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inicial ao
trauma 2020
Apostila teórica da Liga acadêmica
do trauma do hospital cajuru
diretoria Presidente: Edson Vieira Nascimento
Vice-presidente: Gabriela Redivo Ströher
Coordenadora científica: Angel Adriany da Silva
Gestão 2020 Coordenadora de cursos: Vitória Wisnievski Marucco Silva
Secretária: Amanda dos Santos Tiodozio
Diretora de Marketing: Mariana Massuqueto Cavalli
Autores
Adriano Augusto Tavares de Campos Mondini
Amanda Christina Castanheira Kozesinski
Amanda dos Santos Tiodózio
Ana Claudia Janiszewski Goes
Andressa Sakamoto Aoki
Angel Adriany da Silva
Anna Clara Rocha Plawiak
Anne Karoline Cardozo da Rocha
Beatriz Zanutto Salviato
Bruno Durante Alvarez
Caio Pellizzari
Daniel Augusto Mauad Lacerda
Danilo Mardegam Razente
Douglas Shun Yokoi
Edson Vieira Nascimento
Elton Wolaniuk
Felipe Fogliatto
Gabriela Redivo Ströher
Gisele Pietrowski Abot
Heloísa Moro Teixeira
Isabela Pizzatto Teixeira
Isadora Mezzomo Desconsi
Jaqueline Novack
Juliana Pitchinin Pereira Dias
Lucas Pegoretto
Luiza de Martino Cruvinel Borges
Lyncoln Shody Ioshino
Maria Victória Cordeiro
Mariana Massuqueto Cavalli
Mariana Rothermel Valderrama
Matheus Leite Fabian
Nico Ceulemans
Nicole Silveira Lother
Raquel Porto Lovato
Renan Fernando Ferreira Alves
Renato Sabah Gomes Soares
Ricardo Mendes Silveira
Thaisa Frediani Bergamaschi
Thiago Tsuneo Kominek Sato
Victor Toniolo Marconi
Vitória Wisnievski Marucco Silva
2
objetivo Sejam bem vindos à Liga Acadêmica de Trauma do
Hospital Universitário Cajuru (LAT-HUC). Criada em
1997, sob tutela do Dr. Luiz Carlos Von Bathen, a liga foi
idealizada para dar a oportunidade aos alunos de
medicina de aprofundar os conhecimentos teóricos e
práticos no assunto Trauma.
Capítulo
Capítulo03
03 Vias aéreas e controle cervical
3.1 Introdução..................................................................47
3.2 Trauma maxilofacial..................................................47
3.3 Trauma de pescoço e laringe....................................47
3.4 Obstrução de vias aéreas..........................................48
3.5 Ventilação..................................................................48
3.6 Manejo de vias aéreas..............................................48
3.6.1 Oxigenoterapia................................................49
3.6.2 Controle cervical.............................................49
3.7 Técnicas de manutenção de via aérea......................50
3.7.1 Elevação de mento.........................................50
3.7.2 Tração de mandíbula......................................51
3.7.3 Tubo nasofaríngeo..........................................52
3.7.4 Tubo orofaríngeo............................................52
3.8 Dispositivos extraglóticos e supraglóticos.................53
3.8.1 Máscara laríngea............................................53
3.8.2 Tubo laríngeo..................................................55
3.8.3 Tubo duplo-lúmen...........................................55
3.9 Via aérea definitiva....................................................55
3.9.1 Tubo endotraqueal..........................................55
3.9.1.1 Tudo nasotraqueal...............................56
3.9.1.2 Tubo orotraqueal..................................56
3.9.2 Via aérea cirúrgica..........................................58
3.9.2.1 Cricotireoideostomia.............................58
3.9.2.2 Cricocotireoideostomia x
traqueostomia.....................................................60
3.10 Via aérea difícil.........................................................60
3.11 Resumo e Fluxograma.............................................62
3.12 Referências..............................................................63
5
4.3.3 Pneumotórax hipertensivo..............................66
4.3.3.1 Fisiopatologia.......................................68
4.3.3.2 Quadro clínico......................................68
4.3.3.3 Diagnóstico e tratamento.....................68
4.3.3.4 Complicações.......................................69
4.3.4 Pneumotóras aberto.......................................69
4.3.4.1 Fisiopatologia.......................................70
4.3.4.2 Quadro clínico......................................70
4.3.4.3 Diagnóstico e tratamento.....................70
4.3.5 Hemotórax maciço..........................................71
4.3.5.1 Fisiopatologia e quadro clínico.............72
4.3.5.2 Diagnóstico e tratamento.....................72
4.3.5.3 Hemotórax maciço e Pneumotórax
hipertensivo.........................................................73
4.3.6 Tamponamento cardíaco................................73
4.3.6.1 Fisiopatologia.......................................73
4.3.6.2 Quadro clínico......................................74
4.3.6.3 Diagnósticos diferenciais......................74
4.3.6.4 Diagnóstico e tratamento.....................74
4.4 Avaliação secundária e lesões com risco potencial de
morte.................................................................................75
4.4.1 Pneumoteorax simples...................................76
4.4.2 Hemotórax......................................................77
4.4.3 Contusão pulmonar e tórax instável...............78
4.4.4 Lesão cardíaca por trauma contuso...............79
4.4.5 Ruptura traumática de aorta...........................79
4.4.6 Lesão traumática do diafragma......................80
4.4.7 Ruptura esofágica por trauma contuso...........81
4.5 Outras manifestações de trauma torácico.................81
4.6 Resumo e fluxograma...............................................83
4.7 Referências...............................................................85
6
5.5.1.3 Acessos vasculares..............................92
5.6 Ressuscitação volêmica inicial..................................92
5.6.1 Resposta inicial a ressuscitação volêmica......93
5.6.2 Tipos de resposta terapêutica.........................93
5.6.3 Resposta rápida..............................................93
5.6.4 Resposta transitória........................................94
5.6.5 Resposta mínima ou sem resposta................94
5.6.6 Administração de sangue...............................95
5.6.7 Protocolo de transfusão maciça (PTM)...........95
5.6.8 E quando ocorre falha a terapia? ...................96
5.6.9 Situações especiais........................................96
5.7 Resumo e fluxograma...............................................97
5.8 Referências...............................................................98
7
Capítulo 07 TCE e disfunção neurológica
7.1 Introdução................................................................114
7.2 Manejo inicial e parâmetros.....................................114
7.3 Fisiologia.................................................................115
7.4 Escala de Coma de Glasgow (ECG) ......................116
7.5 Avaliação pupilar.....................................................117
7.6 Classificação e manejo do trauma segundo escala de
coma de Glasgow...........................................................119
7.6.1 Trauma leve (ECG 13-15) ............................119
7.6.2 Trauma moderado (ECG 9-12) ....................120
7.6.3 Trauma grande (ECG <8) ............................120
7.7 Classificação e manejo do trauma segundo a
morfologia das lesões.....................................................121
7.7.1 Lesões de escalpo........................................121
7.7.2 Fraturas de crânio.........................................121
7.7.3 Lesões intracranianas...................................122
7.7.3.1 Lesões cerebrais difusas....................122
7.7.3.2 Lesão axonal difusa...........................122
7.7.3.3 Lesões cerebrais focais......................122
7.8 Referências.............................................................126
Capítulo 09 Queimados
9.1 Introdução................................................................136
9.2 Classificação...........................................................136
9.2.1 Queimaduras de primeiro grau.....................136
9.2.2 Queimaduras de segundo grau....................137
9.2.3 Queimaduras de terceiro grau......................137
9.2.4 Queimaduras de quarto grau........................138
8
9.3 Atendimento primário..............................................138
9.3.1 Vias aéreas (A) ............................................138
9.3.2 Ventilação (B) ..............................................139
9.3.3 Circulação (C) ..............................................139
9.3.4 Avaliação neurológica (D) ............................140
9.3.5 Exposição (E) ...............................................140
9.4 Avaliação secundária..............................................141
9.4.1 História..........................................................141
9.4.2 Avaliação da extensão da queimadura.........141
9.4.3 Queimadura circunferencial em
extremidades...........................................................142
9.4.4 Curativos.......................................................142
9.5 Transporte...............................................................143
9.6 Tratamento e exames complementares..................144
9.6.1 Vias aéreas e ventilação...............................144
9.6.2 Circulação.....................................................144
9.7 Outras lesões por queimaduras..............................144
9.7.1 Queimaduras elétricas..................................144
9.7.2 Queimaduras químicas.................................145
9.8 Referências.............................................................146
9
1.1 Introdução
inicial
Atendimento
Vítimas gravemente feridas necessitam de uma equipe preparada para
realizar a rápida abordagem dos seus ferimentos e instituir as condutas
cruciais para a manutenção da vida. Por isso, tanto no meio pré-hospitalar
quanto no intra-hospitalar, existe uma sequência de passos a serem
seguidos. Essa abordagem sequencial é denominada de Avaliação Inicial, e
inclui os seguintes elementos:
• Triagem.
01
padrão criado, os profissionais são treinados a se anteciparem em todos os
níveis, diminuindo mortalidade e morbidade nos pacientes vítimas de trauma.
10
1.2 PREPARAÇÃO
inicial
Atendimento
1.2.1 PRÉ-HOSPITALAR
O trabalho conjunto do setor pré-hospitalar com a equipe médica do hospital
é fundamental para a correta recepção da vítima na sala de emergência. Isso
permite que todos os recursos necessários estejam disponíveis no momento
da chegada do paciente grave.
• Imobilização do paciente.
• Controle de choque.
• Primeiro pico: morte que ocorre nos primeiros segundos e minutos após
o trauma por lesões fatais. Para ser evitado apenas as prevenções são
efetivas.
01 11
inicial
Atendimento
01 12
1.2.2 TRATAMENTO NO LOCAL DO TRAUMA
inicial
Atendimento
O tratamento pré-hospitalar, que ocorre antes do doente ser transportado
para um centro de trauma, determina o prognóstico de maneira positiva ou
negativa. Salienta-se novamente a importância da notificação ao hospital
sobre a chegada desse paciente, para que todos os profissionais estejam
preparados e equipados, provendo o melhor cuidado possível. Sendo assim,
a comunicação entre o serviço pré-hospitalar e hospitalar deve ser feita de
aneira contínua e deve começar o mais cedo possível.
