
são suavizadas e tomam a forma mais próxima da gota. As serifas
do topo das romanas se tornam cunhas afiadas e o topo das
ascendentes itálicas mais precisas e niveladas (BRINGHURST, 2011).

As tipografias barrocas tiveram sua glória no século 17, resistiram


ao século 18 e retornaram no século 19. A seguir, encontram-se
quatro fontes contemporâneas inspiradas em fontes barrocas:
Monotype Garamond, a qual não é baseada no trabalho de
Garamond, mas em Jean Jannon; DTL Elzevir baseada nas fontes de
Christoffel van Dijck; Linotype Janson Text baseada em Miklós Kis;
Adobe Caslon de Carol Twombly baseado no trabalho de William
Caslon. É possível identificar nelas formas mais fechadas e oposição
ao eixo humanista no “e” (BRINGHURST, 2011).

Figura 1.4 - Tipografias barrocas.


Fonte: Bringhurst (2011, p. 141).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, e, f, o, p na
versão romana e itálica em quatro famílias tipográficas diferentes:
Monotype Garamond, DTL Elzevir, Linotype Janson Text e Adobe
Caslon. As letras estão em cor preta sobre fundo branco.

Rococó
O Rococó é um exageramento do barroco. A tipografia rococó
utilizou poucas letras romanas e itálicas, utilizando em grande
medida fontes góticas junto a elementos decorativos. A imagem a
seguir apresenta letras com uma ornamentação única,
especialmente nas terminações da letra “g” e do descendente de “y”.
As serifas das letras maiúsculas possuem um formato único. As
letras possuem o eixo das letras barrocas, porém, no contraste das
letras românticas, consequentemente, observa-se o aspecto de
transição do rococó (BRINGHURST, 2011).

Figura 1.5 - Tipografias rococó


Fonte: Bringhurst (2011, p. 142).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, c, e, f, g, n, o, p e
y, na primeira linha, em caixa-baixa. Na segunda linha, tem-se, em
caixa-alta, as letras C, E, F, O, T e Z. Na terceira linha, tem-se as
letras a, b, c, e, f, g, n, o, p e y em caixa-baixa romana. A tipografia
utilizada é a DTL Fleischmann. As letras estão em cor preta sobre
fundo branco.

Neoclássica
A tipografia neoclássica retoma a racionalidade da antiguidade e do
renascimento, tendo em vista a importância da geometria e da
matemática. Como resultado, a letra neoclássica tem uma
consistência rigorosa. O eixo humanista é substituído pelo eixo
racionalista, ou seja, vertical. Mesmo na fonte itálica há uma
tentativa de torná-la mais reta, possuindo uma inclinação média de
14º a 16º. Isso ocorre porque havia um novo apreço pela
racionalidade, geometria e matemática na sociedade,
acompanhando o desenvolvimento burguês de uma sociedade
rumo ao industrial e ao técnico. Embora não rompa com o traço
modulado da pena, a letra se torna não cursiva. Tem-se uma
indiferença em relação à beleza orgânica e uma guinada rumo às
proporções matemáticas. As letras são estéticas e contidas, com
contraste e abertura moderada. As serifas são adnatas, embora
mais finas, niveladas e achatadas (BRINGHURST, 2011).

A imagem a seguir apresenta três versões contemporâneas de


fontes neoclássicas. A primeira é a Monotype Fournier baseada no
trabalho de Pierre Simon Fournier. A segunda é a Monotype
Baskerville, baseada nos desenhos de John Baskerville. A última é a
Monotype Bell baseada no trabalho de Richard Austin. O eixo
racionalista pode ser notado principalmente na segunda e última
fontes, especialmente na letra “e”. As serifas e terminações possuem
diferenças entre si, porém, podem ser reconhecidas quando
comparadas com períodos anteriores (BRINGHURST, 2011).
Figura 1.6 - Tipografias neoclássicas
Fonte: Bringhurst (2011, p. 144).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, e, f, o, p em
romana e itálica em três famílias tipográficas distintas que se
referem ao neoclassicismo: Monotype Fournier, Monotype
Baskerville e Monotype Bell. As letras estão em cor preta sobre
fundo branco.

