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Mente Perturbada

Você já se viu tentando entender a mente de uma pessoa?

Opiniões, atitudes, e até mesmo escolhas diferentes das que nós pensamos podem
nos deixar confusos ao nos perguntarmos do por que aquela pessoa pensou naquela
tal atitude ou decidiu escolher aquela específica opção.

Será que Emily estava preparada para tantos pensamentos que lhe invadiram ao
tomar aquela decisão? Até porque… não existe crime perfeito, mesmo que na sua
posição como assassina de uma homicídio culposo (sem intenção de matar) ainda
sim, nossa mente às vezes nos maltrata com tantos pensamentos que na maioria
das vezes, não somos fortes o suficiente para aguentar.

Na noite em que tudo aconteceu, Emily saiu da cidade, sem antes passar no quarto
em que a mesma ocupava na tal pousada no centro da cidade, e pegar sua única
mala de mão que estava quase intacta. Emily também fez questão de limpar
qualquer coisa em que estavam as suas digitais.

E então, Emily olhou o quarto uma última vez, e ao se confirmar de que tudo estava
como se ninguém tivesse se hospedado naquele lugar, ela fechou a porta, claro…
sem antes limpar a maçaneta que ela havia tocado, e após tranca-lá, desceu para a
recepção da pousada onde ela fez o check-out logo depois agradecendo a uma
garota de mais ou menos dezessete anos que estava do outro lado do extenso
balcão.

Umas horas depois, ao sair da cidade em um avião de volta para São Francisco
(Califórnia) Emily tinha diversos pensamentos ao longo do voo de volta para sua
casa.

" Será que já encontraram o corpo? "

" Impossível! São quatro da madrugada, quem ainda estaria acordado à essa hora? "
Outros vários pensamentos se apossaram do subconsciente de Emily, fazendo
assim, ela adormecer o restante do voo.

Emily acordara com uma leve cutucada que foi dada por sua "vizinha" de assento.
Após realmente acordar, e perceber que tinha finalmente chegado em São
Francisco, Emily deu um leve e exausto sorriso de agradecimento à moça que tinha
lhe acordado.

" Que gentileza! Ela poderia muito bem nem ter se importado em me acordar. Será que
realmente existem pessoas boas? "
Emily se questionava enquanto pegava sua mala de mão e descia do avião.

" E eu? Será que eu sou uma pessoa boa? "

O subconsciente de Emily começou a judiar da mesma que já estava a duvidar da


sua própria índole.

Emily não fazia ideia de como seria sua vida a partir dali, a partir do tal acidente.
Mas, ela, talvez, soubesse que sua mente não a deixaria pensar naquela noite como
ela realmente foi, um acidente.

Emily então pediu um táxi após sair do aeroporto, e seguiu caminho até a sua casa,
que foi dado o endereço da mesma para o homem já de idade que parecia muito
simpático, e seguiu o caminho inteiro calada e ainda muito pensativa.

Ela não sabia como iria conviver com aquilo, mas não era justo! Por que ela teria
que simplesmente aprender a conviver com algo que aconteceu por causa de outra
pessoa.

Não é?

" Se Anna não fosse uma má pessoa na adolescência, eu não teria sofrido tanto e não
teria ido atrás dela a procura por respostas. "

" Droga! "

Tempo depois, Emily chegou em sua casa, desfez a mala de mão, e seguiu para seu
banheiro em busca de um banho relaxante.

Então, ela abriu a ducha e entrou debaixo da corrente de água, e sentindo-se um


pouco mais calma e relaxada após longos minutos debaixo d'água.

Com os pensamentos avoados, Emilly mal notou que sua campainha tocava
insistentemente, e então, ela saiu as presas do banheiro, com uma toalha envolta
do corpo, com os cabelos molhados e pés descalços, Emily abriu a porta somente
depois de ver através de um dos vidros decorativos que ficava, cada um, ao lado de
sua porta.

A mulher ficou surpresa ao ver uma moça, até então, nova, de cabelos longos e
escuros, com uma pele de um tom marrom claro e olhos grandes da cor preta.

