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Hidrogeologia

Professor Alberto Teixeira


Curso de Tecnologia em Saneamento
Ambiental
Sumário

Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

I PRINCÍPIOS BÁSICOS DA HIDROGEOLOGIA 3

1 A IMPORTÂNCIA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 A OCORRÊNCIA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5


2.1 O Ciclo Hidrológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Evapotranspiração Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Deflúvio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.4 Infiltração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.5 O Balanço Hídrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.6 Distribuição Vertical da Água Subterrânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.6.1 Aquíferos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.7 Tipos de Aquíferos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.7.1 Aquíferos quanto à pressão nas camadas limítrofes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.7.1.1 Aquíferos Livres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.7.2 Aquíferos quanto às características litológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.7.2.1 Aquíferos porosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.7.2.2 Aquíferos cársticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.7.2.3 Aquíferos em rochas magmáticas ígneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3 MOVIMENTO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11


3.1 A Lei de Darcy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2 Condutividade Hidráulica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.3 Relação Água Superficial x Água Subterrânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2
Parte I

Princípios Básicos da Hidrogeologia

3
1 A Importância das recurso hídrico disponível para uso humano. Até re-
giões desérticas, como a Líbia, têm a demanda de

Águas Subterrâneas água em cidades e na irrigação atendida por poços


tubulares perfurados em pleno deserto do Saara.
A região do NEB, que vem sofrendo com as se-
veras e seguidas secas desde 2010 até o ano de
O aproveitamento das águas subterrâneas data 2017, recorreu de forma emergencial à perfuração
de tempos antigos e sua evolução tem acompa- de poços para tentar garantir o abastecimento das
nhado o desenvolvimento de técnicas de explora- inúmeras cidades que entraram em colapso. No Ce-
ção dos recursos ambientais pelo homem. O uso ará, por exemplo, de 2015 a 2017, foram construídos
crescente, neste processo, deve-se principalmente mais de 4 mil poços, a maioria deles inclusive no
ao advento de novos procedimentos construtivos e cristalino, cuja ocorrência de água salina tem maior
de bombeamentos de poços. Assim, são crescentes probabilidade. É importante ressaltar que este nú-
as variadas demandas atendidas por poços, como mero corresponde a uma aproximação do número
irrigação, indústrias, cidades, dentre outros. de construções realizadas pelo Estado. Este se
A literatura em geral apresenta uma série de da- eleva e é bem difícil de se estimar por conta das
dos que evidenciam a importância ao abastecimento construções privadas sem outorga ou irregulares.
de cidades por todo o planeta. Nos Estados Uni- As Águas Subterrâneas não são uma boa alter-
dos, por exemplo, 40% das cidades e fazendas do nativa ao abastecimento somente como fonte em
Estado da Califórnia têm como fonte aquíferos sub- períodos de emergência por períodos prolongados
terrâneos, embora muitas dessas explotações não de seco. No âmbito de sua qualidade d’água, tam-
ocorra de maneira sustentável, sobretudo por exce- bém apresentam uma série de vantagens:
derem a capacidade dos aquíferos (CHAPPELLE;
HANAK; HARTER, 2017). • Devido às características do meio ao qual per-
tencem, são águas difíceis de serem contami-
Figura 1 – poço sendo perfurado no Município de
nadas inclusive com boa qualidade do ponto
Iguatu-CE.
de vista de contaminação por agentes patoló-
gicos, dispensando tratamentos especiais;

• Apresentam uma qualidade

• Quando da ocorrência de aquíferos próximos


às cidades a serem abastecidas, o uso das AS
dispensa grandes gastos com redes de distri-
buição;

• Além disso, a construção de poços é mais rá-


pida;

• São sistemas que sofrem poucas perdas por


evaporação;

• São de operação simples e exigem mão-de-


obra menos especializada;

Fonte: (BARBOSA, 2015)

Segundo ABAS (2009), regiões e áridas semi-


áridas (Nordeste do Brasil (NEB) e a Austrália), e
certas ilhas, têm a água subterrânea como o único

4
2 A Ocorrência das 2.2 Evapotranspiração Real

Águas Subterrâneas Evapotranspiração termo que designa a


ocorrência de dois fenômenos concomi-
tantes: Evaporação + Transpiração;