Romântica
O romantismo e o neoclassicismo ocorrem simultaneamente no
âmbito tipográfico, havendo convergências e divergências em
relação à tipografia. O romantismo também utiliza o eixo
racionalista, o qual fica ainda mais visível, visto que passa a utilizar
uma modulação do traço abrupto e com um alto contraste. A letra
romântica se distingue ainda mais da cursividade, isto é, as letras
parecem ser cada vez mais desenhadas e não realizadas a partir da
pena. De fato, a pena larga passa a ser substituída pela pena fina e
flexível, com a qual é possível desenhar melhor as letras e controlar
as áreas. O contraste auxilia a intensificar o contraste vertical da
fonte e as serifas se tornam mais finas para intensificar a
verticalidade. As terminações assumem a forma de círculo e a
abertura é reduzida (BRINGHURST, 2011).
Embora a fonte romântica compartilhe características com a
neoclássica, na prática, é fácil identificá-las, pois a romântica tem um
contraste visivelmente maior. A imagem a seguir apresenta quatro
famílias tipográficas inspiradas em fontes românticas: a Monotype
Bulmer baseada no trabalho de William Martin; a Linotype Didot por
Adrian Frutiger e baseada no trabalho de Firmin Didot; a Berthold
Bodoni baseada em Giambattista Bodoni; Berthold Walbaum
baseada nos tipos de Justus Erich Walbaum (BRINGHURST, 2011).

Figura 1.7 - Tipografias românticas


Fonte: Bringhurst (2011, p. 144).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, e, f, o, p em
romana e itálica em quatro famílias tipográficas distintas que se
referem ao romantismo: Monotype Bulmer, Linotype Didot,
Berthold Bodini e Berthold Walbaum. As letras estão em cor preta
sobre fundo branco.

Realista
Nos séculos anteriores, as vertentes artísticas eram mais espaçadas
temporalmente e invadiam a sociedade europeia em todos os seus
aspectos. Contudo, com a aceleração industrial do século 17,
passou-se a encurtar os períodos artísticos e torná-los mais
numerosos. Nos séculos 19 e 20, por exemplo, ocorreu uma
explosão radical de movimentos como realismo, naturalismo,
impressionismo, expressionismo, art nouveau, art déco,
construtivismo, cubismo, neoplasticismo, entre outros. Certamente,
todos esses movimentos influenciaram a produção de famílias
tipográficas (BRINGHURST, 2011).

Reflita
Dito isso, destaca-se que a história da tipografia apresentada aqui é,
sobretudo, limitada, pois seria impossível apresentar em poucas
páginas a variação gigante que a forma tipográfica assume no
decorrer da história. Nesse sentido, essa apresentação histórica tem
por fim introduzir os movimentos mais importantes de acordo com
Bringhurst (2011), no entanto, é importante que o aluno se posicione
de forma crítica diante do texto, questione as decisões do autor e
expanda o quadro de referências aqui proposto. Com base em seu
conhecimento sobre história da arte, quais outros movimentos
parecem contribuir para o desenvolvimento de famílias tipográficas?
Você já pesquisou se existem tipografias inspiradas nesses
movimentos?

Fonte: Adaptado de Bringhurst (2011).

O realismo teve um impacto significativo na tipografia. Se o


neoclássico e romântico têm um cunho acadêmico e elitista, o
realismo é uma simplificação das famílias tipográficas. Desse modo,
elementos como versalete e algarismo de textos são retirados. Em
alguns casos, a tipografia realista se baseia na forma da letra
neoclássica e romântica, possuindo, porém, um traço mais
homogêneo e serifas egípcias. Em outros casos, é possível identificar
o desaparecimento da serifa (BRINGHURST, 2011).

Figura 1.8 - Tipografias realistas


Fonte: Bringhurst (2011, p. 146).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, c, e, f, g, n, o e p
em romana, em duas famílias tipográficas distintas que se referem
ao realismo: Akzidenz Grotesk e Haas Clarendon. As letras estão
em cor preta sobre fundo branco.
Na imagem anterior, é possível identificar duas famílias tipográficas.
A primeira é a Akzidenz Grotesk, editada pela Fundição Berthold em
1898. A Akzidenz Grotesk é uma fonte sem serifa (sans serif ou
grotesk), sendo extremamente influente na expansão de fontes sem
serifas no século 20, influenciando a criação de fontes como a
Franklin Gothic e Helvetica. A ausência de serifas se torna um
elemento de simplificação e racionalização no século 20 nos
momentos modernistas. A segunda família tipográfica é a Haas
Clarendon de Hermann Eidenbenz, que é baseada no trabalho de
Benjamin Fox (BRINGHURST, 2011).
Saiba mais
As fontes romanas sem serifas surgem em moedas no início do
século 19. Posteriormente, passam a aparecer em fontes
nomeadas de egípcias, com um grande peso visual, e são utilizadas
para cartazes que se tornam cada vez mais presentes na vida dos
cidadãos em cidades industrializadas. A fonte sem serifa, contudo,
passa por uma migração de títulos grandes para compor o corpo
de texto de livros no século 20. Para saber mais, acesse o link:

Fonte: Bila’k (2019).

