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1590/1982-4017-210309-11320
Recebido em: 24/06/2020 | Aprovado em: 02/04/2021
Resumo: O estudo do efeito da razão e das emoções na interpretação humana em uma perspectiva
pragmática se justifica pelo fato de que no âmbito das ciências cognitivas as investigações que envolvem o
uso da linguagem associada às emoções ainda são tímidas. Tomando como referência a teoria da relevância
(SPERBER; WILSON, 2001), as neurociências cognitivas (GAZZANIGA; IVRY; MAGNUM, 2006;
DAMÁSIO, 1994, 2004) e a psicologia cognitiva (LEDOUX, 1996; STERNBERG, 2010), o objetivo
deste estudo é advogar em favor de uma arquitetura mental que congrega razão e emoções. A partir da
modelação da interpretação de um enunciado noticiando a frustração de uma expectativa, argumenta-se
que, em um ato comunicativo, o desejo – ao fazer uma ponte entre a razão, que opera a partir da valoração
das representações contextuais, e as emoções, que atribuem níveis afetivos às representações mentais – é o
gatilho para a atribuição de relevância.
Palavras-chave: Emoção. Razão. Relevância. Interpretação.
Abstract: The study regarding the effect of reason and emotions effect on human interpretation, through a
pragmatic perspective, justifies itself over the fact, in the cognitive sciences, the investigations involving
language use associated to emotions are still quite incipient. Taking as reference the Relevance Theory
(SPERBER; WILSON, 2001), the cognitive neurosciences (GAZZANIGA; IVRY; MAGNUM, 2006 and
DAMÁSIO, 1994, 2004) and the cognitive psychology (LEDOUX, 1996 and STERNBERG, 2010), the
objective of this study is to advocate in favor of a mental architecture that forgathers reason and emotions
in the interpretation. Based on the modeling of the interpretation of an utterance that reports the frustration
of an expectation, we argue that, in a communicative act, the desire is a trigger for the attribution of
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relevance when serving as a link between reason, which operates from the valuation of contextual
representations, and emotions, which attribute affective levels to mental representations.
Keywords: Emotion. Reason. Relevance. Interpretation.
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Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5340-3362. E-
mail: lorecutp@hotmail.com.
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Docente da Universidade Federal do Paraná. ORCID: https:// http://orcid.org/0000-0003-1881-6932. E-
mail: elena.godoi@gmail.com.
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
Resumen: El estudio del efecto de la razón y de las emociones en la interpretación humana por intermedio
de la pragmática se justifica porque, en el ámbito de las ciencias cognitivas, las investigaciones que
involucran el uso del lenguaje consignada a las emociones son aún bastante tímidas. Tomándose como
referencia la Teoría de la Pertinencia (SPERBER; WILSON, 2001), las neurociencias cognitivas
(GAZZANIGA; IVRY; MAGNUM, 2006 y DAMÁSIO, 1994, 2004) y la psicología cognitiva (LEDOUX,
1996 y STERNBERG, 2010), el objetivo de este estudio es abogar en favor de una arquitectura mental
que congrega razón y emociones en la interpretación. Partiendo del modelado de la interpretación de un
enunciado que reporta la frustración de una expectativa, argumentamos que, en un acto comunicativo, el
deseo – al hacer un puente entre la razón, que opera desde la valoración de las representaciones
contextuales, y las emociones, que atribuyen niveles afectivos a las representaciones mentales – es el
detonante para la atribución de relevancia.
Palabras-clave: Emoción. Razón. Pertinencia. Interpretación.
1 INTRODUÇÃO
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
brasileiro a Thiago sobre a perda da medalha de ouro; (b) quais estruturas cognitivas do
atleta foram ativadas pelo enunciado desse falante; (c) que tipo de efeitos esse suposto
enunciado provocou; (d) que estruturas foram acionadas, racionais, emocionais ou ambas.
É sobre essas e outras questões que trataremos no presente artigo.
O interesse pela influência das emoções na linguagem humana remonta a Grécia
antiga. Ao longo da história, no entanto, a dicotomia corpo/mente mostrou-se bastante
aguda, principalmente na Filosofia com Espinosa, Santo Agostinho, Kant e Descartes,
para quem as emoções seriam sinal de distúrbio e uma mente sadia seria aquela que
estivesse livre das paixões. Esse modelo dicotômico de pensamento, alcunhado de “razão
nobre” por Damásio (1994), fez com que filósofos, durante séculos, e linguistas,
posteriormente, praticamente banissem as emoções dos estudos da linguagem1.