Evaporação processo através do qual as mo-


2.1 O Ciclo Hidrológico léculas de água na superfície líquida ou
na umidade do solo adquirem suficiente
energia, através da radiação solar e pas-
Ciclo Hidrológico, ou ciclo da água, é o mo-
sam do estado líquido para o de vapor
vimento contínuo da água presente nos
(FEITOSA; FILHO, 2000);
oceanos, continentes (superfície, solo e
rocha) e na atmosfera. Esse movimento Transpiração o processo pelo qual as plan-
é alimentado pela força da gravidade e tas perdem água para a atmosfera (FEI-
pela energia do Sol, que provocam a eva- TOSA; FILHO, 2000).
poração das águas dos oceanos e dos
continentes (FEITOSA; FILHO, 2000).
Ambos os processos, evaporação e transpira-
ção, ocorrem, na parcela continental, simultanea-
A Figura 1 apresenta esquema de como o ci- mente e são difíceis de serem determinados de
clo hidrológico se dá na natureza. Nela, percebem- forma separada. Eis o motivo de ambos serem tra-
se as várias etapas, ou caminhos, da circulação da tado como unidade. São de bastante interesse das
água na atmosfera. São elas: ciências hidrológicas aplicadas à agricultura e ao
balanço hídrico de reservatórios, dentre outras apli-
cações.

• Evaporação e transpiração; A literatura traz os conceitos de Evapotrans-


piração Real (ETR) e Evapotranspiração Poten-
cial (ETP). Silva (2015) descreve modelos clássi-
• Condensação em formas de nuvens; cos para o cálculo da ETP como o Thornthwaite,
Hargreaves-Samani, Penman-Monteith, dentre ou-
• Precipitação; tros.

2.3 Deflúvio
• Escoamento superficial;

Deflúvio, escoamento superficial ou run-off


• Infiltração; (R), é o processo pelo qual a água de
chuva precipitada na superfície da Terra
flui por ação da gravidade, das partes
• Armazenamento de diversas naturezas (no
mais altas para as mais baixas, nos lei-
continente, nos oceanos, nas geleiras, no
tos dos rios e riachos. (FEITOSA; FILHO,
subsolo etc.).
2000).

Cada uma dessas etapas é regida por diversos O escoamento superficial é função da intensi-
elementos, tais como gravidade, insolação, tempe- dade da precipitação, bem como de características
ratura, ventos e umidade relativa do ar, dentre ou- fisiográficas da bacia hidrográfica. São objeto de es-
tros. Os subitens da sequência apresentam defini- tudo da hidrologia e nas últimas décadas têm-se de-
ções sobre cada uma destas etapas. senvolvido modelos capazes de fornecer resultados

5
satisfatórios quando da previsão do escoamento por Figura 3 – Gráfico da infiltração
transformação da chuva em vazão.

2.4 Infiltração

Infiltração corresponde ao processo de pe-


netração e umedecimento do solo pela
água mediante preenchimento dos seus
interstícios (vazios). É medida em mm ·
h−1 .

O fenômeno infiltração foi bastante estudado por


Horton. Este, a partir de ensaios de campo, con-
seguiu estabelecer uma relação empírica para re-
presentar a redução em função do tempo da capa- 2.5 O Balanço Hídrico
cidade de infiltração do solo quando sujeito a uma
precipitação com intensidade superior a essa capa- Balanço hídrico é o somatório das quantida-
cidade. Em (2.1) pode-se observar a Equação de des de água que entram e saem de uma
Horton. certa porção do solo em um determi-
nado intervalo de tempo. O resultado é
a quantidade líquida de água que nele
permanece disponível às plantas (TOMA-
f(t) = fc + (f0 − fc ) × e−k t em que: (2.1) SELLA; ROSSATO, 2005).

• f(t) : capacidade de infiltração em função do Desta forma, compreende-se um sistema fe-


tempo [L · T −1 ]; chado onde ocorre o armazenamento de água na
superfície, em rios, lagos, oceano, na atmosfera. O
balanço das variáveis de entrada e saída desse sis-
• fc : capacidade de infiltração mínima [L · T −1 ]; tema corresponde ao que ele armazena, como pode
ser ilustrado pela Figura 4. As variáveis correspon-
• f0 : capacidade inicial de infiltração (para t = 0) dem aos fenômenos que integram o ciclo hidrológico
[L · T −1 ]; (seção 2.1).

