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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

Ouro Preto, 19 de agosto de 2014.


Semestre: Segundo Semestre Letivo de 2014
Prof.: Carlos Joel Franco (Teoria e Laboratório) – Sala 84, Laboratório 81. (Laboratório)
Disciplina: Física IV. FIS133. Turmas 61.
Horário: Terça feira e quinta feira de 13:30 h às 15:10 h.

Revisão dos princípios básicos de Física estudados até o presente momento.

Nesta atividade espera-se que o aluno(a) faça uma revisão dos princípios básicos da física estudados,
anteriormente, em Física I, II e III.

As respostas devem ser claras e objetivas e o trabalho só pode ser feito em dupla e escrito à mão.

A qualquer momento, durante o semestre, após a entrega do trabalho a dupla deve ser convidada para
responder durante 10 minutos a uma questão sorteada por outro(a) aluno(a).

Assim antes de entregar a sua atividade faça uma cópia da mesma e tenha ela consigo em todas as aulas
até o final do semestre, pois ao ser sorteada a dupla só poderá consultar o seu trabalho.

Quando uma dupla for sorteada e não estiver presente na sala de aula ela perderá a pontuação relativa a
esta atividade. Caso apenas um dos membros esteja presente no dia do sorteio só ele receberá a nota da
atividade. (Ressalvados os casos previstos na legislação)

Esta atividade deve ser entregue até o dia 09 de agosto de 2014. A sua nota será dividida em duas
partes sendo a metade atribuída ao trabalho escrito e a outra metade à apresentação oral da dupla que
deve estar preparada para responder também a uma pergunta elaborada por mim ou por um aluno(a) da
turma. Caso o aluno(a) escolhido para fazer a pergunta não conseguir seu objetivo sua dupla perderá
10% da avaliação desta atividade. A pergunta poderá inclusive abordar conteúdos que estão sendo
discutidos na Física IV e que seja relacionado com o tema da questão sorteada.

A nota atribuída a esta atividade bem como a sua contribuição para a totalização da nota final só será
conhecida na penúltima semana de aula. Esta estratégia visa motivar os alunos(as) para esta atividade
pois ela tem um papel integralizador dos conteúdos estudados. O outro aspecto é motivar o(a) aluno(a)
a estar sempre alerto(a) durante o semestre letivo.
1) Defina as sete grandezas físicas fundamentais com suas unidades no Sistema Internacional de
Unidades.

2) Defina grandezas extensivas e grandezas intensivas citando pelo menos seis exemplos de cada.
Mostre que, em geral, a grandeza física energia é definida com o produto de uma grandeza
intensiva por uma extensiva. Escreva o trabalho e a primeira lei da termodinâmica para as
variáveis escolhidas. Mostre, também, que uma grandeza intensiva é proporcional a uma
extensiva. A constante de proporcionalidade entre um par intensivo extensivo é uma constante
ou um tensor. Defina uma grandeza tensorial e mostre para o caso elétrico como fica a relação
entre o campo elétrico e a densidade de fluxo elétrico.

3) A descrição dos princípios físicos, de um modo geral, é feita com o uso de equações
diferenciais de segunda ordem. Cite cinco situações onde isto se observa, apresentando o
problema a ser resolvido a equação diferencial resultante aplicação do modelo matemático e a
solução geral da equação. Veja com isto que um profissional de engenharia aprende Cálculo,
Física e métodos computacionais por um imperativo natural, qual seja, se apropriar de
conhecimentos necessários para a prática profissional.

4) O estudo do movimento de uma partícula pode ser feito pelo método das forças (segunda lei de
Newton) ou pelo método da energia (conservação da energia mecânica). Escolha um exemplo e
mostre como isto é feito, seja detalhista nestas demonstrações.

5) As grandezas físicas podem ser escalares como o trabalho de uma força que atua sobre uma
partícula ou vetoriais como a força que age sobre uma partícula em movimento retilíneo, por
exemplo. Procure argumentos para explicar como o trabalho (uma grandeza escalar) pode ser
definido a partir de duas grandezas vetoriais (força e deslocamento). Procure, também,
argumentos para se explicar como o torque (uma grandeza vetorial) é definido a partir de duas
grandezas vetoriais (força e distância). Pesquise mais dois exemplos de situações onde isto se
verifica. Pesquise como Isaac Newton introduziu os conceitos de derivação e integração para
calcular as grandezas mecânicas. Utilize neste caso a obra original do Newton.

