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1 - Introdução

A expressão produtos químicos sintéticos é utilizada pelos meios de comunicação para


descrever substâncias que geralmente não ocorre na natureza, mas que foram sintetizadas por
químicos a partir de substâncias mais simples. A grande maioria dos produtos químicos
sintéticos comerciais é composta por substâncias orgânicas, e, na maior parte dos casos, o
petróleo ou o gás natural é usado como fonte original de carbono.

O carbono forma muitos compostos com cloro, alguns dos quais são encontrados na
natureza, embora normalmente em quantidades muito pequenas. Em virtude de sua toxidade
para algumas plantas e insetos, muitos desses compostos organoclorados, produzidos
sinteticamente pela ação de cloro elementar sobre hidrocarbonetos derivados do petróleo, tem
tido um amplo uso como pesticidas. Outros organoclorados são utilizados extensivamente nas
indústrias de plásticos e eletrônicos.

A ligação carbono-cloro caracteriza-se por ser difícil de romper, e a presença do cloro


reduz também a reatividade de outras ligações das moléculas orgânicas. Para muitas
aplicações, falta de reatividade é uma vantagem importante. Porém, essa mesma propriedade
significa que, uma vez que os organoclorados tenham entrado no ambiente, eles degradam-se
muito lentamente, tendendo, portanto, a se acumular. Além disso, a maioria dos compostos
organoclorados é hidrofóbica: eles não se dissolvem facilmente em água, mas são facilmente
solúveis em meios semelhantes ao hidrocarboneto, tais como óleos ou tecidos adiposos.

A falta de uma via eficiente para a degradação dos compostos organoclorados, em


combinação com sua hidrofobicidade, tem levado a seu acúmulo em organismos vivos,
incluindo peixes, seres humanos e outros animais. De fato, todo o planeta, incluindo a
totalidade dos seres vivos, sofre uma contaminação em baixo nível por esses produtos
químicos. Muitos dos esforços dos órgãos governamentais e de grupos ambientais nas
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décadas passadas foram no sentido de documentar essa contaminação e regulamentar o uso


dos compostos organoclorados, impedindo que suas contrações atinjam níveis perigosos,
particularmente em nossa dieta alimentar. As substâncias orgânicas tóxicas discutidas neste
capítulo são, na sua maioria, compostos organoclorados.

Os pesticidas são substâncias que podem matar diretamente um organismo indesejável


ou controlá-lo de alguma maneira (por exemplo, interferindo em seu processo reprodutivo).
Todos os pesticidas químicos têm a propriedade comum de bloquear um processo metabólico
vital dos organismos para os quais são tóxicos.

Discutiremos aqui os inseticidas, que matam insetos (principalmente o DDT), e


posteriormente consideraremos os herbicidas, que matam plantas. Também mencionaremos
brevemente alguns fungicidas, substâncias que são usadas para controlar o crescimento de
alguns tipos de fungos. Em conjunto, essas três categorias representam o enorme volume que
se estima em torno de bilhões de quilogramas de pesticidas usados anualmente na América do
norte.Quase a metade do consumo nos Estados Unidos envolve a agricultura.

De fato, a capacidade atual dos países desenvolvidos de produzir e colher grandes


quantidades de alimentos em áreas relativamente pequenas com participação reduzida de
trabalho humano tem sido possível graças ao uso dos pesticidas. Atualmente, seu maior
emprego ocorre nas plantações de algodão, enquanto que o dos herbicidas se dá nas
plantações de milho e soja. Na maioria das residências, encontra-se pelo menos um pesticida
sintético, como os eliminadores de ervas, para o gramado ou o jardim, os controladores de
algas ou algicidas, para piscinas, os talcos antipulgas, para animais de estimação, e os
aerossóis, para matar insetos.

Praticamente, desde sua introdução, os pesticidas sintéticos constituem um problema,


devido ao seu impacto potencial sobre a saúde humana em virtude da ingestão de alimentos
contaminados com esses produtos químicos. Cerca da metade dos alimentos consumidos nos
Estados Unidos contém níveis mensuráveis de, no mínimo, um pesticida.Por essa razão,
muitos deles foram banidos ou tiveram seu uso limitado.
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Não obstante, um relatório de 1993 da National Academy of. Sciences dos Estados
Unidos destacou que a regulamentação dos pesticidas até o presente momento não havia dado
suficiente atenção à proteção da saúde humana, especialmente a dos bebês e das crianças, cujo
crescimento e desenvolvimento apresentam-se ameaçados.

Em compensação, outros cientistas têm enfatizado recentemente que as próprias


plantas produzem inseticidas, com o objetivo de combater os inseticidas e fungos que as
consomem, e, conseqüentemente, estamos expostos a concentrações muitos maiores desses
pesticidas “naturais” que aos sintéticos em nossa dieta alimentar.

Nesse trabalho de monografia, que consistiu de uma pesquisa bibliográfica sobre o


assunto, serão focalizados os pesticidas (incluindo o inseticida DDT e herbicidas), analisando-
se os problemas ambientais associados ao seu uso e alguns princípios gerais de toxicologia e
conceitos de saúde ambiental que se aplicam a seus efeitos sobre a saúde humana. É mostrada
também, a legislação que controla o uso desses pesticidas no Brasil através dos órgãos
governamentais que monitoram estes produtos tóxicos.

Como será visto posteriormente, às vezes são traços de impurezas, como as dioxinas,
presentes nessas substâncias comerciais, que representam a principal preocupação ambiental.
Vamos focalizar uma série de hidrocarbonetos que são poluentes tóxicos tanto do ar quente da
água. Finalmente, pra concluir, serão considerados os produtos químicos que podem ter
efeitos degenerativos sobre nossos sistemas reprodutivos.

Ainda nesse trabalho, são analisadas as conseqüências ambientais da expansão do uso


dos produtos químicos orgânicos sintéticos, com ênfase naquelas substâncias cuja toxicidade
chega a afetar a saúde humana, especialmente no que diz respeito ao câncer e aos defeitos
congênitos, assim como o bem-estar de organismos inferiores.
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2 - Inseticidas Tradicionais

2.1 – Aspectos Gerais

Inseticidas de um ou outro tipo têm sido usados há milhares de anos pela humanidade.
Uma das principais motivações para o uso de inseticidas é o controle de enfermidades: através
dos tempos, as mortes de seres humanos em razão de doenças transmitidas por insetos têm
excedido em muito às atribuídas aos efeitos das guerras.

O uso de vários inseticidas vem reduzindo enormemente a incidência de doenças


transmitidas por insetos e pelos roedores que os transportam: malária, febre amarela, peste
bubônica, e doença do sono são alguns poucos exemplos da lista desses flagelos.As pessoas
também tentam controlar insetos como mosquitos e moscas comuns apenas porque sua
presença é irritante. Outra razão fundamental para o uso dos inseticidas é impedir que os
insetos ataquem lavouras de alimentos: mesmo com o uso extensivo de pesticidas, cerca de
um terço do total das plantações do mundo é destruído por pragas ou ervas daninhas durante o
crescimento, a colheita e o armazenamento.

O uso mais antigo de pesticidas de que se tem registro é a queima de enxofre para
fumigar os lares gregos cerca do ano 1000 a.C. As substâncias para fumigação são pesticidas
que penetram no inseto por inalação. O uso de SO 2 procedente da combustão de enxofre
sólido, as vezes mediante a incorporação do elemento em velas, continuou ao menos até o
século 19. O emprego do próprio enxofre, na forma de pó ou aerossol, foi também utilizado
como inseticida e fungicida; ele ainda é usado por sua ação importante contra o míldio
pulverulento das plantas.

O gás cianeto de hidrogênio também tem sido usado como substância para
fumigação.Seu emprego para evitar danos a peças expostas em museus foi registrado em
1877, e, alguns anos depois, foram utilizados para controlar insetos em árvores frutíferas. Ele
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é, certamente, extremamente letal para os seres humanos. Os fluoretos inorgânicos, como o


fluoreto de sódio, NaF, foram usados para controlar as populações de formigas em prédios;
tanto o fluoreto de sódio quanto o ácido bórico foram usados para eliminar baratas em
edifícios infestados. Vários óleos, derivados do petróleo ou de fontes animais, como os
oriundos de peixes e baleias, têm sido usados há centenas de anos como inseticidas e como
“aerossóis paralisantes” para eliminar ovos de insetos.

O uso do arsênio e seus compostos no controle de insetos data da época dos romanos,
sendo utilizado pelos chineses no século 16, tornando-se bastante difundido no final do século
19 até a Segunda Guerra Mundial.O “verde de paris”, que é um sal de cobre que contém o íon
arsenito, AsO3 -2, foi um inseticida de uso popular introduzido nos Estados Unidos em 1867.
Outros sais contendo esse íon ou o íon arseniato, AsO 4 -3, também têm sido utilizados; todos
operam como venenos estomacais, matando os insetos que os ingerem. Os compostos de
arsênio continuaram sendo amplamente utilizados como inseticidas nas décadas de 30 e 40 e
no início dos anos cinqüenta.

Infelizmente, os pesticidas inorgânicos e organometálicos são geralmente bastante


tóxicos para os seres humanos e outros mamíferos, especialmente nos níveis de dosagem
requeridos para torná-los pesticidas efetivos. Como resultado do uso de alguns fungicidas
baseados em mercúrio, tem ocorrido envenenamento em massa. Além disso, metais e
semimetais (metalóides) tóxicos, como o arsênio usado comumente em tais pesticidas, não
são biodegradáveis; uma vez lançados no ambiente, permanecem indefinidamente na água, no
solo ou em sedimentos, podendo integrar-se à cadeia alimentar, se liberados nesses locais.

Durante e após a Segunda Guerra Mundial, foram desenvolvidos muitos inseticidas


orgânicos, que têm substituído em grande proporção essas substâncias inorgânicas e
organometálicas. Em geral, são necessárias pequenas quantidades de compostos orgânicos
para que os produtos sejam efetivos contra as pragas-alvo. Assim, são introduzidas menores
quantidades de produtos químicos sintéticos no ambiente.

Para uma certa dose de cada composto em quantidade suficiente para atuar como
pesticida, as substâncias orgânicas são geralmente muito menos tóxicas para os seres humanos
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que os pesticidas inorgânicos. Os pesticidas orgânicos foram inicialmente projetados para


serem biodegradáveis, embora como veremos, isso não tenha resultado verdadeiro em muitos
casos.

2.2 - Inseticidas Organoclorados

Nos anos 1940 e 50, as indústrias químicas da América do Norte e da Europa


Ocidental produziram grandes quantidades de novos pesticidas, especialmente inseticidas. Os
ingredientes ativos da maioria desses pesticidas são organoclorados, muitos dos quais tinham
em comum, propriedades notáveis:

 Estabilidade contra a decomposição ou degradação ambiental;


 Solubilidade muito baixa em água, a não ser que o oxigênio ou o nitrogênio esteja
também presente nas moléculas;
 Altas solubilidades em meios semelhantes a hidrocarbonetos, tal como o material
gorduroso da matéria viva;
 Toxicidade relativamente alta para insetos, mas baixa para seres humanos.

Como exemplo, considere o composto hexaclorobenzeno (HCB) (não confundir com o


BHC). Ele é estável, fácil de preparar a partir de cloro e benzeno, sendo utilizado durante
várias décadas após a Segunda Guerra Mundial como fungicida de uso agrícola nas colheitas
de cereais. Sendo extremamente persistente e ainda emitido como subproduto pela indústria
química e por processos de combustão, permanece como um agente causador de
contaminação ambiental amplamente difundida. Ele é problemático, pois pode causar câncer
de fígado em roedores de laboratório, e, portanto, talvez também em seres humanos.

Apesar de o HBC ser muito solúvel em meios orgânicos, como hidrocarbonetos


líquidos, ele é quase insolúvel em água: dissolve-se apenas 0,0062mg de HCB em um litro de
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água. A solubilidade das substâncias traço em líquidos e sólidos são com freqüência expressas
na escala de “partes por” em vez de sobre a base de massa ou mol por unidade de volume.
Contudo, as escalas de “partes por” para meios considerados (não gasosos) expressam a razão
da massa de soluto pela massa de solução, não a razão de mol ou moléculas como é usado
para gases.

Dado que a massa de um litro de uma amostra de água natural é muito próxima de um
quilograma, a solubilidade do HBC assinalada acima (0,0062 miligramas por litro)
corresponde a 0,0062 miligramas de soluto por 1.000 ml, concluiu-se que 0,0062 mg/l
equivale a 0,0062 gramas de soluto por um milhão de gramas de solução, ou seja, a 0,0062
partes por milhão.Em geral, o valor da solubilidade em ppm de qualquer substância traço em
água é o mesmo que seu valor em unidades de miligramas por litro ou de microgramas por
grama.

A agência de proteção ambiental norte-americana, U.S. EPA incluiu o HBC na sua


lista de compostos pelos quais são estabelecidos os padrões de potabilidade de água; o nível
máximo permitido de contaminação é de 0,001 miligramas por litro. Mas a poluição dos
ambientes aquáticos não é meramente uma questão de concentração do poluente que se
encontra realmente em estado dissolvido, e os pequenos valores de solubilidade dos
organoclorados em água podem ser enganosos em termos destas quantias.

Como a maioria dos compostos organoclorados, o hexaclorobenzeno é muito mais


solúvel em meios orgânicos do que em água. Em corpos aquáticos, como rios e lagos, os
organoclorados, como os clorobenzenos, têm uma probabilidade muito maior de estarem
ligados à superfície do material particulado orgânico em suspensão na água e aos sedimentos
nas regiões mais profundas do que de estar dissolvidos na própria água.

A partir dessas fontes, se introduzem nos organismos vivos, como peixes; por razões
que serão discutidas mais tarde, sua concentração nos peixes é com freqüência milhares ou
milhões de vezes maiores que a concentração dissolvida em água originalmente potável, mas
poluída. Devido a esse fenômeno, a concentração de organoclorados freqüentemente tem
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atingido níveis perigosos em muitas espécies. Como conseqüência, o uso de muitos


inseticidas organoclorados foi banido.

Nos seres humanos, a quantidade de organoclorados ingerida ao alimentar-se de um


simples peixe dos Grandes Lagos é geralmente maior que o teor total de organoclorados
contido na ingestão de água dos mesmos Grandes Lagos consumida durante toda a vida!
Nossa exposição diária habitual ao HCB não é tão grande para representar um risco
significativo à saúde, muito embora tenha sido estimado que 99% dos cidadãos norte-
americanos apresentem níveis detectáveis do composto em sua gordura corporal.

Nas discussões que se segue, faz-se referência freqüentemente à contaminação por


produtos químicos sintéticos dos Grandes lagos. Essa área é foco de grande interesse não
apenas pelo tamanho dos lagos e da população circundante, mas também porque contém as
massas de água mais intensamente estudadas do planeta – graças ao trabalho de um século
entre os Estados Unidos e o Canadá, que compartilham a responsabilidade sobre elas.

Os organoclorados são considerados os menos tóxicos sob o aspecto de contaminação


aguda, embora tenham um potencial de toxicidade crônica maior do que os organofosforados
ou os carbamatos. Os organoclorados foram os primeiros inseticidas a serem sintetizados.

O DDT foi o primeiro inseticida organoclorado produzido no Mundo, por Zeidler em


1874, mas somente em 1939 é que nos laboratórios da Geiger, na Alemanha, foi identificada
por Muller como inseticida (através do isômero p, p’-DDT) e aplicação no combate a
mosquitos transmissores. Esta importante descoberta valeu a Muller o Prêmio Nobel de
Química, em 1948 (ver discussão mais detalhada mais adiante).

O DDT como todo organoclorado é persistente no meio ambiente, podendo


permanecer no solo por mais de três decênios, após sua aplicação e pode acumular nos tecidos
biológicos. Além disso, o DDT, não sendo eficiente para o combate de ácaros e de alguns
grupos de insetos causa com freqüência o desequilíbrio biológico. Por hidrólise alcalina o
DDT produz o DDE. É conhecido, também, por NEOCID, GERASOL, ARITAN e
RESAREX.
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As propriedades inseticidas de outro organoclorado, o BHC, apesar de sintetizado, em


1825, por Faraday, na França, somente foram divulgadas, em 1942. O BHC conhecido,
também, por Gammexane é uma mistura de cinco isômeros e seu nome oficial é o
hexaclorociclohexano. Em meio alcalino se decompõe produzindo o ácido clorídrico e o
tetaclorobenzeno, caracterizando sua ação residual.

O LINDANE, isômero gama do BHC, perde cloro em meio básico e se transforma em


triclorobenzeno; sendo volátil, age sobre os insetos, também, por contato e ingestão. Mais
tarde, surgiram outros compostos como AUDRIN, DIELDRIN e HEPTACLORO, em 1948, e
o ENDRIN, em 1951. Finalmente, surgiram o TELODRIM, TOXAFENO e
DODECACLORO, que foram utilizados intensamente até 1970.

O AUDRIN pertence ao grupo dos ciclodienos, sendo conhecido, também, por


AUDREX, HEXADRIN, A-250 e A-200. Seu nome químico, de acordo com a IUPAC é:
1,2,3,4,10,10-hexacloro-1,4,4a,5,8,8a-hexahidro-1,4-endo-5,8-dimetanonaftaleno. DIELDRIN
é um derivado do ALDRIN e seu nome surgiu da junção dos nomes dos descobridores da
conhecida reação de química orgânica, Diels Alder. Ele é estável em meios básicos e em meio
ácido diluído. O ELDRIN pertence ao mesmo grupo do Aldrin e Dieldrin, sendo descoberto,
em 1950, nos Estados Unidos, dois anos após o Dieldrin.

O CLORDANE pertence ao grupo dos ciclodienos e é constituído por uma mistura dos
isômeros HEXACLORO, BETA, ALFA, HEPTACLORO e ENEACLORO. Destes, o
Heptacloro é o que possui maior poder como agente pesticida; o isômero Beta por sua vez é
dez vezes mais potente que o Alfa.

O MIREX, conhecido comumente por DODECACLORO é estável tanto em meio


básico como em ácido.

O TOXAFENO foi comercializado, em 1948, como HERCULES, nome da firma


americana responsável pelo seu lançamento no mercado. É pouco estável, decompondo-se em
meio alcalino e reagindo com ferro e aço, não podendo ser armazenado em recipientes feitos
com estes materiais.
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2.2.1 – Toxicidade dos inseticidas organoclorados

A grande estabilidade química dos organoclorados é responsável pelo seu alto poder
residual no ambiente e tem provocado, nestes últimos 20 anos, apoio em pesquisas por parte
da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização para a Agricultura e Alimentação
(FAO), através de suas comissões de especialistas em praguicidas. Como resultados dessas
pesquisas e de outros centros especializados, hoje se sabe que os resíduos de defensivos
organoclorados se acumulam mais no homem, que está no topo da cadeia alimentar e estão
presentes, predominantemente, no tecido adiposo do corpo humano e nas substâncias
lipídicas.

Como principais características, os Organoclorados são: muito estáveis no meio


ambiente, sendo bioacumuláveis na cadeia trófica; praticamente insolúveis em água, são
altamente lipossolúveis, acumulando-se nos tecidos gordurosos. Os sinais e sintomas de
toxicidade dos Organoclorados, são, para envenenamento agudo: efeitos adversos no sistema
nervoso central, irritabilidade, tremor, convulsão e encefalia; para envenenamento crônico:
perturbações no sistema nervoso central, perda de memória, redução do esperma e mudança
de personalidade.

Uma das grandes preocupações para os Órgãos de Controle Ambiental é a constatação


de que os resíduos organoclorados são transmitidos, através da placenta e do leite materno.
Apesar do uso agrícola dos defensivos organoclorados ter sido proibido, no Brasil, a partir de
1985, os resíduos dessas substâncias, usadas em larga escala e sem controle, estarão presentes,
por muitos anos, contaminando o ecossistema.

O DDT 1,1,1-tricloro-2,2-bis(4-clorofenil)etano, lipossolúvel libera ácido clorídrico


em presença de substâncias alcalinas, transformando-se num produto não tóxico. Ele,
também, não é absorvido pela epiderme nem apresenta efeitos tóxicos por inalação. A
toxicidade aguda do DDT é estimada em 500mg/kg para o homem, sendo que, a partir de
2,8g/kg apresenta riscos para a saúde.
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O DDT, encontrado no comércio com os nomes de NEOCID, GERASOL, AGRITAN


e GERAREX é extremamente tóxico por ingestão e mesmo por contato para os insetos. O
DDE também apresenta pouca toxicidade por via oral.

