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Simpósio Nordestino de Avicultura e Suinocultura

VII Feira da Avicultura e Suinocultura do Nordeste – 19 a 21 de setembro de 2023 – Tacaimbó – PE


Painel de Grãos: Mercado de Grãos - Herivelton Marculino da Silva, Companhia Nacional de Abastecimento

MERCADO DE GRÃOS

O mercado de grãos brasileiro tem se consolidado mundialmente, principalmente na produção


e exportação de soja e milho, componentes importantes na composição das rações animais,
equivalendo juntos a cerca de 80% da ração de aves e suínos. O Nordeste brasileiro tem despontado
como a nova fronteira no agro brasileiro, regiões do MATOPIBA, SEALBA e outros estados tem
aumentado sua produção por meio de investimentos e tecnologia.

1. PRODUÇÃO DE GRÃOS
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), confirmou uma produção recorde de grãos
na safra 2022/23 com produção em 322,8 milhões de toneladas, correspondendo a um crescimento
de 18,4% ou 50,1 milhões de toneladas sobre a temporada anterior. 4
1.1. Desempenho da soja: A Soja continua como grãos mais produzido no país em uma
área de 44 milhões de hectares (6,2% maior em relação à safra 2021/22) e rendimento de
3.508kg/ha (+ 16%) totalizando uma produção de 154.617,4 mil t (+23,2%). Tendo uma demanda de
cerca de 154 milhões de toneladas, sendo 37% para o consumo interno e 63% para exportação.
1.2. Desempenho do milho: Já o milho, segundo em produção, ocupa a área de 2,3
milhões de hectares (+3,2%), rendimento de 5.922 kg/ha (+13%) e produção de 131.865,9 mil t
(+16,6%). Sua demanda de 130 milhões de toneladas é composta de 61% consumo interno e 39%
de exportação.
1.3. Desempenho por região: O Nordeste figura na 4ª posição em produção de grãos no
país com a produção de quase 30 milhões de toneladas (9% da produção nacional), depois do
Centro-oeste, Sul e Sudeste (juntos respondem por 86% da produção nacional). No Nordeste, os três
maiores produtores são estados pertencentes ao MATOPIBA: Bahia (45%), Maranhão (25%) e Piauí
(23%). Em seguida temos Sergipe, pertencente a região SEALBA, com 3% da produção regional.
Seguidos por Ceará, Pernambuco e outros estados com produção representativa menor que 1% em
relação ao total nordestino .

Imagem 1. Produção de grãos por estado. (Fonte: Conab)

2. CLIMA
Dada a influência do clima nos rendimentos da produção de grãos, é imperativo o
acompanhamento dos efeitos sobre sua produção.
2.1. La Niña x El Niño: Após 3 anos consecutivos de efeitos climáticos da La Niña, tendo
como resultado anomalias positivas de chuvas para o Nordeste brasileiro, os modelos climáticos de
previsão da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) indicam leve aquecimento na região equatorial
do Oceano Pacífico, indicando El Niño no final de 2023 e neutralidade em 2024.
2.2. Precipitação: Em grande parte da Região Nordeste (incluindo áreas do MATOPIBA e
SEALBA), há previsão de chuvas abaixo da média, que podem ser ocasionadas pela atuação do
fenômeno El Niño. Essa condição impactará negativamente os níveis de água no solo, agravando o
déficit hídrico principalmente em setembro e outubro. No entanto, em novembro, há previsão de
elevação dos níveis de água no solo, principalmente em áreas do sul e oeste da Bahia.
3. MERCADO MUNDIAL E NACIONAL
As economias mundiais vêm apresentando um baixo crescimento, inclusive a China, o maior
exportador de grãos, com recuperação econômica lenta, o que diminui a demanda mundial por
grãos. A superoferta de grãos fez cair os preços globais. O índice de preço de alimentos da FAO
apresentou queda em maio, caindo 2,66% em relação a abril¹. Os grupos de óleos vegetais e grãos
apresentaram queda de 8,69% e 4,70%, respectivamente.
3.1. Milho: A previsão de boa safra nos EUA, limita as possibilidades de valorização do
grão no mercado internacional, apesar do cenário incerto no leste europeu. Ademais, a segunda
safra brasileira recorde e a previsão de recuperação da safra argentina irão contribuir para um
mercado bem ofertado até o final do primeiro semestre de 2024. Todavia, no Brasil, o real com
tendência de queda, somada a exportação firme, pode dar sustentação às cotações nacionais.

Gráfico 1. Exportações de milho brasileiro e média de 5 anos. (Fonte: MDIC. Elaboração:


Conab)

Outros fatores baixistas de preço: safra de grãos recorde no Brasil, queda nos preços do
petróleo, dificuldades de espaço para safra de verão e interesse de retenção de soja pelo produtor
brasileiro acelerou a baixa do milho.
Fatores altistas no Nordeste Brasileiro: milho 2ª safra com perca de produtividade na Bahia,
Ceará, Pernambuco e Paraíba devido falta de chuva. Há perspectiva de redução de área de milho na
BA para plantio de soja devido possíveis efeitos do El Niño.

