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A PANDEMIA DE COVID-19
A
PANDEMIA
DE
COVID-19
RELATÓRIO CNS
DOS PORTUGUESES
A PANDEMIA DE COVID-19
Ficha Técnica
Presidente
Henrique Barros
Vice-Presidente
Ana Nunes de Almeida
Peritos
Gisela Leiras, Gonçalo Figueiredo Augusto, Guilherme Duarte,
Inês Fronteira, José Carlos Gomes, Teresa Leão
Conselheiros
João de Bragança
Acreditar - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro
Luís Oliveira Couto
ADEB - Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares
Diogo Valadas Pontes
Associação Nacional AVC
Joaquim Brites
APN - Associação Portuguesa de Neuromusculares
Isabel Magalhães
PULMONALE - Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão
Arsisete Saraiva
ANDAR - Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide
Dário Pirralha Ligeiro
Ordem dos Biólogos
Serafim Rebelo
Ordem dos Enfermeiros
Luís Lourenço
Ordem dos Farmacêuticos
Rubina Correia
Ordem dos Médicos
Miguel Pavão
Desafios para a saúde dos portugueses
ISSN: 2184-6960
Desafios para a saúde dos portugueses
SUMÁRIO EXECUTIVO 5
INTRODUÇÃO 9
ANEXO 105
Desafios para a saúde dos portugueses
5 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
PORTUGUESES
19
DOS
COVID
SUMÁRIO
SAÚDE
EXECUTIVO
DE
A
PANDEMIA
PARA
Desafios para a saúde dos portugueses
DESAFIOS
A
6 SUMÁRIO EXECUTIVO
A PANDEMIA DE COVID-19
SUMÁRIO
EXECUTIVO
A pandemia de COVID-19 trouxe uma abrupta disrupção
social e demográfica. No final de 2021 mais de um décimo da
população portuguesa havia sido infetada por SARS-CoV-2
e haviam sido contados quase 19.000 óbitos.
A esperança média de vida diminuiu 0,7 anos servada de 2016 a 2019, com uma diferença mais
para ambos os sexos. De facto, durante estes acentuada na Área Metropolitana de Lisboa. O
número de casamentos e de divórcios também
dois anos de pandemia a taxa de mortalidade
diminuiu em 2020.
subiu e se em vários meses o excesso de mor-
talidade coincidiu com picos de incidência de Focando no potencial impacto das alterações
COVID-19, este ocorreu também em momentos sociais nos comportamentos individuais, vários
de incidência reduzida e sem elevada pressão da inquéritos mostram alterações na alimentação e
pandemia sobre os serviços de saúde. Diferen- na atividade física, sendo que a degradação dos
temente, em 2020 a taxa de mortalidade infan- hábitos alimentares e a acentuação do seden-
7 SUMÁRIO EXECUTIVO
A PANDEMIA DE COVID-19
O volume de notícias falsas divulgadas
nos meios de comunicação social e
online, relacionadas com a pandemia,
foi substancial, acompanhadas com
teorias da conspiração, narrativas
críticas apontando instituições
públicas e veiculando informações não
sustentadas cientificamente.
A PANDEMIA DE COVID-19
Todas as mudanças sociais económicas, e o pró- Esta quebra assistencial fez-se também sentir
prio receio inerente à vivência de uma pande- no tratamento de dependências (álcool, drogas
mia por um agente pouco conhecido, colocaram ilícitas tabaco), na vigilância de diabetes mellitus
à prova os recursos adaptativos da população. nos cuidados de saúde primários, e nos rastreios
Vários inquéritos revelaram um aumento dos populacionais para o cancro da mama, cancro
níveis de ansiedade e stress no início da pande- colo-retal e cancro do colo do útero.
mia, com elevadas percentagens de inquiridos Perante os desafios vividos durante a pandemia
reportando medo, tristeza, preocupação, alte- e aqui descritos, e para uma recuperação e re-
ração do sono (Capítulo 2). Estes sintomas forço da resposta para uma melhor da saúde da
ocorreram com maior frequência em pessoas população, este relatório elenca 10 recomenda-
que reportaram dificuldade na conciliação tra- ções para o futuro (Capítulo 4).
balho-família, preocupação com a manutenção
do trabalho ou do rendimento, e preocupação
relativamente ao futuro. No entanto, verificou-
-se que, de 2020 para 2021, houve uma redução
dos níveis de stress, ansiedade e depressão, re-
flectindo uma adaptação generalizada às adver-
sidades da pandemia, ainda que menos evidente
em alguns grupos populacionais, como nas mu-
lheres, nas pessoas desempregadas e pessoas
com doença crónica.
Quanto aos cuidados de saúde curativos pres-
tados pelo SNS (Capítulo 3), observou-se uma
quebra do número de consultas médicas reali-
zadas nos cuidados de saúde primários e hospi-
talares. Houve redução da proporção de utentes
com acesso a consultas médicas nos cuidados
de saúde primários e uma redução da propor-
ção de utentes com acesso a cuidados hospi-
talares, mais marcada do que a verificada nos
cuidados de saúde primários. Em 2020 menos
de 75% das consultas externas decorreu dentro
do Tempo Máximo de Resposta Garantido, valor
que voltou a subir acima de valores pré pande-
mia em 2021. Registou-se um aumento de mais
Desafios para a saúde dos portugueses
de 100% em teleconsultas.
Houve uma redução marcada do número de in-
tervenções cirúrgicas realizadas, seja das pro-
gramadas, em ambulatório, convencionais e
urgentes, e uma redução da percentagem de ins-
critos em cirurgia com Tempo Máximo de Respos-
ta Garantida. Ainda, em 2020 observou-se uma
redução no número de internamentos hospitala-
res e no total de dias de internamento.
9 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
PORTUGUESES
19
DOS
COVID
INTRO
SAÚDE
DUÇÃO
DE
A
PANDEMIA
PARA
Desafios para a saúde dos portugueses
DESAFIOS
A
10 INTRODUÇÃO
A PANDEMIA DE COVID-19
INTRODUÇÃO
A pandemia resultante da emergência de um novo
coronavírus – o SARS-CoV-2 – desafiou a humanidade em
múltiplas dimensões: a biológica e a social, a científica e a
cultural, e a política, nacional e internacional.
A PANDEMIA DE COVID-19
A evolução e a resposta
à pandemia em Portugal
No dia 2 de março de 2020 foram confirmados ridades de resposta viria a resultar em impacto
os dois primeiros casos de infeção por SARS- negativo no diagnóstico e acompanhamento dos
-CoV-2 em Portugal, identificados no dia ante- doentes não COVID-19, um efeito cuja dimensão
rior na região Norte de Portugal. Duas semanas real permanece por determinar.
depois, as escolas encerraram e o ensino pre-
Após o pico da primeira vaga em março/abril de
sencial foi suspenso, não acompanhando as re-
2020 (FIG. 1), com uma incidência máxima de
comendações do Conselho Nacional de Saúde
109 novos casos por 100.000 habitantes e uma
Pública reunido pela primeira vez a 11 de março
taxa máxima de 45 óbitos por milhão de habi-
de 2020. No dia 18 de março de 2020 foi de-
tantes nos últimos 14 dias, e que afetou parti-
clarado Estado de Emergência, com restrição
cularmente a região Norte, numa circunstância
da circulação na via pública, obrigatoriedade de
de grande restrição da mobilidade e de limita-
teletrabalho para alguns grupos profissionais,
ções técnicas ao rastreio generalizadio, assis-
encerramento de grande parte dos estabeleci-
tiu-se à redução da incidência, o que motivou
mentos (i.e., restauração, culturais, atividades
a passagem para Situação de Calamidade, se-
desportivas ou recreativas, entre outros) e sus-
guindo-se em três fases o processo designado
pensão das atividades de comércio a retalho (ex-
como desconfinamento.
ceto os considerados de primeira necessidade,
como bens alimentares, medicamentos, entre Nos meses de junho e julho de 2020, a epidemia
outros) [1]. Também na fase inicial do reconhe- teve particular expressão na região de Lisboa e
cimento da epidemia foi emitido um Despacho Vale do Tejo onde se registaram incidências su-
do Gabinete da Ministra da Saúde determinando periores a 100 casos por 100.000 habitsantes
que as entidades do Serviço Nacional de Saúde durante os meses de junho e julho. Em setembro
deveriam garantir a resposta à COVID-19 com de 2020, o aumento da incidência em todas as
prontidão, adequação e segurança dos seus re- regiões do país levou à implementação de no-
cursos humanos e materiais em todas as linhas vas medidas, como a limitação da dimensão dos
Desafios para a saúde dos portugueses
da atividade assistencial, devendo para isso, ajuntamentos, a restrição dos horários de fun-
na medida do necessário, suspender a ativida- cionamento dos estabelecimentos ou a proibição
de assistencial não urgente, desde que esta não de venda de álcool a partir as 20 horas e do seu
implicasse risco de vida para os utentes (defi- consumo na via pública [3].
nindo a necessidade de garantir o acompanha-
mento da gravidez, a resposta na exacerbação
das doenças crónicas, o acesso a vacinação, ou O aumento sustentado da incidência durante o
outros que pudessem afetar o prognóstico dos mês de outubro de 2020 levou à adoção de me-
utentes) [2]. A necessidade de reorientar prio- didas de limitação da circulação na via pública
12 INTRODUÇÃO
A PANDEMIA DE COVID-19
e entre concelhos, obrigatoriedade de teletraba-
lho, limitação de celebrações a 5 pessoas (exce-
to se pertencentes ao mesmo agregado familiar),
proibição da realização de feiras e mercados,
Ainda que se tenha
entre outros [4]. Esta vaga afetou especialmen-
te a região Norte, com incidências superiores a observado uma
1.300 casos por 100.000 habitantes nos últimos redução da incidência
14 dias durante o mês de novembro de 2020. A de infeção por
mortalidade por COVID-19 não parou de aumen-
SARS-CoV-2 a
tar desde setembro de 2020 (FIG. 2): a taxa de
mortalidade por COVID-19 evoluiu de 5 óbitos
partir do final de
em setembro 2020 para mais de 100 óbitos por novembro de 2020,
milhão de habitantes nos últimos 14 dias em no- esta voltou a crescer
vembro de 2020. rapidamente a partir
Ainda que se tenha observado uma redução da Natal de 2020.
incidência de infeção por SARS-CoV-2 a partir do
final de novembro de 2020, esta voltou a cres-
cer rapidamente a partir Natal de 2020, atingindo
o máximo no final de janeiro de 2021 (FIG. 1), e
afetando todas as regiões de Portugal continen-
tal. Também a mortalidade registou um cresci- letrabalho, o encerramento dos estabelecimentos
mento após o Natal de 2020, tendo atingido valo- comerciais de bens não essenciais, a suspensão
res máximos no final de janeiro de 2021 (FIG. 2). das atividades culturais, de restauração e hotela-
Em janeiro de 2021 retomou-se a limitação de cir- ria, a suspensão das atividades letivas e não leti-
culação na via pública, a obrigatoriedade do te- vas, entre outros.
