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NOTA TÉCNICA

ABORDAGEM TÉCNICA A
TENTATIVAS DE SUICÍDIO
2

Elaboração
Cel PM Carlos Alberto de Camargo Junior - SP
Maj PM Diógenes Martins Munhoz - SP
Cap BM Richelmy Murta Pinto - MG

Revisão
Ten Cel BM Erik Francisco Silva de Oliveira - PB
Ten Cel BM Cezar Alberto Tavares da Silva - PA
Ten Cel BM Christiano Wanderley Couceiro Costa – RN
Maj BM Luiz Gustavo da Silva Lock - RS
Maj BM Victor Gonzaga de Mendonça - DF
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MENSAGEM DA LIGABOM

A presente Nota Técnica visa à consolidação da doutrina e à padronização de


procedimentos dos Corpos de Bombeiros Militares, em âmbito nacional, por meio da
Liga Nacional de Bombeiros (LIGABOM), para o atendimento às ocorrências
envolvendo tentativas de suicídio. O conteúdo apresentado servirá de base para que
cada Estado membro tenha subsídios técnicos para confeccionar seus próprios
protocolos ou compêndios de atendimento a esse tipo de ocorrência que é cada vez
mais frequente.

Recomenda-se a sua revisão e atualização a cada dois anos, ou menor período, caso
o próprio Comitê Nacional de Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio
(CONATTS) ache necessário.

Belo Horizonte, 21 de março de 2022.

Coronel BM Edgard Estevo da Silva


Presidente da LIGABOM
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REPRESENTANTES DO CONATTS POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO

Felipe Santiago Rosas da Costa e Dyego Ribeiro da Silva Vieira - AC

Joanna Sofya Marques da Silva Barros e Débora Cristina de Oliveira Ferreira - AL

Aderaldo Clementino Leite e Jorge Luiz de Souza Nunes - AP

Suellem Ferreira de Oliveira e Makson Nascimento Pessoa - AM

Ramon Dieggo Pimentel Valle Baylão Diniz e Valdir Ferreira de Oliveira Junior- BA

José Edir Paixão de Sousa e Roberto Hugo Martins - CE

Victor Gonzaga de Mendonça e Ulisses Sebastian Ziech- DF

Rodrigo Nascimento Ribeiro Alves – ES

Hélio Loyola Gonzaga Júnior e Luciano Alexandre de Freitas - GO

Jonatan Silva Coutinho - MA

Bruno Iop Rebouças e Cleberson Nogueira da Silva - MT

Rodrigo Ferreira Campos e Rodrigo Alves Bueno - MS

Richelmy Murta Pinto e Lucas Antônio de Oliveira - MG

Cezar Alberto Tavares da Silva e Isis Kelma Figueiredo de Araújo - PA

Erik Francisco Silva de Oliveira e Thiago Antônio Araújo Vaz da Costa – PB

Carlos Cezar Ferreira da Silva e Taquaracy Anderson F. de Santana - PE

Everton Almeida da Silva e Arlindo Rodrigues de Mesquita Júnior – PI

Daniel Lorenzetto e Luís Gustavo Pimenta - PR

José Carlos Alves Evangelista e Daniel Bispo da Silva Carius de França - RJ

Christiano Wanderley Couceiro Costa e Bruno Henrique Ferreira da Silva - RN

Abilio Homrich Correa e Luiz Gustavo da Silva Lock - RS

Francisco Pinto Andrade Júnior e Atenor Correa Barreto - RO

Sandra da Silva Menezes e Marcus Anderson da Rocha Maceió – RR

Rosângela Santos Gomes e Allan Adson da Silva Santos - SE

Raniel Teles Pinheiro e Fillipi Thiago Pamplona - SC

Diógenes Martins Munhoz e Rodrigo Silva Lacerda- SP

Rafael Barreto Menezes e Rafael Maciel de Sousa - TO

Os Corpos de Bombeiros dos Estados do Acre, Ceará, Goiás, Pernambuco,


Paraná e Tocantins não são signatários da presente Nota Técnica.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ATTS Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio


CBM Corpo de Bombeiros Militar
CONATTS Comitê Nacional de Abordagem a Tentativas de Suicídio
EPI Equipamento de Proteção Individual
MS Ministério da Saúde
OMS Organização Mundial da Saúde
SAV Suporte Avançado de Vida
SBV Suporte Básico de Vida
USv Unidade de Serviço
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
HISTÓRICO DA ABORDAGEM TÉCNICA A TENTATIVAS DE SUICÍDIO.....10

1. GLOSSÁRIO ............................................................................................. 11
1.1 ABORDADOR ......................................................................................... 11
1.2 ABORDADOR AUXILIAR ........................................................................... 11
1.3 ABORDAGEM DE DISSUASÃO .................................................................. 11
1.4 ABORDAGEM TÁTICA ............................................................................. 11
1.5 ANÁLISE DE SITUAÇÃO ........................................................................... 12
1.6 AVALIAÇÃO INICIAL ................................................................................ 12
1.7 AVALIAÇÃO DE RISCOS .......................................................................... 12
1.8 COMANDANTE DA EMERGÊNCIA .............................................................. 12
1.9 COMPORTAMENTO SUICIDA .................................................................... 12
1.9.1 Ideação suicida ................................................................................ 13
1.9.2 Ato suicida ....................................................................................... 13
1.9.3 Tentativa de suicídio ........................................................................ 13
1.9.4 Tentativa abortada ........................................................................... 13
1.9.4.1 Tentativa interrompida ............................................................... 13
1.9.4.2 Suicídio...................................................................................... 13
1.10 CONTROLE DE PERÍMETRO ..................................................................... 14
1.10.1.1 Zona quente .............................................................................. 14
1.10.1.2 Zona morna ............................................................................... 14
1.10.1.3 Zona fria .................................................................................... 14
1.10.1.4 Zona de segurança ................................................................... 14
1.11 ESPAÇO DE COMUNICAÇÃO .................................................................... 15
1.12 EQUIPE DE ABORDAGEM TÁTICA ............................................................. 15
1.13 FATORES DE RISCO ................................................................................ 15
1.13.1.1 Predisponentes ......................................................................... 15
1.13.1.2 Precipitantes.............................................................................. 15
1.14 FATORES DE PROTEÇÃO ......................................................................... 15
1.15 LINGUAGEM CORPORAL ......................................................................... 16
1.16 MÉTODO DE SUICÍDIO ............................................................................. 16
7

