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pela última vez, em um último olhar de despedida para enfim seguir seu caminho de
liberdade.
Enquanto o trem se movia cada vez mais rápido, a jovem se recordava do que a trouxe
a aquelas circunstâncias, onde tudo isso começou onde sua vida se tornou algo que ela
teria que lutar, para poder em fim chamar de sua. Chiyo tinha oito anos quando sua
vida se tornaria um borrão de tinta sobre o papel.
Em um dia comum na casa dos Sakamoto, sua mãe Sayuri estava fazendo tinta
artesanal para seus quadros, enquanto seu pai Nabu Sakamoto um artesão de bambu
estava recolhendo bambus em uma floresta não tão distante de sua casa.
Chiyo brincava com alguns grafites de sua mãe sobre o papel, escrevendo e
desenhando lendas sobre as quais ela ouvirá de sua mãe, Kagutsuchi-no-kami era o
que a garotinha escrevia o Deus do fogo, rabiscava chamas sobre o papel enquanto lia
sua pequena obra.
Para sua supresa faíscas começaram a saltar para fora do papel como fogos de
artifício, Chiyo se assustou, porém achou bonito as faíscas magicas que saiam de seu
papel, então o ergueu e balançou na esperança que fizesse mais fagulhas.
Chiyo desatenta mal percebia que o papel estava começando a pegar fogo em suas
mãos, a o sentir o calor em seus dedos Chiyo larga o papel em chamas no chão, o
assoalho de madeira em segundos se tornou fogo ardente a prendendo em um círculo
de fogo.
Sayuri mãe de Chiyo escuta seus gritos ao longe e corre para dentro da casa, e
encontra a mesma cercada por fogo, Sayuri rapidamente pula em meio as chamas e a
pega no colo. O fogo se alastrava rapidamente pela casa como se estivesse faminto,
Sayuri consegue chegar ao corredor próximo a saída da casa com Chiyo em seus
braços, ao se aproximar da porta a única saída que não havia sido consumida pelas
chamas, fora surpreendida pelo teto que desabou em frente bloqueando quase
totalmente a porta, deixando apenas uma fresta pequena demais para as duas
passarem.
No desesperado desejo de salvar sua filha, Sayuri pede para que Chiyo passasse pela
fresta, e foi o que ela fez. Sua mãe não conseguiria passar pela pequena abertura então
Sayuri olha para Chiyo pela última vez.
- Olhe para mim Chiyo, olhe para mim! - Dizia sua mãe segurando as lágrimas.
- Não importa o que aconteça fique segura, prometa para mim. Não foi sua culpa,
lembre-se disso.
- Eu te amo com todas as minhas forças, você é o mais belo lírio que já pintei - Disse
Sayuri em despedida.
E assim sua mãe é abraçada pelas chamas que a consumiram em instantes.
Chiyo e encontrada na calçada por seu pai, descalço e coberta de fuligem cantando e
chorando uma das músicas que sua mãe a ensinou.
Warabe Uta
kaguya hime no monogatari
とり むし けもの
Tori mushi kemono
くさ き はな
Kusa ki hana
はる なつ あき ふゆ つれてこい
Haru natsu aki fuyu tsurete koi
はる なつ あき ふゆ つれてこい
Haru natsu aki fuyu tsurete koi
とり むし けもの
Tori mushi kemono
くさ き はな
Kusa ki hana
ひとのなさけを はぐくみて
Hito no nasake wo hagukumite
まつと しき かば
Matsu to shiki kaba
いま かえりこむ
Ima kaerikomu
Um ano após a morte de sua mãe seu pai Nabu Sakamoto que um dia já foi um bom
homem, leva Chiyo para uma casa de chá de kyoto, pois depois de perde sua esposa
havia caído no mal hábito de beber frequentemente e bater em sua filha, que para ele
era a rasão de sua amada esposa ter morrido.
Chiyo sabia que seu pai não era mais o mesmo, que o homem que a amava não estava
mais ali. Na casa de chá de Hatsumomo Chiyo se ve em um grande pesadelo onde
teria que aprender a ser uma geiko, a jovem não tinha muito jeito para a dança más
Hatsumomo era rígida como a vara de bambú que usava para repreender lá.
- Se mova menina, seja uma folha de cerejeira ao vento - Ordenava Hatsumomo.
