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Alimentos Funcionais

Profa. Glaucia Carielo Lima


Um breve histórico
1ª METADE SÉCULO 20:
SUBNUTRIÇÃO E
DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS

2º METADE SÉCULO 20:


↑ OBESIDADE E
Outras DCNT

SÉCULO 21:
Comprovados efeitos fisiológicos específicos
de certos alimentos; criação de “claims
funcionais e de saúde”
Um breve histórico
Pessoas que viviam na Groenlândia e
nos países do Mediterrâneo
apresentavam baixa prevalência de:
Havia uma hipótese de que esta baixa
prevalência estava relacionada ao
✓ Doenças cardiovasculares
consumo de alguns alimentos
✓ Câncer
✓ Doenças neurodegenerativas presentes nas dietas dessas
populações, ricas em peixes, gorduras
poli e monoinsaturadas, frutas, azeite,
vinho...
NUTRIGENÔMICA → como
alimentos, padrões alimentares
complexos ou nutrientes e
outros compostos bioativos
ingeridos influenciam o genoma.
Alimentação

Estilo de vida Processo


saúde/doença
Atividade
física
Nutrigenética → como a
constituição genética de uma
pessoa afeta sua resposta à Há algumas décadas os pesquisadores começam a
dieta. encontrar evidências sobre as interações entre
genes e dieta
Alimentos
funcionais
• Termo - utilizado pela primeira vez no Japão
(1985) - indústrias passaram a enriquecer
alimentos com ingredientes específicos,
diferenciando-os em relação aos benefícios
oferecidos à saúde, quando comparados aos
alimentos nas formas tradicionais.

• A ausência de uma legislação que


padronizasse mundialmente o termo, fez
surgir várias denominações → nutracêuticos,
farma-alimentos e alimentos medicinais.
Nutracêutico
Suplementos dietéticos que apresentam uma
forma concentrada de um possível agente bioativo
de um alimento, presente em uma matriz não
alimentícia, usado para aumentar a saúde, em
dosagens que excedem àquelas que poderiam ser
obtidas do alimento normal.

Ex.: pílulas de compostos bioativos concentrados.

Journal of Nutrition, v.132, p.3772-3781, 2002


No japão
• Em 1991- Esses alimentos passaram a ser
conhecidos como “Alimentos para Uso Específico de
Saúde” – Foods for Specified Health Use (FOSHU).

• O princípio foi rapidamente adotado mundialmente


(diferente em cada país, de acordo com suas
legislações).
“Um alimento pode ser considerado como funcional se for satisfatoriamente
demonstrado que afeta beneficamente uma ou mais funções no corpo, além
do seu efeito nutricional adequado, de maneira relevante, para ou melhorar o
nível de saúde e bem-estar e/ou reduzir o risco de doença.

Um alimento funcional deve continuar sendo um alimento e deve demonstrar


os seus efeitos em quantidades que possam normalmente ser ingeridas na
dieta: não é uma pílula ou uma cápsula, mas parte do padrão alimentar
normal”

(1999) FUFOSE - Functional Food Science in Europe (O projeto visou estabelecer uma abordagem
baseada em ciência para conceitos em ciência dos alimentos funcionais) organizado pelo ILSI -
International Life Sciences Institute
Legislação Brasileira
• A legislação brasileira não define alimento
funcional.

• A nossa legislação define alegação de


propriedade funcional e alegação de propriedade
de saúde e estabelece as diretrizes para sua
utilização, bem como as condições de registro
para os alimentos com alegação de propriedade
funcional e, ou, de saúde (ANVISA; RDC n
18/1999).
Legislação Brasileira
• Não são permitidas alegações que façam
referência à cura ou à prevenção de
doenças.

• O alimento ou ingrediente que alegar


propriedades funcionais e, ou, de saúde
pode, além de funções básicas, quando se
tratar de nutriente, produzir efeitos
metabólicos e, ou, fisiológicos e, ou,
efeitos benéficos à saúde, devendo ser
seguro para consumo sem a supervisão
médica.

(ANVISA; RDC n 18/1999).


Legislação
Brasileira
• O registro na Anvisa é obrigatório
tanto para as substâncias bioativas e
probióticos isolados, como para
alimentos com alegação de
propriedade funcional e, ou, de
saúde.

(ANVISA; RDC n 18/1999).


Legislação Brasileira

No caso de uma nova propriedade funcional, há


necessidade de comprovação científica da alegação
de propriedades funcionais e ou de saúde e da
segurança de uso, segundo as Diretrizes Básicas
para Avaliação de Risco e Segurança dos Alimentos.