01 13
inicial
Atendimento 1.2.3 ESQUEMA DE TRIAGEM DE CAMPO
01
Esquema de Triagem em Campo. Condutas pré-hospitalares para triagem de pacientes
politraumatizados com posterior encaminhamento para o correto setor especializado.
Fonte: ATLS, 2018.
14
1.3 HOSPITALAR
inicial
Atendimento
As decisões são tomadas com o objetivo de facilitar e agilizar a
ressuscitação. Todas as informações importantes do acidente devem estar
claras para toda a equipe a partir do relato pré-hospitalar.
1.3.1 TRIAGEM
A triagem feita na cena do acidente diz respeito a classificação dos pacientes
com base nos recursos necessários para o atendimento e nos recursos
realmente disponíveis. O tratamento segue a mesma ordem em todas as
vítimas – o ABC, via aérea com proteção de coluna cervical, respiração e
circulação com controle de hemorragia – porém, dependendo da situação do
acidente, gravidade das lesões, capacidade de sobrevivência e dos recursos
disponíveis a sequência de atendimento sofre modificações.
01
exigem menor tempo de atendimento e equipamentos serão tratados primeiro.
Isso ocorre porque a equipe e as instalações não são capazes de atender o
grande número de pacientes e a gravidade de seus ferimentos.
15
1.3.2 MÉTODO START
inicial
Atendimento
Para triar adequadamente as vítimas de acordo com a gravidade utiliza-se o
método START – Simple Triage and Rapid Treatment, levando em
consideração a frequência respiratória, o pulso e a capacidade de obedecer
aos comandos.
Se a vítima não respira deve ser feita a liberação das vias aéreas. Se
funcionar, a classificação para esse paciente é “Imediato”, caso contrário não
devem ser feitas as medidas de reanimação cardiopulmonar e essa vítima é
classificada como “Morta”. Esse tipo de atendimento de campo visa salvar a
maior quantidade de vítimas possível, sendo inviável se ater a um quadro
muito grave enquanto outros estejam deteriorando.
01 16
A seguir a sequência preconizada no START:
inicial
Atendimento
01
não há comprometimento importante das vias aéreas no momento, pois a
capacidade de falar intacta, que a ventilação está efetiva e que a consciência
não está significativamente diminuída, já que possui memória do acidente. A
17
falha em responder essas perguntas acusa anormalidades no A, B, C ou D
inicial
Atendimento sendo considerada uma urgência.
1.4.1 AIRWAY
A prioridade é o manejo da via aérea: desobstruir, aspirar, administrar
oxigênio e proteger as vias aéreas. O primeiro item a ser avaliado é a
permeabilidade, mesmo sendo uma análise rápida é possível identificar sinais
de obstrução.
Quando o paciente não puder ser intubado, a via aérea cirúrgica é indicada.
01 18
Reconhecer o potencial para a perda progressiva da permeabilidade da via
inicial
Atendimento aérea é igualmente importante, por isso recomenda-se a reavaliação
frequente.
1.4.2 BREATHING
A permeabilidade da via aérea isolada não garante ventilação adequada.
Esta depende da funcionalidade do pulmão, parede torácica e diafragma,
identificada a partir de uma análise rápida.
1.4.3 CIRCULATION
Na avaliação do C do ABCDE são identificadas alterações circulatórias e o
controle da hemorragia é estabelecido. Volume sanguíneo, débito cardíaco e
hemorragia são os principais a serem avaliados, assim como nível de
consciência, perfusão da pele e pulso.
01
acetábulo e trocanter femoral.
19
O controle da hemorragia e a reposição volêmica são essenciais, sendo a
inicial
Atendimento última feita através de dois acessos venosos de grosso calibre. Exames
laboratoriais são solicitados para os pacientes graves, principalmente tipagem
sanguínea, teste de gravidez, níveis de lactato e gases sanguíneos, os dois
últimos para pacientes em suspeita de choque. Quando não for possível
realizar o acesso venoso periférico, o acesso intra-ósseo ou venoso central
são indicados.
1.4.4 DISABILITY
O tópico D da avaliação inicial ao politraumatizado corresponde à avaliação
neurológica, e é feita baseada na escala de coma de Glasgow (que inclui
reação pupilar, resposta motora e resposta verbal). Alterações nesta escala,
como diminuição do nível de consciência, podem indicar diminuição da
oxigenação e/ou trocas gasosas não efetivas.
1.4.5 EXPOSURE
A exposição do paciente, com retirada de roupa e acessórios por completo,
é essencial para avaliação eficaz. Tão importante quanto o passo anterior, é
a prevenção de hipotermia nos politraumatizados, já que tal quadro configura
uma complicação potencialmente letal. Para isso, o paciente deve ser coberto
com mantas aquecidas, assim como receber fluidos à 39º C.
01
A adequada ressuscitação das vítimas politraumatizadas pode ser
verificada por diversos adjuvantes como:
20
Eletrocardiografia contínua
inicial
Atendimento •
• Oximetria de pulso
• Monitoramento de dióxido de carbono
• Avaliação da frequência respiratória
• Gasometria arterial
• Sonda urinária e gástrica
• Exames (raio-x, FAST, eFAST e lavado peritoneal)
01
até que se prove o contrário. Gestantes possuem mudanças anatômicas e
fisiológicas decorrente desse fenômeno, e podem responder diferentemente
21
a lesões. A palpação do abdome e teste laboratorial da gonadotrofina
inicial
Atendimento coriônica humana podem ajudar a reconhecer a gravidez.
1.7.1 HISTÓRIA
A história do paciente pode ser obtida pelo mnemônico “AMPLA”. Lembre-
se: devemos sempre obter a história AMPLA do paciente! Essas informações
podem ser obtidas pelo próprio paciente ou por familiares.
- A (allergies) = alergias
01
uso de lentes de contato, remover antes que ocorra edema.
22
Face: o exame deve incluir palpação de estruturas ósseas, verificar oclusões
inicial
Atendimento por fraturas, exame da cavidade oral e exame de tecidos moles. Os traumas
maxilofaciais que não sejam responsáveis por obstrução de vias aéreas ou
sangramentos importantes devem ser abordados em um segundo momento,
após a estabilidade hemodinâmica do paciente ter sido assegurada. Os
pacientes com fraturas em região mediana da face devem receber sondagem
gástrica por meio de via oral, uma vez que podem apresentar fratura do seio
cribiforme.
01
se necessário a constante reavaliação do abdome da vítima de trauma
contuso, preferencialmente pelo mesmo examinador, a fim de identificar
mudanças ao longo do tempo. Fraturas de pelve podem ser suspeitadas pela
23
inicial
Atendimento presença de equimoses sobre as asas do ilíaco, púbis, lábios ou escroto. Dor
a palpação do anel pélvico é um importante sinal de alerta. Pacientes com
hipotensão inexplicável, lesão neurológica, sob efeitos de álcool e/ou drogas
e achados abdominais anormais devem ser submetidos a exames, como
lavado peritoneal, ultrassonografia abdominal ou, em casos de estabilidade
hemodinâmica, tomografia computadorizada de abdome.
01 24
1.9 REAVALIAÇÃO
inicial
Atendimento
Os pacientes vítimas de trauma devem ser reavaliados constantemente a
fim de identificar lesões que tenham passado despercebidas e para identificar
deteriorações das que anteriormente identificadas. Conforme lesões de alto
risco de vida vão sendo tratadas, novas lesões menos graves podem se tornar
aparentes.
O manejo da dor nestes pacientes é essencial, uma vez que muitas lesões,
principalmente musculoesqueléticas, produzem um estado de dor e
ansiedade no paciente consciente. Analgesia efetiva pode ser realizada com
opioides e ansiolíticos, desde que em dosagem suficiente para produzir
conforto ao paciente e sem causar depressão respiratória, neurológica ou
alterações hemodinâmicas.
01 25
inicial
Atendimento Dependendo do resultado de cada parâmetro, há um valor correspondente
na escala RTS, que varia de 0 (pior) a 4 (melhor).
Variáveis do Revised Trauma Score. Variáveis do Revised Trauma Score, sendo Escala de
Coma de Glasgow = ECG, Pressão arterial sistólica = PAS e Frequência respiratória = FR.
Fonte: CARVALHO, 2004.
01
Fonte: CARVALHO, 2004.
26
Por exemplo:
inicial
Atendimento
Paciente admitido com GCS de 14 (valor RTS = 4), PAS de 110 (valor RTS
= 4) e FR de 19 (valor RTS = 4).
RTS = 7,84
Diante disso, pode-se determinar que quanto menor o RTS, maior o risco de
morte. Entretanto, com o passar do tempo, o RTS demonstrou ser insensível
para identificar pacientes gravemente feridos que precisam de intervenções
pontuais de salvamento.
Pontuação:
1 – Lesão menor
2 – Lesão moderada
4 – Lesão severa
01
5 – Lesão crítica
27
6 – Lesão fatal
inicial
Atendimento
1.11.3 INJURY SEVERITY SCORE (ISS)
ISS diz respeito ao índice de gravidade anatômico e utiliza a pontuação
obtida no Abbreviated Injury Scale (AIS) após o paciente ser admitido no
hospital e todas as lesões terem sido identificadas corretamente. Para calcular
o ISS basta considerar as 3 lesões de maior gravidade pontuadas no AIS e
realizar a soma dos quadrados desses índices:
Contudo, esse score não leva em consideração outras lesões que podem
afetar diretamente o prognóstico desse paciente. Dessa forma, pode-se
concluir que o RTS diz respeito à mortalidade precoce do paciente enquanto
o ISS se correlaciona melhor com a mortalidade tardia da vítima.
01 28
inicial
Atendimento
01 29
4º - A coluna da esquerda corresponde a estimativa de sobrevida dos
inicial
Atendimento paciente vítimas de trauma fechado, e a coluna da direita representa a
estimativa de sobrevida dos dos pacientes vítimas de trauma aberto
01 30
Atendimento
01
inicial
31
Atendimento
01
inicial
32
1.13 referências
inicial
Atendimento
1.AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life
Support - Student Course Manual. 10th. ed. Chicago: American College of
Surgeons, 2018.
