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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL CURSO


DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

ANTONIA MARYANE ALVES CAVALCANTE

A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA


(PNLD 2017 – 2019)

QUIXADÁ-CEARÁ
2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Estadual do Ceará

Sistema de Bibliotecas
Dedico este trabalho a minha mãe e avó por tudo
que enfrentamos juntas.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a força da minha fé, que me amparou por toda esta longa caminhada e me deu
sabedoria e energia para prosseguir.
Á minha amada mãe (Cleide) que durante todos os dias me incentivou a sempre melhorar, respeitar
os meus limites e enfrentar a vida de cabeça erguida. Amo você!
Minha vó querida (Rita) por sempre saber o que me dizer e sempre me ajudar e apoiar se
esforçando durante toda a vida pela minha educação e pela minha felicidade. Amo você!
A quem considero de forma especial por todo espaço que teve em minha vida (Ducarmo) que me
acompanha desde a infância e sempre buscou me agradar e ajudar.
A minha professora Orientadora Prof.ª Isaíde não apenas pela paciência e disposição com que me
orientou, mas por tudo que fez por mim durante a graduação e pela honra que tenho de ter sido sua
bolsista e orientada. Meu mais sincero, obrigada!
A todos que de alguma forma me ajudaram e contribuíram para esse momento, minha gratidão e
carinho.
"O que querem as mulheres? Assim como Eva, elas
querem morder a maçã, mas sem serem expulsas do
Paraíso".
(Michelle Perrot)
RESUMO

O presente trabalho propõe-se analisar, problematizar a coletânea de livros didáticos de História do


Ensino Fundamental (6º ao 9º. Anos) utilizada na rede pública municipal na cidade de Quixadá e
em outras cidades do sertão central cearense. A coletânea analisada tem por título História,
Sociedade & Cidadania (PNLD 2017 – 2019). Por séculos o papel, atuação das mulheres na vida
pública foi alvo de imposições, represálias, resultando na construção de uma sociedade patriarcal e
sexista. A cultura patriarcal e sexista teve impactos para o sexo feminino, sendo empecilho para a
conquista de direitos políticos, econômicos e sociais. Uma das consequências do sexismo foi o
apagamento, exclusão das mulheres na vida pública e na história. Sendo assim a história como uma
área de conhecimento, permeada de discursos, ideologias e poder político, social, possui o poder de
analisar, estudar e debater essa problemática. Os objetivos desse trabalho trata-se de analisar como
são representadas as mulheres nos cinco livros didáticos dessa coleção, como essas representações
estão desenvolvidas no conteúdo do livro, imagens, texto escrito, atividades, os discursos e
ideologias em apresentadas, se há apagamento, silenciamento, sexismo na abordagem referente ao
sexo feminino, além disso, a pesquisa busca debater e instigar discussões e debates sobre as
prováveis implicações dessas representações para os estudantes e a sociedade A metodologia
utilizada para análise foi uma pesquisa documental. Partimos das seguintes indagações: Como as
mulheres são representadas em nossa história na perspectiva de uma coleção didática? Quais são os
debates levantados? E quais são os silenciamentos? Para o desenvolvimento da pesquisa,
estabelece-se diálogo com autores como SILVA (2014), CHOPPIN (2004), PERROT (2012) e
CHARTIER (1990), dentre outros autores que pesquisam e colaboram para compreensão sobre
conceito, concepções referentes o Livro Didático, gênero e representação. Nota-se a partir da
realização da pesquisa uma heterogeneidade em relação ás representações feminina, sendo
explicitado os silenciamentos e simplificação da história, identidade e feitos das mulheres no
decorrer da história da humanidade através dos livros didáticos utilizados para análise. Dessa
forma fica evidente a necessidade de analisar e debater essas representações e suas possíveis
consequências.
Palavras-chave: Livro Didático. Mulher. Representação. História. Consequências.
ABSTRACT

The present work proposes to analyze, problematize the collection of didactic books of History of
Elementary Education (6th to 9th. Years) used in the municipal public network in the city of Quixadá
and in other cities in the central backlands of Ceará. The analyzed collection is entitled History,
Society & Citizenship (PNLD 2017 - 2019). For centuries, the role of women in public life has been
subject to impositions, reprisals, resulting in the construction of a patriarchal and sexist society.
Patriarchal and sexist culture had an impact on the female sex, being an obstacle to the conquest of
political, economic and social rights. One of the consequences of sexism was the erasure, exclusion of
women from public life and history. Thus, history as an area of knowledge, permeated by discourses,
ideologies and political, social power, has the power to analyze, study and debate this issue. The
objectives of this work are to analyze how women are represented in the five textbooks in this
collection, how these representations are developed in the book's content, images, written text,
activities, the speeches and ideologies presented, if there is erasure, silencing , sexism in the approach
related to the female sex, in addition, the research seeks to debate and instigate discussions and
debates about the likely implications of these representations for students and society The
methodology used for analysis was a documentary research. We start from the following questions:
How are women represented in our history from the perspective of a didactic collection? What are the
debates raised? And what are the silences? For the development of the research, dialogue is
established with authors such as SILVA (2014), CHOPPIN (2004), PERROT (2012) and CHARTIER
(1990), among other authors who research and collaborate to understand the concept, concepts
referring to the Didactic Book , gender and representation. A heterogeneity in relation to female
representations can be noticed from the research, with the silencing and simplification of the history,
identity and achievements of women throughout the history of humanity being explained through the
textbooks used for analysis. Thus, the need to analyze and debate these representations and their
possible consequences is evident.
Keywords:Textbook.Woman.Representation.History.Consequences.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Coleção Livro Didático “História, Sociedade & Cidadania”.......... 17


Figura 2 – CLEOPÁTRA EM ATIVIDADES.................................................... 42

Figura 3 – Página retirada do Livro Didático que demonstra a presença de


uma das seções e de imagens...............................................................
45
Figura 4 – Página retirada do Livro Didático contendo texto principal e........ 45
imagens

Figura 5 – Imagem retirada do Livro Didático demonstrando a presença de


Atividades.............................................................................................
47
Figura 6 – Exemplo de imagens femininas em sua disposição nos Livros
Didáticos...............................................................................................
48
Figura 7 – Trecho do Livro Didático com imagem e legenda contendo
mulheres...............................................................................................
49
Figura 8 – Função feminina e diferenciação das atividades............................... 50

Figura 9 – Página contendo Rainha Elizabeth I como protagonista no texto


principal................................................................................................
51

Figura 10 – Box “Para saber mais” apresenta Anita Garibaldi.......................... 52

Figura 11 – Mulher com argola de bronze............................................................ 54

Figura 12 – Uma griô............................................................................................... 55

Figura 13 – Mulher ioruba...................................................................................... 56

Figura 14 – Família real.......................................................................................... 57

Figura 15 – Três Ricas Horas.................................................................................. 58

Figura 16 – RAINHA GUERREIRA CUXITA..................................................... 60


Figura 17 – Atividade sobre Reino de Kush............................................................ 61

Figura 18 – Página tratando sobre mulheres na política....................................... 62

Figura 19 – UNIÃO CLOTILDE E CLÓVIS.......................................................... 63

Figura 20 – Rei e Rainha Abençoam jovem............................................................ 64

Figura 21 – Rainha Elizabeth I................................................................................. 65

Figura 22 – Rainha Catarina II................................................................................ 66

Figura 23 – Margaret Thatcher................................................................................ 67

Figura 24 – Dilma Rousseff....................................................................................... 68

Figura 25 – Voto feminino......................................................................................... 69

Figura 26 – Exercício do voto................................................................................... 70

Figura 27 – Irmãs Kalapalo abrindo pequi............................................................. 72

Figura 28 – Artesã produzindo crochê..................................................................... 73

Figura 29 – Criação da Agricultura......................................................................... 73

Figura 30 – Mulher artesã........................................................................................ 74

Figura 31 – Texto divisão do trabalho..................................................................... 75

Figura 32 – Divisão do trabalho entre indígenas.................................................... 75

Figura 33 – Mulher musicista, cidade italiana........................................................ 76

Figura 34 – Cenas de trabalho.................................................................................. 77

Figura 35 – Trecho da Página 87.............................................................................. 78


Figura 36 – Família de operários......................................................................... 79

Figura 37 – Mulheres imigrantes......................................................................... 80

Figura 38 – Mulheres Judaicas trabalhando...................................................... 81

Figura 39 – Mulheres em passeata....................................................................... 83

Figura 40– Mulheres francesas em marcha....................................................... 84

Figura 41 – Participação feminina nas independências da América Latina.... 85

Figura 42 – A líder feminista Bertha Lutz.......................................................... 86

Figura 43 – Mulheres em Congresso Comunista................................................ 87

Figura 44 – Mulher protestando com cartaz...................................................... 88

Figura 45 – Mulher protestando com cartaz....................................................... 89

Figura 46 – Trecho do capítulo 05....................................................................... 90

Figura 47 – Texto e questões “A mulher no Egito Antigo”............................... 91

Figura 48 – A mulher na Grécia........................................................................... 92

Figura 49 – A mulher no império Romano......................................................... 93

Figura 50 – Texto sobre a mulher na sociedade medieval................................. 93

Figura 51 – Elementos das páginas sobre a mulher chinesa.............................. 95

Figura 52 – Meninas aprendendo a cozinhar...................................................... 96

Figura 53 – As mulheres na guerra...................................................................... 97

Figura 54 Dona de casa estadunidense............................................................. 98


Figura 55 Propaganda de eletrodomésticos........................................................ 99
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 15

2 HISTÓRIA DAS MULHERES E O LIVRO DIDÁTICO ........................... 20

2.1 A História das mulheres: gênero e identidade ............................................. 20

2.2 A História das Mulheres e a Historiografia................................................... 25

2.3 As Mulheres e a Representação do Feminino ............................................. 30


2.4 Os conceitos de Livros Didáticos em pauta ................................................... 34

3 ANÁLISES GERAIS SOBRE AS REPRESENTAÇÕES


FEMININAS...................................................................................................... 38

3.1 Sobre a representação e as mulheres nos Livros Didáticos.......................... 38

3.2 O lugar de mulher: é onde quiser?.................................................................. 43

3.3 Relações de gênero através de imagens no Livro Didático ............................ 52

4 AS MULHERES NOS LIVROS DIDÁTICOS DA COLEÇÃO


HISTÓRIA SOCIEDADE & CIDADANIA............................................... 59

4.1 As Mulheres e a Política: como são representadas?...................................... 59

4.2 Livro didático e o trabalho feminino.............................................................. 70

4.3 Mulheres nas lutas e movimentos.................................................................... 81


4.4 As mulheres, vida em sociedade e o cotidiano................................................ 89
5 CONCLUSÃO................................................................................................... 100
REFERÊNCIAS............................................................................................... 103
15

1 INTRODUÇÃO

A escola, a sala de aula e por extensão o livro didático são veículos de valores, de
ideias e acabam por ajudar a determinar o que será lembrado ou esquecido, considerado importante
ou não. Além de serem fontes históricas de extrema importância, pois contribuem para observação,
análise da sociedade.
Partindo desse pressuposto, torna-se imprescindível compreender o que está sendo
abordado nos livros didáticos de História do Ensino Fundamental em relação às mulheres,
considerando nessa análise a figura da mulher em diferentes contextos e espaços, especialmente no
momento político, social, econômico contemporâneo nacional.
Ressalta-se que os Livros Didáticos são instrumentos essenciais dentro de sala de aula
e na formação dos cidadãos. Também é importante mencionar que os livros didáticos podem
serem materiais, que ocasionem no indivíduos impactos, impactos no sentido de influenciar em
suas formas de conceberem, avaliarem o mundo concreto, problemáticas, discursos. Considerando
essa premissa, é fundamental entender, analisar, debater sobre as apresentações e
representações referentes à História das Mulheres, suas identidades e lutas.
Diante desse quadro optamos por desenvolver a presente monografia sobre como a
mulher é representada nos livros didáticos, tendo em vista a militância na universidade em prol da
defesa dos direitos femininos, levando em consideração a atualidade do debate de gênero.
Vale destacar que o debate sobre gênero está permeado em diversos ambientes sociais,
demonstrando a necessidade de promover debates sobre gênero e feminismo em sala de aula, sendo
também relevante uma inserção mais justa, verossímil das mulheres nos conteúdos didáticos, na
história e na sociedade.
Salienta-se que a partir das observações feitas nos Livros Didáticos de História do
período selecionado e tendo por base as leituras feitas no decorrer da pesquisa, foi possível uma
maior compreensão sobre a História das Mulheres e o papel do Livro Didático na formação de
cidadãos.
Esclarece-se também que a presente pesquisa pretende analisar como tem se
transformado as representações dessas mulheres nos Livros Didáticos de História, respondendo as
seguintes questões: É a mulher de alguma forma apresentada como sujeito histórico nos Livros
Didáticos? As mulheres são representadas? Se sim, como são? Essas indagações irão servir de base
norteadora para a análise dos Livros Didáticos e nos ajudarão a
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perceber o papel, que tem sido colocado para as mulheres na História e que tem sido propagado pelos
Livros Didáticos largamente utilizados como base de nossa educação básica.
Merece destacar também, que a pesquisa desenvolvida e os dados aqui expostos são
resultados de uma análise dos conteúdos apresentados em uma coleção de livros didáticos adotada
no município de Quixadá, para o Ensino Fundamental das séries finais (5º. Ao 9º. Ano), através do
Programa Nacional do Livro Didático – PNLD (2017 – 2019). Portanto, o tipo de pesquisa
utilizado nesse estudo foi documental, tendo em vista que o Livro Didático foi tomado enquanto
documento e fonte.
A coleção que analisamos foi a coleção denominada “História, Sociedade e Cidadania”
concebida por Alfredo Boulos, que está em sua 3º edição, pela editora FTD, dos anos finais do
Ensino Fundamental, composta por 4 Livros Didáticos destinados aos estudantes e 4 Manuais do
Professor, em que cada volume apresenta a proposta didático pedagógica e sugestões de como
melhor trabalhar cada livro da coleção.
O quantitativo de páginas por volume da coleção é a seguinte:

Tabela 1 – Informações sobre a coleção História, Sociedade e Cidadania

PÁGINAS 6º. Ano 7º. Ano 8º. Ano 9º. Ano

Livro do 320 págs. 320 págs. 320 págs. 336 págs.


Estudante (LE)

Manual do 385 págs. 385 págs. 385 págs. 392 págs.


Professor
(MP)
Fonte: elaborada pela autora

O autor é atualmente aluno do programa de doutorado da Pontifícia Universidade


Católica de São Paulo na área de Educação História Política e Sociedade. Essa coleção é
amplamente utilizada no Sertão Central do Ceará:
Figura 1 – Coleção Livro Didático “História, Sociedade & Cidadania”
17

Fonte: elaborado pela autora.

Cada livro didático da coleção tem 14 capítulos, sendo o do 9º ano a única exceção por
apresentar 16 capítulos ao todo. Os capítulos, com uma média de xx páginas cada, apresentam um
texto principal (também chamado texto base do autor), imagens e seções que auxiliam na
construção do material didático, sendo elas: “Dialogando”, “Para Refletir” e “Para Saber Mais”.
Temos ainda as atividades ao final do capítulo e permeando algumas páginas no meio de alguns
dos capítulos, o qual também são divididas em alguns tópicos, como: Leitura e Escrita da História,
Retomando, Integrando, Você Cidadão.
Foram feitas análises em todos os livros didáticos selecionados e respectivos manuais
do professor e os dados coletados foram sistematizados em um instrumental que se dividia nas
seguintes: texto principal, imagens, atividades e seções. Assim, cada informação observada com
relação à mulher foi colocada na parte que se enquadrava. Depois separamos as representações
referentes a mulher por eixos temáticos: política, mundo do trabalho, movimentos sociais e
cotidiano, para então construímos nossa análise do que estava representado no material didático
com relação a figura da mulher.
Importante ressaltar que pensando uma educação, que pode contribuir fortemente na
formação dos sujeitos, defende-se que a História das Mulheres deve estar presentes nas escolas,
nos Livros Didáticos, nas conversas, bem como em outros espaços de discussão, pois essa história
tem um compromisso com o presente, ou seja, interroga o passado tomando como referência
questões, que fazem parte de nossa vida, como existência de desigualdades de gênero, sexualidade,
família, Estado, entre outras (PERROT, 2012).
O primeiro capítulo apresentará aspectos relacionados à História das Mulheres e
reflexões sobre a identidade feminina, suas representações, além de procurar compreender
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como essa história vem sendo posta dentro de nossa historiografia, sabendo que isso é um reflexo
da sociedade, trabalhos ainda questões referentes ao livro didático. Temos como subtópicos: 1.1) A
história das mulheres: gênero e identidade; 1.2) A história das mulheres e a historiografia; 1.3) As
mulheres e a representação do feminino; 1.4) Os conceitos do livro didático em pauta.
No primeiro subtópico discutiremos os conceitos de gênero e identidade, percebendo
que esses são construções sociais e que suas significações se modificam no decorrer do tempo.
Buscamos avaliar a condição feminina como uma construção histórica e social.
No subtópico seguinte apresentaremos como a História das Mulheres foi tratada pela
historiografia. Pensaremos como na historiografia tradicional houve um apagamento dessa
História. Compreendemos que incluir as mulheres no fazer histórico irá nos ajudar a redefinir e
expandir, o que consideramos historicamente importante.
No terceiro ponto pensaremos o conceito de representação e como essas representações
estão sendo construídas e pensadas para figuras femininas. Representações colocadas sobre a
mulher e o seu papel na sociedade, que vão desde discursos políticos até o campo da educação.
No último subtópico trataremos o Livro Didático como um objeto cultural de definição
complexa e que desde a sua produção, a sua distribuição e uso, sofrem interferências de sujeitos
diversos. Assim buscamos analisar o Livro Didático como um veículo de valores, sendo observado,
discutido os conteúdos contidos e implicados em sua condução. Para isso será analisado a
construção e exposição das representações femininas através de textos, imagens e outros
elementos.
No segundo capítulo faremos uma análise geral dos volumes de livros didáticos,
pretendendo indicar quantitativamente as representações femininas. Nesse ponto além de tecermos
uma breve reflexão sobre as representações femininas em nossa fonte de pesquisa, iremos fazer um
compilado dos dados obtidos, expondo ao leitor a quantidade de aparições femininas nos volumes
pesquisados e analisando como foram representadas.
Pontua-se que no primeiro subtópico será feita reflexões gerais sobre a questão da
representação, as representações em relação às páginas, apresentação de gráficos e análise desses
números.
No segundo tópico intitulado “Lugar de mulher: é onde quiser?” Abordaremos sobre o
modo e espaço como estão colocadas essas representações, novamente apresentaremos e
discutiremos dados que apontam para os locais em que estão postas as
19

mulheres nos livros didáticos.


