Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HISTÓRIA E CLASSIFICAÇÃO
TIPOGRÁFICA
A u t o r : Me . Gab r i e l D ar c i n A l s o u za
R e v i s o r : Ed n i l t o n S i l v e s t r e C o s t a
[...]
A escrita foi um passo primordial para o desenvolvimento de
civilizações complexas, permitindo o registro e divulgação de
informações que transcendem as limitações espaciais e temporais
da fala. A escrita se complexifica com o passar do tempo e, assim,
desenvolvem-se os alfabetos, os sinais gráficos, convenções
linguísticas da escrita e ferramentas para a escrita.
Saiba mais
O Livro de Kells é um manuscrito religioso produzido
aproximadamente no século 9, na Irlanda. Tanto a escrita como as
ilustrações são amplamente ricas e possibilitam compreender o
patrimônio intelectual e material que envolvia a produção de um
livro. A seguir, você encontra o link de um microdocumentário
sobre a caligrafia do Book of Kells produzido pela Trinity College
Dublin, universidade irlandesa que detém o Livro de Kells. Embora
esteja em inglês, é possível utilizar a ferramenta do Google para
traduzir. No canal do Youtube da Trinity College, é possível
encontrar outros microdocumentários sobre o assunto.
Vamos Praticar
O eixo humanista surge com a caligrafia na Idade Média. Ele
implica um modo natural da escrita no qual os braços ficam
relaxados e conseguem percorrer o papel com facilidade. Para
escrever a partir do eixo humanista, basta utilizar uma pena chata
ou caneta com ponta chata, quanto mais larga for a ponta chata,
mais visível ficará o contraste da tipografia.
História da tipografia
Inicialmente, a escrita era realizada por meio da inscrição de pedras,
argilas (que depois eram sacadas ou cozidas para tornarem-se
pedras) e madeira. Posteriormente, passou-se a utilizar papiro,
pergaminho e, posteriormente, papel advindo da china. Além disso,
utilizava-se também o formato de rolo, entretanto, a partir do
cristianismo, adotou-se o formato códice. A tecnologia de inscrição
era realizada por pena e pincel, porém, algumas transformações
técnicas possibilitaram o aparecimento de uma tecnologia mais
eficiente para o registro e disseminação de informações (MEGGS,
PURVIS, 2009).
ANATOMIA DA LETRA
As letras são compostas por diversos elementos, os quais variam
conforme o decorrer da história da tipografia. Alguns desses
elementos, no entanto, são determinantes para a anatomia geral
da fonte”.
Renascentista
As famílias tipográficas renascentistas romanas foram
desenvolvidas a partir de 1465 e continuaram por mais de um
século. A referência para esse estilo consistia no retorno aos gregos
e romanos, assim como no renascimento cultural. Assim como as
obras artísticas renascentistas que se opuseram à obscuridade do
gótico, a tipografia passa a assumir formas mais leves. O eixo
humanista é a principal característica, isto é, a tipografia busca
simular a maneira como os escribas seguravam as penas no ato da
escrita, o que proporciona um traço modulado no sentido
noroeste/sudeste (BRINGHURST, 2011).
Maneirista
O maneirismo é uma fase intermediária entre o renascimento e o
barroco, desse modo, a tipografia maneirista permite sutis exageros
ornamentais, adicionando extensão, angularidade e tensão às
letras. Famílias tipográficas eram feitas especificamente para os
títulos em versais romanos com extensões longas e ornamentadas.
As fontes de texto eram mais contidas, porém, ainda continham
elementos decorativos. Durante o maneirismo, também foi possível
observar a utilização de tipos romanos e itálicos no mesmo livro e,
às vezes, na mesma página (BRINGHURST, 2011).