30000
25000
20000
15000
10000
Desafios para a saúde dos portugueses
5000
Fonte: DGS
0
0 0 0 20 0 20 0 0 20 0 21 21 ‘2
1
r‘2
1
‘2
1 21 l‘2
1 21 t‘ 2
1
t‘ 2
1 21 z‘2
1
ar
‘2 r‘2 ai
‘2 n‘ l‘2 o‘ t‘ 2 t‘ 2 v‘ z‘2 n‘ v‘ ar ai n‘ ju o‘ v‘
m ab m ju ju ag se ou no de ja fe m ab m ju ag se ou no de
FIG. 1. Evolução diária do número de novos casos notificados de infeção por SARS-CoV-2 em Portugal,
março 2020 – dezembro 2021.
13 INTRODUÇÃO
A PANDEMIA DE COVID-19
300
250
200
150
100
50
Fonte: DGS
0
0 0 0 20 0 20 0 0 20 0 21 21 ‘2
1
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m ab m ju ju ag se ou no de ja fe m ab m ju ag se ou no de
FIG. 2. Evolução diária do número de óbitos por COVID-19 em Portugal, março 2020 – dezembro 2021.
tono para voltar a crescer rapidamente no mês de os primeiros meses da pandemia. A partir de ou-
dezembro de 2021, com a circulação da variante tubro de 2020 houve um aumento ténue da in-
Ómicron (FIG. 1). A proporção de casos de infe- cidência, atingindo o pico no mês de novembro
ção internados em Unidades de Cuidados Inten- desse ano com 30 casos diários. Após a redução
sivos e de óbitos manteve-se significativamente da incidência no início de dezembro, houve um
inferior ao observado entre março de 2020 e mar- aumento do número de casos ultrapassando os
ço de 2021, o que será explicado pela elevada co- 50 casos diários a 29 de dezembro de 2020 e os
bertura vacinal da população. Embora a evolução 100 casos diários a 17 de janeiro de 2021. A redu-
do número de óbitos tenha tido uma tendência de ção da incidência observou-se em março de 2021.
14 INTRODUÇÃO
A PANDEMIA DE COVID-19
A COVID-19
enquanto desafio
Tudo o que vivemos ao longo dos meses que se cratização de vários processos, como a emissão
seguiram à identificação da pandemia de CO- de declarações de isolamento profilático.
VID-19 consubstancia uma circunstância pro-
Por oposição ao “excecional”, o “normal” (que
longada de excecionalidade, desconhecimento
tanto varia entre indivíduos, grupos, regiões,
e medo, aquilo que nas profissões da saúde
culturas) é o resultado de longas negociações
define o “anormal”, isto é, algo incomum, que
entre pessoas e comunidades, entre pessoas
produz doença e que é tratável ou pelo menos,
e o ambiente em que vivem, entre tradições e
em geral, remediável.
roturas. Um desafio inequívoco da pandemia –
Se, por um lado, a infeção emergente desafiou cuja necessidade medida pela extensão das li-
a nossa (im)preparação para responder no ime- mitações virá por certo a ser interrogada – foi
diato ou projetar um futuro a médio prazo (lem- obrigar-nos a lidar com a visibilidade pública
brando na diversidade das opções individuais e da morte e da doença, o sofrimento, o medo,
comunitárias, entre regiões e países, a ausência a impossibilidade de nos movermos livremente,
de uma solução singular tantas vezes invocada), a necessidade de trabalhar por obrigação atrás
por outro a sua inequívoca dimensão de crise de ecrãs (com exceção dos trabalhadores da li-
interpela a nossa capacidade para decidir e es- nha da frente), a suspensão do contacto táctil, e
pecialmente para liderar. imaginar que tudo isso podia ser “normalizado”,
visto para muito tempo como uma solução en-
O que vivemos na pandemia representa a dis-
tre as possíveis. Ou seja, os direitos e liberdades
rupção violenta e repentina da organização
individuais foram desafiadas por uma omnipre-
do quotidiano, na forma de conviver e de co-
sente saúde pública a quem se pediu o com-
municar, duas atividades essenciais ao ser-se
promisso prescritivo de atitudes que evitassem,
pessoa. A rápida designação de confinamento,
afinal, a morte.
numa aceção nova, invadiu a vida lexical e so-
cial, e, associada à imposição da distância física Tanto quanto é possível prever a forma como
e do uso de máscara facial, perturbou e muito irá evoluir a relação entre o SARS-CoV-2 e a po-
o que como equilíbrio emocional as sociedades pulação humana (mesmo se não sabemos com
humanas tinham construído. Deu lugar a novas clareza se o vírus, tal como o conhecemos ou
Desafios para a saúde dos portugueses
formas de conciliar a tomada de decisão política em alguma das suas possíveis variantes, não
com a inspiração útil do melhor conhecimento circulará sustentadamente em outras espécies
científico, emergindo com a infeção um lugar animais) podemos imaginar que o vírus manter-
inesperado para a saúde pública. Exigiu uma -se-á em circulação endémica, com eventuais
enorme capacidade de adaptação, dedicação e surtos ou epidemias, mais provavelmente fre-
esforço dos profissionais de saúde, obrigou ao quentes nos períodos frios – desafio que deve-
estreitar da articulação dos serviços de saúde mos ser capazes de encarar agora, mais organi-
com as instituições do sector social e as autar- zados e seguros das escolhas.
quias, e acelerou a informatização e desburo-
15 CAP 01
INTRODUÇÃO
A PANDEMIA DE COVID-19
O que vivemos na pandemia representa
a disrupção violenta e repentina da
organização do quotidiano, na forma
de conviver e de comunicar, duas
atividades essenciais ao ser-se pessoa.
A rápida designação de confinamento,
numa aceção nova, invadiu a vida lexical
e social, e, associada à imposição da
distância física e do uso de máscara
facial, perturbou e muito o que como
equilíbrio emocional as sociedades
humanas tinham construído.
Desafios para a saúde dos portugueses
16 INTRODUÇÃO
A PANDEMIA DE COVID-19
REFERÊNCIAS
1. C
onselho de Ministros. Comunicado do Conselho de Ministros de 19 de março de
2020. [cited 2021 Sep 25]. Available from: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/go-
verno/comunicado-de-conselho-de-ministros?i=334
3. P
residência do Conselho de Ministros. Resolução do Conselho de Ministros n.o 70-
A/2020. Lisboa; 2020.
4. C
onselho de Ministros. Comunicado do Conselho de Ministros de 22 de outubro de
2020. 22/10/2020.
5. C
onselho de Ministros. Comunicado do Conselho de Ministros de 11 de março de
2021. [cited 2021 Sep 25]. Available from: https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/go-
verno/comunicado-de-conselho-de-ministros?i=407
Desafios para a saúde dos portugueses
Desafios para a saúde dos portugueses
17
A PANDEMIA DE COVID - 19
CAP 01
DEMOGRÁFICOS
CAPÍTULO
INDICADORES SOCIAIS,
1
E DE SAÚDE
DESAFIOS PARA A SAÚDE DOS PORTUGUESES
A PANDEMIA DE COVID-19
18 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
1.1. A pandemia e a
disrupção repentina
dos quotidianos
Próxima no tempo dos impactos da crise finan- caram grandes franjas da população ativa em
ceira de 2008, a pandemia de COVID-19 trouxe situação crítica no que respeita a sobrevivência
uma disrupção súbita e avassaladora no quotidia- económica, com consequências na saúde físi-
no dos portugueses. Os sucessivos confinamen- ca e mental. Vale a pena assinalar duas delas.
tos, encerramentos ou suspensão de atividades Os trabalhadores pouco qualificados de baixas
económicas, a entrada em força do teletrabalho, remunerações, com contratos precários ou en-
o fecho de escolas de todos os níveis de ensino volvidos na economia informal (operários da
repercutiu-se no seu modo de vida e, para mui- construção civil, trabalhadores dos transportes,
tos, na capacidade de sobrevivência. E a presen- dos serviços sociais, por exemplo, muitas vezes
ça e exibição constantes da doença e da morte imigrantes ou pertencentes a grupos étnicos
nos quotidianos de sociedades onde, até então, minoritários) revelam-se não só como dos mais
aquelas pareciam arredadas do espaço público atingidos pela pandemia como os que suportam
representa um corte violento com o passado. Os intensamente as suas consequências negativas
números de mortes, contagiados e internados sobre o seu nível de vida. As pessoas portado-
entraram diariamente em casa dos portugueses. ras de doença crónica sentiram-se especial-
mente em risco de complicações aliadas à CO-
No final de 2021, 1.389.467 pessoas tinham tido
VID-19, tendo sido aconselhadas a isolamento
diagnóstico de infeção por SARS-CoV-2 (46,8%
físico e teletrabalho, com condicionamento da
do sexo masculino, 53,2% do sexo feminino) e
sua autonomia e a dos seus cuidadores e, em
18.955 óbitos. Desconhecem-se, por falta de
alguns casos, com consequências laborais e fi-
(acesso a) informação, o número total de pes-
nanceiras significativas. Muitos trabalhadores
soas que foi hospitalizada e internada em Uni-
independentes, por outro lado, ficaram de um
dades de Cuidados Intensivos devido à infeção.
momento para o outro sem atividade ou ren-
E conhecem-se apenas alguns dos impactos da
dimento de qualquer origem – colocados em
doença na morbilidade a curto e longo prazo
situação de “pobreza instantânea”. O aumento
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
6,0
+4,9%
4,0
+3,5%
+2,9%
+2,7%
+2,0%
2,0
0,0
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
-2,0
-4,0
-6,0
Fonte: INE
-8,0 -7,6%
PERDA DE
36.000M€
215 000
(milhões de Euros)
-5,0%
185 000
-7,5%
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
Por outro lado, a imposição do teletrabalho (para ríodos com suspensão da atividade presencial
muitos adultos) e do ensino remoto universal nas escolas. A 16 de março de 2020 foi decre-
(para crianças e jovens) trouxe problemas acres- tado o primeiro fecho das escolas, que se pro-
cidos de conciliação entre vida familiar e pro- longou durante 2 meses para os alunos do 11.º e
fissional (sobretudo para as mães) e o risco de 12.º anos e para as creches, tendo os restantes
agravamento de desigualdades perante a escola. alunos continuado com ensino à distância até ao
Nas famílias com filhos pequenos, à sobrecarga final do ano letivo 2020-2021. O segundo perío-
de trabalho para os pais na gestão de uma casa do de fecho das escolas iniciou-se a 21 de janei-
cheia, eles próprios ativos, veio juntar-se a ne- ro, com reabertura do ensino presencial a 15 de
cessidade de acompanhar as aulas e trabalhos março para creches, jardins de infância e primei-
escolares dos mais novos. Os inquéritos à po- ro ciclo; e a 5 de abril para 2.º e 3.º ciclos e 19 de
pulação revelam a maior dificuldade que têm os abril para secundário e ensino superior.
inquiridos na casa dos 35-44 anos com famílias
Comparativamente com outros países, Portugal
numerosas ou filhos menores em lidar com as
foi dos que adotou uma política mais severa nes-
restrições impostas pela pandemia [1]. Por ou-
ta matéria, sem que se fundamentasse verdadei-
tro lado, nem todas as famílias possuíam con-
ramente a evidência científica que a suportava:
dições de habitação, equipamentos informáticos
a Organização para a Cooperação e Desenvolvi-
ou acesso à rede que se adequassem às novas
mento Económico reporta que em 2020 e 2021
funções da casa a tempo inteiro, que passou a
(descontando férias, fins de semana e feria-
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
30
Proporção da população residente (%)
25
20
15
10
Fonte: INE
0
2016 2017 2018 2019 2020
FIG. 5. Proporção da população em risco de pobreza, exclusão social e/ou viver em agregados com muito
baixa intensidade laboral.
