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RETÍCULA

Se observarmos com uma lente de aumento uma imagem impressa - por exemplo uma foto em uma revista, livro ou jornal -
notaremos que ela é composta por uma sucessão de centenas de milhares de pequenos pontos. Essa "rede" de elementos
geométricos é responsável pela composição das cores e dos degrades da imagem e é chamada retícula.

Nenhum dos processos de impressão usados atualmente pelas gráficas tradicionais tem a capacidade de depositar
quantidades diferentes de tinta num grau de variabilidade suficiente para compor as variações de tonalidades da imagem
original. Seja o processo offset, silk-screen, rotogravura, flexografia, ou tipografia, as tintas são distribuídas sobre as
matrizes de forma quase uniforme, ou seja, a mesma tonalidade de tinta e a mesma espessura de camada é aplicada sobre
todas as áreas das matrizes e, em seguida, transferidas para o suporte (o material sobre o qual se está imprimindo - papel
revestido, papel não revestido, tecido, plástico etc).
Em alguns casos é possível ao impressor fazer algum ajuste na distribuição das tintas atuando por "zonas" do tinteiro
da máquina impressora. Essas zonas são faixas paralelas que podem ser ajustadas para receber mais ou menos
tinta. Esse recurso é usado para compensar o consumo diferenciado de tinta para imprimir-se, por exemplo,
áreas muito escuras ou muito claras. No entanto essa regulagem nada tem a ver com todas as nuances e
degradês que formam uma imagem realística.
O uso do recurso de reticulagem permite reproduzir essas nuances por meio de uma ilusão ótica. Os pontos da
retícula variam em tamanho (ou quantidade) de modo que em áreas claras da imagem a superfície coberta de
tinta será relativamente pequena em relação à superfície branca do suporte. Em áreas escuras da imagem os
pontos serão maiores (ou em maior número) de modo que haverá mais áreas cobertas de tinta do que brancas.
Na impressão, todos os pontos da imagem reticulada receberão, em princípio, a mesma espessura de camada de
tinta (salvo os ajustes por zona mencionados acima). As diferenças de tonalidade da imagem original serão
substituídas por diferenças no tamanho relativo das áreas de cobertura de tinta. Não haverá, portanto, uma real
variação de tonalidades. A variação do tamanho - ou quantidade - dos pontos causa um efeito visual que imita
essa variação. Esse efeito deve-se ao fato da nossa visão não distinguir - a olho nu e em distância de observação
normal - os pequenos pontos que compõem a imagem reticulada. A cor que visualizamos é resultado de uma
"mistura" entre a luz refletida pelo suporte de impressão e aquela absorvida pelos pontos impressos criando, no
observador, a ilusão de variação tonal .

(Inserir figura 1)

A mesma análise realizada nos originais da reprodução impressa revelará imagens sem interrupção onde as diferenças de
cores são obtidas por diferentes concentrações de pigmentos (ou cristais de prata no caso de fotografias). Na verdade essas
imagens também se mostrarão descontínuas se observadas ao microscópio quando então a estrutura dos grãos de pigmento
será visível. As imagens originais, que exibem suas variações tonais sem a necessidade do recurso da reticulagem são
classificadas como sendo de tons contínuos.
Além das imagens fotográficas outros tipos de imagens precisam ser reticuladas. Na verdade, toda vez que se imprimem
degradês, nuances, sombreados, enfim, variações em uma ou mais cores, é necessário uso de retículas. Assim, um logotipo,
por exemplo, pode ser reticulado. A partir de quatro cores básicas - amarelo, magenta, cyan e preto - é possível obter-se
uma enorme gama de tonalidades graças ao uso da técnica de reticulagem.
A reticulagem é feita quando se dá saída ao arquivo da página. Um feixe de laser extremamente fino é responsável por
"desenhar", ponto por ponto, a retícula que vai compor a imagem a ser impressa. A formação dos pontos é obtida pelo
agrupamento de pontos ainda menores - os "dots" que resultam da exposição do laser sobre a mídia fotográfica nas
imagesetters ou sobre o cilindro fotosensível das impressoras eletrostáticas.

