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Capítulo 1.

A serpente a garça e as fagulhas no papel

C hiyo Sakamoto olhava pela janela do trem contemplando as cerejeiras de Kyoto

pela última vez, em um último olhar de despedida para enfim seguir seu caminho de
liberdade.
Enquanto o trem se movia cada vez mais rápido, a jovem se recordava do que a trouxe
a aquelas circunstâncias, onde tudo isso começou onde sua vida se tornou algo que ela
teria que lutar, para poder em fim chamar de sua. Chiyo tinha oito anos quando sua
vida se tornaria um borrão de tinta sobre o papel.

Em um dia comum na casa dos Sakamoto, sua mãe Sayuri estava fazendo tinta
artesanal para seus quadros, enquanto seu pai Nabu Sakamoto um artesão de bambu
estava recolhendo bambus em uma floresta não tão distante de sua casa.
Chiyo brincava com alguns grafites de sua mãe sobre o papel, escrevendo e
desenhando lendas sobre as quais ela ouvirá de sua mãe, Kagutsuchi-no-kami era o
que a garotinha escrevia o Deus do fogo, rabiscava chamas sobre o papel enquanto lia
sua pequena obra.

Para sua supresa faíscas começaram a saltar para fora do papel como fogos de
artifício, Chiyo se assustou, porém achou bonito as faíscas magicas que saiam de seu
papel, então o ergueu e balançou na esperança que fizesse mais fagulhas.
Chiyo desatenta mal percebia que o papel estava começando a pegar fogo em suas
mãos, a o sentir o calor em seus dedos Chiyo larga o papel em chamas no chão, o
assoalho de madeira em segundos se tornou fogo ardente a prendendo em um círculo
de fogo.

Sayuri mãe de Chiyo escuta seus gritos ao longe e corre para dentro da casa, e
encontra a mesma cercada por fogo, Sayuri rapidamente pula em meio as chamas e a
pega no colo. O fogo se alastrava rapidamente pela casa como se estivesse faminto,
Sayuri consegue chegar ao corredor próximo a saída da casa com Chiyo em seus
braços, ao se aproximar da porta a única saída que não havia sido consumida pelas
chamas, fora surpreendida pelo teto que desabou em frente bloqueando quase
totalmente a porta, deixando apenas uma fresta pequena demais para as duas
passarem.

No desesperado desejo de salvar sua filha, Sayuri pede para que Chiyo passasse pela
fresta, e foi o que ela fez. Sua mãe não conseguiria passar pela pequena abertura então
Sayuri olha para Chiyo pela última vez.
- Olhe para mim Chiyo, olhe para mim! - Dizia sua mãe segurando as lágrimas.
- Não importa o que aconteça fique segura, prometa para mim. Não foi sua culpa,
lembre-se disso.
- Eu te amo com todas as minhas forças, você é o mais belo lírio que já pintei - Disse
Sayuri em despedida.
E assim sua mãe é abraçada pelas chamas que a consumiram em instantes.
Chiyo e encontrada na calçada por seu pai, descalço e coberta de fuligem cantando e
chorando uma das músicas que sua mãe a ensinou.

Warabe Uta
kaguya hime no monogatari

まわれ まわれ まわれよ


Maware maware maware yo
みずぐるままわれ
Mizuguruma maware
まわっておひさんよんでこい
Mawatte ohisan yonde koi
まわっておひさんよんでこい
Mawatte ohisan yonde koi

とり むし けもの
Tori mushi kemono
くさ き はな
Kusa ki hana
はる なつ あき ふゆ つれてこい
Haru natsu aki fuyu tsurete koi
はる なつ あき ふゆ つれてこい
Haru natsu aki fuyu tsurete koi