A teoria da relevância, modelo proposto por Sperber e Wilson (2001) para a
comunicação humana, segue a tradição racionalista da razão nobre e postula que a
cognição é orientada para os estímulos que são potencialmente mais relevantes na
interação conversacional, processando-os de maneira mais produtiva, ou seja,
minimizando esforços (custos) e maximizando efeitos (benefícios). Essa relação entre
esforço e efeito é chave para o conceito de relevância: quanto maior o benefício cognitivo
e menor o custo de processamento de um enunciado, maior é sua relevância. Os autores
presumem que um input informativo é otimamente relevante se e somente se atender a
duas cláusulas procedurais: a) ser relevante o suficiente para merecer o esforço de
processamento do ouvinte; b) ser o mais relevante compatível com as habilidades e
preferências do falante.
O modelo cognitivo-racionalista de Sperber e Wilson (2001) se aplica sem
restrições à descrição do processamento cognitivo de informações, mas não dá conta dos
casos em que certos enunciados parecem ter maiores benefícios emocionais que
informativos. É o caso, por exemplo, do clichê afetivo “Eu te amo” repetido inúmeras
vezes entre namorados e casais. Costa (2005) classifica este exemplo como “irrelevâncias
da relevância”, uma vez que a informação é a mesma nas suas diversas ocorrências, isto
é, não há benefícios informativos nessas interações2.
Segundo Carston e Wilson (2019), estudos de enunciados como o analisado por
Costa são negligenciados pelos estudos pragmáticos, uma vez que privilegiam, na maioria
das vezes, casos de indeterminância, indiretividade, ironia ou vagueza. O estudo de
Carston e Wilson segue a direção do que Moeschler (2009) e Blakemore (2011) chamam
conteúdos descritivamente inefáveis ou, mais especificamente, efeitos não proposicionais
– conteúdos que não podem ser nem inferidos como significados ou proposições
437
aciona em conjunto razão e emoção, nosso objetivo neste estudo é advogar em favor de
1
Podemos mencionar os estudos de William James (1884), Carl Lange (1922), Walter Cannon (1927),
Phillip Bard (1928), Jamez Papez (1937), Stanley Schachter e Jerome Singer (1962), entre outros.
2
Costa (2005) problematiza sete casos de incompatibilidade da relevância. Rauen (2008) produz hipóteses
alternativas para todos esses casos.
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
uma arquitetura da interpretação humana que permite descrever como a relevância opera
no processamento de efeitos informativos e emotivos. A descrição proposta segue os
preceitos da teoria da relevância (SPERBER; WILSON, 2001), das neurociências
cognitivas (GAZZANIGA; IVRY; MAGNUM, 2006; DAMÁSIO, 1994, 2004) e da
psicologia cognitiva (LEDOUX, 1996; STERNBERG, 2010).
Do ponto de vista textual, estruturamos o estudo em três segmentos dedicados (a) a
uma revisão teórica sobre o tratamento das emoções na perspectiva da pragmática
cognitiva, (b) a uma reflexão sobre a interação entre emoções e sentimentos na
interpretação humana, e (c) a uma descrição de como a relevância opera sobre os efeitos
racional e emocional. Para dar conta dessa demanda, analisamos o processamento de um
enunciado hipotético sobre a informação da perda da medalha de ouro ao atleta
paraolímpico Thiago Paulino.
2 TEORIZANDO AS EMOÇÕES
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efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
Na tentativa de trazer as emoções para o centro das discussões pragmáticas, estudo
do linguista Tim Wharton, juntamente com o pesquisador do Centro Suíço de Ciências
Afetivas3 David Sander, em parceria com os cientistas afetivos Daniel Dukes e Steve
Oswald e o filósofo Constant Bonard, traça o objetivo arrojado de “corrigir” o que eles
percebem ser um “desequilíbrio nas teorias de interpretação de enunciados”4
(WHARTON et al, 2021, p. 259).
A proposta de Wharton et al (2021) reúne o conceito de relevância desenvolvido
pela teoria da relevância com o conceito de relevância desenvolvido pelas ciências
afetivas. Eles ressaltam que o conceito de relevância em teoria da relevância é um
construto derivado do balanço ótimo de efeitos e esforços cognitivos, enquanto o conceito
de relevância “nas ciências afetivas é a relevância de um estímulo particular para os
objetivos da pessoa em quem a emoção está sendo eliciada, os estímulos sendo
obstrutivos ou conducentes a esses objetivos” 5 (p. 265). Para os pesquisadores, objetivo
é “um termo guarda-chuva que abrange preocupações, anseios, planos, ideais, o que é
desejado, necessário ou é o objeto de qualquer outro estado mental motivador”6 (p. 265).