Gráfico 2. Evolução de preço de milho. (Fonte: Conab – preços médios semanais e CME
Group.)
268.32
262.83 263.89
Preço- R$/Saca

265.00 250.48
239.97
225.00 215.95

185.00
145.00
105.00
65.00
25.00
Sep-22 Oct-22 Nov-22 Dec-22 Jan-23 Feb-23 Mar-23 Apr-23 May-23 Jun-23 Jul-23 Aug-23
Milho - Produtor/ MT (R$/60kg) Milho - 1° Entrega/CBOT (US$/t)
Milho - Produtor/ BA (R$/60kg) Milho - Atacado/ PE (R$/60kg)

3.2. Soja: Com início da colheita da soja nos EUA e o estoque brasileiro que ainda tem que
ser comercializado, o mercado segue pressionado. Os atuais estoques de passagem americanos são
os menores desde a safra 2018/19, no auge da guerra comercial entre EUA e China. Estes baixos
estoques norte-americanos devem dar suporte aos preços internacionais no próximo mês. No Brasil,
preços nacionais em alta motivados por prêmios de portos e dólar em alta. Com isso, a tendência de
alta no mercado interno deve continuar.

Gráficos 3 e 4. Preço médio e Exportações da soja brasileira. (Fonte: Conab – preços médios
semanais e MDIC.)

Tabelas 1 e 2. Quadros de suprimento de soja em grãos e farelo de soja. (Fonte: Conab)

4. MERCADO REGIONAL
O grão de maior destaque para a cadeia pecuária em Pernambuco é o milho (equivale a 81%
da produção de grãos no estado). A Conab divulgou a expectativa de produção de mais 200 mil
toneladas de milho no estado, um aumento de 50% puxado pelo acréscimo da produtividade.
Contudo o total produzido no estado ainda é menor que seu consumo, carecendo importar milho em
grãos e outros estados. 4

Quadro 1. Comparativo de produção de grãos em Pernambuco - safras 2021/22 e 2022/23


Área Plantada (mil ha) Produtividade (Kg/ha) Produção (mil t)
PERNAMBUCO
2022/2
2021/22 % 2021/22 2022/23 % 2021/22 2022/23 %
3
GRÃOS TOTAL 475,2 388,3 -18,3 374,0 658,3 76,0 177,7 255,7 43,8
Feijão Total 205,8 167,4 -18,6 365,1 504,1 38,1 75,1 84,4 12,3
Milho Total 253,2 208,8 -17,6 525,8 988,7 88,0 133,1 206,4 55,0

O acompanhamento mensal de safra realizado pela Conab indica aumento de produtividade


devido principalmente aos investimentos em lavouras com maior uso de tecnologia tanto nos
insumos utilizados quanto no manejo, o que tem sido visto principalmente na mesorregião agreste.
Vale destacar a ação da AVIPE (Associação Avícola de Pernambuco) que, desde 2020, com o projeto
Grãos PE, tem incentivado empresários do setor pecuário a investir no plantio de milho a fim de
reduzir custos em rações para planteis de animais no estado. Algumas dessas lavouras de milho já
alcançam rendimento 8 vezes acima da média estadual.
5. COMÉRCIO INTERNACIONAL
5.1. Mercado chinês: A China é o principal parceiro comercial do Brasil, devendo comprar
mais milho brasileiro, devido a problemas na produção norte-americana, argentina e europeia e ao
fim do embargo que impôs à carne bovina brasileira, o que pode enxugar a demanda interna e
estancar, em parte, a queda dos preços nacionais.
5.2. Rússia x Ucrânia: O Brasil pode exportar mais milho para outros destinos, dada a
incerteza da exportação ucraniana pelo Mar Negro, que depende sempre do aval da Rússia ao
acordo de livre embarque, do qual a Ucrânia acredita que esta deixará de signatária, em 18/07/23.

6. PERSPECTIVAS
A produção de milho e soja no país, está sob pressão de aumento do consumo e das
exportações que adquire importância crescente como matéria prima e como alimento. Segundo a
OCDE (2023)³, a tecnologia e as novas práticas de cultivo garantem aumento da produtividade e da
produção de cereais. Ainda segundo essa agência, em 2032 o Brasil deve apresentar os maiores
ganhos de produtividade mundiais, com destaque para milho, soja e arroz, respondendo por 10,0%
da produção mundial de milho, a China por 22,0%, e os Estados Unidos por 30,0% da produção
mundial. As áreas de grãos no Centro-Nordeste do Brasil, que compreendem as regiões do
MATOPIBA e SEALBA, devem expandir-se fortemente.
Segundo o Relatório de Projeções do Agronegócio - Brasil 2022/23 a 2032/33², há projeção de
aumento de 22,4% (36,2 milhões t) na produção de carne de frango, bovina e suína para o final da
próxima década. O maior aumento de produção deve ocorrer em carne de frango, 28,1%, carne
suína, 23,2% e carne bovina, 12,4%.
Há tendência redução de mão de obra ocupada, redução de crescimento da área plantada
devido aos ganhos de produtividade e aumento do uso de capital. Isso mostra a tendência de
maiores investimentos em tecnologia para obter maiores ganhos de produtividade com a mesma
área e menor mão de obra.

Gráficos 5. Índices de quantidade de mão de obra, terra e capital. (Fonte: MAPA)

REFERÊNCIAS

¹ FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. FAO Food Price Index. 2023.
Disponível em: https://www.fao.org/worldfoodsituation/foodpricesindex/en/ Acesso em: 30 jun. 2023.

² MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA. PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO - Brasil 2022/23 a


2032/33. Projeções de Longo Prazo. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/politica-agricola/todas-
publicacoes-de-politica-agricola/projecoes-do-agronegocio/projecoes-do-agronegocio-2022-2023-a-2032-2033.pdf Acesso
em: 13/09/2023.

³ OECD/FAO - ORGANISATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT / The FOOD AND
AGRICULTURE ORGANIZATION (2023), OECD-FAO Agricultural Outlook 2023-2032, OECD Publishing, Paris,
https://doi.org/10.1787/08801ab7-en.
4
CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos,
Brasília, DF, v. 10, safra 2022/23, n. 12 décimo segundo levantamento, setembro 2023.

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