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d o E ns ino de
Metodologia
Natu re z a
e Soc iede
d a
d e L u c a Dalla Valle
L u c ia n a
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6570-7
IESDE
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: KENG MERRY/CKA/Rawpixel.com/Shutterstock
Apresentação 7
Gabarito 79
Apresentação
As crianças de 4-5 anos e o ensino das ciências humanas e naturais são o objeto de
estudo do terceiro capítulo. São sugeridos objetivos e opções metodológicas para essa faixa
etária, propondo-se um caminho para a contextualização e a significação das atividades
pedagógicas.
O quinto capítulo trata de um assunto conhecido da educação infantil, mas nem por
isso menos importante: as opções metodológicas lúdicas. São discutidos desde o material
disponibilizado a todo momento para as crianças até a tecnologia (parte importante da vida
8 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
de todas as pessoas no mundo atual), bem como os jogos e brincadeiras, tão significativos
para as crianças pequenas. A escola de educação infantil precisa aprender a mesclar metodologias
e se reinventar para educar melhor. É isto que esse capítulo aborda: de que maneira essas
metodologias podem auxiliar na construção do conhecimento infantil no campo das ciências
humanas e naturais.
No último capítulo, trazemos uma reflexão para o profissional que deseja atuar como
professor no eixo das ciências humanas e naturais na educação infantil na contemporaneidade.
Como ser um bom professor para crianças pequenas hoje em dia?
Convidamos você a responder a essa pergunta com base na leitura deste livro!
1
O ensino de ciências humanas e
naturais na educação infantil
Vídeo
1.1 Construção do ensino de ciências humanas e
naturais ao longo do tempo
Para a construção do caminho do ensino das ciências humanas e naturais na
educação infantil, convidamos o leitor a trilhar um breve histórico das legislações
educacionais, de modo que seja possível compreender como a concepção da
educação infantil alterou-se ao longo do tempo e como as propostas de atividades pedagógicas
oferecidas às crianças também passaram por mudanças.
Em 1988, a Constituição Brasileira reconheceu a educação infantil como dever do Estado,
considerando-a como parte da educação básica. Em 1996, houve a promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), n. 9.394, que considerou as crianças de 0 a 3 anos
responsabilidade do Estado no aspecto educacional (BRASIL, 1996). Antes da LDB, a educação de
crianças de 0 a 3 anos não era claramente considerada nas legislações, apenas as de 5 a 6 anos eram
consideradas em propostas educativas oficiais, na chamada e conhecida educação pré-escolar.
A LDB, portanto, institui a educação infantil, com definição de responsabilidades do poder
público em relação a essa parcela da população, tanto no que diz respeito ao cuidado relativo ao
10 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
desenvolvimento dessas crianças quanto às propostas educativas que lhes serão oferecidas. Nesse
caso, tais propostas devem levar em conta as características e potencialidades das respectivas faixas
etárias que compõem a educação infantil, oferecendo a elas uma educação que permita o exercício
de cidadania e o desenvolvimento a que têm direito, tornando a família e a escola responsáveis por
sua formação.
A partir da LDB, consequentemente, o campo de estudos da educação infantil se fortalece
com propostas e documentos que delineiam práticas pertinentes à educação de crianças pequenas.
Em 1998, com a publicação do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, a educação
de crianças de 0 a 5 anos é alçada a um novo patamar, pois, pela primeira vez no país e sinalizando
o grau de sua importância, esse documento é escrito para trazer referências à composição dos
currículos de educação infantil. Mesmo sem força de lei, os referenciais foram, e são, um grande
espelho para a criação das propostas de tais currículos. Esses documentos, além de outras mudanças,
propõem que eles sejam organizados em eixos de trabalho, entre eles o de Natureza e Sociedade,
que indica caminhos para os trabalhos das ciências humanas e naturais. Por isso, seguindo essa
orientação, é indicado à escola de educação infantil um trabalho integrado nas antes isoladas áreas
de história, geografia e ciências naturais no eixo intitulado Natureza e Sociedade.
Dando sequência ao nosso passeio histórico na esfera documental, em 2010 são lançadas as
Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil e assim decorre o fortalecimento de uma legislação
que ampara e estabelece as bases para uma educação infantil de qualidade que mescle o cuidar, já
com práticas efetivadas, e o educar, que necessitava de muito repensar. As Diretrizes apontam o
caminho da aprendizagem por meio do brincar, com propostas de intencionalidade educativa que
sejam apropriadas às crianças, considerando suas diferentes idades e potencialidades (BRASIL,
2010).
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) completa o conjunto de normas que alicerçam
a educação infantil. Criada em 2017, é considerada “um documento de caráter normativo que
define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem
desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica, de modo a que tenham
assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento” (BRASIL, 2017, p. 7). A BNCC é,
em linhas gerais, uma referência para que a educação deste país continental possa funcionar com
um mínimo de equilíbrio em todas as regiões, de modo que no Brasil inteiro as crianças e jovens
possam ter garantido o mesmo ensino, perpassado, obviamente, pelas características regionais de
sua respectiva localidade.
Considerando o objeto de estudo deste livro, que é o ensino das ciências humanas e naturais,
com tantos documentos oficiais indicando caminhos para o educar, era de se esperar que as práticas
desenvolvidas nas escolas de educação infantil dispusessem de toda a qualidade, correto? Porém,
dispor de documentos e legislações, embora seja um passo muito importante, não garante a tão
sonhada qualidade da educação. Assim, infelizmente, as novas abordagens e propostas para os
trabalhos pedagógicos com natureza e sociedade descritos nos documentos oficiais nem sempre
se revelam nas práticas pedagógicas em todo país, dado em parte pela demanda de crianças da
educação infantil ainda fora da escola, ou recebendo apenas atendimento, e não educação, em parte
O ensino de ciências humanas enaturais na educação infantil 11
pelas deficiências dos municípios e estados brasileiros em criar políticas públicas de qualidade e
até mesmo pelo desconhecimento, por parte dos profissionais da educação, dos documentos e
reflexões pertinentes.
O destaque dado às legislações anteriores deve voltar a atenção do leitor para o fato de
que desde 1988 a faixa etária compreendida na educação infantil está sendo alvo de estudos e
recebendo propostas educativas que se direcionam ao entendimento de que a criança precisa ter
respeitada suas fases de desenvolvimento, mas deve ser desafiada em suas potencialidades. Esse
papel precisa ser resgatado pela escola, principalmente no estudo das ciências. Estudar ciências
é pesquisar, buscar, desafiar-se, inquietar-se, construir hipóteses. Será que as aulas oferecidas às
crianças pequenas estão caminhando nesse sentido?
Convidamos você a analisar algumas práticas comuns no ensino de natureza e sociedade ao
longo do tempo. Não raro, pode ser que, ao ler o que aqui intitulamos passado, o leitor possa ainda
reconhecer práticas adotadas em algumas escolas atuais. A conscientização de um trabalho com
crianças pequenas ainda requer muito estudo de cada um dos profissionais e responsáveis para
tornar-se verdadeira e presente.
Vídeo
1.2 Experiências com tempo e espaço
Por conta do interesse demonstrado pelas crianças no tempo, nos animais,
nos lugares e nas pessoas diferentes, os temas das ciências humanas e naturais
têm sido sempre incluídos nas propostas e no conteúdo programático voltado à
educação infantil. Contudo, mesmo com as temáticas sempre presentes, a ênfase
dada a elas não fazia, no entanto, uma ligação entre o que se estudava com o mundo real da criança,
com seus interesses e principalmente com suas potencialidades.
Um dos conteúdos mais utilizados para trabalhar com as crianças pequenas diz respeito
a atividades sobre tempo e espaço. Geralmente, o conteúdo das áreas originais de História e
Geografia foi sendo trabalhado separadamente em atividades estanques, que não faziam referência
ao cotidiano da criança. Tomemos como exemplo as atividades em que as crianças eram convidadas
a colorir, indicando roupas típicas diferentes em alguns países do mundo. Mesmo que os países
escolhidos para serem representados fossem os de imigrantes que vieram para ao Brasil (e isso
poderia indicar algum contexto), a atividade em si não proporcionaria reflexão nenhuma. Qual
seria o traje típico do Brasil? Será que não acabaríamos dando a impressão às crianças que todos
os alemães se vestem o tempo todo com a roupa típica que serviu de modelo para a pintura delas?
Mesmo aqui, em poucas perguntas, já teríamos uma base de discussão interessante para recompor
essa atividade de colorir.
Tomando por base esse exemplo, é possível afirmar que o trabalho com tempo e espaço foi
fortemente ancorado na ideia de que as crianças deveriam aprender a partir dos temas menores em
direção aos maiores. Com isso, escolhia-se um tema e trabalhava-se com ele sem ampliar muito
as possibilidades de pesquisa. Na verdade, havia pouca pesquisa – na maioria dos trabalhos, os
professores apresentavam às crianças informações previamente selecionadas e preparadas, as quais
eles repetiam por anos sem propor nenhuma renovação em sua forma e seu conteúdo. Baseavam-se
12 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
na ideia de que, como a criança é pequena, só poderia lidar com poucas informações, e, por isso,
a aula com os conteúdos a serem apresentados já vinha predefinida. Essa visão permaneceu por
muito tempo e é ainda reconhecida em práticas pedagógicas atuais.
Vamos considerar que a escola do exemplo anterior, em que se realizou a atividade de
roupas típicas, esteja inserida numa comunidade de imigrantes, por exemplo: as práticas comuns
versavam sobre estudar aspectos das vestimentas de imigrantes, sobre a aprendizagem de algumas
músicas, sobre provas de pratos da culinária desenvolvida por essa população. Práticas de pintura
de figuras reproduzidas em papel e colagem de material também faziam parte desse estudo. As
crianças cumpriam com todas as exigências dos professores, mas o que de fato pensavam sobre o
assunto? Que hipóteses elaboravam? Como reconheciam o que estudaram em seu contexto?
Se a escola insiste na prática descontextualizada, nega à criança possibilidades de crescimento,
de desenvolvimento integral e até mesmo, como destacado no Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil (RCN/EI), “informações valiosas para que as crianças reflitam sobre paisagens
variadas, modos distintos de ser, viver e trabalhar dos povos, histórias de outros tempos que fazem
parte do seu cotidiano” (BRASIL, 1998, p. 165-166).
E é essa visão que pretendemos ampliar no leitor. Muitas vezes, a forma escolhida pelos
professores para lançar propostas e fazer com que as crianças estudassem diferentes culturas,
acabava por limitá-las a trabalhos pedagógicos descontextualizados, sem a amplitude necessária
para uma aprendizagem que de fato pudesse integrar conhecimentos de diferentes áreas. Então,
por que não trazer o mapa e mostrar de onde vieram os antepassados, fazer a linha da vida,
convidar palestrantes, contextualizar, ampliar as possibilidades de aprendizagem? Claro que esse
pequeno exemplo não abrange todas as possibilidades, mas inspira o leitor a pensar em integração e
articulação entre o desenvolvimento infantil e as propostas pedagógicas, e principalmente a pensar
no papel do professor nesse contexto. Lembre-se que há muitos documentos oficiais escritos para
a formação de conhecimentos sobre as crianças pequenas e metodologias, como os citados neste
capítulo.
Outro aspecto do trabalho com ciências humanas e naturais desenvolvido ao longo do
tempo diz respeito ao desenvolvimento de motricidade. Muitas práticas educativas que propunham
trabalhar com os conhecimentos sobre as ciências naturais e humanas privilegiavam aspectos
motores.
Atividades motoras eram consideradas uma espécie de treinamento para a escrita e a
alfabetização, que seriam os pontos mais importantes da educação nos anos iniciais. Era como se
a área de ciências fosse secundária em relação à alfabetização. Assim, frases como “a criança vai
treinar a mãozinha para ficar molinha para escrever” eram comumente utilizadas nas salas de aula,
quando a criança cobria um pontilhado no papel e/ou colava bolinhas em traçados dissociados de
um projeto maior. Atividades motoras, especialmente de motricidade fina, dissociadas de reflexão,
acabavam criando diferença entre as atividades “da escola” e as atividades “do mundo real”, que a
criança incorpora quando brinca. A reflexão do educador precisa ser pautada na pergunta: para que
meus alunos farão essa atividade? Como estou aproximando-as das ciências naturais e humanas
O ensino de ciências humanas enaturais na educação infantil 13
essa proposta? Se não conseguir uma resposta em que a criança integre conhecimentos e utilize-os
na realidade dela (e não naquela “fabricada pelo professor”), seria o caso de repensar a atividade.
Recorte, colagem, pintura, traçados, embora sejam atividades presentes no dia a dia da
educação infantil, precisam fazer parte do processo educativo e não se acumular em folhas e folhas
de papel preenchido, como se isso pudesse ensinar ciência para as crianças.
Tomemos como exemplo um estudo sobre alguns animais, típico conteúdo trabalhado há
muitos anos nas escolas de educação infantil. Como já destacado neste texto, muitos professores
acabavam por limitar o que seria oferecido à criança em função da idade dela. Seguindo essa lógica,
escolhem um animal para ser estudado. Na época da Páscoa, o escolhido era o coelho. Em linhas
gerais, as práticas desenvolvidas eram básicas e poderiam ser representadas por: apresentar aos
alunos o animal com imagens; a seguir, explicar-lhes como o coelho é e falar de algumas de suas
características; colar algodão num coelho desenhado num papel; estudar alguns aspectos da sua
alimentação e, por fim, seguir para a atividade no papel em que há um pontilhado para traçar,
levando o coelho à cenoura, por exemplo.
