Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
‘17
Distribuição Gratuita
ISSN: 2183-5985
C.E. CORPO EDITORIAL
DIRETOR
NUNO BORGES | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO
COORDENAÇÃO EDITORIAL
HELENA REAL | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO
PAINEL DE REVISORES
FICHA TÉCNICA
Acta Portuguesa de Nutrição N.º 11, outubro-dezembro 2017 | ISSN 2183-5985 | Revista da Associação Portuguesa de Nutrição | Rua João das
Regras, n.º 278 e 284 - R/C 3, 4000-291 Porto | Tel.: +351 22 208 59 81 | Fax: +351 22 208 51 45 | E-mail: actaportuguesadenutricao@apn.org.pt |
Propriedade Associação Portuguesa de Nutrição | Periodicidade 4 números/ano (1 edição em papel e 3 edições em formato digital):
janeiro-março; abril-junho; julho-setembro e outubro-dezembro | Conceção Gráfica COOPERATIVA 31 | Notas Artigos escritos segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Os
artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores, podendo não coincidir com a opinião da Associação Portuguesa de Nutrição. É permitida a reprodução
dos artigos publicados para fins não comerciais, desde que indicada a fonte e informada a revista. A publicidade não tem necessariamente o aval científico da Associação
Portuguesa de Nutrição.
I.
EDITORIAL
ÍNDICE
2 A.R._ARTIGO DE REVISÃO
Nuno Borges
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO
E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA 30
Sofia Alves Cardoso; Isabel Paiva
A.O._ARTIGO ORIGINAL
RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA
E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: 6 A.P._ARTIGO PROFISSIONAL
COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS
ALIMENTARES
DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA
NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS 36
Catarina Barbosa; Pedro Pimenta; Helena Real
Ivo Barbedo Faria; Cláudia Silva; Maria Gil Ribeiro
NORMAS DE PUBLICAÇÃO 47
A.R._ARTIGO DE REVISÃO
PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E
ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS 22
CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
Mariana Almeida; Andreia Oliveira
ABSTRACT
INTRODUCTION: The Mediterranean Diet is considered one of the healthiest food patterns of the world, however, most countries have
their own food guide. In Portugal, it is used as guide, the Portuguese Food Wheel. However, as Portugal is a country with Mediterranean
characteristics, the Mediterranean Food Wheel has been developed.
OBJECTIVES: Compare the Mediterranean Food Wheel and the Mediterranean Diet Pyramid, to see and analyze the differences and
concordances between the two.
METHODOLOGY: It was established four levels of comparison of several parameters set by the guides (I: equal in every aspects; II: existence
of the parameter in the two guides, but with differences in the recommendation; III: the parameter only exists in the Mediterranean Food
Wheel; IV: the parameter only exists in the Pyramid of Mediterranean Diet). Were analyzed 27 parameters: sustainability; white meat; red
meat; processed meat; fish; eggs; beans; vegetables; fruit; cereals; water; wine; sugar and sugar products; fat and oils; physical activity;
seasonality; seeds; oleaginous fruits; national cuisine; culinary; living together; herbs; salt; dairy products; equivalent portions; rest; biodiversity.
RESULTS: The percentage of the level I, II, III and IV is 29.6 %, 48.2 %, 3.7 % and 18.5 %, respectively. The parameters corresponding to the level
I are: conviviality, biodiversity, traditional local foods, seasonality, physical activity, wine, national cuisine and culinary; at level II are: dairy, white
meat, red meat, fish/seafood, eggs, beans, oleaginous fruits, vegetables, fruit, cereals, water, fat and oils and herbs; at level III are: equivalent
portions; at level IV are: processed meat, salt, sugar and sugar products, seeds and rest. Besides that, the guides have different schematic forms.
CONCLUSIONS: Comparing the two guides, it is verified that there is a high agreement between both, being the Mediterranean Food
Weel, elaborated based on the Portuguese reality and the entire national culture, history and traditions, and may appear to be the more
suitable for use in actions aimed at the Portuguese population. It will also be essential to increase information about the Mediterranean
Food Wheel in school textbooks.
KEYWORDS
Food guides, School textbooks, Mediterranean Diet Pyramid, Portuguese population, Mediterranean Food Weel
6 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
INTRODUÇÃO Dado que em Portugal se tem vindo a reforçar o debate e promoção
Portugal é um país com uma vasta herança mediterrânica resultante da DM, para além de se ter incrementado informação sobre o tema
de constantes migrações que, ao longo dos séculos, configuraram nos manuais escolares, onde surge maior destaque para a PDM em
o Mediterrâneo em geral (1–3). O homem soube tirar partido dos detrimento da RA, torna-se importante explorar quais as diferenças e
recursos escassos do solo da região mediterrânica, nomeadamente semelhanças entre os dois guias de forma a clarificar estes aspetos
os arbustos, ao utilizá-los para a lenha; as ervas, ao propiciarem o pasto junto dos profissionais da área da nutrição e alimentação e também
para os animais; bem como os frutos e óleos, extraídos de algumas os professores.
plantas bravas. Para além disso, o homem também introduziu várias
plantas agrárias, que permaneceram nestas terras, até aos dias de OBJETIVOS
hoje, enriquecendo a vegetação e transformando as paisagens. São Comparar a RAM e a PDM, com o intuito de verificar e analisar as
exemplos disso a oliveira, a videira, a figueira e as plantas de inúmeras possíveis diferenças e concordâncias entre ambos os guias alimentares.
leguminosas (2–4).
A designação de “Dieta Mediterrânica” (DM) surge na década de 50/60 METODOLOGIA
do século XX , no decurso de um conjunto de estudos que o fisiologista Procedeu-se ao estudo de dois guias alimentares, tendo sido selecionados
norte-americano Ancel Keys realizou no Mediterrâneo (5–7). Contudo, este 27 parâmetros para análise, tendo em conta todos os aspetos
estilo de vida desenvolvia-se nesta região desde há muito mais tempo. referenciados nos respetivos cartazes que contêm as representações
O conceito ganhou novo destaque após a distinção pela UNESCO gráficas (Figura 1 e 2) (18, 19). Os parâmetros selecionados foram os
como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a qual veio trazer seguintes: convivência; biodiversidade; sustentabilidade; sazonalidade;
uma maior abrangência do mesmo (8), por oposição a um modelo de atividade física; gastronomia nacional; atividades culinárias; porções
caracterização baseado nas questões alimentares e o seu impacto na equivalentes e descanso. Nos grupos de alimentos pertencentes à RAM
saúde, sobejamente conhecido (9–13). Todavia, se se considerar apenas e à PDM foram considerados: vinho; laticínios; carnes brancas; carnes
a parte alimentar, é possível referir que o Padrão Alimentar Mediterrânico vermelhas; pescado; ovos; leguminosas; frutos oleaginosos; produtos
(PAM) que daí advém é caracterizado por um elevado consumo de hortícolas; fruta; cereais; água; gorduras e óleos; ervas aromáticas;
alimentos de origem vegetal, de entre os quais cereais, hortícolas e fruta, carnes processadas; sal; açúcar e produtos açucarados; sementes.
leguminosas, frutos oleaginosos, azeitonas e sementes. Este padrão A RAM apresenta as porções e respetivos equivalentes na documentação
recomenda ainda o azeite como a gordura de eleição e incentiva um acessória e não na representação esquemática central da Roda. Por outro
consumo moderado de pescado, carnes brancas, ovos e laticínios, de lado, a PDM não quantifica as porções equivalentes, pelo que se assumiu
preferência sob a forma de queijo e iogurte. Por outro lado, aconselha que as porções representam quantidades semelhantes às da RAM (20).
um baixo consumo de carnes vermelhas e processadas e um consumo
moderado, às refeições principais, de vinho (14). A sistematização destas Figura 1
recomendações alimentares pode ser encontrada no formato de uma Roda da Alimentação Mediterrânica, guia alimentar português (18)
pirâmide – Pirâmide da Dieta Mediterrânica (PDM) -, um guia alimentar
que permite transmitir as mesmas de forma simples e acessível (14).
De acordo com a Food and Nutrition Board/ World Health Organization,
os guias alimentares são documentos elaborados com a finalidade
de orientar e promover a educação nutricional de uma determinada
população (15). A criação de um guia alimentar deve respeitar aspetos
relacionados com a disponibilidade alimentar nacional, o padrão de
consumo alimentar e nutricional e o estado nutricional da população (16).
Um dos objetivos na elaboração dos guias alimentares é possibilitar uma
fácil leitura e interpretação, tal como descodificar a linguagem científica
em conceitos e representações mais simples (17).
Em Portugal, A Roda dos Alimentos (RA) corresponde ao guia
alimentar que foi elaborado para acompanhar os hábitos alimentares,
a gastronomia, a cultura, e as tradições da população portuguesa,
tendo por base os conhecimentos nutricionais essenciais para a sua
adequabilidade (17).
Recentemente, a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação
da Universidade do Porto, a Direção-Geral do Consumidor e a Direção
Geral da Saúde lançaram uma adaptação da RA aos conceitos da
DM, funcionando como complemento à RA já existente. A criação da
Roda da Alimentação Mediterrânica (RAM), destinada à população
portuguesa, contribui para a valorização e promoção deste padrão
alimentar, estando a base do seu desenvolvimento assente na RA (18).
Portugal possui uma identidade mediterrânica caracterizada pelo clima,
que, embora regulado pelo Oceano Atlântico, sofre também influência
do mar Mediterrâneo, o que é visível na paisagem e modo de vida
(4). Assim, a elaboração da RAM teve por base as nossas tradições
alimentares e gastronómicas, que tinham já contribuído para a criação
da RA, mas também teve influência na DM (3).
RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102 7
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
Figura 2
Pirâmide da Dieta Mediterrânica (19)
Tabela 1
Comparação de parâmetros entre a Roda da Alimentação Mediterrânica e a Pirâmide da Dieta Mediterrânica
8 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
Na RAM, a recomendação está incluída no grupo “carne,
II Carnes Vermelhas 1,5 a 4,5 porções diárias Menos de 2 porções semanais pescado e ovos”. A PDM recomenda um menor consumo
deste tipo de carne, estando separada das restantes.
A RAM realça o consumo de peixe em especial a sardinha,
carapau, cavala, atum, entre outros, dentro do grupo
II Pescado 1,5 a 4,5 porções diárias Mais ou 2 porções por semana das “carnes, pescado e ovos”, ao passo que a PDM dá
orientações sobre a frequência de consumo de pescado
em concreto.
A RAM e a PDM recomendam este fornecedor proteico,
II Ovos 1,5 a 4,5 porções diárias 2 a 4 porções semanais contudo, a RAM fá-lo incluído no grupo das “carnes,
pescado e ovos”, e a PDM de forma específica.
As leguminosas aparecem em ambos os guias, mas com
II Leguminosas 1 a 2 porções diárias Mais ou 2 porções por semana
recomendações diferentes.
A RAM aconselha o consumo de frutos oleaginosos mas
II Frutos Oleaginosos Menciona 1 a 2 porções diárias não especifica a frequência ou quantidade de consumo. A
PDM recomenda uma ingestão diária.
A RAM e a PDM exibem recomendações diferentes, sendo
II Produtos Hortícolas 3 a 5 porções diárias 2 porções ou mais por refeição que a RAM realça o consumo de cebola, alho, couve
galega, grelos, tomate, pimentos, beldroegas, entre outros.
A RAM recomenda sobretudo o consumo de melão, figo,
1 a 2 porções por refeição ameixa, laranja, tangerina, nêspera, romã, entre outras e a
II Fruta 3 a 5 porções diárias
principal PDM faz referência ao consumo deste grupo por refeição
principal.
A RAM e a PDM recomendam o consumo distinto de
alimentos pertencentes a este grupo alimentar. A RAM
1 a 2 porções por refeição
II Cereais 4 a 11 porções diárias destaca ainda o consumo de cereais, tubérculos e frutos
principal
amiláceos, ao passo que a PDM diferencia a batata e dá
preferência aos cereais integrais.
Ingestão de 1,5 a 2 Litros diários A RAM e a PDM aconselham a ingestão de água, em
II Água Ingestão de 1,5 a 3 Litros diários
(equivalente de 6 a 8 copos) quantidades distintas.
A RAM refere outros equivalentes, destacando o azeite
Consumo de azeite a cada
II Gorduras e Óleos 1 a 3 porções diárias e a azeitona ao passo que a PDM enfoca unicamente o
refeição principal
consumo de azeite.
A RAM recomenda a sua utilização como forma de
substituir a adição de sal. A PDM recomenda a adição
II Ervas Aromáticas Menciona Consumo diário diária de ervas aromáticas e especiarias às preparações
culinárias como forma de obter grande variedade de
aromas e sabores.
Menciona em documento Na PDM está ausente a quantificação em peso das porções
III Porções Equivalentes Não menciona
acessório recomendadas.
Menciona em documento Este parâmetro só é mencionado na PDM, com
IV Carnes Processadas Menciona
acessório recomendações diferentes dos restantes tipos de carnes.
Menciona a necessidade de A PDM refere a necessidade de existir uma menor adição
Menciona em documento
IV Sal reduzir a adição de sal às de sal. A RAM apresenta informação em documentos
acessório
confeções culinárias acessórios.
A PDM aconselha a um consumo inferior a 2 porções numa
Menciona em documento
IV Açúcar e Produtos Açucarados Menos de 2 porções semanais semana. A RAM apresenta informação em documentos
acessório
acessórios.
Na PDM, o consumo destas é promovido nas quantidades
IV Sementes Não menciona 1 a 2 porções diárias
referidas.
IV Descanso Não menciona Menciona A PDM foca a importância de um descanso adequado.
PDM: Pirâmide da Dieta Mediterrânica Nível II: Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da reco-
RAM: Roda da Alimentação Mediterrânica mendação
Nível I: O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na recomendação, quer Nível III: O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAM
na existência do mesmo no guia Nível IV: O parâmetro em questão só está presente e é recomendado na PDM
Tabela 2
Comparação dos parâmetros analisados pertencentes à Roda da Alimentação Mediterrânica e à Pirâmide da Dieta Mediterrânica e respetivas
percentagens por nível
NÍVEL PERCENTAGEM PARÂMETROS
Convivência, biodiversidade, sustentabilidade, sazonalidade, atividade física, vinho, gastronomia nacional e atividades
I 29,6%
culinárias
Laticínios, carnes brancas, carnes vermelhas, pescado, ovos, leguminosas, frutos oleaginosos, produtos hortícolas,
II 48,2%
fruta, cereais, água, gorduras e óleos e ervas aromáticas
III 3,7% Porções equivalentes
IV 18,5% Carnes processadas, sal, açúcar e produtos açucarados, sementes e descanso
Nível I: O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na recomendação, quer Nível III: O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAM
na existência do mesmo no guia Nível IV: O parâmetro em questão só está presente e é recomendado na PDM
Nível II: Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da reco-
mendação
Posteriormente foram criados quatro níveis, de modo a comparar todos foram obtidos recorrendo ao auxílio do programa Microsoft Office Excel®
os parâmetros selecionados: 2010 para o sistema operacional Windows 8.1.
(I) O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na
recomendação, quer na existência do mesmo no guia; RESULTADOS
(II) Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível Na Tabela 1, é apresentada a comparação de parâmetros entre a RAM
da recomendação; e a PDM.
(III) O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAM; Dos 27 parâmetros analisados, a percentagem dos mesmos
(IV) O parâmetro só está presente e é recomendado na PDM. pertencentes aos níveis I, II, III e IV corresponde respetivamente a:
A análise foi efetuada no mês de julho de 2016, sendo que os resultados 29,6%, 48,2%, 3,7% e 18,5%, tal como é representado na Tabela 2.
RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102 9
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS o avançar da idade (37). Para além disso, o leite tem ainda importantes
Verificou-se que dos 27 parâmetros analisados, existem parâmetros nutrientes, como o magnésio, o cálcio e o potássio, com ação preventiva
comuns em 77,8% dos casos. Destes, 29,6% são iguais nos dois no desenvolvimento de doenças cardiovasculares (38,39). Face às
guias alimentares. Desta percentagem fazem parte nomeadamente vantagens anteriormente enumeradas, o consumo deste alimento é
a convivência, importante para a aquisição de hábitos promotores de importante e deve ser incentivado, recomendação que está presente
estilos de vida mais saudáveis e melhor estado de saúde (21–24). sobretudo na RAM.
