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A REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 out. dez.

‘17
Distribuição Gratuita
ISSN: 2183-5985
C.E. CORPO EDITORIAL
DIRETOR
NUNO BORGES | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO

COORDENADOR CONSELHO CIENTÍFICO


NUNO BORGES | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO

COORDENAÇÃO EDITORIAL
HELENA REAL | ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO, PORTO

PAINEL DE REVISORES

CONJUNTO DE DOUTORADOS COM RECONHECIDO PERCURSO PROFISSIONAL


NACIONAL E INTERNACIONAL

SAIBA MAIS SOBRE CADA UM EM: WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT

FICHA TÉCNICA
Acta Portuguesa de Nutrição N.º 11, outubro-dezembro 2017 | ISSN 2183-5985 | Revista da Associação Portuguesa de Nutrição | Rua João das
Regras, n.º 278 e 284 - R/C 3, 4000-291 Porto | Tel.: +351 22 208 59 81 | Fax: +351 22 208 51 45 | E-mail: actaportuguesadenutricao@apn.org.pt |
Propriedade Associação Portuguesa de Nutrição | Periodicidade 4 números/ano (1 edição em papel e 3 edições em formato digital):
janeiro-março; abril-junho; julho-setembro e outubro-dezembro | Conceção Gráfica COOPERATIVA 31 | Notas Artigos escritos segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Os
artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores, podendo não coincidir com a opinião da Associação Portuguesa de Nutrição. É permitida a reprodução
dos artigos publicados para fins não comerciais, desde que indicada a fonte e informada a revista. A publicidade não tem necessariamente o aval científico da Associação
Portuguesa de Nutrição.
I.
EDITORIAL
ÍNDICE
2 A.R._ARTIGO DE REVISÃO
Nuno Borges
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO
E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA 30
Sofia Alves Cardoso; Isabel Paiva

A.O._ARTIGO ORIGINAL
RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA
E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: 6 A.P._ARTIGO PROFISSIONAL
COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS
ALIMENTARES
DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA
NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS 36
Catarina Barbosa; Pedro Pimenta; Helena Real
Ivo Barbedo Faria; Cláudia Silva; Maria Gil Ribeiro

A.O._ARTIGO ORIGINAL A.P._ARTIGO PROFISSIONAL


HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL
ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO 16 O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL:
QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA? 42
DA CATEGORIA JUVENIL
Inês Gaspar; Renata Ramalho; Hélder Muteia
João Lima; Jéssica Rodrigues; José Canhola;
Ada Rocha

NORMAS DE PUBLICAÇÃO 47
A.R._ARTIGO DE REVISÃO
PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E
ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS 22
CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
Mariana Almeida; Andreia Oliveira

ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) | LICENÇA: cc-by-nc


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 1
E. EDITORIAL
Cumpriu-se no mês de dezembro 4 anos sobre o reconhecimento da As virtudes desta dieta resultam, ainda antes de mergulharmos
Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade. no fascínio das relações bioquímicas e fisiológicas entre os seus
Este processo, que teve o contributo de Portugal, consagrou um componentes e o nosso organismo, de um secular apuramento de
modelo de vida, que não sendo exclusivamente sustentado por um ingredientes, nada rejeitando e usufruindo do que a Natureza e o
tipo de dieta, tem nesta o seu lado mais visível e porventura mais esforço humano propiciavam. Num mundo tão rápido e que sucumbe
carismático também. Este modelo, baseado numa agricultura de tão facilmente a modas alimentares que ora proíbem, ora veneram
subsistência, pobre, mas com uma inteligentíssima gestão dos parcos determinados alimentos, serve de importante lição pensarmos que foi o
recursos, tem recebido a atenção da comunidade científica desde tempo, a sabedoria e o pragmatismo que moldaram este extraordinário
as primeiras observações de Ancel Keys, na já longínqua década modelo alimentar.
de 50 do século XX. São hoje conhecidas inúmeras relações entre a
Dieta Mediterrânica (ou, talvez melhor, o conjunto das várias “Dietas Nesta 11.ª edição da Acta Portuguesa de Nutrição damos destaque a
Mediterrânicas”) e a nossa saúde, sendo essas relações, quando três artigos que se debruçam, precisamente, sobre a Dieta Mediterrânica,
existem, sempre no sentido de propiciar melhores índices a quem com distintas abordagens. Ao contribuir, assim, para um ainda mais
melhor adere aos seus princípios. Não cabendo neste Editorial a amplo conhecimento deste nosso património, cumpre-se também
descrição exaustiva desses benefícios, diremos apenas que doença um desígnio cultural para esta revista, associando-a pela nobre via da
cardiovascular, diabetes tipo II, demência de Alzheimer e várias Ciência a esta importante efeméride.
neoplasias são doenças cuja incidência é reduzida para os que
cumprem os preceitos deste modelo alimentar. Acresce que se trata
de um tipo de dieta claramente amigo do ambiente, sustentável e que Nuno Borges
merece, também por isso, um destacado lugar quando olhamos para Diretor da Acta Portuguesa de Nutrição
essa vertente cada vez mais indissociável da análise que devemos
fazer a cada modelo alimentar.

 2 ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 02 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1101


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RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA
E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA:
COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS
ALIMENTARES
A.O.
ARTIGO ORIGINAL
MEDITERRANEAN FOOD WHEEL AND MEDITERRANEAN DIET
PYRAMID: COMPARISON BETWEEN THE TWO FOOD GUIDES
1 Instituto
Universitário Catarina Barbosa1; Pedro Pimenta1; Helena Real1,2*
de Ciências da Saúde,
CESPU - Cooperativa
de Ensino Superior, RESUMO
Politécnico e Universitário,
INTRODUÇÃO: A Dieta Mediterrânica é considerada um dos padrões alimentares mais saudáveis do mundo, contudo, a maioria dos
crl,
Rua Central de Gandra, países tem o seu próprio guia alimentar. Em Portugal, utiliza-se como guia a Roda dos Alimentos. Contudo, dado que Portugal é um
n.º 1317, país com características mediterrânicas, foi desenvolvida a Roda da Alimentação Mediterrânica.
4585-116 Gandra, OBJETIVOS: Comparar a Roda da Alimentação Mediterrânica e a Pirâmide da Dieta Mediterrânica para verificar e analisar as diferenças
Portugal
e concordâncias entre ambas.
2 Associação Portuguesa METODOLOGIA: Foram estabelecidos quatro níveis de comparação de diversos parâmetros estabelecidos pelos guias (I: igual em todos
de Nutrição, os aspetos; II: existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da recomendação; III: só se verifica na Roda da
Rua João das Regras, Alimentação Mediterrânica; IV: só se verifica na Pirâmide da Dieta Mediterrânica). Foram analisados 27 parâmetros: sustentabilidade;
n.º 278 e 284, R/C 3,
carnes brancas; carnes vermelhas; carnes processadas; pescado; ovos; leguminosas; hortícolas; fruta; cereais; água; vinho; açúcar e
4000-291 Porto, Portugal
produtos açucarados; gorduras e óleos; atividade física; sazonalidade; sementes; frutos oleaginosos; gastronomia nacional; atividades
culinárias; convivência; ervas aromáticas; sal; laticínios; porções equivalentes; descanso; biodiversidade.
*Endereço para correspondência:
RESULTADOS: A percentagem do nível I, II, III e IV é de 29,6%, 48,2%, 3,7% e 18,5%, respetivamente. Os parâmetros correspondentes ao
Helena Real nível I são: convivência, biodiversidade, sustentabilidade, sazonalidade, atividade física, vinho, gastronomia nacional e atividades culinárias;
Associação Portuguesa de
ao nível II são: laticínios, carnes brancas, carnes vermelhas, pescado, ovos, leguminosas, frutos oleaginosos, produtos hortícolas, fruta,
Nutrição,
Rua João das Regras, n.º 278 e cereais, água, gorduras e óleos e ervas aromáticas; ao nível III é: porções equivalentes; ao nível IV são: carnes processadas, sal, açúcar e
284, R/C 3, produtos açucarados, sementes e descanso. Acresce ainda o facto de os guias terem formas esquemáticas diferentes.
4000-291 Porto, Portugal
helenareal@apn.org.pt CONCLUSÕES: Comparando os dois guias, verifica-se que existe elevada concordância entre ambos, sendo que a Roda da Alimentação
Mediterrânica, elaborada com base na realidade portuguesa e tradições nacionais, pode afigurar-se como mais adequada para
Histórico do artigo:
a utilização nas ações destinadas à população portuguesa. Será ainda fundamental dar mais destaque à Roda da Alimentação
Mediterrânica nos manuais escolares.
Recebido a 2 de janeiro de 2017
Aceite a 31 de dezembro de 2017
PALAVRAS-CHAVE
Guias alimentares, Manuais escolares, Pirâmide da Dieta Mediterrânica, População portuguesa, Roda da Alimentação Mediterrânica

ABSTRACT
INTRODUCTION: The Mediterranean Diet is considered one of the healthiest food patterns of the world, however, most countries have
their own food guide. In Portugal, it is used as guide, the Portuguese Food Wheel. However, as Portugal is a country with Mediterranean
characteristics, the Mediterranean Food Wheel has been developed.
OBJECTIVES: Compare the Mediterranean Food Wheel and the Mediterranean Diet Pyramid, to see and analyze the differences and
concordances between the two.
METHODOLOGY: It was established four levels of comparison of several parameters set by the guides (I: equal in every aspects; II: existence
of the parameter in the two guides, but with differences in the recommendation; III: the parameter only exists in the Mediterranean Food
Wheel; IV: the parameter only exists in the Pyramid of Mediterranean Diet). Were analyzed 27 parameters: sustainability; white meat; red
meat; processed meat; fish; eggs; beans; vegetables; fruit; cereals; water; wine; sugar and sugar products; fat and oils; physical activity;
seasonality; seeds; oleaginous fruits; national cuisine; culinary; living together; herbs; salt; dairy products; equivalent portions; rest; biodiversity.
RESULTS: The percentage of the level I, II, III and IV is 29.6 %, 48.2 %, 3.7 % and 18.5 %, respectively. The parameters corresponding to the level
I are: conviviality, biodiversity, traditional local foods, seasonality, physical activity, wine, national cuisine and culinary; at level II are: dairy, white
meat, red meat, fish/seafood, eggs, beans, oleaginous fruits, vegetables, fruit, cereals, water, fat and oils and herbs; at level III are: equivalent
portions; at level IV are: processed meat, salt, sugar and sugar products, seeds and rest. Besides that, the guides have different schematic forms.
CONCLUSIONS: Comparing the two guides, it is verified that there is a high agreement between both, being the Mediterranean Food
Weel, elaborated based on the Portuguese reality and the entire national culture, history and traditions, and may appear to be the more
suitable for use in actions aimed at the Portuguese population. It will also be essential to increase information about the Mediterranean
Food Wheel in school textbooks.

KEYWORDS
Food guides, School textbooks, Mediterranean Diet Pyramid, Portuguese population, Mediterranean Food Weel

 6 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102
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INTRODUÇÃO Dado que em Portugal se tem vindo a reforçar o debate e promoção
Portugal é um país com uma vasta herança mediterrânica resultante da DM, para além de se ter incrementado informação sobre o tema
de constantes migrações que, ao longo dos séculos, configuraram nos manuais escolares, onde surge maior destaque para a PDM em
o Mediterrâneo em geral (1–3). O homem soube tirar partido dos detrimento da RA, torna-se importante explorar quais as diferenças e
recursos escassos do solo da região mediterrânica, nomeadamente semelhanças entre os dois guias de forma a clarificar estes aspetos
os arbustos, ao utilizá-los para a lenha; as ervas, ao propiciarem o pasto junto dos profissionais da área da nutrição e alimentação e também
para os animais; bem como os frutos e óleos, extraídos de algumas os professores.
plantas bravas. Para além disso, o homem também introduziu várias
plantas agrárias, que permaneceram nestas terras, até aos dias de OBJETIVOS
hoje, enriquecendo a vegetação e transformando as paisagens. São Comparar a RAM e a PDM, com o intuito de verificar e analisar as
exemplos disso a oliveira, a videira, a figueira e as plantas de inúmeras possíveis diferenças e concordâncias entre ambos os guias alimentares.
leguminosas (2–4).
A designação de “Dieta Mediterrânica” (DM) surge na década de 50/60 METODOLOGIA
do século XX , no decurso de um conjunto de estudos que o fisiologista Procedeu-se ao estudo de dois guias alimentares, tendo sido selecionados
norte-americano Ancel Keys realizou no Mediterrâneo (5–7). Contudo, este 27 parâmetros para análise, tendo em conta todos os aspetos
estilo de vida desenvolvia-se nesta região desde há muito mais tempo. referenciados nos respetivos cartazes que contêm as representações
O conceito ganhou novo destaque após a distinção pela UNESCO gráficas (Figura 1 e 2) (18, 19). Os parâmetros selecionados foram os
como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a qual veio trazer seguintes: convivência; biodiversidade; sustentabilidade; sazonalidade;
uma maior abrangência do mesmo (8), por oposição a um modelo de atividade física; gastronomia nacional; atividades culinárias; porções
caracterização baseado nas questões alimentares e o seu impacto na equivalentes e descanso. Nos grupos de alimentos pertencentes à RAM
saúde, sobejamente conhecido (9–13). Todavia, se se considerar apenas e à PDM foram considerados: vinho; laticínios; carnes brancas; carnes
a parte alimentar, é possível referir que o Padrão Alimentar Mediterrânico vermelhas; pescado; ovos; leguminosas; frutos oleaginosos; produtos
(PAM) que daí advém é caracterizado por um elevado consumo de hortícolas; fruta; cereais; água; gorduras e óleos; ervas aromáticas;
alimentos de origem vegetal, de entre os quais cereais, hortícolas e fruta, carnes processadas; sal; açúcar e produtos açucarados; sementes.
leguminosas, frutos oleaginosos, azeitonas e sementes. Este padrão A RAM apresenta as porções e respetivos equivalentes na documentação
recomenda ainda o azeite como a gordura de eleição e incentiva um acessória e não na representação esquemática central da Roda. Por outro
consumo moderado de pescado, carnes brancas, ovos e laticínios, de lado, a PDM não quantifica as porções equivalentes, pelo que se assumiu
preferência sob a forma de queijo e iogurte. Por outro lado, aconselha que as porções representam quantidades semelhantes às da RAM (20).
um baixo consumo de carnes vermelhas e processadas e um consumo
moderado, às refeições principais, de vinho (14). A sistematização destas Figura 1
recomendações alimentares pode ser encontrada no formato de uma Roda da Alimentação Mediterrânica, guia alimentar português (18)
pirâmide – Pirâmide da Dieta Mediterrânica (PDM) -, um guia alimentar
que permite transmitir as mesmas de forma simples e acessível (14).
De acordo com a Food and Nutrition Board/ World Health Organization,
os guias alimentares são documentos elaborados com a finalidade
de orientar e promover a educação nutricional de uma determinada
população (15). A criação de um guia alimentar deve respeitar aspetos
relacionados com a disponibilidade alimentar nacional, o padrão de
consumo alimentar e nutricional e o estado nutricional da população (16).
Um dos objetivos na elaboração dos guias alimentares é possibilitar uma
fácil leitura e interpretação, tal como descodificar a linguagem científica
em conceitos e representações mais simples (17).
Em Portugal, A Roda dos Alimentos (RA) corresponde ao guia
alimentar que foi elaborado para acompanhar os hábitos alimentares,
a gastronomia, a cultura, e as tradições da população portuguesa,
tendo por base os conhecimentos nutricionais essenciais para a sua
adequabilidade (17).
Recentemente, a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação
da Universidade do Porto, a Direção-Geral do Consumidor e a Direção
Geral da Saúde lançaram uma adaptação da RA aos conceitos da
DM, funcionando como complemento à RA já existente. A criação da
Roda da Alimentação Mediterrânica (RAM), destinada à população
portuguesa, contribui para a valorização e promoção deste padrão
alimentar, estando a base do seu desenvolvimento assente na RA (18).
Portugal possui uma identidade mediterrânica caracterizada pelo clima,
que, embora regulado pelo Oceano Atlântico, sofre também influência
do mar Mediterrâneo, o que é visível na paisagem e modo de vida
(4). Assim, a elaboração da RAM teve por base as nossas tradições
alimentares e gastronómicas, que tinham já contribuído para a criação
da RA, mas também teve influência na DM (3).

RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102  7
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Figura 2
Pirâmide da Dieta Mediterrânica (19)

Tabela 1
Comparação de parâmetros entre a Roda da Alimentação Mediterrânica e a Pirâmide da Dieta Mediterrânica

NÍVEL PARÂMETROS RAM PDM OBSERVAÇÕES


A RAM e a PDM conferem relevância à convivência e à
I Convivência Menciona Menciona partilha, aquando a realização das refeições, e às atividades
de lazer.
I A RAM e a PDM preconizam este parâmetro através da
Biodiversidade Surge recomendado Surge recomendado
recomendação de uma alimentação variada.
A RAM apela a um conceito semelhante com a
I Sustentabilidade Menciona Menciona recomendação de consumo de alimentos locais e a PDM
recomenda um consumo de produtos amigos do ambiente.
A RAM e a PDM recomendam o consumo de alimentos da
I Sazonalidade Menciona Menciona
época.
Surge recomendado de forma Surge recomendado de forma A RAM e a PDM recomendam e fazem referência a este
I Atividade Física
regular regular parâmetro.
A RAM e a PDM emitem recomendações iguais para o
vinho, enfatizando o consumo de vinho em quantidades
Recomendado consumo Recomendado consumo
I Vinho moderadas às refeições, sendo que a RAM salvaguarda
moderado e às refeições moderado
que o seu consumo não deve ser efetuado por crianças,
grávidas e aleitantes.
A RAM referencia este ponto, tal como a PDM,
nomeadamente a valorização da gastronomia saudável
I Gastronomia Nacional Menciona Menciona
e tradicional, o respeito pelo consumo de alimentos de
produção nacional das diferentes regiões do país.
A RAM defende a promoção da utilização de técnicas
culinárias saudáveis, tal como a PDM que evoca a
I Atividades Culinárias Menciona Menciona
frugalidade e a cozinha simples, atividades culinárias
protetoras dos nutrientes e dos alimentos.
A recomendação do consumo é diária em ambos os guias. A RAM
faz referência a todos os laticínios, recomendando um consumo de
II Laticínios 2 a 3 porções diárias 2 porções diárias
2-3 porções diárias, enquanto a PDM centra-se no predomínio de
queijo e iogurte, dando destaque aos laticínios magros.
Na RAM, as recomendações de carne estão incluídas no
grupo “carne, pescado e ovos”, diferindo nas porções. A
II Carnes Brancas 1,5 a 4,5 porções diárias 2 porções semanais
PDM recomenda este tipo de carne, a qual se encontra
separada das restantes.

 8 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 06-14 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1102
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Na RAM, a recomendação está incluída no grupo “carne,
II Carnes Vermelhas 1,5 a 4,5 porções diárias Menos de 2 porções semanais pescado e ovos”. A PDM recomenda um menor consumo
deste tipo de carne, estando separada das restantes.
A RAM realça o consumo de peixe em especial a sardinha,
carapau, cavala, atum, entre outros, dentro do grupo
II Pescado 1,5 a 4,5 porções diárias Mais ou 2 porções por semana das “carnes, pescado e ovos”, ao passo que a PDM dá
orientações sobre a frequência de consumo de pescado
em concreto.
A RAM e a PDM recomendam este fornecedor proteico,
II Ovos 1,5 a 4,5 porções diárias 2 a 4 porções semanais contudo, a RAM fá-lo incluído no grupo das “carnes,
pescado e ovos”, e a PDM de forma específica.
As leguminosas aparecem em ambos os guias, mas com
II Leguminosas 1 a 2 porções diárias Mais ou 2 porções por semana
recomendações diferentes.
A RAM aconselha o consumo de frutos oleaginosos mas
II Frutos Oleaginosos Menciona 1 a 2 porções diárias não especifica a frequência ou quantidade de consumo. A
PDM recomenda uma ingestão diária.
A RAM e a PDM exibem recomendações diferentes, sendo
II Produtos Hortícolas 3 a 5 porções diárias 2 porções ou mais por refeição que a RAM realça o consumo de cebola, alho, couve
galega, grelos, tomate, pimentos, beldroegas, entre outros.
A RAM recomenda sobretudo o consumo de melão, figo,
1 a 2 porções por refeição ameixa, laranja, tangerina, nêspera, romã, entre outras e a
II Fruta 3 a 5 porções diárias
principal PDM faz referência ao consumo deste grupo por refeição
principal.
A RAM e a PDM recomendam o consumo distinto de
alimentos pertencentes a este grupo alimentar. A RAM
1 a 2 porções por refeição
II Cereais 4 a 11 porções diárias destaca ainda o consumo de cereais, tubérculos e frutos
principal
amiláceos, ao passo que a PDM diferencia a batata e dá
preferência aos cereais integrais.
Ingestão de 1,5 a 2 Litros diários A RAM e a PDM aconselham a ingestão de água, em
II Água Ingestão de 1,5 a 3 Litros diários
(equivalente de 6 a 8 copos) quantidades distintas.
A RAM refere outros equivalentes, destacando o azeite
Consumo de azeite a cada
II Gorduras e Óleos 1 a 3 porções diárias e a azeitona ao passo que a PDM enfoca unicamente o
refeição principal
consumo de azeite.
A RAM recomenda a sua utilização como forma de
substituir a adição de sal. A PDM recomenda a adição
II Ervas Aromáticas Menciona Consumo diário diária de ervas aromáticas e especiarias às preparações
culinárias como forma de obter grande variedade de
aromas e sabores.
Menciona em documento Na PDM está ausente a quantificação em peso das porções
III Porções Equivalentes Não menciona
acessório recomendadas.
Menciona em documento Este parâmetro só é mencionado na PDM, com
IV Carnes Processadas Menciona
acessório recomendações diferentes dos restantes tipos de carnes.
Menciona a necessidade de A PDM refere a necessidade de existir uma menor adição
Menciona em documento
IV Sal reduzir a adição de sal às de sal. A RAM apresenta informação em documentos
acessório
confeções culinárias acessórios.
A PDM aconselha a um consumo inferior a 2 porções numa
Menciona em documento
IV Açúcar e Produtos Açucarados Menos de 2 porções semanais semana. A RAM apresenta informação em documentos
acessório
acessórios.
Na PDM, o consumo destas é promovido nas quantidades
IV Sementes Não menciona 1 a 2 porções diárias
referidas.
IV Descanso Não menciona Menciona A PDM foca a importância de um descanso adequado.

PDM: Pirâmide da Dieta Mediterrânica Nível II: Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da reco-
RAM: Roda da Alimentação Mediterrânica mendação
Nível I: O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na recomendação, quer Nível III: O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAM
na existência do mesmo no guia Nível IV: O parâmetro em questão só está presente e é recomendado na PDM

Tabela 2
Comparação dos parâmetros analisados pertencentes à Roda da Alimentação Mediterrânica e à Pirâmide da Dieta Mediterrânica e respetivas
percentagens por nível
NÍVEL PERCENTAGEM PARÂMETROS

Convivência, biodiversidade, sustentabilidade, sazonalidade, atividade física, vinho, gastronomia nacional e atividades
I 29,6%
culinárias
Laticínios, carnes brancas, carnes vermelhas, pescado, ovos, leguminosas, frutos oleaginosos, produtos hortícolas,
II 48,2%
fruta, cereais, água, gorduras e óleos e ervas aromáticas
III 3,7% Porções equivalentes
IV 18,5% Carnes processadas, sal, açúcar e produtos açucarados, sementes e descanso

Nível I: O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na recomendação, quer Nível III: O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAM
na existência do mesmo no guia Nível IV: O parâmetro em questão só está presente e é recomendado na PDM
Nível II: Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível da reco-
mendação

Posteriormente foram criados quatro níveis, de modo a comparar todos foram obtidos recorrendo ao auxílio do programa Microsoft Office Excel®
os parâmetros selecionados: 2010 para o sistema operacional Windows 8.1.
(I) O parâmetro analisado é igual em todos os aspetos, quer na
recomendação, quer na existência do mesmo no guia; RESULTADOS
(II) Existência do parâmetro nos dois guias, mas com diferenças ao nível Na Tabela 1, é apresentada a comparação de parâmetros entre a RAM
da recomendação; e a PDM.
(III) O parâmetro só é recomendado e preconizado na RAM; Dos 27 parâmetros analisados, a percentagem dos mesmos
(IV) O parâmetro só está presente e é recomendado na PDM. pertencentes aos níveis I, II, III e IV corresponde respetivamente a:
A análise foi efetuada no mês de julho de 2016, sendo que os resultados 29,6%, 48,2%, 3,7% e 18,5%, tal como é representado na Tabela 2.

RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS o avançar da idade (37). Para além disso, o leite tem ainda importantes
Verificou-se que dos 27 parâmetros analisados, existem parâmetros nutrientes, como o magnésio, o cálcio e o potássio, com ação preventiva
comuns em 77,8% dos casos. Destes, 29,6% são iguais nos dois no desenvolvimento de doenças cardiovasculares (38,39). Face às
guias alimentares. Desta percentagem fazem parte nomeadamente vantagens anteriormente enumeradas, o consumo deste alimento é
a convivência, importante para a aquisição de hábitos promotores de importante e deve ser incentivado, recomendação que está presente
estilos de vida mais saudáveis e melhor estado de saúde (21–24). sobretudo na RAM.
A biodiversidade, sustentabilidade e sazonalidade alimentar são Mencionando o grupo “Carne, Pescado e Ovos”, a RAM inclui as
parâmetros considerados pelos dois guias, estando espelhados carnes brancas, carnes vermelhas, pescado e ovos no mesmo
conceitos como o recurso a produtos da época, tradicionais e de grupo, contrariamente à PDM, que exibe recomendações separadas
proveniência local. e distintas. Contudo, seria benéfico que a RAM procedesse a uma
A RAM e a PDM também preconizam a prática de atividade física, separação das diversas fontes proteicas, à semelhança da PDM,
um fator fulcral na saúde e bem-estar, recomendação transversal a pois a carne, o pescado e os ovos deviam possuir recomendações
todas as faixas etárias (25, 26). A importância destas recomendações de frequência de consumo diferentes. A corroborar esta sugestão
prende-se com o facto de esta prática contribuir para a diminuição dos existem as recomendações de várias instituições, entre as quais a The
comportamentos sedentários e poder reduzir o risco de desenvolvimento American Heart Association (AHA) e a European Food Safety Authority
de doenças cardiovasculares, de diabetes Mellitus, de hipertensão (EFSA), que defendem o consumo de peixe, sobretudo o peixe gordo,
arterial e de certos tipos de cancro (25). no mínimo duas vezes por semana (40, 41). Por outro lado, segundo
A RAM e a PDM fazem ainda alusão ao consumo de vinho, produto o relatório conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da
muito associado à região mediterrânica (27). Estas recomendações International Agency for Research of Cancer (IARC), evidencia-se a
sustentam-se no interesse para a saúde do consumo dos componentes, recomendação de não ultrapassar o consumo de 100 g de carnes
sobretudo, do vinho tinto, especialmente o resveratrol, com ação anti- vermelhas e 50 g de carnes processadas, pois podem aumentar em
-aterogénica, e os flavonóides, que têm uma ação antioxidante e que 17% e 18% respetivamente, o risco de desenvolvimento do cancro
diminuem o stress oxidativo, inibindo a formação de espécies reativas colorretal (42). Existem inclusivamente relações estabelecidas entre o
de oxigénio (27–30). Estes benefícios ocorrem aquando um consumo consumo de carnes vermelhas e processadas com o desenvolvimento
moderado e às refeições principais (31, 32). de hipercolesterolemia, hipertensão ou mesmo síndrome metabólica,
A gastronomia nacional é outro parâmetro pertencente a este nível de questão que não se evidencia nas carnes brancas (43). Por estas
comparação, de forma a promover a presença de pratos tradicionais razões e pelas diferenças nutricionais seria importante a separação
das várias regiões do país, que representam o modo como as pessoas dos diferentes tipos de carnes. Será, assim, importante, que a indicação
se relacionam e usam os diferentes produtos alimentares, e contribuem relativa a um consumo diferenciado dos alimentos que compõe o grupo
para que as tradições se mantenham ao longo dos anos (33). A RAM das “carnes, pescado e ovos” possa ser feita de forma acessória quando
e a PDM enfocam a importância da realização de atividades culinárias, se apresenta a RAM à população. Desta forma, verifica-se que a divisão
cujas técnicas sejam saudáveis e tradicionais (como sopas, ensopados, por frequência de consumo da PDM é mais vantajosa, dado que
estufados e caldeiradas) dado preservarem a qualidade nutricional dos transmite uma informação mais completa sobre estas fontes proteicas,
alimentos e por serem simples e práticas de realizar (33, 34). do que apenas englobá-las num só grupo. A PDM refere um consumo
Quanto aos parâmetros comuns aos dois guias, mas com semanal destes alimentos, dando maior preferência ao pescado, aspeto
recomendações distintas, identificaram-se 48,2% dos parâmetros este que se assume benéfico porque o mesmo representa uma fonte
nessas condições. Desta percentagem fazem parte nomeadamente as de energia, de proteínas de alto valor biológico, de iodo, de selénio, de
recomendações de consumo de laticínios, onde se verifica, por exemplo, cálcio, de vitaminas A e D e ácidos gordos essenciais (41).
que o consumo de iogurte e queijo é mais evidenciado, do que o leite, Quanto às leguminosas, estas são individualizadas dos restantes
pela PDM. A escolha de consumo de queijo, sobretudo proveniente de fornecedores proteicos tanto na RAM como na PDM. Apesar disso,
cabra e ovelha, prende-se com razões históricas e culturais, pelo facto nos dias de hoje é notória uma menor valorização e utilização das
de estes serem animais com mobilidade suficiente para procurarem os leguminosas, muito presentes em pratos da gastronomia tradicional
pastos nos locais disponíveis e, por vezes de menor acesso, sendo, portuguesa. As recomendações dos dois guias diferem quanto
por isso, animais mais comuns nos países do Mediterrâneo. O clima à frequência de consumo, na medida em que a RAM aconselha o
representa outro aspeto determinante para uma maior presença consumo de 1 a 2 porções diárias e a PDM um consumo superior
de alimentos derivados do leite, pois temperaturas mais elevadas ou igual a 2 porções por semana. As leguminosas são alimentos que
determinam a necessidade de existirem alimentos que possuam um exercem inúmeros benefícios para a saúde, contribuem para um melhor
prazo de validade mais alargado (3). O consumo de laticínios faz parte controlo glicémico, para a modulação lipídica, são ricas em substâncias
das recomendações diárias tanto da PDM como da RAM. Contudo, bioativas e fibras, não apresentam colesterol e são boas fornecedoras
a RAM salienta o consumo de laticínios como um todo, visto que o de proteínas (44). Desta forma, pelos benefícios inerentes, seria preferível
consumo de leite é muito comum na população portuguesa. O leite é um a recomendação basear-se no consumo diário, tal como se verifica
alimento com um valor nutricional muito importante, dado ser uma fonte com a RAM.
de energia, de cálcio e de fósforo e sobretudo de proteína de alto valor O consumo de frutos oleaginosos é promovido de forma diária em
biológico, essencial para a manutenção da saúde óssea (35). De acordo cerca de 1 a 2 porções na PDM, contrariamente à RAM, cuja menção
com a Fundação Internacional de Osteoporose, a incidência mundial não surge incluída na Roda, mas sim nas recomendações adicionais,
desta doença está a aumentar, sendo, por isso, importante promover o não sendo dada uma orientação quanto à frequência de consumo.
consumo de leite desde cedo (36). O leite tem ainda outras vantagens, Os frutos oleaginosos são caracterizados por serem alimentos com
derivadas do seu elevado teor proteico de alto valor biológico, que elevado teor de lípidos, sobretudo ácidos gordos insaturados (45).
apresenta benefícios na prevenção do desenvolvimento de sarcopenia, Dentro destes, é de destacar o ómega 6, particularmente importante
condição onde se desenvolvem perdas musculares relacionadas com no desenvolvimento cerebral e na proteção da pele, entre outros (46).

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Para além disso, estes alimentos apresentam ainda boas quantidades nos alimentos, é mais fácil apresentar à população valores de referência
de ómega 3 com uma ação importante no sistema cardiovascular e que de bebidas, pelo que o Instituto de Hidratação e Saúde recomenda
previne a ocorrência de doenças cardíacas e vasculares (47). Segundo o consumo de 1,9 e 1,5 L para homens e mulheres, respetivamente
a EFSA, as recomendações de ingestão dos ácidos gordos ómega 3 (57). Os valores preconizados pela RAM aproximam-se mais destas
e ómega 6 são 2 e 10 g por dia, respetivamente (47). recomendações do que os da PDM, dado que a recomendação se
O consumo de frutos oleaginosos acima de três doses por semana é situa entre 1,5 a 3,0 L de água total a ingerir.
cientificamente sustentado como tendo efeitos significativos na redução No âmbito do grupo “Gorduras e Óleos”, a RAM apresenta
do risco de mortalidade (48). O consumo de uma porção equivalente a recomendações quanto às porções diárias de consumo dos vários
uma mão de frutos oleaginosos por dia está associado à prevenção de alimentos deste grupo, enquanto a PDM elege o azeite como a gordura
doenças, tais como obesidade, doenças cardiovasculares ou a diabetes preferencial, aconselhando o seu consumo a cada refeição principal,
Mellitus. Desta forma, a recomendação diária deste tipo de alimentos, à ocupando um destaque central na Pirâmide, visto que constitui um
semelhança do que ocorre na PDM, destaca-se como mais vantajosa (49). dos pilares deste padrão alimentar. Esta fonte de lípidos é composta
Os hortofrutícolas pela sua riqueza nutricional, devem estar presentes por ácidos gordos monoinsaturados, vitamina E e β carotenos com
em abundância num padrão alimentar promotor de saúde, como propriedades salutogénicas, pelo que o seu consumo deve ser
sugerem as recomendações da RAM e da PDM. No primeiro guia são valorizado (58–60). De acordo com a EFSA, o total de gordura ingerida
recomendados entre 3 a 5 porções por dia e no segundo um consumo deve corresponder entre 20 a 35% do total calórico diário para adultos
maior ou igual a 2 porções para os hortícolas e 1 a 2 porções para as (46). Ao nível do tipo de gordura a consumir, a EFSA não estipula nenhum
frutas, a cada refeição principal. De acordo com as recomendações da valor, contudo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para
OMS, que preconiza um consumo mínimo diário de 400 g de produtos a Agricultura e Alimentação (FAO), menos de 10% devem ser atribuídos
hortícolas e de fruta, verifica-se que os dois guias superam estas à gordura saturada, 15 a 20% para a gordura monoinsaturada e 6 a
recomendações (50, 51). O consumo diário de 400 g pode reduzir 11% para a gordura polinsaturada (61). Posto isto, o azeite devido aos
o risco de desenvolvimento de doenças crónicas não transmissíveis, seus benefícios deve ser privilegiado em relação às outras gorduras,
como a doença coronária, doenças cerebrovasculares e hipertensão não necessitando as restantes de ser negligenciadas, desde que não
arterial. Nutricionalmente, este grupo de alimentos apresenta uma sejam ultrapassados os valores recomendados pela EFSA, uma vez que
grande variedade de vitaminas, minerais, fitonutrientes e elevado teor contribuem para uma maior variabilidade dentro deste grupo.
de fibra (50). A grande discordância entre os dois guias, quanto às Relativamente às ervas aromáticas, estas são muitas vezes encaradas
recomendações de fruta e produtos hortícolas, prende-se com o como substitutos da utilização do sal, por potenciarem os sabores
momento do seu consumo. A RAM é mais vantajosa neste sentido, dos pratos, atribuindo-lhes mais cor e aromas. Esta substituição traz
dado promover um consumo ao longo do dia e não exclusivamente nas vantagens para a saúde, sobretudo se contribuir para alcançar as as
refeições principais. A reforçar esta mensagem temos as recomendações recomendações da OMS de um consumo máximo de 5 g/dia de sal
da OMS que aconselham a promoção do consumo destes alimentos (62). Além disso, é ainda possível considerar a valorização nutricional
durante as refeições e nas refeições intercalares. das ervas aromáticas em vitaminas como a A, a C e do complexo B,
Relativamente aos cereais, a RAM recomenda uma ingestão de 4 a 11 em compostos voláteis e substâncias fitoquímicas (63). Assim sendo, é
porções diárias e a PDM refere o consumo de 1 a 2 porções por cada de ressalvar que a PDM aconselha a sua utilização diária, o que não se
refeição principal. O PAM elege o consumo de cereais integrais dado verifica na RAM, onde a menção às ervas aromáticas apenas aparece
que estes são uma importante fonte de energia, hidratos de carbono, nas mensagens acessórias como sugestão de substituto do sal. Neste
proteína e fibra (52, 53). De acordo com dados disponíveis, poderá contexto, face aos benefícios apresentados o consumo diário de ervas
existir uma redução de 21% no risco de desenvolvimento de doenças aromáticas deve ser promovido.
cardiovasculares em indivíduos que consomem em média entre 48 a 80 g Apesar das diferenças nas recomendações nestes grupos alimentares,
de cereais integrais por dia, em comparação com os que não atingem na generalidade verifica-se uma aproximação entre a RAM e a PDM,
estas recomendações (54). Desta forma, ambos os guias são benéficos uma vez que os alimentos mediterrânicos mais destacados estão de
para a promoção do consumo de cereais, embora as recomendações acordo com o padrão alimentar português. Assim, os alimentos que se
da PDM sejam mais evidentes para os cereais integrais. destacam para cada um dos grupos são: Óleos e Gorduras (predomina
Incidindo nas recomendações hídricas, os dois guias referem a o consumo de azeite e azeitona); Carne, Pescado e Ovos (salienta-se
importância da ingestão diária de água, embora as quantidades o consumo sobretudo de peixe, em especial sardinha, carapau, atum,
recomendadas sejam distintas (14, 17). De facto, a água é essencial à cavala, pescada e sarda); Hortícolas (menciona a cebola, o alho, a couve
vida e para realçar a importância do balanço hídrico, a imagem da água galega, os grelos, o tomate, o pimento, o pepino e as beldroegas);
foi colocada em destaque no centro da RAM, ocupando igualmente uma Fruta (predomina melão, figo, ameixa, citrinos, nêspera, romã, melancia,
posição de destaque na PDM (14,55). Relativamente às recomendações, pêssego, maçã, pera, cerejas e uva); Cereais e Tubérculos (em especial
estas devem ter em consideração diversos factores e de acordo com batata doce, castanha, massa e arroz integrais, flocos de aveia e broa).
a OMS, em condições normais, os valores de ingestão de água total Paralelamente, constatou-se que quanto ao nível de comparação
para homens e mulheres são de 2,9 e 2,2 L, respetivamente (56). Para III, 3,7% dos parâmetros (Tabela 2) só aparecem indicados na RAM,
além disso, a EFSA estipulou valores de ingestão adequados de água nomeadamente a menção às porções equivalentes, o que facilita a
total de 2,5 e 2,0 L para homens e mulheres, respetivamente (57). Em realização de uma alimentação variada, baseada nas quantidades
virtude dos valores de ingestão de água reportados pelos portugueses, o recomendadas (17). A PDM não refere o parâmetro das porções
Instituto de Hidratação e Saúde adotou os valores de referência da EFSA equivalentes, uma vez que menciona apenas as frequências de consumo
supracitados (57). Contudo, estas recomendações não se reportam (semanalmente, diariamente e a cada refeição principal), não fazendo
exclusivamente à ingestão de água em natureza, mas também a outras sequer referência à quantificação das porções recomendadas (33,64).
bebidas e alimentos ou preparados culinários, que possuam água na sua Assume-se como uma limitação deste trabalho o facto de se considerar
composição. Porém, dada a grande variabilidade do conteúdo de água que as porções alimentares recomendadas por ambos os guias são

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semelhantes em termos de quantidades. A PDM não apresenta É ainda de ressalvar que a RAM apresenta mensagens específicas
informação sobre este aspeto, o que não permite uma comparação relativas ao consumo moderado de vinho às refeições, exceto por
fiel, podendo condicionar erros associados a uma comparação abusiva. crianças, grávidas e aleitantes, e o incentivo ao consumo de frutos secos
Além disso, a RAM recomenda porções dirigidas a grupos etários e oleaginosos. A razão pela qual os anteriores não surgem comtemplados
níveis de atividade física diferentes, o que incrementa a limitação da em grupos alimentares pertencentes à representação gráfica é por
comparação, visto que a PDM apenas se destina à população adulta, não se desejar que o seu consumo seja feito diariamente, tal como se
sem fazer destrinça de recomendações por níveis de atividade física. pretende para os grupos alimentares incluídos na RAM. Juntamente
Por fim, para o nível de comparação IV, 18,5% dos parâmetros analisados com estas recomendações é visível o incentivo à prática de atividade
(Tabela 2) apenas surgem mencionados na PDM, como o exemplo das física e o aumento do tempo despendido em atividades de lazer; a
sementes, em que a PDM aconselha o consumo diário entre 1 a 2 utilização de ervas aromáticas em substituição ao sal; a promoção de
porções. Estes alimentos podem contribuir para um enriquecimento técnicas culinárias saudáveis e tradicionais no quotidiano; a adoção de
nutricional das ementas (65, 66), nomeadamente devido ao seu teor um estilo de vida fomentador de práticas sustentáveis, com respeito
de fibra e lípidos com predominância de ácidos gordos polinsaturados. à sazonalidade e proveniência dos alimentos; o convívio e partilha no
Desta forma, a inclusão na alimentação dos portugueses de sementes, momento das refeições (33).
como as de girassol ou abóbora, produzidas em Portugal, poderia ser Ao longo dos tempos tem sido observado um gradual afastamento da
promovida. prática da alimentação mediterrânica por parte dos países da região
Relativamente ao sal, a PDM refere a necessidade de se reduzir a sua do Mediterrâneo (65, 75). As possíveis causas deste acontecimento
adição, contrariamente à RAM, que não o faz de forma explícita na podem centrar-se na globalização e no desenvolvimento económico,
representação gráfica do guia, embora faça referência ao assunto nos que contribuem para uma maior partilha de culturas de outros povos
documentos acessórios à representação. Uma vez que os últimos dados que influenciam o consumo alimentar tradicional (65, 76, 77). Neste
relativos ao consumo de sal referem que os portugueses consomem, sentido, é importante promover este padrão alimentar de forma a
em média, 7,3 g de sal por dia, seria importante reforçar e promover serem recuperados os seus princípios e a sua aplicação por parte
uma menor utilização do mesmo (67, 68). Quanto ao açúcar e produtos da população. Neste campo, um guia alimentar adaptado à nossa
açucarados, a OMS tem frequentemente enfocado as recomendações população, que incorpore indicações deste padrão, representa uma
para a redução do consumo de açúcar, para menos de 10% do valor mais-valia no âmbito da educação alimentar. Nos manuais escolares,
energético total, uma vez que se estima ser elevado e comprovadamente os conteúdos programáticos incluem temáticas relativas à alimentação,
prejudicial à saúde (69, 70). A PDM possui a recomendação de consumo sendo disponibilizada informação sobre a RA e a PDM, o que pode
dos produtos açucarados no topo da Pirâmide, com uma frequência potenciar alguma confusão e dificultar a comparação entre os guias,
de consumo semanal e inferior ou igual a 2 porções. Este tipo de sobretudo se o enfoque não for feito na RAM e for efetuado na PDM.
recomendação pode simultaneamente apresentar uma vantagem e uma Será importante que a informação seja clara e concisa, dando-se
desvantagem. Se por um lado a indicação de porções e frequência de destaque ao guia alimentar português. Seria igualmente fundamental
consumo pode auxiliar na limitação de consumo, por fixar um valor, por que na próxima revisão curricular seja incluida nos manuais escolares
outro lado a colocação dos produtos açucarados no topo da Pirâmide informação sobre a RAM, de forma a complementar a informação
pode ser um fator confundidor, devido ao facto de se poder associar o veiculada pela RA, promovendo-se, assim, a DM, adaptada à realidade
topo da representação gráfica a alimentos mais importantes (71, 72). A portuguesa.
RAM apenas apresenta informação sobre o assunto em documentos
acessórios à representação e não no modelo gráfico genérico. CONCLUSÕES
Deste modo, é percetível que estes dois guias possuem diversas A RAM e a PDM constituem ferramentas que permitem boas formas
concordâncias entre si, sendo poucas as diferenças ao nível das de promover uma alimentação saudável, visto que ambos os guias se
recomendações alimentares e informações adicionais. A diferença baseiam em recomendações alimentares suportadas pela evidência
mais evidente nestes dois guias trata-se da sua representação gráfica. científica.
A pirâmide alimentar consiste numa representação bastante comum, Face aos pontos comuns a RAM é mais específica para a população
não só utilizada pela PDM, mas também por países como Áustria, portuguesa, porque foi elaborada com base na realidade e
Finlândia, Grécia, Espanha, entre outros (73). A pirâmide é uma estrutura necessidades dos portugueses. Além disso, foi construída com base
gráfica que conduz a uma interpretação com uma orientação de cima nos dados de disponibilidade alimentar nacionais, incluindo ainda
para baixo, o que motiva uma associação hierárquica dos alimentos ou informações mais esclarecedoras acerca das porções, quanto à sua
informações alimentares presentes. Os alimentos situados nas divisões quantificação. É também de ressalvar a sua forma circular, uma vez
mais estreitas podem erradamente ser considerados mais importantes que permite uma interpretação mais fácil e imediata da informação a
que os alimentos localizados nas divisões inferiores (71, 72). A forma transmitir à população.
circular tem vindo a ser cada vez mais adotada. Refira-se o facto de Dada toda a nossa tradição alimentar, seria pertinente incluir na RAM,
historicamente determinados países terem guias alimentares em formato uma menção relativamente à importância de um baixo consumo de
de pirâmide e terem atualizado para o formato de roda/prato. Veja-se carnes processadas. Quanto ao total de sal ingerido, a RAM deveria
o caso dos Estados Unidos que utilizou durante anos um guia em conter uma recomendação alusiva ao limite máximo de consumo.
formato de pirâmide e que atualmente adota um formato de prato Considera-se ainda que à semelhança da indicação para a prática de
(1). Um formato circular apresenta a vantagem de não hierarquizar os atividade física, deveria existir uma para o descanso, nomeadamente
alimentos, uma vez que lhes atribui igual importância. Esta representação focada nas horas de sono, dado este ser importante para a manutenção
divide-se em várias fatias de tamanhos distintos, simbolizando quais os de um bom estado de saúde, não só física mas também psicológica.
grupos alimentares que devem ser consumidos em maiores e menores A adaptação da RA para a RAM permitiu uma maior aproximação do
quantidades e agrupando os alimentos com propriedades nutricionais guia alimentar português aos princípios da DM, o que veio enriquecer o
similares (17, 74). guia e fortalecer esta ferramenta de educação alimentar. Desta forma,

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os profissionais de saúde, em concreto os nutricionistas, têm agora à 21. Berge J, Wall M, Hsueh T, Fulkerson J, Larson N, Neumark-Sztainer D. The
sua disposição uma ferramenta mais completa e de fácil inclusão nas protective role of family meals for youth obesity: 10-year longitudinal associations. J
suas ações de promoção de saúde junto dos portugueses, esperando- Pediatr. 2015;166(2):296–301.
-se que possa também ser incluída nos manuais escolares, de forma 22. Jean-Philippe C et al. Systematic review of the relationships between sleep duration
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RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
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 14 RODA DA ALIMENTAÇÃO MEDITERRÂNICA E PIRÂMIDE DA DIETA MEDITERRÂNICA: COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS GUIAS ALIMENTARES
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HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL
ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO
DA CATEGORIA JUVENIL
A.O.
ARTIGO ORIGINAL
FOOD HABITS AND ANTHROPOMETRIC PROFILE OF YOUNG
JUVENILE ROWERS
1 Faculdade de Ciências João Lima1; Jéssica Rodrigues2; José Canhola2,3; Ada Rocha1,2*
da Nutrição e Alimentação
da Universidade do Porto,
Rua Dr. Roberto Frias, s/n,
RESUMO
4200-465 Porto, Portugal
Vários estudos têm demonstrado uma correlação positiva entre o sucesso competitivo e o perfil antropométrico em remadores.
2 Federação Portuguesa Este trabalho teve como objetivo avaliar os hábitos alimentares e perfil antropométrico de atletas de remo do escalão de juvenis.
de Remo, Foram avaliados 163 atletas maioritariamente do sexo masculino e com idades entre os 15 e 16 anos. Os hábitos alimentares foram
Doca de Santo Amaro,
avaliados através de um questionário de aplicação indireta desenvolvido para o efeito e recolhidas as medidas antropométricas:
1350 Lisboa, Portugal
peso, estatura, altura sentado, envergadura e pregas cutâneas.
3 Faculdade de Ciências A maioria dos atletas era normoponderal e foi observada uma maior percentagem de gordura corporal nas atletas do sexo feminino
do Desporto e Educação (p<0,001) e nos atletas mais velhos (p<0,001).
Física da Universidade de
Cerca de 67% dos atletas referiram realizar 5 ou mais refeições por dia e os que, habitualmente, tomam o pequeno-almoço
Coimbra,
Estádio Universitário – (p=0,001), meio da manhã (p=0,026) e ceia (p=0,005) apresentam uma menor percentagem de gordura corporal do que os
Pavilhão III, restantes. Apenas 23,3% dos atletas ingerem fruta fresca mais do que duas vezes por dia, 27,0% sopa e 33,1% hortícolas duas
Stª Clara, vezes por dia. Aproximadamente 10% dos jovens não consomem qualquer alimento ou bebida antes do treino e mais de 10%
3040-156 Coimbra,
Portugal
referiram ingerir suplementos alimentares com regularidade. Verificou-se uma associação entre a ingestão de água diária e um
melhor resultado desportivo (p=0,029).