6) Analise as condições de equilíbrio de um corpo rígido e um fluido incompressível. Como estas


questões afetam o projeto de grandes estruturas como prédios, barragens, etc.

7) O movimento em uma dimensão de uma partícula é descrito pelas leis de Newton. Podemos
generalizar isto para mais dimensões como no caso de movimento de projéteis, do movimento
pendular e do movimento em uma trajetória curva qualquer.
A) Enuncie estas leis e apresente uma aplicação de cada lei.
B) Defina referencial inercial e massa inercial.
C) Conceitue a força gravitacional e o peso.
D) Defina velocidade e aceleração e mostre como estes conceitos estão relacionados ao conceito de
derivada estudado no cálculo.
E) Mostre que a segunda lei de Newton é na verdade uma equação diferencial de segunda ordem.
Aplique este conceito para obter as equações do movimento de uma partícula em queda livre.
F) Analise o movimento de queda de uma partícula na presença de forças resistivas dependentes da
velocidade em primeira e segunda ordem, citando exemplos, e apresentando as respectivas
equações diferenciais e as soluções em cada caso.
G) Conceitue as quatro forças fundamentais da natureza (força gravitacional, força eletromagnética,
força forte e força fraca) e faça uma comparação entre a distância de atuação de cada uma delas,
bem como a as intensidades.
F) Defina a velocidade de escape da Terra e explique porque isto é importante. Como isto afeta os
lançamentos espaciais?
H) Descreva o movimento de um projétil lançado em uma direção formando um ângulo teta
genérico com a tangente à superfície da Terra.

8) Conceitue trabalho e potência de uma força, fornecendo suas respectivas unidades no Sistema
Internacional de Unidades.
A) Defina trabalho de uma força constante e de uma força variável, citando exemplos de
aplicações.
B) Defina o teorema do trabalho e da e da energia cinética.
C) Defina sistema. Quando um sistema é considerado isolado e quando é considerado não isolado.
Lembre-se que fizemos uso destes conceitos quando estudamos os princípios de termodinâmica.
D) Conceitue força de atrito estático e cinético
E) Conceitue forças conservativas e não conservativas citando exemplos de cada uma.
F) Defina energia potencial.
G) Escreva esta expressão para a força gravitacional e a força elétrica.
H) Enuncie o princípio de conservação de energia mecânica e explique em que condições ele é
válido ou não.
I) Mostre com o conceito de trabalho de uma força, variável ou não, está relacionado ao conceito
de integral estudado no cálculo.

9) Conceitue momento e quantidade de movimento de uma partícula.


A) Enuncie o princípio de conservação da quantidade de movimento.
B) Defina impulso e forneça sua unidade no Sistema Internacional de Unidades
C) Mostre como a força está relacionada com a quantidade de movimento.
D) Defina centro de massa de um conjunto de partículas.
E) Analise a dinâmica de um sistema de partículas, isto é, escreva a segunda lei de Newton
relacionando força aceleração e quantidade de movimento.

10) Considere um corpo que se move segundo uma trajetória curva qualquer.
A) Defina os análogos rotacionais de posição, velocidade e aceleração e mostre como estes estão
relacionadas com as grandezas translacionais. Faça o mesmo para força e quantidade de
movimento.
B) Defina energia cinética rotacional de um corpo rígido e torque de uma força, apresentando, suas
unidades no SI.
C) Defina momento de inércia de um corpo rígido e mostre como isto está associado ao conceito
de integral de volume.
D) Defina momento angular, sua unidade, e o principio de conservação de momento angular.
Mostre como o momento angular total de um sistema está relacionado ao torque esterno
resultante agindo sobre o sistema.
E) Descreva o movimento de precessão dos giroscópios, fazendo uma explicação conceitual e
formal.