01 33
2.1 introdução
Trauma
Cinemática do
A cinemática do trauma pode ser definida como a ciência que estuda a troca
de energia entre a vítima e o agente causador da lesão. Sem a compreensão
dos princípios da biomecânica ou dos mecanismos envolvidos, muitas lesões
podem passar despercebidas.
02
energia potencial, E = mgh, vemos que quanto maior a altura da queda, maior
a energia e, portanto, mais grave será o desfecho. Além desse fator, a
superfície também faz a diferença (neve x asfalto).
34
Outras considerações importantes acerca do evento no corpo humano:
Trauma
Cinemática do
• Densidade: a densidade está envolvida com a quantidade de partículas
que participam da troca de energia no evento. Quanto maior a densidade
do tecido, maior será a troca de energia e, portanto, maior o dano. O corpo
humano possui 3 tipos de densidades teciduais: sólida (ossos), de água
(músculos e órgãos sólidos – fígado e baço, p.e.) e de ar (pulmões e órgãos
ocos – porções do intestino).
• Área de impacto: comparando a ação de uma mesma força em áreas
diferentes, quanto maior a área, menor o dano. Isso ocorre porque a
grande área “espalhará” o efeito da força e as consequências serão
menores. Contudo, em menor área haverá maior absorção de força e,
portanto, grande troca de energia. Se houver penetração da pele e tecido
subjacente denominaremos trauma penetrante.
2.2 CAVITAÇÃO
O impacto do objeto em uma região do corpo faz com que as partículas dos
tecidos envolvidos se afastem temporariamente daquela área (por
transferência de energia), o que gera uma cavitação. Há dois tipos:
02
penetração da pele e demais estruturas.
Fonte: PHTLS, 2017.
35
2.3 TRAUMA CONTUSO
Trauma
Cinemática do
Neste tipo a força é distribuída em uma grande área e não há penetração
de pele. No trauma contuso duas forças estão envolvidas e podem causar
cavitação: cisalhamento e compressão. A primeira ocorre quando um órgão
muda sua aceleração em relação a outro com quem está conectado, fazendo
com que suas estruturas se rasguem e se separem. A segunda é resultado
de uma opressão direta entre uma estrutura e um órgão ou entre órgãos. A
transferência de energia nestes processos está diretamente relacionada com
a densidade e o tamanho da área frontal no ponto de contato entre o objeto e
o corpo da vítima. Toda e qualquer informação colhida na cena são
importantes para o entendimento do mecanismo do trauma.
02 36
Trauma
Cinemática do
02
continuidade do movimento, resultando em lesões. O tórax e/ou
abdome atingirá o volante dependendo da posição da vítima. Se for o
37
tórax, ocorre o mecanismo descrito anteriormente, envolvendo pulmões
Trauma
Cinemática do e estruturas do mediastino. Se for o abdome, pode resultar em
compressão e/ou ruptura de vísceras ocas e cisalhamento de órgãos
maciços, como baço, fígado e rins.
A B
Colisões automobilísticas. (A) Impacto frontal com trajetória para cima. (B) Impacto frontal
com trajetória para baixo.
Fonte: PHTLS, 2017.
02
com um anteparo. Geralmente a vítima mais próxima do ponto de impacto
sofrerá mais lesões, que são a junção das resultantes de impacto frontal com
lateral.
38
Capotamento: Neste tipo de acidente, se as vítimas não estiverem
Trauma
Cinemática do corretamente contidas podem ser jogadas contra qualquer parte do veículo,
inclusive serem ejetadas dele. Contudo, mesmo em uso de cinto de segurança,
os órgãos continuam a mover-se dentro das cavidades, o que pode resultar
em cisalhamento, compressão e rutura de suas estruturas. Hematomas e
ferimentos na pele do paciente sugerem onde foram os locais de contusão, por
isto a importância de realizar a exposição do paciente por completo. As lesões
podem ser maiores devido ao impacto provocado contra o solo se houver
lançamento da vítima para fora do veículo. É comum a presença de lesões
ocultas.
02 39
Trauma
Cinemática do
Acidente de motocicleta. Impacto frontal resultando em colisão e fratura dos dois fêmures
02
contra o guidão da motocicleta.
Fonte: PHTLS, 2017.
40
Impacto Lateral: O trauma direto da colisão com o membro inferior do
Trauma
Cinemática do motorista implica em esmagamento e fratura, principalmente de tíbia.
Impacto com ejeção: O motociclista pode ser ejetado e continua voando até
que sua cabeça, braços, tórax, abdome ou pernas atinjam outro objeto.
Quando o motorista se choca inicialmente com a cabeça, são comuns fraturas
de crânio, lesões de partes moles da face e lesão de coluna cervical, já que
após o primeiro impacto, há hiperextensão do pescoço. Ferimentos na cabeça
são a principal causa de morte em acidentes por moto. Quando o paciente é
ejetado, instintivamente estende os membros superiores para se proteger,
levando principalmente à fratura de rádio distal6.
2.8 QUEDAS
Semelhante a acidentes entre veículos, o mecanismo aqui também é por
desaceleração. Quando há baixo impacto são comuns lesões de
extremidades superiores. Em médio impacto, lesões de crânio e pescoço e
fraturas de extremidades superiores e inferiores. Já no alto impacto, há
múltiplos traumas, com lesões de crânio e pescoço e fratura de extremidades
superiores e inferiores. A extensão das lesões será relacionada a:
02
• Altura da queda
• Capacidade da superfície em desacelerar o movimento do corpo
41
Área de superfície no impacto
Trauma
Cinemática do •
• Resistência do osso e tecido acometidos
• Característica do solo – concreto, asfalto e outras superfícies duras estão
associadas a maior severidade, já que aumentam a desaceleração
• Posição do corpo, como demonstrada no seguinte exemplo:
o Um homem cai de um telhado de 4,5 metros de altura. Na primeira
situação, ele cai de pé. Na segunda, ele cai deitado. Na terceira, ele
cai com a cabeça no chão como o pescoço em 15º de flexão. O
mecanismo de trauma é idêntico, mas cada situação terá lesões
completamente diferentes1.
2.9 QUEIMADURAS
Podem ser causadas por três agentes: térmico (calor e frio), elétrico ou
químico. O último pode ocorrer por produtos ácidos, alcalinos ou por produtos
do petróleo, sendo os alcalinos os mais agressivos por penetrar mais
profundamente no tecido levando à necrose. O térmico é o mais frequente e
é comum estar relacionado a maus tratos em crianças e idosos. Devemos ter
atenção em lesões suspeitas, como queimaduras por líquidos quentes ou
cigarro.
02
compartimental. A corrente elétrica que atravessa o corpo pode causar
trombose local e lesão de nervos – essas lesões geralmente são mais graves
42
do que parecem. Em lesão por inalação há intoxicação por monóxido de
Trauma
Cinemática do carbono, causando inchaço de vias áreas superiores e edema pulmonar.
2.10 MORDEDURAS
As mordeduras são queixas frequentes no pronto socorro. Saber identificar
as lesões como sujas ou limpas, classificá-las adequadamente e programar
seu tratamento são fundamentais. As etiologias mais comuns são mordeduras
por cães, correspondendo a aproximadamente 90% das mordeduras por
animais. Podemos ter complicações agudas – grandes lacerações e
sangramentos – e infecções por bactérias comuns e incomuns.
02 43
A lesão no ponto de entrada é determinada pelo perfil da bala (ou área
Trauma
Cinemática do frontal), seu rolamento e fragmentação. Informações sobre região lesada,
órgãos afetados e velocidade do projétil são importantes para o entendimento
da gravidade. Em caso de arma de fogo, velocidade, calibre, distância e
trajetória presumida podem prever pistas importantes sobre a extensão das
lesões1.
02
neurovascular, fraturas e síndrome compartimental. A trajetória do projétil
pode ser presumida se analisarmos os orifícios presentes na pele e assim
suspeitar das estruturas que podem ter sido acometidas. Quando o projétil se
44
encontra dentro do paciente podemos dispor de exames como o RX nas
Trauma
Cinemática do incidências de frente e perfil para determinarmos seu possível local e traçar a
sua trajetória.
2.12 EXPLOSÕES
Explosões podem causar tanto ferimentos contusos como penetrantes, além
dos danos causados pelo deslocamento da onda de pressão. Os produtos
resultantes das explosões possuem dentro deles uma pressão muito maior do
que a pressão atmosférica. Na sua periferia, forma-se uma camada fina de ar
comprimido que atua como uma onda de pressão. Portanto as explosões
podem causar 4 tipos de lesão:
02
e hiperglicemia1.
45
2.13 Referências
Trauma
Cinemática do
1.AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life
Support - Student Course Manual. 10th. ed. Chicago: American College of
Surgeons, 2018.
2.BADDOUR, L. M.; HARPER, M. Animal bites (dogs, cats, and other animals):
Evaluation and management. In: UpToDate. Waltham: Wolters Kluwer, 28 jan.
2020.
02 46
e controle cervical
Vias aéreas 3.1 introdução
Pacientes gravemente feridos desenvolvem, com frequência, obstrução de
vias aéreas ou ventilação inadequada, levando a hipóxia. A hipoperfusão
cerebral e de outras estruturas nobres pode levar à morte em minutos1,2.
Nesse momento inicial, para verificar se a via aérea está pérvia, é indicado
falar com o paciente. Um paciente comunicativo indica um bom prognóstico
nesta etapa da avaliação. Uma resposta confusa ou ausente pode apontar
alteração do nível de consciência, que pode ser resultado do
comprometimento ventilatório1,2.
Atualização: Fraturas de laringe são eventos mais raros, porém podem ocasionar
obstrução aguda e necessidade de via aérea definitiva. Clinicamente, a lesão
Heloísa Moro pode ser determinada pela tríade:
Teixeira
03
• Fratura palpável.
47
e controle cervical
Vias aéreas Porém, em algumas situações, é necessário lançar mão de estudos
radiológicos para confirmar a hipótese, sendo o melhor método a tomografia
axial computadorizada (TAC)3.