O BHC apresenta toxidez por inalação e, apesar de não ser muito absorvido pela pele
causa irritação local. Sua toxicidade aguda oral no homem é cerca de 400mg/kg. O
LINDANE é absorvido pela pele, causando irritação também no nariz, olhos e garganta. É de
500mg/kg a dose de risco.

O manuseio do ALDRIN deve ser feito com cuidado, pois ele é altamente tóxico para
o homem e animais, sendo absorvido tanto pela pele como por inalação. Sua toxidez aguda
varia de 25 a 67mg/kg, dependendo da espécie animal. O DIELDRIN possui ação residual
maior que a do Aldrin, sendo absorvido pela pele. A dose perigosa do Dieldrin é de
100mg/kg, enquanto que a do Endrin é de apenas 25mg/kg.

O CLORDANE é especifico para as abelhas. É absorvido pela pele, causando


irritação, ou por inalação. Sendo um produto químico estável, apresenta boa atividade residual
no solo, mas ingerido na dose 100mg/kg pode causar a morte.

Pesquisas indicam que o HEPTACLORO é carcinogênico e que se concentra nos


tecidos mamários das mulheres. É considerado de alta toxicidade aguda oral para o homem e
outros mamíferos com o DL50 de 90mg/kg.

O MIREX apresenta baixa toxicidade para mamíferos, peixes e crustáceos.


O TOXAFENO é muito tóxico para os peixes. No homem ele não apresenta toxicidade por
inalação, mas é absorvido pela pele. Seu fator agudo oral DL50 é de 69mg/ kg, portanto
bastante alta.
Na Tabela 1, estão mostrados alguns inseticidas pertencentes às classes
supramencionadas.
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Tabela 1 – Propriedades Físico-Químicas de Pesticidas Organoclorados


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2.3 – Os Inseticidas Organofosforados

Os compostos químicos organofosforados possuem ligações Fósforo-Nitrogênio (P-N)


e são fundamentais para a manutenção da vida, como, por exemplo, os ácidos nucléicos.

Na Segunda Guerra Mundial, cientistas da Inglaterra (Sunder) e da Alemanha


(Schrader) procuraram sintetizar compostos venenosos/tóxicos à base do Fósforo, precursores
dos pesticidas. O Paration foi descoberto, em 1944, por Schrader. Sunder sintetizou um
produto tóxico para o sistema nervoso, contendo o diisopropil fosforidato.

O PARATION ETÍLICO é conhecido pelos nomes comerciais FOLIDOL, BLADAN,


NIRAM e FOSFERNO. Seu nome químico oficial é 0,0-dietil,0-4-nitrofenil- fosforotioato.
Sofre hidrólise básica, mas é relativamente estável em meio neutro ou ligeiramente ácido. Em
altas temperaturas sofre isomerização rápida.

O PARATION METÍLICO, semelhante ao Paration Etílico, por suas propriedades, é


conhecido por FOLIDOL M, METACIDO e BLADAN M.

Os organofosforados MALATION ou CYTION, EMMATOS ou MALATOL é


considerado o primeiro inseticida que apresenta alta toxicidade seletiva (GIANNOTTI, 1972).

DIAZINON, comercialmente conhecido por BASUDIM, DIAZITOL, NEOCIDOL e


NUCIDOL é estável em meio alcalino por ser uma base fraca e instável em meio ácido.
DICLORVÓS ou NUVON, VAPONA e DDVP não é persistente no solo, sofrendo hidrólise
lenta, em meio aquoso, e rápida, em meio alcalino.

MEVINFÓS, conhecido por PHOSDRIN, foi introduzido, comercialmente, pela Shell.


Possui persistência razoável no solo, sendo estável em meio ácido e instável em meio básico.
Não sofre reação química apreciável com cobre e alumínio, mas ataca o ferro, aço doce,
bronze e alguns tipos de aço inoxidável.
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METAMIDOFÓS ou TAMARON, introduzido em 1969, como inseticida e acaricida é


um líquido amarelo viscoso, cristaliza-se a baixas temperaturas e se decompõe em meio ácido
ou base. Reage com o aço doce, cobre e suas ligas.

Na Tabela 2 estão mostrados alguns exemplos de inseticidas organoclorados e suas


propriedades físico-químicas.
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2.3.1 - Toxicologia dos Organofosforados

O desenvolvimento dos Organofosforados trouxe um forte impacto para o controle


químico dos insetos. Eles são efetivos contra uma larga faixa de insetos e não apresentam
persistência no meio ambiente.

O risco dos Organofosforados é que alguns deles são extremamente tóxicos para os
mamíferos. Os efeitos tóxicos agudos são basicamente devidos à desativação da
acetilcolinesterase (AChE), localizada na sinapse do sistema nervoso.

Os Organofosforados são rapidamente absorvidos pela pele, pulmões e pelo trato


gastrointestinal. Seus sintomas de envenenamento agudo são: sudorese, excesso de secreção
bronquial, náuseas e vômitos, contrações musculares e dormência das extremidades. Os
efeitos crônicos são, principalmente, neuropatia, mudanças psiquiátricas, necrose no músculo
esquelético.

O PARATION ETÍLICO, tóxico por inalação, com toxicidade oral aguda elevada (6 a
15mg/kg) é absorvido pela pele e apresenta a dose perigosa da ordem de 50mg/kg. Não se
acumula no organismo, de modo que é pouco tóxico sob o aspecto crônico.

O PARATION METÍLICO, além das propriedades tóxicas semelhantes ao Paration


Etílico, transforma-se no organismo de animais superiores em Metil Paraoxon, inibidor
enérgico da colinesterase.

O MALATION possui alta seletividade toxicológica, devido aos grupos carboxiester.


Reduz pouco a colinesterase. Praticamente não é cronicamente tóxico, sendo absorvido pela
epiderme. Sua toxicidade oral aguda DL50 está entre 1200 e 1500mg/kg. DIAZINON possui
toxicidade relativamente baixa, sendo a dose aguda oral para ratos, DL50 entre 108 e
250mg/kg. Atua sobre insetos, por contato, ingestão e fumigação. DICLORVÓS como o
Diazinon é um inseticida de contato, ingestão e fumigação.
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Possui toxicidade por via oral elevada, com DL50 entre 50 e 80mg/kg para ratos.
Apesar de tóxicos para as abelhas sofre hidrólise nos mamíferos, sendo pouco tóxico para
eles. MEVINFOS, muito tóxico para os mamíferos, oxida-se química e biologicamente,
tornando-se forte inibidor da enzima colinesterase. DL50 oral para ratos é de 30mg/kg (Dados
citados por Ribeiro, 1991, (3)).

2.4 - Carbamatos

Segundo Khur, os Carbamatos, ésteres do ácido Carbâmico, que não é estável na


forma livre, decompondo-se espontaneamente em amônia e gás carbônico têm ação
equivalente à dos inseticidas forforados, inibidores da colinesterase.

As aplicações dos Carbamatos incluem anestésico veterinário, bactericida tópico e


solubilizante para pesticidas fumegantes e cosméticos. Ainda segundo Khur, alguns análogos
do uretano são carcinogênicos, principalmente, para o pulmão. Em geral, os Carbamatos
sofrem hidrólise com certa facilidade, principalmente em temperaturas elevadas.

Dentre os Carbamatos é o Carbaril que possui maior efetividade de ação e menor


toxicidade para os mamíferos, com meia vida de 10 dias em pH7 e 15 minutos a pH10(7,8).
ALDICARB, também conhecido por TEMIK, apresenta pequena persistência no meio
ambiente, sofrendo hidrólise em meio alcalino e em presença de umidade. Decompõe- se em
temperaturas acima de 100ºC.
PROPOXUR ou ARPROCARB, BAYGON ou UNDEN, introduzido, em 1959, pela
Bayer, é volátil e, também, possui pequena persistência no meio ambiente.

CARBARIL chamado também de SEVIN e DICARBAN é o 1-naftil- metilcarbamato.


É instável em meio básico e estável em meio ligeiramente ácido. Com pequena persistência
no meio ambiente é biodegradado por uma grande variedade de microrganismos.
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MOBAM, comercializado pela Mobil como inseticida de contato e residual, degrada-


se tanto em plantas como no solo.

CARBOFURAN, chamado também de FURADAN e CURATERR, com nome oficial


pela IUPAC de 2,3-diidro-2,2-dimetil-benzofuranil-metilcarbamato possui um leve odor de
fenol, é estável à luz, umidade e meio ligeiramente ácido. É instável em meio alcalino.

2.4.1 - Toxicologia dos Carbamatos

De modo similar aos organofosforados, os Carbamatos atuam na desativação da


acetilcolinesterase. Sintomas de envenenamento agudo por Carbamato são: náuseas, vômitos,
sudorese, visão turva, salivação excessiva, fraqueza muscular e convulsões. Os efeitos
crônicos são equivalentes aos causados pelos Organofosforados, citados anteriormente.

O ALDICARB é metabolizado pelos animais e plantas, sendo tóxico não só por via
oral como também pela absorção, através da pele e por inalação dos vapores. Sua toxicidade
aguda oral é muito elevada, sendo de apenas 0,9mg/kg seu DL50 em ratos.

PROPOXUR possui baixa toxicidade por via oral, não sendo tóxico por inalação.
CARBARIL age por contato e inalação, sendo de baixa toxicidade: 540mg/kg sua dose média
aguda oral. Inibe a colinesterase do sangue e não se acumula no organismo. Ele tem sido
associado a efeitos teratogênicos.

MOBAM é de baixa toxicidade para os mamíferos (DL50 oral aguda, acima de


234mg/kg).

CARBOFURAN é altamente tóxico, apresentando DL50 oral para ratos de 8 a


14mg/kg.
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2.4.2 - Alguns Defensivos Agrícolas mais Utilizados

Os sistemas aquáticos são os mais diretamente afetados pelo uso de defensivos. A


influência do clima é também significativa na contaminação dos sistemas aquáticos,
principalmente pela maior ou menor precipitação pluviométrica, uma vez que a chuva afeta o
carreamento dos pesticidas da atmosfera para os corpos d’água e depósito na mata ciliar.

Os sedimentos se transformam em depósitos ricos em pesticidas, frutos de processos


biogeoquímicos e de prévia incorporação no material suspenso particulado. No Estado do
Pará, apesar de não haver grandes plantações, salvo palmeira (Dendê e Sococo), os produtos
mais vendidos nas casas Agropecuárias, conforme dados fornecidos pelo Departamento do
Meio Ambiente, da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente são:
Endosulfan, Malatol, Malathion, Endrin, Gramaxone, Klerat, Dipterex, Dursban 2E e 4E.
Na preservação da Madeira são geralmente usados os produtos: Pentaclorofenato de Sódio
(Isolin, Albapin, Permatox, Mendane) e Aldrin (TBP 40, PKR 90, PKR 85 e TBP 90).

No Mato Grosso do Sul, os defensivos agrícolas mais utilizados nas principais


culturas, soja, trigo, arroz e milho são: Trifluaralina, Azodrin, Laço, Dithane, Manzate
(Mancozeb), Nuvacron, Folidol, Herbiflan, Dual, Tordon, Thiodan, 2,4-D, Mirex, Furadan e
Tamaron.

No Distrito Federal foram encontrados resíduos de inseticidas Organoclorados


(Lindane, Dieldrin e DDT) em peixes do Lago Paranoá de Brasília (13) e na Bacia de São
Bartolomeu(3). Em Rondônia, o principal herbicida utilizado é o Tordon, que contamina os
peixes. Os valores limites (em μg/L) estipulados pela Resolução CONAMA nº 20, para
agrotóxicos nos corpos d’água de classes 1 e 2 são os seguintes (Tabela 3):
21

Tabela 3 - Os valores limites (em μg/L) estipulados pela Resolução CONAMA nº 20, para
agrotóxicos nos corpos d’água de classes 1 e 2

Pesticida Conentração em μg/litro


Aldrin 0,01
Clordano 0,04
DDT 0,002
Dieldrin 0,005
Endrin 0,004
Endossulfan 0,056
Epóxido de Heptacloro 0,01
Heptacloro 0,01
Lindane (gama BHC) 0,02
Metoxicloro 0,03
Dodecacloro + Nonacloro 0,001
3Bifenilas Policloradas - PCBs 0,001
Toxafeno 0,01
Demeton 0,1
Gution 0,005
Malation 0,1
Paration 0,04
Carbaril 0,02
Organofosforados e Carbamatos
10,0 em Paration
totais
2,4-D 4,0
2,4,5-TP 10,0
2,4,5-T 2,0

2.3 – O DDT - Diclorodifeniltricloretano


22

O DDT foi sintetizado em 1874 por um estudante alemão, mas caiu no


esquecimento por muitos anos. Foi muito usado na II Guerra Mundial para proteger
soldados contra insetos. A partir daí tornou-se um popular pesticida, tanto para combater
doenças transmitidas por insetos, quanto para ajudar fazendeiros a controlar pestes
agrícolas.

Em 1948, o suíço Paul Müller, descobridor moderno do DDT, ganhou o prêmio


Nobel de medicina. Curiosamente, Müller não fazia pesquisas médicas, apenas buscava um
bom inseticida. Mas seu produto era capaz de eliminar o mosquito Anopheles, transmissor
do parasita da malária, uma doença que desde os tempos primitivos flagela a espécie
humana e que muitas vezes é fatal.

O DDT é um dos 12 contaminantes orgânicos persistentes que a comunidade


internacional pretende se desfazer o mais rápido possível. Mas este inseticida, que antes de
cair em descrédito evitou milhões de mortes e inspirou um Prêmio Nobel, parece ainda ter
longa vida pela frente. Para muitos países, o diclorodifeniltricloroetano ainda é uma arma
"eficaz e barata" contra a malária (também conhecida como paludismo), reconhecem agências
da Organização das Nações Unidas. Essa doença, transmitida pela picada de um mosquito,
anualmente mata mais de um milhão de pessoas, especialmente na África, e deixa doentes
cerca de 300 milhões.

A América Latina não se salva do impacto. Mais de um terço da sua população vive
em zonas de risco e a cada ano 1,4 milhão de pessoas, sobretudo crianças, contraem a
enfermidade, que em seu combate são consumidos mais de US$ 105 milhões anuais, segundo
dados da Organização Pan-americana de Saúde (OPS). Alguns observadores atribuem o
devastador efeito da malária às limitações impostas por governos e ambientalistas ao uso do
DDT, composto de amplas propriedades inseticidas, patenteado em 1937 pelo químico suíço
Paul Muller. A eficácia e persistência inseticida do DDT evitaram grandes perdas de colheita
23

e a conseqüente fome em países em desenvolvimento, tanto que Muller recebeu o Premo


Nobel de Medicina em 1948.

Entretanto, o mundo se colocou em guarda contra o DDT nos anos 70, quando alguns
estudos sugeriram que é cancerígeno, provoca partos prematuros, contamina alimentos e
causa danos neurológicos, respiratórios e cardiovasculares. Então, surgiram outros inseticidas,
mas todos mais caros. "Nenhum estudo é concludente sobre os efeitos danosos do DDT, mas
com base no princípio da precaução e pela aparente pressão de algumas grandes companhias
que produzem inseticidas, que competem com o DDT, foi estabelecido seu limite de uso",
disse ao Terramérica o cientista Américo Rodríguez, do Centro de Pesquisa de Paludismo do
México.

O DDT acabou incluído no Convênio de Estocolmo sobre Contaminantes Orgânicos


Persistentes, instrumento internacional assinado em 2001 para limitar e eliminar o uso de 12
substâncias no mundo, todas com grande capacidade para se acumular nos tecidos animais
gordurosos e ser transmitido através da cadeia alimentar. O Convênio autoriza o uso desse
inseticida exclusivamente na luta contra vetores de enfermidades, sob orientações da
Organização Mundial da Saúde. Os países signatários do acordo deverão decidir se esta
situação deve continuar durante sua primeira reunião, entre 2 e 6 de maio, na cidade uruguaia
de Punta del Este (CEVALLOS, 2005).

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), motor do Convênio,
de antemão pediu cautela com a questão do DDT. Documentos dessa agência redigidos a
propósito do encontro no Uruguai, indicam que os participantes poderiam concluir que "os
países que atualmente utilizam o DDT para controle de vetores de enfermidades talvez
necessitem manter esse uso enquanto as condições locais não forem as ideais e até que se
disponha de alternativas". O diretor-executivo do Pnuma, Klaus Toepfer, foi ainda mais claro:
"A menos que sejam feitos investimentos ambiciosos na busca de melhores vacinas contra o
parasita do paludismo e melhores inseticidas para lutar contra os mosquitos vetores, vai
demorar muitos anos para se chegar à completa eliminação do DDT".

A cada ano são usadas em alguns países 7.500 toneladas de DDT para desinfetar
paredes interas de residências. É uma forma relativamente barata e eficaz de repelente e morte
para os mosquitos transmissores do paludismo. Na América Latina, várias nações consideram
24

o DDT sua última arma para combater uma possível epidemia. O Equador, por exemplo,
pedirá em Punta del Este que o inseticida não seja eliminado no momento do mercado.

Este país deseja que se possa usar o DDT "pelo menos nos próximos anos" até
existirem estratégias integrais alternativas para combater a malária, disse ao Terramérica
Ricardo Tapia, coordenador do projeto sobre contaminantes orgânicos persistentes, financiado
pela ONU. Nesse país, que registrou 52 mil casos de malária em 2003, não se usa DDT desde
1990, mas as autoridades não desejam acabar com a possibilidade de fazê-lo sem que haja
uma emergência sanitária (CEVALLOS, 2005).

Em 2001, Venezuela e Costa Rica solicitaram á ONU autorização para continuar


usando o DDT no controle da malária. O Brasil, por sua vez, pediu para usá-lo na produção de
dicofol, um pesticida utilizado na plantação de cítricos. Neste ano, a Venezuela já registrou 11
mil casos de malária, mas o diretor de Saneamento Ambiental do Ministério da Saúde
venezuelano, Jesús Toro, assegurou ao Terramérica que seu país deixou de utilizar o DDT
contra essa doença em 1994, e que no Uruguai não vai propor o reinício de seu uso. Por outro
lado, informações do Pnuma e da não-governamental Rede de Ação em Pesticidas e suas
Alternativas de América Latina (RAP-AL), indicam que o produto foi utilizado, sim, na
Venezuela nos últimos anos.

Já a Guatemala se opõe totalmente ao uso do inseticida. "Não deveria ser permitido o


uso do DDT porque prejudica o meio ambiente, pois seus resíduos permanecem no solo por
muitos anos, contaminando através da cadeia alimentar solos, pasto consumido pelo gado,
leite de vaca, carne e leite materno", ressaltou. Nesse país centro-americano, onde foram
registrados mais de 14 mil casos de malária, não se usa DDT desde os anos 70, segundo
fontes oficiais. Mas, segundo a ONG, existem evidências, ali e em muitos outros países da
região, de uso agrícola do pesticida, obtido através de contrabando.

Cerca de 14.500 toneladas de DDT permanecem armazenadas em condições perigosas


na Guatemala, o que aumenta o temor de algum acidente. A maioria dos governos da América
Latina e do Caribe afirma que no combate à malária seguem as diretrizes dos especialistas,
aplicando um conjunto de medidas que incluem inseticidas diferentes do DDT, apoios
sanitários, acompanhamento de casos, uso de mosquiteiros, apoio comunitário e cuidados
médicos oportunos. Há casos em que as autoridades sanitárias atacam de maneira errada os
25

vetores da enfermidade, disse. O impacto na saúde humana de pesticidas alternativos ao DDT


pode ser grave, se não existir controles de segurança suficientes.

Desde que Rachel Carson publicou em 1962 seu livro "Silent Spring" (Primavera
Silenciosa), os ambientalistas extremistas têm procurado proibir a utilização do DDT.
Usando estudos fraudulentos do Fundo de Defesa Ambiental e do Conselho de Defesa dos
Recursos Naturais, a Agência de Proteção Ambiental (APA), sob controle dos ativistas
ambientais, proibiu o DDT em 1972. Os extremistas convenceram a nação de que o DDT não
só era perigoso para os seres humanos, mas também perigoso para os pássaros e outras
criaturas. Desde então, os argumentos deles têm sido cientificamente refutados.