1.17 MITIGAÇÃO DO RISCO............................................................................. 16


1.18 NEUTRALIZAÇÃO DO RISCO .................................................................... 16
1.19 PLANO DE AÇÃO DA EMERGÊNCIA .......................................................... 16
1.20 PRIMEIRO RESPONDEDOR ...................................................................... 16
1.21 RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA ........................................................... 17
1.22 RISCO................................................................................................... 17
1.23 TENTANTE............................................................................................. 17
1.24 UNIDADE DE SERVIÇO (USV) .................................................................. 17
1.25 VÍNCULO ............................................................................................... 17
2 TÉCNICAS DE ABORDAGENS A TENTATIVAS DE SUICÍDIO .............. 18
2.1 ABORDAGEM DE DISSUASÃO .................................................................. 18
2.2 ABORDAGEM TÁTICA ............................................................................. 19
2.3 CONDIÇÃO DE ACIONAMENTO DE ABORDADOR ........................................ 20
2.4 PREPARAÇÃO PARA O INÍCIO DA ABORDAGEM DE DISSUASÃO: ................. 21
3 GERENCIAMENTO DE EMERGÊNCIAS ENVOLVENDO TENTATIVAS DE
SUICÍDIO ......................................................................................................... 22
3.1 OS 8 PASSOS DO PRIMEIRO RESPONDEDOR: ............................................ 22
4 GUIAS DE ATENDIMENTO ...................................................................... 24
4.1 TENTATIVA COM USO DE OBJETOS PERFUROCORTANTES .......................... 24
4.2 TENTATIVA POR PRECIPITAÇÃO ............................................................... 25
4.3 TENTATIVA COM USO DE GASES, LÍQUIDOS INFLAMÁVEIS E AUTOIMOLAÇÃO.26
4.4 TENTATIVA POR ENFORCAMENTO ............................................................ 27
4.5 TENTATIVA POR ELETROCUSSÃO EM TORRES DE ALTA TENSÃO ................. 28
4.6 TENTATIVA POR PRECIPITAÇÃO EM RIO/REPRESA/MEIO AQUÁTICO ............. 29
4.7 TENTATIVA POR ENVENENAMENTO .......................................................... 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 31
8

INTRODUÇÃO

Conforme a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é o ato deliberado de matar a


si mesmo (OMS, 2014). Outros autores complementam como “morte causada por
comportamento danoso autoinfligido com qualquer intenção de morrer como
resultado” (WENZEL; BROWN; BECK, 2010, p. 21).

Já a tentativa de suicídio é descrita como “comportamento não fatal, autoinfligido,


potencialmente danoso, com qualquer intenção de morrer como seu resultado. Uma
tentativa de suicídio pode resultar ou não em um ferimento” (WENZEL; BROWN;
BECK, 2010, p. 21).

Dentre as variáveis demográficas, ocorrem no mundo cerca de 703 mil suicídios


completos (1 a cada 40 segundos, em média), sendo a 2ª maior causa de morte entre
jovens de 15 a 29 anos (OMS, 2019). No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (MS),
11.000 pessoas consumam o suicídio ao ano (1 a cada 45 minutos, em média), sendo
considerada a 4ª maior causa de mortes externas (que incluem acidentes
automobilísticos e violência urbana) entre pessoas de 15 a 29 anos (MS, 2018). Dentre
os homens da mesma faixa etária, o suicido é a 3ª maior causa de morte.

Entre 2011 e 2016, de acordo com o MS, (BRASIL, 2018), houve no país um aumento
de 27,4% na taxa de incidência de suicídio, sendo que homens morreram mais por
suicídio (79%), comparados às mulheres (21%), numa taxa de mortalidade de 3,6
vezes maior que das mulheres. Por outro lado, ainda conforme a mesma fonte, nas
amostras de indivíduos que tentaram suicídio, os números invertem-se, sendo as
mulheres que mais tentam o suicídio (69%), comparadas aos homens (31%).

No Brasil, de acordo com o Boletim Epidemiológico Nº 30/2017 do MS, (BRASIL,


2017), a faixa etária predominante para tentativas de suicídio é de 20 a 29 anos,
enquanto a faixa etária predominante para suicídio completo é a partir de 70 anos.

Dentre as missões legais impostas aos Corpos de Bombeiros Militares de todo o


Brasil, consubstanciadas nas atribuições definidas em leis federais e de cada Estado,
destacam-se as atuações que demandam de ações para o salvamento de vidas
humanas nos locais de atendimento. Esses casos também englobam as ocorrências
9

envolvendo tentativas de suicídio, nas quais o bombeiro atua como último recurso
para a dissuasão do tentante. A abordagem técnica, seja de dissuasão ou tática, por
sua vez, exige técnica, preparo e muito treinamento para fazer frente aos diversos
riscos inerentes a esse tipo de atendimento.

A diversidade de riscos envolvidos ocorre em função dos possíveis métodos


escolhidos pela pessoa que tenta o suicídio, aqui, por concisão, denominada
“tentante”.

A abordagem exige toda uma análise que deve ser criteriosamente realizada para a
garantia do maior nível de segurança, tanto para os atendentes, quanto para o
tentante e as demais pessoas presentes nos locais de atendimento. Assim, as
abordagens realizadas pelas equipes de salvamento devem cumprir os preceitos
técnicos estabelecidos para que se aproveitem todas as chances de sucesso para a
dissuasão ou convencimento, ou a contenção do tentante (abordagem tática). Esses
preceitos figuram na presente nota técnica nacional.

Nesse sentido, a Nota Técnica Nacional visa apresentar um sistema padronizado de


procedimentos aos Corpos de Bombeiros Militares para que esses possam embasar
suas respectivas normativas internas de modo a agregar a nova tendência de
atendimento a tentativas de suicídio de forma técnica, humanizada e alinhada aos
preceitos de segurança para as equipes envolvidas na ocorrência.

A presente nota técnica trata de SUGESTÕES de medidas a serem adotadas antes,


durante e após o atendimento de ocorrências envolvendo tentativas de suicídio, e será
desenvolvida nas seguintes partes:

 Aspectos doutrinários para o atendimento de emergências envolvendo


tentativas de suicídio;

 Gerenciamento de emergências envolvendo tentativas de suicídio;

 Guias de atendimento.

HISTÓRICO DA ABORDAGEM TÉCNICA A TENTATIVAS DE SUICÍDIO


10

Após quase 10 anos de estudos um Projeto de Pesquisa foi apresentado na Academia


de Polícia Militar do Barro Branco no Estado de São Paulo, a fim de criar uma nova
técnica para o atendimento a ocorrências que envolvessem tentativas de suicídio. A
técnica previa uma nova visão para essas Emergências e humanizava o atendimento,
fazendo com que tanto o tentante, quanto seu abordador não fossem expostos a riscos
desnecessários.