(Inserir figura 2)

Existem diferentes tipos de retícula que podem ser usados em artes gráficas. A reticulagem pode ser em amplitude
modulada - também chamada de retícula "convencional" ou em freqüência modulada, ou retícula estocástica. Esta última é
um desenvolvimento recente e ainda tem sido pouco utilizada embora apresente vantagens interessantes (e algumas
dificuldades operacionais nas fases de confecção das matrizes e impressão).

Retícula AM
Na retícula AM os pontos estão alinhados regularmente formando uma estrutura de distribuição uniforme. A distância entre
os pontos, de centro a centro, é constante para qualquer área da imagem. Disso resulta que a quantidade de pontos por
unidade de área é sempre igual. Os pontos variam em tamanho para formar as tonalidades.
A resolução da imagem reticulada é expressa em "linhas por polegada" (ou por centímetro). O termo "linhas" é uma
referência à distribuição regular da retícula e corresponde, exatamente, à quantidade de pontos em uma unidade
de comprimento linear da imagem.
O tamanho dos pontos adequado a reproduzir as diferentes gradações do original é considerado sempre em
relação ao espaço que os circunda. Essa relação é chamada porcentagem de ponto. Se numa determinada área
impressa temos pontos exatamente do mesmo tamanho dos intervalos entre eles dizemos que a retícula nessa
região é de 50%. Isso significa que metade da área está coberta de tinta (pontos impressos) e metade é o suporte
branco (sem impressão).

(Inserir figura 3)

As mesmas porcentagens de ponto podem ser obtidas com diferentes lineaturas de retícula. Quanto maior a
lineatura empregada maior é a quantidade dos pontos que formam a imagem e, portanto, maior é a sua resolução.
Com uma lineatura de retícula maior os pontos serão menores quando considerados isoladamente, independentemente da
proporção entre áreas impressas e intervalos. Maiores lineaturas implicam, também, em maior proximidade entre os
pontos.

(Inserir figura 4)

A princípio quanto maior a lineatura melhor a qualidade obtida na reprodução da imagem porque ela parecerá mais nítida e
bem definida. No entanto, lineaturas muito altas são difíceis de serem impressas. Os pontos de retícula sofrem alterações
de formato na fase de confecção das matrizes e também no momento da transferência da tinta na impressão. Essas
deformações podem implicar num aumento exagerado da porcentagem de ponto - o chamado ganho de ponto - alterando
consideravelmente a tonalidades reproduzidas. Essas deformações são críticas para lineaturas de retícula mais elevadas. O
tipo de suporte também tem grande influência na qualidade de impressão dos pontos de retícula. Quanto mais áspero o
suporte de impressão maior é o ganho de ponto e mais difícil o seu controle. Assim é muito importante adequar a lineatura
de retícula ao tipo de suporte e também ao sistema de impressão.
Para obter os melhores resultados é aconselhável manter contato com os técnicos da gráfica que vai imprimir o trabalho e
discutir com eles qual a melhor lincatura a ser utilizada num determinado trabalho. Infelizmente esse diálogo nem sempre é
possível. Como mera referência recomendamos alguns valores para serem usados em impressão offset:

Papel couchê, máquina plana 200 lpi


(reproduções de alta qualidade
como livros de arte, por exemplo)

Papel couchê, máquina plana 150 lpi


(trabalhos de média qualidade)

Papel offset, máquina plana 120 a 133 lpi

Papel jornal, máquina rotativa 80 a 100 lpi

Ao se determinar a lineatura de retícula a ser usada para dar saída a um arquivo é importante também levar-se em conta a
resolução do equipamento de saída. Existe uma relação estreita entre lineatura de retícula, resolução do dispositivo de saída
(impressora laser ou imagesetter) e o número de níveis de cinza reproduzíveis. Níveis de cinza é o nome que se dá aos
diferentes valores de porcentagem de ponto que o sistema de exposição a laser é capaz de construir a partir do agrupamento
dos "dots" microscópicos. Quando se usam lineaturas altas com resolução de saída baixa a quantidade de "dots" que pode
ser usada para compor um ponto de retícula pode não ser suficiente para gerar todos os valores de porcentagens de ponto
necessários para reproduzir as imagens da página. O resultado será degradês com "degraus". Idealmente são necessários
256 níveis de cinza para reproduzir todas as tonalidades processadas nos atuais sistemas de editoração eletrônica. Abaixo
apresentamos uma tabela que relaciona lineaturas de retícula e resolução de saída (em dpi) e os níveis de cinza obtidos
como resultado.