Emily decidiu abrir a porta, encontrando a moça com uma cesta em mãos, cheia de
guloseimas e uma garrafa de vinho tinto.
Emily sorriu, cumprimentando a mulher em sua frente com um "boa tarde" que foi
devidamente retribuído pela moça desconhecida.

Elas então engataram em uma amigável conversa após a moça, que Emily soube
que se chamava Rebeca, lhe entregar a chamativa cesta de guloseimas.

Rebeca, por sua vez, disse que tinha se mudado para o bairro há umas duas
semanas, e quando chegou, bateu na porta de Emily, mas não obteve sucesso em
descobrir quem morava na casa de frente à sua. Mesmo assim, Rebeca ficou feliz
por saber que quem morava em frente a sua casa, era uma mulher muito simpática
e que compartilhava da mesma idade que a sua (25 anos).

Quando a longa conversa se encerrou, logo após Emily perceber que ainda vestia
apenas uma toalha, pediu perdão a Rebeca por não ter a convidado para entrar, o
que fez a morena apenas assentir com a cabeça e dizer que as duas teriam mais
oportunidades para se conhecerem melhor. Emily entrou, fechou a porta, e
procurou uma roupa adequada para se vestir naquela tarde.

Semanas se passaram e Emily, como não tinha muitos amigos, apenas uma amiga
de infância, Chloe, que tinha viajado em uma lua de mel com seu esposo, e morava
um pouco longe de sua família, Emily ficou feliz ao perceber que a amizade que
acabara de acontecer com Rebeca, estava fluindo muito bem.

Ao longo daquelas semanas, as duas saiam, jantavam juntas, iam ao cinema e


faziam compras. Coisas de garotas.

Emily até então não pensava mais na fatídica noite em que cometera assassinato.
Mesmo assim, acontecimentos desse tipo, não somem com tanta facilidade das
nossas memórias, não é mesmo?

Mais semanas se passaram, e o subconsciente de Emily estava pior do que quando a


mesma saiu da cidade onde Anna morava, após deixar o corpo da mesma
abandonado em frente a uma igreja.

Flashbacks daquela noite começaram a se fazer presente nos sonhos de Emily, e


então, o verdadeiro pesadelo começou.

Emily, toda vez que decidia tomar um banho de banheira, via Anna na mesma, com
o corpo esparramado, os olhos arregalados, pálida, suas unhas limpas e com a tão
bonita rosa em sua mão direita.

Era demais para Emily!


Ela não merecia tanto peso na consciência, não merecia o horror que estava
vivendo durante aquelas semanas, tirando o medo que sentia quando pensava que,
obviamente, já tinham encontrado o corpo

Emily ficou em dúvida se contava ou não para Rebeca, sua mais nova amiga, sobre
seu estúpido ato. Mesmo porque, Emily começou a se questionar se ir atrás de
Anna, e, principalmente, ter de certa forma, causado a morte dela, tinha sido
realmente o carma de Anna e a justiça que Emily merecia.

Em uma tarde bem feia e chuvosa, Emily se sentou em sua poltrona e pegou seu
notebook, passou horas pesquisando, tentando achar alguma notícia que se referia
ao que tinha acontecido com Anna, até ela achar um perfil com notícias da cidade.

" Droga! "

Estava lá, em um dos posts, no perfil de notícia oficial da cidade, estava lá!

Matereria

Jovem mulher de vinte e cinco anos comete suicídio no dia 19/04/2011. Especialistas
informaram que a mesma, supostamente, tenha se jogado do alto de uma torre de igreja
onde a mesma frequentava, segurando uma rosa em sua mão direita.

" Supostamente? Como assim supostamente? "

Uma pequena palavra fez o corpo de Emily estremecer. Mesmo assim, ela decidiu
continuar lendo a notícia.

A Polícia informa que o corpo estava com alguns hematomas, com a maioria deles sendo
arranhões, e outras sendo marcas roxas que provavelmente foram causadas pela queda.