(ANVISA; RDC n 18/1999).


Legislação Brasileira

Evidências científicas aplicáveis:


• composição química com caracterização molecular,
• ensaios bioquímicos, nutricionais e ou fisiológicos e
ou toxicológicos em animais de experimentação;
• estudos epidemiológicos; ensaios clínicos;
• evidências abrangentes da literatura científica;
comprovação de uso tradicional, observado na
população, sem associação de danos à saúde.
(ANVISA; RDC n 18/1999).
Legislação Brasileira

Os alimentos com estas alegações devem ser seguros para o


consumo humano.

Resolução n. 17/1999 estabelece as diretrizes básicas para


avaliação de risco e segurança dos alimentos
Guia para Comprovação da Segurança de Alimentos e
Ingredientes.

(
Legislação Brasileira

Ou seja, para alegar que um alimento possui uma nova


propriedade funcional ou de saúde, o fabricante deve
mostrar evidências científicas dessa propriedade e, além
disso, os alimentos com estas alegações devem ser seguros
para o consumo humano.

(
Diretrizes governamentais para a alimentação saudável
passam a reconhecer a importância da ingestão de
“ Pesquisas mais recentes têm alimentos contendo compostos bioativos*
demonstrado a existência nos
alimentos de vários compostos
químicos com atividade biológica,
destacando-se a presença de
compostos com propriedades
antioxidantes e anti-inflamatórias
em alimentos como frutas,
legumes, verduras, castanhas, nozes
e peixes.”

Diretrizes da Política Nacional de


Alimentação e Nutrição, Política
Nacional de Promoção da Saúde,
Guia Alimentar para a População
Brasileira e Estratégia Global sobre
Dieta, Atividade Física e Saúde da
Organização Mundial de Saúde.
*Compostos bioativos
Compostos bioativos de alimentos (CBA) são substâncias
extranutricionais que geralmente são encontrados em
pequenas quantidades nos alimentos. São extensivamente
estudados por seus potenciais efeitos benéficos na
promoção da saúde humana e devem ser consumidos
preferencialmente por meio da alimentação habitual, em
especial pelo consumo de frutas e hortaliças.

Esses compostos podem variar em estruturas químicas e


em funções e estão distribuídos em três grandes grupos:
polifenóis, glicosinolatos e carotenoides (veremos sobre
essas substâncias em uma próxima aula da nossa
disciplina).
Nutrientes e não nutrientes com as
alegações de propriedade funcional
padronizadas na Anvisa
Ácidos Graxos (EPA e DHA)

Carotenóides (Licopeno, Luteína, Zeaxantina)

FIBRAS ALIMENTARES* (beta glucana, dextrina resistente, FOS,


Goma Guar, Inulina, Lactulose, Polidextrose, Psillium, Quitosana)

Fitosterois

Polióis (Manitol, Xilitol e Sorbitol)

Probióticos*

Proteína da soja

*Serão vistos detalhadamente em outra aula


EPA e DHA Alegação padronizada

“O consumo de ácidos graxos ômega 3 auxilia na manutenção de


níveis saudáveis de triglicerídeos, desde que associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”.

Até o momento, a alegação padronizada está autorizada


somente para uso em suplementos contendo óleos de peixes,
óleo de krill ou óleo da microalga Schizochytriumsp., fontes
de EPA e DHA já aprovados pela Agência quanto à segurança
de uso e eficácia dos efeitos.
Ômega 3 (n-3, w-3, ω-3)
• Deficiência: causa alterações neurológicas e visuais.
• Principais representantes: EPA (eicosapentaenoico) e DHA
(docosahexaenóico).
• Fontes dietéticas:
• EPA e DHA: peixes marinhos (gordos), crustáceos e óleo de krill (crustáceo
encontrado na Antártida, semelhante ao camarão).
Óleo de peixe: fígado de bacalhau
Fontes vegetais de ALA g/100 g
Óleo de Canola 9,3

Ômega 3 (n-3, w-3, ω-3) Óleo de soja


Noz
2,6
6,8

• ALA: alguns óleos vegetais.

CHIA: 40% de AG, dos quais: 70% de Ac. Alfa-


Linolênico (n-3) e 19% de Ac. Linoléico (n-6).

Semente de Linhaça :possui de 30 a 40% de AG,


dos quais: 60% de Ac. Alfa-Linolênico (n-3).
Ômega 3 (n-3, w-3, ω-3)
• ALA: alguns óleos vegetais.

Biodisponibilidade ?