11) Defina a lei de gravitação universal e as leis de Kepler. Mostre que as leis de Kepler estão de
acordo com a lei de gravitação de Newton.
12) Definir pressão e massa especifica com as respectivas unidades no SI de unidades.

13) Demonstre como varia a pressão em um fluido em repouso e em função da altitude no ar e da


profundidade na água.

14) Enuncie os princípios de Pascal e Arquimedes e descreva uma aplicação de cada.

15) Descreva os conceitos gerais de escoamento de fluidos. Escreva a equação de Bernoulli e


mostre que ela é obtida a partir da aplicação da lei de conservação da energia mecânica.
Explique o significado de cada termo presente nela.

16) Obtenha as equações de onda para a onda propagando em uma corda. Faça o mesmo para a
propagação de uma onda sonora. Escreva a solução de cada uma e discuta os seus resultados.
Estas equações são equações diferenciais de segunda ordem mas fazem parte de uma classe
diferente de equações diferenciais denominadas equações diferenciais parciais. Pesquise sobre
estas equações em particular sobre aquelas que descrevem a propagação das ondas mecânicas
em uma corda e em uma película plana como no caso de um tambor.

17) Explique a partir dos princípios termodinâmicos porque a velocidade do som varia quando este
se propaga no ar ou em um meio material como um metal, por exemplo. Certamente você já viu
um filme mostrando uma pessoa falando enquanto aspira gás hélio. Como se explica isto?

18) Faça um paralelo entre as oscilações mecânicas forçadas e as oscilações eletromagnéticas


forçadas também. Explique o modelo conceitualmente. Obtenha a equação diferencial geral do
problema e discuta as soluções.

19) Conceitue processos isotérmicos, adiabáticos e expansão livre.

20) Enuncie as leis da Termodinâmica. Mostre que a segunda lei pode ser definida a partir do
conceito de máquinas térmicas e a partir do conceito de entropia. Explique porque embora a
segunda lei tenha sido originada do conceito de máquinas térmicas, portanto antes da primeira,
só no final do século XIX é que ela se consolidou.

21) Descreva o ciclo de Carnot e explique a sua importância para a termodinâmica. Como ele é
utilizado para explicar a impossibilidade de se obter o zero absoluto. Diga qual a menor
temperatura já alcançada e em qual local (laboratório, equipe, etc)

22) Defina força elétrica e força magnética. Conceitue campo elétrico e campo magnético. Mostre
como podemos verificar que o campo elétrico possui natureza divergente e o campo magnético
possui natureza rotacional.

23) Defina a lei de Gauss para a eletricidade e para o magnetismo. Mostre como o conceito de
divergência de um campo vetorial se aplica a estes casos.

24) Mostre como a lei de Coulomb pode ser obtida a partir da lei de Gauss.

25) Defina trabalho realizado pelo campo elétrico para levar uma carga de um ponto inicial até um
ponto final. Explique como isto se relaciona ao conceito de integral de caminho. Explique o que
ocorre quando o ponto inicial coincide com o ponto final de chegada da carga.
26) Defina condutores, isolantes, semicondutores e supercondutores, fazendo um breve histórico da
evolução do estudo destes materiais. Caracterize um condutor ôhmico e um não ôhmico.
Caracterize as classes de materiais supercondutores e diga qual o supercondutor que exibe a
maior temperatura de transição do estado de condutor normal para supercondutor.

27) Defina a lei de Ampére e a de Faraday-Lenz. Mostre como a lei Ampére está relacionada ao
conceito de rotacional de um campo vetorial.

28) Conceitue capacitância e indutância. Mostre com argumentos qualitativos o fato de que a
energia elétrica é armazenada no campo elétrico em um capacitor e a energia magnética no
campo magnético em um indutor. Neste sentido analise um circuito RC e um circuito RL
descrevendo as suas principais funções num circuito elétrico.

29) Analise o fluxo de energia em um circuito elétrico RLC forçado, bem como em um sistema
massa mola com atrito e forçado. No caso de um circuito RLC ele pode funcionar para detectar
a energia de uma onda eletromagnética. Explique como.