A biodiversidade, sustentabilidade e sazonalidade alimentar são Mencionando o grupo “Carne, Pescado e Ovos”, a RAM inclui as
parâmetros considerados pelos dois guias, estando espelhados carnes brancas, carnes vermelhas, pescado e ovos no mesmo
conceitos como o recurso a produtos da época, tradicionais e de grupo, contrariamente à PDM, que exibe recomendações separadas
proveniência local. e distintas. Contudo, seria benéfico que a RAM procedesse a uma
A RAM e a PDM também preconizam a prática de atividade física, separação das diversas fontes proteicas, à semelhança da PDM,
um fator fulcral na saúde e bem-estar, recomendação transversal a pois a carne, o pescado e os ovos deviam possuir recomendações
todas as faixas etárias (25, 26). A importância destas recomendações de frequência de consumo diferentes. A corroborar esta sugestão
prende-se com o facto de esta prática contribuir para a diminuição dos existem as recomendações de várias instituições, entre as quais a The
comportamentos sedentários e poder reduzir o risco de desenvolvimento American Heart Association (AHA) e a European Food Safety Authority
de doenças cardiovasculares, de diabetes Mellitus, de hipertensão (EFSA), que defendem o consumo de peixe, sobretudo o peixe gordo,
arterial e de certos tipos de cancro (25). no mínimo duas vezes por semana (40, 41). Por outro lado, segundo
A RAM e a PDM fazem ainda alusão ao consumo de vinho, produto o relatório conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da
muito associado à região mediterrânica (27). Estas recomendações International Agency for Research of Cancer (IARC), evidencia-se a
sustentam-se no interesse para a saúde do consumo dos componentes, recomendação de não ultrapassar o consumo de 100 g de carnes
sobretudo, do vinho tinto, especialmente o resveratrol, com ação anti- vermelhas e 50 g de carnes processadas, pois podem aumentar em
-aterogénica, e os flavonóides, que têm uma ação antioxidante e que 17% e 18% respetivamente, o risco de desenvolvimento do cancro
diminuem o stress oxidativo, inibindo a formação de espécies reativas colorretal (42). Existem inclusivamente relações estabelecidas entre o
de oxigénio (27–30). Estes benefícios ocorrem aquando um consumo consumo de carnes vermelhas e processadas com o desenvolvimento
moderado e às refeições principais (31, 32). de hipercolesterolemia, hipertensão ou mesmo síndrome metabólica,
A gastronomia nacional é outro parâmetro pertencente a este nível de questão que não se evidencia nas carnes brancas (43). Por estas
comparação, de forma a promover a presença de pratos tradicionais razões e pelas diferenças nutricionais seria importante a separação
das várias regiões do país, que representam o modo como as pessoas dos diferentes tipos de carnes. Será, assim, importante, que a indicação
se relacionam e usam os diferentes produtos alimentares, e contribuem relativa a um consumo diferenciado dos alimentos que compõe o grupo
para que as tradições se mantenham ao longo dos anos (33). A RAM das “carnes, pescado e ovos” possa ser feita de forma acessória quando
e a PDM enfocam a importância da realização de atividades culinárias, se apresenta a RAM à população. Desta forma, verifica-se que a divisão
cujas técnicas sejam saudáveis e tradicionais (como sopas, ensopados, por frequência de consumo da PDM é mais vantajosa, dado que
estufados e caldeiradas) dado preservarem a qualidade nutricional dos transmite uma informação mais completa sobre estas fontes proteicas,
alimentos e por serem simples e práticas de realizar (33, 34). do que apenas englobá-las num só grupo. A PDM refere um consumo
Quanto aos parâmetros comuns aos dois guias, mas com semanal destes alimentos, dando maior preferência ao pescado, aspeto
recomendações distintas, identificaram-se 48,2% dos parâmetros este que se assume benéfico porque o mesmo representa uma fonte
nessas condições. Desta percentagem fazem parte nomeadamente as de energia, de proteínas de alto valor biológico, de iodo, de selénio, de
recomendações de consumo de laticínios, onde se verifica, por exemplo, cálcio, de vitaminas A e D e ácidos gordos essenciais (41).
que o consumo de iogurte e queijo é mais evidenciado, do que o leite, Quanto às leguminosas, estas são individualizadas dos restantes
pela PDM. A escolha de consumo de queijo, sobretudo proveniente de fornecedores proteicos tanto na RAM como na PDM. Apesar disso,
cabra e ovelha, prende-se com razões históricas e culturais, pelo facto nos dias de hoje é notória uma menor valorização e utilização das
de estes serem animais com mobilidade suficiente para procurarem os leguminosas, muito presentes em pratos da gastronomia tradicional
pastos nos locais disponíveis e, por vezes de menor acesso, sendo, portuguesa. As recomendações dos dois guias diferem quanto
por isso, animais mais comuns nos países do Mediterrâneo. O clima à frequência de consumo, na medida em que a RAM aconselha o
representa outro aspeto determinante para uma maior presença consumo de 1 a 2 porções diárias e a PDM um consumo superior
de alimentos derivados do leite, pois temperaturas mais elevadas ou igual a 2 porções por semana. As leguminosas são alimentos que
determinam a necessidade de existirem alimentos que possuam um exercem inúmeros benefícios para a saúde, contribuem para um melhor
prazo de validade mais alargado (3). O consumo de laticínios faz parte controlo glicémico, para a modulação lipídica, são ricas em substâncias
das recomendações diárias tanto da PDM como da RAM. Contudo, bioativas e fibras, não apresentam colesterol e são boas fornecedoras
a RAM salienta o consumo de laticínios como um todo, visto que o de proteínas (44). Desta forma, pelos benefícios inerentes, seria preferível
consumo de leite é muito comum na população portuguesa. O leite é um a recomendação basear-se no consumo diário, tal como se verifica
alimento com um valor nutricional muito importante, dado ser uma fonte com a RAM.
de energia, de cálcio e de fósforo e sobretudo de proteína de alto valor O consumo de frutos oleaginosos é promovido de forma diária em
biológico, essencial para a manutenção da saúde óssea (35). De acordo cerca de 1 a 2 porções na PDM, contrariamente à RAM, cuja menção
com a Fundação Internacional de Osteoporose, a incidência mundial não surge incluída na Roda, mas sim nas recomendações adicionais,
desta doença está a aumentar, sendo, por isso, importante promover o não sendo dada uma orientação quanto à frequência de consumo.
consumo de leite desde cedo (36). O leite tem ainda outras vantagens, Os frutos oleaginosos são caracterizados por serem alimentos com
derivadas do seu elevado teor proteico de alto valor biológico, que elevado teor de lípidos, sobretudo ácidos gordos insaturados (45).
apresenta benefícios na prevenção do desenvolvimento de sarcopenia, Dentro destes, é de destacar o ómega 6, particularmente importante
condição onde se desenvolvem perdas musculares relacionadas com no desenvolvimento cerebral e na proteção da pele, entre outros (46).
10 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
Para além disso, estes alimentos apresentam ainda boas quantidades nos alimentos, é mais fácil apresentar à população valores de referência
de ómega 3 com uma ação importante no sistema cardiovascular e que de bebidas, pelo que o Instituto de Hidratação e Saúde recomenda
previne a ocorrência de doenças cardíacas e vasculares (47). Segundo o consumo de 1,9 e 1,5 L para homens e mulheres, respetivamente
a EFSA, as recomendações de ingestão dos ácidos gordos ómega 3 (57). Os valores preconizados pela RAM aproximam-se mais destas
e ómega 6 são 2 e 10 g por dia, respetivamente (47). recomendações do que os da PDM, dado que a recomendação se
O consumo de frutos oleaginosos acima de três doses por semana é situa entre 1,5 a 3,0 L de água total a ingerir.
cientificamente sustentado como tendo efeitos significativos na redução No âmbito do grupo “Gorduras e Óleos”, a RAM apresenta
do risco de mortalidade (48). O consumo de uma porção equivalente a recomendações quanto às porções diárias de consumo dos vários
uma mão de frutos oleaginosos por dia está associado à prevenção de alimentos deste grupo, enquanto a PDM elege o azeite como a gordura
doenças, tais como obesidade, doenças cardiovasculares ou a diabetes preferencial, aconselhando o seu consumo a cada refeição principal,
Mellitus. Desta forma, a recomendação diária deste tipo de alimentos, à ocupando um destaque central na Pirâmide, visto que constitui um
semelhança do que ocorre na PDM, destaca-se como mais vantajosa (49). dos pilares deste padrão alimentar. Esta fonte de lípidos é composta
Os hortofrutícolas pela sua riqueza nutricional, devem estar presentes por ácidos gordos monoinsaturados, vitamina E e β carotenos com
em abundância num padrão alimentar promotor de saúde, como propriedades salutogénicas, pelo que o seu consumo deve ser
sugerem as recomendações da RAM e da PDM. No primeiro guia são valorizado (58–60). De acordo com a EFSA, o total de gordura ingerida
recomendados entre 3 a 5 porções por dia e no segundo um consumo deve corresponder entre 20 a 35% do total calórico diário para adultos
maior ou igual a 2 porções para os hortícolas e 1 a 2 porções para as (46). Ao nível do tipo de gordura a consumir, a EFSA não estipula nenhum
frutas, a cada refeição principal. De acordo com as recomendações da valor, contudo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para
OMS, que preconiza um consumo mínimo diário de 400 g de produtos a Agricultura e Alimentação (FAO), menos de 10% devem ser atribuídos
hortícolas e de fruta, verifica-se que os dois guias superam estas à gordura saturada, 15 a 20% para a gordura monoinsaturada e 6 a
recomendações (50, 51). O consumo diário de 400 g pode reduzir 11% para a gordura polinsaturada (61). Posto isto, o azeite devido aos
o risco de desenvolvimento de doenças crónicas não transmissíveis, seus benefícios deve ser privilegiado em relação às outras gorduras,
como a doença coronária, doenças cerebrovasculares e hipertensão não necessitando as restantes de ser negligenciadas, desde que não
arterial. Nutricionalmente, este grupo de alimentos apresenta uma sejam ultrapassados os valores recomendados pela EFSA, uma vez que
grande variedade de vitaminas, minerais, fitonutrientes e elevado teor contribuem para uma maior variabilidade dentro deste grupo.
de fibra (50). A grande discordância entre os dois guias, quanto às Relativamente às ervas aromáticas, estas são muitas vezes encaradas
recomendações de fruta e produtos hortícolas, prende-se com o como substitutos da utilização do sal, por potenciarem os sabores
momento do seu consumo. A RAM é mais vantajosa neste sentido, dos pratos, atribuindo-lhes mais cor e aromas. Esta substituição traz
dado promover um consumo ao longo do dia e não exclusivamente nas vantagens para a saúde, sobretudo se contribuir para alcançar as as
refeições principais. A reforçar esta mensagem temos as recomendações recomendações da OMS de um consumo máximo de 5 g/dia de sal
da OMS que aconselham a promoção do consumo destes alimentos (62). Além disso, é ainda possível considerar a valorização nutricional
durante as refeições e nas refeições intercalares. das ervas aromáticas em vitaminas como a A, a C e do complexo B,
Relativamente aos cereais, a RAM recomenda uma ingestão de 4 a 11 em compostos voláteis e substâncias fitoquímicas (63). Assim sendo, é
porções diárias e a PDM refere o consumo de 1 a 2 porções por cada de ressalvar que a PDM aconselha a sua utilização diária, o que não se
refeição principal. O PAM elege o consumo de cereais integrais dado verifica na RAM, onde a menção às ervas aromáticas apenas aparece
que estes são uma importante fonte de energia, hidratos de carbono, nas mensagens acessórias como sugestão de substituto do sal. Neste
proteína e fibra (52, 53). De acordo com dados disponíveis, poderá contexto, face aos benefícios apresentados o consumo diário de ervas
existir uma redução de 21% no risco de desenvolvimento de doenças aromáticas deve ser promovido.
cardiovasculares em indivíduos que consomem em média entre 48 a 80 g Apesar das diferenças nas recomendações nestes grupos alimentares,
de cereais integrais por dia, em comparação com os que não atingem na generalidade verifica-se uma aproximação entre a RAM e a PDM,
estas recomendações (54). Desta forma, ambos os guias são benéficos uma vez que os alimentos mediterrânicos mais destacados estão de
para a promoção do consumo de cereais, embora as recomendações acordo com o padrão alimentar português. Assim, os alimentos que se
da PDM sejam mais evidentes para os cereais integrais. destacam para cada um dos grupos são: Óleos e Gorduras (predomina
Incidindo nas recomendações hídricas, os dois guias referem a o consumo de azeite e azeitona); Carne, Pescado e Ovos (salienta-se
importância da ingestão diária de água, embora as quantidades o consumo sobretudo de peixe, em especial sardinha, carapau, atum,
recomendadas sejam distintas (14, 17). De facto, a água é essencial à cavala, pescada e sarda); Hortícolas (menciona a cebola, o alho, a couve
vida e para realçar a importância do balanço hídrico, a imagem da água galega, os grelos, o tomate, o pimento, o pepino e as beldroegas);
foi colocada em destaque no centro da RAM, ocupando igualmente uma Fruta (predomina melão, figo, ameixa, citrinos, nêspera, romã, melancia,
posição de destaque na PDM (14,55). Relativamente às recomendações, pêssego, maçã, pera, cerejas e uva); Cereais e Tubérculos (em especial
estas devem ter em consideração diversos factores e de acordo com batata doce, castanha, massa e arroz integrais, flocos de aveia e broa).
a OMS, em condições normais, os valores de ingestão de água total Paralelamente, constatou-se que quanto ao nível de comparação
para homens e mulheres são de 2,9 e 2,2 L, respetivamente (56). Para III, 3,7% dos parâmetros (Tabela 2) só aparecem indicados na RAM,
além disso, a EFSA estipulou valores de ingestão adequados de água nomeadamente a menção às porções equivalentes, o que facilita a
total de 2,5 e 2,0 L para homens e mulheres, respetivamente (57). Em realização de uma alimentação variada, baseada nas quantidades
virtude dos valores de ingestão de água reportados pelos portugueses, o recomendadas (17). A PDM não refere o parâmetro das porções
Instituto de Hidratação e Saúde adotou os valores de referência da EFSA equivalentes, uma vez que menciona apenas as frequências de consumo
supracitados (57). Contudo, estas recomendações não se reportam (semanalmente, diariamente e a cada refeição principal), não fazendo
exclusivamente à ingestão de água em natureza, mas também a outras sequer referência à quantificação das porções recomendadas (33,64).
bebidas e alimentos ou preparados culinários, que possuam água na sua Assume-se como uma limitação deste trabalho o facto de se considerar
composição. Porém, dada a grande variabilidade do conteúdo de água que as porções alimentares recomendadas por ambos os guias são
RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102 11
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
semelhantes em termos de quantidades. A PDM não apresenta É ainda de ressalvar que a RAM apresenta mensagens específicas
informação sobre este aspeto, o que não permite uma comparação relativas ao consumo moderado de vinho às refeições, exceto por
fiel, podendo condicionar erros associados a uma comparação abusiva. crianças, grávidas e aleitantes, e o incentivo ao consumo de frutos secos
Além disso, a RAM recomenda porções dirigidas a grupos etários e oleaginosos. A razão pela qual os anteriores não surgem comtemplados
níveis de atividade física diferentes, o que incrementa a limitação da em grupos alimentares pertencentes à representação gráfica é por
comparação, visto que a PDM apenas se destina à população adulta, não se desejar que o seu consumo seja feito diariamente, tal como se
sem fazer destrinça de recomendações por níveis de atividade física. pretende para os grupos alimentares incluídos na RAM. Juntamente
Por fim, para o nível de comparação IV, 18,5% dos parâmetros analisados com estas recomendações é visível o incentivo à prática de atividade
(Tabela 2) apenas surgem mencionados na PDM, como o exemplo das física e o aumento do tempo despendido em atividades de lazer; a
sementes, em que a PDM aconselha o consumo diário entre 1 a 2 utilização de ervas aromáticas em substituição ao sal; a promoção de
porções. Estes alimentos podem contribuir para um enriquecimento técnicas culinárias saudáveis e tradicionais no quotidiano; a adoção de
nutricional das ementas (65, 66), nomeadamente devido ao seu teor um estilo de vida fomentador de práticas sustentáveis, com respeito
de fibra e lípidos com predominância de ácidos gordos polinsaturados. à sazonalidade e proveniência dos alimentos; o convívio e partilha no
Desta forma, a inclusão na alimentação dos portugueses de sementes, momento das refeições (33).