Expressionista
O tipo expressionista é marcado por experimentações gráficas na
produção dos tipos móveis. Se tradicionalmente utilizava-se a pena
chata (e depois a pena de ponta fina), o expressionismo utilizava
técnicas experimentais como lapidar a letra no próprio tipo móvel,
utilizar caneta em papel áspero para o projeto do tipo, e a
incorporação de tecnologias fotográficas em conjunto com
canivetes, cinzel, lima e linhas retas digitais. Como resultado, há
letras que fogem ao refinamento tradicional da tipografia, porém
encontrando um novo nível de expressão. Os contornos imprecisos
ainda lembram a xilografia, técnica amplamente utilizada no
expressionismo (BRINGHURST, 2011).
Figura 1.9 - Tipografias expressionista
Fonte: Bringhurst (2011, p. 149).
#PraCegoVer: a imagem apresenta na primeira linha as letras a, b,
c, e, f, g, h, i, j, o e p em romana, e na segunda linha a, b, e, f, o, p
em romana e itálica, em duas famílias tipográficas distintas que se
referem ao expressionismo: Preissig e Journal de Zuzana Licko. As
letras estão em cor preta sobre fundo branco.

Modernista Geométrica
O eixo racionalista do neoclassicismo e romantismo se transformou
no funcionalismo na tipografia moderna. O funcionalismo é a
principal vertente teórica do movimento moderno do design no
século 20 e pode ser sintetizada na frase de Louis Sullivan “a forma
segue a função”, ou seja, a forma deve ter sintonia com a
funcionalidade do design. No âmbito da tipografia, destaca-se a
tentativa de eliminar o aspecto decorativo da letra, como serifas e
terminações, e tornar a tipografia o mais racional e transparente
possível. No texto “A Taça de Cristal”, de Beatrice Warde (2015), a
autora defende que a tipografia deve ser tal qual uma taça de cristal
que existe apenas para segurar o vinho, apresentando-o em sua
total transparência para que as características do vinho se tornem
visíveis a partir da taça e não o contrário (BRINGHURST, 2011).
A forma geométrica tem grande destaque no design modernista. A
tipografia passa a ser amplamente influenciada pela geometria e as
letras passam a ser pensadas a partir de um grid geométrico. Os
traços abandonam a modulação da pena. Quando existem serifas,
elas tendem a ser grandes (egípcias), não havendo diferenciação do
traço principal e a serifa. Aspectos decorativos são eliminados. A
seguir, há duas famílias tipográficas. A primeira é a Futura de Paul
Renner e a Memphis de Rudolf Wolf. É possível identificar a
geometrização em ambos os casos. As letras a, b, c, e, g o e p
comungam a mesma forma circular, a qual é complementada por
traços para definir a forma tipográfica, além disso, o eixo é vertical e
horizontal. As serifas da Memphis são grandes e deixam de ser
apenas elementos decorativos para se tornar a forma da letra
(BRINGHURST, 2011).

Figura 1.10 - Tipografias modernistas geométricas


Fonte: Bringhurst (2011, p. 147).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, c, e, f, g, n, o, p
em romana, em duas famílias tipográficas distintas que se referem
ao modernismo geométrico: Futura e Memphis. As letras estão em
cor preta sobre fundo branco.
Modernista Lírica
Embora o modernismo tenha decretado o fim da mimésis e da
tradição, ocorre uma movimentação contra essa corrente de
valorização da caligrafia e, consequentemente, da tipografia
renascentista (neo-humanismo). A pena larga retorna às mãos dos
tipógrafos, consequentemente, tem-se um modernismo que retoma
o eixo humanista e a modulação do traço na produção de letras. O
modernismo lírico é uma retomada à tipografia renascentista, não
havendo muitas divergências entre elas. Na imagem a seguir, é
possível identificar quatro famílias tipográficas: Spectrum de Jan van
Krimpen; Palatino de Hermann Zapf; Dante de Giovanni
Mardersteig; Pontifex de Friedrich Poppl. Nelas, é possível identificar
a similaridade com a tipografia renascentista (BRINGHURST, 2011).