30) Faça uma pesquisa sobre descargas atmosféricas apresentando os modelos que são utilizados
para compreender estes fenômenos.

Bons estudos e mantenha sempre atualizado.

Prof. Dr. Carlos Joel Franco.


DEFIS/ICEB/UFOP
Dentre outros textos para leitura e reflexão leiam este a seguir.

Magnatas financiam projetos e mudam dinâmica acadêmica

WILLIAM J. BROAD

DO "NEW YORK TIMES"


25/03/2014 02h00
Enquanto cortes nos gastos públicos resultam na desativação de laboratórios, na demissão de cientistas
e no cancelamento de projetos, uma profunda mudança está ocorrendo na forma como a ciência é
bancada e praticada.

"Para o bem ou para o mal", disse Steven Edwards, da Associação Americana para o Progresso da
Ciência, "a prática da ciência no século 21 está sendo moldada menos pelas prioridades nacionais ou
por grupos com revisão entre pares e mais pelas preferências particulares de indivíduos com grandes
quantidades de dinheiro."

A ciência está cada vez mais se tornando um empreendimento privado. Do Vale do Silício a Wall
Street, a filantropia científica está na moda, pois muitos magnatas buscam se reinventar como patronos
do progresso social por meio da pesquisa científica.
Sergei Remezov/Reuters
Um dos projetos de exploração submarina apoiados pelos magnatas

Mais de uma década atrás, Paul Allen, um dos fundadores da Microsoft, criou um instituto de ciências
do cérebro, para o qual doou US$ 500 milhões. Fred Kavli, bilionário dos setores imobiliário e
tecnológico, fundou então três institutos cerebrais. Foi essa pesquisa ricamente financiada pela
iniciativa privada que deu origem àquilo que o presidente Barack Obama chamou em abril passado de
"o próximo grande projeto americano" -uma iniciativa de US$ 100 milhões para sondar os mistérios do
cérebro humano.

Os muito ricos também montaram uma guerra particular contra doenças, com novos protocolos que
derrubam as paredes entre a academia e a indústria, transformando descobertas básicas em tratamentos
eficazes. Eles estão financiando a caçada a ossos de dinossauros e a criaturas marinhas gigantes.
Começam até a desafiar Washington nos grandes projetos científicos, desenvolvendo navios
inovadores, equipamentos submarinos e telescópios gigantes -bem como a primeira missão privada
para as profundezas do espaço.

São pessoas como Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York (e fundador da empresa de mídia que
leva seu nome), James Simons (investidor de fundos hedge) e David Koch (petróleo e produtos
químicos), entre centenas de doadores ricos. Têm especial proeminência, porém, alguns dos maiores
nomes do mundo da tecnologia, entre eles Bill Gates (Microsoft), Eric E. Schmidt (Google) e Lawrence
Ellison (Oracle). Esses doadores se dizem impacientes com o ritmo deliberado, e muitas vezes
politizado, da ciência pública. Eles estão dispostos a assumir riscos que o governo não consegue ou
simplesmente não cogita assumir.
No entanto, essa definição pessoal de prioridades é precisamente o que preocupa alguns no
"establishment" científico. Muitos dos patronos, dizem eles, estão ignorando a pesquisa básica para
privilegiar um amontoado de campos populares e "alto astral", como estudos ambientais, a exploração
espacial e, como no caso do russo Dmitry Itskov, ex-magnata da mídia, avatares com consciência
humana.

A "Nature" alertou que, embora "aplaudamos e apoiemos inteiramente a injeção de mais dinheiro
privado em ciência", o financiamento poderia também "distorcer a pesquisa" para campos mais em
voga do que cruciais. "A física não é charmosa", disse William Press, assessor científico da Casa
Branca.

Está em questão, dizem os críticos, o contrato social que cultiva a ciência pelo bem comum. Eles
temem que os bilhões da filantropia tendam a enriquecer universidades de elite à custa das mais pobres
e a minar o apoio político à pesquisa patrocinada pelo governo e seus esforços para promover uma
maior diversidade de oportunidades -geográfica, econômica, racial- entre pesquisadores científicos.