Figura 4 – representação esquemática do balanço


• k: constante característica do solo [ ]; hídrico
Entrada

• t: tempo [T ].

Observe que, na equação, a capacidade de infil-


tração mínima fc corresponde a uma assíntota da Saída

curva exponencial, apresentada na Figura 3. Ou Fonte: (FEITOSA; FILHO, 2000).

seja, a um tempo suficientemente grande, a capa-


cidade de infiltração do solo tende a esse valor. A partir do modelo simplificado apresentado na

6
figura, pode-se deduzir (2.2). A dificuldade na solução dos problemas práti-
cos decorre sobretudo da imprecisão das medições
dS ou estimativas dos vários termos da equação (2.3).
= E − S em que: (2.2)
dt Para estudos locais, é quase sempre possível fazer
estimativas confiáveis, porém a quantificação a nível
• dS
dt : variação do armazenamento em função do
regional é geralmente grosseira (FEITOSA; FILHO,
tempo;
2000).
• E: variável de entrada;

• S: variável de saída. Figura 6 – fluxograma de movimento da água no ci-


clo hidrológico
Figura 5 – representação esquemática do balanço PRECIPITAÇÃO
hídrico
P Escoamento Infiltração Armazen. Superf.

ETR
Evaporação Evapotranspiração Evaporação

Infiltração

Armaz. Superf. Armaz. Subter. Infiltração

Variável entrada (E) Variável saída (S)


Q Armazenamento

I Fonte: adaptado de (FILHO, 2016).

Fonte: Elaborado pelo autor.


2.6 Distribuição Vertical da Água Subter-
A precipitação de água ocorre sobre o solo e rânea
oceanos, a partir dos quais a água retorna à atmos-
fera através da evaporação. Da água que atinge o A água presente no solo, abaixo da superfície do
solo, parte é armazenada em depressões e parte irá terreno, nas formações geológicas é dividida na ver-
infiltrar-se no solo. Também no subsolo, age a eva- tical em duas grandes camadas horizontais, são a
poração, além da água dali retirada pelas plantas zona saturada e a não saturada (vide Figura 7), de
e que retorna à atmosfera, através da transpiração. acordo com a porção relativa de vazios ocupados
Parte da água infiltrada irá abastecer os lençóis sub- pela água.
terrâneos, que eventualmente irão escoar, atingindo
rios e oceanos. Compreendendo-se quais parcelas
correspondem a entradas e quais são saídas (vide Figura 7 – fluxograma de movimento da água no ci-
fluxograma da Figura), pode-se chegar a (2.3). clo hidrológico

∆S = P − ET R − D − I em que: (2.3)

• ∆S: variação de armazenamento;

• P : precipitação (entrada);

• ET R: evapotranspiração;

• D: deflúvio ou escoamento superficial;

• I: infiltração.

7
2.6.1 Aquíferos
A Zona Saturada ou zona de saturação se si-
tua logo abaixo do nível freático, apresen-
Aquíferos são formações geológicas providas
tando vazios totalmente preenchidos por
de quantidades significativas de água em
água.
movimento natural.
Nível Freático, lençol freático ou superfície
freática corresponde à parcela de água
no solo sujeita à pressão atmosférica. São o objeto principal dos estudos das águas
subterrâneas e encontram-se em diversos tipos.
Zona não Saturada, zona de aeração ou va-
Além destas formações, são encontrados ainda
dosa (equivalente a rasa) corresponde à
aquicludes, aquitardos e aquífugos.
área acima do lençol freático e abaixo da
superfície do terreno.
Aquicludes são meios rochosos impermeá-
veis, embora apresentem porosidade.
Pode armazenar água, mas não a trans-
Na zona vadosa podem ser identificadas três porta tal como os aquíferos. Pode-se ci-
sub-camadas, como pode ser observado na Figura tar como exemplo uma camada de argila.
8. São elas a sub-camada de evapotranspiração, a
Aquitardos são meios rochosos que arma-
zona intermediária e a franja capilar.
zenam e transportam água, no entanto
Figura 8 – Representação das sub-camadas da a taxas bastante baixas. Tem com-
zona vadosa portamento de uma membrana semi-
permeável.