*Endereço para correspondência:


PALAVRAS-CHAVE
Ada Rocha Avaliação antropométrica, Hábitos alimentares, Remadores
Faculdade de Ciências da
Nutrição e Alimentação da
Universidade do Porto,
ABSTRACT
Rua Dr. Roberto Frias, Several studies have shown a positive correlation between competitive success and anthropometric profile of rowers.
4200-465 Porto, Portugal
This study aimed to evaluate the eating habits and anthropometric profile of juvenile oar rowing athletes.
adarocha@fcna.up.pt
163 athletes were evaluated most of them from the male gender and were aged between 15 and 16 years old. The dietary habits
were evaluated through application of an indirect questionnaire developed for this purpose and the anthropometric measures were
Histórico do artigo:
collected: weight, height, sitting height, wingspan and skinfolds.
Recebido a 13 de janeiro de 2017 Most athletes showed normal weight and a higher percentage of fat was observed in female athletes (p <0.001) and in older athletes
Aceite a 23 de dezembro de 2017
(p <0.001).
Approximately 67% of the athletes reported to have 5 or more meals a day and those who routinely eat breakfast (p = 0.001), mid-
morning (p = 0.026) and supper (p = 0.005) presented lower fat mass than the others. Only 23.3% of athletes eat fresh fruit more
than twice a day, 27.0% soup and 33.1% vegetables respectively. Approximately 10% of athletes do not consume any food or drink
before training and more than 10% reported to consume food supplements. There was an association between daily water intake
and a better sports result (p = 0.029).

KEYWORDS
Anthropometric evaluation, Food habits, Rowers

INTRODUÇÃO redução de 20-40% em todas as causas de morte nos


São inúmeros os efeitos benéficos da atividade física seus praticantes comparativamente aos não praticantes (3).
regular na saúde e bem estar dos indivíduos, melhorar a O remo como modalidade olímpica teve início nos jogos de
função muscular e a massa óssea e diminuir a incidência Paris em 1900, sendo uma das mais antigas (4). Envolve
de doenças cardiovasculares, diabetes Mellitus, hipertensão os grandes grupos musculares e requer uma capacidade
arterial e obesidade, são alguns dos exemplos (1). A prática aeróbia e anaeróbia bem desenvolvida (4, 5). A prática deste
desportiva em jovens encontra-se associada a numerosos desporto desenvolve a capacidade de resistência e força
comportamentos positivos em relação à saúde e reduzidos ao nível de todo o corpo. Envolve ainda uma componente
comportamentos negativos (2), observando-se uma técnica e tática, nomeadamente, no que toca ao controlo

 16 HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENIL


ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 16-20 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1103
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do equilíbrio, requerendo movimentos simétricos (6-8). A faixa etária compreendida entre os 14 e os 16 anos é um período
Apesar da duração relativamente curta de uma competição, o remo é crítico caracterizado, frequentemente, por um consumo alimentar
considerado uma das modalidades desportivas de maior intensidade, desajustado em relação às recomendações, com frequente
exigindo do remador o desenvolvimento de diversas capacidades para consumo excessivo de alimentos com elevada densidade energética
ter uma boa performance (1, 9, 10). e um consumo reduzido de sopa e hortofrutícolas, o que se revela
Vários estudos têm demonstrado uma correlação positiva entre o preocupante (24).
sucesso competitivo e o perfil antropométrico em remadores de pesos Adicionalmente, é durante este período que sedimentam grande parte
ligeiros e pesados (11, 12). Os remadores com melhor desempenho são dos hábitos alimentares, que na maioria das vezes perduram na idade
mais altos, com mais massa não gorda, extremidades mais longas e com adulta (25), aumentando assim a importância de atuar no sentido de
valores de pregas cutâneas mais baixos do que os seus concorrentes sensibilizar para um correto comportamento alimentar, potenciador
menos bem-sucedidos (7, 12, 13). Este perfil antropométrico encontra-se de melhores resultados desportivos e de saúde no imediato e no
relacionado com uma maior capacidade aeróbica e anaeróbica (5, 7). futuro (26, 27).
As características antropométricas dos atletas podem ser usadas pelos O número de refeições, o consumo de sopa, hortícolas e fruta,
treinadores como critério de seleção em idades precoces (14). O atleta hábitos de hidratação e de ingestão de bebidas alcoólicas e a toma
de competição tem como objetivo alcançar a melhor condição física de suplementos, bem como o consumo de alimentos e/ou bebidas
possível, realizando diferentes tipos de treino e cumprindo um plano antes, durante e após o treino são bons indicadores da adequação
alimentar de acordo com os objetivos pretendidos. O controlo regular dos hábitos alimentares em jovens atletas (28, 29).
da composição corporal é frequentemente realizado através da medição O objetivo deste estudo foi avaliar os hábitos alimentares e perfil
de pregas cutâneas, nomeadamente a tricipital, bicipital, subescapular, antropométrico de atletas de remo portugueses da categoria de juvenis.
supra ilíaca, subescapular, coxa, por ser prático e fácil de realizar (8, 13).
Desta forma, é possível a monitorização da eficácia dos treinos e dos METODOLOGIA
planos alimentares a partir da avaliação da massa gorda e não gorda, seja Foi realizado um estudo descritivo transversal, com a participação de
em períodos de manutenção ou de alteração do peso corporal (13, 15). 163 atletas de 16 clubes dos 27 existentes a nível nacional, do escalão
É fundamental que a alimentação diária proporcione a quantidade de juvenis. Todos os clubes foram contactados tendo sido todos os
necessária de energia e nutrientes, de modo a melhorar a resposta atletas convocados para avaliação, tendo sido avaliados todos os
fisiológica do atleta. A quantidade de energia necessária para atingir ou que participaram no campeonato nacional e que compareceram no
manter o peso adequado e a composição corporal dependem do sexo, local de avaliação.
da idade e do nível de exercício físico. A alimentação deve ser adequada 75,5% dos atletas eram sexo masculino com idades compreendidas
ao calendário de competições e treinos e o momento da ingestão de entre os 15 e os 16 anos (Tabela 1).
uma refeição apropriada à prática desportiva (16, 17). A recolha de dados foi realizada no decorrer do campeonato nacional de
A alimentação do atleta é semelhante à estabelecida para a população remo, em julho de 2016, no Centro de Alto Rendimento de Montemor-
em geral. No entanto, as necessidades energéticas são maiores, -o-Velho. Previamente à recolha de dados foi solicitada autorização
para fazer face aos gastos com a realização do exercício, além de ser à Federação Portuguesa de Remo, bem como o consentimento
necessário a ingestão adicional de líquidos para cobrir as perdas hídricas informado para a participação neste estudo, aos encarregados
(11, 17, 18). De acordo com as atuais recomendações nutricionais, a de educação de todos os atletas. A cada atleta, no momento da
percentagem do valor energético total deve ser de 50-70% de hidratos avaliação, foram também explicados os objetivos e procedimentos
de carbono, 15-30% de gorduras e 10-15% de proteínas (19). deste trabalho. Os procedimentos utilizados respeitaram as normas
Vários estudos indicam que a alimentação diária dos desportistas não internacionais da Declaração de Helsínquia (1975).
cumpre as recomendações nutricionais (20-23). O nutricionista tem Os atletas foram inquiridos acerca do consumo alimentar habitual
um papel primordial na educação alimentar, com foco na correção de através de questionário de aplicação indireta desenvolvido para o
hábitos e orientação da ingestão alimentar contribuindo, se necessário efeito. Através deste questionário alimentar foi avaliado o número de
para a perda de peso com redução da massa gorda e preservação ou refeições, consumo de sopa, hortícolas e fruta, hábitos de hidratação
aumento da massa não gorda, sem comprometimento da hidratação e de consumo de bebidas alcoólicas e suplementos, bem como o
do atleta (15). consumo de alimentos e/ou bebidas antes, durante e após o treino.

Tabela 1
Caracterização antropométrica da amostra, de acordo com a faixa etária e o género

PERCENTIL ESTATURA
IDADE ALTURA MASSA GORDA ENVERGADURA
PESO (KG) IMC EXCESSO DE PESO OBESIDADE SENTADA
(ANOS) (CM) (%) (CM)
(P85 ≤ IMC < P97) (IMC ≥ P97) (CM)

N Média (±D.P.) Média (±D.P.) Média (±D.P.) N (%) N (%) Média (±D.P.) Média (±D.P.) Média (±D.P.)
Total 160 64,5 (±9,4) 125,0 (±13,5) 21,9 (±2,5) 31 (19,4%) 6 (3,7%) 13,3 (±6,6) 174,4 (±9,6) 91,1 (±4,4)
Ambos os sexos 15 80 62,2 (±9,7) 169,8 (±8,2) 21,5 (±2,6) 11 (6,9%) 4 (2,5%) 12,8 (±6,3) 172,5 (±9,2) 89,9 (±4,4)
16 80 66,7 (±8,5) 173,2 (±8,0) 22,2 (±2,4) 14 (12,5%) 2 (1,2%) 13,8 (±7,0) 176,3 (±9,6) 92,3 (±4,1)
Total 123 65,6 (±9,3) 174,1 (±7,2) 21,6 (±2,4) 20 (12,5%) 4 (2,5%) 10,4 (±3,2) 177,6 (±7,9) 92,2 (±4,3)
Rapazes 15 57 63,2 (±9,9) 172,7 (±7,0) 21,1 (±2,5) 5 (3,1%) 3 (1,9%) 10,2 (±3,6) 175,7 (±7,9) 91,1 (±4,5)
16 66 67,6 (±8,4) 175,3 (±7,3) 21,9 (±2,2) 15 (9,4%) 1 (0,6%) 10,5 (±3,0) 179,2 (±7,6) 93,2 (±3,8)
Total 37 60,7 (±8,6) 162,6 (±4,6) 23,0 (±2,7) 11 (6,9%) 2 (1,2%) 23,5 (±5,1) 163,4 (±6,2) 87,5 (±2,6)
Raparigas 15 23 59,6 (±8,9) 162,2 (±4,8) 22,6 (±2,6) 6 (3,8%) 1 (0,6%) 23,4 (±4,4) 163,9 (±6,7) 86,9 (±2,4)
16 14 62,3 (±8,1) 163,2 (±4,4) 23,6 (±2,7) 5 (3,1%) 1 (0,6%) 23,7 (±6,2) 162,6 (±5,7) 88,3 (±2,8)
IMC: Índice de Massa Corporal

HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENIL


ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 16-20 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1103  17
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O consumo de sopa, hortícolas e fruta foi avaliado através de uma RESULTADOS
escala com 8 possibilidades de resposta, desde “nunca” até “todos Perfil Antropométrico
os dias, mais que duas vezes por dia”. Verificou-se que as atletas apresentam uma maior percentagem de
Na questão relativa ao consumo de água era pedido aos atletas que gordura corporal (p<0,001) e um valor maior de IMC (p=0,002) do que
quantificassem em litros o consumo médio diário de água, incluindo os rapazes. Verificou-se que os atletas mais velhos apresentam um
chá, café e infusões. No que se refere às bebidas alcoólicas, foi valor de IMC (p<0,001) e uma percentagem de massa gorda superior
questionada a frequência de ingestão, e ainda que identificassem as (p<0,001) à dos mais jovens.
bebidas que costumam consumir. Na Tabela 2 apresentam-se as correlações obtidas entre os parâmetros
Quanto à ingestão de suplementos, para além de questionar acerca da antropométricos avaliados. Foram encontradas associações positivas
sua utilização, foi também pedido que indicassem qual(ais) utilizavam. fortes, com significado estatístico, entre o peso e os restantes
A ingestão alimentar antes, durante a após o treino foi inquirida parâmetros, à exceção da percentagem de massa gorda. Verifica-se
com respeito à frequência, através de uma escala de resposta também correlações fortes entre a estatura e a envergadura, estatura
com quatro opções: “Nunca”, “Poucas vezes”, “Quase sempre” e e altura sentado e a altura sentado e a envergadura.
“Sempre”. Posteriormente através de resposta aberta os atletas foram O IMC continua a ser um preditor aceitável da percentagem de massa
questionados acerca do tipo e quantidade de alimentos ingeridos gorda uma vez que foi encontrada uma correlação positiva moderada,
nesses momentos. com significado estatístico, entre as variáveis. Os indivíduos com maior
A avaliação antropométrica foi realizada recorrendo a métodos diretos envergadura apresentam uma percentagem de massa gorda inferior,
como a medição do peso, estatura e envergadura e métodos indiretos atendendo à correlação obtida (Tabela 2).
– medição de pregas cutâneas, para avaliação da percentagem de
gordura corporal. Refeições diárias
A medição do peso e da estatura foi realizada de acordo com os A maioria dos atletas inquiridos (67,4%) referiram realizar 5 ou mais
procedimentos recomendados internacionalmente pela Organização refeições por dia (Tabela 3).
Mundial da Saúde (OMS) (30) e aceites pela Direção-Geral da Saúde Dos inquiridos apenas 2,5% não têm por hábito tomar o pequeno-
em Portugal (31). -almoço e 30,1% não tomam qualquer refeição a meio da manhã. No
A estatura foi medida com recurso a estadiómetro portátil marca SECA, entanto, 2% dos remadores referiram fazer normalmente um segundo
com uma precisão de 1 mm e o peso com balança digital marca meio da manhã (Tabela 3).
SECA, com uma precisão de 100 g. Para o cálculo do Índice de Massa Todos os atletas almoçam e apenas um não tem por hábito jantar.
Corporal (IMC) foi utilizada a fórmula de Quetelet (32) e foram utilizados Em relação ao lanche da tarde, 8,0% referem não lanchar e 14,7%
os referenciais da OMS de acordo com a faixa etária para categorizar costumam fazer dois lanches, durante a tarde. 23,9% dos jovens
o IMC destes jovens (30). remadores tomam uma refeição ligeira (ceia) antes de dormir (Tabela 3).
Foram medidas 6 pregas cutâneas utilizando o lipocalibrador Holtein Verificou-se que os atletas que habitualmente tomam o pequeno-almoço
com sensibilidade de 0,2 mm, de acordo com as recomendações da (p=0,001), meio da manhã (p=0,026) e ceia (p=0,005) apresentam uma
Federação Internacional de Remo (tricipital, bicipital, subescapular, menor percentagem de gordura corporal do que os restantes. Os atletas
supra ilíaca, abdominal e da coxa) (33). Uma prega de pele e de tecido do sexo masculino referem ingerir mais frequentemente o pequeno-
subcutâneo foi presa firmemente entre o polegar e o indicador para -almoço (p<0,001) e a ceia (p=0,035) do que as raparigas.
realizar a medição. Foram realizadas três medições de cada prega,
por avaliadores treinados e calculada a média. A percentagem de Consumo de fruta, sopa e hortícolas
gordura corporal foi calculada multiplicando a soma das pregas pelos Apenas 23,3% dos inquiridos ingere fruta fresca mais do que duas vezes
respetivos fatores de conversão para o sexo masculino: (Soma das por dia. O consumo de sopa e hortícolas duas vezes por dia foi referido
pregas cutâneas x 0,1051) + 2,585 e para o sexo feminino (Soma das por 27,0% e 33,1%, respetivamente (Tabela 4).
pregas cutâneas x 0,1548 + 3,58) (34). Verificou-se uma correlação positiva fraca entre a frequência de
A análise estatística foi realizada com o auxílio do programa informático consumo de fruta e sopa (r=0,287; p<0,001), o consumo de fruta
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22.0 e do e hortícolas (r=0,197; p=0,012) e o consumo de sopa e hortícolas
Programa Microsoft Office Excel 2010. Foi utilizada a correlação (r=0,268; p=0,001).
de Spearman para verificar a associação entre as variáveis. Não se verificaram diferenças na frequência de consumo de fruta, sopa e
Adicionalmente, foram realizados o teste de Kruskal-Wallis e o Teste hortícolas entre sexos, nem correlação entre os dados antropométricos
t de student. Foi considerado como nível de significância crítico para dos atletas e estas frequências de consumo.
rejeição da hipótese nula, um valor de p inferior a 0,05.

Tabela 2
Correlação entre os parâmetros antropométricos dos atletas avaliados

ESTATURA (CM) IMC ESTATURA SENTADO (CM) ENVERGADURA (CM) % GORDURA

r p r p r p r p r p
Peso (Kg) 0,630 <0,001 0,741 <0,001 0,657 <0,001 0,611 <0,001 0,123 0,127
Altura (cm) -0,041 0,610 0,873 <0,001 0,913 <0,001 -0,480 <0,001
IMC 0,098 0,225 -0,011 0,894 0,597 <0,001
Estatura sentado (cm) 0,766 <0,001 -0,355 <0,001
Envergadura (cm) -0,502 <0,001

IMC: Índice de Massa Corporal

 18 HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENIL


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Tabela 3 Tabela 5
Número de refeições realizadas pelos atletas Suplementos alimentares consumidos pelos atletas

N.º DE REFEIÇÕES N % SUPLEMENTO N %

3 3 1,8 Whey Protein 9 52,9


4 50 30,7 BCA's 3 17,6
5 70 42,9 Magnésio 2 11,8
6 27 16,6 Multivitamínico 3 17,6
7 11 6,7 BCA: Branched-chain amino acids- aminoácidos de cadeia ramificada
8 2 1,2
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A distribuição por sexos dos atletas avaliados é concordante com a
Tabela 4 encontrada nos remadores a nível nacional e internacional, havendo
Frequência de consumo de fruta, sopa e hortícolas pelos atletas uma predominância notória do sexo masculino (15, 18).
A maioria dos atletas avaliados é normoponderal, o que se encontra
FRUTA SOPA HORTÍCOLAS
FREQUÊNCIA em concordância com outros estudos, sendo os valores médios de
N % N % N %
IMC semelhantes (5, 14-16).
Nunca 0 0 3 1,8 8 4,9
Menos que um dia No presente estudo, não se encontrou correlação entre os valores de
0 0 6 3,7 6 3,7
por semana IMC e de percentagem de gordura corporal com melhores resultados
Uma vez por semana 1 0,6 11 6,7 4 2,5
desportivos, o que contraria os resultados obtidos noutros estudos
2-4 vezes por semana 13 8,0 46 28,2 25 15,3
(5, 14). Por outro lado, Perera et al encontraram uma relação entre o
5-6 vezes por semana 9 5,5 17 10,4 17 10,4
peso corporal e a performance para remadoras, mas não encontrou
Todos os dias, uma
vez por dia
30 18,4 35 21,5 48 29,4 relação entre a performance dos atletas e a sua gordura corporal (12).
Todos os dias, duas
72 44,2 44 27,0 54 33,1 Alguns estudos mostram que em atletas de remo, o aumento da idade
vezes por dia
Todos os dias, mais está relacionado com uma diminuição do IMC e da percentagem de
38 23,3 1 0,6 1 0,6
que duas vezes por dia gordura corporal (14, 15). No entanto, neste trabalho foi encontrada
uma relação inversa, que poderá ser justificada pelo facto dos atletas
Consumo de água e bebidas alcoólicas avaliados serem todos da categoria juvenil (15-16 anos).
Em média os jovens remadores referiram ingerir 1,57 (±0,68) L de água/dia O IMC e a percentagem de gordura corporal foi superior nas raparigas,
(mínimo 0,5 e máximo 5 L). Foi encontrada uma associação significativa encontrando-se em concordância com outros estudos a nível nacional
entre o sexo masculino e uma maior ingestão de água (p<0,001). e internacional (15, 16).
Apesar da idade dos atletas, 3,7% referiram ingerir bebidas alcoólicas, e Os suplementos proteicos foram os mais utilizados pelos atletas
fazê-lo com uma periodicidade de 1-3 dias por semana. Em 83,3% dos avaliados, o que se encontra de acordo com um trabalho realizado
casos a bebida alcoólica referida foi a cerveja e em 16,7% dos casos shots. em atletas canadianos (35).
Foi encontrada uma correlação entre o consumo de bebidas alcoólicas O hábito de tomar o pequeno-almoço, realizar um segundo lanche a
e um menor consumo de sopa (r=0,162; p=0,038). meio da manhã e a ceia, bem como a frequência de ingestão hídrica
durante o treino estão associados a uma menor percentagem de
Ingestão de suplementos massa gorda, nos atletas avaliados.
Dos atletas inquiridos, 10,4% referiram ingerir suplementos alimentares Os rapazes realizam mais frequentemente o pequeno-almoço e a ceia
com regularidade. Na Tabela 5 é apresentada a distribuição de consumo e apresentam uma maior ingestão hídrica, fatores que contribuem
por tipo de suplemento. para uma melhor adequação da percentagem de massa gorda, o que
Foi encontrada uma associação entre o consumo de suplementos e poderá conferir-lhes alguma vantagem competitiva.
um peso corporal mais elevado (p=0,03). O facto de apenas 23,3% dos atletas inquiridos ingerirem fruta fresca
Verificou-se que o consumo de suplementos é superior nos rapazes mais do que duas vezes por dia, de apenas 27,0% e 33,1% ingerirem
(12,2% vs. 5,4%). sopa e hortícolas, duas vezes por dia, respetivamente, e de 10,4% dos
inquiridos não costumarem tomar qualquer alimento ou bebida antes
Ingestão alimentar antes, durante e após o treino do treino, assim como a correlação encontrada entre o consumo de
Apesar da importância da ingestão de alimentos e/ou bebidas antes bebidas alcoólicas e um menor consumo de sopa e entre o consumo
do treino, 10,4% dos atletas inquiridos referem não costumar ingerir de suplementos e um maior peso corporal, revela a necessidade
qualquer alimento ou bebida antes do treino. Dos que realizam esta de corrigir hábitos alimentares desadequados, e a importância do
refeição, apenas 57,1% o fazem sempre. acompanhamento nutricional dos atletas.
98,8% dos atletas costumam ingerir água durante o treino e destes A maior ingestão hídrica global parece estar associada a um melhor
94,4% referiram fazê-lo sempre. Foi encontrada uma correlação resultado desportivo, o que evidencia o papel importante da hidratação
entre a frequência de ingestão de água durante o treino e a menor do atleta na performance desportiva (36).
percentagem de gordura corporal (r=0,160; p<0,05). O consumo de sopa, fruta e hortícolas correlacionam-se positivamente,
1,8% dos inquiridos não ingerem qualquer alimento ou bebida depois o que demonstra coerência na ingestão dos vários itens alimentares
do treino. Dos que ingerem, 75,8% referiram fazê-lo sempre. avaliados promotores de saúde. Adicionalmente, o consumo de sopa,
Não se encontrou relação entre os resultados desportivos e os esteve associado a um menor consumo de bebidas alcoólicas, o que
dados antropométricos e hábitos alimentares. Destaca-se, contudo, reforça a tendência anterior.
a associação encontrada entre a ingestão de água e a melhor
classificação na regata (p=0,029).

HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENIL


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CONCLUSÕES skaters. Nutrition research. 2006;26(7):313-7.
Verificaram-se diferenças significativas entre sexos e idades no perfil 22. Bernardi E, Delussu S, Quattrini F, Rodio A, Bernardi M. Energy balance and dietary
antropométrico dos atletas avaliados. Observou-se um baixo consumo habits of America’s Cup sailors. Journal of sports sciences. 2007;25(10):1153-60.
de sopa, fruta e hortícolas e consumo elevado de suplementos 23. Zalcman I, Guarita H, Juzwiak C, Crispim C, Antunes H, Edwards B, et al. Nutritional
alimentares. Mostra-se a necessidade de intervenção ao nível da status of adventure racers. Nutrition. 2007;23(5):404-11.
promoção de hábitos alimentares, tendo em vista uma otimização do 24. Borraccino A, Lemma P, Berchialla P, Cappello N, Inchley J, Dalmasso P, et
perfil antropométrico e dos resultados desportivos. al. Unhealthy food consumption in adolescence: role of sedentary behaviours and
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 20 HÁBITOS ALIMENTARES E PERFIL ANTROPOMÉTRICO EM ATLETAS DE REMO DA CATEGORIA JUVENIL


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PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E
ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS
CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA
SAÚDE
MEDITERRANEAN AND ATLANTIC DIETARY PATTERNS –
A.R.
ARTIGO DE REVISÃO
AN APPROACH TO KEY CHARACTERISTICS AND HEALTH
EFFECTS
1 Faculdade de Ciências Mariana Almeida1; Andreia Oliveira1,2*
da Saúde da Universidade
Fernando Pessoa,
Rua Carlos da Maia, n.º 296, RESUMO
4200 – 150 Porto, Portugal
O estudo dos padrões alimentares capta o efeito cumulativo e de interação dos vários alimentos e nutrientes e podem ser mais
2EPIUnit – Instituto facilmente interpretados pela população, assumindo assim particular importância em Saúde Pública. O Padrão Alimentar Mediterrânico
de Saúde Pública da e Atlântico são padrões alimentares definidos por uma abordagem orientada por hipóteses prévias (a priori) e são representativos de
Universidade do Porto, uma determinada região, como é o caso de Portugal, e dos seus costumes culturais e sociais, reforçados ao longo de vários anos.
Rua das Taipas, n.º 135,
Cada um apresenta na sua composição propriedades que lhes conferem o estatuto de alimentação saudável. Em termos de efeitos
4050-600 Porto, Portugal
benéficos na saúde, o Padrão Alimentar Mediterrânico e os seus componentes têm sido exaustivamente associados a um menor risco
cardiovascular, conferindo também um papel protetor sobre a incidência e mortalidade por cancro, em especial cancro da mama, da
*Endereço para correspondência:
próstata, gástrico e colorretal. O Padrão Alimentar Mediterrânico também apresenta evidência de ter um papel favorável na prevenção e
Andreia Oliveira tratamento da obesidade, diabetes, doenças inflamatórias reumáticas, osteoporose e a nível cognitivo. Em relação ao papel do Padrão
Faculdade de Ciências da Saúde
Alimentar Atlântico na saúde, este tem muito menor evidência fruto da sua definição muito mais recente, tendo sido já associado a
da Universidade Fernando
Pessoa, Rua Carlos da Maia, melhor perfil cardiovascular. A ocidentalização destes padrões alimentares tradicionais preocupa a comunidade científica em geral.
n.º296,
4200 – 150 Porto, Portugal
acmatos@med.up.pt PALAVRAS-CHAVE
Doença, Padrão Alimentar Atlântico, Padrão Alimentar Mediterrânico, Padrões alimentares, Saúde
Histórico do artigo:
ABSTRACT
Recebido a 21 de dezembro de 2017
Aceite a 31 de dezembro de 2017
The study of dietary patterns captures the cumulative and interaction effect of various foods and nutrients and can be more easily
interpreted by the population, thus assuming particular importance in Public Health. The Mediterranean Diet and the Atlantic Diet are
dietary patterns defined by an hypothesis-oriented approach (a priori) and are representative of a particular region, such as Portugal,
and its cultural and social customs, reinforced over several years. Each one has properties that give them the status of healthy diets.
In terms of benefits to health, the MD and its components have been extensively associated with a lower cardiovascular risk, and
also a protective effect on cancer incidence and mortality, especially breast cancer, prostate, gastric and colorectal cancer has been
described. The MD also presents evidence of having a favorable role in the prevention and treatment of obesity, diabetes, inflammatory
rheumatic diseases, osteoporosis and at the cognitive level. The role of the AD in health has much less evidence due to its much more
recent definition, but it has already been associated with a better cardiovascular profile. The westernization of these traditional dietary
patterns concerns the scientific community in general.

KEYWORDS
Disease, Atlantic Diet, Mediterranean Diet, Dietary patterns, Health

INTRODUÇÃO
Os padrões alimentares captam o efeito cumulativo e guias alimentares, ou a padrões de consumo específicos de
de interação dos vários alimentos e nutrientes e podem uma população (1, 2), como é o caso do Padrão Alimentar
ser facilmente interpretados pela população (1), tendo Mediterrânico e Atlântico. Ambos são o espelho de uma
assim particular importância em Saúde Pública. Para cultura gastronómica ancestral e tradicional que pode ser
avaliar a adesão aos padrões alimentares são mais observada, ainda hoje, nas regiões que as adotaram como
frequentemente usados em estudos observacionais dois padrão alimentar, como é o caso de Portugal.
tipos de abordagem metodológica: a posteriori, que utiliza O conceito de Alimentação Mediterrânica espelha diferentes
métodos estatísticos exploratórios para identificar grupos culturas alimentares presentes na zona do Mediterrâneo (3).
de indivíduos que apresentam consumos semelhantes A sua definição inclui diretrizes para o alto consumo de
ou alimentos/nutrientes frequentemente consumidos em azeite virgem extra (principal gordura na alimentação),
conjunto e o método a priori, que utiliza índices ou scores produtos hortícolas, fruta, cereais, leguminosas e frutos
que avaliam a adesão a recomendações nutricionais ou secos/gordos; o consumo moderado de peixe e outras

 22 PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
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carnes, de produtos lácteos, de vinho tinto, de ovos e a baixa ingestão compreensão dos seus efeitos e benefícios para a saúde. A solução
de doces (4). Em relação ao Padrão Alimentar Atlântico, este é definido passará pela formulação de uma definição mais universal que combine
como a dieta tradicional da região da Galiza e norte de Portugal (5). exemplos modernos e tradicionais (4). No entanto, a comunidade
A sua definição inclui o consumo elevado de peixe e crustáceos, científica está de acordo em duas caraterísticas: a contribuição dos
assim como de leguminosas, cereais, hortícolas e frutas; o consumo macronutrientes para a ingestão calórica total e a qualidade da gordura
diário de produtos lácteos; o consumo moderado a elevado de carne, ingerida. O Padrão Alimentar Mediterrânico privilegia o uso do azeite
especialmente carne vermelha; o azeite como principal gordura culinária como principal gordura culinária; o maior consumo de alimentos de
(mas não como principal gordura na alimentação) e a moderada ingestão origem vegetal (fruta, produtos hortícolas, leguminosas e frutos gordos,
de vinho (5, 6). como as nozes e amêndoas); o consumo diário e abundante de cereais,
A contextualização histórica e a definição de cada um dos padrões batatas, massa, arroz, pão e produtos integrais; consumo de alimentos
serão descritos nesta revisão da literatura, assim como as opções pouco processados, frescos e de época; consumo moderado de
metodológicas disponíveis para a sua definição e caracterização. Os produtos lácteos com baixo teor de gordura; consumo moderado de
efeitos na saúde, quer do Padrão Alimentar Mediterrânico, de forma peixe e ovos; menor consumo de carne vermelha (preferência pelas
mais extensa e fundamentada, quer do Padrão Alimentar Atlântico serão carnes magras); consumo de fruta fresca como sobremesa (doces e
explorados neste trabalho, nomeadamente a sua associação com a pastelaria ocasionalmente); consumo moderado de vinho (geralmente
doença e mortalidade cardiovasculares, o cancro, a obesidade, doenças às refeições), integrados num estilo de vida saudável (4, 14-16).
do foro mental, entre outras patologias. Serão sugeridos mecanismos Os guias alimentares representam uma forma simplificada de
potenciais para esses efeitos. Por último, uma análise comparativa entre transmitir informação educacional à população. As pirâmides têm sido
ambos os padrões será fundamentada. consideradas uma maneira útil de exibir os princípios gerais do Padrão
Alimentar Mediterrânico (4). A mais recente foi criada pela Fundação
Padrão Alimentar Mediterrânico da Dieta Mediterrânica (FDM), em 2010 (14). O intuito da FDM era criar
Para os Gregos antigos, a Alimentação Mediterrânica original era uma pirâmide adaptada ao estilo de vida mediterrânico tendo em conta
representativa do povo onde a carne era considerada uma ostentação, o contexto geográfico, socioeconómico e cultural. Pela primeira vez,
apenas consumida em dias festivos, e as refeições baseadas em a pirâmide do Padrão Alimentar Mediterrânico junta conceitos como
vegetais crus, queijo de cabra e frango, ocasionalmente. Por definição nutrição, produtos amigos do ambiente, biodiversidade, produção de
é um padrão alimentar baseado nos padrões tradicionais da ilha de comida local, atividade física e convívio familiar à mesa, com o conceito
Creta (Grécia) e Sul de Itália mas espelha diferentes culturas alimentares da sustentabilidade (14, 17).
presentes na zona do Mediterrâneo (3), podendo dizer-se que é muito Mais recentemente, a Direção-Geral da Saúde, através do seu portal
mais que uma dieta na medida em que exibe o encontro de várias do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável,
expressões culturais, ao nível do seu estilo de vida e cultura alimentar (7). juntamente com a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação
Nos anos 90, os padrões alimentares dos países Mediterrânicos da Universidade do Porto, apresenta a nova Roda da Alimentação
começaram a afastar-se do padrão originalmente descrito (8). Nas Mediterrânica, que tem como base a roda dos alimentos portugueses
últimas décadas, tem sido sugerida uma diminuição da adesão (18). Pela primeira vez, esta incorpora os princípios sobre o estilo de
ao Padrão Alimentar Mediterrânico nos países da região (9), algo vida saudável associados ao Padrão Alimentar Mediterrânico. Cada
que já havia sido previsto em 2005 (10). Atualmente, nos países área da roda, e sua respetiva dimensão, representa a importância que
Mediterrânicos, assiste-se a uma mudança do padrão tradicional cada grupo deve ter na nossa alimentação diária. O círculo exterior
havendo diversas variações do padrão original e uma aproximação enfatiza os alimentos mediterrânicos de cada grupo. Ao contrário da
a um padrão alimentar mais ocidental, devido à modernização das pirâmide, a nova roda dos alimentos tem mais informação nutricional.
áreas urbanas e à globalização do estilo de vida (9, 11). Já em 2010, o Os princípios que a regem são: a preferência por alimentos locais e da
Padrão Alimentar Mediterrânico foi considerado pela Organização das época; valorização da gastronomia saudável; a partilha de refeições e
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como tradições; o uso de ervas aromáticas; valorizar o consumo de frutos
Património Intangível da Humanidade sendo reconhecido como padrão secos/gordos; beber vinho com moderação (em caso de amamentação,
alimentar, criado e transmitido ao longo de vários séculos. É vista como o abandonar do consumo de vinho) e ter uma vida ativa.
uma forma única de usar a comida como base para a construção de
uma comunidade em que tradições alimentares, como o comer em Índices de adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico
comunidade, são elementos de um código alimentar. Os índices de Alimentação Mediterrânica têm como objetivo avaliar
No decorrer do ano de 2012, o Padrão Alimentar Mediterrânico foi a adesão a este tipo de padrão alimentar, tendo como referência um
incluído no grupo das Dietas mais Sustentáveis do Mundo pela padrão mediterrânico tradicional, já definido anteriormente. Os mais
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) frequentemente descritos na literatura são: Índice da Dieta Mediterrânica
(12), pelo facto de ser um padrão de baixo impacto ambiental devido (DMS-2) (19); Índice de Qualidade da Dieta Mediterrânica (DMQI) (20);
à preferência pelo consumo de alimentos de origem vegetal, em vez Índice de Adesão a um Padrão de Dieta Mediterrânica Cardioprotetor
de origem animal (13). (IAPDM-C) (21); Índice de Adequação Mediterrânica (MAI) (22); Adesão
ao Padrão de Dieta Mediterrânica (23); Escala do Padrão de estilo
Definição Mediterrânico (24); Score de Dieta Mediterrânica (SDM) (25); Índice
A definição de Alimentação Mediterrânica tem evoluído e variado ao para avaliar a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico em indivíduos
longo do tempo. Numa primeira instância foi definida com sendo uma mais velhos com alto risco cardiovascular (MEDAS) (26), o Score de
dieta baixa em gordura saturada e rica em óleos vegetais por Ancel Adesão à Dieta Mediterrânica alternativo (aMed) (27) e a ferramenta
Keys, após observações na Grécia e Sul de Itália nos anos 60 (4). Uma PREDIMED (28).
das limitações metodológicas de estudar a Alimentação Mediterrânica O primeiro índice a ser proposto foi o de Trichopoulou e colaboradores,
são as diferentes definições que lhe são atribuídas, o que dificulta a com o objetivo de avaliar a relação entre adesão ao Padrão Alimentar

PADRÃO ALIMENTAR MEDITERRÂNICO E ATLÂNTICO – UMA ABORDAGEM ÀS SUAS CARACTERÍSTICAS-CHAVE E EFEITOS NA SAÚDE
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Mediterrânico e a mortalidade total, bem como a mortalidade por doença grupos de intervenção: Alimentação Mediterrânica suplementada
coronária (DC) e mortalidade por cancro, com ajuste para idade, sexo, com azeite virgem extra; Alimentação Mediterrânica suplementada
índice de massa corporal (IMC) e nível de atividade física (19). Esta com frutos gordos e dieta controlo (conselhos sobre uma dieta com
investigação envolveu 22.043 adultos na Grécia, os quais preencheram baixo teor de gordura). Este estudo mostrou que o Padrão Alimentar
um questionário extenso acerca da frequência alimentar. A adesão ao Mediterrânico tradicional tem um efeito protetor para a DCV na medida
Padrão Alimentar Mediterrânico tradicional foi avaliada por uma escala de em que influencia beneficamente os fatores de risco cardiovasculares
10 pontos que incorporou as caraterísticas principais desta alimentação. emergentes (31). Observou-se uma redução em 30% do risco de
Na construção desta escala foram incluídos nove componentes: cinco DCV com o Padrão Alimentar Mediterrânico sendo que os resultados
considerados como integrantes de um Padrão Alimentar Mediterrânico mostram que uma dieta rica em gorduras não saturadas é melhor para
(produtos hortícolas, leguminosas, frutas e nozes, cereais e peixes) e a saúde cardiovascular do que uma dieta com baixo teor de gordura.
dois considerados mais afastados deste padrão (carne/aves e produtos Também mostrou resultados promissores em pessoas idosas com alto
lácteos). Em relação aos alimentos integrantes, indivíduos cujo consumo risco de DCV, sendo igualmente eficaz no controlo de parte do risco
estava abaixo da mediana de consumo da população pontuaram 0 e residual observado após tratamento dos fatores de risco cardiovascular
indivíduos cujo consumo era igual ou superior à mediana foi atribuído (31). Uma meta-análise que investigou a associação entre a adesão ao
um valor de 1. Quanto aos restantes, a pontuação foi invertida. Assim, a Padrão Alimentar Mediterrânico e o estado de saúde mostrou que o
pontuação total variou de 0 (adesão mínima à DM) a 9 (adesão máxima aumento em 2 pontos na adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico
à DM), sendo que maior grau de adesão foi relacionado com a redução determina uma redução em 10% de incidência ou morte por DCV (32).
da mortalidade em geral (19).
Cada autor tenta adaptar o padrão alimentar às características da sua Padrão Alimentar Mediterrânico e Cancro
população, pelo que existem descritas várias variações do mesmo Vários estudos observacionais de coorte sugerem um papel protetor
índice. Esta multiplicidade metodológica pode dificultar a comparação do Padrão Alimentar Mediterrânico sobre a incidência e mortalidade por
entre diferentes estudos, mas por outro lado revela a importância e cancro. Uma meta-análise de estudos de coorte prospetivos concluiu
relevância do tema na esfera científica. que uma maior adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico reduz em 6%
a mortalidade e incidência do cancro (32). Na coorte EPIC (Investigação
Efeitos na Saúde Prospetiva Europeia em Cancro e Nutrição), foram seguidos durante
O Padrão Alimentar Mediterrânico tem sido extensivamente associado 4 anos 22.000 indivíduos e uma maior adesão ao Padrão Alimentar
a outcomes em saúde. Alguns dos seus constituintes individuais como Mediterrânico relacionou-se com a redução em 24% da mortalidade
o azeite, o peixe, a fruta, os produtos hortícolas e as leguminosas, por cancro (19). Nos países mediterrânicos há uma menor incidência de
os frutos gordos e o vinho têm reconhecido papel na regulação dos vários tipos de cancro, sugerindo sob uma perspetiva ecológica que a
mecanismos para o desenvolvimento de várias doenças, como a doença Alimentação Mediterrânica poderia prevenir 25% dos casos de cancro
cardiovascular (DCV), o cancro, a obesidade entre outras. colorretal, 10-15% do cancro endometrial e da próstata e 15-20% do
cancro da mama (33).
Padrão Alimentar Mediterrânico e Doença Cardiovascular O cancro da mama apresenta-se como o mais comum em mulheres de
O Padrão Alimentar Mediterrânico e os seus componentes têm sido todo o mundo. O aumento dos níveis endógenos de estrogénio estão
associados a um menor risco de DCV por mecanismos que incluem associados com o aumento do risco de cancro da mama, e o Padrão
a redução de fatores desencadeadores como a pressão arterial, os Alimentar Mediterrânico pode baixar esses níveis (34). Estudos mostram
lípidos sanguíneos, a disfunção endotelial, a glicose plasmática, o IMC que a adesão a um padrão alimentar saudável, como o Mediterrânico,
e o perímetro de cintura (29). Também parece promover o aumento mostra ser eficaz na diminuição do risco de cancro da mama sendo
da biodisponibilidade de óxido nítrico, apresentando propriedades importante enfatizar a importância de aumentar o consumo de alimentos
antioxidantes e efeitos anti-inflamatórios. O primeiro estudo de de origem animal e vegetal ricos em ácidos gordos polinsaturados n-3,
intervenção com o Padrão Alimentar Mediterrânico foi o Lyon Heart e diminuir o consumo de alimentos ricos em n-6 (35).
Study (30), o qual avaliou 605 indivíduos com antecedentes de enfarte Nos homens, o cancro da próstata é o 2.º mais comum a nível
agudo do miocárdio aleatorizados em dois grupos de intervenção: um mundial e o mais comum a nível europeu, havendo evidência de
grupo a seguir o Padrão Alimentar Mediterrânico enriquecido com o baixa incidência e mortalidade desta doença em países que adotam
ácido gordo alfa-linolénico e outro grupo a seguir uma dieta controlo. o Padrão Alimentar Mediterrânico (36). No entanto, ainda há pouca
Ao fim de 27 meses verificou-se uma redução na incidência de eventos evidência que avalie o efeito do Padrão Alimentar Mediterrânico na
coronários (73%) assim como na mortalidade coronária (70%). O incidência do cancro da próstata.
estudo concluiu que o Padrão Alimentar Mediterrânico, em prevenção No estudo de coorte EPIC, com o objetivo de explorar a associação
secundária, é uma estratégia não farmacológica eficaz a médio prazo, entre a adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico e a incidência do
na diminuição dos eventos coronários a nível clínico (30). De maneira adenocarcinoma gástrico, verificou-se que uma maior adesão ao Padrão
a avaliar os efeitos a longo prazo do Padrão Alimentar Mediterrânico Alimentar Mediterrânico estava associada a uma redução significativa de
em novos eventos de DCV em mulheres e homens com elevado risco 33% do risco de cancro gástrico. Por cada ponto de aumento no índice
cardiovascular, foi desenvolvido o estudo PREDIMED (Prevenção com de adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico, o risco diminui 5% (37).
Dieta Mediterrânica) (28, 31). Este é um ensaio clínico randomizado, Em relação ao cancro colorretal, um estudo conduzido em 45.275
de prevenção primária e intervenção nutricional realizado em larga participantes italianos do estudo EPIC, mostrou que o índice de
escala entre 2003 e 2011 em Espanha. O endpoint final primário foi Alimentação Mediterrânica italiano associou-se inversamente com o
a DCV incidente, e os endpoints secundários incluíram a mortalidade risco de cancro (38).
total, a diabetes, a síndrome metabólica, a doença arterial periférica,
a fibrilação atrial, as doenças neurodegenerativas e diferentes tipos Padrão Alimentar Mediterrânico e Obesidade
de cancro. Os participantes foram aleatoriamente alocados a três O Padrão Alimentar Mediterrânico parece ter um papel relevante na

