Você está na página 1de 38

Regra de São Pacômio

e uma introdução à oração ortodoxa

Edições ECCLESIA
Junho, 2022
Como organizar um espaço
devocional em casa

−1−
E
m lares cristãos ortodoxos, o canto de oração é o lugar
físico reservado para a oração pessoal e familiar. Seja qual
for o nome que se dê, este «canto de oração» é o coração
espiritual da casa. Ele deve servir como um lembrete constante
para orar. Ele deve ser um santuário para você e seus entes
queridos, um lugar onde você possa descansar e se renovar
enquanto vive neste mundo. E talvez o mais importante, deve
conectá-lo com seu cônjuge, filhos e, ainda mais, com a grande
família dos santos que vieram antes de você, que estão com você
na adoração a Deus.
Seu «cantinho de oração» pode ser em qualquer lugar da
casa, mas o ideal é que seja um lugar de fácil acesso, silencioso,
em um local alto e orientado para o leste (Oriente), assim como
nossas igrejas. De certa forma, nossas casas são pequenas igrejas,
e o «canto de oração» o nosso altar. Portanto, faz sentido
tentarmos modelar nossas pequenas igrejas segundo a igreja
maior.
Um canto de oração mais simples pode ser formado por
uma cruz portátil ao centro, um ícone do Senhor Jesus Cristo à
direita de quem vê, e um ícone da Virgem Maria com o Cristo
Infante no lado oposto. No mesmo canto são dispostos uma vela
à óleo para ser uma fonte de luz, e um incensário. Itens religiosos
como bíblias, livros de orações e outros itens devocionais como
água e óleo abençoado ou, alguns objetos que durante o
calendário litúrgico são distribuídos nas paróquias aos fiéis,
como palmas, e flores também são guardados neste canto.
O modo correto de se dispensar um ícone ou qualquer outro
item devocional é queimar e enterrar as cinzas num local
afastado. Qualquer dúvida de como fazer isso, é preciso falar
com um pai espiritual.

−2−
Como utilizar um Cordão de Oração e
sobre a Oração de Jesus

A
história do cordão de oração (kombuskini no grego e
chotki no russo) remonta às origens do próprio
monaquismo cristão. A invenção do cordão de oração é
atribuída a Pacômio, o Grande, no século IV. O uso do cordão
tornou possível rezar sem cessar a Oração de Jesus (Senhor Jesus
Cristo, tem piedade de mim), seja dentro ou fora da cela, de acordo
com a recomendação do Apóstolo Paulo de «Orar sem cessar» (I
Tes 5:17). Diz-se que o método de amarrar o cordão de oração
teve sua origem no pai do monaquismo ortodoxo, Antônio, o
Grande. Ele começou amarrando uma corda de couro com um nó
simples para cada vez que orava Kyrie Eleison («Senhor, tem
piedade»), mas o Diabo viria e desataria os nós para desfazer sua
contagem.
Ele então planejou uma maneira - inspirado por uma visão
que teve da Teótoco – de amarrar os nós de modo que os próprios
nós fizessem constantemente o sinal da cruz. É por isso que as
cordas de oração hoje ainda são amarradas com tais nós, cada
qual contendo sete pequenas cruzes sendo amarradas
repetidamente. O Diabo não conseguiu desatá-lo porque o Diabo
foi vencido pelo Sinal da Cruz.

−3−
Ao orar, o fiel, normalmente,
segura o cordão de oração com a mão
esquerda deixando a mão direita livre
para fazer o sinal da cruz, utilizando o
polegar esquerdo para contar os nós.
Quando não está em uso, o cordão de
oração é tradicionalmente enrolado no
pulso esquerdo para que continue a
lembrar a pessoa de orar sem cessar
(alguns já são feitos em formato de
pulseira com este fim). Se isso não for
prático, pode ser colocado no bolso
esquerdo, mas não deve ser
pendurado no pescoço ou suspenso no
cinto. Isso porque não se deve ser
ostentoso ao exibir o cordão de oração
para que outros vejam.
A oração deve ser feita sem
pressa, sem formas na mente, sem êxtase; mas com calma,
concentrando-se nas palavras da oração e mantendo um espírito
sóbrio de contrição. Há diversas técnicas de oração, porém a
«Oração de Jesus» é comumente associada com a inspiração em
«Senhor Jesus Cristo», e expiração em «tem piedade de mim».

−4−
Como fazer o Sinal da Cruz
O «Sinal da Cruz» deve ser feito pelo menos
quando se menciona o nome da Santíssima
Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo, pois a cruz
significa comunhão perfeita.
Os três dedos unidos ao topo testemunham a
única natureza de Deus e a perfeita coabitação do
Pai e Filho e Espírito Santo. Os dois dedos sobre a
palma indicam que Jesus Cristo, o Filho pré-eterno
de Deus assume uma segunda natureza, a humana,
permanecendo consubstancial ao Pai e ao Espírito
Santo em sua natureza Divina.
Quando se deseja benzer alguém ou
algo, o «Sinal da Cruz» é feito em quatro
pontos: em cima, abaixo, à esquerda e à
direita. Porém, quando um fiel fizer o Sinal
da Cruz «sobre si», ele fará
aproximadamente na testa, umbigo, ombro
direito e ombro esquerdo. Fazer o sinal
«sobre si» pode parecer que está ao
contrário, mas o sinal feito «sobre si» é
sempre visto na perspectiva de frente – de
quem abençoa. No caso de fazer o sinal «sobre si», o referencial é
o Espírito Santo, sempre à frente do fiel.

−5−
Vestimentas da Igreja Ortodoxa

A utilidade de vestimentas, de proteger das intempéries


climáticas, é somente ultrapassada pelo seu simbolismo e caráter
comunicativo – as Escrituras desde o Gênesis falam das
vestimentas de carne, mantendo seu simbolismo até os
Evangelhos quando o Cristo diz em suas parábolas que seu Pai
não receberá aquele que rejeitar as suas vestes nupciais. A igreja
ortodoxa, como a igreja da nova aliança, preservará diversas
peças de roupas que manifestam a sua fé.

Algumas, mas não todas, são:

Clericais não-litúrgicas
Batina Interna
(Anderí/Podrjaznik): Vestes
pretas e sem botões e decorações
utilizadas pelo clero. Sua cor
manifesta a morte para a mundo e
uma nova vida de quem absorve
toda a luz (graça). Monásticos
utilizam um cinto de couro sobre a
batina interna para manifestar a
morte da carne, renovação do
espírito, coragem e cautela.
Também utilizada nas liturgias.