Aquífugos é uma rocha que não armazena


nem transporta água, uma vez que são
desprovidas de porosidade e de perme-
abilidade, tendo como principal exemplo
uma rocha cristalina não fraturada.

Figura 9 – Exemplos de aquiclude e aquífero.

A sub-camada de evapotranspirção ou
zona de água no solo, corresponde
à parte superficial do terreno, apre-
sentando como limite os extremos
radiculares.

A camada intermediária , consiste da zona


de transição entre a camada de evapo-
transpiração e a
A Figura 9 apresenta exemplos de aquiclude e
zona capilar, que trata da camada limitada aquífero livre. Observe em 1 que o a formação ro-
pela altura até onde a água ascende por chosa é impermeável, uma vez estar impedindo a
capilaridade. drenagem de 2 - lençol freático suspenso - para o
aquífero.

8
Figura 10 – dinâmica de aquíferos segundo suas superfícies potenciométricas e camadas limítrofes

Área de Não Drenante


recarga drenante

Semi-permeável → Aquitardo

Superfície potenciométrica
Aquífero B
Mar

Aquífero C

Aquífero B

Aquífero A
Impermeável →
Aquiclude

2.7 Tipos de Aquíferos 2.7.1.1 Aquíferos Livres

Os aquíferos podem ser classificados segundo Também denominados não confinados ou freáti-
dois critérios: cos. São aqueles cujo limite superior corresponde
à superfície de saturação ou freática na qual todos
os pontos se encontram à pressão atmosférica. As
• Quanto à pressão exercida ao escoamento pe-
áreas de recarga dos aquíferos confinados consis-
las suas camadas limítrofes;
tem de aquíferos livres através dos quais os exces-
• Quanto ao meio litológico ao qual pertence. sos de água da chuva conseguem penetrar por in-
filtração. Os aquíferos livres também se classificam
em drenantes (ou de base semipermeável) e não
2.7.1 Aquíferos quanto à pressão nas cama-
drenantes (ou de base impermeável).
das limítrofes
Recomenda-se examinar atentamente a Figura
Os aquíferos podem ser classificados de acordo
2.6.1, a fim de se fixarem os conceitos então des-
com a pressão das águas nas suas superfícies li-
critos. Por exemplo, o aquífero freático A é pene-
mítrofes (superior, chamada topo, e inferior, cha-
trado pelo poço 5 e fica situado acima de dois aquí-
mada base) e, também, em função da capacidade
feros confinados B e C. As condições de confina-
de transmissão de água dessas respectivas cama-
mento dos vários aquíferos envolvidos podem variar
das limítrofes (do topo, camada confinante superior,
de livre a confinadas e confinadas drenantes, como
e da base, camada confinante inferior), conforme
se observa no aquífero B. A magnitude e a direção
ilustrado na Figura 2.6.1. Em relação à pressão nas
das filtrações verticais ou drenanças são determina-
superfícies limítrofes, os aquíferos podem ser clas-
das pelas elevações das superfícies potenciométri-
sificados em:
cas de cada um desses aquíferos.

• Aquífero livre; Assim, os limites entre as várias porções confi-


nadas e livres podem mudar com o tempo, se as
• Aquífero confinado. posições das superfícies potenciométricas forem al-