O DDT salvava não somente as colheitas, as florestas e o gado, mas também os seres
humanos. Em 1970, a Academia Nacional de Ciências dos EUA avaliou que o DDT salvou
mais de quinhentos milhões de pessoas durante o período em que foi amplamente utilizado.
Uma comissão de avaliação científica da APA mostrou que o DDT não é prejudicial ao meio
ambiente e revelou que o DDT é uma substância benéfica que "não deveria ser proibida". De
acordo com a Organização Mundial de Saúde, a malária contagia trezentos milhões de
pessoas no mundo inteiro. Aproximadamente um milhão de pessoas morre de malária
anualmente. A maioria das vítimas está na África, e a maioria são crianças.

No Sri Lanka, em 1948 ocorreram quase três milhões de casos de malária e sete mil e
trezentas mortes. Com a utilização extensiva do DDT, os casos de malaria caíram para 17,
sem nenhuma incidência de morte, em 1963. Depois que a utilização do DDT foi suspensa, os
casos de malaria no Sri Lanka subiram para dois milhões e meio nos anos de 1968 e 1969, e
até hoje essa doença continua matando nesse país.

Mais de cem mil pessoas morreram durante epidemias de malaria na Suazilândia e


Madagascar em meados de 1980, depois da suspensão dos programas de dedetização
doméstica. Depois que a África do Sul parou de usar DDT em 1996, o número de casos de
malária na província de KwaZulu-Natal subiu como foguete, de oito mil para quarenta e dois
mil. No ano 2000, houve um aumento aproximado de 400 por cento nas mortes de malária.
Agora que o DDT está sendo utilizado de novo, o número de mortes de malária na região caiu
de quase 2000 para nenhuma no último registro oficial de fevereiro de 2003.
26

Na América do Sul, onde a malária é endêmica, os índices de malária elevaram-se em


países em que a dedetização doméstica foi suspensa após 1993 - Guiana, Bolívia, Paraguai,
Peru, Brasil, Colômbia e Venezuela. No Equador, aumentou-se a dedetização depois de 1993,
e o índice de infecção da malária foi reduzido em 60 por cento. Num estudo de 2001,
intitulado "A Malária e a História do DDT", publicado pelo Instituto de Assunto Econômicos
com sede em Londres, está assim relatado: "A malária é uma tragédia humana". Eles também
afirmam: "Mais de um milhão de pessoas, principalmente crianças, morrem da doença
anualmente, e mais de trezentos milhões ficam doentes".

O fato de que o DDT salva vidas podia ser, em parte, a explicação do motivo da
hostilidade que existe contra esse produto. Alexander King, fundador do Clube Maltusiano
(WILLIAMS, 2007) de Roma, escreveu num documento biográfico de 1990:

"Minhas próprias dúvidas vieram na época do surgimento do DDT. Na Guiana, dentro de dois anos
depois de sua utilização, o DDT tinha quase eliminado a malária. Então minha principal briga com o DDT, em
retrospecto, é que esse produto ajudou em muito a aumentar o problema populacional".
Conforme informações registradas, o Dr. Charles Wurster (WILLIAMS, 2007), um
dos principais oponentes do DDT, disse:

"As pessoas são a causa de todos os problemas. Há muitas pessoas. Precisamos nos livrar de algumas,
e isso [referindo-se às mortes de malária] é um bom meio".

A dedetização doméstica com quantidades pequenas de DDT custa apenas 1 dólar e 44


centavos por ano (nos Estados Unidos); os meios alternativos são de cinco a dez vezes mais
caros, tornando-os fora das possibilidades nos países pobres. Os próprios países ricos que
utilizavam o DDT ameaçam represálias contra os países pobres que tentarem utilizá-lo.

Ficamos realmente perplexos então com a posição dos grupos religiosos, dos comitês
de defesa dos negros no Congresso, das ONGs, dos políticos e outros que alegam estar
preocupados com a situação dos pobres ao redor do mundo enquanto ao mesmo tempo
aceitam ou promovem proibições contra o DDT e o sofrimento e mortes desnecessários que
27

seguem o rastro dessas proibições. A malária transmitida por mosquito não só tem
conseqüências devastadoras para o sistema de saúde, mas também sufoca o crescimento
econômico.

2.5.1 – O DDT no Brasil

A seguir, estão relatadas algumas informações referentes ao Projeto de Lei do Senado


nº 416, de 1999, do relator do Senado, Osmar Dias, que proíbe a fabricação, a importação, a
exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso de diclorodifeniltricloretano
(DDT).

Foi distribuída para a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Governo Federal, para
decisão em caráter terminativo, o Projeto de Lei do Senado n° 416, de 1999, de autoria do
Senador Tião Viana, com parecer favorável da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
(CCJ).

A proposição em exame tratava, considerando todo o território nacional, da fabricação,


da importação, da exportação, da manutenção em estoque, da comercialização e do uso de
diclorodifeniltricloretano (DDT). Estabeleceu, ainda, que os estoques existentes no País
deverão ser incinerados.

Na seqüência, o art. 3º do projeto tipifica como crime contra o meio ambiente a


violação do disposto na norma, sujeitando os infratores às penalidades previstas no art. 54 da
Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei dos Crimes Ambientais).

O DDT foi saudado, quando da descoberta de suas propriedades inseticidas, como a


"grande arma química no combate às pragas". Só muito mais tarde descobriu-se que o produto
representava risco toxicológico importante. O DDT contamina o solo, a água, o ar e está
28

relacionado com a extinção de insetos, peixes, aves, mamíferos e outras espécies animais,
podendo permanecer no ambiente por dezenas de anos sem se degradar.

Por ser altamente volátil, é levado para a atmosfera e conduzido até os pólos, por
exemplo. Pesquisas indicam a presença de DDT até em pingüins do Ártico, área nunca
submetida à aplicação do produto. Além da capacidade de persistência, o produto apresenta
elevada toxicidade, sendo armazenados nos tecidos gordurosos do organismo humano e de
outras espécies animais, com efeitos cumulativos danosos para o coração, fígado, rins, cérebro
e outros órgãos.

Os efeitos colaterais decorrentes do uso em larga escala do DDT terminaram por levar
a maioria dos países a banir a fabricação e o uso desse inseticida de alto poder residual. Se
por um lado, ele permite controlar os danos causados pelas pragas na agricultura e os
mosquitos transmissores de diversos tipos de enfermidades, por outro, conforme sustenta o
autor do projeto, no ambiente, sua ação não seletiva ataca tanto as pragas agrícolas ou os
vetores de doenças contra os quais é empregado quanto destrói, indiscriminadamente, outras
espécies da fauna e da flora nativas, elimina predadores naturais e gera resistência [das
pragas].

A partir da década de 80, o Brasil suspendeu a fabricação do DDT em conseqüência da


proibição de seu uso na agricultura. No entanto, continuou, até bem pouco tempo, a empregar
o inseticida no controle dos vetores da malária e de outras doenças transmitidas por
mosquitos, apesar dos impactos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana e animal
decorrente de sua aplicação.

Com vistas a evitar definitivamente o uso desse produto, a Justiça Federal proferiu, em
janeiro de 1997, sentença determinando que o Ministério da Saúde instituísse no prazo de três
anos, programa científico federal voltado à substituição do inseticida DDT nas campanhas de
saúde pública.

Nesse sentido, a Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde baixou a


Portaria nº 11, de 8 de janeiro de 1998, que proíbe o uso do DDT nos programas de controle
29

de doenças transmitidas por insetos, inclusive da malária. Não obstante muitos países onde a
malária é endêmica ainda fazerem uso do DDT, seu emprego na batalha contra a moléstia está
bem documentado e os resultados não chegam a ser convincentes. Isso acontece devido à
capacidade de adaptação do mosquito transmissor, o qual, em pouco tempo, dada a rapidez
com que se reproduz, pode desenvolver resistência ao inseticida, tornando-o ineficaz.

Dados da literatura específica indicam que o DDT foi introduzido na Índia nos anos
50. Inicialmente os casos de malária caíram de 75 milhões para 50 mil. No entanto, em 1976,
o número de casos havia subido para 6,5 milhões, o que vem exigindo o uso de drogas cada
vez mais potentes – e, portanto, gastos mais vultosos – para o controle da doença.

A propósito, organismos internacionais vêm, há muito, demonstrando preocupação


quanto ao uso indiscriminado de diversos pesticidas, entre eles o DDT. A questão tem sido
muito discutida em diversos foros mundiais e, em maio de 2001, foi adotada em Estocolmo,
na Suécia, a Convenção sobre POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes).

Esse acordo, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), visa,
inicialmente, à eliminação total de 12 (doze) substâncias extremamente nocivas à saúde
ambiental e à saúde humana, resistente à degradação, muito estável, e cuja característica mais
perniciosa é seu efeito bioacumulativo nos tecidos de animais e do homem. Nessa lista
encontra-se o DDT.

O DDT foi o primeiro, e mais importante, de uma nova família de inseticidas, ditos
"orgânicos", feitos a base de derivados de carbono, que agem bloqueando os processos
metabólicos vitais das espécies afetadas. O DDT pertence ao grupo dos compostos
organoclorados, ou seja, baseados numa combinação de carbono e cloro; outro grupo de
inseticidas orgânicos é baseado na combinação de carbono e fósforo.

Em grande parte, o desenvolvimento de novos inseticidas foi estimulado pela Segunda


Guerra Mundial. De um lado, como subprodutos de pesquisas de armas químicas e biológicas,
mesmo porque insetos eram freqüentemente usados para testar a toxicidade das novas
substâncias. De outro, e principalmente em função da guerra no Pacífico e no Sul da Ásia,
30

pela necessidade de combater os insetos que servem de vetores para doenças tropicais como a
malária: na campanha da então Birmânia, as tropas inglesas sofreram mais baixas por malária
do que por fogo inimigo.

Desde os anos 40, o DDT passou a ser usado em larga escala, em alguns casos com
efeitos imediatos extremamente benéficos - por exemplo, no combate ao mosquito
transmissor da já citada malária: em algumas regiões, o uso do DDT fez a incidência de novos
casos cair em mais de 90%. No Brasil, por volta de 1960, a malária, embora continuasse
sendo endêmica na Amazônia, estava controlada.

Não erradicada; como a ciência médica e as organizações da área descobririam


fartamente não muito tempo depois, é impossível erradicar uma moléstia (ou impedir a
emergência de novas doenças) de natureza infecto-contagiosa, endêmica em áreas de pobreza
ou miserabilidade, sem que se promova uma profunda mudança nas condições ambientais que
a sustentam, aí incluída a ecologia social.

Mudança essa que, muitas vezes, por sua vez não raro acarreta novas oportunidades
para que tais doenças ressurjam e se disseminem. Mas o fato é que, naquele momento, a
incidência de novos casos de malária no Brasil e em outros países, mesmo nas regiões em que
era endêmica, havia sido reduzida a patamares extremamente baixos e era estável quando não
decrescente. Não por muito tempo.

Como inseticida, o DDT tem uma característica que o torna particularmente eficaz: é o
que se chama um agente "de largo espectro", atua sobre várias espécies de insetos. No Brasil,
o Detefon, a base de DDT, tinha como "slogan" "Detefon é que mata mosca e mosquito, pulga
e barata". E matava mesmo.

Por isso mesmo, além do combate a pragas domésticas e a doenças, o DDT - o mesmo
vale para outros inseticidas orgânicos - passou a ser usado como defensivo agrícola.
Intensamente - em grandes quantidades. E extensamente - em grandes áreas. Por ser solúvel
em óleo, o DDT é de fácil aplicação, desde o borrifamento direto - muitos talvez se lembrem
das imagens de pessoas com tambores nas costas, borrifando plantações com inseticidas - até
31

a nebulização, nuvens de inseticida que são despejadas de aviões - sendo que por esse método
às vezes o vento mudava, e o inseticida acabava caindo em outro lugar que não o visado.

Com o passar do tempo, porém, começaram a surgir e a se acumular primeiro indícios


depois claras evidências de efeitos lesivos do uso maciço do DDT sobre outras espécies, sobre
o equilíbrio ecológico e finalmente sobre a saúde humana. Por exemplo: por ser de largo
espectro, o DDT não matava somente os insetos nocivos, mas também os insetos "benéficos",
como os que destroem ervas daninhas. O que obviamente abriu espaço para o
desenvolvimento e comercialização, pelas mesmas indústrias que produziam os inseticidas
orgânicos, de novas formulações de herbicidas, aumentando as concentrações de substâncias
tóxicas nas lavouras e, através do pasto, da forragem e das rações, nos rebanhos.

Além disso, diminuindo drasticamente a população de insetos diminuíam também os


vetores de polinização, o que prejudicava o desenvolvimento de outras espécies vegetais que
dependem de polinização, inclusive espécies alimentar ou economicamente importantes. E
diminuía também a alimentação das aves insetívoras - e, independentemente de passarinho ser
bonitinho de ver e de ouvir, as aves também são um vetor importante na reprodução vegetal,
principalmente de espécies florestais como carvalhos.

E rapidamente começou a haver a contaminação por DDT de rios e lençóis d' água. O
DDT não é solúvel em água, donde resíduos de DDT eram levados, pelas chuvas ou por
irrigação, para rios e para lençóis subterrâneos, em quantidades crescentes, e daí se
espalhavam por até centenas ou milhares de quilômetros, devastando a fauna fluvial e lacustre
como nas várias mortandades de peixes observadas na década de 50, principalmente nos
Estados Unidos onde o uso desenfreado de inseticidas havia se disseminado - e afetando até
mesmo suprimentos de água potável. Conseqüentemente, pessoas vivendo muito longe das
áreas tratadas com DDT estavam bebendo inseticida em concentrações cada vez maiores.

Os efeitos foram mais além. Exatamente por ter uma grande afinidade com substâncias
graxas, o DDT se transmite, pelas gorduras, através da cadeia alimentar - às vezes, de forma
exponencializada. Por exemplo: se um rebanho leiteiro for alimentado com forragem em que
haja resíduos de DDT da ordem de 7 a 8 partes por milhão, no leite desse gado a concentração
32

terá caído para menos da metade, aí umas 3 partes por milhão; mas na manteiga produzida
com esse leite terá subido, devido ao alto teor de gordura, para 60 a 70 partes por milhão -
quase dez vezes a concentração original. Como se não bastasse, foi constatado que a
contaminação por DDT passava de mãe para filho, através do leite materno; as criancinhas, ao
serem amamentadas, já ingeriam DDT.

2.5.2 – O primeiro alerta

Mas, por mais que as evidências se acumulassem, tanto as indústrias quanto as


autoridades sanitárias e a “comunidade científica” insistiam em ignorá-las. Até que, em 1962,
publicado nos Estados Unidos o livro "Primavera Silenciosa" (Silent Spring), da bióloga,
Rachel Carson, conforme anteriormente mencionado. No livro, além de citar centenas de
casos, todos fartamente documentados, a Doutora Carson explicava detalhadamente o
processo de contaminação e transmissão. E apontava outros efeitos como o esgotamento de
solos saturados de DDT pela extinção da microfauna, a qual é fundamental para a produção
de nutrientes que mantêm a terra fértil.

Nos Estados Unidos, o livro Silent Spring teve um grande impacto sobre a opinião
pública, e é considerado o deflagrador do que viria a ser chamado de "consciência" e
"movimento" ambientalistas. E foi alvo de uma imediata e violenta campanha negativa. Não
apenas pelo interessados diretos em o desacreditar, como os fabricantes, distribuidores e
usuários desses inseticidas e setores associados como a indústria alimentícia, mas também por
boa parte da "grande imprensa" (a revista Time alegou que o livro usava "linguagem
inflamatória") e pela maioria das instituições ditas científicas.

A tal ponto que a American Medical Association, a Associação Médica dos Estados
Unidos, divulgou um relatório oficial destinado a "tranqüilizar" o público, afirmando
categoricamente que - a despeito da evidência apresentada em Silent Spring bem como por
33

médicos, serviços de saúde e biólogos - não havia qualquer "evidência científica" de que o
DDT e similares oferecessem o menor risco que fosse à saúde humana.

Um biólogo de grande renome acadêmico, Robert White Stevens, da Rutgers


University, alegou que o raciocínio da Dra. Carson pecava pela base, pois ela afirmava que o
equilíbrio natural era essencial para a sobrevivência da humanidade, quando - literalmente -
"o cientista moderno sabe que o homem está inexoravelmente controlando a natureza".

A pessoa de Rachel Carson foi igualmente alvo das mais pesadas acusações. O
mínimo que foi dito, diante da impossibilidade de se negar seu histórico acadêmico, é que não
estaria qualificada para conduzir investigações, e chegar a resultados, tão abrangentes quanto
havia feito - em linguagem mais simples, que teria "dado um passo maior que as pernas", de
novo desconsiderando a base estritamente factual do livro. Além disso, foi tachada entre
outros epítetos de "alarmista", "anti-business", "anti-American" e, num óbvio deslize sexista,
"histérica".
Rachel Carson morreu em 1964. Em 2000, Silent Spring (partes do qual haviam sido
publicados na revista The New Yorker) foi eleito pela New York School of Journalism como
o segundo melhor trabalho de jornalismo publicado nos Estados Unidos no século 20.

E até 1972 - dez anos depois da publicação de Silent Spring - o mesmo Robert White
Stevens ainda defendia ferrenha e publicamente que inseticidas orgânicos podiam ser usados à
vontade, porque, de novo "cientificamente", eram absolutamente inofensivos para o meio
ambiente e para a saúde humana. E o DDT e congêneres continuam a ser usados até hoje. Não
nos Estados Unidos onde foram banidos. Mas empresas estadunidenses ainda fabricam DDT e
o exportam para países do chamado Terceiro Mundo - e assim também fazem, nesses países,
subsidiárias locais de empresas sediadas nos EUA.

Mas o uso indiscriminado de inseticidas teve outras conseqüências, para as quais


Rachel Carson já alertara. De um lado, pela já mencionada ruptura do complexo - e dinâmico
- equilíbrio que regula a coexistência e as populações de organismos em um dado ambiente. A
começar pelo equilíbrio entre diferentes espécies de insetos. A vulnerabilidade a inseticidas,
mesmo os de largo espectros, pode variar enormemente entre tais espécies.
34

Com isso, não raro os usuários de inseticidas se viram trocando uma praga por outra
ainda mais devastadora, mais resistente aos inseticidas usados e que pôde proliferar ou por
não ter mais de competir com as espécies atingidas pelo uso de inseticidas ou porque estes
haviam também dizimado as espécies benéficas, que as predavam e mantinham suas
populações controladas.

Uma outra situação típica foi a infestação por lagartas, que de modo geral tendem a ter
maior tolerância a inseticidas: mesmo que morram ao se alimentarem de vegetais saturados,
tal processo é mais lento, e até que se consume podem ter ocorrido sérios danos à agricultura.

Além disso, inseticidas orgânicos têm pouco ou nenhum efeito direto sobre aracnídeos
(alguns extremamente nocivos à agricultura e à pecuária, como algumas famílias de ácaros
que sugam a clorofila de vegetais e os carrapatos hematófagos que infestam o gado) e sobre
moluscos como lesmas, que são herbívoras, e caramujos, que podem ser transmissores de
parasitas patogênicos como o Schistosoma, causador da esquistossomose. Mas podem ter
graves resultados quando seus efeitos se difundem pela cadeia alimentar.

Por exemplo, a diminuição das populações de aves insetívoras afeta adversamente as


populações de aves de rapina que as predam e que servem também como fator de controle das
populações de roedores nocivos. A outra conseqüência se mostraria ainda mais danosa. Em
toda e qualquer população, alguns indivíduos sempre poderão ser naturalmente imunes a um
determinado agente patogênico, devido a mínimas e no mais irrelevantes diferenças genéticas
inatas ou adquiridas.