Figura 1.11 - Tipografias modernistas líricas


Fonte: Bringhurst (2011, p. 148).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, e, f, o, p em
romana e itálica, em quatro famílias tipográficas distintas que se
referem ao modernismo lírico: Spectrum, Palatino, Dante e
Pontifex. As letras estão em cor preta sobre fundo branco.
Pós-modernista
O pós-modernismo é o momento histórico que vivemos,
consequentemente, a história ainda não se distanciou ao ponto de
delinear com precisão a atualidade. Existem diversos debates que
tentam compreender e formular melhor as diferenças entre a
modernidade e a pós-modernidade. De forma geral, pode-se
destacar que a utopia modernista e racional falhou, resultando em
um mundo sem grandes narrativas e marcado por um consumo
cada vez mais acelerado. Nesse sentido, compreende-se que a
tipografia acompanha essa linha, se desenvolvendo sem uma
narrativa clara. Atualmente, a tipografia é tal qual bricolagem: um
olhar atento ao passado para reinventar o presente sem um
conjunto claro de regras e normas. Consequentemente, é difícil
definir diretrizes claras da tipografia contemporânea, o que pode-se
definir, de fato, é a sua fluidez estilística (BRINGHURST, 2011).

Um fato atrelado a isso é a digitalização da tipografia, que será


trabalhada no próximo tópico. A tipografia, hoje, não é mais feita
para ser impressa por meio da impressão tipográfica, mas é
desenhada no computador para o uso digital e impresso por meio
de outras formas de impressão. Certamente, isso possibilita uma
série de novos desafios e possibilidades. A seguir, estão duas
imagens contendo, no total, quatro fontes pós-modernas. As duas
primeiras fontes são exemplos de tipografias elegíacas, isto é, fontes
que reciclam formas neoclássicas e românticas. São elas: Esprit por
Jovica Veljovic e Nofret de Gudrun Zapf-von Hesse. As duas últimas
são de caráter mais geométrico, no entanto, a geometria não é
tomada de forma rígida como no modernismo geométrico. São elas:
Triplex Sans por John Downer e Officina Serif por Erik Spiekermann
(BRINGHURST, 2011).
Figura 1.12 - Tipografias pós-modernas elegíacas
Fonte: Bringhurst (2011, p. 150).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, e, f, o, p em
romana e itálica, em duas famílias tipográficas distintas que se
referem ao pós-modernismo elegíaco: Esprit e Nofret. As letras
estão em cor preta sobre fundo branco.

Figura 1.13 - Tipografias pós-modernas geométricas.


Fonte: Bringhurst (2011, p. 151).
#PraCegoVer: a imagem apresenta as letras a, b, e, f, o, p em
romana e itálica, em duas famílias tipográficas distintas que se
referem ao pós-modernismo geométrico: Triplex Sans e Officina
Serif. As letras estão em cor preta sobre fundo branco.

Revisando a História da
Tipografia
A história da tipografia auxilia a compreender as letras utilizadas na
contemporaneidade. A importância de conhecer a história da
tipografia não está na memorização dos detalhes, mas na
sensibilização do olhar do sujeito para que ele consiga identificar os
detalhes da tipografia e como esses detalhes variam no decorrer da
história.

As imagens apresentadas anteriormente demonstram oito


variações estilísticas da tipografia ao longo da história. Preste
atenção em: como o eixo da tipografia varia no decorrer da história;
como o contraste se altera; como as formas se tornam mais e menos
geométricas; e como a serifa e as terminações se alteram ao longo
da história.