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teradas. Existe um caso especial de aquífero livre buída, permitindo que a água flua para qualquer di-
denominado de aquífero suspenso, quando é for- reção, em função tão somente dos diferenciais de
mado sobre uma camada impermeável ou semiper- pressão hidrostática ali existente. Essa propriedade
meável de extensão limitada e situada entre a su- é conhecida como isotropia.
perfície freática regional e o nível do terreno. Esses
aquíferos às vezes existem em caráter temporário, 2.7.2.2 Aquíferos cársticos
na medida em que drenam para o nível freático sub-
Estes são formados em rochas calcárias ou car-
jacente.
bonáticas, onde a circulação da água se faz nas
fraturas e outras descontinuidades (diáclases) que
2.7.2 Aquíferos quanto às características lito- resultaram da dissolução do carbonato pela água.
lógicas Essas aberturas podem atingir grandes dimensões,
A litologia do aquífero, ou seja, a sua constituição criando, nesse caso, verdadeiros rios subterrâneos.
geológica (porosidade/permeabilidade intergranular São aquíferos heterogêneos, descontínuos, com
ou de fissuras) é que irá determinar a velocidade da águas duras, com fluxo em canais. As rochas são
água em seu meio, a qualidade da água e a sua os calcários, dolomitos e mármores.
qualidade como reservatório. Essa litologia é decor-
2.7.2.3 Aquíferos em rochas magmáticas ígneas
rente da sua origem geológica, que pode ser fluvial,
lacustre, eólica, glacial e aluvial (rochas sedimen- Formados por rochas ígneas, metamórficas ou
tares), vulcânica (rochas fraturadas) e metamórfica cristalinas, duras e maciças, onde a circulação da
(rochas calcárias), determinando os diferentes tipos água se faz nas fraturas, fendas e falhas, abertas
de aquíferos. devido ao movimento tectônico. Ex.: basalto, grani-
tos, gabros, filões de quartzo, etc.
Figura 11 – Tipos de aquíferos quanto à litologia
A capacidade dessas rochas de acumularem
água está relacionada à quantidade de fraturas,
suas aberturas e intercomunicação, permitindo a in-
filtração e fluxo da água. Poços perfurados nessas
rochas fornecem poucos metros cúbicos de água
por hora, sendo que a possibilidade de se ter um
poço produtivo dependerá, tão somente, desse poço
interceptar fraturas capazes de conduzir a água.
Nesses aquíferos, a água só pode fluir onde hou-
verem fraturas, que, quase sempre, tendem a ter ori-
entações preferenciais. São ditos, portanto, aquífe-
ros anisotrópicos. Um caso particular de aquífero
2.7.2.1 Aquíferos porosos fraturado é representado pelos derrames de rochas
vulcânicas basálticas, das grandes bacias sedimen-
São aqueles formados por rochas sedimentares
tares brasileiras.
consolidadas, sedimentos inconsolidados ou solos
arenosos, onde a circulação da água se faz nos
poros formados entre os grãos de areia, silte e ar-
gila de granulação variada. Constituem os mais im-
portantes aquíferos, pelo grande volume de água
que armazenam, e por sua ocorrência em grandes
áreas. Esses aquíferos ocorrem nas bacias sedi-
mentares e em todas as várzeas onde se acumula-
ram sedimentos arenosos.
Uma particularidade desse tipo de aquífero é sua
porosidade quase sempre homogeneamente distri-

10
3 Movimento das definidas, envolvendo três parâmetros fundamentais
porosidade, condutividade hidráulica e coeficiente

Águas Subterrâneas de armazenamento presente capítulo trata do mo-


vimento da água subterrânea apenas nos aquíferos
porosos representados tanto pelas rochas sedimen-
tares clásticas (arenitos), como por sedimentos in-
Séculos de experiência e estudo formaram o consolidados, como dunas e aluviões, abrangendo,
conceito de ciclo hidrológico (Seção 2.1), que trata também, elúvios, colúvios e camadas de intempe-
do movimento da água na hidrosfera e no qual a rismo.
água subterrânea é um dos componentes. O vapor
d’água proveniente da evaporação e evapotranspira- 3.1 A Lei de Darcy
ção precipita-se em forma de chuva, podendo uma
parte escoar ou evaporar e outra infiltrar-se. Em 1856, o engenheiro hidráulico francês Henry
Darcy pesquisava o escoamento de água em filtros
Do total infiltrado um certo percentual fica retido
de areia, utilizando um dispositivo similar ao mos-
na camada superior do solo e o restante percola em
trado esquematicamente na Figura 12. Darcy con-
direção a camadas inferiores para alimentar os aquí-
cluiu, com suas pesquisas, que a vazão do escoa-
feros. E do movimento dessa última parcela que
mento (volume por unidade de tempo) apresentava
trata esse capítulo A água subterrânea pode mover-
as seguintes características:
se pelos poros ou vazios originais da rocha (porosi-
dade primária) ou nas fissuras e cavidades de dis- Figura 12 – Esquema de escoamento em meio po-
solução, desenvolvidas após a sua formação (poro- roso isotrópico.
sidade secundária).
DH Q
A porosidade primária ocorre, geralmente
excetuando-se em algumas rochas vulcânicas), nas pB / g
pA / g
rochas sedimentares, dando origem aos aquíferos
porosos. A porosidade secundária está associada
aos chamados meios anisotrópicos, originando o
aquífero fissural, no caso de fraturas e fissuras em
L zB
rochas cristalinas (ígneas e metamórficas), e o aquí- Q