Mas Martin Apple, ex-chefe do Conselho de Presidentes de Sociedades Científicas, disse que,
inicialmente, também viu os doadores como diletantes super-ricos. Agora, acredita que eles estão
ajudando a acelerar a ciência. O que o fez mudar de ideia, afirmou, foi vê-los perseverar, ano após ano,
em busca de objetivos ambiciosos.
Thirty Meter Telescope/Divulgação

O telescópio Telescópio Gigante Magalhães, em construção por um consórcio, recebeu US$ 35


milhões do bilionário do petróleo George Mitchell
"Se eles têm como alvo a poliomielite, vão atrás até conseguir -e ninguém mais tem como fazer isso"
disse. "Na verdade, eles têm o poder de liderar onde o mercado e a vontade política são insuficientes."

O impacto dessas pessoas tende a crescer. Os cerca de 40 mais ricos doadores para a ciência que
firmaram um compromisso de destinar a maior parte das suas fortunas à caridade possuem,
conjuntamente, ativos que superam US$ 250 bilhões.

UM NOVO MODELO.

Quando Ellison ouviu um biólogo ganhador do Nobel dar uma palestra sobre inteligência artificial,
ficou hipnotizado. Era o início dos anos 1990, e a ideia de aplicar computadores rápidos para charadas
genéticas era nova.

Ele convidou esse cientista, Joshua Lederberg, da Universidade Rockefeller, em Nova York, para
visitá-lo em sua propriedade na Califórnia. Em 1997, a amizade deu origem à Fundação Médica
Ellison. Centenas de biólogos já foram beneficiados, e três deles ganharam prêmios Nobel. Até agora,
Ellison, listado pela revista "Forbes" como o quinto homem mais rico do mundo, já doou cerca de meio
bilhão de dólares para a ciência. Não é que Ellison seja o maior ou o mais visível dos filantropos (Bill
Gates já doou cerca de US$ 10 bilhões para a saúde pública global). Mas o seu trabalho serve como
paradigma da nova ciência privada.

No mundo tradicional da pesquisa patrocinada pelo governo, comissões de especialistas se debruçam


sobre os pedidos de subvenção para decidir qual deles deve obter financiamento, pesando fatores como
mérito intelectual e valor social. Por outro lado, a nova filantropia científica é pessoal, antiburocrática e
baseada na inspiração.

Para Wendy Schmidt, a inspiração veio em 2009, de um recife de coral nas ilhas Granadinas, no
Caribe. Foi seu primeiro mergulho autônomo e uma experiência que lhe abriu os olhos para a
extravagância da natureza. Ela falou sobre isso com seu marido, Eric, presidente-executivo do Google,
e os dois decidiram que a oceanografia precisava de mais recursos -a frota de pesquisa do governo dos
Estados Unidos foi reduzida em cerca de um terço e está sujeita a mais cortes. Eles então montaram o
Instituto Oceânico Schmidt, em Palo Alto, na Califórnia, onde despejaram mais de US$ 100 milhões.

George Mitchell, considerado o pai do processo de obtenção de petróleo e gás conhecido como
"fracking" (ou fraturamento hídrico), doou cerca de US$ 360 milhões para campos como a física de
partículas, o desenvolvimento sustentável e a astronomia -incluindo US$ 35 milhões para o Telescópio
Gigante Magalhães, que está sendo construído por um consórcio de empresas privadas para ser
instalado no topo de uma montanha no Chile.

Eli Broad, que ganhou dinheiro vendendo imóveis e seguros, doou US$ 700 milhões para uma parceria
entre a Universidade Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) para explorar a base
genética de doenças.
Gordon Moore, da Intel, destinou US$ 850 milhões para pesquisas sobre física, biologia, ambiente e
astronomia.

O investidor Ronald Perelman, entre outras doações, deu mais de US$ 30 milhões para o estudo dos
cânceres que afligem mulheres.

Nathan Myhrvold, ex-diretor de tecnologia da Microsoft, gastou muito na descoberta de restos fósseis
do Tyrannosaurus rex.

Para ajudar os cientistas a estabelecerem vínculos rapidamente com potenciais benfeitores, surgiu um
pequeno setor que oferece oficinas, treinamento pessoal, exercícios de interpretação de papéis e
produção de pedidos de patrocínio em vídeo.