−6−
Ryasso (Exorason/Ryassa/Jibbee): Semelhante à batina interna,
para ser vestida por cima. Mais larga, fluida e levemente
entreaberta na frente. Um sacerdote deveria utilizar a batina
interna e o ryasso a todo momento. Também utilizada nas
liturgias, às vezes pelo sacerdote e pelo cantor.

Kolovio: Um tipo de colete longo de tecido sem mangas de


tecido. É utilizado para subtituir o ryasso em situações não-
litúrgicas de trabalho manual ou calor extremo.

Cruz peitoral: Em grande parte da ortodoxia, a cruz peitoral é o


sinal de um sacerdote, mas é característica do bispo. Os
presbíteros precisam da benção de seu bispo para as utilizar.

Calima: (Kalymavchion/kameloukion/kamelaukion) – Um
chapéu duro e preto. Cilíndrico com aba cônica achatada no topo.
Os monges, ordenados ao sacerdócio ou não, utilizam um véu
preto sobre o calima (formando o epanocalima). As mulheres
monásticas utilizam o um véu preto similar diretamente.
Curiosidade: Alguns hierarcas autocéfalos (especialmente de origem eslava e romena)
utilizam véus brancos sobre seus calimas após um presente das igrejas autocéfalas mais
antigas que foi entregue como manifestação de boa vontade e respeito mútuo entre as
mesmas.

Skufia (Skoufos): Assim como o kolovio, é


uma alternativa de trabalho e calor para
monges. Sob influência ocidental, alguns
utilizam de diversas cores e formatos.
Substitui o epanocalima, é feito de tecido
preto e não possui véu, porém é dobrável,
de tecido e preto.

−7−
Clericais litúrgicas
Para monges:

Epanocalima: Utilizado por monges durante partes específicas


de cada rito. Quando não utilizado, o véu é lançado sobre os
ombros e o calima segurado contra o peito com a mão esquerda
(comumente um hieromonge precisa das duas mãos para partes
do serviço, deixando-o de lado).

Para o diácono:

Sticharion (stichar): Longos e estreitos, com mangas largas e


abotoamento no decote. Bastante ornamentados.

Orarion (orar): Estola usada sobre o ombro esquerdo e em mãos


durante o serviço. Ornamentado.

Epimanikia: Punhos de tecido amarrados nos pulsos para


conter as mangas do sticharion. Ornamentado.

Para o presbítero:

Cruz peitoral: Alguns sacerdotes


são abençoado para usá-las
durante os ofícios.
Manifestação honorífica.

Sticharion: Branco e de um
material mais leve e menos
decorado que o do diácono.

−8−
Epimanikia: Igual ao do diácono,
exceto que o padre usa o seu sobre
o sticharion

Epitraquelion: Estola sacerdotal,


usada ao redor do pescoço. Deve conter sete cruzes, uma nas
costas e seis na frente.

Zone: Cinto de pano usado sobre o epitraquelion. Utilizado na


cintura alta.

Phelonion: Grande vestimenta cônica sem mangas usada sobre


todas as outras vestimentas, com a frente largamente cortada
para facilitar os movimentos do celebrante.

Epigonátio (Epigonation/Palitsa): Tecido duro em forma de


diamante alçado sobre o ombro esquerdo e usado no lado direito.
Denota um padre abençoado por seu bispo para ouvir confissões.

Mitra: Parecida com uma coroa muito adoranada. Denota um


bispo, mas alguns sacerdotes a recebem como honorífico.

Para o bispo:

Panaghia/Engolpion: Medalhão geralmente representando


a Virgem Maria segurando o Cristo Infante. Alguns bispos
(e todos os primazes de igrejas autocéfalas) têm a dignidade
de um segundo engolpion, que geralmente retrata Cristo.

Sticharion, epimanikia, epitraquelio, zone: O mesmo que


para o presbítero.

−9−
Sakkos: em vez do phelonion, o bispo
usa o sakkos, que é uma roupa com
mangas largas.

Epigonátio/palitsa: todos os bispos


usam isso e tem a benção para receber
confissão.

Mitra: todos os bispos usam isso; a


mitra episcopal é encimada por uma
cruz, diferentemente da mitra
sacerdotal.

Omophorion: De todas as vestimentas episcopais, esta é


considerada a mais importante; o omophorion é uma faixa
larga de pano usada sobre os ombros.

Mantiya: capa sem mangas que prende no pescoço e nos


pés, usada pelo bispo quando ele entra formalmente na
igreja antes da Divina Liturgia.

As seguintes não são vestimentas, mas são usadas pelo bispo durante os
serviços: Orlets/tapete de águia: um pequeno tapete que mostra uma águia de
uma única cabeça sobrevoando uma cidade, sobre a qual o bispo fica durante
os serviços. Crozier/Pateritsa/Zhezlo: bengala; pode ser em forma de T, com
a travessa dobrada e encimada por uma cruz, ou em forma de serpente,
mostrando duas serpentes entrelaçadas, também encimadas por uma cruz.

As primeiras vestes litúrgicas da nova aliança eram vermelho-


escuro, como manifestação da realeza do ofício sacerdotal, por
este motivo, o vermelho-escuro são comuns para as festas e

− 10 −
apesar da grande variação predominam o dourado e o branco.
Os livros de ritos não possuem um sistema universal de cores.
Orientações apenas especificam vestimentas claras ou escuras.
As mulheres comprometidas, seja no casamento ou
monaquismo, utilizam em seus véus cores escuras (assim como
a Mãe de Deus utiliza vermelho-escuro sobre o azul na
iconografia, manifestando que sua carne conteve os céus) e
mulheres ainda não comprometidas utilizam cores claras. Não
necessariamente preto ou branco.

Alguns sacerdotes no Século XX adotaram um ciclo litúrgico de


cores. As cores seriam alteradas no começo do dia litúrgico, com
o pôr-do-sol na véspera do dia a ser comemorado. Durante as
Grandes Festas, a cor permanece até a apódose (dia final do
período pós-festa). Sob influência não-ortodoxa, o preto é
frequentemente usado nas igrejas para funerais e memorais,
principalmente eslavas, mas na segunda metade do Século XX, o
branco antigo volta a crescer e ser mais comum, pois é
manifestação da esperança da ressurreição.