No último tópico do capítulo será explanada sobre a questão imagética, a localização e
exposição a partir de imagens, sendo feito um comparativo dessas imagens, comparação feita por
gênero e uma breve discussão sobre o conteúdo de imagens e legendas. No terceiro e último
capítulo teremos análises dos dados coletados, visando discutir não apenas o que estava
explicitado, como também o que não estava representado, nesse sentido tem-se apagamento e os
silenciamentos de narrativas de indivíduos e grupos. Com isso será possível estimular, promover
discussões, diálogos a partir das diversas representações evidenciadas nos livros didáticos,
especialmente durante seus volumes. Ressalta-se também que cada tópico aborda uma temática.
Será analisado os discursos, ideologias expressos nos livros e mensagens implícitas.
No primeiro subtópico tratamos sobre as representações das mulheres na política, em que
discutiremos mulheres em posições de poder, como isso é apresentado, além da questão do voto.
No segundo tópico teremos representações femininas relacionadas ao trabalho, tanto os trabalhos
artesanais, quanto o trabalho assalariado, perpassando também pela questão da dupla jornada de
trabalho.
No tópico seguinte teremos as mulheres em lutas e movimentos sociais, iremos ver como
o livro didático apresenta as mulheres em manifestações, revoluções e no movimento feminista. No
último tópico abordaremos a mulher na vida em sociedade, cotidiano perpassando diversas
sociedades e momentos históricos, com discussões sobre casamento, propagandas, os papéis
femininos.
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2 HISTÓRIA DAS MULHERES E O LIVRO DIDÁTICO

2.1 A História das mulheres: gênero e identidade

Iniciamos este capítulo com a compreensão de que a condição feminina foi e ainda é
uma construção social, cultural e histórica. Aqui abordamos as questões referentes a identidade das
mulheres e questões relacionadas ao conceito de gênero. A discussão acerca desse conceito é de
fundamental importância para nosso trabalho, visto que nos ajudará a compreender ‘a questão das
mulheres’, de seus silenciamentos e lutas por uma História da Mulher.
Simone de Beauvoir (1980, p.9) , uma pioneira dentro dessa discussão sobre as
questões de gênero com sua famosa frase “não nasce mulher, torna-se”. Instiga o debate da não
definição biológica, mas do eterno “tornar-se”, que é a constituição de gênero, identidade e as
construções sociais, que se naturalizam sobre o que significa o masculino e o feminino e seus
papeis em uma sociedade, que também está em constante construção e transformação.
De acordo com Louro (2008, p. 18):

Ainda que teóricos e intelectuais disputem quanto aos modos de compreender e atribuir
sentido a esses processos, elas e eles costumam concordar que não é o momento do
nascimento e nomeação de um corpo como macho ou como fêmea que faz deste um
sujeito masculino ou feminino. A construção do gênero e da sexualidade dá-se ao longo de
toda a vida, continuamente, infindavelmente. (LOURO, 2008, p. 18)

O termo gênero aparece nos estudos e das discussões historiográficas e no movimento


feminista, como uma diferenciação para o termo sexo, utilizado para separar o masculino e o
feminino em termos biológicos, ocasionando em não abarcar questões referentes às construções
sociais:
A respeito dessa problemática, Pinsky (2013) assevera:

Os estudiosos que passaram a empregar o conceito de gênero inspiraram-se na Gramática,


mas deram-lhe um outro significado, utilizando-o para marcar uma distinção entre cultura
e biologia, social e natural. Assim, quando a palavra sexo é utilizada, vem a mente a
biologia, algo ligado a natureza. O termo gênero, por sua
21

vez faz referência a uma construção cultural: é uma forma de enfatizar o caráter social, e
portanto, histórico, das concepções baseadas nas percepções das diferenças sexuais.
(PINSKY, 2013 p. 11)

Ao ouvir ou ler a palavra gênero, muitas vezes a primeira impressão, que pode ter, é de
que irá se falar sobre algo relacionado à linguística, até mesmo se voltarmos o olhar para os
dicionários teremos gênero sendo colocado como de forma principal seu sentido dentro da
gramática como forma de classificação dual dos seres:

Categoria linguística que estabelece a distinção entre as classes de palavras, baseada na


oposição entre masculino e feminino, animado e inanimado, contável e não contável e etc.;
estabelecida por convenção, esta distribuição das palavras nessas categorias pode ou não
obedecer a noções semânticas [...] (In: MICHAELIS Dicionário online)

Até meados do século XVIII, conforme nos afirma Laqueur (1990), via-se os sexos em
geral, de uma forma bastante unissex. Pensava-se que homens e mulheres tinham órgãos sexuais
semelhantes, sendo a única diferença que o da mulher não era visível, se localizava internamente.
Assim nesse contexto o gênero era pensado como uma categoria cultural, visto que o ser mulher ou
o ser homem era algo de natureza social, o corpo físico, biológico não determinava nada.
Referenciar
Observa-se que havia uma hierarquia entre os corpos, sendo o corpo masculino era o
ideal de perfeição (LAQUEUR, 1990). As diferenças anatômicas descobertas ao final desse século
colaboraram para por homens e mulheres em oposição, tanto física, quanto moralmente. Para
Laqueur (1990) e Foucault (1979, 1984) essas descobertas serviram ao interesse de uma burguesia
iluminista, que precisava justificar a diferença entre homens e mulheres e a dominação de um sob o
outro.
A significação do termo “gênero”, entretanto, pelo menos no sentido que empregamos
é uma emergência vinda de finais do século XX, na chamada “segunda onda” do feminismo. Esse
veio justamente com o objetivo de tentar de uma forma acadêmica encontrar um termo que pudesse
explicar a diferenciação entre feminino e masculino, para além das que se tinham até então
baseadas em fatores unicamente biológicos. Foi um fenômeno importante, pois possibilitou
espaços para as chamadas “questões de gênero”.
No Brasil, o uso do termo surge nos anos de 1980 em uma articulação entre a academia
e os movimentos sociais, destaque para o feminismo, tendo sido debatido como
22

tema das Ciências Sociais por esse movimento como forma de questionar e reivindicar a situação
social das mulheres. (SCAVONE, 1996)
Esse conceito foi usado ainda para legitimar discussões acerca dessa área de pesquisa,
visto que nomenclaturas como mulher e feminismo carregavam dentro dos espaços de discussão
uma carga de preconceito e discriminações (HEILBORN; SORJ, 1999). Em sua utilização recente
mais simples o termo ‘gênero’ é apontado como um sinônimo de ‘mulheres’, justamente o primeiro
sugere seriedade, uma objetividade e neutralidade, que foge do termo ‘mulher’.
Assim temos ainda, segundo Scott (1989, p.75):

Enquanto o termo ‘História das Mulheres’ proclama sua posição política ao afirmar
(contrariamente as práticas habituais) que as mulheres são sujeitos históricos válidos, o
termo ‘gênero’ inclui as mulheres, sem lhes nomear e parece assim não constituir uma
forte ameaça. (SCOTT, 1989, p. 75).

Pensar gênero é buscar uma investigação sobre os papeis em que são colocados ás
mulheres e os homens, estabelecendo relações de poder dominadoras do segundo para com o
primeiro. Um reflexo dessa dominação está justamente no fato de não pensamos a história do
gênero masculino, pois a história de uma forma geral foi a história de homens como protagonistas,
e da “História das Mulheres” como uma construção a parte (PEREIRA, 2013).
Evidencia-se que a representação da mulher, enquanto gênero feminino está associada
tanto a sua história, quanto a outros eventos que contribuíram para a determinar o que é ser mulher,
como deveria agir e como era vista, tratada. Compreendemos assim que para construir uma nova
história em que as mulheres são sujeitos ativos, faz-se necessário entender os significados da
constituição da identidade do gênero feminino e como a história está sendo pensada.
Para Bassanezi apud Pinsky (2011, p. 9):

Nesse sentido, uma das propostas da História preocupadas com gênero é entender a
importância, os significados e a atuação das relações e das representações de gênero no
passado, suas mudanças e permanências dentro dos processos históricos e suas influências
nesses mesmos processos. (BASSANEZI, 1992 apud PINSKY, 2011, p.9)
23

Enfatiza-se é preciso pensar a identidade da mulher, no sentido de recuperar o seu


história enquanto gênero. Nesse sentido torna-se de suma importância essa reflexão para analisar
os Livros Didáticos, especialmente uma análise voltada a apresentação, representações ou
silenciamento.
Reforça-se que pesquisar esse material, torna-se de vital importância, pois possibilita
compreender como essas imagens de mulheres são postas no âmbito escolar. Essa análise permite
compreender que os discentes e todos os atores sociais presentes no contexto educacional não estão
unicamente presentes nesse espaço, como também convivem, interagem e atuam ativamente na
sociedade. Portanto, o que é estudado por ele perpassa os muros escolares, contribuindo para
pensar e refletir sobre poder, sociedade.
Além de que o Livro Didático pode ser considerado um reflexo dessa própria
sociedade. Isso pensando e entendendo gênero como a construção social dos sexos dentro do que
se espera do feminino e do masculino, não como algo dado no nascimento, mas que se dá em um
processo que dura toda a vida. (CONFORTIN, 2003)
Teresa de Lauretis (1994) comenta em um artigo acerca de gênero em uma perspectiva
foucaultiana. Lauretis expressa:

Poderíamos dizer que, assim como a sexualidade, o gênero, não é uma propriedade dos
corpos nem algo existente a priori nos seres humanos, mas nas palavras de Foucault, ‘o
conjunto de efeitos produzidos em corpos, comportamentos e relações sociais’, por meio
do desdobramento de uma ‘complexa tecnologia política. (LAURETIS, 1994, p. 230)

Assim a partir do que foi apontado, entendemos que a compreensão acerca do gênero é
também assim como ele próprio uma construção feita nos diversos espaços da sociedade, sendo
incluída e com destaque nesse trabalho a escola. Esclarece que a questão de gênero perpassa e está
diretamente relacionado a questões identitárias, por isso consideramos de fundamental importância
abordamos ainda o conceito de identidade e como a mesma se configura.
Trataremos aqui de identidade entendendo que a constituição dessa passa
necessariamente pelo processo de construção histórico e social e que não podemos negar ou deixar
no esquecimento a relação entre identidade e História. Coadunamos com Bourdieu (1983) que
concebe justamente a questão da formação da identidade através da História e é uma construção
tanto individual, quanto coletiva, sendo influenciada por diversos fatores.
24

Nessa perspectiva pensar a identidade da mulher é considerar as características que a


formou, a constituição da identidade individual, dentro de uma identidade coletiva. Para Bordieu
(1983, p. 80- 81) “desde que a história do indivíduo nunca mais que a especificação da história
coletiva do seu grupo ou de sua classe, podemos ver num grupo as diferenças entre as trajetórias e
as posições fora ou dentro do grupo”. Segundo Meglhioratti e Souza (2017) nosso contato com
outras culturas, línguas, povos e experiências nos ajuda no processo de construção de quem somos,
de nossos posicionamentos e outros.
Em convergência com as ideias supracitadas, Tilio (2009) e Hall (2006) afirmam que a
identidade como algo fluido, que está sempre se transformando, se construindo e se reconstruindo.
Ainda conforme Tilio (2009) nossa identidade é construída nas relações sociais e “não são
definidas biologicamente ou fixas”. Referência
O sujeito é, pois, caracterizado pelas suas diferenças e suas constantes mudanças.
Hall (2006, p.23) defende que:

Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou
representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganha ou perdida. Ela se
tornou politizada. Esse processo é as vezes descrito como constituindo uma mudança de
uma política de identidade (de classe) para uma política de diferença. (HALL, 2006, p.23)

Hall (2006) também nos apresenta o conceito de sujeito pós-moderno, que é justamente
esse já aqui apresentado, que não tem sua identidade como imutável ou cristalizada, mas que sofre
transformações contínuas e sendo diretamente influenciado pelos sistemas nos quais está inserido.
Louro (1997) conversa diretamente com os autores supracitados, abordando o conceito
de identidade. Para Louro (1997, p.24):

E aqui nos vemos frente a outro conceito complexo, que pode ser formulado a partir de
diferentes perspectivas: o conceito de identidade. Numa aproximação às formulações mais
críticas dos Estudos Feministas e dos Estudos Culturais compreendemos os sujeitos como
tendo identidades plurais, múltiplas; Identidades que se transformam, que não são fixas ou
permanentes, que podem até mesmo ser contraditórias. (LOURO, 1997, p.24)

Gênero e identidade são fluídos e estão em constante processo de construção desde a


construção social, passando por uma construção cultural e histórica. Há diversidade
25

quanto à identidade dos indivíduos, sendo essas identidades em um processo constante, complexo
de transformações.
Além disso, a identidade deve ser pensada como tal dentro do Ensino de História e o
Livro Didático. Sendo assim, o ensino/aprendizado deve servir como suporte para aprimorar e
refletir sobre a constituição de identidades livres de estereótipos e que não apenas aceitam as
diferenças, mas as valorizam.
Sendo o Livro Didático como um objeto cultural de extrema relevância para a
educação e construção dos sujeitos. Material frequentemente utilizado nas salas de aula brasileiras.
O livro didático pode colaborar ou não para os discentes refletirem sobre suas respectivas
identidades, seus lugares de fala e como estrutura-se a sociedade e ás relações políticas, sociais e
econômicas em que estão inseridos.
Dessa forma é fundamental levantar questionamentos: Como o livro didático concebe,
apresenta as mulheres? Essas concepções, exposições apresentam o sexo feminino como seres sem
identidade? Essas mulheres expostas são representadas com algum significado? Qual (is)? Qual (is)
mensagens essas representações veiculam? O teor da mensagem tem a finalidade de subverter,
normatizar ou reforçar discursos, ideologias e práticas sociais sexistas? Essas representações
femininas tem o poder de modificar, impactar na forma como a sociedade contemporânea enxerga
ás mulheres?

2.2 A História das Mulheres e a Historiografia

A História de povos e lugares, em especial Ocidentais, tem sido registrada ao longo do


tempo, tendo como objetivo guardar informações e/ou memórias e a transmissão de informações
para gerações futuras. Isso ocorre, pois de maneiras distintas no decorrer do tempo.
A História não é um conhecimento cristalizado, ressalta-se também, que sua forma de
fazê-la, seus métodos também não são inflexíveis. Houvesse diversas transformações no decorrer
do tempo, inicialmente no século XIX, quando há a cientificação dos conhecimentos, a História
tenta se constituir enquanto ciência, essa acaba por se tornar um oficio exclusivo do historiador.
Segundo José Carlos Reis (2012), a corrente historiográfica desse período é
denominada positivismo e buscava fazer uma história de resgate de fatos, em pesquisas de
26

documentos oficiais, visando colocar em foque os grandes heróis (homens) e os grandes


acontecimentos. Referenciar
Buscando se assemelhar as ciências naturais, tardiamente a História, enquanto campo
do conhecimento se apropria de estudos acerca de minorias, especialmente aqui abordando
mulheres. Quanto esse ponto, Soihet, Pedro (2007, p. 284) afirmam que:

Nas ciências humanas, a disciplina História é certamente a que mais tardiamente


apropriou-se dessa categoria, assim como da própria inclusão de ‘mulher’ ou de
‘mulheres’ como categoria analítica na pesquisa histórica. A trajetória, costumeiramente
‘cautelosa’, dessa disciplina e o domínio do campo por determinadas perspectivas de
abordagem, retardaram significativamente o avanço dessas discussões. Grande parte desse
retardo se deveu ao caráter universal atribuído ao sujeito da história, representado pela
categoria ‘homem’.(SOIHET, PEDRO, 2007, p.284)

De acordo com Silva (2016), a historiografia é um registro histórico feito por uma
determinada pessoa em um determinado lugar e que visa atender os interesses de uma classe, no
período acima discutido, os interesses eram os da classe dominante. Esses interesses conseguem,
portanto, definir não apenas o modo de fazer, mas as temáticas e os personagens envolvidos.
Nesse sentido podemos notar uma dificuldade em identificar a mulher âmbito da
história, há uma exclusão de mulheres dentro da historiografia tida como tradicional. As mulheres
ficaram reservadas aos papeis secundários, incumbidas à vida privada e relegadas ao apagamento
histórico.
Sendo assim, observa-se que o que é produzido dentro dessa historiografia, dentro ou
fora da academia atinge diretamente o pensamento construído socialmente acerca desses
indivíduos, sendo como principal meio para isso as escolas. Nesse universo os Livros Didáticos de
História, espaço repleto de conhecimentos historiográficos são postos. Conscientes da relevância e
impacto do livro didático, especialmente impacto sobre os discentes, demonstra ser de suma
importância a realização da presente pesquisa.
Michelle Perrot em sua obra “Minha História das Mulheres”, temos mais que um
problema historiográfico, que por si só já nos apaga, mas também um silenciamento de fontes. Isso
se daria porque as mulheres deixam poucos vestígios escritos ou materiais, o acesso a escrita nem
sempre lhes foi permitido. Suas produções são facilmente esquecidas, ou descartados, como elas
próprias. (PERROT, 2006)
27

Constata no início do século XX o surgimento de outras linhas historiográficas, que


irão implicar em modificações significativas na forma de se pensar a história, como: A História das
mentalidades, da vida privada, o marxismo e a Nova História Cultural (3º geração da famosa
Escola dos Annales). Visa avaliar a História através de todas as atividades do homem considerando
que a realidade, a identidade e a sociedade como a conhecemos são construções sociais de homens
e mulheres.
Apesar de considerarmos que esta corrente orienta nosso trabalho, é importante nos
atermos um pouco ao marxismo e a História Social, perspectivas de fundamental importância para
o ponto de partida de uma produção historiográfica sobre as mulheres.
Margareth Rago (1995, p. 82) declara:

É inegável que a produção historiográfica sobre as mulheres toma como ponto de partida
uma referência teórico-metodológica assentada nas premissas epistemológicas da história
social fortemente marcada pelo marxismo. Assim na década de 1970 quando sociólogas,
antropólogas e historiadoras procuraram encontrar rastros da presença das mulheres no
cotidiano da vida social desponta toda uma preocupação em identificar os signos da
opressão masculina e capitalista sobre elas. (RAGO, 1995.p. 82)

Temos nomes femininos dentro dessas produções como Heleieth Saffioti com sua obra
“A mulher na sociedade de classes” de 1969. Essa e outras obras dentro dessa perspectiva tem a
preocupação de resgatar a presença de mulheres na história, especialmente as pobres e
marginalizadas, que era o foco da História Social, a chamada História dos “vencidos”. Para Rago
(1995) a História das mulheres no Brasil se inicia na década de 1970.
Ao longo da década de 1980 veremos a emergência de produções acadêmicas sobre as
mulheres. A partir desse momento a surge a preocupação em identificar e despontar a presença de
mulheres atuando na vida social, ocupando espaços públicos, modificando os seus cotidianos, se
reinventando e buscando formas de se inserir na sociedade, lutando contra a dominação masculina.
Nessa década veremos um alargamento temático do que é considerado relevante e a incorporação
de novos agentes sociais como importantes para a construção histórica.
Esse estudo de uma história “vista de baixo”, vai conferir as mulheres um estatuto
próprio e fomentar o interesse desses estudos na academia e ajudar na construção de uma “cultura
das mulheres”. Isso tem direta relação com movimentos, que aconteciam fora do espaço de
produção acadêmico, em que o movimento feminista buscava ainda mais espaço e
28

expandia suas demandas de luta. Esse impulso feminista corrobora-se a vontade de demonstrar a
capacidade criativa das mulheres, enquanto seres sociais que podem fazer História (RAGO,1995).
É imprescindível compreender que mais que buscar incorporar a mulher na História
tradicional masculina ou criar uma História a parte, o que acontece é que justamente ao pensar
elementos voltados a presenças femininas na história, a própria história sofre modificações e
revisões, novas perspectivas surgem. Uma modalidade de considerável importância para os estudos
femininos é a História da Vida Privada. Essa importância se dá visto a facilidade de se encontrar
registros de mulheres em arquivos privados, normalmente em seus diários (PERROT, 1998).
Ainda segundo Michelle Perrot (1998, p. 17) essa ligação da história das mulheres e do
privado ocorre:

Em primeiro lugar, porque as mulheres são menos vistas no espaço público, o único que,
por muito tempo, merecia interesse e relato. Elas atuam em família confinadas em casa, ou
no que serve de casa. São invisíveis. Em muitas sociedades, a invisibilidade e o silencio
das mulheres fazem parte da ordem das coisas. É a garantia de uma cidade tranquila. Sua
aparição ao grupo causa medo. Entre os gregos, é a stasis, a desordem. Sua fala em público
é indecente. (PERROT, 2006, p.17)

Michelle Perrot é um nome considerável dentro dessa perspectiva da História social e


marxista, posteriormente debruça-se sobre questões de gênero e a História através da Nova
História, pautada em analises foucaultianas. Essa quebra, principalmente com a História
tradicional, expondo críticas a História social, sendo a principal delas a de tratar os indivíduos
como identidades cristalizadas e não considerar os processos de construção ao quais estamos em
constante exposição.
Assim principal crítica feita, é a de que não pode simplesmente tentar incluir as
mulheres em uma narrativa masculina pronta, em que são postas de forma excêntrica e romântica.
Essa crítica é endossada por diversos autores (a), Rago esclarece (1995, p. 86):

Já que não se trata de incorporar as mulheres no interior de uma grande narrativa pronta, a
crítica que se faz a História Social das mulheres, seja referindo-se a vertente que mostra a
similaridade da atuação das mulheres e dos homens, seja a que pretende revelar sua
diferença ao construírem uma ‘cultura feminina’ própria, aponta para a utilização da
categoria ‘mulher’ como entidade social e empírica fixa, numa
29

perspectiva essencialista que perde as multiplicidades dos sujeitos submetidos em tal


categoria. (RAGO, 1995, p.86).

Percebe-se que com o avanço de novos campos na História como a história cultural,
também há avanço em abordagens acerca do feminino. Isso é possível também através do contato
com outras disciplinas como antropologia, por exemplo que contribuem para a investigação desse
objeto. Assim afirma a importância da interdisciplinaridade nos estudos relacionados à mulher, ou
melhor, as mulheres. (SOIHET, PEDRO, 2007, p. 285).
Em consonância com esse pensamento, Pinsky declara (2011, p. 7):

Historiadores empenharam-se em estabelecer relações entre as experiencias femininas e as


vivencias de classe e/ou étnicas e entre as classes e/ou grupos étnicos. Certos trabalhos
apresentaram as mulheres atuando da mesma forma que os homens. Outros por sua vez,
revelaram possibilidades diferenciadas para as experiências femininas. (PINSKY, 2011,
p.07)

As décadas de 1960 e 1970 são segundo Scott (1989) uma grande influência para
produção dessa História das Mulheres, visto a efervescência de movimentos feministas que
trabalhos começam a ser produzidos. Segundo Mary Del Priore (2001) o feminismo conseguiu
identificar essa ausência das mulheres na historiografia, e ao fazer isso começaram elas próprias a
procurar produzir esse conhecimento.
Essas produções fizeram a diferença, não somente para as mulheres, mas para a própria
história. Segundo Scott (1989, p. 4):

As pesquisadoras feministas assinalaram muito cedo que o estudo das mulheres


acrescentaria não só novos temas como também iria impor uma reavaliação critica das
premissas do critério do trabalho cientifico existente. ‘Aprendemos’ escreviam três
historiadoras feministas, ‘que inscrever as mulheres na história, implica necessariamente a
redefinição e o alargamento das noções tradicionais do que é historicamente importante,
para incluir tanto a experiencia pessoal e subjetiva quanto as atividades públicas e
políticas. Não é exagerado dizer que por mais hesitantes que sejam os princípios reais de
hoje, tal metodologia implica não só uma nova história das mulheres, mas em uma nova
história. (SCOTT, 1989, p.04)

Na atualidade tem-se como um dos campos da história a chamada “História das


mulheres”, que busca justamente produzir essa história. É uma categoria de análise relativamente
nova e que enfrentou grandes desafios em sua constituição. Teve grande
30

dificuldade de ser aceita como categoria de análise histórica, assim como as mulheres que as
produziam e que buscavam cada vez mais se inserir no mundo acadêmico. Dessa forma esses
estudos tiveram que formular estratégias para que conseguissem serem aceitos como vertente de
pesquisa histórica e não apenas discursos ideológicos.
Após muitos séculos de esquecimento, podemos considerar nos dias atuais, que estudos
relacionados a gênero e a história das mulheres estão presentes em diversos campos de pesquisa,
por diversas disciplinas e vertentes. Colaborando para compreender os acontecimentos históricos e
a constituição de identidades femininas, a construção do gênero feminino. Não trata-se de apenas
de criar uma história a parte, mas levar questionamentos e revisar o que vem sendo posto como
verdade absoluta e masculina.
A partir dessas mudanças historiográficas e metodológicas a mulher aparece como um
sujeito histórico e é reconhecido a sua importância. Esse reconhecimento tem por implicação,
demonstrar ser essencial que seja pensado gênero e representação, além da historiografia, sendo
crucial pensar também no ensino de história. Com isso, merece refletir sobre o livro didático,
avaliando o livro como instrumento fundamental dentro de sala de aula, a partir disso será possível
entender a relevância de analisar como essas mulheres estão postas e investigar os silenciamentos.

2.3 As Mulheres e a Representação do Feminino

Nesse ponto abordaremos um conceito essencial para a compreensão de nossa


pesquisa, o conceito de representação. Durante a história as mulheres foram representadas de
maneiras distintas, de acordo com o que a sociedade naquele tempo e local pensavam ser adequado
para o papel da mulher. Assim temos diversas mulheres, apresentadas de formas ainda mais
diversas na literatura, nas artes, na política, na educação, ou como aqui exploramos, nos Livros
Didáticos.
Essas representações assim como tudo no decorrer da História foram sofrendo
transformações. Sabemos que a vida da mulher, no geral, esteve condicionada a vida privada, a
instituição familiar, a criação e educação dos filhos. Eram constantemente relacionadas a seres de
educação submissa e deveriam serem religiosas. O século XX trouxe muitas transformações na
forma de vida das mulheres e possibilitou fomentar organizações femininas e o próprio movimento
feminista. (NADER, 1998). Com as grandes guerras desse século, começam a ocupar o mercado de
trabalho e assim serem mais efetivas na vida pública, sendo,
31
portanto, mais visibilizadas e assim também alterando-se as suas representações.

Iniciando a discussão sobre o termo, tratamos do sentido da palavra que seria segundo
Soares (2007) oriundo do latim representationis, sendo uma assim uma imagem capaz de
reproduzir alguma coisa. Sendo algo que busca gerar uma imagem de alguma coisa, que não está
ali, parecendo o mais condizente possível com a realidade. Está em geral ligado a uma ideia de
analogia, “estar no lugar de”.
Para Chartier (1990) a noção de representação pode ser pensada a partir de
significações antigas e mostrando sempre duas possibilidades de sentido. O autor esclarece (1990,
p. 20):

Em primeiro lugar, é claro que a noção não é estranha as sociedades do Antigo Regime,
pelo contrário ocupa aí um lugar central. A esse respeito oferecem-se várias observações.
As definições antigas do termo manifestam a tensão entre duas famílias de sentidos: por
um lado, a representação como dando a ver uma coisa ausente, o que supõe uma distinção
radical entre aquilo que representa e aquilo que é representado; por outro, a representação
como exibido de uma presença, como apresentação pública de algo ou alguém.
(CHARTIER, 1990 p.20)

Há uma diferenciação entre o que foi ali representado e a própria representação. Essa
pode ser a visão de alguém sobre o objeto ou ser ali representado, ou a forma como foi escolhido –
por uma série de razões – para ser retratado. E mais que isso, nota-se ainda que essa representação
pode vim a ser como esse mesmo objeto/ser é apresentado e visto publicamente.
Temos na literatura pesquisada por Cunha (1998), mulheres que são heroínas em
potencial. Essas sempre belas e brancas viviam a esperar um príncipe encantado para assim terem o
seu final feliz. O casamento é um pré-requisito para as histórias femininas, para a autora o
casamento mais que um ideal de felicidade era tratado como a remissão da mulher. Cabe apontar
também que essa mulher foi alvo de repreensão, controle sexual, tendo sua sexualidade permeada
de pudores, vergonha em relação ao seu corpo. Ressalta-se que esses paradigmas referentes à
sexualidade feminina possuem uma forte ligação a questão religiosa, principalmente á religiosidade
católica.
Tem-se nos romances várias características do que é “ser mulher”, como se portar e o
que esperar. Observa que o objetivo desses romances era de envolver as leitoras do sexo feminino
dentro desses ideais construídos e esperados do “ser mulher”, estando à felicidade diretamente
associada com um bom casamento e a maternidade.
32

Conseguimos identificar que representação é um termo que não caminha sozinho,


estando frequentemente imbricado com a questão da identidade e da cultura ou mesmo da própria
realidade. Na concepção de Santos (2011, p. 36):

Alguns conceitos atuam como satélites ao de representação, talvez por serem


epistemologicamente relacionáveis: real, realidade, identidade, linguagem, discurso e
cultura. Algo que já havia sido percebido também por Henri Lefebvre (2006), para quem a
representação possui as seguintes características enquanto conceito: 1) emerge e formula
em condições históricas; 2) possui limites que devem ser circunscritos; 3) suscita novos
conceitos; 4) condessa uma gênese que implicitamente o acompanha requerendo assim, um
trabalho de genealogia; 5) pretende ser verdadeira e atuante e 6) tem caráter dinâmico.
(SANTOS, 2011, p. 36)

O próprio conceito de representação está suscetível às condições e transformações


históricas, sendo dinâmico. Dessa forma nota que representações são passiveis de sofrerem
influências da história, com isso demonstra sua dinamicidade. Essas acompanham o momento
histórico de uma determinada sociedade, estando em constante ruptura.
As figuras femininas foram representadas em toda a história de maneiras distintas,
variando conforme o tempo, o espaço e os concepções, percepções aplicados. No século XX por
exemplo, vemos a emersão do feminismo e a imprensa inicia o processo de comentar, abordar os
papeis de gêneros, especialmente os papeis destinados ao sexo feminino.
Nesse período essas representações têm por finalidade cristalizar a imagem dessas
mulheres, como donas-de-casa e mães. A educação feminina, o casamento e a maternidade eram
discutidos nas revistas, entretanto não na perspectiva em que movimentos como o feminismo
expressavam, defendiam. Essas abordagens feitas nos veículos de comunicação reforçavam as
ideias, estereótipos sexistas, colaborando com isso para a manutenção de papeis de hierarquia e
dominação do sexo masculino em detrimento do sexo feminino.
Segundo Pinto (1999) houvesse também mudanças nessas representações com a
chegada da modernidade e dos ideais de civilidade, que chegam ao Brasil no começo do século
XX, importados principalmente da França. Para ela esses ideais influenciavam na vida dessas
mulheres, através do cinema ou de algumas revistas. Ajudavam assim a moldar padrões sociais, a
nova mulher, a mulher moderna era incentivada não mais como dona-de- casa, mas aquela que
trabalhava fora, sob influência francesa, especialmente na Belle Époque.
A questão da representação torna-se tão fundamental, quando tratamos de mulheres,
porque sua história sempre foi contada por outros. E sempre postas em destaque às figuras
masculinas, patriarcais. A representação do sexo feminino produzida pela ciência é
33

marcada pela falta. A mulher frequentemente mostrada como passiva e vazia que não podia
manifestar inclusive seu interesse amoroso ou sexual por nenhum homem, tendo sempre que
esperar a atitude desse para que algo pudesse se concretizar (PERROT, 2006).
Hall (2002) nos apresenta a ideia de representação como algo fundamental para
pensarmos e compreendermos como se organiza e se processa o mundo cultural. Para ele as
representações tem papel central não apenas nos estudos culturais, como também nos estudos da
sociedade visto que o que está sendo representado e como está sendo tem o intuito de passar
alguma mensagem, de dizer algo para o mundo, algo que tenha significação. Quem representa está
buscando mostrar o mundo e as coisas da maneira como lhe tem significado.
Como mencionado anteriormente as representações compõem um conjunto de aspectos
culturais de uma determinada sociedade e existem, devido a sua importância lutas de
representação. Chartier (1990, p.60) afirma que “as lutas de representação têm tanta importância
como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta
impor a sua concepção de mundo social, os valores que são seus e o seu domínio.”
Ressalta-se também quanto as lutas de representação, que elas podem se configurarem
como formas de dominação e de imposição de ideias e de cristalização de pensamentos ou sujeitos.
Elas demonstram a forma como a sociedade vislumbra aquele objeto/ser e que isso não é feito de
forma neutralizada, mas que constitui uma série de interesses pautadas na manutenção da ordem
social estabelecida.
Para Bordieu (apud Pesavento, 1995, p.15) “as representações estão ligadas a questões
de estratégias de poder.” São atos de apreciação e de reconhecimento em que os agentes
envolvidos, sendo seres sociais colocam sua bagagem cultural e os seus interesses. Assim
representações são produtos estratégicos de interesses e de manipulações, Pesavento alega (1995,
p. 15):

[...] no domínio da representação, as coisas ditas, pensadas e expressas tem sentido além
daquele manifesto. Enquanto representação do real o imaginário é sempre referência um
‘outro’ ausente. O imaginário, renuncia, se reporta e evoca outra coisa não explicita e não
presente. Este processo, portanto, envolve a relação que se estabelece entre significantes
(imagens, palavras), com os seus significados (representações, significações), processo
este que envolve uma dimensão simbólica. (PESAVENTO, 1995, p. 15)
34

As representações não são uma cópia fiel ao que se pretende representar, mas que
contém significações diversificadas. Assim as mulheres representadas em tantos momentos no
decorrer da história, são descrições que buscam se aproximar da realidade de uma época, sem, no
entanto, transgredi-la.
Como apontado no desenvolvimento do trabalho, ás mulheres tem sido representada,
pelos olhos de outros – em geral homens-, como seres passivos e relegados à vida privada, sem
participação, sem voz. Isso não é um ato de neutralidade e sim como vimos um modo com
propósitos de exercer poder sobre esses sujeitos, tendo o interesse de silenciar o sexo feminino.
Os Livros Didáticos estão repletos de representações, esses materiais podem facilitar na
compreensão de como a sociedade concebe, trata essas mulheres e quais papeis visam lhe destinar.
Desse modo pesquisa busca através desse material um olhar sobre os silenciamentos postos a essas
mulheres, e como essas representações chegam aos alunos de ensino básico em nosso país.
É imprescindível o objeto de estudo, pois a história, narrativas, memórias, contribuições
de inúmeras mulheres no decorrer da história não estão presentes, contempladas em sala de aula,
por isso as representações ocupam o seu espaço. Nesse sentido é fundamental questionar: Como
essas representações estão sendo apresentadas e reproduzidas nos livros didáticos de história do
Ensino Fundamental? Essas indagações norteiam o trabalho e visa instigar debate, sendo a reflexão
e debate pontos seres suscitados na construção desse trabalho.