Assim, eles argumentam que as ciências afetivas, ao defenderem a ideia de que um
objeto/situação é relevante se aumentar a probabilidade de satisfação ou insatisfação do
indivíduo, e a pragmática orientada pela relevância, ao defender que o processamento se
pauta numa relação custo/benefício cognitivo informativo, “podem, muito bem, estar
envolvidas no estudo dos mesmos fenômenos, mas simplesmente de perspectivas
diferentes”7 (p. 265).
Destarte, visto que as neurociências cognitivas e a psicologia cognitiva fornecem
um arcabouço científico sobre como as emoções influenciam a comunicação humana,
para demonstrar que o efeito informativo está numa relação de contraparte emotiva de
significação, norteamos nosso estudo partindo da hipótese de que, em um ato
comunicativo, o desejo – ao fazer uma ponte entre a razão, que opera a partir da valoração
das representações contextuais, e as emoções, que atribuem níveis afetivos às
representações mentais – é o gatilho da relevância do enunciado.
Cosmides e Tooby (2008) descrevem as emoções como um programa cognitivo
superordenado, cuja função é regular ou mobilizar subprogramas cognitivos responsáveis
439
com Gazzaniga, Ivry e Magnum (2006), emoções e cognição racional, embora executem
atividades independentes, são interdependentes.
3
O Centro Suíço de Ciências Afetivas de Genebra, fundado em 2003, é dirigido pelo professor David
Sander e possui projetos focados em avaliação cognitiva, expressão, regulação social e jurídica, normas
e valores e emoções estéticas. O Centro pesquisa emoções nas áreas da neurociência cognitiva,
psicologia, linguística, filosofia, economia, arqueologia e computação afetiva.
4
No original: “imbalance in theories of utterance interpretation”.
5
No original: “in the affective sciences is the relevance of a particular stimulus to the goals of the person
in whom the emotion is being elicited, the stimuli being either obstructive or conducive to these goals”.
6
No original: “an umbrella term encompassing concerns, urges, plans, ideals, what is desired, needed, or
is the object of any other motivating mental state”.
7
No original: “may well be involved in studying the same phenomena, but simply from different
perspectives”.
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
A partir da perspectiva naturalista-evolutiva de que a emoção é uma reação mental
adaptativa a uma mudança situacional (COSMIDES; TOOBY, 2008), constituindo
inicialmente o sistema de defesa do indivíduo (LEDOUX, 1996), convencionamos neste
estudo que os sentimentos, enquanto experiências das emoções, constituem estados
afetivos que formam a ‘memória emotiva’ do indivíduo. Sendo assim, vale perguntar que
estados emocionais foram ativados no instante em que Thiago Paulino recebeu a
informação da perda da medalha.
Damásio (1994) defende a ideia de que em processos de tomada de decisão os
milênios de evolução formataram a mente humana para, mesmo inconscientemente (DI
BIASE et al, 2005; HILL, 2011), “desejar” sempre o bem-estar. De acordo com Araújo
(2018), na psicologia/psicanálise, o desejo é um impulso complexo que nasce das
experiências de satisfação, que são memorizadas como imagens das percepções e
representações sensoriais. Segundo a autora, o desejo é o movimento psíquico-cognitivo
emergente da necessidade da retomada da imagem mnêmica, isto é, da necessidade do
reestabelecimento da primeira satisfação vivenciada. Um exemplo entre humanos é o
registro mnêmico da primeira vez que o bebê mama, criando, assim, a relação
desejo/necessidade e vice-versa. Carter et al (2012), por sua vez, ressaltam que o desejo
se constitui por dois componentes distintos: querer e gostar. Enquanto gostar se liga à
obtenção de prazer, querer está associado à busca real pelas coisas da vida8.
O filósofo holandês Baruch de Espinosa descreve o desejo como um esforço inato
que nutre o homem de uma força interna que tende a opor-se a tudo que ameaça sua
existência. Afinal, escreve o filósofo, “[...] o desejo (Cupiditas) é a própria essência
humana, enquanto esta é concebida como determinada a fazer algo por uma afecção
qualquer nela verificada” (ESPINOSA, 1997, p. 323). Espinosa chama de conatus o
esforço de preservação humana. Na proposição XXVI, da Ética, o filósofo escreve: “Tudo
aquilo por que nos esforçamos pela Razão não é outra coisa que conhecer; e a alma, na
medida em que usa da Razão, não julga que nenhuma outra coisa lhe seja útil, senão
aquela que conduz ao conhecimento” (1997, p. 360). De acordo com Silva (2011), o
conatus é o desejo que impulsiona a cognição humana ao aperfeiçoamento epistêmico.