Percebe novamente como a prática pedagógica remetia à cópia, à pintura e a exercícios
repetitivos sobre traçados pontilhados, com privilégio do aspecto motor e espacial sobre os outros?
Nessa visão, a perspectiva do significado perde para a do treinamento motor, muitas vezes com
atividades descontextualizadas e que, de fato, não ofereciam nem privilegiavam as potencialidades
da faixa etária das crianças em questão. Não raro, essa concepção de exercício descontextualizado
ainda se encontra em muitas propostas educativas, em materiais didáticos oferecidos a crianças e
práticas educativas nas instituições de educação infantil do país todo, mesmo com muitos estudos
e materiais disponíveis apontando para outra direção.
Não se trata aqui de descaracterizar as atividades motoras (que de certo modo e em certa
medida são interessantes e desafiadoras para as crianças), mas de deixar claro que o objetivo de
estudar ciências não deveria ser o ato motor de riscar um traçado em cima de um pontilhado, senão
o de conhecer mais sobre o seu objeto de estudo, pesquisar, aprender, interrogar e desafiar-se.
Vamos desafiar você a refletir mais profundamente: em algumas épocas do ano, com a
aproximação de datas comemorativas, vemos uma infinidade de trabalhos realizados na educação
infantil do país, correto? Vamos pensar no Dia do Índio, comemorado em 19 de abril. Que imagem
lhe vem à cabeça quando essa data é comemorada na escola de educação infantil? Que tipo de
trabalho pedagógico é comumente realizado nessa data?
Não era incomum que os trabalhos para tal comemoração fossem ancorados em folhas para
pintar índios estilizados, crianças com rostos pintados (e quando havia uma possível alergia à tinta
usada, eram enfeitadas com fitas plásticas autocolantes) e cocares feitos de papel e lantejoula. O
destaque era para a caracterização e o estereótipo que infelizmente ainda permanece vivo na cultura
popular. Não havia intensidade sobre os estudos de povos indígenas, suas músicas, seu habitat, sua
alimentação, a necessária preservação da floresta (que segue na contramão da utilização de papel
para simular adornos que são confeccionados com elementos da natureza pelos indígenas).
14 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Em grande parte dos trabalhos realizados com crianças pequenas no país, os povos indígenas
eram e são retratados descontextualizados de sua cultura, como se todos os indígenas do país
pudessem ser agrupados por características iguais. Ora, justamente a beleza desse estudo é mostrar
a diversidade desses povos (BRASIL, 1998).
Da mesma forma, outras datas comemorativas povoavam as escolas da educação infantil
de cores, mas de pouco significado. Em muitas datas comemorativas, as crianças realizam os
“trabalhinhos” (folhas de papel com atividades iguais para serem coloridas ou ilustradas), e não raro,
há uma exposição no corredor das salas de aula de todas as pinturas, algodões colados, barbantes,
lantejoulas e glitter ilustrando os trabalhos. Tudo plasticamente colorido, mas e o significado disso?
Ao sinalizar algumas formas que foram utilizadas ao longo do tempo para educar as crianças
pequenas nas disciplinas que envolvem os conhecimentos de ciências naturais e humanas,
pretendemos desafiá-lo a refletir sobre práticas pedagógicas já ultrapassadas. Não obstante, não se
trata de mudar as práticas somente – trata-se de revelar os conceitos estabelecidos sobre o que se
faz, entendendo por que se faz e povoando suas ações de intencionalidade educativa.
Vídeo
1.3 Aguçar a curiosidade, experimentar e contextualizar
conteúdos
As três palavras utilizadas para nomear esta seção dão destaque a pontos
muito relevantes dentro do ensino de ciências humanas e naturais na educação
infantil: aguçar, experimentar e contextualizar. Cada uma com seu significado
específico, podem juntas ajudar a transformar as práticas estanques e sem sentido, que fizeram
parte das aulas de ciências nas realidades de muitas escolas de educação infantil, em experiências
sensacionais de aprendizagens que possibilitam real crescimento da criança.
Crianças são naturalmente curiosas, têm sede de aprender sobre o mundo e desafiam
diariamente seus educadores e sua família nesse sentido. Ao educador caberia aguçar essa já
natural curiosidade com propostas que possam atrair o interesse infantil. Tais propostas precisam
ser experimentadas pelas crianças e, lembre-se, na educação infantil o conceito de experimentar
é bem amplo: morder, apalpar, construir, destruir, opinar, combinar, contrariar e comparar, para
citar somente alguns verbos semelhantes.
É muito importante que o destaque dado à experimentação seja feito no enfoque de que
as crianças são seres ativos sobre suas aprendizagens e precisam atuar sobre seu objeto de estudo
para que possam refletir sobre os elementos dele, estabelecendo relações entre eles, criando
seus julgamentos e opiniões. A experimentação possibilita que a criança interaja para conhecer,
e isso funciona como uma propulsão para a aprendizagem. Porém, experimentar também é ser
contrariado, questionado e ouvir a opinião do outro. A experiência da conversa com seus professores
e colegas também ensina, permite questionamentos e faz as crianças pensarem.
A terceira palavra que se destaca é o contexto. Não há como planejar uma proposta educativa
sem levar em conta a contextualização dos conhecimentos, que traz sentido ao que se estuda, ao que
se aprende. Aquilo que se estuda precisa fazer sentido para a criança, senão o tempo é desperdiçado
O ensino de ciências humanas enaturais na educação infantil 15
com conhecimentos que, para ela, são desconectados da realidade. Caberá ao professor a tarefa de
apresentar os conhecimentos científicos dentro de uma atmosfera contextualizada, de forma que a
criança possa estruturá-los e apreendê-los de maneira significativa.
É preciso lembrar que cada criança é única em seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo,
precisa do outro para completá-la. Então, o desafio que se faz presente é: como compor práticas
educativas que possam ultrapassar as barreiras da padronização e ainda assim educar a todas as
crianças? Como aguçar a curiosidade infantil?
Cada criança que compõe a sala de aula é única e diferente em relação às demais. Chega na
escola de educação infantil com suas vivências, seus medos e sua curiosidade. Chega, também, com
suas características próprias, algumas mais falantes e outras mais envergonhadas. E todas estarão
na mesma turma em que o professor, e a escola, de modo geral, precisará ter um grande repertório
de práticas educativas. Como educar cada uma e todas elas?
Existem duas perspectivas a serem consideradas nesse caminho, uma individual e outra
coletiva (ARRIBAS, 2004). Na primeira, a escola precisa oferecer práticas que garantam o
aprendizado e crescimento de cada criança. Caberá aos educadores o entendimento da linguagem
infantil, da forma como cada criança se expressa, do que gosta, de como ela é afetada pelas diferentes
situações a que é submetida e quais são suas vivências preferidas. É um ato de conhecimento real de
cada criança que está sob sua responsabilidade.
A outra perspectiva – coletiva – permite que a criança se sinta parte de um grupo e possa
conhecer mais sobre ele, respeitando a riqueza e a sua pluralidade. Nesse caso, caberá ao educador
incutir no relacionamento da sua turma o respeito por essa diversidade, em ações educativas que
permitam que todos se expressem, que suas ideias sejam respeitadas, seus choros entendidos e seus
sentimentos acolhidos. Mesmo educando cada criança individualmente, ao estarem juntos, a turma
da educação infantil também crescerá como equipe. As opiniões e considerações das crianças e dos
adultos de sua relação interferem nas outras crianças, por isso a perspectiva do conjunto não deve
ser esquecida. Esse é o primeiro trabalho que o professor fará com as ciências humanas: entender
a todos e a cada um, estabelecendo uma relação para saber como o outro pensa, como reage às
situações, oferecida pela junção das perspectivas individual e coletiva, o que sensibilizará os alunos
e aguçará sua curiosidade.
Também considere que, ao conversar com as crianças, os professores auxiliam na organização
das ideias delas, além de possibilitarem que elas aumentem seu vocabulário, ampliando o acesso a
palavras relacionadas ao assunto (HARLAN; RIVKIN, 2002).
O conhecimento científico e suas terminologias vão sendo construídos ao longo das aulas, na
interação da criança com o objeto de estudo e com seus professores e colegas. O que tem que ficar
estabelecido é que a relação entre as pessoas é importante para que as crianças possam organizar
suas ideias e fundamental para que possam avançar nos seus conhecimentos sobre ciências, como
afirma o texto do RCN/EI:
Movidas pelo interesse e pela curiosidade e confrontadas com as diversas
respostas oferecidas por adultos, outras crianças e/ou por fontes de informação,
como livros, notícias e reportagens de rádio e TV etc., as crianças podem conhecer
o mundo por meio da atividade física, afetiva e mental, construindo explicações
16 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Dentro dessa ideia, podemos afirmar que um trabalho realizado com as ciências naturais
e humanas, que considere o brincar e o interagir e priorize o aguçar da curiosidade infantil, a
experimentação e a contextualização, deve levar em conta os seguintes itens (ARRIBAS, 2004,
p. 109):
• Oferta de materiais a que as crianças possam recorrer: materiais estruturados como
livros, figuras, revistas, jogos de encaixe, fantasias e materiais coletados pelas crianças.
Esses materiais podem ser disponibilizados diariamente, fazendo parte da sua rotina, ou
esporadicamente, a depender das atividades trabalhadas.
• Variedade mental do repertório infantil e concepção de mundo: nesse momento, o
diferencial será a faixa etária da criança e suas vivências, que podem e devem ser ampliadas
pela escola, inclusive no que diz respeito ao vocabulário. Cada aula deve ser preparada
levando em conta a faixa etária da criança, o que ela é capaz de aprender e qual é a melhor
abordagem e linguagem a ser utilizada pelo professor.
• Variedade e composição dos grupos humanos: quanto mais a criança interagir com
outras pessoas, mas aprendizado terá. Por isso, propostas que privilegiem a interação
entre as crianças de uma mesma sala e mesmo com as de outra sala com idades diferentes
são um excelente celeiro de oportunidades de aprendizagem. Também são importantes as
interações com os outros professores e profissionais da escola, como os responsáveis pela
merenda, pela limpeza, pela direção, sem esquecer dos pais dos alunos.
• Variedade e composição dos contextos: diretamente ligada à proposta e à oferta das
atividades dos professores para as atividades, pois indicará que as propostas apresentadas
tenham contextualização e façam sentido para a criança para que ela seja mobilizada a
buscar saber mais sobre aquilo.
• Pluralidade das atividades propostas: há muitas opções metodológicas que podem
ser incorporadas ao ensino de ciências, entre elas, as de observação, experimentação,
indagação, reprodução e atividades lúdicas. O que se deseja destacar é a importância da
variedade das propostas.
As experiências vividas pelas crianças de educação infantil no campo das ciências naturais
e humanas devem considerar o desenvolvimento de uma infância plena, em que a criança seja
instigada a pensar as coisas à sua volta, conhecê-las e explorá-las. Assim, no meio dessas vivências
e interações, ela vai construindo seu eu.
Considerações finais
O ensino das ciências na educação deve ser dinâmico e possibilitar a interação entre
professores, crianças e objetos de estudo. Para isso, é necessário contemplar nos profissionais da
educação o estudo e entendimento de que algumas práticas preestabelecidas e por muito tempo
realizadas nas escolas não têm mais razão de ser, por não apresentarem desafios suficientes para as
crianças do mundo atual e não estarem em consonância com os estudos sobre a infância ao longo
do tempo.
18 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Atividades
1. Algumas atividades de motricidade foram amplamente utilizadas ao longo dos anos, nas
escolas de educação infantil, para fomentar aprendizagens de temas da área das ciências.
Assim, colagens que reproduziam revestimento dos animais ou traçados em papel que
reproduziam seu movimento eram utilizados como forma de ensino sobre a temática
dos animais. Nos dias de hoje ainda é viável utilizar essas atividades motoras? Justifique e
fundamente sua resposta.
2. O que deve ser oferecido pelos professores às crianças para que elas possam avançar na
aprendizagem no campo das ciências naturais?
3. Interação e brincadeira são os dois enfoques sugeridos pela Base Nacional Comum Curricular
para o trabalho com as crianças de educação infantil. De que forma eles odem se relacionar e
ajudar a criança a aprender mais e melhor sobre as ciências humanas e naturais?
Referências
ARRIBAS, T. L. et al. Educação infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. Tradução de
Fátima Murad. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 15 out. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a
educação infantil. Brasília, DF: MEC, SEB, 2010. Disponível em: https://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-
Curriculares-para-a-E-I.pdf. Acesso em: 28 nov. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação,
20 dez. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 18 out. 2019.
HARLAN, J. D.; RIVKIN, M. S. Ciências na educação infantil: uma abordagem integrada. Tradução de Regina
Garcez. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
ROSSETTI-FERREIRA, M. C. (org.). Os fazeres na educação infantil. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
2
A construção do conhecimento das ciências
nas crianças de 0-3 anos
Você já entrou em um berçário? Conviveu com crianças de 0-3 anos juntas em um espaço
educativo? As salas de crianças pequenas têm mesmo características bem peculiares, em que o colorido
do mobiliário se mistura com os tapetes espalhados pelo chão enquanto algumas crianças brincam e
outras dormem, e bebês exercitam sua capacidade motora. Alguns podem estranhar a disposição dos
bebês e crianças pequenas para aprender – mesmo que disso decorram infinitas lágrimas e gritaria,
afinal, aprender não é fácil –, mas isso é normal: o barulho de choros, as risadinhas, os balbucios e as
pequenas palavras fazem parte do cotidiano daqueles que estão conhecendo o mundo; e o olhar mais
apurado mostrará a riqueza das práticas que podem ser feitas nesse espaço educativo.