まわれ まわれ まわれよ


Maware maware maware yo
みずぐるままわれ
Mizuguruma maware
まわっておひさんよんでこい
Mawatte ohisan yonde koi
まわっておひさんよんでこい
Mawatte ohisan yonde koi
とり むし けもの
Tori mushi kemono
くさ き はな
Kusa ki hana
さいて みのって
Saite minotte
ちったとて
Chittato te
うまれてそだて しんだとて
Umarete sodate shinda to te
かぜがふき あめがふり
Kaze ga fuki ame ga furi
みずぐるままわり
Mizuguruma mawari
せんぐり いのちがよみがえる
Senguri inochi ga yomigaeru
せんぐり いのちがよみがえる
Senguri inochi ga yomigaeru

まわれ めぐれ めぐれよ


Maware megure megure yo
はるかなときよ
Haruka na toki yo
めぐって こころを よびかえせ
Megutte kokoro wo yobikaese
めぐって こころを よびかえせ
Megutte kokoro wo yobikaese

とり むし けもの
Tori mushi kemono
くさ き はな
Kusa ki hana
ひとのなさけを はぐくみて
Hito no nasake wo hagukumite

まつと しき かば
Matsu to shiki kaba
いま かえりこむ
Ima kaerikomu

Um ano após a morte de sua mãe seu pai Nabu Sakamoto que um dia já foi um bom
homem, leva Chiyo para uma casa de chá de kyoto, pois depois de perde sua esposa
havia caído no mal hábito de beber frequentemente e bater em sua filha, que para ele
era a rasão de sua amada esposa ter morrido.
Chiyo sabia que seu pai não era mais o mesmo, que o homem que a amava não estava
mais ali. Na casa de chá de Hatsumomo Chiyo se ve em um grande pesadelo onde
teria que aprender a ser uma geiko, a jovem não tinha muito jeito para a dança más
Hatsumomo era rígida como a vara de bambú que usava para repreender lá.
- Se mova menina, seja uma folha de cerejeira ao vento - Ordenava Hatsumomo.
No fim de todos os dias Chiyo estudava caligrafia no sótão onde era seu guarto, algo
que ela amava já que com tinta e um pincel poderia escrever qualquer coisa sobre o
papel, reais ou não boas ou más não importava desde que ela as escrevessem, assim
ela escapava de sua realidade com sonhos escritos em papel com tinta e lágrimas.
- Você e como madeira e dura como uma porta, se não é boa para ser uma geiko então
sera uma ótima serviçal - Falava Hatsumomo.
- Como irá pagar o arroz que você come o kimono que veste, sendo assim tão
destrambelhada.

Chiyo aguentava as palavras de Hatsumomo e as guardava letra por letra, assim como
as palavras amargas de seu pai.
Sete longos anos servindo na casa de chá de Hatsumomo não como geiko e sim uma
mera serviçal, mas tudo isso ia mudar porque naquela noite Chiyo fugiria daquela
vida e iria para qualquer lugar longe dali.
Ao cair da noite Chiyo recolhe e pega seus poucos pertences como seus pergaminhos,
pincéis e tintas. Para poder sair daquele lugar Chiyo precisaria de dinheiro e na
tentativa de roubar um pouco da caixa registradora de Hatsumomo ela é pega no ato.
- Ah... eu sabia que um dia você acabaria fazendo isso - Declarou Hatsumomo com
uma vara de bambu em mãos.
- Venha cá sua garota insolente, vou ensiná-la a me obedecer.

Chiyo não iria desistir, agora ela não tinha mais medo e se qualquer pessoa ficasse
entre ela e sua liberdade iria sofrer as consequências. Então Chiyo desenrola um
pergaminho com escrituras emaranhadas sobre o papel em tinta escura.
- E assim a serpente negra se desenrola sobre o chão, e sobe sobre o corpo de
Hatsumomo apertando-a mais e mais até que ela caia sem ar e em desespero - Chiyo
recitava essas palavras tornando-as realidade.