Se as variantes predominantes forem destruídas, esses indivíduos terão campo aberto


para proliferarem e, por seleção natural, seus descendentes que herdarem as características
vantajosas se tornarem por sua vez dominantes - mais ainda se a mudança ambiental que
propiciou sua proliferação tiver também destruído, em proporções maiores, seus inimigos
naturais. E quanto mais numerosa e menos complexa for uma espécie, e mais curto seu ciclo
de vida, mais vasto e rápido será o processo de substituição.
35

Menos de vinte anos após a adoção indiscriminada dos inseticidas orgânicos surgiram
e se disseminaram cepas de insetos resistentes. A resposta a essa ameaça foi a busca frenética
por desenvolver novos inseticidas, cada vez mais potentes. O que por sua vez acelerou o
processo de surgimento e disseminação de novas cepas ainda mais resistentes.
Desencadeamos uma "corrida armamentista" em que os insetos, por suas próprias
características biológicas, estão e estarão sempre um passo à frente.

A isso se juntou a expansão das "fronteiras" de ocupação humana, populacional e


econômica, para áreas supostamente "liberadas" pela ação dos inseticidas, fornecendo novas
oportunidades de infestação, e território fértil para a introdução de novas pragas e para a
reintrodução daquelas que se acreditava terem sido erradicadas ou controladas.

Por volta de 1980, no Brasil, o número de hospitalizações por malária beirava


200.000, e a estimativa de novas infecções variava entre 500.000 e um milhão de casos. Esses
números vêm desde então aumentando exponencialmente. Em grande parte devido à crescente
presença de variantes do mosquito Anopheles, vetor da doença, resistentes a todos os
inseticidas já desenvolvidos.
36

3 - Conceitos Básicos em Saúde Ambiental e Princípios


de Toxicologia

3.1 - Saúde Ambiental

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Ambiental é a parte


da saúde pública que se ocupa das formas de vida, das substâncias e das condições em torno
do ser humano que podem exercer alguma influência sobre a saúde e o bem-estar.

Segundo a OMS, “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e


não apenas a ausência de doença”. Para PERKINS (PERKINS, 1938), “Saúde é um estado de
relativo equilíbrio da forma e da função do organismo, resultante de seu sucesso em ajustar-se
às forças que tendem a perturbá-lo. Não é uma aceitação passiva, mas uma resposta ativa de
suas forças operando no sentido do reajustamento”. Representa o empenho para manter um
balanço positivo contra as forças biológicas, físico-químicas, mentais e sociais.

 CONCEITO DE DOENÇA: Falha, perturbação ou desequilíbrio das funções


orgânicas, físicas, mentais de um indivíduo ou grupo. Moléstia, mal, enfermidade.

 PROMOÇÃO DA SAÚDE: Processo de capacitação da comunidade para atuar na


melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no
controle desse processo.

 PROMOÇÃO DA SAÚDE AMBIENTAL: Aponta para a influência dos fatores


sociais, econômicos, políticos e culturais no bem-estar da população. Busca meios
para prevenir e reduzir os processos capazes de comprometer sua segurança, saúde e
vida.
37

Fontes fundamentais e condições básicas de Saúde:


1- Nutrição adequada;
2- Ambiente seguro;
3- Comportamento prudente.

Dependem:
a) Condições sócio-econômicas;
b) Oportunidades de emprego;
c) Sistemas ambientais seguros (água, esgoto, moradia, ...);
d) Garantia de direitos (segurança, assistência médico-hospitalar);
e) Convivência em sociedade.

As injustiças no campo da saúde têm raízes nas desigualdades existentes na sociedade,


são necessárias políticas de inclusão social que incrementem o acesso dessas pessoas aos bens
e serviços que promovam a saúde pública e ambientes saudáveis. Em pleno século XXI, a
humanidade ainda convive com uma série de doenças relacionadas com a falta e/ou
inadequação do saneamento. Exemplos disso, são epidemias de cólera e dengue em países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento, alem da diarréia que é a doença que mais aflige a
humanidade (4 bilhões de caso por ano).

Diversos estudos mostram a influência das ações de saneamento na redução da


incidência e prevalência de doenças, especialmente no que se refere ao abastecimento de água
e destino adequado de dejetos.

Saneamento: Controle dos fatores do meio físico do homem, que influenciam diretamente
sobre o seu bem-estar físico, mental e social, ou seja, sobre sua saúde. São atividades de
saneamento:

. Abastecimento de água;
. Esgoto sanitário;
. Drenagem urbana;
38

. Coleta e destino final dos resíduos sólidos;


. Controle de vetores e reservatórios de doenças transmissíveis;
. Saneamento da habitação;
. Saneamento dos alimentos;
. Controle da poluição ambiental;
. Saneamento dos locais de trabalho e recreação;
. Saneamento em situações de emergência;
. Processos de planejamento territorial;
. Educação ambiental e em saúde pública.

Meio Ambiente: Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química
e biológica que permite, abriga e reage à vida em todas as suas formas. Degradação da
Qualidade Ambiental: alteração adversa das características do meio ambiente.

Poluição: Degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou


indiretamente:
a) Prejudicam a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) Afetam desfavoravelmente à vida;
d) Afetam as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) Lançam matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Poluidor: Pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, responsável direta ou


indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental e recursos ambientais como a
atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o
solo, o subsolo e os elementos da biosfera (Política Nacional de Meio Ambiente: lei 6938/
81).
39

3.1.1 - Modificações Ambientais e o aparecimento de doenças

Nos impactos ambientais sobre a saúde, estão distintas em duas escalas:

1- Escala Global:

a) Efeito estufa;
b) Degradação do ozônio;
c) Perada da biodiversidade;
d) Desertificação;
e) Poluentes químico.

2 – Escala Regional, Subdividida em;

a) Riscos Tradicionais associados ao subdesenvolvimento:


. Falta de acesso à água potável;
. Saneamento inadequado nas residências e na comunidade;
. Contaminação de alimentos com elementos patogênicos;
. Destino inadequado de resíduos sólidos;
. Acidentes ocupacionais na agricultura e indústria;
. Desastres naturais.

b) Riscos modernos associados ao desenvolvimento não sustentável:


. Poluição das águas em áreas populosas;
. Indústria de agricultura intensiva;
. Poluição do ar, de formas diversas;
. Acumulação de resíduos sólidos perigosos;
. Riscos de ameaças químicas e radioativas por uso inadequado da ciência e da tecnologia;
. Emergência e reemergência de doenças infecto-contagiosas;
. Desflorestamento;
. Degradação do solo.
40

As ações de saneamento influenciam na redução da incidência e prevalência de


doenças, especialmente quando se trata das melhorias no abastecimento de água e destino
adequado de dejetos.

3.1.2 - Situação Do Saneamento Ambiental no Brasil e Correlação Com Quadro


Epidemiológico

Nas últimas duas décadas houve melhora significativa na cobertura de alguns serviços,
sobretudo nas áreas urbanas, em relação à distribuição de água e coleta de lixo. No entanto a
oferta de rede coletora de esgoto, de tratamento de esgoto e disposição final adequada de
resíduos sólidos, bem como o atendimento às áreas rurais, às pequenas cidades, periferias de
grandes centros urbanos e de outros segmentos ficaram relegados a um segundo plano (Censo
demográfico, IBGE, 2000).

1- Abastecimento de água – Brasil

- 77,8 % dos domicílios contam com rede de distribuição de água;


- 15,6 % (6.976.877) domicílios utilizam poços e nascentes;
- 6,6 % (2.958.831) utilizam outras formas de abastecimento;
- A distribuição é desigual entre as regiões do país e entre as zonas rurais e urbanas;
- Norte e Nordeste o abastecimento alcança entre 48,0% e 66,4% dos domicílios;
- Nestas regiões 25 milhões de pessoas utilizam poços ou nascentes.
41

3.1.3 - Exemplos De Diversos Contaminantes De Água E Solo:

GRUPO 1: Alumínio, Amianto, Amônia, Arsênio, Bário, Berílio, Boro, Benzeno.


GRUPO 2: Cádmio, Cianetos, Chumbo, Cloretos, Cloro residual, Cobalto, Cobre.
GRUPO 3: Cromo, Cloroetano e eteno, Estanho, fenóis, Ferro solúvel, Fluoretos, Fosfato.
GRUPO 4: Iodo, Lítio, Manganês, Mercúrio, Níquel, Nitratos, Nitrito.
GRUPO 5: Prata, Selênio, Sulfatos, Sulfetos, Hexaclorociclohexano (HCH), Formaldeidos.
GRUPO 6: Tetracloroeteno, Tricloroeteno, Tetracloreto de carbono, triclorofenol, Urânio,
Vanádio, Zinco.
GRUPO 7: Aldrin, Clordano, DDT (Diclorodifeniltricloretano), Dieldrin, Endrin,
Endossulfan.
GRUPO 8: Gution, Malation, Paration, Carbaril, Organofosforados e Carbamatos.
GRUPO 9: Antimônio, Acetona, Tolueno, Fenol, Naftaleno, Acrilato de Metila,
Ácidos( Sulfúrico, clorídrico, nítrico), Hidróxidos de (sódio e Potássio).

3.1.4 - Poluição Global - Efeitos Sobre A Saúde Ambiental E Humana

I – INVERSÃO TÉRMICA: Resulta na retenção de gases e poeiras rentes ao solo, Smog.


Efeitos sobre os humanos:
. Problemas respiratórios (agravamento de bronquites, enfisema e asma);
. Alergias respiratórias;
. Problemas circulatórios e cardiovasculares;
. Oftálmicos (garganta, nasofaríngea, sinus, laringe, traquéia e brônquios);
. Conjuntivites;
. Problemas Gastrintestinais, SNC (Sistema Nervoso Central) e cancerígenos.

Efeitos sobre as plantas:


. São menos sensíveis ao CO (Monóxido de Carbono), por não possuírem hemoglobina;
. São mais sensíveis ao SO2 (Dióxido de Enxofre) ao cloro e a amônia, que interferem no
mecanismo de fotossíntese e reduz a resistência às pragas;
42

. Sensibilidade à poeira que obstruem os estômatos, afetando as trocas gasosas e de umidade;


. Poeira com partículas de Fluor e Etileno, lesam tecidos foliares;
. O Enxofre (SO2) e o Nitrogênio (NO) como elementos da chuva ácida, terão efeitos bastante
danosos à vegetação.

Efeitos sobre os materiais:


. Com a chuva ácida, corrosão de partes metálicas;
. CO2 + umidade, convertem pedras calcáreas em bicarbonato, posteriormente lixiviado;
. O Ozônio (O3) reduz a elasticidade da borracha e o enfraquecendo.

II- CHUVA ÁCIDA: Resultante da ligação de SO2 e NO, com umidade, provocam a
formação de ácido sulfúrico e nítrico. Em quantidades limitadas, o ambiente neutraliza a
acidez, quando isso não ocorre, vem a chuva ácida.

Efeitos gerais da chuva ácida: Processos de degradação por:


. Poluição de reservatórios de água potável;
. Acidificação da água e do solo, causando redução da biodiversidade;
. Alteração físico-química no ambiente;
. Declinação das florestas e seu desfolhamento;
. Prejuízos à agricultura e à pesca;
. Aceleração da corrosão e desgaste de materiais;
. Interferência nos organismos, pelo acúmulo de metais pesados.

Efeitos da Chuva Ácida sobre a Vegetação:


A redução de pH do solo causa aumento da solubilidade de metais potencialmente tóxicos,
tais como o Alumínio (Al), Manganês (Mn), Cádmio (Cd), e outros. O Alumínio, por
exemplo, é fitotóxico e causa prejuízo ao sistema de raízes. Além disto, ocorre aumento da
Lixiviação de nutrientes importantes como Mg e K.

Efeitos da Chuva ácida sobre os ecossistemas aquáticos:


. O Baixo pH interfere nos processos fisiológicos dos seres vivos e na sua capacidade de
reprodução;
43

. Solubilidade de metais tóxicos que serão bioacumulados;


. pH 6,0, começam desaparecer espécies como crustáceos, insetos e plâncton;
. pH 5,0, aumentam efeitos sobre plancron, desenvolvem-se algumas espécie de musgos,
perda progressiva de algumas espécies de peixes;
. pH abaixo de 5,0 – águas relativamente desprovida de peixes e o fundo é recoberto por
detritos orgânicos;
. Em pH baixo, os micronutrientes têm ação prejudicada, reduzindo a taxa de decomposição
de matéria orgânica reduzindo a ciclagem de nutrientes e conseqüentemente aumento de
detritos na água.

Efeitos da Chuva Ácida sobre os materiais:


. Acelera a corrosão de construções, equipamentos, canalizações, turbinas hidroelétricas,
cabos elétricos e de telecomunicações;
. Desgaste e descoloração de monumentos, esculturas, ornamentos e outros objetos culturais
importantes;
. Desgaste na pintura de automóveis.

Efeitos da Chuva Ácida sobre a Saúde:


. Riscos indiretos casados por metais (Chumbo, Zinco, Cádmio, Mercúrio), que pela água ou
introduzidos nas cadeias alimentares, chegam ao organismo humano. Estes metais causam
problemas neurotóxicos, gastrontestinais, renais e hepáticos.

Nas Tabelas 4(a) e 4(b), estão mostrados alguns fatores prejudiciais à qualidade
natural das águas por agrotóxicos e por alguns outros poluentes, respectivamente.

Na Tabela 5, podemos observar as inter-relações entre os fatores prejudiciais dos usos


antrópicos e seus danos potenciais.
44

Tabela 4(a) - Fatores Prejudiciais dos Agrotóxicos à Qualidade Natural das Águas.
45

Tabela 4(b) - Fatores Prejudiciais de alguns poluentes à Qualidade Natural das Águas.
46
47

3.2 - Princípios De Toxicologia

Toxicologia é o estudo dos efeitos nocivos de substâncias estranhas sobre os seres


vivos. As substâncias de interesse incluem tanto os produtos químicos sintéticos quanto
aqueles que existem naturalmente no ambiente. Na toxicologia, os efeitos são determinados
em geral pela injeção ou pela administração oral da substância de interesse em animais, e
observando-se como a saúde desses animais é afetada. Em contraste, na epidemiologia, os
cientistas determinam passivamente a história clínica de um grupo selecionado de seres
humanos e tentam relacionar as diferenças nos índices de doenças e outros efeitos com
diferenças nas substâncias presentes no ambiente às quais o grupo foi exposto. Um exemplo
de estudo epidemiológico é o referente ao efeito dos PCBs.

Dados toxicológicos relacionados à nocividade de uma substância para um


organismo, como um pesticida organoclorado ou um metal pesado, são coletados mais
facilmente determinando sua toxicidade aguda, que é o início rápido de sintomas – incluindo a
morte no limite extremo – que se seguem à absorção de uma dose da substância. Por exemplo,
experimentos mostram que apenas alguns décimos de micrograma do composto sintético mais
agudamente tóxico – a dioxina, que será discutida mais tarde – são necessário para causar a
morte entre a maioria de roedores testados poucas horas após a administração oral.

Embora a toxicidade aguda de uma substância seja de interesse quando somos


expostos acidentalmente a produtos químicos puros, na toxicologia ambiental estamos
normalmente mais preocupados com as exposições crônicas (em longo prazo) a dose
individuais relativamente baixas de um produto químico tóxico presente no ar que respiramos,
na água que bebemos ou nos alimentos que comemos. De modo geral, qualquer efeito – por
exemplo, câncer ou defeitos congênitos – decorrentes dessas exposições contínuas são
também de longa duração, e conseqüentemente, também classificados como crônicos.

O mesmo produto químico pode provocar tanto efeitos agudos como crônicos no
mesmo organismo, embora, normalmente, mediante mecanismos fisiológicos diferentes. Por
exemplo, um sintoma de toxicidade aguda à exposição de seres humanos a muitos dos
48

organoclorados é uma irritação da pele que leva a cloracne, uma doença persistente,
desfiguradora e dolorosa, análoga à acne comum, mas teme-se também que a exposição
constante a doses individuais muito mais baixas que aquelas capazes de produzir as doenças
de pele possa finalmente levar ao aparecimento do câncer.

3.2.1 - Relação Dose-Resposta

A maior parte da informação quantitativa relativa à toxicidade das substâncias é


obtida a partir de experimentos efetuados mediante a administração de doses de substâncias
aos animais, embora recentemente estejam sendo usados testes sobre certas bactérias para
determinar se uma substância tem probabilidade de ser carcinógena ou não. Em razão de
considerações práticas que incluem custo e tempo, a maior parte dos experimentos é destinada
a estabelecer a toxicidade aguda, em vez de crônica, mesmos sendo normalmente esta última
de interesse principal em ciência ambiental.

Para determinar diretamente os efeitos de exposições contínuas de baixo nível


durante longos períodos, seria necessário um número muito grande de animais para os testes e
um projeto em longo prazo. A alternativa, na prática, consiste em avaliar os efeitos usando
doses altas o suficiente para dar lugar a efeitos substanciais e bem definidos, e, a partir daí,
extrapolar os resultados às exposições ambientais. Infelizmente, não existe certeza de que tal
extrapolação seja sempre confiável, dado que os mecanismos celulares que produzem os
efeitos a altas e baixas doses podem diferir.

A dose da substância administrada nos testes de toxicidade é normalmente


expressa como massa do composto, usualmente em miligramas, por unidade de peso corporal
do animal testado, habitualmente expressa em quilogramas. A divisão pelo peso corporal é
necessária, pois a toxicidade de dada quantidade de uma substância normalmente diminui à
medida que o tamanho do indivíduo aumenta (lembre que as doses máximas recomendadas
49

para fármacos, tais como remédios contra a dor de cabeça, são menores para crianças que para
adultos, devido principalmente à diferença na massa corporal).

Considera-se que os valores de toxicidade obtidos a partir de experimentos com


animais cobaias pequenos são aproximadamente transferíveis aos seres humanos, quando são
levadas em conta as diferenças no peso corporal. Em geral, a toxicidade de uma substância
aumenta quando aumenta a dose, embora sejam conhecidas algumas exceções.

Os indivíduos diferem significativamente quanto à sua susceptibilidade a um dado


produto químico – alguns respondem à substância mesmo em doses muito baixas, enquanto
que outros requerem uma dose muito mais elevada para reagir. Por essa razão, os cientistas
criaram as “relações dose-resposta” para substâncias tóxicas, entre elas os agentes ambientais.
Na figura que se segue, é representada uma curva dose-resposta típica para toxicidade aguda.
A dose está representada no eixo x (horizontal) e o percentual cumulativo nos animais
avaliados que mostraram o efeito medido (por exemplo, morte), quando administrada uma
determinada dose, é mostrado no eixo y (vertical). Por exemplo, na figura A, cerca de 60%
dos animais testados foram afetados por uma dose de aproximadamente 4mg/kg.

Como a faixa de doses em tais gráficos excede, com freqüência, uma ordem de
grandeza, e como os efeitos no extremo inferior da escala de concentração são muitas vezes
importantes na tomada de decisões ambientais e não podem ser claramente observados pelo
uso de escalas lineares, o gráfico dose-resposta é freqüentemente representado com uma
escala logarítmica para os valores de dose. Normalmente, resulta dessa transformação uma
curva em forma de “S” ou “sigmóide”, figura B.

Na maioria das vezes o efeito “resposta” buscado nos testes com animais para
construir as curvas doses-resposta é a morte. A dose letal para 50% da população dos animais
testados é chamada de valor LD50 da substância; sua determinação a partir de uma curva dose-
resposta está indicada pelas linhas tracejadas mostradas na figura A. Quanto menor o valor de
LD50, mais potente (mais tóxico) é o produto químico, já que é requerida uma menor
quantidade da substância para afetar o animal. Um produto muito menos tóxico que o
ilustrado na figura B teria uma curva sigmóide deslocada para a direita daquela mostrada.
50

Muitas fontes cotam os valores de LOD 50, a dose oral letal, quando o produto
químico foi administrado por via oral aos animais testados, em oposição à via dérmica ou a
outras vias. Por exemplo, o valor de LOD 50 para o DDT em ratos é de cerca de 110mg/kg.
Como anteriormente mencionado em geral presume-se que os valores de LD 50 e LOD50 são
aproximadamente transferíveis entre espécies. No caso do DDT, sabe-se que os seres
humanos sobrevivem a doses de cerca de 10mg/kg, portanto, mas não temos evidência direta
de que o valor de 110mg/kg, para ratos, seja também válido para humanos.