No fim de todos os dias Chiyo estudava caligrafia no sótão onde era seu guarto, algo
que ela amava já que com tinta e um pincel poderia escrever qualquer coisa sobre o
papel, reais ou não boas ou más não importava desde que ela as escrevessem, assim
ela escapava de sua realidade com sonhos escritos em papel com tinta e lágrimas.
- Você e como madeira e dura como uma porta, se não é boa para ser uma geiko então
sera uma ótima serviçal - Falava Hatsumomo.
- Como irá pagar o arroz que você come o kimono que veste, sendo assim tão
destrambelhada.
Chiyo aguentava as palavras de Hatsumomo e as guardava letra por letra, assim como
as palavras amargas de seu pai.
Sete longos anos servindo na casa de chá de Hatsumomo não como geiko e sim uma
mera serviçal, mas tudo isso ia mudar porque naquela noite Chiyo fugiria daquela
vida e iria para qualquer lugar longe dali.
Ao cair da noite Chiyo recolhe e pega seus poucos pertences como seus pergaminhos,
pincéis e tintas. Para poder sair daquele lugar Chiyo precisaria de dinheiro e na
tentativa de roubar um pouco da caixa registradora de Hatsumomo ela é pega no ato.
- Ah... eu sabia que um dia você acabaria fazendo isso - Declarou Hatsumomo com
uma vara de bambu em mãos.
- Venha cá sua garota insolente, vou ensiná-la a me obedecer.
Chiyo não iria desistir, agora ela não tinha mais medo e se qualquer pessoa ficasse
entre ela e sua liberdade iria sofrer as consequências. Então Chiyo desenrola um
pergaminho com escrituras emaranhadas sobre o papel em tinta escura.
- E assim a serpente negra se desenrola sobre o chão, e sobe sobre o corpo de
Hatsumomo apertando-a mais e mais até que ela caia sem ar e em desespero - Chiyo
recitava essas palavras tornando-as realidade.
barulho das pessoas saindo e malas sendo arrastadas pelo corredor do trem, com isso
Chiyo pega sua bouça com seus pertences e sai para plataforma.
O ar de Tokyo era pesado, diferente de kyoto que parecia sempre está em constante
movimento. Enquanto Chiyo se direcionava para saída da estação a mesma foi
surpreendida por uma senhora que erguia uma placa em mãos com uma logo em
forma de Kodama, vestida com um colete e uma viseira verde com o mesmo Kodama
estampado.
- Olá jovem, fez uma boa viagem? - Perguntou a senhora abaixando a placa.
- Sim. Respondeu - Chiyo baixinho.
- Ah sim, que ótimo.
- Gostaria de levar um broche e um saquinho de sementes - Disse a senhora retirada
de uma bolsa de algodão crú um saquinho de pano verde amarrado por uma fita
amarela.
- Leve isso, é da nossa instituição de preservação dos parques ecológicos de Tokyo.
Chiyo ergueu suas mãos e pegou o saquinho e em seguida agradeceu com um gesto
em silêncio.
- Aproveite Tokyo menina, e se puder venha ao evento de Plant a Tree no parque de
Sayama - Disse a senhora erguendo a placa novamente e se virando para a multidão.
A senhora Mameha era dona de uma velha casa de chá de kyoto ao lado de
Hatsumomo, onde tinha uma seleta e vasta lista de clientes muito importantes. A
garota se lembrava de sua generosidade e de seus atos de boa-fé, como em um dia
onde Chiyo se encontrava chorando nos fundos da casa de chá, por ter apanhado mais
uma vez de Hatsumomo.
- Não chore menina - Disse uma voz que vinha do outro lado da cerca de bambu.
- Ela não merece suas lágrimas.
- Quem está aí? - Perguntou Chiyo.
- Ninguém importante menina, só uma velha e aposentada gueixa - Respondeu a voz
ao lado da cerca.
Chiyo pegou o banquinho que usava para estender roupas no varal alta, e colocou
próximo a cerca para espiar.
- Olá menina com olhos de riacho - Falou a senhora quando Chiyo colocou sua cabeça
além da cerca.
A senhora estava sentada na varanda que dava para um jardim onde colocava fumo
em seu cachimbo.
- Sou Mameha e vc deve ser a menina de Hatsumomo, estou certa? - Declarou a
senhora.
Chiyo acenou com a cabeça em confirmação a pergunta de Mameha.