Não é obrigatório, mas alguns bispos utilizam diretrizes


semelhantes a esta.

Cor Uso comum Outros usos


1. Quando
Dourado nenhuma outra cor
é especificada.

Azul 1. Festas da 1. Templos


Teótoco. dedicados à
2. Festas dos Teótoco podem
Arcanjos. utilizar o azul

− 11 −
como padrão, em
vez do dourado.
2. Muitos lugares
utilizam o azul
para o Jejum da
Dormição da
Teótoco (exceto na
Transfiguração e
sua pós-festa de 6
a 13 de agosto).
3. Em alguns
lugares, se utiliza
o azul para a
Teofania.

Vermelho 1. Quinta-feira 1. Páscoa (Monte


Santa. Athos e
2. Festa da Jerusalém).
Vivificante Cruz. 2. Natividade
3. Festa da (Monte Athos e
Decapitação de Jerusalém).
São João 3. Festas da
Precursor. Teótoco (Monte
4. Festas de Athos e
Mártires. Jerusalém).
5. Jejuns da
Natividade, dos
Apóstolos e da
Dormição da
Teótoco.

− 12 −
1. Domingo de 1. Exaltação da
Verde Ramos. Santa Cruz
2. Pentecostes. (Jerusalém).
1. Em alguns
Roxo 1. Dias úteis da lugares, se utiliza
Grande Quaresma. roxo claro aos
sábados e
domingos.
1. Festas de 1. Em alguns
Preto Monásticos. lugares, se utiliza
2. Dias úteis da o preto durante
Semana Santa todos os dias da
(exceto quinta- semana da Grande
feira). Quaresma.

Branco 1. Todas as 1. Todo ofício


Grandes Festas do memorial e
Senhor (Páscoa, funeral,
Natividade, independente do
Teofania, etc). dia do ano.

Não há necessidade que leigos sigam estas diretrizes de cores.


Porém é comum que mulheres dedicadas, seja ao casamento ou
monaquismo, utilizem véus escuros e mulheres ainda não-
dedicadas utilizem véus claros – não somente branco e preto.
Há bastante variação nas recomendações de roupas para leigos,
tanto em comprimento quanto formalidade.

Se deve observar a regra do templo e evitar corrigir os outros


como leigo. Uma regra possível para se evitar controvérsias e
ambiguidade é seguir a iconografia: com exceção de casos de

− 13 −
certos eremitas, homens na iconografia utilizam ao menos uma
túnica que cobre quase até os cotovelos e joelhos. As mulheres
na iconografia cobrem do véu ao pulso e sapatos (mulheres
raramente mostram os pés na iconografia). Os homens e anjos
somente utilizam calças quando se trata de uma associação
militar, como São Demétrio e o Arcanjo Miguel (compara-se
com o Arcanjo Gabriel que não as utiliza). Porém alguns ícones
medievais podem utilizar calças nos homens, mesmo que não
seja comum na área e época de Cristo – não há nenhuma
informação se isso é um simples anacronismo, uma ferramenta
para facilitar o traçado das pernas ou uma escolha ativa para
evitar mostrar pernas desnecessariamente. Os homens crescidos
na iconografia – especialmente o Cristo, que apesar de ser uma
Pessoa Divina tomou natureza humana – utilizam barbas pois é
sinal da natureza humana manifestando em um homem. Ícones
de Cristo sem barba são normalmente associados à negação da
realidade da encarnação e afirmação de que o Cristo era
meramente uma aparição angélica.

Com o passar dos séculos, a maioria dos templos se tornou mais


restrivos aos homens e menos às mulheres. É comum pedir que
homens evitem mostrar as pernas, pés e que sigam algum
padrão de formalidade, porém não há mais restrições militares
para o uso de calças – com exceção das classes que a igreja não
permite participar ativamente de guerras como os monásticos,
freiras, mulheres e todos do sacerdócio. Entretanto, é comum
que mulheres e sacerdotes utilizem calças por baixo da veste
exterior. Não é comum permitir que homens leigos utilizem
túnicas ou vestes longas – exceto nas culturas médio-orientais
que ainda se utiliza rotineiramente – pois na maior parte do
mundo é um sinal clerico-monástico nos homens. Para as
mulheres, não é comum que se peça para leigas cobrir até os
pulsos e tornozelos, mas somente até a metade do braço e

− 14 −
canela. É comum que se peça
que se utilize sapatos fechados
para tanto os homens quanto
mulheres. Não se permite que
homens leigos utilizem
vestimentas para a cabeça,
pois é um sinal da hierarquia
– sacerdotes, bispos,
mulheres leigas e monásticas
as utilizam segundo suas
regras particulares.

Observação: Independentemente,
é obrigatório a todos obediência à
jurisprudência eclesiástica e leigos
não tem permissão de ensinar e
corrigir outros sem a benção explícita
de seu pai espiritual e bispo.

− 15 −
Uma Introdução à Oração

A
ortodoxia é muito uniforme no seu caminho de quietude
do pensamento e silêncio da mente para alcançar a
“oração do coração” (oração plena) na devoção privada.
São João Clímaco escreve em A Escada [28:19] que “o início da
oração consiste em afastar pensamentos invasores…” [285]. A mente
deve estar livre de todos os pensamentos e imagens e focar nas
palavras de oração. Mais adiante, no capítulo sobre oração [28],
São João instrui a não aceitar nenhuma imagem sentida durante
a oração, para que a mente não caia em insanidade [42; 289]; e
não vislumbrar nem mesmo coisas espirituais necessárias [59;
292] [Também se recomenda orar de olhos abertos, para evitar
fomentar a imaginação].
Ao contrário do Catolicismo Romano [e a Contemplação
Inaciana], a tradição ortodoxa não incentiva o uso de imagens
mentais. Na verdade, parece quase completamente proibir a
imaginação visual durante a oração. Nas palavras de um dos
anciãos ortodoxos contemporâneos, o abade Nikon Vorobyev
(1894-1963 D.C.), “severamente, decisivamente, com ameaças e
súplicas, a imaginação é proibida pelos Padres ortodoxos — apesar dos
ascéticos não-ortodoxos do ocidente se esforçam para adquirir através de
todos os estímulos e métodos” [424].
Um dos melhores resumos da tradição patrística ortodoxa
de oração está contido nas obras do Bispo Inácio Brianchaninov
(1807-1867 D.C.), um estudioso, teólogo e santo do século XIX.
Tendo estudado as obras de santos orientais e ocidentais em suas
línguas originais, Santo Inácio também era conhecido como um