como as de girassol ou abóbora, produzidas em Portugal, poderia ser Ao longo dos tempos tem sido observado um gradual afastamento da
promovida. prática da alimentação mediterrânica por parte dos países da região
Relativamente ao sal, a PDM refere a necessidade de se reduzir a sua do Mediterrâneo (65, 75). As possíveis causas deste acontecimento
adição, contrariamente à RAM, que não o faz de forma explícita na podem centrar-se na globalização e no desenvolvimento económico,
representação gráfica do guia, embora faça referência ao assunto nos que contribuem para uma maior partilha de culturas de outros povos
documentos acessórios à representação. Uma vez que os últimos dados que influenciam o consumo alimentar tradicional (65, 76, 77). Neste
relativos ao consumo de sal referem que os portugueses consomem, sentido, é importante promover este padrão alimentar de forma a
em média, 7,3 g de sal por dia, seria importante reforçar e promover serem recuperados os seus princípios e a sua aplicação por parte
uma menor utilização do mesmo (67, 68). Quanto ao açúcar e produtos da população. Neste campo, um guia alimentar adaptado à nossa
açucarados, a OMS tem frequentemente enfocado as recomendações população, que incorpore indicações deste padrão, representa uma
para a redução do consumo de açúcar, para menos de 10% do valor mais-valia no âmbito da educação alimentar. Nos manuais escolares,
energético total, uma vez que se estima ser elevado e comprovadamente os conteúdos programáticos incluem temáticas relativas à alimentação,
prejudicial à saúde (69, 70). A PDM possui a recomendação de consumo sendo disponibilizada informação sobre a RA e a PDM, o que pode
dos produtos açucarados no topo da Pirâmide, com uma frequência potenciar alguma confusão e dificultar a comparação entre os guias,
de consumo semanal e inferior ou igual a 2 porções. Este tipo de sobretudo se o enfoque não for feito na RAM e for efetuado na PDM.
recomendação pode simultaneamente apresentar uma vantagem e uma Será importante que a informação seja clara e concisa, dando-se
desvantagem. Se por um lado a indicação de porções e frequência de destaque ao guia alimentar português. Seria igualmente fundamental
consumo pode auxiliar na limitação de consumo, por fixar um valor, por que na próxima revisão curricular seja incluida nos manuais escolares
outro lado a colocação dos produtos açucarados no topo da Pirâmide informação sobre a RAM, de forma a complementar a informação
pode ser um fator confundidor, devido ao facto de se poder associar o veiculada pela RA, promovendo-se, assim, a DM, adaptada à realidade
topo da representação gráfica a alimentos mais importantes (71, 72). A portuguesa.
RAM apenas apresenta informação sobre o assunto em documentos
acessórios à representação e não no modelo gráfico genérico. CONCLUSÕES
Deste modo, é percetível que estes dois guias possuem diversas A RAM e a PDM constituem ferramentas que permitem boas formas
concordâncias entre si, sendo poucas as diferenças ao nível das de promover uma alimentação saudável, visto que ambos os guias se
recomendações alimentares e informações adicionais. A diferença baseiam em recomendações alimentares suportadas pela evidência
mais evidente nestes dois guias trata-se da sua representação gráfica. científica.
A pirâmide alimentar consiste numa representação bastante comum, Face aos pontos comuns a RAM é mais específica para a população
não só utilizada pela PDM, mas também por países como Áustria, portuguesa, porque foi elaborada com base na realidade e
Finlândia, Grécia, Espanha, entre outros (73). A pirâmide é uma estrutura necessidades dos portugueses. Além disso, foi construída com base
gráfica que conduz a uma interpretação com uma orientação de cima nos dados de disponibilidade alimentar nacionais, incluindo ainda
para baixo, o que motiva uma associação hierárquica dos alimentos ou informações mais esclarecedoras acerca das porções, quanto à sua
informações alimentares presentes. Os alimentos situados nas divisões quantificação. É também de ressalvar a sua forma circular, uma vez
mais estreitas podem erradamente ser considerados mais importantes que permite uma interpretação mais fácil e imediata da informação a
que os alimentos localizados nas divisões inferiores (71, 72). A forma transmitir à população.
circular tem vindo a ser cada vez mais adotada. Refira-se o facto de Dada toda a nossa tradição alimentar, seria pertinente incluir na RAM,
historicamente determinados países terem guias alimentares em formato uma menção relativamente à importância de um baixo consumo de
de pirâmide e terem atualizado para o formato de roda/prato. Veja-se carnes processadas. Quanto ao total de sal ingerido, a RAM deveria
o caso dos Estados Unidos que utilizou durante anos um guia em conter uma recomendação alusiva ao limite máximo de consumo.
formato de pirâmide e que atualmente adota um formato de prato Considera-se ainda que à semelhança da indicação para a prática de
(1). Um formato circular apresenta a vantagem de não hierarquizar os atividade física, deveria existir uma para o descanso, nomeadamente
alimentos, uma vez que lhes atribui igual importância. Esta representação focada nas horas de sono, dado este ser importante para a manutenção
divide-se em várias fatias de tamanhos distintos, simbolizando quais os de um bom estado de saúde, não só física mas também psicológica.
grupos alimentares que devem ser consumidos em maiores e menores A adaptação da RA para a RAM permitiu uma maior aproximação do
quantidades e agrupando os alimentos com propriedades nutricionais guia alimentar português aos princípios da DM, o que veio enriquecer o
similares (17, 74). guia e fortalecer esta ferramenta de educação alimentar. Desta forma,
12 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
os profissionais de saúde, em concreto os nutricionistas, têm agora à 21. Berge J, Wall M, Hsueh T, Fulkerson J, Larson N, Neumark-Sztainer D. The
sua disposição uma ferramenta mais completa e de fácil inclusão nas protective role of family meals for youth obesity: 10-year longitudinal associations. J
suas ações de promoção de saúde junto dos portugueses, esperando- Pediatr. 2015;166(2):296–301.
-se que possa também ser incluída nos manuais escolares, de forma 22. Jean-Philippe C et al. Systematic review of the relationships between sleep duration
a potenciar um ensino uniforme e consertado sobre alimentação and health indicators in school-aged children and youth. Appl Physiolg Nutr Metab.
saudável, baseada nos princípios da DM. 2016;41:266–82.
23. Buysse D. Sleep health: can we define it? Does it matter? Sleep. 2014;37(1):9–17.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24. Kelly N et al. Associations of sleep duration and quality with disinhibited eating
1. Aguiliera C. História da Alimentação Mediterrânica. 1 st. Lisboa, Portugal: Terramar; behaviors in adolescent girls at-risk for type 2 diabetes. Eat Behav. 2016;22:149–55.
2001. 58-60 p. 25. Who. Physical activity strategy for the WHO European Region 2016-2025. Who.
2. Ribeiro O. Portugal, o Mediterrâeo e o Atlântico. 7a Ed. Lisboa, Portugal: Livraria 2015;(setembro 2015):14–7. Disponível em: http://www.euro.who.int/en/who-we-
Sá da Costa Editora; 1998. are/governance.
3. Partidário A. A Dieta Mediterrânica em Portugal: Cultura, Alimentação e Saúde. A 26. Reiner M, Niermann C, Jekauc D, Woll A. Long-term health benefits of physical
Dieta Mediterrânica em Portugal: Cultura, Alimentaçao e Saúde. Faro: Universidade activity--a systematic review of longitudinal studies. BMC Public Health . BMC
do Algarve; 2014. Public Health; 2013;13(1):813. Disponível em: http://www.pubmedcentral.nih.gov/
4. Durão CR, Oliveira JFS, Almeida MDV de. Portugal e o Padrão Alimentar articlerender.fcgi?artid=3847225&tool=pmcentrez&rendertype=abstract.
Mediterrânico. Aliment Humana. 2008;14(3):115–28. 27. Guarinello NL. A civilização do vinho - um ensaio bibliográfico. An do Mus Paul.
5. Peres E. Saudabilíssima alimentação mediterrânea. Há tanta ideia perdida. 1997;5:275–8.
2001;II(2):5/59–5. 28. Os segredos da dieta mediterrânica [Internet]. European Food Information Council.
6. Nestle M. Mediterranean diets: historical and research overview. Am J Clin Nutr. [citado 2016 abr 30]. Disponível em: http://www.eufic.org/article/pt/artid/Os-segredos-
1995;61(Suppl):1313–20. da-dieta-mediterranica/.
7. A.Freitas et al (COORD.) - Dimensões da Dieta Mediterrânica, Património Cultural 29. Lippi G, Franchini M, Favaloro EJ, Targher G. Moderate red wine consumption
Imaterial da Humanidade, Faro: Universidade do Algarve, 2015. and cardiovascular disease risk: Beyond the French Paradox. Semin Thromb Hemost.
8. Mediterranean diet [Internet]. UNESCO. [citado 2016 Ago 4]. Disponível em: https:// 2010;36(1):59–70.
ich.unesco.org/en/Rl/mediterranean-diet-00884. 30. Penna NG, Hecktheuer LHR. Vinho e Saúde (revisão). Infarma. 2004;16(1-2):64–7.
9. Biasini C, Di Nunzio C, Cordani R, Ambroggi M, Negrati M, Rossi F, et al. 31. Núñez-Córdoba JM, Martínez- González MA, Bes-Rastrollo M, Toledo E, Beunza JJ,
Mediterranean Diet influences breast cancer relapse: preliminary results of the SETA Alonso A. Alcohol consumption and the incidence of hypertension in a Mediterranean
PROJECT. J Clin Oncol. 2016;34(15):3–7. cohort: the SUN study. Rev Esp Cardiol. 2009;62(6):633–41.
10. Stewart R a. H, Wallentin L, Benatar J, Danchin N, Hagström E, Held C, et al. Dietary 32. Moraes V De, Locatelli C. Vinho: uma revisão sobre a composição química e
patterns and the risk of major adverse cardiovascular events in a global study of high- benefícios à saúde. Evidência. 2010;10(1-2):57–68.
risk patients with stable coronary heart disease. Eur Heart J . 2016;ehw125. Disponível 33. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Guia Alimentar
em: http://eurheartj.oxfordjournals.org/lookup/doi/10.1093/eurheartj/ehw125. Mediterrânico - Fundamentação e Desenvolvimento, 2016; 45p.
11. Merle B, Silver R, Rosner B, Seddon J. Adherence to a Mediterranean diet, genetic 34. Sánchez-Moreno C, Cano MP, Ancos B de, Plaza L, Olmedilla B, Granado F, et al.
susceptibility, and progression to advanced macular degeneration: a prospective cohort Mediterranean vegetable soup consumption increases plasma vitamin C and decreases
study. Am J Clin Nutr. 2015;102(5):1196–206. F2-isoprostanes, prostaglandin E2 and monocyte chemotactic protein-1 in healthy
12. Huo R, Du T, Xu Y, Xu W, Chen X, Sun K, et al. Effects of Mediterranean-style diet humans. J Nutr Biochem. 2006;17(3):183–9.
on glycemic control, weight loss and cardiovascular risk factors among type 2 diabetes 35. Feskanich D, Bischoff-Ferrari H, Frazier A., Willett W. Milk Consumption During Teenage
individuals: a meta-analysis. Eur J Clin Nutr. 2015;69(11):1200–8. Years and Risk of Hip Fractures in Older Adults. JAMA Pediatr. 2014;168(1):54–60.
13. Esposito K, Kastorini C, Panagiotakos D, Guigliano D. Mediterranean diet and 36. International Osteoporosis Foundation: Osteoporosis [Internet]. [citado 2016 jul 1].
metabolic syndrome: an updated systematic review. Rev Endocr Metab Disord. Disponível em: https://www.iofbonehealth.org/osteoporosis.
2013;14(3):255–63. 37. Paddon-Jones D, Short K, Campbell W, Volpi E, Wolfe J. Role of dietary protein
14. Bach-Faig A, Berry EM, Lairon D, Reguant J, Trichopoulou A, Dernini S, et al. in the sarcopenia of aging. Am J Clin Nutr. 2008;87(5):1562–6.
Mediterranean diet pyramid today. Science and cultural updates. Public Health Nutr. 38. Mente A, de Koning L, Shannon H, Anand S. A systematic review of the evidence
2011;14(12A):2274–84. supporting a causal link between dietary factors and coronary heart disease. Arch
15. Barbosa RMS, Colares LGT, Soares EDA. Desenvolvimento de guias alimentares Intern Med. 2009;169(7):659–69.
em diversos países. Rev Nutr. 2008;21(4):455–67. 39. Chrysant S, Chrysant G. Chrysant SG, Chrysant GS An update on the cardiovascular
16. Painter J, Rah JH, Lee YK. Comparison of international food guide pictorial pleiotropic effects of milk and milk products. J Clin Hypertens. 2013;15:503–10.
representations. J Am Diet Assoc. 2002;102(4):483–9. 40. The American Heart Association’s Diet and Lifestyle Recommendations [Internet].
17. Rodrigues S, Franchini B, Graça P, Almeida MDV De. A new food guide for the American Heart Association. [citado 2016 jun 25]. Disponível em: http://www.heart.org/
portuguese population: development and technical considerations. J Nutr Educ Behav. HEARTORG/HealthyLiving/HealthyEating/Nutrition/The-American-Heart-Associations-
2006;38 (3):189–95. Diet-and-Lifestyle-Recommendations_UCM_305855_Article.jsp#.V5Tz2vkrLIU.
18. Roda da Alimentação Mediterrânica: Cartaz da Roda da Alimentação Mediterrânica 41. European Food Safety Authority. Scientific Opinion on health benefits of seafood
[Internet]. Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. (fish and shellfish) consumption in relation to health risks associated with exposure to
[citado 2016 Jun 22]. Disponível em: https://sigarra.up.pt/fcnaup/pt/noticias_geral. methylmercury. EFSA J. 2014;12(7):3761.
ver_noticia?p_nr=8186. 42. Bouvard V, Loomis D, Guyton K z, Grosse Y, Ghissassi F El, Benbrahim-Talla
19. Fundación Dieta Mediterránea. A Pirâmide da Dieta Mediterrânica: um estilo de L, et al. Carcinogenicity of consumption of red and processed meat. Lancet Oncol.
vida para os dias de hoje. 2010. 2015;16(16):1599–600.
20. Kirwan L, Walsh M, Brennan L, Gibney E, Drevon C, Daniel H, et al. Comparison of 43. Becerra-Tomás N, Babio N, Martínez-González M, Corella D, Estruch R, Ros E, et
the portion size and frequency of consumption of 156 foods across seven European al. Replacing red meat and processed red meat for white meat, fish, legumes or eggs
countries: insights from the Food4ME study. Eur Jounal Clin Nutr. 2016;1–3. is associated with lower risk of incidence of metabolic syndrome. Clin Nutr. 2016;(16).
RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102 13
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
44. Messina V. Nutrition and health benefits of dried beans. Am J Clin Nutr. Portugal; 2016. 97 p.
2014;100:437–42. 68. Lopes C, Torres D, Oliveira A, Severo M, Alarcão V, et al. Inquérito Alimentar Nacional
45. Porto L, Oliveira L. Tabela da composição de alimentos, 1a edição. Centro de e de Atividade Física (IAN-AF 2015-2016). 2017.
Segurança Alimentar e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, 69. Guideline: Sugars intake for adults and children. Geneva, Suíça: World Health
Lisboa 2007; 355. Organization; 2015.
46. EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and A. Scientific Opinion on Dietary 70. 5 keys to a healthy diet [Internet]. World Health Organization. [citado 2016 jun 23].
Reference Values for fats, including saturated fatty acids, polyunsaturated fatty acids, Disponível em: http://www.who.int/nutrition/topics/5keys_healthydiet/en/.
monounsaturated fatty acids, trans fatty acids, and cholesterol. EFSA J. 2010;8(3):1461. 71. Barbosa RMS, Colares LGT, Soares E de A. Percepção de responsáveis e
47. European Food Safety Authority. Labelling reference intake values for n-3 and n-6 recreadores sobre diferentes representações gráficas de guia alimentar para crianças
polyunsaturated fatty acids. EFSA J . 2009;1176:1–11. Disponível em: http://scholar. de dois a três anos. Rev paul pediatr. 2008;26(4):350–6.
google.com/scholar?hl=en&btnG=Search&q=intitle:Labelling+reference+intake+valu 72. Perelman A. The Pyramid Scheme: Visual Metaphors and the USDA’s Pyramid
es+for+n-3+and+n-6+polyunsaturated+fatty+acids#1. Food Guides. Des Issues. 2011;27(3):60–71.
48. Guasch-Ferré M, Bulló M, Martínez-González M, Ros E, Corella D, Estruch R, et al. 73. Orientações Dietéticas Baseadas nos Alimentos na Europa [Internet]. European
Frequency of nut consumption and mortality risk in the PREDIMED nutrition intervention Food Information Council. 2009 [citado 2016 jun 25]. Disponível em: http://www.eufic.
trial. BMC Med . 2013;11(1):164. Disponível em: http://www.pubmedcentral.nih.gov/ org/article/pt/expid/food-based-dietary-guidelines-in-europe/.
articlerender.fcgi?artid=3738153&tool=pmcentrez&rendertype=abstract. 74. Nova Roda dos Alimentos [Internet]. Faculdade de Ciências da Nutrição e
49. Jackson CL, Hu FB. Long-term associations of nut consumption with body weight Alimentação da Universidade do Porto. [citado 2016 jun 25]. Disponível em:https://
and obesity. Am J Clin Nutr. 2014;100(1):408–11. sigarra.up.pt/fcnaup/pt/noticias_geral.ver_noticia?p_nr=10.
50. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a Joint WHO/FAO 75. Vareiro D. Availability of Mediterranean and non-Mediterranean foods during
Expert Consultation. WHO Technical Report Series, No.916. Geneva: World Health the last decades: comparison of several geographical areas. Public Health Nutr.
Organization; 2003. 2009;12(9A):1667–75.
51. Healthy diet [Internet]. World Health Organization. [citado 2016 jun 25]. Disponível 76. Serra-Majem L, Trichopoulou A, de la Cruz JN, Cervera P, Álvarez AG, La Vecchia
em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs394/en/. C, et al. Does the definition of the Mediterranean diet need to be updated? Public
52. Pimenta-Martins, A Barbosa, M. Cereais integrais: caracterização nutricional. Health Nutr. 2004;7(07):927–9.
Factores de Risco, 2014. No33; 10-9. 77. Trichopoulou A, Lagiou P. Healthy traditional Mediterranean diet: an expression of
53. Whole Grains (updated 2015) [Internet]. European Food Information Council. 2015 culture, history, and lifestyle. Nutr Rev. 1997;55:383–9.
[citado 2016 jul 2]. Disponível em: http://www.eufic.org/article/en/page/RARCHIVE/
expid/whole_grains_2015/.
54. Ye E, Chacko S, Chou EL, Kugizaki M, Liu S. Greater whole-grain intake is
associated with lower risk of type 2 diabetes, cardiovascular disease, and weight
gain. J Nutr. 2012;142(7):1304–13.
55. Padrão P, Teixeira P, Padez C, Medina J. Estabelecimento de recomendações de
ingestão hídrica para os portugueses. Semana médica. 2012. p. 1–4.
56. Who. Nutrients in Drinking Water. WHO Press. 2005.
57. Cient C. Hídratação para os portugueses. Conselho Científico do Instituto de
Hidratação e Saúde. 2010.
58. Tirosh O, Shpaizer A, Kanner J. Lipid Peroxidation in a Stomach Medium Is Affected
by Dietary Oils (Olive/Fish) and Antioxidants: The Mediterranean versus Western Diet.
J Agric Food Chem. 2015;63(31):7016–23.
59. Martín-Peláez S, Covas M, Fitó M, Kušar A, Pravst I. Health effects of olive oil
polyphenols: recent advances and possibilities for the use of health claims. Mol Nutr
Food Res. 2013;57(5):760–71.
60. Buckland G, Gonzalez C. The role of olive oil in disease prevention: a focus on the
recent epidemiological evidence from cohort studies and dietary intervention trials. Br
J Nutr. 2015;113(Suppl 2):94–101.
61. Food and Agriculture Organization of the United Nation, editor. Fats and fatty acids
in human nutrition: Report of an expert consultation. Genebra, Suiça; 2010. 166 p.
62. WHO.Guideline: Sodium intake for adults and children. Geneva, World Health
Organization (WHO), 2012.
63. Direção Geral de Saúde, Utilização de Ervas Aromáticas & Similares na Alimentação.
2003.
64. Willett WC, F S, Trichopoulou A, G D, A F-L, E H, et al. Mediterranean diet pyramid:
a cultural model for healthy eating. Am J Clin Nutr. 1995;61:6:1402–6.
65. Direção Geral da Saúde. Padrão Alimentar Mediterrânico - Promotor de Saúde.
Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Lisboa, Portugal;
2016. 1-38 p.
66. Kozłowska A, Szostak-Wegierek D. Flavonoids--food sources and health benefits.
Rocz Panstw Zakl Hig. 2014;65(2):79–85.
67. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. Portugal:
Alimentação Saudável em Números - 2015. Direção-Geral da Saúde, editor. Lisboa,
14 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL
ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO
DA CATEGORIA JUVENIL
A.O.
ARTIGO ORIGINAL
FOOD HABITS AND ANTHROPOMETRIC PROFILE OF YOUNG
JUVENILE ROWERS
1 Faculdade de Ciências João Lima1; Jéssica Rodrigues2; José Canhola2,3; Ada Rocha1,2*
da Nutrição e Alimentação
da Universidade do Porto,
Rua Dr. Roberto Frias, s/n,
RESUMO
4200-465 Porto, Portugal
Vários estudos têm demonstrado uma correlação positiva entre o sucesso competitivo e o perfil antropométrico em remadores.
2 Federação Portuguesa Este trabalho teve como objetivo avaliar os hábitos alimentares e perfil antropométrico de atletas de remo do escalão de juvenis.
de Remo, Foram avaliados 163 atletas maioritariamente do sexo masculino e com idades entre os 15 e 16 anos. Os hábitos alimentares foram
Doca de Santo Amaro,
avaliados através de um questionário de aplicação indireta desenvolvido para o efeito e recolhidas as medidas antropométricas:
1350 Lisboa, Portugal
peso, estatura, altura sentado, envergadura e pregas cutâneas.
3 Faculdade de Ciências A maioria dos atletas era normoponderal e foi observada uma maior percentagem de gordura corporal nas atletas do sexo feminino
do Desporto e Educação (p<0,001) e nos atletas mais velhos (p<0,001).
Física da Universidade de
Cerca de 67% dos atletas referiram realizar 5 ou mais refeições por dia e os que, habitualmente, tomam o pequeno-almoço
Coimbra,
Estádio Universitário – (p=0,001), meio da manhã (p=0,026) e ceia (p=0,005) apresentam uma menor percentagem de gordura corporal do que os
Pavilhão III, restantes. Apenas 23,3% dos atletas ingerem fruta fresca mais do que duas vezes por dia, 27,0% sopa e 33,1% hortícolas duas
Stª Clara, vezes por dia. Aproximadamente 10% dos jovens não consomem qualquer alimento ou bebida antes do treino e mais de 10%
3040-156 Coimbra,
Portugal
referiram ingerir suplementos alimentares com regularidade. Verificou-se uma associação entre a ingestão de água diária e um
melhor resultado desportivo (p=0,029).
KEYWORDS
Anthropometric evaluation, Food habits, Rowers
Tabela 1
Caracterização antropométrica da amostra, de acordo com a faixa etária e o género
PERCENTIL ESTATURA
IDADE ALTURA MASSA GORDA ENVERGADURA
PESO (KG) IMC EXCESSO DE PESO OBESIDADE SENTADA
(ANOS) (CM) (%) (CM)
(P85 ≤ IMC < P97) (IMC ≥ P97) (CM)
N Média (±D.P.) Média (±D.P.) Média (±D.P.) N (%) N (%) Média (±D.P.) Média (±D.P.) Média (±D.P.)
Total 160 64,5 (±9,4) 125,0 (±13,5) 21,9 (±2,5) 31 (19,4%) 6 (3,7%) 13,3 (±6,6) 174,4 (±9,6) 91,1 (±4,4)
Ambos os sexos 15 80 62,2 (±9,7) 169,8 (±8,2) 21,5 (±2,6) 11 (6,9%) 4 (2,5%) 12,8 (±6,3) 172,5 (±9,2) 89,9 (±4,4)
16 80 66,7 (±8,5) 173,2 (±8,0) 22,2 (±2,4) 14 (12,5%) 2 (1,2%) 13,8 (±7,0) 176,3 (±9,6) 92,3 (±4,1)
Total 123 65,6 (±9,3) 174,1 (±7,2) 21,6 (±2,4) 20 (12,5%) 4 (2,5%) 10,4 (±3,2) 177,6 (±7,9) 92,2 (±4,3)
Rapazes 15 57 63,2 (±9,9) 172,7 (±7,0) 21,1 (±2,5) 5 (3,1%) 3 (1,9%) 10,2 (±3,6) 175,7 (±7,9) 91,1 (±4,5)
16 66 67,6 (±8,4) 175,3 (±7,3) 21,9 (±2,2) 15 (9,4%) 1 (0,6%) 10,5 (±3,0) 179,2 (±7,6) 93,2 (±3,8)
Total 37 60,7 (±8,6) 162,6 (±4,6) 23,0 (±2,7) 11 (6,9%) 2 (1,2%) 23,5 (±5,1) 163,4 (±6,2) 87,5 (±2,6)
Raparigas 15 23 59,6 (±8,9) 162,2 (±4,8) 22,6 (±2,6) 6 (3,8%) 1 (0,6%) 23,4 (±4,4) 163,9 (±6,7) 86,9 (±2,4)
16 14 62,3 (±8,1) 163,2 (±4,4) 23,6 (±2,7) 5 (3,1%) 1 (0,6%) 23,7 (±6,2) 162,6 (±5,7) 88,3 (±2,8)
IMC: Índice de Massa Corporal
Tabela 2
Correlação entre os parâmetros antropométricos dos atletas avaliados
r p r p r p r p r p
Peso (Kg) 0,630 <0,001 0,741 <0,001 0,657 <0,001 0,611 <0,001 0,123 0,127
Altura (cm) -0,041 0,610 0,873 <0,001 0,913 <0,001 -0,480 <0,001
IMC 0,098 0,225 -0,011 0,894 0,597 <0,001
Estatura sentado (cm) 0,766 <0,001 -0,355 <0,001
Envergadura (cm) -0,502 <0,001
KEYWORDS
Disease, Atlantic Diet, Mediterranean Diet, Dietary patterns, Health
INTRODUÇÃO
Os padrões alimentares captam o efeito cumulativo e guias alimentares, ou a padrões de consumo específicos de
de interação dos vários alimentos e nutrientes e podem uma população (1, 2), como é o caso do Padrão Alimentar
ser facilmente interpretados pela população (1), tendo Mediterrânico e Atlântico. Ambos são o espelho de uma
assim particular importância em Saúde Pública. Para cultura gastronómica ancestral e tradicional que pode ser
avaliar a adesão aos padrões alimentares são mais observada, ainda hoje, nas regiões que as adotaram como
frequentemente usados em estudos observacionais dois padrão alimentar, como é o caso de Portugal.
tipos de abordagem metodológica: a posteriori, que utiliza O conceito de Alimentação Mediterrânica espelha diferentes
métodos estatísticos exploratórios para identificar grupos culturas alimentares presentes na zona do Mediterrâneo (3).
de indivíduos que apresentam consumos semelhantes A sua definição inclui diretrizes para o alto consumo de
ou alimentos/nutrientes frequentemente consumidos em azeite virgem extra (principal gordura na alimentação),
conjunto e o método a priori, que utiliza índices ou scores produtos hortícolas, fruta, cereais, leguminosas e frutos
que avaliam a adesão a recomendações nutricionais ou secos/gordos; o consumo moderado de peixe e outras
22 PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1104
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
carnes, de produtos lácteos, de vinho tinto, de ovos e a baixa ingestão compreensão dos seus efeitos e benefícios para a saúde. A solução
de doces (4). Em relação ao Padrão Alimentar Atlântico, este é definido passará pela formulação de uma definição mais universal que combine
como a dieta tradicional da região da Galiza e norte de Portugal (5). exemplos modernos e tradicionais (4). No entanto, a comunidade
A sua definição inclui o consumo elevado de peixe e crustáceos, científica está de acordo em duas caraterísticas: a contribuição dos
assim como de leguminosas, cereais, hortícolas e frutas; o consumo macronutrientes para a ingestão calórica total e a qualidade da gordura
diário de produtos lácteos; o consumo moderado a elevado de carne, ingerida. O Padrão Alimentar Mediterrânico privilegia o uso do azeite
especialmente carne vermelha; o azeite como principal gordura culinária como principal gordura culinária; o maior consumo de alimentos de
(mas não como principal gordura na alimentação) e a moderada ingestão origem vegetal (fruta, produtos hortícolas, leguminosas e frutos gordos,
de vinho (5, 6). como as nozes e amêndoas); o consumo diário e abundante de cereais,
A contextualização histórica e a definição de cada um dos padrões batatas, massa, arroz, pão e produtos integrais; consumo de alimentos
serão descritos nesta revisão da literatura, assim como as opções pouco processados, frescos e de época; consumo moderado de
metodológicas disponíveis para a sua definição e caracterização. Os produtos lácteos com baixo teor de gordura; consumo moderado de
efeitos na saúde, quer do Padrão Alimentar Mediterrânico, de forma peixe e ovos; menor consumo de carne vermelha (preferência pelas
mais extensa e fundamentada, quer do Padrão Alimentar Atlântico serão carnes magras); consumo de fruta fresca como sobremesa (doces e
explorados neste trabalho, nomeadamente a sua associação com a pastelaria ocasionalmente); consumo moderado de vinho (geralmente
doença e mortalidade cardiovasculares, o cancro, a obesidade, doenças às refeições), integrados num estilo de vida saudável (4, 14-16).
do foro mental, entre outras patologias. Serão sugeridos mecanismos Os guias alimentares representam uma forma simplificada de
potenciais para esses efeitos. Por último, uma análise comparativa entre transmitir informação educacional à população. As pirâmides têm sido
ambos os padrões será fundamentada. consideradas uma maneira útil de exibir os princípios gerais do Padrão
Alimentar Mediterrânico (4). A mais recente foi criada pela Fundação
Padrão Alimentar Mediterrânico da Dieta Mediterrânica (FDM), em 2010 (14). O intuito da FDM era criar
Para os Gregos antigos, a Alimentação Mediterrânica original era uma pirâmide adaptada ao estilo de vida mediterrânico tendo em conta
representativa do povo onde a carne era considerada uma ostentação, o contexto geográfico, socioeconómico e cultural. Pela primeira vez,
apenas consumida em dias festivos, e as refeições baseadas em a pirâmide do Padrão Alimentar Mediterrânico junta conceitos como
vegetais crus, queijo de cabra e frango, ocasionalmente. Por definição nutrição, produtos amigos do ambiente, biodiversidade, produção de
é um padrão alimentar baseado nos padrões tradicionais da ilha de comida local, atividade física e convívio familiar à mesa, com o conceito
Creta (Grécia) e Sul de Itália mas espelha diferentes culturas alimentares da sustentabilidade (14, 17).
presentes na zona do Mediterrâneo (3), podendo dizer-se que é muito Mais recentemente, a Direção-Geral da Saúde, através do seu portal
mais que uma dieta na medida em que exibe o encontro de várias do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável,
expressões culturais, ao nível do seu estilo de vida e cultura alimentar (7). juntamente com a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação
Nos anos 90, os padrões alimentares dos países Mediterrânicos da Universidade do Porto, apresenta a nova Roda da Alimentação
começaram a afastar-se do padrão originalmente descrito (8). Nas Mediterrânica, que tem como base a roda dos alimentos portugueses
últimas décadas, tem sido sugerida uma diminuição da adesão (18). Pela primeira vez, esta incorpora os princípios sobre o estilo de
ao Padrão Alimentar Mediterrânico nos países da região (9), algo vida saudável associados ao Padrão Alimentar Mediterrânico. Cada
que já havia sido previsto em 2005 (10). Atualmente, nos países área da roda, e sua respetiva dimensão, representa a importância que
Mediterrânicos, assiste-se a uma mudança do padrão tradicional cada grupo deve ter na nossa alimentação diária. O círculo exterior
havendo diversas variações do padrão original e uma aproximação enfatiza os alimentos mediterrânicos de cada grupo. Ao contrário da
a um padrão alimentar mais ocidental, devido à modernização das pirâmide, a nova roda dos alimentos tem mais informação nutricional.