- Veja menina, não de motivos para que Hatsumomo se sinta sua dona, seja mais forte
do que ela.
- Hatsumomo é assim porque tem inveja de sua juventude e do que você possa vir a
viver.
- Sabe..., ela nem sempre foi assim. Hatsumomo ficou amarga quando um de seus
clientes numca mais pisou nessa Okiya - Revelou Mameha.
- Sei de tudo que se passa nessas Okiyas de kyoto, afinal sou uma velha gueixa a
muito tempo.
- Esse cliente era um jovem muito bonito, e pelo visto ele e Hatsumomo eram
amantes, más... não durou muito pois sua família era muito influente e rica e o jovem
já estava pré destinado a se casar com a filha de um grande empresário do ramo da
hotelaria.
Mameha disse muitas coisas sobre a velha kyoto e de suas aventuras na juventude
quando era uma gueixa, e também que tinha uma sobrinha em Tokyo e que Chiyo a
lembrará muito dela.
- Espere aqui menina, vou pegar uma foto de meu filho com minha sobrinha - Disse
Mameha animada.
- Olhe eles aqui.
Mameha entrega a Chiyo uma foto onde havia um jovem homem de cabelos
bagunçados pelo vento, e uma menina com um vestido amarelo que aparentava ter a
mesma idade que a jovem, eles sorriam em frente a grande torre vermelha de Tokyo.
Depois de visitar a torre de Tokyo, Chiyo segue para um templo nas proximidades de
shibuya, depois de um percurso contemplativo de ônibus através de Tokyo, Chiyo
finalmente chega a um grande parque no meio do caos da cidade ao seu redor.
Na entrada do templo Meiji havia um grande portal Torii de madeira um dos maiores
de shibuya, Chiyo passa pelo portal e adentra ao parque que possuía muitas árvores
altas que circulavam o perímetro do local.
Em frente as escadarias do templo Chiyo se depara com uma grande concentração de
turistas que tiravam fotos aos pés da grande construção milenar. Chiyo sobe as
escadas de pedra em direção ao interior do templo, más antes de passar para o outro
lado do pátio a jovem se purifica com as águas usando um dipper, lavando suas mãos
e bebendo a água em forma de respeito ao templo.
Chiyo desperta de sua mente e se ver rodeada por pessoas curiosas que cochichavam
ao seu respeito. Em meio a vergonha, medo e raiva a jovem corre em direção a saída
do templo Meiji, ao se próxima do grande torii na saída do templo Chiyo sente um
aperto no coração, como se uma fita estivesse se rompendo ao passar pelo portal.
Depois de caminhar sem rumo e desnorteada por algumas vielas Chiyo se depara com
uma loja peculiar que chama sua atenção, Sorte de Lótus era o que estava escrito em
uma placa com letras curvadas como serpentes.
Chiyo cai de joelho no chão em lágrimas com as mãos sobre o peito apertado, em
seguida começa a murmurar algo repetidas vezes.
- Coração de tinta sela-se agora! Coração de tinta sela-se agora! Coração de tinta sela-se
agora!
Enquanto Chiyo recitava essas palavras seu corpo se contorcia, seus braços
entortaram para trás e seu maxilar começou a se abrir de uma forma sobre humana.
Sua pele começou a se torna pálido como papel com veias negras como riscos de
grafite, seus olhos foram cobertos por uma névoa escura que a deixava longe de sua
aparência anterior.
Gotas de uma chuva escura como tinta começaram a cair sobre Chiyo, por uma fração
de segundos tudo parou, a chuva negra se congelou no tempo parada no ar.
As gotas escuras começaram a se moverem lentamente se unindo uma após a outra até
que uma cascata do líquido escuro se formassem sobre a cabeça de Chiyo.
- Não pare! Não faça isso, você pode lutar contra a escuridão que está dentro de você.
Seja forte não desista - Disse Aurora que se aproximava lentamente até Chiyo.
A forma líquida que parecia uma seda escura se aproxima de Chiyo e entra em sua
boca, a mesma começa a se engasgar com a forma escura que descia em sua garganta.
Em segundos toda a tinta escura é engolida por Chiyo que cai ao chão tossindo o resto
do líquido escuro, Aurora corre em disparada para pegar a cabeça de tio antes que a
mesma caísse no chão. Tudo está escuro, o silêncio ecoa não há nada ali nem ninguém
só o vazio absoluto.