Os estudos iniciais para a criação de uma técnica inédita iniciaram-se por volta de
2005 e contaram com a participação de inúmeros profissionais: Bombeiros,
Psicólogos, Psiquiatras, Enfermeiros, Socorristas, entre outros e tal estudo durou até
o ano de 2015, quando da apresentação da Dissertação supra citada. Rapidamente
aceita e adotada por alguns Corpos de Bombeiros Militares do país, a técnica passou
a ser alvo de algumas publicações acadêmicas e iniciou o processo da escrita de
alguns Protocolos e Compêndios nesses Estados.

No ano de 2019, no Seminário Nacional de Bombeiros, foi criada a então Comissão


Nacional de Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio, a qual apresentou ao país
uma proposta de Protocolo Nacional, embrião da atual Nota Técnica e do hoje, Comitê
de Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio.

Ainda em data atual estudos são mantidos e incentivados por todo Brasil, pois a
Abordagem Técnica é um organismo vivo que deve sempre adaptar-se ao tempo e à
realidade de cada região e corporação, todavia sem nunca perder seu olhar
humanizado e acolhedor para tentantes que sofrem diariamente em pontes,
sacadas, torres, etc.

Enquanto houver vida sempre haverá esperança e um profissional capacitado a


atender o ser humano em sua forma mais dilacerante de dor, ou seja, a tentativa de
suicídio.

SIGAMOS!!!

Diógenes Martins Munhoz


Idealizador do Curso de ATTS

1. GLOSSÁRIO
11

Para os efeitos de PADRONIZAÇÃO de nomenclaturas essa Nota Técnica passa a


descrever e sugerir o seguinte glossário de conceitos e definições:

1.1 Abordador

É o militar ou profissional da área de urgência e emergência com capacitação


adquirida nos cursos de especialização de bombeiros ou em curso de especialização
em abordagem técnica às tentativas de suicídio, responsável pela comunicação
(verbal ou não verbal) estabelecida com o tentante, com o objetivo de fazê-lo mudar
ou abandonar a ideia do suicídio.

1.2 Abordador auxiliar

É o militar ou profissional da área de urgência e emergência com a mesma


capacitação requerida ao abordador. Sua função é a de acompanhar o abordador em
todas as ações durante o atendimento da ocorrência, servindo assim, como reserva
(backup), caso haja a necessidade de substituí-lo ou mesmo servir como segurança
do Abordador.

1.3 Abordagem de Dissuasão

É a atuação desejada do abordador para com o tentante, pautada na verdade, na


busca pelo vínculo e na comunicação não violenta, de forma humanizada, coerente e
respeitosa, com o intuito de descobrir os fatores de risco e de proteção, e utilizá-los
de forma acertada, de modo a conduzir o tentante a desistir da ideia do suicídio.

1.4 Abordagem Tática

É a abordagem de contenção do tentante, por equipe de militares devidamente


treinados, realizada nas ocasiões em que a Abordagem de Dissuasão se torne
contraindicada ou ineficaz.

1.5 Análise de situação


12

É a avaliação de todas as variáveis envolvidas em uma emergência, necessária para


o estabelecimento de um plano de ação e de suas prioridades. É composta pela
avaliação inicial e pela avaliação de riscos.

1.6 Avaliação inicial

Constitui-se do levantamento de todas as informações necessárias para a tomada de


decisão em uma emergência e da análise do cenário inicial encontrado. Inicia-se com
o despacho da emergência e o recebimento das informações iniciais pela Central de
Comunicações e segue até a confirmação no local do incidente.

1.7 Avaliação de riscos

Constitui-se da avaliação de todos os riscos envolvidos no cenário da emergência,


com objetivo de neutralizá-los ou minimizá-los. Requer a análise da gravidade, da
probabilidade e da exposição de cada risco potencial identificado.

1.8 Comandante da Emergência

É o militar de maior posto ou graduação, presente no local da emergência,


responsável pela gestão de todas as atividades emergenciais, com autoridade e
responsabilidade total pela condução das operações.

1.9 Comportamento suicida

Todo ato pelo qual um indivíduo causa lesão a si mesmo, independentemente do grau
de intenção letal e do verdadeiro motivo desse ato. Uma definição tão abrangente
possibilita conceber o comportamento suicida ao longo de um continuum1, a partir de
pensamentos de autodestruição, por meio de ameaças, gestos, tentativas de suicídio
e, por fim, suicídio (BOTEGA, 2015, p. 24).

1.9.1 Ideação suicida

1
Continuum representa uma série de acontecimentos sequenciais e ininterruptos, fazendo com que haja uma
continuidade entre o ponto inicial e o final.
13

Quaisquer pensamentos2, imagens3, crenças4, vozes5 ou outras cognições6 relatadas


pelo indivíduo sobre terminar intencionalmente com sua própria vida (WENZEL;
BROWN; BECK, 2010, p. 21).

1.9.2 Ato suicida

Comportamento auto infligido, potencialmente danoso, com a intenção de morrer com


seu resultado e utilizando um método que acredita ser letal. Um ato suicida pode
resultar ou não em morte (suicídio) (WENZEL; BROWN; BECK, 2010, p. 21).

1.9.3 Tentativa de suicídio

Comportamento não letal, auto infligido, potencialmente danoso, com a intenção de


morrer como seu resultado, utilizando um método que acredita ser letal. Uma tentativa
de suicídio pode resultar ou não em um ferimento (WENZEL; BROWN; BECK, 2010,
p. 21).

1.9.4 Tentativa abortada

Quando o tentante pretende matar-se e começa a avançar na direção de uma


tentativa, mas para antes de realmente engajar-se em um comportamento
autoagressivo (WENZEL; BROWN; BECK, 2010).

1.9.4.1 Tentativa interrompida

Quando o tentante começa a engajar-se em um ato potencialmente danoso com a


intenção de acabar com a própria vida, mas é interrompido por outra pessoa ou
alguma circunstância. Nesse caso, uma tentativa de suicídio teria ocorrido caso o ato
potencialmente danoso não tivesse sido interrompido ou prevenido (WENZEL;
BROWN; BECK, 2010).

1.9.4.2 Suicídio
Morte autoprovocada com evidências (explícitas ou implícitas) de que a pessoa
pretendia morrer (QUEVEDO e CARVALHO, 2014, p. 166).