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prevenção da obesidade. Devido aos seus atributos e propriedades O Padrão Alimentar Mediterrânico pode ser uma terapia auxiliar nestes
na saúde, constitui uma ferramenta interessante e eficaz para a terapia indivíduos devido ao seu efeito anti-inflamatório e antioxidante, que
comportamental no tratamento da obesidade (39). regula certos fatores metabólicos e protetores do sistema cardiovascular.
O Padrão Alimentar Mediterrânico tem sido associado com diversos O consumo independente de certos componentes deste padrão
outcomes relacionados com a obesidade. Revisões sistemáticas alimentar como o peixe, hortícolas e azeite, conferem o papel protetor
anteriores (40, 41), as quais examinaram resultados de diversos estudos contra doenças reumáticas (48).
de coorte prospetivos e transversais, assim como de ensaios clínicos, Uma revisão sistemática de 2010 sugere também que uma elevada
concluíram que embora nem todos os estudos mostrem um efeito protetor adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico está significativamente
do Padrão Alimentar Mediterrânico no peso corporal e na obesidade, associada a um risco reduzido de diabetes tipo 2, na população em
existe evidência que sugere um possível papel protetor deste padrão geral e em indivíduos com enfarte do miocárdio pré-existente (50). O
alimentar. Os efeitos anti-obesidade do Padrão Alimentar Mediterrânico mesmo artigo refere que alguns ensaios clínicos randomizados mostram
têm sido frequentemente salientados na literatura (42, 43). Os seus efeitos que os indivíduos com diabetes tipo 2 seguidores do Padrão Alimentar
benéficos devem-se sobretudo ao elevado consumo de alimentos de Mediterrânico têm, em comparação com pacientes diabéticos após
origem vegetal que fornecem uma grande quantidade de fibra, baixa uma dieta controlo, um melhor controlo glicémico (níveis mais baixos
densidade energética e baixa carga glicémica. Gorduras monoinsaturadas, de glicemia em jejum e hemoglobina A1c), associado à redução da
em especial o azeite, também ajudam a melhorar o metabolismo da resistência à insulina. Como prevenção secundária das doenças
glicose, a aumentar a oxidação da gordura pós-prandial, a realçar a cardiovasculares, há evidência de que o Padrão Alimentar Mediterrânico
termogénese induzida pela dieta e assim, a aumentar a despesa diária pode aumentar a esperança de vida também em pacientes diabéticos.
total de energia. Também parece ser um elemento-chave nos efeitos do Os resultados até agora acumulados sugerem que a opção pelo
Padrão Alimentar Mediterrânico no controlo do peso corporal (44). Outros Padrão Alimentar Mediterrânico pode ajudar a prevenir a diabetes tipo
fatores que também podem contribuir para os efeitos anti-obesidade do 2 na população e também melhorar o controlo glicémico e o risco
Padrão Alimentar Mediterrânico são os ácidos gordos polinsaturados n-3, cardiovascular em pessoas com diabetes estabelecida (50).
os compostos fenólicos, a fibra e os antioxidantes da dieta, como é o caso
do resveratrol (42, 43). Os ácidos gordos monoinsaturados, especialmente Padrão Alimentar Atlântico
o oleico, estão associados a um menor número de adipócitos no tecido A Alimentação Atlântica é um conceito cuja origem advém da discussão
adiposo, sugerindo que eles podem limitar a hiperplasia em populações entre diferentes Instituições da Península Ibérica, nomeadamente o
obesas (44). Instituto Politécnico de Viana do Castelo, em Portugal, a Universidade
de Santiago de Compostela, a Fundação Espanhola de Nutrição (FEN)
Padrão Alimentar Mediterrânico e outras Patologias e a Associação Galega para o estudo da Dieta Atlântica (ASGAEDA),
O Padrão Alimentar Mediterrânico tem efeitos benéficos em localizadas em território espanhol. O objetivo principal da discussão
muitas outras patologias, entre elas a osteoporose. A incidência foi colocar a Alimentação Atlântica no mapa mundial pretendendo
de osteoporose é mais baixa na área do Mediterrâneo, algo que é que fosse reconhecida como um padrão alimentar saudável. Assim,
maioritariamente atribuído ao padrão alimentar específico da zona em 2003, com este mesmo objetivo e em seguimento da discussão
(45). As propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e alcalinizantes ibérica sobre a Alimentação Atlântica, foi fundado o Centro Europeu
dos seus componentes contribuem para o efeito “poupador do osso” para a Dieta Atlântica (CEDA), em Portugal (5). Mais recentemente,
(46). Alguns estudos demonstram que a adesão ao Padrão Alimentar várias instituições, entre elas a FEN e a ASGAEDA, uniram-se em prol
Mediterrânico tradicional tem sido associada a uma elevada densidade da criação da Fundação para o Estudo da Dieta Atlântica (51).
mineral óssea e reduzido risco de fratura (45). Assim, é demonstrada A primeira vez que se abordou o conceito da Alimentação Atlântica foi
uma associação entre caraterísticas-chave individuais do Padrão em 1999 aquando do congresso que reuniu inúmeros profissionais da
Alimentar Mediterrânico e a redução da incidência da osteoporose área da Nutrição, chamado “Decálogo Xacobeo sobre a alimentação
ou ocorrência de fratura, como o consumo elevado de fruta, produtos no século XXI”. A realização deste congresso deu origem a outros
hortícolas e azeite, o consumo moderado a alto de peixe e a ingestão eventos como as Reuniões Internacionais de Alimentação e Nutrição
moderada de bebidas alcoólicas (45). no século XXI realizadas em Espanha, no município de Baiona, ao longo
Uma revisão sistemática e meta-análise de 2014 sugere que uma elevada dos anos 2000 (52). No decorrer de 2006, todas as estas instituições
adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico está associada com o risco assinaram a “Declaração de Baiona sobre a Dieta Atlântica” e após este
reduzido de desenvolver dano cognitivo e Doença de Alzheimer (47), acordo houve vários congressos, seminários e reuniões dedicadas à
além de ajudar na redução da transição de dano cognitivo em Alzheimer. Alimentação Atlântica, entre 2003 e 2008, organizadas pela FEN (5).
O mesmo estudo sugere que há evidência do papel neuroprotetor do
Padrão Alimentar Mediterrânico, possivelmente devido às propriedades Definição
vasculares dos seus componentes e a sua habilidade para reduzir a A Alimentação Atlântica tem as suas raízes no perfil alimentar de
inflamação e o stress oxidativo, também associados com a fisiopatologia países banhados pelo Oceano Atlântico, especificamente os países da
das doenças degenerativas (47). Península Ibérica, com destaque para o Noroeste de Espanha (Galiza)
Indivíduos com doenças inflamatórias reumáticas crónicas podem obter e o Norte de Portugal. Aquando da criação Centro Europeu de Dieta
uma dupla vantagem ao aderir ao Padrão Alimentar Mediterrânico como Atlântica, esta foi definida como a dieta tradicional de Galiza e do Norte
terapêutica: a redução dos sintomas clínicos e a proteção do sistema de Portugal devido à forte adesão a este padrão alimentar nestas regiões
cardiovascular (48). Alterações metabólicas (hiperglicemia, redução do (5). Ambas as regiões têm particularidades tanto a nível geográfico,
colesterol HDL, aumento do colesterol LDL, redução do rácio colesterol como climático e cultural, que levam a que os seus habitantes sigam
total/HDL e triglicerídeos elevados) encontradas em doentes com um padrão alimentar, próprio destas regiões. A localização destes países
doenças reumáticas inflamatórias podem contribuir para o aumento ao longo da costa Atlântica beneficia, em grande escala, a indústria
significativo do risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares (49). local da pesca, e em particular do bacalhau, quer seja salgado, fresco

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ou seco, sendo muito comum e frequentemente consumido. Outras Em termos de benefícios globais do padrão alimentar, um estudo pioneiro
características da região ajudam a explicar este Padrão Alimentar avaliou, em 2010, a associação entre a adesão ao Padrão Alimentar
Atlântico desde logo a precipitação, que sendo muito elevada, traz Atlântico do Sul da Europa (SEAD) e a ocorrência de enfarte e agudo do
benefícios ao solo que fica favorável à massagem e ajuda à criação, miocárdio (EAM) não fatal (6). O estudo caso-controlo foi realizado numa
em larga escala, de toda a espécie de gado assim como o gado suíno. população adulta da cidade do Porto, em Portugal, que sofreram o seu
Essa junção de fatores favorece alguns dos alimentos-chave do Padrão primeiro EAM e que sobreviveram para além do 4.º dia após o evento
Alimentar Atlântico como a carne vermelha, a carne de porco e os coronário. O estudo conclui que uma maior adesão ao padrão SEAD
produtos lácteos, como o queijo e o leite. Importa referir que apesar da associou-se de forma inversa com a ocorrência de EAM não fatal. Os
elevada precipitação, são regiões muito solarengas e de temperaturas resultados mostraram que o aumento de 1 ponto na adesão à SEAD
amenas que beneficiam a indústria vinhateira (53). estava associado com a redução em 10% da probabilidade de ter EAM.
Em 2009, a Alimentação Atlântica é apresentada como uma alternativa Foi ainda referido que a redução do consumo de certos alimentos, como
saudável ao padrão de Dieta Ocidental. Em sequência, foi criada a a batata, e em particular a carne vermelha e os produtos de porco (que
Pirâmide da Alimentação Atlântica (54). se mostraram associados de forma positiva com o evento coronário),
O Padrão Alimentar Atlântico caracteriza-se por um maior consumo pode aumentar os efeitos benéficos do SEAD na doença coronária. É
de peixe, moluscos e crustáceos; maior consumo de leguminosas, igualmente sugerido que a maioria dos componentes da SEAD podem
batatas e cereais; maior consumo de hortícolas e fruta; uso de azeite contribuir para os baixos níveis de mortalidade coronária registados na
como principal gordura culinária; consumo diário de produtos lácteos; região Norte de Portugal e Galiza (6).
consumo moderado a alto de carne (preferência pela carne vermelha); Em 2013 foi publicado um estudo transversal feito pelos mesmos autores
elevada ingestão de água mineral e consumo moderado de vinho; gosto em conjunto com autores espanhóis, que quantificou a associação entre
pela simplicidade na preparação de alimentos; hábitos alimentares a adesão ao padrão SEAD e biomarcadores de risco coronário, como
atlânticos tradicionais e a realização de atividade física diária (5, 6). a pressão arterial e parâmetros antropométricos, em 10.231 indivíduos
adultos espanhóis. Os resultados mostraram que uma maior adesão ao
Índices de adesão ao Padrão Alimentar Atlântico SEAD está associada a baixas concentrações de proteína C-reativa de
Para avaliar a adesão ao Padrão Alimentar Atlântico foi criado em 2010, alta sensibilidade, triglicerídeos e insulina, menor resistência à insulina,
pela primeira vez na literatura, o índice Alimentação Atlântica do Sul menor albumina urinária e pressão arterial sistólica inferior (56).
da Europa (Southern European Atlantic Diet – SEAD) (6) que deriva da Em 2015, o estudo GALIAT (Dieta Atlântica da Galiza) foi o primeiro
definição da própria Alimentação Atlântica e de um conjunto de decisões ensaio clínico a analisar os efeitos da Alimentação Atlântica na saúde
dos próprios autores com base no receituário tradicional da região do ao nível do perfil lipídico, do metabolismo da glicose, dos marcadores
Norte de Portugal e da Galiza. É composto por 9 componentes-chave: de inflamação e adiposidade num grupo de pessoas de uma cidade no
peixe fresco; bacalhau; leguminosas e produtos hortícolas; produtos noroeste de Espanha (57). O objetivo era produzir evidência científica
lácteos; pão integral; sopa de legumes; carne vermelha e produtos que pudesse justificar a promoção do Padrão Alimentar Atlântico
cárneos de porco; batatas e vinho. Para todos os itens, exceto o vinho, como uma escolha saudável, e permitir a sua potencial integração em
um consumo maior ou igual à mediana de consumo da população, estratégias preventivas de saúde familiar tendo em conta o património
especifica por sexo, era classificado com um ponto, e um consumo cultural e gastronómico próprios das regiões europeias banhadas pelo
inferior era classificado com 0 pontos. Quanto ao vinho, o consumo Atlântico. Os participantes foram alocados aleatoriamente a um grupo
elevado (>2 copos/dia nos homens e 1 copo/dia nas mulheres) ou de dieta controlo e a um grupo intervenção (com um plano de adesão
inferior foi classificado com 0 pontos. Após a soma das pontuações à Alimentação Atlântica), por um período de 6 meses. Foi apresentado
de todos os componentes, a pontuação resultante podia variar entre um protocolo de ensaio clínico que envolveu uma intervenção dietética
0 e 9, sendo que 9 representa uma adesão a todos os componentes concentrada em três questões: o uso de um padrão alimentar global
da Alimentação Atlântica. em vez de um número reduzido de alimentos, a família como a unidade
Um estudo de 2017 avaliou igualmente a adesão à Alimentação Atlântica de intervenção e uma amostra representativa da população em geral.
através de uma adaptação do índice descrito anteriormente, adaptado O estudo também envolveu uma ampla gama de fatores relacionados
a adolescentes, já que o estudo pretendia estudar o seu impacto em com a alimentação (hábitos alimentares e consumo de alimentos), com
fatores de risco cardiometabólicos em adolescentes (55). A partir do o estilo de vida (atividade física, uso de tabaco, hábitos sedentários
índice SEAD, a pontuação foi adaptada tendo sido atribuídos 0 pontos e caraterísticas socioeconómicas, de saúde e culturais), além de ter
a qualquer consumo de vinho, dado que a ingestão de etanol não é avaliado uma ampla gama de biomarcadores. Verificou-se que a entrega
recomendada aos adolescentes. de alimentos aos domicílios dos indivíduos, as sessões educacionais, as
aulas de culinária e o material de suporte fornecido ao grupo intervenção
Benefícios da adesão ao Padrão Alimentar Atlântico na Saúde (com Alimentação Atlântica) (aos quais o grupo da dieta controlo não
Em comparação com o Padrão Alimentar Mediterrânico, o Padrão teve acesso), podia facilitar a adesão a este tipo de padrão (57).
Atlântico é um conceito relativamente atual daí não haver tanta A adesão ao Padrão Alimentar Atlântico e a sua associação com
investigação ou evidência dos seus potenciais efeitos benéficos caraterísticas do músculo-esquelético, também foi estudado, assim
para a saúde. Sabe-se que os seus componentes-chave têm um como os efeitos dessa combinação em fatores de risco cardiometabólicos
papel assumido na saúde, destacando-se o papel dos ácidos gordos em adolescentes. Estes foram avaliados após soma dos valores
monoinsaturados provenientes do azeite, assim como os ácidos padronizados, por sexo e idade, dos triglicerídeos, pressão arterial
gordos polinsaturados n-3 provenientes do pescado e marisco. sistólica, colesterol total e colesterol-HDL. Indivíduos 1 ponto acima do
Também é de referir o aporte de fibra concedido pelo consumo de desvio padrão desta pontuação foram classificados como tendo um
fruta, cereais, leguminosas e batatas, para além do teor proteico da risco cardiometabólico elevado. Os adolescentes com baixa aptidão
carne. A presença de flavonóides, no vinho e nos produtos hortícolas, muscular e baixa adesão ao Padrão Alimentar Atlântico tiveram o perfil
também é de realçar (53). cardiometabólico pior, indicando a importância do efeito combinado de

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um padrão alimentar saudável e a força muscular elevada. Foi também termos de reconhecimento da Alimentação Atlântica, sendo notória
demonstrado que o Padrão Alimentar Atlântico estava inversamente a falta de artigos e literatura acerca deste padrão alimentar. Importa
associado com o perímetro de cintura, a pressão arterial sistólica e um ressalvar que existem já alguns trabalhos que mostram que em Portugal
conjunto de fatores de risco cardiometabólico (55). os hábitos alimentares têm vindo a afastar-se destes padrões mais
tradicionais, havendo assim uma aproximação a outros padrões de
Padrão Alimentar Atlântico e Mediterrânico: o que os une e separa regiões caracteristicamente diferentes. Esta “ocidentalização” dos
O Padrão Alimentar Atlântico e Mediterrânico têm diversas caraterísticas padrões preocupa a comunidade científica em geral, o que exalta ainda
em comum, mas ao mesmo tempo algumas que os diferenciam (51). mais a importância da globalização de ambos os padrões, sempre
Entre si, partilham o gosto pelo consumo de pescado local (mais evidente salvaguardando o seu carácter regional.
na Alimentação Atlântica), pelo consumo de fruta fresca e da época,
de frutos gordos, assim como de cereais pouco refinados ou integrais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
São ambos padrões alimentares que valorizam o consumo de produtos 1. Hu FB. Dietary pattern analysis: a new direction in nutritional epidemiology. Current
hortícolas e de leguminosas. Para além disso, repartem o mesmo gosto opinion in lipidology. 2002; 13: 3-9.
pelo uso de técnicas de confeção simples aquando da elaboração dos 2. Schulze MB, Hoffmann K. Methodological approaches to study dietary patterns
seus pratos e igualmente, o prazer de comer em família (4-6). Em termos in relation to risk of coronary heart disease and stroke. British Journal of Nutrition.
do que as distingue, na Alimentação Atlântica há uma característica que 2006; 95: 860-869.
sobressai, que é o elevado consumo de proteínas de origem animal, 3. Dernini S, Berry EM. Historical and behavioral perspectives of the Mediterranean
principalmente proveniente da carne vermelha e particularmente da diet. Mediterranean Diet: Springer; 2016. p. 29-41.
carne de porco (6). Também no consumo de peixe há diferenças na 4. Davis C, Bryan J, Hodgson J, Murphy K. Definition of the mediterranean diet; a
medida em que, nos países da zona atlântica há um acréscimo do literature review. Nutrients. 2015; 7: 9139-9153.
consumo de marisco e crustáceos. A ingestão de laticínios e derivados 5. Vaz-Velho ML, Pinheiro R, Rodrigues AS. The Atlantic diet–Origin and features.
também é superior na Alimentação Atlântica (4-6, 51). Em relação ao International Journal of Food Studies. 2016; 5: 106-119.
azeite, na Alimentação Atlântica este não é o principal contribuinte para 6. Oliveira A, Lopes C, Rodríguez-Artalejo F. Adherence to the Southern European
a ingestão de gordura total, assim como a fruta e os frutos gordos não Atlantic Diet and occurrence of nonfatal acute myocardial infarction. The American
são elementos chave (6). journal of clinical nutrition. 2010; 92: 211-217.
7. Trichopoulou A, Lagiou P. Healthy traditional Mediterranean diet: an expression of
ANÁLISE CRÍTICA/CONCLUSÕES culture, history, and lifestyle. Nutrition reviews. 1997; 55: 383-389.
O Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico são padrões alimentares 8. Serra-Majem L, Helsing E. Changing patterns of fat intake in Mediterranean countries.
definidos a priori, cujo papel benéfico para a saúde é vastamente Eur J Clin Nutr. 1993; 47: S1-100.
evidenciado em diversos estudos nacionais e internacionais, 9. Garcia-Closas R, Berenguer A, González CA. Changes in food supply in
particularmente o do Padrão Alimentar Mediterrânico, para o qual Mediterranean countries from 1961 to 2001. Public health nutrition. 2006; 9: 53-60.
a investigação tem sido exaustiva. Como representativas de uma 10. United Nations Environment Programme. Mediterranean strategy for sustainable
determinada região e dos seus costumes culturais e sociais, reforçados development. A framework for environment sustainability and shared prosperity. Athens,
ao longo de vários anos, cada um apresenta na sua composição Greece: 2005.
propriedades que lhes conferem o estatuto de alimentação saudável. 11. Moreno L, Sarrıa A, Popkin B. The nutrition transition in Spain: a European
Num mundo cada vez mais sedentário e adepto da comida rápida Mediterranean country. European Journal of Clinical Nutrition. 2002; 56: 992-1003.
e de alimentos processados, fruto da industrialização e marketing 12. Dernini S, Berry EM. Mediterranean diet: From a healthy diet to a sustainable dietary
publicitário, é imperativo alertar para a importância de adotar um pattern. Frontiers in nutrition. 2015; 2: 15.
estilo de vida mais saudável, sendo que os benefícios para a saúde 13. Tilman D, Clark M. Global diets link environmental sustainability and human health.
da adesão a certos padrões alimentares mais tradicionais, como o Nature. 2014; 515: 518-522.
Padrão Alimentar Mediterrânico e Atlântico, têm sido demonstrados 14. Bach-Faig A, Berry EM, Lairon D, Reguant J, Trichopoulou A, Dernini S et al.
em diversos artigos e demais publicações, como são exemplo disso, Mediterranean diet pyramid today. Science and cultural updates. Public health nutrition.
os descritos neste trabalho. No que diz respeito ao Padrão Alimentar 2011; 14: 2274-2284.
Mediterrânico e ao valor nutricional dos seus componentes major (peixe, 15. Trichopoulou A, Georgiou E, Bassiakos Y, Lipworth L, Lagiou P, Proukakis C et
fruta, hortícolas, leguminosas, frutos gordos, azeite e vinho), há evidência al. Energy intake and monounsaturated fat in relation to bone mineral density among
do seu efeito protetor no tratamento e prevenção das DCV, assim women and men in Greece. Preventive medicine. 1997; 26: 395-400.
como na mortalidade cardiovascular. Também se mostrou associada 16. Nestle M. Mediterranean diets: historical and research overview. The American
de forma inversa a diversos tipos de cancro, nomeadamente ao cancro journal of clinical nutrition. 1995; 61: 1313S-1320S.
colorretal, do endométrio, da próstata, da mama e gástrico e a outras 17. Dernini S, Berry EM, Bach-Faig A, Belahsen R, Donini LM, Lairon D et al. MediTerra
patologias como a diabetes, a osteoporose, a doença de Alzheimer e 2012 – the Mediterranean Diet for Sustainable Regional Development. 2012; 71-87.
as doenças reumáticas. Quanto ao papel do Padrão Alimentar Atlântico, 18. Pinho I, Franchini B, Rodrigues S. Guia Alimentar Mediterrânico: relatório justificativo
os seus efeitos são maioritariamente observados em relação à DCV, do seu desenvolvimento. Direção-Geral da Saúde. 2016.
nomeadamente na redução da ocorrência de EAM não fatal e a um 19. Trichopoulou A, Costacou T, Bamia C, Trichopoulos D. Adherence to a Mediterranean
melhor perfil cardiometabólico, lipídico e na diminuição da pressão diet and survival in a Greek population. N engl J med. 2003; 2003: 2599-2608.
arterial, entre outros referidos ao longo do trabalho. Contudo, importa 20. Scali J, Richard A, Gerber M. Diet profiles in a population sample from Mediterranean
referir que em comparação com o Padrão Alimentar Mediterrânico, o southern France. Public health nutrition. 2001; 4: 173-182.
Atlântico necessita que as diversas entidades e instituições públicas/ 21. Martinez-Gonzalez M, Fernandez-Jarne E, Serrano-Martinez M, Wright M, Gomez-
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ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 22-28 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017. 1104  27
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NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO
E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA
A.R.
ARTIGO DE REVISÃO
DIET AND NUTRITION IN THE PREVENTION AND TREATMENT
OF DEMENTIA
1 Nutricionista Sofia Alves Cardoso1; Isabel Paiva2*

2 Unidade de Recursos
Assistenciais Partilhados
RESUMO
do ACES Porto Oriental,
Rua do Vale Formoso, Atualmente, a demência é uma epidemia global com grande impacto social, económico e na saúde, sendo urgente aumentar
n.º 466, o conhecimento sobre a sua prevenção e tratamento. Diversos macro e micronutrientes, alimentos e padrões alimentares têm
4200-510 Porto, Portugal sido estudados como potenciais fatores de risco e de proteção, e agentes no tratamento. Para além da potencial modulação dos
fatores de risco vascular, os fatores nutricionais poderão ter uma ação direta na patogénese. Embora ainda não haja evidência
*Endereço para correspondência: consistente e definitiva de ensaios controlados randomizados sobre o efeito dos fatores nutricionais na demência, vários trabalhos
sugerem que estratégias nutricionais podem ser custo-efetivas, seguras e fáceis de implementar. Desta forma, é necessário realizar
Isabel Paiva
mais investigação para esclarecer o papel da nutrição e alimentação e estabelecer recomendações preventivas e terapêuticas
Rua Barão Nova Sintra, n.º 244,
4300-365 Porto, Portugal na demência.
ialexspaiva@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE
Histórico do artigo: Alimentação, Demência, Demência Vascular, Doença de Alzheimer, Nutrição, Prevenção, Tratamento
Recebido a 21 de março de 2017
Aceite a 30 de novembro de 2017 ABSTRACT
Currently, dementia is a global epidemic with great impact at social, economic and health levels. Thus, it is urgent to improve knowledge
about prevention and treatment. Various macro- and micronutrients, specific foods and food patterns have been studied as potential risk
and protection factors and treatment agents. Besides potential modulation of vascular risk factors, nutritional factors may have a direct
action in pathogenesis. Albeit there is still no consistent and definitive evidence from randomized controlled studies about the role of
nutritional factors in dementia, studies suggest nutritional strategies may be cost-effective, safe and easy to implement. Therefore, the
role of nutrition and diet needs to be further investigated to clarify their role and to draw preventive and therapeutic recommendations.