Risco de pobreza e/ou exclusão social por grupo etário e sexo, 2016-2020
30
População residente em risco de pobreza
25
ou exclusão social (%)
20
15
10
5
Fonte: INE
Desafios para a saúde dos portugueses
0
0-17 anos 18-64 anos 65 e mais anos 0-17 anos 18-64 anos 65 e mais anos
FIG. 6. Proporção da população em risco de pobreza, exclusão social e/ou viver em agregados com muito
baixa intensidade laboral por sexo e grupo etário.
24 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
1.3. Desemprego
No ano de 2020 observaram-se mais 70 mil aumento da população empregada e/ou à desis-
pessoas desempregadas inscritas nos centros tência das pessoas em se inscrever nos centros
de emprego e de formação profissional, com- de emprego, por anteriormente terem estado ins-
parando com a média anual de 2019. A taxa de critas e não terem encontrado trabalho.
desemprego no quarto trimestre de 2020 era de
Estes indicadores sinalizam, assim, uma socie-
6,8% (mais 0,3 pontos percentuais que no quar-
dade fortemente marcada por desigualdades
to trimestre de 2019 e menos 0,3 pontos per-
sociais vincadas, por um lado, e sugerem, por
centuais que a média da UE) [8],com aumento
outro, um impacto preocupante sobre o bem-
da percentagem entre os jovens entre os 20-24
-estar, físico e mental, da população portuguesa
anos desempregados (16,4% em 2019 para 21,2%
confinada (ou desconfinada) e colocada perante
em 2020) e dos 25-29 anos (8,3% em 2019 para
cenários de incerteza e risco, especialmente em
11,0% em 2020) [9].
2020, ainda que com alguma recuperação em
No entanto, em 2020 observou-se uma manu- 2021. A evolução de alguns indicadores demo-
tenção da tendência negativa do número de pes- gráficos durante o mesmo período pode trazer
soas à procura de emprego há 12 ou 25 meses mais informação sobre a situação.
ou mais [10] e a taxa de desemprego durante o
ano de 2021 desceu de 7,1% no primeiro trimestre
para 6,1% no quarto trimestre.
Em 2020 o número de pessoas inscritas nos
centros de emprego e formação profissional ul-
trapassou os valores de 2018 em Portugal con-
tinental, sendo que este aumento foi sentido
principalmente nas pessoas com o ensino básico
do 3º ciclo (28,6%) e ensino secundário (41,2%)
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
500
Média anual de desempregados inscritos (milhares)
450
400
350
300
250
200
150
100
Fonte: Pordata
Desafios para a saúde dos portugueses
50
0
Total Sem nível Básico / 1º ciclo Básico / 2º ciclo Básico / 3º ciclo Secundário Superior
de escolaridade
FIG. 7. Número de desempregados inscritos nos centros de emprego e formação profissional (média anual)
por região (NUTS II).
26 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
1.4. Mortalidade
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
entre 2016 e 2019. Este excesso de mortalidade 52% deveram-se diretamente à COVID-19. No
iniciou-se logo no mês de março de 2020, conti- entanto, se o excesso de mortalidade observado
nuando ao longo dos restantes nove meses des- em março-abril e de outubro em diante coincidi-
se ano, e nos meses de janeiro, fevereiro e de ram com os picos de incidência da infeção (pri-
julho a dezembro de 2021, ainda que com menor meira, segunda e início da terceira vaga), o ex-
expressão (FIG. 8). Em 2020 as regiões (NUTS cesso de mortalidade sentido no final de maio e
2) com maior excesso de mortalidade, compa- entre julho e agosto de 2020, não coincidiu com
rando com a média de 2016-2019, foram a região incidências elevadas no país. Segundo o Instituto
Norte, com 154 óbitos por 100.000 habitantes, o Nacional de Saúde Ricardo Jorge [13], os óbitos
Alentejo, com 144 óbitos por 100.000 habitantes, em excesso em maio, julho e agosto coincidiram
e a Área Metropolitana de Lisboa, com 106 óbitos com períodos de calor extremo, identificado ou
por 100.000 habitantes (Quadro 1). não pelo sistema de vigilância ÍCARO. Ainda, não
será de descartar o potencial contributo do me-
Segundo o Instituto Nacional de Estatística [12],
nor acesso da população aos cuidados de saúde
dos 12.852 óbitos em excesso observados entre
durante estes meses, seja pelo receio de con-
2 de março e 27 de dezembro de 2020, 50,2%
tágio seja pela sobrecarga dos serviços com o
ocorreram em mulheres, mais de 70% em pes-
tratamento da COVID-19.
soas com idade igual ou superior a 75 anos, e
20000
15000
Número de óbitos
10000
Desafios para a saúde dos portugueses
5000
Fonte: DGS
0
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
Quadro 1. Taxa de mortalidade para o ano de 2020 (por 100.000 habitantes) por NUTS 2 e NUTS 3.
29 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
6
Taxa de mortalidade infantil (por mil nados-vivos)
1
Fonte: INE
0
Desafios para a saúde dos portugueses
Portugal Norte Centro Área Metropolitana Alentejo Algarve Região Autónoma Região Autónoma
de Lisboa dos Açores da Madeira
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
35000
30000
Número de nados-vivos
25000
20000
15000
Desafios para a saúde dos portugueses
10000
Fonte: Pordata
5000
0
2016 2017 2018 2019 2020
Norte Centro Área Metropolitana de Lisboa Algarve Região Autónoma dos Açores Região Autónoma da Madeira
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
[Região Autónoma dos Açores] 1.27 1.25 1.29 1.24 1.23 -0.03
Quadro 2. Índice sintético de fecundidade (número médio de crianças nascidas por cada mulher em
idade entre os 15 e os 49 anos de idade) por NUTS 2 e NUTS 3, 2016-2020.
Apesar deste decréscimo, a Área Metropolitana de gravidezes: crise sanitária e incerteza sobre o
de Lisboa, juntamente com a região Norte, man- futuro, desemprego e precariedade laboral, no-
tém os maiores Índices Sintéticos de Fecundi- meadamente, são fatores que terão desencora-
dade do país. Assim, o confinamento dos casais jado a decisão de ter filhos.
não se veio a traduzir num aumento do número
32 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
Quanto ao perfil das parturientes, os dados re- consórcio, um terço dos partos foram cesa-
colhidos pelo Consórcio Português de Dados rianas e 10% partos pré-termo (Quadro 3).
Obstétricos1 relativos a em 2020 e 2021, mos- Em 2020, assim como em 2016-2019, a maio-
tram que cerca de 40% apresentava excesso de ria das parturientes tinha completado o ensino
peso, cerca de uma em cada dez era fumadora, secundário (33,3%) ou superior (36,7%). Estas
assim como cerca de uma em cada dez tinha caraterísticas eram semelhantes às observadas
diabetes mellitus. No conjunto de hospitais do em 2019.
1
Consórcio formado pelos “Serviços de Obstetrícia” ou “Serviços de Obstetrícia e Ginecologia” do Centro Hospitalar Universitário São
João, Hospital da Senhora da Oliveira, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Unidade Local de
Saúde de Matosinhos, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar do Baixo Vouga, Centro Hospitalar Póvoa do Varzim/
Vila do Conde, Centro Hospital Vila Nova de Gaia/Espinho, Centro Hospitalar entre Douro e Vouga, Centro Hospitalar Universitário Lisboa
Norte, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro e Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central. Os dados provêm de uma
amostra do número de partos e não caracterizam a totalidade dos partos ocorridos em Portugal nos anos 2019, 2020 e 2021, nomeada-
mente os ocorridos nos restantes hospitais públicos e na totalidade dos hospitais privados.
33 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
86
84
82
80
Desafios para a saúde dos portugueses
78
Fonte: OCDE
76
74
2017 2018 2019 2020
FIG. 11. Esperança média de vida à nascença, por sexo, Portugal, 2017-2020.
35 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
1.7. Casamentos
e divórcios
120000
Casamentos e divórcios (número)
10000
80000
60000
Desafios para a saúde dos portugueses
40000
20000
Fonte: INE
0
6 0 9 6 2 9 6 4 9 6 6 9 6 8 970 972 974 976 978 9 8 0 9 8 2 9 8 4 9 8 6 9 8 8 9 9 0 9 9 2 9 9 4 9 9 6 9 9 8 0 0 0 0 0 2 0 0 4 0 0 6 0 0 8 01 0 01 2 01 4 01 6 01 8 0 2 0
19 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
Divórcios Casamentos
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INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
1.8. Violência
Em 2020 as forças policiais registaram menos No entanto, o relatório da Europol de 2020 re-
crimes do que no período 2016-2019 em quase fere que a adaptação do mercado à pandemia,
todas as regiões, exceto na Região Autónoma nomeadamente o aumento da aquisição de pro-
dos Açores, com uma diminuição mais marcada dutos em plataformas on-line, devido ao medo
na Área Metropolitana de Lisboa (18% relativa- induzido pelo vírus SARS-CoV-2, criou novas
mente à média de 2016-2019) (FIG. 13). oportunidades para vários grupos criminosos
60
50
Número de crimes por 1000 habitantes
40
30
20
Desafios para a saúde dos portugueses
Fonte: Pordata
10
0
Portugal Continente Norte Centro Área Alentejo Algarve Região Região
Metropolitana Autónoma Autónoma
de Lisboa dos Açores da Madeira
FIG. 13. Número de crimes por 1.000 habitantes por NUTS 2, Portugal, 2016-2020.
37 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
3.5
Número de crimes por 1000 habitantes
2.5
1.5
Fonte: Pordata
0.5
0
Portugal Continente Norte Centro Área Alentejo Algarve Região Região
Metropolitana Autónoma Autónoma
de Lisboa dos Açores da Madeira
FIG. 14. Número de crimes por violência doméstica por 1.000 habitantes por NUTS 2, Portugal, 2016-2020.
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INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
A COVID-19 parece ter contribuído para uma al- tuação económica (10,3%). De facto, um em cada
teração nos hábitos alimentares de uma parte três inquiridos (33,7%) manifestou preocupação
significativa da população nacional. quanto a uma possível dificuldade no acesso aos
alimentos e 8,3% indicou mesmo ter dificuldades
Nos Diários de uma Pandemia, 5.814 participan-
económicas no acesso a alimentos. Estes valores
tes responderam a questões sobre alimentação e
são muito elevados e merecem uma análise apro-
atividade física entre 18 de abril e 1 de maio [26].
fundada, mas revelam uma enorme preocupação
De entre estes participantes, 22,1% reportou que
face ao acesso à alimentação num grupo signifi-
a sua alimentação mudou para pior, apenas 31,7%
cativo da população, em particular nas regiões do
ingeriu 5 ou mais porções de fruta e vegetais por
sul do país (Alentejo e Algarve) e Ilhas. Coinciden-
dia. Quanto à atividade física, 67,3% reportou es-
temente, estas são as áreas que historicamente
tar menos ativo e 18% reportou ter reduzido a
apresentam valores mais elevados de inseguran-
atividade física e ter piorado a qualidade da ali-
ça alimentar e que nesta crise aparecem de novo
mentação. Cerca de um terço dos participantes
como aquelas com mais pessoas em risco.
referiu ter aumentado de peso, sendo que este
aumento foi mais frequentemente reportado pe- As mudanças no consumo alimentar provocadas
los participantes com menor rendimento. pelo confinamento relacionaram-se sobretudo
com o aumento do número de refeições feitas em
Estes dados são consonantes com aqueles publi-
casa na fase do confinamento, reduzindo muito
cados pela Direção-Geral da Saúde, relativos ao
o recurso a refeições pré-preparadas (40,7%) ou
estudo REACT-COVID [27], realizado entre abril e
take-away (43,8%). Apesar de os inquiridos dize-
maio de 2020, numa amostra de 5874 indivíduos
rem que consumiram mais snacks doces (30,9%)
com 16 anos ou mais em confinamento. Consta-
também referiram um aumento do consumo de
ta-se que quase metade da população inquirida
fruta (29,7%) e hortícolas (21%). A maior parte
(45,1%) reportou ter mudado os seus hábitos ali-
passou a cozinhar mais (56,9%) e, infelizmente,
mentares durante aquele período e 41,8% teve
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
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de “fome pelo prazer de comer” (em 22,8% dos usaram o exercício físico como estratégia de
participantes). gestão do stress e ansiedade e uma justificação
para sair de casa e usufruto do espaço público.