As crianças e os bebês que fazem parte da etapa da educação infantil passam por muitas
mudanças ao longo do tempo que decorre dos 0 aos 3 anos de idade. As conquistas motoras são
intensas e a cada dia são percebidas diferenças progressivas no seu desenvolvimento. Seja para trocar
de roupa, para se alimentar sozinho, para pedir ou apontar o que deseja ou até para controlar seus
esfíncteres1, as crianças estão permanentemente em mudança e seguem agitadas, buscando a cada dia
conhecer o mundo em que vivem.
Como já mencionamos no primeiro parágrafo, bebês e crianças bem pequenas2 têm
extraordinário entusiasmo para aprender e, para que essa energia toda efetivamente se transforme
em aprendizagem e desenvolvimento pleno, eles precisam que suas salas de aula e seus centros de
educação infantil sejam recheados de materiais, espaços e procedimentos que tornem o ambiente
favorável. As conquistas dos pequenos dependem de um ambiente facilitador e de profissionais
responsáveis e comprometidos com sua educação.
Num primeiro momento, essas linhas escritas podem dar a impressão de que a educação
infantil é um trabalho simples, mas é importante lembrar que estamos trabalhando com pequenos
seres vivos, que estão literalmente conhecendo o mundo e que demandam, além do cuidado com a
alimentação, a higiene e a regularidade de sono, isto é, um trabalho educativo completo.
1 Estrutura muscular que contorna um orifício ou canal natural, permitindo sua abertura ou fechamento, podendo ser
constituído de fibras musculares lisas e/ou estriadas.
2 A terminologia “crianças bem pequenas” é usada para definir a faixa etária de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses,
segundo a BNCC (BRASIL, 2018, p. 44). As demais faixas etárias são bebês (zero a 1 ano e 6 meses) e crianças pequenas
(4 anos a 5 anos e 11 meses).
22 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
É importante considerar que a ampliação da visão do mundo que as crianças têm e até da
visão de si mesmas e dos outros será criada e ressignificada nos espaços disponíveis nas escolas de
educação infantil. O Parecer CNE/CEB reforça a necessidade de o ambiente ser pensado de forma
educativa.
A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e movimentos
amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das turmas e à
instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos e materiais
diversificados que contemplem as particularidades das diferentes idades.
(BRASIL, 2009, p. 14)
Percebemos que todos os materiais indicam que o caminho correto para se trabalhar com as
ciências humanas e naturais na educação infantil é preparar adequadamente os ambientes. Vamos
apresentar agora uma proposta de outro documento oficial sob um ponto de vista diferenciado.
Organizada sobre uma estrutura de campos de experiência, a Base Comum Curricular
(BRASIL, 2018, p. 45) também indica objetivos a serem alcançados nos trabalhos3. Campos de
experiência, na visão desse documento, “são experiências que constituem um arranjo curricular
que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes,
entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural” (BRASIL, 2018, p. 40).
A seguir, apresentamos um breve comentário sobre os campos de experiência propostos
pelo documento e, na sequência, alguns objetivos escolhidos para cada campo, divididos por idade,
que podem fazer parte de uma proposta de trabalho com ciências naturais e humanas na Educação
Infantil (BRASIL, 2018, p. 40-42).
• Eu, o outro e nós: esse campo de aprendizagem considera a importância da relação entre
as pessoas, destacando que é essa interação que vai possibilitar à criança a construção e
compreensão de sua forma de ser e atuar, bem como a descoberta de que existem modos
diferentes de pensar e agir.
• Corpo, gestos e movimentos: nesse campo de aprendizagem, destaca-se a importância
do corpo das crianças (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou
intencionais, coordenados ou espontâneos) na exploração do mundo que as cerca. É com o
corpo que elas “estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos
sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente,
conscientes dessa corporeidade” (BRASIL, 2018, p. 41).
• Traços, sons, cores e formas: considera-se aqui que, como cidadã do mundo, a criança
tem direito a conviver com experiências linguísticas diferenciadas e com diversas
manifestações artísticas, culturais e científicas.
• Escuta, fala, pensamento e imaginação: considera-se como campo de aprendizagem as
interações verbais e não verbais que a criança tem, desde que nasce, com pessoas de sua
convivência e que vão compondo seu pensamento e sua opinião acerca das coisas.
3 Pela amplitude do trabalho da BNCC, estão relacionados, neste capítulo, somente alguns dos objetivos propostos.
A lista completa está nas páginas 45 a 53 do documento, que pode ser acessado no seguinte endereço: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/.
24 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Explorar diferentes fontes sonoras e materiais para Utilizar diferentes fontes sonoras disponíveis no
acompanhar brincadeiras cantadas, canções, músicas ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas
e melodias. e melodias.
Comunicar-se com outras pessoas usando movimentos, Criar e contar histórias oralmente, com base em imagens
gestos, balbucios, fala e outras formas de expressão. ou temas sugeridos.
Perceba que existe diferença de propostas entre as idades. Com bebês, deve ocorrer interação
e exploração, mas não podemos exigir que eles compartilhem brinquedos, por exemplo (o que não
quer dizer que as atividades devam ser feitas somente com cunho individual, pois é justamente o
convívio que trará o conhecimento e a maturação). Só ao longo do tempo, ao deixarem de ser bebês,
é que as crianças começam a perceber o outro e a compartilhar brinquedos, comidas, atividades.
Cabe a cada sistema educativo, respeitando as orientações dos documentos oficiais, bom
senso e estudo para compor seu currículo de educação infantil, elencando os objetivos que farão
parte do trabalho docente.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil não propõe conteúdos específicos
para essa faixa compreendida entre 0-3 anos, mas recomenda que as escolhas se baseiem em alguns
aspectos, descritos a seguir:
Relevância social e vínculo com as práticas sociais significativas; grau de
significado para a criança; possibilidade que oferecem de construção de uma
visão de mundo integrada e relacional; possibilidade de ampliação do repertório
de conhecimentos a respeito do mundo social e natural. (BRASIL, 1998, p. 177,
adaptado)
De modo geral, ao apontar esses aspectos para a escolha dos conteúdos, o Referencial aponta
para a construção da identidade e autonomia infantil, mas também para a construção que a criança
fará da realidade, começando por aquilo que está mais próximo a ela, ao seu redor. Assim, as
práticas propostas pela escola têm de apresentar significado para a criança, bem como possibilitar
que construa suas hipóteses, tenha respeitada sua opinião e aprenda com o passar do tempo a
considerar e respeitar a opinião dos outros.
Não se trata, no entanto, de cair na improvisação. Nada disso! As atividades precisam
ser planejadas por bons educadores com intenção educativa, que, assim, poderão aproveitar as
melhores oportunidades lançadas pelos interesses espontâneos das crianças e abrirão as portas
para muitas aprendizagens.
O mais relevante na composição e escolha de conteúdos de trabalho é relembrar que as
crianças constroem seu conhecimento pela ação que realizam sobre as coisas que podem ver, pegar,
sentir ou reconhecer como significativas. Assim, um bom começo para uma proposta educativa é
contemplar essas possibilidades.
destinando a eles as funções que melhor representam o contexto de suas brincadeiras. Vemos que o
espaço externo é, sem dúvida, um grande aliado para o desenvolvimentodas crianças, como lugar
de expressão de suas infâncias (CURITIBA, 2013).
As intervenções que o profissional fará enquanto a criança estiver nos ambientes externos
certamente gerarão diversas reações nas diferentes crianças. Algumas delas serão agradáveis, outras
nem tanto (quando, por exemplo, a criança é impedida de realizar alguma coisa pelo educador ou
tem seu comportamento repreendido por alguma atitude inadequada). Contudo, essas reações
fazem parte do crescimento. O adulto, portanto, é um parceiro muito especial na relação de
aprendizagem que a criança começa a estabelecer consigo mesma e com os outros, e seu papel é
fundamental na utilização de espaços externos de aprendizagem.
O contato entre o adulto e a criança na troca de fraldas pode significar um grande avanço
nas conquistas do bebê – ele está se sentindo especial, único e atendido em suas necessidades, pois
começa a conhecer o mundo e as pessoas que o cercam. Além disso, por meio do toque carinhoso
de quem lhe quer bem, vai conhecendo também o próprio corpo.
conhecimento dos animais decorreriam desse simples contato? E quanto a conhecer os animais
que vivem escondidinhos no jardim da escola, como as crianças lidariam com eles?
Plantas também são objetos da curiosidade infantil. Crianças que vivem em ambientes
rodeados por elas têm um grande laboratório de aprendizagem à disposição. Sejam plantas que
dão flores, alimentos para a merenda ou ervas para chás, as crianças que ajudam a cuidar das
plantinhas experimentam hipóteses sobre crescimento, cuidado e vida bem interessantes para o
seu desenvolvimento. É recomendado que a escola tenha uma horta, na qual as crianças possam
experimentar algumas verduras e começar a elaborar seus conceitos sobre alimentação saudável da
melhor forma possível (BRASIL, 1998).
Há diversas opções para esse parecer. Algumas escolas optam por um mais detalhado, com
planilhas de desenvolvimento infantil, enquanto outras preferem um trabalho mais descritivo.
Cada escola tem liberdade para escolher como comunicará às comunidades educativa e familiar os
progressos das crianças sob sua responsabilidade.
O que deve ficar claro a todo mundo envolvido no processo é que essa avaliação é diagnóstica,
uma vez que pode mudar a qualquer momento; temporária, pois funciona apenas por um tempo,
dada a rapidez das mudanças nessa faixa etária; e, finalmente, deve servir para que o profissional
reavalie sua prática e busque aperfeiçoá-la cada vez mais, para poder contribuir com o adequado
desenvolvimento de seus bebês e crianças.
Considerações finais
Não há como pensar o trabalho com o eixo Natureza e Sociedade sem considerar a
exploração de mundo que precisa ser feita pelas crianças nessa área. Como tratamos de crianças
muito pequenas e bebês, ressalta-se a importância do profissional da educação nesse contexto.
Assim, como parte do trabalho com ciências humanas e naturais na educação infantil, as
propostas educativas precisam contemplar a exploração dos espaços por parte da criança. Antes
disso, a escola precisa pensar a distribuição desses espaços de modo a promover tal interação, seja
entre as crianças e os objetos ou entre as crianças e os seres vivos.
O trabalho com crianças de 0 a 3 anos requer muito conhecimento do professor. É
preciso compreender que as crianças têm tempos diferentes de aprendizagem e que, para muitas
das interações, precisam da ajuda do professor, o que reforça a importância e a necessidade de
competência desse profissional.
Um trabalho de qualidade feito nessa área, portanto, precisa considerar bons estímulos, um
ambiente bem organizado e desafiador, propostas interessantes e significativas e um bom trabalho
docente, que se mostrará, inclusive, na elaboração de uma avaliação que privilegie o processo de
aprendizagem de cada criança, em decorrência do tempo que cada uma leva para completar as
atividades e atingir os objetivos graduais.
Atividades
1. Reflita: em se tratando de crianças que devem explorar o mundo para se desenvolver, qual a
relevância dos aspectos externos das instituições da educação infantil?
2. De que forma o profissional da educação que trabalha com crianças de 0-3 anos pode auxiliar no
desenvolvimento corporal do bebê? Como esse trabalho pode ser feito? Descreva uma atividade
cotidiana em que se possa considerar tal desenvolvimento diante da interação com o professor.
Referências
ARRIBAS, T. L. et al. Educação infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. Tradução de
Fátima Murad. 5. ed. Porto Alegre: Atermed, 2004
BEE, H. A criança em desenvolvimento. Tradução de Cristina Monteiro. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil. v. 3. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf. Acesso em: 28 nov. 2019.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB n. 20/2009.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/pceb020_09.pdf. Acesso em: 5 nov. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. BNCC - Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 5 nov. 2019.
CURITIBA. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Educação. Organização dos espaços externos das
instituições de Educação Infantil. Curitiba, 2013.
CURITIBA. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Educação. Orientações para o trabalho nos
Berçários. Curitiba, 2019. Disponível em: https://mid-educacao.curitiba.pr.gov.br/2019/3/pdf/00204310.pdf.
Acesso em: 5 nov. 2019.
OLIVEIRA, Z. R. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
SALEK, V. A. A criança até 4 anos: um guia descomplicado para educadores (e pais curiosos). São Paulo:
Summus, 2010.
3
A construção do conhecimento das ciências para
crianças de 4-5 anos
Ao adentrar uma sala de aula de educação infantil que atende crianças entre 4 e 5 anos,
a pessoa pode achá-la muito barulhenta. Como alguém que entra pela primeira vez numa
escola de educação infantil, ela pode pensar se nada será capaz de acalmar essa “passarinhada”
(SALEK, 2010). Não erramos ao comparar carinhosamente a algazarra da educação infantil com
passarinhos barulhentos: as crianças também o são, é parte da natureza de seu aprendizado.
Na faixa etária de 4-5 anos, as crianças, com muitas conquistas motoras refinadas em relação
ao período anterior – de 0-3 anos –, estão mais seguras e desafiadoras e seguem explorando seu
mundo. Para tal exploração, precisam falar e interagir tanto com outras crianças e adultos da sua
convivência quanto com os objetos de aprendizagem, ainda mais no caso das aulas em que serão
construídos os conteúdos das ciências humanas e naturais. Então, a “algazarra infantil” é parte
da aprendizagem delas e deve ser considerada nas experiências ofertadas.
