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Rodrigues, D. 2020. Padrões na Natureza. UFRJ, Departamento de Ecologia.

Disponível em
http://graduacao.cederj.edu.br/ava/login/index.php

PADRÕES NA NATUREZA
Daniela Rodrigues
Departamento de Ecologia, UFRJ

Sistemas biológicos – células, tecidos, organismos, populações, comunidades,


entre outros – possuem um grau de organização que levam a uma repetição. Tecidos são
conjuntos de células repetidas, populações são compostas por indivíduos da mesma
espécie, e interações entre parasitas e hospedeiros, predadores e presas, entre outros, via
de regra ocorrem com as mesmas espécies utilizando consistentemente certas
características (aparelho bucal, estruturas locomotoras, estruturas de defesa, entre outros).
Animais costumam escolher o seu local de alimentação, nidificação, reprodução e
descanso com base em características específicas do ambiente, o que leva a um padrão
de seleção de hábitat típico para cada espécie.
Em muitas espécies de plantas com flores (angiospermas), por exemplo, a
reprodução é apenas possível se os visitantes florais visitam repetidamente flores de uma
mesma espécie. Os visitantes florais buscam tão somente recursos alimentares (néctar,
seguido de pólen) e tendem a visitar flores da mesma espécie uma vez que já aprenderam
a utilizá-la. Este fenômeno, conhecido por constância floral, aumenta as chances de
transferência de pólen de uma flor para outra flor da mesma espécie, ou seja, garante a
polinização. A polinização, por sua vez, é um fenômeno importantíssimo tanto do ponto de
vista ecológico quanto econômico: cerca de mil e quinhentas espécies de plantas utilizadas
na nossa alimentação, vestimenta, remédios, material de limpeza, cosméticos e até
moradia dependem desses visitantes florais, ou seja, dos polinizadores, para se
reproduzirem.
O mesmo ocorre em animais que consomem a vegetação, ou seja, os herbívoros.
Dentre as quase quinhentas mil espécies de insetos herbívoros, cerca de 85% destas se
alimentam de um grupo específico de plantas. Por exemplo, as larvas das borboletas do
gênero Heliconius consomem exclusivamente plantas do gênero Passiflora (popularmente
conhecidas como plantas do maracujá). Besouros cassidíneos alimentam-se basicamente
de plantas do gênero Solanum (plantas da mesma família do tomate). As razões pelas
quais a grande maioria dos insetos herbívoros estão restritos a um certo grupo de plantas
é tema de estudos por parte dos ecólogos desde os anos 50. Similar seleção do recurso
também se encontra nas aves e mamíferos que consomem certos frutos (frugivoria), o que
acaba por garantir a dispersão das sementes correspondentes.
Do ponto de vista das espécies detritívoras e decompositoras (bactérias, ácaros,
diversos insetos, minhocas, entre outros), diferentes espécies de plantas ou animais
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podem sofrer decomposição em escalas de tempo diferentes. Estas diferenças decorrem


tanto das características dos decompositores quanto da matéria orgânica que está sendo
decomposta. Um reflexo desta diferença na decomposição das plantas pode ser visto nos
padrões que encontramos na serapilheira – a camada formada por material vegetal
localizada acima do solo.
Em ambientes florestais da Mata Atlântica, podemos ver uma infinidade de outros
padrões em adição aos mencionados acima. A ocupação por líquens nos troncos das
árvores geralmente está relacionada ao regime de ventos e umidade de uma determinada
região. As epífitas – plantas que se desenvolvem sobre algumas árvores sem, contudo,
parasitá-las -, também selecionam as partes das árvores aonde vão se estabelecer com
base na radiação solar e na umidade. As lianas – plantas que germinam no solo e
necessitam de um substrato para suporte – são comumente vistas apoiadas nas árvores e
crescendo em direção ao dossel.
Os padrões também podem ser vistos em escalas espaciais maiores que uma
planta ou um grupo de plantas. Imagine um manguezal, ecossistema comum no Bioma
Mata Atlântica. Consistentemente se encontram poucas espécies portando as mesmas
adaptações ao substrato inconsolidado e salinizado, o qual é típico deste ambiente. Em
outro exemplo envolvendo as restingas – outro ecossistema muito comum na Mata
Atlântica e no estado do Rio de Janeiro – a vegetação mais próxima aos corpos d’água é
rasteira e de pequeno porte e, na medida em que a mesma se distancia da água, os
arbustos começam a tomar conta. Por sua vez, a vegetação arbustiva dá espaço para
árvores de portes variados na medida em que o distanciamento da água aumenta.
Os costões rochosos presentes no litoral brasileiro também apresentam padrões
bastante consistentes. Diferentes espécies de crustáceos, moluscos e algas conseguem se
estabelecer em diferentes estratos verticais dos costões rochosos. O regime e a força das
marés, neste caso, parecem ser agentes importantes no estabelecimento desses
organismos nesses costões. A interação competitiva entre esses grupos de organismos
também já foi reportada como importante para a ocupação de diferentes estratos verticais
desses costões rochosos.
Como testar essas associações planta-herbívoro, planta-polinizador, epífitas-
hospedeiras, entre outras, de modo a nos fornecer evidências de que as mesmas não são
fortuitas mas sim revelam padrões naturais? As formas de fazê-lo são muitas, e dependem
da pergunta, do sistema de estudo em questão e da logística que dispomos. Para tal,
sobretudo, precisamos seguir o método cientifico. No roteiro da prática de campo da
disciplina, você pode seguir os seus estudos sobre este tema ao lá encontrar os passos
para o método científico.

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