Os resultados deste inquérito confirmam, tam-
bém, a tendência de melhoria dos níveis de ativi- Dados recolhidos entre março e abril de 2020 e
dade física da população. Dos inquiridos, 54,3% fevereiro e março de 2021 na população Portu-
apresentam níveis adequados de atividade físi- guesa, ainda em análise preliminar, mostraram
ca para a promoção da saúde (46,0% em 2020; um aumento do consumo de “comida de plás-
48,1% em 2017). Não obstante, aumentou tam- tico” (12,8%) e de bebidas energéticas (6,3%)
bém o tempo sedentário, sendo este de 7 ou entre o primeiro e o segundo confinamento
mais horas por dia para 46,4% dos inquiridos [29]. Um outro estudo, com recolha de dados
(38,9% em 2020). no início do ano 2021 à população jovem uni-
versitária, e também ainda em análise prelimi-
Este estudo permitiu assim confirmar o impacto
nar, mostrou que apenas 13% dos estudantes
do contexto pandémico nos hábitos alimentares
apresentaram boa adesão à dieta mediterrânica
e de atividade física dos portugueses, sugerindo
e apenas 7,6% ingere 4 ou mais peças de fruta
que as alterações observadas nos primeiros me-
diariamente. Quando questionados sobre o im-
ses da pandemia se mantiveram.
pacto da pandemia, cerca de 60% dos alunos
Quando se olha especificamente para população consideraram que o contexto pandémico vivido
jovem, os grupos focais realizados a jovens com devido ao COVID-19 poderá ter contribuído para
idades entre os 17 e os 28 anos pelo Conselho o desenvolvimento de malnutrição.
Nacional de Saúde entre outubro e dezembro de
2020 revelaram que, durante o primeiro período
de confinamento, a obrigatoriedade de ficar em
casa e a carga letiva de aulas por videoconfe-
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
As estatísticas relativas ao imposto sobre o 2020 Portugal terá tido menos 18 milhões de
tabaco mostram que, comparativamente com chegadas de turistas não residentes compara-
a média de 2016-2019, em 2020 venderam-se tivamente com 2019, uma diminuição de 73,7%
menos 8% de unidades de cigarros, cigarrilhas [30]. Dados preliminares de um estudo da Uni-
ou charutos e mais 9% de gramas de tabaco versidade do Minho mostraram um aumento de
de corte fino, para cachimbo de água ou ou- 12,8% do consumo de tabaco entre os dois pe-
tros (FIG. 15). No entanto, note-se que em ríodos de confinamento (2020 e 2021) [31].
12000
10000
Unidades e gramas (milhões)
8000
6000
4000
Desafios para a saúde dos portugueses
2000
Fonte: AT
0
2016 2017 2018 2019 2020
Unidades (cigarros, cigarrilhas, charutos) Gramas (tabaco de corte fino, cachimbo de água, outros)
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
No ano de 2020 houve uma redução de consu- [30], e o facto de estabelecimentos de restau-
mo de produtos sujeitos a imposto sobre o ál- ração e bebidas, tais como bares e discotecas,
cool e bebidas alcoólicas (IABA), numa redução terem visto a sua atividade reduzida ou suspen-
de 9% de cerveja e 23% de bebidas espirituo- sa. Tal como referido relativamente ao tabaco,
sas, comparando com a média de 2016 a 2019 dados preliminares relativos à população portu-
(FIG. 16). De novo, salienta-se o facto de em guesa mostraram um aumento do consumo de
2020 o número de turistas em Portugal ter caí- álcool (11,2%), especialmente marcado no sexo
do abruptamente para 26% dos anos anteriores masculino (22,6%) [32].
4
Milhões de hectolitros
2
Desafios para a saúde dos portugueses
1
Fonte: AT
0
2016 2017 2018 2019 2020
Cerveja Álcool etílico Bebidas espirituosas Produtos intermédios Outras bebidas fermentadas
FIG. 16. Consumo de produtos sujeitos a imposto sobre o álcool e bebidas alcoólicas, Portugal, 2016-2020.
45 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
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INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
ços coletivos para a resposta à pandemia, no- em distinguir notícias falsas, dificuldade mencio-
meadamente o cumprimento das medidas de nada por apenas 13,3% dos que tinham um nível
contenção e mitigação, ou o envolvimento nos de rendimentos “Confortável”, e a ansiedade ao
planos de vacinação, apesar dos esforços para ler notícias era também superior nos indivíduos
reprimir a desinformação [33]. com menor rendimento (41,5% vs 29,2%) [34].
Estas narrativas poderão afetar com maior in- De acordo com o barómetro criado pela DGS,
tensidade indivíduos com menor estatuto so- que analisa a perceção de risco através da aná-
cioeconómico: em 2020, 27,6% dos indivíduos lise das mensagens/comentários públicos de
em agregados com rendimento insuficiente para cidadãos a publicações sobre COVID-19 extraí-
47 CAP 01
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
dos do Facebook® da DGS e de vários meios de houve uma diminuição da autoeficácia para a
comunicação social nacionais [35], o nível de realização dos comportamentos de prevenção e
perceção de risco refletiu, na sua globalidade, da confiança nas instituições enquanto fontes
a situação epidemiológica. Contudo, houve pe- de informação.
ríodos em que foram percecionados níveis ele-
O estudo da associação entre a literacia digital
vados de risco perante situações epidemiológi-
em saúde relativa à COVID-19 e o comporta-
cas de baixa gravidade, nomeadamente quando
mento de pesquisa de informação de estudan-
houve expressão de incerteza/desconfiança
tes universitários constatou que a utilização de
face à gravidade dos números reportados pelas
motores de busca como o Google, a Wikipedia
autoridades e aquando do início do ano letivo
e as redes sociais diminuíram em cerca de 30%
em setembro de 2020, ainda que não se tenha
a probabilidade de alcançar níveis suficientes
verificado o aumento de casos que era anteci-
de literacia digital sobre COVID-19, enquanto o
pado pela população.
uso frequente de páginas de instituições públi-
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
INDICADORES SOCIAIS, DEMOGRÁFICOS E DE SAÚDE
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Desafios para a saúde dos portugueses
Desafios para a saúde dos portugueses
51
A PANDEMIA DE COVID - 19
CAP 01
UMA VISÃO
CAPÍTULO
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
Muito para além das consequências da infeção e janeiro-março 2021), e várias restrições em
para a saúde de pessoas e comunidades direta- diversos períodos. À medida que as formas de
mente relacionadas com o vírus SARS-CoV-2, à controlo e mitigação da pandemia foram sendo
medida que a pandemia se disseminou rapida- introduzidas – especialmente os vários confina-
mente pelo mundo, introduziu um grau consi- mentos, com os seus efeitos nas rotinas diárias
derável de receio e preocupação na população ou nos meios de subsistência – colocou-se a
em geral e, em particular, em grupos mais vul- questão do seu impacto nos níveis de solidão,
neráveis à doença como os idosos ou vivendo depressão, uso nocivo de álcool e outras drogas
com comorbilidades, e mais expostos como os e comportamentos de auto-lesão [1].
profissionais de saúde.
Assim, se o isolamento físico é demonstrada-
A pandemia veio colocar à prova os recursos mente importante para proteger a saúde física
adaptativos da população a elevados níveis de da comunidade, impedindo o contágio pelo ví-
stress e de incerteza. De facto, um pouco por rus, quanto mais tempo se mantiver a popula-
todo o mundo, os períodos de confinamento ção em confinamento maiores serão os riscos
(com maior ou menor limitação), decretados por de impacto na saúde mental. Se a estes aspe-
vários governos, levaram a que milhões de pes- tos associarmos as consequências para a eco-
soas ficassem física e socialmente isoladas du- nomia de pessoas e famílias com um aumento
rante várias semanas. Esta é uma situação úni- da pobreza e das desigualdades, enfrentamos
ca e extraordinária e os dados publicados sobre claramente uma sindemia que deve ser acom-
o impacto na saúde mental de outras quaren- panhada e combatida como tal. Como podemos
tenas (por exemplo no SARS-CoV-1, no MER- observar na FIG. 17, não só se assistiu a um
S-CoV, no H1N1 ou no Ébola) dizem respeito a aumento da exposição a fatores de risco para
grupos com apenas algumas centenas de pes- doença mental, como muitos dos fatores prote-
soas e a períodos que não iam além de 21 dias tores viram significativamente diminuída a sua
de isolamento. Em Portugal, existiram dois pe- presença na comunidade.
ríodos de confinamento geral (março-abril 2020
Adaptado de: Francesca Colombo/OECD webinar slide, April 2021; OECD policy response brief, May 2021 [2]
FIG. 17. Fatores de risco e fatores protetores para o bem-estar mental na sindemia.
53 CAP 02
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
Num inquérito realizado pelo Conselho Nacional saúde, 27% dos participantes reportaram sinto-
de Saúde durante a primeira vaga da pandemia mas moderados a graves de ansiedade, 26,4%
por SARS-CoV-2 em Portugal [3], verificou-se de depressão e 26% de perturbação de stress
que as Juntas de Freguesia foram frequente- pós-traumático. Já num estudo realizado pela
mente abordadas por pessoas com dependên- Universidade do Minho também nas primeiras
cia funcional – idosas, portadoras de deficiên- semanas da pandemia, 16% dos participantes
cia, com doença mental – ou seus familiares, reportaram sintomas moderados a graves de
e por pessoas pertencentes a agregados fami- ansiedade, 19% de depressão e 12% de sinto-
liares com dificuldades económicas por desem- mas obsessivo-compulsivos [5]. Foram sobre-
prego ou emprego precário. Evidenciaram-se, tudo as mulheres, os jovens adultos entre os 18
no primeiro grupo, as dificuldades na aquisição e os 29 anos, os desempregados e os indivíduos
de bens essenciais, a solidão e a falta de meios com menor rendimento quem apresentou mais
de comunicação, enquanto que no segundo gru- frequentemente sintomas de sofrimento psi-
po foram notórias as dificuldades económicas cológico moderado a grave, de acordo com as
para o pagamento de bens essenciais, sejam a várias das dimensões analisadas. Os preditores
renda, alimentos, medicamentos ou dificuldade mais significativos de sofrimento psicológico
no acesso a computadores e ligação à internet. foram a dificuldade na conciliação trabalho-fa-
Estas dificuldades estarão possivelmente alia- mília e manutenção dos estilos de vida e ativi-
das a dificuldades sociais e económicas pré- dades de lazer, a preocupação com a manuten-
-existentes que se poderão ter agravado com ção do trabalho ou preservação do rendimento,
o impacto da pandemia. Constituem reconheci- da perceção de falta de apoio social ou familiar,
dos determinantes sociais da saúde em geral e a preocupação relativamente ao futuro e menor
da saúde mental em particular. resiliência. De forma similar, de entre as 3.432
pessoas que preencheram os questionários on-
No estudo Saúde Mental em Tempos de Pan-
line dos Diários de uma Pandemia entre 23 e 30
Desafios para a saúde dos portugueses
2
Corresponde às categorias ‘muitas vezes’ e ‘sempre ou quase sempre’.