Partindo da premissa de que o desejo é a força que orienta tudo aquilo que queremos
usufruir ou possuir (CHAUÍ, 2011), as ponderações de Espinosa (1997) e de Carter et al
(2012) sugerem que a interpretação humana imbrica dois níveis de desejos: o desejo
racional, com vistas ao conhecimento, e o desejo emocional, com vistas ao bem-estar.
Nos próximos parágrafos, teceremos argumentos em favor de uma arquitetura do
processamento que permite explicar como o desejo dispara a relevância para os efeitos
informativo e emocional na interpretação de enunciados.
3 ARQUITETURA DO EFEITO
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8
Essa perspectiva sugere que o desejo perfaz uma interface ente o componente psíquico e o somático.
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
2020; WHARTON et al, 2021, entre outros). Tais estudos apontam para os chamados
conteúdos inefáveis ou não proposicionais, ou seja, que não envolvem relevância
informativa, no sentido de derivação de efeitos cognitivos, mas relevância emocional.
Com a finalidade de descrever o processamento dos efeitos informativo e emotivo,
esquematizamos na figura 1, a seguir, o que hipotetizamos ser a arquitetura do
processamento cognitivo na interpretação de enunciados. Embora o esquema possibilite
uma visualização ampla dos processos de interpretação, esta proposta não esgota a
discussão sobre a natureza da relevância e dos efeitos cognitivos na interpretação.
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
c) a conexão pontilhada bidirecional entre a ‘memória enciclopédica’ e a ‘memória
emotiva’ e a que une a ‘memória afetiva’ à estrutura ‘lembranças’ representa
operacionalidade mútua (simbiose) entre estruturas (a mesma convenção operacional vale
para as setas bidirecionais contínuas de outras estruturas), de tal modo que, no primeiro
caso, dizemos que a conexão é em processo, porque opera sobre o curso da interpretação
e, no segundo caso, dizemos que a conexão é sistêmica, porque as estruturas são ativadas
apenas quando uma excita a outra;
d) ‘beleléu’ é, alegoricamente, a instância mental para onde, presumivelmente, a
cognição envia as formas lógicas dos inputs não selecionados no processamento – as
informações descartadas para o ‘beleléu’ são excluídas do raciocínio dedutivo, isto é, não
podem ser novamente trazidas para o processamento.
e) as estruturas ‘lembranças’ e ‘evocações’ são, em princípio, atividades internas à
mente, ou seja, independem dos inputs de entrada. Enquanto as ‘lembranças’ trazem as
imagens mentais das experiências epistêmicas e emotivas para o pensamento, as
‘evocações’ constituem os próprios pensamentos do indivíduo, isto é, são atividades
mentais que promovem planejamentos, projeções e ações sobre o presente e o futuro. É o
caso, dentre tantos, dos pensamentos que se formam quando o indivíduo está dirigindo
sozinho em uma autoestrada, almoçando em um restaurante ou perseguindo o sono na
cama.
Nos itens 3.1 e 3.2, a seguir, descrevemos o processamento dos efeitos informativo
e emotivo positivos na interpretação de enunciados.
Para que a explanação do esquema da figura 1 seja objetiva aos propósitos deste
estudo, retomemos o caso do atleta paraolímpico Thiago Paulino. Embora não tenhamos
acesso ao instante em que o atleta foi informado sobre a perda da medalha de ouro,
podemos construir um contexto discursivo hipotético no qual teria ocorrido o seguinte
enunciado proferido pelo representante do Comitê Paralímpico Brasileiro:
(1) Thiago, os chineses entraram com recurso, e os juízes deram causa a eles. Você é bronze.
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
entrar na mente do atleta, chega à sua ‘atenção seletiva’, estrutura mental que tem a
propriedade de selecionar inconscientemente as informações relevantes e ignorar as
informações irrelevantes (KIHLSTROM, 1987).9
Mas, como a ‘atenção seletiva’ distingue o que é relevante do que é irrelevante?
Nossa proposta é a de que ela é estimulada pela estrutura ‘interesse’. O interesse é o estado
mental que, psicocognitivamente, torna as informações que chegam às percepções
sensoriais mais nítidas e intensas ao indivíduo. Nesse estágio, a ostensão do falante
desempenha um papel preponderante.