2.4 Os conceitos de Livros Didáticos em pauta

O livro didático é alvo de inúmeras e complexas pesquisas desde o século XX, muitas
destas voltadas para a sua produção, no entanto é na virada do século, podemos observar novas
formas não apenas de se pensar, mas de se pesquisar o Livro Didático.
O Livro Didático é como um objeto cultural, que desempenha diversas funções, entre elas,
referencial, instrumental, ideológica e cultural (CHOPPIN,2004). Podemos assim também como
Munakata (1997,1998) entender o Livro Didático como um objeto cultural, mas também
mercadológico, visto que se adapta ao mercado e as discussões historiográficas e necessita atender
orientações formais no momento de sua produção.
35

Assim sendo, reflete de alguma forma a sociedade no qual está inserido e o que ela
busca. Coadunamos com Bittencourt (2008) que enxerga o Livro Didático como objeto coisa, pois
as editoras tem parâmetros oficiais aos quais devem se ater, mas também objeto cultural pela
interferência de sujeitos em seu processo.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), assim como as Leis de Diretrizes e
Bases e outros documentos legais de nossa educação são justamente essas normas e regras
colocadas à produção dos Livros Didáticos, aos quais as editoras devem atender para colocarem
suas coleções nos Guias de Livros Didáticos a serem escolhidos pelos professores e distribuídos
nas escolas.
Processo esse a cargo do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que se
constitui hoje como uma das maiores politicas publicas tanto em investimento de verbas públicas
para a educação e na acessibilidade aos Livros Didáticos em todas as partes do país quanto, uma
política governamental de controle no processo de produção, avaliação e distribuição do livro
didático, pois dita, segundo os parâmetros oficiais quais abordagens históricas e pedagógicas esse
material pode ou não conter, funcionando como um regulador do mercado editorial de Livros
Didáticos.
Silva (2014) mostra que existe uma grande mudança nos Livros Didáticos, diretamente
relacionadas as novas análises feitas dentro da estrutura das políticas públicas das coleções
analisadas pelo PNLD, que cada vez analisa mais elementos metodológicos e conceituais, o que
gera uma necessidade cada vez maior de adaptação desse mercado editorial as exigências não
apenas dos documentos oficiais, mas da própria historiografia.
Salienta-se que o Livro Didático é um grande veiculador do que é produzido dentro da
historiografia para a sociedade, o que nos revela seu grande valor enquanto fonte. O livro didático
colabora para o entendimento de como está sendo tratada a história das mulheres e como essa
abordagem adentra e impacta na sociedade em geral, para além dos espaços educacionais.
Pontua-se também que através do manuseio e análise do livro didático é possível ter
novos olhares sobre esse objeto multifacetado e que assim como Bittencourt (2008) e Choppin
(2004), compreendemos que o Livro Didático é portador de valores de políticos, ideológicos e
culturais, visto que em seu processo de produção, avaliação, distribuição e apropriação sofre
interferência de diversos sujeitos históricos carregados de posicionamentos políticos e
socioculturais.
Consequentemente não é um objeto neutro. É um veiculador, perpetuador de ideias e
assim não deve relegar a mulher da construção histórica. Entende-se ainda que os valores e
36

ideologias nele expostos de forma explícita ou implícita, decorre de um determinado paradigma


histórico construído.
Avaliamos o Livro Didático em suas diversas facetas e complexidades, que envolvem
seu processo de produção e na sua utilização, pois coadunamos com CERTEAU (1998) de que não
existe consumo passivo, pois no cotidiano escolar há inúmeras maneiras de fazer uso do material,
pelos discentes e docentes.
Chartier (1990, p. 59) ao tratar das diversas formas de reinterpretação que ocorrem
dentro do espaço de sala de aula, a autora comenta que:

Podem questionar, rejeitar, distorcer, alterar ou aceita-los, conforme a sua experiência


histórica, suas condições sociais, relações de poder, sua bagagem cultural construída em
diferentes espaços (escolas, família, igreja, sindicato, etc.), seu grau de interesse pelo
assunto tratado. (CHARTTIER, 1990, p.59).

Partimos ainda do pressuposto de que o Livro Didático é um dos instrumentos mais


utilizados em sala de aula, concorda-se com Silva (2014) que concebe o Livro Didático como
principal fonte de trabalho e estudo de muitos docentes e discentes. Que muitas vezes é colocado
como o bode expiatório e procura-se o “Livro Didático ideal” (RÜSEN, 2010), que pelo menos em
tese solucionaria todos os problemas do espaço da sala de aula.
Dessa forma, o presente trabalho busca evitar conceber o livro didático com esse olhar
de dualidade “herói ou vilão”. O olhar visado na pesquisa é com o proposito de compreender
criticamente e amplamente esse objeto complexo de uso frequente no espaço escolar, sem
desconsiderar sua importância cultural e social.
Enfatizando que o livro didático é um instrumento essencial dentro do contexto de sala
de aula, implicando com isso, a relevância e dimensão de entender e avaliar como esses
37

materiais escritos, pedagógicos representam a figura feminina nas aulas de história da educação
básica.
38

3 ANÁLISES GERAIS SOBRE AS REPRESENTAÇÕES FEMININAS

3.1 Sobre a representação e as mulheres nos Livros Didáticos

Historicamente a mulher vem sendo considerada em inúmeras sociedades como


inferior ao homem, assim colocamos as mulheres dentro de um “grupo social” minoritário e
excluído da história “oficial” da humanidade, uma história, em geral masculina. A questão de
gênero é fortemente representada dentro da sociedade seja pelos meios de comunicação,
documentos e entre outros. Essas representações são construídas baseadas em estereótipos e
padrões de identidade, comportamento feminino naturalizados ou mesmo impostos durante a
história, variando de acordo com o tempo e a sociedade.
Nesse contexto faz-se pertinente, pois contribui para observar, analisar e ainda
problematizar como as mulheres são abordadas em uma etapa essencial da educação básica no
ensino de História. Além disso, essas representações construídas e reproduzidas são de extrema
importância para o entendimento da sociedade, entendimento não apenas sobre a História das
Mulheres, como também para a criação de identidades femininas e incentivar uma discussão sobre
gênero dentro da sociedade. Na atualidade o debate sobre gênero é de suma importância.
As análises sobre as representações das mulheres enquanto gênero e sua história foram
feitas a partir das pesquisas em livros didáticos, com foco nas imagens, textos e conteúdos
referentes à mulher, sendo tematizados para melhor compreensão e discussão dos dados obtidos.
Assim, faz-se necessário inicialmente antes de apresentarmos o resultado dessa discussão,
discorrer um pouco sobre o que significa representação:

Ainda em Chartier (1990) vemos que a representação é o produto do resultado de uma


prática. [...] Então, o fato nunca é o fato. Seja qual for o discurso ou o meio, o que temos é
a representação do fato. A representação é uma referência e temos que nos aproximar dela,
para nos aproximarmos do fato. A representação do real, ou do imaginário, é, em si,
elemento de transformação do real e atribuição de sentido ao mundo. (MAKOWIECKY,
2003, p. 04).

Nesse sentido, podemos compreender representações como uma forma de entender e


pensar os fatos. Não é possível alcançar o fato, no entanto, quando se compreende a sua
representação, nos aproximamos de uma melhor compreensão desse fato inalcançável.
39

Assim, quando buscamos entender uma determinada representação, estamos não apenas
buscando entender fatos, mas transformando nosso olhar sobre esse objeto, atribuindo novos
sentidos ao objeto e como ele localiza-se no mundo. As representações não existem sozinhas, por si
só, são construções sociais do fato/objeto e, portanto, são também construções históricas:

Para Bordieu, as representações mentais envolvem atos de apreciação, de conhecimento e


reconhecimento e constituem um campo, onde os agentes sociais investem seus interesses
e bagagem cultural. Esse autor se reporta mais às estratégias de poder, dizendo que as
representações objetuais, expressas em coisas ou atos são produtos de estratégias de
interesse e manipulação. (MAKOWIECKY, 2003, p. 04-05).

O Livro Didático enquanto recurso didático e instrumento metodológico, também é


material carregado de ideologia. O livro didático ajuda a construir representações significativas
sobre as mulheres, não apenas por apresentar conteúdos que as representem, mas pela forma como
apresenta esses conteúdos, o modo e espaço que essas mulheres são expostas.
Utilizar o Livro Didático enquanto fonte de pesquisa é visar a compreensão do que
chega na sala de aula e no imaginário dos alunos em decorrência da sociedade. Nesse caso tratando
sobre as mulheres e os diversos debates, que permeiam a questão de gênero. É essencial
compreender ainda que os Livros Didáticos possuem ideologias e que isso é determinante na
compreensão e na forma como os conteúdos são apresentados.
Bittencourt (2008, p. 313) tece comentário sobre o livro didático:

O conhecimento produzido pelo Livro Didático é categórico, característica perceptível


pelo discurso unitário e simplificado que se reproduz, sem a possibilidade de ser
contestado, como afirmam vários de seus críticos. Trata-se de textos que são de difícil
contestação ou confronto, pois expressam uma ‘verdade’ de maneira bastante impositiva.
(BITTENCOURT, 2008, p. 313)

Se pensarmos a partir da perspectiva tradicional de história e do próprio ensino de


história, os conteúdos trazidos pelo Livro Didático são muitas vezes tomados como verdades
absolutas e o processo de ensino acaba por condicionar o aluno a memorizar as informações e não
a problematizá-las, dessa forma muitas vezes os conhecimentos produzidos e perpetuados
40

pelos Livros Didáticos são vetados de criticidade. Bittencourt (2008, p. 315) apresenta
problematizações oportunas sobre o livro didático:

Seleção de atividades apresentadas e sua ordenação durante o texto não são aleatórias e
requerem uma análise especifica, para se perceber a coerência do autor em sua proposta de
fornecer condições de uma aprendizagem que não limite a memorização de determinados
acontecimentos ou fatos históricos, mas permite o desenvolvimento de suas capacidades
intelectuais. (BITTENCOURT, 2008, p. 315)

Nos Livros selecionados da coleção “História, Sociedade & Cidadania”, buscamos


fazer análises gerais e especificas sobre a questão aqui pesquisada. Inicialmente buscamos trazer
dados sobre menções a mulheres e suas representações no decorrer das páginas. É importante aqui
destacarmos que na avaliação dessa coleção no Guia do PNLD do ano 2017, afirma-se que na
coleção “As mulheres são tratadas em sua condição de sujeitos históricos e seu papel é
problematizado no decorrer da história”. É justamente partindo disso, que buscamos analisar como
as mulheres são apresentadas.
Apresentamos dados quantitativos de páginas em que são mencionadas mulheres em
todos os Livros Didáticos pesquisados, em comparação com a quantidade de páginas total de nossa
fonte, amostragem no Gráfico 1. Trazemos ainda mais adiante um gráfico demonstrando, qual
lugar essas representações ocupam nos Livros Didáticos pesquisados como exemplo temos o
Gráfico 2. Todos os dados obtidos para essa pesquisa serão aqui discutidos.
Gráfico 1 – Gráfico comparativo páginas totais do Livro Didático e os que contem menção
a mulheres
41

Páginas no Livro Didático


350 329
315 315 315
300

250

200

150

100
68
47 49 57
50

0
6º ANO 7º ANO 8º ANO 9º ANO

PÁGINAS TOTAIS MENÇÕES A MULHER

Fonte: elaborado pela autora

No gráfico acima temos dados sobre páginas com menções a mulher em contraste com
o total de páginas gerais dos Livros Didáticos. Os Livros do 6º ao 8º ano tem a mesma quantidade
de páginas, sendo estas 315, tendo um aumento apenas no livro do 9º ano, que contém 329 páginas.
Podemos perceber um aumento gradual na aparição das mulheres no decorrer dos volumes, das
séries aqui pesquisadas.
No 6º ano temos 45 páginas, que trazem alguma coisa referente a mulher, seja sua
história, uma personalidade feminina, mulheres como grupo social, ou ainda apenas aparições
pontuais. Observe o exemplo abaixo, que apresenta respectivamente uma aparição pontual no texto
principal e uma personalidade feminina:

“Em algumas sociedades, e principalmente para a mulher, a vida adulta começa muito
cedo. Para ambos os sexos significa ter a própria família através do casamento e dos filhos
que irão nascer.” (JÚNIOR, Boulos Alfredo. História Sociedade & Cidadania: 6 º ano,
2016, p.100, grifo nosso)

Figura 2 – CLEOPÁTRA EM ATIVIDADES


42

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

No 7º ano temos 49 páginas com representações, 8º ano o número sobe para 57 e no 9º


ano temos mais um aumento para 68. Mesmo com os aumentos, podemos observar uma enorme
disparidade entre os momentos em que as mulheres são contempladas e o total das páginas. Para
mensurar a dimensão dessa disparidade, se somarmos as páginas de todos os livros em que as
mulheres são de alguma forma apresentadas não chegaríamos próximo de um Livro Didático com
as 315 páginas que a maioria desses contém.
O Livro Didático com menor número de aparições que temos é o do 6º ano com 14
capítulos, que explana conteúdos que vão desde “O que é História?” Até a queda do Império
Romano. É possível notar em uma análise mais geral desse livro, que mesmo nos momentos que ás
mulheres aparecem, essas aparições estão mais relacionadas a direcionar o conteúdo para a
realidade do que necessariamente expor, aprofundar sobre figuras femininas nos períodos
históricos contidos no conteúdo. Essa observação reforça a necessidade do estudo e debate sobre
gênero, representação e representatividade citado no primeiro capítulo. Essa necessidade de estudo
e reflexão sobre uma escassez de fontes, quando se trabalha com História das Mulheres é atual e
relevante.
De acordo com o aumento gradual no número de menções por página no decorrer dos
conteúdos, ou seja, temos menos representações femininas em conteúdos relacionados a História
Antiga, que vai aumentando gradativamente, quanto o conteúdo avança para outros momentos
históricos mais recentes, como História Moderna e História Contemporânea, com maior número,
como observado no Gráfico 1.
Isso não nos parece mera coincidência, pois iremos observando no decorrer dos
conteúdos, que o autor tende a buscar deixar claro que as mulheres vão ocupando novos
43

lugares dentro da sociedade, mudando de uma vida apenas privada para um espaço público, torna-
se também sujeitos participantes, ativos nos movimentos sociais e do campo político.
Desse modo teremos mais informações, aumento de documentação acerca dessas
mulheres e assim uma maior visibilidade e conquista de direitos. Percebe-se que o autor vai
trazendo, mesmo que de forma discreta, esse avanço feminino, algumas de suas lutas e conquistas.
Conforme os dados apresentados, essas informações nos inquietam e estimula a
questionar sobre a reconfiguração da mulher enquanto sujeito histórico. Se considerarmos a
história dentro da visão de que é “a ciência dos homens no tempo” como nos apresentou Marc
Bloch (2001, p. 54), poderíamos assim compreender que em todos os conteúdos didáticos estão
permeados da presença humana. A figura masculina é apresentada realizando atividades, atuando
na política, agindo ativamente e livremente nos espaços públicos.
Nessa perspectiva, como podemos entender que dentro desse fazer historiográfico, no
qual temos seres humanos ativos dentro do processo, existam supostamente tão poucas mulheres
vistas como sujeitos históricos? Será que a visão que temos e aprendemos dos “homens no tempo”
se referem justamente a apenas figuras do sexo masculino?

3.2 O lugar de mulher: é onde quiser?

Discutido aqui o conceito de representatividade e apresentamos alguns dados gerais


sobre nossa fonte de pesquisa, além disso, abordamos sobre o local que as representações
femininas ocupam dentro dos Livros Didáticos. É importante percebermos a influência que
representação exerce para nosso estudo, visto que ainda é uma realidade para o avanço dos estudos
de gênero a discussão sobre representação e representativa feminina. Cabe destacar a frequência e
modo, que são apresentadas representações femininas no texto principal. Pontua-se que o texto
principal é a parte amplamente utilizada dos livros em sala de aula.
Observamos abaixo o Gráfico 2.0 que compila as informações sobre o lugar ocupado
pelas mulheres dentro de nossa fonte. O gráfico considera casos em que ocorre mais de uma
menção por página.
44

Gráfico 2 – Gráfico representando em números o local da mulher dentro dos Livros


Didáticos de História de 6º à 9º ano.

Locais com menções às mulheres


60

50
52
47
40
40
30 34

20
18 19
17
10
11 10 11
6 8 3 9 9 5
0
6º ano 7º ano 8º ano 9º ano

Texto Principal Imagens Atividades Seções

Fonte: elaborado pela autora

No gráfico supracitado, podemos ter acesso aos dados quantitativos relativos ao local
destinado a mulher nos Livros Didáticos aqui selecionados. Para a construção desse gráfico foi
observado e contabilizado as aparições femininas e suas representações que permeiam todo o Livro
Didático, sendo separado de acordo com a própria estrutura do livro, assim temos: Texto principal,
imagens, atividades e seções. Como podemos observar nos exemplos abaixo:
Figura 3 – Página retirada do Livro Didático que demonstra a presença de uma das seções e
de imagens
45

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Figura 4 – Página retirada do Livro Didático contendo texto principal e imagens

Fonte: Júnior Alfredo (2016).