54 CAP 02
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
medo pela sua saúde ou a dos seus entes que- nalguns grupos populacionais que vivem condi-
ridos, e 50,4% sentiu ansiedade ao ler notícias ções de maior vulnerabilidade no que respeita à
sobre a pandemia [6]. Mais de 80% sentiu fre- saúde mental (como mulheres, desempregados,
quentemente não ter controlo sobre a situação pessoas com doença crónica) [8,9].
e 29,4% descreveu sentimentos de tristeza, de-
O relatório O Impacto da Pandemia de Covid-19
sespero ou depressão. Globalmente, as mulhe-
nas Instituições Particulares de Solidarieda-
res, as faixas etárias mais novas e aqueles com
de Social (IPSS) e seus Utentes em Portugal
menor escolaridade apresentaram frequências
[10] mostrou que os utentes das IPSS foram
mais elevadas. Mais de um terço dos partici-
especialmente afetados pelas consequências
pantes (39,7%) teve dificuldade em adormecer.
do isolamento (66,2%), nas quais se incluem
O risco de insónia foi mais elevado nas mulhe-
efeitos psicológicos tais como solidão, perdas
res, nos mais jovens e nos participantes que
relacionais e de socialização, desgaste, stress
percecionavam o seu rendimento como inferior
e ansiedade, tristeza e medo. A suspensão das
e frequentemente sentiam medo de infetar pelo
respostas sociais afetou 15,1% das famílias dos
SARS-CoV-2 [7].
seus utentes, como os idosos, pessoas com de-
Importa salientar que os resultados apresen- pendência e pessoas com deficiência, por en-
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
3
Presentismo virtual: um trabalhador com doença/doente que mantém a sua atividade profissional em teletrabalho.
56 CAP 02
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
nantes desses consumos, 47% relataram um fortuna e azar e de cannabis. Destaque-se que,
aumento no uso de substâncias desde o início segundo os resultados do Inquérito Online Euro-
da pandemia relacionado com a perda de em- peu sobre Drogas 2021, cerca de 40% dos utili-
prego, medo de ficar infetado, distanciamento zadores de cannabis referiram utilizar esta droga
social e isolamento. Algumas pessoas relataram como estratégia para lidar com a depressão ou
o uso de substâncias como um mecanismo para ansiedade [18]. O aumento reativo dessas situa-
lidar com os impactos físicos, mentais e sociais ções pode indiciar um aumento do consumo de
negativos da pandemia por SARS-CoV-2. Meca- drogas que deverá ser atentatmente monitoriza-
nismos semelhantes poderão explicar, em par- do no futuro.
57 CAP 02
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
A pandemia poderá ter, direta e indiretamente, mostrou que 85% referirem ter tido mais apoio
afetado a saúde mental da população e levado da família, dos amigos e/ou do cuidador, bem
ao aumento de procura dos serviços relevantes. como grupos de autoajuda e apoio de colegas.
Medo, luto, isolamento, perda de rendimento Em vários países a pandemia teve impacto nos
poderão ter desencadeado novos problemas de serviços de saúde mental, levando a uma subs-
saúde mental ou agravado os pré-existentes, tancial redução no acesso e disponibilidade de
assim como a própria COVID-19 poderá aumen- serviços quer a nível hospitalar quer naqueles
tar o risco de morbilidade psicológica e neuroló- centrados na comunidade [2].
gica, a curto e médio prazo [19]. Dados prelimi-
Em Portugal, as respostas dos serviços de saú-
nares da Universidade do Minho [20], mostram
de mental, no contexto da pandemia de CO-
um aumento da procura de consultas de psico-
VID-19, caracterizaram-se pela adoção de es-
logia e/ou psiquiatria, sendo que mais de 20%
tratégias preventivas e interventivas, dirigidas
da amostra tinha consultas de saúde mental
em curso. Apesar deste aumento de procura, aos doentes com e sem COVID-19, às famílias e
pessoas com problemas de saúde mental pré- aos profissionais. Estas respostas ocorreram a
-existentes e pessoas que sentiram a sua saúde nível hospitalar e comunitário. A nível hospita-
mental deteriorar-se durante a pandemia, po- lar, com a reorganização imediata dos Departa-
derão ter estado em situação particularmente mentos de Psiquiatria e Saúde Mental (DPSM),
vulnerável durante estes dois anos. Segundo designadamente dos Serviços de Psiquiatria e
as conclusões de um inquérito europeu (envol- dos Serviços de Psiquiatria da Infância e Ado-
vendo treze países, incluindo Portugal) junto de lescência (Pedopsiquiatria), com elaboração
pessoas com problemas de saúde mental pree- de planos de contingência, de acordo com as
xistentes, realizado entre setembro e dezembro orientações emanadas do Ministério da Saúde
de 2020 [21], 51% dos entrevistados afirmaram e dos respetivos hospitais onde se inserem os
que a sua saúde mental havia piorado desde o DPSM e, mais tarde, também da Norma da Dire-
Desafios para a saúde dos portugueses
início da pandemia e 57% experimentaram uma ção-Geral da Saúde 011/2020 de 18/04, em ar-
mudança/declínio do seu humor. Foi ainda ob- ticulação com os Agrupamentos de Centros de
servado que, apesar de 82% terem recebido Saúde, as Equipas Locais de Intervenção, as Co-
suporte dos serviços de saúde mental quando missões de Proteção de Crianças e Jovens, com
necessitaram, 60% relataram uma mudança na os Centros de Apoio Psicológico e Intervenção
forma como os cuidados de saúde mental foram em Crise do INEM e com as estruturas locais
prestados (com uma grande maioria a receber dos Planos de Desenvolvimento Social, de modo
cuidados de saúde mental por teleconsulta). a agilizar a comunicação entre os vários servi-
Apesar destes dados, o mesmo estudo europeu ços na sinalização de casos urgentes e vigilân-
58 CAP 02
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
cia das populações mais vulneráveis, sobretu- com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
do idosos, crianças, indivíduos isolados ou com Este serviço pretendeu dar apoio em várias si-
doença mental. A aplicação da referida permi- tuações, como por exemplo: ansiedade aguda;
tiu, ao contrário do que aconteceu noutros paí- fragilidade psicológica; e agravamento da sua
ses, que os serviços de psiquiatria não tenham doença psicológica. Desde a sua criação, no dia
sido “invadidos” por outras especialidades e que 1 de abril de 2020, um mês depois do início da
as equipas não fossem desmanteladas, e que pandemia de COVID-19 em Portugal, cerca de
a assistência a todos as pessoas com doença 75 mil pessoas ligaram para a Linha de Acon-
mental grave em ambulatório pudesse ser man- selhamento Psicológico do SNS 24. Dados re-
tida, inclusivamente de forma presencial. Dados centemente publicados pelo Instituto Nacional
apresentados na comunicação social mostram de Emergência Médica (INEM) apontaram para
que o número de consultas externas terá au- um aumento de mais de 40% dos pedidos de
mentado de 2019 para 2020 e 2021, inicialmen- ajuda ao Centro de Apoio Psicológico e Inter-
te à custa de teleconsultas que gradualmente venção em Crise, passando de 7.345 ocorrên-
foram sendo substituídas por consultas presen- cias em 2019 para 10.474 em 2021 [23]. Este
ciais, e que as sessões em hospital de dia dimi- aumento foi mais significativo nos jovens até
nuíram entre 2019 e 2020, voltando a aumentar aos 19 anos, com um aumento de 52,8%. Os
em 2021 (mas em número inferior a 2019) [22]. quadros mais frequentes foram os relacionados
Houve ainda redução no número de interna- com episódios de crise de ansiedade e ataques
mentos hospitalares e sessões de hospital de de pânico, aliados à dificuldade em regular as
dia entre 2019 e 2020, com recuperação parcial emoções, sintomas depressivos, falta de espe-
em 2021. Salienta-se que, ainda que durante rança e isolamento. A perturbação depressiva
alguns meses as consultas presenciais tenham muitas vezes aliou-se a comportamentos sui-
sido parcialmente substituídas por um atendi- cidários e auto-lesivos. Os incidentes críticos,
mento à distância (incluindo teleconsultas e li- como a morte inesperada de um ente querido
nhas diretas de apoio), estas nunca deixaram de (nomeadamente por COVID-19), foram os even-
existir para os doentes mentais graves. tos com maior crescimento entre 2019 (1.099)
e 2021 (2.276).
As IPSS também reportaram um agravamento
de doença mental ou cognitiva preexistente nos Foram igualmente criadas múltiplas linhas te-
seus utentes (26,7%), uma regressão da capa- lefónicas ao nível dos serviços de saúde men-
cidade locomotora (14,2%) e um agravamento tal, nos hospitais, com o envolvimento de equi-
geral do estado de saúde (4,0%), no qual se in- pas multidisciplinares, para apoio psicológico
cluíram as consequências da falta de apoio fa- em crise aos profissionais de saúde e utentes,
miliar, acima de tudo nos idosos não institucio- tendo como principais metas: a contenção psi-
nalizados, com o risco aumentado de quedas e cológica e validação emocional, capacitação
suspensão de terapêuticas [10]. individual (empowerment), hierarquização de
preocupações e gestão de expetativas, e pro-
Como já afirmado, a pandemia por SARS-CoV-2
moção da resiliência.
motivou alterações profundas na vida das pes-
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
A necessidade de adaptação à
mudança, com o isolamento e
afastamento social, coloca a todos os
cidadãos sob uma pressão psicológica,
por vezes difícil de controlar.
Na procura de resposta para estas
necessidades foi criada a linha de
aconselhamento psicológico, numa
parceria entre os Serviços Partilhados
do Ministério da Saúde e a Ordem dos
Psicólogos Portugueses, com apoio
da Fundação Calouste Gulbenkian.