Barroca
A tipografia barroca segue a lógica do movimento artístico barroco,
ou seja, aposta em contradições tipográficas, especialmente,
mantendo o eixo humanista para algumas letras e invertendo-o em
outras, acontecendo tanto na caixa-baixa quanto na romana, como
itálica. Na itálica, tal contradição fica ainda mais evidente, visto que
as letras são escritas de forma ambidestra, ou seja, tanto da direita
para esquerda como da esquerda para a direita. Desse modo, o
barroco passa a se distanciar do modelo manuscrito e a criar uma
nova linguagem a partir da noção de que as letras não precisam ser
desenvolvidas a partir da lógica da pena. Tal noção será continuada
ao longo da história da tipografia e aprofundada ainda mais nos
movimentos subsequentes.
O jogo dramático é continuado na mistura do estilo itálico e do
romano na mesma linha, criando ritmo e ênfases. As letras
apresentam um traço ainda mais modulado e maior contraste. A
inclinação da itálica é mais notável que na renascentista, cerca de
15º a 20º. A altura-x é maior e a abertura é reduzida. As terminações
são suavizadas e tomam a forma mais próxima da gota. As serifas
do topo das romanas se tornam cunhas afiadas e o topo das
ascendentes itálicas mais precisas e niveladas (BRINGHURST, 2011).
Rococó
O Rococó é um exageramento do barroco. A tipografia rococó
utilizou poucas letras romanas e itálicas, utilizando em grande
medida fontes góticas junto a elementos decorativos. A imagem a
seguir apresenta letras com uma ornamentação única,
especialmente nas terminações da letra “g” e do descendente de “y”.
As serifas das letras maiúsculas possuem um formato único. As
letras possuem o eixo das letras barrocas, porém, no contraste das
letras românticas, consequentemente, observa-se o aspecto de
transição do rococó (BRINGHURST, 2011).
Neoclássica
A tipografia neoclássica retoma a racionalidade da antiguidade e do
renascimento, tendo em vista a importância da geometria e da
matemática. Como resultado, a letra neoclássica tem uma
consistência rigorosa. O eixo humanista é substituído pelo eixo
racionalista, ou seja, vertical. Mesmo na fonte itálica há uma
tentativa de torná-la mais reta, possuindo uma inclinação média de
14º a 16º. Isso ocorre porque havia um novo apreço pela
racionalidade, geometria e matemática na sociedade,
acompanhando o desenvolvimento burguês de uma sociedade
rumo ao industrial e ao técnico. Embora não rompa com o traço
modulado da pena, a letra se torna não cursiva. Tem-se uma
indiferença em relação à beleza orgânica e uma guinada rumo às
proporções matemáticas. As letras são estéticas e contidas, com
contraste e abertura moderada. As serifas são adnatas, embora
mais finas, niveladas e achatadas (BRINGHURST, 2011).
Romântica
O romantismo e o neoclassicismo ocorrem simultaneamente no
âmbito tipográfico, havendo convergências e divergências em
relação à tipografia. O romantismo também utiliza o eixo
racionalista, o qual fica ainda mais visível, visto que passa a utilizar
uma modulação do traço abrupto e com um alto contraste. A letra
romântica se distingue ainda mais da cursividade, isto é, as letras
parecem ser cada vez mais desenhadas e não realizadas a partir da
pena. De fato, a pena larga passa a ser substituída pela pena fina e
flexível, com a qual é possível desenhar melhor as letras e controlar
as áreas. O contraste auxilia a intensificar o contraste vertical da
fonte e as serifas se tornam mais finas para intensificar a
verticalidade. As terminações assumem a forma de círculo e a
abertura é reduzida (BRINGHURST, 2011).
Embora a fonte romântica compartilhe características com a
neoclássica, na prática, é fácil identificá-las, pois a romântica tem um
contraste visivelmente maior. A imagem a seguir apresenta quatro
famílias tipográficas inspiradas em fontes românticas: a Monotype
Bulmer baseada no trabalho de William Martin; a Linotype Didot por
Adrian Frutiger e baseada no trabalho de Firmin Didot; a Berthold
Bodoni baseada em Giambattista Bodoni; Berthold Walbaum
baseada nos tipos de Justus Erich Walbaum (BRINGHURST, 2011).