áreas urbanas e à globalização do estilo de vida (9, 11). Já em 2010, o Os princípios que a regem são: a preferência por alimentos locais e da
Padrão Alimentar Mediterrânico foi considerado pela Organização das época; valorização da gastronomia saudável; a partilha de refeições e
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como tradições; o uso de ervas aromáticas; valorizar o consumo de frutos
Património Intangível da Humanidade sendo reconhecido como padrão secos/gordos; beber vinho com moderação (em caso de amamentação,
alimentar, criado e transmitido ao longo de vários séculos. É vista como o abandonar do consumo de vinho) e ter uma vida ativa.
uma forma única de usar a comida como base para a construção de
uma comunidade em que tradições alimentares, como o comer em Índices de adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico
comunidade, são elementos de um código alimentar. Os índices de Alimentação Mediterrânica têm como objetivo avaliar
No decorrer do ano de 2012, o Padrão Alimentar Mediterrânico foi a adesão a este tipo de padrão alimentar, tendo como referência um
incluído no grupo das Dietas mais Sustentáveis do Mundo pela padrão mediterrânico tradicional, já definido anteriormente. Os mais
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) frequentemente descritos na literatura são: Índice da Dieta Mediterrânica
(12), pelo facto de ser um padrão de baixo impacto ambiental devido (DMS-2) (19); Índice de Qualidade da Dieta Mediterrânica (DMQI) (20);
à preferência pelo consumo de alimentos de origem vegetal, em vez Índice de Adesão a um Padrão de Dieta Mediterrânica Cardioprotetor
de origem animal (13). (IAPDM-C) (21); Índice de Adequação Mediterrânica (MAI) (22); Adesão
ao Padrão de Dieta Mediterrânica (23); Escala do Padrão de estilo
Definição Mediterrânico (24); Score de Dieta Mediterrânica (SDM) (25); Índice
A definição de Alimentação Mediterrânica tem evoluído e variado ao para avaliar a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico em indivíduos
longo do tempo. Numa primeira instância foi definida com sendo uma mais velhos com alto risco cardiovascular (MEDAS) (26), o Score de
dieta baixa em gordura saturada e rica em óleos vegetais por Ancel Adesão à Dieta Mediterrânica alternativo (aMed) (27) e a ferramenta
Keys, após observações na Grécia e Sul de Itália nos anos 60 (4). Uma PREDIMED (28).
das limitações metodológicas de estudar a Alimentação Mediterrânica O primeiro índice a ser proposto foi o de Trichopoulou e colaboradores,
são as diferentes definições que lhe são atribuídas, o que dificulta a com o objetivo de avaliar a relação entre adesão ao Padrão Alimentar
PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017. 1104 23
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
Mediterrânico e a mortalidade total, bem como a mortalidade por doença grupos de intervenção: Alimentação Mediterrânica suplementada
coronária (DC) e mortalidade por cancro, com ajuste para idade, sexo, com azeite virgem extra; Alimentação Mediterrânica suplementada
índice de massa corporal (IMC) e nível de atividade física (19). Esta com frutos gordos e dieta controlo (conselhos sobre uma dieta com
investigação envolveu 22.043 adultos na Grécia, os quais preencheram baixo teor de gordura). Este estudo mostrou que o Padrão Alimentar
um questionário extenso acerca da frequência alimentar. A adesão ao Mediterrânico tradicional tem um efeito protetor para a DCV na medida
Padrão Alimentar Mediterrânico tradicional foi avaliada por uma escala de em que influencia beneficamente os fatores de risco cardiovasculares
10 pontos que incorporou as caraterísticas principais desta alimentação. emergentes (31). Observou-se uma redução em 30% do risco de
Na construção desta escala foram incluídos nove componentes: cinco DCV com o Padrão Alimentar Mediterrânico sendo que os resultados
considerados como integrantes de um Padrão Alimentar Mediterrânico mostram que uma dieta rica em gorduras não saturadas é melhor para
(produtos hortícolas, leguminosas, frutas e nozes, cereais e peixes) e a saúde cardiovascular do que uma dieta com baixo teor de gordura.
dois considerados mais afastados deste padrão (carne/aves e produtos Também mostrou resultados promissores em pessoas idosas com alto
lácteos). Em relação aos alimentos integrantes, indivíduos cujo consumo risco de DCV, sendo igualmente eficaz no controlo de parte do risco
estava abaixo da mediana de consumo da população pontuaram 0 e residual observado após tratamento dos fatores de risco cardiovascular
indivíduos cujo consumo era igual ou superior à mediana foi atribuído (31). Uma meta-análise que investigou a associação entre a adesão ao
um valor de 1. Quanto aos restantes, a pontuação foi invertida. Assim, a Padrão Alimentar Mediterrânico e o estado de saúde mostrou que o
pontuação total variou de 0 (adesão mínima à DM) a 9 (adesão máxima aumento em 2 pontos na adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico
à DM), sendo que maior grau de adesão foi relacionado com a redução determina uma redução em 10% de incidência ou morte por DCV (32).
da mortalidade em geral (19).
Cada autor tenta adaptar o padrão alimentar às características da sua Padrão Alimentar Mediterrânico e Cancro
população, pelo que existem descritas várias variações do mesmo Vários estudos observacionais de coorte sugerem um papel protetor
índice. Esta multiplicidade metodológica pode dificultar a comparação do Padrão Alimentar Mediterrânico sobre a incidência e mortalidade por
entre diferentes estudos, mas por outro lado revela a importância e cancro. Uma meta-análise de estudos de coorte prospetivos concluiu
relevância do tema na esfera científica. que uma maior adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico reduz em 6%
a mortalidade e incidência do cancro (32). Na coorte EPIC (Investigação
Efeitos na Saúde Prospetiva Europeia em Cancro e Nutrição), foram seguidos durante
O Padrão Alimentar Mediterrânico tem sido extensivamente associado 4 anos 22.000 indivíduos e uma maior adesão ao Padrão Alimentar
a outcomes em saúde. Alguns dos seus constituintes individuais como Mediterrânico relacionou-se com a redução em 24% da mortalidade
o azeite, o peixe, a fruta, os produtos hortícolas e as leguminosas, por cancro (19). Nos países mediterrânicos há uma menor incidência de
os frutos gordos e o vinho têm reconhecido papel na regulação dos vários tipos de cancro, sugerindo sob uma perspetiva ecológica que a
mecanismos para o desenvolvimento de várias doenças, como a doença Alimentação Mediterrânica poderia prevenir 25% dos casos de cancro
cardiovascular (DCV), o cancro, a obesidade entre outras. colorretal, 10-15% do cancro endometrial e da próstata e 15-20% do
cancro da mama (33).
Padrão Alimentar Mediterrânico e Doença Cardiovascular O cancro da mama apresenta-se como o mais comum em mulheres de
O Padrão Alimentar Mediterrânico e os seus componentes têm sido todo o mundo. O aumento dos níveis endógenos de estrogénio estão
associados a um menor risco de DCV por mecanismos que incluem associados com o aumento do risco de cancro da mama, e o Padrão
a redução de fatores desencadeadores como a pressão arterial, os Alimentar Mediterrânico pode baixar esses níveis (34). Estudos mostram
lípidos sanguíneos, a disfunção endotelial, a glicose plasmática, o IMC que a adesão a um padrão alimentar saudável, como o Mediterrânico,
e o perímetro de cintura (29). Também parece promover o aumento mostra ser eficaz na diminuição do risco de cancro da mama sendo
da biodisponibilidade de óxido nítrico, apresentando propriedades importante enfatizar a importância de aumentar o consumo de alimentos
antioxidantes e efeitos anti-inflamatórios. O primeiro estudo de de origem animal e vegetal ricos em ácidos gordos polinsaturados n-3,
intervenção com o Padrão Alimentar Mediterrânico foi o Lyon Heart e diminuir o consumo de alimentos ricos em n-6 (35).
Study (30), o qual avaliou 605 indivíduos com antecedentes de enfarte Nos homens, o cancro da próstata é o 2.º mais comum a nível
agudo do miocárdio aleatorizados em dois grupos de intervenção: um mundial e o mais comum a nível europeu, havendo evidência de
grupo a seguir o Padrão Alimentar Mediterrânico enriquecido com o baixa incidência e mortalidade desta doença em países que adotam
ácido gordo alfa-linolénico e outro grupo a seguir uma dieta controlo. o Padrão Alimentar Mediterrânico (36). No entanto, ainda há pouca
Ao fim de 27 meses verificou-se uma redução na incidência de eventos evidência que avalie o efeito do Padrão Alimentar Mediterrânico na
coronários (73%) assim como na mortalidade coronária (70%). O incidência do cancro da próstata.
estudo concluiu que o Padrão Alimentar Mediterrânico, em prevenção No estudo de coorte EPIC, com o objetivo de explorar a associação
secundária, é uma estratégia não farmacológica eficaz a médio prazo, entre a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico e a incidência do
na diminuição dos eventos coronários a nível clínico (30). De maneira adenocarcinoma gástrico, verificou-se que uma maior adesão ao Padrão
a avaliar os efeitos a longo prazo do Padrão Alimentar Mediterrânico Alimentar Mediterrânico estava associada a uma redução significativa de
em novos eventos de DCV em mulheres e homens com elevado risco 33% do risco de cancro gástrico. Por cada ponto de aumento no índice
cardiovascular, foi desenvolvido o estudo PREDIMED (Prevenção com de adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico, o risco diminui 5% (37).
Dieta Mediterrânica) (28, 31). Este é um ensaio clínico randomizado, Em relação ao cancro colorretal, um estudo conduzido em 45.275
de prevenção primária e intervenção nutricional realizado em larga participantes italianos do estudo EPIC, mostrou que o índice de
escala entre 2003 e 2011 em Espanha. O endpoint final primário foi Alimentação Mediterrânica italiano associou-se inversamente com o
a DCV incidente, e os endpoints secundários incluíram a mortalidade risco de cancro (38).
total, a diabetes, a síndrome metabólica, a doença arterial periférica,
a fibrilação atrial, as doenças neurodegenerativas e diferentes tipos Padrão Alimentar Mediterrânico e Obesidade
de cancro. Os participantes foram aleatoriamente alocados a três O Padrão Alimentar Mediterrânico parece ter um papel relevante na
24 PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1104
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
prevenção da obesidade. Devido aos seus atributos e propriedades O Padrão Alimentar Mediterrânico pode ser uma terapia auxiliar nestes
na saúde, constitui uma ferramenta interessante e eficaz para a terapia indivíduos devido ao seu efeito anti-inflamatório e antioxidante, que
comportamental no tratamento da obesidade (39). regula certos fatores metabólicos e protetores do sistema cardiovascular.
O Padrão Alimentar Mediterrânico tem sido associado com diversos O consumo independente de certos componentes deste padrão
outcomes relacionados com a obesidade. Revisões sistemáticas alimentar como o peixe, hortícolas e azeite, conferem o papel protetor
anteriores (40, 41), as quais examinaram resultados de diversos estudos contra doenças reumáticas (48).
de coorte prospetivos e transversais, assim como de ensaios clínicos, Uma revisão sistemática de 2010 sugere também que uma elevada
concluíram que embora nem todos os estudos mostrem um efeito protetor adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico está significativamente
do Padrão Alimentar Mediterrânico no peso corporal e na obesidade, associada a um risco reduzido de diabetes tipo 2, na população em
existe evidência que sugere um possível papel protetor deste padrão geral e em indivíduos com enfarte do miocárdio pré-existente (50). O
alimentar. Os efeitos anti-obesidade do Padrão Alimentar Mediterrânico mesmo artigo refere que alguns ensaios clínicos randomizados mostram
têm sido frequentemente salientados na literatura (42, 43). Os seus efeitos que os indivíduos com diabetes tipo 2 seguidores do Padrão Alimentar
benéficos devem-se sobretudo ao elevado consumo de alimentos de Mediterrânico têm, em comparação com pacientes diabéticos após
origem vegetal que fornecem uma grande quantidade de fibra, baixa uma dieta controlo, um melhor controlo glicémico (níveis mais baixos
densidade energética e baixa carga glicémica. Gorduras monoinsaturadas, de glicemia em jejum e hemoglobina A1c), associado à redução da
em especial o azeite, também ajudam a melhorar o metabolismo da resistência à insulina. Como prevenção secundária das doenças
glicose, a aumentar a oxidação da gordura pós-prandial, a realçar a cardiovasculares, há evidência de que o Padrão Alimentar Mediterrânico
termogénese induzida pela dieta e assim, a aumentar a despesa diária pode aumentar a esperança de vida também em pacientes diabéticos.
total de energia. Também parece ser um elemento-chave nos efeitos do Os resultados até agora acumulados sugerem que a opção pelo
Padrão Alimentar Mediterrânico no controlo do peso corporal (44). Outros Padrão Alimentar Mediterrânico pode ajudar a prevenir a diabetes tipo
fatores que também podem contribuir para os efeitos anti-obesidade do 2 na população e também melhorar o controlo glicémico e o risco
Padrão Alimentar Mediterrânico são os ácidos gordos polinsaturados n-3, cardiovascular em pessoas com diabetes estabelecida (50).
os compostos fenólicos, a fibra e os antioxidantes da dieta, como é o caso
do resveratrol (42, 43). Os ácidos gordos monoinsaturados, especialmente Padrão Alimentar Atlântico
o oleico, estão associados a um menor número de adipócitos no tecido A Alimentação Atlântica é um conceito cuja origem advém da discussão
adiposo, sugerindo que eles podem limitar a hiperplasia em populações entre diferentes Instituições da Península Ibérica, nomeadamente o
obesas (44). Instituto Politécnico de Viana do Castelo, em Portugal, a Universidade
de Santiago de Compostela, a Fundação Espanhola de Nutrição (FEN)
Padrão Alimentar Mediterrânico e outras Patologias e a Associação Galega para o estudo da Dieta Atlântica (ASGAEDA),
O Padrão Alimentar Mediterrânico tem efeitos benéficos em localizadas em território espanhol. O objetivo principal da discussão
muitas outras patologias, entre elas a osteoporose. A incidência foi colocar a Alimentação Atlântica no mapa mundial pretendendo
de osteoporose é mais baixa na área do Mediterrâneo, algo que é que fosse reconhecida como um padrão alimentar saudável. Assim,
maioritariamente atribuído ao padrão alimentar específico da zona em 2003, com este mesmo objetivo e em seguimento da discussão
(45). As propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e alcalinizantes ibérica sobre a Alimentação Atlântica, foi fundado o Centro Europeu
dos seus componentes contribuem para o efeito “poupador do osso” para a Dieta Atlântica (CEDA), em Portugal (5). Mais recentemente,
(46). Alguns estudos demonstram que a adesão ao Padrão Alimentar várias instituições, entre elas a FEN e a ASGAEDA, uniram-se em prol
Mediterrânico tradicional tem sido associada a uma elevada densidade da criação da Fundação para o Estudo da Dieta Atlântica (51).
mineral óssea e reduzido risco de fratura (45). Assim, é demonstrada A primeira vez que se abordou o conceito da Alimentação Atlântica foi
uma associação entre caraterísticas-chave individuais do Padrão em 1999 aquando do congresso que reuniu inúmeros profissionais da
Alimentar Mediterrânico e a redução da incidência da osteoporose área da Nutrição, chamado “Decálogo Xacobeo sobre a alimentação
ou ocorrência de fratura, como o consumo elevado de fruta, produtos no século XXI”. A realização deste congresso deu origem a outros
hortícolas e azeite, o consumo moderado a alto de peixe e a ingestão eventos como as Reuniões Internacionais de Alimentação e Nutrição
moderada de bebidas alcoólicas (45). no século XXI realizadas em Espanha, no município de Baiona, ao longo
Uma revisão sistemática e meta-análise de 2014 sugere que uma elevada dos anos 2000 (52). No decorrer de 2006, todas as estas instituições
adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico está associada com o risco assinaram a “Declaração de Baiona sobre a Dieta Atlântica” e após este
reduzido de desenvolver dano cognitivo e Doença de Alzheimer (47), acordo houve vários congressos, seminários e reuniões dedicadas à
além de ajudar na redução da transição de dano cognitivo em Alzheimer. Alimentação Atlântica, entre 2003 e 2008, organizadas pela FEN (5).