KEYWORDS
Diet, Dementia, Vascular Dementia, Alzheimer’s Disease, Nutrition, Prevention, Treatment

INTRODUÇÃO O atual tratamento farmacológico da demência é


A demência é uma síndrome que pode ser definida como sintomático (10) e apesar de as causas exatas não estarem
uma deterioração adquirida das capacidades cognitivas, esclarecidas, sabe-se que fatores genéticos e ambientais
que compromete a performance das atividades de vida intervêm na etiologia e evolução (5, 6).
diária (1). A maioria dos casos é de natureza crónica e Para fazer face a este desafio de saúde pública, é urgente
progressiva e surge após os 65 anos de idade (2, 3). ampliar o conhecimento sobre os fatores ambientais
Os tipos de demência mais comuns são a Doença de influentes e estratégias preventivas (5, 6). Fatores de risco
Alzheimer (DA) e a Demência Vascular, podendo ser modificáveis que englobam os estilos de vida, como a
coexistentes (4). Os marcadores neuropatológicos da alimentação e a atividade física, e fatores de risco vascular
DA são os novelos neurofibrilares e as placas neuríticas têm sido alvo de investigação (6). A prevenção deve focar-se
resultantes de agregados de proteína beta-amiloide (Aβ), na modulação destes fatores, nomeadamente nos de risco
que levam à morte neuronal (5). A Demência Vascular vascular (6, 11).
deve-se à insuficiência cerebrovascular (6). Diversos estudos sugerem que os fatores nutricionais,
Atualmente, a prevalência mundial é de 47 milhões de incluindo micro e macronutrientes, alimentos, bebidas e
pessoas e deverá triplicar até 2050, sendo considerada padrões alimentares, podem modificar o risco e atrasar a
uma epidemia global (7). Em 2012 a demência afetava ocorrência de demência (12-14). Por outro lado, também
1,7% da população portuguesa (8). O presente cenário tem têm sido estudados no âmbito do tratamento, quer no
impacto a nível social, económico e da saúde, acarretando atraso da progressão da demência, de declínio e de
custos que tenderão a agravar-se (9). comprometimento cognitivo, quer na melhoria da função

 30 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA


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®
cognitiva e dos sintomas (15-17). O presente artigo pretende analisar Antioxidantes
o papel da nutrição e alimentação na prevenção e na terapêutica As vitaminas E e C, o selénio e os flavonoides protegem de danos
da demência, através da revisão da literatura existente, focando os oxidativos que podem surgir como causa e/ou consequência da
principais fatores nutricionais investigados e os possíveis mecanismos demência (17, 23). Vários estudos mostram que estes fatores são
subjacentes. potencialmente protetores na incidência de demência e que a sua
obtenção na alimentação poderá ser preferível à suplementação (21,
Fatores de risco vascular 24). Apesar de não haver evidência de que a toma de vitamina E (alfa-
Os fatores de risco vascular incluem lesões cerebrovasculares, doenças tocoferol) melhore função cognitiva na DA, um estudo apresentou um
cardiovasculares (CV), diabetes Mellitus tipo 2, hipercolesterolemia e atraso do declínio funcional (25).
hipertensão arterial na meia-idade (16, 17). Em geral, a presença destes
fatores duplica o risco de desenvolver demência (16). Alguns autores Vitaminas do complexo B e Folato
incluem ainda a hiperhomocisteinémia e a obesidade na meia-idade A maioria das vitaminas do complexo B e o folato têm demonstrado
(16-18). A definição de “meia-idade” dos estudos é variável, mas a associação com a saúde neuronal, intervindo nas suas vias metabólicas
maioria refere idades entre os 35 e os 65 anos. Os fatores poderão (17). Adicionalmente, o défice destas vitaminas pode levar ao aumento da
interagir entre si e com aspetos genéticos (nomeadamente o alelo homocisteína plasmática. Diversos trabalhos mostram uma associação
para a apolipoproteína-E ε4), aumentando o risco de demência (16). entre a ingestão de vitaminas do complexo B e um menor risco de
Os mecanismos subjacentes ainda são desconhecidos, mas poderão demência; e que altos níveis de homocisteína e baixos níveis de vitamina
iniciar-se décadas antes da manifestação clínica (16, 19). A obesidade B12 se associam a um maior risco de DA (17, 26). Tal como para os
poderá aumentar o risco devido ao perfil inflamatório da adiposidade e antioxidantes, o seu papel no tratamento tem sido pouco estudado e
ao maior risco de comorbilidades como a hipertensão arterial (16, 17). com resultados conflituosos (15, 27). Uma meta-análise verificou efeitos
A sua possível influência é complexa e carece de mais estudos (17). moderados da suplementação de vitaminas do complexo B na melhoria
da memória em casos de comprometimento cognitivo, mas não de DA
Papel da Nutrição e Alimentação (28). A sua toma foi ainda associada a uma redução da homocisteína
Os fatores protetores de doenças CV, como hábitos alimentares (29). A suplementação em ácido fólico (com ou sem vitamina B12)
adequados, poderão estar associados a um menor risco de desenvolver não estabilizou nem atrasou o declínio em doentes com DA (28). Não
DA e outras demências (20, 21). Por outro lado, sugere-se que vários obstante, mais estudos são necessários nesta área (28).
nutrientes e alimentos possam agir de uma forma mais direta, interferindo
na capacidade de regeneração celular e nas vias patogénicas da Vitamina D
demência (16, 22). A sinergia entre vários nutrientes presentes nos A vitamina D pode ser importante na proteção de doenças CV e na
alimentos poderá ser importante para se verificar um efeito protetor neuroproteção (30). Baixos níveis ou défice de vitamina D têm sido
(17). Para além de nutrientes, o efeito do consumo de alguns alimentos, associados a doenças cerebrovasculares e a um maior risco de
bebidas e outros compostos também tem sido estudado (16). demência (31). Os mecanismos subjacentes podem envolver as vias da
Desta forma, discutir-se-ão primeiro os nutrientes mais investigados, em proteína Aβ, vasculares, metabólicas, anti-inflamatórias e antioxidantes
segundo, alimentos, bebidas e outros compostos e, em terceiro, a sua (32). O défice desta vitamina é comum e pode agravar a DA, sendo
combinação através de padrões alimentares. Por último, abordam-se importante garantir níveis adequados (6).
formulações nutricionais que estão a ser alvo de pesquisa no tratamento
da demência. A Figura 1 sumaria os potenciais fatores nutricionais Ácidos Gordos
protetores e de risco de demência e/ou DA, abordados com maior Os ácidos gordos ómega 3 (AGn-3) diminuem os níveis de colesterol
ênfase no presente artigo. sérico e inflamação sistémica e inibem a agregação plaquetária (26), e
podem estar envolvidos nas vias vasculares, inflamatórias e amiloides
Figura 1 da DA e da Demência Vascular (17). Diversos estudos observacionais
Potenciais fatores nutricionais protetores e de risco de demência e/ou DA sugerem um papel protetor dos AGn-3 na prevenção da demência.
Suplementos de óleo de peixe, ácido docosahexaenóico (DHA) e
ácido eicosapentaenóico (EPA) têm sido investigados, mas ainda não
é claro qual a melhor fonte ou combinação (16, 17, 26). Relativamente
ao tratamento, apesar de algumas intervenções com suplementos
terem verificado melhorias cognitivas em doentes com DA ou declínio
cognitivo, comparando com o placebo (26), uma revisão não encontrou
efeito benéfico em indivíduos com DA ligeira ou moderada (33). Quanto
aos AG saturados, existe uma associação positiva entre a sua ingestão
e o risco de demência e de DA (34, 35). Num estudo, indivíduos com um
rácio superior entre a ingestão de AG polinsaturados e AG saturados,
apresentaram uma redução de 70% no risco de desenvolver DA (34).
No entanto, um rácio superior de AGn-6:AGn-3 associa-se a um maior
risco de demência (36).

Peixe
Alguns estudos revelam uma associação entre o consumo de peixes
AG: Ácidos gordos DA: Doença de Alzheimer gordos e de óleo de peixe e um menor risco de demência e/ou DA
AGn-3: Ácidos gordos ómega 3 Vit: Vitamina
AGn-6: Ácidos gordos ómega 6
(26). Huang et al (2005) verificaram que uma ingestão de peixe gordo

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA


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superior a 2 vezes/semana estava associada a uma redução de risco de do risco de progressão de síndromes pré-demenciais (17, 51). Uma
demência e de DA em 28% e em 41%, respetivamente, comparando com revisão sistemática de 2013 verificou que em nove dos doze estudos,
ingestão inferior a 1 vez/mês (37). Enquanto os estilos de vida saudáveis e uma maior adesão à DiMe se associou a uma melhor função cognitiva,
a escolaridade são possíveis confundidores desta associação, a presença menor taxa de declínio cognitivo e um risco reduzido de DA (52). Um
do alelo da apolipoproteína-E ε4 e uma ingestão elevada de AGn-6 podem estudo experimental testou esta associação, comparando o efeito
contribuir para a ausência da associação (17, 26). da intervenção da DiMe suplementada com azeite virgem extra ou
oleaginosas, com uma dieta controlo baixa em gordura. Após 6,5 anos,
Hortofrutícolas os grupos de intervenção possuíam melhor função cognitiva que o grupo
O consumo de hortofrutícolas tem sido associado a um menor risco de de controlo (53), resultados semelhantes a outra investigação similar (54).
demência e DA, e o consumo de hortícolas tem sido associado a um Os benefícios da DiMe têm sido atribuídos aos alimentos e aos
abrandamento do declínio cognitivo (32, 38). micro e macronutrientes característicos, em particular aos AG poli- e
monoinsaturados (predominantes no azeite) (51, 55). A redução do
Bebidas com cafeína (café e chá) risco de doenças CV, o aumento de neurotrofinas e/ou ações anti-
Os potenciais efeitos protetores de bebidas com cafeína, especialmente -inflamatórias, poderão explicar os seus efeitos benéficos (17).
café, também têm sido investigados (16, 32, 39). Uma meta-análise A dieta ocidental, caracterizada por uma elevada ingestão de AG
indicou um possível efeito protetor da ingestão de cafeína, através saturados, colesterol e açúcares refinados e uma reduzida ingestão de
de café e/ou chá, na demência, DA ou no declínio cognitivo (39). A AG polinsaturados, foi associada a um maior risco de demência e de
cafeína poderá intervir na neurodegeneração através da diminuição da declínio cognitivo (16, 26).
produção de proteína Aβ, do poder anti-inflamatório e antioxidante e
da antagonização do recetor A2 da adenosina (40). Formulações nutricionais na progressão da demência
Sob investigação existem algumas formulações de nutrientes com
Bebidas alcoólicas objetivo de melhorar sintomas da DA e cuja toma deve supervisionada
A ingestão baixa a moderada de bebidas alcoólicas, sobretudo de vinho, medicamente (medical foods) (16, 26, 56). Um dos suplementos é
tem sido indicada como protetora do declínio cognitivo e de demência, Fortasyn Connect,® composto por substratos e nutrientes antioxidantes
em alguns trabalhos, mas a sua interpretação deve ser cautelosa (16, com ação na integridade neuronal, incluindo uridina monofosfato, colina,
41, 42). Embora seja difícil estabelecer uma dose que conduza a estes EPA, DHA, fosfolípidos, vitaminas C, E, B6 e B12, selénio e ácido
benefícios (43), sugere-se uma curva em U ou em J para representar fólico (57). Em alguns estudos, indivíduos em fases precoces de DA,
a relação entre a quantidade ingerida e o risco de demência (5, 6). apresentaram melhorias no metabolismo fosfolipídico (58) e nos testes
O mecanismo ainda é desconhecido, mas verifica-se que a ingestão de memória após a sua toma (59, 60), o que não se verificou em fases
moderada auxilia a reduzir o risco de eventos CV e poderá estimular mais avançadas (61). Porém, o estabelecimento da sua eficácia e de
a acetilcolina no hipocampus (6, 44). Os efeitos do vinho tinto na recomendações só será possível com a realização de mais estudos,
redução do risco de DA poderão dever-se ao etanol e/ou aos polifenóis, particularmente estudos independentes (58, 62).
que diminuem a formação de placa neurítica e protegem contra a
neurotoxicidade da proteína Aβ (32, 43). Inversamente, a ingestão ANÁLISE CRÍTICA E CONCLUSÕES
excessiva de bebidas alcoólicas é prejudicial à saúde, aumentando o Vários estudos, sobretudo epidemiológicos, mostram um papel
risco de demência (16, 45). A sua recomendação a abstémios não tem promissor da nutrição e alimentação na demência, apesar de haver
justificação científica e indivíduos que possuem o hábito de consumir resultados discrepantes (26). À exceção da DiMe, ainda não há evidência
estas bebidas, não devem ultrapassar os limites da ingestão moderada consistente e clara de um papel protetor dos fatores nutricionais aqui
(mulheres: 1 porção/dia e homens: 2 porções/dia) (46). Devido aos seus abordados, sendo necessário mais investigação (17, 63). Embora
riscos devem realizar-se mais estudos (41). ainda não existam ensaios controlados randomizados que confirmem
definitivamente o papel dos nutrientes e dos alimentos, é necessário
Compostos naturais e outros alimentos atender à dificuldade da sua execução e adequação neste âmbito (63).
A huperzina A e a Ginkgo biloba têm demonstrado resultados positivos em As limitações metodológicas e o reduzido número de investigações
alguns estudos em animais e/ou humanos na prevenção ou progressão contribuem para o desafio de estabelecer recomendações e estratégias
da demência e melhorias cognitivas (16, 47). Uma meta-análise concluiu preventivas (63). Não obstante, determinados autores advogam que
que a toma de 240 mg/dia de extrato de Ginkgo biloba estabilizou ou podem ser feitas recomendações nutricionais e alimentares cautelosas,
abrandou o declínio na cognição e no comportamento, em casos de nomeadamente as que diminuem o risco CV, como a adesão à DiMe,
comprometimento cognitivo e de demência (48). Para desenvolver pois parecem não acarretar efeitos adversos (26, 64, 65).
recomendações, é necessário obter evidência consistente de benefícios Como forma de reduzir o risco de demência, pode recomendar-se o
e segurança assim como acautelar interações com fármacos (16, 26, 49). tratamento/controlo dos fatores de risco vascular (17).
Os défices nutricionais devem ser tratados, sugerindo-se que intervenção
Padrões alimentares nutricional na demência seja particularmente benéfica nestes casos (17, 64).
Diversos trabalhos têm investigado o efeito de padrões alimentares Atualmente, em idosos, existe uma elevada prevalência de patologias
no declínio cognitivo e demência (17, 22). Como possíveis protetores, que são fatores de risco vascular, como a hipertensão arterial (17, 66,
destacam-se a Dieta Mediterrânica (DiMe) (22) e a dieta MIND 67). Neste grupo etário também é alta a prevalência dos défices de
(Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay), vitaminas do complexo B, vitamina D e antioxidantes (17, 66, 67).
uma combinação da DiMe e da DASH (Dietary Approaches to Stop Dado o seu possível papel na demência, torna-se ainda mais pertinente
Hypertension) (50). Estudos epidemiológicos mostram evidência assegurar um bom estado nutricional da população, prevenindo estados
moderada relativa a uma associação entre a adesão à DiMe e um de défice e excesso (17, 26, 68).
menor risco de demência, assim como a uma potencial diminuição Para a prevenção da demência, será igualmente importante sensibilizar

 32 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA


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NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA


ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 30-34 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1105  33
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO® | WWW.ACTAPORTUGUESADENUTRICAO.PT | ACTAPORTUGUESADENUTRICAO@APN.ORG.PT
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 34 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TERAPÊUTICA DA DEMÊNCIA


ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 30-34 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1105
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DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA
NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E
DESAFIOS
A.P.
ARTIGO PROFISSIONAL
MEDITERRANEAN DIET AND NUTRITIONAL GENOMICS:
POTENTIALITIES AND CHALLENGES
1 Faculdade das Ciências Ivo Barbedo Faria1*; Cláudia Silva1,2; Maria Gil Ribeiro1,2
da Saúde da Universidade
Fernando Pessoa,
Rua Carlos da Maia, n.º 296,
RESUMO
4200-150 Porto, Portugal
A Dieta Mediterrânica é caracterizada pela abundância de nutrimentos e substâncias com atividade antioxidante e anti-inflamatória,
2 Unidade de Investigação tendo sido implicada na prevenção do envelhecimento celular e de várias doenças crónicas. O conhecimento sobre a influência
da Universidade Fernando global desses nutrimentos na fisiologia celular e humana é crucial para uma melhor compreensão acerca dos benefícios da adesão
Pessoa em Energia,
à Dieta Mediterrânica na saúde e doença. Nesse sentido, as tecnologias “ómicas” são ferramentas analíticas muito atrativas uma
Ambiente e Saúde
(FP-ENAS), Centro vez que fornecem informação molecular funcionalmente inter-relacionada, facultando um nível de conhecimento amplo e integrado
de Investigação em sobre a ação desses nutrimentos. Contudo, a aplicação dessa abordagem metodológica ao estudo dos benefícios da adesão à
Biomedicina (CEBIMED) Dieta Mediterrânica é presentemente limitada, em parte devido à sua complexidade científica e sofisticação tecnológica. O presente
da Universidade Fernando
Pessoa,
trabalho estabelece a perspetiva histórica dos principais avanços científicos e tecnológicos subjacentes à Genómica Nutricional.
Rua Carlos da Maia, n.º 296, Adicionalmente, analisa a contribuição desta área emergente das Ciências da Nutrição para a elucidação dos mecanismos de
4200-150 Porto, Portugal ação da Dieta Mediterrânica e para a evolução da nutrição personalizada.

*Endereço para correspondência: PALAVRAS-CHAVE


Azeite, Dieta Mediterrânica, Genómica nutricional, Nutrigenética, Nutrigenómica, Variação genética
Ivo Barbedo Faria
Faculdade de Ciências da Saúde ABSTRACT
da Universidade Fernando
The Mediterranean Diet is characterised by the abundance of nutrients and substances with antioxidant and anti-inflammatory activity
Pessoa,
Rua Carlos da Maia, n.º 296, and has been implicated in the prevention of cellular aging and several chronic diseases. Knowledge about the global influence of
4200-150 Porto, Portugal these nutrients on cell and human physiology is crucial for a better understanding of the benefits of adherence to Mediterranean Diet
ivocostafaria@hotmail.com
in health and disease. In this sense, “omic” technologies are very attractive analytical tools since they generate functionally interrelated
molecular information, providing a broad and integrated level of knowledge about the action of these nutrients. Nevertheless, the current
Histórico do artigo:
application of this methodological approach to the study of the benefits of adherence to the Mediterranean Diet is currently limited, in
Recebido a 1 de março de 2017 part because of its scientific complexity and technological sophistication. The present work establishes the historical perspective of the
Aceite a 9 de agosto de 2017
main scientific and technological advances underlying Nutritional Genomics. In addition, it analyses the contribution of this emerging field
from Nutritional Sciences to the elucidation of the mechanisms of action of Mediterranean Diet and evolution of personalised nutrition.

KEYWORDS
Olive oil, Mediterranean Diet, Nutritional genomics, Nutrigenetics, Nutrigenomics, Genetic variation

INTRODUÇÃO como uma herança cultural, foi reconhecido pela UNESCO


O padrão alimentar mediterrânico, mais conhecido por como Património Cultural Imaterial da Humanidade (2) e
Dieta Mediterrânica (DM), é um dos que melhor combina a caracteriza-se também pela convivialidade, socialização,
sustentabilidade ambiental e económica e a saúde, pelo que estimulação sensorial, biodiversidade, sazonalidade dos
tem sido amplamente estudado. A DM é nutricionalmente produtos, sustentabilidade, tendo sido associado ao bem-
adequada, sendo caracterizada pelo elevado consumo estar, qualidade de vida e envelhecimento saudável (1,
de hortícolas, frutas frescas, frutos secos e oleaginosas, 3-5). Simultaneamente, este padrão alimentar tem sido
leguminosas e cereais pouco espoados; utilização implicado na prevenção de doenças de etiologia diversa
do azeite como principal gordura de adição; ingestão (6-11). Relativamente a outros padrões alimentares, um dos
moderada a elevada de pescado; consumo moderado de elementos básicos e diferenciadores da DM, e também um
carne de aves, ovos e produtos lácteos, como o iogurte e dos mais bem estudados, é o azeite, que está associado a
o queijo; consumo reduzido de carne vermelha; e ingestão benefícios acrescidos para a saúde (9). O presente trabalho
regular e moderada de bebidas alcoólicas, principalmente analisa o desenvolvimento da Genómica1 Nutricional,
vinho, durante as refeições (1). Este estilo de vida, definido bem como a sua contribuição para o conhecimento dos

 36 DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS


ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 36-41 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1106
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benefícios da adesão à DM e para o desenvolvimento da nutrição 2007 para designar a relação entre genes, nutrição e doença integra,
molecular. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e atualmente, a expressão “genómica nutricional” que se refere à inter-
selecionados os artigos científicos publicados na era pós-genómica e relação das áreas nutrigenómica e nutrigenética8, e à epigenómica9
com informação relevante para a contextualização e aprofundamento nutricional10 (14, 15, 33-35). A nutrigenómica estuda o efeito global dos
dos subtemas a seguir desenvolvidos. componentes do padrão alimentar na fisiologia celular e no fenótipo,
integrando a informação obtida através de tecnologias “ómicas” (Figura 1).
O advento da genómica funcional A nutrigenética analisa a consequência da variabilidade genética na inter-
A era pós-genómica iniciou-se após a conclusão do Projeto do Genoma2 relação nutrimento-doença, procurando compreender o impacto de
Humano em 2003 (12). O desenvolvimento da bioinformática possibilitou diferentes padrões genotípicos sobre vias metabólicas (e.g. implicadas
a recolha, seleção, análise e armazenamento de dados obtidos em na absorção, digestão, transporte, metabolismo e/ou eliminação) ou
larga escala sobre moléculas previamente isoladas e do mesmo tipo celulares potencialmente moduladoras da resposta aos nutrimentos
(DNA, RNA, proteínas ou metabolitos). A caracterização global dessas da dieta. A epigenómica nutricional refere-se à influência do padrão
moléculas foi agrupada em ciências “ómicas”, e.g. transcriptómica3, alimentar na expressão génica11 que é modulada por alterações que
proteómica4 e metabolómica5 (13-15). A genómica funcional combina, não afetam a sequência do DNA.
assim, a utilização de várias ferramentas “ómicas” para caracterizar
a totalidade dos genes de um organismo e compreender a relação, A DM na perspetiva “ómica”
numa escala global, entre genótipo6 e fenótipo7. Simultaneamente, Devido à sua riqueza e diversidade em nutrimentos e substâncias com
ocorreram avanços significativos a nível da caracterização das atividade antioxidante e anti-inflamatória, e.g. o azeite (36), a DM tem
variações genéticas humanas associadas à doença (16-18). Variações sido implicada na manutenção da estabilidade do genoma humano (37).
genéticas que ocorrem com uma frequência típica mínima de 1% entre Apesar da ação coordenada de mecanismos de supervisão e de controlo
indivíduos de uma população são conhecidas por polimorfismos. O de qualidade de alterações no DNA (38), fatores de natureza diversa,
tipo mais comum de polimorfismo envolve a variação num único par exógenos ou endógenos, podem induzir alterações na composição
de bases e é conhecido por polimorfismo de nucleótido único (SNP, e/ou estrutura do DNA, ou promover instabilidade genómica. Essa
single nucleotide polymorphism) (19). Uma vez que o fenótipo resulta instabilidade pode favorecer a ocorrência de mutações (cromossómicas
da interação dinâmica entre o genótipo e o ambiente (e.g. padrão ou génicas) e/ou alterações da expressão génica que, não sendo
alimentar), a existência de variações genéticas interindividuais, herdadas revertidas, poderão conduzir a alterações fisiopatológicas relevantes
ou adquiridas, acentua a complexidade dessa inter-relação (20). Estudos e, eventualmente, a doença (39). O papel da dieta na prevenção de
de associação genómica ampla (GWA, genome wide association study) doenças associadas à instabilidade genómica (e.g. cancro) (40-42)
têm permitido associar SNPs a fenótipos patológicos específicos (21), tem sido investigado utilizando biomarcadores da integridade do
contribuindo para a identificação de variantes genéticas de risco e o genoma como é o caso do comprimento dos telómeros de leucócitos
estabelecimento de relações genótipo-fenótipo (14, 16, 22). (43). No caso da DM, a adesão a este padrão alimentar tem sido
associada a telómeros mais longos e efeito protetor contra danos
Da interação nutrimento-gene à “ómica” nutricional no genoma (44, 45). Efetivamente, se por um lado, a dieta é o fator
A influência de variações genéticas na resposta ao padrão alimentar exógeno a que o ser humano está mais exposto durante toda a sua
não é um conceito recente e um bom exemplo disso são as doenças vida e, por isso, um fator de risco potencial para doenças complexas
metabólicas hereditárias, tais como a fenilcetonúria (MIM 261600), e multifatoriais, por outro lado ela é também um fator ambiental que
defeitos associados à oxidação de ácidos gordos de cadeia muito longa pode ser ajustado para promover um envelhecimento saudável (46). A
(MIM 300100) ou absorção de ferro (hemocromatose, MIM 235200). nível dos fatores endógenos é de salientar que, em contraste com as
Contudo, o estudo da interação nutrimento-gene é uma área das dramáticas transformações sociais, culturais e de padrão alimentar que
Ciências da Nutrição relativamente recente e em expansão. Resultados ocorreram nos últimos 10 000 anos, o genoma humano pode ainda
de estudos in vitro e in vivo têm demonstrado que macronutrimentos, refletir os milhões de anos de seleção que visaram a sua adaptação ao
micronutrimentos e químicos bioreativos (e.g. fitoquímicos e padrão alimentar da Era Paleolítica, não se encontrando integralmente
zooquímicos) presentes na DM (e.g. resveratrol, carotenóides, ácidos adaptado ao padrão alimentar atual. Apesar da sua evolução, esta
gordos monoinsaturados, ácidos gordos essenciais ómega 3 e 6, possibilidade pode justificar, pelo menos em parte, a predisposição
vitaminas C, D e E, e folato) podem modificar (i.e. ativar ou reprimir) a e a incidência das denominadas “doenças da civilização” (19). De
expressão de genes específicos de múltiplas formas, diretamente (e.g. facto, vários exemplos da nutrigenética12 têm demonstrado que uma
como ligantes de fatores de transcrição) ou indiretamente (e.g. atuando dieta inadaptada ao genótipo de um indivíduo pode ser um fator de
em etapas específicas de vias sinalizadoras ou modulando a estrutura risco para doenças monogénicas, poligénicas ou multifatoriais (46,
da cromatina), ajustando as respostas metabólicas a nível molecular e, 47). Assim, para avaliar os benefícios de um padrão alimentar é
desse modo, a inter-relação nutrimento-gene (23-32). necessário considerar as sinergias e o efeito cumulativo proveniente
A expressão “interação nutrimento-gene” usada essencialmente desde de diferentes nutrimentos, assim como a inter-relação com outros