Desafios para a saúde dos portugueses
60 CAP 02
A PANDEMIA DE COVID-19
SAÚDE MENTAL E PANDEMIA: UMA VISÃO SINDÉMICA
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Desafios para a saúde dos portugueses
62
A PANDEMIA DE COVID - 19
CAP 01
CAPÍTULO
DE SAÚDE
CUIDADOS
3
DESAFIOS PARA A SAÚDE DOS PORTUGUESES
A PANDEMIA DE COVID-19
63 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
A atividade assistencial é uma das principais venção da doença (e.g., rastreios) ou promoção
componentes dos sistemas de saúde, sendo a da saúde, em particular nos primeiros tempos da
sua monitorização e avaliação periódica funda- pandemia, ou no desvio de recursos quer finan-
mentais para a compreensão da evolução dos in- ceiros quer humanos para o seu combate.
dicadores de mortalidade e de morbilidade, bem
A desorganização das tarefas assistenciais lato
como das atividades de prevenção de doença e
sensu pode traduzir-se em manifestações e mo-
de promoção da saúde.
dificações no curso de doenças em muitos indi-
A organização da resposta em cuidados de saúde víduos que, por medo do contágio (não conve-
à COVID-19 teve impactos profundos na presta- nientemente dissipado), evitaram os serviços, ou
ção de cuidados de saúde não-COVID substan- porque viram adiados os cuidados preventivos
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Durante os anos de 2020 e 2021 observou-se, de utentes com acesso a consultas médicas nos
no geral, uma quebra do número de consultas cuidados de saúde primários, comparando com
médicas nos cuidados de saúde primários, com- a média de 2016 a 2019, o que corresponde a
parativamente ao período de 2016 a 2019. uma redução de 4,2 a 8,3% (FIG. 18). As regiões
No caso dos cuidados de saúde primários, verifi- de saúde do Norte, Centro e Alentejo apresen-
cou-se uma diminuição global (-1,1 pontos percen- tavam entre 2016 e 2019 maiores proporções de
tuais) e regional (entre -1,6 pontos percentuais e utentes inscritos com acesso a consultas, com
0 pontos percentuais) da cobertura da população um diferencial de cerca de 10 pontos percentuais
inscrita com médico de família atribuído em 2019 relativamente às outras regiões de Portugal con-
e em 2020, contrariando uma tendência crescen- tinental, o qual foi mantido durante a pandemia.
te verificada em anos anteriores [1].
Contrariamente, observou-se na Região Autóno-
Consequentemente, em 2020 houve uma redu- ma dos Açores um aumento da utilização de con-
ção de 2,6 a 5,2 pontos percentuais da proporção sultas médicas nos Cuidados de Saúde Primários.
70.00
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
Desafios para a saúde dos portugueses
10.00
0.00
Alentejo Algarve Centro LVT Norte Açores Madeira
FIG. 18. Proporção de utentes inscritos com acesso a consulta médica nos cuidados de saúde primários, por
região de saúde do SNS, 2016-2021.
66 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Nos cuidados de saúde hospitalares a redução tou a subir acima de valores pré pandemia em
da proporção de utentes com acesso a cuidados 2021 (FIG. 20). A quebra em 2020 foi especial-
foi um pouco mais marcada. Em 2020 houve uma mente marcada nos hospitais da região de saúde
redução de 12,2 a 21,6% das primeiras consultas do Centro (22%), Lisboa e Vale do Tejo (17,5%) e
hospitalares, sendo esta redução menos marca- Norte (15,6%). A recuperação foi especialmen-
te marcada na região Norte e Alentejo. Focando
da nas consultas subsequentes (entre 0,04% e
os Institutos Portugueses de Oncologia (IPO), o
16,6%) (FIG. 19).
IPO do Porto manteve as maiores proporções de
Tendo em conta as primeiras consultas externas, resposta em tempo adequado (92,7% em 2020
em 2020, em média, apenas 71,5% das consultas e 93,0% em 2021), enquanto no IPO de Lisboa
decorreu em tempo adequado (dentro do Tempo 85,6% das consultas decorreram em tempo ade-
Máximo de Resposta Garantido), valor que vol- quado em 2020.
12
Número de consultas médicas (milhões)
10
0
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2021
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2021
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2021
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2021
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2021
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2016
2017
2018
2019
Média 2016-2019
2020
2021
Desafios para a saúde dos portugueses
FIG. 19. Número de consultas médicas hospitalares, por região de saúde do SNS, 2016-2021.
67 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
100
90
80
70
Proporção de consultas (%)
60
50
30
20
10
0
IPO Coimbra IPO Lisboa IPO Porto ARS Alentejo ARS Algarve ARS Centro ARS LVT ARS Norte
FIG. 20. Proporção de consultas hospitalares dentro do Tempo Máximo de Resposta Garantido por região
de saúde do SNS, e nos Institutos Portugueses de Oncologia (IPO), 2015-2021.
Desafios para a saúde dos portugueses
68 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
4.5
3.5
Intervenções cirúrgicas (milhões)
2.5
0.5
0
Programadas Convencionais Ambulatório Urgentes
FIG. 21. Número de intervenções cirúrgicas realizadas por ano no SNS, por tipo, 2015-2021.
Desafios para a saúde dos portugueses
Mesmo as cirurgias urgentes tiveram uma redu- cadas no Alentejo (27,5%), Centro (28,0%) e Lis-
ção de 8,3%, com menos cerca de 50.000 cirur- boa e Vale do Tejo (26,4%) (FIG. 22-A). Quanto
gias urgentes realizadas em 2020. A redução no à redução das cirurgias urgentes, observou-se
número de intervenções cirúrgicas programadas uma redução relativa de 8,0 a 9,0% em todas as
foi mais marcada na ARS Centro (25,0%), nos regiões de Saúde de Portugal continental, exce-
Açores (24.2%) e na Madeira (25.6%) e as cirur- to no Alentejo (1,8%) (FIG. 22-D), nos Açores
gias convencionais tiveram reduções mais vin- (4.1%) e na Madeira (2.6%).
69 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
A. Intervenções programadas
2.5
2
Intervenções cirúrgicas (milhões)
1.5
0.5
0
ARS Alentejo ARS Algarve ARS Centro ARS LVT ARS Norte
B. Intervenções convencionais
0.7
0.6
0.5
Intervenções cirúrgicas (milhões)
0.4
0.3
0.2
Desafios para a saúde dos portugueses
0.1
0
ARS Alentejo ARS Algarve ARS Centro ARS LVT ARS Norte
70 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
C. Intervenções ambulatório
1.6
1.4
1.2
Intervenções cirúrgicas (milhões)
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0
ARS Alentejo ARS Algarve ARS Centro ARS LVT ARS Norte
D. Intervenções urgentes
0.3
0.25
Intervenções cirúrgicas (milhões)
0.2
0.15
Fonte: Portal da Transparência do SNS
0.1
Desafios para a saúde dos portugueses
0.05
0
ARS Alentejo ARS Algarve ARS Centro ARS LVT ARS Norte
FIG. 22. Número de intervenções cirúrgicas realizadas por ano, por região de saúde do SNS, por tipo,
2015-2021.
71 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Em 2020, todas as regiões de saúde de Portu- e Vale do Tejo, com valores inferiores a 70%, en-
gal continental tiveram uma redução da propor- quanto nas restantes regiões esta percentagem
ção de pessoas inscritas para cirurgia dentro do rondou os 80,0%. Ainda, se no Alentejo, Cen-
tempo máximo de resposta garantido, compa- tro e Norte no primeiro semestre de 2021 esta
rando com a média de 2015 a 2019 (FIG. 23). percentagem foi superior a 70,0%, nas regiões
No entanto, a percentagem de inscritos com ci- do Algarve e Lisboa e Vale do Tejo estes valores
rurgia no tempo máximo de resposta garantido mantiveram-se de novo muito inferiores (54,0%
foi especialmente reduzida no Algarve e Lisboa e 63,4%, respetivamente).
100
90
80
70
60
Proporção (%)
50
30
20
10
0
ARS Alentejo ARS Algarve ARS Centro ARS LVT ARS Norte
FIG. 23. Percentagem de inscritos em Lista de Inscritos em Cirurgia com tempo de espera inferior ao
Tempo Máximo de Resposta Garantida, por região de saúde do SNS, 2015-2021.
72 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
3.1.4. Internamentos
No ano de 2020 houve uma redução de 18,5% A redução do número de internamentos e do nú-
do número de internamentos hospitalares (FIG. mero de dias de internamento foi mais marcada
24) e de 14,4% no total de dias de internamento na região Centro (25,4% e 20,9%, respetivamen-
(FIG. 25), comparativamente com a média de te) e menos intensa na região Norte (14,1% do
2016-2019. número de internamentos e 8,5% do número de
dias de internamento). Saliente-se que a região
As doenças do aparelho respiratório, as doenças
Norte foi a região com maior número de interna-
do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos
mentos por COVID-19 em 2020 (cerca de 10.000
(ouvido e olho), as doenças mentais e as doen-
internamentos, 3,8% do total de internamentos
ças pele e tecidos subcutâneo, osteomuscular
e 5,4% do total de dias de internamento), segui-
e conjuntivo tiveram uma redução de cerca de
da por Lisboa e Vale do Tejo (cerca de 8.000 in-
30,0% relativamente à média de 2016-2019. A
ternamentos, 3,3% do total de internamentos e
redução do número de dias de internamento foi
4,9% do total de dias de internamento) e região
mais marcada nas doenças do aparelho respira-
Centro (cerca de 3.000 internamentos, 2,4% do
tório (28,2%), doenças pele e tecidos subcutâ-
total de internamentos e 3,5% do total de dias de
neo, osteomuscular e conjuntivo (26,3%) e nas
internamento.
neoplasias (25,6%).
350 000
300 000
250 000
200 000
150 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
100 000
50 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
200 000
180 000
160 000
140 000
120 000
100 000
60 000
40 000
20 000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
350 000
300 000
250 000
200 000
150 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
100 000
50 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
40 000
35 000
30 000
25 000
20 000
10 000
5 000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
35 000
30 000
25 000
20 000
15 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
10 000
5 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
25 000
20 000
15 000
5 000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
25 000
20 000
15 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
10 000
5 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
FIG. 24. Número de internamentos por ano por região de saúde do SNS, 2016-2021 (jan-mai).
76 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
2500 000
2000 000
1500 000
500 000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
1600 000
1400 000
1200 000
1000 000
800 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
600 000
400 000
200 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
3000 000
2500 000
2000 000
1500 000
500 000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
300 000
250 000
200 000
150 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
100 000
50 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
350 000
300 000
250 000
200 000
150 000
50 000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
200 000
180 000
160 000
140 000
120 000
100 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
80 000
60 000
40 000
20 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
200 000
180 000
160 000
140 000
120 000
100 000
60 000
40 000
20 000
0
2016 2017 2018 2019 2020 2021 ( jan-mai)
FIG. 25. Dias de internamentos por ano por região de saúde do SNS, 2016-2021 (jan-mai).