Figura 5 – Imagem retirada do Livro Didático demonstrando a presença de atividades


46

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Compreendemos que essas partes apresentadas se mesclam em um todo, essa


tonalidade compõem e integram de que forma o material didático. Visamos classificar cada
representação, buscando também localizar o espaço das representações femininas, analisando onde
essas representações encaixavam, levando em consideração na observação o contexto do livro e do
capítulo como um todo.
É possível verificar algumas variações no decorrer dos Livros Didáticos, como por
exemplo, o número relacionado às atividades que varia de 6 a 19. Também podemos perceber
algumas constantes. Temos como unanimidade o maior número de representações colocadas
através de imagens.
Esse número é um crescente no decorrer da coleção, temos inicialmente no 6º ano 34
imagens, dado não muito discrepante de menções no texto principal, por exemplo, no último livro
da coleção o número de imagens sobe para 52 e demonstra impressionante contraste se comparado
ao texto principal, atividades e seções.
Em relação ao texto e as atividades surgem algumas problemáticas. Apesar de termos
referências às “mulheres” ou figuras históricas femininas em um número maior no texto principal
do que nas atividades, é nessa última, que encontramos a temática discutida com maior
profundidade, a partir desse ponto, que encontramos textos e discussões com maior teor crítico,
esses conteúdos também demonstram serem aplicados ao contexto histórico trazido pelo capítulo e
dialogarem com a atualidade.
Nota também na análise, que tanto nas imagens, quanto no texto principal, em sua
maioria não temos a exploração adequada do que é exposto. Em geral, as imagens não são
47

discutidas ou mesmo mencionadas no corpo principal do texto. Os momentos em que temos alguma
reflexão ou informação sobre as figuras são em alguns casos, quando essas estão relacionadas a um
box de uma das seções ou quando são fontes para a resolução de atividades.
É sabido do surgimento de novas abordagens, técnicas e fontes que permitiram ampliar
a história, inserindo a história das mulheres. O Livro Didático incorporou diversas novas
linguagens com o avanço do tempo e começou também a repensar os sujeitos agentes da história e
suas vozes nos Livros Didáticos (GATTI JUNIOR, 2004). Isso demonstra que a inclusão das
mulheres tratadas como sujeitos históricos é uma abordagem relativamente recente, ressalta-se
também, que essa inclusão inserida nos materiais didáticos ainda enfrenta limitações.
Se pensarmos o Livro Didático de acordo com sua função documental, trazida por
Choppin (2002), é importante lembrar que enquanto fonte histórica, não pode estar alheio as
demandas sociais do qual se inserem as mulheres. E é justamente esse aspecto que está sendo
problematizado, pois, é perceptível que essas escolhas são fundamentais, para que seja possível
perceber ao lidar com o Livro Didático, qual o tipo de história e de visão de mundo que está
tentando repassar. Nessa perspectiva, pensamos como Circe Bittencourt (1993), que o Livro
Didático é um objeto cultural produzido por grupos sociais para determinado fim, que, deixam
transparecer nesse objeto sua forma de pensar, agir, sua cultura e suas tradições. Consideramos
ainda que os Livros Didáticos não são organizados, selecionados aleatoriamente, há um complexo
processo. Esse processo, seleção considera a paginação, posicionamento de imagens, de seções,
colocação dos textos. A esse processo denomina o
nome de diagramação.
É justamente a técnica de distribuir os elementos de uma página impressa ou mesmo de
um veículo digital. Essa técnica segue uma hierarquia que é importante de ser avaliada, de acordo
com o Portal da Educação “O trabalho de diagramação consiste em distribuir no espaço da página
de acordo com uma hierarquia de informações que são estabelecidas pelos editores e diretores de
arte da publicação”. (PORTAL DA EDUCAÇAO, 2020)
Cientes disso, podemos analisar com um maior cuidado a forma como são colocadas às
representações femininas nos livros didáticos. Pois, foi possível observar que a maioria das
imagens relacionadas ás mulheres aparecem geralmente na parte inferior da página, ou quando na
parte superior nos cantos esquerdo e direito, em tamanhos menores do que imagens de figuras
masculinas ou mesmo de ilustrações, que apresentam homens e mulheres juntos.
48

Se há uma hierarquia de informações, ela dita como os textos e imagens serão dispostos
de acordo com a importância que lhe é atribuído. Então, quando aqui apresentamos um baixo
número de aparições femininas no texto principal ou imagens, em sua maioria não devidamente
relacionadas, essa observação nos guia a constatar a relevância menor que foi dada a História das
Mulheres.
Essa observação é confirmada nos exemplos abaixo apresentados. Na Figura 05 temos
uma página completa retirada do volume do 8º ano da coleção, que demonstra o local das imagens
representando mulheres postas no livro didático. Na Figura 06 (retirada de parte de página do
volume do 6º ano), é possível observar que as imagens não são debatidas no texto principal:
Figura 6 – Exemplo de imagens femininas em sua disposição nos Livros Didáticos

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Figura 7 – Trecho do Livro Didático com imagem e legenda contendo mulheres


49

Fonte: Alfredo Júnior(2016)

Diante dessa hierarquização cabe voltar a Chartier (2002) e a representação, que é


segundo o autor tecida por grupos sociais objetivando coisas especificas, sendo assim necessário
relacionar o que está sendo dito com a posição de quem as diz. Essa representação abarca as
divisões sociais e as classifica e hierarquiza, não a partir do fato, mas a partir da forma como
imagina-se o outro e isso está diretamente ligado ao ordenamento da sociedade. Essa compreensão
colabora para compreender os processos de hierarquizações na sociedade. A partir da análise feita
nos livros didáticos, foi observada outra problemática.
Trata-se das informações postas, temos como exemplo, os diversos momentos em que é colocada a
submissão feminina ao homem e o papel de gênero, que lhe era esperado em determinados
momentos históricos.
Com isso, reforça a importância de pensar, problematizar a abordagem, discursos
construídos e perpetuados pelos livros didáticos referente conceito, papeis, relações do sexo
feminino na história, na política, sociedade. Isso não significa, que tais relações e a forma como a
mulher era vista em sociedade não devem serem trabalhadas. A observação e crítica apontadas aqui
tem relação à forma acrítica como essa exposição é realizada no desenvolvimento dos volumes da
coleção, de uma forma bastante naturalizada.
A pretensão não é que os alunos exerçam juízo de valores, mas que relacionem o que
está sendo apresentado com a atualidade e reflitam sobre o papel da mulher nos dias atuais.
Considerando os pontos mencionados, pensamos em como algo fortemente naturalizado (a
submissão feminina) adentra a sala de aula.
Salienta-se que para compreensão profunda, crítica sobre as relações de gênero no
contexto escolar, é fundamental entender como são estabelecidas as relações entre os homens
50

e mulheres, pautando que essas relações possuem suas diferenças, essas distinções são resultados
de construções históricas e não devem ser normatizadas.
Em diversos momentos, especialmente nos primeiros livros da coleção pesquisada o
autor não problematiza a história das mulheres, apenas citando-as como grupo social ou apenas
apresentando imagens do qual não há nenhum debate ou referência no texto principal. Além disso,
em algumas ocasiões percebemos trechos em que são colocadas informações que enfatizam as
diferenças entre homens e mulheres, sobre suas funções naquela sociedade e participação nas
atividades ou na política, como podemos observar na Figura 07, aqui tida como exemplo.
Ainda nos mesmos materiais é possível perceber, que quando a mulher aparece nas
citações é representada apenas pelo seu papel na estrutura familiar, na obrigação de cuidar dos
filhos, do marido e da casa, essa problemática é notável Figura 08, apresentada abaixo. No
primeiro volume a mulher é mencionada como responsável pela colheita, e há enfoque na
separação de trabalhos femininos e masculinos. Destaca, que isso vai evoluindo no decorrer dos
volumes, tendo ainda algumas constantes, como a questão da submissão, entretanto são apontados
também mulheres em papeis, espaços públicos e exercendo variadas atividades. Levando isso em
consideração, os exemplos aqui apresentados são retirados do Livro Didático do 6º ano, o primeiro
volume, sendo recorrentes as questões acima debatidas:

Figura 8 – Função feminina e diferenciação das atividades

Fonte: Alfredo Júnior (2016).


51

Interessante comentar que de toda a coleção, o capítulo que mais apresenta menções é
o capítulo de número 4 do Livro Didático de 8º ano, que aborda sobre as Revoluções na Inglaterra,
há um verdadeiro salto de representações, que vão desde a rainha Elizabeth I, até o trabalho das
mulheres na fábrica e suas condições de vida. Assim, é possível afirmar, que há um crescente, é
justamente nesse capítulo, que temos pela primeira vez na coleção uma mulher aparecendo no texto
principal como protagonista, como podemos constatar no exemplo abaixo:
Figura 9 – Página contendo Rainha Elizabeth I como protagonista no texto principal

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Nos boxes apresentados, mesmo em alguns textos das atividades aparecem personagens
femininas, que foram de alguma forma foram consideradas relevantes em sua época ou de como
mulheres participaram de algum dos fatos expostos ao longo do capítulo. Ter a representação
dessas mulheres e de suas participações é um avanço e deve ser reconhecido, porém ao colocar em
separado ou como algo extraordinário, implica por criar uma imagem de situações isoladas e de
exceções, sendo que essas mulheres assim como outras mulheres deveriam serem tratadas como
sujeitos integrados, que compõem um grupo social heterogêneo. Essa representação pode criar uma
ideia dessas mulheres como casos excepcionais, raros em momentos históricos e contribuições para
as ciências e o desenvolvimento político, social ali apresentados.
Quanto o ponto problematizado, mostra ser possível, observa-se como exemplo na
52

Figura 10, que a imagem expõe justamente uma personagem feminina que recebe destaque no box da
seção, entretanto durante o capítulo não é mencionada, sendo tratada como uma exceção:
Figura 10 – Box “Para saber mais” apresenta Anita Garibaldi

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Diante do exposto podemos inferir que os Livros Didáticos trazem representações


femininas em todas as suas partes, desde as imagens até as seções, em menor ou maior número. Em
algumas partes temos mais explanações e reflexões, como nas atividades, ou alguns capítulos, mas
no geral, o que se percebe é uma abordagem mais superficial sobre a História das mulheres e a
questão de gênero.
Em suma, a inclusão de figuras femininas nas atividades, boxes são expressas de forma
simplificada, em reduzida quantidade. Essa representação não corrobora no sentido de responder as
demanda sociais, politicas do sexo feminino, pois continuam seguindo uma lógica de
complemento. Em que as mulheres ainda são apresentadas de forma apêndice, como um grupo
social em separado, com uma história separada longe de uma maior contextualização com os
momentos históricos, que seria importante para a compreensão de suas participações, contribuições
e relevância.

3.3 Relações de gênero através de imagens no Livro Didático


53

Constantemente são utilizados e aprimorados os recursos imagéticos nos Livros


Didáticos. Há cada vez mais por parte das editoras e dos organizadores um cuidado com suas
edições, com os recursos gráficos e com a estética, tendo em vista os critérios de avaliação do
Programa Nacional do Livro Didático, como do edital 2017 ano das séries Finais do Ensino
Fundamental.
No próprio Guia dos Livros Didáticos de 2017, temos como um dos critérios de
avaliação a “adequação da estrutura editorial e projeto gráfico aos objetivos didáticos pedagógicos
da coleção”. Busca-se chamar a atenção através das cores que são postas justamente nas
fotografias, figuras e outros elementos afins. Esse aumento do uso de imagens se reflete em um
aumento de representações femininas através de imagens.
Partindo dessa constatação e sendo observado através de dados apresentados no
desenvolvimento dessa pesquisa, foi possível perceber que o local mais utilizado nos Livros
Didáticos para a colocação de representações femininas ocorre nos recursos imagéticos. Sendo
assim é pertinente que façamos uma discussão sobre a disposição das imagens trazidas nos
volumes, seus tamanhos e as relações de gênero, que elas nos apresentam. Existem imagens que
representam mulheres, onde e como elas estão postas? Observemos a tabela abaixo, que nos expõe
essa relação imagética:
Tabela 2 – A tabela representa a quantidade de imagens separadas por identidade de
gênero nos volumes, seu total por gênero e percentuais

Tabela 01-Iconografias nos Livros Didáticos por Identidade de gênero


História

Livros Didáticos Homens Mulheres

6º ano 71 34

7º ano 145 40

8º ano 147 47

9º ano 177 52

Total por gênero 540 173

Percentual 75,8% 24, 2%

Fonte: Alfredo Junior (2015).


54

Na tabela acima buscamos apresentar dados sobre as imagens, que contenham figuras
femininas ou tenham relação com elas. Nota-se o forte contraste numérico entre essas e as que se
referem a figuras masculinas. Isso se explica, pois apesar de termos um número significativo de
imagens contemplando a história feminina, o que percebemos é um número discrepante e
insuficiente se comparado a outras, que contemplam o masculino.
A partir dos dados obtidos na tabela acima, evidência que existem em todos os volumes
da coleção, discrepâncias no que tange a representação imagética entre os gêneros. Em um total de
100% das referidas imagens, apenas 24,2% correspondem a imagens que de alguma forma são
relacionadas ás mulheres.
Assim, desse vasto número de material visual, as figuras que podem ser encontradas nos
livros didáticos remetendo a participação feminina constituem uma pequena parcela. Novamente
somos instigados a nos perguntar sobre a perspectiva do autor sobre as mulheres enquanto agentes
históricos.
Temos capítulos em que não há nenhuma representação feminina, com ausência até de
imagens, o que contribui para esses números divergentes e assimétricos apresentados acima. A
partir dos dados, o que percebemos é uma disparidade no que tange as representações iconográficas
das mulheres nos Livros Didáticos.
Correlacionado a isso, temos ainda o viés da identificação nas legendas trazidas. É
perceptível em muitas das imagens trazidas um anonimato das mulheres ali expostas, como nos
exemplos a seguir:
Figura 11 – Mulher com argola de bronze

Fonte: Alfredo Júnior (2015).


55

Figura 12 - Uma griô

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

De maneira geral as imagens postas ao longo dos capítulos não são referenciadas no
texto principal, resultando que a informação que é passada sobre elas acontece apenas na legenda:

Figura 13 – “Fotografia recente de mãe falante da língua iorubá e seu filho. Lagos, Nigéria.
[...]”
56

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Sem referências as imagens no texto principal ou sem identificação devida das


mulheres, que estão nas imagens, elas servem como ilustração, como amostragem do momento
histórico, mas perpetuam o anonimato feminino. No caso apresentado por exemplo na figura 03,
vemos que a mulher é identifica como “mãe” e não é conectada com o texto base, o que deixa essa
sendo sua única forma de identificação.
Um aspecto importante observado em algumas imagens que contém tanto personagens
femininos quanto masculinos, é que em alguns momentos a mulher ali retratada parece perder a
identidade própria, essa se torna o seu laço com o homem ali exposto, observem:
Figura 14 – Família real

Figura 1 - “A pintura abaixo, intitulada família de Luís XIV é de autoria do pintor francês Jean
Nocret (1615-1672). 1. Rei Luís XIV 2. Mãe do Rei 3. Delfim, filho do Rei 4. Esposa do Rei 5.
Cunhada do Rei 6. Irmão do Rei
57

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Tomemos como exemplo as imagens acima, as legendas foram retiradas do próprio


Livro Didático. Na Figura 3 temos uma imagem com vários personagens que são numerados na
imagem para facilitação da legenda. O que chama atenção é que dos 06 personagens apresentados e
numerados, apenas dois tem seus nomes postos na legenda, são esses do Rei e seu filho. Nenhuma
das mulheres na imagem é identificada com o seu nome, mas sim por sua relação com o Rei, assim
temos: a mãe do rei, esposa do rei e etc.
O questionamento que surge é: Por que não utilizar o nome das personagens e
relacioná-las com o Rei, como foi feito em “Delfim, o filho do rei?”. A imagem retrata a família do
Rei Luís no século XIV, sendo pintada no século XVII pelo artista Jean Nocret (1615 – 1672).
Figura 15 – Três Ricas Horas

Figura 2_ “ Livro das Horas. Três ricas horas, 1410-1416. Miniatura de autoria dos irmãos
Limburg. Detalhe: noivado da neta de Jean de Valois, duque de Berry e Auvergne. Museu Conde,
Chantilly, França"
58

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Na Figura acima temos uma pintura que retrata um noivado. Mais uma vez prestemos
atenção à legenda da imagem. Nesse caso não há identificação de nenhum dos personagens
presentes na gravura, pela datação da obra em si e sua criação, podemos induzir, que não se sabia
ou não era o propósito dos irmãos Limburg chamar atenção para os personagens. O destaque da
legenda ocorre para uma das moças da imagem, que está em seu noivado, mesmo sendo ela ao qual
a pintura se refere, a mesma não é identificada com o seu nome, mas sim como neta de Jean de
Valois, um duque.
Existem sim, momentos em que as imagens femininas são postas e identificadas, como
veremos em ocasiões no próximo capítulo, entretanto o que desejamos instigar a reflexão nesse
momento é a ausência identitária, que ocorre em diversos momentos. A mensagem que transmite é
justamente a de que a personagem feminina não existe por si só, não tem nome, não existe fora da
relação com o homem.
Vale destacar que a coleção História, Sociedade & Cidadania dos Livros Didáticos
utiliza frequente o uso de imagens, colocadas de formas diversas, o que é positivo pela
diferenciação de linguagens, porém como apontado, é possível perceber uma falta de conexão das
mesmas com o texto principal, em diversos momentos.
Referente ao caso das imagens femininas, isso ocorre com frequência elevada, o que
resulta em colocar as iconografias como algo apenas ilustrativo, essa modo de representação não
consideramos positivos, visto que as mulheres e suas histórias ali expostas devem ser trabalhadas
de forma a serem compreendidas, problematizadas.
59

4 AS MULHERES NOS LIVROS DIDÁTICOS DA COLEÇÃO HISTÓRIA


SOCIEDADE & CIDADANIA

Nesse capítulo nos detemos a fazer uma análise temática, sobre temas recorrentes nos
volumes da coleção História, Sociedade & Cidadania – Alfredo Boulos, que apontam para a
participação e a história das mulheres em diversos períodos e sociedades.
Assim pontuamos inicialmente as Mulheres na política, buscando a compreensão de
como tal temática foi explorada no decorrer dos Livros Didáticos. Esta pauta aparece em todos os
quatro volumes de maneiras diversas, que vão da falta de voto feminino até Rainhas e Presidentas
da República, como será possível observar.
Em seguida trataremos sobre as representações femininas relacionadas ao trabalho, em
suas diferentes formas e como isso foi abordado em cada um dos volumes. No terceiro tópico
trataremos sobre como é apresentada a participação femininas em lutas e movimentos sociais. E
para finalizar, o último tópico irá tratar sobre a vida cotidiana das mulheres em sociedade, questões
relacionadas ao tratamento dado a mulher em determina sociedade, casamento e afins.

4.1 As Mulheres e a Política: como são representadas?

Logo no primeiro volume da coleção “História, sociedade & Cidadania” utilizado no 6º


ano do Ensino Fundamental, temos a primeira aparição feminina na política no capítulo 7, que trata
sobre o Egito. Nesse temos um tópico intitulado “Candace, a mulher na política”, segundo um
glossário posto ao lado do texto principal nessa mesma página, Candace significa um “título que
deriva da palavra meroíta ktke e significa rainha-mãe”:
Figura 16 – RAINHA GUERREIRA CUXITA
60

Fonte: Júnior Alfredo (2015).