2
Ex: “Quando eu deixar de viver, não sofrerei mais por isso.”
3
Ex: “Me vejo ingerindo uma quantidade considerável de determinado medicamento.”
4
Ex: “Ninguém sentirá minha falta se eu morrer agora.”
5
Ex: “Escuto vozes me ordenando pular daqui agora!”
6
Percepção, conhecimento.
14

1.10 Controle de perímetro

É o estabelecimento do isolamento das áreas de risco e o controle de acesso de


pessoas não autorizadas, inclusive de bombeiros e profissionais de saúde sem
equipamentos de proteção, ou não requisitados no momento. Engloba o
estabelecimento das zonas quente, morna, fria, e de exclusão.

1.10.1.1 Zona quente

É uma área restrita, situada imediatamente ao redor do incidente, que se prolonga até
o ponto em que os riscos e seus efeitos nocivos não possam mais afetar as pessoas
posicionadas fora dela. Dentro dessa área ocorrerão as ações de controle, sendo
permitida apenas a presença de pessoal técnico qualificado, devidamente trajados
com equipamentos de proteção individual (EPI) necessários à segurança.

1.10.1.2 Zona morna

É uma área demarcada após a zona quente, onde ocorrerão as atividades de


descontaminação de pessoas e de equipamentos, triagem, bem como suporte ao
pessoal em atuação direta à emergência. Nesta área será permitida somente a
permanência de profissionais especializados e devidamente trajados com EPI, os
quais darão apoio às ações de controle desenvolvidas dentro da zona quente. Essa
área é destinada ao posicionamento de equipamentos que, porventura, poderão ser
utilizados na emergência.

1.10.1.3 Zona fria

É uma área demarcada após a zona morna, destinada para outras funções de apoio.
É o local onde estará o Posto de Comando, a Área de Espera, e toda a logística do
atendimento.

1.10.1.4 Zona de segurança

Nesta área permanecerão as pessoas e instituições que não possuem qualquer


envolvimento direto com a ocorrência, como a imprensa e a comunidade.
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1.11 Espaço de com unicação

É o espaço mínimo que deve ser respeitado em função da segurança, da aceitação


de aproximação por parte do tentante, e da comunicação eficaz entre o tentante e o
abordador. É um mecanismo importante de mensuração do bom desenvolvimento da
abordagem de dissuasão.

1.12 Equipe de abordagem tática

É a equipe de abordagem, composta por militares com capacitações específicas para


atuar com segurança na contenção do tentante, considerando o método de suicídio
escolhido, nas ocasiões em que a abordagem técnica se torne contraindicada ou
ineficaz. A atuação da equipe de abordagem tática requer, a princípio, o acionamento
pelo comandante da emergência por meio de sinal combinado ou voz de comando.

1.13 Fatores de risco

Conjunto de fatores de diferentes naturezas, externos e/ou internos ao indivíduo, que


se combinam de modo complexo e variável e podem impulsionar o indivíduo ao ato
suicida. Botega (2015) desmembra os fatores de risco em:

1.13.1.1 Predisponentes

Fatores que acompanham a biografia do sujeito já há algum tempo (transtornos


mentais, abuso de drogas, tentativas prévias de suicídio, alcoolismo, presença de
suicídio na família, abuso sexual da infância, impulsividade, etc.);

1.13.1.2 Precipitantes

Fatores que funcionam como gatilhos para a tentativa atual (luto ou perda traumática,
separação conjugal, desemprego, conflito amoroso, derrocada financeira, etc.)
(PINTO, 2020, p. 45).

1.14 Fatores de proteção

Conjunto de fatores de diferentes naturezas, externos e/ou internos ao indivíduo, que


se combinam de modo complexo e variável e podem reduzir o risco de suicídio.
Quevedo e Izquierdo (2020) apresentam como exemplos o próprio cuidado de saúde
pessoal, a conectividade com outros indivíduos, família e instituições sociais; as
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habilidades para a vida (habilidade de enfrentamento, capacidade de adaptação à


mudança); autoestima e senso de propósito ou significado na vida; crenças culturais,
religiosas ou pessoais.

1.15 Linguagem corporal

Forma de comunicação não-verbal que abrange principalmente os gestos, a postura,


as expressões faciais, os movimentos dos olhos e os movimentos do corpo humano.
A atenção na linguagem corporal do tentante permite antecipar seus passos, ações e
reações.

1.16 Método de suicídio

Meio escolhido/utilizado pelo tentante para a consumação do suicídio.

1.17 Mitigação do risco

Ato de minimizar os efeitos dos riscos potenciais identificados na avaliação de riscos.

1.18 Neutralização do risco

Ato de eliminar os efeitos dos riscos potenciais identificados na avaliação de riscos.

1.19 Plano de Ação da Emergência

É o planejamento operacional específico para a resposta a um incidente. Compreende


obrigatoriamente a análise da situação e a definição dos objetivos, das estratégias e
dos recursos necessários para a resposta à emergência.

1.20 Primeiro Respondedor

É o militar que primeiramente atendeu ao chamado da emergência no local da crise e


será o primeiro a tomar as medidas iniciais necessárias para o acionamento de todos
os outros profissionais e meios para a solução completa da crise.

1.21 Responsável pela segurança


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É o militar com a função de auxiliar o comandante da emergência na identificação,


minimização ou neutralização dos riscos inerentes a cada emergência. Nos casos de
atos inseguros ou ações inseguras deve informar o comandante para providências
imediatas.

1.22 Risco

Combinação da probabilidade de ocorrência e da consequência de um determinado


evento perigoso.

1.23 Tentante

Pessoa com a intenção de causar a própria morte.

1.24 Unidade de Serviço (USv)

Conjugação do efetivo, da viatura e dos equipamentos, devidamente registrados no


Sistema de Gerenciamento de Ocorrências.

1.25 Vínculo

É a união, a relação ou a ligação estabelecida entre uma pessoa e outra, no caso


entre o abordador e o tentante.
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2 TÉCNICAS DE ABORDAGENS A TENTATIVAS DE SUICÍDIO

Nomeada como Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio a técnica ora descrita


nessa Nota Técnica possui duas divisões a Abordagem de Dissuasão e a
Abordagem Tática que serão descritas a seguir.

2.1 Abordagem de Dissuasão

Com base na conceituação já apresentada, a abordagem de dissuasão é a atuação


pela qual o abordador busca o estabelecimento de um vínculo com o tentante, de
forma humanizada, coerente e respeitosa, com o intuito de descobrir os fatores de
risco e de proteção, para utilizá-los de modo a conduzi-lo a desistir da ideia do suicídio.