fero cárstico no caso da dissolução de rochas carbo- zA


náticas.
Datum
A nível microscópico, o movimento da água sub-
terrânea em um meio poroso pode ser muito com-
plexo, devido à irregularidade dos poros e canalícu- • era proporcional à seção transversal (A) do fil-
los através dos quais o fluido deve passar. Nos pri- tro;
mórdios da segunda metade do século dezenove,
• era proporcional à diferença de cargas hidráu-
o francês Henry Darcy conseguiu demonstrar, atra-
licas (H1 − H2 = ∆H) entre os piezômetros 1
vés de uma série de experimentos, que existe uma
e 2 da Figura.
relação entre o fluxo de água que atravessa uma ca-
mada de areia e o gradiente hidráulico. Daí nasceu o • era inversamente proporcional à distância (L)
conceito de condutividade hidráulica como uma pro- entre os piezômetros da Figura.
priedade macroscópica do meio.
A fórmula de Darcy, pode então ser escrita como:
A partir daí, foi possível aplicar aos meios po-
rosos os princípios da hidrodinâmica, entre eles, a
equação da continuidade, e estabelecer leis de ca- Q=k·i·A (3.1)
ráter macroscópico (aplicáveis a um elemento de vo- Em que,
lume representativo - EVR) que tratam o meio como
um contínuo dotado de propriedades médias bem • Q: vazão [L3 T −1 ]; (m3 /s no S.I.)

11
• k: condutividade hidráulica [L T −1 ]; (m/s no carga que atravessa uma seção de área unitária,
S.I.); perpendicular a direção de fluxo, sob um gradiente
hidráulico unitário.
• i: relação entre energia dissipada (∆H) por
unidade de comprimento (L), denominado de
gradiente hidráulico [L L−1 ]; (m/m no S.I.) 3.3 Relação Água Superficial x Água Sub-
terrânea
∆H
i= L
A água subterrânea e a água superficial podem
• A: área da seção transversal ao escoamento estar intimamente ligadas mesmo quando espacial-
[L2 ]; (m2 ). mente separadas. Cada uma contribui para a outra,
tendo estas interações um papel importante na hi-
3.2 Condutividade Hidráulica drologia da região.
Estas interações podem ser divididas em duas
Condutividade Hidráulica (k) Em um meio principais:
isotrópico a condutividade hidráulica
pode ser definida como a velocidade apa- Rio Influente quando o nível freático está por
rente por gradiente hidráulico unitário. baixo do leito do curso de água e a água
Refere-se à facilidade da formação aquí- escoa do leito do curso de água atra-
fera de exercer a função de condutor hi- vés do material poroso para recarregar a
dráulico. água subterrânea;

Rio Efluente quando o nível freático está


Figura 13 – Tipos de aquíferos quanto à litologia acima do curso de água e a água sub-
terrânea alimenta o curso d’água.

Figura 14 – Tipos de interações entre águas super-


ficiais e águas subterrâneas

Analise a Figura 13. Observe que a conduti-


vidade hidráulica pode ser entendida como a des-

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Referências

ABAS, A. a. B. d. A. S. Águas subterrâneas, o que são. ABAS, 2009. Disponível em: <http:
//www.abas.org/educacao.php#ind13>. Acesso em: 7 nov. 2017. 4
BARBOSA, H. Quase mil poços perfurados em 2015 no ceará. Diário do Nordeste, 2015. 4
CHAPPELLE, C.; HANAK, E.; HARTER, T. Aguas subterráneas en california. Public Policy Institute of
California, May 2017. 4
FEITOSA, F. A. C.; FILHO, J. ao M. Hidrogeologia - Conceitos e Aplicações. 2a . ed. [S.l.]: CPRM/REFO,
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FILHO, A. S. M. Curso de Hidrologia - Notas de Aula. 2016. 7
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TOMASELLA, J.; ROSSATO, L. Tópicos em Meio Ambiente e Ciências Atmosféricas - Balanço Hídrico.
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