O autor apresenta no texto principal informações sobre a participação e a importância


da mulher para o Reino de Kush, é colocado que as mulheres “[...] podiam ser sacerdotisas,
administradoras de uma cidade, e podiam, ainda chefiar o governo, com o título de Candace.”
(p.145).
É um tópico bastante importante de ser trabalho no Livro Didático, informações de que
mesmo em algumas sociedades antigas já existia a prática de mulheres ocuparem posições como
chefes de Estado ou mesmo guerreiras. Cita ainda indícios arqueológicos e historiadores que
atestam essa participação e expõe uma imagem (Figura 13) que conversa com o texto principal.
Posteriormente no mesmo capítulo, temos novamente a abordagem da temática, agora
aparecendo nas atividades, observe:
Figura 17 – Atividade sobre Reino de Kush
61

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Essa imagem retirada da parte de atividades do Livro Didático ajuda a retomar o texto
sobre as mulheres no Reino de Kush e ainda traz uma relação de comparação entre essa situação
política em Kush e na Mesopotâmia, o que é positivo, pois expressa a dimensão de como ocorria a
vida política de mulheres em outra sociedade, o que não é explorado durante o capítulo.
Apesar disso, não podemos deixar de perceber que nesse volume a primeira vez que
temos algo sobre as mulheres na vida política, aparece apenas no sétimo capítulo, na metade do
livro, e que é relacionado a uma sociedade especifica, o que não propicia a dimensão dentro de sala
de aula de como tal dinâmica funcionava em outras sociedades.
Como encerramento desse capítulo há um texto que trata sobre as mulheres na política,
tratando do caso brasileiro e possui algumas questões:

Figura 18 – Página tratando sobre mulheres na política


62

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Anterior o início do texto, é colocado que no Reino de Kush ás mulheres alcançavam


altos cargos, além dessa informação, o texto também aborda um pouco sobre as mulheres na
política no Brasil. O texto retirado do Brasil Portal e selecionado trechos pelo autor fornece dados
sobre a representação das mulheres na política brasileira e o questiona sobre o que isso realmente
significa.
Observa-se que o autor visa trazer o debate para a realidade, buscando aproximar o
conteúdo do livro didático com a realidade dos alunos, para isso ele utiliza do contexto brasileiro.
Essa estratégia se mostra bastante interessante, pois instiga os alunos a refletirem sobre o contexto
político brasileiro e serve como base para que o (a) professor (a) suscite debates em sala de aula.
Temos ainda nesse volume outras referências que trataremos mais à frente.
No volume do 7º ano, há no começo, especificamente no primeiro capítulo, uma
discreta referência a uma participação feminina, apresenta uma aliança através de um casamento,
que simbolizou uma união de forças, demonstra a importância de Clotilde para a diminuição da
influência dos francos, observe abaixo:
Figura 19 – UNIÃO CLOTILDE E CLÓVIS
63

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

É possível perceber que o texto cita a importância de Clotilde para a vida de Clóvis e
do que ele conseguiu conquistar com esse matrimônio, seria relevante também mostrar mais a
ligação dela com os feitos desse período, não apenas como ela o influenciou.
Nesse trecho podemos constatar algo comum da época, que seria justamente a união
pelo casamento para alcançar algum fim político, seria um ponto interessante, o autor apresentar
essa informação e nos dizer, mesmo de maneira discreta, quem foi Clotilde e não apenas citá-la
sem qualquer informação ou não a identificação.
Logo em seguida, no mesmo volume, precisamente no capítulo 09 intitulado “Estado
Moderno, absolutismo e mercantilismo”, temos um caso semelhante, em que a mulher aparece
relacionada à política através do matrimônio. É colocado que a união foi importante para os rumos
de combate naquele momento, e para aumento de forças, afirma-se “[...] os reis cristãos Fernando
de Aragão e Isabel de Castela se casaram e uniram suas terras e seus esforços no combate aos
árabes [...]” (p.187).
Nota-se no trecho exposto que não existe um aprofundamento sobre quem foi Isabel de
Castela e a razões de sua influência, entretanto essa abordagem, esse caso não é uma exceção, visto
que acontece também com Fernando de Aragão. Vejamos a imagem abaixo:

Figura 20 – Rei e Rainha Abençoam jovem


64

Fonte: Alfredo Júnior. (2015)

A imagem acima foi retirada da mesma página e estava ao lado do texto principal
servindo de ilustração dos personagens apresentados, porém sem relação direta com o que foi
narrado, visto que legenda colocada na imagem apresentada, diz que se trata de uma Iluminura em
que o rei e a rainha abençoam uma jovem.
Como pontuado em outro momento, à primeira aparição de destaque de uma mulher
sem relação ao sexo masculino é com a figura da Rainha Elizabeth I, isso acontece também no
segundo volume da coleção, e também no capitulo 09. Ela é representada tanto no texto principal,
quanto em imagens.
O autor foca nos seus feitos e no seu modo de conduzir a Inglaterra no período, essa
abordagem é importante e necessária, pois desnaturaliza a noção de mulher relacionada à vida
privada e ao casamento, buscando trazer uma apresentação feminina sobre a perspectiva da vida
pública, na sua participação política, além de colocar uma imagem de uma mulher em situação de
destaque em meio a figuras masculinas, observemos:
Figura 21 – Rainha Elizabeth I
65

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

É a primeira vez até aqui que o texto principal está totalmente voltado a uma figura
feminina e seus feitos. É muito importante perceber a posição de poder, que uma mulher do
período se encontrava e que não se tratava somente de estar ali. O autor consegue destacar sua
importância para a sociedade no período e sua inteligência nos seus planos.
Isso é fundamental para que se possa discutir e problematizar em sala de aula sobre as
mulheres na política e que isso não é apenas relacionado ao matrimônio ou de forma secundária.
Observando a imagem percebemos que se volta diretamente a personagem mostrada no texto
principal. Interessante a imagem escolhida pelo autor que mostra a rainha cercada por personagens
masculinos, mas na própria obra vemos que ela é tida em destaque, liderando, é possível notar, que
até mesmo o tom da cor de sua roupa, a destaca.
A rainha Elizabeth I volta a ser personagem protagonista no Livro Didático do 8º ano no
capítulo 04 “Revoluções na Inglaterra”. Mais uma vez o autor foca em suas ações políticas e é
apresentada como uma mulher forte, ela vem sendo mostrada como uma mulher notavelmente
inteligente e estrategista, sendo muito importante para esse período histórico.
É relevante perceber que não são apenas aparições pontuais ou secundárias, no entanto
são relevantes para a compreensão do que está sendo passado e que lhe é dado o devido destaque
para suas ações. Mais a frente no mesmo capítulo, ela novamente aparece, agora na parte dedicada
as atividades. Essa conexão entre as seções é muito positiva no sentido de reafirmar a importância
dessa personagem histórica.
No capítulo 05 “O iluminismo e a formação dos Estados Unidos” temos uma outra
personagem feminina, Catarina II, trazida de maneira positiva, colocando seus feitos e sua
importância no período:
66

Figura 22 – Rainha Catarina II

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Ela é apresentada tanto no texto principal como em uma imagem lateral canto superior
esquerdo, em relação com o que texto. Novamente podemos discutir a importância de colocar uma
personagem feminina em destaque. É possível perceber uma visão mais romântica dessa em
contraste com a Rainha Elizabeth, por exemplo.
É oportuno ressaltar que mulheres são personagens históricos e como tal estão
envolvidas em jogo de poder e disputas de memória. A imagem abaixo, possui a legenda “A rainha
Catarina II, representada como legisladora no Templo da Deusa da Justiça (repare na balança em
suas mãos), 1783. Museu estatal da Rússia, São Petersburgo, Rússia” que foi escolhida pelo autor
demonstra sabedoria e desejo de justiça dessa Rainha.
No último volume da coleção temos também no capítulo 15 intitulado “A nova ordem
mundial” um box tratando sobre capitalismo e liberalismo que exibe a figura de Margareth
Thatcher e uma imagem dela ao lado:
Figura 23 – Margaret Thatcher
67

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Mais uma vez temos uma mulher que assumiu uma posição de poder sendo
evidenciada. É perceptível que existem exposições pontuais de mulheres em posições políticas
como já foi apresentado aqui, em algumas partes de capítulos, mas que no geral no decorrer das
páginas essa temática não é apresentada, o que implica por isolar esse debate e o reduz a apenas
algumas figuras isoladas.
No último capítulo desse mesmo volume temos o destaque para a figura de Dilma
Rousseff que permeia várias páginas indo da 316 até a 320. São páginas que pontuam suas
propostas de campanha, seus feitos e os obstáculos enfrentados. O autor expressa as propostas da
candidata Dilma Rousseff “[...] lutar para erradicar a pobreza, fazer o Brasil continuar crescendo e
gerar empregos.” (p. 317).
Além de mencionar sobre a constituição da Comissão da Verdade, que ocorreu em seu
primeiro mandato, e os problemas econômicos e políticos enfrentados. São assuntos relevantes,
entretanto a exposição do autor apresenta insatisfatória, pois não desenvolve e aprofunda-se no
debate sobre a importância de mulheres na política, tampouco desenvolve esse assunto nas
atividades. Salienta-se que Dilma Rousseff foi a primeira presidente mulher do Brasil, essa posição
assumida por uma mulher tem caráter simbólico, porém essa conquista apenas é mencionada em
uma legenda. Observem a imagem abaixo referente a sua posse:
Figura 24 – Dilma Rousseff
68

Fonte: Alfredo Júnior. (2015).

Pontua além da importância da participação das mulheres na política, ocuparem


espaços de poder, uma significativa conquista para o sexo feminino foi o direito ao voto. Uma
conquista recente, permeado de lutas, reivindicações, o sufrágio durante um longo tempo foi um
direito exclusivo para homens.
O sufrágio e sua explanação surgem algumas vezes em diversos volumes da coleção,
mas apenas de forma superficial, citando tal situação, mas não sendo debatida ou aprofundada. Em
um dos casos, que será exemplificado abaixo há uma contextualização, buscando uma aproximação
de debate com a atualidade e a com a situação em nosso país. Isso acontece no Livro Didático de 6º
ano, no capítulo 10 “O mundo grego e a democracia”:

Figura 25 – Voto feminino


69

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Como o nome da seção já nos indica, é uma forma de dialogar com o texto principal e
com a própria realidade do aluno, relacionando algo que pode parecer distante como a sociedade
grega, com algo mais aproximado que é o voto feminino no Brasil, além de ajudar a compreender,
que isso não é algo, que sempre existiu, mas que foi fruto de lutas.
É crucial que as seções se relacionem ao texto principal para pensar justamente a
questão da cidadania feminina. Essa cidadania aparece de forma discreta, mas ainda assim,
relevante por contribuir para suscitar o debate em sala de aula. Tratar o direito ao voto,
especialmente o direito ao voto feminino, faz-se pertinente, além de ser importante está expondo as
lutas envolvidas. Essa abordagem, discussão são necessárias para que se compreenda a estrutura
patriarcal da sociedade, pautas feministas e como essas avançam, estão se modificando e
impactando a sociedade.
Em outros momentos durante os volumes isso aparece de forma pontual, até mesmo
dentro dos capítulos relacionados à História do Brasil, mas especificamente com a Constituição de
1824, em que o autor em uma questão de atividade cita grupos que foram excluídos do voto, tendo
entre eles negros escravizados e em alguns casos libertos e mulheres. Essa constatação pode levar a
debates relevantes em sala de aula sobre escravidão, racismo, machismo e mesmo a uma discussão
que permeia esses tópicos sobre a situação da mulher negra nesse período e na atualidade.
No último volume da coleção temos dois momentos em que é abordado o voto feminino,
o primeiro aparece em um trecho no texto principal tratando também sobre Constituição, nesse
caso de 1934, e uma questão de atividade e trata justamente da conquista do direito ao voto
feminino no Brasil, é apresentado no capítulo de número 8 que trata sobre a
70

“A era Vargas”. Em ambos os casos que isso é posto no capítulo é problemático o uso do termo
“ganhando” para se referir ao direito adquirido. No primeiro, localizado do texto principal, temos:
“[...] Voto feminino: ganhando o direito ao voto, as mulheres passaram a ter importância cada vez
maior na política. [...]” (p.143).
E no segundo momento, nas atividades, novamente o termo: “b] Voto feminino:
ganhando o direito do voto, as mulheres passam a ter importância cada vez maior na política.”
(p.151) O que existe na verdade, como se pode perceber, é a utilização do mesmo texto em dois
momentos, o que não diminui a problemática aqui apresentada. Como já debatido aqui é
importante sempre, que se ressalte os movimentos e as lutas envolvidas para que isso tenha sido
aprovado e que não pontuar isso é uma desvalorização dessas lutas.
No capítulo 12 que aborda sobre os anos de 1945 a 1964 no Brasil, tem um pequeno
trecho que é interessante para se discutir em sala em consonância com os já aqui apresentados, que
trata sobre a primeira vez em que as mulheres brasileiras realmente exerceram o seu poder de voto,
o que só aconteceu 11 anos depois do direito ser aprovado:
Figura 26 – Exercício do voto

Fonte: Alfredo Júnior (2015).

Reforça que é inquestionavelmente relevante, que o autor toque nesse ponto, porque
mesmo o direito adquirido, não significou que foi posto em prática imediatamente, não significa
que o direito ao foi logo efetivado, o que só torna o voto (uma garantia fundamental) das mulheres
no Brasil ainda mais recente.
71

4.2 Livro didático e o trabalho feminino

Nesse tópico trataremos sobre uma das temáticas mais recorrentes na coleção de Livros
Didáticos aqui pesquisadas: o trabalho feminino. Temos uma imensa diversidade de abordagens
sobre esse assunto, desde a separação de trabalho em sociedades baseados no gênero, trabalho
assalariado, escravidão, trabalho feminino indígena, entre outros.
Esse é um assunto de fundamental importância de ser mostrado e debatido, visto que o
trabalho em suas diferentes formas foi e é algo primordial em uma imensa quantidade de
sociedades em diversos tempos históricos. E visto que durante longo período as mulheres não eram
permitidas de trabalhar em espaços ocupados por homens e mesmo tendo o trabalho doméstico e
criação dos filhos, o mesmo não era se quer reconhecido como uma forma de ocupação.
Como nos recorda Perrot (2006, p.109):

As mulheres sempre trabalharam. Seu trabalho era da ordem do doméstico, da reprodução,


não valorizado, não remunerado. As sociedades jamais poderiam ter vivido ter-se
reproduzido e desenvolvido sem o trabalho doméstico das mulheres que é invisível. [...]
Nem sempre as mulheres exerceram ofícios reconhecidos, que trouxessem remuneração
[...] É o regime assalariado, principalmente com a industrialização, que, a partir dos
séculos XVIII-XIX, nas sociedades ocidentais, coloca em questão o ‘trabalho das
mulheres’ (PERROT, 2006, p. 109)

Dito isso e percebendo a importância desse debate em sala de aula, analisamos como
foi colocada a questão nos Livros Didáticos. Inicialmente temos uma grande quantidade de
imagens que irão mostrando mulheres exercendo formas de trabalho, mas que essa questão do
trabalho não está diretamente relacionada ao texto. No livro do 6º ano é possível observar isso com
clareza. Observem:
Figura 27 – Irmãs Kalapalo abrindo pequi.
72

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

A imagem acima está localizada no segundo capítulo deste volume do 6º. ano que trata
sobre ‘Cultura, Patrimônio e Tempo” e a imagem se relaciona com os dois primeiros conceitos e
não é em nenhum momento relacionada com a questões relacionadas ao trabalho. Compreendemos
que tal imagem representa uma prática cultural desse povo, mas que também se trata de uma
ocupação, que apesar de não ser remunerada representa um trabalho que é realizado por mulheres.
A próxima imagem também é do mesmo volume, porém do capítulo 03 “Os primeiros povoadores
da terra”, no entanto temos o mesmo caso da imagem anterior, pois apesar se tratar a representação
sobre o trabalho feminino, o autor não faz a relação no próprio livro:
Figura 28 – Artesã produzindo crochê
73

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Nesse mesmo capítulo, temos outros dois casos, um que trata sobre a mulher e a
criação da agricultura (p.60) e o outro traz imagem de uma mulher artesã (p.61):

Figura 29 – Criação da Agricultura

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Figura 30 – Mulher artesã


74

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Referente ao texto da figura 24 podemos afirmar que, o próprio autor destaca durante o
capítulo a importância da agriculta para o desenvolvimento humano, ao apontar que a mulher teve
grande contribuição para isso, aponta para a importância das mulheres nessa sociedade e ainda
hoje, pois expõe um questionamento sobre a atuação das mulheres na história.
A seção se relaciona ao texto principal da mesma página. Trazendo uma relevante
reflexão sobre importância feminina na atualidade. E ainda convida na seção “Dialogando” que
vemos ao lado do texto base, ao professor que discuta o apagamento histórico de mulheres e novos
estudos, que intentam dar visibilidade a esses personagens históricos.
A página no qual esta última imagem está inserida (p.61) trata de algumas questões
acerca de patrimônio imaterial, e a imagem que trata de uma mulher trabalhando implicitamente
coloca as mulheres como detentoras de um saber que é considerado patrimônio. Em ambos os
casos mostra-se interessante, porque faz a quebra de estereótipos de que as mulheres não criam,
não inventam e não são importantes para a construção histórica.
Nesse volume há ainda uma reflexão sobre a divisão do trabalho entre os gêneros em
algumas sociedades. Nessas divisões podemos perceber, o que já foi explicitado, a exposição da
mulher em espaços privados e estando sempre relacionada ao cuidar, seja da casa ou os filhos ou
mesmo do marido. Temos três exemplos, dois estão postos no texto principal e um na legenda de
uma imagem, estão contemplados em capítulos diferentes, mas é possível notar semelhanças:
Figura 31 – Texto divisão do trabalho
75

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Figura 32 – Divisão do trabalho entre indígenas

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

A legenda da imagem aponta: “Na China atual principalmente nas regiões rurais, ainda
é comum encontrar mulheres que fiam e tecem, enquanto os homens trabalham nas plantações” (p.
189). É possível perceber também uma relação da mulher com questão da terra, da agricultura, o
que já é possível de atestar também em alguns dos exemplos anteriores, ou ainda ligada a questão
do tecer, do artesanato.
No segundo volume da coleção, destinado ao 7º. ano, temos no capítulo número 6
intitulado “Mudanças na Europa Feudal” uma imagem e um texto sobre a condição feminina
76

no trabalho urbano, que é posta na parte relativa as atividades, é proposto que a partir do texto os
alunos resolvam as questões:
Figura 33 – Mulher musicista, cidade italiana