O trabalho é desafiador, principalmente porque precisa contar com intencionalidade
educativa, que garante que as práticas escolhidas façam parte do rol de experiências ofertadas. Para
isso, elas não podem ser apenas diversão – embora seja fundamental o aprender brincando –, mas
realmente um tempo de aprendizagem, crescimento e desenvolvimento infantil.
Como organizar as salas de aula e as experiências das crianças para que elas de fato
aprendam mais o que estudam? Quais são as orientações didáticas que podem ajudar o professor
na sua ação pedagógica? É isso que este capítulo se propõe a explicar, desafiando você a repensar
suas práticas.
A BNCC também indica objetivos a serem alcançados nos trabalhos com essa faixa etária1,
seguindo sua organização de propor à educação infantil os Campos de Aprendizagem que foram
descritos no capítulo anterior. Considerando isso, apresentamos alguns dos objetivos da BNCC
para o trabalho com Natureza e Sociedade, separados por Campos de Aprendizagem (BRASIL,
2018, p. 45-52):
• O eu, o outro e o nós
Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida. [...]
• Corpo, gestos e movimentos
Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras
e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre outras
possibilidades. [...]
• Traços, sons, cores e formas
Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais
durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas.
[...]
• Escuta, fala, pensamento e imaginação
Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da
linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras
formas de expressão. [...]
• Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
Identificar e selecionar fontes de informações, para responder a questões
sobre a natureza, seus fenômenos, sua conservação [...].
Como podemos ver, os objetivos aqui dispostos são amplos e integrados e não há como
trabalhar somente uma área em questão. O trabalho isolado por áreas é somente didático. Na vida
real, o que predomina é a integração deles.
1 Pela amplitude do trabalho da BNCC, estão relacionados neste capítulo somente alguns dos objetivos propostos
para a educação de crianças de 4-5 anos. A lista completa está nas páginas 45-53 do documento, que pode ser acessado
via download no endereço http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.
A construção do conhecimento das ciências para crianças de 4-5 anos 35
Imagine que uma criança seja oriunda de uma família estrangeira que se mudou há
pouco para o Brasil. Pense em quantos hábitos diferentes essa família pode ter e na quantidade
de informação cultural que essa criança recebeu em seu país de origem e que está começando
a receber no novo país. Essa diferença cultural também será percebida pelas demais crianças
da sala de aula. Essas percepções são valiosíssimas para o trabalho na escola e não devem ser
desconsideradas, pois podem resultar em grandes propostas educativas.
É importante que o professor considere que as crianças, desde o nascimento, estão imersas
num grande contexto social e cultural e que, conforme crescem e se relacionam com outras
pessoas, vão ampliando esses contextos e percepções. Conhecem mais pessoas, mais hábitos e,
consequentemente, mais diferenças culturais. Entretanto, as crianças sozinhas não conseguem
perceber toda a amplitude e o potencial dessa convivência, e por isso precisam que o professor
organize propostas educativas com a intenção de valorizar tais informações, de forma que elas
possam, de fato, ampliar seus conhecimentos a respeito de diferentes grupos sociais e, de certa
forma, a respeito de si mesmas. Sim, porque ao estudar os outros, as crianças também aprendem
sobre elas próprias.
Acompanhe o relato de uma experiência com crianças da educação infantil em que elas
estudaram as diferentes etnias que compõem nosso país.
[A atividade] tinha por objetivo trabalhar a identidade cultural do povo
brasileiro e, consequentemente a identidade cultural das famílias das crianças
atendidas […] deste modo, as crianças foram percebendo as diferenças entre
elas e entre os costumes das suas famílias […] e fortalecendo a identidade de
cada um. (SILVA, 2009, p. 77)
Nesse caso, os professores fizeram o trabalho partindo das etnias presentes em cada família
das crianças, seguindo duas ideias básicas que fundamentam as aprendizagens infantis e não
devem ser esquecidas: a primeira indica que a aprendizagem deve ter funcionalidade (deve ter
36 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
função, ou seja, ser percebida como utilizável pela criança); e a segunda trata do pressuposto de
que a criança aprende melhor se consegue relacionar aquilo que está recebendo de informação com
outra que já possui, caracterizando aquilo que ficou conhecido como aprendizagem significativa.
Assim, significado e funcionalidade estão intrinsecamente ligados à aprendizagem infantil e devem
ser considerados nas propostas educativas (ARRIBAS, 2004).
Essa deve ser a base das orientações didáticas neste bloco de conteúdo: propostas que levem
em conta tanto “o conhecimento de hábitos e costumes socioculturais diversos quanto a articulação
com aqueles que as crianças conhecem” (BRASIL, 1998, p. 182), todos conectados às informações
histórico-geográficas desses grupos.
Nesse contexto de organização dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar, é
relevante que a escola ofereça também propostas de aprendizagem que envolvam indígenas e
afrodescendentes, como indicam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
(DCN/EI): “apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos povos indígenas,
afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países da América” (BRASIL, 2010, p. 22).
Falaremos mais sobre isso na seção “Ampliando seus conhecimentos”, no fim deste capítulo.
Em uma fase de tanto descobrimento de suas potencialidades e do mundo que a cerca, as
propostas educativas que proporcionam conhecimento sobre outras culturas também despertam
na criança um conhecimento de si mesma, e esse é o caminho do crescimento infantil.
É preciso considerar que o trabalho docente não deve se limitar a apresentar diferentes
paisagens para as crianças, a fim de que percebam suas características, mas deve também fazer
com que observem que a ação humana e a ação do tempo influenciam e mudam esses lugares.
Obviamente que os recursos materiais (slides, figuras, sites, livros, maquetes, observação in loco)
são opções metodológicas ótimas, mas não se pode prescindir da reflexão que essas atividades
proporcionarão. Assim, não basta realizar uma atividade envolvendo lugares e suas paisagens, é
preciso propor reflexão sobre isso.
Há que se atentar ao que orientam as DCN/EI quando apresentam as premissas do trabalho,
segundo as quais a escola precisa garantir propostas que “incentivem a curiosidade, a exploração,
o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao
mundo físico e social, ao tempo e à natureza” (BRASIL, 2010, p. 28).
A percepção maior por parte dos professores nesse momento é a de apresentar propostas
de trabalho ou aceitar as sugestões apresentadas pelas crianças e intervir de forma a fazer com
A construção do conhecimento das ciências para crianças de 4-5 anos 37
que elas pensem mais sobre o assunto e que busquem outras respostas. A intervenção do adulto
nas explorações das crianças não deve ter somente o caráter de explicação, indicando que o adulto
tem todas as respostas, mas também, e sobretudo, o de primar por desafiar a criança a buscar as
respostas. Nesse contexto, as intervenções dos professores são importantíssimas e têm ainda um
alto valor afetivo e emocional, pois a criança se sente reconhecida pelo adulto, que não se aproxima
dela apenas para criticar ou dar respostas, mas principalmente para se interessar pelo que ela faz,
para instigá-la e aprender junto com ela (PANIAGUA, 2007).
Outro ponto precisa ser destacado neste bloco de conteúdo: o de preservação da natureza –
pela sua relevância atualmente. Crianças pequenas também podem participar dessa discussão e se
conscientizar da importância da ação sustentável na preservação do planeta. Essa é uma indicação
das DCN/EI, quando propõem que a escola deve oportunizar atividades que “promovam a interação,
o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra,
assim como o não desperdício dos recursos naturais” (BRASIL, 2010, p. 27).
As atividades propostas para o trabalho pedagógico com este bloco de conteúdo podem
utilizar vários materiais, como fotografias antigas, slides, sites, maquetes, textos antigos, poesias,
plantas de rua, mapas, globos terrestres, filmes e até entrevistas com pessoas da comunidade.
Quanto mais variada for a proposta, mais o professor instigará a vontade de aprender da criança.
Quem convive com crianças na faixa etária de 4-5 anos conhece bem os muitos porquês
em forma de pergunta que a criança faz diariamente para conhecer mais sobre tudo à sua volta.
Em busca de respostas aos seus questionamentos, as crianças agem sobre os materiais: montam,
desmontam, querem conhecer todas as funções dos objetos e, assim, entender o mundo. Crianças
são exploradoras por natureza; neste eixo de trabalho, a escola pode se valer dessa característica
infantil para trabalhar esta categoria.
As ações didáticas, portanto, devem oportunizar o contato das crianças com esses objetos
em que intencionalmente o professor vai propor a busca de características e funções. A ideia de
iniciar esse trabalho com objetos próprios do universo infantil corrobora o que tratamos sobre
aprendizagem significativa. Também há muito o que explorar no sentido histórico. Uma pesquisa
sobre meios de transporte pode indicar como foram concebidos, por exemplo, os automóveis ao
longo do tempo, até a existência, atualmente, dos milhões de carros nas garagens das casas.
38 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
O interesse infantil deve ser pano de fundo para o aprofundamento de questões relevantes no
trabalho com os seres vivos explicitado nos objetivos acima, de forma que a criança possa aprender,
na relação com os outros seres vivos, a respeitá-los, conhecê-los, categorizá-los e valorizá-los. É
fundamental que o professor ultrapasse a barreira de apenas apresentar características dos seres
vivos isoladamente do contexto em que estão inseridos, da localidade onde vivem e da relação que
têm com os seres humanos e com a natureza como um todo.
É importante considerar que nos trabalhos com os seres vivos, além da sua caracterização
básica, é também preciso tratar da relação deles com o meio ambiente, como insetos que podem
A construção do conhecimento das ciências para crianças de 4-5 anos 39
incomodar as pessoas, mas são alimentos para os sapos; abelhas, que polinizam e fazem crescer e
florescer plantas; e minhocas, que adubam e oxigenam a terra para o plantio. Sobre esse cuidado,
veja que interessante esta pequena história:
Numa sala de 4 anos, uma garotinha contou aos colegas e professora que o pai
dela criava minhocas. Foi uma surpresa geral: para que criar minhocas? Ela
respondeu que era para afofar a terra e ver as plantas crescerem. Tal conversa
foi uma grande motivação e o grupo ficou interessantíssimo em conhecer
mais sobre as minhocas. Os professores, percebendo o interesse das crianças,
chamaram o pai da aluna em questão para que pudesse explicar para as crianças
tudo sobre as minhocas. Uma vez realizada a conversa, surgiu o desafio: vamos
fazer um minhocário. E assim foi feito. Na verdade, as crianças chamaram de
minhoscópio, porque fizeram um terrário num aquário, para que fosse possível
observar os vários túneis que são feitos pelas minhocas para a entrada do ar e
da água que sustentam as plantas. Foi uma experiência única para os pequenos
daquela sala e até as crianças de outras salas vinham visitar as famosas novas
moradoras. Depois dessa observação, da feitura do minhoscópio, ainda fizeram
o registro de toda a vivência, num belo livro produzido pelas crianças e pelos
professores, chamado “O jardim das minhocas”. (AGASSI; COSTA; ABRAHÃO,
2004, p. 113)
Você percebe a riqueza desse trabalho e quanto essa aprendizagem foi significativa para
os pequenos? Tanto na proposta que surgiu das crianças como na percepção dos professores
em aproveitá-la e fazer da curiosidade infantil um experimento científico? É disso que se trata!
Trabalhar com seres vivos requer vida, contato com a natureza e com demais animais e seres
humanos, e exige um professor perceptível aos interesses e as propostas infantis.
A relação das crianças com as plantas também suscita muitas vivências e aprendizagens.
Saleh (2017) destaca alguns itens importantes que podem ser desenvolvidos pelas crianças nas
relações com as plantas.
1. Desenvolvimento dos sentidos: ao tocarem nas plantas e perceberem texturas diferentes,
ao sentirem cheiros peculiares e característicos e sabores intensos e diferentes, as crianças
estão adquirindo mais conhecimento sobre as plantas e desenvolvendo seus sentidos.
2. Noções sobre o ciclo da vida: o conhecimento de nascimento, vida e morte pode também
ser explorado no cuidado com as plantas. Neste caso, pode-se vivenciar o ciclo de vida de
uma planta, inclusive compreendendo que muitas delas servem para a alimentação. Além
disso, o professor pode propor que as crianças se alimentem das frutas que plantaram.
3. Aprendizado de cuidados básicos para seres vivos: ao mesmo tempo que cuida da
planta, a criança vai internalizando que todos os seres vivos precisam de cuidados.
O professor pode fazer comparações sobre o desenvolvimento da planta e cuidados
necessários, bem como do desenvolvimento infantil e respectivos cuidados.
4. Desenvolvimento de responsabilidade: uma vez estabelecido que as plantas precisam
de cuidado, as crianças, junto com os professores, serão responsáveis por elas. A noção
de responsabilidade pode e deve ser trabalhada nas salas de crianças pequenas, para que
percebam que com alguma atitude podem contribuir para o bem de todos.
40 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
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Crianças têm uma maneira muito peculiar de ver o mundo e encontrar explicações nada
científicas para os mais diversos fenômenos naturais que presenciam ou assistem pela TV. Elas
criam suas pequenas conclusões infantis e, aos poucos, com a construção de conhecimentos e
estruturas mentais, vão estabelecendo pontos científicos no que pensam.