Realista
Nos séculos anteriores, as vertentes artísticas eram mais espaçadas
temporalmente e invadiam a sociedade europeia em todos os seus
aspectos. Contudo, com a aceleração industrial do século 17,
passou-se a encurtar os períodos artísticos e torná-los mais
numerosos. Nos séculos 19 e 20, por exemplo, ocorreu uma
explosão radical de movimentos como realismo, naturalismo,
impressionismo, expressionismo, art nouveau, art déco,
construtivismo, cubismo, neoplasticismo, entre outros. Certamente,
todos esses movimentos influenciaram a produção de famílias
tipográficas (BRINGHURST, 2011).
Reflita
Dito isso, destaca-se que a história da tipografia apresentada aqui é,
sobretudo, limitada, pois seria impossível apresentar em poucas
páginas a variação gigante que a forma tipográfica assume no
decorrer da história. Nesse sentido, essa apresentação histórica tem
por fim introduzir os movimentos mais importantes de acordo com
Bringhurst (2011), no entanto, é importante que o aluno se posicione
de forma crítica diante do texto, questione as decisões do autor e
expanda o quadro de referências aqui proposto. Com base em seu
conhecimento sobre história da arte, quais outros movimentos
parecem contribuir para o desenvolvimento de famílias tipográficas?
Você já pesquisou se existem tipografias inspiradas nesses
movimentos?
Expressionista
O tipo expressionista é marcado por experimentações gráficas na
produção dos tipos móveis. Se tradicionalmente utilizava-se a pena
chata (e depois a pena de ponta fina), o expressionismo utilizava
técnicas experimentais como lapidar a letra no próprio tipo móvel,
utilizar caneta em papel áspero para o projeto do tipo, e a
incorporação de tecnologias fotográficas em conjunto com
canivetes, cinzel, lima e linhas retas digitais. Como resultado, há
letras que fogem ao refinamento tradicional da tipografia, porém
encontrando um novo nível de expressão. Os contornos imprecisos
ainda lembram a xilografia, técnica amplamente utilizada no
expressionismo (BRINGHURST, 2011).
Figura 1.9 - Tipografias expressionista
Fonte: Bringhurst (2011, p. 149).
#PraCegoVer: a imagem apresenta na primeira linha as letras a, b,
c, e, f, g, h, i, j, o e p em romana, e na segunda linha a, b, e, f, o, p
em romana e itálica, em duas famílias tipográficas distintas que se
referem ao expressionismo: Preissig e Journal de Zuzana Licko. As
letras estão em cor preta sobre fundo branco.
Modernista Geométrica
O eixo racionalista do neoclassicismo e romantismo se transformou
no funcionalismo na tipografia moderna. O funcionalismo é a
principal vertente teórica do movimento moderno do design no
século 20 e pode ser sintetizada na frase de Louis Sullivan “a forma
segue a função”, ou seja, a forma deve ter sintonia com a
funcionalidade do design. No âmbito da tipografia, destaca-se a
tentativa de eliminar o aspecto decorativo da letra, como serifas e
terminações, e tornar a tipografia o mais racional e transparente
possível. No texto “A Taça de Cristal”, de Beatrice Warde (2015), a
autora defende que a tipografia deve ser tal qual uma taça de cristal
que existe apenas para segurar o vinho, apresentando-o em sua
total transparência para que as características do vinho se tornem
visíveis a partir da taça e não o contrário (BRINGHURST, 2011).