O mesmo estudo sugere que há evidência do papel neuroprotetor do
Padrão Alimentar Mediterrânico, possivelmente devido às propriedades Definição
vasculares dos seus componentes e a sua habilidade para reduzir a A Alimentação Atlântica tem as suas raízes no perfil alimentar de
inflamação e o stress oxidativo, também associados com a fisiopatologia países banhados pelo Oceano Atlântico, especificamente os países da
das doenças degenerativas (47). Península Ibérica, com destaque para o Noroeste de Espanha (Galiza)
Indivíduos com doenças inflamatórias reumáticas crónicas podem obter e o Norte de Portugal. Aquando da criação Centro Europeu de Dieta
uma dupla vantagem ao aderir ao Padrão Alimentar Mediterrânico como Atlântica, esta foi definida como a dieta tradicional de Galiza e do Norte
terapêutica: a redução dos sintomas clínicos e a proteção do sistema de Portugal devido à forte adesão a este padrão alimentar nestas regiões
cardiovascular (48). Alterações metabólicas (hiperglicemia, redução do (5). Ambas as regiões têm particularidades tanto a nível geográfico,
colesterol HDL, aumento do colesterol LDL, redução do rácio colesterol como climático e cultural, que levam a que os seus habitantes sigam
total/HDL e triglicerídeos elevados) encontradas em doentes com um padrão alimentar, próprio destas regiões. A localização destes países
doenças reumáticas inflamatórias podem contribuir para o aumento ao longo da costa Atlântica beneficia, em grande escala, a indústria
significativo do risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares (49). local da pesca, e em particular do bacalhau, quer seja salgado, fresco
PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017. 1104 25
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
ou seco, sendo muito comum e frequentemente consumido. Outras Em termos de benefícios globais do padrão alimentar, um estudo pioneiro
características da região ajudam a explicar este Padrão Alimentar avaliou, em 2010, a associação entre a adesão ao Padrão Alimentar
Atlântico desde logo a precipitação, que sendo muito elevada, traz Atlântico do Sul da Europa (SEAD) e a ocorrência de enfarte e agudo do
benefícios ao solo que fica favorável à massagem e ajuda à criação, miocárdio (EAM) não fatal (6). O estudo caso-controlo foi realizado numa
em larga escala, de toda a espécie de gado assim como o gado suíno. população adulta da cidade do Porto, em Portugal, que sofreram o seu
Essa junção de fatores favorece alguns dos alimentos-chave do Padrão primeiro EAM e que sobreviveram para além do 4.º dia após o evento
Alimentar Atlântico como a carne vermelha, a carne de porco e os coronário. O estudo conclui que uma maior adesão ao padrão SEAD
produtos lácteos, como o queijo e o leite. Importa referir que apesar da associou-se de forma inversa com a ocorrência de EAM não fatal. Os
elevada precipitação, são regiões muito solarengas e de temperaturas resultados mostraram que o aumento de 1 ponto na adesão à SEAD
amenas que beneficiam a indústria vinhateira (53). estava associado com a redução em 10% da probabilidade de ter EAM.
Em 2009, a Alimentação Atlântica é apresentada como uma alternativa Foi ainda referido que a redução do consumo de certos alimentos, como
saudável ao padrão de Dieta Ocidental. Em sequência, foi criada a a batata, e em particular a carne vermelha e os produtos de porco (que
Pirâmide da Alimentação Atlântica (54). se mostraram associados de forma positiva com o evento coronário),
O Padrão Alimentar Atlântico caracteriza-se por um maior consumo pode aumentar os efeitos benéficos do SEAD na doença coronária. É
de peixe, moluscos e crustáceos; maior consumo de leguminosas, igualmente sugerido que a maioria dos componentes da SEAD podem
batatas e cereais; maior consumo de hortícolas e fruta; uso de azeite contribuir para os baixos níveis de mortalidade coronária registados na
como principal gordura culinária; consumo diário de produtos lácteos; região Norte de Portugal e Galiza (6).
consumo moderado a alto de carne (preferência pela carne vermelha); Em 2013 foi publicado um estudo transversal feito pelos mesmos autores
elevada ingestão de água mineral e consumo moderado de vinho; gosto em conjunto com autores espanhóis, que quantificou a associação entre
pela simplicidade na preparação de alimentos; hábitos alimentares a adesão ao padrão SEAD e biomarcadores de risco coronário, como
atlânticos tradicionais e a realização de atividade física diária (5, 6). a pressão arterial e parâmetros antropométricos, em 10.231 indivíduos
adultos espanhóis. Os resultados mostraram que uma maior adesão ao
Índices de adesão ao Padrão Alimentar Atlântico SEAD está associada a baixas concentrações de proteína C-reativa de
Para avaliar a adesão ao Padrão Alimentar Atlântico foi criado em 2010, alta sensibilidade, triglicerídeos e insulina, menor resistência à insulina,
pela primeira vez na literatura, o índice Alimentação Atlântica do Sul menor albumina urinária e pressão arterial sistólica inferior (56).
da Europa (Southern European Atlantic Diet – SEAD) (6) que deriva da Em 2015, o estudo GALIAT (Dieta Atlântica da Galiza) foi o primeiro
definição da própria Alimentação Atlântica e de um conjunto de decisões ensaio clínico a analisar os efeitos da Alimentação Atlântica na saúde
dos próprios autores com base no receituário tradicional da região do ao nível do perfil lipídico, do metabolismo da glicose, dos marcadores
Norte de Portugal e da Galiza. É composto por 9 componentes-chave: de inflamação e adiposidade num grupo de pessoas de uma cidade no
peixe fresco; bacalhau; leguminosas e produtos hortícolas; produtos noroeste de Espanha (57). O objetivo era produzir evidência científica
lácteos; pão integral; sopa de legumes; carne vermelha e produtos que pudesse justificar a promoção do Padrão Alimentar Atlântico
cárneos de porco; batatas e vinho. Para todos os itens, exceto o vinho, como uma escolha saudável, e permitir a sua potencial integração em
um consumo maior ou igual à mediana de consumo da população, estratégias preventivas de saúde familiar tendo em conta o património
especifica por sexo, era classificado com um ponto, e um consumo cultural e gastronómico próprios das regiões europeias banhadas pelo
inferior era classificado com 0 pontos. Quanto ao vinho, o consumo Atlântico. Os participantes foram alocados aleatoriamente a um grupo
elevado (>2 copos/dia nos homens e 1 copo/dia nas mulheres) ou de dieta controlo e a um grupo intervenção (com um plano de adesão
inferior foi classificado com 0 pontos. Após a soma das pontuações à Alimentação Atlântica), por um período de 6 meses. Foi apresentado
de todos os componentes, a pontuação resultante podia variar entre um protocolo de ensaio clínico que envolveu uma intervenção dietética
0 e 9, sendo que 9 representa uma adesão a todos os componentes concentrada em três questões: o uso de um padrão alimentar global
da Alimentação Atlântica. em vez de um número reduzido de alimentos, a família como a unidade
Um estudo de 2017 avaliou igualmente a adesão à Alimentação Atlântica de intervenção e uma amostra representativa da população em geral.
através de uma adaptação do índice descrito anteriormente, adaptado O estudo também envolveu uma ampla gama de fatores relacionados
a adolescentes, já que o estudo pretendia estudar o seu impacto em com a alimentação (hábitos alimentares e consumo de alimentos), com
fatores de risco cardiometabólicos em adolescentes (55). A partir do o estilo de vida (atividade física, uso de tabaco, hábitos sedentários
índice SEAD, a pontuação foi adaptada tendo sido atribuídos 0 pontos e caraterísticas socioeconómicas, de saúde e culturais), além de ter
a qualquer consumo de vinho, dado que a ingestão de etanol não é avaliado uma ampla gama de biomarcadores. Verificou-se que a entrega
recomendada aos adolescentes. de alimentos aos domicílios dos indivíduos, as sessões educacionais, as
aulas de culinária e o material de suporte fornecido ao grupo intervenção
Benefícios da adesão ao Padrão Alimentar Atlântico na Saúde (com Alimentação Atlântica) (aos quais o grupo da dieta controlo não
Em comparação com o Padrão Alimentar Mediterrânico, o Padrão teve acesso), podia facilitar a adesão a este tipo de padrão (57).
Atlântico é um conceito relativamente atual daí não haver tanta A adesão ao Padrão Alimentar Atlântico e a sua associação com
investigação ou evidência dos seus potenciais efeitos benéficos caraterísticas do músculo-esquelético, também foi estudado, assim
para a saúde. Sabe-se que os seus componentes-chave têm um como os efeitos dessa combinação em fatores de risco cardiometabólicos
papel assumido na saúde, destacando-se o papel dos ácidos gordos em adolescentes. Estes foram avaliados após soma dos valores
monoinsaturados provenientes do azeite, assim como os ácidos padronizados, por sexo e idade, dos triglicerídeos, pressão arterial
gordos polinsaturados n-3 provenientes do pescado e marisco. sistólica, colesterol total e colesterol-HDL. Indivíduos 1 ponto acima do
Também é de referir o aporte de fibra concedido pelo consumo de desvio padrão desta pontuação foram classificados como tendo um
fruta, cereais, leguminosas e batatas, para além do teor proteico da risco cardiometabólico elevado. Os adolescentes com baixa aptidão
carne. A presença de flavonóides, no vinho e nos produtos hortícolas, muscular e baixa adesão ao Padrão Alimentar Atlântico tiveram o perfil
também é de realçar (53). cardiometabólico pior, indicando a importância do efeito combinado de
26 PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1104
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
um padrão alimentar saudável e a força muscular elevada. Foi também termos de reconhecimento da Alimentação Atlântica, sendo notória
demonstrado que o Padrão Alimentar Atlântico estava inversamente a falta de artigos e literatura acerca deste padrão alimentar. Importa
associado com o perímetro de cintura, a pressão arterial sistólica e um ressalvar que existem já alguns trabalhos que mostram que em Portugal
conjunto de fatores de risco cardiometabólico (55). os hábitos alimentares têm vindo a afastar-se destes padrões mais
tradicionais, havendo assim uma aproximação a outros padrões de
Padrão Alimentar Atlântico e Mediterrânico: o que os une e separa regiões caracteristicamente diferentes. Esta “ocidentalização” dos
O Padrão Alimentar Atlântico e Mediterrânico têm diversas caraterísticas padrões preocupa a comunidade científica em geral, o que exalta ainda
em comum, mas ao mesmo tempo algumas que os diferenciam (51). mais a importância da globalização de ambos os padrões, sempre
Entre si, partilham o gosto pelo consumo de pescado local (mais evidente salvaguardando o seu carácter regional.
na Alimentação Atlântica), pelo consumo de fruta fresca e da época,
de frutos gordos, assim como de cereais pouco refinados ou integrais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
São ambos padrões alimentares que valorizam o consumo de produtos 1. Hu FB. Dietary pattern analysis: a new direction in nutritional epidemiology. Current
hortícolas e de leguminosas. Para além disso, repartem o mesmo gosto opinion in lipidology. 2002; 13: 3-9.
pelo uso de técnicas de confeção simples aquando da elaboração dos 2. Schulze MB, Hoffmann K. Methodological approaches to study dietary patterns
seus pratos e igualmente, o prazer de comer em família (4-6). Em termos in relation to risk of coronary heart disease and stroke. British Journal of Nutrition.
do que as distingue, na Alimentação Atlântica há uma característica que 2006; 95: 860-869.
sobressai, que é o elevado consumo de proteínas de origem animal, 3. Dernini S, Berry EM. Historical and behavioral perspectives of the Mediterranean
principalmente proveniente da carne vermelha e particularmente da diet. Mediterranean Diet: Springer; 2016. p. 29-41.
carne de porco (6). Também no consumo de peixe há diferenças na 4. Davis C, Bryan J, Hodgson J, Murphy K. Definition of the mediterranean diet; a
medida em que, nos países da zona atlântica há um acréscimo do literature review. Nutrients. 2015; 7: 9139-9153.
consumo de marisco e crustáceos. A ingestão de laticínios e derivados 5. Vaz-Velho ML, Pinheiro R, Rodrigues AS. The Atlantic diet–Origin and features.
também é superior na Alimentação Atlântica (4-6, 51). Em relação ao International Journal of Food Studies. 2016; 5: 106-119.
azeite, na Alimentação Atlântica este não é o principal contribuinte para 6. Oliveira A, Lopes C, Rodríguez-Artalejo F. Adherence to the Southern European
a ingestão de gordura total, assim como a fruta e os frutos gordos não Atlantic Diet and occurrence of nonfatal acute myocardial infarction. The American
são elementos chave (6). journal of clinical nutrition. 2010; 92: 211-217.
7. Trichopoulou A, Lagiou P. Healthy traditional Mediterranean diet: an expression of
ANÁLISE CRÍTICA/CONCLUSÕES culture, history, and lifestyle. Nutrition reviews. 1997; 55: 383-389.
O Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico são padrões alimentares 8. Serra-Majem L, Helsing E. Changing patterns of fat intake in Mediterranean countries.
definidos a priori, cujo papel benéfico para a saúde é vastamente Eur J Clin Nutr. 1993; 47: S1-100.
evidenciado em diversos estudos nacionais e internacionais, 9. Garcia-Closas R, Berenguer A, González CA. Changes in food supply in
particularmente o do Padrão Alimentar Mediterrânico, para o qual Mediterranean countries from 1961 to 2001. Public health nutrition. 2006; 9: 53-60.
a investigação tem sido exaustiva. Como representativas de uma 10. United Nations Environment Programme. Mediterranean strategy for sustainable
determinada região e dos seus costumes culturais e sociais, reforçados development. A framework for environment sustainability and shared prosperity. Athens,
ao longo de vários anos, cada um apresenta na sua composição Greece: 2005.
propriedades que lhes conferem o estatuto de alimentação saudável. 11. Moreno L, Sarrıa A, Popkin B. The nutrition transition in Spain: a European
Num mundo cada vez mais sedentário e adepto da comida rápida Mediterranean country. European Journal of Clinical Nutrition. 2002; 56: 992-1003.
e de alimentos processados, fruto da industrialização e marketing 12. Dernini S, Berry EM. Mediterranean diet: From a healthy diet to a sustainable dietary
publicitário, é imperativo alertar para a importância de adotar um pattern. Frontiers in nutrition. 2015; 2: 15.
estilo de vida mais saudável, sendo que os benefícios para a saúde 13. Tilman D, Clark M. Global diets link environmental sustainability and human health.
da adesão a certos padrões alimentares mais tradicionais, como o Nature. 2014; 515: 518-522.
Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico, têm sido demonstrados 14. Bach-Faig A, Berry EM, Lairon D, Reguant J, Trichopoulou A, Dernini S et al.
em diversos artigos e demais publicações, como são exemplo disso, Mediterranean diet pyramid today. Science and cultural updates. Public health nutrition.
os descritos neste trabalho. No que diz respeito ao Padrão Alimentar 2011; 14: 2274-2284.
Mediterrânico e ao valor nutricional dos seus componentes major (peixe, 15. Trichopoulou A, Georgiou E, Bassiakos Y, Lipworth L, Lagiou P, Proukakis C et
fruta, hortícolas, leguminosas, frutos gordos, azeite e vinho), há evidência al. Energy intake and monounsaturated fat in relation to bone mineral density among
do seu efeito protetor no tratamento e prevenção das DCV, assim women and men in Greece. Preventive medicine. 1997; 26: 395-400.
como na mortalidade cardiovascular. Também se mostrou associada 16. Nestle M. Mediterranean diets: historical and research overview. The American
de forma inversa a diversos tipos de cancro, nomeadamente ao cancro journal of clinical nutrition. 1995; 61: 1313S-1320S.
colorretal, do endométrio, da próstata, da mama e gástrico e a outras 17. Dernini S, Berry EM, Bach-Faig A, Belahsen R, Donini LM, Lairon D et al. MediTerra
patologias como a diabetes, a osteoporose, a doença de Alzheimer e 2012 – the Mediterranean Diet for Sustainable Regional Development. 2012; 71-87.
as doenças reumáticas. Quanto ao papel do Padrão Alimentar Atlântico, 18. Pinho I, Franchini B, Rodrigues S. Guia Alimentar Mediterrânico: relatório justificativo
os seus efeitos são maioritariamente observados em relação à DCV, do seu desenvolvimento. Direção-Geral da Saúde. 2016.
nomeadamente na redução da ocorrência de EAM não fatal e a um 19. Trichopoulou A, Costacou T, Bamia C, Trichopoulos D. Adherence to a Mediterranean
melhor perfil cardiometabólico, lipídico e na diminuição da pressão diet and survival in a Greek population. N engl J med. 2003; 2003: 2599-2608.
arterial, entre outros referidos ao longo do trabalho. Contudo, importa 20. Scali J, Richard A, Gerber M. Diet profiles in a population sample from Mediterranean
referir que em comparação com o Padrão Alimentar Mediterrânico, o southern France. Public health nutrition. 2001; 4: 173-182.
Atlântico necessita que as diversas entidades e instituições públicas/ 21. Martinez-Gonzalez M, Fernandez-Jarne E, Serrano-Martinez M, Wright M, Gomez-
privadas unam esforços em prol da validação e da transição de dieta Gracia E. Development of a short dietary intake questionnaire for the quantitative
regional para uma dieta global, como já aconteceu com o Padrão estimation of adherence to a cardioprotective Mediterranean diet. European Journal
Alimentar Mediterrânico. Há ainda um longo caminho a percorrer em of Clinical Nutrition. 2004; 58: 1550-1552.
PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017. 1104 27
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
22. Alberti-Fidanza A, Fidanza F. Mediterranean adequacy index of Italian diets. Public 43. Schroder H. Protective mechanisms of the Mediterranean diet in obesity and type
health nutrition. 2004; 7: 937-941. 2 diabetes. J Nutr Biochem. 2007; 18: 149-160.
23. Sanchez-Villegas A, Martínez JA, De Irala J, Martinez-Gonzalez M, group Sr. 44. Garaulet M, Hernandez-Morante J, Lujan J, Tebar F, Zamora S. Relationship
Determinants of the adherence to an “a priori” defined Mediterranean dietary pattern. between fat cell size and number and fatty acid composition in adipose tissue from
European journal of nutrition. 2002; 41: 249-257. different fat depots in overweight/obese humans. International journal of obesity. 2006;
24. Rumawas ME, Dwyer JT, Mckeown NM, Meigs JB, Rogers G, Jacques PF. The 30: 899-905.
development of the Mediterranean-style dietary pattern score and its application to 45. Romero Pérez A, Rivas Velasco A. Adherence to Mediterranean diet and bone
the American diet in the Framingham Offspring Cohort. The Journal of nutrition. 2009; health. Nutricion hospitalaria. 2014; 29: 989-996.
139: 1150-1156. 46. Puel C, Coxam V, Davicco M-J. Mediterranean diet and osteoporosis prevention.
25. Panagiotakos DB, Pitsavos C, Stefanadis C. Dietary patterns: a Mediterranean diet Med Sci (Paris). 2007; 23: 756-760.
score and its relation to clinical and biological markers of cardiovascular disease risk. 47. Singh B, Parsaik AK, Mielke MM, Erwin PJ, Knopman DS, Petersen RC et al.
Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases. 2006; 16: 559-568. Association of mediterranean diet with mild cognitive impairment and Alzheimer’s
26. Schröder H, Fitó M, Estruch R, Martínez‐González MA, Corella D, Salas‐Salvadó disease: a systematic review and meta-analysis. Journal of Alzheimer’s disease. 2014;
J et al. A short screener is valid for assessing Mediterranean diet adherence among 39: 271-282.
older Spanish men and women. The Journal of nutrition. 2011; 141: 1140-1145. 48. Sales C, Oliviero F, Spinella P. The mediterranean diet model in inflammatory
27. Fung TT, Rexrode KM, Mantzoros CS, Manson JE, Willett WC, Hu FB. Mediterranean rheumatic diseases. Reumatismo. 2009; 61: 10-14.
diet and incidence of and mortality from coronary heart disease and stroke in women. 49. Malesi D, Valentini G, La Montagna G. La sindrome metabolica nelle malattie
Circulation. 2009; 119: 1093-1100. reumatiche infiammatorie. Reumatismo. 2006; 58: 169-176.
28. Martinez-Gonzalez MA, Corella D, Salas-Salvado J, Ros E, Covas MI, Fiol M et al. 50. Esposito K, Maiorino MI, Ceriello A, Giugliano D. Prevention and control of type 2
Cohort profile: design and methods of the PREDIMED study. Int J Epidemiol. 2012; diabetes by Mediterranean diet: a systematic review. Diabetes research and clinical
41: 377-385. practice. 2010; 89: 97-102.
29. Widmer RJ, Flammer AJ, Lerman LO, Lerman A. The Mediterranean Diet, its 51. Pérez-Castro TR. Adherencia de la dieta de la población gallega a los patrones de
Components, and Cardiovascular Disease. The American Journal of Medicine. 2015; dieta mediterránea y atlántica. Tese Doutoramento (Universidade da Corunã). 2015.
128: 229-238. 52. Varela G. Decálogo Xacobeo sobre la alimentación en el siglo XXI. Fundación
30. De Lorgeril M, Renaud S, Salen P, Monjaud I, Mamelle N, Martin J et al. Española de la Nutrición. 2002.
Mediterranean alpha-linolenic acid-rich diet in secondary prevention of coronary heart 53. Varela G, Moreiras O, Ansón R, Ávila J, Cuadrado C, Estalrich P. Food Consumption
disease. The Lancet. 1994; 343: 1454-1459. in Galicia—the Atlantic Diet. Madrid, Spain: Fundación Española de la Nutrición: 2004.
31. Ros E, Martínez-González MA, Estruch R, Salas-Salvadó J, Fitó M, Martínez JA et 54. Tojo R, Leis R. La Dieta Atlántica, el pescado y las algas–Su importancia en el
al. Mediterranean diet and cardiovascular health: Teachings of the PREDIMED study. neurodesarrollo y la función cerebral. In: El papel de la Dieta Atlántica como contrapunto
Advances in Nutrition: An International Review Journal. 2014; 5: 330S-336S. saludable a la Dieta Ocidental actual. Universidad De Santiago De Compostela. Servicio
32. Sofi F, Abbate R, Gensini GF, Casini A. Accruing evidence on benefits of adherence De Publicaciones E Intercambio Científico. 2009.
to the Mediterranean diet on health: an updated systematic review and meta-analysis. 55. Agostinis-Sobrinho C, Abreu S, Moreira C, Lopes L, García-Hermoso A, Ramírez-
The American journal of clinical nutrition. 2010; 92: 1189-1196. Vélez R et al. Muscular Fitness, adherence to the Southern European Atlantic Diet and
33. Trichopoulou A, Lagiou P, Kuper H, Trichopoulos D. Cancer and Mediterranean cardiometabolic risk factors in adolescents. Nutrition, Metabolism and Cardiovascular
dietary traditions. Cancer Epidemiology and Prevention Biomarkers. 2000; 9: 869-873. Diseases. 2017; 27: 695-702.
34. Trichopoulou A, Bamia C, Lagiou P, Trichopoulos D. Conformity to traditional 56. Guallar-Castillón P, Oliveira A, Lopes C, López-García E, Rodríguez-Artalejo F. The
Mediterranean diet and breast cancer risk in the Greek EPIC (European Prospective Southern European Atlantic Diet is associated with lower concentrations of markers of
Investigation into Cancer and Nutrition) cohort. The American journal of clinical nutrition. coronary risk. Atherosclerosis. 2013; 226: 502-509.
2010; ajcn. 29619. 57. del Mar Calvo-Malvar M, Leis R, Benítez-Estévez AJ, Sánchez-Castro J, Gude
35. de Lorgeril M, Salen P. Helping women to good health: breast cancer, omega-3/ F. A randomised, family-focused dietary intervention to evaluate the Atlantic diet: the
omega-6 lipids, and related lifestyle factors. BMC medicine. 2014; 12: 54. GALIAT study protocol. BMC public health. 2016; 16: 820.
36. López-Guarnido O, Álvarez-Cubero MJ, Saiz M, Lozano D, Rodrigo L, Pascual M
et al. Mediterranean diet adherence and prostate cancer risk. Nutricion hospitalaria.
Nutr Hosp. 2014; 31(3):1012-9.
37. Buckland G, Agudo A, Luján L, Jakszyn P, Bueno-de-Mesquita HB, Palli D et al.
Adherence to a Mediterranean diet and risk of gastric adenocarcinoma within the
European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC) cohort study. The
American journal of clinical nutrition. 2010; 91: 381-390.
38. Agnoli C, Grioni S, Sieri S, Palli D, Masala G, Sacerdote C et al. Italian Mediterranean
Index and risk of colorectal cancer in the Italian section of the EPIC cohort. International
Journal of Cancer. 2013; 132: 1404-1411.
39. Garaulet M, Pérez de Heredia F. Behavioural therapy in the treatment of obesity
(II): role of the Mediterranean diet. Nutricion hospitalaria. 2010; 25 (1): 9-17.
40. Kastorini CM, Milionis HJ, Goudevenos JA, Panagiotakos DB. Mediterranean diet
and coronary heart disease: is obesity a link? - A systematic review. Nutr Metab
Cardiovasc Dis. 2010; 20: 536-551.
41. Buckland G, Bach A, Serra-Majem L. Obesity and the Mediterranean diet: a
systematic review of observational and intervention studies. Obes Rev. 2008; 9: 582-593.
42. Kwan HY, Chao X, Su T, Fu X, Tse AK, Fong WF et al. The anticancer and antiobesity
effects of Mediterranean diet. Crit Rev Food Sci Nutr. 2017; 57: 82-94.
28 PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1104
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO
E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA
A.R.
ARTIGO DE REVISÃO
DIET AND NUTRITION IN THE PREVENTION AND TREATMENT
OF DEMENTIA
1 Nutricionista Sofia Alves Cardoso1; Isabel Paiva2*
2 Unidade de Recursos
Assistenciais Partilhados
RESUMO
do ACES Porto Oriental,
Rua do Vale Formoso, Atualmente, a demência é uma epidemia global com grande impacto social, económico e na saúde, sendo urgente aumentar
n.º 466, o conhecimento sobre a sua prevenção e tratamento. Diversos macro e micronutrientes, alimentos e padrões alimentares têm
4200-510 Porto, Portugal sido estudados como potenciais fatores de risco e de proteção, e agentes no tratamento. Para além da potencial modulação dos
fatores de risco vascular, os fatores nutricionais poderão ter uma ação direta na patogénese. Embora ainda não haja evidência
*Endereço para correspondência: consistente e definitiva de ensaios controlados randomizados sobre o efeito dos fatores nutricionais na demência, vários trabalhos
sugerem que estratégias nutricionais podem ser custo-efetivas, seguras e fáceis de implementar. Desta forma, é necessário realizar
Isabel Paiva
mais investigação para esclarecer o papel da nutrição e alimentação e estabelecer recomendações preventivas e terapêuticas
Rua Barão Nova Sintra, n.º 244,
4300-365 Porto, Portugal na demência.
ialexspaiva@gmail.com
PALAVRAS-CHAVE
Histórico do artigo: Alimentação, Demência, Demência Vascular, Doença de Alzheimer, Nutrição, Prevenção, Tratamento
Recebido a 21 de março de 2017
Aceite a 30 de novembro de 2017 ABSTRACT
Currently, dementia is a global epidemic with great impact at social, economic and health levels. Thus, it is urgent to improve knowledge
about prevention and treatment. Various macro- and micronutrients, specific foods and food patterns have been studied as potential risk
and protection factors and treatment agents. Besides potential modulation of vascular risk factors, nutritional factors may have a direct
action in pathogenesis. Albeit there is still no consistent and definitive evidence from randomized controlled studies about the role of
nutritional factors in dementia, studies suggest nutritional strategies may be cost-effective, safe and easy to implement. Therefore, the
role of nutrition and diet needs to be further investigated to clarify their role and to draw preventive and therapeutic recommendations.
KEYWORDS
Diet, Dementia, Vascular Dementia, Alzheimer’s Disease, Nutrition, Prevention, Treatment
Peixe
Alguns estudos revelam uma associação entre o consumo de peixes
AG: Ácidos gordos DA: Doença de Alzheimer gordos e de óleo de peixe e um menor risco de demência e/ou DA
AGn-3: Ácidos gordos ómega 3 Vit: Vitamina
AGn-6: Ácidos gordos ómega 6
(26). Huang et al (2005) verificaram que uma ingestão de peixe gordo
KEYWORDS
Olive oil, Mediterranean Diet, Nutritional genomics, Nutrigenetics, Nutrigenomics, Genetic variation
1
Genómica: Estudo da sequência dos genomas (genes e respetivos elementos reguladores) com vista a elucidar a sua estrutura, função, origem e evolução.
2
Genoma: Totalidade do DNA de uma célula.
3
Transcriptómica: Estudo (identificação e quantificação) do transcriptoma, i.e. da totalidade dos transcritos que são produzidos pelo genoma, incluindo o RNA não codificante e o mi-
croRNA, num determinado tipo celular e sob condições específicas.
4
Proteómica: Estudo (identificação e quantificação) do proteoma, i.e. da totalidade de proteínas que são produzidas num contexto biológico específico.
5
Metabolómica: Estudo (identificação e quantificação) do metaboloma, i.e. da totalidade de pequenas moléculas presentes nas células, tecidos e fluídos de um organismo.
6
Genótipo: Conjunto dos genes existentes nas células de um organismo e que constituem o seu património genético.
7
Fenótipo: Características observáveis de um organismo.
8
Nutrigenómica: Estudo da interação entre os componentes da dieta e o genoma visando a caracterização da sua influência global sobre a expressão génica.
9
Epigenómica: Estudo global das modificações epigenéticas (alterações da estrutura da cromatina que não resultam de variações na sequência de bases do DNA) presentes no genoma
de uma célula (epigenoma).
10
Epigenómica nutricional: Estudo da interação entre os componentes da dieta e o epigenoma.
11
Expressão génica: Fluxo da informação do gene para a proteína através da transcrição e da tradução.
12
Nutrigenética: Estudo que visa identificar e compreender a resposta dos diferentes padrões genotípicos aos componentes da dieta.