− 16 −
homem de oração, e seus escritos respiram não apenas vigor
acadêmico, mas experiência prática pessoal também.
Santo Inácio certamente reconhece que há visões Divinas
que são mostradas àqueles que “são renovados pelo Espírito Santo,
que sepultam o velho Adão e colocam no Novo” [Obras de 2004, 1:86].
“Assim”, ele escreve, “o santo apóstolo Pedro viu uma bela toalha
descendo do céu enquanto orava. Do mesmo modo, um anjo apareceu
para Cornélio, o centurião durante a oração. Além disso, quando o
apóstolo Paulo estava orando no templo de Jerusalém, o Senhor apareceu
para ele e ordenou que ele deixasse imediatamente Jerusalém…” [1:86].
Porém, Santo Inácio Brianchaninov proíbe categoricamente a
busca ou a espera de tais “estados sobrenaturais”:
A mente em oração deve estar em um estado totalmente
genuíno. A imaginação, por mais sedutora e atrativa, por ser a
criação intencional da própria mente, é somente uma invenção e
não o estado da verdade divina. A imaginação leva a mente a um
estado de autolouvor e autoilusão, e é por isso que ela é rejeitada
em oração.
Durante a oração a mente deve ser mantida com muito
cuidado e sem imagens, rejeitando todas as cenas que são
desenhadas pela capacidade da imaginação… As imagens, se a
mente lhes der espaço durante a oração, se tornarão uma cortina
impenetrável, uma parede entre a mente e Deus [1:75].
Santo Isaac de Nínive (aprox. 700 D.C.), um bispo e teólogo,
escrevendo séculos antes, transmite um aviso semelhante
àqueles que desejam visões, dizendo que tal pessoa é “tentada em
sua mente pelo diabo que zomba dela” [174].
Abordando especificamente as visões dos devotos sobre o
Senhor e os santos, Santo Inácio ressalta que a imaginação
humana pode levar a falsas experiências sensoriais,
erroneamente reconhecidas pela pessoa como Divinas mas que

− 17 −
são originárias de sua mente: “Guarde-se da imaginação que pode
fazer você querer ver o Senhor Jesus Cristo, que você o toque e abrace.
Este é um jogo vazio de auto opinião inchada e orgulhosa! Isso é uma
autoilusão mortal!” [1:33]. Se durante a sua oração aparecer em
seus sentidos ou espontaneamente em sua mente uma imagem
de Cristo, ou de um anjo, ou de qualquer santo — em outras
palavras, qualquer imagem — não aceite essa aparição como
verdadeira de forma alguma, não preste atenção a ela e não
converse com ela. Caso contrário, você certamente será iludido e
outros danos mais graves ocorrerão à sua alma, o que aconteceu
com muitos [1:75-6; veja também Filocalia 5:233]. Imaginar o
Senhor e seus santos na materialidade leva à falsa e orgulhosa
opinião de si mesmo — isso leva a alma a um falso estado, um
estado de autoilusão [1:76-7].
Em outras palavras, de acordo com Santo Inácio
Brianchaninov, criar imagens propositalmente na mente, e
mesmo aceitar aquelas que aparecem espontaneamente, não só é
perigoso espiritualmente, mas também pode levar ao dano da
alma, ou problemas psicológicos, “o que”, diz ele, “aconteceu com
muitos”. Sem dúvida, aqui o santo refere-se à espiritualidade de
alguns santos ocidentais não ortodoxos: “Não brinque com sua
salvação, de modo algum! Leia do Novo Testamento e dos Santos Padres
da Igreja Ortodoxa, mas não de Teresa e outros loucos não ortodoxos
ocidentais…” [25]. Casos de transtornos mentais facilitados por
oração ou estado mental inadequados também são conhecidos
em várias literaturas ortodoxas, especialmente paterikons (livros
das vidas dos pais).
São Simeão, o Novo Teólogo (949-1022 D.C.), escrevendo no
final do século X ao início do século XI, alerta contra o método de
oração mais tarde usado pelo não-ortodoxo Inácio de Loyola e
outros santos não ortodoxos ocidentais como potencialmente
levando a problemas mentais:

− 18 −
As características específicas deste tipo de oração são:
quando alguém, de pé na oração e levantando as mãos,
e olhos, e mente para o céu, imagina em sua mente
conselhos divinos, a bondade celestial, as fileiras dos
anjos, e as habitações dos santos; em outras palavras,
tudo o que ele ouviu das Escrituras Divinas, ele junta
em sua mente… Mas durante esse tipo de oração, pouco
a pouco, ele começa a induzir isto em seu coração, sem
que o próprio perceba; parece-lhe que o que ele está
fazendo é da graça de Deus dada para o seu conforto, e
ele pede a Deus para deixá-lo sempre estar neste estado.
Mas isso é um sinal de grande engano… Tal pessoa, se
ele pratica esse tipo de oração em reclusão, dificilmente
será capaz de permanecer em mente sã. Mas, mesmo
que ele faça isso e não fique louco, ele, no entanto, não
será capaz de adquirir virtudes… [Filocalia 5:463-4]
Comentando esta passagem, Santo Inácio Brianchaninov
chama a oração imaginativa de “a mais perigosa”:
O mais perigoso dos tipos incorretos de oração consiste
na pessoa que cria formas imaginárias, aparentemente
tomando-as da Sagrada Escritura, mas na realidade —
de seu próprio estado de queda e auto orgulho; e com
essas fotos ele lisonjeia sua própria auto opinião, sua
queda, seu pecado e se ilude. Obviamente, tudo o que é
criado pela imaginação da nossa natureza em queda não
existe na realidade, é faz-de-conta e é falso… Aquele
que cria imagens como o primeiro passo no caminho da
oração sai da área da verdade e entra na área da ilusão,
das paixões, do pecado e de Satanás [Obras 1:160-1).
O ensinamento de Santo Inácio Brianchaninov repete a
tradição de oração realizada pelos Padres da Igreja Ortodoxa.
Grande parte dessa tradição foi compilada em uma grande obra