Após ser selecionada pela ‘atenção seletiva’ a sequência sonora chega à estrutura
‘integração sensorial’, que codifica o input em uma linguagem mental, nomeada de forma
lógica por Sperber e Wilson (2001) e Ledoux (1996). A cognição envia a forma lógica à
‘memória de curta duração’, estrutura que integra em tempo real as informações novas
com as representações dos conceitos armazenados na ‘memória enciclopédica’
(IZQUIERDO, 2011). Como isso ocorre? Vimos nos parágrafos anteriores que o desejo se
compõe de duas propriedades cognitivas: querer e gostar. O enunciado, sendo novo ao
ouvinte, ainda não gerou um efeito aprazível/não aprazível, isto é, o ouvinte não pode
“gostar” ou “não gostar” de algo que ainda não representou mentalmente. Mas, o ouvinte
pode “querer” conhecer a informação do enunciado. Sendo assim, por tratar-se de
informação nova, a cognição excita a estrutura ‘desejo’, a qual dispara na estrutura
‘interesse’ o gatilho “quero conhecer” o conteúdo do enunciado.
Essa hipótese nos leva a conferir que, embora a forma lógica do enunciado chegue
às ‘estruturas límbicas’ concomitantemente à ‘memória enciclopédica’, o processamento
emocional, salvaguardado o caso das emoções emergenciais, só tem lugar depois que a
cognição atribuir um efeito à informação, isto é, após a cognição alocar o conteúdo
informativo do enunciado em uma representação de mundo para o ouvinte10. Como
veremos, só após esse procedimento é que tem lugar o “gostar” disparado pela estrutura
‘desejo’.
Da ‘memória de curta duração’ a forma lógica é orientada para três estruturas
simultaneamente: ‘memória enciclopédica’, ‘estruturas límbicas’ e ‘beleléu’.
Descreveremos primeiramente o procedimento que delineia a interpretação informativa
e, na sequência, descreveremos o movimento das ‘estruturas límbicas’.
Na ‘memória enciclopédica’, a forma lógica é submetida à verificação da
possibilidade de já se encontrar nesta memória alguma referência informativa sobre o
input. Se já houver ali uma representação conceitual do input, a cognição cessa o
443
à informação nova, a forma lógica é enviada à estrutura ‘interesse’ que, engatilhada pelo
‘desejo’, dispara o ‘interesse’ pela informação. Para a psicologia, o ‘interesse’ é a
9
Segundo Kihlstrom (1987), a mente efetua operações complexas cujo resultado pode se transformar em
conteúdo consciente, embora não tenhamos acesso consciente a tais operações e conteúdos.
10
Note-se que a forma lógica do enunciado chega primeiramente às estruturas límbicas e só depois de
passar pela memória enciclopédica e pela estrutura interesse é que chega à memória operacional. Isso
significa que, de acordo com Ledoux (1996), as emoções são engatilhadas, mas não acionadas, antes do
processamento inferencial.
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propriedade cognitiva de busca da satisfação de uma necessidade momentânea (NASSIF,
2008). A forma lógica, despertando o ‘interesse’ do ouvinte, estimula a estrutura
‘expectativa de relevância’, estrutura responsável por tornar manifesta ao ouvinte, em
maior ou menor grau, a informação contida na forma lógica. Se estivermos corretos, em
conformidade com a teoria da relevância, este é o estágio do processamento mental no
qual, presumivelmente, tem lugar a cláusula “a” da relevância (um enunciado é relevante
o suficiente para merecer esforço de processamento do ouvinte), cláusula essa que é
construída sobre as crenças intrínsecas do ouvinte (SPERBER, 1997)11.
Destarte, é bastante plausível a ideia de que, cognitivamente, a ‘expectativa de
relevância’ seja uma propriedade imanente da estrutura ‘interesse’, isto é, a estrutura
‘interesse’ contenha a ‘expectativa de relevância’. Em tal hipótese, como o ‘desejo’ é a
propriedade que estimula o ‘interesse’, é de se presumir que caso o ‘desejo’ não desperte
o ‘interesse’ em satisfazer uma necessidade momentânea ao ouvinte, a cognição não
gerará ‘expectativa de relevância’ à forma lógica, o que acarretará a sua não
manifestabilidade. A forma lógica não manifesta ao ouvinte não pode ser submetida ao
processamento inferencial. Segue-se disso que a forma lógica não desejada, não
interessante, não relevante e não manifesta ao ouvinte será descartada ao ‘beleléu’ via
‘memória de curta duração’. Estas ponderações sugerem que o processamento
interpretativo tem origem no ‘desejo’ e em função disso, como veremos adiante, é
defensável a ideia de que o ‘desejo’ é o gatilho psicocognitivo que dispara a ‘relevância’
do processamento de interpretação humano.