3.5. VENTILAÇÃO
Uma boa via aérea só traz benefícios ao paciente quando a ventilação
também está adequada. Existem três principais causas de má ventilação:
oclusão da via aérea, alteração da mecânica ventilatória e depressão do
sistema nervoso central (SNC).
03
Durante o atendimento ao paciente politraumatizado, a avaliação do “A”
precisa ir além da manutenção da via aérea, devendo ser ampliada para
garantir a oxigenação adequada e controlar a coluna cervical1.
48
e controle cervical
Vias aéreas 3.6.1. Oxigenioterapia
Está indicada para pacientes que, em ar ambiente, apresentem PaO2 ≤
60mmHg ou saturação periférica de oxigênio (SpO2) ≤ 90%, infarto agudo do
miocárdio (IAM) e intoxicação por gases7.
Colar cervical
Fonte: fibracirurgica.com.br
03 49
e controle cervical
Vias aéreas O controle deve ser mantido até a chegada do paciente a uma unidade de
atendimento secundária ou terciária, desde que possua os devidos recursos
para o tratamento definitivo adequado6.
03 50
e controle cervical
Vias aéreas
Elevação do mento
Fonte: ATLS, 2020.
Tração da mandíbula
Fonte: ATLS, 2020.
03 51
e controle cervical
Vias aéreas 3.7.3. Tubo Nasofaríngeo
O tubo nasofaríngeo é introduzido em uma narina pérvia após lubrificação
adequada, e é passado suavemente até a orofaringe posterior. Se houver
algum tipo de obstrução durante a introdução do tubo, o procedimento deve
ser interrompido e iniciado novamente na outra narina. É contraindicado em
pacientes com suspeita de fratura de base de crânio ou da placa cribriforme
devido à possibilidade de entrada no crânio6.
Tubo nasofaríngeo
Fonte: portuguese.alibaba.com
03
Tubo orofaríngeo.
Fonte: medicalcenterbr.com.br
52
e controle cervical
Vias aéreas
03
• Na via anestesiada emergencial, como dispositivo de resgate.
53
e controle cervical
Vias aéreas A técnica baseia-se em lubrificar a máscara e segurá-la com a mão
dominante como uma caneta, colocando o dedo indicador na junção entre o
balão e o cabo e deixar a abertura da máscara virada sobre a língua. Introduzir
a máscara ao longo do palato, até encontrar resistência. Após, insuflar os
balões até atingir uma pressão de 44mmHg ou até atingir a pressão mínima
necessária para vedar adequadamente. Conferir a efetividade do
procedimento realizando a ausculta, observando a expansão torácica e por
capnografia. O dispositivo vem em tamanhos variados, sendo o tamanho 3
indicado para mulheres pequenas, tamanho 4 para mulheres grandes e
homens pequenos e tamanho 5 para homens grandes1,9.
Máscara laríngea
Fonte: ATLS, 2020.
03
Posicionamento máscara laríngea
Fonte: ATLS, 2020.
54
e controle cervical
Vias aéreas 3.8.2. Tubo Laríngeo
É um dispositivo extra-glótico semelhante à máscara laríngea. Também
não fornece via aérea definitiva. É colocado sem visualização da glote e sem
necessidade de manipulação de cabeça e pescoço.
• Tubo nasotraqueal;
• Tubo orotraqueal;
• Via aérea cirúrgica – cricotireoideostomia ou traqueostomia1.
03
de fratura de coluna cervical. Se não for possível, deve-se tomar todos os
cuidados para imobilizá-la durante todo o procedimento. Os dois tipos,
nasotraqueal e orotraqueal, podem ser escolhidos conforme a experiência do
55
e controle cervical
Vias aéreas médico. Deve-se ter atenção às contraindicações de cada um antes da
escolha.
Contraindicações:
Absolutas:
Relativas:
03
• Características anatômicas;
• Estado fisiológico;
56
e controle cervical
Vias aéreas • Habilidade do médico10.
Tubo orotraqueal
Fonte: cirurgicalucena.com.br
3.9.2.1. Cricotireoideostomia
Existem duas técnicas disponíveis: por punção e cirúrgica.
Cricotireoideostomia
Fonte: ATLS, 2020.
Indicações:
• Hemorragia massiva;
• Vômito profundo;
• Trismo;
• Lesões obstrutivas (tumor, pólipo);
• Oclusão das vias aéreas superiores (corpo estranho, edema e anafilaxia);
03
• Deformidades traumáticas e congênitas11.
58
e controle cervical
Vias aéreas Contraindicações relativas:
• Fratura de laringe;
• Ruptura laringotraqueal;
• Transecção da traqueia com retração da traqueia distal para o
mediastino11.
03 59
e controle cervical
Vias aéreas 3.9.2.2. Cricotireoideostomia x Traqueostomia12
03 60
e controle cervical
Vias aéreas
Além disso, pode-se usar o Bougie quando as pregas vocais não são
visualizadas através da laringoscopia direta13.
Bougie
Fonte: ATLS, 2020.
03 61
Vias aéreas
03
e controle cervical
3.11 Resumo e fluxograma
62
e controle cervical
Vias aéreas 3.12 Referências
1. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life
Support - Student Course Manual. 10th. ed. Chicago: American College of
Surgeons, 2018.
03 63
4.1 introdução
torácico
Trauma
O trauma de tórax é uma causa significativa de morte no paciente
politraumatizado. Somente a menor parte dos casos necessita de intervenção
cirúrgica – menos de 10% dos traumas contusos e 15 a 30% dos penetrantes.
A intervenção precoce é de suma importância, visando prevenir ou corrigir a
hipóxia. O manejo inicial consiste em uma avaliação primária com
ressuscitação dos dados vitais, seguida da avaliação secundária e tratamento
definitivo1.
As lesões que trazem risco imediato de morte devem ser tratadas o mais
rápido possível durante a avaliação primária. Em sua maioria, a abordagem
envolve o controle das vias aéreas ou descompressão torácica com uma
agulha, dedo ou dreno (os quais são considerados procedimentos simples).
Já na secundária, investiga-se lesões específicas1.
O sulco costal se localiza na margem inferior das costelas e por ele passa
um feixe vasculo-nervoso composto por veias, artérias e nervos intercostais
(de cranial para caudal). Por esse motivo, procedimentos como toracocentese
ou inserção de dreno de tórax geralmente são realizados na margem superior
da costela inferior, prevenindo injúria nervosa ou vascular10.
04
• Brônquio-fonte esquerdo (ângulo reto, inferior ao arco aórtico e anterior ao
esôfago e à aorta torácica).
64
Cada brônquio-fonte se divide em brônquios lobares (2 à esquerda e 3 à
torácico
Trauma direita), os quais suprem cada lobo pulmonar. Estes se subdividem em
brônquios segmentares, que suprem segmentos dos lobos que possuem
forma de pirâmide, cada um com um ramo da artéria pulmonar10.
04
queda da base da língua. Nesse último caso, pode-se realizar manobras como
elevação do mento (Chin lift) ou tração da mandíbula (Jaw thrust). Após, a
colocação de um tubo orofaríngeo (de Guedel) ou nasofaríngeo pode
65
assegurar que a via aérea permaneça pérvia. Dependendo do caso, outras
torácico
Trauma medidas podem ser necessárias, como já abordado no capítulo de Vias
Aéreas e Controle Cervical1.
Pacientes com obstrução causada por sangue ou vômito podem ser tratados
temporariamente com sucção por aspirador de ponta rígida até a via aérea
definitiva ser estabelecida1.
04 66
Trauma
torácico
A B
04
Também são causas: tentativas de obtenção de acesso central através das
veias subclávia e jugular interna; trauma da parede torácica no qual é feito um
67
curativo oclusivo fechado dos 4 lados, promovendo o mecanismo univalvular,
torácico
Trauma promovendo o mecanismo univalvular1.
4.3.3.1. Fisiopatologia
A fisiopatologia do pneumotórax hipertensivo envolve1:
04
injúria ao parênquima pulmonar). Em seguida, inserção de dreno tubular
perfurado de silicone posterior e superior (para coletar ar) ou posterior e
inferior (para drenar fluídos). A ponta do dreno que se encontra fora do corpo
68
é conectada em selo d’agua (local onde cabe aproximadamente 500 ml de
torácico
Trauma soro) para prevenir que ar seja novamente puxado para dentro da cavidade
pleural. Deve-se garantir que o último furo esteja localizado dentro do espaço
pleural e fixar o dreno na pele através de pontos em "U" 1.
Por último, uma radiografia de tórax deve ser feita para confirmar o
posicionamento correto do dreno, além de monitorar pneumotórax ou
hemotórax residuais e possíveis lesões iatrogênicas1.
4.3.3.4. Complicações
Complicações ocorrem em 5 a 10% dos drenos de tórax, sendo elas7:
04 69
4.3.4.1. Fisiopatologia
torácico
Trauma
A fisiopatologia do pneumotórax aberto envolve1:
04
colaba, prevenindo a entrada de ar. Durante a expiração, a borda livre
possibilita a saída de ar do espaço pleural. Fechar as 4 bordas do curativo
pode acentuar o acúmulo de ar, causando um pneumotórax hipertensivo1.
70
Já o tratamento definitivo é com drenagem de tórax em selo d’água em local
torácico
Trauma distante da ferida. Frequentemente é necessário fechamento cirúrgico da
ferida1.
04
Hemotórax Raio-X. Nessa imagem de raio-x observa-se opacidade em hemitórax
esquerdo, sendo um hemotórax.
Fonte: WEICHENTHAL, L. Hemothorax – Emergency Management.
71
torácico
Trauma
04 72
4.3.5.3 Hemotórax maciço x pneumotórax hipertensivo
torácico
Trauma
A tabela abaixo compara as manifestações clínicas que ocorrem no
pneumotórax hipertensivo e no hemotórax maciço, sendo importante para o
diagnóstico diferencial entre as duas patologias.
4.3.6.1. Fisiopatologia
A fisiopatologia do tamponamento cardíaco envolve1:
04 73
Tamponamento Cardíaco. A ilustração da esquerda demonstra o acúmulo de líquido no
torácico
Trauma saco pericárdico e a formação do tamponamento. A imagem da direita é de um ultrassom
(FAST) mostrando o tamponamento.