A forma geométrica tem grande destaque no design modernista. A
tipografia passa a ser amplamente influenciada pela geometria e as
letras passam a ser pensadas a partir de um grid geométrico. Os
traços abandonam a modulação da pena. Quando existem serifas,
elas tendem a ser grandes (egípcias), não havendo diferenciação do
traço principal e a serifa. Aspectos decorativos são eliminados. A
seguir, há duas famílias tipográficas. A primeira é a Futura de Paul
Renner e a Memphis de Rudolf Wolf. É possível identificar a
geometrização em ambos os casos. As letras a, b, c, e, g o e p
comungam a mesma forma circular, a qual é complementada por
traços para definir a forma tipográfica, além disso, o eixo é vertical e
horizontal. As serifas da Memphis são grandes e deixam de ser
apenas elementos decorativos para se tornar a forma da letra
(BRINGHURST, 2011).
Revisando a História da
Tipografia
A história da tipografia auxilia a compreender as letras utilizadas na
contemporaneidade. A importância de conhecer a história da
tipografia não está na memorização dos detalhes, mas na
sensibilização do olhar do sujeito para que ele consiga identificar os
detalhes da tipografia e como esses detalhes variam no decorrer da
história.
Tipografia Digital
Tipografia Digital
A imprensa de Gutenberg transformou a maneira como se imprime
textos, no entanto, não foi a única. A xilogravura é anterior ao tipo
móvel de Gutenberg, já possibilitando a produção de textos de
forma mais gestual e sem a necessidade de criação de famílias
tipográficas. Logo, na sequência do tipo móvel, surgiu a impressão
calcográfica (gravura em metal), que também permitia a produção
de textos e imagens a partir da gravação da matriz em metal. A
xilografia, tipografia e caligrafia são utilizadas, muitas vezes, de
forma integrada na produção de livros e cartazes (VILLAS-BOAS,
2010).
Saiba mais
A impressão tipográfica tradicional era bastante complexa. Após o
desenvolvimento do tipo móvel, era necessário compor cada uma
das páginas manualmente, utilizando espaçadores analógicos. O
vídeo a seguir apresenta um microdocumentário de um ateliê
tipográfico, no qual é possível ver a quantidade de material, tempo
e trabalho necessários para a produção de uma página simples.
Atualmente, basta o designer abrir um programa, como Photoshop e
o InDesign, para ter todos esses recursos de forma simples e
rápida. Veja o vídeo no link a seguir:
ACESSAR
Nome Classificação
Vamos Praticar
Além desses termos genéricos, encontram-se também termos bem
específicos, especialmente para a tipografia digital, como: pixel font,
gótica, estêncil, brush, script caligráfica, monoline, manual,
quadrinho, rústica, velho-oeste, sombreada, monoespaçada,
máquina de escrever. Esses termos apontam para modalidades
específicas de fonte que não se enquadram nas anteriores. Há
muitos termos para classificar as tipografias, entretanto, esses são
os mais comuns.
conclusão
Conclusão
Essa unidade apresentou o desenvolvimento da escrita e como ela
passou a ser impressa a partir da tipografia. Observamos também
as formas específicas que a tipografia passa a assumir no decorrer
dos anos, atentando-se aos detalhes tipográficos como traço, eixo,
contraste, serifas, terminações, altura-x, entre outros. Além disso,
vimos as transformações técnicas que culminaram na tipografia
digital com a qual convivemos diariamente. Por fim, foram
apresentadas formas de classificar a tipografia com base na história,
aspectos constitutivos e outras formas de classificação. Como
resultado, tem-se uma visão histórica e classificatória da tipografia a
qual permite ao designer observar atentamente tipografias
contemporâneas e compreendê-las a partir da tradição topográfica.
referências
Referências
Bibliográficas
BIL’AK, P. A brief history of sans serif typefaces. Typotheque, mar.
2019. Disponível
em: https://www.typotheque.com/articles/a_brief_history_of_sans_s
erif_typefaces. Acesso em: 14 jan 2021.
THE MACHINE that made us. [S. l.: s. n.], 2014. 1 vídeo (1 min 38 s).
Publicado pelo canal FilmakersLibrary. Disponível
em: https://youtu.be/5xQpx7PoX8U. Acesso em: 22 jan. 2021.