O estabelecimento do vínculo com o tentante é fundamental no atendimento dessa


modalidade de ocorrência. Para tal, é importante que apenas um abordador fale com
o tentante durante o todo o atendimento. Esse abordador deve portar-se de forma
atenciosa e como um bom ouvinte, a fim de que o tentante se sinta segura para falar.
Não se deve mentir ou, de forma alguma, tentar enganá-lo, uma vez que essas
atitudes podem vir a quebrar o vínculo estabelecido.

A Abordagem de Dissuasão deverá ser executada sempre por um único profissional


que, de acordo com os recursos disponíveis no local da ocorrência, poderá atuar
sozinho ou com o suporte de uma equipe de apoio.

Todos os envolvidos no atendimento da ocorrência devem estar atentos à linguagem


corporal própria e à linguagem corporal do tentante. Além do fato de que uma boa
postura corporal ajuda no fortalecimento do vínculo, por meio dessa leitura é possível
visualizar se o tentante está envolvido na conversa ou não, bem como se está prestes
a cometer o ato.

Assim sendo, conforme Munhoz (2018), temos comportamentos gerais desejáveis por
parte do abordador. Durante o atendimento, a equipe e principalmente o abordador
devem:

a) entender a postura, a entonação de voz e os gestos do tentante, e ainda agir de


maneira sincera e atenciosa para fortalecer o vínculo de confiança;
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b) buscar formar vínculo com o tentante;

c) manter canal de comunicação aberto;

d) olhar para o tentante em demonstração de atenção;

e) ouvir atentamente;

f) respeitar pausas silenciosas;

g) repetir, resumir e relacionar ideias para o tentante;

h) apoiar o tentante a encontrar soluções próprias;

i) dar espaço para o tentante perguntar.

Por outro lado, há comportamentos improdutivos que devem ser evitados a todo custo
como, conforme (MUNHOZ, 2018):

a) completar frases para o tentante;

b) mentir, prometer, seduzir;

c) chamar por apelidos ou nomes depreciativos;

d) ser agressivo ou ríspido;

e) rir ou demonstrar desprezo pela fala ou emoção do tentante, ameaçar, desafiar,


julgar;

f) dar opinião pessoal e aconselhar;

g) antecipar a ação tática de forma desnecessária;

h) levar parentes e/ou conhecidos à presença do tentante;

i) efetuar comemorações na frente dele;

j) ceder a qualquer exigência que vá contra o protocolo;

k) dar cigarros, celulares, refeições ou algo do tipo, dentre outros. (MUNHOZ, 2018).

2.2 Abordagem Tática

A equipe de abordagem tática deve ser composta por militares do Corpo de Bombeiros
Militar, com qualificações técnicas específicas e EPI adequados para atuar frente aos
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riscos apresentados em função do método escolhido pelo tentante. Assim, em uma


emergência cujo método escolhido seja a precipitação, por exemplo, os bombeiros
que atuarão deverão ser especialistas em salvamento em altura, e portarem os EPI
adequados ao risco.

Cabe ressaltar que o encarregado da equipe de Abordagem Tática deverá


permanecer em constante contato com o Comandante da Emergência, transmitindo
as novidades e a condição de pronto emprego, e aguardando o acionamento para
pronta atuação por comando de voz ou por sinal previamente estipulado.

Para o acionamento de uma abordagem tática alguns quesitos devem ser levados em
consideração:

a) exaurimento total da Abordagem de Dissuasão;

b) sinais de suicídio eminente por parte do tentante;

c) determinação direta do Comandante da Emergência ou dos Abordadores


(Principal ou Auxiliar)

2.3 Condição de Acionamento de Abordador

Recomenda-se que um abordador especializado deverá ser acionado para o


atendimento da crise suicida atendendo as seguintes condições:

a) ocorrências de tentativa de suicídio que estejam em curso há mais de 2 (duas)


horas e que já possuam um primeiro interventor no local;

b) situações em que haja um abordador especializado de serviço na área territorial


da crise instalada e seu deslocamento para o atendimento da emergência não traga
nenhum prejuízo operacional.

Ao chegar ao local, o abordador deverá apresentar-se ao Comandante da Emergência


e se deixar à disposição para que este avalie a necessidade de seu emprego junto à
abordagem ou a qualquer outra função dentro do cenário.
21

2.4 Preparação para o início da Abordagem de Dissuasão:

Antes do início da abordagem de dissuasão efetuada pelo abordador principal,


algumas fases devem ser cumpridas para o melhor desenvolvimento da ocorrência,
uma vez que são pontos fundamentais para o êxito da própria abordagem técnica.
São elas:

a) Isolamento do local;

b) Levantamento de informações sobre o tentante;

c) Controle de chegada de viaturas ao local;

d) Preparação e montagem para uma possível Abordagem Tática;

e) Distribuição de funções adequadas ao número de bombeiros.

Os itens anteriormente citados são de total responsabilidade do Comandante da


Emergência e não do Abordador Principal, uma vez que esse último deve focar-se
totalmente na Abordagem de Dissuasão.

Vejamos a seguir o exemplo da técnica desenvolvida, conforme CBPMESP (2021), e


como a Abordagem de Dissuasão e a Abordagem Tática fazem parte da Abordagem
Técnica a Tentativas de Suicídio:

Fonte: CBPMESP (2021) - Protocolo de Atendimento a ATTS de São Paulo


22

3 GERENCIAMENTO DE EMERGÊNCIAS ENVOLVENDO TENTATIVAS DE


SUICÍDIO

Para o atendimento de toda e qualquer emergência de tentativas de suicídio por


Unidades de Serviço (USv) é sugerida a utilização de um Sistema de Comando e
Gerenciamento de Emergências que, por sua vez, deve ser adotado pelo Estado
membro como ferramenta de gerenciamento. O Sistema de Comando pode ser
adaptado para grandes e pequenas emergências, com múltiplas agências envolvidas
ou não, e com Plano de Ação da Emergência apresentado na forma escrita ou mental.

Para facilitar a tomada de decisões na emergência, e o acionamento dos recursos


necessários em tempo hábil, todo primeiro respondedor, na função de comandante da
emergência, deve aplicar os “8 passos do primeiro respondedor”, descritos a seguir.
Os 8 passos constituem-se em um resumo das medidas necessárias para o
estabelecimento do Plano de Ação da Emergência.