Por isso, o trabalho do professor neste bloco de conteúdo com as crianças de 4-5 anos precisa
focar os fenômenos da natureza, sob o ponto de vista da relação entre eles e os grupos sociais que são
afetados. Lembre-se, contudo, da idade das crianças em questão e organize seus trabalhos de modo
a não assustá-las – imagine que podem ter presenciado uma enchente ou uma forte tempestade,
por exemplo. É preciso que a criança fale, expresse o que pensa, e que, a partir daí, o professor
possa ajudá-la a reconstruir suas observações sobre o assunto. Então, o professor deve cuidar para
que a abordagem do trabalho com os fenômenos da natureza seja positiva, afinal, eles são parte da
natureza e devem ser entendidos como importantes. Como muito das explicações reais sobre os
fenômenos da natureza ainda é abstrato para as crianças (lembre-se de que elas podem achar que as
montanhas são grandes porque os homens colocaram terra nelas, que a chuva está caindo porque
estão lavando o céu, etc.), o ideal nesse caso é trabalhar com algumas informações científicas que
a criança possa compreender, como as funções do sol em relação aos seres vivos, por exemplo. É
muito relevante que as explicações sejam feitas com base em elementos que estejam presentes no
cotidiano dela, para que o aprendizado seja mais significativo.
Abordagens que incluam passeios e verificação dos fenômenos da natureza ao vivo,
como quando o céu escurece e sabe-se que em breve choverá, são ótimas oportunidades de
inserir pequenas doses de conhecimento científico e ouvir o que as crianças pensam sobre o
assunto. Seria interessante se essa visualização pudesse ser feita após a chuva, em um passeio
que mostrasse os resultados da ação de tal fenômeno, pois agregaria muito aos saberes infantis
42 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
ao destacar a relação dos fenômenos naturais com os elementos da natureza. Como afirma
Arribas (2004, p. 116), “mediante experiências variadas, as crianças poderão dar-se conta de
que os elementos do ambiente natural necessitam uns dos outros: a chuva faz crescer a grama,
o sol dá vida às plantas, seca a roupa […]”.
Nem sempre haverá a possibilidade de presenciar os fenômenos da natureza in loco, alguns
deles acontecem em outros países, como o caso dos vulcões e furacões. Nesse caso, trechos de
documentários, sites e informações que possam ser coletadas pelo professor e pelas crianças e
trazidas para a sala de aula ajudam a trabalhar com o tema.
A astronomia também apresenta temas interessantes para o estudo infantil. Crianças são
fascinadas por planetas e registrar suas observações para depois compartilhá-las com os demais
colegas da sala é um grande aprendizado para elas.
Considerações finais
Auxiliar crianças a construírem seus conhecimentos no campo das ciências humanas e
naturais é um belíssimo exercício de conhecimento de mundo. São muitas possibilidades e temas
que encantam e aguçam a curiosidade infantil e devem permear as propostas educativas.
Contudo, não há como abordá-los sem ressaltar a importância do trabalho educativo
que precisa ser feito: trabalho intencional. Mesmo que o educador permita (e deve permitir)
que as crianças proponham o que estudar, ele deve garantir que tais propostas serão ancoradas
em conhecimentos científicos, que vão além do senso comum, os quais estarão relacionados às
experiências das crianças e que serão significativas para elas.
Não há como conceber uma educação infantil sem vivências e sem o contato com a natureza. É
isto que deve ser oportunizado à criança: a chance de viver, brincar e aprender, não apenas registrar essas
vivências no papel, como muitas escolas o fazem. O papel pode aceitar apenas o registro do que foi vivido,
porque a verdadeira aprendizagem nessa área se dá nas experiências que foram oferecidas à criança.
Atividades
1. Os documentos oficiais que norteiam a educação infantil sugerem que a abordagem da
avaliação nessa faixa seja formativa. Levando isso em consideração, quais são as características
dessa avaliação e como ela pode auxiliar a criança na sua aquisição de conhecimentos?
2. Destaque duas aprendizagens importantes que podem ser efetivadas pela criança quando ela
está em contato com plantas – e consequentemente cuidando delas – no ambiente escolar.
Referências
AGASSI, E.; COSTA, E.; ABRAHÃO, G. Minhoscópio. In: ROSSETTI-FERREIRA, M. C. (org.). Os fazeres na
educação infantil. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Tradução de Cristina Maria
de Oliveira. Porto Alegre: Artmed, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a
educação infantil. Brasília, DF: MEC, SEB, 2010. Disponível em: https://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-
Curriculares-para-a-E-I.pdf. Acesso em: 28 nov. 2019.
A construção do conhecimento das ciências para crianças de 4-5 anos 45
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação,
14 dez. 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 11 nov. 2019.
PANIAGUA, G. Educação infantil: resposta educativa à diversidade. Tradução de Fátima Murad. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
SALEH, N. O que as plantas ensinam ao seu filho? Revista Crescer, 2 jan. 2017. Disponível em: https://
revistacrescer.globo.com/Familia/Vida-mais-verde/noticia/2017/01/o-que-plantas-ensinam-ao-seu-filho.
html. Acesso em: 23 out. 2019.
SALEK, V. de A. A criança até 4 anos: um guia descomplicado para educadores (e pais curiosos). São Paulo:
Summus, 2010.
SILVA, A. H. Família é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito. In: ROSSETTI-FERREIRA, M. C.
(org.). Os fazeres na educação infantil. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
4
A criança como sujeito do processo:
alternativas metodológicas
É comum que, ao entrar em uma sala de aula de educação infantil, você se depare com
uma infinidade de sons e cores, correto? Esses ambientes são naturalmente coloridos, com tintas,
pincéis, gizes de cera, papéis, dobraduras e muito mais. Além disso, são em geral recheadas de
materiais e atividades feitos pelas crianças, dispostos nas paredes ou esticados em varais. Eles
refletem, em grande parte, os trabalhos pedagógicos desenvolvidos pela professora da turma, e, de
modo geral, a concepção de atividades que a escola ou o sistema educativo no qual ela está inserida
pensa serem as mais adequadas para ensinar às crianças daquela faixa etária.
Assim, um visitante conhecedor de processos metodológicos infantis atentará para o que a
escola comunica em suas salas de aula ao expor suas atividades, lembrando que o que foi exposto
reflete aquilo que foi pensado e planejado pelo educador.
Não é de se estranhar que muitas atividades penduradas em sala indiquem uma
descontextualização, cujo objetivo maior seria o de desenvolvimento psicomotor, por exemplo.
Observe que não estamos criticando o desenvolvimento motor, apenas considerando que o trabalho
de motricidade deve ser integrado ao curso de aprendizagens significativas. Portanto, o desafio
apresentado é o de desenvolver práticas metodológicas coerentes com a faixa etária, desafiadoras e
que possam resultar em aprendizagens significativas.
Crianças de educação infantil passam por grandes mudanças ao longo do tempo em que
permanecem na escola. Justamente por essa diversidade de idades e possibilidades, a escola precisa
estar sempre em busca de opções metodológicas que possibilitem um aprender real.
Dois desses formatos educativos serão trabalhados neste capítulo: projetos e sequência
didática. Não temos o intuito de esgotá-los, já que pela sua amplitude isso não seria possível, mas
de apresentá-los como opção metodológica viável a essa faixa etária.
apoio, questionamentos e suporte, fatores que permitam ao grupo de crianças e a cada uma delas
um crescimento. O maior desafio é fazer com que as crianças expandam seus conhecimentos e
não fiquem repetindo conteúdos que já conhecem (CORTEZ, 2013). Para que tudo isso possa
acontecer, o professor precisa, a partir do interesse das crianças, definir os objetivos do trabalho.
De modo geral, um projeto de pesquisa pode conter sete fases (BEHRENS, 2000 p. 110)1, que
serão descritas a seguir junto a um posicionamento a respeito de como desenvolvê-las na educação
infantil.
Para contextualizar a explicação, vamos supor que uma professora de educação infantil, em
uma sala de aula de crianças com 4-5 anos, ao questioná-las quanto a seus alimentos preferidos,
ouviu de uma descendente de japoneses que sua comida predileta era tofu, porque comia sempre
na sua casa.
Figura 1 - Exemplo de trabalho com projetos
Mikhailov Studio/Shutterstock
Pesquisa sobre o tofu, queijo de soja chinês muito utilizado na culinária oriental.
Ao notar que as demais crianças desconheciam esse alimento e pedir que a criança oriental
falasse um pouco sobre o prato escolhido, a professora aproveitou o momento para sugerir a
realização de uma pesquisa sobre outros alimentos preferidos em suas próprias famílias. A criança
de origem oriental faria a pesquisa do tofu e traria a explicação para a turma. A ideia foi muito bem
aceita pelas crianças e, com isso, estava criada a situação-problema que desencadearia o projeto que
aconteceria nas sete fases propostas:
1. Problematização e contextualização: essa primeira parte é a discussão do assunto. O
professor deve assegurar que todos os alunos participem da conversa, que tenham suas
1 É relevante relembrar que os sete passos descritos pela autora não foram feitos exclusivamente para a educação
infantil, e sim para a elaboração de projetos em qualquer nível educativo. Por esse motivo, aconselhamos a adaptação dos
passos, na medida em que o professor achar necessário quando trabalhar com crianças da educação infantil.
50 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
vozes ouvidas. No caso do nosso exemplo, essa etapa pode ser a definição de que os
alunos fariam uma pesquisa sobre outros alimentos importantes nas famílias. A pergunta
motivadora do projeto poderia ser: qual é o alimento preferido na minha casa?
2. Exposição teórica dialogada: após a definição conjunta do problema por parte do
professor e dos alunos, o docente deve fazer uma explicação teórica para que os
pequenos entendam bem o que vão fazer. Eles precisam ser orientados sobre o que é
uma pesquisa. Indique a eles que, na pesquisa do tema escolhido, podem entrevistar
seus avós e demais familiares, além de trazer a receita do alimento, um desenho ou uma
foto dele. É bem possível que, pela idade das crianças, seja necessário que o professor
organize um comunicado, explicando aos pais do que o projeto trata e o que as crianças
precisam saber sobre o alimento em questão. Esse aviso também pode ser dado por meio
de uma pequena reunião a ser realizada com todos os pais na sala de aula. O importante
é convidá-los a participar e envolvê-los no projeto.
3. Pesquisa individual: é a busca do aluno pela sua informação. A ideia é estimular os
alunos em suas respectivas pesquisas. Como ficou estabelecido que, nesse caso, as
crianças buscariam suas informações sobre alimentos preferidos com suas famílias, por
meio de relatos orais, fotos e receitas, essa etapa trata exclusivamente dessa busca. Caberá
ao professor marcar a data de entrega da pesquisa até que todos a tenham feito.
4. Produção individual: a produção individual é o momento em que, após terem
pesquisado os dados e coletado as informações, os alunos começam a trabalhar com eles
e a produzir um material. Claro que, considerando a idade das crianças, essa produção
precisará ser adaptada, mas o professor pode usar sua criatividade e pedir que as crianças
tentem escrever o nome do alimento, façam um desenho sobre ele, considerando o que
os familiares contaram, por exemplo. Observe que a produção individual também deve
ser oral e pode ser exposta na sala de aula.
5. Discussão crítica: nesse momento, é importante a valorização do senso crítico das
crianças. O momento é de conhecer as diferentes pesquisas dos demais colegas, e aí a
criatividade do professor é fundamental: organizar uma pequena exposição na qual cada
criança conta sobre sua pesquisa – lembre-se que são crianças pequenas que precisam ser
instigadas com perguntas desafiadoras – e mostra os materiais coletados. A criticidade
aqui não é citada para que os alunos critiquem, desmereçam os trabalhos dos colegas,
mas sim para que percebam as diferentes formas com que as pesquisas foram feitas.
6. Produção coletiva: uma vez que os alunos já realizaram sua pesquisa individual e já a
apresentaram ao seu grupo, é hora de juntar tudo o que foi pesquisado. Pode ser que haja
alimentos semelhantes, alimentos muito diferentes, alimentos que fazem parte do almoço
ou jantar, ou que fazem parte de lanches. Todas as variáveis devem ser conversadas no
grande grupo de alunos e professores. Não esqueça de que essa conversa vai oportunizar
a eles a organização de seus pensamentos e que possam aprender mais. O papel do
professor é incentivar e elogiar todas as pesquisas, destacando pontos interessantes,
A criança como sujeito do processo: alternativas metodológicas 51
O papel pode ser um registro daquilo que aprenderam, mas não há necessidade de registrar
todas as aprendizagens por escrito. O professor precisa organizar suas atividades dentro de um
tempo determinado. Assim, o planejamento das sequências didáticas torna-se fundamental, pois tal
escolha, além de atender aos objetivos e seguir a listagem de conteúdos propostos pela escola, fará
isso de forma integrada e eficiente. Desse modo, a sequência didática estabelece uma organização
do trabalho do professor.
Optar por um trabalho em que as ações pedagógicas serão estruturadas em sequência
significa utilizar uma série de ações que se sucedem, mas que têm graus diferentes de complexidade
e podem acontecer em vários dias de trabalho. Considere que as crianças de educação infantil não
conseguem manter seu interesse nas atividades por muito tempo. Por isso, proponha atividades
curtas, mas sequenciais, que difiram em complexidade. É importante que a criança perceba a
sequência das atividades, mesmo acontecendo em dias diferentes, e que elas fazem parte de uma
aprendizagem coesa, não se tratando de atividades estanques.
A escolha e o planejamento das sequências didáticas que os professores utilizam no trabalho
com cada um dos conteúdos pode fazer toda a diferença na aprendizagem das crianças. A escolha
das propostas não pode ser aleatória, e ações devem ser organizadas de forma que existam desafios
e diversidades de atividades (MEIRELLES, 2014). Considere ainda que, na educação infantil, um
conteúdo precisa ser trabalhado mais de uma vez, em situações didáticas variadas.
É importante destacar que o trabalho com sequências didáticas requer que o professor
estude, planeje e organize sua prática pedagógica. Em alguns casos, ele trabalhará com muitas
sequências didáticas ao longo do ano. Cada uma precisa ser pensada com vistas a atingir seus
objetivos e não ser uma repetição de atividades sequenciais. Um ponto muito relevante diz respeito
à sondagem inicial daquilo que os alunos já sabem sobre o tema. Isso poderá delinear o que precisa
ser desenvolvido na sequência e qual será a abordagem apropriada.