Muito mais relevante que a toxicidade aguda do DDT é sua capacidade de causar
efeitos crônicos em pessoas (câncer, por exemplo). Embora não seja considerado
tradicionalmente como carcinógeno para os seres humanos, um estudo epidemiológico feito
por Mary Wolff, do Mount Sinai Hospital de Nova York, mostrou que, quanto maior a
concentração de DDE no sangue de uma mulher, maior sua probabilidade de contrair câncer
de mama. Contudo, estudos posteriores não conseguiram confirmar a associação entre câncer
de mama e DDE.

A faixa de valores de LD 50 e LOD50 para a toxicidade aguda de diferentes


substâncias químicas e biológicas é enorme, e estende-se sobre cerca de dez ordens de
grandeza. As substâncias que têm valores de LD 50 de muitas gramas por quilograma de peso
corporal, tal como os açúcares, são classificados como dificilmente tóxicas ou praticamente
não-tóxicas. Todas as substâncias são tóxicas em doses suficientemente elevadas. Como o
filósofo do Renascimento alemão Paracelso observou, todas as coisas são veneno, sendo a
dose o que diferencia um veneno de um remédio. Termos como “moderadamente tóxico”,
“levemente tóxico” e “altamente tóxico” são usados às vezes, mas não há acordo sobre as
definições de tais expressões.

Nas curvas doses-resposta para algumas substâncias, existe uma dose abaixo da
qual nenhum dos animais é afetado; ela é chamada de limiar. A maior dose para qual não são
observados efeitos encontra-se ligeiramente abaixo e é chamada “nível de efeitos não-
observáveis (NOEL)”, embora algumas vezes os dois termos sejam usados de modo
intercambiável. É difícil determinar o nível limiar ou NOEL, porque pode ocorrer, quando são
envolvidos mais animais em um determinado estudo, a descoberta de alguns efeitos a doses
51

baixas que não se manifestam com um número menor de animais testados. A maioria dos
toxicologistas acredita que, para efeitos diferentes da carcinogênese, existe provavelmente
para cada substância química um nível limiar diferente de zero.

Experimentos envolvendo testes com animais também são utilizados para


determinar o quanto um composto é carcinógeno. Porém, o “teste Ames”, que usa bactérias,
pode ser usado com confiabilidade satisfatória para diferenciar compostos com probabilidade
de ser carcinógenos para os seres humanos daqueles que não são.

3.2.2 - Avaliação e Gerenciamento de Risco

Uma vez que informação toxicológica e/ou epidemiológica concernente a um


determinado produto químico esteja disponível, pode ser efetuada uma análise de avaliação de
risco. Essa análise tenta responder quantitativamente à questão “Quais são os tipos prováveis
de toxicidade esperados para a população exposta ao produto?” e “Qual é a probabilidade da
ocorrência de cada efeito na população?”. Quando necessário, a avaliação do risco também
tenta estabelecer as exposições permissíveis à substância em questão.

Para efetuar uma avaliação de risco de um produto químico, é necessário


conhecer:

1. Informação da avaliação de perigo, o tipo de toxicidade (aguda?, câncer?,


defeitos congênitos?) esperado para o mesmo;

2. Informação quantitativa dose-resposta relativa às várias formas possíveis de


exposição (oral, dérmica, inalação);

3. Uma estimativa da exposição humana potencial ao produto químico.


52

Para o caso de exposições crônicas, a informação sobre a dose limiar ou o NOEL


é normalmente expressa como miligramas do produto por quilograma de peso corporal por
dia. na determinação do nível limiar da maior parte dos membros sensíveis da população, é
comum dividir o NOEL obtido de estudos em animais por um fator de segurança,
normalmente 100.

O valor resultante é chamado “ingestão diária aceitável” máxima, IDA, ou “dose


diária máxima”, DDM; em vez disso, a EPA dos Estados Unidos faz referência a ela como
“dose referencial de toxicidade, RfD”. É importante observar que a IDA, ou RfD, não
constitui uma linha divisória bem demarcada e absolutamente “segura” separando as
exposições absolutamente “inofensivas” de absolutamente “perigosas” dado que a
transferência da informação sobre a toxicidade de animais para seres humanos não é exata, e,
em muitos casos, o fator de segurança é bastante amplo. Alguns cientistas têm sugerido
dividir o NOEL por um fator adicional de dez para proteger os grupos muito suscetíveis,
como as crianças.

Como mencionado anteriormente, durante a avaliação de risco tenta-se estimar a


exposição da população afetada. Por exemplo, no caso de produtos químicos cujo modo de
exposição seja principalmente através da água ingerida, as agências reguladoras, como a EPA
dos Estados Unidos, consideram uma pessoa média hipotética que beba cerca de dois litros de
água por dia, e cujo peso corporal médio ao longo de sua vida seja de cerca de 70 quilogramas
(154 Ib).

Se o IDA (ou o DDM ou o RfD) é 0,002mg/kg/dia, para a pessoa de 70kg a massa


de substância que pode ser consumida diariamente é de 0,002 x 70 = 0,14mg/dia. Assim, a
concentração máxima admissível do produto na água é 0,14mg/2L = 0,07 ppm. Naturalmente,
no caso de existirem outras fontes significativas da substância, elas devem ser levadas em
consideração na determinação de padrão da água potável. Analogamente, a exposição a vários
produtos químicos do mesmo tipo (ex., vários organoclorados), pode levar a efeitos aditivos,
de maneira que o padrão para cada um deveria presumivelmente ser reduzido, ao levar esse
tipo de fato em consideração.
53

A agência de proteção ambiental norte-americana, regulamenta a exposição a


agentes carcinógenos, considerando que a relação dose-resposta não tem nível limiar e que
pode ser extrapolada linearmente desde a dose zero até a região na qual estão disponíveis os
valores experimentais. Assim, a dose diária máxima é determinada, supondo que cada pessoa
receba diariamente uma dose ao longo de toda sua vida, e que tal exposição não aumentaria a
probabilidade de câncer para mais de uma pessoa em um milhão.

Na determinação de normas para o controle de riscos, normalmente não são


considerados os custos econômicos envolvidos. Muitos economistas acreditam que, devido ao
custo para implementar as normas, a sociedade deve decidir se está disposta a investir na
regulamentação, devendo ser feita uma análise de custo-benefício para ajudar na decisão de
quais substâncias seriam regulamentadas. Associada a essa linha de pensamento está a idéia
de que as normas deveriam mostrar uma recuperação positiva do investimento: os benefícios
da regulamentação deveriam exceder os custos. Naturalmente, em muitos casos é difícil
colocar um valor monetário específico aos benefícios ambientais. Por exemplo, pode
considerar-se um custo médio de U$ 200.000 para salvar uma vida mediante a
regulamentação do teor de clorofórmio na água, uma quantidade razoável? Sendo assim, o
que pensar se o custo for dez, cem ou mil vezes essa quantidade?
54

4 - Herbicidas Orgânicos

A indústria química que pesquisa, produz e vende defensivos agrícolas tem hoje uma
enorme preocupação com o problema do desenvolvimento de resistências. Também a FAO
(Organização para Agricultura e Alimentação, das Nações Unidas) considera o problema da
resistência de pragas, doenças e ervas daninhas uma das grandes preocupações para a defesa
sanitária vegetal.

Particularmente com herbicidas problemas agudos surgiram, a partir dos anos 80, com
o desenvolvimento de produtos altamente eficientes e seletivos, porém sensíveis ao problema
da resistência, como os inibidores da ACCase e da ALS.

A pesquisa e o desenvolvimento de um novo herbicida exige investimentos vultuosos,


algo como US$ 100 a 150 milhões. A decisão sobre um tal investimento só pode ser tomada
se existe um potencial efetivo de mercado para que, além de cobrir os gastos, possa gerar
lucros compensatórios.

Um estudo de mercado é bastante complexo. Tradicionalmente se faziam as seguintes


perguntas: Que problemas precisam ser resolvidos, em quais culturas? Qual o tamanho
teórico, a nível mundial, desse mercado? Que outras soluções, inclusive outros produtos
existem? Que outros produtos estão sendo desenvolvidos, pela empresa e por concorrentes?
Que limitações poderão ocorrer, como restrições por questões ambientais ou toxicológicas,
tanto no momento como a médio prazo? Que alternativas tecnológicas poderiam, a curto e
médio prazo, substituir o uso dos herbicidas? Qual o retorno financeiro esperado, e em quanto
tempo?

Hoje novas perguntas foram acrescentadas: Qual o potencial de desenvolvimento de


uma resistência a produtos com o mecanismo de ação do produto candidato? Qual a
perspectiva de, pela engenharia genética, serem desenvolvido plantas transgênicas resistentes
a determinados herbicidas não seletivos?
55

Há uma década uma grande empresa química testava, em média, 10.000 moléculas por
ano e entre 20.000 testadas apenas uma chegava a formar um defensivo agrícola comercial.
Enormes avanços tecnológicos aconteceram. Hoje essa mesma empresa testa cerca de 100.000
moléculas por ano, mas a proporção de êxitos ficou menor – talvez 30 ou 40 mil moléculas
testadas para um êxito. O tempo de desenvolvimento, entretanto, tem diminuído, havendo
casos de se desenvolver um produto novo em 5 anos.

É sempre mais fácil desenhar uma nova molécula dentro de um grupo químico que já
tem apresentado moléculas ativas. Essa molécula terá que apresentar vantagens significativas
sobre outras já existentes e ainda não estar coberta por patente. Uma nova molécula, dentro
de um mesmo grupo, pode ser beneficiada se já existe uma unidade de produção industrial
para o grupo químico, dispensando grandes investimentos na construção de uma nova fábrica.

Grande esforço está sendo feito para encontrar moléculas ativas com mecanismo de
ação diferente dos produtos já existentes. Atualmente os processos de análise e síntese
química estão extremamente sofisticados, assim como estudos da bioquímica, o que vem
permitindo avanços científicos fabulosos.

Estudos profundos estão sendo feitos para desvendar todo o mecanismo bioquímico
dos vegetais e encontrar sítios numa cadeia de eventos onde um bloqueio impeça uma reação
essencial, levando a planta à morte.

Alertadas sobre o problema, as empresas que vendem os produtos tendem a reagir de


formas distintas: a firma tem herbicidas alternativos próprios, nesse caso procura dirigir a
orientação técnica, que leva a vendas, para essa alternativa; a firma não tem alternativas
próprias, nesse caso é muito importante que a assistência técnica conheça e recomende as
melhores alternativas. A cooperação dos agricultores é um fator muito importante, mas nem
sempre ela acontece como desejado.

Como exemplos de situações ocorridas no Brasil, podemos citar os primeiros casos


que surgiram na região dos Campos Gerais, no Paraná. Como solução efetuou-se
recomendação de uso de herbicidas alternativos. Os agricultores não seguiram a orientação,
56

porque só havia no mercado graminicidas de pré-emergência, que eram menos práticos,


impedindo o plantio direto e eram menos eficientes. O problema foi se alastrando de ano para
ano.

Com a introdução de Nicosulfuron, passou-se a recomendar a troca da cultura de soja


pela de milho, permitindo o uso desse produto. Do ponto de vista técnico, foi uma ótima
solução. Na prática a receptividade pelos agricultores foi limitada, porque a soja dava maior
retorno financeiro que o milho. A preocupação com a rentabilidade imediata foi em muitos
casos maior que a preocupação com a resistência.

Houve tentativas de substituição de um inibidor de ACCase por outro do mesmo


grupo. Os resultados foram mistos: em alguns casos o produto funcionou bem e não houve
resistência cruzada; em outros casos o mesmo produto alternativo não funcionou. Hoje já
existe pelo menos um inibidor de ACCase que não tem mostrado ser afetado por resistência
cruzada. Isso mostra que, embora produtos com mecanismo de ação semelhante tendem a
apresentar resistência cruzada, isso nem sempre acontece.

Outro caso foi a resistência de Euphorbia heterophylla a inibidores da ALS, em soja.


Herbicidas inibidores da ALS se estabeleceram como os de maior uso, na cultura de soja,
sendo um dos motivos o excelente controle do “amendoim bravo”, especialmente por
Imidazolinonas. Esse uso, repetido por diversos anos, acabou permitindo o desenvolvimento
de biótipos resistentes. Como solução foi recomendada uma associação do inibidor da ALS
com um produto com mecanismo de ação distinto, o que geralmente funciona.

Quando houver a liberação do plantio de soja transgênica, resistente ao herbicida


Glifosato, espera-se que haja um grande uso desse produto, que controla a invasora em
questão e após algum tempo deve praticamente eliminar as infestações pela Euphorbia,
limpando as lavouras. Na soja, Glifosato deve deslocar os outros herbicidas. Se o mercado da
soja vai ser muito afetado, o fato de ser eliminada a Euphorbia abre um novo potencial para
herbicidas tradicionais, nessas áreas, para o plantio de culturas não transgênicas, como o
milho, o feijão, o algodão, etc...
57

Biótipos resistentes tem surgido em algumas regiões. A solução é fácil, pois existem
muitos produtos alternativos que dão bom controle, em diversas culturas. Após anos de
intenso uso de Quinchlorac, um produto mimetisador de auxinas, surgiram alguns casos de
resistência. Com a introdução de Clefoxydim, que é um inibidor da ACCase, encontrou-se
uma solução, pois o mecanismo de ação é distinto e não há uma resistência cruzada. No
litoral de Santa Catarina surgiu uma resistência dessa invasora aquática a herbicidas
inibidores de ALS. Como alternativa foi indicado, pela pesquisa oficial, o Bentazon, com
amplo sucesso.

Novas técnicas de cultivo podem alterar o potencial de certos produtos. Por exemplo o
plantio direto na palha restringe o mercado para produtos a serem incorporados ou usados em
pré-emergência. Essa modalidade de cultivo, de extraor-dinária importância, só se tornou
possível com a introdução de herbicidas seletivos de pós-emergência.

A tecnologia de selecionamento ou de incorporação de resistência a herbicidas, em


plantas cultivadas, tem evoluído grandemente. Exemplo de solução com plantas não
transgênicas é o sistema Clearfield, combinando sementes de milho selecionado e um
herbicida específico.

Uma nova realidade veio a ser criada com a engenharia genética que, criando plantas
transgênicas resistentes a certos herbicidas, veio restringir fortemente mercados para
herbicidas tradicionais. O exemplo mais dramático é a soja transgênica, tolerante ao herbicida
Glifosato. Muitos projetos de novos herbicidas tradicionais tiveram que ser cancelados.Por
outro lado, diversas empresas estão desenvolvendo plantas transgênicas resistentes a outros
tipos de herbicidas. Serão essas tecnologias o fim dos herbicidas tradicionais? Certamente
não, porém tais produtos precisam agora procurar nichos específicos.

Quanto à classificação de herbicidas segundo seu mecanismo de ação, diversos


critérios tem sido usados, que tem gerado tabelas classificatórias. Nenhuma dessas tabelas é
perfeita, pois analisam apenas a resistência pelos sítios bioquímicos a serem inibidos.
Nenhuma tabela foi criada ainda considerando o desenvolvimento de resistência por aumento
na capacidade de metabolização dos herbicidas, pelas plantas.
58

Em algumas regiões em que a soja e o milho têm sido cultivados extensivamente,


a atrazina tem perdido sua posição de herbicida de uso geral para algumas das
cloroacetamidas, que são derivadas do ácido cloroacético, ClCH 2COOH, no qual o grupo –
OH encontra-se substituído por um grupo amino. Nos Estados Unidos, o herbicida mais
proeminente desse tipo é o alaclor. Esse produto foi proibido no Canadá por ser considerado
de risco à saúde, sendo substituído pelo estreitamente relacionado metolaclor; os dois
compostos difereniciam-se apenas em variações menores nos grupos orgânicos complexos R 1
e R2 ligados ao nitrogênio amínico.

O alaclor é carcinógeno em animais e suspeita-se que o metolaclor também. A


EPA tem proposto que o uso de alaclor, metolaclor, atrazina e simazina seja cuidadosamente
administrado nas áreas em que se pratique seu uso extensivo, pois representam um risco
significativo para os lençóis freáticos.

Em geral, as concentrações desses herbicidas nas águas dos canais que servem
para drenar as terras utilizadas para cultivo atingem seu máximo em maio e são indetectáveis
no final do verão; contudo, podem ser detectadas nos Grandes Lagos em ambas as épocas e
são relativamente tóxicas para os peixes. O alaclor e seus produtos de degradação têm sido
detectados em lençóis freáticos situados sob campos de milho. Sabe-se que o metolaclor
degrada-se no ambiente pela ação da luz solar e da água.

O glifosato é um herbicida do grupo dos fosfonatos, os quais são compostos


estruturalmente similares aos organofosforados, exceto pelo fato de que um oxigênio dos
quatro que rodeiam o fósforo está ausente, sendo substituído por um grupo orgânico – neste
caso, o aminoácido simples chamado “glicina”. Ele é amplamente usado como herbicida e é
certamente não-tóxico, já que seus valores de LD 50 são altos, tanto para a via de exposição
oral como dérmica. Embora mate quase todas as plantas, algumas variedades comuns de soja
têm sido geneticamente alteradas por meio de biotecnologia, de maneira que tornam-se
resistentes ao glifosato, que, portanto, pode ser usado para eliminar as ervas daninhas durante
o crescimento das plantações.
59

4.1 - Herbicidas Do Tipo Fenóxi

Produtos eliminadores de ervas daninhas foram introduzidos no fim da Segunda


Guerra Mundial. Do ponto de vista ambiental, os subprodutos contidos nos herbicidas de tipo
fenóxi são freqüentemente de maior interesse que os próprios herbicidas. Por essa razão,
começamos por discutir a química do fenol, o componente fundamental desta classe de
compostos.

O clorobenzeno reage com NaOH a altas temperaturas para substituir o –Cl por
um –OH, produzindo o composto chamado fenol:

ou C6H5Cl + NaOH → C6H5OH + NaCl

Os fenóis são levemente ácidos; em presença de soluções concentradas de uma


base forte, como o NaOH, o hidrogênio do grupo OH é perdido na forma de H + (como
qualquer ácido comum) e é produzido o ânion fenóxido, C6H5O, na forma de seu sal sódico:

C6H5OH + NaOH → C6H5O-Na+ + H2O

O grupo O-Na+ é um grupo reativo, e tal propriedade pode ser explorada para
preparar moléculas que contenham a unidade C – O – C. Assim, se uma molécula R – Cl é
aquecida em presença de um sal que contém o íon fenóxido, produz-se a eliminação de NaCl,
e o oxigênio do grupo fenóxi liga-se ao anel benzênico mediante o grupo R:

C6H5O-Na+ + Cl – R → NaCl + C6H5 – O – R

Tal reação é a rota comercial mais direta para a preparação em grande escala do
herbicida, introduzido em 1944, cujo nome comercial bem-conhecido é 2,4,5-T. Nele o grupo
R é o ácido acético, CH3COOH, com exceção de um dos hidrogênios do grupo metila, de
maneira que R = – CH2COOH, e o reagente Cl – R é Cl – CH 2COOH. Assim, de acordo com
60

o esquema de reação, obtém-se C6H3 – O – CH2COOH, chamado ácido fenoxiacético, como


intermediário na produção dos verdadeiros herbicidas.

Nos herbicidas comerciais, alguns dos cinco átomos de hidrogênio remanescentes


do anel benzênico do ácido fenoxiacético estão substituídos por átomos de cloro.

O composto 2,4-D (que é produzido por uma estratégia sintética que não envolve
a formação em primeiro lugar do correspondente fenol ploclorado) é usado para eliminar
ervas daninhas de folhas largas em gramados, campos de golfe e campos de cultura. Já o
2,4,5-T é efetivo para eliminar mato, por exemplo, nas margens das estradas e nos caminhos
de passagem de fios de alta tensão.

O herbicida conhecido como MCPA é como o 2,4-D, mas com o cloro da posição
2 substituído por um grupo metila, CH3. Os herbicidas chamados diclorprop, silvex e
mecoprop são similares ao 2,4-D, 2,4,5-t e MCPA respectivamente, mas suas moléculas têm
um grupo metila substituindo um hidrogênio do grupo – CH 2 – da cadeia ácida; desse modo
são herbicidas fenóxi baseados no ácido propiônico, CH3CH2COOH, e não no ácido acético.