Fonte: ATLS, 2018.
• Restrição à sístole/diástole;
• Choque por falha de bomba.
04
Ultrassom pode facilitar a punção, que deve ocorrer no 5º ou 6º EIC à
esquerda do rebordo esternal ou via infraesternal, à esquerda do processo
xifoide. Vários locais são possíveis, porém os sítios de punção mais usados
74
são o subxifoide, paraesternal ou apical e a escolha entre eles depende da
torácico
Trauma localização e tamanho do derrame pericárdico, anatomia do paciente e da
experiência do profissional12. Quando se opta pela abordagem subxifoide, a
agulha é angulada em 45 graus em direção ao ombro esquerdo. Usando a
técnica de Seldinger, é posicionado um cateter pigtail4.
04
oximetria de pulso e gasometria arterial, além de um exame físico mais
aprofundado1.
75
4.4.1. Pneumotórax simples
torácico
Trauma
A presença de ar na cavidade pleural é denominada pneumotórax, que pode
ser resultante de um traumatismo contuso ou de um penetrante1. Pode ser
classificado como espontâneo (sem causa aparente) ou como iatrogênico11.
Clinicamente, ocorre diminuição dos sons respiratórios à ausculta e
timpanismo à percussão, ambos no hemitórax lesionado. Um raio-x de tórax
pode ajudar no diagnóstico1.
04 76
4.4.2. Hemotórax
torácico
Trauma
Também causado tanto por trauma fechado quanto por penetrante, o
hemotórax é definido como presença de sangue em quantidade menor que
1,5 litro no espaço pleural, sendo que a diminuição do murmúrio vesicular à
ausculta e a macicez à percussão são seus achados clínicos principais. No
raio-X, pode ser observado uma região opaca e homogênea (que representa
o sangue) no hemitórax afetado1.
04 77
4.4.3. Contusão pulmonar e tórax instável
torácico
Trauma
Define-se contusão pulmonar como uma lesão no parênquima desse órgão,
normalmente associada à fratura de arcos costais nos adultos. Nas crianças,
por outro lado, a contusão pode existir mesmo sem qualquer fratura óssea. Já
o tórax instável é uma condição que surge a partir da perda da continuidade
óssea da parede torácica, normalmente causada pela fratura de duas ou mais
costelas consecutivas – cada uma lesionada em duas ou mais regiões –, mas
que também pode ser reflexo de uma separação entre a costela e a cartilagem
costal1.
04
Contudo, a presença de contusão pulmonar associada é uma contraindicação
relativa para tal abordagem6.
78
4.4.4. Lesão cardíaca por trauma contuso
torácico
Trauma
Diversas condições podem se originar a partir de um trauma contuso no
coração, estando associado principalmente à acidentes com veículos
automotores (1 em cada 2 casos de contusão cardíaca)1.
04 79
torácico
Trauma
Ruptura traumática de aorta – Raio-X. Observa-se nesse raio-x uma ruptura de aorta,
com notável aumento de mediastino.
Fonte: FARBER, M. A.; AHMAD, T. S. Dissecção da Aorta.
04
contusa apresenta também lesão cerebral. Órgãos sólidos abdominais,
pulmões, coração, aorta, pelve e outros locais também podem sofrer danos9.
80
Na radiografia inicial, não é incomum que a ruptura do diafragma seja
torácico
Trauma confundida com outras patologias, como dilatação gástrica aguda, elevação
diafragmática, hemo-pneumotórax loculado ou hematoma subpulmonar.
Ainda, pode ocorrer de não se conseguir diagnosticar a lesão, mesmo após
raio-x e tomografia não contrastados. Nesses casos, exames com contraste
se fazem necessários. De qualquer forma, uma vez tendo lesão diafragmática
como hipótese, deve ser realizada uma radiografia de tórax com uma sonda
gástrica inserida no paciente. Se tal exame mostrar a sonda na cavidade
torácica, estudos contrastados se tornam dispensáveis. Se dúvida,
toracoscopia ou laparoscopia podem auxiliar no diagnóstico1.
Pelo risco de criar nova lesão nos órgãos abdominais que foram para o tórax,
a inserção de dreno pleural deve ser cuidadosa em pacientes suspeitos de
rotura diafragmática. O tratamento definitivo dessa condição é cirúrgico1 e a
abordagem por laparotomia exploradora em casos agudos é a melhor opção,
visto que há chances grandes de ter outras lesões abdominais associadas. A
toracotomia pode ser realizada em casos crônicos ou na presença de outras
situações que a demandem. Laparoscopia também pode ser realizada, caso
não haja necessidade de toracotomia ou laparotomia9.
04 81
Face, tronco e membros pletóricos, além de petéquias e edemas (incluindo
torácico
Trauma o cerebral), podem ocorrer em esmagamentos torácicos. As lesões
resultantes de tal evento devem ser tratadas1.
04 82
4.6. Resumo e fluxograma
torácico
Trauma
Risco imediato
04 83
torácico
Trauma
Risco Potencial
04 84
4.6. Referências
torácico
Trauma
1.AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life
Support - Student Course Manual. 10th. ed. Chicago: American College of
Surgeons, 2018.
6.DOGRUL, B. N. et al. Blunt trauma related chest wall and pulmonary injuries:
An overview. Chinese Journal of Traumatology - English Edition, v. 23, n.
3, p. 125–138, 2020.
04 85
hemorrágico
Choque e controle 5.1 introdução
Definição de choque: “anormalidade do sistema circulatório que resulta em
perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequadas”9.
O choque é uma síndrome clínica que tem várias causas em sua etiologia,
como hipovolêmico, cardiogênico, séptico, anafilático, neurogênico, entre
outras. Independente da causa do choque, a hipoperfusão tecidual gerada
pelo desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio compromete a atividade
metabólica celular e, consequentemente, as funções celulares e orgânicas.
Essa síndrome é uma emergência médica e está associada a altas taxas de
mortalidade. Por esse motivo, o diagnóstico precoce e o tratamento baseado
na provável causa são de suma importância a fim de melhorar o prognóstico
do paciente6,9.
05
diagnosticar o choque na sua fase inicial7.
86
hemorrágico
Choque e controle 5.3 CLÍNICA E DIAGNÓSTICO DO CHOQUE
Seguindo a ordem do atendimento do protocolo ATLS, somente após
assegurar a via aérea e ventilação adequada se inicia a avaliação cuidadosa
das condições circulatórias do paciente, buscando manifestações precoces
de choque que, na grande maioria das vezes, são taquicardia e
vasoconstrição cutânea9.
05
Em resumo, a abordagem do paciente começa com o reconhecimento da
presença do choque. Simultaneamente, deve-se iniciar o tratamento e
87
hemorrágico
Choque e controle identificar a causa provável deste distúrbio. Em seguida, a resposta do
paciente ao tratamento inicial analisada em conjunto com os achados clínicos
e laboratoriais, geralmente fornecem informações suficientes para determinar
a etiologia do choque.
Classificação
05
compensatórios restauram o volume sanguíneo em 24h3,9.
88
hemorrágico
Choque e controle Hemorragia classe II é dita como não complicada, representando uma
perda de volume sanguíneo de até 30%. Os sinais clínicos aqui incluem
taquicardia, taquipneia e redução da pressão de pulso. Pode haver
necessidade de transfusão, mas a maior parte dos pacientes estabiliza
apenas com a reposição de cristaloides3,9.
Hemorragia classe III é definida como perda volêmica entre 30-40%, sendo
um estado hemorrágico mais complicado e grave. Esses pacientes possuem
sinais clássicos de hipoperfusão, assim como queda da pressão sistólica,
taquicardia importante (>120bpm), taquipneia e alterações neurológicas.
Como tratamento, é indicado transfusão de concentrado de hemácias e
hemoderivados, além de interromper a hemorragia3,9.
05
de distribuir sangue suficiente para manter a perfusão tecidual adequada10.
89
hemorrágico
Choque e controle O choque cardiogênico tem o infarto agudo do miocárdio como causa mais
comum. Nessa população, apesar do tratamento adequado, a mortalidade
pelo choque cardiogênico é extremamente elevada, ficando entre 50-80%. No
trauma, o choque cardiogênico pode ser causado por uma função cardíaca
inadequada, secundária à uma contusão torácica que gera tamponamento
cardíaco, arritmia cardíaca, lesão direta de uma válvula, embolia gasosa
ou, mais raramente, infarto do miocárdio associado ao trauma8,9.
05
politraumatizados que demoram algumas horas para chegar ao Pronto
Socorro. Na fase inicial do choque séptico, os doentes podem ter poucas
alterações hemodinâmicas, apresentando normovolemia, discreta
90
hemorrágico
Choque e controle taquicardia, pele rósea e quente, pressão sistólica próxima do normal e
alargamento da pressão de pulso9.
05 91
Choque e controle
hemorrágico
Quando houver presença de sangue no meato uretral ou próstata não
palpável é necessário realizar exame de imagem antes da inserção da
sonda vesical.
OBS: assim que o acesso for iniciado, realizar coleta de exame de tipagem
sanguínea, prova cruzada, laboratório apropriado para o caso do paciente,
toxicológico e teste de gravidez em mulheres em idade fértil. Também pode
ser realizada uma gasometria arterial nesse momento9.
05
SEMPRE procurar a fonte do sangramento ao mesmo tempo que repõe
volume perdido.
92
hemorrágico
Choque e controle Partindo desse princípio de que o excesso de fluidos pode causar efeitos
adversos e piora do prognóstico, surge o conceito de HIPOTENSÃO
PERMISSIVA/ RESSUSCITAÇÃO HIPOTENSIVA, que consiste na infusão
limitada de cristaloides aquecidos. É definida pelo ATLS como a aceitação de
uma PA abaixo dos níveis normais mesmo após o início da ressuscitação para
evitar ressangramento. Essa abordagem aumenta sobrevida e diminui a
necessidade de transfusão sanguínea1.
Pacientes com sangramento ativo não devem ser ressuscitados até que se
tenha controle da hemorragia ativa8.