Enquanto Hatsumomo se contorcia no chão emaranhada pela grande serpente de


tinta, Chiyo fugia para fora daquela velha casa de chá com seus poucos pertences em
direção a estação de trem, a jovem se deleitava com os gritos de Hatsumomo que a
cada passo era abafado pelo som noturno e do balanço das copas das árvores com o
vento do outono. E assim o pássaro saiu de sua gaiola, livre para enfim escrever sua
própria história.
Capítulo 2.
Lembranças e perdas

Q uando o trem para na estação de Tokyo, Chiyo acorda abruptamente com o

barulho das pessoas saindo e malas sendo arrastadas pelo corredor do trem, com isso
Chiyo pega sua bouça com seus pertences e sai para plataforma.
O ar de Tokyo era pesado, diferente de kyoto que parecia sempre está em constante
movimento. Enquanto Chiyo se direcionava para saída da estação a mesma foi
surpreendida por uma senhora que erguia uma placa em mãos com uma logo em
forma de Kodama, vestida com um colete e uma viseira verde com o mesmo Kodama
estampado.
- Olá jovem, fez uma boa viagem? - Perguntou a senhora abaixando a placa.
- Sim. Respondeu - Chiyo baixinho.
- Ah sim, que ótimo.
- Gostaria de levar um broche e um saquinho de sementes - Disse a senhora retirada
de uma bolsa de algodão crú um saquinho de pano verde amarrado por uma fita
amarela.
- Leve isso, é da nossa instituição de preservação dos parques ecológicos de Tokyo.
Chiyo ergueu suas mãos e pegou o saquinho e em seguida agradeceu com um gesto
em silêncio.
- Aproveite Tokyo menina, e se puder venha ao evento de Plant a Tree no parque de
Sayama - Disse a senhora erguendo a placa novamente e se virando para a multidão.

Ao sair da estação Chiyo se depara com enormes prédios, ruas lotadas e


movimentadas. A jovem garota nunca saiu de kyoto antes, e tudo aquilo era muito
grandioso para ela. Más ela não temia a imensidão de Tokyo, e com um mapa de
lugares turísticos em mãos Chiyo resolve conhecer tudo que puder no seu primeiro dia
nessa grande capital.
Enquanto Chiyo andava pelas ruas de Tokyo o barulho do trânsito se mistura com o
ruído que vem de sua barriga. Fome, ela não comerá nada durante a viagem seu
estômago estava roncando como um motor de carro velho.
Em uma viela com várias placas coloridas de comércios locais, Chiyo encontra uma
barraca de Dango com uma fila de umas seis pessoas, ela entra na fila pois Dango e um
de seus lanches favoritos. Ao chegar sua vez de ser atendida, a jovem se depara com o
vendedor um senhor que trajava um avental branco com Dangos coloridos
estampados, e em sua cabeça uma bandana azul.
O senhor da barraca de Dango fez Chiyo se lembra de seu pai. Quando sua mãe era
viva e seu pai ainda a amava, Nobu cozinhava para elas e sua especialidade era
misoshiru e tempura, Chiyo se lembrava de pedir para ele fazer Dango de sobremesa
com muita calda. Parecia que tudo isso não passou de um sonho para Chiyo.
- Senhoria! Não vai fazer seu pedido? - Perguntava o senhor da barraca.
Chiyo balançou sua cabeça e saiu de seu devaneio, e em seguida pediu dois Dangos
no palito com calda extra. Enquanto saboreava seu lanche, Chiyo se dirigia para um
ponto de ônibus pois sua próxima parada era a torre de Tokyo.
O ônibus para próximo a uma praça com ruas que subiam em direção a grande torre
vermelha, Chiyo desce do ônibus e caminha até o parque onde tiraria uma foto da
torre para se recorda do momento.
Ao chegar mais próximo da torre a jovem se recorda de uma boa pessoa que conheceu
em quanto estava em posse de Hatsumomo.