A Advancement Resources, de Cedar Rapids (Iowa), já realizou centenas de oficinas para cientistas,
tratando daquilo que a empresa descreve como a arte de desenvolver doadores.
Até a "Nature" publicou um longo artigo dando dicas de como "vender a ciência" e "seduzir
filantropos". Elas incluíam treinos para um "pitching de elevador" -um resumo de pesquisa interessante
a ponto de atrair rapidamente a atenção de um doador.

LIMITES DO FINANCIAMENTO PRIVADO.

Mas Robert Conn, presidente da Fundação Kavli, que já destinou quase US$ 250 milhões para a ciência
e é parte do esforço privado pelo aumento do financiamento à pesquisa básica, advertiu: "A filantropia
não é um substituto do financiamento governamental. Não há como dizer isso em tom suficientemente
alto".

O deputado americano Lamar Smith, republicano do Texas que cumpre o seu 14° mandato, discorda.
"Devemos reconhecer melhor o que o setor privado pode fazer para auxiliar nossos esforços de
proteger o mundo", afirmou ele no ano passado, depois que um meteoro explodiu sobre a Rússia,
ferindo mais de 1.200 pessoas.

Smith, presidente da Comissão de Ciência, Espaço e Tecnologia da Câmara, disse que a instalação de
novos sensores no espaço seria "fundamental para o futuro". Então, ele promoveu uma audiência para
apresentar um telescópio, montado em um satélite, que varra o Sistema Solar em busca de rochas
velozes que possam ameaçar o planeta. O dinheiro para a empreitada vem dos líderes de eBay, Google
e Facebook.

Décadas atrás, essa tarefa teria cabido à Nasa. Mas, na audiência, o responsável pelo projeto, Edward
Lu, ex-astronauta e hoje executivo do Google, declarou que o custo do aparelho espacial -US$ 450
milhões- seria aproximadamente metade do que o governo gastaria.

O diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), Francis Collins, disse que os
filantropos são "incrivelmente importantes". Ainda assim, ele e outros especialistas são rápidos em
acrescentar que a onda privada é pequena demais para substituir o financiamento público. Só o NIH
tem um orçamento da ordem de US$ 30 bilhões -do qual metade vai para a pesquisa básica. Pelo menos
por enquanto, disse Press, o assessor da Casa Branca, as doações privadas são ainda "uma gota no
balde".

ENFOQUE NAS DOENÇAS.

Grande parte das verbas da ciência particular se destina a campanhas para alguma cura.

Essa guerra particular contra doenças resultou não só em avanços significativos nos tratamentos, mas
também naquilo que especialistas descrevem como um grande avanço na forma como a pesquisa
biomédica é feita. O método derruba bloqueios que tradicionalmente impediam descobertas básicas de
serem transformadas em tratamentos eficazes -especialmente para doenças raras, que as companhias
farmacêuticas evitam por falta de lucros em potencial.

O primeiro êxito veio na luta contra a fibrose cística, que surge quando um gene defeituoso entope os
pulmões e o pâncreas com um muco pegajoso. As pessoas com fibrose cística sofrem de tosse, cansaço,
má digestão e crescimento lento -e morrem relativamente jovens.

Por volta de 2000, uma onda de doadores ricos começou a fazer grandes contribuições para a Fundação
da Fibrose Cística. Tom e Gina Hughes, de Greenwich (Connecticut), tiveram duas filhas com a doença
e doaram milhões de dólares. No início de 2012, já havia surgido o primeiro tratamento para uma causa
subjacente da fibrose cística. A droga controla uma mutação genética que responde por 4% dos casos
nos Estados Unidos -cerca de 1.200 pessoas. O medicamento diluía o muco mortal, reduzindo
drasticamente os sintomas e melhorando a qualidade de vida.

O sucesso gerou uma corrida mundial para transformar descobertas básicas em tratamentos, um campo
agora conhecido como ciência translacional. Também inspirou doadores ricos a oferecerem mais
dinheiro a pesquisas contra doenças.