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

O texto é iniciado deixando claro que nesse período as mulheres eram consideradas
inferiores e que desde meninas eram ensinadas a serem obedientes e estarem em posição de
submissão. Durante todo o texto além da questão de funções desempenhadas pelas mulheres, é
ressaltado esse aspecto, sendo apontado ainda diferenciações entre a mulher da cidade e do campo.
As primeiras de certa forma poderiam gozar de mais liberdade entre suas limitadas opções de
ocupações, entre elas a de musicista, fato que é demonstrado pela imagem acima.
Ressalta que durante o texto o trabalho de musicista não é explicitamente mencionado,
assim a imagem além de conversar com texto de forma coerente nos apresenta uma nova
informação sobre a mulher nesse período. O texto trazido pelo autor é esclarecedor, pois não é
apenas um relato sobre a condição feminina, ele apresenta e deixa evidente a questão do
preconceito sem naturalizar tal assunto.
O texto e a imagem estão em destaque ocupando quase uma página inteira. Traz ainda
a questão da heterogeneidade entre as próprias mulheres, visto que apesar de haver grande
preconceito, mulheres de centros urbanos, exerciam mais atividades, algo que a imagem também
ajuda a demonstrar.
No Livro Didático referente ao 8º ano temos logo no primeiro capítulo uma
77

referência discreta ao trabalho de escravas no Brasil. Isso é apresentado através de uma imagem, que
busca retratar algumas funções e ocupações desempenhadas pelos escravizados nesse período, nessa
imagem é possível notar presenças femininas ainda que não sejam identificadas ou aprofundadas:
Figura 34 – Cenas de trabalho

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Apesar da imagem ser discreta, é uma imagem importante para pelo menos instigar a
curiosidade acerca das funções colocadas para as mulheres negras escravizadas nesse período.
Seria de fundamental importância abordar tal temática no decorrer do capítulo, visto que é sabível,
que existia uma diferenciação entre as funções desempenhadas entre homens e mulheres e que as
mulheres escravizadas sofriam, além dos castigos físicos comuns a todos os escravos, estupros,
separação de seus filhos, entre outros.
No mesmo capítulo, ao final, parte dedicada as atividades temos um texto que trata
sobre uma das formas de ocupação feminina no período histórico abordado no capítulo, mas que
ainda existe nos dias atuais. O texto é acompanhado de uma imagem e ao final os alunos devem
responderem algumas questões correspondentes, observem um trecho do texto, encontrado na
página 31, o texto foi retirado do site Portal do Brasil e é datado de 2014:

[...] Ainda na costa da África as mulheres já praticavam um comércio ambulante de


produção de comestíveis, o que lhes conferia autonomia em relação aos homens e muitas
vezes papel de provedoras de suas famílias. O comércio de rua nas cidades brasileiras
permitiu as mulheres ir além da prestação de serviços aos seus senhores: elas garantiam
muitas vezes o sustento de suas próprias famílias. [...] A venda do
78

acarajé permaneceu uma atividade econômica relevante para muitas mulheres, mesmo com
o fim da escravidão. [...] (BOULOS, 2016, p. 31)

O texto apresentado aborda de forma direta a questão do trabalho feminino e sua


autonomia com relação a figura masculina. É bastante pertinente e colocado em destaque,
ocupando uma página inteira ao final do capítulo. Outro ponto bastante positivo é a relação
passado/presente que o texto traz, o que além de mostrar uma continuidade, uma tradição passada
adiante, chama atenção dos alunos e os aproxima da realidade dessas mulheres.
Consegue ainda apresentar não apenas uma forma de trabalho, mas uma tradição e uma
cultura passada por gerações por essas mulheres e mais uma vez podemos perceber as mulheres
como protagonistas, pois o modo de preparo do acarajé é considerado um patrimônio imaterial e é
algo que foi desenvolvido por elas.
No capítulo 4, do livro do 8º ano, que trata sobre as Revoluções na Inglaterra, temos
uma grande parte do capítulo dedicada a Revolução Industrial, o que leva a tratar justamente sobre
as condições de trabalho no qual os trabalhadores estavam inseridos. Ao tratar sobre o cotidiano de
trabalho nas fábricas, o autor apresenta alguns comentários no texto principal acerca das mulheres
e ainda uma imagem que acompanha o texto, para ilustrá-lo melhor aos leitores:
Figura 35 – Trecho da Página 87

Fonte: Alfredo Júnior (2016).


79

Nesse trecho, temos um destaque para a figura feminina e como se dava seu trabalho
no período da Revolução Industrial. É interessante esse destaque dado pelo autor, pontua também,
que esse destaque ocupa praticamente toda a página. Explícita situações relacionadas ao trabalho
feminino, como a jornada de trabalho, a questão salarial e sua discrepância, sendo equivalente a
apenas um terço do salário masculino.
O autor não discute essas questões, apenas narra, mas em sala de aula é importante
levantar alguns questionamentos: Por que ás mulheres recebiam um salário tão inferior? Há essa
diferenciação ainda nos dias atuais? Poderia ter sido explorado também o quão importante foi esse
momento, para que as mulheres passassem em maior escala a trabalhar fora de casa.
Esse é um dos capítulos no livro didático em que trata mais diretamente sobre as
mulheres e sua relação com o trabalho, podemos pensar que isso se dá justamente por uma maior
inserção da mulher no mercado de trabalho assalariado e assim também na vida pública.
Logo na página seguinte temos uma imagem que chama atenção pelo seu conteúdo
implícito, que trata da dupla jornada de trabalho ao qual a mulher ainda nos dias atuais muitas
vezes ainda é submetida. A imagem foi colocada com o objetivo de retratar o lar de uma família
operária e as condições em que viviam, é possível entender pela legenda posta na imagem, que
ambos eram operários, observem a gravura:
Figura 36 – Família de operários

Fonte: Alfredo Júnior (2016).


80

Na imagem é possível perceber uma mulher realizando trabalho doméstico. Essa


imagem nos ajuda a constatar um aspecto importante da vida dessas mulheres, mesmo trabalhando
em fábricas e contribuindo para a sustentação do lar, elas não deixavam de ainda cuidarem de
tarefas domésticas. Ou seja, exerciam duas funções bastante exaustivas. Em uma recebiam um
salário muito aquém do adequado e na outra são considerados seres invisíveis, pois é um trabalho
doméstico não é considerado um trabalho.
O autor poderia ter explorado essa questão, mesmo sem muito destaque, na própria
legenda da imagem ou em alguma seção, visto que é um assunto necessário e que se relaciona de
forma direta com a situação de um grande número de mulheres na atualidade. Ao trazer essa
imagem e não tratar do assunto, o livro didático transmite uma mensagem de naturalização de tal
prática.
No capítulo 12 intitulado “O reinado de D. Pedro II: modernização e imigração”, temos
uma outra imagem que também busca tratar sobre o trabalho feminina e de forma mais comedida a
dupla jornada:
Figura 37 – Mulheres imigrantes

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

A imagem é sobre as mulheres imigrantes e a legenda fala sobre o papel decisivo das
mulheres que além de ajudarem na renda familiar com a venda de produtos, criação de animais
também eram responsáveis pela criação dos filhos e do cuidar da casa, ou seja,
81

exerciam também uma dupla função dentro da família.


A fotografia e a legenda escolhidos pelo autor, demonstram justamente a importância
feminina no mundo do trabalho. Elas ocupavam diversas funções e justamente por isso se tornavam
são necessárias. A escolha da imagem é bastante interessante, pois traz mulheres reunidas com
instrumentos de trabalho do campo. A imagem está em uma posição de destaque na página, o que
demonstra exatamente o destaque que o autor busca colocar na participação e importância dessas
mulheres para suas famílias e suas comunidades.
Para finalizar temos no último volume da coleção, destinado ao 9ºano, que traz uma
imagem no capítulo 15 que trata sobre a nova ordem mundial, a imagem não está diretamente
conectada com o texto e não existe aprofundamento ou discussão sobre ela, é apenas alegórica:
Figura 38 – Mulheres Judaicas trabalhando

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

A legenda destaca que a imagem trata sobre mulheres judaicas trabalhando em uma
cidade de Israel, no ano de 1946. É incômodo observar que temos uma ilustração de mulheres
trabalhando sem nenhuma problematização ou contextualização sobre o trabalho feminino, ou
mesmo sobre a vida dessas mulheres dentro da comunidade judaica. Qual a situação das mulheres
nesse período? Como e quais eram os desafios referentes o trabalho feminino? O livro expõe a
imagem, mas não apresenta nenhuma discussão a respeito. A
82

ilustração fica solta dentro da página por não se conectar com o os debates apresentados no texto
principal.

3.3 Mulheres nas lutas e movimentos

Neste tópico trataremos sobre as representações de mulheres dentro de contextos de


lutas e de movimentos sociais, como o próprio feminismo, que é trabalhado no livro didático. Aqui
buscamos compreender movimento social como uma ação coletiva que coloca em xeque um modo
de dominação social generalizado e essa ação coletiva se opõe a essa dominação (TOURAINE,
2006). É um tema de bastante relevância, visto que mais uma vez tem a oportunidade de apresentar
as mulheres como agentes sociais e históricos ativos.
Durante muito tempo as mulheres foram consideradas distantes do espaço público e
sem o direito de se expressar. Ressalta-se também que mesmo ás mulheres integrando,
participando, se mobilizando dentro dos movimentos sociais, elas foram estudadas, mas nunca
como atrizes principais, sendo invisibilizadas. De acordo com Gohn (2007, p.56):

O “movimento de mulheres” é algo muito mais numeroso, mas quase invisível enquanto
movimento de ou das mulheres. Na área da educação formal, por exemplo, [...] pesquisas e
estatísticas têm apresentado, há anos, a predominância das mulheres. Mas quando falamos
do movimento docente [...] a mulher não tem visibilidade. É como se o movimento fosse
assexuado. (GOHN, 2007, p. 56)

Assim, buscamos perceber como esta temática vem sendo representada no livro
didático, de modo especial na coleção História, Sociedade & Cidadania, visto sua importância no
espaço escolar e no processo de aprendizagem. Nos livros didáticos do 6º e 7º ano, que
pesquisamos não temos nenhuma referência a mulheres em situações de luta, ou reivindicando
algo, o que percebemos nesses, é que há uma ligação maior das representações das mulheres com
assuntos, em geral, relacionados ao cotidiano feminino em determinadas épocas e sociedades.
Nos primeiros volumes, geralmente relacionado a períodos mais distantes da atualidade,
percebemos uma menor representação e mesmo protagonismo das mulheres nos conteúdos
apresentados. Assim, aqui analisaremos as representações contempladas nos livros
83

didáticos de 8º e 9º anos da coleção analisada.


O primeiro caso aqui apresentado está presente no volume do 8º ano, no capítulo que
trata sobre “O iluminismo e a formação dos Estados Unidos”. Na parte final do capítulo referente
as atividades, há uma imagem de mulheres com cartazes e um pequeno enunciado que a
contextualiza, o objetivo é que os alunos analisem essa fotografia e respondam algumas questões:

Figura 39 – Mulheres em passeata

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Podemos observar que a imagem está em posição central na página. É muito


interessante a luta das mulheres ser abordado pelo Livro Didático e retomando um ponto já
abordado sobre o voto feminino. Existe uma conexão com outras coisas postas no livro, o que é
importante e demonstra que as mulheres não aceitaram passivamente terem seus direitos negados.
A imagem acima é uma fotografia tirada no ano de 1920, no Brooklyn, estado de Nova
York, Estados Unidos. Nesse período ocorria no mundo a primeira onda feminista e a questão do
voto era uma pauta fundamental. É fundamental reparar na imagem, que são mulheres brancas,
bem vestidas. O que demonstra serem de uma classe social alta e não um grupo heterogêneo.
Vale destacar também, que apenas nos apresentado sobre essas mulheres, não sobre a
situação social de mulheres de classe média baixa, negras, entre outras. Interessante
84

perceber que as questões induzem a reflexão, mas também não conecta ou mesmo cita o
feminismo, que seria um tema oportuno para tratar em sala.
O próximo exemplo está no capítulo seguinte que trata sobre a Revolução Francesa
(1789) e é colocado em uma seção na parte inferior ao texto principal. É interessante, porque
justamente nessa página no texto principal, aborda sobre o não direito de voto das mulheres, nesse
momento, temos o autor apresentando essas mesmas mulheres francesas lutando por mudanças na
sociedade.
É pertinente, pois trata justamente sobre a participação e a importância das mulheres
para que a Revolução pudesse acontecer. O autor traz um texto narrando um determinado fato e
uma imagem, e uma legenda, que a explica e ainda complementa o texto ao lado:
Figura 40 – Mulheres francesas em marcha

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

O que é posto na página é justamente um conjunto que demonstra a insatisfação


feminina, e as mulheres tomando a frente de um movimento muito importante para o mundo
ocidental, que é a Revolução Francesa. A mesma foi um marco na luta contra a tirania, e da busca
de direitos, sendo até os dias atuais lembrada como um marco da democracia.
Temos a relação entre os elementos da página, as mulheres sendo abordadas como
revolucionárias e ao mesmo tempo não deixando de frisar que mesmo assim foram excluídas do
voto. Acredito que pela relevância que o texto demonstra do movimento, poderia estar no texto
principal e não em uma seção na parte inferior da página.
85

No capítulo 08 denominado “Independências: Haiti e América Espanhola” temos na


parte referente a atividades, um texto que trata sobre a participação feminina nas lutas pela
independência, esse está acompanhado de uma imagem. Vale salientar que esse texto foi escrito
por uma mulher, historiadora Maria Ligia Padro. Uma das questões acerca do texto questiona
justamente sobre o apagamento dessa participação feminina. O texto ocupa toda a página 168 e um
parte da 169:
Figura 41 – Participação feminina nas independências da América Latina

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Durante o capítulo não vemos ser abordada a questão de gênero ou uma figura
feminina. Ao final do capítulo temos praticamente 2 páginas que trazem a participação feminina no
processo de independência. Temos o texto que ilustra as diversas formas no qual as mulheres
foram importantes no período, citando diversos nomes de mulheres, que muitas vezes nunca
ouvimos falar, o que é bastante interessante, visto que os alunos poderão conhecê-las, entender sua
importância.
Também é exposta uma imagem de uma dessas personagens, a pintura escolhida traz a
mulher em uma posição confortável, uma expressão suave e com trajes considerados comuns as
mulheres da época. Acredito que a escolha do autor por essa imagem demonstra a normalidade
dessas mulheres, que eram do povo e ao mesmo tempo tiveram contribuições extraordinárias nas
lutas sociais.
No último volume da coleção teremos a primeira imagem referente a temática no
capítulo 08, que trata da História do Brasil, sobre a Era Vargas. Temos mais um caso em que
86

é apresentado em uma seção, no meio do capítulo, mas tem um destaque significativo na página.
Trata sobre a feminista brasileira Bertha Lutz e sua luta pela luta de direitos políticos das mulheres
brasileiras, o texto é acompanhado por uma imagem de Bertha em uma de suas campanhas:
Figura 42 – A líder feminista Bertha Lutz

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

O que se sobressai nesse box é a mulher em posição de luta por seus direitos e
resistência, demonstrando que há o reconhecimento dessas questões. É o primeiro momento da
coleção, que é tratado diretamente sobre o feminismo. Essa seção pode ser um bom ponto de
partida para que exista em sala um debate sobre o feminismo e sua contribuição social.
Mais à frente, precisamente no mesmo capítulo, temos ainda uma imagem que ilustra
mulheres reunidas em um Congresso da Federação da Juventude Comunista da União Feminina do
Brasil:

Figura 43 – Mulheres em Congresso Comunista


87

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

A imagem não é discutida, ou relacionada com o texto principal, está apenas posta na
parte superior da página 145, no entanto, é relevante perceber que a fotografia representa uma
importante participação e articulação das mulheres em torno de um movimento político que trazia
ideias comunistas ao Brasil. É essencial lembrar que no restante do capítulo, pelo menos nos
textos principais temos as mulheres de forma bastante apática, sendo apenas mencionada
participação de movimentos sociais.
No capítulo 12 intitulado “Brasil de 1945 a 1964: Uma experiencia democrática”,
aparece como uma imagem da Marcha da família com Deus pela liberdade ocorrida no Brasil em
30 de março de 1964. O destaque da imagem é uma mulher negra que segura um cartaz e protesta
contra o movimento das pessoas reunidas ali:
Figura 44 – Mulher protestando com cartaz
88

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

É possível observar nessa imagem, uma multiplicidade de mulheres, todas em posição


de luta e agindo como seres políticos, mas com objetivos, pensamentos e vertentes políticas
diferentes. Essa imagem escolhida pelo autor demonstra uma compreensão da importância de se
pensar a mulher como seres políticos, mas não homogêneos.
Há ainda imagens de mulheres brancas, classe média alta, misturadas na multidão
buscando terem seus interesses políticos atendidos por uma nova forma de governo e uma mulher
negra que entende que aquela luta é contraria a sua e que também deve posiciona sua opinião.
Essa imagem sendo utilizada em sala de aula seria relevante, no sentido de perceber não
só a luta feminina em diversos aspectos, mas a heterogeneidade de mulheres, lutas e interesses,
trazendo o recorte de raça e classe social para a ampliar e aprofundar o debate sobre gênero e
direitos.
Por último temos no capítulo 13 que trata sobre o Regime Militar um texto e uma
imagem que devem ser utilizados na resolução de algumas questões. O texto trata especificamente
sobre o movimento feminista e sua importância na sociedade do período e cita alguns nomes de
mulheres, que são ainda hoje referências na luta pelos direitos femininos. Além disso, há ainda um
glossário, que explica o conceito de machismo.
As questões a serem respondidas trazem a questão do movimento em si, mas também
sobre o que escritoras feministas abordam sobre o machismo na criação feminina e sobre o
machismo velado. Observem o texto, que ocupa toda a página 248:
Figura 45 – Mulher protestando com cartaz
89

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

O texto indica que não era um movimento isolado em um lugar apenas, mas que estava
ocorrendo em todo o mundo. Trazer essa discussão sobre o movimento feminista, suas pautas e
feministas que se destacaram em um Livro Didático de História, é uma grande conquista atual e
demonstra sua importância enquanto conteúdo histórico social. Demonstra ainda que o autor
entende a importância de se discutir a questão de gênero, o feminismo e a história das mulheres na
humanidade.