− 19 −
intitulada Filocalia (Gr. “amor à beleza”), que contém os escritos
de padres ortodoxos dos Séculos IV ao XV. Este trabalho, um
marco da espiritualidade ortodoxa e uma autoridade ortodoxa
inquestionável sobre a oração, sem dúvida alguma proíbe o uso
de imagens mentais. Santo Antônio do Egito [300-391 d.C.], por
exemplo, escreve que Satanás aparece como um anjo de luz para
aqueles que buscam visões, a fim de promover neles uma opinião
orgulhosa de si mesmos como visionários de Deus, e por este
auto orgulho levá-los à destruição [ver 630]. São Nilo do Sinai
[adormecido em 430 d.C.], discípulo de São João Crisóstomo,
ensina que a mente deve ser surda durante a oração [Filocalia
2:208]. “Quando rezar”, ele escreve, “não imagine Deus de forma
alguma e não permita que sua mente forme qualquer imagem…”
[2:215]. São Nilo também adverte que não é bom querer ver
imagens ou ter visões: “Não deseje ver nenhum rosto ou imagem
durante a oração. Não deseje ver anjos, ou poderes, ou Cristo para não
ficar louco, tendo aceitado um lobo como pastor e prestado adoração aos
inimigos — demônios” [2:221].
Da mesma forma, outro padre ortodoxo, São João Clímaco
(525-606) afirma que algumas visões e revelações podem ser
criadas pelo demônio do orgulho que os usa para plantar e nutrir
o orgulho dos devotos:
Quando o demônio do orgulho se estabelece em seus
servos, então, aparecendo para eles em um sonho ou em
uma visão em uma imagem de um anjo de luz ou um
mártir, ele lhes dá revelações de mistérios, como se um
dom entre os dons espirituais, a fim de que esses
infelizes, tendo sucumbido à tentação, completamente
percam a cabeça [191].
Um padre de Sinai, São Gregório [1260-1346 d.C.] demonstra
a continuidade ininterrupta da tradição patrística da oração e
segue a cautela contra as imagens mentais durante a oração:

− 20 −
Nunca aceite, se você ver qualquer coisa física ou
espiritual em seu interior ou no exterior, mesmo que
seja uma imagem de Cristo, ou a de um anjo, ou de
algum santo, ou uma luz aparece a você ou se mostra
em sua mente. A própria mente tem um poder natural
de imaginação e pode facilmente criar uma imagem
fantasiosa de uma coisa que ela deseja… Da mesma
forma, a lembrança de coisas boas ou ruins geralmente
mostra imagens na mente e leva a mente à
imaginação… [Filocalia 5:224]
Em outro lugar, São Gregório repete o mesmo aviso ainda
mais severamente:
Se, ao fazer sua tarefa de oração, você ver luz ou fogo
fora ou dentro de si mesmo, ou um rosto — de Cristo,
por exemplo, ou um anjo, ou de outra pessoa — não a
aceite, a fim de não sofrer danos. E você mesmo não
force a imaginação; não aceite ou permita que sua mente
guarde aquelas imagens que surgem por conta própria
[Filocalia 5:233].
Torna-se claro, pois, a razão de a tradição ortodoxa advertir
tão severamente contra aceitar qualquer imagem, mesmo aquelas
aparentemente vindas de Deus. Em vez disso, a ênfase é colocada
na humildade e arrependimento, que são vistos como a base e o
objetivo da oração. Santo Inácio Brianchaninov, resumindo essa
ênfase para os neófitos, escreveu:
Em relação a vozes e aparições, deve-se ter uma cautela
ainda maior: aqui, a ilusão demoníaca é mais próxima e
mais perigosa… É por isso que os santos padres
ensinaram aqueles que começaram a orar não confiar
em vozes e aparições — mas a rejeitá-las e não as
aceitar, deixando isso para o julgamento e a vontade de

− 21 −
Deus, assim como considerar a humildade mais útil do
que qualquer voz ou aparição [Obras 2004, 5:306].
A oração noética, de acordo com autores ortodoxos, é
alcançada “quando o nous puro de quaisquer pensamentos e ideias
reza a Deus sem distração” [Hierotheos 145].
Esse tipo de oração é alcançado por quietá-lo em vez de
incitá-lo com êxtase, ignorando aparições em vez de aceitá-las
como um sinal de perfeição pessoal, e deliberadamente
impedindo a mente de criar pensamentos e imagens em vez de
usá-la para exercitar a imaginação. Assim, visões extasiadas, que
eram o núcleo da devoção privada de alguns santos latinos
(católicos romanos), são consideradas pela tradição oriental
como uma tentação de evitar ou lutar, em vez de favores de Deus,
como Teresa e Matilde de Hackerborn as chamavam. Da mesma
forma, desejar as imagens e visões ou criá-las com o uso da
imaginação é vista como uma prática perigosa que leva a traumas
neuropsicológicos, não como uma forma aceitável de exercício
espiritual.
***
Tendo descrito brevemente a posição ortodoxa sobre o uso
de imagens mentais em oração, destaquei a rejeição e a não
aceitação das visões e da imaginação pelos Pais da Igreja. No
entanto, há algumas exceções e inconsistências notáveis. Por um
lado, autores patrísticos e ortodoxos certamente estão cientes de
que alguns (talvez, muitos) santos têm visões que vêm de Deus.
Relatos hagiográficos ortodoxos abundam em visões e
revelações, incluindo alguns no que parece ser o estado do êxtase
espiritual. Dos autores cujas obras foram examinadas acima, São
João Clímaco, por exemplo, relata uma aparição que teve durante
a oração, na qual até dialogou com o anjo:

− 22 −
Um anjo me iluminou quando estava sedento por mais
revelações. E novamente, estando no mesmo estado,
perguntei-lhe: “Como era o Senhor antes de aceitar a
imagem visível da natureza humana?” Mas o Príncipe
dos Anfitriões Celestiais não podia me ensinar isso,
além de que não lhe era permitido. Então eu pedi-lhe
para me revelar em que estado ele está agora. “Em um
que é específico para ele”, disse o anjo, “mas não
nestes.” Perguntei novamente: “Qual é o seu estado de
sentar à direita do Pai?” O anjo respondeu: “É
impossível compreender esse mistério através da
audição.” Implorei-lhe para me levar a isso, o que eu
desejava. Mas ele disse: “Este tempo ainda não chegou,
porque você ainda tem muito pouco do fogo da
incorrupção em você.” No entanto, eu não sei e não
posso dizer se eu estava no corpo ou fora do corpo
quando isso estava acontecendo comigo. [274-5]
É interessante nesta passagem que São João continuasse
perguntando aos anjos sobre os assuntos que são difíceis de
colocar dentro de um contexto soteriológico pessoal. De fato,
pode ser questionável se saber em que estado Cristo se senta à
direita do Pai aproximaria alguém da salvação. Ele está dizendo
que o anjo se recusou a responder e elaborar sobre esses assuntos.
No entanto, parece que São João não só teve uma visão, mas a
aceitou, conversou com ela, e desejou mais visões ou revelações.
São Gregório de Sinai, ao contar sobre seu encontro com um
monge santo chamado Maximus Capsokalivite, diz que este
último não só teve visões, mas também discorda daqueles que as
rejeitaram. Maximus se perguntou por que algumas pessoas
rejeitaram visões apesar do próprio Deus oferecê-las ao seu povo
através do Espírito Santo [Joel 2:28]:

− 23 −
Assim, o profeta Isaías viu o Senhor exaltado sobre um
trono alto e cercado por Serafins. O primeiro mártir
Estevão viu os céus se abrirem e o Senhor Jesus à direita
do Pai etc. Da mesma forma, hoje também os servos de
Cristo são dados a ver várias visões, que alguns não
acreditam e não as aceitam como verdadeiras, mas as
consideram enganadas, e aqueles que os veem chamam
de estar em um estado de autoilusão [Filocalia 5:474].
Não está claro se Maximus teria considerado a maioria das
visões de católicos romanas, não ortodoxas, de êxtase como
sendo de Deus, mas ele faz um adendo: “Quando esta graça do
Espírito Santo desce sobre alguém, então ela não mostra algo usual das
coisas deste mundo sensorial, mas mostra algo que ele nunca viu e
nunca imaginou” (5:475). Um pensamento muito semelhante está
contido nos ensinamentos de Santo Inácio Brianchaninov, que
apesar de ser um dos críticos mais francos das visões, afirma que
algumas delas são verdadeiras:
As verdadeiras visões e sentimentos espirituais
pertencem à próxima era, são totalmente imateriais,
não podem ser explicadas na área dos sentidos, através
de uma palavra material: este é o verdadeiro sinal do
que é verdadeiramente espiritual — A voz do Espírito
não é material; ela é totalmente clara e totalmente
imaterial: é uma voz noética. Da mesma forma, todos os
sentimentos espirituais não são materiais, são
invisíveis, não podem ser explicados ou claramente
transmitidos através de palavras materiais
humanas… (Obras 2004, 5:306-7)
No entanto, mesmo Santo Inácio provavelmente
reconheceria que algumas visões “transmitidas através de
palavras materiais humanas” eram, no entanto,
“verdadeiramente espirituais”. Não estou ciente de nenhum

− 24 −
autor ortodoxo, por exemplo, contestando a espiritualidade dos
relatos hagiográficos das visões de um anjo, como contado por
Abba Dorotheos de Gaza (505-565 d.C.), ou as visões da Teótoco
pelos Santos André e Epifânio (Século X d.C.), Sérgio de
Radonezh (aprox. 1314-1392 d.C.), Sérgio e Herman de Valaam
(Século XIV d.C.), Tikhon de Zadonsk (1724-1783 d.C.), ou
Serafim de Sarov (1759-1833 d.C.), a quem Santo Inácio
reverenciava como um mestre da oração (veja, por exemplo,
Obras de 2004, 1:198), ou a visão do Senhor pelo mesmo São
Serafim durante uma liturgia.
Talvez a aparente inconsistência em relação às visões
dos escritos patrísticos ortodoxos pode vir de sua
natureza pastoral (dos escritos). Embora os Pais
estejam cientes das verdadeiras visões de Deus e os
experimentem, eles também estão cientes dos perigos
reais ao longo do caminho espiritual e alertam os
adeptos menos experientes a não aceitarem nenhuma
visão até que um certo nível de maturidade espiritual e
uma habilidade de discernimento espiritual sejam
alcançados. Em outras palavras, os Pais advertem os
novatos para não terem o Diabo como iconógrafo.
Fundando a oração sobre arrependimento e humildade,
em vez de visões e revelações, uma pessoa permanece no
caminho correto e é capaz de superar as tentações e
ataques do Diabo, independentemente da presença ou
ausência de quaisquer visões. Caso contrário, a oração
fundada em visões extasiadas, segundo o pensamento
ortodoxo, coloca a alma, especialmente a de um novato,
no caminho do grande perigo.
O uso intencional e consciente da imaginação, por outro
lado, encontra menções favoráveis ou pelo menos tolerantes em
obras ortodoxas influenciadas pela espiritualidade ocidental não

− 25 −
ortodoxa. São Teófano, o Recluso (1815-1894 d.C.), por exemplo,
que geralmente é visto como um pouco mais tolerante com a
espiritualidade ocidental não ortodoxa do que Santo Inácio
Brianchaninov (com quem São Teófano entrou em polêmica em
mais de uma ocasião), escreveu que imaginar o Senhor é
aceitável: “Quando você contempla o Divino, então você pode
imaginar o Senhor como quiser”, mas ele acrescenta: “Durante a oração,
você não deve manter em sua mente qualquer imagem… Se você
permitir imagens, então há o perigo de começar a orar para um
sonho” [em Kuraev, Desafio 121].
Outro exemplo de influência ocidental não ortodoxa pode
ser visto nas obras de Nicodemos da Montanha Sagrada (1749-
1809 d.C.), um dos compiladores da Filocalia. Sua obra famosa
impressa em inglês sob o título Guerra Invisível, foi baseada em
Combattimento Spirituale por um padre Católico Romano não
ortodoxo Lorenzo Scupoli [Manual, 26], enquanto a obra
Exercícios Espirituais de Nicodemos foram baseados em Esercizii
Spirituali por Piramonti [28]. Nicodemos, em seu Manual de
Acompanhamento Espiritual, alerta sobre os perigos do uso da
imaginação, mas admite: “Finalmente, é permitido usar outras
imaginações apropriadas e virtuosas ao lutar contra certas imaginações
inapropriadas e malignas apresentadas pelo inimigo” [152]. A
sabedoria de tal conselho foi questionada por Santo Inácio
Brianchaninov que sugeriu que um de seus correspondentes
parasse de ler Guerra Invisível (que recentemente havia sido
traduzida para o russo por Teófano, o Recluso) [Obras de 2004,
5:274]. Embora nunca saibamos se o correspondente do santo
ouviu o conselho, o que é importante aqui é o fato de que mesmo
obras de respeitados autores ortodoxos, como São Nicodemos,
podem ser questionadas sem muita hesitação devido à
dissonância que criam com o caminho estritamente ortodoxo da
oração.