A conversão de ALA (alfa-linolênico)


em EPA e DHA é limitada e sofre
interferência de fatores fisiológicos e
externos, por isso, não é a melhor
fonte de ômega 3.
Carotenóides
TOMATE
LICOPENO
- CONCENTRAÇÃO DE LICOPENO:
Alegação
“O licopeno tem ação antioxidante que protege as amadurecimento
• linhagens vermelhas: 50mg /
células contra os radicais livres. Seu consumo deve estar
variedade Kg
associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis”. • linhagens amarelas: 5mg / Kg

Até o momento, a alegação padronizada está autorizada


somente para uso em suplementos contendo licopeno
extraído do tomate ou licopeno sintético, fontes já
aprovadas pela Agência quanto à segurança de uso. - Esmagamento + cozimento: >
biodisponibilidade (forma cis ⇨ Z-licopeno)

- Presença de óleo: > absorção do licopeno


(liposolúvel)
Carotenóides
ZEAXANTINA
LUTEÍNA Alegação
Alegação “A zeaxantina tem ação antioxidante que protege
“A luteína tem ação antioxidante que protege as
as células contra os radicais livres. Seu consumo
células contra os radicais livres. Seu consumo
deve estar associado a uma alimentação deve estar associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. equilibrada e hábitos de vida saudáveis”.

Fontes de Luteína e Zeaxantina


FITOESTERÓIS

FITOESTERÓIS Algumas margarinas comerciais são


enriquecidas com fitoesterois
Alegação
“Os fitoesteróis auxiliam na redução da absorção de
colesterol. Seu consumo deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”.

A porção do produto pronto para consumo deve fornecer


no mínimo 0,8g de fitoesteróis. Quantidades inferiores
poderão ser utilizadas desde que a eficácia seja
comprovada para o alimento.

Cada porção de 20 g
A recomendação diária do produto, que deve estar entre 1 contém 0,8 g de
fitoesteróis
a 3 porções/dia e deve garantir uma ingestão entre 1 a 3
gramas de fitoesteróis livres por dia.
Fontes de esteróis
Entre as principais fontes de
fitoesterois estão as amêndoas,
nozes, amendoins, sementes de
girassol, milho, feijões, soja,
canola, óleos vegetais, além de
frutas como o abacate
Polióis
Manitol / Xilitol / Sorbitol
Alegação
“Manitol / Xilitol / Sorbitol não produz ácidos que
danificam os dentes. O consumo do produto não
substitui hábitos adequados de higiene bucal e de
alimentação.”
Requisitos específicos
Alegação aprovada somente para gomas de mascar
sem açúcar.
Efeito anticariogênico

• Não são fermentados por bactérias do gênero Streptococcus (Limita a


proliferação desse tipo de bactéria na flora bucal);

• Reduz a quantidade de polissacarídeos insolúveis e aumenta a de polissacarídeos


solúveis, o que resulta em uma placa menos aderente e de fácil remoção pela
escovação habitual dos dentes.
• Aumenta a salivação, o que promove a remineralização dos dentes e,
consequentemente, a reversão das cáries em estágio inicial,
PROTEÍNA DE SOJA
Proteína de
Alegação
Soja
“O consumo diário de no mínimo 25 g de proteína de soja
pode ajudar a reduzir o colesterol. Seu consumo deve estar
associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida
saudáveis".
Requisitos específicos
Para uso desta alegação o produto deve atender, no mínimo,
aos requisitos estabelecidos para o atributo “fonte”
definidos na Resolução sobre Informação Nutricional
Complementar (INC).
Consumo de
Alimentos
Funcionais
• Deve ser regular → para
garantir os benefícios

• Devem estar na forma de


alimento comum, serem
consumidos como parte da
dieta e produzir benefícios
específicos à saúde, tais
como a redução do risco de
diversas doenças e a
manutenção do bem-estar
físico e mental.
Consumo de Alimentos Funcionais
O consumidor deve também estar atento e procurar saber se o alimento que
está comprando (referimo-nos àqueles processados pela indústria) teve sua
eficácia avaliada por pesquisas sérias. Um alimento não terá super poderes,
mesmo quando contém grande quantidade de compostos bioativos.
Os alimentos funcionais somente funcionam quando
fazem parte de uma dieta equilibrada, balanceada.

Isto quer dizer que se a pessoa estiver utilizando um


alimento para o controle do colesterol, ela somente terá
resultados positivos, se a ingestão deste estiver associada
a uma dieta pobre em gordura saturada, colesterol e
carboidratos simples.
Não existe um super alimento que terá o efeito benéfico
e anulará, ao mesmo tempo, os malefícios de uma
alimentação e hábitos ruins.

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