1
Genómica: Estudo da sequência dos genomas (genes e respetivos elementos reguladores) com vista a elucidar a sua estrutura, função, origem e evolução.
2
Genoma: Totalidade do DNA de uma célula.
3
Transcriptómica: Estudo (identificação e quantificação) do transcriptoma, i.e. da totalidade dos transcritos que são produzidos pelo genoma, incluindo o RNA não codificante e o mi-
croRNA, num determinado tipo celular e sob condições específicas.
4
Proteómica: Estudo (identificação e quantificação) do proteoma, i.e. da totalidade de proteínas que são produzidas num contexto biológico específico.
5
Metabolómica: Estudo (identificação e quantificação) do metaboloma, i.e. da totalidade de pequenas moléculas presentes nas células, tecidos e fluídos de um organismo.
6
Genótipo: Conjunto dos genes existentes nas células de um organismo e que constituem o seu património genético.
7
Fenótipo: Características observáveis de um organismo.
8
Nutrigenómica: Estudo da interação entre os componentes da dieta e o genoma visando a caracterização da sua influência global sobre a expressão génica.
9
Epigenómica: Estudo global das modificações epigenéticas (alterações da estrutura da cromatina que não resultam de variações na sequência de bases do DNA) presentes no genoma
de uma célula (epigenoma).
10
Epigenómica nutricional: Estudo da interação entre os componentes da dieta e o epigenoma.
11
Expressão génica: Fluxo da informação do gene para a proteína através da transcrição e da tradução.
12
Nutrigenética: Estudo que visa identificar e compreender a resposta dos diferentes padrões genotípicos aos componentes da dieta.

DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS


ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 36-41 | LICENÇA: cc-by-nc | http://dx.doi.org/10.21011/apn.2017.1106  37
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Figura 1
Interações biológicas dos componentes do padrão alimentar na modulação do fenótipo

Microbioma

Genómica Epigenómica
Alteração do genoma
e.g. SNPs Genoma
Alteração do DNA Epigenoma
epigenoma ~35 000 genes

Transcrição
Transcriptómica
Biologia de
Fatores de transcrição sistemas*
Nutrimentos Transcriptoma
RNA

Bioinformática
Tradução • Ciclo celular
• Diferenciação/
Proteómica proliferação celular
• Apoptose
• Inflamação
Modificações Proteoma • Metabolismo/
pós-traducionais > 100 000 proteínas libertação hormonas

Anabolismo Catabolismo
Metabolómica
Fenótipo
Metaboloma
~5 000 metabolitos

Os nutrimentos e compostos bioativos dos alimentos podem influenciar a expressão génica interatuando, direta ou indiretamente, a diferentes níveis celulares ou, ainda, influenciar a
inter-relação do microbioma intestinal com o genoma/epigenoma. Os números representam a quantidade total aproximada de moléculas presentes na célula humana em cada nível
funcional. A análise e integração da informação obtida nos diferentes níveis funcionais através da bioinformática visa melhorar a compreensão sobre a globalidade das interações que
ocorrem no sistema biológico e que determinam o respetivo fenótipo.
*Biologia de sistemas: Estudo sistemático da globalidade das interações que ocorrem num sistema biológico através da aplicação de metodologias holísticas, e.g. estudo simultâneo
do genoma, transcriptoma, proteoma e metaboloma.

fatores exógenos e fatores individuais endógenos. Tradicionalmente, de variações genéticas na relação nutrimento-genoma, ainda não
os estudos de fatores nutricionais aplicam uma metodologia com uma é possível propor um padrão dietético baseado no perfil genético
variável única. Contudo, as dietas são mais do que a soma dos seus (35, 64-66). No futuro, a aplicação mais generalizada de tecnologias
componentes (48) e a genómica nutricional tem a potencialidade de “ómicas” em virtude da expectável redução progressiva dos seus
contribuir para esse conhecimento. Utilizando a abordagem “ómica”, custos deverá produzir uma quantidade apreciável de informação
vários estudos, essencialmente transcriptómicos, têm demonstrado que terá de ser analisada quanto à influência de vários fatores (e.g.
que a atividade antioxidante e anti-inflamatória da DM (com o azeite origem geográfica e étnica, fatores ambientais tais como a interação
como fonte predominante de gordura) associada ao envelhecimento exercício físico-dieta, epigenética e microbioma13), integrada e validada
mais saudável e maior longevidade, e à redução da incidência de (34, 35, 67-70). Uma vez que a interação nutrimento-gene é dinâmica,
várias doenças (e.g. doenças cardiovasculares, cancro, doenças para além da recolha de informação acerca dos fatores genéticos de
metabólicas, doenças inflamatórias e doenças neurodegenerativas risco para o desenvolvimento da doença, será crucial a atualização
associadas ao envelhecimento, tais como a doença de Parkinson e constante da informação científica por parte de todos os agentes
a doença de Alzheimer), resulta da expressão de genes associados, envolvidos, direta ou indiretamente, no processo de aconselhamento
nomeadamente, com a inflamação, stress oxidativo, ciclo celular e nutricional. Se esta abordagem transdisciplinar e holística das ciências
ritmo circadiano (49-52). Os compostos fenólicos que se encontram da nutrição representa uma oportunidade para a implementação da
em maior quantidade no azeite virgem extra são os secoiridóides nutrição personalizada preventiva baseada em aconselhamento
e linhanos (53). Os seus efeitos cardioprotetores (9, 49, 54, 55), genético (Figura 2), ela também implica novos desafios. Neste âmbito,
anticarcinogénicos (9, 49, 54, 56, 57), neuroprotetores (9, 58, 59), destacam-se as questões legais e éticas associadas à realização de
anti-inflamatórios (54, 60), antienvelhecimento (61) e na síndrome testes genéticos (e.g. proteção e confidencialidade da informação
metabólica (9, 62) têm sido investigados em numerosos estudos. genética, bases de dados genéticos humanos, condições de realização
Assim, existe hoje uma ampla evidência científica sobre a capacidade dos testes genéticos e critérios científicos que subjazem à sua
de modulação da expressão génica e de vias celulares específicas validação), a promoção de uma maior consciencialização da sociedade
por parte não só da DM mas também dos constituintes do azeite, acerca da importância do padrão alimentar na saúde e na doença,
especialmente do azeite virgem extra. No caso do azeite virgem extra, e o envolvimento de equipas multidisciplinares com conhecimento
os alvos biológicos incluem, nomeadamente, recetores, cinases e especializado diferenciado (e.g. geneticista, nutricionista, etc.) na
fatores de transcrição associados com o stress celular e inflamação, atividade de aconselhamento nutricional de base genética (66, 71, 72).
metabolismo lipoproteico e instabilidade genómica (alterações Um aspeto importante dessa atividade é a comunicação da informação
epigenéticas), assim como a regulação do ciclo celular ou do stress genética em linguagem comum uma vez que este tipo de informação,
oxidativo (36, 49, 63). pela sua contemporaneidade, complexidade e sensibilidade, parece
ser menos susceptível a alterações comportamentais do que a
Do binómio nutrigenómica-nutrigenética à nutrição personalizada informação tradicional baseada na análise dos parâmetros dietéticos,
Apesar do conhecimento acumulado acerca do papel biológico da fisiológicos (e.g. nível de colesterol, peso, gordura, etc.) e estilos de
DM e de nutrimentos específicos na saúde e doença e do impacto vida (e.g. prática regular do exercício físico) (73, 74).

Microbioma: Genoma da totalidade dos microrganismos de um sistema.


13

 38 DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS


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Figura 2 o presente artigo fornece e analisa informação relevante no domínio
A genómica nutricional na prevenção da doença da Genómica Nutricional, associada à DM, com manifesto interesse
para a prática da nutrição personalizada. Tratando-se de uma área
Macronutrimentos e
micronutrimentos emergente e promissora das Ciências da Nutrição, a compreensão
dessa informação será fundamental para permitir ao Nutricionista:
Nutrigenómica (i) acompanhar a expectável (r)evolução nesta área, nomeadamente
acerca dos mecanismos de ação dos nutrimentos da DM, na saúde
Padrão Genoma
(genes e elementos
Prevenção e no envelhecimento, e do seu papel na complexa rede de inter-
Alimentar da doença
reguladores)
relações que estabelecem o fenótipo; (ii) compreender se existem
efetivas vantagens da nutrição personalizada, face à abordagem
Nutrigenética
tradicional, para a promoção de uma vida saudável e prevenção de
Variação genética doenças crónicas.

A nutrigenómica refere-se ao estudo do efeito dos nutrimentos e compostos bioativos dos


alimentos na expressão dos genes, i.e. na produção de proteínas funcionais, enquanto a AGRADECIMENTOS
nutrigenética compreende o estudo do impacto de variações genéticas, tais como os SNPs,
na interação nutrimento-genoma, nutrimento-epigenoma e/ou nutrimento-microbioma. A
Trabalho desenvolvido parcialmente no âmbito do projeto UID/
integração dessa informação está subjacente ao conceito de nutrição personalizada que Multi/04546/2013 financiado por Fundos Nacionais através da FCT –
considera, entre outros fatores, a influência das variações genéticas de risco na relação
nutrimento-gene. Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

ANÁLISE CRÍTICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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a integração dessa informação deverá proporcionar uma melhor 3. FAO. An example on a sustainable diet: The Mediterranean diet. In sustainable diets
compreensão acerca dos mecanismos interindividuais responsáveis and biodiversity - Directions and solutions for policy, research and action. Burlingame B
pelas características protetoras da DM e será essencial para analisar o and Dernini S (Eds.), Proceedings of the International Scientific Symposium “Biodiversity
efeito de alterações genéticas sobre a inter-relação nutrimento-gene. and sustainable diets united against hunger”, 2010; 222-93, FAO, Roma. (http://www.
Neste âmbito, destaca-se a importância da realização de estudos em fao.org/docrep/016/i3004e/i3004e.pdf).
larga escala que visem elucidar o papel dos compostos funcionais 4. Serra-Majem L. Nutrición comunitaria y sostenibilidad: concepto y evidencias. Rev
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disciplinares (e.g. genética, bioquímica, fisiologia, microbiologia e bmj.a1344.
imagiologia) será fundamental para promover uma melhor compreensão 6. Bo S, Ponzo V, Goitre I, Fadda M, Pezzana A, Beccuti G, et al.. Predictive role of
acerca da possibilidade de modulação dinâmica da DM face às the Mediterranean diet on mortality in individuals at low cardiovascular risk: a 12-year
necessidades individuais, i.e. em função de fatores ambientais (e.g. follow-up population-based cohort study. J Transl Med. 2016; 14: 91. doi:10.1186/
exercício físico e área geográfica), culturais e sociais (e.g. hábitos de s12967-016-0851-7.
consumo), biológicos (e.g. microbioma) e genéticos. Uma vez que a 7. Di Daniele N, Noce A, Vidiri MF, Moriconi E, Marrone G, Annicchiarico-Petruzzelli
variabilidade genética é um dos fatores que pode alterar a dinâmica M, et al.. Impact of Mediterranean diet on metabolic syndrome, cancer and longevity.
dessa inter-relação, o desenvolvimento da nutrição personalizada, Oncotarget. 2017; 8(5):8947-79. doi:10.18632/oncotarget.13553.
preventiva ou corretiva, implicará necessariamente a análise da relação 8. Dinu M, Pagliai G, Casini A, Sofi F. Mediterranean diet and multiple health outcomes:
genótipo-fenótipo per si e em populações de diferentes etnias já que an umbrella review of meta-analyses of observational studies and randomised trials.
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de uma ampla evidência científica, é expectável que as tecnologias doi:10.3390/ijms17060843.
“ómicas” proporcionem um contributo decisivo para o desenvolvimento, 10. Salas-Salvadó J, Guasch-Ferré M, Lee CH, Estruch R, Clish CB, Ros E. Protective
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DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS


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 40 DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS


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DIETA MEDITERRÂNICA E GENÓMICA NUTRICIONAL: POTENCIALIDADES E DESAFIOS


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O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL:
QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?
A.P.
ARTIGO PROFISSIONAL
THE FOODWASTE IN PORTUGAL: WHAT IS THE ROLE OF
THE NUTRITIONIST?
1 Instituto Superior de Inês Gaspar1*; Renata Ramalho1; Hélder Muteia
Ciências da Saúde
Egas Moniz, Campus
Universitário,
RESUMO
Quinta da Granja, Monte
de Caparica, A população mundial está em crescimento e estima-se que atinja cerca de 8,9 biliões de pessoas em 2050, despoletando na
2829 - 511 Caparica, União Europeia a importância para um desenvolvimento sustentável face às alterações que os sistemas alimentares enfrentam,
Portugal nomeadamente, o choque entre duas realidades, que são o excesso de alimentos e insegurança alimentar e fome. Uma das soluções
para atenuar esta realidade é a redução do desperdício alimentar, existindo vários projetos que estão a ser realizados em Portugal
*Endereço para correspondência: para combater esta problemática. E, por isso, neste trabalho foram realizadas entrevistas a algumas entidades, com recurso a
um questionário constituído por três perguntas de resposta fechada e cinco perguntas de resposta aberta, tendo como objetivo
Inês Gaspar
compreender como é que estas entidades combatem o desperdício alimentar, bem como, encaram a importância do nutricionista
Avenida Coronel Eduardo
Galhardo, n.º 4 - 7.º Esquerdo neste processo. Concluindo-se que este profissional de saúde, perante as entidades inquiridas, pode ter um papel importante ao
1170-105 Lisboa, Portugal longo da implementação dos diversos projetos de combate ao desperdício alimentar existentes em Portugal.
ines_gaspar_@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE
Histórico do artigo:
Cadeia alimentar, Desperdício alimentar, Nutricionista, Perda de alimentos
Recebido a 30 de maio de 2017
Aceite a 13 de dezembro de 2017
ABSTRACT
The world’s population is growing and is estimated to reach 8.9 billion people by 2050. To achieve a sustainable development in the
European Union it is mandatory to change food systems, specifically the shock between two realities, one with excess of available food
and another with food insecurity and hunger. One of the solutions to mitigate this reality is the reduction of food waste, and there are
various projects that are being carried out in Portugal to fight this problem. In this study entities were interviewed, using a questionnaire
composed by three questions with closed answers and five questions with open answers, with the objective of understanding how these
entities combat food waste, as well as to know how they see the importance of the nutritionist in this process. The results showed that
this health professional, for entities, can play an important role in the implementation of various projects to combat food waste in Portugal.

KEYWORDS
Food chain, Food waste, Nutritionist, Food loss

INTRODUÇÃO outro, a pouca disponibilidade de alimentos (10). Uma das


O aumento da população mundial dos 6,3 biliões para 8,9 soluções para atenuar esta discrepância é a redução da
biliões, em 2050 (1, 2), levará a um enorme desafio para perda de alimentos ao longo da cadeia alimentar (11, 12),
assegurar a disponibilidade de alimentos suficientes para designando-se por desperdício alimentar. Este apresenta
satisfazer as necessidades básicas (3), uma vez que situar- uma enorme heterogeneidade de conceitos, mas de um
-se-á, principalmente, esta população em meio urbano (4). modo geral refere-se a alimentos próprios para consumo,
Sendo, por isso, importante garantir que o consumo seja desde a produção até ao consumidor final, que não são
económico, social e ecologicamente sustentável (5). disponibilizados para o consumo humano, representando
A União Europeia, dada esta realidade, tem como um dos cerca de 50% (13, 14). Isto é, cerca de 1,6 biliões de toneladas
principais objetivos criar políticas de consumo e produção de alimentos por ano no mundo são desperdiçados,
sustentável (6), visto que o sistema alimentar atual, devido cerca de 89 milhões de toneladas na Europa-27 (15, 16).
às alterações dos padrões alimentares (7), apresenta uma Contribuindo, assim, para a insustentabilidade da cadeia
distribuição desigual em termos de acesso aos alimentos alimentar pois, os escassos recursos naturais gastos em
embora estes sejam suficientes para alimentar a população crescimento, produção, processamento e transporte dos
mundial (5, 8). Por um lado, deparamo-nos com o excesso alimentos, representando 28% na União Europeia, são
alimentar, devido ao aumento exponencial de ofertas e do consequentemente desperdiçados (17, 18).
marketing abusivo dos produtos já existentes (9) e, por Nos países em desenvolvimento, este desperdício ocorre

 42 O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?


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em maior grau na distribuição e venda dos produtos alimentares, alimentos, como, restaurantes, hotéis, entre outros, e outras Associações
devido à falta de técnicas agrícolas avançadas, sistemas de transporte, de Solidariedade que encaminham estes bens alimentares para quem
infraestruturas desadequadas e falta de conhecimento sobre a mais necessita. A Re-food que recolhe das fontes de alimentos bens
manipulação de alimentos (13, 19, 20). Enquanto que, nos países alimentares confecionados ou ainda em crú/embalados, com o prazo
desenvolvidos, ocorre em toda a cadeia alimentar, principalmente, no de validade a expirar ou embalagens deterioradas, sendo posteriormente
consumidor, devido as más práticas na aquisição, armazenamento e entregues num centro de operações e distribuídos às famílias carenciadas.
confeção dos produtos alimentares (12, 20). O Banco Alimentar, à semelhança da Re-food que recolhe excedentes da
A redução do desperdício alimentar é algo complexo que necessita indústria, da agricultura, dos mercados abastecedores e da distribuição,
de mudanças tecnológicas, práticas, comportamentais e políticas, para em seguida serem utilizados pelas instituições apoiadas para
sendo importante a intervenção de todos os atores da cadeia de confecionar refeições ou entregar sob a forma de cabazes, tendo também
abastecimento, como, agricultores, empresas agroalimentares, campanhas de recolha de produtos em superfícies comerciais. A Lipor -
consumidores (5, 12, 20). Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto,
entidade que desenvolve o projeto “Dose Certa”, tendo como objetivos
OBJETIVOS principais reduzir o desperdício alimentar e promover uma alimentação
O presente trabalho pretende analisar, em Portugal, que tipo de projetos equilibrada, sendo desenvolvido em restaurantes e cantinas escolares e
e métodos estão a ser realizados no combate ao desperdício alimentar, empresariais com o apoio da Associação Portuguesa de Nutrição. Em
bem como, qual a importância da colaboração do nutricionista. paralelo, desenvolveu a Horta da Formiga, onde são disponibilizados
workshops sobre culinária sustentável; compostagem caseira e
METODOLOGIA desperdício alimentar, e jardinagem e agricultura biológica. Outra
Os resultados apresentados neste trabalho tiveram como base a entidade é a Fruta Feia, que compra frutas e hortícolas diretamente
realização de uma entrevista, apresentando esta 3 perguntas de aos produtores, que não os conseguem escoar por não apresentarem
resposta fechada, designadamente: “Alguma vez tiveram algum tipo as características estéticas necessárias para serem comercializados
de apoio de um nutricionista?”; “Acha importante ter a presença de em grandes mercados, sendo vendidos a associados. A União das
um nutricionista no seu projeto?” e “Tem alguma noção se produzem Misericórdias,detém também diversos projetos ao longo de todas as
desperdício alimentar?”; e 5 perguntas de resposta aberta: “Fale-me um misericórdias para combaterem o desperdício alimentar, como por
pouco do projeto”; “Como combatem o desperdício alimentar”; “Qual exemplo, a criação de hortas para a sensibilização do desperdício
acha que seria o papel de um nutricionista nesse projeto”; “Que barreiras alimentar que é feito. A oitava entidade, é a Cozinha Solidária, da
o projeto apresenta ou acha que apresenta no combate ao desperdício Associação Integrar, que tem como objetivo transmitir competências a
alimentar” e “Qual seria a solução para que este desperdício não ocorra”. grupos socialmente desfavorecidos no âmbito promoção de programas
Tendo sido esta entrevista realizada nos meses de maio e julho de 2016, de formação específica nas áreas da cozinha através do Programa de
por meio de reuniões, contacto telefónico, via Skype ou por correio Treino de Competências em Gestão Doméstica – Economia Familiar.
eletrónico, a 8 entidades que desenvolvem ou desenvolveram projetos Além disso, distribui diariamente refeições já confecionadas, em regime
na área do desperdício alimentar em Portugal, nomeadamente, Cáritas, de take-away, a pessoas com carência social.
Zero Desperdício, Re-food, Banco Alimentar, Lipor, Fruta Feia, União
das Misericórdias e Cozinha Solidária. Enquadramento do nutricionista nos projetos
A seleção das entidades para a realização das entrevistas foi feita através As entidades inquiridas embora tenham projetos com o objetivo similar
de uma minuciosa busca via online de entidades que se encontrem ou de combater o desperdício alimentar, a forma como os desenvolvem é
já tenham desenvolvido projetos no âmbito do combate ao desperdício bastante diferente. E, por isso, das 8 entidades entrevistadas apenas 7
alimentar. Sendo escolhidas todas as entidades encontradas nesta responderam à questão se tiveram apoio de um nutricionista em alguma
pesquisa, e com trabalhos desenvolvidos no âmbito do combate ao fase do projeto, em que 57% (Gráfico 1) respondeu que sim. Embora
desperdício alimentar em Portugal. 75% (Gráfico 1) destas entidades defende a importância da presença de
Os dados obtidos das perguntas de resposta fechada foram tratados no um nutricionista no seu projeto, podendo este, desempenhar diversos
IBM SPSS Statistics 22, Statistical Package for the Social Sciences, para papéis abrangendo as várias fases dos projetos existentes no combate
Windows 2010 e no Excel, tendo sido utilizada a estatística descritiva. ao desperdício alimentar. Por isso, o apoio que este profissional de
As respostas de pergunta aberta foram analisadas fornecendo dados
qualitativos, permitindo realizar um enquadramento para perceber o Gráfico 1
modo como as diferentes entidades atuam no combate ao desperdício Resultados das 3 questões de resposta fechada às 8 entidades
alimentar. Bem como, aferir perante as entidades o reconhecimento de entrevistadas
produção de desperdício alimentar, barreiras e soluções e a importância Resultados
dos nutricionistas nos seus diferentes projetos.
75%

RESULTADOS 57,10% 57,10%

Descrição dos projetos 42,90% 42,90%


Neste trabalho foram realizadas entrevistas a 8 entidades que têm ou
25%
tiveram projetos na área do desperdício alimentar. Estas 8 entidades
são a Cáritas, que detém diversas ações de sensibilização no âmbito
do desperdício alimentar, através de como executar uma eficiente
conservação dos alimentos e como ter uma alimentação equilibrada Tem/teve apoio de Importante ter Tem noção que produz
nutricionista nutricionista desperdício alimentar
e moderada. O movimento Zero Desperdício, que surgiu a partir da
Associação Dariacordar, e que estabelece parcerias entre fontes de Sim Não

O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?