− 26 −
EM RESUMO:
Embora existam diferenças de opinião de autores ortodoxos,
como Santo Inácio Brianchaninov e Santo Teofano, o Recluso, a
atitude geral da tradição ortodoxa é proibir o uso de imagens
mentais na oração. Embora os adeptos dos degraus mais altos da
escada espiritual tenham visões e revelações, o conselho geral
para aqueles que não alcançaram a perfeição é rejeitar, ou pelo
menos ignorar, todas e quaisquer visões e aparições como
potencialmente perigosas. A base e o princípio fundador da
oração ortodoxa é o arrependimento e humildade, em vez de em
êxtase e “favores”.
Com relação ao uso consciente da imaginação durante a
oração, a proibição da tradição ortodoxa é igualmente forte.
Alguns usos da imaginação são vistos por alguns autores como
permitidos quando fora da oração, mas todas as fontes ortodoxas
conhecidas por mim falam unanimemente contra o uso
consciente e intencional da imaginação durante a oração. Assim,
parece haver uma clara diferença na área do uso de imagens
mentais entre a oração católica romana não ortodoxa, como
exemplificada pelos não ortodoxos considerados santos por
comunidades não ortodoxas como Teresa de Ávila, Ângela de
Foligno e Inácio de Loyola, por um lado, e a tradição ortodoxa de
oração apresentada pelos Santos Inácio Brianchaninov, Nílus e
Gregório dZ Sinai, João Clímaco, entre outros. Enquanto alguns
dos teólogos citados acima podem ter escrito, em parte, em
reação à experiência mística ocidental não ortodoxa, outros —
Macário (séc. IV d.C.), Nilo (séc. V d.C.), João (séc. VI d.C.), Isaac
de Nínive (séc. VI d.C.), e Simeão, o Novo Teólogo (séc. X-XI) —
constituem uma tradição anterior que antecede a vida de Teresa
de Ávila e Inácio Loyola por vários séculos. Assim, a influência
formativa dessa tradição patrística dos séculos recentes pode ser
traçada através dos escritos de autores ortodoxos posteriores.

− 27 −
Retiro Pastoral da Diocese da América Ocidental,
17 de março de 2009, São Francisco.

***

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Pecherin, V. S. Notes from Beyond the Grave. Moscow, 1989.


Rozanov, V. Near the Church Walls. Moscow, 1995.
– – -. Religion and Culture. Moscow, 1990.
– – -. Among the artists. Moscow, 1991.
Roshko, V. «Letters to Fr. Alexander Меn’». Messenger RCM 165 (1992).
Uspensky, L. А. «On the Path to Unity?» Philosophy of Russian Religious Art
in 16-20th centuries. An Anthology. Ed. N. Gavrushina. Progress:
Moscow, 1993. 350-74.
Theophan the Recluse, St. Collection of Letters. Moscow, 1994.
***
SVESHNIKOV, Padre Sérgio. Mental Imagery in Eastern Orthodox Private
Devotion. 2011. Disponível em: Pravmir.com | Acesso em: 08 jan. 2021.
***
Добротолцбие. 5 vols. Свято-Троицкая Сергиева Лавра, 1993.
Ельчанинов, А., свящ. Записи. Париж, 1962.
Игнатий (Брянчанинов), свят. Понятие о ереси и расколе. Москва, 1996.
– Собрание творений в пести томац. 6 vols. Правило веры: Москва, 2004.
– Творения. 4 vols. СПб, 1905.
Иерофей (Влахос), митр. Православная псицотерапия. Святоотеческий
курс врачевания дуции. Свято-Троицкая Сергиева Лавра, 2006.
Иоанн Лесквичник, преп. Лествица. Московское подворье Свято-
Троицкой Сергиевой Лавры: Москва, 2006.
Исаак Сирин, преп. О бопественныц тайнац и о дуцовной зизни.
Издательство Олега Абышко: Санкт-Петербург, 2006.
– Слова дуцовно-подвинические. Trans. Паисий (Величковский).
Кураев, А. Вызов цкуменизма. Издательский Совет Русской
Православной Церкви: Москва, 2003.

− 28 −
– – -. Традиция, догмат, обряд. Братство Святителя Тихона: Москва, 1995.
Лосев, А. П. Очерки античного символизма и мицологии. Москва, 1930.
– – -. Пилосоция. Мицология. Культура. Москва, 1991.
Макарий Египетский, преп. Дуцовные беседы, послания и слова.
Правило веры: Москва, 2002.
Никодим Святогорец, преп. Невидимая брань. Даръ: Москва, 2007.
Никон (Воробьев), игум. Нам оставлено покаяние. Сретенский
монастырь: Москва, 2005.
Осипов, А. И. Путь разума в поискац истины. Сретенский монастырь:
Москва, 2003.
Печерин, В. С. Замогильные записки. Москва, 1989.
Розанов, В. Около церковныц стен. Москва, 1995.
– – -. Религия и культура. Москва, 1990.
– – -. Среди пудоников. Москва, 1991.
Рошко, В., свящ. «Письма о. Александру Меню». Вестник РЦД 165 (1992).
Успенский, Л. А. «На путяц к единству?» Пилосоция русского
религиозного искусства XVI-XX вв. Антология. Сост. и ред. Н. К.
Гаврцина. Прогресс: Москва, 1993. 350-74.
Феофан Затворник, свят. Собрание писем. Москва, 1994.
Florensky, Pavel. O Pilar e o Chão da Verdade: Um Ensaio em Teódica
Ortodoxa em Doze Letras. Trans. Boris Jakim. PricetonUnivercity:
Princeton, 1997.
Hierotheos (Vlahos), Metropolitano. Psicoterapia Ortodoxa. A Ciência dos
Pais. Trans. Esther Williams. Mosteiro da Natividade da Teótoco:
Levadia, 2002.
James, William. Variedades de Experiência Religiosa: Um Estudo na Natureza
Humana. Charleston, 2007.
Nicodemos da Montanha Sagrada, St. Um Manual de Conselhos Espirituais.
Trans. Peter A. Chamberas. Nova Iorque, 1989.
O Leme (Pedalion). Ed. Ralph J. Masterjohn. CD-ROM. Brookfield: Ortodoxo,
2005.