Enormes quantidades de 2,4-D são usadas nos países desenvolvidos para o


controle de ervas daninhas em aplicações domésticas e agrícolas. Em algumas comunidades,
seu uso continuado nos gramados tem se tornado uma prática controvertida devido a seus
efeitos suspeitos sobre a saúde humana. Em particular, entre os agricultores do meio-oeste dos
Estados Unidos, que misturam e aplicam grandes quantidades de 2,4-D em suas plantações,
tem se encontrado uma maior incidência de um tipo de câncer conhecido como “linfoma não-
de-Hodgkin”.
61

4.2 - Contaminação por Dioxinas Derivadas de Herbicidas e Preservantes de


Madeira

Tradicionalmente, a síntese industrial de 2,4,5-T começa com o triclorofenol, que


era produzido pela reação do NaOH com o tetraclorobenzeno apropriado. Infelizmente,
durante a reação na qual é produzido o composto fenólico a partir de tetraclorobenzeno,
ocorre uma reação secundária mediante a qual se converte uma porção muito pequena do
composto triclorofenol em dioxina. Nesta reação secundária, dois ânions triclorofenóxi
reagem entre si, o que resulta na eliminação de dois íons cloro.

Nesse processo, forma-se um novo anel de seis membros, que conecta os dois
anéis benzênicos clorados. Esse anel central tem dois átomos de oxigênio localizados em
posição para com respeito um ao outro, como encontrado na molécula simples 1,4-dioxina ou
para-dioxina (p-dioxina).

Embora a molécula nomeada acima como dioxina seja corretamente conhecida


como tetraclorodibenzo-p-dioxina, ela tem se tornado popularmente conhecida simplesmente
como “dioxina”, e é reconhecida como a mais tóxica desta classe de compostos análogos.

A reação lateral que produz dioxina é de “segunda ordem em relação ao


clorofenóxido”, isto é, a velocidade da reação depende do quadrado (ou segunda potência) da
concentração dos íons. Em virtude disso, a taxa da produção de dioxina cresce
significativamente à medida que aumenta a concentração inicial do íon clorofenóxido. Além
disso, a velocidade dessa reação paralela aumenta rapidamente com a elevação da temperatura
de reação.

Assim, a extensão na qual o triclorofenol e, conseqüentemente, o herbicida


tornam-se contaminados com o subproduto dioxina pode ser minimizada controlando-se a
concentração e a temperatura na preparação do triclorofenol utilizado como insumo original.
Atualmente, a contaminação de 2,4,5-T por dioxina pode ser mantida em cerca de 0,1 ppm,
conservando-se baixas tanto a concentração de fenóxido quanto a temperatura. Não obstante,
62

sua fabricação e seu uso na América do Norte foram gradualmente proibidos em meados dos
anos 80 devido ao seu teor de dioxina. O uso de pesticidas baseados em clorofenol foi
responsável pela metade das emissões ambientais de dioxinas no início dos anos 70.

Durante a Guerra do Vietnã, foi extensivamente usada como desfolhante uma


mistura 1:1 de 2,4-D e 2,4,5-T, chamada Agente Laranja. Dado que a mistura continha níveis
de dioxina de cerca de 10 ppm, é evidente que a reação usada para produzir o 2,4,5-T não foi
cuidadosamente controlada para minimizar a contaminação (as conseqüências para a saúde
humana da exposição a dioxinas serão discutidas posteriormente).

Também ocorreu contaminação ambiental por dioxina devido à explosão em uma


planta química em Séveso, Itália, em 1976. A fábrica produzia 2,4,5-triclorofenol a partir de
tetraclorobenzeno por reação com base, como descrito anteriormente. Em uma ocasião, a
reação não foi detida antes do descanso do fim de semana dos trabalhadores. A reação
continuou sem qualquer monitoramento, e o calor subseqüentemente liberado resultou em
uma explosão.

Visto que o fenol havia sido aquecido a uma temperatura elevada, foi produzida
uma quantidade considerável de dioxina – provavelmente alguns quilogramas; a explosão
distribuiu a toxina de maneira efetiva no ambiente. Muitos animais morreram devido à
contaminação. Embora um grande número de pessoas, tanto adultos quanto crianças, também
tenham sido expostas ao produto químico devido à explosão, não foram detectados, durante
muitos anos, efeitos graves para a saúde dos seres humanos.

Um estudo recente, porém, estabeleceu que os índices de certos tipos de câncer


haviam sofrido incremento na população que habitava as zonas mais expostas à dioxina no
momento da explosão, ainda que a incidência de câncer de mama nesta população tenha sido
menor que a dos residentes não-expostos.

O sistema de nomenclatura e numeração usado para sistemas heterocíclicos como


os das dioxinas é pouco usual. Como o anel da dioxina está ligado por ambos os lados com
anéis benzênicos, a unidade dos três anéis é propriamente conhecida como dibenzo-p-dioxina.
63

Os substituintes cloro dos anéis externos devem ser considerados, de maneira que a dioxina
mostrada abaixo é uma tetraclorodibenzo-p-dioxina, ou TCDD, para abreviar.

Os sistemas de numeração para os carbonos dos anéis leva em consideração o fato


de os carbonos comuns aos dois anéis não estarem ligados aos átomos de hidrogênio, não
necessitando por isso numeração; assim, o C-1 é o carbono seguinte a um dos carbonos
comuns aos dois anéis, seguindo a numeração um caminho direto a partir do mesmo. Os
átomos de oxigênio também fazem parte da seqüência de numeração desse sistema, embora
suas posições não necessitem ser explicitadas em nenhum dos nomes desta família de
compostos. A posição inicial para numerar o sistema é escolhida de maneira a atribuir o valor
mais baixo possível ao primeiro substituinte; se ainda há uma escolha após a aplicação desse
critério, é escolhido o caminho que resulte no número mais baixo para o segundo substituinte,
e assim por diante.

Dessa maneira, a dioxina mostrada é a 2,3,7,8-TCDD, ou, dando o seu nome


completo, 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina. Não é surpreendente que seja chamada
simplesmente de dioxina pela imprensa. Contudo, há de fato 75 compostos clorados diferentes
análogos à dibenzo-p-dioxina, nos quais estão incluídas todas as possibilidades entre um e
oito cloros, e existe um certo número de isômeros para a maioria desses oito tipos. Os
membros diferentes de uma família química que variam apenas no número e na posição do
mesmo substituinte são chamados “congêneres”. Todos os congêneres de dioxina são
planares: todos os átomos de carbono, oxigênio, hidrogênio e cloro encontram-se no mesmo
plano.

Além de seu uso como produtos de partilha na produção de herbicidas, os


diclorofenóis são também empregados como preservantes de madeira e como fungicida para
solos. Em particular, alguns isômeros do triclorofenol e do tetraclorofenol são vendidos como
preservantes de madeira. O defensivo mais comum, em uso desde 1936, é o pentaclorofenol
(PCP, não é o composto chamado “pó de anjo” conhecido pelas mesmas iniciais); nesse
composto, todos os hidrogênios do benzeno foram substituídos.
64

O PCP comercial não é pentaclorofenol puro, já que está significativamente


contaminado (cerca de 20%) com 2,3,4,6-tetraclorofenol. A mistura tem muitos usos como
pesticida: é usada como herbicida (p. ex., como desfolhante pré-colheita), como inseticida
(controle de cupins); como fungicida (preservativo de madeira e tratamento de sementes) e
como exterminador de moluscos (controle de lesmas).

Infelizmente, se a madeira tratada com tais preservativos for queimada, uma


fração dos clorofenóis pode reagir, eliminando HCl e produzindo, em conseqüência, membros
das famílias das dioxinas cloradas. Desse modo, é produzido octaclorodibenzo-p-dioxina,
OCDD, como um subproduto não-desejado da combustão incompleta do pentaclorofenol. O
OCDD é o congênere mais predominante da dioxina encontrado na gordura humana e em
muitas amostras ambientais.

Sabe-se que mesmo os estoques comerciais de fenóis clorados estão contaminados


com várias dioxinas. De fato, os pentaclorofenóis são uma das maiores fontes químicas de
dioxinas para o ambiente; contudo, a dioxina principal aqui envolvida, a octaclorodibenzo-p-
dioxina, não é considerada particularmente tóxica, como será discutido em seção posterior.

Em geral, duas moléculas quaisquer de fenol, possuindo cada uma um substituinte


cloro em orto com respeito ao grupo OH, podem se combinar para produzir uma molécula de
dibenzo-p-dioxina; não é necessário que os dois fenóis sejam idênticos, requerendo-se
simplesmente que os dois fenóis entrem em contato quando tenham sido suficientemente
aquecidos para facilitar a eliminação de HCl e a formação de dioxina. De maneira similar, o
acoplamento de íons fenóxido pode ocorrer com eliminação de Cl -, como já discutido no caso
da síntese do 2,4,5-T; a eliminação de cloreto ou de HCl depende provavelmente do pH do
meio. A sistemática de resolução de problemas que pode ser usada para deduzir a origem dos
clorofenóis presentes nas dioxinas ambientais discutida anteriormente.

Como conseqüência de sua ocorrência generalizada no ambiente e sua


lipofilicidade (tendência a se dissolver em gorduras), as dioxinas bioacumulam-se na cadeia
alimentar. Mais de 90% dos casos de pessoas expostas às dioxinas são atribuídas à ingestão
através dos alimentos, principalmente carne, peixe e lacticínios. Normalmente, dioxinas e
65

furanos (um grupo de compostos parecidos com as dioxinas em sua estrutura) estão presentes
em peixes e carnes em níveis de dezenas ou centenas de picogramas (pg, ou 10 -12g) por grama
de alimento; em outras palavras, ocorrem em níveis de algumas partes por quatrilhão (a
grosso modo, uma pessoa deveria consumir um milhão de toneladas de alimentos para ingerir
um grama de dioxina nesse nível de contaminação). Contudo, deve-se observar que o volume
maior de dioxinas e furanos presentes na natureza não se encontra nos sistemas biológicos:
seu sítio de deposição mais comum são os solos e os sedimentos.

4.3 – Herbicidas mais usados no Brasil

De acordo com VITÓRIA FILHO (1986), RODRIGUES (1998), ANDREI (1999) e


SVICERO & LADEIRA NETO (2000), os herbicidas mais utilizados em pastagens cultivadas
no Brasil são os seguintes:

a) 2,4-D

Grupo químico: fenoxiacéticos.

Nome químico: éster ou sal amina do ácido 2,4-diclorofenoxiacético.

Absorção: é absorvido pelas folhas, raiz e caule.

Translocação: apossimplástica – neste caso, as moléculas difundem-se na cutícula,


movimentam-se pelos espaços intercelulares e penetram no floema, seguindo o curso dos
nutrientes.
66

Marcas comerciais, formulações e fabricantes do produto

Formulação
Marca Fabricante
(expressa em equivalente ácido)

DMA* 806 BR (dimetilamina) solução aquosa concentrada, 670 g/l Dow Agrosciences

Esteron* 400 BR (éster butílico) concentrado emulsionável, 400 g/l Dow Agrosciences

Herbi D 480 (dimetilamina) solução aquosa concentrada, 400 g/l Herbitécnica

U-46 D-Fluid 2,4-D solução aquosa concentrada, 720 g/l BASF


(dimetilamina)

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.

De misturas com Picloram

Marca Composição Formulação Fabricante

2,4-D amina, 120 g/l solução aquosa


Manejo* Dow Agrosciences
Picloram, 40 g/l concentrada

Tordon* 2,4-D 2,4-D amina, 240 g/l solução aquosa


Dow Agrosciences
64/240 BR Picloram, 64 g/l concentrada

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.


.

b) Dicamba

Grupo químico: diclorobenzóicos.

Nome químico: sal de dimetilamina do ácido 3,6-dicloro-O-anísico.

Absorção: folhas, raiz e caule.

Translocação: apossimplástica.
67

Marcas comerciais, formulações e fabricantes

Marca Formulação Fabricante

Banvel 480 concentrado solúvel, 480 g/l Novartis

c) Fluroxipir – MHE

Grupo químico: piridinas.


Nome químico: [(4-amino-3,5-dicloro-6-fluoro-2-piridinil)oxi] ácido acético, 1- metilheptil
éster.
Absorção: folhas, raiz e caule.
Translocação: por toda a planta, acumulando-se nos tecidos meristemáticos.

Marcas comerciais, formulações e fabricantes do produto

Marca Formulação Fabricante

Starane* 200 concentrado emulsionável, 200 g/l Dow Agrosciences

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.

De mistura com Picloram

Marca Composição Formulação Fabricante

Fluroxipir MHE, 80 g/l


Plenum* Microemulsão Dow Agrosciences
Picloram, 80 g/l

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.


68

d) Glyphosate

Grupo químico: derivados da glicina.


Nome químico: N-(fosfonometil) glicina.
Absorção: foliar; penetra na cutícula por difusão.
Translocação: sistêmica.

Marcas comerciais, formulações e fabricantes

Marca Formulação Fabricante

Agrisato 480 CS concentrado solúvel, 360 g/l Agritec

Glifosato 480 Agripec concentrado solúvel, 360 g/l Agripec

Glifosato Nortox NA concentrado solúvel, 360 g/l Nortox

Gliz 480 CS solução aquosa concentrada, 360 g/l Sanachem

Round up concentrado solúvel, 360 g/l Monsanto

Round up WG grânulos autodispersíveis em água, 720 g/kg Monsanto

e) Paraquat

Grupo químico: bipiridilios. Nome químico: 1,1’ -dimetil-4,4 bipiridilio íon (dicloreto).
Absorção: foliar e por outros tecidos verdes da planta, sendo a absorção quase instantânea.
Translocação: muito reduzida, por matar os órgãos de translocação.

Marcas comerciais, formulações e fabricantes

Marca Formulação Fabricante

Gramoxone 200 concentrado solúvel, 200 g/l Zeneca Brasil


69

f) Picloram

Grupo químico: derivado do ácido picolínico.


Nome químico: sal trietanolamina do ácido 4 – Amino 3,5,6 tricloropicolínico.
Absorção: foliar e radicular. Nas aplicações via toco, busca-se aplicar o produto diretamente
na região do câmbio (floema).
Translocação: picloram é translocado através do plasmalena; se aplicado no toco, é
transportado até às raízes. Por isso é fundamental que a aplicação seja feita imediatamente
após o corte, antes que se inicie o processo de cicatrização.

Marcas comerciais, formulações e fabricantes do produto

Marca Formulação Fabricante

Padron* solução aquosa concentrada, 240 g/l Dow Agrosciences

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.

De misturas com 2,4-D

Marca Composição Formulação Fabricante

2,4-D amina, 120 g/l solução aquosa


Manejo* Dow Agrosciences
Picloram, 40 g/l concentrada

Tordon* 2,4-D 2,4-D amina, 240 g/l solução aquosa


Dow Agrosciences
64/240 amina BR Picloram, 64 g/l concentrada

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.


70

g) Tebuthiuron

Grupo químico: derivados da uréia.


Nome químico: N-(5-(1,1-dimetiletil)-1,3,4-tiadiasol-2-il)-N,N’ – dimetiluréia.
Absorção: radicular.
Translocação: pelo xilema.

Marcas comerciais, formulações e fabricantes

Marca Formulação Fabricante

Graslan* 100 peletizado granulado, 100 g/kg Dow Agrosciences

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.

h) Triclopyr

Grupo químico: piridinas.


Nome químico: éster butoxietílico do ácido 3,5,6-tricloro-2-piridiloxiacético.
Absorção: sistêmico seletivo, absorvido por via foliar e pelas raízes. Necessita 4 horas para
ser absorvido pelas folhas.
Translocação: por toda a planta, acumulando-se nos tecidos meristemáticos.

Marcas comerciais, formulações e fabricantes

Marca Formulação Fabricante

Garlon* 480 BR concentrado emulsionável, 480 g/l Dow Agrosciences

* Marca registrada de Dow Agrosciences Ind. Ltda.


71

4.4 – Manejo e Toxicidade

As particularidades são tantas que, em muitos casos, os agrônomos orientam os


agricultores a realizar um manejo planejado de acordo com as necessidades específicas da sua
propriedade. Segundo os agrônomos e estudiosos nessa área, cada vez mais tem ficado
evidente a interferência do ambiente na persistência de herbicidas no solo.

O fato de haver uma crescente abertura de novas áreas se incorporando ao processo


produtivo, regiões que até pouco tempo, eram consideradas marginais por apresentarem
baixos teores de argila, chegando, em alguns casos, a valores abaixo de 15%, hoje, são
exemplos claros de áreas agricultáveis. O estado da Bahia, a região norte de Goiás, o Mato
Grosso do Sul e, mais recentemente, o Pará, vem apresentando melhoras crescentes em níveis
de produtividade. Estes solos requerem grandes cuidados no seu manejo, para que não
coloquem em risco as culturas ali instaladas.

Outro efeito provocado pelo ambiente que favorece os sintomas de fitotoxicidade na


planta é a falta de chuvas que pode ocorrer nas lavouras de verão. A água é um dos principais
responsáveis pela degradação dos herbicidas, sendo este um dos principais fatores de
problemas ocorridos em milho de safrinha. Além desse, outros fatores que também interferem
na pré-disposição do milho ao residual de herbicida. A atividade do solo, a sua textura,
quantidade de precipitação ou irrigação, teor de matéria orgânica do solo, pH do solo,
temperatura após aplicação do produto, o tempo de espera (da aplicação até a instalação da
cultura), entre outros.

Muitas vezes por não respeitar muitos desses aspectos, o produtor pode colocar a sua
cultura em risco, podendo ainda, e isso é muito comum, ficar confuso com relação aos
sintomas apresentados pela planta, que passam desapercebidos. Esses por sua vez sendo
descobertos somente no momento da colheita, afetam bastante a produtividade por área e
conseqüentemente da produção.
72

Quanto aos herbicidas utilizados em culturas antecessoras, verificam-se que algumas


características são mais marcantes no favorecimento de problemas de fitotoxicidade na
lavoura. Entre elas se destacam: a degradação do herbicida, dosagem utilizada do produto e o
princípio ativo. Os híbridos da cultura apresentam diferentes comportamentos perante a
presença de residual de herbicidas não seletivos.

Os sintomas são bem variados, mas podem ser divididos em dois grupos principais:
aqueles que ocorrem na fase inicial e são percebidos ou visíveis e aqueles sintomas que
ocorrem nas fases finais da cultura e que não foram percebidos, chamados de fitotoxicidade
oculta. A fitotoxicidade oculta ainda divide as opiniões entre os pesquisadores, mas hoje já é
bem mais aceita do que no passado, principalmente em decorrência dos novos produtos que
foram sendo introduzidos no mercado.

Os sintomas mais comuns da fitotoxicidade visível são: A redução de população de


plantas por área; A desuniformidade da planta na fase inicial de crescimento; o aparecimento
de tombamentos e quebramentos e facilidade para a entrada de doenças. Sem dúvida
nenhuma, dissecações feitas com produtos à base de 2,4D sem respeitar adequadamente as
indicações de uso para esse fim, têm sido uma das principais causas de fitotoxicidade,
principalmente nas fases iniciais da cultura, apresentando desuniformidade na formação das
plantas.

As principais características de herbicida à base de 2,4D são: é absorvido por argila,


matéria orgânica, mas é lixiviado em solos arenosos; é degradado por bactérias e
actinomicetos; volatilização baixa quando na forma de Sais de Amida e alta na forma de éster;
baixa perda por foto decomposição. Na dosagem recomendada, em solos argilosos e clima
quente, o produto é degradado em quatro semanas. Em solos arenosos e frios, gasta-se mais
tempo para decomposição.

Um outro aspecto que deve ser observado é que na ocorrência de grandes


precipitações, logo após o plantio, principalmente em solos com pouca cobertura, a chuva
provoca uma erosão laminar do solo, mesmo em plantio direto, fazendo com que haja uma
maior concentração do produto na linha de plantio, aumentando demasiadamente a
73

concentração do herbicida em contato com a lavoura na sua fase inicial. O técnico explica que
algumas medidas podem ser tomadas para se evitar essas situações. Entre elas, esperar um
prazo em torno de 5 dias, sendo necessário que ocorra alguma precipitação neste intervalo. O
ideal seria uma precipitação de 60 mm; evitar usar doses cheias do 2,4D; evitar o uso deste
produto em solos arenosos; e procurar estudar junto ao agrônomo ou consultor o pós-manejo
de herbicidas. Todas essas medidas devem ser tomadas com suporte técnico de um agrônomo,
consultor ou orientação da empresa fornecedora do herbicida.