Teste seus Conhecimentos


(Atividade não pontuada)
O estudo sobre a história auxilia o tipógrafo a compreender o
presente. Ao se atentar ao passado, é possível compreender os
elementos da tipografia, suas variações e fontes contemporâneas
as quais ainda não foram classificadas. Observe atentamente a
imagem a seguir.
Fonte: Elaborada pelo autor.
#PraCegoVer: Letras a, b, p, f, o e e em romana e itálica, sendo a
primeira linha em caixa-baixa e a segunda em caixa-alta. A terceira
e quarta linhas são um exemplo da fonte aplicada a um texto
(lorem ipsum). As letras estão em preto sobre fundo branco.
Analise a tipografia na imagem acima e assinale a alternativa que
melhor descreve os componentes formativos da letra.

a) A tipografia em questão é caracterizada pelo eixo


humanista.
b) A tipografia em questão é caracterizada pelo alto
contraste tipográfico.
c) A tipografia em questão é caracterizada pelo uso de
serifas egípcias.
d) A tipografia em questão é caracterizada pela
geometria.
e) A tipografia em questão é caracterizada pelas
terminações decorativas.

Tipografia Digital
Tipografia Digital
A imprensa de Gutenberg transformou a maneira como se imprime
textos, no entanto, não foi a única. A xilogravura é anterior ao tipo
móvel de Gutenberg, já possibilitando a produção de textos de
forma mais gestual e sem a necessidade de criação de famílias
tipográficas. Logo, na sequência do tipo móvel, surgiu a impressão
calcográfica (gravura em metal), que também permitia a produção
de textos e imagens a partir da gravação da matriz em metal. A
xilografia, tipografia e caligrafia são utilizadas, muitas vezes, de
forma integrada na produção de livros e cartazes (VILLAS-BOAS,
2010).

No entanto, a Revolução Industrial introduz cada vez mais novas


técnicas de composição e produção. A litografia, por exemplo, era a
produção de impressos a partir do desenho direto em uma matriz
de pedra com tinta gordurosa, tal técnica possibilitou impressos que
parecem ter sido feitos à mão com um crayon ou aguada. No âmbito
da tipografia, isso trouxe a possibilidade de pensá-la não mais
enquanto tipo móvel, o que significava uma série de limitações
técnicas, mas desenvolver tipografias cada vez mais criativas e
únicas. O design de cartazes do século 19, por exemplo, é repleto de
letras cada vez mais chamativas que, em conjunto com um mercado
de massas, traziam o imperativo do consumo moderno. A impressão
fotográfica também passa a se inserir no processo de design no final
do século 19 e início do século 20, possibilitando a composição de
matrizes de forma muito mais rápida e criativa, possibilitando jogos
e brincadeiras a partir da tipografia.

Mesmo as técnicas tipográficas sofreram transformações com a


Revolução Industrial, como a linotipia e a monotipia. Além disso, os
processos de fabricação do papel se alteraram. As impressoras se
tornaram rotativas para aumentar a velocidade. Formas
contemporâneas de impressão surgiram, como a offset, flexografia,
rotografia, serigrafia e digital.

Saiba mais
A impressão tipográfica tradicional era bastante complexa. Após o
desenvolvimento do tipo móvel, era necessário compor cada uma
das páginas manualmente, utilizando espaçadores analógicos. O
vídeo a seguir apresenta um microdocumentário de um ateliê
tipográfico, no qual é possível ver a quantidade de material, tempo
e trabalho necessários para a produção de uma página simples.
Atualmente, basta o designer abrir um programa, como Photoshop e
o InDesign, para ter todos esses recursos de forma simples e
rápida. Veja o vídeo no link a seguir:

ACESSAR

O computador e os meios digitais de composição e impressão se


tornam cada vez mais presentes nos processos de impressão.
Inicialmente, se inseriram no processo de gravação de chapas e hoje
em dia são parte do cotidiano de todos. No momento, você, aluno(a),
deve estar estudando por meio de um dispositivo digital, como
celular, tablet ou computador. O presente texto se encontra em uma
ou mais tipografias diagramadas em sua tela. As famílias
tipográficas que antes eram desenvolvidas na base da fundição do
tipo móvel, hoje são realizadas por meio de programas digitais que
possibilitam configurações cada vez mais ricas para o âmbito
tipográfico. Os tipos são inseridos nas telas por comandos como
o font-face na linguagem de marcação CSS para arquivos web (Lupton
2015). Tal mudança implica em uma riqueza ainda maior de
possibilidades, como as animações tipográficas.