A senhora Mameha era dona de uma velha casa de chá de kyoto ao lado de
Hatsumomo, onde tinha uma seleta e vasta lista de clientes muito importantes. A
garota se lembrava de sua generosidade e de seus atos de boa-fé, como em um dia
onde Chiyo se encontrava chorando nos fundos da casa de chá, por ter apanhado mais
uma vez de Hatsumomo.
- Não chore menina - Disse uma voz que vinha do outro lado da cerca de bambu.
- Ela não merece suas lágrimas.
- Quem está aí? - Perguntou Chiyo.
- Ninguém importante menina, só uma velha e aposentada gueixa - Respondeu a voz
ao lado da cerca.
Chiyo pegou o banquinho que usava para estender roupas no varal alta, e colocou
próximo a cerca para espiar.
- Olá menina com olhos de riacho - Falou a senhora quando Chiyo colocou sua cabeça
além da cerca.
A senhora estava sentada na varanda que dava para um jardim onde colocava fumo
em seu cachimbo.
- Sou Mameha e vc deve ser a menina de Hatsumomo, estou certa? - Declarou a
senhora.
Chiyo acenou com a cabeça em confirmação a pergunta de Mameha.
- Veja menina, não de motivos para que Hatsumomo se sinta sua dona, seja mais forte
do que ela.
- Hatsumomo é assim porque tem inveja de sua juventude e do que você possa vir a
viver.
- Sabe..., ela nem sempre foi assim. Hatsumomo ficou amarga quando um de seus
clientes numca mais pisou nessa Okiya - Revelou Mameha.
- Sei de tudo que se passa nessas Okiyas de kyoto, afinal sou uma velha gueixa a
muito tempo.
- Esse cliente era um jovem muito bonito, e pelo visto ele e Hatsumomo eram
amantes, más... não durou muito pois sua família era muito influente e rica e o jovem
já estava pré destinado a se casar com a filha de um grande empresário do ramo da
hotelaria.
Mameha disse muitas coisas sobre a velha kyoto e de suas aventuras na juventude
quando era uma gueixa, e também que tinha uma sobrinha em Tokyo e que Chiyo a
lembrará muito dela.
- Espere aqui menina, vou pegar uma foto de meu filho com minha sobrinha - Disse
Mameha animada.
- Olhe eles aqui.
Mameha entrega a Chiyo uma foto onde havia um jovem homem de cabelos
bagunçados pelo vento, e uma menina com um vestido amarelo que aparentava ter a
mesma idade que a jovem, eles sorriam em frente a grande torre vermelha de Tokyo.
Depois de visitar a torre de Tokyo, Chiyo segue para um templo nas proximidades de
shibuya, depois de um percurso contemplativo de ônibus através de Tokyo, Chiyo
finalmente chega a um grande parque no meio do caos da cidade ao seu redor.
Na entrada do templo Meiji havia um grande portal Torii de madeira um dos maiores
de shibuya, Chiyo passa pelo portal e adentra ao parque que possuía muitas árvores
altas que circulavam o perímetro do local.
Em frente as escadarias do templo Chiyo se depara com uma grande concentração de
turistas que tiravam fotos aos pés da grande construção milenar. Chiyo sobe as
escadas de pedra em direção ao interior do templo, más antes de passar para o outro
lado do pátio a jovem se purifica com as águas usando um dipper, lavando suas mãos
e bebendo a água em forma de respeito ao templo.

Quando Chiyo adentra ao santuário, ela se deslumbra com as grandes vigas de


madeiras que formavam a grande construção ao seu redor, e um grande pátio de
pedra com ciprestes que a circulavam o templo.
Chiyo vai até o grande incensário em forma circular feito de pedra com grandes
dragões entalhados, uma névoa pairava ao redor vindo da queima dos incensos que
geravam um cheiro único e familiar.
Posicionado o incenso em meio a outros que já queimavam a um tempo, Chiyo risca
um grande fósforo em sua caixa fazendo fagulhas para que em seguida ele se
acendesse.

Um turbilhão de fagulhas invade os olhos de Chiyo e como fogo em pólvora


incendeiam sua mente com memória do dia em que sua mãe morrerá por sua causa.
Uma voz ecoou em sua cabeça como uma trombeta roca.
- Você me deu vida, e me alimentou com sacrifícios de pessoas que amava - Falou a
voz, como se fosse um velho amigo.
- Quem é você! Saía já da minha cabeça! - Declarou Chiyo em alto som.
- Já não pertenço a sua limitada imaginação, sou mais que um mero rabisco sobre o
papel. Respondeu a voz misteriosa.