Vários produtores optam em não fazer safrinha ou, até mesmo, optam por não fazer
cultivos como cultura sucessora. Porém, no desenrolar do mercado, o preço torna-se atrativo,
o produtor torna-se propenso a plantar e aí começam os problemas. Estes, normalmente, são
decorrentes da falta de planejamento. Para que isso não ocorra, deve-se sempre utilizar
produtos de baixo residual, independente da cultura sucessora. Já quando se trata de áreas
irrigadas ou mesmo regiões de safrinha, este cuidado deve ser constante.

Ao planejar uma lavoura e o seu sistema de plantio, deve-se consultar um agrônomo e


expor o que se pretende fazer. Com base nisso, com certeza uma das orientações que serão
dadas será a de optar por produtos de menor persistência no solo. Outro procedimento
obrigatório é seguir, corretamente, o que está escrito no manual do produto, levando sempre
em consideração os aspectos ambientais. Apesar de estar escrito no seu registro junto ao
ministério da agricultura, as observações dos produtos, às vezes, passam despercebidas,
ocasionando grandes transtornos aos produtores e conseqüentes prejuízos à lavoura.

Hoje, no Brasil, existem alguns laboratórios que podem realizar análises de solo para
fins de detecção de resíduos. Para isso, basta se informar junto a uma cooperativa local ou
junto ao agrônomo sobre como proceder. Na prática é simples, basta encaminhar uma amostra
de solo para esse laboratório com a finalidade de identificar níveis existentes de herbicidas
que possam ser tóxicos para a cultura a ser implantada. No caso de dúvida sobre a existência
ou não de residual, pode se optar pela utilização de um teste biológico, que nada mais é do
que simular no campo uma possível situação que a lavoura sucessora irá passar.

Detectar resíduos de herbicidas da cultura anterior no milho, usando diferentes


híbridos ou culturas indicadoras, consiste em um teste bastante eficiente de controle. O
produtor precisa semear uma quantidade conhecida de sementes do híbrido que se pretende
74

plantar, juntamente com uma cultura indicadora o mais rápido possível na área suspeita,
chegando mesmo a se cultivar ainda quando a cultura anterior não foi retirada da área
(colhida). Irrigar, se estiver seco e também plantar num solo vizinho, que não recebeu a
aplicação do herbicida na cultura antecessora, para que sirva como testemunha. É importante
que esse solo tenha características físicas e químicas semelhantes e que a cultura indicadora
seja aquela que tenha uma maior sensibilidade ao herbicida residual, na grande maioria dos
casos o sorgo se apresenta com esta característica, porém existem outras culturas indicadoras
mais sensíveis de acordo com o herbicida estudado.

A cultura indicadora deve ser semeada também para que se possa identificar uma
possível fito oculta no milho (mais tolerante) já nas fases iniciais da lavoura. Após isso, deve
ser feita uma avaliação logo após a emergência e uma semana após, avaliando a lavoura, tanto
na área onde recebeu a aplicação do herbicida suspeito e na área testemunha. Na avaliação
deve-se comparar o número de plantas, plantas normais e a aparência delas (desenvolvimento
das plantas, aspecto das folhas e raízes, etc). Caso nada de anormal tenha sido detectado, ou
não detectando nenhuma diferença entre as plantas nas diferentes áreas, isso significa que a
área terá grandes chances de não apresentar fito imediata e oculta na cultura.

4.5 - Biodegradação de Herbicidas e Biorremediação

Os sistemas biológicos têm a habilidade de crescer e multiplicar com maior ou menor


intensidade dependendo das suas características inerentes e das condições impostas pelo
ambiente. A produção de alimentos se dá por meio da prática da agricultura e da pecuária e o
rendimento desta produção enfrenta a concorrência de outros sistemas biológicos vegetais,
animais, microbianos ou parasitários.

Desta forma, o processo de modernizacão da agricultura, nos anos 60, introduziu o


emprego de novas variedades mais produtivas e dependentes de adubos químicos, uso
intensivo de herbicidas, bactericidas, fungicidas, acaricidas, parasiticidas, inseticidas, enfim
pesticidas e máquinas agrícolas a fim de se aumentar os índices de produtividade. O emprego
75

destes agentes químicos resultou em aumento da produtividade, mas por outro lado trouxe
conseqüências adversas ao homem, visto serem estes agentes nocivos ao homem e ao
ambiente.

O mercado mundial de agroquímicos movimenta atualmente US$ 30 bilhões e de


fertilizantes US$ 50 bilhões. O Brasil é o 5º maior consumidor de pesticidas e movimenta
US$ 2,5 bilhões. Os herbicidas representam a maior parcela tanto em âmbito mundial como
no Brasil. Calcula-se que somente cerca de 0.1% atinge o alvo específico enquanto os
restantes 99.9% da aplicação tem potencial para se mover em diferentes compartimentos
ambientais tais como o solo e águas residuais e subterrâneas.

A prática mundial do uso de agroquímicos por longos períodos, muitas vezes


indiscriminada e abusiva, vem trazendo preocupações à autoridades públicas e aos envolvidos
com saúde pública e sustentabilidade dos recursos naturais, em conseqüência da
contaminação ambiental. O Brasil tem uma diversidade imensa de sistemas ecológicos únicos
e sensíveis, alguns dos quais submetidos à agricultura intensiva.

Os resultados de inúmeros trabalhos têm revelado a presença de níveis alarmantes de


agroquímicos e seus produtos de degradação em solos e águas superficiais e subterrâneas. Os
relatos iniciaram-se nos anos 70 e desde então, com o aprimoramento das técnicas analíticas
com maior acuidade e sensibilidade, mostraram por exemplo que em 1988, mais da metade
dos estados americanos possuiam águas subterrâneas contaminadas (PARSONS & WITT,
1989).

O uso indiscriminado de agroquímicos levou a contaminação dos solos onde índices


acima de 5000 ppm de atrazina, 3000 ppm de clorpirifos, 3900 ppm de diuron, 1900ppm de
parathion foram descritos na literatura (WINTERLIN et al, 1989.).
A detecção de contaminação ambiental por agroquímicos exige o estabelecimento de políticas
ambientais severas que controlem o uso indiscriminado e abusivo destes agentes, o
desenvolvimento de técnicas de descontaminação dos sítios contaminados e o emprego de
técnicas alternativas de plantio.
76

4.5.1 - O Herbicida Atrazina

Os herbicidas triazínicos vem sendo empregados na agricultura para o controle de


ervas daninhas, devido a capacidade destes compostos orgânicos em inibir a fotossíntese.
Dentre eles destacam-se a atrazina, simazina, propazina e ametrina. A atrazina em uso há mais
de 30 anos, representa 12% (mais de 40 000 toneladas/ano) de todos os pesticidas empregados
nos Estados Unidos em culturas de milho, sorgo, cana e abacaxi como também é largamente
empregada nos Estados centrais e moderadamente em Estados do leste.

O Brasil com as culturas da cana e milho na liderança,emprega também elevadas


quantidades de herbicidas triazínicos. Das 150 000 toneladas/ano dos pesticidas consumidos,
cerca de 33%, são herbicidas; somente a cultura de cana de açúcar, vem consumindo acima de
20 000 toneladas, que representa em torno de 13% do total de pesticidas.

A atrazina é um contaminante potencial da água em virtude de suas características:


alto potencial de escoamento, elevada persistência em solos, hidrólise lenta, baixa pressão de
vapor, solubilidade baixa para moderada em água, absorção moderada à matéria orgânica e
argila. De fato, a presença de atrazina em águas subterrâneas americanas é cerca de 10 a 20
vezes mais frequente do que o contaminante segundo na lista (HALLBERG, G.R. - 1989). No
Canadá, os estudos constataram a presença de atrazina em poços, sendo que alguns
apresentam índices da ordem de 10 ug/L de atrazina e um produto de degradação, também
fitotóxico ( BELLUCK et al,1991).

Estudos geológicos coordenados pela EMBRAPA/CNPMA revelaram uma área na


região de Ribeirão Preto, SP, com cerca de 4000 hectares, definida como microbacia do
Espraiado, com alto risco de contaminação por agroquímicos (figura 1). Esta região está
localizada em uma área de recarga do aquífero Botucatu ou Guarani. Este aquífero está
abrigado na bacia sedimentar do Paraná, ocupando uma extensão de 1 150 000 km2 (figura
2). A maior parte encontra-se em território brasileiro (840 000 km2), no entanto uma
considerável porção localiza-se na Argentina, Paraguai e Uruguai.
77

O aquífero que possui água de excelente qualidade e extraída de poços semi-artesianos


abastece centenas de cidades de pequeno e médio porte, atingindo 60% das cidades urbanas
do Estado de São Paulo. Na região de Ribeirão Preto, com mais de 2 milhões de habitantes
praticamente 100% das cidades são abastecidas exclusivamente com água subterrânea.
As áreas de recarga (150 000 km2) se localizam nas bordas leste e oeste do aquífero em faixas
alongadas do pacote sedimentar que afloram à superfície. Nestas áreas as águas de chuva
alimentam o aquífero, confluindo para a calha da bacia.

As áreas de recarga se constituem nas regiões onde o aquífero é mais vulnerável. O


mau uso destas terras pode, em longo prazo, comprometer a qualidade do recurso natural mais
precioso para a humanidade, a água.

4.5.2 - A Biodegradação da Atrazina

A maioria dos compostos orgânicos, xenobióticos, tais como agroquímicos em geral,


não se perpetuam no ambiente pois podem ser biodegradados pela ação de organismos vivos
presentes na natureza, que atacam a estrutura molecular destes compostos orgânicos. Os
microrganismos pela sua capacidade degradadora, participam de forma significativa na
eliminação ou redução acentuada dos níveis de pesticidas empregados na agropecuária.

No entanto, dependendo da natureza quali e quantitativa do composto empregado e


das características gerais do solo, ocorre o acúmulo a índices considerados tóxicos.A
molécula de atrazina formada por um anel aromático heterocíclico clorado e N-alquilado não
é facilmente biodegradada. Alguns microrganismos tem demonstrado habilidade de
biodegradar parcial ou totalmente a molécula levando a formação de NH3 e CO2.

A degradação parcial da molécula de atrazina por fungos tais como Aspergillus


fumigatus e Rhizopus stolonifer foram relatados, embora a maioria das ações microbianas
78

relatadas, recaem sobre bactérias do gênero Rhodococcus, Nocardia, Bacillus e


principalmente Pseudomonas, um gênero bastante versátil também com habilidade para
degradar 2,4-D (BEHKI & KHAN, 1986; BEHKI et al, 1993; LEVANON, 1993).

A mineralização completa da atrazina por um único microrganismo não é comum, mas


consórcios empregando 2 ou mais espécies diferentes são capazes de mineralizar atrazina
(RASODEVICH et al, 1995). Os achados de KORPRADITSKUL et al, 1993, mostraram que
amostras de solos do Japão e da Tailândia contém uma população elevada de degradadores de
atrazina. Esta população não foi capaz de, no solo, degradar com eficiência a atrazina
presente.

Pode-se concluir que espécies do mesmo gênero e mesmo subspécies podem


apresentar capacidades metabólicas distintas que traduzem em habilidade de degradar
compostos orgânicos os mais diversos. Os isolamentos a partir de amostras de solo de locais
diferentes tem conduzido a diversidade de isolados, resultados as vezes concordantes outras
discordantes, embora sempre resultados que acrescentam aos achados anteriores.

4.5.3 - Biorremediação

A descontaminação de sítios já sujeitos à contaminação podem ser obtidos por técnicas


de remediação e restauração. Usualmente estas técnicas consomem montantes astronômicos,
como os 7 bilhões gastos devido à contaminação por metais pesados. Tecnologias avançadas
tais como o uso de sistemas biológicos de tratamento para reduzir ou destruir resíduos
perigosos são vistas como uma opção para a tecnologia de descontaminação. Um dos campos
mais promissores da biotecnologia que visa o emprego dos microrganismos direciona-se para
a remediação de locais contaminados devido ao uso de agroquímicos.

Uma vez que microrganismos presentes em solos são capazes de degradar e


mineralizar pesticidas pode-se desenvolver remediação biológica ou biorremediação de sítios
79

contaminados empregando-se microrganismos selecionados. A biorremediação tem por


objetivo inocular o solo com microrganismos com capacidade de metabolizar os resíduos
tóxicos presentes no ambiente.

A biorremediação vem sendo desenvolvida com o objetivo de explorar a diversidade


genética e a versatilidade metabólica microbiana para a transformação de contaminantes em
produtos menos tóxicos que podem ser integrados nos ciclos biogeoquímicos naturais.
Estudos baseados no uso de microrganismos para degradar compostos químicos são descritos
freqüentemente na literatura, bem como a degradação total ou parcial de pesticidas por
populações microbianas naturais presentes em solos.

Isolamento, caracterização e identificação dos microrganismos com habilidade ou


atividade enzimática metabolizadora dos materiais químicos potencialmente tóxicos é
essencial para utilizá-los em biorremediação como medida mitigadora nos problemas
decorrentes do uso irracional de agroquímicos.

Tentativas para se aplicar processos de biorremediação em solos contaminados, por


simples adição destes ao solo, por meio de um processo conhecido como bioaumento ou
bioampliação não vem alcançando o sucesso esperado. A incorporação de nutrientes ao solo
ou outra manipulação da área denominado de bioestimulação, para promover o crescimento
microbiano tem resultado em sucesso limitado (US Geological Survey).

O enfoque que se utiliza hoje é desenvolver um sistema de liberação de microrganismos como


os empregados para a liberação de fármacos em medicamentos, como um modelo para ser
aplicado em processos de biorremediação. Por meio do emprego de conhecimentos de
tecnologia farmacêutica, incorpora-se os microrganismos de interesse aos sistemas de
liberação, que podem liberar microrganismos para biorremediar solos. Sistemas de liberação
controlada ou sustentada podem ser desenhados para uso no solo. Neste sentido,
microcápsulas, uso de matrizes poliméricas como derivados de alginato, amido ou celulose
estão sendo adaptados.
80

5 - Considerações Finais

A produção de alimentos necessita cada vez mais do uso de defensivos


agrícolas, também chamados de Agrotóxicos ou Pesticidas, o que constitui motivo de
grande preocupação, principalmente pelo uso indiscriminado dessas substâncias. Apesar da
utilização dos defensivos agrícolas ocorrer apenas em 5% de toda a área agriculturável da
terra não se pode conceber a agricultura moderna extensiva sem eles. Os defensivos são
utilizados, também, no controle de pragas de insetos, de vetores de doenças, pragas de
florestas etc. Esta aplicação, nos Estados Unidos, corresponde a 5% da aplicação de todos
os defensivos (1).

Por outro lado, a carência de laboratórios capacitados em análises nesta área


contribui para aumentar a desinformação quanto ao uso adequado destes defensivos. É de
vital importância para a avaliação ecotoxicológica que as características físico-químicas e o
monitoramento de teores de defensivos agrícolas em solos, alimentos e em pessoas sejam
rotineiramente executadas. É urgente a consolidação de laboratórios que estudem e avaliem
os danos causados pelo uso de defensivos, no Brasil, já que as informações disponíveis na
bibliografia utilizam dados de outros países.

Esta programação de análises sistemáticas de resíduos de pesticidas certamente


irá contribuir para a formação de técnicos especializados, bem como assessorar órgãos
governamentais responsáveis pelo meio ambiente e saúde, além de viabilizar um constante
e necessário monitoramento desses resíduos.

Os defensivos organoclorados, organofosforados, carbamatos e de muitos


outros grupos químicos, abrangendo os herbicidas, inseticidas e fungicidas, estão
associados a muitos episódios de contaminação ambiental, com destruição da fauna e flora
terrestres e aquáticas. Além disso, são centenas de casos de intoxicação humana aguda e
crônica relatados anualmente (1).
81

É importante que se considere o destino dos defensivos agrícolas depois de


aplicados aos solos, seja por processos físicos ou reações químicas. No caso, por exemplo,
dos herbicidas, podem ser citados alguns processos de natureza química em que se verifica
modificação dos produtos, tais como adsorção, decomposição microbiana,
fotodecomposição, reações com os constituintes do solo, das plantas e microrganismos.

Processos de natureza física em que os produtos permanecem inalterados e são


disseminados no ecossistema, são, por exemplo: lixiviação, ação do vento, volatilização.

A contaminação das águas deve ser a principal preocupação dos órgãos


responsáveis pela preservação do meio ambiente, pois constitui o destino mais direto dos
resíduos de defensivos agrícolas, através de rios, drenagens, canais de irrigação, lagos e
outros cursos de água e é o elemento fundamental para a preservação dos elementos
bióticos e abióticos(2).

Nas duas últimas décadas, a comunidade científica vem se preocupando com os


efeitos dos produtos químicos sobre o patrimônio genético e, neste contexto, os defensivos
agrícolas desempenham um papel muito importante. Será fundamental, portanto, o
desenvolvimento de pesquisas em mutagênese com resíduos de defensivos agrícolas, com a
finalidade de fazer avaliações das potencialidades de mutagenicidade, realizando estudos de
toxicidade em diferentes organismos contaminados por fungicidas, herbicidas e inseticidas
comercializados no Brasil.

Caberá, no entanto, aos técnicos e dirigentes ambientais dos Estados, indicar


quais são os defensivos agrícolas realmente mais utilizados em suas regiões e, também, os
riscos de contaminação das bacias hidrográficas.

Hoje, a lista dos estragos é aterradora. Rios poluídos devido às descargas


criminosas de detritos fabris que matam a fauna e a flora e impedem as várias formas da sua
fruição, destruição setorial da camada de ozônio atmosférico pelas emanações de CFCs
(clorofluorcarbonetos), destruição das florestas e da conseqüente capacidade de absorção do
dióxido de carbono, ausência de zonas verdes nos aglomerados populacionais, construção
82

maciça e, freqüentemente, sem garantia do cumprimento das regras de segurança, janelas com
vidros espelhados que contribuem para o aquecimento das cidades, campos de golfe e
piscinas, em zonas secas como o Algarve em Portugal, e destruição da zona costeira em nome
do turismo, emanação em larga escala de gases poluentes não só pelos complexos industriais,
mas também pela excessiva circulação de veículos e pelos combustíveis utilizados,
cimenteiras implantadas em zonas protegidas, lixos provenientes de embalagens construídas
com materiais de difícil degradação, lixos hospitalares tratados sem os devidos cuidados
sanitários, lixos provenientes da utilização da energia nuclear. Isto para só lembrar alguns,
pois poderíamos continuar por aí fora.

Os medicamentos constituem outro sector de insegurança. Com que freqüência somos


informados de medicamentos retirados do mercado porque estudos posteriores à sua utilização
durante anos, e receitados por médicos, revelaram que têm ‘efeitos secundários’ altamente
prejudiciais.

E que dizer dos alimentos? Vacas loucas, frutos e vegetais contaminados por
pesticidas e adubos, frangos e porcos engordados com hormonas e defendidos das pragas por
antibióticos ministrados preventivamente, peixes com mercúrio, etc. A ameaça mais recente e
que, a meu ver, pode ter efeitos incalculáveis vem agora dos organismos geneticamente mod
ificados, de que gostaria de falar um pouco mais adiante. Parece-me aconselhável esclarecer
que a crítica às alterações ambientais não pressupõe o sonho idílico de retorno a um qualquer
paraíso perdido, inalterável.

Ao contrário, o universo e o nosso Planeta são entidades dinâmicas em permanente


alteração. As suas massas geológicas movem-se, transformam-se e reajustam-se, os seres
vivos que o habitam têm-no transformado no decorrer dos tempos; a humanidade, desde que
existe, tem usado o seu poder de intervenção na Natureza de uma forma bem destruidora. Mas
essa destruição jamais se tinha dado de forma tão devastadora nem à escala planetária, como
agora acontece. Os cataclismos anteriores, quer ‘naturais’ quer de origem humana, tinham
causado desequilíbrios reajustáveis num novo equilíbrio. Hoje, estamos perante um fenômeno
novo em escala e poder devastador de que conhecemos as principais causas e algumas
soluções, ainda que seja difícil pô-las em prática.
83

É por isso que o Ambiente é uma questão que vale a pena e deve ser discutida. Perante
o perigo ambiental eminente, os ambientalistas formularam duas perguntas: “para quem é que
o perigo existe? E o que explica esse perigo acrescido? A questão do ‘perigo para quem’ tem,
por seu turno, duas componentes: quem, entre os seres humanos, e quem entre os [outros]
seres vivos.