Teste seus Conhecimentos


(Atividade não pontuada)
As fontes com serifas são as mais tradicionais no âmbito da
tipografia. Embora, atualmente, as fontes utilizadas no universo
digital sejam em grande parte sem serifas, as serifas continuam
sendo utilizadas. A imagem abaixo apresenta uma família
tipográfica recente que utiliza serifas.
Fonte: Elaborada pelo autor.
#PraCegoVer: há as letras “a”, “b”, “p”, “f”, “o” e “e” em romana e
itálica, sendo a primeira linha em caixa-baixa e a segunda em caixa-
alta. A terceira e quarta linhas são um exemplo da fonte aplicada a
um texto (lorem ipsum). As letras estão em preto sobre fundo
branco.
Analise a tipografia na imagem acima e assinale a alternativa que
melhor descreve os componentes formativos da letra.

a) A tipografia em questão é caracterizada pela altura-x


baixa.
b) A tipografia em questão é caracterizada pelo traço não
modulado.
c) A tipografia em questão é caracterizada pelo uso
consistente da serifa na versão romana e itálica.
d) A tipografia em questão é caracterizada pelo itálico
com inclinação drástica.
e) A tipografia em questão é caracterizada pelo eixo
humanista.
Classificação Tipográfica
A classificação de famílias tipográficas é importante para que o
designer compreenda as fontes que está desenvolvendo ou
utilizando em seus projetos. A classificação da tipografia pode ser
realizada de diversas formas. A partir da história, a classificação já
foi apresentada em conjunto com a classificação a partir de
elementos que compõem a letra, como traço, eixo e existência de
serifas. Ou seja, quando foram apresentados os estilos históricos da
tipografia, foi apresentado também um vocabulário que deve ser
utilizado na classificação tipográfica, como: contraste tipográfico,
eixo, serifas, terminações.

Lupton (2006) apresenta uma outra maneira de classificar as


tipografias. Veja o quadro a seguir:

Nome Classificação

São fontes que emulam a


caligrafia como a renascentista,
maneirista e modernista lírica. O
que caracteriza uma fonte
humanista é a utilização do eixo
humanista consistente.

Transicionais São fontes de transição entre o


tipo humanista e moderno.
Exemplos disso podem ser
encontrados no barroco, rococó
e neoclássico. Possuem um
contraste maior que as
humanistas e eixo mais vertical.

Modernas São fontes com o eixo


racionalista e com alto
contraste. As fontes românticas
são o principal exemplo e
algumas fontes neoclássicas
também se enquadram.

Egípcias São fontes pesadas e


decorativas tradicionalmente
utilizadas para títulos ou
cartazes. Possuem serifas
pesadas e retangulares.

Sem serifas humanistas São fontes que retomam o eixo


humanista, porém sem a adição
de serifas. Esse estilo de fonte
tem um baixo contraste.

Sem serifas transicionais São fontes sem serifa que


não são geométricas e nem
humanistas. Possuem pouco
contraste e eixo mais vertical.

Sem serifas geométricas São fontes sem serifa e


geométricas. O traço tende a ser
uniforme e a fonte mais vertical.

Quadro 1.1 - Classificação tipográfica


Fonte: Adaptado de Lupton (2006).
Verifique, a seguir, o quadro como mais uma forma de classificar a
tipografia:
Quadro 1.2 - Classificação tipográfica 2
Fonte: Elaborado pelo autor.
#PraCegoVer: quadro em três colunas com cinco linhas. Cada
célula do quadro contém uma imagem e uma breve descrição de
um estilo tipográfico. As imagens apresentam uma aplicação
prática da tipografia, na parte inferior, e, na parte superior, o nome
de algumas famílias tipográficas contidas nesse estilo. Tem-se uma
descrição das células. Old Style são fontes humanistas com serifas
(renascentistas e modernistas líricas). Transitional serifs são fontes
transicionais com serifas (barrocas e maneiristas). Neoclassical &
Didone Serifs são fontes modernas com serifas (românticas e
neoclássicas). Slab Serifs são fontes com serifas slab, ou seja, com a
serifa de mesma espessura do traço principal e sem
contraste. Clarendon Serifs são fontes com pouco contraste e serifas
mais curtas, tendem a simular o traço humanista. Glyphic Serifs são
fontes que utilizam serifas baseadas em lapidação e não em penas,
possuem eixo racionalista e baixo contraste. Grotesque Sans Serif são
fontes sem serifa com pouco contraste (fontes realistas). Square Sans
Serif são fontes sem serifa com as curvas mais radicais, dando a
impressão de quadrado. Geometric Sans Serif são fontes sem serifa
geométrica (modernismo geométrico, pós-modernismo
geométrico). Humanist Sans Serif são fontes sem serifa, porém com
base nas humanistas, ou seja, com eixo humanista e contraste
baixo e moderado do traço. Formal Scripts são fontes que simulam a
escrita corrida e decorativa, possuem traços que conectam as
letras. Calligraphic Scripts são fontes que simulam a escrita cursiva,
sendo menos decorativas e com maior variação de traço. Blackletter
& Lombardic Scripts são letras inspiradas na caligrafia gótica medieval
que possuem ampla variação de contraste. Casual Scripts são fontes
que simulam a escrita casual com canetas mais
modernas. Decorative Styles são fontes com o intuito de chamar a
atenção, sendo amplamente decoradas e, normalmente, utilizadas
para títulos e cartazes.
O quadro anterior é mais uma forma de classificar tipografias, em
que é possível identificar categorias bem próximas a outras
categorias já vistas, por exemplo, o Old Style com as humanistas de
Lupton e renascentistas de Bringhurst. Há também o surgimento de
outros estilos, como as scripts, serifas slabs e decorativas. De fato,
classificar tipografias é uma atividade exaustiva, uma vez que
existem muitos estilos.