05 94
hemorrágico
Choque e controle 5.6.6. ADMINISTRAÇÃO DE SANGUE
A administração de sangue e hemoderivados deve ser realizada nos
pacientes que apresentam resposta transitória ou resposta mínima a
ressuscitação inicial – pacientes em classe III e IV de hemorragia, na maioria
dos casos. Nesses cenários, a transfusão deve ocorrer precocemente como
parte do plano terapêutico de ressuscitação.
• Trauma penetrante
• FAST +
• PAS ≤ 90
05
• FC ≥ 120
95
hemorrágico
Choque e controle 5.6.8. E QUANDO OCORRE FALHA A TERAPIA?
A principal causa de falha a terapia de reposição é uma hemorragia contínua
e não diagnosticada. Esses pacientes normalmente se enquadram na
categoria de resposta transitória ou mínima/ sem resposta discutidas
anteriormente9.
05 96
hemorrágico
Choque e controle 5.7. Resumo e Fluxograma
05 97
hemorrágico
Choque e controle 5.8. Referências
1.CARREIRA, Paulo Roberto Lima. Hipotensão permissiva no
trauma. Revista Médica de Minas Gerais, [s. l.], 10 nov. 2014.
4.GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2011.
8.MOORE, E.E.; FELICIANO, D.V.; MATTOX, K.L. Trauma. 8 . ed. [S. l.]: Mc
Graw Hill, 2017.
05 98
e Pélvico
Trauma Abdominal 6.1. Introdução
O trauma abdominal é uma situação frequentemente encontrada na
emergência, responsável por causar inúmeras mortes evitáveis. A avaliação
do mecanismo e energia do trauma, localização da lesão e estado
hemodinâmico auxilia na definição da prioridade e do método de avaliação do
paciente. O acometimento de vísceras sólidas ou grandes vasos pode resultar
em sangramentos importantes. Volumes significativos de sangue podem ser
encontrados na cavidade abdominal sem que resultem em alterações
drásticas no tamanho abdome, podendo até não causar uma irritação
peritoneal visível.
6.2. Anatomia
O conhecimento da anatomia abdominal auxilia na avaliação de uma vítima
de trauma nessa região, pois norteia qual orgão pode ter sido afetado e se há
necessidade de intervenção cirúrgica. O abdome é dividido em: transição
toracoabdominal, abdome anterior, flanco e dorso. A transição
Autores: toracoabdominal compreende a área abaixo da linha transmamilar
(anteriormente) e linha infraescapular (posteriormente) até os bordos costais,
Ana Claudia e contém o diafragma, fígado, baço e estômago.
Janiszewski Goes
O abdome anterior é delimitado pelo rebordo costal superiormente,
Danilo Mardegam ligamento inguinal inferiormente e lateralmente pela linha axilar anterior. A
Razente superfície abdominal pode ser dividida em quatro quadrantes, dois superiores
e dois inferiores, que são separados por uma linha que passa horizontalmente
Elton Wolaniuk na altura da cicatriz umbilical. A linha vertical inicia no apendice xifóide
estendendo-se até a sinfise púbica, e divide os quadrantes em esquerdo e
Lucas Pegoretto
direito. O conhecimento dessas referências anatômicas é importante para
Thaisa Frediani nortear qual órgão pode ter sido afetado. O quadrante superior esquerdo
Bergamaschi contêm maior parte do baço e estômago, enquanto que o direito compreende
a maior parte do fígado e a vesícula biliar. Já os quadrantes inferiores
esquerdo e direito contêm predominantemente o intestino.
Atualização:
Andressa O flanco está localizado entre as linhas axilares anterior e posterior e o dorso
Sakamoto Aoki compreende a região posterior da linha axilar anterior, ponta das escápulas e
cristas ilíacas. Esses dois locais contêm os órgãos retroperitoneais e
Amanda dos englobam o espaço posterior ao revestimento peritoneal, onde estão
Santos Tiodózio localizados vasos importantes como aorta abdominal e veia cava inferior. As
Gabriela Redivo lesões de vísceras retroperitoneais possuem diagnóstico mais complicado
Ströher pela dificuladde de realização do exame físico. Além disso, a localização
prejudica o acesso pelo lavado peritoneal diagnóstico e para realização de
06
uma ultrassonografia direcionada (FAST) adequadamente.
99
e Pélvico
Trauma Abdominal
Regiões abdominais.
Arte: Andressa Sakamoto Aoki.
Os ferimentos por arma branca (FAB) afetam, com maior frequência, o fígado
(40%), depois o intestino delgado (30%) e o diafragma (20%). Já os ferimentos
06
por arma de fogo (FAF) causam maiores danos em função da trajetória,
podendo ricochetear em estruturas ósseas, pela energia cinética dissipada
gerando cavitações, além do projétil poder se fragmentar e lesionar estruturas
100
e Pélvico
Trauma Abdominal adjacentes. Os órgãos mais frequentemente envolvidos são o intestino
delgado (50%), cólon (40%), fígado (30%) e estruturas vasculares (25%).
6.4. Avaliação
O tratamento do trauma abdominal começa na cena e continua até a
chegada do paciente ao departamento de emergência. Para a seleção correta
da melhor conduta a ser seguida, deve-se coletar a história do trauma, realizar
um exame físico cuidadoso e utilizar, quando necessário, ferramentas
diagnósticas complementares, que auxiliam a estabelecer a presença de
lesões abdominais e pélvicas que requerem um controle urgente.
6.4.1. História
A história do trauma pode ser coletada através do próprio paciente,
testemunhas do ocorrido, socorristas ou policiais. Os prestadores de cuidados
pré-hospitalares devem fornecer dados relativos aos sinais vitais, lesões
evidentes e resposta do paciente ao manejo pré-hospitalar. É extremamente
importante avaliar a energia e os mecanismos do acidente, visto que tais
fatores podem interferir na posterior conduta médica.
06
de gravidez.
101
e Pélvico
Trauma Abdominal A ausculta diminuída ou ausente pode acontecer na presença de sangue
livre na cavidade peritoneal. A percussão e a palpação trabalham juntas para
verificar a existência de contrações involuntárias da musculatura abdominal,
o que sugere irritação peritoneal.
06
detectada lesão na uretra, pode-se passar a sonda.
102
e Pélvico
Trauma Abdominal A hematúria macroscópica indica trauma no trato geniturinário, incluindo rins,
ureteres e bexiga, porém, a ausência da mesma não exclui a presença de
lesões.
06
realização quanto o LPD, contudo aquele substitui o LPD por ser de fácil
utilização, portátil, de rápida execução, pode ser repetido, não tem risco dos
efeitos da radiação e permite identificar tamponamento pericárdico, uma das
103
e Pélvico
Trauma Abdominal causas não hipovolêmicas de hipotensão. No entanto, alguns fatores
comprometem sua utilização, como obesidade, presença de enfisema
subcutâneo, presença de distensão abdominal por gases e cirurgias
abdominais prévias.
06 104
e Pélvico
Trauma Abdominal
06
Autora: Gabriela Redivo Ströher.
105
e Pélvico
Trauma Abdominal 6.4.3.6. Radiografias simples
Um raio-X de tórax é recomendado para avaliar vítimas com trauma fechado
multissistêmico. Se o paciente estiver hemodinamicamente normal e tiver
trauma penetrante acima do umbigo ou suspeita de lesão toracoabdominal, o
exame pode ser realizado em posição ortostática, a fim de excluir um
hemotórax ou pneumotórax associado ou ainda determinar a presença de ar
intraperitoneal.
06
sistema urinário em pacientes hemodinamicamente instáveis na admissão.
106
e Pélvico
Trauma Abdominal 6.5. Laparotomia, suas funções e indicações:
A função principal da Laparoscopia no trauma abdominal é diagnóstica,
uma vez que ela torna possível a identificação de líquidos e suas origens,
como fígado, baço e diafragma, por exemplo. A Cirurgia Laparoscópica, além
de diagnóstica, pode ser terapêutica, pois realiza-se o reparo da lesão logo
após encontrá-la. Contudo, ainda existem limitações para a utilização da
Laparoscopia no âmbito emergencial, como o alto custo, equipe devidamente
treinada, centro cirúrgico e anestesia geral.
06 107
e Pélvico
Trauma Abdominal 6.5.2. Laparotomia Abreviada ou Cirurgia de Controle de Danos (CDC):
Procedimento que tem por objetivo controlar rapidamente focos
hemorrágicos e infecciosos, diminuindo as contaminações e,
consequentemente, o risco de óbito. Tal modalidade de Cirurgia
Laparoscópica possui suma importância, uma vez que em traumas
abdominais graves o paciente pode vir a óbito em poucas horas, devido à
Tríade Letal, caracterizada por: hipotermia, coagulopatia e acidose.
Tríade letal.
Autora: Amanda dos Santos Tiodózio.
06
abaixo). Pacientes estáveis que apresentem lesão de baço grau I a III (lesões
sem laceração e sem desvascularização de mais de 25 % do órgão
ou pulverização do órgão e lesão hilar com desvascularização esplênic
108
e Pélvico
Trauma Abdominal a), tem indicação de conduta expectante. Deverão ficar em UTI por 48 a
72h, permanecendo em repouso absoluto, com sonda nasogástrica. Medidas
seriadas do hematócrito (hmt) e avaliação clínica devem ser realizadas, uma
vez que, havendo queda no hmt requer TC imediata. Caso não ocorra
alteração, o paciente é transferido para unidade intermediária, torna-se
permitida a deambulação e a dieta é introduzida.
06
acompanhadas de forma conservadora, mesmo àquelas com lesões mais
graves, como nos graus IV e V pela escala da AAST. Sendo assim, devem
109
e Pélvico
Trauma Abdominal permanecer em repouso por um período mínimo de 5 dias (associados às
primeiras 48 h em UTI), além disso, a dosagem de hmt seriada e a avaliação
clínica são indicadas. Caso o Hmt caia o paciente deverá ser submetido à
nova TC.
Nos casos em que o diagnóstico pelo exame físico gerar dúvidas, pode-se
tentar realizá-lo com uma radiografia simples de tórax, a qual pode revelar
pneumoperitônio. Na TC de abdome, a presença de líquido livre em mais de
um quadrante, na ausência de lesão de vísceras maciças, é achado altamente
sugestivo de lesão intestinal.
06
Tipos de lesão pélvica.
Fonte: ATLS, 2018.
