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”Eu sou o estopim da bomba

É você quem me faz ser assim


Se não quer ver o estouro da bomba
Não encoste esse fogo em mim”

Mamãe é Carioca e sua família enraizada na antiga capital do RJ, Niterói. Passei a infância e boa
parte da adolescência trafegando pra lá e pra cá, pelas barcas que conduzem milhões de
passageiros, todos os dias, através da baía de Guanabara. Pra quem não sabe, até a inauguração
de Brasilia, o Distrito Federal era a Guanabara, sede do governo deste país até que Juscelino
Kubistcheck criou aquela aberração no meio do Planalto Central. Favas contadas e águas
passadas, que não movem moinhos. Em tempo: já viu um moinho d’água? No RS ainda existem
vários. Pesquise e vá conhecer pra entender o porquê da expressão.

Assim sendo, como tinha o hábito de frequentar a Praça 15, do Rio, desde que era carregado pela
mão materna, pra lá me dirigi com o intuito de atravessar a baía e visitar a família. Ao chegar ali, a
tradicional muvuca carioca. A cada barca que chega, abre-se um portão por onde são despejadas
500, talvez 600 pessoas ou mais. Todos com pressa buscando seu caminho na Cidade
Maravilhosa. Naquele dia eu estava com fome e passei no carrinho do Angu do Gomes e pedi
uma refeição, que era servida em um prato de alumínio, o qual se comia em pé.

Por não saber comer rápido, até porque aquilo é servido bem quente, parei e prestei atenção em
um tradicional trio nordestino -triângulo, zabumba e sanfona- nas proximidades. O triângulo era
empunhado por uma belíssima morena de saia curta e pernas delineadas, com voz boa e potente.
Fiquei olhando e ouvindo enquanto ela entoava: “eu sou o estopim da bomba, é você quem me
faz ser assim…” Minha memória imediatamente me trouxe de volta a 1976, quando surgiu a
novela Saramandaia, obra de Dias Gomes inspirada, segundo dizem, no livro “O Coronel e o
Lobisomem”, pérola do realismo fantástico brasileiro, de José Cândido de Carvalho.

A canção interpretada pela bela morena, foi gravada no disco original da trilha da novela por
ninguém menos que a intérprete da personagem Marina, da novela, a estupenda Sonia Braga no
auge da sua morenice. A personagem precisava tomar banhos frios sucessivos, pois pegava fogo
e incendiava tudo ao seu redor, especialmente quando Gibão -personagem interpretado por Juca
de Oliveira, que tinha asas- estava por perto.

Angu do Gomes era tido e vendido pelo próprio fundador do esquema de carrocinhas populares,
como um afrodisíaco. Vendo aquela morena maravilhosa se insinuar pelos transeuntes a pedir $$,
lembrei imediatamente da personagem e o efeito da gororoba foi imediato, ao jovem com menos
de 18 anos e fiquei extasiado, ali parado, enchendo a pança e assistindo o espetáculo, lembrando
de Saramandaia e da personagem de Sonia Braga, suas chamas intensas e seu sussurrar
inebriante.

Até que tocou a sirene da barca partindo pra Niterói

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