Microbioma
Genómica Epigenómica
Alteração do genoma
e.g. SNPs Genoma
Alteração do DNA Epigenoma
epigenoma ~35 000 genes
Transcrição
Transcriptómica
Biologia de
Fatores de transcrição sistemas*
Nutrimentos Transcriptoma
RNA
Bioinformática
Tradução • Ciclo celular
• Diferenciação/
Proteómica proliferação celular
• Apoptose
• Inflamação
Modificações Proteoma • Metabolismo/
pós-traducionais > 100 000 proteínas libertação hormonas
Anabolismo Catabolismo
Metabolómica
Fenótipo
Metaboloma
~5 000 metabolitos
Os nutrimentos e compostos bioativos dos alimentos podem influenciar a expressão génica interatuando, direta ou indiretamente, a diferentes níveis celulares ou, ainda, influenciar a
inter-relação do microbioma intestinal com o genoma/epigenoma. Os números representam a quantidade total aproximada de moléculas presentes na célula humana em cada nível
funcional. A análise e integração da informação obtida nos diferentes níveis funcionais através da bioinformática visa melhorar a compreensão sobre a globalidade das interações que
ocorrem no sistema biológico e que determinam o respetivo fenótipo.
*Biologia de sistemas: Estudo sistemático da globalidade das interações que ocorrem num sistema biológico através da aplicação de metodologias holísticas, e.g. estudo simultâneo
do genoma, transcriptoma, proteoma e metaboloma.
fatores exógenos e fatores individuais endógenos. Tradicionalmente, de variações genéticas na relação nutrimento-genoma, ainda não
os estudos de fatores nutricionais aplicam uma metodologia com uma é possível propor um padrão dietético baseado no perfil genético
variável única. Contudo, as dietas são mais do que a soma dos seus (35, 64-66). No futuro, a aplicação mais generalizada de tecnologias
componentes (48) e a genómica nutricional tem a potencialidade de “ómicas” em virtude da expectável redução progressiva dos seus
contribuir para esse conhecimento. Utilizando a abordagem “ómica”, custos deverá produzir uma quantidade apreciável de informação
vários estudos, essencialmente transcriptómicos, têm demonstrado que terá de ser analisada quanto à influência de vários fatores (e.g.
que a atividade antioxidante e anti-inflamatória da DM (com o azeite origem geográfica e étnica, fatores ambientais tais como a interação
como fonte predominante de gordura) associada ao envelhecimento exercício físico-dieta, epigenética e microbioma13), integrada e validada
mais saudável e maior longevidade, e à redução da incidência de (34, 35, 67-70). Uma vez que a interação nutrimento-gene é dinâmica,
várias doenças (e.g. doenças cardiovasculares, cancro, doenças para além da recolha de informação acerca dos fatores genéticos de
metabólicas, doenças inflamatórias e doenças neurodegenerativas risco para o desenvolvimento da doença, será crucial a atualização
associadas ao envelhecimento, tais como a doença de Parkinson e constante da informação científica por parte de todos os agentes
a doença de Alzheimer), resulta da expressão de genes associados, envolvidos, direta ou indiretamente, no processo de aconselhamento
nomeadamente, com a inflamação, stress oxidativo, ciclo celular e nutricional. Se esta abordagem transdisciplinar e holística das ciências
ritmo circadiano (49-52). Os compostos fenólicos que se encontram da nutrição representa uma oportunidade para a implementação da
em maior quantidade no azeite virgem extra são os secoiridóides nutrição personalizada preventiva baseada em aconselhamento
e linhanos (53). Os seus efeitos cardioprotetores (9, 49, 54, 55), genético (Figura 2), ela também implica novos desafios. Neste âmbito,
anticarcinogénicos (9, 49, 54, 56, 57), neuroprotetores (9, 58, 59), destacam-se as questões legais e éticas associadas à realização de
anti-inflamatórios (54, 60), antienvelhecimento (61) e na síndrome testes genéticos (e.g. proteção e confidencialidade da informação
metabólica (9, 62) têm sido investigados em numerosos estudos. genética, bases de dados genéticos humanos, condições de realização
Assim, existe hoje uma ampla evidência científica sobre a capacidade dos testes genéticos e critérios científicos que subjazem à sua
de modulação da expressão génica e de vias celulares específicas validação), a promoção de uma maior consciencialização da sociedade
por parte não só da DM mas também dos constituintes do azeite, acerca da importância do padrão alimentar na saúde e na doença,
especialmente do azeite virgem extra. No caso do azeite virgem extra, e o envolvimento de equipas multidisciplinares com conhecimento
os alvos biológicos incluem, nomeadamente, recetores, cinases e especializado diferenciado (e.g. geneticista, nutricionista, etc.) na
fatores de transcrição associados com o stress celular e inflamação, atividade de aconselhamento nutricional de base genética (66, 71, 72).
metabolismo lipoproteico e instabilidade genómica (alterações Um aspeto importante dessa atividade é a comunicação da informação
epigenéticas), assim como a regulação do ciclo celular ou do stress genética em linguagem comum uma vez que este tipo de informação,
oxidativo (36, 49, 63). pela sua contemporaneidade, complexidade e sensibilidade, parece
ser menos susceptível a alterações comportamentais do que a
Do binómio nutrigenómica-nutrigenética à nutrição personalizada informação tradicional baseada na análise dos parâmetros dietéticos,
Apesar do conhecimento acumulado acerca do papel biológico da fisiológicos (e.g. nível de colesterol, peso, gordura, etc.) e estilos de
DM e de nutrimentos específicos na saúde e doença e do impacto vida (e.g. prática regular do exercício físico) (73, 74).
PALAVRAS-CHAVE
Histórico do artigo:
Cadeia alimentar, Desperdício alimentar, Nutricionista, Perda de alimentos
Recebido a 30 de maio de 2017
Aceite a 13 de dezembro de 2017
ABSTRACT
The world’s population is growing and is estimated to reach 8.9 billion people by 2050. To achieve a sustainable development in the
European Union it is mandatory to change food systems, specifically the shock between two realities, one with excess of available food
and another with food insecurity and hunger. One of the solutions to mitigate this reality is the reduction of food waste, and there are
various projects that are being carried out in Portugal to fight this problem. In this study entities were interviewed, using a questionnaire
composed by three questions with closed answers and five questions with open answers, with the objective of understanding how these
entities combat food waste, as well as to know how they see the importance of the nutritionist in this process. The results showed that
this health professional, for entities, can play an important role in the implementation of various projects to combat food waste in Portugal.
KEYWORDS
Food chain, Food waste, Nutritionist, Food loss
A Acta Portuguesa de Nutrição é uma revista de índole científica e profissional, propriedade Devem citar-se apenas artigos publicados (incluindo os aceites para publicação “in press”) e
da Associação Portuguesa de Nutrição, que tem o propósito de divulgar trabalhos de deve evitar-se a citação de resumos ou comunicações pessoais.
investigação ou de revisão na área das Ciências da Nutrição para além de artigos de Devem rever-se cuidadosamente as referências antes de enviar o manuscrito.
carácter profissional, relacionados com a prática profissional do Nutricionista. Esta Revista 12.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas
dá continuidade ao trabalho iniciado pela Revista Nutrícias, lançada em 2001. Ao longo do artigo a referência a figuras, gráficos e tabelas deve estar bem percetível, devendo
Tem periodicidade trimestral, com uma edição em papel (abril-junho) e as restantes em ser colocada em número árabe entre parêntesis.
formato exclusivamente digital e disponibilizadas no website da revista. É distribuída Estas representações devem ser colocadas no final do documento, a seguir às referências
gratuitamente junto dos associados da Associação Portuguesa de Nutrição, instituições da bibliográficas do artigo, em páginas separadas, e a ordem pela qual deverão ser inseridos terá
área da saúde e nutrição e empresas agroalimentares. que ser a mesma pela qual são referenciados ao longo do artigo.
São aceites para publicação os artigos que respeitem os seguintes critérios: As legendas deverão aparecer por cima das figuras, gráficos ou tabelas, referenciando-se com
- Apresentação de um estudo científico atual e original ou uma revisão bibliográfica de um numeração árabe (ex.: Figura 1). Devem ser o mais explícitos possível, de forma a permitir uma
tema ligado à alimentação e nutrição; apresentação de um caso clínico; ou um artigo de fácil interpretação do que estiver representado. No rodapé da representação deve ser colocada
carácter profissional com a descrição e discussão de assuntos relevantes para a atividade a chave para cada símbolo ou sigla usados na mesma.
profissional do Nutricionista. O tipo de letra a usar nestas representações e legendas deverá ser Arial, de tamanho não
- Artigos escritos em Português (com o Acordo Ortográfico de 1990) ou Inglês. inferior a 8.
Os artigos devem ser submetidos para publicação diretamente no site:
www.actaportuguesadenutricao.pt. 2. ARTIGOS DE REVISÃO
O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos
REDAÇÃO DO ARTIGO e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 12 páginas e deve ser escrito
Serão seguidas diferentes normas de publicação de acordo com o tipo de artigo: em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de
1. Artigos originais número de linha na margem lateral.
2. Artigos de revisão Caso o artigo seja uma revisão sistemática deve seguir as normas enunciadas anteriormente
3. Casos clínicos para os artigos originais. Caso tenha um carácter não sistemático deve ser estruturado de
4. Artigos de carácter profissional acordo com a seguinte ordem:
1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Texto principal; 5.º Análise crítica; 6.º Conclusões;
1. ARTIGOS ORIGINAIS 7.º Agradecimentos (facultativo); 8.º Referências Bibliográficas; 9.º Figuras, gráficos, tabelas e
O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, grá- respetivas legendas.
ficos e tabelas) não deve ultrapassar as 10 páginas e deve ser escrito em letra Arial, tamanho Os pontos comuns com as orientações referidas anteriormente para os artigos originais
12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de número de linha na deverão seguir as mesmas indicações.
margem lateral.
O artigo de investigação original deve apresentar-se estruturado pela seguinte ordem: 4.º Texto principal
1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Introdução; 5.º Objetivo(s); 6.º Metodologia; Deverá preferencialmente incluir subtítulos para melhor perceção dos vários aspetos do tema
7.º Resultados; 8.º Discussão dos resultados; 9.º Conclusões; 10.º Agradecimentos (facultativo); abordado.
11.º Referências Bibliográficas; 12.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas. 5.º Análise crítica
Deverá incluir a visão crítica do(s) autor(es) sobre os vários aspetos abordados.
1.º Título
O título do artigo deve ser o mais sucinto e explícito possível, não ultrapassando as 15 palavras. 3. CASOS CLÍNICOS
Não deve incluir abreviaturas. Deve ser apresentado em Português e em Inglês. O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos
2.º Resumo e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 8 páginas e deve ser escrito
O resumo poderá ter até 300 palavras, devendo ser estruturado em Introdução, Objetivos, em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de
Métodos, Resultados e Conclusões. Deve ser apresentado em Português e em Inglês. número de linha na margem lateral.
3.º Palavras-Chave Considera-se um caso clínico um artigo que descreva de forma pormenorizada e fundamentada
Indicar uma lista por ordem alfabética com um máximo de seis palavras-chave do artigo. Deve um caso cuja publicação se justifique tendo em conta a sua complexidade, diagnóstico,
ser apresentada em Português e em Inglês. raridade, evolução ou tipo de tratamento diferenciado.
4.º Introdução Estes artigos devem ser estruturados pela seguinte ordem:
A introdução deve incluir de forma clara os conhecimentos anteriores sobre o tópico a abordar 1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Introdução; 5.º Descrição do Caso Clínico;
e a fundamentação do estudo. 6.º Análise crítica; 7.º Conclusões; 8.º Agradecimentos (facultativo); 9.º Referências Bibliográficas;
As abreviaturas devem ser indicadas entre parêntesis no texto pela primeira vez em que foram 10.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas.
utilizadas. Os pontos comuns com as orientações referidas anteriormente para os artigos originais
As unidades de medida devem estar de acordo com as normas internacionais. deverão seguir as mesmas indicações.
As referências bibliográficas devem ser colocadas ao longo do texto em numeração árabe,
entre parêntesis curvos. 5.º Descrição do Caso Clínico;
5.º Objetivo(s) Deve ser explícita e explicativa de todos os aspetos que caracterizem o caso clínico, baseado
Devem ser claros e sucintos, devendo ser respondidos no restante texto. em casos reais, mas sem referência direta ao indivíduo apresentado. Apenas deverão ser indi-
6.º Metodologia cados dados meramente exemplificativos ou vagos (ex.: indivíduo A).
Deve ser explícita e explicativa de todas as técnicas, práticas e métodos utilizados, devendo
fazer-se igualmente referência aos materiais, pessoas ou animais utilizados e qual a referência 4. ARTIGOS DE CARÁCTER PROFISSIONAL
temporal em que se realizou o estudo/pesquisa e a análise estatística nos casos em que se O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos
aplique. Os métodos utilizados devem ser acompanhados das referências bibliográficas cor- e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 8 páginas e deve ser escrito
respondentes. em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de
Quando se reportarem investigações com humanos, é necessário indicar o uso do Consen- número de linha na margem lateral.
timento Informado e a aprovação do projeto de investigação por uma Comissão de Ética. Os Nesta categoria inserem-se os artigos que visem uma abordagem ou opinião sobre um deter-
autores também devem indicar que os procedimentos experimentais estiveram de acordo com minado tema, técnica, metodologia ou atividade realizada no âmbito da prática profissional do
a Declaração de Helsínquia.No reporte de experiências com animais, é necessário indicar os Nutricionista.
cuidados utilizados para o tratamento dos mesmos. Estes artigos devem ser estruturados pela seguinte ordem:
7.º Resultados 1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Texto principal; 5.º Análise crítica; 6.º Conclusões;
Os resultados devem ser apresentados de forma clara e didática para uma fácil perceção. Deve 7.º Agradecimentos (facultativo); 8.º Referências Bibliográficas; 9.º Figuras, gráficos, tabelas e
fazer-se referência às figuras, gráficos e tabelas, indicando o respetivo nome e número árabe e respetivas legendas.
entre parêntesis. Ex.: (Figura 1). Não deverá ser excedido um limite de 6 representações no total As orientações destes pontos foram referidas anteriormente nos pontos 1 e 2.
de figuras, gráficos e tabelas.
8.º Discussão dos resultados TRATAMENTO EDITORIAL
Pretende-se apresentar uma discussão dos resultados obtidos, comparando-os com Aquando da receção todos os artigos serão numerados, sendo o dito número comunicado aos
estudos anteriores e respetivas referências bibliográficas, indicadas ao longo do texto através autores e passando o mesmo a identificar o artigo na comunicação entre os autores e a revista.
de número árabe entre parêntesis. A discussão deve ainda incluir as principais limitações e Os textos, devidamente anonimizados, serão então apreciados pelo Conselho Editorial e pelo
vantagens do estudo e as suas implicações. Conselho Científico da revista, bem como por dois elementos de um grupo de Revisores indi-
9.º Conclusões gitados pelos ditos Conselhos.
De uma forma breve e elucidativa devem ser apresentadas as principais conclusões do estudo. Na sequência da citada arbitragem, os textos poderão ser aceites sem alterações, rejeitados
Devem evitar-se afirmações e conclusões não baseadas nos resultados obtidos. ou aceites mediante correções, propostas aos autores. Neste último caso, é feito o envio
10.º Agradecimentos das alterações propostas aos autores para que as efetuem dentro de um prazo estipulado. A
A redação de agradecimentos é facultativa. rejeição de um artigo será baseada em dois pareceres negativos emitidos por dois revisores
Se houver situações de conflito de interesses devem ser referenciados nesta secção. independentes. Caso surja um parecer negativo e um parecer positivo, a decisão da sua
11.º Referências Bibliográficas publicação ou a rejeição do artigo será assumida pelo Editor da revista. Uma vez aceite o artigo
Devem ser numeradas por ordem de citação ou seja à ordem de entrada no texto, colocando-se para publicação, a revisão das provas da revista deverá ser feita num máximo de três dias úteis,
o número árabe entre parêntesis curvos. onde apenas é possível fazer correções de erros ortográficos.
A indicação das referências bibliográficas no final do artigo deve ser apresentada segundo o No texto do artigo constarão as indicações relativas à data de submissão e à data de aprovação
estilo Vancouver. para publicação do artigo.