111
e Pélvico
Trauma Abdominal Deve-se suspeitar de fraturas pélvicas sempre que houver instabilidade
hemodinâmica sem outra causa aparente, equimose na região, sinais de lesão
de órgãos geniturinários, rotação e assimetria de membros.
06 112
e Pélvico
Trauma Abdominal 6.7. Referências
1.AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life
Support - Student Course Manual. 10th. ed. Chicago: American College of
Surgeons, 2018.
06 113
neurológica
TCE e disfunção 7.1. Introdução
O traumatismo cranioencefálico (TCE) é o comprometimento da função
cerebral após forças diretas ou indiretas ao cérebro e são comuns na rotina
da emergência. A força de um objeto atingindo a cabeça ou uma lesão
penetrante causa lesão direta, já as lesões indiretas ocorrem por forças de
aceleração e/ou desaceleração que resultam do movimento do cérebro dentro
do crânio.
Muitas vítimas com TCEs graves entram em óbito antes mesmo de chegar
ao hospital – cerca de 90% das mortes pré-hospitalares por trauma estão
relacionadas ao TCE. Atualmente observa-se um aumento geral do número
de traumas cranioencefálicos, mas com menor taxa de mortes, resultando em
uma população crescente de indivíduos que vivem com deficiências
significativas diretamente relacionadas a um TCE.
Nicole Silveira O exame neurológico de pacientes que fizeram uso de álcool ou outras
Lother substâncias, em estado de hipoglicemia e aqueles com hipotensão pode não
ser confiável, já que estes pacientes podem apresentar rebaixamento do nível
Atualização: de consciência sem que haja uma lesão cranioencefálica direta. No entanto,
são diag nósticos de exclusão. Todo paciente com rebaixamento do nível de
Anne Karoline consciência deve ser interpretado como consequência do trauma até que
Cardozo da sejam descartadas lesões estruturais.
Rocha
Juliana Pitchinin
Pereira Dias
07 114
neurológica
TCE e disfunção
Fonte: ATLS,2018.
7.3. Fisiologia
O valor normal da pressão intracraniana (PIC) em um paciente em repouso
é de 10mmHg. Sua elevação pode reduzir a perfusão sanguínea e pode
causar ou exacerbar uma isquemia. Segundo a teoria de Monro-Kellie, o
volume do conteúdo intracraniano deve se manter constante, pois o crânio é
uma estrutura rígida e incapaz de se expandir. Se o volume intracranial
aumentar, o fluxo venoso e o liquor se comprimem para fora da caixa craniana,
o que diminui a PIC. Assim, a PIC pode se manter normal mesmo na presença
de uma massa intracraniana. Quando o deslocamento do sangue venoso e
do liquor atingir seu limite, a PIC aumenta rapidamente.
07
aumenta a permeabilidade dos capilares e causa maior extravasamento
de líquido. Além disso, o funcionamento da bomba de sódio das células
é bloqueado, permitindo que haja maior turgescência dessas células.
115
neurológica
TCE e disfunção
Após a instalação desses dois mecanismos, a medida a ser feita é a infusão
intravenosa de substância osmótica concentrada, como o manitol, para que o
líquido do tecido cerebral seja retirado por osmose.
Fonte: ATLS,2018.
07 116
neurológica
TCE e disfunção
07
neuromusculares e sedação. O exame pupilar completo ainda inclui o reflexo
117
neurológica
TCE e disfunção consensual, uma constrição pupilar que ocorre quando a luz é incidida sobre
o olho
Fonte: Adoni A., Mcnett M. The pupillary response in traumatic brain injury: a guide for
trauma nurse. Journal of Trauma Nursing. Oct-Dec, 2001. N4, V14.
07 118
neurológica
TCE e disfunção 7.6. Classificação e manejo do trauma segundo a escala
de coma de Glasgow
7.6.1. Trauma leve (ECG 13-15)
Normalmente esses pacientes possuem uma concussão sustentada, ou
seja, perda transitória de alguma função neurológica logo após um trauma
cerebral. Os pacientes podem ser assintomáticos, com apenas uma história
de TCE. Quando consciente, o paciente pode relatar história de confusão
mental, amnésia (retrógrada ou anterógrada) ou perda de consciência
transitória. Também é importante saber se o paciente apresentou náuseas,
vômitos, tontura ou cefaleia. A história de perda de consciência pode ser difícil
de ser confirmada e é facilmente confundida com um quadro de intoxicação
por álcool ou outras substâncias.
Fonte: ATLS,2018.
07
deixá-lo em observação, reavaliar e, se permanecer normal, pode receber alta
com segurança. Nesses casos, orientar o paciente e o acompanhante sobre
119
neurológica
TCE e disfunção o retorno se houver déficits neurológicos ou rebaixamento do nível de
consciência.
07
respiração adequada e monitorar saturação de oxigênio.
B. Assim que a pressão arterial for estabilizada, fazer o exame
neurológico (Escala de Coma de Glasgow e avaliação pupilar). Se a
120
neurológica
TCE e disfunção pressão arterial não for normalizada, continuar o exame neurológico
normalmente e registrar a hipotensão.
C. Se não for possível elevar a pressão arterial sistólica em níveis >
100mmHg, a prioridade é identificar a causa da hipotensão. Nesse
caso, fazer o FAST ou lavado peritoneal diagnóstico na sala de
emergência e o paciente pode ser levado para o centro cirúrgico para
uma laparotomia. A tomografia de crânio deve ser feita após a
laparotomia.
D. Se a pressão arterial sistólica for >100mmHg após ressuscitação
volêmica e há evidência clínica de massa intracraniana (por exemplo,
anisocoria ou resposta motora assimétrica), a prioridade é fazer a TC
de crânio. O lavado peritoneal diagnóstico ou o FAST pode ser feito
na sala de emergência ou centro cirúrgico, desde que não atrase a
avaliação ou tratamento neurológico.
07
auditiva), que pode ocorrer imediatamente ou alguns dias após a lesão inicial.
Este tipo de lesão geralmente requer TC com configurações de janela óssea
para identificação.
121
neurológica
TCE e disfunção
07
período de horas ou dias as contusões tendem a coalescer, aumentando o
efeito de massa e eventualmente resultando em compressão cerebral e
122
neurológica
TCE e disfunção deterioração neurológica. Por esse motivo, os pacientes com contusões
geralmente têm indicação de repetir a TC dentro de 24 horas da avaliação
inicial, a fim de avaliar se houve mudanças no padrão da lesão.
07 123
TCE e disfunção
07
neurológica
Fonte: ATLS,2018.
124
neurológica
TCE e disfunção Lesões Penetrantes: as lesões penetrantes são basicamente causadas por
ferimentos por arma de fogo (FAF) ou por arma branca (FAB) e outros objetos
pontiagudos. Nos FAFs, o primeiro dano cerebral é provocado pelo projétil
diretamente sobre o tecido e as estruturas vasculares. O trauma, então, é
agravado pelo vácuo produzido atrás do projétil em alta velocidade, que
carrega para o interior do crânio fragmentos ósseos, pele, cabelo. A TC deve
ser realizada em todos estes pacientes, e a presença de grandes contusões,
hematomas e hemorragias está associada ao aumento da mortalidade,
especialmente quando ambos os hemisférios estão envolvidos. Quanto aos
FABs, os objetos penetrantes que permanecem parcialmente exteriorizados
devem ser deixados no lugar até que uma possível lesão vascular seja
avaliada e o manejo neurocirúrgico definitivo estabelecido. A remoção do
objeto penetrante prematuramente pode causar lesão vascular fatal ou
hemorragia intracraniana. Antibióticos profiláticos de amplo espectro também
estão indicados para pacientes com lesão cerebral penetrante.
07 125
neurológica
TCE e disfunção 7.8. Referências
1.AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life
Support - Student Course Manual. 10th. ed. Chicago: American College of
Surgeons, 2018.
2.HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. São Paulo: Elsevier,
2017.
8.Vella MA, et al. Acute Management of Traumatic Brain Injury. Surg Clin N
Am 97 (2017) 1015–1030.
07 126
raquimedular
Trauma 8.1. Introdução
O Trauma Raquimedular (TRM) consiste em lesões à medula espinal
causadas por lesões contusas ou penetrantes à coluna vertebral e tem uma
correlação importante com Traumatismo Cranioencefálico (TCE).
Aproximadamente 6% dos pacientes com lesão cerebral têm uma lesão na
coluna vertebral associada, enquanto que 32% dos pacientes com lesão
vertebral podem ter lesão cerebral1. Ainda, a morbi-mortalidade é alta e
dependente da severidade da lesão.
Beatriz Zanutto
Salviato
08 127
raquimedular
Trauma
08
transecciona a medula espinal. Ainda, lesa a trama vascular, comprometendo
a barreira hematoencefálica e levando à uma cascata de lesões secundárias7.
128
raquimedular
Trauma Assim, nas oito primeiras horas após o trauma, há hemorragia e necrose da
substância cinzenta, que segue com edema (que aumenta a compressão na
área lesada) até a cicatrização o que, associado à redução da pressão
sistêmica (por outras hemorragias ou um possível choque neurogênico, que
será tratado a frente), e alterações mecânicas do canal vertebral, levam a uma
redução do fluxo sanguíneo para o segmento lesado. Essa redução do aporte
sanguíneo adequado às células e a exposição de citocinas pró-inflamatórias
gera isquemia e inflamação, corroborando com a morte das células e axônios
que não foram inicialmente lesados, assim, gerando uma lesão adicional,
denominada de lesão secundária3.
08
Os intervalos da medula espinal melhor avaliados clinicamente são o trato
corticoespinhal lateral, trato espinotalâmico, e as colunas dorsais e estão
descritos na tabela abaixo e se faz importante para diferenciar lesões
129
raquimedular
Trauma completas de incompletas e síndromes medulares, que serão tratadas a
frente. Ainda, na avaliação da função motora, o grau de movimento de cada
extremidade deve ser avaliado e quantificado com relação ao grau de força
muscular, que é determinada de 0 a 5, sendo 0 a ausência de força muscular
e 5 a força muscular normal2.