Desafios para a saúde dos portugueses
80 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
3.1.5. Tratamento
de dependências
O número de utentes com problemas relaciona- tos de Centros de Saúde, com um decréscimo de
dos com álcool em tratamento diminuiu de 2019 51,7% de primeiras consultas comparando com
para 2020 em cerca de 8%, com uma redução 2019 (FIG. 28) [2]. Nos Açores, em contraciclo,
de quase 50% do número de novos utentes em 2020 houve um aumento do número de con-
em tratamento e 30% dos utentes readmitidos sultas de cessação tabágica, comparando com a
(FIG. 26). Quanto ao número total de utentes média de 2017-2019. Houve uma redução de 29%
em tratamento da dependência a drogas ilícitas, do número de embalagens de vareniclina dispen-
este tem vindo a baixar desde 2017, acentuan- sadas em farmácia de oficina em 2020 compa-
do-se entre 2019 e 2020 (7%), e com redução rando com 2019, sendo que a quebra ocorreu em
de 30% dos utentes novos em tratamento de abril/maio, mantendo-se nos meses subsequen-
2019 para 2020 (FIG. 27). tes em valores inferiores a 2019 e janeiro e feve-
reiro de 2020 [3]. Contrariamente, durante 2020
Quanto ao apoio à cessação tabágica, em Portu-
observou-se um aumento de 0,8% de dispensa
gal continental houve uma quebra de 39,2% do
de medicamentos contendo nicotina.
total de consultas de apoio intensivo à cessação
tabágica em serviços hospitalares e Agrupamen-
16000
14000
12000
10000
Numero de utentes
8000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
6000
4000
Desafios para a saúde dos portugueses
2000
0
2016 2017 2018 2019 Média (2016-2019) 2020 2021
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
25000
20000
Numero de utentes
15000
5000
0
2016 2017 2018 2019 Média (2016-2019) 2020 2021
FIG. 27. Número de doentes em acompanhamento por dependência a drogas ilícitas, 2016-2021.
50 000
40 000
Número de consultas
30 000
20 000
10 000
Desafios para a saúde dos portugueses
0
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
2017
2018
2019
Média 2017-2019
2020
FIG. 28. Número de consultas de apoio intensivo à cessação tabágica, por região de saúde do SNS,
2017-2020.
82 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
No que diz respeito à vigilância a recém-nascidos, A proporção de recém-nascidos com visita domi-
a vigilância médica até ao 28º dia manteve-se ciliar de enfermagem até ao 15.º dia de vida tem
elevada em todas as regiões de Portugal conti- vindo a diminuir desde 2016 em todas as regiões.
nental em 2020 e em 2021, ainda que com uma li- Apesar disso, a região Norte mantém- com maior
geira redução no Alentejo (FIG. 29). Nos Açores, proporção de recém-nascidos com visita domici-
houve uma quebra de 15 pontos percentuais na liar, numa discrepância de 40 pontos percentuais
proporção de recém-nascidos com consulta mé- relativamente às outras regiões.
dica realizadas até aos 28 dias de vida.
Vigilância a recém-nascidos
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Desafios para a saúde dos portugueses
0
Consulta Domicílio Consulta Domicílio Consulta Domicílio Consulta Domicílio Consulta Domicílio Consulta Domicílio
médica vigil. enfermagem médica vigil. enfermagem médica vigil. enfermagem médica vigil. enfermagem médica vigil. enfermagem médica vigil. enfermagem
até 28 dias até 15 dias até 28 dias até 15 dias até 28 dias até 15 dias até 28 dias até 15 dias até 28 dias até 15 dias até 28 dias até 15 dias
de vida de vida de vida de vida de vida de vida de vida de vida de vida de vida de vida de vida
FIG. 29. Vigilância a recém-nascidos nos cuidados de saúde primários, por região de saúde do SNS,
2016-2021 (jan-nov).
84 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Quanto à vigilância da diabetes mellitus, hou- de pessoas diagnosticadas com diabetes com
ve uma queda na proporção de pessoas diag- exame aos pés) e na região Norte (13,6 pontos
nosticadas com diabetes com exame aos pés e percentuais na proporção de pessoas diagnos-
com controlo hemoglobina A1c inferior a 8% em ticadas com diabetes com exame aos pés e 8,6
2020 (FIG. 30). Esta diminuição foi maior nos pontos percentuais no controlo hemoglobina
Açores (18 pontos percentuais na proporção A1c inferior a 8%).
90.00
80.00
70.00
60.00
40.00
30.00
20.00
10.00
0.00
Desafios para a saúde dos portugueses
Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção Proporção
Exame pés HgbA1c Exame pés HgbA1c Exame pés HgbA1c Exame pés HgbA1c Exame pés HgbA1c Exame pés HgbA1c Exame pés HgbA1c
<= 8,0% <= 8,0% <= 8,0% <= 8,0% <= 8,0% <= 8,0% <= 8,0%
FIG. 30. Vigilância das pessoas com diabetes mellitus nos cuidados de saúde primários, por região
de saúde do SNS, 2016-2021 (jan-nov).
85 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Quanto aos rastreios de âmbito populacional, cancro do colo do útero e do cancro colo re-
em 2020, em Portugal continental, a proporção tal, houve uma redução de 1,3 a 5,6 pontos per-
de população elegível rastreada para o cancro centuais, comparando com os valores de 2019.
da mama decresceu quanto à média dos anos No entanto, quer no Algarve, para o cancro do
2016-19, com uma redução de cerca de 10 pon- colo do útero, quer para o Algarve, Alentejo e
tos percentuais relativamente a 2019 (com re- Centro para o cancro colo-retal, as proporções
dução mais marcada no Alentejo, com 17 pontos foram superiores às médias de 2016-2019. Nos
percentuais) (FIG. 31). Quanto ao rastreio do Açores, em 2020 houve um aumento de 7 pon-
60.00
com mamografia nos últimos 2 anos
Proporção de mulheres com 50-70
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00
0.00
ARS Algarve ARS Alentejo ARS Centro ARS LVT ARS Norte
70.00
60.00
Proporção de mulheres com 25-60 anos
com colpocitologia atualizada
50.00
40.00
Desafios para a saúde dos portugueses
30.00
20.00
10.00
0.00
ARS Algarve ARS Alentejo ARS Centro ARS LVT ARS Norte
86 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
80.00
70.00
Proporção de utentes com 50-75 anos
60.00
com rastreio colo-retal
50.00
40.00
20.00
10.00
0.00
ARS Algarve ARS Alentejo ARS Centro ARS LVT ARS Norte
FIG. 31. Rastreios populacionais contra o cancro da mama, cancro colo-retal e cancro do colo do útero, por
região de saúde do SNS, 2016-2021 (jan-nov).
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
40000
35000
30000
Número de cheques
25000
20000
15000
10000
5000
0
Cheques Cheques Cheques Cheques Cheques Cheques Cheques Cheques
Emitidos Utilizados Emitidos Utilizados Emitidos Utilizados Emitidos Utilizados
B.
500000
450000
400000
350000
300000
250000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
200000
150000
100000
50000
0
Desafios para a saúde dos portugueses
FIG. 32. Número de cheques dentista emitidos e utilizados no âmbito do Programa Nacional de Promoção
da Saúde Oral para (A) os grupos das criança se jovens com 7, 10 e 13 anos, idosos com complemento soli-
dário, portadores de VIH/SIDA e para intervenção precoce no cancro oral, e (B) crianças e jovens até aos 18
anos e grávidas seguidas no SNS.
88 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
(Quadro 3).
89 CAP 03
01
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
2018 2021
Categoria profissional Efetivos por 104 hab Efetivos por 104 hab Δ% 2018-2021
Fonte: : https://www.sns.gov.pt/monitorizacao-do-sns/analise-mensal-do-balanco-social/
Enfermeiros 42.383 412 49.520 479 16,8%
Farmacêuticos 0 744 7
Quadro 3. Número de efetivos e rácio por 100 000 habitantes no SNS, por categoria profissional e varia-
ção percentual entre 2018 e 2020
Desafios para a saúde dos portugueses
90 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Ao longo de 2021 as farmácias reforçaram o seu todo o país. Em 2021, foram disponibilizados
papel, assegurando um conjunto relevante de mais de 10 milhões de autotestes pelas farmá-
respostas para responder à pandemia e mitigar cias portuguesas e realizados mais de 5 milhões
outros impactos na saúde. de testes de uso profissional pelos seus farma-
cêuticos. No final de 2021, os testes realizados
A disponibilização generalizada de autotestes e
nas farmácias comunitárias totalizavem cerca
a implementação de serviços de testagem rá-
de 90% do total de testes rápidos de antigénio
pida pelas farmácias em todo o país, foi funda-
realizados no país (FIG. 33).
mental para compatibilizar a gestão da pande-
mia com a manutenção de funcionamento de
100%
80%
60%
40%
Desafios para a saúde dos portugueses
20%
Fonte: CEFAR
0%
21 02
1 1
02
1
02
1
02
1 1
02
1
02
1
02
1 1
02
1
20 02 02 02
1- -2 -2 -2 -2 -2 7-
2 -2 -2 -2 -2 -2
0 2 3 4 5 6 8 9 10 11 12
1- -0 -0 -0 -0 -0 -0 -0 -0 1- 1- 1-
0 01 01 01 01 01 01 01 01 0 0 0
FIG. 33. Evolução da percentagem dos testes realizados na farmácia face ao total durante o ano de 2021.
91 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
1 000 000
89%
900 000
800 000
700 000
Número de testes realizados
600 000
500 000
400 000
300 000
Fonte: Ministério da Saúde
200 000
Desafios para a saúde dos portugueses
9%
100 000
2%
0
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51
mar’20 abr’20 mai’20 jun’20 jul’20 ago’20 set’20 out’20 nov’20 dez’20 jan’21 fev’21 mar’21 abr’21 mai’21 jun’21 jul’21 ago’21 set’21 out’21 nov’21 dez’21
FIG. 34. Evolução do número de testes de diagnóstico a SARS-CoV-2, por semana, por sector, março
2020 - dezembro 2021
92 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
-30%
-29 259 879
Atos Realizados
Exames Convencionados por Área MCDT
(Pré-pandemia - Mar 2019 a Jan 2020
vs Pandemia - Mar 2020 a Jan 2021)
https://transparecnia.sns.gov.pt/explore/dataset/exames-convencionados-e-area-mcdt/table/?disjunctive.ors_
Medicina Física e de Reabilitação 41 426 837 25 944 768 -15 482 069 -37%
Análises Clínicas 47 914 095 37 271 492 -10 642 603 -22%
Urologia 50 46 -4 -8%
Quadro 4 Comparação do número de exames convencionados realizados em Portugal, por área de MCDT.
93 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
3.4.4. Hospitais
Numa fase preliminar, os hospitais privados fizeram adiar consultas e cirurgias não urgentes, obrigou
o acolhimento, triagem, estabilização e encami- a esforços por parte dos hospitais privados para
nhamento de doentes suspeitos, no cumprimento garantirem o cumprimento dos seus compromis-
das regras da DGS. Numa segunda fase, que de- sos. De realçar que, apesar de todos os constran-
correu entre os dias 9 e 25 de março de 2020, em gimentos, também financeiros, que se colocaram
cumprimento das orientações da DGS, as consul- em março, abril e maio de 2020, os hospitais pri-
tas de especialidade e as cirurgias não urgentes
vados mantiveram a sua oferta aos portugueses e,
foram adiadas. Durante este período, os hospitais
só em casos muito pontuais, houve necessidade de
privados colaboraram no levantamento e informa-
recurso a lay-off. A partir de outubro de 2020, com
ção ao Ministério da Saúde dos recursos existentes,
a segunda vaga em plena evolução, começou a ha-
nomeadamente em termos de número de camas,
incluindo as de cuidados intensivos, e de núme- ver contactos, em primeiro lugar, de forma pontual,
ro de ventiladores. Foram ainda doados e dispo- por parte de hospitais do SNS, sobretudo do Norte,
nibilizados ventiladores, reservas de camas e ses- e em seguida por parte das ARS no sentido de so-
sões de hemodiálise a pedido de hospitais do SNS. licitar o apoio dos hospitais privados (e do sector
social). Com a terceira vaga, a partir de dezembro
A evolução da pandemia por COVID-19 determi-
de 2020, os pedidos de colaboração por parte dos
nou diferentes fases com envolvimento distinto
por parte do sector privado na saúde (FIG. 35). hospitais do SNS tornaram-se mais insistentes,
A redução significativa de atividade, nomeada- nomeadamente na região de Lisboa e Vale do Tejo.
mente a decorrente dos períodos de confinamento Nesta fase, os hospitais privados deram o máxi-
e de restrição da mobilidade, mas também a que mo de capacidade possível: houve pelo menos 14
resultou do cumprimento das regras e orientações hospitais privados em apoio direto aos hospitais do
da DGS e da Ordem dos Médicos, no sentido de SNS, com cerca de 900 camas contratualizadas.