De modo geral, para trabalhar com sequência didática, o professor precisa ter clareza do que
vai ensinar e para quem vai ensinar. É preciso conhecer a faixa etária, suas possibilidades e seus
conhecimentos prévios.
Algumas dicas ajudarão o professor a montar suas sequências de trabalho. São elas ( BRASIL,
1998, v. 3, p. 195):
• Partir de perguntas interessantes: mesmo que seja o professor propondo o tema de estudo,
é muito importante que este desperte na criança a vontade de aprender. Então, nada mais
indicado que fazer a primeira abordagem com questionamentos interessantes. No eixo de
trabalho Natureza e Sociedade, tal abordagem inicial tem que promover questionamentos
sobre os elementos, os objetos e os fatos. As perguntas podem ser feitas de várias maneiras,
utilizando figuras, mapas, notícias, histórias ou lendas, documentários, filmes, eventos
A criança como sujeito do processo: alternativas metodológicas 53
Jacob Lund/Shutterstock
Com a lupa na mão, as crianças podem ampliar seus conhecimentos.
Considerações finais
Projetos de trabalho e sequência didática são duas opções metodológicas perfeitas para o
trabalho na educação infantil. Embora diferentes entre si, ambos trabalham com o interesse infantil
e permitem que as crianças sejam desafiadas e participem ativamente de seu próprio aprender. Eles
fazem com que o professor mude o olhar e saia de aulas convencionais e das infinitas atividades
feitas apenas no papel para vivências. Assim deve ser o trabalho de Natureza e Sociedade na
educação infantil.
A criança como sujeito do processo: alternativas metodológicas 55
Você consegue conceber um trabalho que envolva plantas em que as crianças não sejam
convidadas a tocá-las e explorá-las? Dá para fazer isso apenas com figuras? Como trabalhar com
animais do jardim apenas com imagens ou vídeos, na maioria das vezes em desenhos, se lá fora
ou, às vezes, até dentro da sala circulam joaninhas e formiguinhas; se possivelmente as crianças já
foram picadas por formigas e precisam entender a necessidade de ficar longe dos formigueiros; se
podem explorar as cores das borboletas que circulam na escola enquanto estudam sobre o ciclo
da vida? Tais questionamentos e muitos outros devem permear o pensamento de todo educador,
inquietando-o de modo que perceba as consequências das suas escolhas metodológicas. Seja para
a aprendizagem significativa ou não, tudo que o professor escolhe fazer com as crianças tem um
impacto na aprendizagem delas.
As salas de aula de educação infantil são celeiros para aprendizagens, e o trabalho com
projetos e sequências didáticas oferece o recurso ideal para isso. Assim, podemos considerar que, de
fato, trabalhar com Ciências Naturais e Humanas na educação infantil se traduz em um verdadeiro
conjunto de vivências, no qual é permitido experimentar, conversar, explorar e, claro, aprender.
• APRENDA como montar o melhor projeto escolar! Escola Educação. Disponível em:
https://escolaeducacao.com.br/aprenda-como-montar-o-melhor-projeto-escolar. Acesso
em: 18 nov. 2019.
Essa página descreve como elaborar cada etapa de um projeto, além de apresentar várias
ideias muito interessantes de projetos para a educação infantil. Nessas propostas, são
fornecidos os projetos já prontos para serem aplicados. Acesse-a e explore as muitas
possibilidades que ela oferece.
56 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Atividades
1. É possível afirmar que a experiência direta é uma boa alternativa para o trabalho com
sequências didáticas no eixo Natureza e Sociedade? Por quê?
3. É possível organizar projetos de trabalho na educação infantil mesmo com crianças tão
pequenas? Qual a importância dessa metodologia de trabalho no universo das crianças?
Referências
BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. 3. ed. Curitiba: Champagnat, 2000.
CORTEZ, C. O que um bom projeto para educação infantil precisa ter? Revista Nova Escola, São Paulo, 1
ago. 2013. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/50/o-que-um-bom-projeto-para-educacao-
infantil-deve-ter. Acesso em: 18 nov. 2019.
MEIRELLES, E. Como organizar sequências didáticas. Revista Nova Escola, São Paulo, 1 fev. 2014. Disponível
em: https://novaescola.org.br/conteudo/1493/como-organizar-sequencias-didaticas. Acesso em: 18 nov. 2019.
5
Aprender sobre natureza e sociedade brincando
Quais brincadeiras de infância você relembra? E quais delas foram feitas na escola? Será que
sua lembrança consegue alcançar as atividades desenvolvidas na escola de educação infantil em que
estudou, caso tenha estudado durante essa primeira fase da infância? De modo geral, todos temos
alguma lembrança das brincadeiras de que participávamos quando éramos crianças. Algumas são
tão boas que nos trazem sorrisos à face; outras, porém, podem não trazer tantas doces recordações:
alguém caiu, se machucou, foi excluído da brincadeira etc. Você brincou ao ar livre? Brincou com
jogos? Com os colegas de sala? Com amigos de rua? Com professores? Brincou em meios digitais?
Brincou do quê? Porque, de uma coisa ou de outra, todos nós brincamos em nossa infância –
principalmente na infância, mas durante a vida toda também.
Isso posto, este capítulo objetiva que você dirija seu foco à seguinte afirmação: a brincadeira
sempre esteve presente na infância e sempre estará. Na sua e na minha, na infância das crianças do
passado, do presente e do futuro.
Pense em sua reação, quando há dois parágrafos lhe pedimos sua lembrança. Via de regra,
as pessoas têm uma reação afetiva a essa memória. Você sorriu enquanto pensava? Alguma cena
passou pela sua cabeça?
As lembranças são recheadas da afetividade que estava presente naquele ato de brincar,
e é justamente essa afetividade que pode ter contribuído para gerar um aprendizado. Seja pelos
sentimentos envolvidos, seja pela convivência e o aceite necessário para participar, seja pelas regras
aceitas e cumpridas (ou não), a brincadeira diverte e ensina. O brincar é definitivamente algo
muito forte na infância.
Ao brincar a criança assume diferentes papéis, recria e repensa acontecimentos, articulando
imaginação, fantasia e realidade. A brincadeira é uma imitação da vida real, transformada no plano
das ideias e das emoções. Brincando, as crianças podem acionar mecanismos e resolver problemas
que são importantes para elas (BRASIL, 1998, v. 1).
Então, com tanta afetividade, interação e aprendizado envolvido, é fácil entender por que
encontramos nas brincadeiras uma forma lúdica de aprendizado e por que as brincadeiras e as
interações das crianças são os dois eixos estruturantes nos quais devem fundamentar-se todas as
práticas pedagógicas presentes nas salas de aula de educação infantil, como destacam em seu artigo
9º as Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010).
Neste capítulo, trabalharemos com três formatos diferentes para utilizar a brincadeira e o
lúdico como proposta metodológica para ensinar sobre ciências humanas e naturais na educação
infantil. Primeiro, com a ajuda das tecnologias digitais, na sequência, com jogos e brincadeiras, e
na terceira abordagem, com a realização das atividades permanentes. Convidamos o leitor para
refletir sobre como esses formatos podem ajudar nas aprendizagens infantis.
58 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Robert Kneschke/Shutterstock
Aprender sobre natureza e sociedade brincando 59
Então, com parcimônia e cuidado pedagógico, a tecnologia pode sim fazer parte das aulas
dos pequenos aprendizes. É isso que destaca o documento Base Comum Curricular Nacional
(BNCC), que listou as dez competências necessárias para a formação dos alunos da educação
básica brasileira (BRASIL, 2010)1. A quinta competência destaca o uso das tecnologias digitais e
de informação:
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação
de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais
(incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações,
produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria
na vida pessoal e coletiva. (BRASIL, 2010, p. 9)
É importante considerar que esse rol de competências indicado no documento deve ser
adquirido pelos alunos ao longo de toda a educação básica, que vai da educação infantil até o
ensino médio. Assim, é preciso dar um tratamento adequado a cada faixa etária, considerando suas
possibilidades e seus limites.
Mas como entender esses limites? A Sociedade Brasileira de Pediatria faz algumas
recomendações importantes que devem permear o trabalho com tecnologia nas creches e salas de
aula de educação infantil. Caberá aos profissionais da educação:
• Monitorar rigorosamente o tempo de exposição à tela digital na escola, de forma que a
soma não ultrapasse o limite recomendado de uma hora por dia entre crianças de 2 a 5
anos, considerando também o tempo que a criança passa em casa.
• Programar os dispositivos para acesso apenas a conteúdo de alta qualidade com eficácia
de aprendizagem demonstrada, discutido em equipe no planejamento pedagógico.
Observe que tempo, qualidade dos recursos, diversificação de materiais e parceria com os
pais são os principais itens abordados pelos pediatras. Com isso, é realmente relevante destacar
a importância do trabalho escolar que envolve o uso de recursos tecnológicos em parceria com
os pais dos alunos. A escola faz muito pela qualidade desse trabalho quando indica às famílias
quais sites, jogos ou programas podem ser utilizados pelas crianças.
Sugerimos nos próximos parágrafos algumas atividades que podem ser realizadas por meio
da utilização uso das tecnologias da comunicação e da informação com crianças da educação
infantil, bem como alguns cuidados que o professor deve ter.
Tablets podem ser excelentes recursos para pesquisas em projetos que estão em andamento.
Pela velocidade e quantidade da informação, o professor precisará, antes de entregar os tablets
nas mãos dos pequenos, selecionar sites, de modo que possa verificar o que aqueles procuram.
1 A lista completa das competências, o leitor confere no documento da BNCC, nas páginas 9-10, que pode ser acessado
via download no endereço http://basenacionalcomum.mec.gov.br/.
60 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Por exemplo: ao fazer uma pesquisa sobre os animais do jardim, as crianças podem realizar
outra sobre os diferentes tipos de formigas que existem. Como não sabem ler, é importante que
a pesquisa seja mediada pelo professor, mas seja feita por imagens. Outra opção para a pesquisa
com tablets diz respeito à história dos antepassados: é possível selecionar algumas imagens que
retratam o cotidiano da vida de pessoas que viveram em séculos anteriores ao nosso, e as crianças
podem comparar seu modo de se vestir, por exemplo, ou os meios de transporte disponíveis
agora com os que havia antes.
As crianças da educação infantil costumam encenar peças e criar histórias. Seria muito
interessante que o professor filmasse essas encenações/contações e depois as mostrasse a elas.
A conversa que decorrerá depois de terem assistido à própria atuação no vídeo certamente será
muito produtiva.
Muitos pais usam ferramentas de comunicação para mandar mensagens de áudio via
celular. Os pequenos também podem gravar áudios, convidando os pais para virem participar
de algum evento na escola, como reunião de pais ou apresentações. Além disso, as gravações de
áudio/vídeo podem ser feitas com as falas das crianças relatando suas aprendizagens e repassadas
numa reunião de pais, por exemplo. Que tal as próprias crianças apresentarem suas criações?
Alguns vídeos disponíveis em plataformas digitais são feitos para crianças dessa faixa etária.
Um dos exemplos está disponível na série de desenhos animados do canal do YouTube chamado
De onde Vem?, em que Kika, uma menininha de 6 anos, pergunta sobre a origem de muitas coisas,
como o papel, o fósforo e o açúcar. Feitos com dedicação e esmero, esses curtos vídeos são bem
interessantes para o trabalho com a educação infantil.
Com vídeos mais longos, a série Sid o Cientista também proporciona diversão e contato com
informações variadas sobre diversos elementos do mundo infantil, em uma animação que estimula
as crianças a levantar hipóteses sobre o mundo em que vivem, buscando respostas para muitas de
suas curiosidades.
Por fim, na série Mundo Bita, as crianças podem, por exemplo, aprender mais sobre geografia.
Um exemplo, é o vídeo deles sobre relevo geográfico (MUNDO..., 2019).
Destacamos que foram citados aqui apenas alguns vídeos no formato de animação infantil,
mas é possível e desejável utilizar partes de documentários para os trabalhos na escola, especialmente
sobre a construção de cidades, moradias, meios de transporte. Uma opção bem interessante é que,
por norma, as crianças brasileiras não têm contato com a neve. Seria bem interessante que, ao
trabalhar os fenômenos da natureza, as crianças assistissem um vídeo que mostrasse a elas como
é a neve. É muito importante que a criança pequena conheça a representação real dos seres e
objetos – na melhor das hipóteses, conhecendo-os pessoalmente, claro! –, para que aqui, tratando
especificamente de recursos audiovisuais, não conheçam as coisas do seu mundo apenas em forma
de desenho ou animação. Afinal, se pretendemos trabalhar com ciências humanas e naturais, é
preciso que a criança conheça o mundo como ele é em suas formas visíveis e invisíveis, modificadas
ou não pelo ser humano.
Aprender sobre natureza e sociedade brincando 61
Aplicativos são outro recurso tecnológico disponível para trabalhar ciências humanas e
naturais nas salas de educação infantil. Existe uma infinidade de modelos destinados à faixa etária,
mas é preciso que o professor analise sua escolha sob a óptica das aprendizagens infantis: que
aprendizagem decorrerá daquela aplicativo? Tenhamos muita atenção com estímulos em excesso,
pois podem atrapalhar o desenvolvimento ao invés de ajudar a criança.