A forma lógica de interesse do ouvinte é, por sua vez, submetida ao crivo da
‘memória operacional’, estrutura que processa todas as informações contextuais oriundas
dos estímulos sensoriais ativados no instante da enunciação e as representações
conceituais já armazenadas na ‘memória enciclopédica’, de modo que o produto dessas
operações inferenciais é um misto da informação nova com as representações
enciclopédicas. Dizemos que esse produto é a ‘imagem mental’ do enunciado (BASTOS,
1991). Metaforicamente, chamamos essa imagem mental de holograma semântico H.
De acordo com Penz (2019), o holograma semântico é a imagem virtual, a figura, a
representação que a cognição cria para o conteúdo do enunciado12. Em outras palavras: o
holograma semântico é a projeção da “forma do conteúdo” do enunciado no mundo
mental do ouvinte (ou em um mundo provável/possível a ele), e a representação imagética
desse holograma corresponde ao que tradicionalmente se conhece por proposição.13 No
entanto, essa imagem proposicional somente se constituirá como tal se, neste ponto do
processamento, o holograma “encaixar-se” no mundo do ouvinte (ou em um mundo
444
provável/possível para ele), isto é, se ela “fizer/tiver sentido” para o ouvinte. Se assim
for, a cognição envia o holograma à ‘vigilância epistêmica’.
Página
11
Para Sperber (1997) a crença intrínseca é um propósito de acreditação baseado na percepção sensorial.
12
Para Sternberg (2010) a imagem mental pode envolver representações de qualquer das modalidades
sensoriais, como audição, olfato ou paladar.
13
Este conceito será crucial para a descrição da natureza do efeito informativo e emotivo. Note-se que este
é do domínio semântico da interpretação.
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efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
que a ‘vigilância epistêmica’ é a guardiã da verdade do enunciado, isto é, ela verifica, de
acordo com as crenças intuitivas e reflexivas, se o holograma H tem/faz sentido no (ou
em um) mundo do ouvinte. Caso o holograma não tenha sentido, não corresponda à
verdade e não seja do interesse do ouvinte, a cognição suspende a atividade da ‘memória
operacional’, e o processamento interpretativo cessa.
Por outro lado, caso o holograma corresponda a uma imagem mesmo que vaga e
nebulosa, mas seja do interesse do ouvinte, a ‘vigilância epistêmica’ lhe atribui uma
verdade fraca, o que vai implicar uma relevância igualmente fraca. Nesses casos, a
‘vigilância epistêmica’ reenvia a imagem vaga à ‘memória operacional’ para que a
imagem seja novamente submetida a inferências e, nesse processo, seja fortalecida pelas
representações conceituais já estabelecidas na ‘memória enciclopédica’ e adquira um
formato mental que atenda às expectativas de relevância informativa. Trata-se de um
procedimento importante, porque incide sobre os custos operacionais do processamento.
A imagem fortalecida inferencialmente e filtrada pela ‘vigilância epistêmica’ é
enviada à estrutura ‘relevância’. Para Sperber e Wilson (2001), a relevância é uma
propriedade cognitiva mediada pelo esforço da ‘memória operacional’ na geração da
imagem/holograma e a tomada de consciência do efeito dessa imagem. Os autores
explicam que, embora o esforço expresse um processamento não representacional, a
relevância pode ser uma propriedade de juízo representacional, isto é,
[...] a relevância é uma propriedade que não necessita estar representada, quanto mais
computada, para ser conseguida. Quando está representada, está representada em termos de
juízos comparativos de juízos mais ou menos absolutos (p. ex. “não relevante”, “fracamente
relevante”, “muito relevante”) [...]. (SPERBER; WILSON, 2001, p. 207).
atitudes, elementos contextuais que incidem sobre o significado para o ouvinte. A esse
efeito Sperber e Wilson (2001) chamam de efeito positivo. Wharton et al. (2021), no
entanto, ressaltam que os efeitos cognitivos positivos descritos pelos autores são, na
Página
realidade, efeitos epistêmicos positivos, ou seja, efeitos que são positivos em relação ao
objetivo de melhorar o conhecimento do indivíduo em quantidade e/ou em qualidade.
14
Para Sperber (1997) a crença reflexiva é uma atitude proposicional reflexiva derivada de uma inferência
sobre uma representação conceitual.