Algumas pessoas, como amigos e familiares da vítima, duvidam que Anna acabaria com
sua vida, ainda mais dessa forma. Segundo a Mãe de Anna, a mulher era feliz, rodeada
de amigos e famílias, não tinha motivos para cometer suicídio. A polícia continua
investigando o caso, com mais dúvidas sobre o que de fato aconteceu na noite em que a
vítima morreu.

Atualização

Detetive informa que após revistarem, inúmeras vezes, o local, foi encontrado um
chaveiro com dois dados da cor rosa, debaixo da escada da torre.

" Mais que merda! "


O corpo de Emily reagiu pior ainda após se lembrar do chaveiro com dois dados
rosas que tinha ganhado de sua mãe. Emily ficou com medo ao pensar que
provavelmente encontraria suas digitais nos dados.

E mais uma vez, Emily, como se estivesse revivendo aquela noite, se lembrou do
que fez, e de como fez. Como se ela fosse a pessoa mais fria que já existiu no
mundo.

" Eu poderia ter feito diferente "

Mas já era tarde, não é? Ela abandonou a cena do crime, fazendo assim, sentenciar
a sua culpa.

Ao lembrar do corpo de Anna, Emily fechou com força a tela do notebook, e como já
estava de noite, decidiu dormir.

Em meio a madrugada, um novo pesadelo veio. O corpo de Emily estava pálido, a


mesma suava frio e tremia devido ao terrível sentimento que sentia ao ver o corpo
de Anna em sua banheira.

" O QUE VOCÊ QUER DE MIM? NÃO FOI MINHA CULPA. NÃO FOI MINHA CULPA! "

Emily gritava para o corpo sem vida da mulher que permanecia imóvel, e então, os
olhos de Anna se direcionaram para Emily, que na mesma hora teve seu rosto
tomado pela expressão de horror e medo. E assim, Emily acordou ofegante e suada,
se sentando rapidamente em sua cama, suspirou, fechou os olhos, e abraçou suas
pernas, escorrendo de suas bochechas lagrimas de sofrimento, medo e angústia,
pelo resto da noite.

Na manhã seguinte, Rebeca estava feliz! Pois tinha acabado de conseguir o


emprego dos sonhos, um estágio de fotografia em uma das empresas mais famosas
de São Francisco.

Ela planejava que Emily fosse a primeira a saber, as duas estavam tão próximas.
Rebeca conheceu outras pessoas da cidade, claro, mas quem ela podia chamar
mesmo de amiga, era Emily.

Mas por que Rebeca não sabia tanto assim de Emily como Emily sabia dela? Rebeca
contara sobre sua família, seus amigos de sua antiga cidade, seu tempo no colégio,
e até de seus paqueras.

Deixando esse questionamento de lado, Rebeca seguiu caminho até a casa de Emily,
bateu na porta, mas não obteve nenhuma resposta, bateu de novo, mas nada.
Rebeca achou estranho, pois na manhã anterior, Emily deixou claro que não sairia
no dia seguinte.

Rebeca então desceu um degrau da escada no centro da casa, puxou o típico tapete
que ficava em frente a porta de Emily, pegou a chave reserva, destrancou a porta e
entrou.

Colocando a chave na mesinha ao lado da porta, Rebeca chamou por Emily, porém,
mas uma vez, ela não obteve resposta. Decidiu então por ir até o quarto da mesma.
Rebeca entrou e não avistou ninguém, mas ela conseguiu ouvir um barulho de água.

" Água? "

Rebeca pensou, virando os calcanhares até ficar na frente da porta do banheiro de


Emily.

A água passava pela fresta debaixo da porta, fazendo Rebeca pensar que
provavelmente Emily teria esquecido a torneira da pia, ou até mesmo da banheira,
ligada.

Mas, ao abrir a porta, Rebeca foi tomada pela expressão de pavor, e logo, um grito
estridente saiu do fundo de sua garganta.

...

Alguns vizinhos teriam ouvido o grito de Rebeca, e ao entrarem na casa de Emily,


avistaram Rebeca sentada ao lado da cama, abraçando seus joelhos, com o rosto em
uma expressão de choque.