3.1 Os 8 passos do primeiro respondedor:

Os passos a seguir devem ser aplicados obrigatoriamente na sequência apresentada.

1º) Informar sua chegada ao local da ocorrência;

2º) Assumir e estabelecer o Posto de Comando;

3º) Avaliara situação;

4º) Estabelecer um perímetro de segurança;

5º) Estabelecer seus objetivos;

6º) Determinar as estratégias;

7º) Determinar a necessidade de recursos e possíveis instalações; e

8º) Preparar as informações para transferir o comando.

Cabe ressaltar que só após serem adotadas as ações supradescritas é que deve ser
iniciada a Abordagem de Dissuasão de acordo com a doutrina específica da
Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio.
23

Notas:

1. Nos casos de ocorrências envolvendo arma de fogo ou ações criminosas, as


abordagens de dissuasão, bem como a gestão da emergência, não devem ser
realizadas pelas equipes do Corpo de Bombeiros Militar, e sim pelo policiamento de
área e/ou grupos de ações táticas especiais.

2. Nos casos de utilização de armas de fogo de qualquer espécie, utilização de


artefatos explosivos, e/ou ações criminosas ou de terrorismo, com ameaça ou
intenção de suicídio, as equipes do Corpo de Bombeiros Militar deverão atuar em
apoio, e permanecerem, a princípio, na área fria, cabendo-lhes o Suporte Básico de
Vida às equipes de atendimento e/ou ao tentante.

3. Mesmo que todas as técnicas indicadas sejam empregadas, os resultados


finais podem não ser os desejados. Nesses casos, a “escolha” terá sido do
tentante.
24

4 GUIAS DE ATENDIMENTO

4.1 Tentativa com uso de objetos perfurocortantes

A - Objetivos propostos:

1) Estabelecer o controle do perímetro;


2) Estabelecer condições de segurança para as equipes de serviço e
para o tentante;
3) Conduzir o tentante para local seguro e em condições seguras;
4) Conduzir o tentante para o hospital de referência.
B - Estratégias:

Objetivos propostos Estratégias e ações propostas


(O que?) (Como?)

1) Estabelecer o controle a) Delimitar as zonas de restrição com fitas de isolamento e


do perímetro. remover as pessoas não autorizadas do local.

a) Providenciar a equipagem do efetivo com o conjunto de


proteção individual completo para incêndio estrutural;
b) Posicionar o abordador em local abrigado de possíveis
lançamentos de objetos perfurantes por parte do tentante;
2) Estabelecer condições c) Estabelecer rota de fuga para as equipes de abordagem de
de segurança para as dissuasão e tática;
equipes de serviço e do
tentante. d) Estabelecer barreiras/barricadas e métodos de contenção
não letais para restringir a movimentação do tentante e evitar
possíveis ataques às equipes ou a terceiros.

e) Posicionar na zona fria, equipe de SAV/SBV para o pronto


atendimento das equipes de serviço e do tentante.

a) Realizar a Abordagem de Dissuasão.


3) Conduzir o tentante
para local seguro e em b) Realizar a Abordagem de Tática, se necessário.
condições seguras;
c) Aplicar o APH após a dissuasão ou a contenção do tentante,
caso necessário.
4) Conduzir o tentante a) Transportar o tentante ao hospital de referência, após
para o hospital de avaliação médica, em USv posicionada na zona fria, por equipe
referência. de SBV.
25

4.2 Tentativa por precipitação

A - Objetivos propostos:

1) Estabelecer o controle do perímetro;


2) Estabelecer condições de segurança para as equipes de serviço e
para o tentante;
3) Conduzir o tentante para local seguro e em condições seguras;
4) Conduzir o tentante para o hospital de referência.
B - Estratégias:

Objetivos propostos Estratégias e ações propostas


(O que?) (Como?)
a) Delimitar as zonas de restrição com fitas de isolamento;

b) Remover as pessoas não autorizadas do local de abordagem,


e remover equipes e terceiros do possível local de queda

c) Interromper o tráfego local, se necessário;


1) Estabelecer o
controle do perímetro. d) Limitar o caminhamento do tentante, e minimizar a altura de
queda, se possível e necessário.

e) No caso de viadutos ou passarelas colocar dois bombeiros


posicionados, um de cala lado do tentante, limitando o
caminhamento, bem como, se possível e necessário, utilizar meios
para minimizar a altura da queda,.
a) Providenciar a equipagem do efetivo com o conjunto de
proteção individual para trabalhos em altura;

2) Estabelecer b) Estabelecer pontos de ancoragens para as equipes de


condições de abordagem de dissuasão e tática;
segurança para as c) Posicionar o abordador em local seguro, e se necessário,
equipes de serviço. devidamente ancorado.
d) Posicionar na zona morna, de forma abrigada e em local mais
próximo possível do ponto de queda, a(s) equipe(s) de SAV/SBV
para o pronto atendimento do tentante.

a) Realizar a Abordagem de Dissuasão.


3) Conduzir o tentante
para local seguro e em b) Realizar a Abordagem de Tática, se necessário.
condições seguras;
c) Aplicar o APH após a dissuasão ou a contenção do tentante,
caso necessário.
4) Conduzir o tentante
a) Transportar o tentante ao hospital de referência, após avaliação
para o hospital de
médica, em USv posicionada na zona fria, por equipe de SBV.
referência.
26

4.3 Tentativa com uso de gases, líquidos inflamáveis e autoimolação

A - Objetivos propostos:

1) Estabelecer o controle do perímetro;


2) Realizar abandono de área sob risco;
3) Estabelecer condições de segurança para as equipes de serviço e
para o tentante;
4) Conduzir o tentante para local seguro e em condições seguras;
5) Conduzir o tentante para o hospital de referência.
B - Estratégias:

Objetivos propostos Estratégias e ações propostas


(O que?) (Como?)

1) Estabelecer o controle a) Delimitar as zonas de restrição com fitas de isolamento e


do perímetro. remover as pessoas não autorizadas do local.