SANTOS, Sebastião Lourenço dos; GODOY, Elena. Arquitetura do processamento cognitivo: efeito racional e
efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
Nesse processo, inferimos que a relevância ótima só é atingida quando o ouvinte
atribui um efeito epistêmico “na medida certa” ao enunciado. Esta presunção, no entanto,
tem um precedente cognitivo: a quantidade “certa” de efeito que o ouvinte atribui à
interpretação é determinada por sua capacidade cognitivo-inferencial e por suas
representações conceituais intrínsecas. Cognitivamente, o efeito epistêmico diz respeito
à atividade mental que valida a verdade (provável ou possível) da imagem do enunciado
em um estado de mundo para o ouvinte. Isto significa que a relevância ótima e o efeito
epistêmico são as duas propriedades cognitivas basilares da interpretação informativa.
Para melhor esclarecer essa ideia, ilustramos no gráfico 1 o movimento cognitivo
do efeito epistêmico resultante da otimização da relevância informativa na interpretação
do enunciado (1).
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como tal quando a imagem-holograma H corresponde à (falsa) verdade para alguém. A
verdade-mentira só será refutada quando uma nova informação imponha um significado
que contradiga a representação mentirosa armazenada na ‘memória enciclopédica’. Se
isso não ocorrer, a verdade mentirosa guiará a vida social, epistêmica e afetiva do
indivíduo.
Conhecer a relevância das emoções nos processos de raciocínio não significa que a razão seja
menos importante do que as emoções, que deva ser relegada para segundo plano ou deva ser
menos cultivada. Pelo contrário, ao verificarmos a função alargada das emoções, é possível
realçar seus efeitos positivos e reduzir seu potencial negativo. Em particular, sem diminuir o
valor da orientação das emoções normais, é natural que se queira proteger a razão da fraqueza
que as emoções anormais ou a manipulação podem provocar no processo de planeamento e
decisão.
categorizados por essas emoções. Não podemos ignorar, porém, a ideia de que o
enunciado (1) tenha disparado as emoções básicas tristeza e raiva em Thiago.15 Segundo
15
Pesquisas recentes apontam que não há um cérebro emocional separado do resto do cérebro, mas uma
rede complexa de sistemas neurais subjacentes a comportamentos emocionais específicos. Destarte, o
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Russell (1991), este despertar emotivo é categorizado nos sentimentos
decepção/insatisfação pelas emoções cognitivas primárias e em aborrecimento/ódio pelas
emoções cognitivas secundárias.
Acompanhemos na figura 1 a descrição da influência da emoção tristeza na
interpretação do atleta.
Vimos nas páginas anteriores que a forma lógica oriunda da ‘memória de curta
duração’ é concomitante à ‘memória enciclopédica’ e às ‘estruturas límbicas’. De acordo
com Ledoux (1996), a forma lógica percorre dois trajetos distintos quando chega às
estruturas límbicas: um principal, via córtex sensorial e deste à amígdala, e outro
secundário, de onde segue do tálamo sensorial diretamente à amígdala16.
As ‘estruturas límbicas’ ativam a estrutura ‘desejo’, estrutura mental que vai
disparar a contraparte emocional “gostar/não gostar” do desejo epistêmico ‘querer’ para
a forma lógica. Psicologicamente, o desejo emocional é um impulso que impele o ser
humano à busca pela satisfação e pelo prazer e inibe a insatisfação e o desprazer.
Cognitivamente, o desejo emocional é uma atividade que comanda a valoração afetiva da
interpretação humana, valoração essa que vai culminar na maximização positiva ou
negativa da relevância do enunciado. É o que nós chamamos de relevância emotiva (RE)
em Santos e Godoy (2020).
efeito emotivo na interpretação de enunciados não corresponde à ativação de uma única estrutural
mental, mas é resultado do processamento dessa rede complexa de estruturas.
16
Destacamos que este último trajeto é ativado somente em condições emocionais emergenciais, tais como
perigo/ameaça. Goleman (1996) nomeou a ativação das estruturas emocionais emergenciais de ‘o
sequestro da amígdala’ ou ‘sequestro emocional’.
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Wharton et al. (2021) pressupõem que a relevância emotiva e a relevância
informativa são subtipos de um tipo mais geral de relevância17: a relevância do
objetivo/meta18. Segundo Wharton et al (2021, p. 265), quando se trata de metas, a
relevância afetiva “se refere a qualquer tipo de objetivo que pode levar a uma reação
emocional (com emoções diferentes tipicamente ligadas a objetivos diferentes) de
objetivo básico”19. Os autores esquematizam as duas relevâncias conforme a figura 2.