Participar de atividades dividindo o elemento tecnológico também é parte do aprendizado
de socialização. Por isso, não se recomenda que em todas as atividades cada criança tenha um
tablet – considerando que essa não é a realidade da maioria das escolas brasileiras –, mas sim que
todas possam partilhar os elementos tecnológicos em pequenos grupos nos quais, além de brincar,
vão esperar o tempo do outro, vibrar com as conquistas dos colegas e dividir os seus sentimentos
de vitória e derrota. Tudo isso faz parte do desenvolvimento infantil. Entretanto, a exemplo do que
ocorre no dia a dia do mundo real, nada disso funcionará sem o trabalho pedagógico intencional
e planejado do professor.
Para o trabalho com Natureza e Sociedade, propomos algumas temáticas que podem
permear jogos e brincadeiras escolhidos pela escola (ARRIBAS, 2004):
• Temáticas relacionadas à vida da criança: à sua família, história, alimentação, vestuário.
• Estações que ocorrem ao longo do período escolar: primavera, verão, outono e inverno.
• Organização da vida humana: família, casas, rua, escolas, bairros, meios de transporte.
• Comemorações de festas relacionadas a seu ambiente: Festa Junina, Natal, Páscoa, Dia das
Crianças, comemoração de alguma profissão.
A seguir, apresentamos algumas sugestões de jogos que podem explorar as temáticas acima
e trabalhar conceitos das ciências humanas e naturais. Considere que a cada jogo ou brincadeira
escolhido, a criança, além dos conhecimentos pertinentes às áreas de história e geografia, também
aprenderá sobre si mesma e sobre os outros:
• Memória – cartões com imagens relativas ao que está sendo trabalhado, como roupas que
se usam em determinada estação.
• Saco surpresa – tirar objetos de um saco ou caixa e descrevê-los considerando cor, forma,
textura etc. Identificar os objetos pelo tato, procurando por ele sem olhar após a professora
dizer o nome.
• Jogos com bola – o professor joga a bola para uma criança, que precisará dizer, por
exemplo, o nome de um objeto que se usa em dias de chuva.
Dificilmente uma proposta de Natureza e Sociedade vai deixar de lado a Matemática e/ou
a Língua Portuguesa, por exemplo.
• Com qualquer metodologia escolhida, é importante considerar que o trabalho pedagógico
de planejamento do professor deve incluir conteúdos relacionados a procedimentos –se
estamos falando de roupas próprias para as estações do ano, falaremos também sobre
o cuidado com essas roupas –, habilidades, destrezas – como jogar uma bola com as
mãos ou com os pés, movimentar um pino, dobrar um papel –, atitudes, em relação a si
mesmo e ao outro, valores e normas – a criança consegue seguir as regras e normas?Por
quê? Como melhorar isso?
• Os temas escolhidos podem – e devem – ser originais. Não precisam ser todos prontos
e escolhidos pelo professor. A partir das escolhas dos alunos, ele pode montar os jogos
e atividades lúdicas pertinentes.
• Os temas escolhidos para os jogos e brincadeiras devem propor algum conflito para a
criança. Pequenos probleminhas (como quando a criança tira um objeto igual, mas de
cor diferente, no jogo da memória, e para acertar precisa ser da mesma cor) faz a criança
pensar e argumentar sobre o assunto e assim construir e reconstruir seu conhecimento.
Seja jogando com regras, brincando consigo mesma, com o professor ou com outras
crianças, aprender brincando é um gostoso exercício de conhecimento para as crianças pequenas.
Assim, caberá ao professor escolher incluir a observação, a experimentação e a associação de
ideias em atividades lúdicas. A figura do professor na inserção de jogos e brincadeiras para as
crianças é fundamental. É ele quem fará as escolhas e os comentários, as pequenas inserções que
farão a criança refletir, pensar, mudar.
De acordo com Gisele Wajskop (2009, p. 112),
a brincadeira deve ocupar um espaço central na educação infantil, e a
professora é figura fundamental para que isso aconteça, criando os espaços,
oferecendo-lhes material e partilhando das brincadeiras das crianças. Agindo
desta maneira, ele possibilitará às mesmas uma forma de acender às culturas e
modo de vida adultos, de forma criativa, social e partilhada.
É pertinente outra consideração sobre a escolha dos temas: embora os temas propostos,
especialmente neste caso, em que nossa abordagem diz respeito ao estudo das ciências humanas
e naturais, devam estar ligados ao ambiente sociocultural e natural das crianças, isso não
significa que devem estar sempre ligados à realidade mais próxima (ARRIBAS, 2004). O ponto de
referência da aprendizagem continua sendo o interesse infantil, mas em muitas vezes é possível
ampliar esse interesse, como no caso dos estudos dos planetas. Professores, fiquem atentos às
suas propostas para que as atividades dirigidas e espontâneas possam fazer com que as crianças
se envolvam com maior ou menor iniciativa, dependendo do seu interesse e da faixa etária da
turma. De qualquer forma, todo o ensino da educação infantil deve ser lúdico, divertido, cheio
de descobertas e risadinhas infantis.
64 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
relevante relembrar ao leitor que a divisão por áreas não acontece no mundo real da criança,
então ao mesmo tempo em que a turma está realizando trabalhos de natureza artística
pode ocorrer a integração de conhecimentos das áreas das ciências humanas e naturais.
Tais espaços proporcionam momentos riquíssimos de integração e desenvolvimento das
crianças pequenas.
• Cuidados com o corpo: a educação infantil sempre terá sob sua responsabilidade o
binômio cuidar e educar. Por conta da faixa etária das crianças, educação e cuidado
– especialmente com o corpo da criança – estarão sempre presentes nas propostas.
Atividades de higiene, de respeito ao seu corpo e ao do outro e de percepção corporal
são algumas das que serão feitas diariamente e podem ser parte do trabalho das ciências
humanas e naturais.
• Materiais que representem a realidade: panelas, lupas, bonecas, fogões (de brinquedo)
telefone, teclado de computador, camas, casinhas de boneca.
Com tantas opções de trabalho, um cuidado que o educador precisa ter é equilibrar a repetição
de atividades diárias – estas devem ser variadas para que não seja feita sempre a mesma coisa.
Reinventar o cotidiano da educação infantil utilizando as atividades permanentes disponíveis
não só é possível como é altamente desejável. Caberá ao professor e à equipe pedagógica do colégio o
entendimento de que não se trata da quantidade de opções – mesmo que elas sejam muitas –, mas
da qualidade do trabalho que será realizado a partir delas.
66 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Considerações finais
É muito importante que os professores desenvolvam suas ações educativas na educação
infantil com opções metodológicas mais lúdicas, considerando a idade e os interesses da
faixa etária atendida quando do trabalho com o eixo Natureza e Sociedade. Assim, atividades
permanentes, tecnologia e jogos e brincadeiras, se bem planejados, são excelentes opções que
podem auxiliar na construção do conhecimento infantil no campo das ciências humanas e
naturais na educação infantil.
Jogos e brincadeiras são naturalmente uma opção nas escolas de educação infantil, tanto
pelo caráter lúdico e divertido quanto pelo interesse das crianças. São, portanto, as primeiras
escolhas quando se trata de encontrar metodologias a partir das quais a criança pequena
possa aprender brincando. O que se espera é que professores possam propor variados jogos e
brincadeiras com temáticas diferenciadas, inclusive com a construção das propostas feitas pelas
crianças, que brincando conhecem seu mundo.
As crianças da educação infantil são nativos digitais, ou seja, nasceram em um mundo
recheado de opções tecnológicas, e não raro têm acesso a elas em maior ou menor número em suas
residências. A escola não deve ficar alheia a esses fatos, mas precisa oferecer propostas de qualidade
para o uso desses recursos tecnológicos, o que também servirá para ajudar os pais a construir
caminhos nesse sentido. As opções tecnológicas podem fazer parte de atividades que envolvam as
áreas das ciências humanas e naturais como complemento, não como atividade principal. O ideal
para essa faixa etária é que a criança vivencie no mundo real a maior quantidade de estímulos que
conseguir; nesse contexto, a tecnologia pode ajudar.
As diversas atividades permanentes desenvolvidas na educação infantil são uma grande
possibilidade de aprendizagem infantil se forem bem planejadas por professores e equipe
responsável. Para isso é muito importante pensar na qualidade, bem como na quantidade de
materiais oferecidos, e de igual maneira nas propostas educativas que serão ofertadas.
De modo geral, a opção metodológica escolhida pelo professor para trabalhar com as
temáticas do eixo Natureza e Sociedade precisa ser considerada dentro do espectro das possibilidades
e interesses das crianças, tanto no que diz respeito à faixa etária em que se encontram quanto
em relação ao local onde está localizada a escola. Interesses regionais são muito bem-vindos e
abrilhantam as propostas.
Quanto de fato a tecnologia pode estar presente nas aulas da educação infantil? Em
resposta a perguntas como essa, a Sociedade Brasileira de Pediatria, por meio dos
Departamentos Científicos de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento e de
Saúde Escolar, lançou em 2018 um manual que indica como deve ser o uso saudável das
telas tecnológicas para bebês e crianças da educação infantil. Você se surpreenderá com
os dados relatados numa pesquisa sobre isso.
• SILVA JUNIOR, H.; BENTO, M. A. S.; CARVALHO, S. P. (coord.). Educação infantil e
práticas promotoras de igualdade racial. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.
abong.org.br/bitstream/handle/11465/779/1592.pdf?sequence=1. Acesso em: 7 nov. 2019.
Falar em propostas diferenciadas para atender ao universo das crianças de educação infantil
é também falar sobre diversidade racial. Nas atividades de conhecimento e costumes de
diferentes povos as origens das crianças devem ser consideradas e diferenciadas. Desse
modo, vem à tona a seguinte pergunta: como as questões de diversidade racial estão sendo
tratadas nas unidades educativas da educação infantil? Para mais informações sobre isso,
visite o site.
Atividades
1. Jogos e brincadeiras são opções metodológicas muito trabalhadas nas escolas de educação
infantil, por seu caráter lúdico. De modo geral as crianças gostam muito de brincar e jogar.
Assim sendo, incorporar conteúdos das ciências humanas e naturais não acabará por deixar
os jogos e brincadeiras desagradáveis e impositivos, tirando deles o caráter lúdico? Qual o
papel do professor nesse contexto?
2. Relate uma ação metodológica para crianças de educação infantil que possa ser realizada
com a ajuda e complementação de um instrumento tecnológico, justificando o porquê do
uso das tecnologias em salas de aula com crianças tão pequenas.
Referências
ARRIBAS, T. L. et al. Educação infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. Tradução de
Fátima Murad. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC,
2010.
68 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
BRASIL. Ministério da Educação. BNCC - Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 16 out.
2019.
MUNDO Bita. O nosso relevo. Mr. Plot Produções. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=8nZLhuef4QM. Acesso em: 7 nov. 2019.
RIZZI, L.; HAYDT, R. C. Atividades lúdicas na educação da criança. São Paulo: Ática, 1994.
USO saudável de telas, tecnologias e mídias nas creches, berçários e escolas. SBP – Sociedade Brasileira de
pediatria. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/uso-saudavel-
de-telas-tecnologias-e-midias-nas-creches-bercarios-e-escolas/. Acesso em: 6 nov. 2019.
Se perguntassem a você, hoje, por que decidiu ser professor de crianças pequenas, qual
seria a sua resposta? Com certeza, em algum momento durante a sua reflexão, você pensou na
frase “eu gosto de crianças”. Claro, não se espera que alguém vá se atrever a fazer um trabalho
tão intenso quanto o de lecionar para crianças pequenas sem pelo menos gostar delas, não é?
A verdade é que, por muitos anos, em décadas anteriores, responder à pergunta em questão
com a frase “eu gosto de crianças” era a garantia de que aquele professor faria um bom trabalho
docente. Obviamente, naquele contexto estava bem destacado que, ao afirmar que gostava de
crianças, o professor faria o maior trabalho que a educação infantil poderia demandar: o de
cuidar de crianças por alguém que goste delas.
Atualmente sabemos que não é bem assim. Embora gostar de crianças seja realmente
muito importante para o trabalho docente, especialmente nas faixas etárias compreendidas
entre 0-5 anos, em que a afetividade é medida e exercida diariamente, é preciso compreender
que educar crianças pequenas vai muito além de gostar delas. Com os avanços dos estudos
sobre desenvolvimento infantil realizados ao longo dos anos, o olhar sobre as possibilidades de
aprendizagem das crianças mudou e alcançou outras perspectivas que trouxeram à tona tanto a
questão da formação desse profissional da educação, bem como o cuidar e o educar destacados
como binômio indissolúvel na educação de crianças de 0-5 anos.
E, assim, com muitas reflexões, documentos e legislações próprias, como o Referencial
Curricular Nacional e as Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil, a educação infantil
reafirma seu caráter de primeira etapa da educação básica, com muitos desafios à sua frente,
para cada vez mais avançar no cuidado e educação dos bebês e crianças pequenas. Um desses
desafios é a qualificação profissional do professor e a sua decorrente prática pedagógica, assunto
tratado neste capítulo.
O censo escolar brasileiro, realizado em 2018 (INEP, 2019), aponta que houve crescimento
de aproximadamente 24% de crianças matriculadas na educação infantil apenas nos anos
compreendidos entre 2014 e 2018. Os dados das escolas também impressionam: são 69,7 mil
creches, das quais 59,4% fazem parte da rede pública municipal e 40,4% da rede privada. É
relevante destacar que a maioria das escolas de educação infantil está localizada nos meios
urbanos (76%) (SILVA, 2019).