Vamos Praticar
Além desses termos genéricos, encontram-se também termos bem
específicos, especialmente para a tipografia digital, como: pixel font,
gótica, estêncil, brush, script caligráfica, monoline, manual,
quadrinho, rústica, velho-oeste, sombreada, monoespaçada,
máquina de escrever. Esses termos apontam para modalidades
específicas de fonte que não se enquadram nas anteriores. Há
muitos termos para classificar as tipografias, entretanto, esses são
os mais comuns.

Pesquise no Google Imagens ou outros sites de pesquisa os


seguintes termos: pixel font, tipografia gótica, tipografia
estêncil, brush typography, script typography, tipografia
caligráfica, monoline typography, tipografia manual, tipografia para
quadrinho, tipografia rústica, tipografia velho-oeste, tipografia
sombreada, tipografia monoespaçada e tipografia de máquina de
escrever.

conclusão
Conclusão
Essa unidade apresentou o desenvolvimento da escrita e como ela
passou a ser impressa a partir da tipografia. Observamos também
as formas específicas que a tipografia passa a assumir no decorrer
dos anos, atentando-se aos detalhes tipográficos como traço, eixo,
contraste, serifas, terminações, altura-x, entre outros. Além disso,
vimos as transformações técnicas que culminaram na tipografia
digital com a qual convivemos diariamente. Por fim, foram
apresentadas formas de classificar a tipografia com base na história,
aspectos constitutivos e outras formas de classificação. Como
resultado, tem-se uma visão histórica e classificatória da tipografia a
qual permite ao designer observar atentamente tipografias
contemporâneas e compreendê-las a partir da tradição topográfica.

referências
Referências
Bibliográficas
BIL’AK, P. A brief history of sans serif typefaces. Typotheque, mar.
2019. Disponível
em: https://www.typotheque.com/articles/a_brief_history_of_sans_s
erif_typefaces. Acesso em: 14 jan 2021.

BRINGHURST, R. Elementos do estilo tipográfico. 2. ed. São Paulo:


Cosac Naify, 2011.

HALEY, A. Type classifications. Fonts. [2021]. Disponível


em: https://www.fonts.com/content/learning/fontology/level-
1/type-anatomy/type-classifications. Acesso em: 14 jan 2021.

LUPTON, E. Pensar com tipos: guia para designers, escritores,


editores e estudantes. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

LUPTON, E. (org.). Tipos na tela. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.

MEGGS, P. B; PURVIS, A. W. História do design gráfico. 4. ed. São


Paulo: Cosac Naify, 2009.

THE MACHINE that made us. [S. l.: s. n.], 2014. 1 vídeo (1 min 38 s).
Publicado pelo canal FilmakersLibrary. Disponível
em: https://youtu.be/5xQpx7PoX8U. Acesso em: 22 jan. 2021.

VILLAS-BOAS, A. Produção gráfica para designers. 3. ed. São Paulo:


2AB, 2010.

WARDE, B. A taça de cristal, ou por que a tipografia deve ser invisível.


1930. In: ARMSTRONG, H. (org.). Teoria do design gráfico. São
Paulo: Cosac Naify, 2015.

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