4.4 As mulheres, vida em sociedade e o cotidiano

Neste último tópico analisamos como as referências femininas aparecem relacionadas a


questões gerais da vida em sociedade, o cotidiano da vida feminina em diversas sociedades e
tempos históricos diferentes. No primeiro volume da Coleção História, Sociedade & Cidadania,
referente ao 6º ano, no capítulo 05 intitulado “Os indígenas: diferenças e semelhanças”, temos um
pouco de informações sobre como funcionava a vida adulta dentro de grupos indígenas:

Figura 46: Trecho do capítulo 05


90

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Aqui podemos perceber que o autor destaca que para as mulheres de algumas
comunidades indígenas a vida adulta, o casamento e filhos é algo que se inicia mais cedo que para
os homens. Ser adulto significa a constituição de uma família, mas que também para ambos os
sexos significa trabalhar para a manutenção do grupo.
Entretanto, seria importante que o professor levantasse uma reflexão em torno de que
existe na sociedade, uma falsa ideia de que as mulheres amadurecem mais cedo, e é relevante que
com esse trecho se possa abrir essa discussão em sala de aula, pensando que é um material que irá
ser consumido por pré-adolescentes. Seria importante que fosse tocado mais nessa distinção entre o
que significa atingir a vida adulta para os diferentes gêneros.
No mesmo volume, capítulo 07 que trata sobre o Egito Antigo, temos um texto ao final
do capítulo que trata sobre como era a vida das mulheres na sociedade egípcia. É colocado a
resolução de algumas questões:
Figura 47 – Texto e questões “A mulher no Egito Antigo”
91

Fonte: Alfredo Júnior. (2016).

O texto da atividade apresenta comentários acerca do papel feminino na sociedade


egípcia no período por volta de 1500 a.C, como as mulheres possuíam escolhas sobre o que fazer e
que áreas seguir. Estavam abertas a todas as áreas, exceto o exército. Importante vermos essas
discussões desse capítulo, para desnaturalizarmos que a mulher sempre foi relegada a vida privada
e/ou que não fazia parte da política, do trabalho, não fazia parte da história.
Na terceira questão percebemos um paralelo com a sociedade brasileira, o que é
fundamental para a aproximação com a realidade dos alunos e o levantamento de reflexões como:
No Brasil ás mulheres são de fato tratadas por iguais, há igualdade entre os gêneros? É de suma
relevância fazer com que os alunos pensem, reflitam, discutam sobre isso. Enfatiza que esse debate
no contexto escolar, nas aulas de história podem possibilitarem mudanças de perspectivas,
concepções, ideologias sobre o assunto e implicando também em novos olhares e discursos.
No capítulo 10 “O mundo grego e a democracia”, temos no texto base informações
sobre a condição da mulher dentro da sociedade, da família e distinções sobre o que é ser mulher, o
que o casamento significava para as mulheres de diferentes classes:
Figura 48 – A mulher na Grécia
92

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Trata um pouco mais sobre o papel destinado a mulher na sociedade grega por volta de
2200 a.C. É nítido que a mulher estava durante toda a sua vida a sombra de uma figura masculina
primeiro o pai e após o casamento tinha a figura do marido. É de fundamental importância a
distinção que o autor traz entre as mulheres de diferentes classes sociais e como suas formas de
serem na sociedade também eram diferenciadas. Percebemos que as mulheres não são um grupo
homogêneo, há distinções de classe, raça, que precisam serem demostradas, refletidas, essa
distinção o autor traz.
Saindo da sociedade grega, no capítulo 13 temos o Império Romano. Um dos tópicos
do capítulo trata sobre o namoro e o casamento nessa sociedade, podemos perceber alguns
elementos sobre como se dava esse processo para as mulheres:
Figura 49 – A mulher no império Romano
93

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Temos no texto diversos elementos, um deles é a idade no qual as meninas já eram


dadas em casamento, principalmente se comparado aos seus noivos, apesar de tratar de uma
realidade, é possível notar certa naturalização dessa condição de matrimônio. É apresentado ainda
fatores econômicos relacionados ao casamento e que geralmente entre os mais pobres havia menos
interferência da família, por exemplo.
No segundo volume, destinado ao 7º ano, temos no segundo capítulo, que trata sobre o
feudalismo, um texto em uma seção no meio do capítulo, sobre o papel da mulher dentro dessas
sociedades medievais:
Figura 50 – Texto sobre a mulher na sociedade medieval

Fonte: Alfredo Júnior (2016).


94

Este texto trazido pelo autor é instigante, pois demonstra exatamente a misoginia
existente para com as mulheres desse período (476 d.C. – 1453). Novamente o autor consegue
reforçar a questão da heterogeneidade entre o próprio grupo de mulheres, o que é fundamental para
melhor compreensão sobre como viviam as mulheres no período. Ele aborda a questão da diferença
social também como um fator importante para compreendermos essa opressão.
Seria importante também que o professor procure estimular nos alunos a reflexão e o
entendimento de que mesmo exercendo funções importantes para a sociedade, ainda sim muitas
mulheres eram e infelizmente ainda permanecem sendo discriminadas pelo gênero que pertencem.
A própria imagem trazida ao lado do texto, foi pintada retratando a mulher em segundo plano.
No quinto capítulo desse mesmo volume que trata sobre a China e o Japão, temos ao
final do capítulo um texto e uma imagem que tratam um pouco sobre assuntos relacionados à vida
das mulheres chinesas durante séculos até 1950, algumas questões a serem respondidas pelos
alunos:
Figura 51 – Elementos das páginas sobre a mulher chinesa

Fonte: Alfredo Júnior. (2016).


95

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

O texto e as questões acima são bastante pertinentes e podem favorecer debates sobre a
submissão feminina e até que ponto essas imposições vão sendo muitas vezes, e como nesse caso,
fisicamente dolorosas. Podemos compreender que é uma prática, que foi extinta. Chama atenção o
fato de que foi proibida há pouco tempo, apenas na década de 1950. As imagens apresentadas estão
em consonância com o texto. Busca despertar atenção justamente para essa imposição física
dolorosa imposta as mulheres.
O autor ainda menciona o aspecto da saúde, trazendo a fotografia de um raio-x. Ter
essas imagens é muito importante para o entendimento do que está sendo dito no texto. A mulher
chinesa não é apresentada durante o capítulo, aparecendo aqui como uma personagem submissa.
No terceiro volume da coleção História, Sociedade & Cidadania, utilizado no 8º ano,
temos no capítulo 05 abordagem sobre a figura de Napoleão Bonaparte. Há um comentário no
texto base, em que o autor traz sobre o Código Napoleônico, o que ele ordenava “E, ao mesmo
tempo, mantinha a mulher submetida ao marido” (p.137). E uma imagem que complementa essa
fala. No livro didático a imagem é apresentada ao lado do texto principal:
Figura 52 – Meninas aprendendo a cozinhar
96

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

É oportuno da parte do autor, trazer o que significou para a mulher no período o código
napoleônico e ainda usar a imagem para complementar o que foi falado. Nesse caso a imagem é
fundamental para se vislumbrar a vida, comportamento, que era esperada das mulheres. Além
disso, a legenda fornece ainda informações que não estavam presentes no texto base como a
educação feminina, tendo por exemplo, a culinária como disciplina, sendo também importante de
ser explorada. É possível perceber que nesse período, finais do século XIX, como aponta a
imagem, ainda se tinha forte a ideia da figura feminina associada ao lar.
No livro didático utilizado no 9º ano temos no final do segundo capítulo acerca da
Primeira Guerra Mundial, um texto com um mosaico de imagens e algumas questões a serem
respondidas pelos alunos:

Figura 53 – As mulheres na guerra


97

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

O texto escolhido aborda justamente a importância desse momento histórico, que foi a
Primeira Guerra Mundial, para uma maior aparição das mulheres no cenário público. E em diversas
posições, tanto assumindo o mercado de trabalho, quanto indo para os campos de batalha em si.
Enfatiza da pertinência do autor explanar, aprofundar esses diversos campos de atuação
feminina, mas se percebe por exemplo, uma desconexão da questão com o restante do capítulo,
sendo que em nenhum momento é tratado da situação das mulheres ou mesmo alguma figura
feminina.
A imagem é um complemento do texto posto na página anterior. Temos um recorte e
junção de quatro imagens, que colocam mulheres em diversas situações e atividades. Assim
98

notamos que o autor reconhece a diversidade de situações em que as mulheres se encontravam, o


que também é apresentado no texto. A fotografia escolhida para estar em evidência é a de mulheres
manuseando uma espécie de canhão, o que passa a ideia de que o autor quer mostrar a participação
de mulheres na luta em si, não apenas em outras áreas.
No capítulo 06 que trata sobre “A grande depressão, o fascismo e o nazismo” temos
uma imagem de uma mulher em uma cozinha com seu novo refrigerador. A imagem aparece
relacionada aos “anos dourados”, na década de 1950, mas não é apontado a questão da mulher e a
relação com o mundo doméstico:
Figura 54 – Dona de casa estadunidense

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

A legenda dessa imagem diz que a fotografia se trata de uma “Dona de casa e seu novo
e amplo refrigerador, Estados Unidos, ano de 1920”. A foto em preto e branco e sua legenda
buscam ilustrar a questão do consumo e dos anos dourados, mas mesmo sendo protagonista da
imagem e citada na legenda, não vemos nenhuma discussão sobre a mulher nesse período, ou sobre
o que essa imagem para a época buscava e seu público alvo. Temos uma mulher satisfeita com um
utensilio doméstico, reforçando justamente o que a época a imagem pregava, a mulher como
pertencente ao espaço doméstico. Não trazer uma problematização dessa imagem, demonstra uma
possível anulação da mulher como sujeito histórico e naturalização da imposição do papel da
mulher na sociedade.
No capítulo 13 é abordado o tema sobre o regime militar brasileiro (1964-1985), e uma
das páginas tem como destaque para uma imagem de uma propaganda e a legenda incita
99

o professor a levar os alunos a reflexão sobre o que estar por implícito, insinuado do que está
exposto:
Figura 55 – Propaganda de eletrodomésticos

Fonte: Alfredo Júnior (2016).

O autor apresenta esse panfleto e uma sugestão para que o professor discuta o conteúdo
que consideramos machista passado pela propaganda. Na legenda busca chamar atenção para o
título, mas o próprio conteúdo machista do texto não é abordado diretamente, apenas podemos
perceber que o intuito é debater essa questão ao vermos a resposta, que é sugerida ao professor.
Caso a imagem não seja problematizada como o que é sugerido, a propaganda pode ser
encarada como algo comum e “normal”. É essencial perceber a forma como o autor buscou
incorporar a temática do machismo, da mulher estar relacionada a vida doméstica, trouxe uma
propaganda real com um teor machista, que era visto e perpetuado como algo extremamente
natural, banal.
Nesse sentido, é fundamental apontar que nos dias de hoje, na sociedade brasileira,
esses papeis incumbidos e esperados da sociedade para o sexo feminino durante séculos, merece
ser discutido, refletido, pois a cultura brasileira ainda apresenta discursos, práticas sexistas e
misóginos. Além disso, não pode ser banalizado discursos, imagens que reforcem e normatize tanto
o machismo, a misoginia e a desigualdade entre os gêneros.
100

Dessa forma, é relevante, essencial, que o professor expresse e esclareça para os


estudantes, que essa propaganda exposta no livro didático é um documento de seu tempo, cartaz de
1959, que expõe como as mulheres eram enxergadas naquela época e que essa concepção,
percepção devem serem modificadas e descontruídas.
101

5 CONCLUSÃO

A incorporação da história das mulheres dentro dos livros didáticos é importante, visto
que contribui para a formação de uma nova mentalidade relacionada as mulheres, ao machismo,
feminismo e a questão de gênero de todo geral. Somente o assunto estando em pauta dentro do
espaço escolar e por consequência em outros espaços da sociedade, é que pode ocorrer a
desconstrução de preconceitos, estereótipos.
Também através do uso e reflexão sobre a História das mulheres possibilitará um novo
olhar sobre papeis desempenhados pelas mulheres na sociedade, analisando esses papeis de forma
mais crítica, questionadora. Além disso, a história das mulheres permite, abre espaço para os
debates de gênero, esse debate implica que seja repensado, refletido o conceito, papeis
relacionados às mulheres, colaborando para que essa questão seja enxergada, analisada, debatida
sobre uma perspectiva mais ampla, crítica, profunda.
É de suma importância que o Livro Didático enquanto veiculador de ideias, de forma
alguma, relegue a mulher do processo de construção histórica. É possível perceber de forma geral,
que uma imensa parte das informações e imagens que encontramos nos livros didáticos
pesquisados não são devidamente discutidas e acabam por se tornar algo mais ilustrativo do que
realmente informativo, pois existem ainda pontos a serem explorados, e problemáticas que
precisam ser debatidas.
Em nossa pesquisa escolhemos abordar a mulher no livro didático sob quatro temáticas:
As mulheres e a política, as mulheres e a questão do trabalho, as mulheres em movimentos sociais
e lutas e as mulheres no cotidiano, suas vidas em sociedade. Assim pudemos observar como são
representadas as mulheres sob diversos aspectos, em variadas partes do livro didático, em tempos
históricos distintos.
Com relação ao objeto de estudo da pesquisa percebemos que as tarefas entre os sexos
parecem ter divisões semelhantes entre as sociedades, de diferentes épocas e diferentes espaços, e
assim vão se criando divisões bem demarcadas sobre o que cada gênero está “determinado” a fazer.
Consideramos esse aspecto problemático, o fato de o livro didático, ou melhor a coleção
didática pesquisada não trazer questionamentos acerca dessa divisão, mas apenas apresentá-las
como se fossem naturais, corrobora para a naturalização e manutenção de discursos de
silenciamento, apagamento, submissão do sexo feminino.
Em sala de aula, isso pode inclusive insinuar, parecer como algo naturalizado, se
102

não for devidamente apontado pelo professor, pode contribuir para a permanência dessa pseudo ou
possível naturalização. Portanto, é fundamental ressaltar que apesar de serem traços culturais
dessas sociedades, existe um caráter discriminatório, que deve ser pensado e trabalhado,
principalmente se trouxermos aos dias atuais em qual (is) isso ainda se configura como uma
realidade.
Com relação às mulheres nos movimentos sociais notamos que o autor busca trazer
essa temática, porém, que se apresenta mais como algo pontual e não algo continuo no decorrer dos
capítulos. Há uma maior tendência que essa temática seja abordada em atividades ou box de seções
e não no texto principal, que pontua cada capítulo. Temos ainda a veiculação de imagens, mas em
desconexão com o texto base. O autor cita ainda alguns pontos acerca do feminismo e sugestões de
debates em algumas questões, o que é relevante para contribuir para as discussões em sala de aula.
Refletindo sobre a mulher dentro da sociedade, no cotidiano, comumente percebermos
a mulher relacionada a questões como casamento e família. Essa representação, associação nos
oferece um panorama para constatarmos como as mulheres estão sendo enxergadas e que papéis
vêm sendo colocados em diversas sociedades em diversos períodos para elas.
É imprescindível problematizar, pois com ausência de questionamentos, críticas,
análises essas representações que podem colaborarem para o apagamento, silêncio de mulheres
pode ser naturalizado tanto em situações como discursos. Como por exemplo, quando apresentado
a questão do casamento entre os romanos, que as meninas casavam ainda crianças com homens
mais velhos.
Sendo assim, mostra a necessidade e importância da construção e uso de um Livro
Didático crítico, o cuidado com o livro didático que irá ser levado para a sala de aula e como tal
deve formular debates sobre esse assunto é essencial para as aulas de história e o aprimoramento
do livro didático, visto principalmente que seu público alvo são crianças, muitas delas meninas.
Deve-se apontar o que acontecia, mas falta a problematização sobre tal temática, afinal em muitos
locais o sexismo ainda se demonstra como uma realidade.
De modo geral, pode-se ressaltar que o autor buscou trazer mulheres de forma bastante
heterogênea, o que é um fator bastante positivo. Na coleção didática analisada temos uma
pluralidade de mulheres nos sendo apresentada, desde indígenas, passando por mulheres negras e
imigrantes. São informações inquestionavelmente relevantes e enriquecedoras para se trabalhar em
sala de aula, no entanto essas questões também foram em alguns momentos superficiais ou
simplesmente colocadas e não abordadas, como já apontado.
103

Com isso reforça a relevância, que tenha reflexão sobre como esses conteúdos e a forma
como são postos e seus ingressos, abordagens em sala de aula, visto que em muitos casos pela
superficialidade ou pela forma como é colocado, as imagens por exemplo, o assunto acaba sendo
posto em segundo plano.
A predominância de imagens é algo que também precisa ser pensado, pois essas
imagens não podem apenas ser postas, elas tem que se conectarem com o texto principal, tendo a
finalidade de informar, complementar. A imagem não pode apenas estar ali como ilustração, é esse
o papel, que algumas delas assumem. É importante reconhecer a inserção da temática sobre
trabalho feminino nos Livros Didáticos e de forma tão plural, entretanto constatamos que ainda há
muito no que avançar nos estudos, debates e propostas sobre o ensino de história e gênero.
Notamos que os livros didáticos da coleção analisada já iniciaram o processo de
introduzir nos materiais o que é produzido acerca das mulheres pela histografia. O autor reconhece
a existência dessa discussão, ainda que coloque muitas vezes essas informações de forma
complementar ao conteúdo, principalmente apenas no Manual do Professor.
Vale destacar que majoritariamente o que é apresentado no livro didático pode dá
margem para que o(a) professor(a) inicie um debate mais aprofundado. É essencial que a temática
sobre gênero seja levada para a sala de aula, instigando discussões sobre o papel da mulher na
construção da história, o que realmente significa e o porquê de movimentos importantes como o
“feminismo” ainda estarem em voga nos dias atuais. Essa análise, reflexão e debate com os
estudantes é fundamental, pois o livro didático pode e deve ajudar a construir o caminho para esse
diálogo que favoreça a desconstrução de preconceitos.
É importante ressaltar que, a representação não é neutral, pelo contrário, ela parte de um
posicionamento que está envolto em interesses, jogos de poder e disputas de memória. Assim é
perceptível que o lugar posto para as mulheres no Livro Didático, apresenta limitações, sendo
tratado com ênfase e discussões em partes menos centrais como as seções e as atividades.
Por último, observamos que os livros didáticos irão tender a uma incorporação cada vez
maior de mulheres nos conteúdos, não apenas por exigências de programas nacionais, mas pela
demanda crescente na atualidade diante da ocupação cada vez mais ampla, frequente das mulheres
em todos os espaços públicos da sociedade contemporânea brasileira.
104

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