OPÇÕES PESSOAIS.

Muitas dessas iniciativas estão profundamente enraizadas em traumas pessoais ou familiares. Uma
análise dessas campanhas concluiu que, como no caso da fibrose cística, um número significativo de
doações se destina a doenças que afetam desproporcionalmente as pessoas brancas.

O câncer de ovário atinge e mata as mulheres brancas com mais frequência do que as mulheres das
minorias. Em 2012, depois que sua cunhada morreu vítima da doença aos 44 anos, Jonathan Gray,
diretor de negócios imobiliários globais do Blackstone Group, uma firma de investimentos privados,
doou US$ 250 milhões à Universidade da Pensilvânia para a criação de um centro de estudos do câncer
feminino.

O melanoma, o mais mortal dos cânceres de pele, também ataca e mata preferencialmente brancos.
Debra Black, mulher do financista Leon Black, sobreviveu a um caso grave. Logo depois, em
associação com Michael Milken, ex-financista conhecido por negociar com títulos "podres" e cuja
entidade filantrópica FasterCures presta assessoria sobre como acelerar pesquisas, o casal fundou a
Aliança para a Pesquisa do Melanoma. Ela rapidamente se tornou o maior patrocinador privado do
mundo para pesquisas sobre o melanoma, oferecendo mais de US$ 50 milhões para atividades em Yale,
Columbia e outras universidades.

É claro que a maioria das doenças é onipresente, e por isso a maioria dos filantropos oferece ajuda
médica independentemente de divisões raciais ou étnicas. Quando Milken soube que tinha câncer de
próstata, criou uma fundação para combatê-la. A entidade já arrecadou mais de meio bilhão de dólares,
ajudando a salvar não só ele, mas muitos homens negros, que desenvolvem a doença com mais
frequência que os homens brancos.

DEFININDO A PAUTA.

No início da década de 1980, Leroy Hood, biólogo do Instituto de Tecnologia da Califórnia, propôs a
criação do primeiro sequenciador automático de DNA, que ele ofereceu ao NIH. Rejeitado, ele se
voltou para Sol Price, magnata do setor de armazéns.

O avanço do sequenciador de DNA levou ao Projeto Genoma Humano -iniciativa federal que, a um
custo de US$ 3,8 bilhões, mapeou todas as unidades hereditárias- e, mais recentemente, ao florescente
campo da genômica pessoal.

A filantropia científica, disse Hood, "permite que você empurre fronteiras". E o governo, em vez de
ditar a pauta da ciência, cada vez mais vai atrás da liderança privada.

Há uma década, Anousheh Ansari, engenheira do Texas que fez fortuna no setor de telecomunicações,
financiou uma competição com prêmio de US$ 10 milhões para a primeira nave privada que pudesse
enviar três pessoas ao espaço. Seu sucesso gerou um boom. Doadores privados atualmente patrocinam
dezenas de prêmios científicos, e o governo oferece centenas por sua conta, motivado, segundo um
estudo da Casa Branca, "pelo sucesso de prêmios filantrópicos e privados".

Às vezes, os doadores privados saem em socorro do governo. Quando os cortes orçamentários


ameaçaram paralisar um acelerador de partículas gigante em Long Island, em 2006, Simons, o
investidor de fundos hedge, que vive nas proximidades, arrecadou US$ 13 milhões para impedir que
isso acontecesse.

As doações privadas para a ciência tendem a se expandir. A razão principal: em 2010, Gates, sua
mulher, Melinda, e o investidor Warren Buffett anunciaram a campanha Giving Pledge. Cerca de um
quinto dos quase 500 bilionários americanos se comprometeram a doar a maior parte das suas fortunas
para a caridade, com quase metade deles manifestando o desejo de financiar estudos de ciência, saúde e
ambiente. Vários deles estabeleceram metas que são bastante extraordinárias.

"Queremos erradicar o diabetes", escreveram Harold Hamm, figura de destaque na corrida do petróleo
em Dakota do Norte, e sua mulher, Sue Ann.

Jon Huntsman, bilionário de Utah, disse que sua atividade filantrópica irá "assegurar que o câncer seja
liquidado"

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