2) Realizar o abandono de a) Realizar o abandono de área e a evacuação de pessoas nos


área sob risco. locais de risco, dentro do raio de ação calculado.

a) Providenciar a equipagem do efetivo com o conjunto de


proteção individual completo para incêndio estrutural;
b) Desligar a energia elétrica e eliminar possíveis fontes de
ignição no local da ocorrência.
c) Posicionar o abordador em local abrigado.
3) Estabelecer condições d) Estabelecer rota de fuga para as equipes de abordagem de
de segurança para as dissuasão e tática;
equipes de serviço e do e) Armar linhas de combate a incêndio e de proteção para a
tentante. extinção das chamas e/ou proteção das equipes e/ou
contenção do tentante e/ou eliminação de fontes de ignição.
f) Posicionar USV de socorro de incêndio e de apoio d’água
preferencialmente na zona fria.

g) Posicionar na zona fria, equipes de SAV/SBV para o pronto


atendimento das equipes de serviço e do tentante.
a) Realizar a Abordagem de Dissuasão.
4) Conduzir o tentante
para local seguro e em b) Realizar a Abordagem de Tática, se necessário.
condições seguras; c) Aplicar o APH após a dissuasão ou a contenção do tentante,
caso necessário.
5) Conduzir o tentante a) Transportar o tentante ao hospital de referência, após
para o hospital de avaliação médica, em USv posicionada na zona fria, por equipe
referência. de SBV.
27

4.4 Tentativa por enforcamento

A - Objetivos propostos:

1) Estabelecer o controle do perímetro;


2) Estabelecer condições de segurança para as equipes de serviço e
para o tentante;
3) Conduzir o tentante para local seguro e em condições seguras;
4) Conduzir o tentante para o hospital de referência.
B - Estratégias:

Objetivos propostos Estratégias e ações propostas


(O que?) (Como?)

a) Delimitar as zonas de restrição com fitas de isolamento,


remover as pessoas não autorizadas do local de abordagem, e
1) Estabelecer o controle remover equipes e terceiros do possível local de acesso ao
do perímetro.
tentante após aqueda
b) Interromper o tráfego local, se necessário.
a) Providenciar a equipagem do efetivo com o conjunto de
proteção individual para trabalhos em altura;

b) Estabelecer pontos de ancoragens para as equipes de


abordagem de dissuasão e tática;

2) Estabelecer condições c) Posicionar o abordador em local seguro, e se necessário,


de segurança para as devidamente ancorado.
equipes de serviço. d) Posicionar, de forma abrigada, uma equipe para rápido
acesso ao tentante em caso de projeção do tentante, com
escadas/plataformas, e ferramentas para corte da corda/fio
utilizado;
e) Posicionar na zona morna, de forma abrigada e em local
próximo à possível queda, equipe de SAV/SBV para o pronto
atendimento das equipes de serviço e do tentante.
a) Realizar a Abordagem de Dissuasão;

b) Realizar a Abordagem de Tática para a contenção do


tentante, se necessário;
3) Conduzir o tentante
para local seguro e em c) Realizar a Abordagem de Tática, nos casos de projeção,
condições seguras; para o suporte do peso do tentante até que a corda/fio seja
cortada;
d) Aplicar o APH após a dissuasão ou a contenção do tentante,
caso necessário.

4) Conduzir o tentante a) Transportar o tentante ao hospital de referência, após


para o hospital de avaliação médica, em USv posicionada na zona fria, por equipe
referência. de SBV.
28

4.5 Tentativa por eletrocussão em torres de alta tensão

A - Objetivos propostos:

1) Estabelecer o controle do perímetro;


2) Estabelecer condições de segurança para as equipes de serviço e
para o tentante;
3) Conduzir o tentante para local seguro e em condições seguras;
4) Conduzir o tentante para o hospital de referência.
B - Estratégias:

Objetivos propostos Estratégias e ações propostas


(O que?) (Como?)

a) Delimitar as zonas de restrição com fitas de isolamento e


1) Estabelecer o controle
remover equipes e terceiros do possível local de queda;
do perímetro.
b) Interromper o tráfego local, se necessário.
a) Acionar a concessionária para corte de energia elétrica e
isolamento das torres, condição indispensável para atuação
das equipes de salvamento;
b) Providenciar a equipagem do efetivo com o conjunto de
proteção individual para trabalhos em altura;
2) Estabelecer condições c) Providenciar a progressão assegurada das equipes de
de segurança para as dissuasão e tática;
equipes de serviço.
d) Posicionar o abordador e a equipe em local seguro,
devidamente ancorados, afastados dos isoladores e protegidos
de uma possível queda do tentante;
e) Posicionar na zona morna, de forma abrigada e em local
próximo ao ponto da possível queda, equipe de SAV/SBV para
o pronto atendimento do tentante.

a) Realizar a Abordagem de Dissuasão.

3) Conduzir o tentante b) Realizar a Abordagem de Tática, se necessário.


para local seguro e em
condições seguras; c) Ancorar o tentante e descê-lo de forma segura;
d) Aplicar o APH após a dissuasão ou a contenção do tentante,
caso necessário.
4) Conduzir o tentante a) Transportar o tentante ao hospital de referência, após
para o hospital de avaliação médica, em USv posicionada na zona fria, por equipe
referência. de SBV.
29

4.6 Tentativa por precipitação em rio/represa/meio aquático

A - Objetivos propostos:

1) Estabelecer o controle do perímetro;


2) Estabelecer condições de segurança para as equipes de serviço e
para o tentante;
3) Conduzir o tentante para local seguro e em condições seguras;
4) Conduzir o tentante para o hospital de referência.
B - Estratégias:

Objetivos propostos Estratégias e ações propostas


(O que?) (Como?)

a) Delimitar as zonas de restrição com fitas de isolamento,


1) Estabelecer o controle remover as pessoas não autorizadas do local de abordagem;
do perímetro. b) Interromper o tráfego local, e o passeio de pedestres, se
necessário.
a) Providenciar a equipagem do efetivo em local elevado com
o conjunto de proteção individual para trabalhos em altura;
b) Providenciar a equipagem do efetivo em meio aquático com
o conjunto de proteção individual para salvamento aquático;
c) Estabelecer pontos de ancoragens para as equipes de
abordagem de dissuasão e tática;
2) Estabelecer condições
de segurança para as d) Posicionar o abordador em local seguro, e se necessário,
equipes de serviço. devidamente ancorado.
e) Posicional embarcação para salvamento em caso de
precipitação em meio aquático, devidamente protegida, e fora
do campo visual do tentante;
f) Posicionar na zona morna/fria, em local próximo ao ponto de
içamento do tentante, nos casos de precipitação, equipe de
SAV/SBV para o pronto atendimento.
a) Realizar a Abordagem de Dissuasão;

b) Realizar a Abordagem de Tática, se necessário;