− 29 −
Regra de são pacômio
Esta regra de oração foi dada a São Pacômio do Egito (290 – 345
d.C.), um dos grandes pais monásticos, por um anjo. Ele a usava
para consagrar cada hora do dia e da noite. Esta regra de oração
é bastante fácil de memorizar, pode e deve ser feita em situações
em que seja impraticável o uso de um livro de orações.

ORAÇÃO INICIAL
Pelas orações de nossos Santos Padres, Senhor
Jesus Cristo, nosso Deus, tem piedade de nós e
salva-nos. Amém.
Glória a ti, ó nosso Deus, glória a ti!

Rei celestial, Consolador, Espírito da Verdade,


presente em toda parte e ocupando todo lugar;
tesouro de bênçãos e Doador da vida, vem e
habita em nós, purifica-nos de toda a mancha, e
salva, ó Bondoso, as nossas almas!
✠ Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, tem
piedade de nós. (3x.)
✠ Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.
Amém.

−1−
Santíssima Trindade, tem piedade de nós; Senhor,
concede-nos a remissão dos nossos pecados;
mestre Soberano, perdoa as nossas ofensas; ó
Santo, volta o teu olhar para nós e cura as nossas
doenças, pelo teu santo nome.
Kyrie Eleison (3x.)
✠ Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.
Amém.
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o
teu nome. Venha (a nós) o teu Reino; seja feita a
tua vontade, assim na terra como no céu. O pão
nosso de cada dia dá-nos hoje, e perdoa as nossas
dívidas assim como nós perdoamos aos nossos
devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas
livra-nos do mal.
Senhor Jesus Cristo, filho de Deus, tem piedade de
nós. Amém.
Kyrie Eleison. (12x)
✠ Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.
Amém.

−2−
✠ Vinde! Adoremos e prostremo-nos ante o Rei
nosso Deus. ✠ Vinde! Adoremos e prostremo-nos
ante o Cristo-Rei nosso Deus. ✠ Vinde! Adoremos
e prostremo-nos ante o Cristo, nosso Rei e nosso
Deus.

SALMO 50 (51)
3Tem piedade de mim, ó Deus,
segundo a tua grande misericórdia;
segundo a tua grande clemência,
apaga minhas transgressões!
4Lava-me todo inteiro da minha iniquidade

e purifica-me do meu pecado!


5Pois reconheço minhas transgressões,
e tenho sempre presente o meu pecado.
6Pequei contra Ti, contra Ti somente,

e pratiquei o mal diante de teus olhos.


Assim serás considerado justo em tua sentença,
incontestável em teu julgamento.
7Eisque nasci culpado:
como pecador, minha mãe me concebeu.
8Tu queres sinceridade interior,

e no íntimo me ensinas sabedoria.

−3−
9Purifica-me com o hissope! e ficarei limpo.
Lava-me! e ficarei mais alvo que a neve.
10Faze-me ouvir júbilo e alegria

para que exulte os ossos que trituraste!


11Esconde de meus pecados o teu rosto

e apaga todas as minhas iniquidades!


12Ó Deus, cria para mim um coração puro
e renova-me por dentro com um espírito decidido!
13Não me afastes de tua presença,

nem retires de mim teu Santo Espírito!


14Restitui-me a alegria da tua salvação,

e sustenta-me com um espírito generoso!


15Então, ensinarei aos transgressores teus
caminhos,
e os pecadores a Ti se converterão.
16Livra-me do crime de sangue, ó Deus,

Deus da minha salvação!


e minha língua aclamará tua justiça.
17Abre, SENHOR, meus lábios!

e minha boca proclamará o teu louvor.


18Pois não te agradas de um sacrifício,
e se te oferecesse um holocausto, não o aceitarias.
19O sacrifício agradável a Deus é um espírito

contrito;

−4−
um coração contrito e humilhado
não desprezarás, ó Deus.
20Faze o bem a Sião, segundo a tua benevolência;

reconstrói os muros de Jerusalém!


21Então de agradarás dos sacrifícios devidos,

dos holocaustos e das oferendas completas:


dos novilhos que então serão oferecidos no teu
altar.

CREDO NICENO-CONSTANTINOPOLITANO

O Símbolo Apostólico da nossa Fé Ortodoxa é a


profissão de fé cristã pela qual os Mártires deram suas
vidas.
Creio em um só Deus, Pai onipotente, Criador do
céu e da terra, de todas as coisas visíveis e
invisíveis. E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho
unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos
os séculos: Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus
verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao
Pai, por ele todas as coisas foram feitas. E, por
nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos
céus e se encarnou pelo Espírito Santo, na Virgem
Maria, e se fez homem. E por nós foi crucificado
sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as

−5−
Escrituras. E subiu ao céu, onde está sentado à
direita do Pai. E de novo há de vir em sua glória,
para julgar os vivos e os mortos. O seu Reino não
terá fim. E no Espírito Santo, Senhor que dá a vida
e procede do Pai, e que com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado, ele que falou pelos Profetas.
E na Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica.
Professo um só batismo para a remissão dos
pecados. Espero a ressurreição dos mortos. E a
vida do mundo que há de vir. Amém.

LEITURA DAS ESCRITURAS


(Leia os textos recomendado pelo calendário litúrgico do dia.)

LEITURA HAGIOGRÁFICA
(Leia sobre a vida dos santos comemorados pelo calendário
litúrgico do dia.)

ORAÇÃO DE JESUS
Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim.
(100x ou quantas necessário. Aqui se utiliza o cordão de oração.)

DESPEDIDA
Verdadeiramente é digno e justo que te
bendigamos, ó bem-aventurada Teótoco. Tu, mais
venerável que os Querubins e incomparavelmente

−6−
mais gloriosa que os Serafins; deste à luz o Verbo
de Deus, conservando intacta a glória da tua
virgindade. Nós te glorificamos, ó Mãe de Nosso
Deus.
✠ Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Agora e sempre e pelos séculos dos séculos.
Amém.
Kyrie Eleison. (3x.)
Mestre, abençoa-nos!
Cristo, nosso verdadeiro Deus, tenha piedade de
nós e salve-nos, por sua filantropia e infinita
bondade, pela intercessão de sua puríssima e
imaculada Mãe, a gloriosa e sempre Virgem
Maria, de nossos santos Padres Teóforos, dos
Santos [nomes] cuja festa celebramos hoje, e de
todos os Anjos e Santos.

−7−
−8−

Você também pode gostar