A primeira questão invoca a comparação das atitudes Norte-Sul em questões


ecológicas; a segunda é um tema da ecologia profunda. Ambas, de fato, envolvem
problemáticas sobre a natureza da civilização capitalista e sobre o funcionamento da
economia mundial capitalista, o que significa que antes de tratar o tema de ‘para quem’, nós
tenhamos que analisar a origem do perigo acrescido. Para responder a estas perguntas, os
ambientalistas analisam as duas características fundamentais do capitalismo histórico:
primeiro, a necessidade imperativa de expansão em termos de produção total, com a
conseqüente expansão geográfica e a infindável acumulação de capital; depois, no processo de
acumulação de capital, os principais capitalistas não têm o hábito de pagar as suas contas.

Para preservar o ambiente, podemos considerar, desde já, dois tipos diferentes de
medidas: um tem a ver com a posterior eliminação e tratamento dos produtos poluentes
resultantes da atividade produtiva (toxinas, lixos industriais); o outro prende-se com
investimento na renovação dos recursos naturais (replantação de árvores, por exemplo) e na
aposta em encontrar fontes de energia ‘limpas’.

Mas as variadas medidas que os movimentos ecologistas têm proposto acarretam


custos elevados e deparam com uma feroz resistência por parte da indústria que não está
disposta a perder a taxa média de lucros que obtém mundialmente. Face a esta situação,
ficamos confrontados com duas possibilidades: ou os governos obrigariam as empresas a
assumir essas despesas, o que lhes diminuiria os lucros, ou os próprios governos as
assumiriam e, para isso, teriam que subir os impostos. Impostos sobre as empresas tinha o
mesmo resultado que a primeira hipótese – a redução dos seus lucros – e elas resistem por
todos os meios; impostos sobre os trabalhadores é impopular e, nalguns países, resultaria em
revolta. Mas há uma terceira alternativa que é, na verdade, o que tem ocorrido mais
freqüentemente: não fazer absolutamente nada, o que conduz às catástrofes ecológicas a que
84

temos assistido. (O protocolo de Quioto só agora vai começar a ser implementado por alguns
países e o maior poluente, os Estados Unidos, não o assinou.).

Segue aqui algumas conclusões finais:

1 - Considerando-se a multiplicidade dos defensivos agrícolas que são utilizados


como praguicidas, inseticidas, fungicidas e outros, de acordo com as
necessidades e usos, recomendamos que sejam identificados, para cada região,
os que são mais extensivamente utilizados.

2 - Procurar caracterizar nos biomas estudados, principalmente no Cerrado, as


principais culturas (soja, trigo, arroz, milho) com as respectivas áreas
ocupadas por cada uma e os defensivos agrícolas predominantemente
empregados.

3 - Identificar, em cada Estado, as bacias hidrográficas mais atingidas pela


utilização extensiva dos defensivos agrícolas.

4 - Elaborar um programa de monitoramento dos principais corpos d’água


receptores dos rejeitos da agricultura, quanto aos resíduos de defensivos
agrícolas identificados como mais utilizados na região, nos compartimentos
bióticos e abióticos e populações críticas.

5 - Apoiar pesquisas em mutagênese com resíduos de defensivos agrícolas, a fim


de avaliar as potencialidades de mutagenicidade e estudos de toxicidade em
diferentes organismos com fungicidas, herbicidas e inseticidas
comercializados no Brasil.
85

Propomos, em caráter preliminar, as seguintes ações:

a. Levantamento, nos três biomas, das principais áreas em que predomina a


agricultura extensiva de soja, arroz, milho, etc. e atividades
hortigranjeiras.

b. Identificar os tipos de agrotóxicos mais utilizados nestas regiões.

c. Identificar as bacias hidrográficas mais afetadas pelo uso de defensivos


agrotóxicos.

d. Identificar a capacitação analítica de laboratórios, situados nos três biomas


estudados, para determinação de resíduos de pesticidas.

e. Apoiar a melhoria das condições analíticas dos laboratórios existentes e


programar a montagem de outros, especializados, no Brasil.

f. Dar condições para treinamento de técnicos em laboratórios capacitados.

g. Apresentar resultados da situação de contaminação atual por defensivos


agrícolas nas bacias hidrográficas da região e em pessoas envolvidas com
atividade agrícola.

h. A partir dos dados obtidos, propor medidas práticas de aconselhamento


dos defensivos agrícolas mais adequados para cada atividade agrícola,
das proporções mais corretas a serem utilizadas e, ao mesmo tempo,
implementar medidas de controle dos efluentes agrícolas para preservar o
meio ambiente.
86

6 - Bibliografia

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90

Apêndice

Lei Nº 7.802, De 11 De Julho De 1989 que trata do controle, da inspeção e da fiscalização


de agrotóxicos

Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o


transporte, armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a
importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins,
e dá outras providências.

Art. 1º A pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o


armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a
exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, serão regidos por esta Lei.

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se: I - agrotóxicos e afins:

a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso


nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas
pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e
também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição
da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados
nocivos;
b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e
inibidores de crescimento;

II - componentes: os princípios ativos, os produtos técnicos, suas matérias-primas, os


ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e afins.
91

Art. 3º Os agrotóxicos, seus componentes e afins, de acordo com definição do art. 2º desta
Lei, só poderão ser produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados, se
previamente registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos
federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.

§ 1º Fica criado o registro especial temporário para agrotóxicos, seus componentes e afins,
quando se destinarem à pesquisa e à experimentação.

§ 2º Os registrantes e titulares de registro fornecerão, obrigatoriamente, à União, as inovações


concernentes aos dados fornecidos para o registro de seus produtos.

§ 3º Entidades públicas e privadas de ensino, assistência técnica e pesquisa poderão realizar


experimentação e pesquisas, e poderão fornecer laudos no campo da agronomia, oxicologia,
resíduos, química e meio ambiente.

§ 4º Quando organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio


ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de acordos e convênios,
alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins,
caberá à autoridade competente tomar imediatas providências, sob pena de responsabilidade.

§ 5º O registro para novo produto agrotóxico, seus componentes e afins, será concedido se a
sua ação tóxica sobre o ser humano e o meio ambiente for comprovadamente igual ou menor
do que a daqueles já registrados, para o mesmo fim, segundo os parâmetros fixados na
regulamentação desta Lei.

§ 6º Fica proibido o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins:


a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de
modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provoquem riscos ao meio ambiente e à
saúde pública;

b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;


92

c) que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo comos


resultados atualizados de experiências da comunidade científica;
d) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com
procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica;
e) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais,
tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados;
f) cujas características causem danos ao meio ambiente.

Art. 4º As pessoas físicas e jurídicas que sejam prestadoras de serviços na aplicação de


agrotóxicos, seus componentes e afins, ou que os produzam, importem, exportem ou
comercializem, ficam obrigadas a promover os seus registros nos órgãos competentes, do
Estado ou do Município, atendidas as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis
que atuam nas áreas da saúde, do meio ambiente e da agricultura.

Parágrafo único. São prestadoras de serviços as pessoas físicas e jurídicas que executam
trabalho de prevenção, destruição e controle de seres vivos, considerados nocivos, aplicando
agrotóxicos, seus componentes e afins.

Art. 5º Possuem legitimidade para requerer o cancelamento ou a impugnação, em nome


próprio, do registro de agrotóxicos e afins, argüindo prejuízos ao meio ambiente, à saúde
humana e dos animais:

I - entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor;


II - partidos políticos, com representação no Congresso Nacional;
III - entidades legalmente constituídas para defesa dos interesses difusos relacionados à
proteção do consumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais.

§ 1º Para efeito de registro e pedido de cancelamento ou impugnação de agrotóxicos e afins,


todas as informações toxicológicas de contaminação ambiental e comportamento genético,
bem como os efeitos no mecanismo hormonal, são de responsabilidade do estabelecimento
registrante ou da entidade impugnante e devem proceder de laboratórios nacionais ou
internacionais.
93

§ 2º A regulamentação desta Lei estabelecerá condições para o processo de impugnação ou


cancelamento do registro, determinando que o prazo de tramitação não exceda 90 (noventa)
dias e que os resultados apurados sejam publicados.

§ 3º Protocolado o pedido de registro, será publicado no Diário Oficial da União um resumo


do mesmo.

Art. 6º As embalagens dos agrotóxicos e afins deverão atender, entre outros, aos seguintes
requisitos:

I - devem ser projetadas e fabricadas de forma a impedir qualquer vazamento, evaporação,


perda ou alteração de seu conteúdo e de modo a facilitar as operações de lavagem,
classificação, reutilização e reciclagem; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000)
II - os materiais de que forem feitas devem ser insuscetíveis de ser atacados pelo conteúdo ou
de formar com ele combinações nocivas ou perigosas;
III - devem ser suficientemente resistentes em todas as suas partes, de forma a não sofrer
enfraquecimento e a responder adequadamente às exigências de sua normal conservação; IV -
devem ser providas de um lacre que seja irremediavelmente destruído ao ser aberto pela
primeira vez.

§ 1o O fracionamento e a reembalagem de agrotóxicos e afins com o objetivo de


comercialização somente poderão ser realizados pela empresa produtora, ou por
estabelecimento devidamente credenciado, sob responsabilidade daquela, em locais e
condições previamente autorizados pelos órgãos competentes. (Incluído pela Lei nº 9.974, de
2000).

§ 2o Os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão efetuar a devolução das


embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos,
de acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contado
da data de compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante, podendo a
94

devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhimento, desde que autorizados e
fiscalizados pelo órgão competente.(Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000).

§ 3o Quando o produto não for fabricado no País, assumirá a responsabilidade de que trata o §
2o, a pessoa física ou jurídica responsável pela importação e, tratando-se de produto
importado submetido a processamento industrial ou a novo acondicionamento, caberá ao
órgão registrante defini-la.(Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000).

§ 4o As embalagens rígidas que contiverem formulações miscíveis ou dispersáveis em água


deverão ser submetidas pelo usuário à operação de tríplice lavagem, ou tecnologia
equivalente, conforme normas técnicas oriundas dos órgãos competentes e orientação
constante de seus rótulos e bulas.(Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000).

§ 5o As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins,


são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e
comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela ação
fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à sua reutilização,
reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e
sanitário ambientais competentes. (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000).

§ 6o As empresas produtoras de equipamentos para pulverização deverão, no prazo de cento e


oitenta dias da publicação desta Lei, inserir nos novos equipamentos adaptações destinadas a
facilitar as operações de tríplice lavagem ou tecnologia equivalente.(Incluído pela Lei nº
9.974, de 2000).

Art. 7o Para serem vendidos ou expostos à venda em todo o território nacional, os agrotóxicos
e afins são obrigados a exibir rótulos próprios e bulas, redigidos em português, que
contenham, entre outros, os seguintes dados: (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000).

I - indicações para a identificação do produto, compreendendo:


a) o nome do produto;
95

b) o nome e a percentagem de cada princípio ativo e a percentagem total dos ingredientes


inertes que contém;
c) a quantidade de agrotóxicos, componentes ou afins, que a embalagem contém, expressa em
unidades de peso ou volume, conforme o caso;
d) o nome e o endereço do fabricante e do importador;
e) os números de registro do produto e do estabelecimento fabricante ou importador;
f) o número do lote ou da partida;
g) um resumo dos principais usos do produto;
h) a classificação toxicológica do produto;

II - instruções para utilização, que compreendam:


a) a data de fabricação e de vencimento;
b) o intervalo de segurança, assim entendido o tempo que deverá transcorrer entre a aplicação
e a colheita, uso ou consumo, a semeadura ou plantação, e a semeadura ou plantação do
cultivo seguinte, conforme o caso;
c) informações sobre o modo de utilização, incluídas, entre outras: a indicação de onde ou
sobre o que deve ser aplicado; o nome comum da praga ou enfermidade que se pode com ele
combater ou os efeitos que se pode obter; a época em que a aplicação deve ser feita; o número
de aplicações e o espaçamento entre elas, se for o caso; as doses e os limites de sua utilização;
d) informações sobre os equipamentos a serem usados e a descrição dos processos de tríplice
lavagem ou tecnologia equivalente, procedimentos para a devolução, destinação, transporte,
reciclagem, reutilização e inutilização das embalagens vazias e efeitos sobre o meio ambiente
decorrente da destinação inadequada dos recipientes; (Redação dada pela Lei nº 9.974, de
2000).

III - informações relativas aos perigos potenciais, compreendidos:

a) os possíveis efeitos prejudiciais sobre a saúde do homem, dos animais e sobre o meio
ambiente;
b) precauções para evitar danos a pessoas que os aplicam ou manipulam e a terceiros, aos
animais domésticos, fauna, flora e meio ambiente;
96

c) símbolos de perigo e frases de advertência padronizada, de acordo com a classificação


toxicológica do produto;
d) instruções para o caso de acidente, incluindo sintomas de alarme, primeiros socorros,
antídotos e recomendações para os médicos;

IV - recomendação para que o usuário leia o rótulo antes de utilizar o produto.

§ 1º Os textos e símbolos impressos nos rótulos serão claramente visíveis e facilmente


legíveis em condições normais e por pessoas comuns.

§ 2º Fica facultada a inscrição, nos rótulos, de dados não estabelecidos como obrigatórios,
desde que:
I - não dificultem a visibilidade e a compreensão dos dados obrigatórios;
II - não contenham:
a) afirmações ou imagens que possam induzir o usuário a erro quanto à natureza,
composição, segurança e eficácia do produto, e sua adequação ao uso;
b) comparações falsas ou equívocas com outros produtos;
c) indicações que contradigam as informações obrigatórias;
d) declarações de propriedade relativas à inocuidade, tais como "seguro", "não venenoso",
"não tóxico"; com ou sem uma frase complementar, como: "quando utilizado segundo as
instruções";
e) afirmações de que o produto é recomendado por qualquer órgão do Governo.

§ 3º Quando, mediante aprovação do órgão competente, for juntado folheto complementar


que amplie os dados do rótulo, ou que contenha dados que obrigatoriamente deste devessem
constar, mas que nele não couberam, pelas dimensões reduzidas da embalagem, observar-se-á
o seguinte:
I - deve-se incluir no rótulo frase que recomende a leitura do folheto anexo, antes da
utilização do produto;
II - em qualquer hipótese, os símbolos de perigo, o nome do produto, as precauções e
instruções de primeiros socorros, bem como o nome e o endereço do fabricante ou importador
devem constar tanto do rótulo como do folheto.
97

Art. 8º A propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em qualquer meio de


comunicação, conterá, obrigatoriamente, clara advertência sobre os riscos do produto à saúde
dos homens, animais e ao meio ambiente, e observará o seguinte:

I - estimulará os compradores e usuários a ler atentamente o rótulo e, se for o caso, o folheto,


ou a pedir que alguém os leia para eles, se não souberem ler;

II - não conterá nenhuma representação visual de práticas potencialmente perigosas, tais


como a manipulação ou aplicação sem equipamento protetor, o uso em proximidade de
alimentos ou em presença de crianças;

III - obedecerá ao disposto no inciso II do § 2º do art. 7º desta Lei.

Art. 9º No exercício de sua competência, a União adotará as seguintes providências:

I - legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação, importação,


transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico;
II - controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e exportação;
III - analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, nacionais e importados;
IV - controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação.

Art. 10. Compete aos Estados e ao Distrito Federal, nos termos dos arts. 23 e 24 da
Constituição Federal, legislar sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o
armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como fiscalizar o uso, o
consumo, o comércio, o armazenamento e o transporte interno.

Art. 11. Cabe ao Município legislar supletivamente sobre o uso e o armazenamento dos
agrotóxicos, seus componentes e afins. Art. 12. A União, através dos órgãos competentes,
prestará o apoio necessário às ações de controle e fiscalização, à Unidade da Federação que
não dispuser dos meios necessários.
98

Art. 12A. Compete ao Poder Público a fiscalização: (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000).

I – da devolução e destinação adequada de embalagens vazias de agrotóxicos, seus


componentes e afins, de produtos apreendidos pela ação fiscalizadora e daqueles impróprios
para utilização ou em desuso; (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000).
II – do armazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de embalagens
vazias e produtos referidos no inciso I. (Incluído pela Lei nº 9.974, de 2000).

Art. 13. A venda de agrotóxicos e afins aos usuários será feita através de receituário próprio,
prescrito por profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais que forem
previstos na regulamentação desta Lei.

Art. 14. As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das
pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e
destinação de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não cumprirem o
disposto na legislação pertinente, cabem: (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000).

a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida;


b) ao usuário ou ao prestador de serviços, quando proceder em desacordo com o receituário
ou as recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação
dada pela Lei nº 9.974, de 2000).
c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a
receita ou recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitário-ambientais; (Redação
dada pela Lei nº 9.974, de 2000).

d) ao registrante que, por dolo ou por culpa, omitir informações ou fornecer informações
incorretas;

e) ao produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes


do registro do produto, do rótulo, da bula, do folheto e da propaganda, ou não der destinação
às embalagens vazias em conformidade com a legislação pertinente; (Redação dada pela Lei
nº 9.974, de 2000).
99

f) ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados à
proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e
aplicação dos produtos.

Art. 15. Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, prestar serviço, de
destinação a resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, em
descumprimento às exigências estabelecidas na legislação pertinente estará sujeito à pena de
reclusão, de dois a quatro anos, além de multa. (Redação dada pela Lei nº 9.974, de 2000).

Art. 16. O empregador, profissional responsável ou o prestador de serviço, que deixar de


promover as medidas necessárias de proteção à saúde e ao meio ambiente, estará sujeito à
pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, além de multa de 100 (cem) a 1.000 (mil)
MVR. Em caso de culpa, será punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, além de
multa de 50 (cinqüenta) a 500 (quinhentos) MVR.

Art. 17. Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração de disposições
desta Lei acarretará, isolada ou cumulativamente, nos termos previstos em regulamento,
independente das medidas cautelares de estabelecimento e apreensão do produto ou alimentos
contaminados, a aplicação das seguintes sanções:

I - advertência;
II - multa de até 1000 (mil) vezes o Maior Valor de Referência - MVR, aplicável em dobro
em caso de reincidência;
III - condenação de produto;
IV - inutilização de produto;
V - suspensão de autorização, registro ou licença;
VI - cancelamento de autorização, registro ou licença;
VII - interdição temporária ou definitiva de estabelecimento;
VIII - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, com resíduos acima do
permitido;
100

IX - destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, nos quais tenha havido aplicação
de agrotóxicos de uso não autorizado, a critério do órgão competente.
Parágrafo único. A autoridade fiscalizadora fará a divulgação das sanções impostas aos
infratores desta Lei.

Art. 18. Após a conclusão do processo administrativo, os agrotóxicos e afins, apreendidos


como resultado da ação fiscalizadora, serão inutilizados ou poderão ter outro destino, a
critério da autoridade competente.

Parágrafo único. Os custos referentes a quaisquer dos procedimentos mencionados neste


artigo correrão por conta do infrator.

Art. 19. O Poder Executivo desenvolverá ações de instrução, divulgação e esclarecimento,


que estimulem o uso seguro e eficaz dos agrotóxicos, seus componentes e afins, com o
objetivo de reduzir os efeitos prejudiciais para os seres humanos e o meio ambiente e de
prevenir acidentes decorrentes de sua utilização imprópria.

Parágrafo único. As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus


componentes e afins, implementarão, em colaboração com o Poder Público, programas
educativos e mecanismos de controle e estímulo à devolução das embalagens vazias por parte
dos usuários, no prazo de cento e oitenta dias contado da publicação desta Lei. (Incluído pela
Lei nº 9.974, de 2000).

Art. 20. As empresas e os prestadores de serviços que já exercem atividades no ramo de


agrotóxicos, seus componentes e afins, têm o prazo de até 6 (seis) meses, a partir da
regulamentação desta Lei, para se adaptarem às suas exigências.

Parágrafo único. Aos titulares do registro de produtos agrotóxicos que têm como
componentes os organoclorados será exigida imediata reavaliação de seu registro, nos termos
desta Lei.
101

Art. 21. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, contado da
data de sua publicação.

Art. 22. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 23. Revogam-se as disposições em contrário.

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