A intersecção das duas relevâncias forma a zona de convergência, à qual os autores
nomeiam de relevância das emoções epistêmicas. As emoções epistêmicas constituem
fenômenos ou reações emocionais que presumivelmente instanciam relevância afetiva,
bem como se referem ao objetivo de adquirir conhecimento. Segundo os autores, a
relevância afetiva maximiza os efeitos cognitivos relevantes e minimiza os esforços de
processamento em certos episódios afetivos, como sentimentos afetivos. Isso sugere que
a consolidação do efeito epistêmico não precisa constituir uma limitação rígida de
exclusão de qualquer outro tipo de efeito na investigação pragmática.
De acordo com Wharton et al. (2021, p. 266):
experimenta uma sensação de “desprazer” nesse estágio. O conteúdo dessa excitação será
armazenado na ‘memória emotiva’ como a experiência/vivência do efeito emotivo do
Página
17
Wharton et al (2021) chama a relevância informativa de relevância pragmática e a relevância emotiva,
de relevância afetiva.
18
De acordo com Rauen (2014), objetivo e meta são propriedades imanentes da cognição para a resolução
de um conflito/problema.
19
No original: “relates to any kind of goal that may lead to an emotional reaction (with different emotions
typically linked to different goals) e from basic goals”.
20
No original: “It is true that relevance theory has focused on processes that involve the comprehension of
ostensively communicated propositional contents, but this may be considered a historical contingency,
a consequence of the fact that relevance theory originated from research in linguistics. If we consider
once again an epistemic emotion such as interest, we see that the two notions of relevance seem to
apply.”
21
De acordo com Esperidião-Antonio et al (2008), o que determina a categorização das emoções é o tipo
de excitação neuroquímica demandada pelas estruturas límbicas, grosso modo, serotonina para a
felicidade, adrenalina para o medo, dopamina para o prazer e o nojo, endorfina para a euforia, ácido
gama-aminobutírico para a calma, ocitocina para a empatia e cortisol para a raiva.
22
Bastos (1991) cogita a hipótese de uma imagem emocional. Segundo o autor, a imagem emocional pode
ser tratada como uma manifestação cerebral estruturada na forma de conceitos, capaz de controlar
padrões somato-viscerais específicos.
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Segue-se daí que, de acordo com Newman e Zink (2013), o efeito emocional
maximizado potencializa as reações neuroquímicas nas ‘estruturas límbicas’, aumentando
o grau de saturação dessas reações e, em consequência, o tempo de dissipação químico-
neuronal. Por isso afirmamos que o efeito emotivo é flutuante e, sendo assim, perdura até
a dissipação total das reações neuroquímicas. De acordo com Esperidião-Antonio et al
(2008), a tendência natural é que a dissipação ocorra em poucos segundos nas emoções
básicas; para os sentimentos, contudo, a dissipação pode perdurar de minutos a dias,
meses ou anos.
Ilustramos no gráfico 2 como se configura a relação relevância emotiva (RE) para
o efeito emotivo do enunciado “Os chineses entraram com recurso e os juízes deram causa
a eles. Você é bronze”.
a determinado estímulo. Ainda que o primeiro impulso dure apenas alguns segundos, o
estado pode perdurar mais tempo e ser reavivado a qualquer momento”. Por raiva, o autor
Página
define uma emoção mais densa e explosiva na qual a irritação dispara uma reação
imediata de dissipação de uma energia represada. “Quando raiva e irritação se voltam
23
Para Saussure e Wharton (2020) o sentimento é o estado mental de sentir a emoção (sentir medo, sentir
raiva, sentir nojo, alegria, tristeza).
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efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
para um determinado alvo por um período de tempo maior, falamos em ódio”,
complementa (2000, p. 13). A raiva pode, em casos extremos, evoluir para estados
emocionais que culminam em acessos de fúria (MALINVERINI, 2000). Embora não seja
o caso, de acordo com Hülsoff (2000), a irritação também pode transformar-se em desejo
de vingança, quando é provocada por uma ofensa.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
24
Com salvaguardas às emoções emergenciais.
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efeito emocional. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 21, n. 3, p. 435-454, set./dez. 2021.
emotividade” é ainda um caminho a trilhar. Estudos adicionais precisarão articular com
mais detalhes como a afetividade responde aos princípios gerais de produção e de
interpretação de enunciados elicitativos. Afinal, sentimentos e emoções podem funcionar
como atratores da atenção ou podem acelerar o processo cognitivo aperfeiçoando a noção
de que a mente humana é orientada para a relevância.
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