Chiyo desperta de sua mente e se ver rodeada por pessoas curiosas que cochichavam
ao seu respeito. Em meio a vergonha, medo e raiva a jovem corre em direção a saída
do templo Meiji, ao se próxima do grande torii na saída do templo Chiyo sente um
aperto no coração, como se uma fita estivesse se rompendo ao passar pelo portal.
Depois de caminhar sem rumo e desnorteada por algumas vielas Chiyo se depara com
uma loja peculiar que chama sua atenção, Sorte de Lótus era o que estava escrito em
uma placa com letras curvadas como serpentes.

Ao entrar na loja Chiyo se depara com prateleiras repletas de caixas de incensos e


outras com frascos de diversos tamanhos, formas e cores. Haviam pedras sobre uma
mesa que possuíam cores lindas que reluziam a pouca iluminação do recinto, que era
ornado por esculturas de diversas entidades.
Chiyo se aproxima da mesa e toca em uma das pedras, no mesmo instante uma cortina
de fios de conta se abre, e para sua surpresa uma jovem mulher de cabelos azuis com
um semblante sereno sai pela cortina, fazendo os fios balançarem e ressoarem como
pequenos sinos ao vento.
A jovem mulher segurava uma pequena bandeja com duas xícaras de chá, ela repousa
a bandeja sobre uma mesa pequena e baixa, e em seguida se dirige a Chiyo.
- Ah você chegou, sente-se e beba uma xícara de chá comigo - Disse a mulher como se
esperasse por Chiyo.
- Nós nos conhecemos? - Perguntou Chiyo, sem saber o que falar para jovem mulher
estranha.
- Não, más... pelo visto o destino queria que isso acontecesse.
- Diga-me qual é o seu nome? - Perguntou a mulher misteriosa.
- Não me diga você quem é? - Retrucou Chiyo.
- Olhe... Não fui eu que entrou em uma loja desconhecida tocando nas coisas sem
permissão - Declarou a moça.
- Perdão me desculpe, não tenho boas recordações de pessoas que mal conhecia, como
não conheço você.
- Ah sim entendo, então acabaremos com isso - Falou a moça se servindo de chá
- Sou Aurora Kazayami dona da Sorte de Lótus.
- E você é...
- Sou Chiyo Sakamoto de Kyoto - Disse nervosa.
- Então Chiyo, sente-se e beba uma xícara de chá, parece estar meio abalada -
Convidou Aurora gentilmente.
Chiyo se sentou em frente a Aurora na mesinha que estava ocupada pela bandeja de
chá e um incensário vazio, Aurora pega o bule delicadamente e serve o chá para a
jovem.
- Beba, fara você se sentir melhor - Disse Aurora
Então Chiyo bebe o chá que estava em uma temperatura perfeita como se fosse feito
especialmente para aquele momento.
- Jasmim seu preferido, não é? - Falou Aurora.
A jovem se assustou com a pergunta e se engasgou por um breve tempo.
- Como você sabe? - Perguntou Chiyo, tossindo levemente.
- Nada de Mais, e o meu dom é isso que faço. Ajudo as pessoas quando elas se sentem
perdidas - Falou Aurora com tranquilidade.
- E você, está perdida?
A pergunta de Aurora fez a jovem garota se lembrava do que o ocorreu a instantes
atrás.
- Não sei, acho que sim. Na verdade, acho que todos estamos um pouco perdidos -
Declarou Chiyo.
- Sim isso é verdade, você gostaria de saber algo sobre seu futuro ou sobre alguém que
goste. Se pudesse?
- Ah... não sei, acho q...
Chiyo e interrompida por Aurora que levanta da mesa e se dirige a uma prateleira de
incensos, pega um de uma caixa e o acende e repousa o mesmo no incensário na mesa,
em seguida vai até o balcão da loja e retira de uma gaveta uma caixinha de madeira
com um desenho dourado da palma de Buda com o terceiro olho no meio.
Aurora repousa a caixinha na mesa e a abre, retirando de dentro um baralho de cartas
com desenho de um lado e o mesmo símbolo da caixa no outro verso.
- Posso jogar para você? - Perguntou Aurora embaralhando as cartas.
- Sim..., mas... como isso funciona - Falou Chiyo ansiosa.
- Ah é simples, é só você relaxar e deixar sua mente fluir com memórias e sentimentos,
apenas isso - Disse Aurora retirando algumas cartas e colocando as sobre a mesa.
- Vamos lá, o que temos aqui. Dizia Aurora enquanto virava as cartas.
A primeira carta a ser virada por Aurora havia uma figura de um homem, vestido
como um pierrot com uma trouxinha amarrado em uma haste.
Já a segunda carta tinha uma figura com um manto segurando uma varinha para o céu
com o símbolo do infinito sobre sua cabeça.
Por fim a terceira carta ao ser virada revelou uma caveira com um manto negro
montado em um cavalo branco.
- Consigo ver agora, está tudo aqui - Disse Aurora acariciando as cartas.
- Oque você ver? - Perguntou Chiyo.
- Vejo que você desfruta da sua liberdade, pois ela foi retirada de você por muito
tempo. Mas também vejo que você está sem rumo, perdida sem saber para onde ir -
Dizia Aurora contemplando as cartas.
- Só isso? - Disse Chiyo esfregando suas mãos que soavam.
- Calma menina, está aqui veja. Você tem muito poder ah... sim muito, más isso te
atormenta você o nega - Declarou Aurora.
Ao olhar a última carta Aurora dirige o olhar para Chiyo como se algo a ligassem por
aquele momento.
- Espere, você perdeu alguém, uma pessoa amada.
- Minha mãe, já faz um tempo - Falou Chiyo com a voz trêmula.
- Não, foi recente. Essa pessoa era uma velha amiga, alguém sabia de coração bom.
Chiyo se levantar abruptamente derrubando a xícara de chá sobre o chão, com as
mãos sobre o peito apertado com força ela sai da loja. Aurora segue a garota até a viela
em frente ao Sorte de Lótus.
- Se acalme Chiyo, você está bem? - Falou calmamente Aurora.
- De novo não... não... de novo não! - Repetia Chiyo em lágrimas.
- Todos que amo um por um, não aguento mais ele tira tudo de mim, essa maldição
essa vida. Eu não quero sentir mais nada, faça parar... faça parar... faça!