. Orientações DGS
. Disponibilização . Adiamento de cirurgias
de meios e consultas
. Atendimento COVID
. Ativação 5 hospitais não SNS
1.ª linha . Trabalho “ombro
. Atividade normal a ombro” com SNS
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
COLABORADORES
Médicos Técnicos
15 529 2 397
Enfermeiros Administrativos
7 655 5 861
Auxiliares de ação médica
6 126
VALÊNCIAS
Camas
Cuidados intermédios/ Consultórios médicos
3 004
intensivos
200
161 148
Desafios para a saúde dos portugueses
Fonte: APHP
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
ATOS MÉDICOS
Consultas
6 323 542
Urgências
828 024
Cirugias
das quais 15 284 SIGIC
169 075
104 044
Eco Diárias
Doentes oncológicos
861 227 531 315 em tratamento
14 473
TAC
376 985
RMN
253 997
Desafios para a saúde dos portugueses
Fonte: APHP
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Cirurgias 2020
20000
18000
16000
14000
12000
10000
6000
4000
2000
0
jan’20 fev’20 mar’20 abr’20 mai’20 jun’20 jul’20 ago’20 set’20 out’20 nov’20 dez’20 dez’19
800 000
700 000
600 000
500 000
400 000
Fonte: Portal da Transparência do SNS
300 000
200 000
Desafios para a saúde dos portugueses
100 000
0
jan’20 fev’20 mar’20 abr’20 mai’20 jun’20 jul’20 ago’20 set’20 out’20 nov’20 dez’20 dez’19
97 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
Urgências 2020
160 000
140 000
120 000
10 000
80 000
60 000
40 000
Fonte: APHP
20 000
0
jan’20 fev’20 mar’20 abr’20 mai’20 jun’20 jul’20 ago’20 set’20 out’20 nov’20 dez’20 dez’19
gestão tem estado também patente no difícil re- público e a provisão privada, com acordos es-
lacionamento com o sector privado e social e a peciais entre ambos os sectores para expansão
academia, com quem a colaboração regulada e dos recursos e serviços disponíveis para respon-
negociada não foi possível. É como se o SNS, der à pandemia [5]. Ainda que esta fosse uma
consciente das suas fragilidades de monitoriza- prática comum em alguns países, como Espa-
ção e regulação e com medo de ser prejudica- nha, noutros, como o Chipre, foi uma novidade
do, tivesse preferido manter à distância quem que permitiu uma concertação da resposta e um
poderia ter contribuído mais”. Note-se que no alívio dos serviços de saúde públicos em mo-
Plano da Saúde para o Outono-Inverno 2020-21, mentos de elevada incidência.
98 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
4000
3.268 3.326
3000
2.584
2.408
2.331
2.243
2.036
2000 1.838 1.893
1.548
1.482
1.379 1.440 1.430 1.428
1.197
1.036
1000 891 926
839 865
Desafios para a saúde dos portugueses
Fonte: APS
0
jan’15 dez’16 dez’17 dez’18 dez’19 dez’20 jun’21
FIG. 39. Evolução da atividade assistencial Evolução do número de pessoas com seguros de saúde,
dez 2015-jun 2021.
99 CAP 03
A PANDEMIA DE COVID-19
CUIDADOS DE SAÚDE
REFERÊNCIAS
1. M
inistério da Saúde. Relatório Anual - Acesso a cuidados de saúde nos estabeleci-
mentos do SNS e entidades convencionadas 2020. Disponível em: https://www.acss.
min-saude.pt/wp-content/uploads/2021/09/Relatorio-do-Acesso_VF.pdf
2. D
ireção-Geral da Saúde. Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Taba-
gismo 2020. Lisboa; 2021.
3. A
raújo A, Correia A. Monitorização do consumo de nicotina e vareniclina. Infarmed
Notícias. 2021;28–9.
4. M
amede RC & Silva PA. O Estado da Nação e as Políticas Públicas 2021: Governar
em Estado de Emergência. Lisboa: Instituto para as Políticas Públicas e Sociais,
ISCTE, 2021. Disponível em: https://ipps.iscte-iul.pt/index.php/divulgacao/estudos-
-e-publicacoes-3/947-governar-em-estado-de-emergencia
5. W
aitzberg R, Hernández-Quevedo C, Bernal-Delgado E, Estupiñán-Romero F, An-
gulo-Pueyo E, Theodorou M, Kantaris M, Charalambous C, Gabriel E, Economou C,
Kaitelidou D, Konstantakopoulou O, Vildiridi LV, Meshulam A, de Belvis AG, Morsella
A, Bezzina A, Vincenti K, Augusto GF, Fronteira I, Simões J, Karanikolos M, Williams
G, Maresso A. Early health system responses to the COVID-19 pandemic in Mediter-
ranean countries: A tale of successes and challenges. Health Policy. 2021 12:S0168-
8510(21)00255-4. DOI: 10.1016/j.healthpol.2021.10.007.
Desafios para a saúde dos portugueses
Desafios para a saúde dos portugueses
100
A PANDEMIA DE COVID - 19
CAP 01
PARA
CAPÍTULO
10 RECOMENDAÇÕES
4
O FUTURO
DESAFIOS PARA A SAÚDE DOS PORTUGUESES
A PANDEMIA DE COVID-19
101 CAP 04
A PANDEMIA DE COVID-19
10 RECOMENDAÇÕES PARA O FUTURO
1 ESTUDAR OS EFEITOS
DA PANDEMIA
2 MAIS ACESSO
A DADOS
3 DECISÃO
Desafios para a saúde dos portugueses
MAIS TRANSPARENTE
A PANDEMIA DE COVID-19
10 RECOMENDAÇÕES PARA O FUTURO
4 ÁREAS PRIORITÁRIAS
5 ROBUSTECER O SNS
6 REFORMAR A SAÚDE
PÚBLICA
Desafios para a saúde dos portugueses
Iniciar uma profunda reforma dos serviços de Saúde Pública, revendo ma-
térias como autonomia, encargos e recursos, nos seus vários níveis (cen-
tral, regional e local), promovendo a interdisciplinaridade das equipas e ga-
rantindo os recursos especializados capazes de levar a cabo as operações
essencias de saúde pública, dedicando uma atenção especial à generalida-
de das crises sanitárias e, em particular, às emergências infeciosas.
103 CAP 04
A PANDEMIA DE COVID-19
10 RECOMENDAÇÕES PARA O FUTURO
7 MAIOR COORDENAÇÃO
8 ACELERAR TRANSIÇÃO
DIGITAL
9 MELHOR PROMOÇÃO
DA SAÚDE
A PANDEMIA DE COVID-19
10 RECOMENDAÇÕES PARA O FUTURO
10 REFORÇAR A PROTEÇÃO
DOS MAIS VULNERÁVEIS
A PANDEMIA DE COVID-19
10 RECOMENDAÇÕES
SUMÁRIO EXECUTIVOPARA O FUTURO
PORTUGUESES
19
DOS
COVID
SAÚDE
ANEXO
DE
A
PANDEMIA
PARA
Desafios para a saúde dos portugueses
DESAFIOS
A
106 ANEXO
A PANDEMIA DE COVID-19
Nota metodológica
Para obter um retrato abrangente do efeito da grupos. A não disponibilização de dados, como
pandemia de COVID-19 na vida das pessoas que os relativos à mortalidade específica por cau-
residem em Portugal são naturalmente neces- sas de morte não-COVID-19 a investigadores,
sárias diversas fontes de dados, sejam de ori- ou dessa informação aos cidadãos, impedem o
gem administrativa ou baseados em questioná- estudo do impacto a curto prazo da pandemia
rios específicos aplicados à população durante de COVID-19 e das medidas tomadas na mor-
este período. O acesso a essas bases oficiais de talidade não-COVID-19. Igualmente, a ausência
dados pelas equipas de investigadores revela-se de dados sobre o movimento de internamentos,
um problema em Portugal, contrariamente ao com informação sobre causas e complicações,
que sucede em outros países europeus. Algu- ou caraterísticas sociodemográficas dos indiví-
ma informação está ainda compreensivelmente duos, impedem-nos conhecer a verdadeira di-
indisponível na extensão temporal que se de- mensão do efeito da pandemia, para além da
sejaria, nomeadamente aquela que depende da mortalidade que lhe é diretamente atribuível.
ligação de bases de dados ou tratamento de ba- Por fim, e no que respeita à exigência de um
ses de dados administrativas. Mas outro tipo de padrão de rigor, não dispomos das definições
informação, cuja importância é central, não está oficiais (ou da sua mudança ao longo do tempo)
disponível por razões de natureza “burocrática” de morte por COVID-19.
dificilmente aceitáveis, já que o seu extensivo
tratamento por equipas de investigadores per-
mitiria obter um retrato mais completo e apro-
fundado da realidade sobre a qual se pretende
intervir ao nível das políticas públicas. Aconte-
ce ainda que muita informação não foi recolhida
em tempo, pois para isso teria sido necessária
uma atividade de inquirição continuada, prática
rara na nossa governança e para a qual não hou-
ve nem orientação nem financiamento. Assim, a
ausência de dados oficiais, como a relativa às
Desafios para a saúde dos portugueses
A PANDEMIA DE COVID-19
Fontes de dados
A PANDEMIA DE COVID-19
rurais e urbanos, de várias idades (entre os 17 e ministrativa (como recenseamento, registos de
os 28 anos, com uma média de 23,4 anos) e de inscrições nos Centros de Emprego ou por parte
ambos os sexos. Todos estes jovens pertenciam das forças de segurança). Foram consultados
a associações juvenis, e que o convite e seleção dados relativos ao risco de pobreza e exclusão
dos jovens foi realizada pela Federação Nacional social, provenientes do Inquérito às Condições
de Associações Juvenis. Consultaram-se os re- de Vida e Rendimento (EU-SILC) com amostras
sultados relativos ao efeito do confinamento na representativas da população portuguesa.
alimentação e atividade física dos jovens.
económicas e sociais.
à monitorização de comportamentos de proteção
e fatores determinantes destes (capacidades,
oportunidades, motivações). Os indivíduos foram
Instituto Nacional de Estatística
recrutados a partir do Painel de Estudos Online da
Foram consultados dados relativos a mortalida- Universidade Católica Portuguesa. O inquérito foi
de (incluindo mortalidade infantil), natalidade, aplicado em 3 vagas com 379,344 e 333 partici-
fecundidade, esperança média de vida à nascen- pantes, entre 27 de julho e 11 de agosto de 2020,
ça, desemprego, crimes e violência doméstica, 29 de setembro e 12 de outubro de 2020 e 16 e 29
provenientes de fontes de dados de base ad- de novembro de 2020, respetivamente.