Outro fator relevante para a análise são os reflexos, tendo em vista que na
ausência de força motora, a presença de reflexos demonstra um melhor
prognóstico para o paciente. Assim, os reflexos tendinosos profundos de
maior importância clínica e que devem ser investigados em todos os pacientes
com suspeita de lesão medular são os mostrados na tabela abaixo. Os
reflexos abdominais e cremastéricos são importantes pois a ausência desses
reflexos simetricamente indica lesão do neurônio motor superior, enquanto a
perda assimétrica sugere lesão no neurônio motor inferior. Nesses casos,
TCE e TRM devem ser melhor investigados, respectivamente2.
08 130
raquimedular
Trauma 8.3.2. Síndromes medulares
As lesões incompletas podem se apresentar como síndromes medulares,
que apresentam certos padrões característicos de lesão neurológica. As
principais são a síndrome centromedular, síndrome anterior da medula e
síndrome de Brown-Séquard e sua apresentação anatômica pode ser vista na
figura abaixo3.
Síndromes medulares.
Fonte: Béria L. Rodríguez. Wikimedia Commons.
08 131
raquimedular
Trauma 8.3.4. Choque neurogênico
O choque hipovolêmico é o choque propriamente dito mais comum no
paciente politraumatizado, mas outras causas devem ser pesquisadas, como
é o caso do choque neurogênico. Nesse caso, que ocorre na lesão medular,
a hipóxia tecidual não se dá por diminuição da volemia, mas pela diminuição
da resistência vascular periférica, por vasodilatação. Essa vasodilatação é
resultado da perda ou diminuição do tônus simpático que inerva a musculatura
lisa dos vasos, e acarreta o choque. As características clínicas características
são hipotensão, bradicardia e pressão de pulso alargada, mas com
extremidades quentes e coradas, com enchimento capilar normal. Costuma
ser mais relevante quando em lesões acima de T6, região em que emergem
os nervos simpáticos esplâncnicos, responsáveis pelo tônus muscular. O
tratamento é voltado para vasoconstrição e não para a reposição volêmica,
tendo em vista que não há hipovolemia2.
8.4. MANEJO
O manejo do TRM inicia ainda na cena, com a imobilização imediata da
coluna cervical e a acomodação do paciente em tábua rígida sem que haja
movimentação da coluna. A imobilização da coluna com colar cervical está
indicada para todos os pacientes com múltiplas contusões até que possa ser
avaliado. Mesmo que o paciente traumatizado dê entrada no hospital sem o
colar (em nosso serviço conhecido como paciente “não protocolado”), se
houver qualquer suspeita de lesão ou indicação para o uso, o colar cervical
deve ser alocado. As indicações detalhadas para colocação e retirada do colar
cervical se encontram no Capítulo 3.
08
de efeitos adversos contraindicariam ainda mais seu uso8.
132
raquimedular
Trauma Assim que estabilizado hemodinamicamente, o paciente com suspeita de
lesão vertebral pode ser encaminhado para exames de imagem que
confirmarão ou descartarão a fratura e o tratamento definitivo será, assim,
indicado. O exame mais indicado, com especificidade de quase 100% para
fraturas, é a tomografia computadorizada e, em casos onde não há lesão, é
recomendada a retirada do colar sem a associação de outros exames, como
a ressonância magnética9. Quando forem encontradas lesões, o paciente
deve ser encaminhado para o tratamento definitivo. Esse tem como objetivos
a restauração da anatomia da coluna e da medula e visa diminuir as
complicações e as sequelas, porém, ainda não existem tratamentos cirúrgicos
que restauram as funções dos segmentos já lesados.
08 133
raquimedular
Trauma 8.5. Resumo e fluxograma
08 134
raquimedular
Trauma 8.5. Referências
1.PANDRICH, Mark J.; DEMETRIADES, Andreas K. Prevalence of
concomitant traumatic cranio-spinal injury: a systematic review and meta-
analysis. Neurosurgical review, v. 43, n. 1, p. 69-77, 2020.
9.PATEL, Mayur B. et al. Cervical spine collar clearance in the obtunded adult
blunt trauma patient: a systematic review and practice management guideline
from the Eastern Association for the Surgery of Trauma. The journal of
trauma and acute care surgery, v. 78, n. 2, p. 430, 2015.
08 135
Queimados 9.1. Introdução
A pele desempenha diversas funções complexas, incluindo proteção ao
ambiente externo, regulação de fluidos, termorregulação, sensibilidade e
adaptação metabólica, tolerando temperaturas de 40°C por breves períodos
de tempo. Contudo, uma vez que as temperaturas excedam esse ponto, há
um aumento logarítmico da magnitude da destruição tecidual. Assim, em uma
queimadura, seja por quaisquer causas possíveis, as proteínas da pele são
gravemente danificadas, levando à desnaturação proteica.
9.2. Classificação
9.2.1. QUEIMADURAS DE PRIMEIRO GRAU
Acometem somente a epiderme e são caracterizadas por serem
hiperemiadas e dolorosas. São também chamadas de queimaduras
superficiais. É raro estas lesões serem clinicamente significativas. Estas
queimaduras não formam bolhas, são benignas (resolvem-se em cerca de
uma semana) e não formarão cicatrizes (não há fibrose cicatricial).
Atualização:
Edson Vieira
Nascimento
09
Fonte: ATLS, 2018.
137
Queimados 9.2.4. QUEIMADURAS DE QUARTO GRAU
As queimaduras de quarto grau são aquelas que acometem não somente
todas as camadas da pele, mas também o tecido adiposo subjacente, os
músculos, os ossos ou os órgãos internos.
09
60 minutos. Sempre que houver suspeita de lesão de via aérea deve ser feita
a intubação precoce.
138
Queimados Os fatores de risco para obstrução da via aérea superior são queimadura na
cabeça e na face, lesão causada por inalação e queimaduras orais.
09
impossível medir com precisão a pressão arterial. Mesmo que possa ser
obtida, o valor encontrado pode não ser correto devido à presença de edema
ou lesões que afetam a pele. Mesmo que o doente apresente pressão arterial
139
Queimados normal, a perfusão distal do membro pode estar gravemente reduzida pela
presença de lesões circunferenciais. Os membros queimados devem ser
mantidos elevados durante o transporte, para reduzir o grau de aumento de
volume1.
09 140
Queimados 9.4. Avaliação secundária
9.4.1. História
A história do acidente é muito importante, pois pode dar pistas de possíveis
lesões associadas. É importante saber por quanto tempo o paciente ficou
exposto ao agente agressor, se houve perda da consciência, se o local era
fechado ou aberto, etc. As lesões devem estar de acordo com a história
contada, caso contrário, deve-se pensar na possibilidade de maus tratos.
141
Queimados
No paciente pediátrico: quando nascem, a proporção da superfície corporal
representada por sua cabeça é maior (18% da SCQ, 9% anterior e 9%
posterior) e menor em cada membro inferior (14% da SCQ, 7% anterior e 7%
posterior).
9.4.4. Curativos
09
Antes do transporte, os ferimentos devem ser cobertos com curativos para
impedir a contaminação continua e o fluxo de ar sobre as feridas, que
142
Queimados resultaria em maior dor. Não há indicação para compressa gelada, estourar
bolhas ou usar antibiótico profilático.
9.5. Transporte
Após a estabilização em um centro de trauma, o doente com queimaduras
pode, então, ser transportado a um centro para tratamento de queimados para
instituição da terapia definitiva e reabilitação. A American Burn Association e
a American College of Surgeons estabeleceram os critérios para transporte
ou transferência do doente vítima de queimaduras ao centro para tratamento
especializado1.
09
reabilitação especial, social, emocional ou prolongada.
143
Queimados 9.6. Tratamento e exames complementares
9.6.1. Vias aéreas e Ventilação
Para acompanhar a evolução de uma possível lesão pulmonar do paciente
queimado são necessários Raio-X de tórax e gasometria arterial. Além
desses, deve-se pedir outros exames complementares: hemograma
completo, tipagem, glicemia, eletrólitos e beta HCG em pacientes femininas
em idade fértil1.
9.6.2. Circulação
A reposição volêmica inicial do paciente queimado deve ser feita com
cristaloides e é baseada na fórmula de PARKLAND: 2 mL x Kg de peso
corporal x % SCQ. Em casos pediátricos, a considera-se 3mL x Kg de peso
corporal x superfície corporal queimada1.
Metade do volume total deve ser infundida nas primeiras 8 horas após a
queimadura e a outra metade nas próximas 16 horas, sendo ajustado de
acordo com a diurese. A meta é atingir uma diurese de 0,5 mL/kg/h para
adultos e 1mL/Kg/h para crianças < 30kg1.
09 144
Queimados 9.7.2. Queimaduras Químicas
São causadas, muitas das vezes, por agentes químicos industriais, sejam
eles de natureza ácida ou básica. Em ambos os casos, ocorrerá necrose
(geralmente de coagulação quando ácidos, e de liquefação quando bases) da
pele atingida, tendo as bases maior potencial de penetração.
09 145
Queimados 9.8. Referências
1. AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. ATLS: Advanced Trauma Life
Support - Student Course Manual. 10th. ed. Chicago: American College of
Surgeons, 2018.
2.Jeschke, M.G. et al. Burn injury. Nat Rev Dis Primers 6, 11 (2020).
3.Leopoldo C. Cancio, MD, Robert L. Sheridan, MD, Rob Dent, PA-C, Sarah
Gene Hjalmarson, Emmie Gardner, MSW, Annette F. Matherly, RN, Vikhyat
S. Bebarta, MD, FACEP, Tina Palmieri, MD, FACS, FCCM, Guidelines for Burn
Care Under Austere Conditions: Special Etiologies: Blast, Radiation, and
Chemical Injuries, Journal of Burn Care & Research, Volume 38, Issue 1,
January-February 2017, Pages e482–e496.
4.Arnoldo, B.; Klein, M.; Gibran, N.S. Practice Guidelines for the Management
of Electrical Injuries, Journal of Burn Care & Research, Volume 27, Issue 4,
July-August 2006, Pages 439–447.
6.Bittner EA, Shank E, Woodson L, Martyn JA. Acute and perioperative care
of the burn-injured patient. Anesthesiology. 2015 Feb;122(2):448-64.
09 146