Chiyo cai de joelho no chão em lágrimas com as mãos sobre o peito apertado, em
seguida começa a murmurar algo repetidas vezes.
- Coração de tinta sela-se agora! Coração de tinta sela-se agora! Coração de tinta sela-se
agora!
Enquanto Chiyo recitava essas palavras seu corpo se contorcia, seus braços
entortaram para trás e seu maxilar começou a se abrir de uma forma sobre humana.
Sua pele começou a se torna pálido como papel com veias negras como riscos de
grafite, seus olhos foram cobertos por uma névoa escura que a deixava longe de sua
aparência anterior.
Gotas de uma chuva escura como tinta começaram a cair sobre Chiyo, por uma fração
de segundos tudo parou, a chuva negra se congelou no tempo parada no ar.
As gotas escuras começaram a se moverem lentamente se unindo uma após a outra até
que uma cascata do líquido escuro se formassem sobre a cabeça de Chiyo.
- Não pare! Não faça isso, você pode lutar contra a escuridão que está dentro de você.
Seja forte não desista - Disse Aurora que se aproximava lentamente até Chiyo.
A forma líquida que parecia uma seda escura se aproxima de Chiyo e entra em sua
boca, a mesma começa a se engasgar com a forma escura que descia em sua garganta.
Em segundos toda a tinta escura é engolida por Chiyo que cai ao chão tossindo o resto
do líquido escuro, Aurora corre em disparada para pegar a cabeça de tio antes que a
mesma caísse no chão. Tudo está escuro, o silêncio ecoa não há nada ali nem ninguém
só o vazio absoluto.

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