Os números colocados anteriormente têm uma função primordial: salientar aos leitores
que o desafio de realizar uma educação de qualidade para todo esse universo de crianças,
disposto geográfica e culturalmente em locais tão distintos, não é realmente uma tarefa fácil,
mas desafiadora e necessária.
Vamos refletir um pouco: uma das principais finalidades da educação infantil, entendida
como primeira etapa da educação básica, é a de potencializar e favorecer o desenvolvimento máximo
de todas as capacidades infantis, com respeito à diversidade e às possibilidades dos diferentes
alunos. É isso que está destacado no artigo 29, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:
“a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996).
Atualmente, contamos com legislações e documentos que podem ajudar na realização do
fazer profissional nas salas de aula de educação infantil (BRASIL, 1998; BRASIL, 2010), bem como
documentos que oportunizam reflexões muito interessantes sobre a primeira infância no Brasil
(BRASIL, 2016). Entretanto, nenhum desses documentos será relevante se o seu conteúdo não tiver
eco nas salas de aula de todo o país.
É necessário relembrar que, há algumas décadas, a educação infantil, especialmente a pré-
escola, era considerada uma etapa anterior à escola e devia somente preparar a criança para a
entrada no mundo escolar. Isso era feito por meio de atividades que se aproximavam do universo
que a criança encontraria na próxima etapa – ensino fundamental ou primário, ou, ainda, primeiro
grau. Nesse contexto, os conteúdos valorizados na educação infantil eram centrados numa
metodologia que utilizava muitas folhas de papel. Imaginem que as aulas de História e Geografia
eram basicamente preenchimento de folhas de papel, nada de mapas do mundo real, nada de
estudos com significado para as crianças, nada de experiências ao ar livre, nada de pesquisas.
É importante dar destaque ao fato de que as crianças, quando envoltas nessas metodologias
das atividades no papel, até realizavam passeios e algumas experiências, mas elas eram poucas e
quase insignificantes no quesito interesse das crianças e sempre acabavam com uma folha de papel
em que a criança deveria realizar alguma atividade psicomotora sobre algo que havia feito. Mesmo
com a mais interativa das atividades, o destaque à atividade do papel era bem grande.
Nisso, reside o desafio de fazer diferente, que dá título a esta seção. O desafio de romper com as
práticas do passado e avançar com o desenvolvimento de boas práticas que possam, de fato, valorizar
a criança na idade que ela tem, com suas inúmeras possibilidades. Então, professores precisam gostar
das suas crianças, sim. Precisam cuidar delas, mas precisam, sobretudo, entendê-las, para que possam
propor metodologias que levem em conta sequências didáticas, projetos, uso de tecnologias, jogos e
Desafios do professor da educação infantil 71
garantir que todas as crianças matriculadas tenham uma educação de qualidade? Como considerar,
sobretudo no Brasil, onde há uma acentuada diversidade cultural e muitos problemas sociais, as
necessidades e os interesses dos estudantes, assim como suas identidades de língua, seus sotaques,
suas diferenças étnicas e culturais?
É nesse ponto que entra a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), que propõe
os eixos de aprendizagem e os conteúdos que devem ser trabalhados em todas as escolas do país.
A BNCC não restringe o que pode ser ensinado além do conteúdo previamente preparado, mas
destaca que é necessário que se siga o que está registrado em seu documento. A escola de educação
infantil é livre para escolher sua metodologia, levando em conta o brincar e a interação necessária
com as outras crianças, com os professores, com as famílias e demais pessoas de seu entorno, e
a necessidade de que os conteúdos sejam abordados de forma a garantir o interesse da criança,
proporcionando aos pequenos uma aprendizagem significativa.
Diante do que foi visto até aqui, perceba que é possível fazer uma educação infantil diferente.
Embora a tarefa não seja fácil, considerando que, historicamente, o Brasil carrega o vestígio de
ter formas de educação muito diferentes nas suas regiões, principalmente por conta da condição
socioeconômica das famílias, uma proposta que una todos em torno de uma educação infantil de
qualidade deve ser encarada como um bom incentivo para a mudança.
• Ajudar com as dificuldades já mapeadas das crianças para que seja possível orientá-las
individual e coletivamente, com o auxílio necessário – por exemplo, propor alternativas
metodológicas que possam absorver uma criança que não enxerga (BASSEDAS;
HUGUET; SOLÉ, 1999, p. 114).
Olga1818/Shutterstock
A sala de aula precisa se transformar num espaço motivador, um lugar que, na maioria das
vezes, é o ponto de partida para novas experiências, que acolha diversas atividades, lugar de jogos
e de festas que, inclusive, converte-se em dormitório, quando a escola não tem um outro local
para isso, e refeitório. Os materiais devem estar ao alcance das crianças, elas devem saber onde
estão guardados, devem ajudar a organizá-los. Todos os objetos dispostos devem obedecer a uma
ordem concreta de utilização e a criança precisa entender isso. A autonomia vai sendo trabalhada à
medida que as crianças usam e guardam esses materiais, à medida que escolhem com que materiais
vão realizar uma atividade, por exemplo (ARRIBAS, 2004).
Novamente, destacamos que a ação do professor precisará ser a de canalizar o desejo
de aprender dos pequenos, motivando as crianças, incentivando-as a buscar respostas (nem
sempre a resposta certa ou a completa, mas aquela que eles conseguem elaborar na idade em
que estão). O protagonismo infantil deve ser levado a sério e incorporado nas ações de todo
professor da Educação Infantil.
Desafios do professor da educação infantil 75
nunca cessará. Não estamos tratando aqui somente da formação acadêmica, da realização de uma
faculdade de Pedagogia, mas dos pequenos cursos e capacitações continuadas que devem fazer
parte do dia a dia dos profissionais. Sim, porque os professores precisam falar sobre sua prática,
precisam escrever sobre ela, precisam partilhar suas angústias e suas vitórias com colegas que
possuem rotinas similares. O professor precisa pesquisar – e hoje, com a internet, fica tudo mais fácil
– sobre práticas profissionais que podem demonstrar se as suas escolhas estão seguindo o que há
de mais moderno dentro da área, alcançando as maiores e melhores possibilidades metodológicas,
que podem fazer toda a diferença na educação dos seus alunos.
Em linhas gerais, é comum que, quando se imagina a formação dos professores, isso seja
concebido como algo distanciado do seu cotidiano de trabalho. É quase como se fosse correto
considerar que existe um tempo de estudar e um tempo de trabalhar. Hoje, contudo, essa formação
precisa estar articulada com a realidade para que possa de fato auxiliar o professor nas suas demandas
imediatas. É preciso destacar, porém, que é muito importante que o professor participe de formações
continuadas fora dos muros escolares, uma vez que elas vão apresentar realidades diferentes,
complementando conhecimentos que ele já tem e levantando ideias para outras propostas.
E é nesse contexto que se vai construindo a formação continuada. Pode ser feita dentro ou
fora da escola, em grandes congressos ou em pequenos encontros, nas pesquisas de um trabalho
universitário ou na busca de ideias para um planejamento mais interessante. O mais relevante,
nesse contexto, é que não basta que o professor frequente as incursões pedagógicas previstas pela
escola, ou que cumpra com os trabalhos propostos pelas faculdades e cursos que frequenta, é
preciso que ele próprio pesquise, se interesse, busque mais conhecimentos por conta própria. A
busca pelo conhecimento precisa arder dentro dos profissionais da educação. Afinal, se queremos
criar crianças protagonistas da sua aprendizagem, é justo afirmar que teremos que ter professores
protagonistas das suas ações, não?
E, assim, seguimos o caminho da educação de crianças pequenas, com professores
qualificados e capazes de ajudá-las em seu pleno desenvolvimento, porque nunca se esqueceram
que para ajudar alguém primeiro é preciso ajudar a si mesmo.
Considerações finais
Professores são responsáveis pela qualidade da educação ofertada nas salas de aula de Educação
Infantil. Em conjunto com os demais partícipes da comunidade educativa, podem escolher técnicas
e procedimentos que façam a diferença nos ensinamentos ou optar por práticas antigas e que não
encantarão as crianças de hoje. E, hoje, é preciso encantar as crianças para ensiná-las.
Não são poucos os desafios que os profissionais da Educação Infantil precisam encarar,
um dos quais diz respeito às mudanças metodológicas que trouxeram uma nova visão do
protagonismo infantil, que requer muita habilidade do professor. Só dará certo deixar a criança
exercitar seu espírito de pesquisa, sua opinião e suas escolhas, com um professor que entenda
que isso faz toda a diferença para o desenvolvimento e crescimento infantil.
Desafios do professor da educação infantil 77
E, assim, diariamente os professores são desafiados a fazer diferente do que faziam, a reverem
suas práticas, para alterar os resultados obtidos. Com tanta informação disponível, o professor
também precisa estar em constante mudança, em constante crescimento, com uma formação
continuada e diversificada, que lhe permita aprender e partilhar seus saberes com seus pares
variados – da mesma escola, de outras escolas, de outros estados, cidades e porque não países.
Assim, frequentar cursos, seminários, semanas pedagógicas e congressos é condição fundamental
para que o professor obtenha artifícios para conduzir sua prática educativa antenada com a
modernidade, com estudos e propostas que possam mudar a realidade educacional deste país,
possibilitando a todas as crianças menores de 5 anos uma educação divertida, feliz e de qualidade.
• MELLO, A. M. (org.). O dia a dia das creches e pré-escolas: crônicas brasileiras. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
Uma excelente leitura que demonstra como pode ser possível uma educação com a criança
como protagonista das atividades cotidianas. É uma leitura que traz muitos exemplos que
o professor pode aproveitar em sua prática.
Atividades
1. Como a sala de aula pode ser considerada um espaço que propicie à criança ser protagonista
da sua aprendizagem?
2. Qual é a importância da formação continuada para uma boa prática docente na Educação
Infantil?
3. Quando se afirma que os professores devem realizar práticas diferentes das que eram
realizadas há alguns anos, o que se espera desse profissional, principalmente na questão das
escolhas metodológicas?
78 Metodologia do ensino de Natureza e Sociedade
Referências
ARRIBAS, T. L. et al. Educação infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. Tradução de
Fátima Murad. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Tradução de Cristina Maria
de Oliveira. Porto Alegre: Artmed, 1999.
BIDDULPH, S. O segredo das crianças felizes. Tradução de Ricardo Piva e Flávia Piva. São Paulo: Fundamento, 2003.
BRASIL, Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 12 nov. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC,
2010. Disponível em: https://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf. Acesso em:
29 nov. 2019.
BRASIL, Lei n. 13.257/16, de 8 de março de 2016. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
9 mar. 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm.
Acesso em: 12 nov. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. BNCC - Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 12 nov. 2019.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sinopse Estatística da
Educação Básica 2018. Brasília: INEP 2019. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/sinopses-estatisticas-
da-educacao-basica. Acesso em: 12 nov. 2019.
SILVA, G. Censo Escolar 2018: matrículas da educação infantil crescem 11,1%. Educa Mais Brasil, 5 fev. 2019.
Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/censo-escolar-2018-matriculas-da-
educacao-infantil-crescem-111. Acesso em: 20 nov. 2019.
3. Sim. O ambiente que circunda os bebês e as crianças pequenas pode ser um grande
diferencial nas aprendizagens desses pequenos. Ambientes pensados e planejados para essa
faixa etária, que instigam as crianças e que possuem mobiliário que permita deslocamentos
amplos, desafiam a criança. A exploração do ambiente, direcionada ou não por um adulto,
mas sempre cuidada por ele, é a propulsão de muitas aprendizagens dos pequenos. As
crianças aprendem explorando seu ambiente. Este, por sua vez, deve ser pensando de forma
a proporcionar tal exploração.
2. Aqui a escolha é do aluno. Apresentamos duas opções, mas outras são consideradas também,
pois a proposta não se esgota.
• Categorização: permite que a criança perceba que diferentes características podem ser o
elo agrupador das plantas.
• Cuidados necessários para a manutenção da vida: a criança elencará ações necessárias
para o bem-estar daquele ser vivo.
2. Sim. A vantagem é que em uma discussão crítica, que nada tem a ver com a discussão
focada em brigas, cada criança defende seu ponto de vista e, desse modo, encontra
pontos de vista semelhantes ou divergentes. As posições de cada criança nessa discussão
lhes ensinam muito sobre respeito, convivência, paciência, admitir que as posições dos
colegas podem não ser as mesmas que as suas etc., além, claro, de mostrar a elas aspectos
diferenciados de uma mesma aprendizagem.
Gabarito 81
2. A primeira parte dessa resposta é pessoal. Uma interessante atividade que o professor pode
fazer é pesquisar, em um tablet, imagens diferentes de animais até encontrar, por exemplo,
alguns passarinhos que existam nos arredores da escola ou nas residências de alguns alunos.
O uso das tecnologias pode deixar muito mais rica e variada uma pesquisa, e isso ajudará
a transformar a velocidade com que são obtidos e a quantidade de conhecimentos que
as crianças podem ter sobre alguns assuntos. Além do mais, elas nasceram como nativos
digitais, portanto, as tecnologias, desde sempre, fazem parte do mundo que elas conhecem.
3. Espera-se que ele proponha atividades que desafiem as crianças, atividades que sejam
interessantes e significativas para elas e que possam fazê-las avançar no seu desenvolvimento
intelectual, fazendo-as refletir para encontrar respostas. Em linhas gerais, espera-se que
ele desenvolva e proporcione a seus alunos práticas com mais ação e menos folha de papel.
Metodologia do Ensino de Natureza e Sociedade
d o E ns ino de
Metodologia
Natu re z a
e Soc iede
d a
d e L u c a Dalla Valle
L u c ia n a
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6570-7