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saúde dá é visto pelas diversas entidades como uma benesse para CONCLUSÕES
identificar carências e dar uma resposta eficaz, através da elaboração O desperdício alimentar é uma problemática que está a ganhar alguma
de técnicas de monitorização dos métodos implementados para que importância nas sociedades atuais, incentivando a criação de políticas
possam ser estruturadas abordagens e desenvolvidos conteúdos e para promover a redução do desperdício alimentar atualmente gerado.
atividades para ações de sensibilização. Assim como, devido aos vastos Apesar de ainda existirem muitas alterações que têm de ser efetuadas,
conhecimentos sobre os alimentos e alimentação, os nutricionistas, com esta entrevista realizada junto das diversas entidades nacionais
na perspetiva destas entidades, têm também um papel importante na que criam formas de atenuar esta realidade, uma das mudanças mais
partilha de conhecimentos técnicos importantes para as adaptações mencionadas foi a mudança de mentalidades e comportamentos
alimentares com o objetivo de mostrar à comunidade que a refeição que têm um papel fundamental para que a redução do desperdício
precisa de ser abundante em qualidade nutricional e não em quantidade. alimentar aconteça. A par desta reflexão, as entidades participantes
também consideram que a presença de um nutricionista nos mais
Reconhecimento da produção de desperdício alimentar, barreiras variados projetos, é importante para fazer o elo de ligação entre os
e soluções apresentadas conhecimentos técnicos e a aplicabilidade na população.
A questão relativa a se as 8 entidades tinham noção que produzem
desperdício alimentar, das apenas 7 entidades que responderam a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
esta questão, 57% (Gráfico 1) confirma, mesmo não tendo meio de 1. Cohen JE. HumanPopulation: TheNext Half Century. Science. 2003; 302
contabilizar a quantidade de desperdício que produz. Desperdício este (5648):1172-1175.
que advém de comida que se deteriora no transporte até às instituições 2. Hertwich EG, van der Voet E, Suh S, Tukker A. Assessing the Environmental
e durante o armazenamento ou produtos como frutas ou legumes que Impacts of Consumption and Production: Priority Products and Materials.Nairobi,
são doados em grandes quantidades e necessitam de ser selecionados. Kenya: United Nations Environment Programme. 2010.
As barreiras apresentadas por algumas entidades no combate ao 3. Dou Z, Ferguson JD, Galligan DT, Kelly AM, Finn SM, Giegengack R. Assessing U.S.
desperdício alimentar são a falta de sensibilização da comunidade food wastage and opportunities for reduction. Global Food Security. 2016; 8:19-26.
em geral para a importância de um consumo com consciência. Bem 4. Notarnicola B, Tassielli G, Renzulli PA, Castellani V, Serenella S. Environmental
como, a falta de logística que a maior parte destas entidades tem, pois impacts of food consumption in Europe. JournalofCleanerProduction.2016.
muitas funcionam à base do voluntariado, impedindo que consigam 5. Thyberg KL, Tonjes DJ. Drivers of food waste and their implications for sustainable
atuar de forma eficaz na redução em massa do desperdício alimentar policy development. Resources, Conservationand Recycling. 2016; 106:110-123.
produzido. Visto que é da responsabilidade de todos inverter esta 6. Liobikienė G,DagiliūtėR Therelationshipbetweeneconomicandcarbonfootprintchanges
situação, as entidades consideram necessária sua união, assim como, inEU: Theachievementsofthe EU Sustainable consumption and production policy
a articulação ao longo de toda a cadeia de abastecimento para que haja implementation. Environmental Science & Policy.2016; 61:204-211.
uma mudança de comportamentos e de mentalidades. 7. Contreras J. A modernidade alimentar: entre a superabundância e a insegurança.
História: Questões & Debates. 2011; 54(1):19-45.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 8. Fanzo J. Ethical issues for human nutrition in the context of global food security and
A Assembleia da República decretou que 2016 seria o ano de combate sustainable development. Global FoodSecurity. 2015; 7:15-23.
ao desperdício alimentar em Portugal (21), tendo sido criadas estratégias 9. Fonseca AB, Souza TSN, Frozi DS, Pereira RA. Modernidade alimentar e consumo
que vão ao encontro deste objetivo, sendo uma delas a recuperação de alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição.
dos excedentes alimentares ao longo da cadeia alimentar, através da CienSaudeColet. 2011; 16(9):3853-3862.
doação dos produtos a entidades que têm programas de redistribuição 10. Bleil SI. O Padrão Alimentar Ocidental: considerações sobre a mudança de hábitos
ou de doação de alimentos (22). no Brasil. Revista Cadernos de Debate. 1998; 6(1):1-25.
Apesar de todos os esforços, combater o desperdício é um enorme 11. Priefer C, Jörissen J, Bräutigam KR. Food waste prevention in Europe–A cause-
desafio pois não resulta apenas de um único fator (5). Existindo, assim, driven approach to identify the most relevant leverage points for action. Resources,
barreiras que impedem o seu eficaz combate por parte das entidades ConservationandRecycling. 2016; 109:155-165.
inquiridas, como os padrões atuais de consumo, falta de informação e 12. Cicatiello C, Franco S, Pancino B, Blasi E. The value of food waste: An exploratory
sensibilização e, preocupações sobre a eficácia dos métodos usados (22). study on retailing. Journal of Retailing and Consumer Services. 2016; 30:96-104.
Para além de todo o desperdício alimentar produzido ao longo de toda 13. Vaqué LG Food loss and waste in the European union: a newchallenge for
a cadeia, existe também produção de desperdício alimentar por parte thefoodlaw. EuropeanFoodandFeedLaw Review. 2015; 20(1): 20-33.
das entidades que lutam para a sua redução. Fenómeno este que não 14. Parfitt J, Barthel M, Macnaughton S. Foodwastewithinfoodsupplychains:
consegue ter um meio de contabilização para que estas entidades quantificationandpotential for change to 2050. Philosophical Transactions of the Royal
possam melhorar esta realidade que lhes é transversal. E, por isso, Society of London B: Biological Sciences. 2010; 365:3065-3081.
desde junho de 2016 foi desenvolvido um padrão global de medição 15. Woolley E, Garcia-Garcia G, Tseng R, Rahimifard S. Manufacturingresilience via
da perda e desperdício alimentar, através do FLWProtocol, que consiste inventory management for domesticfoodwaste. Procedia CIRP. 2016; 40:372-377.
num conjunto abrangente de definições e requisitos de comunicação 16. Monier V, Mudgal S, Escalon V, O’Connor C, Anderson G, Montoux H, et al.
para se medir, relatar e gerir de forma consistente e confiável a perda e Preparatory Study on Food Waste across EU 27. European Commission (DG ENV)
o desperdício alimentar (23). Directorate C-Industry. Final Report. 2010:1-205.
Perante esta realidade, as entidades participantes veem o nutricionista 17. Mesjasz-Lech A. (2014). Municipal waste management in context of sustainable
como uma mais valia para o desenvolvimento das várias fases dos urban development. Procedia-Social and Behavioral Sciences. 2014; 151:244-256.
diversos projetos, pois com os seus conhecimentos pode promover uma 18. Kummu M, De Moel H, Porkka M, Siebert S, Varis O, Ward PJ. Lost food, wasted
aproximação entre o conhecimento popular e o científico, proporcionando resources: Global food supply chain losses and their impacts on fresh water, cropland,
alterações nos hábitos alimentares da população, nomeadamente, no que and fertiliser use. Science of the Total Environment. 2012;438: 477-489.
toca a mudanças de comportamentos que vão influenciar a alteração da 19. Girotto F, Alibardi L, Cossu R. Food waste generation and industrial uses: a review.
atitude face à produção de desperdício alimentar (24). Waste Management. 2015; 45:32-41.

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20. Priefer C, Jörissen J, Bräutigam KR. Food waste prevention in Europe–A cause-
driven approach to identify the most relevant leverage points for action. Resources,
Conservationand Recycling. 2016; 109:155-165.
21. Lei nº 65/2015 de 17 de Junho: Combater o desperdício alimentar para promover
uma gestão eficiente dos alimentos, Diário da República, 1ª série, nº 116(2105).
22. Hutner P, Thorenz A, Tuma A. Waste prevention in communities: a comprehensive
survey analyzing status quo, potencials, barriers and measures. Journal of cleaner
production.2016.
23. United States: 2017 (citado em 4 junho 2017). Disponível em: http://flwprotocol.
org/Fwlprotocol.org 2027 Food loss and waste protocol.
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Básica de Saúde. Revista Práxis. 2009; 1(2):11-15.

O DESPERDÍCIO ALIMENTAR EM PORTUGAL: QUAL O PAPEL DO NUTRICIONISTA?


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7º Results; 8º Discussion; 9º Conclusions; - 10º Acknowledgments (optional); 11º References;
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The text should start with a structured abstract not exceeding 300 words: Background; Material differential treatment.
and Methods, Results, Conclusions. It must be presented in English and Portuguese. Clinical cases must present the following structure:
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The units should be expressed as SI units. It must be explicit and explanatory of all aspects characterizing the clinical case, based on actual
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The methodology must be explicit and explain the techniques, methods and practices used. It Full papers will normally present no more than 8 pages (including the text, references, figures
also must describe all the materials, people and animals used and the time reference in which and tables and excluding the title page). The articles must be written in Arial font, size 12, 1.5
the study/investigation and statistical analysis (when applicable) were carried out. The methods line spacing, normal margins, and with the indication of the line number in the lateral margin.
used must be accompanied by the corresponding references. This category includes articles that address one approach or opinion on a particular subject,
When reporting experiments on human subjects it is necessary to indicate the use of Informed technique, methodology or activity carried out within the professional practice of Nutritionists.
Consent and approval of the investigation project by an Ethics Committee. Authors also should Articles of professional nature must present the following structure:
indicate that the experiments where standards accordingly to Helsinki Declaration. 1º Title; 2º Abstract; 3º Keywords; 4º Main text; 5º Critical Analysis; 6º Conclusions;
When reporting experiments on animals, it is necessary to indicate the care used for the 7º Acknowledgments (optional); 8º References (if used); 9º Figure, tables and respective
treatment of them. legends.
7.º Results The orientations of these points were mentioned above in points 1 and 2.
The results should be presented in a clear and didactic way for easy perception.
The figures and tables should be referred, indicating their name and Arabic number between EDITORIAL PROCESSING
parentheses. Example: (Figure 1) Upon reception all manuscripts are numbered. The number of the manuscript is then
It should not be exceeded a limit of 6 representations in total figures, graphs and tables. communicated to the authors and it identifies the manuscript in the communication between
8.º Discussion the authors and the journal.
It is intended to present a discussion of the results obtained, comparing them with previous The manuscripts (anonymous) will be examined by the Editorial Board and by the Scientific
studies and related references indicated in the text by Arabic numbers in parenthesis. The Board of the Journal, as well as by two elements of a group of reviewers designated by the
discussion should also include the principal advantages and limitations of the study and its Boards.
implications. Following the arbitration, the manuscripts may be accepted without changes, rejected or
9.º Conclusions accepted after the authors correct the changes proposed by the reviewers. In this case, the
The major conclusions of the study should be presented. Statements and conclusions not proposed changes are sent to the authors and they have a deadline to make them. The rejection
based in the results obtained should be avoided. of a manuscript will be based on two negative opinions emitted by two independent reviewers.
10.º Acknowledgements In the presence of a negative and a positive opinion, the decision of the manuscript publication
These are optional. or rejection will be assumed by the Editor of the Journal. Upon acceptance of the manuscript for
If there are conflicts of interest on behalf of any of the authors, they should be declared in this publication, proof review should be made within a maximum of three days, where only spelling
section. The source of funding for the study, if any, should also be mentioned. errors can be corrected.
11.º References The article will contain the submission date and the date of the approval of the manuscript for
References should be numbered by order of entry in the text and indicated between parentheses. publication.
The citation of an article should respect the following order:
Author(s) name(s). Title. Year of publication; Volume: pages
Example: Rodrigues S, Franchini B, Graça P, de Almeida MDV. A New Food Guide for the
Portuguese Population. Journal of Nutrition Education and Behavior 2006; 38: 189 -195

ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 47 | LICENÇA: cc-by-nc  47


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NORMAS
DE PUBLICAÇÃO

A Acta Portuguesa de Nutrição é uma revista de índole científica e profissional, propriedade Devem citar-se apenas artigos publicados (incluindo os aceites para publicação “in press”) e
da Associação Portuguesa de Nutrição, que tem o propósito de divulgar trabalhos de deve evitar-se a citação de resumos ou comunicações pessoais.
investigação ou de revisão na área das Ciências da Nutrição para além de artigos de Devem rever-se cuidadosamente as referências antes de enviar o manuscrito.
carácter profissional, relacionados com a prática profissional do Nutricionista. Esta Revista 12.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas
dá continuidade ao trabalho iniciado pela Revista Nutrícias, lançada em 2001. Ao longo do artigo a referência a figuras, gráficos e tabelas deve estar bem percetível, devendo
Tem periodicidade trimestral, com uma edição em papel (abril-junho) e as restantes em ser colocada em número árabe entre parêntesis.
formato exclusivamente digital e disponibilizadas no website da revista. É distribuída Estas representações devem ser colocadas no final do documento, a seguir às referências
gratuitamente junto dos associados da Associação Portuguesa de Nutrição, instituições da bibliográficas do artigo, em páginas separadas, e a ordem pela qual deverão ser inseridos terá
área da saúde e nutrição e empresas agroalimentares. que ser a mesma pela qual são referenciados ao longo do artigo.
São aceites para publicação os artigos que respeitem os seguintes critérios: As legendas deverão aparecer por cima das figuras, gráficos ou tabelas, referenciando-se com
- Apresentação de um estudo científico atual e original ou uma revisão bibliográfica de um numeração árabe (ex.: Figura 1). Devem ser o mais explícitos possível, de forma a permitir uma
tema ligado à alimentação e nutrição; apresentação de um caso clínico; ou um artigo de fácil interpretação do que estiver representado. No rodapé da representação deve ser colocada
carácter profissional com a descrição e discussão de assuntos relevantes para a atividade a chave para cada símbolo ou sigla usados na mesma.
profissional do Nutricionista. O tipo de letra a usar nestas representações e legendas deverá ser Arial, de tamanho não
- Artigos escritos em Português (com o Acordo Ortográfico de 1990) ou Inglês. inferior a 8.
Os artigos devem ser submetidos para publicação diretamente no site:
www.actaportuguesadenutricao.pt. 2. ARTIGOS DE REVISÃO
O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos
REDAÇÃO DO ARTIGO e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 12 páginas e deve ser escrito
Serão seguidas diferentes normas de publicação de acordo com o tipo de artigo: em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de
1. Artigos originais número de linha na margem lateral.
2. Artigos de revisão Caso o artigo seja uma revisão sistemática deve seguir as normas enunciadas anteriormente
3. Casos clínicos para os artigos originais. Caso tenha um carácter não sistemático deve ser estruturado de
4. Artigos de carácter profissional acordo com a seguinte ordem:
1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Texto principal; 5.º Análise crítica; 6.º Conclusões;
1. ARTIGOS ORIGINAIS 7.º Agradecimentos (facultativo); 8.º Referências Bibliográficas; 9.º Figuras, gráficos, tabelas e
O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, grá- respetivas legendas.
ficos e tabelas) não deve ultrapassar as 10 páginas e deve ser escrito em letra Arial, tamanho Os pontos comuns com as orientações referidas anteriormente para os artigos originais
12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de número de linha na deverão seguir as mesmas indicações.
margem lateral.
O artigo de investigação original deve apresentar-se estruturado pela seguinte ordem: 4.º Texto principal
1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Introdução; 5.º Objetivo(s); 6.º Metodologia; Deverá preferencialmente incluir subtítulos para melhor perceção dos vários aspetos do tema
7.º Resultados; 8.º Discussão dos resultados; 9.º Conclusões; 10.º Agradecimentos (facultativo); abordado.
11.º Referências Bibliográficas; 12.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas. 5.º Análise crítica
Deverá incluir a visão crítica do(s) autor(es) sobre os vários aspetos abordados.
1.º Título
O título do artigo deve ser o mais sucinto e explícito possível, não ultrapassando as 15 palavras. 3. CASOS CLÍNICOS
Não deve incluir abreviaturas. Deve ser apresentado em Português e em Inglês. O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos
2.º Resumo e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 8 páginas e deve ser escrito
O resumo poderá ter até 300 palavras, devendo ser estruturado em Introdução, Objetivos, em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de
Métodos, Resultados e Conclusões. Deve ser apresentado em Português e em Inglês. número de linha na margem lateral.
3.º Palavras-Chave Considera-se um caso clínico um artigo que descreva de forma pormenorizada e fundamentada
Indicar uma lista por ordem alfabética com um máximo de seis palavras-chave do artigo. Deve um caso cuja publicação se justifique tendo em conta a sua complexidade, diagnóstico,
ser apresentada em Português e em Inglês. raridade, evolução ou tipo de tratamento diferenciado.
4.º Introdução Estes artigos devem ser estruturados pela seguinte ordem:
A introdução deve incluir de forma clara os conhecimentos anteriores sobre o tópico a abordar 1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Introdução; 5.º Descrição do Caso Clínico;
e a fundamentação do estudo. 6.º Análise crítica; 7.º Conclusões; 8.º Agradecimentos (facultativo); 9.º Referências Bibliográficas;
As abreviaturas devem ser indicadas entre parêntesis no texto pela primeira vez em que foram 10.º Figuras, gráficos, tabelas e respetivas legendas.
utilizadas. Os pontos comuns com as orientações referidas anteriormente para os artigos originais
As unidades de medida devem estar de acordo com as normas internacionais. deverão seguir as mesmas indicações.
As referências bibliográficas devem ser colocadas ao longo do texto em numeração árabe,
entre parêntesis curvos. 5.º Descrição do Caso Clínico;
5.º Objetivo(s) Deve ser explícita e explicativa de todos os aspetos que caracterizem o caso clínico, baseado
Devem ser claros e sucintos, devendo ser respondidos no restante texto. em casos reais, mas sem referência direta ao indivíduo apresentado. Apenas deverão ser indi-
6.º Metodologia cados dados meramente exemplificativos ou vagos (ex.: indivíduo A).
Deve ser explícita e explicativa de todas as técnicas, práticas e métodos utilizados, devendo
fazer-se igualmente referência aos materiais, pessoas ou animais utilizados e qual a referência 4. ARTIGOS DE CARÁCTER PROFISSIONAL
temporal em que se realizou o estudo/pesquisa e a análise estatística nos casos em que se O número de páginas do artigo (incluindo o texto, referências bibliográficas e as figuras, gráficos
aplique. Os métodos utilizados devem ser acompanhados das referências bibliográficas cor- e tabelas e excluindo a página de título) não deve ultrapassar as 8 páginas e deve ser escrito
respondentes. em letra Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, margens normais e com indicação de
Quando se reportarem investigações com humanos, é necessário indicar o uso do Consen- número de linha na margem lateral.
timento Informado e a aprovação do projeto de investigação por uma Comissão de Ética. Os Nesta categoria inserem-se os artigos que visem uma abordagem ou opinião sobre um deter-
autores também devem indicar que os procedimentos experimentais estiveram de acordo com minado tema, técnica, metodologia ou atividade realizada no âmbito da prática profissional do
a Declaração de Helsínquia.No reporte de experiências com animais, é necessário indicar os Nutricionista.
cuidados utilizados para o tratamento dos mesmos. Estes artigos devem ser estruturados pela seguinte ordem:
7.º Resultados 1.º Título; 2.º Resumo; 3.º Palavras-Chave; 4.º Texto principal; 5.º Análise crítica; 6.º Conclusões;
Os resultados devem ser apresentados de forma clara e didática para uma fácil perceção. Deve 7.º Agradecimentos (facultativo); 8.º Referências Bibliográficas; 9.º Figuras, gráficos, tabelas e
fazer-se referência às figuras, gráficos e tabelas, indicando o respetivo nome e número árabe e respetivas legendas.
entre parêntesis. Ex.: (Figura 1). Não deverá ser excedido um limite de 6 representações no total As orientações destes pontos foram referidas anteriormente nos pontos 1 e 2.
de figuras, gráficos e tabelas.
8.º Discussão dos resultados TRATAMENTO EDITORIAL
Pretende-se apresentar uma discussão dos resultados obtidos, comparando-os com Aquando da receção todos os artigos serão numerados, sendo o dito número comunicado aos
estudos anteriores e respetivas referências bibliográficas, indicadas ao longo do texto através autores e passando o mesmo a identificar o artigo na comunicação entre os autores e a revista.
de número árabe entre parêntesis. A discussão deve ainda incluir as principais limitações e Os textos, devidamente anonimizados, serão então apreciados pelo Conselho Editorial e pelo
vantagens do estudo e as suas implicações. Conselho Científico da revista, bem como por dois elementos de um grupo de Revisores indi-
9.º Conclusões gitados pelos ditos Conselhos.
De uma forma breve e elucidativa devem ser apresentadas as principais conclusões do estudo. Na sequência da citada arbitragem, os textos poderão ser aceites sem alterações, rejeitados
Devem evitar-se afirmações e conclusões não baseadas nos resultados obtidos. ou aceites mediante correções, propostas aos autores. Neste último caso, é feito o envio
10.º Agradecimentos das alterações propostas aos autores para que as efetuem dentro de um prazo estipulado. A
A redação de agradecimentos é facultativa. rejeição de um artigo será baseada em dois pareceres negativos emitidos por dois revisores
Se houver situações de conflito de interesses devem ser referenciados nesta secção. independentes. Caso surja um parecer negativo e um parecer positivo, a decisão da sua
11.º Referências Bibliográficas publicação ou a rejeição do artigo será assumida pelo Editor da revista. Uma vez aceite o artigo
Devem ser numeradas por ordem de citação ou seja à ordem de entrada no texto, colocando-se para publicação, a revisão das provas da revista deverá ser feita num máximo de três dias úteis,
o número árabe entre parêntesis curvos. onde apenas é possível fazer correções de erros ortográficos.
A indicação das referências bibliográficas no final do artigo deve ser apresentada segundo o No texto do artigo constarão as indicações relativas à data de submissão e à data de aprovação
estilo Vancouver. para publicação do artigo.

 48 ACTA PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO 11 (2017) 48 | LICENÇA: cc-by-nc


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