3) Conduzir o tentante c) Realizar salvamento aquático, se necessário;
para local seguro e em
condições seguras; d) Prever equipe com sistema de cordas para içamento do
tentante em caso de necessidade;
e) Aplicar o APH após a dissuasão ou a contenção do tentante,
caso necessário.
4) Conduzir o tentante a) Transportar o tentante ao hospital de referência, após
para o hospital de avaliação médica, em USv posicionada na zona fria, por equipe
referência. de SBV.
30

4.7 Tentativa por envenenamento

A - Objetivos propostos:

1) Estabelecer o controle do perímetro;


2) Estabelecer condições de segurança para as equipes de serviço e
para o tentante;
3) Conduzir o tentante para local seguro e em condições seguras;
4) Conduzir o tentante para o hospital de referência.
B - Estratégias:

Objetivos propostos Estratégias e ações propostas


(O que?) (Como?)
a) Delimitar as zonas de restrição com fitas de isolamento,
considerando a possibilidade de contaminação, e de presença
1) Estabelecer o controle de gases que possam causar asfixia ou toxidade;
do perímetro.
b) Remover as pessoas não autorizadas do local de
abordagem.
a) Providenciar a equipagem do efetivo com o conjunto de
proteção individual para incêndio estrutural, ou com vestimenta
especial para o caso de produtos perigosos;
2) Estabelecer condições b) Identificar o(s) produto(s) / substância(s) utilizados, e
de segurança para as estabelecer medidas para neutralização e descontaminação;
equipes de serviço.
c) Posicionar na zona morna equipe de SAV/SBV para o pronto
atendimento do tentante em caso de ingestão de substâncias;
d) Providenciar corredor de descontaminação, se necessário.

a) Realizar a Abordagem de Dissuasão;

b) Realizar a Abordagem de Tática para entradas forçadas e


3) Conduzir o tentante contenção do tentante, se necessário;
para local seguro e em
c) Realizar a descontaminação do tentante e equipes, se
condições seguras;
necessário;
d) Aplicar o APH após a dissuasão ou a contenção do tentante,
caso necessário.
a) Transportar o tentante ao hospital de referência, após
4) Conduzir o tentante avaliação médica, em USv posicionada na zona fria, por equipe
para o hospital de de SBV.
referência. b) Transportar invólucros e informações dos produtos /
substâncias utilizados na tentativa.
31

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Mesmo que todas as técnicas indicadas sejam empregadas, os resultados finais


podem não ser os desejados. Nesses casos, a “escolha” terá sido do tentante.

Não há a possibilidade de aceitação de recusa de atendimento para qualquer


ocorrência de tentativa de suicídio, uma vez que o tentante não possui capacidade e
discernimento para, ou seja, consentimento implícito por não haver capacidade
cognitiva de juízo.

A Abordagem Tática é uma abordagem de contenção do tentante e deve ser realizada


como último recurso, após todos os passos da Abordagem de Dissuasão terem sido
efetuados.

Após a desistência, por parte do tentante, e após sua condução à viatura que irá
transportá-lo, o abordador que realizou a abordagem poderá (preferencialmente) ir
com esse até sua entrega à equipe hospitalar especializada.

Recomenda-se que, caso as guarnições envolvidas no atendimento direto ou


indireto da tentativa de suicídio, presencie a consumação do ato suicida, sejam
encaminhadas ao serviço de apoio psicossocial do seu estado para avaliação
dos militares.
32

REFERÊNCIAS

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Artmed, 2015. 302 p. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

COMISSÃO NACIONAL DE ABORDAGEM TÉCNICA A TENTATIVAS DE


SUICÍDIO. 15 de Janeiro de 2019. ESTATUTO DA COMISSÃO NACIONAL DE
ABORDAGEM TÉCNICA A TENTATIVAS DE SUICÍDIO, Franco da Rocha, ano
2019, 15 jan. 2019.

CORPO DE BOMBERIOS DE GOIÁS, 2015,SCI,Manual-SCI-do- CBMGO-final.pdf.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos


Mentais. 3º. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. 505 p. GOIAS. Portaria 342, de 13 de
dezembro de 2017. Aprova manual referente à atividade de Salvamento em
Altura. Goiânia, 13 dez. 2017.

MINAS GERAIS. Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais. Atendimento a


Tentativas de Suicídio. 1ª ed.. Belo Horizonte: CBMMG, 2021.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Perfil


epidemiológico dos casos notificados de violência autoprovocada e óbitos por
suicídio entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, 2011 a 2018.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Suicídio:


tentativas e óbitos por intoxicação exógena no Brasil, 2007 a 2016. Boletim
Epidemiológico, Brasília, v. 50, ed. 15, Jul. 2019. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Marina_Miranda2/publication/334524337_Suicid
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Brasil-2007-a-2016.pdf. Acesso em 09 de abril de 2020.

MUNHOZ, Diógenes Martins. Abordagem Técnica a Tentativas de Suicídio. 1. ed.


São Paulo: Authentic Fire, 2018. 224 p.

MUNHOZ, Diógenes Martins. Proposta de capacitação ao efetivo do Corpo de


Bombeiros para o atendimento a ocorrências de tentativas de suicídio.
Orientador: Edison Ramos de Quadros. 2016. 82 p. Monografia (Curso de
Aperfeiçoamento de Oficiais) - Academia de Polícia Militar do Barro Branco, São
Paulo, 2016.

PINTO, Richelmy Murta. Posvenção ao suicídio para militares do Corpo de


Bombeiros Militar de Minas Gerais: estudo e proposta de Programa Institucional.
Orientador: Júlio César Tóffoli. 2020. 71 p. Monografia (Especialização em Gestão,
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QUEVEDO, João; CARVALHO, André F. Emergências Psiquiátricas. 3º. ed. Porto


Alegre: Artmed, 2014. 333 p.
33

QUEVEDO, João.; IZQUIERDO, Ivan. Neurobiologia dos transtornos


psiquiátricos. 1º. ed. Porto Alegre: Artmed, 2020. 392 p.

CAMARGO JUNIOR, Carlos Alberto de; MUNHOZ, Diógenes Martins; RODRIGUES,


Carlos Roberto. Abordagem técnica a tentativas de suicídio – manual
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WENZEL, Amy; BROWN, GREGORY K.; BECK, Aaron T. Terapia cognitivo-


comportamental para pacientes suicidas. Porto Alegre: Artmed, 2010. 304 p.

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https://www.who.int/mental_health/suicide-revention/exe_summary_english.pdf?ua=1
Acesso em 28 dez. 2020.

HOMOLOGO:

EDGARD ESTEVO DA SILVA, CEL BM


PRESIDENTE DA LIGABOM

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