Resolução
de saída Lineatura de retícula

53 60 75 85 100 120 133 150 200


300 33 26 17
600 101 65 51 37
1200 256 256 200 145 101
1270 256 224 162 113 92
2400 256 256 256 256 256 145
2540 256 256 256 256 163
3600 256 256

Os pontos que formam a imagem reticulada podem ser de diferentes formatos. Os mais comuns são quadrados, redondos e
elípticos. A escolha do formato dos pontos também tem conseqüências na reprodução correta das tonalidades. Os pontos
quadrados e redondos dão uma sensação de "salto" nas passagens tonais nas áreas de porcentagem que correspondem ao
momento em que os pontos se tocam ligando-se uns aos outros. Com pontos quadrados isso acontece na faixa dos 50%.
Corri os pontos elípticos isso não acontece porque os pontos não se ligam pelos quatro cantos simultaneamente dando como
resultado transições de tonalidade mais suaves. Os pontos quadrados, por outro lado, tendem a definir melhor texturas
finas.

(Inserir figura 5)

Outra característica fundamental das imagens reticuladas é a inclinação das linhas de pontos em relação à imagem.
Quando se imprime uma sobreposição de retículas, como é o caso quando se reproduzem páginas coloridas em
que cada cor básica é uma imagem reticulada, podem surgir manchas distribuídas uniformemente, resultado da
repetição de um padrão de interferência entre as linhas de retícula sobrepostas. Esse efeito, muito desagradável,
é conhecido como moiré.
Para evitar o aparecimento das manchas de moiré, cada cor básica tem que ser reticulada com as linhas de
pontos numa determinada inclinação. Essas inclinações são referidas em graus em relação à base da página. A
menor diferença de inclinação que deve haver entre duas linhas de retícula para evitar-se o moiré é 30 graus.
Quando se imprime uma quadricromia não é possível manter-se essa diferença entre as quatro cores, Por causa
disso, um pouco de moiré é inevitável com retículas AM.

(Inserir figura 6)

A figura 6 mostra as inclinações tradicionalmente usadas em quadricromia. Moiré pode surgir também entre as
retículas e algum tipo de textura com distribuição em linhas presente na imagem como por exemplo em tramas
de tecidos.

Retícula FM (estocástíca)
Nesse tipo de reticulagem os pontos estão distribuídos de forma aparentemente aleatória sem qualquer tipo de alinhamento.
A reprodução das tonalidades é obtida pela variação na concentração dos pontos por área da imagem enquanto os pontos
têm todos basicamente o mesmo tamanho. Não é possível, portanto, falar em lineatura quando se usa retícula estocástica.
Além de uma reprodução de detalhes muito boa, graças ao fato dos pontos serem muito pequenos, a retícula FM apresenta a
vantagem de eliminar totalmente o moiré já que não existe alinhamento uniforme de pontos. O equilíbrio de cores,
principalmente de tons neutros, é melhorado também. Como desvantagens podemos citar uma maior dificuldade em se
reproduzir, sobre as matrizes de impressão, os pontos extremamente finos que caracterizam esse tipo de retícula e mesmo
de imprimi-los dentro de limites aceitáveis de ganho de ponto. Apesar disso algumas empresas têm testado essa opção com
bons resultados.

(Inserir figura 7)

Manoel Manteigas de Oliveira é diretor da Escola SENAI Theobaldo De Nigris e gerente técnico da ABTG - Associação
Brasileira de Tecnologia Gráfica.

Extraído da Revista Publisher, ano 6, n.º 27, de novembro/dezembro de 1996, pág. 24-30

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