" Menina, o que aconteceu? "

Uma senhora que estava acompanhada de seu filho perguntou a mulher que ainda
estava paralisada.

Rebeca, por sua vez, não disse nada, mas movimentou seu braço com seu dedo
indicador apontando para a porta do banheiro.

O filho da senhora de idade se direcionou até a porta, andando com seus pés
tocando a água que saia insistentemente do banheiro de Emily, e, o mesmo, não
acreditou no que viu.

Emily estava morta, seu corpo pálido estava esparramado dentro da banheira, com
a torneira aberta e com a água escorrendo abundantemente pela mesma, com
vários arranhões pelo seu corpo, e, com uma rosa em sua mão direita.
Em algum momento, a polícia chegou, chamou um especialista que pudesse
examinar Rebeca, que estava com um cobertor em suas costas, abraçada na
senhora de idade que sentia pena da menina por ela ter presenciado aquela cena, e
fechou a casa, permanecendo nela, apenas a equipe da perícia.

Mas afinal, por que Emily optou por um suicídio?

É difícil de entender a mente das pessoas, principalmente com algumas sendo tão
diferentes de outras, mas Emily não aguentou a pressão, o medo, a angústia e
principalmente, a culpa!

Ela tentou se convencer de que não tinha sido culpa dela, mas mesmo assim,
pessoas boas, sentem culpa, ainda mais se elas já foram vítimas de bullying.

Mas Emily sabia que uma hora ou outra, iam atrás dela pelo que a mesma fez com
Anna, e então, Emily acordou naquela fria manhã bem cedo, após ter pesquisado
sobre o crime que cometera, e ter passado a madrugada inteira sendo infernizada
pelo corpo de Anna, e após um tempo se analisando no espelho, Emily sentiu raiva,
não só de Anna, mas também dela mesma.

Ela começou a se auto agredir, se arranhar, se estapear e dizer para si mesma o


quão burra tinha sido, não só por ter deixado Anna estragar a sua adolescência, mas
também, por ter permitido que Anna, mesmo depois de morta, tivesse acabado com
sua vida.

Emily então teve um pico de choque, se olhou mais uma vez no espelho do banheiro
vendo seu estado, ela estava com olheiras enormes pelas semanas mal dormidas,
seus cabelos estavam todos desgrenhados, os arranhões em seu rosto angelical já
estavam com sangue escorrendo por eles. Ela estava péssima!

Tomada por uma decisão, a mulher abriu a pequena gaveta que continha alguns
remédios e uma seringa. Emily pegou a seringa, encheu a mesma de ar, e sem que
sua razão pudesse tomar conta, ela injetou o ar, em uma grande quantidade, na sua
veia.

Emily não achava justo que fosse vista como uma culpada, como uma pessoa ruim.
Então, ela andou cambaleando até a sala, parou em frente a um vaso que tinha um
buquê de rosas, e arrancou uma, voltou para o banheiro, deu um suspiro pesada já
sentindo o ar faltando, e abriu a torneira da banheira, lembrando dos pesadelos em
que a mesma vislumbrava o corpo de Anna dentro da banheira, com seus olhos
direcionados aos olhos dela.
Com a banheira já cheia, Emily entrou, vestida, se deitando na mesma, morrendo
lentamente, com suas íris cheia de lágrimas, se perguntando o porquê a vida dela
tinha acabado assim.

Se perguntando o porquê existem pessoas como Anna.

Ainda com as lágrimas escorrendo por suas bochechas, e segurando a rosa


fortemente em sua mão direita, Emily deu seu último suspiro, triste, porém, com
um pingo sentimento de felicidade, por saber que todos pensariam na morte dela,
não como uma assassina que após tirar a vida de uma pessoa, acabou tirando a
própria, provavelmente pela culpa que sentia, mas como mais uma vítima, dessa
vez, de um Serial Killer.

Bom, é realmente difícil entender a mente das pessoas, mas eu entendia a mente de
Emily, afinal, algumas pessoas costumam mandar uma última carta antes de
acabarem com seu sofrimento.

Roberta Nogueira.

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